12
82 Resumo: A passagem da modernidade para a pós-modernidade vem sendo intensamente estudada de uma perspectiva macro, ou social. São, no entanto, poucos os estudos que procuram compreender como está dando-se essa transição do ponto de vista micro, ou individual. Esse é o objetivo do presente trabalho. Uma análise do discurso de jovens entre 18 e 25 anos sobre o seu uso de telefones celulares deu visibilidade parcial a essa transição interna e permitiu identificar um processo de interpenetração de campos semânticos que dá concretude psicológica a algumas das principais características do mundo contemporâneo: seu imediatismo e sua fluidez. Palavras-Chave: Modernidade, pós-modernidade, celulares, jovens. Abstract: The transition from modernity to post-modernity has been intensively studied from a macro, or social, perspective. There have been, however, few attempts to understand how such a transition is taking place from a micro, or individual, point of view. This is the main purpose of the present study. An analysis of 18 to 25-year-old men and women’s discourse about their use of cell phones made this inner transformation partially visible. This analysis made it possible to identify a process of interpenetration of semantic fields that makes some of the main characteristics of the post-modern world – its immediacy and fluidity – psychologically concrete. Key Words: Modernity, post-modernity, cell phones, young people. A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade Leonardo da Vinci The inner transition from modernity to post-modernity Ana Maria Nicolaci-da-Costa Psicóloga. M.A. em Psicologia pela New School for Social Research em Nova York. Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Londres. Professora e pesquisadora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (1), 82-93 Jupiterimages

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

  • Upload
    lyhuong

  • View
    238

  • Download
    4

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

82

Resumo: A passagem da modernidade para a pós-modernidade vem sendo intensamente estudada deuma perspectiva macro, ou social. São, no entanto, poucos os estudos que procuram compreender comoestá dando-se essa transição do ponto de vista micro, ou individual. Esse é o objetivo do presente trabalho.Uma análise do discurso de jovens entre 18 e 25 anos sobre o seu uso de telefones celulares deu visibilidadeparcial a essa transição interna e permitiu identificar um processo de interpenetração de campos semânticosque dá concretude psicológica a algumas das principais características do mundo contemporâneo: seuimediatismo e sua fluidez.Palavras-Chave: Modernidade, pós-modernidade, celulares, jovens.

Abstract: The transition from modernity to post-modernity has been intensively studied from a macro, orsocial, perspective. There have been, however, few attempts to understand how such a transition is takingplace from a micro, or individual, point of view. This is the main purpose of the present study. An analysisof 18 to 25-year-old men and women’s discourse about their use of cell phones made this innertransformation partially visible. This analysis made it possible to identify a process of interpenetration ofsemantic fields that makes some of the main characteristics of the post-modern world – its immediacy andfluidity – psychologically concrete.Key Words: Modernity, post-modernity, cell phones, young people.

A Passagem Interna da Modernidadepara a Pós-modernidade

Leon

ardo

da

Vin

ci

The inner transition from modernity to post-modernity

Ana MariaNicolaci-da-Costa

Psicóloga. M.A. emPsicologia pela New

School for SocialResearch em Nova

York. Ph.D. emPsicologia pela

Universidade deLondres. Professora e

pesquisadora doDepartamento de

Psicologia da PUC-Rio.

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (1), 82-93

Jupi

terim

ages

Page 2: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

83

As profundas transformações sociais pelas quais omundo vem passando nas últimas décadas têmsido objeto de investigação de intelectuais dediversas áreas, notadamente da Sociologia e daFilosofia. Geralmente realizadas a partir de macroperspectivas, essas investigações vêm contribuindopara que tenhamos uma visão panorâmica tantoda trama quanto da dinâmica da nova organizaçãosocial. Têm também possibilitado a apreensão cadavez mais acurada da realidade característica destenovo milênio.

Por conta de interesses e formação intelectualvariados, no entanto, diferentes autores dãodiferentes nomes de batismo a esse mesmoconjunto de transformações (às vezes, um mesmoautor dá mais de um): revolução das tecnologiasda informação (Castells, 2000), pós-modernidadeou pós-modernismo (Lyotard, 1979, Vattimo,1985, Jameson, 1991, Bauman, 1998, 2001,Harvey, 1989, Eagleton, 1996), modernidadelíquida (Bauman, 2001), capitalismo tardio(Jameson, 1991), capitalismo flexível (Sennett,1998, Bauman, 2001) etc. Essas diferenças denomenclatura refletem, ao menos em parte, asdivergentes ênfases dadas por esses analistas aosvários aspectos que fazem parte do atual processode mudança (essas diferenças são exploradas emLeitão e Nicolaci-da-Costa, 2003). Para alguns, osavanços tecnológicos são determinantes do quadrode mudanças atual. Para outros, esse papel centralé desempenhado por fatores econômicos. Paramuitos, a mudança representa uma ruptura como que veio antes; para outros tantos, essa mesmamudança é apenas um outro estágio da velhaordem.

Para os propósitos da presente discussão, contudo,essas diferenças não são cruciais e serão deixadasde lado de modo a facilitar a exposição. Adenominação única de pós-modernidade seráadotada pela simples razão de que torna ocontraponto entre o período pós-moderno e omoderno mais claro e acessível. Esse contraponto,que está presente – de modo mais ou menosexplícito – na maior parte das abordagensmencionadas acima, desempenha um importantepapel no raciocínio que se segue. Isso porque dávisibilidade às características distintivas da velha eda nova ordem, bem como possibilita a apreensãoda passagem de uma para outra.

Este estudo apropria-se do conhecimento dessascaracterísticas e dessa passagem, já produzido noplano macro, com um intuito particular: o deprocurar apreender como se dá a passagem damodernidade para a pós-modernidade do pontode vista micro (ou individual). Seu objetivo é o deidentificar e trazer à tona algumas transformaçõespsicológicas que estão ocorrendo comoconseqüência das turbulentas mudanças ora emcurso.

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

Características da Modernidade eda Pós-Modernidade

Ordem, progresso, verdade, razão, objetividade,emancipação universal, sistemas únicos de leiturada realidade, grandes narrativas, teoriasuniversalistas, fundamentos definitivos deexplicação, fronteiras, barreiras, longo prazo,hierarquia, instituições sólidas, poder central, clarasdistinções entre público e privado etc.

Essas são algumas das características que a maiorparte dos analistas da pós-modernidade atribui àmodernidade. São, portanto, características de umarealidade que muitos de nós conhecemos deperto, mas que muito provavelmente sequersaberíamos colocar em palavras poucas décadasatrás. Então, ainda faltava-nos a visibilidade dadapelo contraponto entre a velha e a nova realidade.Tínhamos, principalmente no período que seseguiu à 2ª Guerra Mundial, apenas a vaga econfortável sensação de que o mundo em quevivíamos era estável. Essa sensação foi abalada pelosprocessos de mudança que deram a esse mesmomundo suas feições pós-modernas.

Algumas dessas feições são tão evidentes a pontode não gerarem discordâncias, mesmo quandovistas a partir de diferentes convicções políticas ouabordagens teóricas, e é novamente o contrapontoentre as duas realidades que torna essas feições tãoevidentes e consensuais. Entre elas, destacam-se asseguintes: a globalização, as comunicaçõeseletrônicas, a mobilidade, a flexibilidade, a fluidez,a relativização, os pequenos relatos, afragmentação, as rupturas de fronteiras e barreiras,as fusões, o curto prazo, o imediatismo, adescentralização e extraterritorialidade do poder,a imprevisibilidade e o consumo.

