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MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior GRADUAÇÃO Unicesumar

MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

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MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

GRADUAÇÃO

Unicesumar

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; JÚNIOR, Galaor Linhares Tupan.

Modelos de Plantação de Igrejas. Galaor Linhares Tupan Junior. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2021.214 p.

“Graduação - EaD”.

1. Modelos 2. Plantação . 3. Igrejas 4. EaD. I. Título.

ISBN 978-85-459-0434-2

CDD - 22 ed. 254.1CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por:

Coordenador de ConteúdoRoney de Carvalho Luiz

Designer EducacionalIsabela Agulhon Ventura, Agnaldo Lorca Ventura

IconografiaIsabela Soares Silva

Projeto GráficoJaime de Marchi JuniorJosé Jhonny Coelho

Arte CapaArthur Cantareli Silva

EditoraçãoFernando Henrique Mendes

Qualidade TextualHellyery Agda, Danielle Loddi, Helen Braga do Prado

IlustraçãoBruno Cesar Pardinho

ReitorWilson de Matos Silva

Vice-ReitorWilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EADWilliam Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EADJanes Fidélis Tomelin

Presidente da MantenedoraCláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Diretoria ExecutivaChrystiano Minco�James PrestesTiago Stachon

Diretoria de GraduaçãoKátia Coelho

Diretoria de Pós-graduação Bruno do Val Jorge

Diretoria de Permanência Leonardo Spaine

Diretoria de Design EducacionalDébora Leite

Head de Curadoria e InovaçãoTania Cristiane Yoshie Fukushima

Gerência de Processos AcadêmicosTaessa Penha Shiraishi Vieira

Gerência de CuradoriaCarolina Abdalla Normann de Freitas

Gerência de de Contratos e OperaçõesJislaine Cristina da Silva

Gerência de Produção de ConteúdoDiogo Ribeiro Garcia

Gerência de Projetos EspeciaisDaniel Fuverki Hey

Supervisora de Projetos EspeciaisYasminn Talyta Tavares Zagonel

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida-de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo--nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-cional e espiritual.

Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com de-zenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos re-conhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.

A rapidez do mundo moderno exige dos educa-dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali-dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância.

Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferen-tes áreas do conhecimento, formando profissio-nais cidadãos que contribuam para o desenvolvi-mento de uma sociedade justa e solidária.

Vamos juntos!

Diretoria Operacional de Ensino

Diretoria de Planejamento de Ensino

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo.

O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”.

Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên-cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-rios para a sua formação pessoal e profissional.

Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.

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TOR

Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e Reformed Theological Seminary (2017). Especialista em Coordenação de Dinâmica de Grupo pela Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupo (2000). Bacharel em Teologia pelo Centro de Ensino Superior de Maringá (2015). Graduado em Teologia pelo Seminário de Educação Teológica Elim (2013). Pastor na Missão Cristã Elim, desde 1998.

Conferir mais detalhes em: <http://lattes.cnpq.br/2039697727145495>.

SEJA BEM-VINDO(A)!

Caro(a) aluno(a), é com grande satisfação que apresento a você as boas-vindas à disci-plina Modelos de Plantação de Igrejas. Sou o professor Galaor Linhares Tupan Júnior, pastor evangélico, e tenho trabalhado pela Igreja do Senhor há mais de 25 anos, junto à Missão Cristã Elim. Nesse tempo, plantamos igrejas em várias cidades do território na-cional, incluindo o interior do Amazonas. Agora, estamos também na Colômbia. Nosso desejo é obedecer ao mandamento final de Jesus Cristo, avançando para a África, Ásia e até os confins da terra. Cristo amou sua Igreja e deu sua vida por ela. Que seja assim a vida daqueles que desejam segui-Lo.

Meu objetivo, ao escrever este livro, é despertá-lo(a) para a vocação missionária da Igre-ja no mundo e instrumentalizá-lo(a) para a plantação de igrejas. No decorrer de seus estudos, procure interagir com os textos, fazer anotações, realizar as atividades de es-tudo e, acima de tudo, compreender como o conteúdo do livro pode se tornar realida-de em suas ações. De muitas maneiras, você vai observar que seus estudos podem ter aplicação prática em sua vida cristã, quer como um plantador de igrejas, quer como um teólogo, ou, simplesmente, como um discípulo do Senhor Jesus Cristo.

Estaremos juntos para abordar os princípios básicos de plantação de igrejas, compre-endendo biblicamente esse termo e verificando sua importância para a evangelização. Nossos estudos consideram a teologia bíblica do plantio de igrejas. Vamos realizar uma reflexão crítica sobre Missio Dei e o reinado de Deus, reconhecendo sua soberania frente à plantação de igrejas. As citações bíblicas foram retiradas da versão Almeida Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil.

Cremos que as promessas que Deus concedeu a Abraão são para todas as famílias da terra. Reconhecemos que a Igreja do Senhor é uma só e desejamos que o evangelho cumpra com seu propósito em diferentes línguas, tribos, povos e nações. Para isso, uma compreensão adequada do significado de cultura é um pré-requisito para uma comu-nicação eficaz das boas novas do evangelho. Vamos considerar a necessidade de utili-zação de modelos adequados de plantação de igrejas, respeitando as diferenças trans-culturais.

Teremos um momento para identificar qual é o perfil do plantador de igrejas e como esse pode ser lapidado. Vemos, no chamado de Cristo, o desafio de depender daquele que chama, e não de quem somos. Nossas fraquezas podem tornar-se uma oportunida-de para a manifestação do poder e da graça de Deus.

Finalizando, vamos vivenciar o desafio da plantação de uma nova igreja, considerando o exímio modelo do apóstolo Paulo, e estratégias essenciais para essa missão. Veremos que o Espírito Santo é a pessoa central para o nascimento de uma igreja, o que pode ser observado em Sua atuação poderosa em todo o livro de Atos dos Apóstolos. Como dis-se o Senhor Jesus na Grande Comissão, em Mateus 28, 20: “[...] ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.

APRESENTAÇÃO

MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Espero que, ao término desta disciplina, os conceitos aqui ensinados sejam trans-formados em novas congregações em áreas do mundo ainda não alcançadas, ou sejam traduzidos no fortalecimento das congregações já existentes. “Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (BÍBLIA, Efésios 4,13).

Um grande abraço, bons estudos e que Deus os abençoe.

APRESENTAÇÃO

SUMÁRIO09

UNIDADE I

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

15 Introdução

16 Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos

20 O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico

24 Elementos Presentes na Plantação de Igrejas

28 Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas

33 Considerações Finais

37 Referências

38 Gabarito

UNIDADE II

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS

43 Introdução

44 Acordo Entre Teologia e Missiologia

50 Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus

55 Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas

62 Cosmovisão e Contextualização

68 Considerações Finais

72 Referências

73 Gabarito

SUMÁRIO10

UNIDADE III

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

77 Introdução

78 O Chamado de Deus é Para Todos

82 A Cultura e as Diferenças Transculturais

87 Diferenças Transculturais

95 Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos

106 Modelos de Plantação de Igrejas

117 Considerações Finais

122 Referências

123 Gabarito

UNIDADE IV

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS

127 Introdução

128 Quem Foi Chamado Para Essa Missão?

144 O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas

157 Plantadores Bivocacionais

161 A Igreja e o Plantio de Igrejas

164 Considerações Finais

169 Referências

170 Gabarito

SUMÁRIO11

UNIDADE V

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA

173 Introdução

174 O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas

182 Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas

199 O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas

203 Considerações Finais

208 Referências

209 Gabarito

213 Conclusão

UN

IDA

DE I

Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem

■ Identificar biblicamente os termos relacionados ao plantio de igrejas.

■ Descrever as fases do processo de plantio de igrejas.

■ Conhecer os elementos presentes na plantação de igrejas.

■ Considerar as abordagens históricas mais comuns nos últimos séculos sobre plantio de igrejas.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos

■ O Plantio de Igrejas como Processo Orgânico

■ Elementos Presentes na Plantação de Igrejas

■ Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Muita literatura tem sido escrita a respeito da Igreja e sua missão. Desde as primeiras páginas do Antigo Testamento, observamos que o pecado de Adão não abortou o plano original de Deus. Havia um caminho para a reconciliação; mediante o qual o homem poderia ter sua comunhão com Deus restaurada e reconstruída. Deus escolheu Abraão e seus descendentes para aben-çoar o mundo. O aparente fracasso dos judeus, com a final rejeição do Messias também não puderam invalidar o propósito divino.

Na cruz, Jesus conciliou judeus e gentios, fazendo destes um só povo liberto do domínio do pecado e congregado na Sua Igreja, “a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (BÍBLIA, Efésios 3,6).

Nesta unidade, estudaremos os princípios básicos de plantio de igrejas. Já de antemão definimos que, ao utilizarmos o termo Igreja (com maiúscula), nos referimos ao corpo místico que é edificado sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, o qual é composto por todos os cristãos verdadeiros, do qual Cristo é a cabeça. Quando usamos o termo igreja (com minúscula), estamos falando das igrejas em suas localidades, constituídas de cristãos que buscam adorar, ser-vir e pautar suas vidas nos princípios da Palavra de Deus. Biblicamente, o termo não pode fugir a essas duas finalidades.

Você pode se perguntar: como podemos plantar uma igreja nos dias de hoje? Os custos são altos e os corações estão endurecidos. Temos dificuldade de pro-mover evangelização num mundo secularizado e religioso, em que a prioridade das pessoas está centralizada no prazer como bem supremo.

Deus, no entanto, tem um caminho sobrenatural, no qual os impossíveis podem ser superados pelo Seu poder. Ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimentos ou pensamos, conforme Sua palavra. “A Ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém” (BÍBLIA, Efésios 3,21).

Introdução

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PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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PLANTIO DE IGREJAS - CONCEITOS E TERMOS

Caro(a) aluno(a), vamos, agora, entender e estudar juntos o processo bíblico e prático de evangelizar e plantar novas igrejas. A primeira diferenciação que temos a fazer é entre evangelização e plantio de igrejas. Isso é fundamental para o entendimento de nosso tema em estudo. Grande parte das definições apresen-tadas são contempladas por Ronaldo Lidório em um Treinamento Missionário Intensivo chamado “Capacitar”, o qual ocorre uma vez a cada ano em diferentes cidades do país e, também, podem ser observadas em Lidório (2011), Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas.

A evangelização é a proclamação do evangelho. Esse evangelho pode ser proclamado verbalmente, ou seja, você fala do Senhor Jesus e aquele que ouve compreende, em sua língua e ambiente cultural. Entretanto, a evangelização não é apenas falar, mas também viver; ou seja, não evangelizamos apenas com nossas palavras, mas também com nossa vida, que é o nosso testemunho. O Senhor Jesus chamou Sua Igreja para falar e viver; para pregar verbalmente o evangelho, por meio de palavras e, também, para, silenciosamente, demonstrar o amor de Deus.

Assim, concluímos que existem dois fundamentos muito relevantes na evange-lização. São traduzidos por duas palavras de origem grega: kerygma e martyrium.

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• Kerygma: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o signi-ficado de proclamação, pregação, anúncio ou mensagem. Ou seja: comuni-cação verbal que pode ser compreendida.

• Martyrium: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o significado de testemunho. Ou seja: comunicar com nossas ações.

Esses dois termos caminham juntos no Novo Testamento, no qual lemos que foi proclamado o evangelho, sempre verificamos que este foi depois demonstrado, evidenciado, manifestado por meio do testemunho de vida.

Jesus chamou sua Igreja para pregar e viver. Lidório (2011) apresenta o conceito de que evangelização é o ato de comunicar - seja verbalmente ou pelo testemunho de vida - quem é Jesus e o que Ele fez por nós. Evangelização não é plantio de igrejas. Plantio de igrejas é um processo.

A evangelização pode ser um ato estático ou um processo, porém o plan-tio de igrejas é sempre um processo. Você pode comunicar, em cinco minutos, quem é Jesus e o que Ele fez por nós ou levar um ano para evangelizar uma pes-soa, uma família, uma cidade ou uma nação. A evangelização é a primeira etapa do processo de plantio de igrejas.

“Processo é uma palavra com origem no latim procedere, que significa mé-todo, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atin-gir algum objetivo. Relativamente à sua etimologia, processo é uma palavra relacionada com percurso, e significa ‘avançar’ ou ‘caminhar para a frente’”.

Fonte: Significados ([2017], on-line)1.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Outra diferenciação abordada por Lidório (2011), Bastos (2010) e diversos auto-res é entre igreja e templo. Para você, qual é a diferença?

Principalmente no Brasil, nosso conceito de igreja está atrelado a templo. Quando falamos sobre plantio de igrejas, algumas vezes, pensamos no aspecto do edifício e não em pessoas. Igreja não é estrutura, não é templo, não é insti-tuição, mas são pessoas convertidas ao Senhor Jesus. Na África, por exemplo, muitas igrejas se reúnem embaixo de árvores. Quem vai plantar uma igreja não construirá, necessariamente, um templo, mas vai evangelizar, discipular, ajun-tar convertidos, treinar líderes e acompanhar a igreja formada.

Jesus, que inaugurou a plantação da Sua Igreja na Terra, não construiu nenhum templo. Em Atos, capítulo 2, há o relato de que a igreja louvava a Deus no templo e de casa em casa. Ali estavam judeus, que preferiam o templo, demons-trando suas raízes no judaísmo, e gentios que preferiam as casas. Embora houvesse a preferência por lugares distintos para louvar a Deus, eles eram unânimes: os gen-tios também iam ao templo e judeus também reuniam-se nas casas. Esse conceito de união como marca da Igreja primitiva também é abordado nos comentários de Atos, capítulo 2, da Bíblia Missionária de Estudos (2014).

Encontramos no texto de Alexandre Bastos, em Metodologia de Plantação de Igrejas, o mesmo princípio apresentado:

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[...] é fundamental dizer que a palavra igreja registrada no Novo Testa-mento e que norteia nossos princípios, nada tem a ver com os paradig-mas que ao longo dos séculos foram sendo adquiridos. Como equivo-cadamente sendo a expressão da instituição, denominação, estilo e até mesmo do prédio. Por força destes paradigmas ou até mesmo pelo ví-cio de linguagem, as pessoas sistematicamente tem associado a palavra -igreja- simplesmente com o local onde os cristãos se reúnem. Outro fator equivocado é determinarem se um grupo de cristãos é igreja ba-seado na existência de um prédio ou não. É muito importante lembrar que nos primeiros trezentos anos da história da igreja de Jesus não ha-via “prédio de igreja” algum, mesmo assim não deixavam de ser igreja. Até mesmo nos dias de hoje, lugares onde ter um prédio para a reunião da igreja é proibido ou até mesmo grupos de cristãos que se reúnem sem prédio, continuam sendo a Igreja de Jesus (BASTOS, 2010, p. 8).

Bastos (2010) corrobora o entendimento de que igreja não é templo, não é o prédio onde os cristãos se reúnem. Ao plantarmos igrejas, não dependemos de instalações físicas, mas sim de que os crentes sejam congregados como pedras vivas, ou lavoura de Deus para que juntos possam formar um organismo vivo que dá glória a Deus.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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O PLANTIO DE IGREJAS COMO PROCESSO ORGÂNICO

O conceito de plantio de igrejas como processo orgânico é apresentado pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 3, 6, que diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus”.

Paulo e Apolo desempenharam diferentes serviços, Paulo plantou, Apolo regou. A metáfora de semear e de cuidar da plantação é bem sig-nificativa no que se refere às fases de implantação de uma igreja local. Os trabalhadores nada seriam sem a intervenção divina no crescimen-to da igreja plantada. O trabalho missionário é árduo, como o é o de plantar e regar. A dependência de Deus é a chave para um crescimento constante e duradouro (BÍBLIA, 2014, p. 1172).

Plantar, regar e fazer crescer estão relacionados com aspectos vitais de cresci-mento, de realização contínua e prolongada. A plantação de igrejas permanentes e verdadeiras depende, em primeira instância, do próprio Deus. Os cristãos são a lavoura em que o Pai é o agricultor e cultiva a Cristo. Os ministros de Cristo podem plantar e regar, mas somente Deus pode dar o crescimento.

Embora, biblicamente, uma igreja plantada seja considerada “lavoura de Deus”, onde há o plantio, rega e o crescimento, ela também é considerada “edifí-cio de Deus”, cujo único fundamento é Cristo Jesus. Quem O definiu como base para o edifício foi Deus, em Seu supremo propósito. Programas e métodos de crescimento não podem ser eficazes sem Cristo, que é a vida da igreja.

Conforme I Coríntios 3,12, simbolicamente, os materiais adequados para a edificação de igrejas são ouro, prata e pedras preciosas, os quais são minerais. O ouro pode representar a natureza divina do Pai, com todos os seus atributos; a prata pode representar o Cristo Redentor, Sua morte na cruz, todas as virtudes

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e atributos de Sua pessoa e obra. As pedras preciosas, por sua vez, representam a obra transformadora do Espírito Santo com todos os atributos de Sua pessoa.

A ideia de transformação de “lavoura de Deus” em “edifício de Deus” mani-festa o caráter de modificação que a experiência cristã produz em nós. Portanto, plantação de igrejas constitui-se integralmente num processo espiritual.

Hesselgrave (1995), apresenta, em seu livro Plantar Igrejas, um estudo detalhado e criterioso das etapas que envolvem o processo de plantar igrejas, considerando que:

[...] a missão primária da Igreja e, portanto, das igrejas, é proclamar o evangelho de Cristo e reunir os crentes em igrejas locais onde podem ser edificados na fé e tornados eficazes no serviço, e assim plantar novas congregações no mundo inteiro (HESSELGRAVE, 1995, p. 15).

Observamos nas palavras do Senhor Jesus, descritas na Grande Comissão, a essência do processo de plantação de igrejas:

[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século (BÍBLIA, Mateus 28, 18-20).

Esta é a tarefa central à qual Cristo chama o Seu povo. Nela encontramos a essên-cia e o método da missão. Quem ordena a tarefa é Aquele que tem autoridade para fazê-la. Após Sua obediência até a morte, morte de cruz, Deus, o Pai, con-cede ao Filho toda autoridade nos céus e na terra. Como já foi testado por seus discípulos, o Espírito Santo nos concede poder e força enquanto cumprimos o mandamento.

As instruções para o plantio de igrejas ficam claras nas ordens de Jesus e são tomadas como base para o trabalho da igreja primitiva. Indicamos a seguir essas fases ou etapas, resumidamente, que envolvem a plantação de uma igreja:

1. Ir: levar a palavra do Senhor a campos ainda não alcançados. Aqueles que são comissionados a ir fazem parte da comunidade de discípulos. Foram salvos pela fé na palavra da pregação, batizados, testemunhando arrependimento e foram transformados pela obediência aos ensinamen-tos do Senhor.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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2. Evangelizar: comunicar, seja verbalmente, ou pelo testemunho de vida, quem é Jesus e o que Ele fez por nós.

3. Fazer discípulos: a obediência ao Mestre é exigida não somente daquele que leva a mensagem, mas também daquele que a ouve e se arrepende. Essa etapa envolve o batismo e o contínuo ensino das Escrituras Sagradas.

4. Congregar os convertidos: aqueles que se convertem, de todas as nações, devem ser trazidos para dentro da Igreja do Senhor.

5. Formar líderes: dentre os convertidos, aqueles que confessarem o cha-mado do Senhor para o ministério devem ser discipulados de maneira mais próxima e pessoal, com o propósito de que a nova congregação tenha um governo local, ou para que esses sejam enviados a novos cam-pos ainda não alcançados.

6. Acompanhar: as novas congregações devem ser acompanhadas, con-tinuamente, para correção de desvios, encorajamento dos irmãos e fortalecimento da liderança local, assim como sempre fazia o apóstolo Paulo.

Certamente o apóstolo Paulo foi um homem especialmente comprometido com a Grande Comissão. Por onde passava, Paulo pregava a palavra, os homens eram convertidos e as igrejas eram estabelecidas.

O processo de plantação de igrejas está retratado, de forma muito prática e impressionante, pelo apóstolo Paulo em I Tessalonicenses 1,5, que diz:

[...] porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em pala-vra, mas sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós (BÍBLIA, I Tessalonicenses, 1,5).

Nesse versículo Paulo resume, dentre todas as suas cartas, o processo de plan-tio de uma igreja local e explica aos tessalonicenses os elementos essenciais que fizeram a igreja em Tessalônica nascer tão rapidamente. A Bíblia Missionária de Estudos (2014), apresenta comentários de Lidório, o qual considera o nasci-mento da igreja um fruto da chegada do evangelho que:

1) Chega em palavra, do grego logos, ou seja, habilidade comunicacional, sermão comunicado de forma inteligível na língua e cultura daquele que está ouvindo.

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2) Chega com poder, dynamis (palavra de origem grega cujo significado é poder, força). Por isso, o que traz a salvação e a plantação de uma igreja é o poder de Deus e não a capacidade humana. O poder é a manifesta-ção sobrenatural de Deus que cativa os perdidos e os traz à luz de Cristo.

3) É acompanhado pela ação do Espírito Santo, que tem como função con-vencer e converter os corações e edificá-los para que sejam transformados à imagem de Cristo.

4) É motivado pela plena convicção (do grego pleroforia), que se refere à certeza que Paulo e os seus companheiros possuíam de estar fazendo a vontade do Pai.

Em Atos, capítulo 17, Paulo e seus companheiros estavam em uma pequena cidade chamada Tessalônica, na qual ele pregou o evangelho apenas por três semanas. Aos sábados, ele evangelizava os judeus na sinagoga e, durante a semana, evange-lizava gentios e judeus no mercado que ficava na praça central da cidade. Depois de três a cinco semanas, nasceu uma igreja em Tessalônica, o que, mesmo para Paulo, foi algo sobrenatural, uma vez que a plantação da igreja de Éfeso, por exemplo, ocorreu em três anos.

Sobre o processo de plantação de igrejas entre os irmãos tessalonicenses, Lidório (2011), faz uma paráfrase das palavras de Paulo:

[...] meus irmãos em Tessalônica, vocês ficaram impressionados com o meu ministério? Não foi por isso que vocês se converteram. Vocês se converteram porque o evangelho, que é o Senhor Jesus Cristo, chegou até vocês. Chegou também em palavra humana, mas não foi isso que transformou os seus corações, mas foi o poder de Deus e o Espírito Santo que operou em vocês. E quanto a mim, Paulo, e meus compa-nheiros, nós tínhamos certeza, plena convicção, de que nós estávamos fazendo a vontade de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

Compreendemos que a plantação de igrejas somente pode ser realizada pelo poder e autoridade do próprio Deus. O autor ainda considera que:

[...] se o evangelho é Jesus, que é Deus. Se o poder que leva as pessoas a conversão, não é o poder da igreja, mas o poder de Deus. Se a ação não é do homem, mas é do Espírito Santo, que é Deus. Então, quem faz uma igreja nascer é o próprio Deus. O que nós fazemos? Paulo nos res-ponde. Devemos estar no lugar certo, na hora certa, fazendo a vontade de Deus. Nós não podemos chegar ao final do dia, da semana, do ano,

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ou da nossa vida sem a convicção, “pleroforia”, de que estamos fazendo a vontade de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

Segundo Lidório, sem tais elementos, a igreja em Tessalônica não nasceria, pois, dentro do processo de espalhar o evangelho e plantar igrejas, nada acontecerá sem o poder de Deus e a ação do Espírito Santo.

ELEMENTOS PRESENTES NA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Agora, vamos considerar oito ele-mentos essenciais para a plantação de igrejas indicados por Lidório (2011), quais sejam: intencionalidade, opor-tunidade, teologia, continuidade, prática, oração, planejamento e lide-rança local. Esses elementos podem ser evidenciados no ministério do apóstolo Paulo e também nos minis-térios de plantadores de igrejas ao redor do mundo. Vários desses elementos são corroborados pela

metodologia de Hesselgrave (1995) para plantação de igrejas. Vamos nos deter um pouco em cada um deles:

E você? Tem procurado ter a plena certeza (pleroforia) de que está no centro da perfeita vontade de Deus? Se você não tem esta certeza, busque-a do Senhor e não defina os próximos passos da sua vida por qualquer critério que não seja a vontade dEle.

(Ronaldo Lidório)

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■ Intencionalidade: é a intenção de se plantar uma igreja. Hesselgrave (1995), diz que 75% das igrejas plantadas no mundo foram plantadas intencionalmente. As igrejas que nascem, nascem porque alguém desejou e planejou seu nascimento. Alguém orou, enviou missionários, traba-lhou, se esforçou por entrar em uma sociedade e se manteve perseverante. Intencionalidade diz respeito a olharmos para uma cidade carente do evangelho, orar por essa cidade, despertar outros para oração e desper-tar parceiros para o projeto, enviar um plantador de igrejas para o local, apoiar aquele que foi enviado até que pessoas se convertam ao evangelho de Cristo e, assim, ver uma igreja nascer. Ninguém investe em um negócio indefinido, os recursos sempre seguem a visão. As pessoas se envolvem com aquilo que traduzem a elas convicção e paixão.

■ Oportunidade: há lugares onde nós temos muitas oportunidades para pregar o evangelho, discipular pessoas e treinar líderes. Outros lugares são fechados, com mínimas oportunidades. A questão não é quantas oportu-nidades nós temos, mas quantas oportunidades nós usamos. Temos que pedir a Deus que os nossos olhos sejam abertos para as oportunidades.

■ Teologia: ter como nosso guia a Palavra de Deus. Os projetos de cres-cimento e plantio de igrejas não podem se afastar dos fundamentos teológicos. Segundo Lidório (2011, p. 13), “nem tudo o que funciona é Bíblico”. Existem métodos que são humanos, carnais e até mesmo malignos. Nós seremos cobrados por Deus se formos infiéis aos Seus ensinamentos.

■ Continuidade: o plantador de igrejas deve manter constância e perma-nência no acompanhamento dos trabalhos realizados. Muitos projetos de plantio de igrejas são interrompidos, porque na fase do ajuntamento dos convertidos o plantador da nova igreja se ausenta. O momento de ajun-tar é essencial para a consolidação da nova igreja. Mesmo depois da igreja plantada é necessário manter a continuidade. Isso é nitidamente obser-vado no ministério do apóstolo Paulo. Ele plantava uma igreja, voltava para ajustar, mandava alguém para visitar, escrevia e enviava cartas, arti-culava o estabelecimento de lideranças. Orava pelas igrejas plantadas e as acompanhava permanentemente, visando seu fortalecimento.

■ Prática: abundante evangelização. Um dos maiores entraves para plan-tio de igrejas é a pouca evangelização. Apesar de haver muita expectativa de que as pessoas se convertam, há pouca evangelização. Lidório (2011)

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nos alerta que Igrejas são plantadas nas ruas, nos mercados, nos bairros, nas casas, nas matas, nas aldeias, nos condomínios. Igrejas são plantadas nos lugares onde estão aqueles que ainda não conhecem pessoalmente a Jesus. Uma visão que o plantador de igrejas precisa ter é a de ir aos luga-res onde as pessoas estão.

■ Oração: todos os lugares e épocas em que houve grande avanço mis-sionário foi precedido de oração. Deus ouve as orações. Oração não é repetição de necessidades, mas um ponto de encontro com Deus. Não é transmissão de ideias para o Pai, mas um convite que Deus nos traz para uma convivência mais próxima e íntima com Ele. A Bíblia nos ensina, em Mateus 18, 18 a 20, que “tudo o que ligarmos na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligarmos na terra terá sido desligado nos céus” e que, “se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qual-quer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhe-á concedida por meu Pai, que está nos céus”. Isso, obviamente, não significa, de modo algum, que podemos forçar Deus a fazer o que Ele não quer, mas sim que podemos reivindicar que faça o que Ele deseja fazer em seu perfeito conhecimento e soberana vontade. Na oração, também “recarregamos nossas baterias”, pois oração é relacionamento com Deus. Lidório (2011) relata que Jesus, intensamente, trabalhava, ensinava, curava, discipulava, expulsava demô-nios e fazia amigos e, em seguida, se dirigia aos montes sozinho, ou saia com alguns de Seus discípulos em um barco, para estar em comunhão e relacionamento com Deus. Ali, Jesus refletia, descansava e encontrava refrigério para Sua alma. Existem líderes tão atarefados que não têm tempo para orar, para refletir, não têm tempo para ter amizades, para abrir o coração, não têm tempo para serem pastoreados. Caem em cila-das malignas porque, no meio do cansaço, não percebem que “baixam a sua guarda”. Então, tudo que é carnal ganha mais força, aquilo que é do Espírito é colocado de lado. Assim, ficam mais vulneráveis e rendem-se a caminhos de destruição. O plantador de igrejas deve ter uma forte vida de oração e vigilância em Deus.

■ Planejamento: no projeto de plantio de igrejas temos que ter, de maneira bem clara, qual é a visão, ou seja, o que desejamos alcançar ao final de um período de trabalho. Quais são os alvos principais e quais são as ativida-des que serão desenvolvidas para se alcançar esses alvos. Na Unidade V trataremos esse assunto de forma específica.

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■ Liderança local: o bom plantador de igrejas é aquele que pensa em ir embora no dia em que chega. Ele aspira estabelecer aquela obra para adentrar em novos campos. Por isso, ele identifica, dentre os novos con-vertidos, pessoas que possam ser treinadas para a futura liderança local daquela igreja.

Desde já, podemos perceber a grande importância que a pessoa do plantador de igrejas possui. Suas convicções em Deus, a clareza de um chamado ministerial, a confiança naquilo que Deus pode fazer, dentre outras, são características fun-damentais para o desenvolvimento desse ministério. Suas atitudes e disposição farão mais diferença no processo de plantar igrejas do que suas áreas de facili-dade e habilidade. Na Unidade IV estudaremos aspectos específicos do perfil e caráter desejados para o plantador de igrejas.

“Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito” (BÍBLIA, I Samuel 12, 23).

A oração persistente move o coração de Deus e nos concede a chave para adentrarmos em novos campos missionários.

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PERSPECTIVA HISTÓRICA DO PLANTIO DE IGREJAS

A perspectiva histórica do plantio de igrejas, certamente, encontra-se entrelaçada com a história da missão cristã. Páginas incontáveis têm sido escritas a esse respeito. Nossa narrativa histórica detém-se ao processo seletivo de esco-lha dos conteúdos a serem abordados, considerando-se que o volume dos aconteci-mentos é muito vasto, em diferentes locais geográfi-cos. Levaremos em conta aqui apenas alguns pontos importantes. Hesselgrave, analisando as abordagens mais comuns nos últimos séculos, diz que:

[...] os Reformadores dos séculos XVI e XVII recuperaram a mensagem da Igreja, mas (na maior parte) estavam demasiadamente preocupa-dos com os problemas da Europa para darem muito ímpeto às missões noutras partes do mundo (HESSELGRAVE, 1995, p. 20).

Foram os pietistas, os morávios e um batista com o nome de William Carey que recuperaram a necessidade urgente de levar o evangelho até aos confins da terra.

No final do século XVII surgiu o pietismo, um movimento de renovação da fé cristã na Igreja Luterana Alemã, defendendo a importância do sentimento e da expressão espiritual na experiência religiosa, em detrimento do raciona-lismo religioso corrente.

Juntamente aos pietistas, os irmãos morávios tiveram grande influência no avivamento e expansão mundial do evangelho. Os morávios eram eslavos que

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estavam escapando de sua terra natal, a região central e oriental da Europa: em consequência da guerra dos trinta anos, foram morar nas terras de um conde muito rico, chamado Zinzendorf, na parte mais oriental da República Tcheca. Nestas terras, eles estabeleceram a comunidade de Herrnhut, que significa “Redil do Senhor”.

Eles eram cristãos de diferentes origens denominacionais. Entretanto, no princípio, estes refugiados de guerra tinham muitas rivalidades entre si. No dia 5 de agosto de 1727, depois de um período prolongado de oração, eles resolve-ram não mais criar debates e confusões. Praticamente uma semana depois desta aliança, no domingo de 13 de agosto, próximo ao meio-dia, numa reunião na qual se celebrava a Ceia do Senhor, mudanças começaram a acontecer.

Nessa reunião, a presença e a bênção de Deus vieram de forma poderosa. Tanto o grupo presente quanto o pastor caíram diante de Deus. Todos permane-ceram prostrados até a meia noite, tomados em oração, cânticos, choro e súplicas. Eles se sentiram muito pecadores e também muito felizes por causa da graça de Deus, que os trouxe à salvação. Seus desentendimentos e conflitos foram emu-decidos; suas paixões e orgulho foram crucificados.

Eles entenderam que, da mesma maneira como nunca se havia permitido que o fogo sagrado se apagasse no altar, eles, que eram o templo do Deus vivo, jamais deveriam deixar que o fogo da oração deixasse de subir a Deus, como um incenso santo. Com esse objetivo, 24 irmãos e 24 irmãs iniciaram reuniões de oração diárias que duravam 24 horas. Essas reuniões de oração começaram no dia 26 de agosto de 1727 e terminaram somente depois de 26 de agosto de 1827.

Foram mais de 100 anos de oração ininterrupta. Durante esse tempo, o amor pelos perdidos cresceu de tal maneira que em vinte cinco anos eles enviaram mais missionários que todas as igrejas protestantes da época em conjunto. A vida que eles desenvolveram em Deus mudou o curso de toda a história.

Durante esse período nasce William Carey - cuja biografia foi escrita por George Smith (1885) - que foi o pai das missões modernas, trazendo grande contribuição e transformação no movimento de plantio de igrejas. Era inglês e viveu entre 1761 e 1834. Aos 18 anos de idade, Carey recebeu a Cristo como seu salvador pessoal, passando a frequentar uma pequena Igreja Batista.

Desde então, Carey começou a estudar as escrituras, idiomas e ciências,

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embora tenha tido, na infância, uma formação modesta. Com sua dedicação ao Senhor e estudos da Bíblia, Carey concluiu que a evangelização mundial era a principal responsabilidade da Igreja de Cristo. Sua denominação não aceitou suas declarações, dizendo que se Deus resolvesse converter os gentios o faria sem a ajuda de Carey.

Em 1792 Carey publicou um livro de 87 páginas intitulado “Uma investi-gação sobre o dever dos cristãos de empregarem meios para a conversão dos pagãos”. Este se tratava de uma avaliação do mundo de seus dias, que refletia a necessidade urgente da proclamação do evangelho a todas as nações da terra. No mesmo ano ocorreu a organização da Sociedade Missionária Batista, e Carey se ofereceu para ser o primeiro missionário enviado.

Menos de um ano depois, em junho de 1793, ele e sua família partiram para a Índia como membros da mesma sociedade. Carey chegou em Hooghly no dia 11 de novembro de 1793, marcando o início da grande era das missões além mar, promovidas pela Inglaterra e Estados Unidos.

O trabalho de Carey na Índia foi excepcional e inusitado: ele tinha uma visão missionária muito à frente do seu tempo, dedicando-se à causa cristã sem afron-tar os aspectos da cultura local que não feriam os valores revelados por Deus nas páginas da Bíblia Sagrada. Sua importância para o cristianismo na Índia foi extraordinária. Junto com William Ward e Joshua Marshman, missionários que se juntaram a ele em 1799, fundaram 26 igrejas, 126 escolas e traduziram a Bíblia para 44 idiomas, além da vasta contribuição social que exerceu grande impacto na Índia.

Lidório comenta que William Ward, companheiro e contemporâneo de Carey, escreveu, em 1805, em um jornal criado pela equipe:

[...] ao plantarmos igrejas distintas, pastores nativos devem ser escolhi-dos […] e missionários devem preservar suas características originais, dedicando-se ao plantio de novas igrejas e supervisionando aquelas já plantadas (LIDÓRIO, 2011, p. 15).

Lidório também cita Henry Venn e Rufus Anderson que começam a delinear a necessidade de que as igrejas plantadas guardem autonomia e suficiência como um organismo vivo:

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[...] em meados do século 19, Henry Venn e Rufus Anderson direcio-naram a Igreja através de sua intencionalidade no plantio de igrejas, justificando que as mesmas deveriam, ao serem plantadas, ter três ca-racterísticas básicas: serem autopropagáveis, autogovernáveis e autos-sustentadas (LIDÓRIO, 2011, p. 15).

Criava-se o conceito de Igrejas Autóctones, ou seja, igrejas locais com formação e liderança nativa, as quais possuem autonomia de sustento, liderança e propagação.

Hesselgrave (1995), considera por demais estreita a visão de evangelização sem o ajuntamento dos convertidos em uma igreja local:

[...] nas últimas décadas do século XIX e no presente século, a evangeli-zação tem sido quase totalmente identificada com grandes campanhas ou cruzadas que visam ganhar os indivíduos para uma decisão por Jesus Cristo. De um lado, há esse fato. E do outro lado, certo núme-ro de métodos cuidadosamente elaborados de evangelização pessoal (individual) foram desenvolvidos com o mesmo fim em mira. Tanto a evangelização das campanhas, quanto a evangelização pessoal devem ser encorajadas. Mas, conforme são frequentemente praticadas, não colocam novos crentes em contato vital com as igrejas locais. Propor-cionalmente, uma ênfase grande demais tem sido dada à multiplicação dos convertidos- e uma ênfase totalmente insuficiente à multiplicação das congregações (HESSELGRAVE, 1995, p. 21).

Não podemos deixar de considerar que muitos dos movimentos missionários no decorrer dos séculos nem sempre tinham clareza de seus propósitos. Muitas atividades sociais consistentes foram desenvolvidas, como criação de escolas, hos-pitais, orfanatos, campanhas humanitárias em todo o mundo, a favor da saúde, do saneamento, até mesmo da agricultura. Ações dignas de reconhecimento e elogios. Entretanto, estas atividades por si só não faziam discípulos, nem esta-beleciam igrejas.

Observaremos que o plantio de uma nova igreja não está pautado naquilo que a força humana pode fazer, mas que igreja é obra de Deus e manifesta-ção poderosa do Espírito Santo. Nada pode deter vidas que encontram em Deus sua suficiência.

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Lidório (2011) denomina alguns movimentos missionários na história da expansão da Igreja como “esquisitices metodológicas”. Esses devaneios não foram ocasio-nados por infidelidade a Deus ou desejo intencional de liberar-se dos princípios da fé cristã verdadeira, mas decorreram da ausência de amparo bíblico e teoló-gico para algumas metodologias adotadas ao longo do processo de proclamação.

Observando os diversos segmentos de plantação de igrejas no mun-do atual, podemos perceber que o enraizamento dos problemas mais comuns em tais processos está ligado a alguns fatores, sobre os quais escrevo a seguir:

A dificuldade de se distinguir igreja e templo, perdendo o valor do dis-cipulado e gerando mais investimento na estrutura do que em pessoas.

A demora na introdução dos convertidos à vida diária da igreja, diluin-do o valor da comunhão e integração além de gerar crentes imaturos, sem funções, desafios ou envolvimento.

A despreocupação com os fundamentos teológicos e atração pelos me-canismos puramente pragmáticos.

A ausência de sensibilidade social e cultural, pregando um evangelho sem sentido para o contexto receptor. Uma mensagem alienada da re-alidade da vida.

A excessiva pressa no plantio de igrejas, gerando comunidades super-ficiais na Palavra e abrindo oportunidades reais para o sincretismo ou nominalismo.

O excessivo envolvimento com a estrutura da missão ou da igreja, des-gastando pessoas, recursos, tempo e minimizando o que deveria ser o maior e mais amplo investimento: a proclamação do evangelho (LIDÓ-RIO, 2011, p. 16-17).

Neste ponto de nossa disciplina, já se torna claro o íntimo relacionamento entre proclamação do evangelho e a plantação de igrejas, que não podem ser disso-ciadas sem prejuízo à missão da Igreja. Outro aspecto de suprema relevância diz respeito à necessidade de considerarmos que também não é possível realizar o divórcio entre a missão da igreja e teologia da missão. Vamos continuar cami-nhando na Unidade II, de forma a buscar uma base teológica sólida e coerente para a plantação de igrejas, ou seja, a glória de Deus.

Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da Unidade I. Começamos falando sobre a evangelização e plantio de igrejas, que são ações diferentes, podendo a evangelização tratar-se ou não de um processo. Já o plantio de igrejas sempre será um processo. Você também deve ter compreendido que templo não é igreja.

Suponha agora que você decidiu iniciar o plantio de uma igreja. Quais serão as etapas desenvolvidas neste processo? Você se lembra? Ir, evangelizar, fazer dis-cípulos, congregar os convertidos, formar líderes e acompanhar. Cada uma dessas etapas, é de fundamental importância para o plantio de igrejas. Talvez, durante as primeiras etapas você possa se ausentar por algum tempo.

Entretanto, a partir do momento em que os convertidos são congregados, sua presença será imprescindível, até o momento em que a nova igreja tenha sua liderança local treinada e estabelecida. Isso ocorre em pelo menos três anos. A partir daí você pode orar pelo desafio de um novo campo, sempre considerando a importância de manter o acompanhamento, assim como fazia o apóstolo Paulo.

Pois bem, e os elementos presentes na plantação de igrejas indicados por Lidório? Você pode enumerá-los comigo? Intencionalidade, Oportunidade, Teologia, Continuidade, Prática, Oração, Planejamento e Liderança Local. Cada um deles deve estar presente para que a nova igreja seja plantada em um fun-damento sólido.

Por fim, você deve considerar a perspectiva histórica que observamos nos últimos séculos, recebendo a inspiração de homens e mulheres comuns, mas que aprenderam a depender da suficiência e do poder de Deus e foram encon-trados em pleroforia, a plena convicção de que estavam no lugar certo, na hora certa, realizando a vontade de Deus.

Tenho certeza de que, no decorrer de nossos estudos, você poderá entender melhor seu papel como colaborador(a) da lavoura de Deus. É Ele que nos atrai com seu amor e nos enche de paixão pelas almas.

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1. Observamos a existência de dois fundamentos muito relevantes na evangeliza-ção, traduzidos por duas palavras de origem grega: kerigma e martyrium. Qual o significado desses termos?

2. Nosso conceito de igreja, principalmente no Brasil, está atrelado a templo. Quan-do falamos sobre plantio de igrejas, algumas vezes pensamos no aspecto do edi-fício e não em pessoas. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade, qual a diferença entre igreja e templo?

3. Considerando a plantação de igrejas um processo, descreva resumidamente duas fases ou etapas envolvidas nesse processo.

4. Descreva e comente dois dos oito elementos essenciais em plantação de igrejas, quais sejam: intencionalidade, oportunidade, teologia, continuidade, prática, oração, planejamento e liderança local. Esses elementos podem ser evi-denciados no ministério do apóstolo Paulo e também nos ministérios de planta-dores de igrejas ao redor do mundo.

5. Observando os diversos segmentos de plantação de igrejas no mundo atual, podemos perceber que o enraizamento dos problemas mais comuns em tais processos, indicados por Lidório estão ligado a fatores estruturais e teológicos da missão. Cite e explique dois desses fatores.

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Quando olhamos para o início da igreja vemos o quanto os irmãos viviam em oração. Basta lermos os capítulos iniciais do livro de Atos e saberemos o porquê de tanto poder em manifestação naqueles dias. Não era porque eles eram mais especiais do que nós, nem pelo fato da igreja estar em seu início. A causa do poder estava na vida de comu-nhão, de uma vida de oração.

O missionário e missiólogo Patrick Johnstone, em seu livro Intercessão Mundial, diz que: “Quando o homem trabalha, o homem trabalha; quando o homem ora, Deus trabalha”.

Jorge Müller costumava dizer que “Um crente pode fazer mais em quatro horas, depois de empregar uma em orar, que cinco sem orar”.

Precisamos entender que, para realizarmos a obra que o Senhor nos tem chamados, a fazer, não seremos bem sucedidos se não orarmos. O poder ou a manifestação do poder está numa vida de oração individual e congregacional.

No que tange à obra missionária – evangelismo de escopo mundial - temos aprendido que podemos fazer a diferença no curso da vida de muitas pessoas por causa da nossa vida de oração.

Em I Timóteo 2:4, a Bíblia nos diz que é a vontade de Deus que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Mas isto irá acontecer só porque é vontade de Deus? Não!

Como já disse John Wesley: “Nos parece que Deus é limitado pela nossa vida de oração. Ele nada faz pela humanidade a menos que alguém o peça para fazê-lo”.

