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Anthony Giddens Modernidade e identidade . Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002

Modernidade II

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Page 1: Modernidade II

Anthony Giddens

Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,

2002

Page 2: Modernidade II

“A modernidade pode ser entendida como

aproximadamente equivalente ao ‘mundo industrializado’

desde que se reconheça que o industrialismo não é sua única

dimensão institucional.”p.21

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“Uma segunda dimensão é o capitalismo, sistema de produção

de mercadorias que envolve tanto mercados competitivos de

produtos quanto a mercantilização da força de

trabalho.”p.21

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“A modernidade produz certas formas sociais distintas, das quais a mais importante é o

estado-nação. (...)

tem formas muito específicas de territorialidade e capacidade de vigilância, e monopoliza o

controle efetivo sobre os meios de violência.”

p.22

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“Como tais, são um exemplo maior de uma característica mais geral da modernidade: a

ascensão da organização. O que distingue as organizações modernas não

é tanto o seu tamanho, ou seu caráter burocrático, quanto o monitoramento

reflexivo que elas permitem e implicam. p.22

Page 6: Modernidade II

“O mundo moderno é um ‘mundo em disparada’ (...) O que explica o caráter peculiarmente dinâmico da vida social

moderna? Três elementos, ou conjunto de elementos, principais

estão envolvidos ...”

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“A separação de tempo e espaço envolveu acima de tudo o

desenvolvimento de uma dimensão ‘vazia’ de tempo, a alavança principal

que também separou o espaço do lugar.”

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“A organização social moderna supõe a coordenação precisa das ações de seres

humanos fisicamente distantes; o ‘quando’ dessas ações está diretamente conectado ao

‘onde’, mas não, como em épocas pré-modernas, pela mediação do lugar.’

pp.22-23

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“O processo de esvaziamento do tempo e do espaço é crucial para a segunda

principal influência sobre o dinamismo da modernidade: o desencaixe das

instituições sociais.”

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“Mecanismos de desencaixe são de dois tipos, que chamo de ‘fichas

simbólicas’ e ‘sistemas especializados’. Tomados em

conjunto, refiro-me a eles como sistemas abstratos.”

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“Fichas simbólicas são meios de troca que têm um valor padrão,

sendo assim intercambiáveis numa pluralidade de contextos.

O primeiro exemplo, e o mais importante, é o dinheiro.”

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Os sistemas especializados não se limitam à áreas tecnológicas; estendem-se às próprias

relações sociais e às intimidades do eu. O médico, o analista e o terapeuta são tão importantes para os sistemas especializados

da modernidade quanto o cientista, o técnico ou o engenheiro.”

p.24

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“Os dois tipos de sistema especializado dependem essencialmente da

confiança, uma noção que, como foi indicado, desempenha um papel

central neste livro.”

p.25

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“Confiança e segurança, risco e perigo, existem em conjunções historicamente únicas nas condições da modernidade.

Os mecanismos de desencaixe, por exemplo, garantem amplas arenas de segurança relativa na atividade social

diária”

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Diversas atitudes de ceticismo ou antagonismo em relação aos sistemas abstratos podem coexistir com uma crença não questionada

nos outros. Por exemplo, uma pessoa pode chegar a extremos para evitar ingerir alimentos que

contém aditivos , mas se ela não cultivar tudo o que come, deverá necessariamente confiar que os fornecedores de ‘alimentos naturais’

oferecem produtos superiores.”p. 28

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“A modernidade é essencialmente uma ordem pós-tradicional. A transformação do tempo e do espaço, em conjunto com os

mecanismos de desencaixe , afasta a vida social da influência de

práticas e preceitos estabelecidos.”

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“Esse é o contexto da consumada reflexividade, que é a terceira

maior influência sobre o dinamismo das instituições

modernas.”

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“A reflexividade da modernidade deve ser distinguida do monitoramento reflexivo da ação intrínseco a toda atividade humana.

Ele se refere à suscetibilidade da maioria dos aspectos da atividade social, e das relações materiais com natureza, à revisão intensa à luz de novo conhecimento ou informação.”

p. 25

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“A ciência depende não da acumulação indutiva de demonstrações, mas do princípio metodológico da dúvida.

Por mais estimada e aparentemente estabelecida que uma determinada

doutrina científica seja, ela está aberta à revisão – ou poderá vir a ser

inteiramente descartada – à luz de novas idéias ou descobertas.”

p.26

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Nas situações a que chamo de modernidade ‘alta’ ou ‘tardia’ –

nosso mundo de hoje -, o eu, como os contextos institucionais mais amplos em que existe, tem

que ser construído reflexivamente. “

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“Mas essa tarefa deve ser realizada em meio a uma enigmática diversidade de opões e

possibilidades. Em circunstâncias de incerteza e múltipla escolha, as noções de confiança e risco têm aplicação particular”

p. 10

Page 22: Modernidade II

“A modernidade reduz o risco geral de certas áreas e modos de vida,mas ao

mesmo tempo introduz novos parâmetros de risco, pouco conhecidos ou inteiramente desconhecidos em épocas

anteriores.”