Eagleton (1996) resume alguns dos atributosdistintivos dos períodos moderno e pós-modernode forma bastante eficaz quando diz:

“Pós-modernidade é uma linha de pensamentoque questiona as noções clássicas de verdade,razão, identidade e objetividade, a idéia deprogresso ou emancipação universal, os sistemasúnicos, as grandes narrativas ou os fundamentosdefinitivos de explicação. (...) vê o mundo comocontingente, gratuito, diverso, instável, imprevisível,um conjunto de culturas ou interpretaçõesdesunificadas gerando um certo grau de ceticismoem relação à objetividade da verdade, da históriae das normas, em relação às idiossincrasias e àcoerência de identidades” (p.7).

Bauman (2001) usa outros adjetivos para qualificaros períodos moderno e pós-moderno, mas, emúltima análise, aponta basicamente as mesmas

1 As pesquisas em PsicologiaClínica que utilizam essas vias,no entanto, ainda não sãomuitas (ver Leitão e Nicolaci-da-Costa, 2000, e Leitão,2003).

2 Alguns desses estudos –como, por exemplo, os de Plante Rheingold – tinham porobjetivo investigar o uso doscelulares em diferentes partesdo mundo, enquanto outros seconcentraram em investigar osusuários de uma mesma cidade(Kopomoaa) ou de uma mesmanacionalidade (Roberts,Crabtree & Nathan).

3 Todos os nomes são fictícios.

4 Observe-se que o passar mal,que tradicionalmente definiriauma emergência, é colocado nofinal da lista de emergênciasde Bianca.

Agradecimentos: Da pesquisarelatada neste artigo,participaram as seguintesalunas: Erika Falcão Ramalho,Maria Engel de Oliveira,Claudia Puntel Pereira dosSantos, Carolina de SousaAguiar Figueiredo, RobertaBeckowski, Daniella Muller deCampos Dantas Brasil. Váriasforam bolsistas de iniciaçãocientífica do CNPq (PIBIC) eFAPERJ.

Page 3: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

84

características desse estágio do capitalismo flexível:o poder extraterritorial, as comunicaçõeseletrônicas, a instantaneidade, a instabilidade etc.Em um trecho do seu recente Modernidade Líquida,ele resume essas características compactamente:“[A modernidade clássica] parece ‘pesada’ (contraa ‘leve’ modernidade contemporânea); melhorainda, ‘sólida’ (e não ‘fluida’, ‘líquida’ ou‘liquefeita’); condensada (contra difusa ou‘capilar’); e, finalmente, ‘sistêmica’ (por oposiçãoa ‘em forma de rede’)” (p. 33).

Deleuze & Guattari (1997) também oferecemmetáforas, imagens e definições que ajudam avisualizar o que mudou na passagem damodernidade para a pós-modernidade. Partindode uma concepção bastante idiossincrática eabrangente de espaço (concepção essa que incluia organização e a dinâmica da vida em sociedade),fazem uma comparação entre o espaço estriado,que, segundo eles, caracteriza a modernidade, e oespaço liso, que predomina no período pós-moderno. O espaço estriado, como um tecido comsuas tramas verticais e horizontais, é bemdemarcado e sedentário (ou “sólido” e “pesado”,na terminologia de Bauman); já o espaço liso, comoo feltro, não tem demarcações e é nômade(características que correspondem à “leveza” e“fluidez” descritas por Bauman). Deleuze &Guattari deixam claro, no entanto, que esses doisespaços podem interpenetrar-se e transformar-seum no outro (o que obviamente implica dizer queconvivem lado a lado).

Retomando o que nos dizem Eagleton, Bauman eDeleuze & Guattari, enquanto a modernidade erasólida e estriada, em virtude da visibilidade de seuspoderes centrais, hierarquias, regras, barreiras,fronteiras etc., a pós-modernidade é fluida, ou lisa,em virtude de sua descentralização, organizaçãoem redes, sua ausência de barreiras ou fronteiras. Vários dos aspectos que caracterizavam o períodomoderno estão em via de desaparecer. Essedesaparecimento, porém, não acontece da noitepara o dia. Ele é o resultado de, entre outros, váriosprocessos de fusão e diluição discutidos porMeyrowitz (1999), que faz uso de metáforas bemdiferentes daquelas usadas por Bauman e Deleuze& Guattari. Enquanto as metáforas usadas por estesenfatizam estados que antecedem ou sucedem asmudanças, as de Meyrowitz colocam em relevo osprocessos de mudança em si mesmos.

A atenção de Meyrowitz concentra-se na atualinterpenetração de áreas e experiênciasconsideradas distintas no período moderno (como,por exemplo, as das disciplinas que correspondemà divisão do saber da era moderna ou dasexperiências consideradas públicas e privadas). Seuargumento central é o de que:

“Todo sistema natural e social é definido por suasmembranas – aquilo que separa o que ‘ele é’ daquiloque ‘ele não é’. Do organismo mais simples aoincrivelmente complexo ser humano, de uma ganguea uma corporação, as fronteiras entre o interior e oexterior são características básicas” (p. 45).

Em contraste com a relativa impermeabilidade dasmembranas do período moderno, Meyrowitzafirma que:

“Uma característica central da nossa era global éuma crescente permeabilidade da maior parte dasfronteiras físicas, sociais, políticas, culturais eeconômicas. Isto é, a maior parte das membranasnaturais ou produzidas pelos homens estão setornando porosas, às vezes tão porosas a ponto dedesaparecer funcionalmente” (p. 45).

Essa metáfora das membranas impermeáveis quese tornam porosas procura registrar a dinâmicapor meio da qual as diferentes características damodernidade se liquefazem, se fundem e seinterpenetram dando origem à pós-modernidade,ou seja, procura dar visibilidade ao processo quetransforma o aparentemente sólido e estáticomundo moderno no fluido e dinâmico mundopós-moderno. Pressupõe, portanto, a convivênciade ambos os mundos, pelo menos no atual estágioda mudança.

A Passagem do Macro ao Micro

Do ponto de vista do que acontece no planoindividual, a literatura recente também vemconvergindo em torno de pelo menos uma certeza,a de que o ser humano está sofrendo profundasalterações em conseqüência dos processos quevêm transformando o mundo moderno em pós-moderno.