Para que a vontade de Deus, expressa em I Timóteo 2:4 se cumpra, se faz necessário duas ações do homem: orar e evangelizar.

Reinhard Bonnke diz em seu livro, Evangelismo por Fogo que “Evangelismo sem inter-cessão é um explosivo sem um detonador. Intercessão sem evangelismo é um detona-dor sem um explosivo”. Se juntarmos esses dois indispensáveis ingredientes, no entanto, poderemos transformar o mundo, como foi dito com respeito a Paulo e Silas em Atos 17.

Precisamos ir, precisamos evangelizar e será a nossa oração que preparará o caminho para nós passarmos. A nossa missão depende da nossa vida de oração!

Fonte: Verbo vida (2015, on-line)2.

MATERIAL COMPLEMENTAR

Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturaisDavid Hesselgrave

Editora: Vida NovaSinopse: o livro de Hesselgrave é um guia passo a passo para a

plantação de igrejas numa cultura diferente da cultura do plantador.

Embora sistemático, evita o simplismo. Pelo contrário, cada passo é explicado na prática e na teoria.

COMENTÁRIO: considero esse um dos livros mais importante sobre plantação transcultural de igrejas

já publicado até o momento.

Uma chama na escuridão“Uma chama na escuridão” é daqueles filmes que não são para serem esquecidos. A produção de Mike Pritchard conta a história de William Carey, “O pai das Missões Modernas”. É possível tomar conhecimento do que é a certeza de ser chamado por Deus. Mesmo contra a opinião daqueles à sua volta, Carey partiu para a Índia, em 1793, para pregar a Palavra de Deus. Muitas são as dificuldades, mas nada o impede de perseverar. Ficou conhecido como “O amigo da Índia” e “ficou encarregado de traduzir mais versões da Bíblia do que haviam sido feitas durante a história do cristianismo até aquela época”.

APRESENTAÇÃO: o Instituto Antropos atua nas áreas de antropologia, pesquisa sociocultural e missiologia aplicada sob coordenação de Ronaldo e Rossana Lidório e com a colaboração de diversos consultores técnicos. Encontramos disponível nesse ambiente um material consistente, prático e aplicável. O Instituto se compromete a prestar um serviço gratuito e acessível nas áreas propostas (antropologia, missiologia, linguística e cuidado missionário), fornecendo metodologias para a pesquisa sociocultural (étnica ou urbanizada), aquisição de língua e plantio de igrejas.O Instituto Antropos é também um portal que abriga outros três sites: a “Antropos - Revista de Antropologia” <www.revista.antropos.com.br>, “Missionews - Revista de Missiologia” <www.missionews.com.br> e “Plantando Igrejas” <www.plantandoigrejas.org.br>, com sua versão em Inglês “Church Planting” <www.churchplanting.com.br>.Para saber mais acesse: <http://instituto.antropos.com.br/v3/>.

REFERÊNCIAS37

BASTOS, A. C. Metodologia de Plantação de Igrejas. Uberlândia: Escola de Planta-dores de Igrejas, 2010.

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-alizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.

HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais. São Paulo: Vida Nova, 1995.

LIDÓRIO, R. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos, 2011.

SMITH, G. The life of Willian Carey, Shoemaker & Missionary. London: Paperback, 1885.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <http://www.significados.com.br/processo/>. Acesso em: 19 maio. 2017.2 Em: <http://verbodavida.org.br/lista-blogs/direto-da-agencia/vida-de-oracao-2>. Acesso em: 19 maio. 2017.

GABARITO

1. Kerygma: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o significa-do de proclamação, pregação, anúncio ou mensagem. Ou seja, comunicação verbal inteligível. Martyrium: palavra de origem grega usada no Novo Testa-mento com o significado de testemunho. Ou seja, comunicar com nossas ações.

2. Igreja não é estrutura, não é templo, não é instituição, mas são pessoas conver-tidas ao Senhor Jesus. Em Atos, capítulo 2, a igreja louvava a Deus no templo e de casa em casa. Ali estavam judeus, que preferiam o templo, e gentios, que preferiam as casas. Mas eles eram unânimes, gentios estavam no templo e ju-deus estavam nas casas.

É muito importante lembrar que nos primeiros trezentos anos da história da igreja de Jesus não havia “prédio de igreja” algum, mesmo assim não deixavam de ser igreja. Até mesmo nos dias atuais, lugares onde ter um prédio para a reu-nião da igreja é proibido ou até mesmo grupos de cristãos que se reúnem sem prédio, continuam sendo a Igreja de Jesus.

3. Indicamos a seguir essas fases ou etapas, resumidamente, que envolvem a plantação de uma igreja:

Ir: levar a palavra do Senhor a campos ainda não alcançados. Aqueles que são comissionados a ir fazem parte da comunidade de discípulos. Foram salvos pela fé na palavra da pregação, batizados, testemunhando arrependimento e foram transformados pela obediência aos ensinamentos do Senhor.

Evangelizar: comunicar, seja verbalmente, ou pelo testemunho de vida, quem é Jesus e o que Ele fez por nós.

Fazer discípulos: a obediência ao Mestre é exigida não somente daquele que leva a mensagem, mas também daquele que a ouve e se arrepende. Essa etapa envolve o batismo e o contínuo ensino das Escrituras Sagradas.

Congregar os convertidos: aqueles que se convertem, de todas as nações, de-vem ser trazidos para dentro da Igreja do Senhor.

Formar líderes: dentre os convertidos, aqueles que confessarem o chamado do Senhor para o ministério devem ser discipulados de maneira mais próxima e pessoal, com o propósito de que a nova congregação tenha um governo local, ou para que esses sejam enviados a novos campos ainda não alcançados.

Acompanhar: as novas congregações devem ser acompanhadas, continua-mente, para correção de desvios, encorajamento dos irmãos e fortalecimento da liderança local, assim como sempre fazia o apóstolo Paulo.

4. Intencionalidade: é a intenção de se plantar uma igreja. Hesselgrave (1995), diz que 75% das igrejas plantadas no mundo foram plantadas intencionalmen-te. As igrejas que nascem, nascem porque alguém desejou e planejou seu nas-cimento. Alguém orou, enviou missionários, trabalhou, se esforçou por entrar em uma sociedade e se manteve perseverante. Intencionalidade diz respeito a

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olharmos para uma cidade carente do evangelho, orar por essa cidade, desper-tar outros para oração e despertar parceiros para o projeto, enviar um plantador de igrejas para o local, apoiar aquele que foi enviado até que pessoas se con-vertam ao evangelho de Cristo e, assim, ver uma igreja nascer. Ninguém investe em um negócio indefinido, os recursos sempre seguem a visão. As pessoas se envolvem com aquilo que traduzem a elas convicção e paixão.

Oportunidade: há lugares onde nós temos muitas oportunidades para pregar o evangelho, discipular pessoas e treinar líderes. Outros lugares são fechados, com mínimas oportunidades. A questão não é quantas oportunidades nós te-mos, mas quantas oportunidades nós usamos. Temos que pedir a Deus que os nossos olhos sejam abertos para as oportunidades.

Teologia: ter como nosso guia a Palavra de Deus. Os projetos de crescimento e plantio de igrejas não podem se afastar dos fundamentos teológicos. Segundo Lidório (2011, p. 13), “nem tudo o que funciona é Bíblico”. Existem métodos que são humanos, carnais e até mesmo malignos. Nós seremos cobrados por Deus se formos infiéis aos Seus ensinamentos.

Continuidade: o plantador de igrejas deve manter constância e permanência no acompanhamento dos trabalhos realizados. Muitos projetos de plantio de igrejas são interrompidos, porque na fase do ajuntamento dos convertidos o plantador da nova igreja se ausenta. O momento de ajuntar é essencial para a consolidação da nova igreja. Mesmo depois da igreja plantada é necessário manter a continuidade. Isso é nitidamente observado no ministério do apóstolo Paulo. Ele plantava uma igreja, voltava para ajustar, mandava alguém para visi-tar, escrevia e enviava cartas, articulava o estabelecimento de lideranças. Orava pelas igrejas plantadas e as acompanhava permanentemente, visando seu for-talecimento.

Prática: abundante evangelização. Um dos maiores entraves para plantio de igrejas é a pouca evangelização. Há muita expectativa de que as pessoas se con-vertam, mas, com pouca evangelização. Lidório (2011) nos alerta que Igrejas são plantadas nas ruas, nos mercados, nos bairros, nas casas, nas matas, nas aldeias, nos condomínios. Igrejas são plantadas nos lugares onde estão aqueles que ain-da não conhecem pessoalmente a Jesus. Uma visão que o plantador de igrejas precisa ter é a de ir aos lugares onde as pessoas estão.

Oração: em todos os lugares e épocas, onde houve grande avanço missioná-rio, esse avanço foi precedido de oração. Deus ouve as orações. Oração não é repetição de necessidades, mas um ponto de encontro com Deus. Não é trans-missão de ideias para o Pai, mas um convite que Deus nos traz para uma con-vivência mais próxima e íntima com Ele. A Bíblia nos ensina, em Mateus 18, 18 a 20, que “tudo o que ligarmos na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligarmos na terra terá sido desligado nos céus” e que, “se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pe-

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direm, ser-lhe-á concedida por meu Pai, que está nos céus”; isso, obviamente, não significa, de modo algum, que podemos forçar Deus a fazer o que Ele não quer, mas sim que podemos reivindicar que faça o que Ele deseja fazer em seu perfeito conhecimento e soberana vontade. Na oração, também “recarregamos nossas baterias”, pois oração é relacionamento com Deus. Lidório (2011) relata que Jesus, intensamente, trabalhava, ensinava, curava, discipulava, expulsava demônios e fazia amigos e, em seguida, se dirigia aos montes sozinho, ou saia com alguns de Seus discípulos em um barco, para estar em comunhão e re-lacionamento com Deus. Ali, Jesus refletia, descansava e encontrava refrigério para Sua alma. Existem líderes tão atarefados que não têm tempo para orar, para refletir, não têm tempo para ter amizades, para abrir o coração, não têm tempo para serem pastoreados. Caem em ciladas malignas porque, no meio do cansaço, não percebem que “baixam a sua guarda”. Então, tudo que é carnal ganha mais força, aquilo que é do Espírito é colocado de lado. Assim, ficam mais vulneráveis e rendem-se a caminhos de destruição. O plantador de igrejas deve ter uma forte vida de oração e vigilância em Deus.

Planejamento: no projeto de plantio de igrejas temos que ter, de maneira bem clara, qual é a visão, ou seja, o que desejamos alcançar ao final de um período de trabalho. Quais são os alvos principais e quais são as atividades que serão desenvolvidas para se alcançar esses alvos.

Liderança local: o bom plantador de igrejas é aquele que pensa em ir embora no dia em que chega. Ele aspira estabelecer aquela obra para adentrar em no-vos campos. Por isso, ele identifica, dentre os novos convertidos, pessoas que possam ser treinadas para a futura liderança local daquela igreja.

5.

• A dificuldade de se distinguir igreja e templo, perdendo o valor do discipu-lado e gerando mais investimento na estrutura do que em pessoas.

• A demora na introdução dos convertidos à vida diária da igreja, diluindo o valor da comunhão e integração além de gerar crentes imaturos, sem fun-ções, desafios ou envolvimento.

• A despreocupação com os fundamentos teológicos e atração pelos meca-nismos puramente pragmáticos.

• A ausência de sensibilidade social e cultural, pregando um evangelho sem sentido para o contexto receptor. Uma mensagem alienada da realidade da vida.

• A excessiva pressa no plantio de igrejas, gerando comunidades superficiais na Palavra e abrindo oportunidades reais para o sincretismo ou nominalis-mo.

• O excessivo envolvimento com a estrutura da missão ou da igreja, desgas-

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Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem

■ Assinalar a interdisciplinaridade entre Teologia e Missiologia.

■ Compreender a soberania do reinado de Deus na plantação de igrejas.

■ Compreender os critérios teológicos para o plantio de igrejas.

■ Refletir sobre cosmovisão e contextualização no processo bíblico de proclamação da mensagem.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Acordo entre Teologia e Missiologia

■ Reflexão Crítica sobre Missio Dei e Reinado de Deus

■ Orientação Teológica para o Plantio de Igrejas

■ Cosmovisão e Contextualização

INTRODUÇÃO

Neste momento, vamos considerar um aspecto muito importante do plantio de igrejas: a necessidade de pautar toda obra de concepção de igrejas sob a luz da revelação de Deus. Toda igreja deve ter como objetivo de sua existência glorifi-car a Deus e fazê-Lo conhecido na terra. Assim, a sabedoria, o poder e a graça de Deus poderão ser testemunhados por todo o mundo. Nesse sentido, é preciso conhecimento teológico adequado para que a mensagem comunicada reflita o querer e a vontade divina.

Para que todas as famílias da terra sejam alcançadas pelo evangelho, neces-sitamos plantar igrejas nas cidades, nos povoados, em lugares longínquos e nas tribos de diferentes etnias. Observaremos o modelo do apóstolo Paulo, que con-siderou o desafio de evangelizar e plantar igrejas entre todos os povos, mas sem separar a ação missionária da doutrina bíblica correta. Apresenta-se, para nós, a necessária interdependência entre teologia e plantação de igrejas: uma não pode sobreviver sem a outra.

Faremos uma reflexão crítica sobre a Missio Dei e o reinado de Deus, buscando conciliar Missão e Evangelização. Atualmente, sabemos que o mundo organiza-cional aborda enfaticamente missão como a razão de ser de uma organização. Na missão, tem-se destacado o que a empresa produz, sua expectativa de êxito futuro e como espera ser identificada pelos clientes e pelo mercado; entretanto, quando abordamos a Missão de Deus, não estamos falando de nenhum empre-endimento humano, mas do propósito supremo de Deus em redimir Sua criação.

Na finalização da unidade, trataremos a relevância de conhecermos os con-textos culturais em que a evangelização ocorre, seus objetivos, limitações e a necessidade de que o conteúdo teológico não se perca.

Bons estudos!

Introdução

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ACORDO ENTRE TEOLOGIA E MISSIOLOGIA

Caro(a) aluno(a), iniciamos nossa abordagem sobre a teologia bíblica do plan-tio de igrejas. Embora esse assunto seja muito vasto, vamos nos deter a alguns aspectos específicos. Primeiramente, compreendemos o plantio de igrejas como um ato coordenado pela suprema vontade de Deus, por meio do qual igrejas são estabelecidas para que homens e mulheres sejam introduzidos na vida eterna, Deus seja adorado e o Reino Eterno estabelecido.

Para que você possa compreender melhor o contexto que encontramos em muitos campos missionários, ou mesmo no imenso volume de denominações existentes, considere o seguinte desafio apresentado por Wright (2012):

[...] pense numa doutrina - qualquer doutrina do período de 200 a 2000 d.C. Multiplique-a pelas confissões históricas. Divida pelas variações denominacionais. Acrescente uma suspeita de heresia. Subtraia a dou-trina em que pensou primeiramente. Que sobrou? Provavelmente, a soma aproximada do que teologia e missões têm em comum na mente do cristão mediano - não muito. Afinal, teologia está na cabeça - refle-xões, argumentos, ensinos, credos e confissões de fé. Pensamos numa biblioteca teológica onde as ideias são estocadas. Missão ou missões é fazer - resultados práticos, dinâmicos e executáveis. Pensamos no campo missionário como um lugar onde as pessoas vão e fazem coisas emocionantes. Teologia e missões parecem não ter muita coisa em co-mum; também é fácil termos a impressão de que aqueles que parecem ser mais interessados numa coisa, têm menos interesse na outra (WRI-GHT, 2012, p. 25).

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No decorrer dos séculos, o trabalho de proclamação do evangelho tem sofrido muita oposição. O entendimento da ordem divina, por muitas vezes, teve inter-pretações estanques, à vista de uma visão antropológica, ou seja, centrada no homem. O afastamento entre a ação missionária e uma correta teologia bíblica tem trazido sérios problemas à Igreja do Senhor.

Michael Green (1989, p. 7) afirma que “a maior parte dos evangelistas não se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não se interessa muito por evangelização”. Quando a ação missionária não é pavimentada por um cor-reto raciocínio teológico, corre-se o risco da ineficácia e da frustração.

Ronaldo Lidório (2011) faz uma análise de aspectos que, historicamente, tra-zem limitações ao processo de plantio de igrejas. Essas limitações esclarecem, de certa forma, a tendência do afastamento entre teologia e missiologia ocorrido em diversas partes do mundo. Nossa intenção é permitir a problemática, com vistas à construção de um entendimento teológico apropriado. Consideremos algumas das limitações indicadas por Lidório (2011):

a) Como o assunto de plantio de igrejas está ligado à metodologia e pro-cesso de campo, a tendência é avaliá-lo mais pelos resultados que produz do que por seus fundamentos teológicos. Lidório (2011, p. 5), classifica esse fato como “abordagem pragmática”, o qual traz a possibilidade de se deixar de lado “o que é bíblico e teologicamente evidente” por aquilo que é prático e traz melhores resultados; contudo, o divórcio entre teologia e missiologia não acon-tecerá sem graves consequências e prejuízos para o plantio de igrejas. Portanto, teremos como premissa de nossa abordagem acadêmica as raízes teológicas do trabalho realizado pelos apóstolos no estabelecimento da igreja primitiva. Sua ação é descrita na Grande Comissão do Senhor Jesus Cristo e seu processo de semeadura do evangelho deve ser observado. Não devemos nos fundamentar por meio daquilo que funciona, mas pelo que é bíblico e teologicamente correto.

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b) Além da abordagem pragmática, Lidório (2011, p. 6) indica a “aborda-gem sociológica” como uma limitação ligada ao conceito da missão e plantio de igrejas. Isso ocorre quando tomamos decisões baseadas na avaliação e interpre-tação sociológica das necessidades humanas e não nas instruções das Escrituras. Nesse caso, ocorre uma flexibilização da teologia para atendimento de certos gru-pos ou segmentos. A plantação de igrejas deve ter por base a Missão de Deus em sua mais pura teologia bíblica. A chegada do evangelho sempre produzirá avanço social, entretanto, a evangelização e o plantio de igrejas têm por objetivo a reconciliação do homem com Deus, a obediência a Cristo e a entrada em Sua Igreja em um serviço responsável no mundo, como prevê o Pacto de Lausanne. O serviço social está presente, mas não pode ser estabelecido como fundamento para realização da missão.

c) Uma terceira limitação no estudo de plantio de igrejas é a “abordagem eclesiológica”, a qual está ligada à nossa compreensão da própria identidade da Igreja. Sobre isso, consideramos as observações de Lidório:

[...] apesar da Igreja possuir um papel prioritário em termos de atua-ção missionária, seu valor intrínseco, extramissão proclamadora, pre-cisa ser reconhecido porque é o resultado do sacrifício de Jesus e Ele e a Cruz são o centro do plano de Deus. Assim, apesar da Missão ser uma constante prioridade bíblica na vida da Igreja, não devemos defi-nir essa Igreja apenas a partir da proclamação do evangelho, sob pena de nos tornarmos extremamente funcionalistas e utilitários. Adoração,

Pragmatismo é uma doutrina filosófica cuja tese fundamental é que a ideia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias de todos os efeitos imaginários atribuídos por nós a esse objeto, que passou a ter um efeito prático qualquer.

Ser partidário do pragmatismo é ser prático, ser pragmático, ser realista. Aquele que não faz rodeio, que tem seus objetivos bem definidos, que con-sidera o valor prático como critério da verdade.

Fonte: Significados ([2017], on-line)1.

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doutrina, fidelidade, santidade, unidade e comunhão são, também, im-portantes aspectos que compõem a identidade da Igreja. Assim sendo, a Igreja não é um instrumento primariamente desenhado para evange-lizar pessoas, mas um instrumento para glorificar a Deus (Ef 3:10) e a proclamação - evangelização - é uma de suas funções e resultado de sua existência (LIDÓRIO, 2011, p. 6).

Lidório (2011), apresenta o risco de termos igrejas evangelizadoras que não vivem a palavra de Deus. Esse entendimento eclesiológico não dispensa a Igreja da prioridade da proclamação do evangelho. Ainda que a evangelização não seja a única característica procurada por Deus em Sua Igreja é uma prioridade urgente para a salvação de um mundo perdido que necessita ser reconciliado com Deus.

Diante de toda problemática apresentada quanto às possíveis fragilidades na definição de uma teologia correta para a prática missiológica, consideramos que nenhuma ação missionária deve ser tratada de forma isolada, mas deve ter sua prática consolidada em toda teologia bíblica. Temos como fonte e motivação o próprio Deus. Nesse sentido Peters (2000, p. 32), cita Webster: “[...] nós come-çamos, então, onde a missão começa, com Deus”.

Outro teólogo contemporâneo que nos auxilia no entendimento da conciliação entre Teologia e Missiologia é Charles Van Engen (1996). Ele considera, em seus estudos, que as igrejas locais têm uma razão de serem multifa-cetadas no que diz respeito à sua participação no mundo, por meio da comunhão, proclamação, serviço e testemunho. Devido ao grande número de agências missionárias sem qualquer vínculo denominacional, as igrejas locais, como agen-tes missionários, ficaram relegadas a celeiros de candidatos e fontes de suporte financeiro. Muitas agências, organizações e instituições missioná-rias são os únicos agentes missionário de Deus.

Dessa forma, a Eclesiologia passou a não ser tratada como assunto sério na discussão dessas instituições. Por outro lado, as igrejas locais se divorciaram, mui-tas vezes, da própria natureza, propósito e papel como comunidade comprometida

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com a missão de Deus neste mundo. Ambos os aspectos não podem ser teologi-camente admissíveis, mas, muitas vezes, se consolidaram na prática. Assim, no pensamento da grande maioria dos cristãos, as palavras “igreja” e “missão” pas-saram a expressar dois tipos diferentes de sociedade.

Van Engen (1996), tem como tese principal que à medida em que as congre-gações locais são estabelecidas, a fim de alcançar o mundo por meio da missão, elas se tornam de fato o que elas já são pela fé: povo missionário de Deus. Quando a palavra “missão” é usada no singular está se referindo a Missio Dei, e quando a palavra é usada no plural (missões), refere-se aos diversos meios pelos quais a Missio Dei é realizada.

Lidório aponta três perigos quando a Teologia e Missiologia não são perce-bidas como parceiras:

1. Usar Deus como um instrumento para realizar nossos propósitos no plantio e crescimento de igrejas em lugar de servi-lo no cumpri-mento de Seus planos na Terra (I Coríntios, 3:11).

2. Oferecer soluções simplistas para problemas complexos em relação à comunicação do evangelho, contextualização e plantio de igrejas.

3. Utilizar a Teologia com finalidade puramente acadêmica e não apli-cável à Igreja, sua vida e dinâmica.

Quando analisamos os ensinos de Paulo, entendemos que seu minis-tério estava fundamentado em suas convicções teológicas, inspirando--nos a refletir sobre Deus e Sua ação no mundo. Missiologia e Teologia, indisputavelmente, devem caminhar de mãos dadas para a glória de Deus, a fidelidade às Escrituras e a evangelização dos perdidos (LIDÓ-RIO, 2011, p. 10-11).

Não podemos trabalhar para Deus utilizando critérios humanos. Os obreiros pertencem a Deus, os campos pertencem a Deus e um dia prestaremos contas de tudo o que fizermos. Somente o que foi edificado em Cristo permanecerá para a eternidade. Toda ação missionária e de tratamento da Igreja de Cristo deve ser tomada com sólida base teológica. Lidório ainda nos auxilia a concluir com o entendimento de que:

[...] missiologia e Teologia não devem ser tratadas como áreas separa-das de estudo, mas como disciplinas complementares. A Teologia não apenas coopera com a Igreja ao fazê-la entender o sentido da Missão

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e a base para o plantio de igrejas como também provê o entendimento bíblico motivacional para o evangelismo. A Missiologia, por outro lado, dirige teólogos para o plano redentivo de Deus e os ajuda a ler as Es-crituras sob o pressuposto de que há um propósito para a existência da Igreja (LIDÓRIO, 2011, p. 9).

Pacto de Lausanne - Item 4. A Natureza da Evangelização

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, Ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de di-álogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. [...] Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.

Fonte: Lausanne (1974, on-line)2.

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REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE MISSIO DEI E REINADO DE DEUS

No tempo presente, ouvimos dizer sobre a necessidade de uma visão holística para entendimento da missão de Deus. Trata-se de uma percepção mais abran-gente da revelação de Deus, na qual a construção conceitual busca considerar o todo da nossa missão. Entretanto, ainda há o risco de que essa visão perma-neça muito antropocêntrica ou eclesiocêntrica e o homem continue ocupando um lugar deslocado, fazendo com que o objetivo do evangelismo e da ação social seja preencher as necessidades humanas.

Alguns autores conceituam a igreja como missional. A ideia associada a essa definição é que tudo o que a igreja faz deve ter o aspecto missional, ou seja: pôr a missão em prática no local onde está a igreja. Ed Stetzer (2015, p. 37) diz que “ser missional significa ser missionário sem mudar de CEP”. Novamente corre-mos o risco de mantermos o foco em nós e, também, colocarmos a Igreja nessa equação. Nessa versão da igreja missional, busca-se identificar quais aspectos deveriam ser incluídos dentro da missão da Igreja.

Nos deparamos com a discussão e averiguação de argumentos válidos para identificar qual é a missão legítima da Igreja. Se buscarmos uma definição de missão a partir do ser humano, colocando-o como o objeto ou agente da mis-são, nos encontraremos argumentando, e não chegando a uma resposta mais conclusiva. Uma das maneiras de resolvermos essa argumentação é, ao invés de começarmos tendo o homem como ponto de partida, reconhecermos que a missão deve ser compreendida teocraticamente, tendo como sua origem a reve-lação e o conhecimento do próprio Deus.

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A reflexão de Georg Vicedom (1965, p. 4) nos auxilia por aproximar-se muito do pensamento bíblico quando diz que “a Bíblia em sua totalidade designa ape-nas uma intenção de Deus: salvar a humanidade”.

Nesse ponto, percebemos a importância primordial da missão de Deus no estabelecimento presente e futuro do reinado de Deus. A igreja, o pastor e o teó-logo devem aproximar-se das questões da organização da missão e do plantio de igrejas, pois estes não devem ser tratados como assuntos isolados e indepen-dentes da vida da Igreja, nem mesmo como assuntos que acontecem fora das suas fronteiras.

Segundo Bosch (2002), Karl Barth foi um dos primeiros teólogos a apresentar a missão como atividade de Deus quando, em 11 de abril de 1932, expôs um tra-balho na Conferência Missionária de Brandemburgo, em Berlim, na Alemanha. A influência de Barth no pensamento missionário atingiria seu auge na Conferência de Willingen, em 1952. Em Willingen, reapareceu um antigo termo: Missio Dei (expressão derivada do latim, que significa missão de Deus). Foi lá que a ideia da Missio Dei emergiu de maneira clara, com a compreensão de que a missão é derivada da própria natureza de Deus, sendo colocada no contexto da doutrina da Trindade, e não da Eclesiologia ou da Soteriologia. Outro nome que se desta-cou na Conferência de Willingen foi o de George Vicedom, autor da famosa obra “Missio Dei: An Introduction to the Science of Mission”. A ênfase de Vicedom foi de que Deus é o sujeito ativo da missão. Por isso, Barth diz que a Teologia enga-ja-se em fazer o papel do anjo que lutou com Jacó, formulando e colocando as perguntas certas a cada momento da igreja e da sua missão.

[...] estabelecida a “diversidade”, grandeza, excelência e glória de Deus, tornando todas as suas obras dependentes dEle. De uma maneira es-tranha e silenciosa, essa Teologia deixou de lado o conceito bíblico do Deus vivo, do propósito de Deus, do Deus da história, da ação e dos relacionamentos existenciais, do Deus de aqui e agora, do Deus que está atualmente executando seu plano e programa, do Deus que é um Deus sociável, um Deus de missão. Dessa forma, a Teologia se ocupou mais como Deus celestial do que com o Deus da criação, o Deus sem-pre presente na salvação e em missões. Essa inadaptação naturalmente conduz a um divórcio entre Teologia e missões (PETERS, 2000, p. 33).

Peters afirma que, apenas se a missão tiver sua fonte, sua natureza e autoridade no Deus trino e uno, ela pode realmente gerar uma motivação duradoura e

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tornar-se cristã e significativa. Em qualquer outro nível, ela permanecerá huma-nizada, não importa o quão “religiosa” ou “cristã” essa classificação possa ser. O fracasso do expansionismo de missões e da Igreja no mundo se deve, principal-mente, a uma Teologia incompleta e desequilibrada.

Na Conferência de Willingen reconheceu-se que a igreja não poderia ser nem o ponto de partida nem o alvo da missão. A obra salvífica de Deus precede tanto a igreja quanto a missão. Não se deveria subordinar a mis-são à igreja e, tampouco, a igreja à missão; pelo contrário, ambas deveriam ser inseridas na missio Dei que se tornou então o conceito abrangente. A missio Dei, missão de Deus, institui as missiones ecclesiae (missões da igre-ja). A igreja deixa de ser a remetente para ser a remetida. A missão não é primordialmente uma atividade da igreja, mas um atributo de Deus. Deus é um Deus missionário. Compreende-se a missão, desse modo, como um movimento de Deus em direção ao mundo; a igreja é vista como um ins-trumento para essa missão (BARRACA, 2010, on-line)3

.

Nessa ideia, compreendemos missão tendo início no próprio Deus. Como nos edifica e alegra pensar que Deus é um Deus missionário e que missão é uma obra essencialmente de Deus.

Participar da missão é participar do movimento de amor de Deus para com as pessoas, visto que Deus é uma fonte de amor que envia (BOS-CH, 2002, p. 468).

O sentido ampliado da Missio Dei foi trazido por Bosch e nos detalha o caráter missionário de Deus:

[...] a doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no sentido de incluir ainda outro - movimento - Pai, Filho e Espírito Santo enviando a Igreja para dentro do mundo (BOSCH, 2002, p. 467).

Podemos considerar as seguinte referências bíblicas, para maior compreensão da manifestação de Deus ao mundo, dispensando a si mesmo como Pai, Filho e Espírito Santo:

■ Deus o Pai enviou o Seu Filho:

[...] no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e , sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida esta-va nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as

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trevas não prevaleceram contra ela. [...] e o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (BÍBLIA, João 1,1-5 e 1,14).

■ Deus, o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (BÍBLIA, João 14.16).

■ A Trindade envia a igreja e os crentes, em particular, para cumprir a tarefa da Grande Comissão. Ou seja, Pai, Filho e o Espírito Santo enviando a igreja para dentro do mundo: [...] mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (BÍBLIA, Atos 1,8). [...] todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras lín-guas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem (BÍBLIA, Atos 2,4).

Vivemos no tempo em que a Igreja do Senhor, como corpo, do qual Cristo é o Cabeça, se constitui na presente dispensação de Deus para o mundo. Estamos no século XXI com o desafio de restabelecer paradigmas concretos para atendimento da missão de Deus, conforme Bosch aponta em sua obra Missão Transformadora:

[...] desde os anos 1950 tem havido uma notável escalada no uso do termo “missão” entre os cristãos [...] Ela designava: a) Envio de mis-sionários a um território especificado; b) as atividades empreendidas por tais missionários; c) a área geográfica em que os missionários atu-avam; d) a agência que expedia os missionários; d) o mundo não cris-tão ou “campo de missão”; e) o centro a partir do qual os missionários operavam no “campo de missão”. Num contexto ligeiramente diferente esse termo também podia designar: g) uma congregação local sem um pastor residente e que ainda dependia do apoio de uma igreja mais an-tiga, estabelecida; h) uma série de serviços especiais destinados a apro-fundar ou difundir a fé cristã, em geral num ambiente nominalmente cristão. Se estabelecermos uma sinopse mais especificamente teológica de “missão”, assim como o termo tem sido usado tradicionalmente, ob-servaremos que ela foi parafraseada como: a) a propagação da fé; b) expansão do reinado de Deus; c) conversão dos pagãos; d) fundação de novas igrejas (BOSCH, 2002, p. 17).

Nos encontramos, novamente, com Wright (2014) para o esclarecimento dos elementos teológicos fundamentais da teologia bíblica. O autor enfatiza que a missão de Deus, impreterivelmente, deve começar do ponto de vista de Deus, como nos revela Sua palavra:

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[...] desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu bene-plácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensa-ção da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra (BÍBLIA, Efésios 1, 9-10).

Aqui, Paulo está nos afirmando que Deus fez Sua vontade conhecida a nós. Paulo está falando sobre o plano eterno de Deus para o universo, por meio das gera-ções. Esse trecho das Escrituras engloba toda revelação de Deus, começando desde o livro de Gênesis, passando por toda a escritura, até se completar no livro de Apocalipse. Por meio de sua obra e obediência perfeita, Jesus alcançou o centro de todas as coisas. Em última análise, toda criação será unida debaixo do senhorio de Cristo. Não somente na terra, mas também nos céus, Cristo está estabelecendo ordem e perfeita sintonia por meio de Sua obra.

É muito importante atentar para a centralidade do Senhor Jesus Cristo apon-tada pelas escrituras. Nossa missão surge a partir da missão de Deus, que está contemplada em toda narrativa bíblica. Temos que entender que a Bíblia não é um livro cheio de regras, doutrinas e promessas, embora esses pontos estejam presentes. Fundamentalmente, a Bíblia é a história do universo desde a criação até chegarmos na nova criação. Essa história a qual Paulo está se referindo é a missão de Deus.

E você, como tem se sentido diante do desafio de participar da missão de Deus? Como Igreja fomos remetidos ao mundo perdido como a última res-posta de Deus à humanidade. Como Corpo de Cristo cada um de nós possui sua função com vistas a sermos edificados em amor e, assim, haja cresci-mento segundo a justa cooperação de cada parte.

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ORIENTAÇÃO TEOLÓGICA PARA O PLANTIO DE IGREJAS

Até aqui, todo nosso estudo tem sido fundamentado por uma teologia bíblica que nos aponte para a missão de Deus. Percebemos, na teologia, que tudo fala de Deus. Buscamos informa-ções detalhadas sobre o que as pessoas entenderam e escreveram sobre Seu caráter, Suas ações, Seu relacionamento com o mundo e a sociedade humana, sobre o envolvimento de Deus com a história, o presente e o futuro.

Plantar igrejas é ter uma participação naquilo que Deus está fazendo no mundo. Se a visão de Deus é ampla em seu alcance, também a nossa deve ser baseada numa compreensão correta da visão de Deus, porque a nossa missão é a missão de Deus.

Diante de nosso desafio de sermos participantes da missão de Deus, voltamos à Grande Comissão que nos envia ao mundo para levarmos o evangelho, fazendo discípulos de todas as nações e ensinando-os a guardar todas as coisas. Nesse sentido, Lidório (2011) nos auxilia a discernir nosso papel, quando afirma que a principal diferença entre a evangelização e o plantio de igrejas é o propósito. No primeiro, apresentamos Cristo a uma pessoa que poderá guardar a experiência da salvação para si ou anunciá-la a outros. No segundo, apresentamos Cristo a uma pessoa, em uma dada cultura, região, cidade, tribo ou povoado, com ênfase no discipulado e nas Escrituras Sagradas, para que os alcançados pelo evangelho sejam fortalecidos em uma comunidade local. Desta forma podem participar de oração, comunhão e pastoreamento. Tudo isso, alinhado a uma visão de futuro e nova multiplicação, ou seja, as igrejas constituídas devem nascer compreen-dendo que seu futuro será plantar novas igrejas.

Lidório (2011) nos aponta três critérios bíblicos muito relevantes para o plantio de igrejas:

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1. “O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de treinamento e habilidade, mas pelo poder e desejo de Deus de salvar vidas” (LIDÓ-RIO, 2011, p. 11). Embora o treinamento seja fundamental, não podemos esperar que sejam os recursos disponíveis e o planejamento realizado os responsáveis pelo cumprimento da missão. Homens comuns como um sapateiro chamado William Carey, podem se tornar servos muito usados pelo Senhor, assim como humildes pescadores foram responsáveis por transformar o mundo na igreja primitiva. É o poder de Deus sendo depo-sitados em vasos de barro que nos capacita a cumprir Seus planos na terra.

2. “O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de resultados huma-nos, mas pela fidelidade às Sagradas Escrituras” (LIDÓRIO, 2011, p. 12). Já abordamos os riscos de se plantar igrejas sem o padrão bíblico das Escri-turas. Nem sempre o que é bíblico traz grandes resultados. Nem sempre o que traz grandes resultados é bíblico. A falta de fidelidade às Escritu-ras é a grande responsável pelo nominalismo e sincretismo religioso.

3. “O plantio de igrejas não deve ser uma ação definida pelo conhecimento do evangelho, mas por sua proclamação” (LIDÓRIO, 2011, p. 13). A maior tarefa de um plantador de igrejas é a proclamação do evangelho, conforme afirma Lidório:

[...] trabalho social, ministério holístico e compreensão cultural jamais irão substituir a clara comunicação do evangelho, nem justificar a pre-sença da igreja. O conteúdo do evangelho exposto em todo e qualquer ministério de plantio de igrejas deve incluir: a)Deus como Ser Criador e Soberano (Efésios 1:3-6); b) O pecado como fonte de separação entre o homem e Deus (Efésios 2:5); c) Jesus, Sua cruz e ressurreição como o plano histórico e central de Deus para redenção do homem (Hebreus 1:1-4); d) O Espírito Santo, como o cumprimento da Promessa e en-carregado de conduzir a Igreja até o dia final (LIDÓRIO, 2011, p. 34).

O entendimento do propósito e a finalidade da Igreja podem ser ampliados e melhor compreendidos quando nos deparamos com o livro de Efésios, na Bíblia Sagrada, em que o apóstolo Paulo busca levar-nos à maior revelação e conhe-cimento de quem é Deus e qual é a vocação e o chamado para a Igreja. Já no capítulo primeiro Paulo deixa evidente que a suprema grandeza do poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, também opera em nós, os que cremos, consolidando a Igreja, que é o Seu corpo. A seguir, falaremos mais sobre esse assunto.

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O QUE É UMA IGREJA?

Para chegarmos a uma conclusão apropriada a essa pergunta temos que considerar, primeiramente, qual é o perfil desejado para uma igreja. Muitos consideram a sua própria igreja como o modelo teo-lógico ideal.

Quando olhamos cuidado-samente para a igreja primitiva, observamos diversas formas, com diferentes ênfases e estruturas. Ott e Wilson relatam que “a igreja em Jerusalém, por exemplo, incluía membros que eram zelosos da lei e continua-vam a observar muitas das práticas judaicas, como a participação em certos ritos” (OTT; WILSON, 2013, p. 19-20).

As igrejas de origem gentílica, que foram, na sua maioria, plantadas pelo apóstolo Paulo, se reuniam, predominantemente, nos lares e não tinham práti-cas judaicas. Mesmo assim, “todas elas eram legítimas igrejas neotestamentárias inseridas em seu contexto” (OTT; WILSON, 2013, p. 20). Até mesmo igrejas mais problemáticas, como a igreja em Corinto, eram consideradas igrejas de Deus. O apóstolo Paulo escreve “a igreja de Deus que está em Corinto” (BÍBLIA, I Coríntios 1, 2). “Muitos elementos da vida da igreja com os quais estamos familiarizados em nossa igreja local podem não ser biblicamente necessários, nem culturalmente adequados em um contexto diferente” (OTT; WILSON, 2013, p. 20).

As escrituras concedem grande liberdade nos detalhes da vida da igre-ja e seu governo. Os plantadores de igrejas transculturais precisam ter um cuidado extra para não impor expressões estrangeiras na vida da igreja, mas desenvolver criativamente a nova igreja de forma que ela cumpra os propósitos bíblicos de maneira culturalmente apropriada. Ao mesmo tempo, a igreja deve demonstrar os valores contraculturais do Reino de Deus (OTT; WILSON, 2013, p. 20).

O plantador de igrejas deve entender o que é biblicamente obrigatório e essencial

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à vida da igreja e o que não é, qual a natureza da igreja e os fundamentos que a norteiam. Deve ser capaz de identificar modelos bíblicos de contextualização da mensagem.

Nesse momento, já podemos afirmar, segundo a Bíblia Sagrada, que igreja é uma entidade espiritual, concebida e abençoada pelo Pai para congregar um povo santo e irrepreensível, habitado pelo Espírito Santo, que vive para o louvor da glória de sua graça, edificada por Cristo, sob o fundamentos dos apóstolos e profetas, sendo o próprio Cristo Jesus, a pedra angular.

Nesse tempo, a igreja é o principal canal de Deus para manifestar a natureza do Reino e cumprir a missão de Deus. Por isso, deve multiplicar-se pelo mundo.

A seguir, apresentaremos uma quadro elaborada por Ott e Wilson (2013), que mostra aspectos essenciais da igreja e nos auxilia a reconhecer os elemen-tos que devem estar presentes em uma igreja verdadeira, a qual corresponde aos parâmetros bíblicos.Quadro 1 - A Essência da Igreja

NaturezaUmaSantaUniversalApostólica

MarcasDoutrina corretaMinistração fiel dos sacramentosDisciplina da igrejaFé pessoal

PropósitoTestemunho, “martyria”Comunhão, “koinonia”Serviço, “diakonia”Proclamação, “kerygma”Adoração, “leiturgia”

MetáforasPovo de DeusCorpo de CristoRebanho de DeusNoiva de CristoTemplo de DeusSacerdócio Real

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 21).

Ott e Wilson (2013), comentam que os pais da igreja primitiva referiram-se à igreja como a comunhão dos santos. O destaque era colocado sobre a igreja como um povo, em vez de uma instituição. As características essenciais da igreja foram resumidas no Credo de Niceia (381 d.C.) como uma (unidade), santa (vida san-tificada), universal (para todas as pessoas) e apostólica (baseada na doutrina dos

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apóstolos). O entendimento dessas características ocorrem de diferentes formas durante a história da igreja, mas são confessados por quase todos os cristãos.

Ott e Wilson (2013), apontam que os reformadores se concentraram mais nas marcas essenciais da igreja, em uma tentativa de discernir o que constitui a verdadeira e a falsa igreja.

Lutero falou da correta pregação da Palavra (doutrina) e da fiel minis-tração dos sacramentos (batismo e Ceia) como as duas marcas essen-ciais. As igrejas reformadas acrescentaram o exercício da disciplina da igreja. As igrejas livres enfatizaram a regeneração pessoal e piedade de seus membros (OTT; WILSON, 2013, p. 21).

No que diz respeito aos propósitos, vemos uma abordagem mais prática contem-plada em Atos 2, 42, que descreve as atividades básicas da igreja. As metáforas apresentadas apontam o relacionamento de Cristo com a sua Igreja e são observa-das nas páginas do Novo Testamento, principalmente no livro de Efésios. Baseado nessa discussão, apresentamos a definição de Ott e Wilson de uma igreja local:

[...] uma igreja local é uma comunhão de crentes em Jesus Cristo comprometidos a reunir-se regularmente para propósitos bíblicos sob uma liderança espiritual reconhecida (OTT; WILSON, 2013, p. 22).

Essa definição básica inclui vários elementos-chave apontados por Ott e Wilson, quais sejam:

1. Crentes: a igreja é composta de pessoas que têm experimentado a salvação através do arrependimento e da fé em Jesus Cristo de acordo com o Evangelho, tendo confessado por meio do batismo. Eles desejam ser discípulos fiéis de Jesus Cristo, regenerados e ca-pacitados pelo Espírito Santo. São o povo de Deus.

2. Reunião: esses crentes estão comprometidos a reunirem-se re-gularmente para servir a Deus e uns aos outros. São a família de Deus. Como povo missionário, eles se reúnem em preparação para serem enviados como agentes da missão de Deus no mundo.

3. Propósito: sua comunidade reúne-se para cumprir propósitos bí-blicos que incluem oração, louvor, evangelismo, instrução, edifi-cação, serviço, celebração das ordenanças do batismo e da Ceia, exercício da disciplina da igreja e envio de missionários. Eles in-corporam os valores do Reino de Deus.

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4. Liderança: eles se submetem a líderes espirituais reconhecidos. Os líderes oferecem uma forma mínima de estrutura sob o governo de Cristo. Em espírito de serviço, oferecem orientação, supervisão espiritual e cuidado, ensinando e capacitando o corpo de crentes (OTT; WILSON, 2013, p. 22 e 23).