P. 11

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Quanto mais a tradição perde seu domínio, e quanto mais a vida diária é

reconstituída em termos do jogo dialético entre o local e o global, tanto

mais os indivíduos são forçados a escolher um estilo de vida a partir de

uma diversidade de opções.

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“A modernidade é uma ordem pós-tradicional em que a pergunta ‘como devo viver?’ tem

tanto que ser respondida em decisões cotidianas sobre como comportar-se, o que

vestir e o que comer – e muitas outras coisas – quanto ser interpretada no desdobrar

temporal da auto-identidade.”

p. 20

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Zygmunt Bauman.

Modernidade Líquida Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed. , 2001

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“Ao descrever os sólidos , podemos ignorar inteiramente o tempo; ao descrever os fluidos,

deixar o tempo de fora seria um grave erro. (...)

Os fluidos se movem facilmente. Eles ‘fluem’, ‘escorrem’, ‘esvaem-se’, ‘respingam’,

‘transbordam’, ‘vazam’,’inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’; são ‘filtrados’, ‘destilados’;

diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos ...”

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“A extraordinária mobilidade dos fluidos é o que os associa à idéia

de ‘leveza’. ”

p. 8

Page 28: Modernidade II

“Ulrick Beck (que alguns anos antes cunhara o termo

‘segunda modernidade’ para conotar a fase marcada pela modernidade ‘voltando-se sobre si mesma’, a era da assim chamada

‘modernização da modernidade’) fala de ‘categorias zumbi’ e ‘instituições zumbi’,

que estão ‘mortas e ainda vivas’.”

p.12

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“Este livro se dedica a essa questão. Foram selecionados para exame cinco dos conceitos

básicos em torno dos quais as narrativas ortodoxas da condição humana tendem a se

desenvolver: a emancipação, a individualidade, o tempo/espaço, o trabalho

e a comunidade.” p.15

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“A libertação é uma bênção ou uma maldição? Uma maldição disfarçada de bênção, ou uma bênção temida

como maldição?”

Page 31: Modernidade II

“O tipo de modernidade que era o alvo, mas também o quadro cognitivo, da teoria crítica clássica, numa análise

retrospectiva, parece muito diferente daquele que enquadra a vida das

gerações de hoje.”

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Ela parece ‘pesada’ (contra a ‘leve’ modernidade contemporânea); melhor ainda, ‘sólida’ (e não ‘fluida’, ‘líquida’ ou ‘liquefeita’); condensada (contra a

difusa ou ‘capilar’); e , finalmente, ‘sistêmica’ (por oposição a ‘em forma

de rede’).

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Essa modernidade pesada/sólida/condensada/sistêmica da

‘teoria crítica’ era impregnada da tendência ao totalitarismo. A sociedade totalitária da

homogeneidade compulsória, imposta e onipresente, estava constante e

ameaçadoramente no horizonte...” p. 33

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“Entre os principais ícones dessa modernidade estavam a fábrica fordista, que reduzia as

atividades humanas a movimentos simples, rotineiros e predeterminados ... a

burocracia ... o panóptico”

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“Não é mau definir épocas históricas pelo tipo de ‘demônios íntimos’ que as assombram e

atormentam.(...)

A sociedade que entra no século XXI não é menos ‘moderna’ que a que entrou no século XX; o máximo que se pode dizer é que ela é

moderna de um modo diferente.”

p. 35

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“Movemo-nos e continuaremos a nos mover não tanto pelo ‘adiamento da satisfação’,

como sugeriu Max Weber, mas por conta da impossibilidade de atingir a satisfação: o

horizonte da satisfação, a linha de chegada do esforço e o momento da auto-congratulação

tranquila movem-se rápido demais.”

P. 37

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Duas características, no entanto, fazem nossa situação – nossa forma de

modernidade – nova e diferente. A primeira é o colapso gradual e o rápido declínio da antiga ilusão moderna: da

crença de que há um fim do caminho em que andamos, um telos alcançável da

mudança histórica.

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“A segunda mudança é a desregulamentação e a privatização das tarefas e deveres

modernizantes. O que costumava ser considerado uma tarefa para

a razão humana, vista como dotação e propriedade coletiva da espécie humana, foi fragmentado (‘individualizado’), atribuído às

vísceras e energia individuais e deixado à administração dos indivíduos e seus recursos.”

P. 38

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“A ‘individualização’ agora significa uma coisa muito diferente do que significava há cem

anos e do que implicava nos primeiros tempos da era moderna – os tempos da exaltada

‘emancipação’ – do homem da trama estreita da dependência, da vigilância e da imposição

comunitárias.”