Mesmo dentro de suas macroanálises, algunssociólogos e filósofos procuram dar conta do queacontece no plano pessoal. No mais das vezes,identificam conseqüências e sentimentos gerais –como, por exemplo, a incerteza, a insegurança, aansiedade, o medo etc. – gerados pela novarealidade (ver, entre outros, Bauman, 1997,Sennett, 1998, Harvey, 1989, Virilio, 1993). Emalguns casos, registram também conflitospsicológicos e descrevem características centraisda nova dinâmica subjetiva. Sennett (1998), porexemplo, registra conflitos psicológicos que jápodem ser facilmente detectados, como aquelesrelativos à incompatibilidade entre os projetos devida a longo prazo e o imediatismo do trabalho nonovo capitalismo flexível. Enquanto isso, Jameson(1991), um crítico de arte que se tornou um dosmaiores analistas da pós-modernidade, aponta afragmentação da mônada característica do

Ana Maria Nicolaci-da-Costa

“Uma característicacentral da nossa era

global é umacrescente

permeabilidade damaior parte dasfronteiras físicas,sociais, políticas,

culturais eeconômicas. Isto é, a

maior parte dasmembranas naturaisou produzidas pelos

homens estão setornando porosas, às

vezes tão porosas aponto de

desaparecerfuncionalmente”

Meyrowitz

Page 4: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

85

individualismo moderno como um dos aspectosdistintivos da subjetividade pós-moderna. JáBauman (1997) e Sennett (1998) enfatizam aposição de destaque que a necessidade desatisfação imediata do desejo ocupa na dinâmicasubjetiva contemporânea, em contraposição aoimperativo moderno do seu adiamento.

Saber o que está acontecendo no íntimo daspessoas em um momento de mudanças como oatual não é, porém, o principal propósito desociólogos, filósofos ou críticos de arte (por issomesmo, suas análises raramente se aprofundam osuficiente). A produção desse tipo deconhecimento é da alçada de outrospesquisadores. É, na realidade, um dos objetivoscentrais de muitos pesquisadores em PsicologiaClínica. Estes, no entanto, enfrentam um sériodesafio: o de tornar possível a captação dosprocessos de transformação internos.

Uma via de acesso a esses processos detransformação internos, que vem sendo utilizadacom bastante sucesso, é a da investigação de comoos homens, mulheres e crianças contemporâneosestão fazendo uso das novas tecnologias decomunicação, que, todos admitem,desempenham um importante papel nos processosde mudança atuais.

A análise do uso de diferentes tipos de tecnologia(principalmente de ambientes interativos naInternet) e dos discursos sobre esse uso proferidopor diferentes tipos de sujeito tem-se mostradovaliosa na apreensão tanto de conflitos internosquanto daquilo que está em mutação dentrodesses sujeitos (ver, entre outros, Turkle, 1995 eRomão-Dias, 2001)

1.

Dentre esses trabalhos, alguns (ver, por exemplo,Nicolaci-da-Costa, 2002b e 2002c, Romão-Dias2001, Leitão, 2003) parecem trazer à tona acoexistência de valores modernos e pós-modernosno íntimo dos homens e mulherescontemporâneos. Diferentemente do caso deconflitos aparentes, passíveis de apreensão poroutros tipos de pesquisa, fazem-no por meio dainvestigação aprofundada de indicadores externosde conflitos internos de cuja existência os própriossujeitos muitas vezes não têm consciência.

São ainda mais raros os trabalhos que, porfelicidade, conseguem captar, além desse tipo deconflito, os próprios momentos de transformaçãode significados e valores internos. Um destes éparticularmente relevante para a presente discussãopor ilustrar bastante bem um momento como esseno que diz respeito à passagem psicológica damodernidade para a pós-modernidade.

Em pesquisa recente, Nicolaci-da-Costa (2002b)tinha como objetivo investigar como usuáriosintensivos da Internet lidam com o rótulo de vício,que é freqüentemente atribuído ao seucomportamento de passar longos períodos detempo em programas interativos online. Osresultados desse estudo revelam um interessantedeslizamento de sentido no conceito de vício,deslizamento esse que, por sua vez, parece ilustrarbastante bem o processo de incorporação denovos valores ainda não totalmente desvinculadosde antigos conceitos. Embora todos os sujeitos dapesquisa admitissem ser “viciados” (o que revela oquanto ainda estavam presos a antigos conceitos),todos eles, a exemplo do que Giddens (2002)registra em um de seus últimos livros, demonstravamjá haver redefinido o significado de vício. Seusdiscursos bem-humorados e irônicos tornavamevidente que, para eles (tal como para Giddens),quase todas as formas de excesso contemporâneas– como, por exemplo, o da prática intensiva deexercícios físicos vistos como saudáveis – podemser qualificadas como vícios (o que demonstra queo conceito de vício sofreu uma redefinição).

No que se segue, será exposta uma outra ilustraçãodesses processos. Essa ilustração terá por base umapesquisa realizada com jovens usuários deaparelhos celulares.

A Pesquisa

São poucos os estudos que já se dedicaram ainvestigar os impactos que os celulares estãogerando sobre seus usuários. Dentre eles, os maisconhecidos (porque amplamente divulgados naInternet) são, em grande parte, registros etnográficos

Uma via de acesso aesses processos detransformaçãointernos, que vemsendo utilizada combastante sucesso, é ada investigação decomo os homens,mulheres e criançascontemporâneosestão fazendo usodas novas tecnologiasde comunicação,que, todos admitem,desempenham umimportante papel nosprocessos demudança atuais.

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

Page 5: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

86

(alguns realizados por encomenda de empresasde telefonia celular) do uso que diferentes tipos deusuários – de diferentes nacionalidades e diferentesfaixas etárias, classes sociais e profissões – fazem deseus celulares (ver, por exemplo, Plant, 2002,Rheingold, 2002, Kopomoaa, 2000, Roberts,Crabtree & Nathan, 2003).

Apesar de seus diferentes objetivos e das diferentespopulações que tinham por finalidade investigar,

2

esses estudos pioneiros revelam alguns resultadosinteressantes, embora pouco aprofundados.Revelam, por exemplo, que o uso dos váriosrecursos disponíveis nos celulares (identificação dechamadas, toques individuais, vibracall,mensagens de texto etc.) vem sendo regulado pornormas sociais e culturais que estão sendoconstruídas na medida em que a telefonia celularse difunde. Mostram, também, que o uso decelulares vem modificando a organização e aadministração da vida em família (através, porexemplo, da possibilidade de controle à distânciados filhos e da casa) e em sociedade (como nocaso da formação de verdadeiras tribos virtuais).Constatam, ainda, que as formas de usar essa novatecnologia são altamente sensíveis a característicasculturais, etárias e profissionais. Mesmo assim, quaseinvariavelmente seus maiores usuários são osprofissionais ligados às próprias tecnologias detelecomunicação e os jovens.

Esse conjunto de resultados gera problemas e, aomesmo tempo, indica caminhos para umainvestigação exploratória dos impactos psicológicosdos celulares sobre usuários brasileiros. Entre osproblemas, estão a superficialidade desses achados(podemos saber como os celulares são usados semsaber quais as modificações internas geradas poresses usos) e sua validade duvidosa para o casobrasileiro (na medida em que não podem sergeneralizados para além de seus contextos deorigem).

Apesar dessas restrições, porém, se complementadospela observação cotidiana e por aquilo que édivulgado na mídia, esses resultados sugerem que aspopulações jovens das grandes metrópoles podemser um bom ponto de partida para uma investigaçãodos impactos dos celulares no Brasil, isso porque,tal como em outros grandes centros urbanos (comoTóquio, Helsinki e Londres), os jovens urbanitasbrasileiros estão certamente entre aqueles que maisfazem uso dessa nova tecnologia (isso é visível a olhonu). Além disso, uma pesquisa com jovens, queainda vivem com seus familiares, tem a vantagem depermitir a investigação de questões de interessecentral para a Psicologia: as novas formas deorganização da família, as novas formas de controledos pais sobre os filhos, a relativa independênciadestes em relação àqueles, as alterações que

ocorrem na esfera de sua sociabilidade e privacidade(dado que ambas passam a escapar do controle dospais) etc.