Essas características mínimas podem ser consideradas um parâmetro teológico para os plantadores de igrejas, apresentando flexibilidade ao mesmo tempo em que qualifica uma igreja local. Crentes isolados, reuniões de interesses especiais ou reuniões não estruturadas não constituem igreja.

Ott e Wilson (2013), afirmam que um edifício para a igreja não é necessário, mas reuniões regulares são. Um pastor remunerado não é indispensável, mas líderes reconhecidos são. “Adesão a um credo em particular ou distintivo denominacio-nal não é obrigatório, mas a fidelidade à verdade bíblica e seus propósitos é. (OTT; WILSON, 2013, p. 23)”. O profundo conhecimento espiritual é um alvo, mas a obediência no seguir a Cristo é o compromisso mais essencial que se deve buscar.

COMO PODEMOS DEFINIR PLANTIO DE IGREJAS?

Como abordamos na unidade anterior, plantar é um termo usado pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 3, 6: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus”. Nesse texto “plantar” se refere ao ministério apostólico de Paulo, pioneiro em estabelecer novas igrejas em lugares onde não havia uma igreja presente. Ele deixa isso visível em Romanos: “esforçando-me, deste modo, por pregar o evan-gelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (BÍBLIA, Romanos 15, 20).

[...] plantação de igrejas é o ministério que, através do evangelismo e discipulado, estabelece comunidades reprodutivas do reino de crentes em Jesus Cristo que estão comprometidos em cumprir os propósitos bíblicos sob a orientação de líderes espirituais locais (OTT; WILSON, 2013, p. 23).

Acompanhando essa definição de igreja, os seguintes alvos de curto prazo são estabelecidos como medida de reconhecimento de que a igreja está plantada:

■ Pessoas da localidade ou do povo-foco foram levadas à fé em Cristo,

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discipuladas e congregadas em uma comunhão de crentes mutuamente comprometidos que se reúnem regularmente.

■ Uma equipe qualificada de líderes espirituais locais (de preferência que pertençam ao povo-foco) é chamada e reconhecida pela congregação. Eles orientam, ensinam e aplicam apropriadamente as Escrituras em suas vidas e na sociedade.

■ As estruturas culturalmente apropriadas para comunhão, louvor, evan-gelismo, serviço e governo estão funcionando.

■ Crentes locais internalizaram valores e objetivos bíblicos. Os propósi-tos do Reino para a igreja estão sendo progressivamente vividos (OTT; WILSON, 2013, p. 27).

Em todo momento que observa-se a plantação de igrejas e as estratégias que envol-vem esse desafio, encontramos as diferentes fases que envolvem esse processo cíclico. Mesmo depois de sua partida, os plantadores de igrejas devem manter o acompanhamento com alvos de longo prazo. Esses alvos, dentre outros, são indicados por Ott e Wilson:

■ Multiplicação pela plantação de igrejas filhas, envio de plantadores de igrejas e envio ou apoio de missionários.

■ O estabelecimento de ministérios locais que demonstram os valores do Reino de compaixão e justiça.

■ Início de ministérios especializados voltados a grupos étnicos, subcultu-ras ou pessoas com necessidades especiais.

■ Criação de práticas contextualizadas relacionadas a costumes locais, tra-dições e cerimônias.

■ Estar ligado a uma comunidade nacional ou regional de igrejas ou aju-dar a formá-la.

■ Participação em iniciativas locais ou regionais com outras igrejas (OTT; WILSON, 2013, p. 28).

Esses objetivos devem ser acompanhados até que sejam alcançados, pois, ainda que demore algum tempo, os valores e a visão desses alvos devem estar presen-tes desde do início da plantação da igreja.

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COSMOVISÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Estamos diante do desafio de cumprirmos nossa tarefa orientados pela missão de Deus, fundamentados numa teologia bíblica e relevante, considerando os princípios bíblicos corretos do que é igreja e de plantio de igrejas. Nada disso poderá alcançar êxito caso não contemplemos os contextos culturais existentes.

Lesslie Newbigin influenciou tremendamente a missiologia mundial ao ensinar que a Igreja apenas encontraria genuíno renovo em sua vida e testemunho mediante um novo encontro do evangelho com a cultura. Assim, para prover respostas para as perguntas missiológicas de hoje, precisamos desenvolver: a) uma análise sócio-cultural; b) uma reflexão teológica; c) uma visão para a Igreja e sua missão. É o levantar da ban-deira que conclama a Igreja a apresentar um evangelho relevante, na língua do povo, que responda às perguntas mais inquietantes da socie-dade de hoje (LIDÓRIO, 2011, p. 11).

Quando um(a) missionário(a) ou um(a) plantador(a) de igreja vai a outra cultura, ele(a) leva o seu modelo de igreja, uma linguagem específica e um paradigma já estabelecido. A tendência é implantar o modelo já experimentado no contexto anterior. Entretanto, cada ser humano possui uma visão e interpretação diferente do mundo, isso diz respeito à sua cosmovisão. As pessoas não veem as coisas como são, mas como elas parecem ser, por meio de suas “lentes” de observação.

O materialista ou o naturalista, por exemplo, não vê evidência alguma do poder ou da presença de Deus no mundo. Sempre procurará explicações psico-lógicas ou científicas para os fenômenos observados. O animista, do outro lado, vê deuses e espíritos em todos os lugares. Segundo o conceito dele, até mesmo

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os fenômenos naturais devem ter explicações espirituais. Em determinados gru-pos culturais, os homens e mulheres tendem a ter em comum certas crenças fundamentais ao definirem a realidade que os cerca. Isso nos leva a entender que, mesmo na comunicação do evangelho em nosso bairro ou cidade, temos que considerar a cosmovisão e necessidade de contextualização da mensagem.

Necessitamos compreender que quando o evangelho é comunicado, aqueles que o ouvem vão decodificá-lo dentro do contexto de uma realidade apresentada por sua própria cultura; o missionário deve apresentar sua mensagem conside-rando essa realidade.

Encontramos abismos gigantescos que separam as pessoas das várias tradições religiosas. No momento da comunicação da mensagem, a fonte missionária deve ter clara percepção dos aspectos da cultura daquele local para poder defi-nir o estilo de comunicação, sem perda do conteúdo teológico a ser comunicado.

Lidório (2011), considera necessário um trabalho de tradução na língua e na cultura para que o evangelho seja pregado de uma forma inteligível e com-preensível, conforme descrito abaixo:

[...] as línguas dispõem de códigos diferentes para viabilizar a comunica-ção e o mesmo ocorre com a cultura. Quando se expõe a um esquimó que o sangue de Jesus nos torna brancos como a neve, ele rapidamente nos perguntará qual categoria de branco, já que, em sua visão culturalizada de quem convive com a neve e o gelo por milênios, há 13 diferentes tipos de “branco”. Ignorar tal extrato cultural culminará em uma pregação rasa, confusa ou distorcida da Palavra de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 20).

Cosmovisão: é a forma como um grupo vê e interpreta o universo que o cerca. Geralmente grupos diferentes expressam diferentes cosmovisões quanto ao tempo, localização, relacionamento pessoal, princípios e valores da vida. Entender a cosmovisão do grupo alvo com o qual haverá um envol-vimento missionário é um dos mais importantes pré-requisitos que antece-dem a proclamação do evangelho.

Fonte: Lidório (1996, p. 123).

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Hesselgrave (1995), destaca que a mensagem cristã é ampla e universal, destinada a todos os homens, independentemente de raça, língua, cultura ou circunstâncias. Naturalmente, há um só Deus e Pai de todos, mas os escritores dos Evangelhos e os pregadores do Novo Testamento demonstraram uma notável variedade nas maneiras de comunicar a mensagem, não apenas quanto ao estilo, mas também quanto ao conteúdo.

A base da comunicação do evangelho consiste na necessidade espiritual do homem em seu estado natural de pecado e alienação de Deus. Contudo, em cada caso, esta necessidade universal é apresentada de diferentes formas. Para que o sentido teológico não se perca e a comunicação seja eficaz, se faz necessário o processo de contextualização.

Ainda, de acordo com Hesselgrave (1995), destaca algumas perguntas que devem ser consideradas pelo comunicador do evangelho, as quais ajudaram na contextualização da mensagem, de maneira que as doutrinas bíblicas sejam comu-nicadas numa linguagem compreensível ao auditório, sem perder sua fidelidade às Escrituras. Apresentamos essas perguntas de forma adaptada:

1. Em que aspectos os ouvintes terão maior probabilidade de compreender erroneamente a mensagem?

2. Quais crenças religiosas dos ouvintes são semelhantes à doutrina cristã e podem formar pontes conceituais para a comunicação da mensagem? (Cuidado neste ponto. O que consideramos semelhanças podem ser ape-nas aparentes semelhanças, ocasionando mal-entendidos significativos, a não ser que sejam tratadas com cuidado).

3. Quais preocupações do auditório-alvo são atingidas pela autoridade e clareza da mensagem de Cristo?

4. Quais adaptações da mensagem já foram realizadas com êxito para este tipo de auditório ou auditórios semelhantes?

Uma vez que tenhamos identificado e caracterizado os ouvintes é natural per-guntar como comunicaremos a eles a mensagem. Boa parte da comunicação cristã é espontânea, porém existem muitos momentos que devem ser bem pla-nejadas (HESSELGRAVE, 1995).

É preciso ter cautela quando tratamos o processo de contextualização, pois,

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para muitos, a contextualização está ligada à adaptação da mensagem para que ocorra a assimilação da mesma. Nesse contexto, manifesta-se o risco da perda do correto conteúdo teológico comunicado, em função da adaptação do conteúdo da mensagem para maior entendimento, gerando comunidades fracas teologi-camente e possuidoras de sincretismo religioso.

Nesse caso, o indígena que se converte ao evangelho pode frequentar reuni-ões e compreender alguns princípios bíblicos, mas quando surge um problema de saúde ele buscará a magia ou a pajelança como alternativa para solução do problema. Ou seja, o indígena passa a viver uma mistura de religiões.

Outra questão que se apresenta é o nominalismo evangélico, em que as pessoas passam a confessar que são evangélicos, sem, entretanto, passar por uma verdadeira conversão. Alguns nem frequentam uma igreja, ou praticam os princípios propostos pelas Escrituras, apenas se simpatizam com o evangelho.

Lidório nos indica o perigo da má contextualização, reconhecendo que: [...] o próprio termo “contextualização” foi utilizado no passado por Kraft, a partir do relativismo de Kierkegaard, com fundamentação em uma teologia liberal que não cria na Palavra de Deus de forma dogmá-tica, mas adaptada. Esses creem que a Palavra de Deus se aplica apenas a contextos similares de sua revelação, não sendo assim supracultural e nem a-temporal (LIDÓRIO, 2011, p. 21).

Nesse sentido, a teologia liberal de Kierkegaard ameaça a fidelidade às Escrituras, uma vez que considera que a cultura não deva ser alterada e que a adaptação deve ocorrer na mensagem bíblica. Entretanto, consideramos que o evangelho sempre trará uma mensagem confrontadora, que nos desafia à mudança e transformação.

Hesselgrave (1995), indica o exemplo de Jesus como modelo de contextu-alização a ser seguido. Embora nosso Senhor ministrasse dentro dos limites da cosmovisão do judaísmo, Ele, todavia, realizou abordagem em diversos contextos.

Lidório (2011), apresenta Jesus como maior modelo de contextualização da mensagem. Aos judeus, Jesus falava mencionando cobradores de impostos, aos fariseus, Jesus falava sobre hipocrisia na adoração e práticas religiosas. A multi-dão narrava sobre plantações, pão e trigo.

Uma mensagem compreensível e relevante para o universo de quem a ouve. Impactante em seu significado e que apela por transformação hu-mana e social. Ao mesmo tempo, fiel às Escrituras - revelação de Deus - e teologicamente fundamentada (LIDÓRIO, 2011, p. 19).

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Lidório (2011), apresenta alguns pressupostos fundamentais para que a teolo-gia da contextualização seja preservada:

• A Palavra é supracultural e atemporal, portanto viável e comu-nicável para todos os homens, em todas as culturas, em todas as gerações. Cremos assim que a Palavra define o homem, e não o contrário.

• Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da Antropologia, mas traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto do usual ao transmissor, a fim de que todo homem compreenda o Cristo histórico e bíblico.

• Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igre-ja deve evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma resposta para as perguntas que os missionários fazem - uma solu-ção apenas para um segmento, ou uma mensagem alienígena para o povo alvo (LIDÓRIO, 2011, p. 20-21).

O autor evidencia que a comunicação da mensagem bíblica contextualizada deve-se manter fiel às Escrituras Sagradas. Uma adaptação do conteúdo da men-sagem à cultura pode tornar sem efeito o convite à salvação. O arrependimento é produzido quando o homem é confrontado com sua condição de miséria e pecado diante de Deus.

Lidório (2011) apresenta de forma prática o processo de contextualização da mensagem ao pontuar momentos do ministério e da vida do apóstolo Paulo:

• A mensagem, em um processo de comunicação contextual, jamais deve ser diluída em seu conteúdo. A fidelidade às Escrituras deve ser nossa prioridade à semelhança de Paulo, que falou da ressur-reição de Cristo no areópago mesmo sabendo que seria um tema controverso para a crença filosófica presente.

• O público-alvo, seus pressupostos culturais, língua e entendimen-to sobre Deus são fatores relevantes para a apresentação do evan-gelho. Paulo pregou Cristo da mesma forma para seus ouvintes. Sua sensibilidade ao contexto conduziu sua abordagem.

• O uso de simbologias culturais explicativas das verdades bíblicas podem ser utilizadas, desde que apresentem claramente a relevân-cia do evangelho. Paulo fez isso utilizando o “deus desconhecido”, partindo de um elemento sócio-cultural para expor, com clareza, a verdade do evangelho. Em outros momentos, ele o fez a partir da

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criação, do contraste entre Deus e os deuses adorados e do próprio sentimento humano de desencontro com a vida e perdição.

• O evangelho deve ser explicado a partir de si mesmo e não da cul-tura. O conteúdo do evangelho não é negociável. Quando Paulo fala aos judeus sobre o Messias e lhes apresenta Jesus, ele estava ali em uma linha “segura” de comunicação contextualizada. Porém, seu desejo por criar uma atmosfera propícia para a comunicação não fez com que minimizasse as verdades mais confrontadoras, que o levariam a ser expulso, ignorado e questionado.

• O alvo final da apresentação da mensagem é levar o homem ao conhecimento de Cristo, e não simplesmente comunicá-la. A co-municação de Paulo pavimentava o auditório para a apresentação da verdade, tanto para os filhos da promessa quanto para os filhos da criação.

• A contextualização da mensagem, linguística e culturalmente, é instrumento para uma boa comunicação, que transmita o evange-lho de forma clara e compreensível. Paulo a utilizava abundante-mente ao falar distintamente a judeus e gentios, escravos e livres, senhores e servos. Também Jesus, ao propor transformar pesca-dores em pescadores de homens, ao utilizar em seus sermões a candeia que ilumina, a semente lançada em diferentes solos, o joio e o trigo no mesmo campo, a dracma que se perdeu, as redes abar-rotadas de peixes, o fez para que o essencial da Palavra chegasse de maneira inteligível para a pessoa, sociedade e cultura que o ouvia.

• O resultado esperado da apresentação contextualizada do evange-lho é o arrependimento dos pecados e sincera conversão. Qualquer apresentação do evangelho que leve o homem a sertir-se confor-tável em seu estado de pecado é certamente inconclusiva e parcial. Paulo deixa isso bem claro quando lhes expõe um evangelho liber-tador e transformador (LIDÓRIO, 2011 p. 31-32).

Quando uma pessoa ou um povo passa a ter uma experiência com Jesus e o conhece como salvador pessoal, encontrará uma forma de expressá-lo e adorá-lo em sua cultura e aplicará a palavra de Deus em sua cosmovisão. Assim nascem as igrejas multiculturais. Por isso, o que mais importa na vida de um(a) plan-tador(a) de igrejas é que ele(a) proclame a palavra de salvação, considerando a teologia da contextualização.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos encerrando esta unidade de estudo, considerando que muitas das infor-mações aqui tratadas podem ser incorporadas à vida cristã diária, quer como teólogo, ministro do evangelho, discípulo do Senhor Jesus, quer como missio-nário ou plantador de uma nova igreja.

Você pode entender o quanto a base teológica correta é importante para a plantação de igrejas. De que adianta levantarmos um grande edifício que possa desabar, ou edificarmos em um fundamento não aprovado por Deus?

Por isso, todo nosso trabalho deve ser traçado pela missão de Deus. Um Deus missionário nos concede todo recurso e direção teológica para estabelecer-mos seu reino e para fazermos Sua vontade. As ações missionárias consistentes não podem caminhar divorciadas da Teologia, bem como a Teologia Bíblica não pode caminhar sem forte expressão missionária.

Cabe a nós entendermos que a mensagem cristã é abrangente e universal. É destinada a todos os homens de todas as épocas e de todas as culturas sobre a face da terra. Porém, os contextos culturais em que Deus a revelou e em que a mensagem é levada são bem distintos. Para que o sentido da palavra não se perca no processo de comunicação, a contextualização se faz primordial. Temos que perceber e considerar as diferenças culturais e de cosmovisão para comuni-car a mensagem do evangelho adequadamente.

Alguns aspectos da antropologia missionária foram abordados no decor-rer dos nossos estudos. Sempre é fascinante considerarmos e aprendermos mais sobre as diferentes culturas, o que nos faz refletir sobre paradigmas, nos-sos modelos e definições.

Na próxima unidade avançaremos nesse desafio. Vamos considerar, tam-bém, o tema Modelos de Plantação de Igrejas, que é o nome da nossa disciplina. Como podemos usar modelos preestabelecidos diante de realidades culturais tão diferentes? Juntos, vamos encontrar essas respostas.

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1. Missiologia e Teologia não devem ser tratadas como áreas separadas de estudo, mas como disciplinas complementares. A Teologia não apenas coopera com a Igreja ao fazê-la entender o sentido da Missão e a base para o plantio de igrejas, como também provê o entendimento bíblico motivacional para o evangelismo. Qual a importância da conciliação entre teologia e missiologia frente ao de-safio de plantar igrejas?

2. Como nos edifica e alegra pensar que Deus é um Deus missionário e que missão é uma obra essencialmente de Deus. O sentido ampliado da Missio Dei foi tra-zido por Bosch e nos detalha o caráter missionário de Deus. Explique qual é o sentido ampliado da Missio Dei, o qual engloba também o papel da Igreja.

3. Ott e Wilson (2013), dizem que: “plantação de igrejas é o ministério que, através do evangelismo e discipulado, estabelece comunidades reprodutivas do reino de crentes em Jesus Cristo que estão comprometidos em cumprir os propósitos bíblicos sob a orientação de líderes espirituais locais”. Acompanhando essa de-finição de igreja, cite dois alvos de curto prazo que sinalizam que a igreja está plantada.

4. Cada ser humano possui uma visão e interpretação diferente do mundo, isso diz respeito à sua cosmovisão. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade, o que é cosmovisão e qual sua implicação no plantio de igrejas?

5. Lidório (2011) apresenta Jesus como maior modelo de contextualização da men-sagem. Aos judeus, Jesus falava mencionando cobradores de impostos, aos fari-seus, Jesus falava sobre hipocrisia na adoração e práticas religiosas. À multidão, narrava sobre plantações, pão e trigo. Cite um dos pressupostos fundamen-tais, apresentado por Lidório (2011) para que a teologia da contextualiza-ção seja preservada.

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O movimento de Lausanne III, que gerou o documento conhecido como “Compromisso da Cidade do Cabo”, trouxe considerações relevantes para o correto posicionamento te-ológico da missão de Deus, traduzidas nos parágrafos a seguir:

“Nós estamos comprometidos com a missão mundial, porque ela é central para nosso entendimento de Deus, da Bíblia, da Igreja, da história humana e do futuro final. Toda a Bíblia revela a missão de Deus de trazer unidas sob Cristo todas as coisas, no céu e na terra, reconciliando-as através do sangue da sua cruz. No cumprimento da sua missão, Deus transformará a criação ferida pelo pecado e pelo mal em uma nova criação na qual não exista mais pecado nem maldição. Deus cumprirá sua promessa a Abraão de abençoar todas as nações na terra, através do evangelho de Jesus, o Messias, a semente de Abraão. Deus transformará o mundo partido formado pelas nações espalhadas sob o juízo de Deus em uma nova humanidade, de toda tribo, nação, povo e língua, redimida pelo sangue de Cristo, reunidos ali para adorar nosso Deus e Salvador. Deus destruirá o reino de morte, corrupção e violência quando Cristo voltar para estabelecer seu rei-no eterno de vida, justiça e paz. Então, Deus, Emanuel, habitará conosco, e o reino do mundo se tornará o reino do nosso Senhor e do seu Cristo e ele reinará para sempre e sempre.”

“Nós desejamos que todos os plantadores de igreja e educadores teológicos coloquem a Bíblia no centro de suas parcerias, não apenas nas declarações doutrinárias, mas tam-bém na prática. Os evangelistas devem usar a Bíblia como fonte suprema do conteúdo e da autoridade de suas mensagens. Os educadores teológicos devem recentrar o estudo da Bíblia como disciplina fundamental na teologia cristã, integrando e permeando to-dos os outros campos de estudo e da aplicação. Acima de tudo, a educação teológica deve servir para preparar professores pastores para sua principal responsabilidade de pregar e ensinar a Bíblia.”

Para ler o texto na íntegra acesse o link:

<http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/compromisso-da-cidade--do-cabo-pt-br/compromisso>.

Fonte: adaptado de Movimento de Lausanne… (2010, on-line)4.

Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

Teologia Bíblica de MissõesGeorge W. Peters

Editora: CPADSinopse: esta obra oferece ao leitor uma visão genuinamente bíblica

e de grande profundidade espiritual. O autor buscou oferecer uma

ferramenta focada em missões para seminaristas e vocacionados em missões, refutando algumas

alternativas liberais. Em uma ênfase teocêntrica, a obra ressalta a importância da proclamação do

evangelho, o papel da igreja local como responsável pelas missões e o senhorio de Cristo.

O Refúgio Secretodurante a Segunda Guerra Mundial, famílias judias na Holanda vivem dias de incerteza. Elas podem ser capturadas pelos nazistas a qualquer momento, e uma mulher cristã encontra uma saída. Ela passa a esconder os judeus na parte debaixo de sua casa. O filme nos testemunha como é possível permanecer fiel ao Senhor, mesmo em meio à depredação de uma cultura.

APRESENTAÇÃO: a EPI - Escola de Plantadores de Igrejas é uma escola de capacitação para líderes, para plantação de novas igrejas, que propõe-se a ser um centro de reflexão e aprendizado para uma nova geração de pensadores cristãos. Para saber mais acesse: <http://www.plantadoresdeigrejas.org/home.php>.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.

BOSCH, D. J. Missão Transformadora: mudança de paradigma na teologia da mis-são. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2002.

HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais. São Paulo: Vida Nova, 1995.

LIDÓRIO, R. Entre todos os povos. Vila Velha-ES: Fronteiras, 1996.

______. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos, 2011.

OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.

PETERS, G. W. Teologia bíblica de missões. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.

STETZER, Ed. Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudá-veis e relevantes à cultura. São Paulo: Vida Nova, 2015.

VAN ENGEN, C. Povo Missionário, Povo de Deus: por uma redefinição do papel da igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1996.

VICEDOM, GEORG F. The Missionof God. ST. Louis: Concordia, 1965.

______. A Missão do Povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2012.

WRIGHT, C. J. H. A Missão de Deus: desvendando a grande narrativa da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2014.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1Em: <http://www.significados.com.br/pragmatismo/>. Acesso em: 22 mai. 2017.2Em: <http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/pacto-de-lausan-ne-pt-br/pacto-de-lausanne>. Acesso em: 22 mai. 2017.3Em: <https://estudos.gospelmais.com.br/missio-dei.html>. Acesso em: 22 mai. 2017.4Em: <http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/compromisso-da--cidade-do-cabo-pt-br/compromisso>. Acesso em: 22 mai. 2017.

GABARITO73

1. A compreensão entre teologia e missiologia pode gerar igrejas evangelizadoras que vivem a palavra de Deus, anunciam o evangelho e comunicam o caráter de Cristo em sua vida.

2. A doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no sentido de incluir ainda outro movimento - Pai, Filho e Espírito Santo enviando a Igreja para dentro do mundo.

3.

• Pessoas da localidade ou do povo-foco foram levadas à fé em Cristo, disci-puladas e congregadas em uma comunhão de crentes mutuamente com-prometidos que se reúnem regularmente.

• Uma equipe qualificada de líderes espirituais locais (de preferência que pertençam ao povo-foco) é chamada e reconhecida pela congregação. Eles orientam, ensinam e aplicam apropriadamente as Escrituras em suas vidas e na sociedade.

• As estruturas culturalmente apropriadas para comunhão, louvor, evangelis-mo, serviço e governo estão funcionando.

• Crentes locais internalizaram valores e objetivos bíblicos. Os propósitos do Reino para a igreja estão sendo progressivamente vividos.

4. Cosmovisão é a forma como um grupo vê e interpreta o universo que o cerca. Geralmente, grupos diferentes expressarão diferentes cosmovisões quanto ao tempo, localização, relacionamento pessoal, princípios e valores da vida. Enten-der a cosmovisão do grupo alvo com o qual haverá um envolvimento missio-nário é um dos mais importantes pré-requisitos que antecedem a proclamação do evangelho.

5.

• A Palavra é supracultural e atemporal, portanto viável e comunicável para todos os homens, em todas as culturas, em todas as gerações. Cremos assim que a Palavra define o homem, e não o contrário.

• Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da Antro-pologia, mas traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto do usual ao transmissor, a fim de que todo homem compreenda o Cristo histórico e bíblico.

• Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igreja deve evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma resposta para as perguntas que os missionários fazem - uma solução apenas para um seg-mento, ou uma mensagem alienígena para o povo alvo.

GABARITO

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Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem

■ Compreender a importância do chamado de Deus.

■ Entender o que é cultura e os impactos das diferenças transculturais.

■ Conciliar cultura com formatos de igrejas e modelos de plantação.

■ Identificar alguns modelos de plantação de igreja.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ O chamado de Deus é para todos

■ A cultura e as diferenças transculturais

■ Compreendendo culturas, formatos e modelos

■ Modelos de plantação de igrejas

INTRODUÇÃO

Seja bem-vindo(a) a mais uma unidade da nossa disciplina. Como é fascinante compreender a grandeza da missão de Deus e sermos colaboradores Dele!

Nesse momento, vamos estudar cultura e as diferenças transculturais. O cha-mado de Deus é universal e, para cumpri-lo, necessitamos transpor limites de hábitos e costumes que se interpõem aos povos. Sermos sensíveis às diferenças interculturais não é tarefa fácil, pois nossa tendência é permanecer no limite da nossa própria cultura.

No entanto, cremos que as bênçãos que Deus concedeu a Abraão, devido à sua obediência pela fé, alcançarão todos os grupos de pessoas sobre a face da terra. Abraão saiu de Ur dos Caldeus em direção à terra da promessa, Canaã. Sua saída torna real a quebra de tradições e costumes necessária para a constru-ção de um paradigma celestial.

O plantador de igrejas deve ter seu coração cheio do amor de Deus pelas almas e povos espalhados pela terra, para que possa superar as diferenças cultu-rais. Enfatizamos que a proposta do evangelho não é agredir uma cultura, mas entendê-la de forma a encontrar a porta para a entrada das boas-novas.

Vamos considerar formatos de igrejas e modelos de plantação de igrejas. Com essa abordagem, não podemos e nem queremos apresentar um molde, ao qual as diferentes culturas terão que se adaptar. Não trataremos a arquitetura final que cada igreja terá, pois isso é obra do Espírito Santo. Buscaremos encon-trar caminhos bíblicos e históricos pelos quais as igrejas foram estabelecidas no decorrer dos séculos.

Quando o reino de Deus chega a uma localidade produz uma modificação em muitos aspectos, entretanto, o processo de plantar uma igreja não constitui produção em série de um produto pré-definido. Desde que sejam estabelecidos os parâmetros teológicos corretos, a riqueza e a beleza de Deus manifesta uni-dade na diversidade da Igreja. Temos muito trabalho pela frente.

Introdução

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O CHAMADO DE DEUS É PARA TODOS

“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:1-3)

“Para que a benção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé o Espírito prometido. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo.” (Gálatas 3:14, 16)

“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (Mateus 1:1)

“Na sua descendência serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz.” (Gênesis 22:18)

“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.” (Hebreus 11:8)

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Vemos, no chamado de Deus a Abraão, uma promessa ampliada a toda raça adâ-mica por meio de Cristo, o descendente de Abraão. A bênção de Abraão é o meio para que todas as famílias da terra sejam alcançadas. Dois povos estão incluídos nessa promessa, os filhos espirituais - que pela fé nasceram de novo em Cristo e tornaram-se descendentes de Abraão pela fé - e o próprio povo judeu - a des-cendência terrena de Abraão.

Lidório (1996), faz uma pergunta primordial para entendermos o chamado de Deus no Antigo Testamento: A quem Deus se revelou? Se a resposta for: ape-nas a Israel, estaremos perante um Deus nacional. Se cremos que Deus intentou alcançar todas as famílias da terra, então estaremos perante um Deus que pre-tende ser conhecido e adorado por todas as nações.

De acordo com Gálatas 3,14, a bênção prometida consiste na dispensação do próprio Deus concedido ao homem, por meio do Seu Espírito, nesse tempo e por toda a eternidade. Deus prometeu dar a Si mesmo aos descendentes de Abraão como uma bênção. De acordo com Gênesis, essa bênção viria a todas as nações por meio do descendente de Abraão, que é Cristo.

Em Hebreus 11,8 vemos que Abraão saiu pela fé, não sabendo para onde estava indo, por isso tornou-se o pai de todos os que creem. Lidório (1996) relata uma pequena parte da grande visão transcultural de Deus descrita nas páginas do Antigo Testamento, na qual Abraão e seus filhos espirituais levaram o evan-gelho da salvação a todos os povos espalhados pela terra:

■ Abraão deu testemunho do Senhor aos Cananeus, Filisteus e Heteus (Gênesis 21:22-34; 23:1-12; 13:14-18);

■ José foi testemunha do Senhor entre os Egípcios (Gênesis 41:1-16);

■ Moisés testemunhou do Senhor aos Egípcios além de trazer consigo Jetro, seu sogro Midianita (Êxodo 5:1-3; 18:1-12);

■ Noemi testemunhou do Senhor a Rute e Orfa, que eram Moabitas (Rute 1:3-9, 16 e 17);

■ Elias foi usado por Deus para ser bênção a uma viúva em Sidom (I Reis 17:8-16);

■ Eliseu testemunhou a Naamã que era Sírio (I Reis 5:1-15);

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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■ Jonas testemunhou do Senhor a Nínive (Jonas 3:1-10);

■ Daniel foi testemunha na Babilônia (Daniel 2:26,27);

■ Ester testemunhou sua fé e dependência do Senhor ao povo Persa (Ester 10:1-3);

■ Os profetas profetizaram em nome do Senhor a muitas outras nações (LIDÓRIO, 1996, p. 15).

O livro de Salmos também nos demonstra que o povo de Israel era consciente da visão transcultural do seu Deus:

Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todas as terras. Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas (BÍBLIA, Salmos, 96,1.3).

O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das nações (BÍBLIA, Salmos, 98,2).

Reina o Senhor, tremam os povos. Ele está entronizado acima dos que-rubins; abale-se a terra. Celebrem eles o teu nome grande e tremendo, porque é santo (BÍBLIA, Salmos, 99,1.3).

Render-te-ei graças entre os povos, ó Senhor! Cantar-te-ei louvores en-tre as nações (BÍBLIA, Salmos, 108,3).

Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, louvai-o, todos os povos (BÍ-BLIA, Salmos, 117,1).

Lidório (1996) cita a oração missionária de Salomão na inauguração do templo, pedindo que todos os povos da terra conheçam o nome do Senhor:

[...] também ao estrangeiro, que não for do teu povo Israel, porém vier de terras remotas, por amor do teu nome. [...] ouve tu nos céus, lugar da tua habitação […] a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome (BÍBLIA, I Reis, 8,41.43).

Com os profetas do Velho Testamento essa condição não foi diferente. Eles pro-fetizaram às terras do mar e aos povos de longe, como Isaías:

[...] ouvi-me, terra do mar, e vós povos de longe. Mas agora diz o Senhor, que me formou desde o ventre […] sim diz ele: pouco é o seres meu ser-vo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os remanescen-tes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra (BÍBLIA, Isaías, 49,1-6).

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No evangelho de Mateus vemos a narração do sermão profético de Cristo aos discípulos, quando estes lhe perguntaram que sinal haveria antes da vinda do Senhor: “e será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para teste-munho a todas as nações. Então, virá o fim” (BÍBLIA, Mateus, 24,14).

Hesselgrave (1995) aponta que durante o período que compreende o livro de Atos, o Espírito Santo tinha um plano para cumprir a “Grande Comissão”, mesmo quando os apóstolos não tinham nenhum plano e, cada vez mais, aquele plano veio a ser uma questão de discussão e deliberação por parte do Seu povo. O livro de Atos apresenta uma Igreja, na qual os judeus e os gentios comparti-lham em base igual o plano eterno de Deus.

Da mesma forma, o livro de Mateus também narra como a Igreja partilha os ideais eternos sob a autoridade de Jesus. Vejamos:

[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século (BÍBLIA, Mateus, 28,18-20).

Observamos, nas palavras de Jesus, o desejo do coração de Deus, revelando-se como um Deus universal a todos os povos, cumprindo a promessa de redenção de toda raça humana em Jesus Cristo, o qual formou a Igreja para que todos os povos da terra fossem alcançados. Assim se cumprirá a visão de João na ilha de Patmos:

[...] depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação (BÍBLIA, Ap 7,9.10).

A tarefa central à qual Cristo chama o Seu povo é a proclamação do evangelho de Deus a todo o mundo, fazendo discípulos e ensinando-os a guardar todas as coisas que foram por Ele ensinadas. Para isso é preciso planejar a tarefa e verificar os desafios que ela estabelece. É preciso ter um plano abrangente e dimensionar os recursos necessários para sua execução. Dentre tantos desafios que se colo-cam diante de nós, torna-se primordial um profundo conhecimento da cultura no momento da plantação de uma igreja.

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A CULTURA E AS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

Entendendo o que é culturaA palavra cultura possui um sentido muito amplo na língua portuguesa. Porém, é preciso uma compreensão adequada de seu significado para que possamos comunicar efetivamente o evangelho a um mundo heterogêneo.

Neste momento, consideramos o estudo da cultura em seu aspecto antropo-lógico, ou seja, observando o ser humano na totalidade de suas manifestações e dimensões.

Laraia (2001), refere-se ao conceito de cultura, considerando o dilema entre a identidade biológica e a diversidade humana. Essa preocupação existe desde há quatro séculos antes de Cristo, quando Confúcio dizia que a diferença entre os homens não é a questão biológica, mas a diferença de costumes. Por isso, base-ado em Laraia (2001), apresentamos um provável conceito de cultura.Cultura: conjunto de conhecimentos, crenças, leis e hábitos que as pessoas aprendem e que não é um elemento natural (LARAIA, 2001).

Uma das teorias importantes no processo de formulação do conceito de cultura apresentado por Laraia (2001), é o determinismo biológico, que preconiza que as pessoas nascem com características que são congênitas. Surgem as ideias de que os nórdicos são mais inteligentes que os negros, de que os judeus são bons

A Cultura e as Diferenças Transculturais

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comerciantes e são avarentos, de que os portugueses são muito trabalhadores mas são pouco inteligentes e de que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, o desleixo dos índios e a luxúria dos portugueses, embora seja um povo criativo. Esses pensamentos ainda são muito comuns em nossa sociedade.

Além desses elementos que o determinismo biológico traz, as relações de gênero também foram bastante influenciadas por essa teoria, porque consoli-daram papéis sociais masculinos e femininos, o que determina uma hostilidade contra o grupo biologicamente mais fraco em termos de força física, as mulhe-res, o que fez com que, durante um grande período histórico, as mulheres fossem vistas como inferiores dentro da ótica de raciocínio do determinismo biológico.Determinismo biológico: preconiza que as pessoas nascem com características que são congênitas (LARAIA, 2001).

Outra importante abordagem histórica que Laraia (2001) ocupa-se é o deter-minismo geográfico. Essas teorias foram pesquisadas por geógrafos no final do século XIX e início do século XX e falam que o meio determina os comporta-mentos dos seres humanos.

O determinismo geográfico também causa uma série de processos precon-ceituosos, no qual pessoas que vivem nos trópicos são tidas como preguiçosas e pouco produtivas. Pessoas que vivem em países de clima frio são tidas como inteligentes, civilizadas e eficientes. Essa perspectiva gera servidão e uma série de conflitos e foi utilizada durante um tempo histórico muito longo.

Ainda existem pessoas que usam essa ideia, de que o meio determina o ser humano, para justificar as discriminações. Os antropólogos contestam essa teo-ria dizendo que em regiões de climas e meio ambiente parecidos as pessoas têm culturas e comportamentos diferentes. Determinismo geográfico: prega que o meio determina os comportamentos dos seres humanos (LARAIA, 2001).

Dentre as teorias modernas de cultura, Laraia destaca a de Ruth Benedict, que diz: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (LARAIA, 2001, p. 67). Se olharmos o mundo através dessa lente, partimos dos pressupos-tos da cultura que possuímos, que aprendemos socialmente.

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Ao olharmos o mundo por nossa própria lente e considerarmos que a cul-tura em que vivemos traz o padrão correto, surge uma dificuldade nas pessoas de aceitar o diferente, o outro. Esses processos geram um componente definido como etnocentrismo, que é a dificuldade de aceitar a diferença, e pode causar muita hostilidade entre os povos, levando-os à guerra, rejeição, disputa pelo poder e até tentativa de escravizar o mais fraco.

Percebemos que a cultura não é uma simples reunião de fundamentos, pois cada um de nós observa o mundo e as expressões humanas de acordo com seus paradigmas. Laraia (2001, p. 67) aponta que “a cultura condiciona a visão do mundo, interfere na existência física do ser humano, opera com uma lógica pró-pria e se mantém dinâmica”. A cultura envolve tudo que se faz numa sociedade e tem influência direta nas relações sociais, políticas e de poder. De uma maneira simples, é todo e qualquer tipo de manifestação do ser humano. De época em época a cultura sofre mudanças, que determinam novos hábitos e costumes.

Cada sociedade apresenta uma cultura específica com características pró-prias que sofrem influência do ambiente no qual esta cultura se encontra inserida. Roupas, comidas e até a forma de falar e se comunicar variam de cultura para cultura, dependendo do ambiente. Percebe-se o grande desafio estabelecido para plantação de igrejas.

Lloyd Kwast apresenta um modelo útil para compreensão da cultura como um sistema concêntrico de atributos: a visão de mundo, as crenças, os valores, o com-portamento e o habitus, que é acrescentado por Pierre Bourdieu. Kwast adverte:

[...] este modelo de cultura é muito simplista para poder explicar a variedade de componentes e relações complexas existentes em cada cultura, todavia, é a própria simplicidade do modelo que o recomen-da como esboço básico para qualquer um que vá estudar a cultura (KWAST, 1987, p. 441).

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Figura 1 - O que é cultura?Fonte: Kwast (1987, p. 440).

A análise do modelo inicia-se visualizando os sucessivos níveis de entendi-mento, à medida que se aproxima da verdadeira essência da cultura. O primeiro elemento que se percebe no sistema é o habitus, definido por Bourdieu como:

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações - e torna possível a re-alização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas (BOURDIEU, 1983, p. 65).

Kwast (1987) apresenta, em seguida, na construção de seu modelo, o “comporta-mento”. Trata-se da forma como as coisas são realizadas. Isso fornece um elemento importante na cultura, a padronização do que se faz, o que traz entre os parti-cipantes de determinada cultura um sentimento de identidade e continuidade quase impenetrável. Por isso, à medida que as sociedades se estabelecem, as pes-soas passam a fazer escolhas comportamentais semelhantes.

Essas escolhas são refletidas na criação de valores culturais, que se trata do próximo nível do modelo de Kwast. Os valores sempre dizem respeito ao que é bom, benéfico ou o que é o melhor a ser aceito.

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Valores são decisões “pré-estabelecidas” que uma cultura toma dian-te de escolhas que frequentemente se tem de fazer. Os valores ajudam aqueles que vivem dentro da cultura a saber o que deveria ser feito a fim de se adequarem ou se conformarem ao padrão de vida (KWAST, 1987, p. 439).

No próximo nível do modelo nos deparamos com um momento de maior com-preensão do que é verdadeiro para uma específica cultura, trata-se das crenças culturais. Kwast (1987, p. 439) diz que “numa cultura os valores não são esco-lhidos arbitrariamente, mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de crenças”.

Na questão educacional, por exemplo, existe um critério do que é verdadeiro acerca do homem, sua inteligência, sua capacidade de resolver problemas. Nessa questão, a cultura é definida pela maneira como as coisas são percebidas, apren-didas e compartilhadas.

Não descartamos a hipótese de que numa mesma sociedade pessoas dife-rentes, embora possam possuir comportamentos e valores semelhantes, podem professar crenças diferentes. Nesse aspecto Kwast explica:

[...] este problema é resultante da confusão dentro da cultura entre crenças operacionais (crenças que afetam valores e comportamen-to) e crenças teóricas (convicções expressas em palavras e que têm um impacto praticamente nulo sobre os valores e o comportamento) (KWAST, 1987, p. 440).

Finalmente, no âmago de qualquer cultura está a sua visão do mundo ou cosmo-visão, a qual busca identificar o que é real. Neste nível da cultura estão as grandes questões que raramente são apontadas, mas para as quais a cultura concede as mais relevantes respostas. Kwast (1987), conclui que quase ninguém pensa seria-mente a respeito das pressuposições mais profundas da vida:

[...] quem são? De onde vieram? Existe alguma outra coisa ou alguém mais a ocupar a realidade de modo que devesse ser levado em conta? Aquilo que eles vêem é realmente tudo o que existe, ou existe alguém mais ou alguma outra coisa? O momento de agora é o único tempo que é importante? Ou os acontecimentos no passado e no futuro têm algum impacto significativo em sua experiência atual? Cada cultura presume respostas específicas a estas indagações e as respostas controlam e in-tegram cada função, cada aspecto e cada componente da cultura. Esta compreensão da cosmovisão como sendo o cerne de cada cultura ex-

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plica a confusão que muitos experimentam em nível de suas crenças. A cosmovisão de uma pessoa oferece um sistema de crenças que se reflete em seus reais valores e comportamento (KWAST, 1987, p. 440-441).

Em uma cultura, às vezes, um modelo novo ou rival de crenças é introduzido por meio da evangelização, mas se a cosmovisão não for confrontada a cultura permanecerá sem mudanças significativas, de modo que os valores e o com-portamento podem permanecer no antigo sistema de crenças. Em contextos transculturais, essa questão não pode deixar de ser levada em conta para que mudanças genuínas sejam produzidas.

DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

Não há como desconsiderar a estranheza que um missionário ou um plantador de igrejas suporta quando deixa sua terra natal e encontra-se numa diferente cultura. A começar pela possibilidade de um idioma misterioso, bem como dife-rença de vestuários, alimentos, crenças e valores enigmáticos.