P. 39-40

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“Resumidamente, a ‘individualização’ consiste em transformar a

‘identidade’ humana de um ‘dado’ em uma ‘tarefa’ e encarregar os atores da responsabilidade de

realizar essa tarefa e das conseqüências (assim como dos

efeitos colaterais) de sua realização.”

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“Os seres humanos não mais ‘nascem’ em suas identidades. (...) Precisa

tornar-se o que já se é é a característica da vida moderna – e só

da vida moderna...”

p. 40-41

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Ulrick Beck

“A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva”

In: GIDDENS, Anthony, BECK, Ulrick, LASH, Scott. Modernização reflexiva. São Paulo: Unesp, 1997

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“A principal questão que ora enfrentamos é se a simbiose

histórica entre o capitalismo e a democracia – que caracterizava o Ocidente – pode ser generalizada

em uma escala global, sem consumir suas bases físicas,

culturais e sociais”

p. 11

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Este conceito [Sociedade de Risco]

designa uma fase no desenvolvimento da sociedade moderna, em que os

riscos sociais, políticos, econômicos e individuais tendem cada vez mais a

escapar das instituições para o controle e a proteção da sociedade

industrial.”

p. 15

Page 45: Modernidade II

Duas fases podem ser distinguidas:

primeiro, um estágio em que os efeitos e as auto-ameaças são sistematicamente produzidos, mas não se tornam questões

públicas ou o centro de conflitos políticos.

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Segundo, uma situação completamente diferente surge quando os perigos da sociedade

industrial começam a dominar os debates e conflitos públicos, tanto

políticos como privados.”

p. 15

Page 47: Modernidade II

“No sentido de uma teoria social e de um diagnóstico de cultura,

o conceito de sociedade de risco designa um estágio da modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas até então no caminho da sociedade industrial.”

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“Isto levanta a questão da autolimitação daquele

desenvolvimento, assim como da tarefa de redeterminar os padrões de

responsabilidade, segurança , controle, limitação de dano e

distribuição das conseqüências do dano atingidos até aquele momento,

levando em conta as ameaças potenciais.”

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Entretanto, o problema que aqui se coloca é o fato de estes últimos não

somente escaparem à percepção sensorial e excederem à nossa imaginação, mas também não

poderem ser determinados pela ciência .

A definição do perigo é sempre uma construção cognitiva e social.”

p. 16-17

Page 50: Modernidade II

“No autoconceito da sociedade de risco, a sociedade torna-se reflexiva (no

sentido mais estrito da palavra), o que significa dizer que ela se torna um

tema e um problema para ela própria.

Em outras palavras, a sociedade de risco é tendencialmente também uma

sociedade de autocrítica.”

P. 19

Page 51: Modernidade II

“ Os especialistas em seguros (involuntariamente) contradizem os engenheiros de segurança.

Enquanto estes últimos diagnosticam risco zero, os primeiros decidem: impossível de ser

segurado. Especialistas são anulados ou depostos por

especialistas de áreas opostas. Políticos encontram resistência de grupos de

cidadãos, e a gerência industrial encontra boicote de consumidores organizada e politicamente

motivados.”p. 22

Page 52: Modernidade II

“Em resumo, um mundo duplo está adquirindo vida, e uma parte dele não pode ser

representada na outra: um mundo caótico de conflitos, jogos de poder, instrumentos e

arenas que pertencem a duas épocas diferentes, aquela do ‘não ambíguo’ e aquela

da modernidade ‘ambivalente’.

Page 53: Modernidade II

“Por um lado, está se desenvolvendo um vazio político das instituições; por outro, um renascimento não institucional do político. O sujeito individual

retorna às instituições da sociedade”

p. 28

Page 54: Modernidade II

“Esta expressa no ruído de fundo das polêmicas em todos os níveis e em todas as questões e

grupos de discussão, no fato, por exemplo, de nada mais ‘passar em brancas nuvens’; tudo

dever ser inspecionado, seccionado em pequenos pedaços, discutido e debatido

incansavelmente, até que afinal, com a bênção da insatisfação geral, ocorra esta ‘reviravolta’ particular que ninguém deseja, talvez apenas

porque do contrário há o risco de uma paralisia geral.”

Page 55: Modernidade II

“Estas são as dores do parto de uma sociedade de ação nova, uma

sociedade de autocriação, que deve ‘inventar’ tudo, mas não sabe como,

com quem fazê-lo e com quem absolutamente não fazê-lo”

p. 34

Page 56: Modernidade II

“Muitas modernidades são possíveis; esta é a réplica da modernização

reflexiva.”

p. 37

Page 57: Modernidade II

“A questão (em termos clássicos) é a seguinte: como a verdade pode ser

combinada com a beleza, a tecnologia com a arte, os negócios com a política e assim por diante?”

p. 47

Page 58: Modernidade II

“Incidentalmente, ‘o conhecimento de que tudo é política’, como escreveu Klaus von Beyme, ‘confunde-nos se

não for suplementado com a percepção de que tudo é, também

economia ou cultura.”

p. 48