No que se segue, é feito um relato das diversas etapasde uma pesquisa exploratória guiada por essesprincípios gerais. Diferentemente dos estudosetnográficos de amplo escopo discutidos acima, essapesquisa tinha por objetivo não somente registrarcomo jovens brasileiros usam seus celulares, masprincipalmente apreender os impactos psicológicosgerados por esse uso. Era necessário, portanto, quese concentrasse em torno de um pequeno grupo deusuários de modo a atingir a profundidade desejada.

Metodologia

Sujeitos

Dada a decisão de estudar a fundo um grupoespecífico de sujeitos, foram estabelecidos algunscritérios de recrutamento: (a) os sujeitos deveriamser jovens entre 18 e 25 anos; (b) para que fossepossível apreender os impactos do uso da novatecnologia, deveriam ter bastante experiência nouso dessa tecnologia, por isso, deveriam ter celularpróprio há no mínimo um ano; (c) para assegurarque teriam aparelhos com recursos sofisticados,deveriam pertencer a camadas sociais de médio aalto poder aquisitivo; (d) para que pudessemfornecer dados a respeito de possíveis alterações naorganização e administração familiar, deveriammorar com outras pessoas (pais, avós etc.); (e) todosos sujeitos deveriam viver na cidade do Rio deJaneiro, lugar da realização da pesquisa. Não foramfeitas quaisquer restrições a sexo ou profissão. Essesdados foram, no entanto, coletados.Com base nesses critérios, foram recrutados vintesujeitos – 14 mulheres e 6 homens – a partir deindicações de usuários conhecidos dospesquisadores. À exceção de uma advogada de 23anos e de um auxiliar de escritório de 22, todoseram estudantes de 2º ou 3º grau. Todos moravamcom um ou mais membros da família. Suas idadesvariavam entre 18 e 25 anos (a média era de 21anos) e seu tempo de uso de celulares entre 2 e 9anos (a média era de 4 anos).

Coleta de Dados

Os dados foram coletados por meio de vinteentrevistas individuais de cerca de uma hora deduração. De modo a torná-las informais edescontraídas, todas as entrevistas foram realizadasem locais escolhidos pelos próprios sujeitos. Talprocedimento foi adotado porque, para investigara fundo o que é dito pelos entrevistados, éfundamental que eles não se sintam inibidos epossam abrir-se com o entrevistador (a esse respeitover, por exemplo, Labov, 1973, e Nicolaci-da-Costa,1989).

Ana Maria Nicolaci-da-Costa

Page 6: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

87

Para guiá-lo, o entrevistador dispunha de um roteiroconstruído com base nos objetivos exploratóriosda pesquisa (a respeito da construção de roteiros,ver Nicolaci-da-Costa, 1989). O roteiro eracomposto de 30 itens principais que serviram debase para as perguntas. Estas eram formuladasdurante a própria entrevista para evitar que fossemlidas e, em conseqüência, soassem artificiais (aentrevista deveria assemelhar-se, tanto quantopossível, a um bate-papo informal). Esses 30 itens/perguntas poderiam ser desmembrados em outros,para maior aprofundamento. A maior parte desseroteiro era composta de itens/perguntas abertos(que permitem qualquer tipo de resposta). Quandonecessários, eram incluídos itens/perguntasfechados (cujas respostas são sim e não), sempreseguidos de perguntas de aprofundamento, como:“por quê?”; “como?”; “onde?”, “dá para explicarmelhor?”.

Os itens/perguntas do roteiro eram agrupados emblocos que abordavam os seguintes tópicos: asdiferenças entre o telefone fixo e o celular, a rotinade uso do celular do entrevistado, como este serelacionava com o seu celular (como se sentiaquando o emprestava, quando os outros mexiamnele, quando o esquecia ou não funcionava etc.),e, finalmente, como o entrevistado via aprivacidade e a intimidade na era do celular.

Para que o leitor possa ter uma idéia de como eraconstruído esse roteiro, seguem-se os itens/perguntasdo primeiro bloco, que são os que mais interessamà presente discussão.

Diferenças entre o telefone fixo e o celular: quais asprincipais diferenças entre o telefone fixo e ocelular, quando usa um ou o outro (por que), qualtelefone dá primeiro (por que), qual usa paraconversas privadas (por que), para qual os amigosligam primeiro (por que), para qual o entrevistadoliga primeiro quando quer falar com os amigos(por que), para qual o entrevistado liga primeiroquando não tem intimidade com o interlocutor(por que), para qual liga primeiro quando temintimidade (por que).

Análise dos Dados

Todas as entrevistas foram integralmente transcritase submetidas às técnicas de análise qualitativa dediscurso, desenvolvidas por Nicolaci-da-Costa(1989; 1994; ver também Nicolaci-da-Costa,2002b e c). De forma muito resumida, essa análiseé realizada em duas grandes etapas. Na primeira –a da análise intersujeitos –, são reunidas todas asrespostas de todos os sujeitos a cada um dos itens/perguntas, o que propicia uma visão panorâmicados depoimentos gerados por cada um dessesitens/perguntas. As respostas recorrentes nosdiscursos coletados e analisados nessa etapa já nos

apontam os primeiros resultados – ou seja, astendências centrais das respostas dadas pelo grupocomo um todo –, embora estes ainda sejaminconclusivos. Já na segunda etapa – a da análiseintra-sujeitos –, tomam-se as respostas de cada umdos sujeitos como um único conjunto dentro doqual são analisados possíveis conflitos de opiniões,inconsistências entre respostas, sentimentoscontraditórios etc. Com o insight ganho nessasegunda etapa, retorna-se à primeira e reanalisam-se os conjuntos das respostas dadas por todos ossujeitos a cada uma das perguntas. Esse vai-e-vem(que pode ser repetido quantas vezes necessário)permite que o material coletado seja dominado afundo e torna possível detectar, além de vários não-ditos (pois o que não é verbalizado em uma respostapode ser claramente sugerido em outra), ospormenores de sentimentos, conflitos internos eporquês que a pesquisa se propõe a revelar.

Resultados Relevantes

Dos muitos resultados obtidos, serão apresentadosnesta seção apenas aqueles considerados relevantespara a identificação da anteriormente discutidapassagem da modernidade para a pós-modernidade do ponto de vista daqueles que porela são afetados. Antes, porém, cabe fornecer aoleitor uma visão geral dos depoimentos obtidos.Os depoimentos dos nossos entrevistados parecemestar em sintonia com o turbulento período detransformações que estamos vivendo. São, em suamaioria, extremamente confusos e contraditórios.Justamente por conta desse pano de fundo, ospontos que apresentam em comum ganham umrelevo especial.

Alguns de nossos sujeitos mal se lembram da épocaem que os celulares não existiam de tão rápida foia sua difusão. Uma entrevistada, por exemplo,afirma:

“Eu tinha onze [anos]... eu lembro que meumotorista... já tinha, porque se a gente precisassefalar com ele ligava de um orelhão pra ele. As amigasnão, eu acho que na época de colégio não tinha isso.Eu me lembro pouco da época sem celular” (CarlaNóbrega,

3 21 anos, estudante de Psicologia, tem o

celular há mais ou menos quatro anos).