Hiebert (1987) apresenta o exemplo quanto ao entendimento cultural dife-rente sobre tempo:

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[...] quando, por exemplo, dois americanos concordam em se encontrar às dez horas, eles estão “na hora” se aparecerem de cinco minutos an-tes a cinco minutos depois das dez. Se alguém aparece quinze minutos depois, está “atrasado” e gagueja uma desculpa esfarrapada. Ele deve simplesmente reconhecer que está “atrasado”. Se ele chegar com meia hora de atraso deve ter uma boa desculpa, e lá pelas onze nem precisa mais aparecer. Sua ofensa é imperdoável. Em algumas partes da Arábia, o povo tem um conceito ou mapa diferente do tempo. Se a hora da reu-nião for às dez horas, só um servo aparece às dez – em obediência ao seu senhor. A hora apropriada para os outros é de dez e quarenta e cin-co até onze e quinze, tempo suficiente depois da hora marcada para que ambos demonstrar a independência um do outro e a igualdade. Este arranjo funciona bem, pois quando duas pessoas iguais concordam em se encontrar às dez, cada uma aparece por volta das dez e quarenta e cinco, esperando que a outra faça o mesmo. O problema surge quando um americano se encontra com um árabe e marca reunião para às dez horas. O americano aparece às dez, a “hora certa” segundo ele. O árabe aparece às dez e quarenta e cinco, a “hora certa” segundo ele. O ameri-cano acha que o árabe não tem nenhum senso de tempo (o que não é verdade), e o árabe é tentado a pensar que os americanos agem como servos (o que também é falso) (HIEBERT, 1987, p. 449).

Diante de todas as adaptações que são requeridas quando nos inserimos em um novo contexto cultural, Hiebert (1987) considera que uma viagem para o exte-rior traz, no primeiro momento, vibração e euforia. Quando surgem, porém, os imprevistos e os conflitos com as diferenças culturais, ocorre um verdadeiro choque, um sentimento de confusão e desorientação.

Esta não é uma reação contra a pobreza ou contra a falta de higiene, pois os estrangeiros que chegam aos Estados Unidos experimentam o mesmo choque. É o fato de que todos os padrões culturais que adqui-rimos se tornam sem sentido. Sabemos menos que as crianças sobre a vida aqui e temos que começar novamente a aprender as coisas ele-mentares – como falar, cumprimentar os outros, comer, fazer compras, viajar e milhares de outras coisas (HIEBERT, 1987, p. 450)

Como turistas, é mais fácil enfrentar as diferenças culturais, pois sabemos que, a qualquer momento, estaremos de volta à nossa realidade. O choque cultural ocorre quando percebemos que aquela será a nossa vida por um longo período, principalmente quando se trata de uma mudança em função de um chamado missionário. E, nesse caso, somente o chamado pode ser um contra-ponto para enfrentar o sentimento de desorientação numa cultura diferente.

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Com o passar dos dias, a adequação começa a acontecer. Podemos contar moedas, fazer novos amigos, utilizar o transporte local e, assim, começamos a nos encaixar no novo contexto cultural. Isso, se fugirmos da tentação de criar nosso ambiente cultural no novo país. Vencidas essas barreiras iniciais, quando nos moldamos à nova cultura, nos tornamos pessoas biculturalmente adaptadas.

Observaremos em seguida como Hiebert (1987) considerou o impacto das diferenças culturais na transmissão do evangelho e na implantação de novas igrejas em outras sociedades:

a) Mal-entendidos transculturais - No Zaire, alguns missionários encontra-ram problemas de relacionamento pessoal que foi interpretado por um habitante idoso do país:

[...] quando vocês chegaram, vocês trouxeram costumes estranhos - ele disse - vocês trouxeram latas com alimentos. Do lado de fora havia a figura de espigas de milho. Quando vocês abriram, havia muito milho lá dentro e vocês o comeram. Do lado de fora de outra havia a figura de carne e dentro dela havia carne e vocês comeram. E quando vocês tiveram o nenê, trouxeram também latinhas. Do lado de fora dela havia figuras de nenéns, e vocês abriram as latinhas e alimentaram o nenê com o que havia dentro delas” (HIEBERT, 1987, p. 452).

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O mal-entendido estabelecido parece sem sentido, mas possui uma razão. Na falta de elementos suficientes para interpretação de uma determinada cultura fazemos nossa própria interpretação, chegando a conclusões, muitas vezes, equi-vocadas. Podemos pensar que o atraso do árabe traduz falta de consideração ou compromisso e interpretamos como mentiras a tentativa de justificar o ocorrido. Entretanto, não consideramos mentira quando alguém nos pergunta como esta-mos e respondemos que está tudo bem, mesmo quando não está.

Os mal-entendidos culturais se baseiam na ignorância sobre uma outra cultura. Este é um problema de conhecimento. A solução é aprender a conhecer como funciona a outra cultura. Nossa primeira tarefa ao en-trarmos em uma nova cultura é estudar os seus costumes. Mesmo mais tarde, sempre que parecer que alguma coisa está errada, devemos pre-sumir que o comportamento das pessoas faz sentido por elas, e reanali-sar nossa própria compreensão de sua cultura (HIEBERT, 1987, p. 453).

b) Etnocentrismo - “A maioria das nacionalidades se arrepia quando entra num restaurante indiano e vê as pessoas comendo arroz e caril com as mãos. Imaginem participar de uma ceia de Natal e se servir com as próprias mãos” (HIEBERT, 1987, p. 453). A questão, aqui presente, é que sempre estamos cen-trados no nosso próprio mundo. E não consideramos os diferentes pontos de

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vista. “Crescemos em uma cultura e aprendemos que seus modos são os modos certos de fazer as coisas. Qualquer pessoa que faça de maneira diferente não é muito civilizada” (HIEBERT, 1987, p. 453).

O etnocentrismo se constitui em nossa predisposição em avaliar os com-portamentos das pessoas de outras culturas pelos padrões e valores de nossas próprias culturas. Mas, da mesma forma somos avaliados. O indiano também se choca ao perceber que usamos talheres que estiveram inúmeras vezes na boca de outras pessoas. Hiebert (1987) aponta que quando nos relacionamos, além de entender as pessoas, precisamos derrubar as barreiras que separam as pessoas da nossa cultura das pessoas de outra cultura. “A identificação somente acon-tece quando - eles - se tornam parte do círculo de pessoas que nós consideramos como - nosso tipo de gente” (HIEBERT, 1987, p. 453).

c) Tradução - Para o estabelecimento de uma igreja, torna-se necessário que a cosmovisão bíblica seja compartilhada; entretanto, muitas passagens podem se tornar sem sentido, caso seja mantido seu significado original. Por isso, o grande desafio que temos é levar as boas novas do evangelho às nações. Hiebert trata e nos apresenta esse tema.

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Como você traduziria ... cordeiro de Deus... (João 1:29) para o esquimó, língua na qual não existe qualquer palavra ou qualquer experiência com animais que nós chamamos de ovelhas? Você criaria uma nova palavra e acrescentaria uma nota no rodapé para descrever a criatura que não tem significado no seu pensamento? Ou será que você usaria uma palavra como ...foca..., que tem mais ou menos o mesmo significado na cultura deles que ...cordeiro... tem na Palestina? [...] Em outras palavras, se numa língua encontramos a palavra cordeiro, só precisamos encontrar a palavra na outra língua para um mesmo tipo de animal e as pessoas entenderão o que estamos querendo dizer. Mas não é isto necessariamente que aconte-ce. Na verdade, geralmente acontece o contrário. As mesmas formas não carregam os mesmos significados nas diferentes línguas. Quanto mais li-teralmente traduzirmos a forma, maior o perigo de perdermos o signi-ficado. Um exemplo desta variação e significados dados à mesma forma encontra-se na história do Natal. Na Palestina os pastores eram homens devotos e respeitados. Na Índia os pastores são os beberrões das vilas, e nas representações teatrais sobre o Natal mais do que uma vez eles subiram ao palco completamente bêbados. Neste caso a forma foi mantida, mas per-deu-se algo do significado. A mesma perda pode ocorrer sempre quando traduzimos formas culturais tais como cultos ao redor da fogueira, árvores de Natal e cruzadas evangelísticas (HIEBERT, 1987, p. 453-454).

Entendemos que a salvação não está limitada a um profundo conhecimento da cosmo-visão cristã, mas se faz quando o homem reconhece sua condição de pecado e aceita a Cristo como seu salvador e busca seguir seus ensinamentos. Entretanto, para que o futuro dessas igrejas esteja assegurado, é necessário que haja uma construção de uma cosmovisão bíblica eliminando possíveis desencontros ocorridos por erros de tradução.

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d) O evangelho e a cultura - Nesse sentido, Hiebert (1987) nos alerta sobre o cuidado que temos que ter para não vincular o evangelho ao contexto cultu-ral do pregador. Alguém já disse, tragam as sementes do evangelho a nós e não o evangelho como uma planta crescida em vaso.

A mensagem do evangelho não pode ser traduzida em bancos de igrejas, paredes brancas ou em terno e gravata. Muito menos em sistemas de governo ou usos e costumes. Em certo aspecto, a cultura deve ser respeitada. Em algumas culturas templos de tijolos não terão espaço e o culto só fará sentido se realizado debaixo de árvores ou ao ar livre. Embora encontramos na palavra de Deus abso-lutos morais que não podem ser esquecidos. Então, em uma sociedade que aceita a idolatria, a poligamia ou o adultério, a Palavra de Deus deve ser ensinada até que condições de práticas pecaminosas sejam transformadas.

e) Sincretismo versus autoctonia - No que diz respeito a autoctonia das igrejas, temos que ter um profundo investimento em plantar igrejas com uma base teológica correta e abrangente, de forma que se estabeleça um evangelho com o poder de transformação. Caso contrário, as igrejas serão comunidades sincréticas que possuem sua interpretação particular e distorcida das Escrituras. Hilbert caracteriza o cuidado que devemos ter ao interpretar diferentes culturas.

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Não só devemos separar o evangelho de nossa própria cultura, mas de-vemos procurar expressá-lo em termos da cultura na qual entramos. As pessoas podem sentar no chão, cantar hinos em ritmos e melodias nativas. [...] Mas, como já vimos, a tradução envolve mais do que colo-car ideias em formas nativas, pois essas formas talvez não tragam signi-ficados adequados para a expressão da mensagem cristã. Se nós, então, a traduzirmos em formas nativas sem nos preocuparmos em preservar o significado, acabaremos no sincretismo – a mistura de significados antigos e novos de modo que a natureza essencial de cada um se perde. Se nós formos cuidadosos em preservar o significado do evangelho, mesmo quando o expressamos em formas nativas, teremos a autoc-tonia. Isto pode envolver a introdução de nova forma simbólica, ou pode envolver a reinterpretação de um símbolo nativo. Por exemplo, as damas-de-honra, hoje associadas aos casamentos cristãos, foram originalmente usadas por antigos povos europeus não-cristãos para confundir os demônios que eles pensavam que viria para levar a noiva (HIEBERT, 1987, p. 458).

Nesse sentido deve sempre haver um grande cuidado na introdução da cul-tura do evangelho, por exemplo, em comunidades onde antes a poligamia era comum, as mulheres devem ser orientadas para que não venham envolver-se na prostituição ao serem deixadas por seus antigos “maridos”. Em cada igreja plan-tada temos que crer pela poderosa operação do Espírito Santo, conduzindo os homens a toda a verdade do evangelho do Reino Eterno.

Igreja Autóctone - uma igreja é autóctone quando, a mesma, não depende de recursos externos para sua existência, possui uma liderança local respon-sável por seu governo e tem a capacidade de reproduzir-se em novas igrejas.

Fonte: o autor.

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COMPREENDENDO CULTURAS, FORMATOS E MODELOS

Caro(a) aluno(a), a plantação de igrejas eficazes, seja em seu próprio país ou em uma outra nacionalidade, é uma obra missionária. Por isso, abordamos no item anterior aspectos culturais e os impactos das diferenças transculturais dentro de uma visão de antropologia missionária.

Iniciamos, neste momento, uma reflexão sobre a relação da cultura com o formato da igreja e modelo de plantação de igreja, que são dois elementos dife-rentes. O primeiro diz respeito à forma final que se espera para a igreja plantada, e o segundo diz respeito ao processo de plantação da igreja. Stetzer (2015) diz que o plantador perspicaz precisa começar por determinar sua missão - o que inclui o entendimento de seu chamado e convicção pessoal. Obviamente sua missão deve estar alinhada e submetida à missão de Deus.

Em seguida, deve buscar compreender a cultura à qual foi chamado. Como pensam as pessoas que vivem naquele lugar? Quais são seus valores? Que acon-tecimentos moldaram sua história coletiva e como afetaram seu entendimento grupal? Qual a sua visão de mundo e o que constitui verdade para eles?

A resposta a essas perguntas começam a delinear o formato que se vislum-bra para a igreja e o modelo que poderá ser utilizado para sua plantação. Pode parecer conflitante falarmos de formatos e modelos diante de tanta diversi-dade cultural existente, entretanto, quando abordamos esse tema, estamos nos referindo ao padrão basilar que será utilizado para a plantação de uma igreja,

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considerando suas realidades culturais e necessidades de contextualização. Jamais poderíamos pensar em reprodução em série no que diz respeito à plantação de igrejas, pois cada cultura, povo e congregação terá suas características próprias de funcionamento.

O aspecto de avaliação cultural é apresentado por Stetzer (2015) para servir a vários propósitos em nossa compreensão da plantação de igreja, como cita-dos a seguir:

■ Identificar os componentes de um determinado público-alvo e pesquisar sua cultura, com o objetivo de levá-los a Cristo. Para que se possa obter bons resultados no trabalho desenvolvido, é preciso saber quem são as pessoas, bem como saber interpretá-las.

■ É importante conhecer as informações de segmentação demográfica para tomada de decisões sobre evangelização.

■ Embora as culturas e as pessoas sejam diferentes, o evangelho sempre será o mesmo para todas elas.

Dulles (1978) considera a Igreja, à semelhança de outras realidades teológicas, um mistério de Deus. Mistérios são realidades de que não podemos falar dire-tamente. Se quisermos discorrer sobre eles, por pouco que seja, devemos lançar mão de analogias facultadas pela nossa experiência do mundo. Essas analo-gias fornecem formatos e modelos. Com a atenção voltada para tais analogias e utilizando-as como “parâmetros” podemos crescer em direção a uma maior compreensão da Igreja.

Não estamos utilizando formatos ou modelos, como ocorre na arquite-tura, os quais são simples réplicas ou miniaturas da realidade em consideração. Estamos indicando pontos de referência e correspondências funcionais, como ocorre nas ciências físicas ou biológicas, com o objetivo de tomada de decisão quanto ao modelo para a plantação e o formato final que se deseja para a nova igreja se reunir e trabalhar em conjunto, embora esse modelo possa sofrer trans-formações até se consolidar.

Não podemos apresentar um molde, ao qual diferentes culturas terão que se adaptar. Na Unidade II definimos a essência da Igreja e identificamos seus pro-pósitos principais, os quais desejamos que sejam percebidos em qualquer igreja

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estabelecida. Como já observamos, quem dá o crescimento para uma igreja local é o próprio Deus, o criador da Igreja. Ele transforma as pessoas, as acrescenta às comunidades, concede dons e chama novos líderes.

Quanto ao formato da igreja, genericamente Ott e Wilson (2013), indicam que ele pode ser público ou privado, em pequenos grupos ou em um grupo maior, em um tipo repetido de reunião (como o culto dominical) ou de acordo com um ritmo próprio, combinando vários tipos de reuniões. Entretanto, aque-les que já visitaram comunidades cristãs em terras diferentes podem atestar a grande variedade de maneiras com que as igrejas se reúnem para adoração, edi-ficação e serviço.

Hoje as celebrações maiores florescem em algumas sociedades, en-quanto em outras, como em regiões tribais escassamente habitadas ou povoadas por grupos nômades, os pequenos grupos familiares são a norma. E cidades com alta densidade demográfica você pode encontrar igrejas nas prisões, igrejas de rua, nas escolas, em empresas, em bares e outros reunidos por afinidade. Perseguição ou liberdade, pobreza ou riqueza, sociedades tradicionais ou progressistas - esses fatores eram e permanecem importantes na formação de igrejas (OTT; WILSON, 2013, p. 115-116).

Embora as diretrizes das escrituras sejam amplas quanto aos aspectos de forma-ção de igrejas, as negligências em observar padrões teológicos corretos podem acarretar várias consequências negativas. Ott e Wilson (2013) afirmam que as escolhas feitas pelos plantadores terão um impacto importante no estabeleci-mento, crescimento, saúde e reprodução da igreja.

Indicamos a seguir alguns princípios relevantes, indicados por Ott e Wilson (2013), que norteiam a plantação de igrejas teologicamente saudáveis e que sejam culturalmente apropriadas, revelando a diversidade criativa de Deus:

1. Liberdade orientada pelo Espírito Santo: biblicamente, percebemos que as congregações possuem bastante liberdade nos parâmetros para estru-turação das novas igrejas, conforme retratado em Atos, capítulo 15. A essência refere-se a princípios e valores, não recai sobre a tradição. “As igrejas do Novo Testamento tinham que ser flexíveis e resistentes às adver-sidades porque, na maioria dos casos, emergiram em território hostil e tiveram que se adaptar às circunstâncias” (OTT; WILSON, 2013, p. 118).

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A mesma flexibilidade é requerida em cenários multiculturais, desde os grandes centros urbanos às comunidades mais primitivas.

2. Compreenda a cultura antes de determinar o formato da igreja: Van Gelder nos alerta sobre a necessidade de considerarmos cada contexto cultural antes de aplicarmos os princípios da eclesiologia:

[...] todas as eclesiologias devem ser vistas em funcionamento relativo a seu contexto. Não há outra maneira de ser igreja exceto dentro de um cenário concreto e histórico. [...] Novos contextos pedem novas expres-sões para a compreensão da igreja (VAN GELDER, 2000, p. 40-41).

A preferência pessoal não deve nunca estar presente na definição do formato das igrejas plantadas. Desde que sejam teologicamente corre-tas, as igrejas têm liberdade de serem adaptadas culturalmente. Líderes locais convertidos à Palavra de Deus são muito importantes para tradu-ção daquilo que é relevante para a cultura local.

3. Agentes do formato da igreja: cremos que as igrejas plantadas perten-cem aos cristãos locais debaixo da autoridade do Cabeça da Igreja, Cristo Jesus. Por isso a voz da comunidade deve ser ouvida e considerada, no que diz respeito ao melhor formato de funcionamento da igreja para cada cultura. Certamente, os fundamentos ensinados devem ser bíblicos para que a igreja reflita uma comunidade do Reino de Deus e cumpra a Grande Comissão. O processo de contextualização deve ser desenvolvido com oração, reflexão e participação de informantes culturais que já são con-vertidos e começam a desenvolver conhecimento bíblico. “O povo local, livre do controle externo e de designs importados pode, sob a direção do Espírito tornar-se a comunidade contextualizante natural” (OTT; WIL-SON, 2013, p. 119).

Em seguida, descreveremos os formatos básicos nos quais as igrejas, em geral, se configuram. Ao expor cada formato, será apresentada uma descrição, metáfora, exemplos, pontos fortes, possíveis pontos fracos e o contexto indicado. Foram selecionados os três principais formatos que dão origem a uma igreja dentro dos fun-damentos teológicos desejáveis. Os padrões ou formatos mais comuns apresentados neste tópico fundamentam-se nos estudos de Ott e Wilson (2013). Ocasionalmente, um contexto pode exigir um ponto de partida diferente. Após esta abordagem, ini-ciaremos o tratamento de modelos possíveis utilizados para a plantação de igrejas.

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Quadro 1 - Formato 1- Igrejas nos lares

DescriçãoUma comunidade cristã básica.Foco em relacionamento e missão cristã.Reúnem-se em casas, ou locais de trabalho ou locais neutros.Geralmente dirigida por um pastor leigo.Geralmente pertence a uma denominação.

MetáforaIgreja como família.

Exemplos Igrejas nos lares na China.Rede Repensando o Cristianismo Autêntico, Japão.Grupo denominado Igreja Local, Brasil.

Pontos fortesAlta prestação de contas.Contexto de pequenos grupos para discipulado.Capaz de sobreviver à perseguição.Pode penetrar em contextos urbanos. Não requer edifícios, nem obreiros profissionais.Potencial para multiplicação rápida.

Possíveis pontos fracosEspírito de independência.Perigo de líderes controladores e falsas doutrinas.Os relacionamentos tendem a se aprofundar somente para dentro do grupo.Visto com desconfiança, falta de credibilidade.Os grupos geralmente têm vida curta.

Contexto indicadoZonas rurais e onde existe perseguição.Onde a pobreza ou restrições de zoneamento tornam um edifício inacessível.Raramente funciona em contextos ocidentais tradicionais.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 120-121).

Ott e Wilson (2013) acrescentam que as igrejas nos lares trazem à lembrança uma reunião familiar. Os relacionamentos são edificados usando dons espiritu-ais, estudo bíblico e uma abordagem para o evangelismo. Os grupos formados,

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geralmente, não ultrapassam a quantidade de 50 pessoas. Encontram-se regu-larmente em uma casa particular ou outro local não religioso e são dirigidas por uma equipe de pastores leigos, no entanto, a reunião é participativa e todos os membros ministram. Algumas igrejas nos lares têm se mostrado efetivas no evangelismo e na reprodução. Tim Chester, um líder britânico de igreja nos lares, cita as seguintes vantagens das igrejas do tamanho de uma família:

a família determina um tamanho no qual o discipulado e o cuidado mútuos podem realisticamente acontecer. Ela cria uma simplicidade que combate a mentalidade de manutenção: não há edifícios caros para manter ou programas complexos para operar. Ela determina um estilo que é participativo e inclusivo, espelhando o modelo de discipulado e a comunhão ao redor da mesa do próprio Jesus (CHESTER, 2000, p. 41).

As igrejas nos lares podem ter um rápido aumento de tamanho, sem, no entanto, amadurecer quanto ao ensino e formação de lideranças. O que pode ocasionar uma duração menor para sua existência, se comparada às congregações tradicio-nais. Ott e Wilson (2013) sinalizam que este formato apresenta maior dificuldade para desenvolvimento de ministérios com crianças, jovens ou grupos de recu-peração. A necessidade de uma cobertura espiritual se mantém decisiva para o futuro e saúde desse formato de igreja.

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Quadro 2 - Formato 2 - Congregação reunida voluntariamente

DescriçãoUma unidade congregacional com agrupamentos por afinidade.Geralmente usa um modelo baseado em um programa.Reúnem-se em edifícios públicos.Sociedade voluntária, aparentemente sem fins lucrativos.Dirigida por pastores ordenados remunerados.

MetáforaIgreja como instituição.

ExemplosA maioria das denominações brasileiras e americanas.

Pontos fortesVisibilidade na comunidade.Recursos e ministérios profissionais.Ensino e cuidado pastoral consistente.Testada pelo tempo, familiar, estável.Ministérios especializados com crianças, jovens, aconselhamento etc.

Possíveis pontos fracosVulnerável sob a perseguição e mudanças demográficas.Dispendiosa pela expectativa de ter um pastor profissional e um edifício.Não é facilmente adaptável a vizinhanças que passam por mudanças.Reprodução lenta.

Contexto indicadoAdequado para áreas tradicionalmente cristãs.Zonas rurais e comunidades pequenas.Onde os terrenos e os imóveis são acessíveis.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 120-121)

No Brasil e nas Américas a maioria das igrejas protestantes fazem parte dessa classificação. Ott e Wilson (2013) as identificam como congregações simples, com menos de duzentas pessoas, em média. Essa estrutura tem sido formada por uma assembleia voluntariamente reunida, segundo apontado por Dietterich.

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As pesquisas indicam que esse formato de igreja tem sido determina-do mais pelas particularidades do cenário religioso do que por algu-ma posição teológica característica. A separação legal entre a igreja e o Estado, o desenvolvimento de uma democracia participativa, a ênfase sobre a liberdade religiosa do indivíduo, a proliferação de escolas de-nominacionais, o anseio pela associação religiosa e pelo cuidado em uma sociedade de imigrantes, assim como o formato de organização burocrática moderna têm, conjuntamente, contribuído para o avan-ço de um modelo particular de igreja (DIETTERICH, 2004, p. 2 apud OTT; WILSON, 2013, p. 123).

Essas igrejas, geralmente, têm um pastor profissional, trabalhando em tempo integral ou parcial e voluntários que fazem o trabalho de secretaria, manutenção, administração, ensino bíblico e trabalhos ministeriais. A maioria gira em torno de um programa central e tende a ser relativamente estável e altamente estruturada.

Essas igrejas tendem a produzir obreiros e facilitar a comunhão, mas podem, também, alimentar o tradicionalismo e a tomada de decisões, pode tornar-se burocrática e centralizada, retratando formações seculares empresariais.

Mesmo com as aparentes desvantagens, esse tipo de igreja tem funcionado bem. Uma solução para combater as fraquezas desse modelo é a organização de grupos caseiros e o treinamento de leigos para liderá-los, facilitando o ministé-rio mútuo baseado nos dons espirituais.

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Quadro 3 - Formato 3 - Igreja de celebração em células

DescriçãoComunidades cristãs básicas em células.Trabalham juntas para celebração e cumprimento da missão cristã.Encontram-se nos lares e periodicamente em um local público.Cresce treinando líderes e multiplicando células.

MetáforaIgreja como rede.

ExemplosIgreja Yohido Full Gospel, Seul, Coreia do Sul.Mission Carismática Internacional, Bogotá, Colômbia.

Pontos fortesBenefícios de igreja grande e de grupos pequenos.A igreja pode crescer e permanecer familiar.Descentralização de ministérios em células.Concede autoridade ao ministério leigo.

Possíveis pontos fracosCélulas problemáticas.Mesmos perigos das igrejas nos lares.A celebração pode ofuscar as células.Exige enorme energia para fazer funcionar a célula e a celebração.

Contexto indicadoAdequada para contextos urbanos.Sociedades nas quais as reuniões grandes e pequenas são valorizadas.Onde associações voluntárias em pequenos grupos são comuns.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 120-121).

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Ott e Wilson (2013) indicam que em alguns lugares essa igreja é também cha-mada de “igreja de duas asas” porque mantém um equilíbrio entre a célula (reunião pequena) e a celebração (reunião grande). O discipulado pessoal, o cuidado espiritual, o estudo bíblico e o evangelismo são descentralizados nas células - a igreja como família. A adoração, o ensino e os eventos atrativos ocor-rem predominantemente na celebração ou na grande reunião - a igreja como povo de Deus. Até o batismo, a ceia e a disciplina na igreja podem ser pratica-das no âmbito das células.

O desafio, no entanto, é mobilizar a liderança, a energia e os recursos para realizar ambas as asas de forma satisfatória. Em alguns movimen-tos de igrejas em células os líderes e as células são reproduzidos por meio de clonagem. Cada célula tem um aprendiz e quando o grupo chega a certo número de pessoas, se multiplica, dividindo o grupo em dois e comissionando o aprendiz para liderar um dos grupos. Em cul-turas nas quais o individualismo não é um valor forte, uma abordagem de clonagem e controle centralizado é mais aceitável. No entanto, em muitos lugares hoje, forçar a multiplicação (como no G12) vai contra a índole cultural e seria considerada uma atitude abusiva. Outra abor-dagem é tornar tarefa principal do líder encontrar um aprendiz com a mistura certa de dons e mentoreá-lo para que a reprodução aconteça, seja na célula, seja na celebração. As células podem apresentar todos os problemas das igrejas nos lares. O desenvolvimento contínuo de for-tes líderes de células é a chave para igrejas em células saudáveis (OTT; WILSON, 2013, p. 124).

Ott e Wilson (2013) consideram que o Senhor não prescreveu formatos de igre-jas, mas permitiu que os apóstolos tivessem a orientação do Espírito Santo no estabelecimento de igrejas autóctones, com formação de lideranças locais. Os

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plantadores de igrejas não devem imaginar um formato preconcebido que viram ou experimentaram, para que não venham a ser as únicas pessoas que se sentem em casa na igreja estabelecida.

Quando as estruturas não são adequadas a um dado contexto, isso leva a uma igreja estrangeira que nunca está à vontade na cultura, uma igre-ja estéril que nunca se reproduz e uma igreja sincretista que espalha falsas doutrinas ou práticas religiosas. Os plantadores de igrejas de-vem estar abertos à mudança, desconsiderar seus formatos preferidos e servir como conselheiros enquanto os cristãos locais, que pertencem àquela cultura, dão forma à igreja. A igreja está sempre em formação, então, mesmo que o papel dos plantadores seja importante nos estágios de concepção e implantação da igreja, continuam a exercer influência por meio de seu exemplo, ensino e orientação espiritual (OTT; WIL-SON, 2013, p. 133).

Usamos alguns exemplos para demonstrar como os mesmos valores e propósi-tos bíblicos podem ser traduzidos por meio de diferentes formatos básicos de igrejas, dependendo de padrões já existentes de reuniões sociais determinados pela cultura local.

Em última análise, consideramos que a igreja plantada não pertence aos líderes que a estabeleceram, nem mesmo ao povo da cultura local. A Igreja, em última instância, pertence ao próprio Deus. A Igreja é o corpo do qual Cristo é o cabeça. A noiva, que tem sido preparada para encontrar o Senhor e viver eter-namente para Ele.

Igreja é, em primeira instância, resultado do poder de Deus, da ação do Es-pírito Santo e da convicção de homens que sabem que estão fazendo a von-tade de Deus.

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MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Existem muitos princípios bíblicos eficazes para a plantação de igrejas, Deus não abençoa um modelo mais do que outro. Estes modelos dizem respeito às ações que serão desenvolvidas para que uma igreja seja plantada contextualmente em uma determinada cultura. Bustle e Crocker (2010) afirmam que não há um modelo único de plantação de igrejas que se aplica a todas as culturas, contex-tos e realidades. Alguns são mais eficazes em áreas pioneiras, enquanto outros são mais eficazes em áreas em que o cristianismo já existe há muito tempo, mas a igreja está num estado de declínio.

A recomendação é que se use os modelos que melhor se adequem ao contexto e realidades do ministério. Oração, reuniões e boa missiologia serão extrema-mente úteis na determinação do melhor método a ser utilizado. Pode ser que em alguns casos um método puro não seja possível, mas seja necessária uma com-binação dos métodos apresentados.

Nesse assunto, tomou-se por base e modelo de referência os estudos, traba-lhos de pesquisa e observações realizados por Ott e Wilson (2013), bem como suas nomenclaturas e terminologias, as quais apresentaremos em três tipos de abordagem com suas subdivisões.

1) Abordagens para a plantação pioneira de igrejasNesse caso, as igrejas são plantadas em lugares nos quais há poucos cris-

tãos. O trabalho será realizado, apenas, pelos plantadores e crescerá quase que exclusivamente por meio do evangelismo. As abordagens possíveis estão resu-midas no quadro a seguir.

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Quadro 4 - Plantação pioneira de igrejas

ABORDAGEM CARACTERÍSTICAS

Plantador de igrejas pioneiro solo

Um único plantador de igrejas se muda para a região-al-vo e começa um trabalho do zero.

Equipe de plantado-res de igrejas

Uma equipe de plantação de igrejas é formada e prepa-rada. Os membros da equipe possuem diversos dons, porém a mesma visão e o mesmo chamado.

Colonização Um grande número de pessoas (geralmente da mesma igreja) se muda para a região-alvo formando uma nova igreja.

Plantação de igrejas não residentes

Um plantador de igrejas ou uma equipe missionária pro-cura plantar uma igreja ou igrejas por meio de visitas de curta duração e projetos sem um plantador ou equipe residente.

Plantação internacio-nal de igrejas

Quando uma igreja internacional é plantada, os nacio-nais também são alcançados, o que não seria possível de outra maneira (geralmente em contexto de persegui-ção).

Plantação indireta de igrejas

Uma igreja é plantada como um sub-produto do traba-lho de desenvolvimento, ministérios estudantis, tradu-ção da Bíblia ou outros ministérios que não têm, geral-mente, a intenção de plantar uma igreja.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 136).

a) O plantador soloSegundo Ott e Wilson (2013), esse seja talvez o modelo mais comum de

plantação de igrejas e é a imagem típica que muitas pessoas têm do plantador pioneiro. Esse é o responsável pelo evangelismo, discipulado e reunião dos novos cristãos para formação da igreja. Pode funcionar quando o plantador está plan-tando uma igreja na sua própria cultura e possui uma capacidade excepcional, ou quando o povo é altamente receptivo, ou quando há um grupo de cristãos locais que podem ser recrutados para ajudar. No entanto, raramente é eficaz transcul-turalmente ou entre populações resistentes ao Evangelho.

b) A equipe de plantação de igrejasNesse caso uma equipe de obreiros, com uma visão comum e vários dons,

pode se unir no mesmo projeto. Atualmente, em missões transculturais, a abor-dagem de equipe tem se tornado a norma para a plantação pioneira. Geralmente,

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os membros da equipe são todos missionários vocacionados, ou alguns bivoca-cionados. Essas equipes podem ser também multiétnicas.

A organização da equipe e sua preservação requer bastante esforço. Existe o risco do estabelecimento de conflitos, especialmente em equipes internacionais, nas quais conceitos culturais de liderança, tomada de decisões e valores podem confrontar-se. “Deve-se tomar o cuidado para que um grupo bem preparado de ministros vocacionados não tragam inibição para o trabalho voluntário de novos líderes leigos” (OTT; WILSON, 2013, p. 137).

c) Plantação de igrejas por colonizaçãoEsse é um modelo dificilmente utilizado por causa do alto grau de envolvi-

mento que exige. Mesmo assim, pode ser um método de grandes resultados. Um grupo de pessoas, geralmente composto por famílias inteiras, da mesma igreja ou recrutados em várias igrejas, se muda para uma cidade ou região-alvo. Assim, uma igreja é praticamente transplantada para o novo local. Existem os mesmos riscos de conflitos encontrados na plantação em equipe e também a possibili-dade de inibição para formação de novas lideranças locais, em função de muitos dons já estarem presentes no grupo de plantadores. Caso esses problemas acon-teçam, os mesmos devem ser discriminados e tratados.

d) Plantação não residente ou projeto de curto prazoCaracteriza-se por visitas curtas de uma equipe de plantadores ou apenas um

líder que se dirige a um local para estabelecimento de uma igreja. Normalmente há um ponto inicial de contato, uma família que já é cristã ou que traz abertura à pregação da Palavra. Ocorrem reuniões para evangelização, ensino básico das Escrituras e treinamento dos líderes locais. À medida que a igreja se estabelece, as visitas são menos frequentes, mas devem continuar, ainda que ocasionalmente, para fortalecimento e acompanhamento da nova congregação.

e) A plantação internacional de igrejasNesse caso, procura-se estabelecer uma nova igreja com a evangelização e

ajuntamento de estrangeiros que residem em outro país (estudantes, trabalhado-res, refugiados etc.). Qualquer um dos métodos descritos anteriormente podem ser utilizados, tendo o diferencial de que não se busca que a nova igreja plantada seja autóctone, mas mantenha um caráter internacional, quanto ao idioma e a liderança local. Algumas igrejas internacionais acabam por alcançar cidadãos

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locais, sendo necessário a utilização do idioma local ou da plantação de uma nova igreja que atenda a cultura do próprio país.

f) Plantação indireta de igrejasAs pessoas que plantam essas igrejas raramente foram treinadas como

plantadores e geralmente não possuem um plano de longo prazo para seu desen-volvimento e multiplicação, mas foram ao local para trabalhos específicos como tradução, organização de empresas e, hospitais e por meio de um bom testemu-nho cristão, ocorre um interesse pela fé praticada e a plantação indireta de uma nova igreja. Os leigos locais, normalmente, acabam sendo forçados a tomar uma iniciativa maior de liderança, pois os cristãos que vieram de outra localidade estão ocupados com outras responsabilidades e não podem se dedicar totalmente ao pastorado da nova igreja.

Em países fechados para a atividade missionária tradicional, frequen-temente é possível que a ajuda humanitária cristã, projetos de desen-volvimento ou educadores entrem e se envolvam indiretamente na plantação de igrejas. Os trabalhadores contribuem para o bem-estar do povo local e não são vistos como uma ameaça às religiões estabelecidas (OTT; WILSON, 2013, p. 141).

2) Abordagens para a reprodução de igrejaVerificaremos agora vários métodos apresentados por Ott e Wilson (2013),

por meio dos quais igrejas já existentes se reproduzem na mobilização de seus membros para a plantação de uma nova igreja na mesma cidade ou em uma loca-lidade próxima. Um resumo dessa abordagem está no quadro a seguir.

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Quadro 5 - Reprodução de igrejas

ABORDAGENS CARACTERÍSITCAS

Plantação de igrejas mãe-filha

Membros de uma igreja estabelecida (mãe) se separam para formar o núcleo de uma nova igreja (filha).

Plantação de igrejas multisite ou satélite

A igreja inicia um culto adicional ou ministério (geral-mente com sermões por vídeo). Liderança permanece centralizada.

Plantação de igre-jas filha adotiva ou replantação

Uma comunidade independente decide formar uma igreja pedindo o auxílio de uma igreja estabelecida, ou uma pequena igreja com dificuldades é revitalizada.

Plantação de igrejas multimãe ou parceria

Várias igrejas estabelecidas cedem membros para iniciar uma igreja-filha comum.

Plantação de igrejas povo-foco ou multi-congregação

Uma igreja estabelece uma nova congregação entre um grupo étnico ou social em particular, geralmente usando o mesmo edifício. As congregações são organi-zacionalmente ligadas.

Rede de igrejas nos lares

Igrejas caseiras multiplicam-se por divisão celular, como estrutura mínima, e geralmente dirigidas por lei-gos. O plantador não é um pastor, mas um orientador que fornece treinamento aos líderes nos lares.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 142).

a) Plantação de igrejas mãe-filhaPlantar igrejas por esse método é comparável ao processo biológico de mul-

tiplicação por meio da divisão de células. A igreja-mãe gera uma igreja-filha, destacando alguns membros para serem o alicerce da nova igreja. O número de membros enviados depende do tamanho da igreja-mãe, a localização da nova igreja e outros fatores. Os obreiros da igreja-mãe podem ser enviados para aju-dar a começar a igreja.

Há muitas vantagens na abordagem de multiplicação de igrejas do tipo mãe-filha. Os índices de sobrevivência e crescimento são mais altos do que os da plantação pioneira porque os grupos de lançamento são ge-ralmente maiores, há mais obreiros, o apoio e os recursos imediatos estão disponíveis por meio da igreja-mãe e o projeto pode ser cuida-dosamente preparado e planejado com tempo (OTT; WILSON, 2013, p. 144).

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O fator decisivo para a multiplicação é que o grupo inicial detenha boa experiên-cia ministerial e sejam maduros na fé, o que proporciona liderança e estabilidade para o trabalho realizado, o que, muitas vezes, falta em plantações pioneiras. O impacto da ausência de membros na igreja-mãe deve ser superado por evan-gelização, recrutamento e treinamento de novos obreiros. Esse método tem trazido excelentes resultados para multiplicação em todo o mundo. A maior parte dos outros métodos indicados para reprodução de igrejas são variações dessa abordagem.

b) Plantação de igrejas multisite ou satéliteUma das tendências mais populares entre as grandes igrejas é o conceito

multisite ou satélite. Aqui, a igreja-filha permanece fortemente ligada à igreja--mãe, sem se tornar autônoma. Surratt, Ligon e Bird (2006) apresentam o slogan comum desse perfil de igreja:

[...] uma igreja multisite é uma igreja se reunindo em várias localidades - diferentes salas e um mesmo local, diferentes locais na mesma região e em alguns casos em diferentes cidades, estados ou nações. Uma igreja multisite compartilha de uma visão, um orçamento, uma liderança e uma diretoria comum. (SURRATT; LIGON; BIRD, 2006, p. 18).

Ott e Wilson (2013) indicam que essa abordagem é comparável a um planeta com satélites que orbitam e permanecem dentro de sua força gravitacional, com a igreja central ou principal como o planeta e seus satélites como os vários locais ou sedes menores. Esse modelo tem sido desenvolvido com muitas variações. Algumas têm apenas cultos de adoração em várias localidade, outras oferecem um extenso leque de ministérios em cada local.

É também comum que os participantes de vários locais assistam ao mesmo sermão dominical pregado pelo pastor titular via gravação de vídeo ou trans-missão online ao vivo. A pregação e a liderança forte do pastor sênior muitas vezes servem como imã que mantém os satélites em órbita e leva à criação de novas sedes.

“Compartilhando pessoal, recursos e conhecimento com a mãe, a igreja derivada pode imediatamente oferecer uma grande gama de ministérios de alta qualidade, o que não seria possível em uma igreja-filha mais típica” (OTT; WILSON, 2013, p. 146). Entretanto, o ministério altamente centralizado pode carecer de mobilidade

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para se adaptar às necessidades das novas localidades. A tomada de decisão pode ser trabalhosa, pode-se promover um conceito de ministério profissional, que depende muito de pessoal remunerado e de tecnologia. Os custos iniciais podem ser altos. A abordagem é eficaz para a adição de igrejas, mas raramente leva à multiplicação.

c) Plantação de igrejas por adoçãoGrupos formados por uma iniciativa de estudos bíblicos, grupo caseiro ou

de discipulado podem decidir se tornar uma igreja mais formal e buscar a ajuda de uma igreja estabelecida para fornecer orientação e, possivelmente, recursos ou cuidado pastoral.

Uma alteração da abordagem da adoção pode ser vista quando uma igreja que está passando por dificuldade, ou até morrendo, se aproxima de uma igreja sadia e pede que ela seja “adotada” a fim de ser revitalizada. Algumas vezes a igreja adotada torna-se uma sede adicional de uma igreja multisite.

A abordagem de adoção associa a maior parte dos benefícios da plantação de igrejas mãe-filha.

No entanto, para que a adoção seja bem-sucedida, mãe e filha precisam se conhecer bem antes que a parceria seja oficializada. Questões doutri-nárias, filosóficas e financeiras devem ser francamente compartilhadas. Acima de tudo, é preciso que se desenvolva a confiança entre os dois grupos, e isso exige paciência e comunicação aberta (OTT; WILSON, 2013, p. 147-148).

d) Plantação de igrejas multimães ou em parceria“Quase da mesma forma com que ocorre a plantação de igrejas mãe-filha -

a mãe cedendo membros - nessa abordagem, duas ou mais igrejas-mães cedem membros para formar uma nova igreja” (OTT; WILSON, 2013, p. 148). Isso faz que o núcleo da equipe da nova igreja seja maior e a responsabilidade permanece compartilhada. Normalmente as igrejas-mães pertencem à mesma denomina-ção, pois é necessário que haja uma visão comum.

e) Plantação de igreja povo-foco ou multicongregação“Muitas igrejas alcançam um grupo étnico, linguístico ou social em sua

comunidade, dando início a uma congregação adicional que existe para aten-der às necessidades particulares de um desses grupos” (OTT; WILSON, 2013, p. 148-149). Essa nova congregação se reúne em salas da igreja-mãe, em horá-rio em que o templo não é utilizado. A igreja hospedeira deve esperar custos

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adicionais, incluindo o aumento das contas de água, gás, eletricidade e telefone, bem como suprimentos e desgaste de equipamentos em geral.

O resultado dessa iniciativa são múltiplas congregações que se reúnem sob o mesmo teto. Isso exige um compromisso considerável e flexibilidade por parte da igreja-mãe. Os desafios não devem ser desconsiderados, pois pessoas de cul-turas diferentes possuem opiniões distintas em relação a uma enorme variedade de pontos potenciais de conflito.

f) Rede de igrejas nos laresMuitas organizações missionárias estão promovendo essa abordagem pelo

rápido crescimento que esse modelo produz. A rede de igrejas nos lares se repro-duz por meio de divisão celular de forma semelhante à da plantação mãe-filha. Parte dos membros de uma congregação já existente são enviados para come-çar uma reunião nos lares, tendo uma estrutura mínima e sendo dirigidas por leigos. Possuem um grande potencial para a multiplicação rápida.

Por sua pequena visibilidade ela é mais resistente à perseguição do que as igrejas tradicionalmente estruturadas. No entanto, pelo fato dos líderes recebe-rem menos treinamento, podem ser suscetíveis a falsos ensinamentos e carecem de ministérios especiais, o que pode levar à perda de membros para outras igre-jas com maior estrutura ministerial.

g) Divisões de igrejas ou filhos não planejados“Uma divisão de igreja é uma forma de reprodução que ninguém deseja ou

planeja, mas é a fonte de muitas novas congregações em todo o mundo” (OTT; WILSON, 2013, p. 152). Não é necessário dizer que essa abordagem para a repro-dução de igrejas não é aconselhada. Entretanto, da mesma forma como o conflito entre Paulo e Barnabé resultou em duas equipes missionárias, Deus tem usado até mesmo divisões de igrejas para expansão do Evangelho e alcance de mais pessoas.

3) Estratégias regionais para plantação de igrejasApresentamos, agora, os estudos de Ott e Wilson (2013) quanto a estraté-

gias de longo prazo para a plantação de várias igrejas em uma região geográfica, uma área metropolitana, um bairro ou um Estado. Essas abordagens estão resu-midas no quadro a seguir:

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Quadro 6 - Estratégias regionais para plantação de igrejas

ABORDAGEM CARACTERÍSITCAS

Plantação de igrejas por prioridade de colheita

Iniciativas evangelísticas são empreendidas em várias localidades e uma igreja é plantada no local de maior receptividade.

Plantação de igrejas por cabeça de ponte estratégica

Procura estabelecer pelo menos uma igreja em cada cidade ou vila não evangelizada, geralmente separadas por distâncias geográficas.

Plantação de igrejas por agrupamento

Procura estabelecer um agrupamento de igrejas relacio-nadas em uma área geograficamente limitada.

Plantação de igrejas por propagação da videira

Igrejas são plantadas em cidades e vilas consecutivas, geralmente seguindo rotas de transporte importantes.

Plantação de igrejas espontânea ou diás-pora

Igrejas (nos lares) são plantadas espontaneamente à medida que os cristãos locais (que podem ser cristãos de diáspora) espalham naturalmente o Evangelho.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 153).

a) Plantação de igrejas por prioridade de colheitaOtt e Wilson (2013) indicam que nos primeiros anos de trabalho missionário

pioneiro, os missionários pregavam o Evangelho de vila em vila e então concen-travam igrejas nos locais onde as pessoas tinham sido mais receptivas. As igrejas plantadas nesses locais podem, mais tarde, evangelizar as áreas menos receptivas. Essa parece ser a melhor forma de usar recursos e força de trabalho limitados.

b) Plantação de igrejas por cabeça de ponte estratégicaOtt e Wilson (2013) indicam que essa abordagem busca organizar a possibili-

dade de acesso espiritual em vários centros políticos, comerciais ou educacionais. A partir dessas cidades estratégicas, as igrejas podem ser plantadas em subúr-bios distantes, vilas ou aldeias.

Isso reflete a preferência de Paulo por plantar igrejas em centros como Corinto e Éfeso, dos quais o Evangelho se espalharia para regiões ad-jacentes. [...] A dificuldade dessa abordagem é que os recursos podem ser excessivamente dispersos em uma grande área. As equipes de plan-tação e as igrejas plantadas podem estar separadas por horas de viagem, com pequena possibilidade de se encorajarem mutuamente, compar-

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tilharem recursos ou desenvolverem sinergia a fim de imprimir um impacto significativo em qualquer uma das regiões. Nessa abordagem, corre-se o risco de plantar igrejas muito fracas e isoladas. Tanto as igre-jas quanto a equipe podem facilmente desanimar caso o progresso seja lento (OTT; WILSON, 2013, p. 154).

c) Plantação de igrejas por agrupamentoEsse modelo se constitui no oposto da abordagem por cabeça de ponte estra-

tégica, pois estabelece várias igrejas em uma área mais debilitada. Ott e Wilson complementam:

[...] em vez de espalhar as equipes de plantação de igrejas em locais dis-tantes uns dos outros, elas ficam concentradas em uma só área. O ponto forte dessa estratégia é que os plantadores e as igrejas emergentes estão razoavelmente próximos para se reunirem a fim de se encorajarem mutu-amente, promoverem celebrações comuns periódicas, oferecerem treina-mento conjunto de obreiros e auxiliarem-se uns aos outros em programas evangelísticos e com outros objetivos (OTT; WILSON, 2013, p. 154).

d) Plantação de igrejas por videiraOtt e Wilson (2013) usam a metáfora de plantas trepadeiras que se espa-

lham estendendo seus ramos junto ao chão, brotando e formando novos ramos frutíferos. Os movimentos de plantação de igrejas podem crescer também dessa forma, plantando uma igreja após outra, de uma cidade para outra, seguindo uma rota comercial importante ou uma estrada. Cada igreja plantada se torna um ponto de lançamento para outra igreja-filha na próxima vila ou cidade ao longo de um determinado percurso.

e) Plantação de igrejas dente de leão, espontânea ou diásporaEssa foi a maneira com que o Evangelho se espalhou no primeiro século,

quando a perseguição surgiu em Jerusalém, lemos em Atos 8,4: “os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem” (BIBLÍA, 2014). Lucas continua mais tarde, em Atos 11,19: “os que tinham sido dispersos por causa da perseguição desencadeada com a morte de Estevão chegaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, anunciando a mensagem apenas aos judeus” (BIBLÍA, 2014). Isso resultou na plantação da primeira igreja predominantemente gentia em Antioquia. “Desde então, Deus tem continuado a usar os meios mais improváveis para movimentar seu povo, trazendo o Evangelho a novos lugares e plantando novas igrejas” (OTT; WILSON, 2013, p. 158).

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Essa distribuição do Evangelho é mais espontânea e menos planejada, podendo ocorrer por razões profissionais, acesso à moradia, necessidades fami-liares, guerra, fome, migração, estudo ou várias outras crises e oportunidades. Os cristãos, que se encontram em diferentes lugares, compartilham sua fé e for-mam novas comunidades, que crescem até formarem igrejas nessas localidades.

Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade passamos por uma longa viagem cultural, a começar por Abraão, em quem Deus se propôs a abençoar e revelar-se a todas a famílias da terra espa-lhadas por diferentes povos, tribos e nações, constituídas por diferentes etnias.

Deus chama Abraão, o abençoa e lhe dá uma instrução: ser uma bênção. A salvação em Cristo é a bênção prometida a Abraão, a qual ele alcançou pela fé. A missão de Abraão e sua descendência é levar esta bênção a todos os povos ainda não alcançados da terra.

Assim como foi necessário a Abraão abrir mão do limite de sua própria cul-tura, em Ur dos Caldeus, e aprender a caminhar por fé e dependência de Deus, somos chamados a viver por um Reino Eterno. Entretanto, temos que discernir que a cultura de cada povo deve ser considerada e respeitada quando o evan-gelho é pregado.

As nuances históricas podem ser portas para levarmos o evangelho, assim como Paulo, em Atenas, que fez referência ao deus desconhecido. Paulo per-cebeu uma brecha na comunicação que, provavelmente, abriria as mentes e os corações daqueles filósofos.

Dessa forma, o teólogo e o plantador de igrejas devem superar as barreiras transculturais para levar os homens de volta a um relacionamento com Deus. Quando Cristo entra em uma vida ou em uma cultura, Ele toma em suas mãos aquilo que está distorcido ou sem significado e restaura, dá novo sentido às pala-vras e à vida prática.

Embora o Evangelho esteja acima das culturas terrenas, para ter sentido para um povo ele precisa ser incorporado de forma contextualizada, assim ele terá poder para transformar as pessoas.

Quanto aos formatos de igrejas e os possíveis modelos para plantação de igrejas, percebemos que Deus mantém Sua glória e riqueza na diversidade. Por meio do Espírito Santo, da pesquisa, estudo e planejamento, Ele nos mostrará os formatos e modelos mais adequados a serem aplicados.

Encerramos mais uma etapa de estudos, cumprindo com mais da metade do nosso programa. Aproveite ao máximo o que ainda veremos a seguir.

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1. Laraia (2001) refere-se ao conceito de cultura considerando o dilema entre a identidade biológica e a diversidade humana. Essa preocupação existe desde há quatro séculos antes de Cristo, quando Confúcio dizia que a diferença entre os homens não é a questão biológica, mas a diferença de costumes. Segundo o conceito abordado na unidade, defina o que é cultura.

2. Lloyd Kwast (1987) apresenta um modelo útil para compreensão da cultura como um sistema concêntrico de atributos: a visão de mundo, as crenças, os valores, o comportamento e o habitus, que é acrescentado por Pierre Bourdieu. Explique um dos elementos desse modelo.

3. Vimos nesta unidade como Hiebert (1987) considerou o impacto das diferenças culturais na transmissão do evangelho e na implantação de novas igrejas em outras sociedades. “Crescemos em uma cultura e aprendemos que seus modos são os modos certos de fazer as coisas. Qualquer pessoa que faça de maneira diferente não é muito civilizada” (Hiebert, 1987, p. 453). A descrição de Hiebert refere-se ao Etnocentrismo. Explique no que se baseia esse conceito.

4. As igrejas nos lares podem ter um rápido aumento de tamanho sem, no entanto, amadurecer quanto ao ensino e formação de lideranças. O que pode ocasionar uma duração menor para sua existência, se comparada às congregações tradi-cionais. Conforme apresentado na unidade, descreva o formato de igrejas nos lares.

5. Verificamos vários métodos apresentados por Ott e Wilson (2013), por meio dos quais igrejas já existentes se reproduzem na mobilização de seus membros para a plantação de uma nova igreja, na mesma cidade ou em uma localidade próxi-ma. Explique o modelo de plantação de igreja mãe-filha, método que é com-parado ao processo biológico de multiplicação por meio da divisão de células.

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O CENÁRIO INDÍGENA BRASILEIRO E A ATUAÇÃO MISSIONÁRIA EVANGÉLICA

Nos últimos 500 anos o pensamento coletivo brasileiro não mudou a ponto de gerar uma diferença visível em termos de abordagem e interação com o indígena e sua socie-dade. No cenário leigo o índio ainda é visto por alguns como selvagem, por vezes como herói, ignorante ou, ainda, como representante de uma cultura superior e pura. Poucos pararam para escutá-lo nos últimos cinco séculos, e havia muito a ser dito.

No meio acadêmico fala-se sobre a desmistificação da identidade indígena. Creio que precisamos primeiramente desmistificar a nós mesmos, repensar nossas expectativas em relação a essa sociedade com a qual convivemos por séculos sem compreendê-la, e passar a interpretá-la de forma igualitária na dignidade e respeitosa nas diferenças.

Calcula-se que havia 1,5 milhão de indígenas no Brasil do século XVI, os quais, irrepara-velmente, somam hoje não mais de 350 mil. Infelizmente essa realidade etnofágica vai muito além das estatísticas e das palavras, pois é composta por faces, vidas, histórias e culturas milenares, as quais têm sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquista-dores, a forte imposição socioeconômica e perdas sociais tremendas. Permita-me rede-finir os termos desta afirmação. Os conquistadores não são os outros. Somos nós.

A sociedade indígena ainda vive hoje sob o perigo de extinção. Não necessariamente extinção populacional, mas igualmente severa, quando se perde língua, história, cultura e direito de ser diferente e pensar diferente convivendo em um território igual.

Segundo Lévy-Strauss, a perda linguística é um dos sinais de declínio de identidade ét-nica e decadência de uma nação. Ao observarmos tal sinal, percebemos quão desola-dor é o cenário. Michael Kraus afirma que 27% das línguas sul-americanas não são mais aprendidas pelas crianças. Isso significa que um número cada vez maior de crianças in-dígenas perde seu poder de comunicação a cada dia.

Aryon Rodrigues estima que, na época da conquista, eram faladas 1.273 línguas, ou seja, perdemos 85% de nossa diversidade linguística em 500 anos. Luciana Storto chama a atenção para o Estado de Rondônia, onde 65% das línguas estão seriamen-te em perigo por não serem mais aprendidas pelas crianças e por terem um ínfimo número de falantes.

Precisamos perceber que a perda linguística está associada a perdas culturais comple-xas, como a transmissão do conhecimento, formas artísticas, tradições orais, perspecti-vas ontológicas e cosmológicas. No processo de transição, quando a língua materna cai em desuso, normalmente há o que podemos chamar de “geração perdida”: um vácuo cultural atinge uma geração inteira. Ou seja, no processo de perda linguística e migração para o português, os grupos indígenas passam por um processo de adaptação quando já não têm mais fluência na língua materna nem aprenderam o suficiente o português para uma comunicação mais profunda. Tal processo em média não dura menos que três

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décadas. Esse é um momento de perigo, em que a identidade indígena é questionada e muitos valores e, sobretudo, seu poder de comunicação e transmissão de conhecimen-to, são perdidos. Perdem-se também os sonhos.

Na tentativa de repensar a realidade de nossos irmãos indígenas é preciso filtrar a infor-mação sobre a atuação missionária evangélica em relação a eles. A contribuição evan-gélica, na tentativa de relacionamento com a sociedade indígena nacional, teve início com a influência holandesa no século 16 e permanece hoje representada por um grande número de organizações que tenta reduzir os prejuízos sofridos. Isso se traduz em um sem-número de biografias daqueles que deram a vida, na impossibilidade de darem mais, para minimizar alguns dos efeitos do extermínio social indígena de séculos.

Dentro de um vasto universo de ações sociopolíticas percebemos que a força evangéli-ca missionária se destacou especialmente em três áreas: preservação linguística (com a grafia e consequente preservação de diversas línguas — e muito ainda está sendo feito); educação (tanto na língua materna, com forte destaque, quanto na educação formal em programas governamentais); e saúde (tanto de base, nas comunidades, quanto também organizacional, em clínicas e hospitais). Permita-me pontuar: o evangelho jamais será motivo de alienação social ou imposição de credo. É, ao contrário, motivação para uma contínua tentativa de se recuperar as perdas humanas nos segmentos mais sofridos.

Ainda há muito a ser feito. É necessário caminhar.Fonte: Lidório (2009, on-line)1.

Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

O Fator MelquisedequeDon Richardson

Editora: Vida NovaSinopse: neste livro, Richardson conta mais de 25 histórias fascinantes, que

mostram como Deus plantou a semente do evangelho em cada cultura do

mundo. Esta espécie de revelação geral de Deus é chamada pelo autor de

“O Fator Melquisedeque”, em uma alusão ao nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem

no livro de Gênesis. O Fator Melquisedeque é um livro culturalmente rico e profundamente sensível

que mudará a visão de muitos cristãos sobre os povos pagãos e a soberania de Deus.

O totem da pazEntre os sawis, uma tribo de canibais caçadores de cabeças, a traição era mais que uma filosofia de vida. Constituía-se num ideal concebido e aprimorado pelas gerações passadas. Em 1962, Don Richardson e sua esposa Carol foram à terra dos sawis levando a história de um herói diferente, cuja mensagem era amor, e não traição; perdão, e não vingança: a história do Filho da Paz, enviado por Deus.

CTPI - Centro de Treinamento de Plantadores de IgrejaTrata-se de uma rede de pastores e igrejas, comprometidos com uma teologia cristã reformada e engajados no cumprimento da grande comissão de Cristo por meio da plantação de novas igrejas em cidades brasileiras. Para saber mais acesse: <https://www.ctpi.org.br/>.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.

BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

BUSTLE, L. E.; CROCKER, G. A. Princípios de plantação de igrejas. Brasília: Instituto Antropos, 2010.

CHESTER, T. Church Planting: a theological perspective. Reino Unido: Christian Fo-cus, 2000.

DULLES, A. A Igreja e seus Modelos. São Paulo: Paulinas, 1978.

HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais. São Paulo: Vida Nova, 1995.

HIEBERT, P. G. A Cultura e as Diferenças Transculturais. In: WINTER, R. D.; HAWTHOR-NE, S. C. Missões Transculturais: uma perspectiva cultural. São Paulo: Mundo Cris-tão, 1987, p. 445-460.

KWAST, L. E. Entendendo o que é Cultura. In: WINTER, R. D.; HAWTHORNE, S. C. Mis-sões Transculturais: uma perspectiva cultural. São Paulo: Mundo Cristão, 1987, p. 437-441.

LARAIA, R, de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

LIDÓRIO, R. Entre Todos os Povos. Vila Velha-ES: Fronteiras, 1996.

OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.

STETZER, E. Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudáveis e relevantes à cultura. São Paulo: Vida Nova, 2015.

SURRATT, G.; LIGON, G., BIRD, W. The Multi-site Church Revolution. Grand Rapids: Zondervan, 2006.

VAN GELDER, C. The Essence of the Church. Grand Rapids: Baker Books, 2000.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <http://instituto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_content&-view=article&id=501&catid=35&Itemid=3>. Acesso em: 24 mai. 2017.

GABARITO123

GABARITO

1. Cultura é o conjunto de conhecimentos, crenças, leis e hábitos que as pessoas aprendem e que não é um elemento natural.

2. Habitus pode ser definido como um sistema de disposições duráveis e trans-poníveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada mo-mento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações - e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transfe-rências analógicas de esquemas.

Comportamento: trata-se da forma como as coisas são realizadas. Isso fornece um elemento importante na cultura, a padronização do que se faz, o que traz entre os participantes de determinada cultura um sentimento de identidade e continuidade quase impenetrável. Por isso, à medida que as sociedades se es-tabelecem, as pessoas passam a fazer escolhas comportamentais semelhantes.

Valores culturais, dizem respeito ao que é bom, benéfico ou o que é o melhor a ser aceito. Valores são decisões “pré-estabelecidas” que uma cultura toma dian-te de escolhas que frequentemente se tem de fazer. Os valores ajudam aqueles que vivem dentro da cultura a saber o que deveria ser feito a fim de se adequa-rem ou se conformarem ao padrão de vida.

Crenças culturais, numa cultura os valores não são escolhidos arbitrariamente, mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de crenças. Na questão educacional, por exemplo, existe um critério do que é verdadeiro acerca do ho-mem, sua inteligência, sua capacidade de resolver problemas. Nessa questão, a cultura é definida pela maneira como as coisas são percebidas, aprendidas e compartilhadas.

Visão do mundo ou cosmovisão, a qual busca identificar o que é real. Neste nível da cultura estão as grandes questões que raramente são apontadas, mas para as quais a cultura concede as mais relevantes respostas.

3. Etnocentrismo - Essa reação se baseia em nossa tendência natural de julgar o comportamento das pessoas de outras culturas pelos valores e pressuposições de nossas próprias culturas, considerando-nos mais importantes.

4. Uma comunidade cristã básica. Foco em relacionamento e missão cristã. Reú-nem-se em casas, ou locais de trabalho ou locais neutros. Geralmente dirigida por um pastor leigo, pertencendo a uma denominação.

5. Plantação de igrejas mãe-filha - A igreja-mãe gera uma igreja-filha, enviando alguns membros para formar a base da nova igreja. O número de membros enviados pode variar de apenas alguns até centenas, dependendo do tamanho da igreja-mãe, a localização da nova igreja e outros fatores. Os obreiros da igre-ja-mãe podem ser enviados para ajudar a começar a igreja.

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Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem

■ Considerar quem foi chamado para realizar a tarefa de plantar igrejas.

■ Analisar o perfil de homens e mulheres que plantam igrejas.

■ Avaliar as condições de plantadores de igreja que desenvolvem duas vocações.

■ Reconhecer a importância do papel da igreja no plantio de igrejas.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Quem foi chamado para essa missão?

■ O perfil do(a) plantador(a) de igrejas

■ Plantadores bivocacionais

■ A igreja e o plantio de igrejas

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade conversaremos um pouco mais sobre a pessoa-lidade do chamado de Deus, o qual ecoa desde a eternidade para que homens e mulheres levem a mensagem da salvação e reconciliação com Deus. Como disse o profeta em Isaías: “Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: a quem envia-rei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” (BÍBLIA, Isaías 6,8).

O chamado de Deus tem como origem o próprio Deus e a motivação, a finalidade do chamado também é Deus, pois somos chamados para glorificar e exaltar o Seu nome, como representantes da Sua justiça.

Vamos analisar o perfil de homens e mulheres que plantam igrejas. É certo que Deus tem nos chamado para estarmos envolvidos neste ministério de alguma forma. Notadamente, para alguns, Ele capacita com dons de liderança ministe-rial para o aperfeiçoamento dos santos.

Um plantador de igrejas em potencial deve evidenciar algumas faculdades específicas, como evangelizar, capacidade de administrar e organizar, trabalhar em grupo com destreza e harmonia, profundo conhecimento da teologia bíblica. Entretanto, muitas dessas características podem ser desenvolvidas ou aprimo-radas. Certamente o próprio Deus propôs um caminho para o aperfeiçoamento ministerial.

Outra consideração que teremos nesta unidade é quanto ao importante papel das igrejas na formação de líderes. Muitos obreiros atenderão ao chamado de Deus para plantar igrejas, fazendo-as crescer desde o nascimento até a maturi-dade. A Grande Comissão apresenta um desafio abrangente, por meio do qual o Evangelho deve ser compartilhado, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, Samaria e até os confins da terra.

Para isso, torna-se necessário que líderes locais sejam preparados. Dessa forma, eles serão enviados, ou assumirão a liderança da nova igreja para que seu plantador prossiga para outra tarefa. Desfrute pessoalmente dos assuntos trata-dos nesta unidade. Bons estudos!

Introdução

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QUEM FOI CHAMADO PARA ESSA MISSÃO?

O chamado de Deus é um tema sobrenatural e fascinante. Ninguém poderá desejar o ministério sem que antes tenha compreendido o chamado de Deus. Muitos fracassos ministeriais ocorrem pela falta de convicção do chamado, pois é esse que capacita o obreiro a permanecer nos campos quando surgem as difi-culdades. Vamos considerar alguns aspectos importantes nos próximos tópicos.

A) O conflito dos vocacionados ou a missão em crise?Green (2005) nos aponta que dificilmente estaríamos exagerando ao falar-

mos das severas mudanças ocorridas no clima espiritual das últimas décadas. Quando a revolução cultural dos anos 60 explodiu sobre nós, a aparência domi-nante era a do modernismo, como ocorreu nos últimos dois séculos.

Nosso sistema educacional foi consolidado com forte influência do Iluminismo do século XVIII, o qual rejeitou amplamente a noção de Deus e O substituiu pela confiança na razão humana. A ciência, com toda a sua tecnologia, afirmava ser a esperança para o futuro, pensava-se que o progresso seria inevitável. Com a racionalização, somente o que era visível, medido ou verificado podia ser con-siderado existente e verdadeiro.

Havia uma suposição não declarada sobre a natureza humana: ninguém duvida que todos nós temos um coração de ouro; valores e relacionamento com Deus foram considerados subjetivos, sendo colocados num segundo plano. Em nossos dias, os pressupostos modernistas sobre a vida já perderam sua energia e vigor. Green (2005) destaca que os pensadores do século XIX apresentaram a ideia de que as pessoas não agem primeiramente com base na racionalidade. A teoria de Darwin sobre o nosso passado, a de Marx sobre o futuro e as teorias de

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Freud sobre a psiquê deixaram pouco espaço para a razão humana, como fator determinante dos relacionamentos.

Vivemos nitidamente tempos de mudança cultural em massa, em que a visão otimista do passado vai se dissipando. Estamos diante da progressiva destrui-ção do meio ambiente - a camada de ozônio sendo afetada, as florestas tropicais sendo dizimadas, o planeta Terra comprometido e mares envenenados, o acú-mulo de armas nucleares com a capacidade de destruir o mundo inúmeras vezes, espalhando medo e terror entre as nações. Cerca de quarenta milhões de pes-soas por todo o mundo estão contaminadas pelo vírus da AIDS/HIV. Novas epidemias que se alastram. Estamos constatando o enfraquecimento da insti-tuição do casamento e da família, testemunhando a criação de vários milhões de refugiados sem lar.

Green (2005) ainda aponta a violência constantemente presente em nossas ruas, indicando que a crença da bondade essencial da natureza humana e a ine-vitabilidade do progresso não se consolidaram, principalmente à luz das terríveis guerras mundiais, dos atentados terroristas, da perseguição e do extermínio.

A crise da visão de mundo moderno induziu uma reação bastante forte, que chamamos de Pós-Modernismo (por falta de um nome melhor). O que aconteceu com o Liberalismo e Colonialismo é o mesmo que vale para Modernidade. Nós somos “pós” tudo isso. Venceu o prazo de validade (GREEN, 2005, p. 22).

Vivemos dias marcados pela rejeição às verdades objetivas, normas de moral, argumentos racionais, fé e revelação. Desenvolver um chamado ministerial sig-nifica nadar contra a maré do prazer como bem supremo. Vivemos tempos em que muçulmanos, hindus, budistas tratam os seus livros sagrados com mais reve-rência e obediência do que boa parte dos que se professam cristãos.

As pessoas nos nossos dias não estão dispostas a viver debaixo de princípios de autoridade espiritual que regem a ação e o governo de Deus. Antes, querem descobrir as coisas por si mesmas, tentam descartar, amplamente, qualquer pen-samento a respeito da morte e suas consequências e passaram a se concentrar nessa vida e na felicidade. Como disse o apóstolo Paulo em sua segunda carta a Timóteo:

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[...] sabe, porém isto: nos últimos dias, sobrevirão tempo difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfe-madores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes (BÍBLIA, II Timóteo 3,1-5).

Vivemos dias como foram os dias do povo de Israel liderado pelos Juízes: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (BÍBLIA, Juízes, 21,25). Surge, então, a gritante necessidade de líderes que possam trazer clareza quanto ao propósito eterno de Deus para um mundo em profunda crise espiritual. Homens e mulheres que possam representar a Deus e ser a própria boca de Deus falando, exortando, pregando a Palavra de Deus em dias de profunda decadência espiritual.

Entretanto, em todas as épocas da história da humanidade, Deus sempre atraiu homens para si e comissionou vidas para o exercício do ministério. Nos dias atuais, Deus tem levantado um grande número de homens e mulheres com compreensão bíblica sobre a vocação ministerial e discernimento quanto ao cha-mado de Deus. Esses necessitam dar passos para um maior envolvimento com ministérios na Igreja do Senhor.

Outros, ao completarem seus estudos teológicos, deverão buscar aperfeiço-amento para atuação num campo missionário, para pastoreamento de igrejas já estabelecidos, ou para a plantação de novas igrejas.

Lidório (2014) nos assinala o privilégio e a responsabilidade que temos diante do chamado de Deus:

[...] nossa vocação em Cristo é nosso maior privilégio e também nosso maior desafio. Perante tal vocação, devemos louvar a Deus e lhe agrade-cer pelo privilégio de servir a Cristo ao mesmo tempo em que devemos nos fortalecer no Senhor para não cair nas ciladas do diabo, resistir no dia mau e pregar o Evangelho de Deus (LIDÓRIO, 2014, p. 29-30).

Não deixamos de considerar que todos os que receberam a Jesus como Senhor e Salvador pessoal devem estar envolvidos com a edificação do Reino Eterno. Seja com a evangelização e edificação de vidas nas escolas, no trabalho, no desenvol-vimento da carreira profissional, em ministérios de uma igreja local, enfim, em todo e qualquer lugar que estivermos inseridos.

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Quanto à grande necessidade de darmos atenção ao chamado de Deus, obser-vamos que o avivamento e transformação da nação de Israel, ocorrido após o tempo dos Juízes, teve início quando uma mulher estéril, Ana, lançou seu cora-ção diante da presença de Deus em constante oração (I Samuel, capítulo 1), até que Deus ouviu seu clamor e concedeu a ela um filho que foi dedicado ao altar de Deus por toda sua vida, Samuel. A nação vivia um momento de profunda decadência moral e espiritual, entretanto, o ministério de Samuel foi um instru-mento de concerto e bênção de Deus para toda a nação.

Assim como Ana, quando um homem ou uma mulher nega-se a si mesmo, ele(a) terá liberdade para mover-se em Deus, pois não será mais governado por suas ambições naturais ou interesses pessoais, mas pelo querer e vontade de Deus. Ana devolveu a Deus aquilo que dEle recebeu.

Necessitamos que se levantem, em nossos dias, homens e mulheres compro-metidos com a vontade de Deus, que traduzam para o mundo o amor e o poder transformador do evangelho. Homens e mulheres que comunicam vida a um mundo perdido, que transformam os lugares por onde passam, que possuem um testemunho de ações e não somente de palavras. As pessoas estão cansa-das de muita fala e esperam ver a transformação que prometemos por meio do evangelho. Para isso, precisamos de profundo compromisso com Aquele que nos chama, precisamos negar-nos a nós mesmos e segui-lo. “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga--me” (BÍBLIA, Lucas 9,23).

Nesse momento, cabe a nós uma profunda reflexão pessoal sobre a impor-tância do chamado de Deus para a vida ministerial. E o que faremos para seguir a Cristo.

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B) O chamado ao ministério:Em Marcos, a Bíblia Sagrada

relata: “Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. Ele se levantou e o seguiu” (BÍBLIA, Marcos, 2,14). Jesus havia há poucos instantes sido questionado pelos fariseus em Marcos, capítulo 2, por ter dito a um paralítico em Cafarnaum: “Filho, os teus pecados estão per-

doados” Os fariseus arrazoavam que somente Deus podia perdoar pecados, então Jesus questionou:

[...] qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus peca-dos, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pe-cados - disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. Então, ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e da-rem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim (BÍBLIA, Marcos 2,9-12).

Da mesma maneira que Jesus manifestou tamanha autoridade na terra para perdoar pecados, curar enfermos, expulsar demônios e ressuscitar mortos, Ele também teve autoridade para recrutar homens e mulheres para segui-Lo. Esse foi seu primeiro ato ministerial: chamar discípulos. O chamado do céu, agora ecoava na terra, esses se tornaram, ao lado de Jesus, os personagens principais do Novo Testamento. Jesus os chama para segui-Lo e se juntarem à sua missão: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (BÍBLIA, Marcos 1,17).

Percebe-se, nas páginas no Novo Testamento, o treinamento e o vagaroso desenvolvimento desses discípulos. Como poderia ser diferente? Foram chamados para representar o Rei do Universo. No livro de Atos, aqueles que foram chama-dos a segui-Lo são revestidos e capacitados para a missão de Deus. Mas, antes passaram pelo discipulado, pela prova, pelo teste de deixarem as coisas naturais

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para adentrarem em um mundo novo e espiritual. Ministério sem chamado, sem discipulado, sem cruz e dependência sobrenatural de Deus não poderá ter êxito visível e se constituirá em pura presunção.

Porém, como é possível essa ação imediata de chamado e obediência? Levi, ao ouvir o chamado, imediatamente o seguiu. O texto não relata se Levi já o conhecia, se sabia que seria chamado, se havia razões históricas ou psicológicas para explicar essa atitude. Bonhoeffer (2004), diz que:

[...] para esta sequência de chamado e ação só existe uma razão válida: o próprio Jesus Cristo. Nesse encontro é testemunhada a autoridade de Jesus, que é incondicional, imediata e sem explicações. Nada o precede e nada lhe segue senão a obediência da pessoa que foi chamada. O fato de Jesus ser o Cristo dá-lhe todo o poder para chamar e exigir obediência à sua palavra. Jesus chama ao discipulado não como ensinador e exem-plo, mas em sua qualidade de Cristo, Filho de Deus. Assim, neste breve trecho, anuncia-se Jesus Cristo e o que ele espera do ser humano, e nada mais. Nenhum louvor cabe ao discípulo por seu cristianismo decidido. O olhar não deve pousar sobre ele, mas somente sobre aquele que cha-ma e sobre sua autoridade. Não se aponta tampouco um caminho para a fé, para o discipulado; não há qualquer outro caminho para a fé senão o da obediência ao chamado de Jesus (BONHOEFFER, 2004, p. 20).

Bonhoeffer (2004), em suas considerações, celebra o senhorio de Cristo. O cria-dor tem prioridade à criatura e pode proferir palavras de ordem e autoridade. O próprio Senhor Jesus desenvolve seu ministério debaixo do princípio de autori-dade e absoluta obediência. Vemos que o discipulado de Cristo tem ordenanças claras para todos aqueles que são redimidos. Na Grande Comissão, Jesus nos diz:

[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século (BÍBLIA, Mateus 28,18-20).

O texto nos ordena que façamos discípulos de todas as nações. Todos foram chamados para serem discípulos de Jesus, ainda que em diferentes níveis de funcionalidade no corpo de Cristo. Foram chamados a aprender e praticar suas ordenanças. Foram chamados para a oração, para ser sal da terra e luz do mundo, para comunhão, para obediência, para santidade, para testemunho e

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proclamação do Evangelho. Entretanto, na Bíblia Sagrada, observamos que há diferentes modalidades em que o discipulado é desenvolvido.

Jesus ensinou e discipulou a multidão, como vemos em Lucas: “E, quando se aproximava da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discí-pulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que tinham visto” (BÍBLIA, Lucas, 19,37). Depois, chamou setenta: “Então, regressa-ram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!” (BÍBLIA, Lucas 10,17). Depois chamou os doze:

[...] tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de do-enças e enfermidades. Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: pri-meiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Isca-riotes, que foi quem o traiu (BÍBLIA, Mateus 10,1-4).

Dentre os doze, Jesus teve um relacionamento mais próximo com três discípu-los, que foram líderes de grande expressão na igreja primitiva: “Contudo, não permitiu que alguém o acompanhasse, senão Pedro e os irmãos Tiago e João” (BÍBLIA, Marcos 5,37). Finalmente, um discípulo teve maior aproximação e revelação de Jesus - João: “Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discí-pulos, aquele a quem ele amava” (BÍBLIA, João 13,23).

O processo de discipulado foi realizado em diferentes graus, de acordo com a atuação ministerial de cada grupamento. Para aqueles que teriam uma lide-rança ministerial direta na administração da economia de Deus, Jesus chamou para estarem com Ele, para que pudessem receber maior revelação. Esses seriam trabalhados teologicamente, mas também na formação de um caráter para o ministério, por meio do convívio com Jesus.

Lidório (2014) fala de sua experiência pessoal, na qual teve a oportunidade de conviver ministerialmente com seu pai durante sua adolescência e, assim, entender

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qual era a área vocacional à qual Deus o estava chamando, bem como vemos no Velho Testamento, relacionamentos de serviço e discipulado, os quais foram esta-belecidos para a formação de um caráter e ministério - Elias com Eliseu, Moisés com Josué, Samuel com Davi, embora, na vida de Davi, os desertos, as aflições e perseguições tenham sido também grandes aliados em seu processo de discipulado.

Ronaldo Lidório (2014) apresenta três característica particulares do cha-mado de Deus para o ministério e discipulado com Cristo:

O chamado de Deus é pessoal - Deus não chama instituições e organizações, Ele chama pessoas. Deus lança no coração de seus filhos uma intransferível e profunda convicção de chamado e propósito.

O chamado de Deus é incontestável - é uma convocação e Ele faz de forma clara. Na Bíblia Sagrada a voz de Deus é comparada ao som de muitas águas e ao trovão. Ele se faz ouvir.

O chamado de Deus é irresistível - quando Deus nos chama, somos atraídos por esse chamado e não teremos paz enquanto não cumprirmos a vontade do Pai.

Embora o chamado de Deus tenha seu caráter pessoal, é muito importante salientar que, quando Deus chama um homem ou uma mulher para o minis-tério, esse chamado será reconhecido por sua congregação. O Espírito Santo concede convicção tanto ao candidato como à sua igreja local sobre o chamado de Deus. Certamente, o principal parâmetro que a igreja possui para discernir o chamado na vida de um candidato são as qualificações ministeriais exigidas pela Palavra de Deus para essa função (I Timóteo 3,1-13; Tito 1,5-9). Seu teste-munho, sua fé, sua piedade, sua generosidade e capacidade para o ensino, sua aptidão às disciplinas espirituais, dentre outras características, serão percebidas pela igreja. Alguém que não tem a confirmação da igreja sobre seu chamado não estará apto a desenvolver o ministério.

Cristo exerce seu governo sobre a igreja mediante os dons, os quais, por sua soberana graça, distribui aos membros do corpo conforme a medida do dom que concede a cada um. A cada um nos foi dada graça conforme a me-dida do dom de Cristo. Graça e dom são palavras muito relacionadas entre si. Graça em grego é charis, e tem dois significados. O primeiro significado é misericórdia, e o outro, capacidade ou habilidade recebida para desempe-nhar um ministério ou serviço determinado. Este segundo significado, em grego, pode ser expresso pela palavra charisma, que está ligada ao dom. Este dom ou carisma não é recebido por méritos ou por desejo próprio, mas depende totalmente da graça e da vontade de Deus. A palavra dom é a tra-dução de dorea, e significa presente. Nem todos recebem a mesma medida de graça, mas todos recebem alguma medida de graça para fazer a obra de Deus.

Fonte: Himitian (2010, p. 151).

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C) O chamado é funcional e não geográficoNo meio dos salvos por Cristo, Efésios nos diz que o Senhor Jesus distri-

bui dons e chama alguns para que a igreja seja edificada e o Evangelho possa ser espalhado por toda a terra: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (BÍBLIA, Efésios, 4,11).

Lidório (2014) nos leva a considerar que a vocação diz respeito ao que fare-mos e não para onde iremos. Especialmente, no contexto missionário, somos levados a pensar em localidades e não na função ministerial. Se nossa função se cumprirá em nosso país ou além do mar, entre tribos indígenas ou comunida-des imigrantes, isso não é definido pela vocação, mas sim pelo direcionamento de Deus.

Aqueles que são vocacionados para serem pastores o serão, seja no Bra-sil ou na Índia. Os plantadores de igrejas, se colocados em São Paulo, irão plantar igrejas; se enviados para a Amazônia, farão a mesma coi-sa. Os mestres ensinarão a Palavra, seja na própria língua ou em outra qualquer (LIDÓRIO, 2014, p. 16-17).

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O chamado, portanto, é funcional e não geográfico. Jesus nos ensina um cami-nho e um princípio para o reconhecimento de nosso ministério. Ele nos diz em Mateus:

[...] assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má pro-duz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os co-nhecereis (BÍBLIA, Mateus 7,17-19).

O texto de Mateus nos mostra que, na natureza, podemos observar que cada árvore produz segundo a sua espécie, assim, o abacateiro produz abacates, o limoeiro produz limões, a macieira produz maçãs. Da mesma forma pastores cuidam de ovelhas; profetas indicam um caminho a seguir, pautado na Palavra de Deus; evangelistas levam vidas a Cristo e as discipulam; mestres ensinam com ciência, revelação e graça; e apóstolos estabelecem obras e são úteis ao governo da Igreja de Deus.

A plantação e edificação da Igreja do Senhor necessita de todos esses minis-térios operantes. Foi para isso que Deus concedeu a esses homens e mulheres verdadeiros dons ministeriais para edificação do corpo de Cristo, que é a Igreja. Passaremos a considerar cada um deles individualmente, com contribuição de Lidório (2014) e Himitian (2010).

Apóstolos Essa é a categoria de dom ministerial mais abrangente quanto à necessidade

de capacitação e maior porção da graça de Deus; entretanto a palavra nos diz que “a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo” (BÍBLIA, Efésios 4,7). É escolha de Deus conceder dons ministeriais aos homens.

Em nossos dias, a função apostólica é compreendida incorretamente por alguns, sendo interpretada como lugar de hierarquia eclesiástica. Entretanto, a Palavra nos indica que apóstolos são enviados para iniciar novos trabalhos em campos ainda não alcançados. Diante das palavras do Senhor Jesus, não poderia ser mais equivocada a interpretação de que apostolado se constitui em ostenta-ção de poder e prioridade nas relações de subordinação:

[...] suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior. Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre

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eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve (BÍBLIA, Lucas 22,24-27).

As disputas por posição sempre trazem aflição e contendas no Reino de Deus. Entretanto, Jesus aproveita o momento para mostrar o caráter dos servos do Senhor, humildade e disposição ao serviço, o que está diametralmente oposto a mente natural, centrada em seu egoísmo e busca dos próprios interesses. Os ensinamentos de Jesus devem ser aplicados em todos os segmentos do minis-tério cristão.

Lidório nos auxilia na correta descrição e detalhamento do ministério de apóstolos:

[...] se referem àqueles que foram convocados diretamente por Cris-to. [...] Porém, no sentido do envio (apostelo - enviar), toda a Igreja é apostólica, pois foi enviada por Cristo ao mundo. Para John Knox, os apóstolos possuíam um perfil específico, pois eram as pedrinhas lança-das bem longe, onde a Igreja e o Evangelho ainda não haviam chegado. Eram os pioneiros de Cristo. É interessante perceber que os apóstolos chamados por Cristo no primeiro século alcançaram alguns dos con-fins da terra. Mateus foi para a Etiópia (África), André alcançou os citas (na região da antiga URSS), Bartolomeu atingiu a Arábia e Tomé le-vou o Evangelho à Índia. Paulo foi testemunha na Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia (LIDÓRIO, 2014, p. 21-23).

Himitian considera três categorias de apóstolos encontrados no Novo Testamento:• Os doze: eles foram testemunhas da vida, obra, morte e ressurrei-

ção de Cristo. Receberam a doutrina dele, pessoalmente, e quando Judas se suicidou, outro que reunia estas características ocupou o seu lugar (Atos 1,15-16).

• Outros apóstolos do primeiro século: depois de pentecostes, Deus levantou outros apóstolos, como Paulo e Barnabé. Eles, juntamen-te com os onze, estabeleceram os fundamentos da igreja para todos os séculos, de acordo com a revelação que receberam do Senhor.

• O ministério apostólico de caráter permanente: segundo Ef 4:11, Cristo continua concedendo à sua igreja, apóstolos, profetas, evan-gelistas pastores e mestres (HIMITIAN, 2010, p. 153-154).

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Vemos, ainda hoje, a expressão ministerial de apóstolos que são enviados a cam-pos ainda não alcançados para levarem a palavra de Deus. Entretanto, nem sempre esses ministérios são classificados com essa designação, não invalidando, porém, a expressão ministerial e a funcionalidade que esse dom concede.

Profetas Esse dom ministerial também tem sido objeto de controvérsias. Para mui-

tos teólogos o dom ministerial de apóstolos e profetas expiraram no momento da finalização do texto bíblico. E entretanto, funcionalmente, podemos consi-derar o exercício desse dom. Vejamos o entendimento apresentado por Lidório:

[...] indicam aqueles que falam da parte de Deus e comunicam a ver-dade divina. Entendo que hoje consideraríamos profetas aqueles que expõem a Palavra de Deus. A exposição bíblica feita no temor e auto-ridade do Senhor tem o poder de confrontar e transformar vidas. Os maiores avivamentos da história se originaram de exposições bíblicas feitas por cristãos apaixonados por Jesus, desejosos de profunda trans-formação e fiéis às Escrituras (LIDÓRIO, 2014, p. 22).

Himitian cita dois tipos de profetas observados no Novo Testamento:• Um, ao estilo de Ágabo, que recebia do Espírito, revelação específi-

ca sobre pessoas, circunstâncias e ações (Atos 11:27-30, 21:10-11).

• Outro, ao estilo de Silas e Judas, que, inspirados pelo Espírito San-to, ministravam palavras de consolação e edificação aos santos (Atos 15:32, 11:23, 13:1) (HIMITIAN, 2010, p. 154).

Os autores concordam com a definição do exercício do dom de profeta no que se refere a homens que interpretam corretamente as Escrituras, são inspirados por Deus e conduzem um povo no cumprimento de Sua vontade. Mais uma vez se confirma que a função é mais importante que a designação.

EvangelistasEsse dom é nitidamente reconhecido pela igreja do Senhor e bem caracteri-

zado quanto a sua função. Enquanto os discípulos e os crentes no Senhor Jesus ganham, eventualmente, uma vida para Cristo, o evangelista tem um carisma especial para atrair muitas pessoas ao Reino Eterno. Podemos usar a metáfora do pescador que pesca com vara de pesca e o pescador que pesca com redes, assim como Pedro e alguns discípulos que atraíram multidões ao Senhor Jesus.

Vejamos as observações de Lidório sobre o dom ministerial de evangelista:

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[...] referiam-se tanto aos que tinham grande facilidade para comunicar o Evangelho de Cristo quanto aos que moldavam outros com a forma do Evangelho, ou seja, os discipuladores. Apesar de todos os redimidos em Cristo serem chamados por Deus para a evangelização, compreen-de-se que há alguns que o fazem com maior desenvoltura ou facilidade, comunicando de forma clara e acessível o Evangelho aos que ainda não abraçaram o Cordeiro de Deus (LIDÓRIO, 2014, p. 22-23).

Felipe e Timóteo são citados como evangelistas no Novo Testamento (Atos 21,8; II Timóteo 4,5). Himitian (2010) considera que:

[...] os evangelistas funcionavam debaixo do ministério apostólico. Felipe estava mais relacionado a Pedro e João, e Timóteo estava liga-do a Paulo. Tinham autoridade delegada, formavam parte da equipe apostólica e eram colaboradores destes. Eles evangelizavam, batizavam, curavam, fundavam igrejas, estabeleciam lideranças, e transmitiam a doutrina dos apóstolos. Notemos que o perfil deles não se limitava ao que hoje se convencionou chamar evangelista no meio evangélico (HI-MITIAN, 2010, p. 154-155).