Mesmo assim, nossos jovens sujeitos parecem dar-se conta das mudanças introduzidas no uso quefazem de celulares pela popularização econseqüente barateamento de aparelhos e serviçosde telefonia móvel.

Desde o início, os custos (com os quais seus paistinham que arcar) foram sua principalpreocupação. Por essa razão, observações sobrecustos aparecem em todas as entrevistas. Essa

“Eu tinha onze[anos]... eu lembroque meu motorista...já tinha, porque se agente precisasse falarcom ele ligava de umorelhão pra ele. Asamigas não, eu achoque na época decolégio não tinha isso.Eu me lembro poucoda época semcelular” (CarlaNóbrega, 21 anos,estudante dePsicologia, tem ocelular há mais oumenos quatro anos).

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

Page 7: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

88

preocupação foi, no entanto, amortecida com apopularização do uso dos celulares e aconseqüente redução nas tarifas de serviço dosmesmos.

“Ah...eu acho que no começo eu fazia umracionamento de celular... Hoje em dia não pensoduas vezes quando vou ligar pra alguém... Fiqueimais liberal”(Luiz Mello, 24 anos, estudante deEngenharia Elétrica, tem celular há três anos e meio).

“Acho que ficou mais popular, né? Antigamenteminha mãe tinha um celular que era de Minas Gerais,porque comprava mais barato. Depois, com essenegócio de cartão, o celular ficou bem popular. Todomundo tem celular. Não é mais aquele acessório deluxo” (Francisco Nóbrega, 22 anos, trabalha comoauxiliar de escritório, tem celular há quatro anos).

Embora essas mudanças sejam registradas, nossosresultados indicam que algumas coisaspermaneceram inalteradas desde a chegada doscelulares ao Brasil. Uma delas é a sempre presentepreocupação com os custos, ainda muito altos parabolsos jovens. Outra, indiretamente decorrente daprimeira, é o discurso que delimita de formaautomática e bastante rígida quando, onde e porquanto tempo telefones fixos ou celulares podemou devem ser usados. De acordo com esse discurso,deve-se usar o telefone fixo (cujas tarifas são bemmais baixas) quando se está em casa. Já o celular(por conta das tarifas altas) deve ser usadoexclusivamente da rua e para chamadas breves.

Esse discurso delimitador é, de fato, o primeiro aser dado automaticamente como resposta àpergunta sobre as diferenças entre o telefone fixo eo celular pela maior parte dos nossos entrevistados.Em praticamente todos os casos, no entanto, bastaque se tente conhecer melhor o uso que esses

jovens fazem de seus celulares em casa para quesurja um outro discurso, que contradiz o primeiroe joga por terra seus limites. Nesse outro discurso,ou contra-discurso, o uso do celular em casaaparece de duas formas diferentes: (a) os sujeitosfalam sobre ele, abertamente, mas não de pronto,no que se refere às chamadas que recebem e pelasquais conseqüentemente não pagam e (b) nodecorrer da entrevista, acabam admitindo fazerchamadas de seus celulares quando estão em casa,mas recorrem a várias situações de exceção parajustificá-las. Seguem-se dois exemplos típicos:

“Eu uso o fixo basicamente quando eu tô em casa, eo celular quando eu tô na rua. Eu não uso o celularem casa. [Se ele toca em casa você não atende?] Euatendo, mas aí não sou em que pago, é a pessoa quepaga. [Você não liga do celular em casa?] Não, a nãoser que seja, por exemplo, a minha mãe tá notelefone, aí eu preciso falar urgentemente com umapessoa, não tem problema, eu ligo” (Vanessa Sá, 21anos, estudante de Psicologia, tem celular há maisou menos três anos).

“É...eu uso...tando fora de casa eu sempre uso ocelular, nunca penso em pegar um cartão telefônicopra usar o orelhão. Agora, estando dentro de casa eunem penso em usar o celular, tando dentro da minhacasa eu uso sempre o telefone fixo. [E em casa vocênão usa?] É, não uso o celular em casa. [Nunca, emnenhuma situação?] Bom, eu uso o celular quandoeu não quero que a pessoa saiba qual é o telefoneda minha casa, que aí a pessoa fica só com o do meucelular e o celular eu controlo se atendo ou não.Deixa eu ver, e também acontece d’eu ligar do meucelular quando eu tô em casa, pô, lá em casa tásempre alguém na internet ou falando no telefone,quando eu não tenho paciência de esperar eu vou epego o celular mesmo. [Quando você quer ter umaconversa privada com alguém, em qual você preferefalar?] No celular, porque aí eu me tranco no quarto...e falo no celular mesmo. É mais uma situação que euesqueci de comentar” (Luís Mello, 24 anos,estudante Engenharia Elétrica, tem celular há trêsanos e meio).

Isso acontece em praticamente todos os casos.Quando indagados sobre o uso que fazem docelular em casa, geralmente sua primeira respostaé a de que nunca o usam, sem qualquer tipo dequalificação. No entanto, ao continuarem a falarsobre o assunto, como aconteceu durante asentrevistas, eles logo admitem que recebemchamadas. É somente após algum tempo de esquivaque revelam usar o celular para ligar para os amigosquando estão em casa. Embora a grande maioriados entrevistados mantenha seus celulares ligados24 horas por dia (e alguns deles revelem chegar acarregá-los para o banheiro), o uso em casa parareceber chamadas – que poderia ser facilmente

“Eu uso o fixobasicamente quando

eu tô em casa, e ocelular quando eu tôna rua. Eu não uso ocelular em casa. [Se

ele toca em casa vocênão atende?] Eu

atendo, mas aí nãosou em que pago, é a

pessoa que paga.[Você não liga docelular em casa?]

Não, a não ser queseja, por exemplo, a

minha mãe tá notelefone, aí eu preciso

falar urgentementecom uma pessoa, nãotem problema, eu ligo”

(Vanessa Sá, 21 anos,estudante de

Psicologia, tem celularhá mais ou menos três

anos).

Ana Maria Nicolaci-da-Costa

Page 8: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

89

admitido sem gerar problemas – não parece paraeles contar como uso porque não envolve custos.Um outro aspecto do discurso delimitadorexemplificado acima é o de que celulares devemser usados para conversas curtas. É isso o que dizJuliana Araújo:

“Acho que celular é assim pra emergência. Celularnão é pra ficar batendo papo” (Juliana Araújo, 22anos estudante de Direito, tem celular há quatroanos).

É também o que deixa claro Roberta França:

“... celular é necessidade, muito dificilmente eu ligopor besteira... se for para ligar para minha casa euligo a cobrar e falo bem rápido” (Roberta França,22 anos, estudante de Psicologia, tem celular hádois anos).

Além de estar associado aos ainda altos custos, ouso dos celulares para conversas rápidas pareceremeter aos primeiros momentos de suaimplantação, nos quais era freqüentementevinculado a casos de necessidade, urgência ouemergência. Nesses primeiros momentos, muitospais deram celulares aos filhos para que pudessemter mais tranqüilidade, na medida em quepoderiam localizá-los e ser por eles localizadosem casos de necessidade ou emergência em umacidade violenta como o Rio de Janeiro.

Naquela época, poucos tinham celulares, osaparelhos e serviços eram pouco atraentes, oscustos eram exorbitantes e os jovens faziam delesum uso parcimonioso. Então, os telefones celularestinham a principal função de transmitir segurançatanto a pais quanto a filhos. Essa função nãodesapareceu, como podemos ver nos depoimentosque se seguem.

Flávia Dantas acha muito bom ter um celularporque:

“... eu moro muito longe de onde eu estudo, deonde eu trabalho. Meus pais já se preocuparam muitocom a minha demora, com o trânsito, violência. Épara mim uma segurança, é de eu estar de repentenum carro e acontecer alguma coisa e eu ter a quemchamar... É uma segurança” (Flávia Dantas, 22 anos,estudante e estagiária de Direito, tem celular hádois anos).

João Martins, embora não goste muito de carregaro celular para todos os lugares, afirma nãodispensar seu uso por razões análogas:

“... não gosto muito de celular, de carregar, éimportante, mas é meio chato. [Por que éimportante?] Para a minha segurança... é sempre

importante ter um celular na mão para o que der evier” (João Martins, 18 anos, estudante de 2

o grau,

tem celular há três anos).

Com a difusão da telefonia celular e obarateamento dos serviços, no entanto, amanutenção da segurança deixou de ser a funçãoprioritária do uso de celulares. Praticamente todosos jovens passaram a tê-los e a usá-los nos maisdiversos lugares e horas (inclusive em casa, comojá vimos) para comunicar-se continuamente comos amigos e conhecidos. De acordo com odepoimento de Carla Nóbrega:

“No começo eu usava mais por necessidade,atéporque meu pai dava e era ele que pagava...Eratipo assim, ele pagava e falava aquela coisa ‘pô,toma cuidado, usa pro necessário’, se precisou falarcom alguém, se não, liga de casa.Então eu acho queeu cumpri muito mais isso. Hoje em dia não... Hojesou eu que pago, não é meu dinheiro, é uma mesadaque ele me dá na verdade, enfim,é meu porque euadministro aquele dinheiro. Daquele meu que eutiro, entretanto se eu tiver no trânsito muito chato euvou pegar pra bater papo, passar o tempo. Então, euacho que meu uso] mudou. Eu não tenho mais aquelapreocupação de só ligar o básico, necessário”(CarlaNóbrega, 21 anos, estudante de Psicologia, tem ocelular há mais ou menos quatro anos).

Embora mais baratos, no entanto, os custos datelefonia celular ainda continuam altos. Por issomesmo, o discurso da emergência, urgência ounecessidade parece persistir para justificar o usobastante variado e pouco comedido que fazem deseus celulares nossos jovens entrevistados. Esse foium dos resultados mais consistentes e interessantesda pesquisa, estando presente nos depoimentosde praticamente todos os entrevistados.

Bons exemplos desse discurso podem serencontrados nas respostas de Felipe Mattoso eBianca Falcão. Felipe afirma usar o celular somentepara emergências:

“As situações básicas de eu usar o celular sãoemergências, quando geralmente eu preciso ligarpra alguém, naquela hora que eu não estou em casa,entendeu?” (Felipe Mattoso, 24 anos, estudante deInformática, tem celular há mais ou menos quatroanos).

E o que é uma emergência para ele?

“Emergência é a gente ter que encontrar [alguém]em algum lugar, alguma hora, e pra entregar umtrabalho. Isso pra mim é uma emergência.”

De modo análogo, Bianca declara usar seu celularprincipalmente para situações de emergência, poiscelular não é para ficar batendo papo:

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

Page 9: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

“Eu uso o celular ... principalmente pra emergência,quando eu tô fora de casa, ligar pra minha mãe,avisar alguma coisa ... Celular é mais pra emergência.Não pra ficar conversando, batendo papo (BiancaFalcão, 21 anos, estudante de Medicina, temcelular há dois anos e meio).

Também para ela, emergência tem um significadopeculiar que rompe com sua definição tradicional.De acordo com esse novo significado, um mal-estar, por exemplo, surpreendentemente deixa deser prioritário:

“Emergência é tipo, avisar pra minha mãe onde eutô, pra onde eu vou, ou, caso mesmo se ela tiver queme buscar em algum lugar, ou se eu tiver passandomal mesmo, aí tudo isso eu uso o celular”.

4

Esse novo significado parece ser o mesmo dado aurgência ou emergência pela maioria dosentrevistados. Vanessa Sá descreve bem o queparece ter acontecido, quando comenta anecessidade que hoje se tem de falar com os outrosimediatamente:

“É uma coisa mais recente isso... porque antigamentenão existia celular e as pessoas ligavam pra outra, setivesse ocupado fazer o que, né? Ligava depois. Masaí, depois que apareceu o celular já tem essa... essavontade de falar com a pessoa naquele segundo,mesmo que não seja uma coisa imediata, nadaespecial, mas quando você liga pra uma pessoa vocêquer falar com ela a todo o custo... Às vezes não énem uma coisa emergência, mas por exemplo,aconteceu uma coisa comigo e eu quero falar com aminha amiga urgentemente. Aí, eu ligo pro celulardela. Mas às vezes eu espero pra ligar de noite,quando eu sei que eu vou ficar falando algum tempocom a pessoa” (Vanessa Sá, 21 anos, estudante dePsicologia, tem celular há mais ou menos três anos).Essa é, portanto, segundo a própria Vanessa, umaurgência não urgente.

São, contudo, os depoimentos de Sandra Romeroe Roberta França que tornam evidente o confusoprocesso de redefinição do que é uma emergência.

“É, telefone celular, eu, eu ligo, sei lá, a princípiomais por urgência, mas às vezes eu ligo para alguéme acabo esquecendo que liguei do celular, tipo passoum tempão no celular” (Sandra Romero, 18 anos,estudante de Biomedicina, tem celular há três anose meio).

“Hoje é mais emergência, mais necessidade, o usonuma necessidade, não emergência que parece queaconteceu alguma coisa. Assim, às vezes um avisaralguém de alguma coisa é uma necessidade”(Roberta França, 22 anos, estudante de Psicologia,tem celular há dois anos).

Passamos, portanto, pela urgência não urgente deVanessa Sá e pela urgência que leva a um papo dehoras de Sandra Romero para finalmentechegarmos à emergência que não é uma“emergência que parece que aconteceu algumacoisa” de Roberta França. Emergência e urgênciaparecem ter sofrido redefinições.

Discussão

Os resultados acima tornam evidente quecaracterísticas da modernidade e da pós-modernidade coexistem não somente no planosocial. Essa coexistência aparece nitidamente nasvárias contradições que permeiam os depoimentosdos nossos entrevistados, o que indica estar presenteno íntimo desses jovens sujeitos.