Himitian amplia um pouco o campo de atuação ministerial do evangelista, considerando ações abrangentes na igreja primitiva. Não poderia ser diferente, tratando-se de discípulos que estiveram com Jesus e que tinham o entusiasmo e energia concedidos pelo Espírito Santo nos primeiros anos da Igreja.

PastoresTrata-se do dom ministerial mais difundido e que normalmente caracteriza

o ministério sacerdotal em nosso tempo. Quanto a sua funcionalidade obser-vamos o caráter específico de cuidado das ovelhas do aprisco do Bom Pastor. Lidório acrescenta:

[...] eram os que amavam e cuidavam do rebanho de Cristo. Trata-se daqueles que são usados por Deus para juntar, alimentar e cuidar do povo do Senhor - e se sentem realizados com isto. Diversos exegetas enxergam na expressão “pastores e mestres” apenas uma função: pasto-res-mestres (LIDÓRIO, 2014, p. 23).

Certamente, o pastor sempre estará envolvido com o ensino, até mesmo por sua condição de proximidade às ovelhas do rebanho de Deus. Entretanto, a qualifica-ção ministerial para “mestres” sempre poderá ser percebida por uma habilidade específica concedida pelo Senhor a alguns de seus servos.

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MestresOs mestres, normalmente, possuem dons secundários como ciência e sabe-

doria na compreensão e conhecimento da Palavra de Deus. O mestre consegue desvendar aquilo que parece estar nas entrelinhas das Escrituras, trazendo ali-mento sólido para formação do caráter de Cristo nas ovelhas do Senhor. Lidório nos auxilia:

[...] eram os que ensinavam a Palavra de forma clara e transformadora. Seus ministérios não eram definidos pela quantidade de ouvintes ou condições de trabalho, mas puramente pela rica experiência de abrir a Palavra e ensiná-la. O compromisso do mestre é a Palavra (LIDÓRIO, 2014, p. 23).

Conjuntamente, a classificação do ministério de pastores e mestres é tratada por Himitian:

[...] as palavras pastor e mestre se referem ao mesmo ministério. O ver-sículo 11 de Efésios capítulo 4 diz - a outros, pastores e mestres, - e não - a outros pastores e a outros mestres - . Pastor é uma palavra alegórica, e o seu complemento é formado pelo conjunto dos crentes, que são as ovelhas dentro deste simbolismo. A palavra literal seria mestre, mas atualmente, devido ao amplo uso do termo “pastor”, este deixou de ter um significado simbólico e passou a designar quase literalmente este ministério. Em I Timóteo 3:2 Paulo afirma que o dom necessário para que alguém seja estabelecido como presbítero na igreja é ser apto para ensinar (didactikos). Se compararmos Atos 20:17 e 32, podemos notar que a função dos presbíteros era pastorear e ensinar o rebanho. Segun-do o dom, eles são pastores-mestres, segundo o cargo, presbíteros (HI-MITIAN, 2010, p. 155).

Mais uma vez, vemos, nas colocações de Himitian, a indicação do exercício con-junto do ministério de pastor e mestre, bem como a tendência de se caracterizar o ministério de liderança eclesiástica como “pastor”, embora seja encontrado nas Escrituras a designação do cargo de presbíteros para aqueles que estão à frente da igreja de Cristo.

Finalizando a descrição dos dons ministeriais, Lidório (2014) corrobora o entendimento de que o exercício de dons e ministérios jamais devem ser relacio-nados com posição de superioridade ou notoriedade. Quem, assim, se comporta expressa completa falta de compreensão da vocação ministerial. Como disse

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o Senhor Jesus, o maior deve ser aquele que serve. Quando Paulo escreve aos Romanos se apresenta como servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo; ele reconhece que é um servo do Senhor Jesus, porém com um chamado espe-cífico: ser apóstolo.

Apresentamos, a seguir, alguns princípios bíblicos relacionados com os ministérios apontados por Himitian, que consolidam o entendimento da voca-ção ministerial como serviço a Deus:

1) Princípio da soberania divina: Deus é quem escolhe, chama e dá dons aos homens. Ele dá diferentes dons ministeriais, a quem Ele quiser, e na medida que Ele próprio determina.

2) Princípio da pluralidade: o Senhor estabeleceu que os ministérios funcionem de forma plural. Os apóstolos eram doze, os profetas e mestres de Antioquia eram cinco. Os apóstolos sempre estabele-ciam vários líderes em cada cidade (Atos 14:23). O número míni-mo para que haja pluralidade é dois.

3) Princípio da unidade: todos os ministérios têm a única função de trabalhar para a edificação do único corpo de Cristo, que é a Igreja. Nenhum deles recebeu a faculdade de estabelecer uma Igreja pró-pria. Em Jerusalém, os apóstolos eram doze, mas havia uma única igreja, e assim também em cada cidade.

4) Princípio da autoridade: os apóstolos estavam sujeitos uns aos ou-tros, e, naturalmente sujeitos a Cristo. Eles eram autoridade sobre os evangelistas e pastores.

5) Princípio do desenvolvimento gradual: estes dons ministeriais po-dem desenvolver-se ou expandir-se. Felipe era um dos diáconos em Jerusalém (atos 6), mas logo depois é mencionado como evan-gelista (Atos 21:8). Paulo e Barnabé eram profetas ou mestres em Antioquia (Atos 13:1), mas depois são reconhecidos como apósto-los (Atos 14:4) (HIMITIAN, 2010, p. 156-157).

Compartilho, com você, uma experiência muito marcante vivida por Ronaldo Lidório em uma de suas viagens missionárias para o interior do Amazonas, que caracteriza a necessidade de dependência de Deus acima de toda possibilidade de qualificação que pode ser alcançada:

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[...] estive visitando uma região próxima a Maraã no coração do Ama-zonas, onde vivem os kambebas, kokamas e miranhas. Eram tidos, até poucos anos atrás, como grupos indígenas ainda não alcançados pelo Evangelho. Todavia, foi grande a minha surpresa ao chegar entre eles e ver ali a presença de uma forte igreja evangélica, que louva a Deus com fervor e amor. Procurando os autores daquele trabalho missio-nário, apontaram-me alguns crentes ribeirinhos, especialmente o Sr. João, como é conhecido. Fui entrevistá-lo. Pessoa simples, quase ile-trado, mas com tremenda paixão pelo Senhor Jesus. Com a sua famí-lia, ele vivia em um flutuante formado por um cômodo apenas e, além das redes, possuíam somente uma cadeira e uma panela. Contaram-me como se mantinham por meio da pesca e usavam toda a energia e tem-po para transmitir o Evangelho de Cristo aos indígenas da região. - Mas como vieram para aqui, em região tão distante? - Viemos ganhar a vida, respondeu. - E como está a vida?, indaguei. - Vai muito bem. Já planta-mos seis igrejas. Aqueles eram missionários sem sustento, aplausos ou reconhecimento. Eram servos de Jesus que confundiam o ganhar da vida com o ganhar de almas. Pessoas que passavam privações profun-das para que o Evangelho chegasse até o final do rio Maraã. O que se-gura um missionário no campo não são projetos, sustento, equipes ou igrejas enviadoras, mas sim a profunda, intransferível e inconfundível convicção de que Deus o chamou. (LIDÓRIO, 2014, p. 30-31).

A expressão de amor e paixão pelas almas perdidas deve ser nossa motivação para o serviço ao Senhor. A completa dependência de Deus e de Sua Palavra tor-na-se nossa maior qualificação ministerial.

E você? Já refletiu sobre qual é o dom ministerial que mais se identifica ou compreende que recebeu da parte de Deus? Certamente podemos desen-volver e multiplicar o dom ministerial que Ele nos concedeu.

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O PERFIL DO(A) PLANTADOR(A) DE IGREJAS

Você considera que o Sr. João, citado há pouco, tem um perfil adequado para plantar igrejas?

Davi não foi considerado um candidato com perfil apropriado aos olhos dos homens (BÍBLIA, I Samuel 16). Quando o profeta Samuel foi a Belém, enviado por Deus para ungir o novo rei, Davi não foi convidado para estar entre os can-didatos; antes, foi deixado no campo junto ao rebanho de seu pai, pois era o mais jovem da família e considerado, ainda, inexperiente para aquela posição. Contudo, foi exatamente ele o escolhido por Deus.

Moisés não se sentiu habilitado para o chamado de libertar o povo de Israel do Egito. Também Jeremias, ele mesmo, narra como foi o seu chamado:

[...] a mim me veio, pois, a palavra do Senhor, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da ma-dre, te consagrei, e te constituí profeta às nações. Então lhe disse eu: ah! Senhor Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança. Mas o Senhor me disse: Não digas: Não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás (BÍBLIA, Jeremias 1,4-8).

Temos, nessa lista, tantos outros homens preciosos que foram grandemente usa-dos por Deus, entretanto, quando foram chamados, não se sentiam aptos para o cumprimento de suas tarefas.

Ao apresentarmos as competências desejadas para o plantador de igrejas, não queremos desconsiderar que é Deus quem realiza em nós Sua obra e nos

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habilita. Sua graça e Seu poder se aperfeiçoam em nossas fraquezas. Mas, visto que nossa incumbência é a tarefa sagrada de cuidar de almas por quem Cristo morreu e ensinar princípios do Reino Eterno, nos reportarmos ao próprio Deus em tudo que fazemos, então, precisamos considerar atentamente o perfil reve-lado pela Palavra de Deus para o exercício do ministério. Quando me refiro ao plantador de igrejas, reflita sobre sua própria vida ministerial, seja qual for seu envolvimento na edificação do Reino de Deus.

Ott e Wilson (2013) nos dão informações sobre um estudo com 528 agên-cias missionárias, em que se concluiu que cerca de três quartos (¾) de todo o desgaste missionário acontecia em decorrência de causas previsíveis. Perto de um quarto (¼) desse desgaste previsível tinha diversas causas pessoais: 13 por cento (13%) relacionava-se a casamento e família e 6 a 9 por cento (6-9%) era resultado de problemas com a equipe.

Concluímos que o trabalho ministerial, em geral, tem um forte impacto na vida pessoal, conjugal e familiar. Muitas pessoas que têm um perfil altamente orientado pela conclusão de tarefas tendem a ignorar os problemas pessoais e negligenciar algumas dimensões de sua vida pessoal. Pinney (2006), coordena-dor da Church Planting Canada, em Quebec, escreve:

[...] ao mesmo tempo em que há um crescente número de recursos di-dáticos que enfocam a metodologia de plantação de igrejas, muito pou-co se refere diretamente aos plantadores e às pressões pelas quais ele e suas famílias passam na tentativa de plantar igrejas. Embora o próprio plantador seja um componente essencial da plantação de igrejas, sua vida pessoal e espiritual ainda não recebe a atenção adequada na litera-tura e nos treinamentos existentes. Além disso, enquanto todo o con-ceito de mentoreamento está agora sob os holofotes e recebendo uma atenção considerável, tanto nos círculos cristãos quanto nos seculares, surpreendentemente há poucos instrumento disponíveis para auxiliar mentores a causarem uma mudança efetiva na vida pessoal e familiar do plantador (PINNEY, 2006, p. 8, tradução nossa).

Para tratar esse assunto, consideramos os estudos e pesquisas de Ott e Wilson (2013) na definição de características e competências desejadas para o plantador de igrejas. Uma síntese de seus estudos e observações pessoais nos leva a con-cluir que as qualidades mais importantes para a plantação eficiente de igrejas são:

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Chamado de Deus Disciplinas espirituais

fortes (oração, ouvir a voz de Deus, jejum,

contemplação, leitura e estudo da Bíblia etc.)

Dons espirituais adequadospara a tarefaApoio do

cônjuge

Caráter santo

Um conjuntoespecial dehabilidades

para a missão

Inteligênciaemocional e

adaptabilidade

Figura 1 - Qualidades para plantação Fonte: adaptado de Ott e Wilson (2013).

Se forem colocados esses fundamentos, Deus irá, continuamente, moldar o obreiro no serviço cristão. No caso de atuações ministeriais transcultural, a matu-ridade pessoal e a adaptabilidade são fatores importantes na efetividade e na longevidade do ministério. Habilidades evangelísticas, capacidade de adaptação cultural e inclinações naturais como flexibilidade, improvisação e autodidatismo são importantes na liderança transcultural eficaz. Torna-se necessário ajustar o estilo de liderança à situação ou cultura em vez de uma personalidade definida a um único padrão de comportamento. Os obreiros transculturais precisam ser capazes de liderar não somente à frente, mas também ao lado dos aprendizes e líderes locais por causa da fase de retirada e da exigência de mudanças de papéis.

Nunca se deve esquecer que nenhum plantador de igrejas reunirá todas as habilidades. O conjunto de competências da equipe deve, também, ser consi-derado. Trataremos, em seguida, alguns desses aspectos, considerando quatro

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abordagens diferentes: fundamentos espirituais, fundamentos pessoais, vida familiar, e plantadores bivocacionais.

A. FUNDAMENTOS ESPIRITUAIS

Existem alguns aspectos espirituais que devem ser encontrados na vida daque-les que seguem a Cristo como seus discípulos, como o caráter de Cristo, a vida de oração, a santificação, a maturidade espiritual. Entretanto, quando se trata de ministros do Senhor, esses aspectos devem estar presentes de forma potenciali-zada. Vamos considerar o chamado e sua confirmação, a maturidade espiritual, a oração e as disciplinas espirituais e, por último, os dons espirituais.

A.1. Chamado e confirmação

Como abordamos anteriormente, o chamado é o ponto de partida para o serviço a Cristo. Deve-se buscar tanto o tempo de Deus quanto o chamado de Deus. A segurança da convocação de Deus traz confiança e força para desenvolver a tarefa. Essa convicção pode vir no início, de forma dramática, como Paulo no cami-nho de Damasco, ou progressivamente, por meio de um processo de estudo da Bíblia, de reflexão e conversas como outras pessoas Greer (EMQ, 2009, on-line)1 diz que há precedentes bíblicos para os dois: a “chamada óbvia” e a “chamada sutil” refletida na frase de Tiago “pareceu-nos bem e ao Espírito Santo” depois de muita deliberação (BÍBLIA, Atos 15,28). Os candidatos, porém, precisam ter uma convicção legítima, estabelecida e duradoura (que deve ser compartilhada pelo cônjuge, se for casado) da direção de Deus que é confirmada pelo corpo local da igreja, como abordado anteriormente.

A.2. Maturidade espiritual

Ott e Wilson (2013) apontam que os plantadores de igrejas devem ser escolhidos entre os que já têm demonstrado maturidade espiritual, compromisso com disci-plinas espirituais e habilidades necessárias para o desempenho do ministério. O

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Senhor, soberanamente, prepara seus servos por meio de experiências formativas que servem como base espiritual para suportar as pressões de situações aleatórias.

O isolamento é muitas vezes utilizado por Deus para ensinar importan-tes lições de liderança que não podem ser aprendidas quando estamos experimentando as pressões do contexto normal do ministério (CLIN-TON, 2000, p. 161).

Diante das provações que passamos, muitas vezes, pode haver uma grande resis-tência, assim como Jacó em Peniel. Entretanto, esse processo resulta em uma maior intimidade com Deus, quando nos submetemos a Ele em temor e obediência. Novos padrões de submissão, maior humildade e paciência, e novas maneiras de reagir diante das dificuldades podem ser aprendidas. Quando falta a maturi-dade e sensibilidade espiritual necessária, o choque inicial com uma língua ou cultura pode se tornar insuportável.

A.3. Oração e disciplinas espirituais

O número de tarefas relacionadas à agenda de um plantador de igrejas pode ser preocupante, mas sua prioridade deve ser alimentar sua própria vida espiritual,

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como disse Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (BÍBLIA, I Timóteo 4,16).

Ott e Wilson (2013, p. 313) apontam que “muitos chegarão à conclusão de que precisam desenvolver padrões diferentes ou mais profundos de disciplinas espirituais: as praticadas em seu país de origem podem não ser adequadas para a frente de batalha”. É nítida a influência que a vida de oração, jejum e estudo da Bíblia trazem para a edificação da Igreja do Senhor.

Os plantadores também precisam estar alertas às necessidade, as fra-quezas de caráter e aberturas espirituais daqueles com quem estão tra-balhando para interceder com foco e persistência. A oração também está ligada ao evangelismo. A intercessão não é apenas o meio para o serviço efetivo - é o coração e a alma de um ministério (OTT e WIL-SON, 2013, p. 313).

A.4 Dons espirituais

A Palavra de Deus, em Efésios, nos diz que “Cristo levou cativo o cativeiro e con-cedeu dons aos homens (BÍBLIA, Efésios 4,8). Plantar e edificar igrejas é fruto do Espírito Santo de Deus em nós. Deus usa uma variedade de dons espiritu-ais para esse serviço. Apresentaremos, a seguir, um quadro proposto por Ott e Wilson (2013), que nos ajuda a compreender o papel dos dons espirituais.

Quadro 1 - Funções e dons espirituais em uma equipe de plantação de igrejas

FUNÇÃO DO PLANTADOR

EXEMPLOS BÍBLICOS DONS ESPIRITUAIS

Fundador Paulo, Pedro, Bar-nabé e Epafras

Apóstolo, evangelismo, pregação, lide-rança, fé encorajamento.

Desenvolvedor Apolo, Timóteo e Tito

Ensino, administração, encorajamento, aconselhamento.

Assistente Priscila e Áquila Evangelismo, ajuda, hospitalidade, ensi-no, encorajamento.

Fonte: Ott e Wilson, (2013, p. 314).

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• Paulo e Pedro representam o tipo “fundador” e tinham o dom de apóstolo. Ambos eram evangelistas que dominavam a pregação persuasiva. Barnabé, que trabalhou como evangelista juntamente com Paulo (Atos 13:2-14:28), era conhecido pelo dom de encorajar as pessoas (Atos 4:36). Ele acompanhava os irmãos a fim de iniciá--los no ministério (Atos 11:25) e serviu como ponte entre pessoas e grupos (Atos 15:1-4, 12, 22-35). Epafras começou o trabalho em Colossos (Colossenses 1:7) e também é associado ao trabalho em Hierápolis e Laodiceia (Colossenses 4:12). Ele demonstrou o dom de fé através da oração intercessória (Colossenses 4:12).

• Apolo, um judeu de Alexandria foi descoberto pela equipe paulina em Éfeso. Ele era um aplicado estudioso do Antigo Testamento e um pregador eloquente que tinha aceitado Jesus como Messias. Com um pouco mais de instrução, ele foi preparado para usar suas habilidades para persuadir e instruir as pessoas na fé. Ele desen-volveu, ou “regou”, a igreja de Corinto (I Coríntios 3:6) e aparen-temente, auxiliou Paulo em Éfeso (I Coríntios 16:12). Parece que Apolo nunca se envolveu na plantação pioneira de uma igreja, mas dedicou suas energias a fortalecer trabalhos já estabelecidos.

• A contribuição de assistentes ou membros da equipe, embora pouco notada, nunca deve ser subestimada. Priscila e Áquila, pro-vavelmente, possuíam o dom de socorro e hospitalidade, e certa-mente de ensino e encorajamento (Atos 18:2,26; I Coríntios 16:19). Eles faziam o trabalho de evangelismo, mas possuíam também a habilidade de caminhar com as pessoas para contribuir com sua formação (Atos 18:26). Paulo os chama de “meus colaboradores em Cristo Jesus” (Romanos 16:3).

• Os dons de cada categoria devem estar presentes na equipe de plantação de igrejas. Aqueles que possuem dons de evangelismo, ensino ou pregação, liderança ou administração, apostolado de-vem estar presentes para dar início a um projeto transcultural ou urbano. Deus não será limitado por uma fórmula. Ele pode acres-centar dons trazendo novos membros ou levantando líderes na-cionais com o que for necessário. Deus usa muitos tipos de plan-tadores de igrejas trabalhando sinergicamente através do Espírito Santo (OTT; WILSON, 2013, p. 314-315).

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B) Fundamentos pessoais

Passamos agora a considerar aspectos de caráter e personalidade que são dese-jados na vida do plantador de igrejas. As questões pessoais são vitais para que um obreiro possa ter um bom resultado no trabalho realizado.

B.1. Estabilidade

Lidório (2011, p. 12), enfatiza que “nada, a não ser Deus, Seu poder e ação, poderá habilitar espiritualmente a Igreja a fim de concluir os planos do Senhor no mundo”. Entretanto, no processo de plantio de igrejas nos deparamos com muitos obstáculos, temos recursos limitados, em circunstâncias que às vezes nos parecem intransponíveis.

Principalmente para os obreiros transculturais, onde a comunicação se dá em uma segunda língua, ocorre o isolamento social e geográfico, a instabili-dade política, conflitos com colegas de trabalho, amigos e família. Esses fatores contribuem para um estresse geral, em que a dependência de Deus para uma estabilidade emocional se torna fator imprescindível.

Ott e Wilson (2013, p. 317) apontam o grande desafio encontrado em plan-tação de igrejas: “plantar uma igreja é como iniciar um pequeno negócio com voluntários quando a análise do mercado indica que a maioria das pessoas não está interessada em seu produto”. Os plantadores, muitas vezes, se sentem inva-sores e, frequentemente, são mal interpretados por aqueles que estão tentando alcançar. Por todas essas razões, e muitas outras, a plantação de uma igreja traz muitas incógnitas que, sendo solucionadas, nos leva a grandes recompensas, porém exigem muito de nossa coragem, estabilidade e inteligência emocional.

B.2. Resistência

Ott e Wilson (2013, p. 317) pontuam que “quando os plantadores de igrejas se mudam para um novo local de ministério, deixam muitas coisas para trás, incluindo a igreja, os parentes e outros sistemas de apoio emocional”. Por isso, uma das qua-lificações para a plantação de igrejas é a resistência - a habilidade de se sustentar

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emocional e fisicamente em meio a adversidades, perdas, desapontamentos e fracassos. É preciso perseverança até que os objetivos traçados se estabeleçam.

As pessoas emocionalmente resistentes são adaptáveis e dispostas a aceitar mudanças com pouco amparo. Elas se ajustam ao desafio e ao ambiente de rápida mutação de um ministério em crescimento. Quan-do a oposição e as dificuldades surgem, não ficam arrasadas, mas rea-gem até nas mais difíceis circunstâncias a fim de continuar avançando encontrando forças dentro de si mesmas. Têm seus momentos de desâ-nimo, mas são obreiros perseverantes e resolutos servos da cruz (OTT; WILSON, 2013, p. 317-318).

A condição de resistência apontado por Ott e Wilson é muito bem traduzida pelas palavras “resolutos servos da cruz”, uma vez que, a experiência substitutiva de Cristo na cruz em nosso lugar nos concede a oportunidade de nos conside-rarmos mortos para muitos aspectos da vida natural, sabedores que na morte daquilo que é nosso, se manifesta a vida daquilo que é dEle.

B.3. Autogerência

Muitos plantadores de igrejas trabalham fora de casa sem horas regulares de tra-balho ou responsabilidades bem definidas. Consequentemente, têm necessidade de usar o seu tempo e recursos de maneira prudente e efetiva. Para que possam sair do lugar, necessitam ser cheios de decisão e disposição para ir aos lugares públicos, conhecendo pessoas e compartilhando de Cristo.

A plantação de igrejas envolve tanto o desenvolvimento pessoal quanto o desenvolvimento de um projeto. É um trabalho difícil e complexo que requer longas horas, concentração e a disciplina de permanecer na tarefa. Os plantadores também precisam de alvos claros e autocontrole se dese-jarem ver progresso real. Antes de começar sua primeira atribuição, já de-vem ter mostrado a habilidade de gerenciar seu tempo, sua família e seus recursos de forma eficiente. Jesus voltou sua face para Jerusalém e nunca perdeu de vista a razão pela qual ele veio. Para alguns, seguir seu exemplo nesse aspecto é quase instintivo, mas, para a maioria, é um comporta-mento aprendido. A autogerência exige uma avaliação realista de nossos pontos fortes e de nossas limitações, além do cultivo de hábitos sadios e limites para manter-se em direção ao alvo (OTT; WILSON, 2013, p. 318).

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O ponto de partida da autogerência deve ser a prática das disciplinas espiritu-ais, pois, por exemplo, uma profunda vida de oração modifica muitos de nossos hábitos, ao manifestar uma nova confiança naquilo que Deus pode fazer.

C. Vida familiar

Esse ponto é de fundamental importância, pois a plantação de uma igreja envolve profundas mudanças no contexto de atividades de uma família, principalmente quando se trata de plantação transcultural de igrejas. Portanto, as necessidades e condições psicológicas de cada membro da família devem ser consideradas.

C.1. Tolerância ao estresse causado por mudanças

A plantação de uma igreja, muitas vezes, exige mudança de casa e de cultura para alcançar pessoas de diferentes contextos. Ott e Wilson citam que o choque cultural é definido como:

[...] uma síndrome de reação ao ajuste causada por estresse múltiplo e interativo nos níveis intelectual, comportamental, emocional e psicoló-gico de uma pessoa recentemente realocada a uma cultura que não lhe é familiar e é caracterizada por uma variedade de perturbações psicoló-gicas. Essas mudanças, ocorrendo todas de uma vez, precipitam o pro-cesso de adaptação, mas podem prejudicar o relacionamento conjugal. Os maridos e as esposas experimentam a plantação de igreja de formas diferentes. Geralmente, o papel do marido é bem definido, porque todo o processo de seleção e preparação é concentrado nos dons e no treina-mento dele. Se o papel da esposa não parece ser tão crítico ou claro, ela enfrentará mais estresse relacionado ao seu papel. Quando os cônjuges têm necessidades e percepções diferentes, pode ser difícil manter a har-monia conjugal (OTT; WILSON, 2013, p. 318-319).

Frente a esses importantes aspectos, percebe-se o quanto existe uma necessidade de convicção do chamado, do marido e da esposa, para a mesma tarefa. Caso a esposa permaneça no cuidado da casa e dos filhos, ela terá maior dificuldade no aprendizado da língua e da cultura em trabalhos transculturais. A esposa com o perfil mais relacional terá um aprendizado mais rápido e poderá atuar mais amplamente na plantação da igreja.

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C.2. Necessidade de limites entre o lar e o ministério

Ott e Wilson (2013) apresentam outra dificuldade que é o “efeito vitrine”, quando as atividades do dia a dia são observadas por muitas pessoas e perde-se o senso de privacidade. Os ocidentais que trabalham em contextos tribais enfrentam difi-culdade especial nesse aspecto, porque as pessoas que vivem coletivamente em famílias estendidas não apreciam sua necessidade de privacidade.

Algumas vezes é muito difícil aceitar a superexposição dos filhos. A reação natural seria recolher-se a um estilo de vida mais privado, mas os plantadores reconhecem a importância do seu exemplo e testemunho como família e dese-jam desenvolver novos relacionamentos. Eles sabem que a hospitalidade e o ministério baseado no lar são essenciais para a plantação de uma igreja. A ten-são não é de fácil solução.

A falta de limites se manifesta, também, de outras maneiras. Se não há um escritório disponível, os plantadores precisam aprender a trabalhar em casa. As crianças precisam aprender a compartilhar seus brinquedos e seu espaço todos os dias de culto, caso a igreja se reúna na casa do obreiro. Problemas relacionados

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a estabelecimento de limites parecem apenas aumentar à medida que o minis-tério se expande.

O tempo com a família pode se tornar um bem raro à medida que o trabalho com o acompanhamento de discípulos e líderes é acrescen-tado ao evangelismo e à formação da comunidade. As famílias saudá-veis aceitarão a necessidade de - dar um tempo - e estabelecer o hábito de tirar um dia de folga em família. [...] Os indivíduos que atuam em profissões que têm contato direto com pessoas (professores, médicos, assistentes sociais e pastores) e que desempenham intervenção em mo-mentos de crise, aconselhamento familiar e atendimento em pronto so-corro, apresentam altos níveis de estresse e ansiedade. Os plantadores de igrejas que cuidam de pessoas em crise, pobres, famílias com proble-mas conjugais, dentre outros, se encaixam na condição citada. Podem ter que enfrentar essas emergências com pouco preparo ou treinamen-to. Normalmente, eles veem a poderosa intervenção de Deus e conse-guem ajudar, mas seu envolvimento pode, no entanto, cobrar um alto preço em sua saúde pessoal e familiar (OTT; WILSON, 2013, p. 320).

É de extrema importância o cuidado com a saúde da família de plantadores de igrejas, pois, dessa condição, dependerão os resultados do trabalho realizado. Há necessidades também de estabelecer limites na área de finanças. Cria-se um dilema quando existe uma desproporção econômica entre o estilo de vida do missionário e o da população em geral. Há muitos pedidos de ajuda financeira, tanto da parte dos cristãos quanto da comunidade.

O que um plantador de igrejas faz quando várias pessoas perdem seus empre-gos ou quando um casal pede dinheiro emprestado para comprar remédio para sua filha? Onde se traça uma linha demarcatória? Em resposta a essas pressões, Ott e Wilson (2013) indicam quatro áreas que devem ser consideradas pela famí-lia do plantador de igrejas:

1. Espaço - como a casa da família será usada para o ministério? Que partes serão consideradas proibidas à entrada de estranhos?

2. Tempo - que noites serão dedicadas a reuniões e visitas e que noites serão separadas para a família? Que dia será o “sábado” da família?

3. Relacionamentos - como o cônjuge que fica em casa desenvolverá amizades? Os filhos adolescentes possuem amigos cristãos? Quem será o confidente do casal no caso de problemas no ministério? Como os filhos serão protegidos da “superexposição”?

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4. Recursos - os recursos financeiros da família serão usados para auxiliar os necessitados na igreja, e se esse for o caso, sob que con-dições? Até que ponto os membros da família estarão dispostos a compartilhar seu carro e pertences pessoais? (OTT; WILSON, 2013, p. 321).

Essas respostas devem ser encontradas e acordadas em família. E, sempre que os limites não estiverem sendo guardados, deve haver liberdade para uma nova abordagem.

C.3. Mulheres na plantação de igrejas

A mulher possui um papel relevante nas equipes de plantação de igrejas, seja ela solteira ou trabalhando em companhia de seu marido. Entretanto, ela também é desafiada por dificuldades singulares. Ott e Wilson (2013) apontam alguns aspectos muito relevantes:

■ Alguns sistemas religiosos, especialmente em culturas islâmicas ou tri-bais, têm padrões distintos de adoração e práticas para as mulheres que reduzem severamente a comunicação entre os sexos.

■ Paulo trabalhou em parcerias significativas com assistência de mulheres como Priscila (Atos 18-19), Evódia e Síntique (Filipenses 4) e obreiras locais como Lídia (Atos 16), Ninfa (Colossenses 4,15), Febe e outras (Romanos 16), em um tempo em que as mulheres raramente eram encontradas em posições de liderança. Atualmente, homens e mulheres podem trabalhar juntos em parcerias criativas na plantação de igrejas, mas há obstáculos a serem superados.

■ Algumas vezes espera-se que as mulheres colaborem sem que lhes seja concedida uma voz real nas decisões da equipe. Ott e Wilson (2013, p. 322) relatam que “uma plantadora de igrejas trocou de organização mis-sionária porque, sendo uma mulher solteira e médica, ela tinha carga integral de ministério, mas não possuía voto nas reuniões da equipe”. As frustrações a respeito das desigualdades são agravadas quando os papéis públicos para mulheres são reprovados, ou em culturas patriarcais e machistas em que a educação, a inteligência e a opinião de uma mulher não são consideradas.

Plantadores Bivocacionais

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Quando surgem problemas no contexto da plantação de igrejas, tensões ou peque-nas irritações, é necessário que os fatores causadores sejam tratados abertamente para que não tragam feridas dolorosas e frustrações quanto ao chamado em Deus.

Se as mulheres partilham integralmente de um ministério de plantação de igrejas, devem receber apoio e o mesmo treinamento que os homens, partici-par de decisões e ter auxílio para organização de suas agendas, no caso das que possuem filhos.

Karol Downey (EMQ, 2005, on-line)2 sugere que tanto o homem quanto a mulher se beneficiam quando compreendem o ministério amplamente como serviço a Deus em todas as esferas da vida: família, igreja e o mundo exterior. As organizações missionárias podem contribuir também, esclarecendo suas expectativas quanto ao papel das mulheres, oferecendo oportunidades amplas de ministério de acordo com os dons individuais, confirmando a grande contribui-ção das mulheres e mantendo, em seus quadros, mulheres experientes envolvidas na preparação pré-campo e em visitas de acompanhamento aos campos.

Ott e Wilson (2013) concluem que, completamente aceitas como compa-nheiras de ministério, o impacto no Reino é multiplicado pela presença das mulheres, a força missionária é aumentada, mulheres em sociedades islâmicas e budistas podem ser alcançadas, mulheres locais são discipuladas e treinadas, a qualidade da tomada de decisão é ampliada pela singular percepção feminina e as pessoas são atraídas ao ver como homens e mulheres podem ser moldados à imagem de Cristo.

PLANTADORES BIVOCACIONAIS

Esse talvez seja um dos maiores empecilhos para a multiplicação de igrejas em nosso tempo. Um movimento de expansão de igrejas depende do grau em que os cristãos locais cheios do Espírito Santo têm liberdade de agir livres de estru-turas e controles tradicionais. Como dissemos anteriormente, uma igreja em fase

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adulta deve ter alcançado capacidade de autogoverno, autossustento e autopro-pagação, o que classificamos como igrejas autóctones.

No decorrer dos tempos, nunca os recursos financeiros têm sido suficien-tes para sustentar o número de obreiros necessários em campos missionários. Depender de recursos externos, como ofertas, apoio financeiro de patrocina-dores, doações de equipamentos ou subsídios para execução de projetos de construção trazem lentidão e dificuldades para o avanço da igreja. Ott e Wilson (2013, p. 96) citam que “o uso insensato de recursos pode inibir a multiplica-ção da igreja de várias formas”. Os recursos externos são limitados e, mais cedo ou mais tarde, tendem a acabar, caso a plantação da igreja depende deles, ela também acabará. Outro aspecto é que as pessoas passam a pensar que é impos-sível plantar uma igreja sem patrocinadores e recursos externos. Em último lugar, quando os recursos externos são usados para a plantação da igreja, pode--se plantar também a ideia de que se foi a missão que construiu a nova igreja, é a missão que deve sustentá-la.

Os recursos externos podem ajudar a plantação de igrejas e não são antiéticos. Afinal, no estágio pioneiro ainda não existe igreja e todos os recursos - humanos, estratégicos, tecnológicos e financeiros - precisam vir de fora. No entanto, devem ser usados com sabedoria para que esses recursos não se tornem obstáculos para uma multiplicação de congregações sadias, autossustentáveis e que se reproduzem.

Ott e Wilson (2013) indicam que outro empecilho para a multiplicação diz respeito à educação formal dos plantadores de igrejas, que levam, normalmente, vários anos em uma Universidade, escola bíblica ou seminário. Isto em si não é ruim, entretanto, levará muito tempo e nunca haverá obreiros diplomados suficientes para se tornarem plantadores de igrejas em um movimento em cres-cimento. Isso também pode criar a impressão de que os leigos sem treinamento não podem ou não deveriam liderar a plantação de igrejas.

Na prática, os movimentos de plantação de igrejas contam com leigos bivoca-cionais e com métodos de treinamento informais, como treinamentos organizados por igrejas, seminários oferecidos por escolas bíblicas e por organizações mis-sionárias. Eles enfatizam o entendimento bíblico, a formação de caráter e o desenvolvimento de habilidades práticas de ministério em lugar do conheci-mento teórico.

Plantadores Bivocacionais

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Mesmo aqueles que se prepararam dentro de uma instituição formal, mui-tas vezes, possuem dificuldades em encontrar o sustento financeiro na própria igreja plantada, o que os leva a um ministério bivocacional.

A expressão “ministério bivocacional” se refere não a um método de plan-tação de igrejas em si, mas à forma como alguns missionários e plantadores de igrejas se sustentam financeiramente. Os obreiros bivocacionais, algumas vezes chamados de fazedores de tendas, têm uma ocupação secular ou empresa para complementar ou financiar integralmente seu empreendimento de plantação de uma igreja.

Eles precisam ser competentes em ambas as funções, integrá-las e geren-ciá-las juntamente com suas responsabilidades familiares. Consideraremos, a seguir, alguns aspectos apontados por Ott e Wilson (2013), que nos levam a refletir sobre o ministério bivocacional.

O apóstolo Paulo trabalhou literalmente como um fazedor de tendas. Os missionários morávios - a maior força missionária de seu tempo - foram todos bivocacionados. Hoje, fazer tendas tem se tornado um fator significativo em missões, especialmente em locais de difícil acesso, nos quais os missionários tradicionais não conseguem vistos de permanência. Essa modalidade tem sido também adotada por várias associações como uma estratégia intencional para a ocupação de novas cidades e zonas rurais.

As escolas bíblicas e seminários teológicos não produzirão obreiros suficien-tes para cumprir a Grande Comissão ou sustentar os movimentos de plantação de igrejas. Somente igrejas locais reprodutoras comprometidas com a seara podem produzi-los. Para que a multiplicação aconteça, precisamos de novos modelos de parcerias efetivas entre as equipes de obreiros leigos e, especialmente, de obrei-ros de tempo integral com plena formação teológica, de forma que estes ocupem posições de capacitadores.

Embora a bivocacionalidade seja uma realidade neotestamentária, deve-se ter grande cuidado para se evitar problemas como:

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■ Treinamento inadequado nas áreas bíblica, teológica e de evangelismo transcultural, resultando em lacunas nas competências ministeriais;

■ Ambivalência de papéis e tensão entre as duas vocações, produzindo lutas de identidade e integridade;

■ Fracasso na condução de um negócio rentável, o que pode prejudicar tanto o negócio quanto o ministério.

A preocupação imediata dos ministérios bivocacionais é como administrar efeti-vamente duas grandes vocações, mais o casamento e a família em muitos casos. A necessidade de um descanso semanal e de limites entre o trabalho e a famí-lia, a obtenção de tempo para se desenvolver as disciplinas espirituais podem se tornar pontos conflitantes. Esses aspectos devem ser continuamente avaliados.

Sempre que possível, o plantador bivocacional deve buscar oportunidades de qualificação e treinamento. Ele deve estar debaixo de um contexto de super-visão e acompanhamento para que áreas de limitação possam ser ajustadas e potencializadas.

O plantador de igrejas em tempo integral ou bivocacional deve, em tudo, encontrar-se em completa dependência de Deus, quer seja na vida financeira, na vida familiar, na preparação teológica ou no planejamento ministerial. O Deus que chama é o mesmo que sustenta e capacita para o ministério. Cada con-texto precisa ser considerado individualmente à luz da Bíblia e da orientação do Espírito Santo de Deus.

Normas culturais e uma variedade de outros fatores devem ser levados em conta quando determinamos o uso sábio dos recursos humanos, estruturais e financeiros disponíveis.

A Igreja e o Plantio de Igrejas

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A IGREJA E O PLANTIO DE IGREJAS

Encontramos, neste tópico, uma perspectiva de suprema importância: a reali-dade de que igrejas plantam igrejas. Para isso foram estabelecidas as igrejas do Senhor na terra, para se multiplicarem em novas igrejas. A grande comissão em primeira instância é dire-cionada para a Igreja do Senhor. Muitas dificuldades são encontradas quando a visão de multiplicação ocorre indi-vidualmente e não no corpo de Cristo. Entretanto, é a Igreja que é a remetida para o mundo, enviada até os confins da terra para alcançar os perdidos e plantar novas congregações.

Quanta perda a Igreja do Senhor tem sofrido em função das barreiras e divergências denominacionais. Embora a interpretação das Escrituras possam ser diferentes em alguns pontos para as denominações, isso não deve ser empecilho para realização de parcerias que tragam avanço à Igreja do Senhor. Lidório nos encoraja sobre a grande responsabilidade das igrejas em propagarem-se.

O assunto plantio de igrejas deve ser observado sob a perspectiva da missão, ou seja, o resultado do desejo de Deus que envolve a ação da Igreja. Um dos maiores perigos existentes no processo de plantar igre-jas é defrontar-se com um cenário onde a missão da Igreja está sepa-rada da missão de Deus, a Missio Dei. E isso ocorre quando a Igreja segue sua própria agenda, de plantio ou crescimento, por motivações próprias e antibíblicas. Não para a glória de Deus, mas para a glória da igreja. Não para alcançar os perdidos, mas para fortalecer a denomina-ção. Não para exaltar Jesus, mas para exaltar os seus líderes (LIDÓRIO, 2011, p. 37).

A responsabilidade e o desejo de plantar igrejas, de anunciar a Cristo para os que ainda não foram alcançados, não podem ser vividos individualmente, mas devem fazer parte da agenda e planejamento de cada igreja. Na igreja primitiva quando alguém se convertia ao evangelho, prontamente Cristo era anunciado por esses novos cristãos. E, nos locais onde as pessoas eram alcançadas, novas igrejas eram estabelecidas.

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A igreja primitiva soube compreender as palavras de Jesus na grande comis-são, considerando sua tarefa principal levar o evangelho a todas as nações. Quando a igreja desassocia a evangelização do plantio de igrejas tende a estag-nar-se na multiplicação e ter poucos frutos no trabalho de evangelismo. Não é possível arar a terra sem pôr a mão no arado. Assim, a igreja não pode viver para si mesma, tendo como sua razão de ser a própria existência e perder a seu pro-pósito, expandir-se até os confins da terra.

Vemos no ministério do apóstolo Paulo a dinâmica não somente de sua pró-pria ação para o plantio de novas igrejas. Mas seu intenso trabalho de preparação de líderes, delegação de autoridade, recrutação de membros para sua equipe mis-sionária. Exemplos disso são os cooperadores, como Timóteo de Listra (Atos 16,1) e Apolo de Éfeso (Atos 18,24-26). O desenvolvimento, comissionamento e delegação de obreiros possuem um papel fundamental no processo de cresci-mento e multiplicação de igrejas.

O próprio Senhor Jesus denunciou a necessidade de formação de obreiros para suprimento dos campos, em Mateus, conforme descrito a seguir:

[...] e percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sina-gogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus discípulos: a seara, na verdade, é grande, mas os traba-lhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande traba-lhadores para a sua seara (BÍBLIA, Mateus 9,35-38).

Jesus se compadecia das necessidades das pessoas e discernia que as mesmas padeciam aflitas por não estarem sendo pastoreadas. A limitação de obreiros se apresenta como uma complexa realidade a ser corrigida. A resposta começa pela oração, para que o plano de Deus seja estabelecido, mas permanece a tarefa da igreja em formar obreiros para atender a carência dos campos.

Ott e Wilson (2013) enfatizam que, conforme a igreja cresce e procura se reproduzir, uma ênfase prioritária deve ser colocada na capacitação dos cristãos locais para o ministério. Paulo deixa bem claro em Efésios que a chave para levar a igreja à maturidade é que os líderes treinem os santos para que esses sejam aperfeiçoados e desenvolvam seu serviço para edificação do corpo de Cristo, “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho

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de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (BÍBLIA, Efésios 4,11-13).

Os líderes cristãos não surgem da noite para o dia. Eles se parecem com árvores frondosas que crescem em silêncio e paciência, enterrando suas raízes profundamente e estendendo seus longos e fortes galhos que produzirão refrigé-rio a muitos. Árvores que caem fazem mais barulho que uma floresta que cresce, portanto, devemos estar bem arraigados e preparados para enfrentar os grandes desafios do ministério cristão. Antes de tentar desenvolver líderes, precisamos desenvolver discípulos fiéis que amadurecem no serviço e obediência, na pie-dade e no amor, na revelação de Deus e na manifestação do caráter de Cristo. Assim, cumpriremos cabalmente nosso chamado e ministério.

Chegamos ao final da nossa Unidade IV. Que Deus nos ajude a sermos encon-trados fiéis. Que sejamos supridos por Sua infinita graça, que produz em nós a riqueza da vida ressurreta de Seu filho, o Senhor Jesus Cristo.