Um bom exemplo da influência da modernidadesobre esses sujeitos é o discurso que delimita comprecisão onde, quando e por quanto tempo ostelefones fixos e os celulares devem ser usados.Esse discurso, que, como foi visto, estáaparentemente pronto para consumo, parece seroriginário das demarcações que geravam a solideze as estrias do tecido moderno, das quais nos falamBauman (2001) e Deleuze & Guattari (1997)respectivamente. Nele, enquanto o telefone fixo évinculado ao uso em casa para conversas curtasou longas, o celular é vinculado ao uso na ruasomente para conversas curtas. Esses dois tipos deuso parecem ser separados um do outro pormembranas impermeáveis como aquelas descritaspor Meyrowitz (1999) e discutidas anteriormente.O discurso moderno é, no entanto, desconstruídopelo relato que os mesmos sujeitos fazem a respeitode sua prática pós-moderna de uso de telefonescelulares. Nessa prática, não há lugares nem tempodeterminados para nada. Tudo passa a ser fluido eliso, como é característico da pós-modernidade(novamente de acordo com Bauman e Deleuze &Guattari). As membranas impermeáveis, que odiscurso do “fixo em casa” sugeria existirem entre osusos de telefones fixos e celulares, provam já seterem tornado porosas o suficiente para permitir ainterpenetração de usos e espaços.

Já o discurso da “emergência”, ao qual se contrapõea intensa sociabilidade à distância dos nossosjovens entrevistados, revela algo mais do que umacontradição. Sua análise permite entrever umprocesso de diluição e fusão de significados queleva à interpenetração de campos semânticos, cujasmembranas, antes impermeáveis, também setornaram porosas. Vejamos em detalhe como issopode ser captado. Comecemos pela contradição.Como já foi dito na seção anterior, o discurso da“emergência”, “urgência” e “necessidade” tem suaorigem nos primeiros tempos da implantação doscelulares no Brasil, quando estes ainda eram pouco

90

Ana Maria Nicolaci-da-Costa

Page 10: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

difundidos e muito caros. Naqueles tempos, ospais davam celulares a seus filhos para que estes osusassem em casos de emergência, urgência ounecessidade tradicionais. Assim sendo, mesmo naépoca em que tanto os aparelhos quanto osserviços de telefonia celular tinham custosexorbitantes, o discurso da “emergência”, “urgência”e “necessidade” legitimava o uso dos celulares empraticamente todos os lugares e horas.

Os tempos mudaram, os celulares se difundiram eseus serviços tornaram-se mais baratos, ou melhor,menos caros. Serviços menos caros levaram,porém, à instauração, entre os jovens, de um estilode vida no qual o celular é constantemente usadopara a manutenção de uma fluida e densa rede desociabilidade. Desse modo, do ponto de vista dequem paga a conta (geralmente os pais), serviçosmais baratos não reduziram os custos. Essas razõesfinanceiras fazem com que pais e mães continueminsistindo na necessidade de um uso parcimoniosodo celular por parte de seus filhos. Estes, noentanto, já haviam aprendido que semprepoderiam se valer da legitimação dada ao seu usocada vez menos comedido pelo discurso da“emergência”, “urgência” e “necessidade”, e, mesmonas entrevistas, continuam a valer-se desse discursoaté o momento em que revelam sua prática de usocotidiano.

A utilização desse discurso, contudo, parece terconseqüências mais duradouras e profundas doque se pode supor à primeira vista. As contradiçõesdetectadas entre o discurso do uso paraemergências e a intensa e praticamente ininterruptaprática de manutenção de uma fluida rede socialpermitem apreender um interessante processo deinterpenetração de campos semânticos.Repassemos brevemente o que já foi visto paratorná-la clara.

Quando os pais deram os celulares aos filhos,buscavam a segurança destes, segurança essa queestava intimamente associada a situaçõestradicionais de emergência ou necessidade (comopequenos e grandes acidentes no trânsito, mal-estares inesperados etc.). Os celulares tornaram-se, portanto, uma garantia da segurança dos jovense da tranqüilidade dos pais.

Os jovens absorveram tanto essa sensação de(relativa) segurança quanto o discurso de seus paissobre o uso de celulares somente para casos deemergência, urgência e necessidadeconvencionais. Com a difusão da telefonia celular,porém, esses mesmos jovens passaram a deixar delado essa restrição e a usar seus celularesprimordialmente para manter contato constantecom amigos, namorados, conhecidos etc. Noentanto, dado que seus pais continuavam (e

continuam) a insistir em alguma forma de contençãode custos, passaram a recorrer ao discurso da“emergência”, “urgência” e “necessidade” parajustificar seus excessos.

À primeira vista, essa série de pequenastransformações discursivas poderia ser qualificadacomo apenas mais uma instância da capacidadede manipulação de que os jovens costumam sercapazes quando querem alguma coisa. Contudo,no atual contexto pós-moderno descrito naintrodução deste trabalho, essas transformaçõespodem indicar muito mais do que uma simplesmanipulação. Nesse contexto, no qual fronteirassão diluídas e a experiência se torna fluida porqueas membranas que separavam o que “era” do que“não era” estão se tornando cada vez maispermeáveis, esse conjunto de pequenas manobrasparece estar tendo conseqüências maispermanentes e profundas, isso porque um outroimportante deslizamento de significado se somaàqueles já mencionados. Este último é decorrentedaquela que é quase unanimemente apontadacomo característica distintiva da pós-modernidade:a do imediatismo (ver, entre outros, Jameson, 1991,Bauman, 1997, 2001, Harvey, 1989, Eagleton,1996, Sennett, 1998).

Na realidade, em vários dos depoimentoscoletados, fica claro que nossos sujeitos partem dopressuposto de que seu desejo de contato com osoutros deve ser imediatamente satisfeito. Oimediatismo pós-moderno parece, portanto,exercer influência sobre eles. Minimamente, parecelevá-los a equacionar a satisfação imediata de seuconstante desejo de contato com os outros àsrespostas e ações imediatas geradas por situaçõestradicionais de emergência, urgência ounecessidade (que geralmente envolvem risco). Éisso o que o depoimento de Vanessa Sá, citado naseção anterior, indica exemplarmente quando fazreferência ao fato de ela insistir em falar“imediatamente com quem deseja mesmo nãosendo uma coisa de emergência”. Essa tambémparece ser a razão que leva Roberta França a fazera confusa afirmação de que usa seu celular emsituações de emergência que não se qualificamcomo “emergência que parece que aconteceualguma coisa”.

Uma consulta ao tradicional Dicionário Aurélio(1975) mostra que as falas “prontas” dos nossosentrevistados se encaixam bastante bem em trêscampos semânticos, que eram distintos no períodomoderno.

Nesse período, segurança e tranqüilidade davamcobertura a um mesmo campo semântico.Segurança passava a idéia de garantia, de seguro,enquanto tranqüilidade sugeria significados 91

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

Page 11: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

semelhantes: paz de espírito, calma, ordem etc. Aíse encaixam as razões para que os pais equipassemseus filhos com aparelhos celulares.

De forma análoga, um outro campo semânticoera composto por conceitos como: necessidade(aquilo que é absolutamente necessário, queconstrange, compele ou obriga de modo absoluto),urgência (situação em que algo é necessário e deveser feito com rapidez) e emergência (situação deurgência, situação crítica, acontecimento perigosoou fortuito). Aí se encaixa o discurso da urgência,emergência e necessidade convencionais.

Esses dois campos semânticos independentes erambastante distintos do campo semântico leigocoberto pela palavra “desejo” (vontade de possuirou de gozar, anseio, aspiração), no qual se encaixaa “vontade” (desejo, decisão ou determinaçãoexpressa) de ter contato com os outros nas situaçõesmais variadas por meio dos celulares, repetidamentemanifestadas por nossos entrevistados.