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), durante a Unidade IV abordamos aspectos pessoais que envol-vem o homem e a mulher que foram atraídos por Deus ao ministério. Tudo começa pelo chamado de Deus. Assim foi na vida de Abraão, Sara, Moisés, Ester, Ana, Samuel, Davi e todos que foram comissionados no Novo Testamento, incluindo mulheres preciosas que fizeram parte do ministério do Senhor Jesus e do incan-sável trabalho do apóstolo Paulo em plantar igrejas neotestamentárias.

Se você chegou até aqui com convicção e desejo de servir a Deus, certa-mente Ele conduzirá você às próximas etapas. A Bíblia está repleta de homens e mulheres que encontraram no serviço a Deus sua motivação e razão de existir. Deleite-se em sua leitura e Deus encherá seu coração de confiança, orientação e firmeza. Sirva em sua igreja local até que chegue o tempo e esteja preparado para assumir um novo desafio.

Se você já tem exercido uma função de liderança ministerial, invista na for-mação de novos obreiros, entendendo que tudo começa pelo serviço, obediência e disposição de realizar a vontade de Deus.

Diante de um mundo tão conturbado, entendemos o quanto é preciso con-quistar estabilidade emocional e uma vida espiritual centrada na vontade de Deus. Só assim poderemos cumprir nosso chamado e ministério. Depender exclusivamente de Deus deve ser o segredo de nosso ministério. Ele nos habi-lita, segundo Sua abundante graça.

A igreja tem um papel fundamental na plantação de igrejas. E deve dar prio-ridade para a identificação de candidatos ao ministério, discipulá-los e enviá-los para novos campos.

Na próxima unidade conheceremos um pouco mais o paradigma Paulino para a plantação de igrejas. Que possamos nos desenvolver e amadurecer nessa desafiadora tarefa!

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1. Green (2005) nos aponta que dificilmente estaríamos exagerando ao falarmos das severas mudanças ocorridas no clima espiritual das últimas décadas. Nos-so sistema educacional foi fortemente influenciado pelo Iluminismo do século XVIII. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade, como o Iluminismo influenciou o trabalho missionário?

2. Em Marcos 2,14, a Bíblia Sagrada relata: “Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. Ele se levantou e o seguiu”. Bonhoeffer (2004) diz que, para esta sequência de chamado e ação, só existe uma razão válida: o próprio Jesus Cristo. Segundo nossos estudos, qual a ra-zão de Bonhoeffer (2004) apresentar esse entendimento?

3. Ronaldo Lidório (2014) apresenta três característica particulares do chamado de Deus para o ministério e discipulado com Cristo. O chamado de Deus é pessoal, incontestável e irresistível. Explique cada uma dessas dimensões.

4. Ott e Wilson (2013) indicam as qualidades mais importantes para a plantação efi-ciente de igrejas na definição de características e competências desejadas para o plantador de igrejas, como inteligência emocional e adaptabilidade. Cite mais três características ou competências que são desejadas para o plantador de igrejas.

5. A grande comissão em primeira instância é direcionada para a Igreja do Senhor. Muitas dificuldades são encontradas quando a visão de multiplicação ocorre in-dividualmente e não no corpo de Cristo. Entretanto, é a Igreja que é a remetida para o mundo, enviada até os confins da terra para alcançar os perdidos e plan-tar novas congregações. Explique como a igreja pode atuar para cumprir sua missão no plantio de igrejas.

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COMO EU SEI QUE DEUS QUER QUE EU PLANTE UMA IGREJA?

“Como eu sei que o Senhor quer que eu vá lá?” é uma pergunta comum que eu recebo de jovens plantadores tentando decidir sobre plantar uma igreja. A resposta a essa per-gunta é de extrema importância.

Um plantador de Igrejas é um chamado para um povo e um local

As pessoas têm opiniões diferentes sobre isso, mas eu vou dar-lhes a minha. Eu não acho que um plantador de igrejas deva ir plantar uma igreja até que ele seja chamado para um local e um povo específicos. Isto é um pouco complicado, porque sinceramente eu não acho que as pessoas sejam genericamente chamadas para a plantação de igrejas. Eu acho que elas são chamadas para plantar uma igreja em um determinado povo ou um lugar. Você não pode construir toda a sua visão a respeito de algo em sua experiência pessoal, mas vou compartilhar o meu chamado como uma ilustração.

Minha Jornada

Mesmo tendo sido rejeitado pela minha agência de missões denominacionais para ser um plantador de igreja (afinal eu tinha apenas 20 anos de idade e não tinha tido ne-nhum treinamento), Deus ainda falou aos nossos corações. Eu estava em Buffalo, Nova York, e Donna estava em casa. Voltei e disse a ela que quando eu estava na avenida Prospect com a rua Seventh em Buffalo, eu compreendi que o Senhor queria que eu plantasse uma igreja ali. Donna disse que ela estava orando e que Deus havia lhe dito a mesma coisa. Nós sabíamos naquele momento que deveríamos ir. Foi significativo, mas isso só aconteceu comigo uma vez. Eu plantei seis igrejas e o nível de clareza não era tão evidente. Mas sempre houve um senso de chamado.

A Confirmação através da Compaixão

A confirmação vinha até mim em cada local quando eu sabia que eu não podia fazer nada mais, exceto plantar a igreja entre as pessoas de um determinado lugar. Eu não podia fazer outra coisa ou fazê-lo em qualquer outro lugar.

Eu vivi no meu bairro atual durante quatro anos, antes de sair para plantar uma igreja. Eu estava alcançando alguns vizinhos e os convidava para irem à igreja, enquanto eu servia como um pastor interino em várias igrejas. Mas então Deus colocou um fardo no meu coração de que eu precisava plantar uma igreja para essas pessoas e para seus amigos. Todos os lugares em que eu plantei tinham uma coisa em comum. Eu tinha um fardo espiritual que envolveu um povo específico – dos pobres urbanos em Buffalo aos meus vizinhos no condado de Sumner, no Tennessee, décadas mais tarde.

167

Apaixone-se por um grupo específico de pessoas

A plantação de igrejas e o trabalho missionário são papéis únicos que requerem um chamado claramente discernido. O Apóstolo Paulo falou de forma consistente da res-ponsabilidade que ele tinha por pessoas diferentes em locais diferentes.

Um plantador de igrejas deve se apaixonar pelo local e se apaixonar pelo povo. Quando eu me apaixonei pela minha esposa, eu queria saber tudo sobre ela e passar o máximo de tempo que eu pudesse com ela. Eu fazia coisas com ela que eu não faria normalmen-te. Eu aprendi coisas novas sobre seus interesses. Eu fiz isso com fervor, porque eu estava apaixonado por ela.

A mesma coisa é verdadeira sobre um povo e um local onde você está indo para plantar uma igreja. Você deve se apaixonar por seus interesses. Você precisa aprender mais do que qualquer outra pessoa sobre o local e o porquê de você estar se apaixonando pelo local e pelo povo.

Ore e jejue por discernimento

Ore e jejue até que Deus deixe claro o seu chamado para você. Lute com o Senhor até que seja irrefutável. Eu não quero um chamado geral para plantar uma igreja. Eu quero um fardo claro para um povo específico. Eu não posso plantar uma igreja até que meu coração se parta para o povo onde Deus tem me chamado para plantar uma igreja. Não comece uma igreja sem este chamado.

No final do dia, eu quero um chamado do tipo Macedônico. Paulo teve uma visão, na qual um homem da Macedônia chamava por ele: “Venha e nos ajude” (Atos 16:9). Não estou dizendo que você precisa de uma visão em um sonho, e eu nunca tive um assim. Entretanto, eu nunca plantei uma igreja e não plantaria uma a menos que eu tivesse uma visão clara por um local e um povo e que eu soubesse no meu coração que Deus estivesse me chamando para “ir e ajudar” um certo povo em um local específico.

Fonte: Stetzer (CTPI, 2015, on-line)3.

MATERIAL COMPLEMENTAR

VocacionadosRonaldo Lidório

Editora: BetâniaSinopse: se olharmos a Palavra de forma ampla, possivelmente as

convocações mais enfáticas sejam três: amar a Deus, amar ao próximo

e fazer discípulos. Esse é o nosso propósito e a nossa missão. Todos os

cristão foram chamados para fazer diferença neste mundo, portanto

se você ama e segue a Cristo você é chamado por Ele. Deus também convoca alguns para tarefas e

ministérios bem específicos, e é preciso compreensão bíblica e discernimento nesta caminhada.

Quarto de Guerrao filme acerta em escolher o tema das relações conjugais para, a partir daí, destrinchar sua relação direta com o amor próprio, perdão e principalmente o amor como prova de fé ao nosso Deus. Os personagens foram escritos de maneira a serem críveis e refletirem os tipos encontrados em igrejas por todo o mundo. É impossível não reconhecer a energia contagiante e a fé da senhora Clara em alguém que fez parte de sua igreja ou história.

Paulo, Plantador de Igrejas: Repensando Fundamentos Bíblicos da Obra MissionáriaO que motivava o apóstolo Paulo a sair plantando igrejas, organizando comunidades ao longo da bacia do Mediterrâneo, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava movido por suas convicções teológicas.Para saber mais acesse:<http://www.monergismo.com/textos/missoes/missoes_augustus.htm>.

REFERÊNCIAS169

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.

BONHOEFFER, D. Discipulado. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2004.

CLINTON, R. J. Etapas na vida de um líder: os padrões que Deus usa para desenvol-ver um líder. Londrina-PR: Descoberta, 2000.

GREEN, M. Evangelismo que Funciona: redescobrindo o poder da missão. Rio de Janeiro: GW Editora, 2005.

HIMITIAN, J. Projeto do Eterno: um estudo de 12 semanas. São Paulo: Editora Vida, 2010.

LIDÓRIO, R. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos, 2011.

______. Vocacionados. Belo Horizonte: Betânia. 2014.

OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: princípios bíblicos e as melhores estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.

PINNEY, J. Essential Tools for Strengthening the Life and Ministry of Church Planters: A Training Manual. 2006. Tese (Mestrado) – Fuller Theological Seminary, Pasadena-CA, 2006.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <https://www.emqonline.com/node/2316>. Acesso em: 26 mai. 2017.2 Em: <https://www.emqonline.com/node/343>. Acesso em: 29 mai. 2017.3 Em: <http://ctpi.org.br/artigo-como-eu-sei-que-deus-quer-que-eu-plante-uma-i-greja/>. Acesso em: 01 jun. 2017.

GABARITO

1. Nosso sistema educacional foi fortemente influenciado pelo Iluminismo do século XVIII, que dispensou amplamente a noção de Deus e substituiu-O pela confiança na razão humana. A ciência, com toda a sua tecnologia, prometia ser a chave para o futuro. A confiança no progresso tornou-se ampla e geral. Só o visível, o medido ou verificado de alguma maneira empírica poderia ser consi-derado real. Havia um pressuposto não declarado sobre a natureza humana: ninguém duvida que todos nós temos um coração de ouro, valores e relaciona-mento com Deus tornaram-se subjetivos.

2. O fato de Jesus ser o Cristo dá-lhe todo o poder para chamar e exigir obediência à Sua palavra. Jesus chama ao discipulado não como ensinador e exemplo, mas em Sua qualidade de Cristo, Filho de Deus. Assim, neste breve trecho, anuncia--se Jesus Cristo e o que Ele espera do ser humano, e nada mais. Nenhum louvor cabe ao discípulo por seu cristianismo decidido. O olhar não deve pousar so-bre ele, mas somente sobre aquele que chama e sobre Sua autoridade. Não se aponta tampouco um caminho para a fé, para o discipulado; não há qualquer outro caminho para a fé senão o da obediência ao chamado de Jesus.

3. O chamado de Deus é pessoal - Deus não chama instituições e organizações, Ele chama pessoas como você e eu. Deus lança no coração de Seus filhos uma in-transferível e profunda convicção de chamado e propósito. O chamado de Deus é incontestável - é uma convocação e Ele faz de forma clara. Na Bíblia Sagrada a voz de Deus é comparada “ao som de muitas águas” e ao trovão. Ele se faz ouvir. O chamado de Deus é irresistível - quando Deus nos chama, somos atraídos por esse chamado e não teremos paz enquanto não cumprirmos a vontade do Pai.

4. Chamado de Deus, caráter santo, disciplinas espirituais fortes (oração, ouvir a voz de Deus, jejum, contemplação, leitura e estudo da Bíblia), apoio do cônjuge, um conjunto especial de habilidades para a missão, inteligência emocional e adaptabilidade, dons espirituais adequados para a tarefa.

5. Conforme a igreja cresce e procura se reproduzir, uma ênfase prioritária deve ser colocada na capacitação dos cristãos locais para o ministério. Paulo deixa bem claro em Efésios 4,11-13 que a chave para levar a igreja à maturidade é que os líderes treinem os santos para que esses sejam aperfeiçoados e desenvolvam seu serviço para edificação do corpo de Cristo, “até que todos cheguemos à uni-dade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.

UN

IDA

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Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA

Objetivos de Aprendizagem

■ Analisar o modelo Paulino no desenvolvimento de estratégias para o plantio de igrejas.

■ Refletir sobre as estratégias mais relevantes para o plantio de igrejas.

■ Compreender a essência da pessoa do Espírito Santo e Sua função na plantação de igrejas.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ O paradigma Paulino para plantação de igrejas

■ Estratégias essenciais para o plantio de igrejas

■ O papel do Espírito Santo na plantação de igrejas

INTRODUÇÃO

Nesta última unidade você obterá mais informações sobre o processo de plan-tio de igrejas. Quais etapas devem ser seguidas para o estabelecimento de uma sólida congregação? Quais as melhores estratégias que devem ser implementa-das? Quais os passos iniciais que devem ser tomados?

A Igreja era um mistério, um segredo escondido por muito tempo em Deus, impossível de ser conhecido por desígnios humanos. Mas o Senhor abriu com-pletamente a cortina e, numa visão panorâmica, revelou ao apóstolo Paulo seu projeto eterno, o que está descrito, principalmente, nas epístolas paulinas do Novo Testamento. Ali encontramos as estratégias essenciais para a plantação de igrejas, construídas de acordo com os fundamentos missiológicos, numa pers-pectiva bíblica, contextualizada e aplicável.

Observamos que a grande estratégia utilizada na igreja primitiva era a pro-clamação das boas novas puras e simples que haviam transformado suas vidas. Envolvidas pelo testemunho de mudança de vida, comunidades inteiras eram alcançadas pelo evangelho.

Nos dias de hoje, as estratégias devem ser traduzidas em formas práticas de evangelização bíblica, no qual uma mensagem cristocêntrica e transformadora seja aplicada em diferentes contextos culturais.

Veremos, ao final, o importante papel do Espírito Santo para a plantação e desenvolvimento de igrejas. A compreensão teológica e os princípios e estratégias bem aplicadas não farão nascer uma igreja. Dependemos do Espírito Santo para converter os corações, congregar as pessoas no Corpo de Cristo e levar homens e mulheres à adoração a Deus. E, por fim, inflamar e capacitar esses convertidos a pregar o Evangelho de Cristo.

Vamos à nossa última unidade!

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O PARADIGMA PAULINO PARA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Nosso grande referencial prático e teórico para definirmos estratégias para o plantio de igrejas está centrado no grande esforço missionário do apóstolo Paulo. Lopes (1997) afirma que:

[...] para que tenhamos uma ideia do labor do apóstolo Paulo como fundador de igrejas, em menos de dez anos, entre os anos de 47 e 57, ele plantou igrejas em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia proconsular. Depois de dez anos plantando igrejas, ele escreve aos romanos que já não tem campo de atividade naquelas regiões (Romanos 15:23). Paulo passa para a história, então, como uma combinação de teólogo profundo e missionário fervoroso (LOPES, 1997, p. 139).

Observamos no exemplo do apóstolo Paulo uma capacidade ímpar de desenvol-ver ações que consideram diferentes contextos culturais, sem prejuízo ao conteúdo teológico da mensagem; por isso, a justa afirmação de Lopes, citada anteriormente, sobre o apóstolo Paulo. Nem sempre temos a capacidade de discernir o contexto cultural onde Cristo está sendo anunciado, o que pode gerar diversos conflitos na plantação de igrejas. Vemos o incidente ocorrido na cidade de Antioquia, quando o apóstolo Pedro e Barnabé se afastam dos cristãos gentios, influenciados por alguns cristãos judeus. O apóstolo Paulo tem claramente estabelecido que a salvação vem pela graça, mediante a fé e, segundo sua clareza teológica, não permite que o inci-dente avance, o que poderia ter causado muitos transtornos.

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Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles (BÍBLIA, Gálatas 2,11-13).

Pedro teria se esquecido da visão que teve em Jope e da conversão da casa de Cornélio?

Certamente não. Em Gálatas 2 não há indicação de que Pedro tenha mudado de opinião. O problema é que Pedro teve medo dos cristãos judeus. “[...] quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da cir-cuncisão (BÍBLIA, Gálatas 2,12). Pedro continuava crendo no evangelho, mas falhou na sua prática. Sua conduta não se ajustou com o evangelho, faltou cora-gem para aplicar suas convicções.

A capacidade de um plantador de igrejas definir estratégias culturalmente adequadas depende, basicamente, de três aspectos: conhecimento teológico, dis-cernimento e intrepidez.

Lidório (2011), nos indica que a dificuldade em lidar com estratégias de plantio de igrejas é que existe uma abordagem apropriada para cada diferente contexto, sendo necessário que sejam aplicados os princípios de contextualiza-ção. A simples reprodução de modelos de igrejas que conhecemos pode se tornar num fracasso, pois promoverá apenas o modelo e a aparência externa, mas não conterá o princípio de vida que faz nascer uma igreja.

No coração das secas savanas africanas do Norte de Gana, missionários coreanos iniciaram um processo de plantio de igrejas a partir do levan-tamento de uma grande estrutura física que possibilitasse o ajuntamen-to. Assim o templo, bem construído, poderia abrigar um bom número de pessoas da tribo Frafra. Suas salas de oração eram bem divididas e a construção poderia ser vista de longe como um marco daquele traba-lho. Porém este templo não foi utilizado como planejado por diversos fatores. Primeiramente, o povo Frafra não possui o costume de ajun-tar-se frequentemente, preferindo pequenas reuniões com poucas pes-soas. Também jamais se reuniu em lugares fechados, o que lhes causou pavor. O próprio piso do templo e lindas cores nas paredes também refletiam o óbvio: era um lugar para os brancos. Esta experiência nos mostra algo simples que precisamos compreender: a reprodução do modelo da igreja-mãe, ou igreja enviadora, não irá, necessariamente,

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colaborar para uma boa comunicação dos valores do evangelho. Preci-samos distinguir o essencial do evangelho com sua roupagem cultural cristã moderna ocidentalizada (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

O exemplo nos remete a uma profunda reflexão sobre as estratégias que devem ser utilizadas para o plantio de igrejas quando um plantador é inserido numa nova cultura. O Senhor Jesus nos ensinou que devemos ser “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (BÍBLIA, Mateus 10,16b). Temos que ter a simplicidade das pombas para conviver com uma nova cultura de forma objetiva e a prudência das serpentes para discernir o que é mais apropriado a ser aplicado em cada localidade.

Existem alguns elementos que são fundamentais como tarefa missionária da vida da igreja, atividades como evangelização, pregação, discipulado, batismo e ensino não podem ser negligenciadas. Hesselgrave (1995) cita como o encaixe desses elementos pode ser melhor observado no ministério do apóstolo Paulo e seus colaboradores, à medida que estabelecem igrejas em todas as partes do Império Romano.

Lidório (2011) descreve, com muita destreza, algumas ações estratégicas do apóstolo Paulo que o consagram como exemplo de um plantador de igre-jas por excelência:

[...] em Antioquia da Pisídia ele iniciou o evangelismo a partir da Si-nagoga, pregando aos judeus. Esses ficaram tão impressionados que convidaram os missionários a voltarem na outra semana (At. 13:13-48). Em Icônio a mensagem comunicada na Sinagoga não convenceu a maioria. Paulo e Barnabé foram então usados por Deus manifestando Sua graça por meio de milagres e maravilhas (At. 14:1-4). Em Listra não há referência de Paulo pregando na Sinagoga. Usado por Deus para a cura de um homem, Paulo fez, deste momento, uma ponte para pre-gar o evangelho a toda uma multidão (At. 14: 8-18). Em Tessalônica Paulo pregava na Sinagoga durante os sábados e na praça durante a se-mana. Historicamente, ele se postava na “petros”, um suporte de pedra à saída do mercado, para ali anunciar diariamente a palavra do Senhor pelos que por ali passavam (At. 17: 1-14). Portanto, encontramos no ministério de um só homem, em uma mesma geração, diferentes abor-dagens e estratégias. Paulo fala a multidões, mas também visita de casa em casa. Ele prega aos judeus na sinagoga, mas também o faz fora da sinagoga. Utiliza praças e mercados, jamais deixando de proclamar às multidões, mas se devota a indivíduos para discipulá-los e treiná-los

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para a liderança local. Devemos, portanto, primeiramente compreen-der que não há estratégias fixas para a proclamação do evangelho. Há, apenas, princípios fixos (LIDÓRIO, 2011, p. 7-8).

A ação missionária desenvolvida nas páginas do Novo Testamento pelo após-tolo Paulo é vasta e abrangente, visitando casas, pregando para grupos grandes e pequenos, nas praças, em mercados e na sinagoga, sendo, grandemente, usado por Deus em sinais e prodígios que atraiam pessoas para ouvir a proclamação do evangelho. Lidório (2011, p. 8) afirma que “não há estratégias fixas para a pro-clamação do evangelho. Há, apenas, princípios fixos”.

Paulo, em sua ação missionária, tinha facilidade para utilizar diferentes estratégias em cada localidade. Entretanto, surge uma dúvida: teria Paulo uma estratégia definida para cada lugar ou sua ação era unicamente dirigida pelo Espírito Santo?

Na busca de uma resposta, vamos observar, por um instante, o quadro da mulher samaritana, relatado no capítulo quatro do livro de João. Sabemos que esse episódio envolve um momento de conflito cultural entre dois povos, os judeus e os samaritanos, mas está presente o Senhor Jesus, aquele que derrubou o muro da separação entre judeus e gentios, constituindo um só povo para si, conforme Efésios 2,11-14. Sabemos que Jesus é o mestre absoluto do evangelho contextualizado, suas palavras penetram o coração da mulher samaritana pro-duzindo salvação e uma nova fonte de vida.

No mesmo momento, ela deixa seu cântaro e vai anunciar a toda a cidade que encontrou um profeta, que talvez seja o Cristo. Não existem métodos pré-for-matados de comunicação da mensagem, não existe ampla carga de treinamento evangelístico, não existem estratégias alternativas de pregação. A samaritana tão somente deixa seu cântaro, sua monotonia de vida, seu passado, suas dúvidas e sai como testemunha de seu encontro com Cristo. E muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus. Vemos na conversão da mulher samaritana a suprema grandeza do poder de Deus, operando nova vida naquele que recebe a mensa-gem e a aceita. Vemos a simplicidade do quadro e a manifestação do poder de Deus sob a ação do Espírito Santo por meio dessa mulher.

Porém, não chegamos ainda a uma resposta conclusiva quanto às ações desen-volvidas pelo apóstolo Paulo; se havia estratégias definidas e intencionais, ou se

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sua ação era resultado da absoluta expressão do Espírito Santo. Entretanto, já podemos afirmar que o Espírito Santo age em cristãos sinceros que são alcança-dos pelo poder das boas notícias, como vemos no exemplo da mulher samaritana.

Hesselgrave (1995), cita as palavras de J. Herbert Kane, nos auxiliando em nossa reflexão:

[...] podemos começar perguntando: Paulo tinha uma estratégia mis-sionária? Alguns dizem que sim; outros dizem que não. Muita coisa depende da definição de estratégia. Se “estratégia” quiser dizer um plano de ação deliberado, bem-formulado, e devidamente executado, baseado na observação e na experiência humana, então Paulo tinha pouca ou nenhuma estratégia; mas se entendermos que a palavra sig-nifica um modus operandi flexível, desenvolvido sob a orientação do Espírito Santo e sujeito à Sua orientação e controle, então Paulo real-mente tinha uma estratégia. Nosso problema hoje é que vivemos numa era antropocêntrica. Imaginamos que nada pode ser realizado na obra do Senhor sem boa dose de maquinária eclesiástica - comissões, con-ferências, laboratórios, seminários; ao passo que os cristãos primitivos dependiam menos da sabedoria e perícia humanas, e mais da iniciativa e orientação divinas. É óbvio que não foram mal-sucedidos. O que o movimento missionário moderno precisa acima de qualquer outra coi-sa é voltar para os métodos missionários da igreja primitiva (KANE, 1947 apud HESSELGRAVE, 1995, p. 36).

Tomamos para nós, então, as conclusões de Hesselgrave (1995), de que Paulo tinha poucas referências para basear suas estratégias e agia na total dependência do Espírito Santo, mas, hoje, com dois mil anos de história da missão, necessita-mos ter um plano de ação bem formulado, devidamente alicerçado na direção do Espírito Santo e na dependência do poder de Deus. Seria insensatez despre-zarmos os registros da ação missionária dos cristãos primitivos, bem como a experiência de mais de dois mil anos de missão. Seria insensatez se o próprio apóstolo tivesse desconsiderado os processos de influência da cultura grega ou do judaísmo nos seus próprios dias. Hesselgrave conclui:

[...] apesar disto, a advertência de Kane não deve ser desconsiderada. Se dependermos da estratégia global e do método na sua implementa-ção ao invés da sabedoria e do poder do Espírito Santo, não podemos alegar que somos leais ao precedente neotestamentário, nem nosso testemunho será tão eficaz quanto foi o daqueles crentes do século I (HESSELGRAVE, 1995, p. 37).

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Tendo como relevante a tese de que necessitamos de estratégias sadias, bíblicas, executáveis e bem elaboradas para expansão e avanço do evangelho, nos voltamos ao pensamento de Lidório (2011) que aborda a importância da aplicabilidade das estratégias, sempre levando em consideração cada contexto onde serão aplicadas.

Observamos no ministério Paulino de plantio de igrejas a percepção de que o homem é o alvo do evangelho. As abordagens, ou estratégias, devem variar de acordo com a forma deste homem se agrupar e pensar, porém o alvo deve ser mantido de forma clara e constante. Assim, seja pregando a três pessoas em uma praça pouco movimentada ou a milhares em uma grande conferência evangelística, ou ainda proclamando o evangelho a uma família no aconchego de sua casa, sala de aula ou trabalho, o alvo é relacionar-se com o homem e gerar ali um ambiente em que o evangelho possa ser a ele comunicado e compreendido (LIDÓRIO, 2011, p. 8).

No modelo Paulino de plantio de igrejas, há um ensino declarado nas Epístolas que seguem uma sequência lógica, apresentada por Hesselgrave (1995), tal como: ir para onde as pessoas estão, pregar o evangelho, ganhar convertidos, reuni-los nas igrejas, instruí-los na fé, escolher líderes e recomendar os crentes à graça de Deus. Lidório (2011), em seus estudos, traduz essas principais estratégias da seguinte forma:

• Introduzir-se na sociedade local a partir de uma pessoa receptiva ou um grupo aberto a recebê-lo e ouvi-lo.

• Identificar ali o melhor ambiente para a pregação do evangelho, seja público como uma praça ou privado como um lar.

• Evangelizar de forma abundante e intencional, a partir da Criação ou da Promessa, e sempre desembocando em Cristo, sua cruz e ressurreição.

• Expor a Palavra, sobretudo a Palavra. Expor de tal forma que seja ela inteligível e aplicável para quem ouve.

• Testemunhar do que Cristo fez em sua vida.

• Incorporar rapidamente os novos convertidos à igreja, à comu-nhão dos santos, seja em uma casa ou um agrupamento maior.

• Identificar líderes em potencial e investir neles seja face a face ou por cartas.

• Não se distanciar demais das igrejas plantadas, visitando-as e se comunicando com as mesmas, investindo no ensino da Palavra.

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• Orar pelos irmãos, pelas igrejas plantadas e pelos gentios ainda sem Cristo, levando-as também a orar.

• Administrar as críticas e competitividade, sem permitir que tais atos lhe retirem do foco evangelístico.

• Utilizar a força leiga e local para o enraizamento e serviço da igreja.

• Investir no ardor missionário e responsabilidade evangelística das igrejas plantadas (LIDÓRIO, 2011, p. 8-9).

Lidório, em sua prática ministerial, nos apresenta sua rica experiência entre os Konkombas em Gana, na qual, ao plantarem as primeiras igrejas, foram utiliza-das as mais diversificadas estratégias:

[...] as mulheres, muito ocupadas, tinham um tempo mais livre apenas a caminho do rio para buscar água. Os velhos sentavam-se embaixo das grandes árvores ao final da tarde. Os jovens e homens casados estavam livres apenas durante a noite. As crianças corriam soltas o dia inteiro. Ali os evangelizamos: a caminho do rio, embaixo das árvores, mais tar-de, nas palhoças e brincando com as crianças. Durante anos fizemos isso sistematicamente. Usamos histórias e ilustrações bíblicas. Encena-mos alguns atos do evangelho. Expusemos com detalhes o plano de salvação. Usamos símbolos da natureza para explicar a criação, seus provérbios para falar sobre o pecado, suas músicas que comprovavam o desespero no qual viviam. O centro era o evangelho, repetido várias vezes. A mensagem era Cristo, sua vida e cruz. Nem todas estratégias funcionaram bem, ou de forma constante. Mas, muitas foram essen-ciais e percebo que a abundância na evangelização em múltiplas estra-tégias de comunicação facilita o processo inicial de plantio de igrejas. É o princípio do lançar da semente, sem saber qual germinará (LIDÓ-RIO, 2011, p. 9-10).

Lidório (2011, p. 10) ainda nos exorta para o entendimento de que a Palavra de Deus foi um elemento centralizado no nascimento e crescimento da Igreja em Atos. Em Atos 6,7, 12-24 e 19,20 a “Palavra é o agente condutor do crescimento da Igreja. Em Atos 20,32 Paulo recomenda os líderes em Éfeso à Palavra de Deus”. Isto é, o apóstolo Paulo vê na Palavra de Deus a essência e o poder para a trans-formação do homem, utilizando-as de forma abundante e fiel.

Uma das visíveis limitações nas atuais estratégias evangelísticas é o de-suso da Palavra de Deus. Histórias, encenações, músicas e apelos são feitos, não raramente, de forma comunicativa, descontraída e interes-

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sante, mas sem o conteúdo da Palavra. As estratégias evangelísticas não devem estar jamais dissociadas da Palavra. Ao contrário, devem ser instrumentos para que a mesma seja colocada diante de todo homem. Devemos compreender que é a Palavra de Deus e não a capacidade humana que produz frutos. Toda eloqüência ou criatividade que pos-samos ter jamais será capaz de transformar vidas. No desenvolvimento das estratégias evangelísticas paulinas creio que o apóstolo partia da seguinte pergunta: de que forma, com que expressões, com qual abor-dagem, comunicarei a Palavra de Deus, clara e viva, a este grupo? Estra-tégias possuem valor se elaboradas para comunicar o poder de Deus, a Sua Palavra (LIDÓRIO, 2011, p. 10).

Em seguida, trataremos estratégias essenciais para o plantio de igrejas. Entretanto, ressaltamos que toda estratégia deve ser dependente da graça que Deus deposita em Seus servos. Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1 nos consola ao demonstrar sua dependência da graça de Deus, que produz muitos resultados. Precisamos entender que o caráter do mensageiro não define a comunicação da mensagem, mas facilita a sua compreensão.

Ainda nos deteremos em Lidório, que nos compartilha sua experiência, após três anos de trabalho missionário entre a etnia Konkombas, no interior da África, quando a Igreja crescia velozmente e o Evangelho atingia lugares lon-gínquos. Ele perguntou aos líderes locais sobre a razão principal que colaborava para a boa comunicação estabelecida, indicando três opções:

Habilidade de falar no dialetolocal e ser entendido com facilidade

Entendimento da cultura, costumes e forma de vida Konkomba

Envolvimento pessoal com a sociedadetribal, sendo aceito e aceitando-a

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Nosso plantador de igrejas entre os Konkombas se surpreende com a resposta:[...] eles então responderam: o ponto mais importante para nosso povo parar para ouvi-lo é porque você sempre sorri quando nos vê, parando para nos cumprimentar e sempre alegre em nos escutar. Naquele dia eu escrevi em meu diário: caráter é mais importante que habilidade (LIDÓRIO, INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1.

Confirmamos o entendimento de que nossa permanência em Cristo é o princi-pal elemento para alcançar os perdidos e revolucionar um povo, uma cultura, ou uma nação. De nada valem métodos bem aplicados se não forem acompa-nhados pelo testemunho de vida e pela ação do Espírito Santo.

A visão missionária de Paulo trouxe muitos resultados favoráveis para ex-pansão da igreja em seus dias. Você já pensou como encontrar maneiras de proclamar o Evangelho de Jesus Cristo, distinguir seu chamado, concluir sua tarefa e lutar por transformações radicais em nossa geração?

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ESTRATÉGIAS ESSENCIAIS PARA O PLANTIO DE IGREJAS

A) Comunicação do Evangelho: modelos e estratégiasCertamente existem, no mundo atual, diversos modelos e contextos em que

os movimentos de plantio de igrejas têm se desenvolvido. Veremos, a seguir, um levantamento apresentado por Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1

baseado nos escritos de David Garrison (1999), nas pesquisas da World Mission e o banco de dados da WEC International, além de contribuições pessoais de missiólogos como Patrick Johnstone, David Barrett, Bruce Carlton J. Johnson e David Watson. Trata-se de alguns movimentos de plantio de igrejas onde a pre-sença de valores bíblicos aplicados têm trazido resultados surpreendentes.

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Quadro 1 - Movimento de plantio de igrejas no mundo atual

Movimento de plantio de igrejas entre os Khmer no Camboja no qual 3.3 milhões de pessoas foram mortas no regime autoritário de Pol Pot’s entre 1975-1979. Vários cristãos também foram mortos e em 1985 não havia mais do que 450 evangélicos entre o povo Khmer. A partir de 1999 o número de evangélicos cres-ceu de 600 para mais de 60.000 divididos em 700 igrejas. Hoje registram-se mais de 100.000 evangélicos e mais de 800 templos registrados.

Movimento de plantio de igrejas na cidade de Kanah, na China, em que um rápido crescimento evangélico mudou o cenário de 3 igrejas reconhecidas pelo Estado para 57 novas igrejas em dois anos. Em novembro de 1997, contabilizou--se mais de 450 igrejas em três províncias e mais de 18.000 pessoas entregaram--se ao Senhor Jesus. Atualmente Kanah é uma das mais influentes regiões cristãs na China com mais de 500 igrejas reconhecidas.

Movimento de plantio de igrejas entre os Kekchi na Guatemala onde este grupo com cerca de 400.000 pessoas vivendo na região de Alta Verapaz foi impactada pelo evangelho. Entre 1993 e 1997, mais de 20.000 pessoas aceitaram ao Senhor Jesus e 245 congregações nasceram. Entre 1997 e 2000 outras 10.000 pessoas aceitaram ao Senhor Jesus e há entre eles hoje mais de 500 igrejas registradas.

Movimento de plantio de igrejas entre os Kui, na Índia, um grupo com 1.7 milhões de habitantes na região de Orissa, estado na costa leste da Índia. Os pri-meiros convertidos vieram para Cristo em 1914 com missionários ingleses. Nos anos 20 algumas poucas igrejas nasceram. A partir de 1988 mais de 100 igrejas nasceram, especialmente ligadas a missionários da Southern Baptist Mission. En-tre 1988 e 1991 as igrejas aumentaram para mais de 200. Entretanto entre 1993 e 1997 houve um crescimento ainda maior e mais de 900 igrejas foram registradas entre os Kui com cerca de 80.000 convertidos.

Movimento de plantio de igrejas entre os Giriama no Kenya onde, em 1970, 90% eram animistas. O movimento missionário teve início em 1974 e em 1981 um rá-pido e impactante crescimento de igreja tomou conta dos Giriama. Em três anos foram registradas o plantio de 180 igrejas após 5 anos de preparação e treina-mento de obreiros leigos. A cada ano, desde 1993, registram-se o nascimento de, em média, 28 novas igrejas entre os Giriama e províncias ao redor.

Movimento de plantio de igrejas no campo de refugiados na Europa, divisa com a Bulgária. Em 1995 um casal missionário começou ali um trabalho através do filme Jesus. Era um campo de refugiados onde pessoas do oeste europeu mistu-ravam-se com pessoas da China, Sudão, Congo, Camarões e Angola. Em 1998 o casal missionário já contabilizava cerca de 15 pequenas igrejas de reuniões e até 1999 outras 30 novas igrejas nasceram. Hoje são mais de 60 pequenas igrejas, todas autóctones.

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Movimento de plantio de igrejas entre os Mizo na Índia com uma população de 686.000 pessoas. O evangelho chegou entre eles em 1894 através de missioná-rios britânicos. Em 1900 contavam com 120 cristãos. Resultado do avivamento no país de Gales em 1904, um número expressivo de missionários foi enviado para os Mizo na Índia. Somente a partir dos anos 50, entretanto, os resultados passaram a ser mais visíveis e conversões em massa eram notificadas. Hoje 85% de todos os Mizo na Índia consideram-se cristãos.

Movimento de plantio de igrejas na Etiópia, África, país com mais de 60 milhões de habitantes. Até 1994 não havia mais do que 1% de evangélicos no país. Entre 1994 e 1999 Great Harvest os Souls Mission registrou a conversão de cerca de 10 milhões de pessoas em todo o país. Hoje, 16% da população considera-se cristã. Great Harvest mencionou o estudo de caso de uma congregação a qual, entre 1995 e 1997 cresceu de 2.500 para 25.000 pessoas.

Fonte: adaptado de Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1.

Analisando mais de 90% dos processos de plantio de igrejas mais amplos e fru-tíferos, pode-se notar que havia uma visão intencional de desenvolver um forte e impactante movimento de evangelização, seja entre um povo, cidade ou país. Nenhum campo missionário, ou ministério pode ser maior que a sua visão.

Perante uma quantidade expressiva de estratégias missionárias de plantio de igrejas, apresento aquelas que Lidório considera mais utilizadas pelos movi-mentos no mundo atual, tornando-se verdadeiros valores para as organizações missionárias:

• Mapeamento etno-cultural e geograficamente definido. Saber qual a extensão do desafio.

• Análise cultural e fenomenológica. Entender as vias para a com-preensão do evangelho.

• Comunicação inteligível e comunitária do evangelho.

• Adoração e vida diária da igreja na própria língua materna e cul-tura alvo.

• Rápida incorporação dos novos convertidos à vida da igreja.

• Consciência de urgência evangelística já transmitida no processo de discipulado.

• Identificação de líderes locais o mais cedo possível.

• Treinamento para líderes durante o processo de liderança.

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• Descentralização da autoridade eclesiástica.

• Ênfase na reprodução.

• Supervisão contínua quanto ao amadurecimento espiritual.

• Modelo missionário: Inicie, discipule, reproduza, assista, encoraje e parta (LIDÓRIO, on-line)2

.

Essas estratégias podem ser aplicadas nos mais diversos contextos encontrados: urbano, rural ou tribal. São ações relevantes que podem nortear e consolidar o trabalho de plantio de igrejas.

Os conceitos de Missão, Visão e Valores podem ser utilizados adequadamen-te para a plantação de igrejas, desde que a igreja seja considerada um orga-nismo vivo. Assim, a missão é a razão da existência da organização, sendo o seu DNA e definindo a sua identidade. A visão é uma construção do futuro criada de uma forma pré-determinada, podendo ser modificada ao longo do tempo. Possuindo uma missão e visão bem estruturadas, se originam re-gras que definirão os valores da organização, dos quais não podemos abrir mão.

Fonte: adaptado de Gilles de Paula (TREASY, 2015, on-line)3.

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B) Modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas segundo David J. Hesselgrave

Ott e Wilson (2013), dizem que as plantações de igreja crescem por meio de fases de desenvolvimento relativamente previsíveis. Essas fases refletem um pro-cesso fluído, em vez de passos claramente definidos. Ainda assim, compreender as fases de desenvolvimento e suas características é importante para identificar as necessidades individuais, os desafios e as oportunidades que uma planta-ção de igreja enfrenta. Ignorar as necessidades em constante mudança de uma plantação de igreja, à medida que ela se desenvolve, pode levar a dificuldades desnecessárias e à estagnação.

Para abrir uma nova congregação é preciso ter em mente um modelo efetivo de programa de trabalho. É preciso, também, que haja o mapeamento das fases do projeto, com suas atividades descritas. Tal planejamento serve de norteador para que o trabalho do plantio da igreja aconteça com segurança.

Existem muitos modelos de plantio de igreja. Um dos autores mais respeita-dos nesse assunto é David. J. Hesselgrave, professor e autor de muitos livros na área de missões. Hesselgrave (PhD) foi também o diretor da Escola de Missões Mundiais e Evangelização da Trinity Evangelical Divinity School. Antes, por um longo tempo, David tinha sido missionário no Japão, organizando muitas igrejas.

De acordo com o Ciclo Paulino de Hesselgrave (1995), dez fases de desen-volvimento devem ser observadas, que são:

■ Missionários comissionados: devem ser selecionados com oração, enco-rajados e treinados. É preciso ainda verificar se haverá condições para que eles recebam seus suprimentos para sustento e provisão necessários. Esta é a primeira fase do ciclo paulino.

■ Auditório contatado: serão representantes relevantes da comunidade abordados por cortesia, pessoas que poderão ser contatadas pelos veí-culos já existentes de assistência à sociedade, interessados no evangelho, descobertos por contatos missionários e o grande público atingido pelas ações midiáticas da campanha evangelística que será realizada.

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■ Evangelho comunicado: para isso, é preciso contextualizar a mensagem, continuar firme no método adotado, saber selecionar os veículos de comu-nicação e implantar um sistema de medição.

■ Ouvintes convertidos: a esta altura, os ouvintes estarão prontos para agora serem conduzidos ao processo de conversão. E para que se consiga ouvintes convertidos é preciso ajudá-los a passarem por quatro passos sequenciais: a) da instrução; b) da motivação; c) da decisão e d) da confissão.

■ Crentes congregados: um novo cristão sofre um certo tipo de transfor-mação em sua cultura, ele precisa ser levado a sentir-se integrante de sua nova comunidade. Nisso, não somente as funções do grupo receptor são importantes, mas há também um ideal de tamanho para esse grupo. E uma análise deverá ser feita junto com a escolha e os cuidados para com o local e os horários das reuniões desses cristãos.

■ Fé confirmada: a conversão não deve ser concebida simplesmente em termos de um exercício mental, explica Hesselgrave (1995). Por isto, a fé deve ser confirmada por meio da instrução para (e na) adoração, quanto aos cultos, o testemunho e a sábia administração da vida. A instrução na Palavra, a adoração a Deus, o serviço prestado a Cristo, o testemunho ao mundo, a mordomia dos bens – estes são os elementos da confirmação da fé do novo e de qualquer crente.

■ Liderança consagrada: mas como uma nova igreja irá se desenvolver sem ter uma liderança? Pensar, orar, trabalhar e planejar tendo em vista a edifi-cação de uma liderança espiritual para a igreja que está sendo organizada deve ser da máxima prioridade. Quando emergir a liderança espiritual, a organização se tornará prática e essencial. Cabe salientar que nenhuma organização pode ser mais forte do que a sua liderança. Nesta sétima fase, já vislumbram-se os horizontes da repetição do ciclo.

■ Crentes recomendados: Hesselgrave instrui que, após a nova liderança ser delegada, uma retirada amigável do pioneiro da congregação estabele-cida na melhor ocasião possível deve acontecer, para que, tão logo quanto possível, haja uma transição ordeira da liderança pastoral na congrega-ção. Trata-se de uma continuação de ministérios eficazes que tenham sido empreendidos pelo obreiro pioneiro.

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■ Relacionamentos continuados: embora esta igreja que acaba de nascer deva continuar os seus relacionamentos com a igreja que a concebeu, ela não deve olhar, somente, no retrovisor. Os relacionamentos devem rece-ber continuidade, tanto no cultivo e crescimento da fraternidade mútua entre os crentes desta nova igreja, quanto na busca por relacionar-se com novas pessoas a serem alcançadas.