Acontece, porém, que, no período moderno,podia-se esperar. Desse modo, o campo semânticocoberto pelas palavras “desejo” e “vontade” estavaem grande parte associado ao adiamento da suasatisfação. Já no período pós-moderno, vivemossob a égide do imediatismo. Em um mundo veloze voraz, tudo tem que ser fruído instantaneamente.Esse imperativo da instantaneidade parece explicaro que está por trás dos depoimentos que colhemos.Uma diluição de fronteiras gerou a fusão doscampos semânticos de segurança/tranqüilidade eurgência/emergência/necessidade. Esse processo dediluição e fusão, que ocorreu por razões bastantepragmáticas, deu origem ao discurso da urgência,emergência ou necessidade tradicionais, usado porpais e filhos para legitimar o uso de celulares porparte dos nossos jovens sujeitos em um primeiromomento.

Em um segundo momento, esse mesmo discursopassou a ser usado pelos jovens para justificar seusexcessos no uso de celulares. Ocorreu, então, umoutro interessante processo de diluição e fusão de

campos semânticos. Por conta do imperativo dainstantaneidade contemporâneo, no caso dosnossos entrevistados, os significados modernos denecessidade, urgência e emergência fundiram-seaos significados pós-modernos de “necessidade”,“urgência” ou “emergência” de satisfação do desejode contato com os outros, devido ao fato de esses seterem tornado adultos em um mundo no qual asatisfação de desejos e vontades tornou-se uma“necessidade que requer satisfação imediata” e –não é difícil associar – “necessidades que requeremações imediatas” configuram-se como urgênciasou emergências.

Os resultados apresentados indicam que estamosdiante da interpenetração de campos semânticos,cujas membranas se tornaram porosas, assimpermitindo que os significados passassem a fluir deum para outro livremente. Muito provavelmente,são processos como esse, que tivemos a felicidadede captar, que estão dando à pós-modernidadesuas características fluidas e lisas.

Considerações Finais

Nisbet (1966) relata uma interessante observaçãodo historiador Eric Hobsbawn. Segundo ele,Hobsbawn afirmava que palavras falam mais altodo que documentos. Com isso, queria dizer quemudanças radicais ganham concretude nas palavrasque são cunhadas ou têm seus significadosmodificados para descrever uma nova realidade.Por essa razão, Nisbet assinala, o período demudanças radicais gerado pela Revolução Industriale pela emergência do capitalismo (compreendidoentre o final do século XVIII e a primeira metadedo século XIX) foi um dos mais ricos na formaçãode novas palavras e na transformação do significadode antigas (ver, também, Nicolaci-da-Costa, 2002a).Parece que estamos diante de uma nova versãodesse mesmo tipo de fenômeno. A diferença é que,enquanto nos casos anteriores a mudança designificados foi registrada depois de ter sidoconsolidada, no presente caso, o próprio processode transformação dos significados pôde ser tornadovisível.

Ana Maria Nicolaci-da-Costa

92

Page 12: A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade

Recebido 16/05/03 Aprovado 02/01/04

Ana MariaNicolaci-da-Costa

Departamento de Psicologia Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente, 225Rio de Janeiro, RJ – CEP: 22543-900

E-mail: [email protected]

BAUMAN, Z. O Mal-estar da Pós-modernidade. Rio de Janeiro: JorgeZahar.,1997.

__________. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2001.

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

DELEUZE, G. & GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia,vol. 5. São Paulo: Editora 34,1997.

EAGLETON, T. As Ilusões do Pós-modernismo. Rio de Janeiro: JorgeZahar,1996.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: NovaFronteira,1975.

GIDDENS, A. Mundo em Descontrole. Rio de Janeiro: Record,2002.

HARVEY, D. Condição Pós-moderna. São Paulo: Loyola,1989.

JAMESON, F. Pós-modernismo: a Lógica Cultural do Capitalismo Tardio.São Paulo: Ática,1991.

KOPOMOAA, T. Speaking Mobile: the City in Your Pocket. Helsinki:Gaudeamus,2000.

LABOV, W. The Logic of Nonstandard English. In Labov, W., Languagein the Inner City. Philadelphia: University of Pennsylvania Press,1972,pp.201-240.

LEITÂO, C. & NICOLACI-da-COSTA A. M. Psicologia Clínica eInformática: por que Essa Inusitada Aproximação? Psicologia Clínica,12, nº 2, 2000,pp.189-205.

__________ A Psicologia no Novo Contexto Mundial. Estudos dePsicologia (UFRN),2003 ( no prelo).

LEITÃO, C. Os Impactos Subjetivos da Internet: Reflexões Teóricas eClínicas. Tese de Doutorado não-publicada, Curso de Pós-Graduaçãoem Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.Rio de Janeiro,2003.

LYOTARD, J. F. A Condição Pós-moderna. Rio de Janeiro: JoséOlympio,1979.

MEYROWITZ, J. Global Permeabilities. In Larreta, E.R. (org.). Mediaand Social Perception . Rio de Janeiro: UNESCO, ISSC,EDUCAM,1999,pp.423-441.

NICOLACI-da-COSTA, A. M. Revoluções Tecnológicas eTransformações Subjetivas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18, nº 2,2002a, pp.193-202.

______________________. Internet: a Negatividade do Discursoda Mídia Versus a Positividade da Experiência Pessoal. À qual DarCrédito? Estudos de Psicologia (UFRN), 7, nº 1,2002b,pp. 25-35.

______________________. Quem Disse que é Proibido Ter PrazerOnline. Identificando o Positivo no Quadro de Mudanças Atual.Psicologia: Ciência e Profissão, 22, nº 2,2002c,pp. 12-21.

______________________. A Análise de Discurso em Questão.Psicologia: Teoria e Pesquisa, 10, nº 2, 1994,pp.317-331.

______________________. Questões Metodológicas Sobre aAnálise do Discurso. Psicologia: Reflexão e Crítica, 4, nº 1/2,1989,pp.103-108.

NISBET, R .A. The Sociological Tradition. New York: Basic Books,1996.

PLANT, S. On the Mobile: the effects of Mobile Telephones on Socialand Individual Life. http://www.motorola.com/mot/documents/0,1028,296,00.pdf,2002 [Acesso em maio de 2002].

RHEINGOLD, H. Smart Mobs: the Next Social Revolution. Cambridge,Mass.: Perseus Books,2002.

ROBERTS, CRABTREE & NATHAN, S; CRABTREE, J. & NATHAN, M.MobileUK - Mobile Phones and Everyday Life. Isociety. http://www.theworkfoundation.com/research/isociety/MobileUK_main.jsp[Acesso em março de 2003].

ROMÃO-DIAS, D. Nossa Plural Realidade: um Estudo Sobre aSubjetividade na Era da Internet. Dissertação de Mestrado não-publicada, Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,2001.

SENNETT, R. A Corrosão do Caráter: Conseqüências Pessoais doTrabalho no Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record,1998.

TURKLE, S. Life on Screen: Identity in the Age of the Internet. New York:Touchstone Edition,1995.

VATTIMO, G. O Fim da Modernidade: Niilismo e Hermenêutica naCultura Pós-moderna. São Paulo: Martins Fontes,1985.

VIRILIO, P. O Espaço Crítico. São Paulo: Editora 34,1993.93

A Passagem Interna da Modernidade para a Pós-modernidade