■ Igrejas missionárias convocadas: de igreja plantada, a nova igreja passa ao status das igrejas missionárias convocadas. Aqui está sendo descrita a igreja em sua última fase de maturidade. É quando os novos crentes, entendendo a missão, dispõem-se a seguir participando na missão. E agora passarão a ser os missionários comissionados, repetindo o ciclo paulino a partir de sua primeira fase.

O modelo de Hesselgrave (1995), tem a força de um exemplo bíblico e é conhe-cido como “Ciclo Paulino”. Nas últimas décadas, tem sido o modelo mais relevante para plantação transcultural de igrejas. No entanto, dá menos atenção ao desen-volvimento da igreja e sua multiplicação.

C) Modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas segundo Craig Ott e Gene Wilson

Outro modelo de desenvolvimento de igrejas muito relevante é baseado nos estu-dos de Ott e Wilson (2013) que visam a reprodução e a multiplicação da igreja no contexto da plantação transcultural de igrejas. Ott e Wilson (2013) enfati-zam que é preciso dar atenção ao planejamento e às questões estruturais. Vários formatos de igrejas podem ser beneficiados com essa proposta de desenvolvi-mento, como igrejas nos lares, congregação reunida voluntariamente ou igrejas de celebração em células.

O modelo visa também uma reprodução dirigida por leigos, que é menos dependente de pastores ou plantadores com formação acadêmica. Nesse modelo, é necessário considerarmos os três tipos de plantadores de igreja que Ott e Wilson (2013) apresentam:

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Plantador de igrejas pastoral

O objetivo é simplesmente começar uma nova igreja e pastoreá-la até que ela seja capaz de sustentar um pastor local para que o plantador de igrejas possa partir. Muitas vezes o próprio plantador de igrejas permanece como o pastor. Não há uma visão de multiplicação da igreja, ou quando há é muito lenta.

Plantador de igrejas apostólico

Radicalmente diferente dos plantadores catalíticos e pastorais. Esse planta-dor procura seguir o modelo do apóstolo Paulo que, até onde se sabe, nunca se tornou o pastor de uma igreja que tenha plantado. Em vez disso, depois do evangelismo inicial, ele se concentrava em capacitar os cristãos locais, principalmente leigos, para dar continuidade e expandir o trabalho depois de sua partida. Seu ministério era mais itinerante, inserindo a visão da multiplicação em cada igreja plantada.

Plantador de igrejas catalítico

O plantador permanece como obreiro na igreja plantada para se tornar um catalisador ou facilitador de expansão do trabalho na região. A igreja se torna uma base para várias plantações de igrejas.

Figura 1: Fonte: adaptado de Ott e Wilson (2013).

O modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas proposto por Ott e Wilson (2013) visa a reprodução e a multiplicação por meio da atuação de um plan-tador de igrejas apostólico. Prevê cinco fases diferentes de desenvolvimento, que são: preparação, lançamento, estabelecimento, estruturação e reprodução. Apresentaremos cada uma delas com base no modelo estabelecido pelos autores.

C.1. Fase de Preparação

A fase de preparação é um momento de intenso planejamento, na qual come-çam a ser desenvolvidas ações de levantamento de dados e tomada de decisões. Ott e Wilson (2013) definem que a preparação para a plantação de uma igreja inclui duas subfases:

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1. escolha do alvo e recrutamento;

2. compreensão e estratégia.

A preparação é um tempo de grande antecipação. As bases foram lan-çadas para que, quando a nova igreja for, de fato, fundada, seja constru-ída por uma equipe de artesãos que possuem tanto as habilidades ne-cessárias quanto um profundo conhecimento da tarefa. Ou para mudar a metáfora, os jogadores são recrutados, treinados e aperfeiçoados em equipe. Então um plano de jogo é desenhado para que, no dia do jogo, o time entre em campo para ganhar. Os sistemas de apoio necessários são também organizados (OTT; WILSON, 2013 p. 167).

Durante a primeira subfase, escolha do alvo e recrutamento, o plantador deter-mina o local e o povo-foco do ministério da plantação de igreja. Uma equipe é formada e comissionada por uma igreja local ou agência enviadora. Oração, fundos e outros recursos necessários são providenciados. Essencialmente, isso envolve a definição do alvo, a reunião dos participantes e a garantia dos siste-mas de apoio.

O objetivo principal dos plantadores de igrejas, nesse momento, é serem for-madores de equipe, o que inclui não somente relacionamentos entre os membros da equipe de plantadores, mas também a formação de alianças estratégicas com outros parceiros, como as igrejas enviadoras, as comunidades nacionais de cris-tãos e outros grupos externos.

A segunda subfase, compreensão e estratégias, envolve um planejamento cuidadoso em oração. O povo-foco do local é escolhido e uma rede inicial deve começar. Normalmente, a equipe visita o local em vista ou vive entre o povo-foco durante esse tempo para obter informações precisas de uma ampla variedade de fontes, assim, as estratégias apropriadas de evangelismo e discipulado são formu-ladas. Vários papéis para os membros da equipe são determinados e formação especializada ou preparação pode ser obtida se necessário. Isso traz a equipe ao ponto de realmente dar início ao projeto de plantação.

Durante a segunda subfase da preparação, o papel principal dos plantadores é de aprendiz. Os plantadores de igrejas experientes podem cair na tentação de avançar precipitadamente. Porém, as abordagens contextualmente apropriadas devem ser reconsideradas com cada nova plantação de igreja e com cada povo--foco. Dentro do mesmo país ou região, as diferenças locais também podem ser

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significativas. Acima de tudo, um amor profundo e apreciação pelo povo-foco devem crescer conforme os plantadores aprendem mais sobre ele, abraçando-o em oração.

Quadro 2 - Fase 1 - Preparação de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE PREPARAÇÃO

- Estabelecendo o alvo e comissio-nando -

- Entendendo e delineando a estra-tégia -

Determinar local e povo-foco a ser alcançado.Definir a visão e modelo de plantação de igreja.Selecionar líder e recrutar equipe.Garantir apoio financeiro e de oração.Comissionar a equipe.

Aprender a língua e a cultura (se necessário).Pesquisa do contexto demográfico, social, religioso e cultural.Determinar estratégia de evangelismo e de plantação de igreja.Construir relacionamentos e consultar parceiros.Fortalecer a equipe, esclarecer papéis, obter treinamento.Esboçar uma proposta de plantação de igreja.

Formador de equipe (papel do plan-tador)

Aprendiz (papel do plantador)

Definir a visão geral.Desenvolver um sistema de apoio espi-ritual e financeiro.Recrutar e formar uma equipe de plan-tação de igreja baseada em chamado, dons e afinidade.Fazer da oração uma prioridade.

Obter inspiração para um ministério eficaz e culturalmente apropriado.Aprender a língua local.Desenvolver amor e habilidade para trabalhar com o povo-foco.Estagiar, se possível, sob a orientação de um obreiro nacional.

Fonte: Ott e Wilson (2013, p.166).

C.2. Fase de Lançamento

O lançamento é a fase onde se iniciará a implantação do projeto elaborado. É um momento muito esperado e emocionante para a equipe.

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Essa fase consiste principalmente em ministérios pioneiros de evan-gelismo e discipulado. Relacionamentos são desenvolvidos com o po-vo-foco e programas evangelísticos são iniciados. A esperança é que os novos cristãos estejam em breve prontos para o batismo. Então eles são discipulados em pequenos grupos, geralmente encontrando-se nos lares (OTT; WILSON, 2013, p. 167-168).

Mesmo nesse estágio inicial, é essencial que os novos cristãos sejam treinados para ministrar nas formas mais básicas e mobilizados para compartilhar sua fé e discipular a outros. Por essa razão, é importante que, desde o início, os plan-tadores usem métodos que possam ser facilmente imitados e reproduzidos pelo povo local. O plantador compartilha a liderança com o povo local, incluindo tarefas básicas, como organização e preparação do local para reuniões ou atua-ção em ministérios que nascem na nova igreja.

Durante essa fase inicial, os ministérios de misericórdia e serviço po-dem se desenvolver para demonstrar o amor de Cristo, estabelecer re-lacionamentos e servirem de sinal do Reino de Deus. No entanto, os plantadores devem dividir cuidadosamente suas energias e capacidades para não começar a correr em muitas direções ao mesmo tempo, pro-vocando um esgotamento ou iniciando ministérios que não podem ser sustentados por um longo período de tempo (OTT; WILSON, 2013, p. 168).

Ott e Wilson (2013) observam que em situações pioneiras em que há poucos cristãos locais, ou mesmo nenhum, na equipe de plantadores, os plantadores apostólicos funcionam como “motores”. Por não haver cristãos locais para treinar e mobilizar, praticamente tudo nessa fase de lançamento é feito pelos missioná-rios ou equipe itinerante.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Quadro 3 - Fase 2 - Lançamento de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE LANÇAMENTO

- Evangelizando e discipulando -

• Desenvolver relacionamentos e iniciar evangelismo• Combinar diversos métodos e ministérios de misericórdia• Batizar e ensinar obediência• Discipular novos cristãos e treiná-los a fazer o mesmo• Formar uma comunidade fundamental• Assimilar sabiamente o crescimento por transferência• Começar a treinar líderes servos.

Motor e modelo (papel do plantador)

• Iniciar e moldar ministério• Recursos externos podem ser necessários para dar a largada na plantação de

igreja, evitando a dependência de longo prazo• Envolver cristãos locais no ministério básico

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

C.3 Fase de Estabelecimento

Nesse momento, os pequenos grupos já podem se reunir para celebração ou cul-tos públicos, estabelecendo certa periodicidade, até evoluir para cultos semanais. O ministério, no entanto, avança somente quando os líderes locais se apropriam dele e demonstram habilidade para liderança. Embora possa haver um orçamento e um local garantido para reuniões, as instalações e orçamentos não devem ser a preocupação principal da igreja em formação.

Durante a fase de estabelecimento os primeiros frutos de progresso são experimentados quando os cristãos locais são formados dentro de uma congregação de adoradores que vive cada vez mais os propósitos do Reino. Essa fase enfoca a congregação e o amadurecimento da igreja que está nascendo (OTT; WILSON, 2013, p. 168).

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Uma equipe preliminar de liderança local da igreja ou do movimento emergente de igrejas nos lares pode ser formada. Ott e Wilson (2013) indicam que con-forme o ministério for se expandindo e os cristãos locais forem assumindo mais responsabilidades para liderar esses ministérios, a maturidade espiritual deles e a capacitação para o ministério devem se tornar, progressivamente, o foco cen-tral do ministério dos plantadores de igrejas.“Geralmente, no momento em que os cultos públicos começam, a congregação espera que o plantador ou o missio-nário assuma a liderança pastoral. De acordo com o modelo apostólico, deve-se resistir a isso” (OTT; WILSON, 2013, p. 168). Os plantadores devem colocar a ênfase no treinamento dos cristãos locais para essa liderança.

De certa forma, essa é a fase mais crítica por causa dos muitos prece-dentes que serão estabelecidos na vida da igreja. O DNA da igreja é determinado. São formados os padrões para o ministério que guiarão a igreja em seu futuro e serão difíceis de serem mudados mais tarde (OTT; WILSON, 2013, p. 169).

Como mobilizador e mentor, nesta fase, o plantador descobre que sua tarefa mais importante está cada vez mais atrás dos bastidores, capacitando, aconselhando e encorajando outros que terão ministérios mais visíveis e, finalmente, assumirão a total responsabilidade de liderança. A sólida formação dessa liderança deter-minará o futuro da igreja plantada.

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Quadro 4 - Fase 3 - Estabelecimento de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE ESTABELECIMENTO

- Congregando e amadurecendo -

• Desenvolver relacionamentos e iniciar evangelismo• Combinar diversos métodos e ministérios de misericórdia• Batizar e ensinar obediência• Discipular novos cristãos e treiná-los a fazer o mesmo• Formar uma comunidade fundamental• Assimilar sabiamente o crescimento por transferência• Começar a treinar líderes servos

Mobilizador e mentor (papel do plantador)

• Incutir visão e valores bíblicos• Avançar o ministério somente na proporção em que os cristãos locais este-

jam dispostos e preparados• Esperar compromisso• Mudança de ênfase do ministério direto para a capacitação de leigos para o

ministério em todos os níveis• Evitar estabelecer padrões altos demais

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

C.4. Fase de Estruturação

Nessa fase, Ott e Wilson (2013) indicam que várias coisas precisam acontecer: em primeiro lugar, novas pessoas devem ser completamente integradas na vida da igreja, treinadas e mobilizadas para servir.

Em segundo lugar, o ensino sobre mordomia deve ser aplicado a fim de que os ministérios em crescimento sejam providos e a igreja seja autossustentável. “Uma igreja que está em crescimento deve vencer a tentação de continuar a agir como uma pequena igreja familiar, a menos, claro, que escolha se multiplicar em igrejas de tamanho familiar” (OTT; WILSON, 2013, p. 169).

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À medida que a igreja amadurece, a fase de estruturação se torna um tempo de grande satisfação quando o trabalho duro começa a valer a pena. Seja o novo corpo de cristãos um movimento informal de igre-jas nos lares ou uma igreja mais tradicional, uma estrutura deve ser providenciada para sustentar o crescimento, atender às necessidade de expansão e promover o discipulado. A organização da igreja começa com a eleição formal de seus primeiros líderes, a incorporação legal da igreja (quando possível) e a criação de novos ministérios para o aproveitamento de novas oportunidades. Essa fase é caracterizada pela expansão do ministério e a capacitação dos cristãos locais para assu-mir plena responsabilidade e autonomia no ministério e na liderança (OTT; WILSON, 2013, p. 169).

As estruturas de liderança não podem mais funcionar como se fossem do tama-nho de uma família, mas devem ser expandidas, e o fardo do trabalho dividido entre muitos. Se a igreja que está sendo plantada recebe subsídios ou outras for-mas significativas de ajuda, deve buscar uma independência financeira neste ponto, evitando dependência a longo prazo.

A essa altura do desenvolvimento, o plantador apostólico de igrejas se prepara para deixar completamente o trabalho, entrando nos últimos estágios da fase de retirada. Isso é muito difícil, especialmente porque os plantadores estão colhendo o fruto de seu trabalho e parece haver tantas oportunidades de ministério. No entanto, os cristãos locais pre-cisam assumir a responsabilidade principal da liderança e expandir, nessa fase, os ministérios da igreja (OTT; WILSON, 2013. p. 169).

O papel primordial dos membros da equipe nesse momento é o de serem multi-plicadores, capacitando os líderes locais para que eles possam, no futuro, capacitar outros. Não somente os cristãos locais estão assumindo a responsabilidade pelo ministério, mas esses líderes precisam aprender a tornarem-se capacitadores a fim de que uma verdadeira multiplicação de igrejas possa ocorrer.

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Quadro 5 - Fase 4 - Estruturação de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE ESTRUTURAÇÃO

- Expandindo e capacitando -

• Formalmente empossar líderes e confiar-lhes totalmente a liderança• Iniciar novos ministérios e estruturas para atender às necessidades• Multiplicar trabalhadores treinando líderes para treinar outros• Assimilar novos cristãos e visitantes• Avaliar o desenvolvimento e a saúde da igreja• Organizar legalmente a igreja• Obter autonomia financeira total

Multiplicador (papel do plantador)

• Não somente empossar os cristãos locais para assumirem todas as responsa-bilidades principais, mas capacitá-los para tornarem-se capacitadores

• Os missionários trabalham somente nos bastidores• Descontinuar qualquer dependência de recursos externos

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

C.5. Fase de Reprodução

Quando Ott e Wilson (2013) falam em reprodução, não têm em mente somente a multiplicação de igrejas-filhas plantadas localmente, mas que a igreja se torne também um agente de envio de missionário, facilitando a plantação de igrejas entre povos não alcançados.

A alegria de um plantador de igrejas não é muito diferente da alegria de um avô, quando a igreja se reproduz plantando uma nova igreja. Além de equipar os cristãos locais com ferramentas para o exercício do mi-nistério e de visão para a multiplicação, a jovem igreja precisa analisar e avaliar novamente seu desenvolvimento: ela ainda é fiel aos propósitos bíblicos para a igreja ou se acomodou com sua estabilidade? O impacto de ser sal e luz deve estar atingindo outros níveis. Essa fase pode ser caracterizada pela tarefa dupla de fortalecimento e envio (OTT; WIL-SON, 2013, p. 170).

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Os plantadores apostólicos de igrejas devem permanecer por algum tempo, con-tinuando como multiplicadores, mentoreando o movimento enquanto ele se reproduz, ou tornando-se capacitadores e facilitadores regionais. Finalmente, a equipe apostólica deve seguir em frente para continuar seu trabalho pioneiro em novas localidades e entre grupos não alcançados.

Quadro 6 - Fase 5 - Reprodução de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE REPRODUÇÃO

- Fortalecendo e enviando -

• Apoiar iniciativas evangelísticas (agir contextualizadamente)• Preparar a igreja para a reprodução• Determinar local e abordagem da possível igreja-filha ou plantação pioneira• Enviar missionários transculturais• Participar de esforços conjuntos com outras igrejas

Multiplicador (papel do plantador)

• Mentorear a igreja nas plantações de suas primeiras igrejas-filhas• Os cristãos locais são os plantadores de novas igrejas• Seguir para outro local de ministério• Permanecer como mentor e conselheiro

Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

Percebemos que na fase de reprodução o modelo de desenvolvimento de plan-tação de igrejas já está recomeçando. O objetivo da abordagem apostólica, como apresentado no início, é uma igreja que cresce e se reproduz constantemente sem auxílio externo. Ott e Wilson (2013) enfatizam que em cada fase os plantadores apostólicos devem capacitar os cristãos locais a assumirem a responsabilidade pelos ministérios emergentes da igreja.

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Depois das fases de lançamento da plantação da igreja, cada ministério ou programa deve ser liderado ou codirigido desde o princípio por um cristão local, que será treinado e, eventualmente, se responsabilizará por aquele ministério. Dessa forma, a transferência da liderança de um ministério do plantador para um cristão local não será problema. De-pois de um período inicial de treinamento, os plantadores devem ser capazes de se retirar a qualquer momento sem ameaçar a existência do ministério. Além disso, em razão do treinamento estar incluído no princípio de cada novo ministério, um programa de treinamento e mul-tiplicação é moldado e introduzido na nova igreja. Essa é a chave para a multiplicação de longo prazo (OTT; WILSON, 2013, p. 170-171).

Embora o desenvolvimento de plantação de igrejas possa ser considerado um processo em sequência, no qual encontramos diferentes fases previsíveis, não podemos nos prender a certas etapas lineares do tipo passo a passo. O Espírito Santo pode nos surpreender e modificar nosso programa, e devemos estar dese-josos que isso aconteça.

Assim realizou-se na pregação de Pedro em Pentecostes, na qual quase três mil pessoas foram acrescentadas à Igreja primitiva. Assim fez Deus em muitos avivamentos, em que o Espírito Santo agiu para grandes colheitas, entretanto, nem sempre os convertidos foram plantados adequadamente em igrejas. Aqueles que servem ao Senhor devem estar bem preparados para conduzir na prática o assunto desenvolvimento de plantação de igreja.

O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas

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O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO NA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Tudo que vimos até aqui não seria possível sem a maravilhosa presença do Espírito Santo de Deus, cuja presença, no decorrer da história da igreja, tem sido respon-sável pelos grandes avivamentos e grandes movimentos de plantação de igrejas. Lidório (2011), reconhecendo que o conhecimento teológico sem a presença do Espírito Santo não pode fazer nascer uma igreja, relata que:

[...] se olharmos o crescimento da Igreja em um panorama mundial per-ceberemos que o crescimento evangélico foi 1.5 % maior que o Islã na última década. O evangelho já alcançou 22.000 povos nestes últimos 2 milênios. Temos já a Bíblia traduzida hoje em 2.220 idiomas. As gran-des nações que faziam resistência ao evangelho estão sendo fortemente atingidas pela Palavra, como é o caso da Índia e China, que em breve deverá hospedar a maior Igreja nacional (e informal) sobre a terra. Um movimento missionário apoiado pela Dawn Ministry plantou mais de 10.000 igrejas-lares no Norte da Índia na última década, em uma das áreas tradicionalmente mais fechadas para a evangelização. No Brasil menos evangelizado como o sertão nordestino, o norte ribeirinho e in-dígena e o sul católico e espírita, vemos grandes mudanças na última década, com nascimento de novas igrejas, multiplicação de movimentos evangelísticos e crescimento da liderança local (LIDÓRIO, 2011, p. 60).

Lidório (2011) nos leva a refletir sobre a relação entre a expansão do evangelho e a pessoa do Espírito Santo e quais os critérios para uma Igreja cheia do Espírito envolver-se com a expansão do evangelho do Reino. Observamos abaixo suas conclusões:

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■ A essência da pessoa do Espírito e sua função na Igreja

Em Lucas 24, Jesus promete enviar-nos um consolador, que é o Espírito Santo, e que viria sobre a Igreja (em Atos 2) de forma mais permanen-te. Ali, a Igreja seria revestida de poder. O termo grego utilizado para “consolador” é “parakletos” e literalmente significa “estar ao lado”. É um termo composto por duas partículas: a preposição “para” - ao lado de - e “kletos” do verbo “kaleo”, que significa chamar. Portanto vemos aqui a pessoa do Espírito, cumprimento da promessa, habitando a Igreja, cha-mado para estar ao seu lado para o propósito de Deus. Segundo John Knox a essência da função do Espírito Santo é estar ao lado da Igreja de Cristo e fazê-la possuir a face de Cristo e espalhar o nome de Cristo. Nesta percepção, O Espírito Santo trabalha para fazer a Igreja mais pa-recida com seu Senhor e fazer o nome do Senhor da Igreja conhecido na terra (LIDÓRIO, 2011, p. 61).

■ A essência da pessoa do Espírito e Sua função na conversão dos perdidos

Cremos que é o Espírito Santo quem convence o homem do seu peca-do. O homem natural sabe que é pecador porém apenas com a inter-venção do Espírito ele passa a se sentir perdido. Portanto em toda apre-sentação do evangelho, se o Espírito Santo não convencer o homem do pecado e do juízo, nossa exposição da verdade de Cristo não passará de uma apologia humana. [...] Todos já passamos por uma experiên-cia evangelística em que apresentamos Cristo a alguém com o coração endurecido. Quem sabe, observando o Cristianismo de forma crítica e com zombarias. E lhe apresentamos o mesmo evangelho uma, duas, cinco vezes. Na sexta, nada novo é falado. O mesmo evangelho é apre-sentado. Porém neste momento, a Palavra entra em sua mente, desce ao coração e gera quebrantamento, consciência de que está perdido e precisa de Deus. Há ali uma entrega pessoal ao Senhor Jesus. A pessoa do Espírito Santo, Sua natureza e missão, é quem faz a diferença entre um ouvir acomodado do evangelho e sede de Deus, quebrantamento e entrega a Cristo (LIDÓRIO, 2011, p. 61-62).

■ A clara ligação entre os avivamentos históricos e os movimentos missionários

Lidório (2011), nos apresenta dados dos avivamentos ocorridos nos últimos séculos. A presença do Espírito Santo em cada mover de Deus foi o que determi-nou e impulsionou os movimentos missionários. Os momentos de avivamentos tornam a proclamação da Palavra um efeito natural da ação do Espírito Santo.

O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas

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Quadro 7 - Dados de avivamentos ocorridos nos últimos séculos

Como resultado de um avivamento, a partir de 1730 John Wesley durante 50 anos pregou cerca de 3 sermões por dia, a maior parte ao ar livre, tendo percorri-do 175.000 km a cavalo pregando 40.000 sermões ao longo de sua vida.

Como resultado de um avivamento, em 1727 a Igreja moraviana passa a enviar missionários para todo o mundo conhecido da época, chegando a enviar, ao longo de 100 anos, mais de 3.600 missionários.

Como resultado de um avivamento, em 1784, após ler a biografia do missionário David Brainerd, o estudante William Carey foi chamado por Deus para alcançar os Indianos. Após uma vida de trabalho conseguiu traduzir a Palavra de Deus para mais de 20 línguas locais.

Como resultado de um avivamento, em 1806 Adoniran Judson tem uma forte experiência com Deus e se propõe a servir a Cristo, indo depois para a Birmânia, onde é encarcerado e perseguido durante décadas, mas deixa aquele país com 300 igrejas plantadas e mais de 70 pastores.

Como resultado de um avivamento, em 1882 Moody pregou na Universidade de Cambridge e 7 homens se dispuseram ao Senhor para a obra missionária e im-pactaram o mundo da época. Foram chamados “os 7 de Cambridge”, que incluía Charles Studd. Foi para a África, percorreu 17 países e pregou a mais de meio milhão de pessoas. Fundou A Missão de Evangelização Mundial (WEC Internatio-nal) que conta hoje com mais de 3.000 missionários no mundo.

Como resultado de um avivamento, em 1950 no Wheaton College 500 jovens fo-ram chamados para a obra missionária ao redor do mundo a partir da pregação da Palavra. E obedeceram. Dentre eles estavam Jim Elliot que foi morto tentando alcançar a tribo Auca na Amazônia em 1956 e do seu martírio houve um grande avanço missionário em todo o trabalho indígena.

Fonte: Lidório (2011, p. 62-63).

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Podemos retirar daqui algumas conclusões bem claras:

■ A presença do Espírito Santo nos leva a testemunhar publicamente, com palavras e com ações, que somos de Cristo. Desta forma o evangelho vai para as ruas, para as escolas e para os lugares em que estão as pessoas que Deus quer alcançar.

■ A presença do Espírito confirma o plano de Deus em fazer com que as igrejas sejam santificadas, separadas do pecado e desenvolvam uma natu-reza missionária.

■ Uma Igreja revestida do Espírito Santo terá um crescimento explosivo e abundante em função da contínua pregação e do testemunho de vida.

Assim, nosso profundo desejo e oração deve ser para que Deus traga novos avi-vamentos sobre seu povo. Para que a Igreja possa alcançar aqueles que vivem longe de Cristo e possa reencontrar sua verdadeira vocação: ser uma Igreja que reflete a Jesus, que expressa ao mundo o amor de Deus e, por fim, uma Igreja que proclama as boas novas da salvação em todas as nações da terra.

Perante o grande desafio que ainda temos diante de nós ao redor do mun-do, creio que missiólogos nos mostrarão o caminho, mas apenas homens cheios do Espírito Santo alcançarão a terra.

(Ronaldo Lidório)

Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da nossa Unidade V com o testemunho da grande contri-buição do ministério do apóstolo Paulo para o Cristianismo e para o plantio de igrejas. Em Filipenses 2,5-8, Paulo retrata a humilhação de Cristo, esvaziando-se de si mesmo, fazendo-se servo, sendo reconhecido em figura humana e sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Não foi diferente o caminho de serviço e renúncia que Paulo trilhou pelo Evangelho. Antes tudo aquilo que poderia ser lucro ele considerou perda por causa de Cristo.

Em seus pressupostos de desenvolvimento do plantio de igrejas encontra-mos, no paradigma paulino, um caminho seguro para a edificação de igrejas, teologicamente corretas e cheias do vigor do Espírito Santo. Seu alvo foi alcan-çar o maior número possível de pessoas por meio de seu ministério. O apóstolo Paulo nos ensina que plantação de igrejas é obra de Deus.

Os modelos de Hesselgrave (1995) e Ott e Wilson (2013), devem ser estuda-dos e aprofundados por meio de pesquisas e aplicação prática. Eles não encerram os únicos caminhos para o plantio de igrejas, mas constituem-se em referên-cias seguras.

Basicamente, candidatos devem ser selecionados e enviados; os planos devem ser feitos com cuidado; depois, contatos realizados, o evangelho comunicado, os convertidos congregados e batizados, a fé confirmada, a liderança consagrada, a igreja recomendada à graça de Deus e novos líderes enviados. Repetindo-se, assim, o processo de plantação de igrejas até que Cristo venha.

Vimos a relevante função do Espírito Santo, nas indicações de Lidório (2011), em nos conceder poder para a realização da tarefa. Como foram as últimas palavras do Senhor Jesus em Atos: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (BÍBLIA, Atos, 1,8). Que assim sejam os plantadores de igrejas, cheios do Espírito Santo, cheios do poder de Deus e bem preparados teologicamente para a tarefa! Que venham novos avi-vamentos sobre a terra!

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1. No modelo Paulino de plantio de igrejas, há um ensino declarado nas Epístolas que seguem uma sequência lógica, apresentada por Hesselgrave (1995), qual seja: ir para onde as pessoas estão, pregar o evangelho, ganhar convertidos, reu-ni-los nas igrejas, instruí-los na fé, escolher líderes e recomendar os crentes à graça de Deus. Lidório (2011) traduz essa sequência lógica em estratégias para o plantio de igrejas. Cite três dessas estratégias.

2. Perante uma quantidade expressiva de estratégias missionárias de plantio de igrejas, apresentamos as que são mais utilizadas pelos movimentos no mundo atual, tornando-se verdadeiros valores para as organizações missionárias. Cite duas dessas estratégias.

3. O modelo de Hesselgrave (1995) tem a força de um exemplo bíblico e é conhe-cido como “Ciclo Paulino”, nele dez fases de desenvolvimento devem ser obser-vadas. Nas últimas décadas, tem sido o modelo mais relevante para plantação transcultural de igrejas. Cite e explique três dessas fases do ciclo paulino.

4. Um modelo de desenvolvimento de igrejas muito relevante é baseado nos es-tudos de Ott e Wilson (2013) que visam a reprodução e a multiplicação da igreja no contexto da plantação transcultural de igrejas. Cite os três tipos de plan-tadores de igreja que Ott e Wilson (2013) apresentam em seu modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas.

5. O modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas proposto por Ott e Wil-son (2013) visa a reprodução e a multiplicação por meio da atuação de um plan-tador de igrejas apostólico. Cite as cinco fases de desenvolvimento previstas para esse modelo.

207

Orientação Básica para Aquisição Linguística

Algumas considerações preliminares ao entrarmos no desenvolvimento de uma orien-tação básica para a aquisição lingüística.

O método é importante, mas não determinante.

Alguns que aprendem bem uma segunda ou terceira língua, bem como aqueles que se frustram na tentativa, costumam atribuir tal resultado ao método. Observo, porém, que o método (a técnica mais amiúde) é menos importante do que julgamos. Isto porque todos nós nascemos com a capacidade de aprendizado de língua, a qual foi aplicada para nos dar fluência em nossa própria língua materna.

Desta forma freqüentemente encontramos pessoas que jamais estudaram ou aplicaram um método específico aprendendo bem uma segunda ou terceira língua, apenas com orientações gerais. Não me refiro aqui à análise de uma língua (ato mais técnico) mas sim ao aprendizado de fala e compreensão de uma língua (ato mais intuitivo). O método é importante, porém não determinante neste processo.

Lembre-se que o aprendizado de uma nova língua não é uma atividade puramente lin-güística, mas também cultural. Assim, devemos ter em mente que o maior valor no pro-cesso de aprendizado está com o povo (que detém o conhecimento da própria língua) e não na metodologia de estudo da mesma.

Invista no método escolhido

O método tem a capacidade de lhe direcionar e não permitir que você perca o foco. O método escolhido (seja um método aprendido ou desenvolvido por você) deve ser cla-ro, simples, objetivo e aplicável. Pense nestas quatro características.

Você deve ser capaz de explicá-lo de maneira objetiva, clara e prática a outra pessoa. Se tiver dúvidas, simplifique o processo. Se você parte da coleta de termos, composição de idéias e prática de fluência, por exemplo, invista nisto durante um bom tempo. Se você utiliza a análise interativa como método, não deixe para trás na primeira dificuldade.

Nenhum método deve ser visto como uma idéia hermética, fechada, inalterável. Cada pessoa tem um perfil próprio. Adapte o método a você e não o contrário.

É mais fácil não aprender a língua.

Após alguns meses de ânimo no estudo da nova língua é possível que você seja tentado a perder o foco. Se isto acontecer tudo ao seu redor lhe parecerá mais urgente do que o aprendizado da língua. Pelo fato do aprendizado ser algo contínuo (e de médio ou longo prazo) será sempre mais fácil desistir exceto em situações em que o aprendizado da língua seja uma questão de sobrevivência, como é o caso de nossa língua materna.

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É certo que há alguns apaixonados pelo aprendizado de línguas, mas para a maioria será necessário uma boa dose de disciplina. Após chegar ao nível 1, o mais confortável será jamais sair deste nível. Percebo que a maior parte dos estudantes de uma nova língua atinge e permanece no nível pouco acima do 1 (normalmente 1.2). Neste caso eles já conhecem as saudações, os termos chaves, interagem um pouco e não estão mais per-didos no meio de uma conversa, entendendo o assunto geral. Mais de 80% dos que se propõe a aprender uma língua não chegam ao nível 3 (de 1 a 5) que é de fluência relati-va, transmissão e interpretação de idéias. Isto os privará de uma conversação mais pro-funda, uma melhor compreensão do universo da língua falada bem como gerará uma clara limitação na apresentação de idéias, emoções, mensagens, projetos e argumentos.

Tenha um claro alvo em mente. Talvez seu alvo seja aprender uma língua no nível 1 apenas. Mas, caso seja no nível 3, ou outro acima, mantenha este alvo claro, de forma constante, em sua mente e coração. De toda forma, seja qual for seu alvo, não desista! Não há alegria maior para um estudante de uma nova língua do que compreender e ser compreendido ao ponto de comunicar, interagir e fazer diferença no ambiente em que está inserido.

Fonte: Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2008, on-line)4

Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

Plantação Global de Igrejas: princípios bíblicos e as melhores estratégias de multiplicação.Craig Ott e Gene Wilson

Editora: EsperançaSinopse: este livro não só apresenta uma extensa fundamentação

bíblica para o início de novas igrejas, mas também contém o bê-á-bá

para o levantamento de fundos, o desenvolvimento de um senso de cultura local e formação de uma

equipe que melhor atenda às necessidades específicas da comunidade na qual a igreja está sendo

plantada. “Ele deve ser lido por todos os que pensam em plantar uma igreja, mas creio que deveria ser

lido, também, por qualquer pessoa que ocupe um cargo de liderança na igreja” (Rick Warren - Pastor -

Saddleback Church).

Terra SelvagemO filme Terra Selvagem é, talvez, o melhor filme cristão que já foi produzido. Conta a história de cinco missionários cristãos que são mortos de forma bárbara por uma tribo indígena canibal. Após a morte dos missionários, as esposas deles vão até a amazônia para evangelizar estes índios e a aldeia se converte em uma história de amor cristão que excede todo entendimento humano.

Revista Americana - Missões Evangélicas TrimestraisPor quase meio século, Missões Evangélicas Trimestrais (EMQ) tem servido a comunidade missionária em todo o mundo, fornecendo relevantes e envolventes artigos para reflexão em uma vasta gama de ministérios com foco em liderança, tradução, contextualização, negócios como missão, cuidados de membro, etc. EMQ continua a ser uma das principais revistas para missiólogos e é, para muitos de pensamento praticantes, o primeiro jornal para a comunidade missão norte-americana. Vale a pena conhecer mais sobre acessando o link: <https://www.emqonline.com/>.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.

GARRISON, D. Church Planting Movements. Richmond: International Mission Bo-ard of the Southerns Baptist Convetion, 1999.

HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas. São Paulo: Vida Nova, 1995.

LIDÓRIO, R. Estratégias para o Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos, 2011.

LOPES, A. N. Paulo, Plantador de Igrejas: repensando fundamentos bíblicos da obra missionária. Fides Reformata, São Paulo, n. 2, p. 138-153,1997.

OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <http://instituto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_content&view=article&id=452:estrategias-de-plantio-de-igrejas--parte-dois&catid=35&Itemid=3>. Acesso em: 29 maio. 2017.

2 Em: <http://ronaldo.lidorio.com.br/wp/o-campo-e-o-envio-de-missionarios//>. Acesso em: 01 jun. 2017.

3 Em: <https://www.treasy.com.br/blog/missao-visao-e-valores>. Acesso em: 29 maio. 2017.

4 Em: <http://www.instituto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_content&view=article&id=429&catid=35&Itemid=3>. Acesso em: 29 maio. 2017.

GABARITO211

1. Poderão ser utilizada para resposta três estratégias paulinas dentre as estraté-gias abaixo listadas:

• Introduzir-se na sociedade local a partir de uma pessoa receptiva ou um grupo aberto a recebê-lo e ouvi-lo.

• Identificar ali o melhor ambiente para a pregação do evangelho, seja públi-co como uma praça ou privado como um lar.

• Evangelizar de forma abundante e intencional, a partir da Criação ou da Promessa, e sempre desembocando em Cristo, sua cruz e ressurreição.

• Expor a Palavra, sobretudo a Palavra. Expor de tal forma que seja ela inteli-gível e aplicável para quem ouve.

• Testemunhar do que Cristo fez em sua vida.

• Incorporar rapidamente os novos convertidos à igreja, à comunhão dos santos, seja em uma casa ou um agrupamento maior.

• Identificar líderes em potencial e investir neles seja face a face ou por car-tas.

• Não se distanciar demais das igrejas plantadas, visitando-as e se comuni-cando com as mesmas, investindo no ensino da Palavra.

• Orar pelos irmãos, pelas igrejas plantadas e pelos gentios ainda sem Cristo, levando-as também a orar.

• Administrar as críticas e competitividade sem permitir que tais atos lhe re-tirem do foco evangelístico.

• Utilizar a força leiga e local para o enraizamento e serviço da igreja.

• Investir no ardor missionário e responsabilidade evangelística das igrejas plantadas.

2. Devem ser apresentadas três modelos de estratégias, podendo ser:

• Mapeamento etnocultural e geograficamente definido. Saber qual a exten-são do desafio.

• Análise cultural e fenomenológica. Entender as vias para a compreensão do evangelho.

• Comunicação inteligível e comunitária do evangelho.

• Adoração e vida diária da igreja na própria língua materna e cultura alvo.

• Rápida incorporação dos novos convertidos à vida da igreja.

• Consciência de urgência evangelística já transmitida no processo de disci-pulado.

GABARITO

GABARITO

• Identificação de líderes locais o mais cedo possível.

• Treinamento para líderes durante o processo de liderança.

• Descentralização da autoridade eclesiástica.

• Ênfase na reprodução.

• Supervisão contínua quanto ao amadurecimento espiritual.

• Modelo missionário: Inicie, discipule, reproduza, assista, encoraje e parta.

3. Devem ser citadas três fases do Ciclo Paulino de Hesselgrave, das dez listadas abaixo:

1. Missionários comissionados: devem ser selecionados com oração, encoraja-dos e treinados. É preciso ainda verificar se haverá condições para que eles recebem seus suprimentos para sustento e provisão necessários. Esta é a primeira fase do ciclo paulino.

2. Auditório contactado: serão representantes relevantes da comunidade abordados por cortesia, pessoas que poderão ser contatadas pelos veículos já existentes de assistência à sociedade, interessados no evangelho desco-bertos por contatos missionários e o grande público atingido pelas ações midiáticas da campanha evangelística que será realizada.

3. Evangelho comunicado: para isso, é preciso contextualizar a mensagem, continuar firme no método adotado, saber selecionar os veículos de comu-nicação e implantar um sistema de medição.

4. Ouvintes convertidos: a esta altura, os ouvintes estarão prontos para agora serem conduzidos ao processo de conversão. E para que se consiga ouvin-tes convertidos, é preciso ajudá-los a passarem por quatros passos sequen-ciais: a) da instrução; b) da motivação; c) da decisão; e d) da confissão.

5. Crentes congregados: um novo congregante sofre um certo tipo de trans-formação em sua cultura, e ele precisa ser levado a sentir-se integrante de sua nova comunidade. Nisso, não somente as funções do grupo receptor são importantes, mas há também um ideal de tamanho para esse grupo. E uma análise deverá ser feita junto com a escolha e os cuidados para com o local e os horários das reuniões desses cristãos.

6. Fé confirmada: A conversão não deve ser concebida simplesmente em termos de um exercício mental, explica Hesselgrave. Por isto, a fé deve ser confirmada por meio da instrução para (e na) adoração, quanto aos cultos, o testemunho e à sábia administração da vida. A instrução na Palavra, a adoração a Deus, o serviço prestado a Cristo, o testemunho ao mundo, a mordomia dos bens – estes são os elementos da confirmação da fé do novo e de qualquer crente.

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GABARITO

7. Liderança consagrada: mas como uma nova igreja irá andar com suas pró-prias pernas sem ter uma liderança? Pensar, orar, trabalhar, e planejar tendo em vista a edificação de uma liderança espiritual para a igreja que está sen-do organizada deve ser da máxima prioridade. Quando emergir a liderança espiritual, a organização se tornará prática e essencial. Cabe salientar que nenhuma organização pode ser mais forte do que a sua liderança. Nesta sétima fase, já vislumbram-se os horizontes da repetição do ciclo.

8. Crentes recomendados: Hesselgrave instrui que, após a nova liderança ser delegada, uma retirada amigável do pioneiro da congregação estabeleci-da na melhor ocasião possível deve acontecer, para que, tão logo quanto possível, haja uma transição ordeira da liderança pastoral na congregação. Trata-se de uma continuação de ministérios eficazes que tenham sido em-preendidos pelo obreiro pioneiro.

9. Relacionamentos continuados: embora esta igreja que acaba de nascer deva continuar os seus relacionamentos com a igreja que a concebeu, ela não deve olhar somente no retrovisor. Os relacionamentos devem receber continuidade, tanto no cultivo e crescimento da fraternidade mútua entre os crentes desta nova igreja quanto na busca por relacionar-se com novas pessoas a serem alcançadas.

10. Igrejas missionárias convocadas: de igreja plantada, a nova igreja passa ao status das igrejas missionárias convocadas. Aqui está sendo descrita a igreja em sua última fase de maturidade. É quando os novos crentes, entendendo a missão, dispõem-se a seguir participando na missão. E agora passarão a ser os missionários comissionados, repetindo o ciclo paulino a partir de sua primeira fase.

4. São três os tipos de plantadores de igrejas apresentados pelo modelo de desen-volvimento de plantação de igrejas sugerido por Ott e Wilson, que são:

• Plantador de igrejas pastoral;

• Plantador de igrejas catalítico;

• Plantador de igrejas apostólico.

5. O modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas proposto por Ott e Wil-son (2013), visa a reprodução e a multiplicação por meio da atuação de um plantador de igrejas apostólico. Prevê cinco fases diferentes de desenvolvimen-to, que são: preparação, lançamento, estabelecimento, estruturação e reprodu-ção.

CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final de nossa disciplina Modelos de Plantação de Igrejas. Minha sincera oração é para que Deus lhe conceda entendimento para saber quais são os próximos passos a serem dados em sua formação acadêmica e minis-terial.

Que grande nuvem de testemunhas temos diante de nós, a qual nos inspiram a completar a carreira cristã. São homens e mulheres que deram suas vidas pelo Reino Eterno, histórias surpreendentes de fé, coragem e manifestação do poder de Deus. Nas páginas da Bíblia Sagrada e da História do Cristianismo vemos homens e mulhe-res dos quais o mundo não era digno, como nos fala a BÍBLIA, no livro de Hebreus, capítulo 11.

Que na continuação de nosso serviço a Deus possamos depender de Sua soberania em todas nossas escolhas e decisões, orando, jejuando e fazendo tudo que estiver ao nosso alcance para persuadir os homens a entrarem no Reino eterno.

Quando temos a revelação de que nossa vida, verdadeiramente, está nas mãos de Deus, temos dois resultados bem objetivos: primeiro, podemos descansar, pois Deus é soberano sobre todas as coisas. Se Ele controla o Universo com Seu poder, Ele é capaz de controlar nossa vida. Em segundo lugar, temos que ter uma grande expectativa, pois quando Ele está presente tudo pode acontecer.

Que possamos nos esforçar para pregar o evangelho nos lugares em que Cristo ainda não foi anunciado, na completa dependência do Espírito Santo, e que Deus nos conceda perseverança para prosseguir. Como o apóstolo Paulo nos diz em Fi-lipenses: “...mas uma coisa faço, esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (BÍBLIA, Filipenses, 3:14)”.

Que Deus nos abençoe, nos levante com poder e cheios do Espírito Santo para cum-prirmos Sua missão na terra.

CONCLUSÃO