MODULO 2 Redação Oficial

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  • 8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial

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    Curso

    rgumentação e Redação

    Oficial de Peças e Pareceres

    Módulo II

    Redação Oficial

    Renato Cabral Rezende

    Ormezinda Maria Ribeiro

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     1Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    O que é mais difícil não é

    escrever muito; é dizer

    tudo, escrevendo pouco.

     Júlio Dantas

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     2Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Organização e diagramação: Ormezinda Maria RibeiroRevisão: Eni Abadia Batista

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     4Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Sumário

    APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 

    2  REDAÇÃO OFICIAL .................................................................................................................... 8 

    2.1 CARACTERÍSTICAS DA REDAÇÃO OFICIAL ................................................................... 8 

    2.1.1 USO DA VARIEDADE PADRÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA ..................................................... 13 2.1.2 ALGUNS DEFEITOS RECORRENTES EM TEXTOS ......................................................... ............. 19  Ambiguidade....................................................................................................................................... 20 Pleonasmo e tautologia .................................................................................................................. 21 Cacófato ............................................................................................................................................... 23 

    2.1.3 IMPESSOALIDADE ....................................................................................................................... 25 2.1.4 CLAREZA E CONCISÃO ................................................................................................................ 28 

    2.2 DOIS GÊNEROS ESPECÍFICOS DE CIRCULAÇÃO JURÍDICA: PEÇAS  EPARECERES  ........................................................................................................................................ 39 

    2.2.1 A PEÇA EXORDIAL ...................................................................................................................... 40 2.2.2 O PARECER JURÍDICO ............................................................................................................... 53 

    3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 74 

    REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 77 

    SUGESTÕES DE LEITURA COMPLEMENTAR  ......................................................................... 78 

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     5Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    APRESENTAÇÃO

    Caros e caras cursistas:

    É com satisfação que iniciamos o último módulo de nosso

    curso. Estudaremos nesta etapa final alguns aspectos do tema Redação

    Oficial.

    Sim, deve-se falar em Redação Oficial como um "tema"

    porque ele abrange diversos aspectos de produção textual para fins de

    comunicação na/da Administração Pública. É dessa forma que se pode

    definir, de forma abrangente, Redação Oficial: como o Estado demanda

    como devem ser realizadas suas comunicações e seus atos normativos

    escritos.

    Inúmeros são os manuais sobre este tema. O principal delesé o Manual de Redação da Presidência da República. Todas as referências

    e citações que fizermos a ele neste módulo do curso serão com base no

    arquivo que está disponível neste endereço:

    Por meio de uma rápida busca na internet você verá

    encontrará outros; todos eles são, de alguma forma, inspirados ou

    espelhados no Manual da Presidência da República. Se você observar o

    sumário de mais de um manual de redação oficial, perceberá que são

    assaz semelhantes em seu conteúdo. Em sua grande maioria, eles

    .

    http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdfhttp://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdfhttp://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdfhttp://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf

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     6Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    abordam as características basilares da Redação Oficial 1)

    impessoalidade; 2) uso do padrão culto da língua; 3) concisão e clareza;

    4) formalidade e 5) uniformidade e, a partir delas, focam aspectos

    normativos ortográficos e gramaticais (como aspectos de acentuação eortografia correta segundo a norma padrão da língua, pronomes de

    tratamento, etc.), aspectos textual-normativos micro, isto é, referentes

    a aspectos sintáticos da estrutura interna de textos oficiais, como formas

    de saudação ou de conclusão de comunicações oficiais, por exemplo; ou

    ainda, aspectos textual-normativos macro de gêneros textuais oficiais,

    referentes à estrutura global um de gêneros textuais como estrutura da

    ata, estrutura do ofício, da circular, estrutura do parecer, dorequerimento, dentre tantos outros.

    Este módulo não é um Manual de Redação Oficial. Nem

    pretende sê-lo.

    Temos outra proposta para você, caro/a cursista. Ela tem três

    dimensões:

    1) vamos refletir sobre o porquê de a linguagem da redação

    oficial ter as cinco características que tem;

    2) vamos relacioná-la com a linguagem jurídica, discutindo,

    desta última, o vocabulário, a sintaxe e a redação jurídica;

    3) vamos discutir dois gêneros textuais específicos do

    domínio discursivo jurídico, a saber, a peça e o parecer jurídico.

    Nosso objetivo com esta proposta é o de fazer com que você

    compreenda a natureza histórico social da redação oficial e entenda,

    como corolário, seus aspectos linguísticos "micro" (vocabulário e sintaxe)

    e "macro" (a estrutura composicional dos gêneros selecionados para

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    estudo). Para isso, trabalharemos com textos diversificados, bem como

    com o modelo da peça exordial e do parecer jurídico, que nos auxiliarão

    na realização de nossa tarefa.

    Esperamos que vocês possam aproveitar ao máximo este

    Módulo!

    Vamos juntos? Bons estudos!

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    MÓDULO II

    2  REDAÇÃO OFICIAL 

    2.1 Características da Redação Oficial

    ara entendermos os fundamentos da Redação

    Oficial, é necessário valermo-nos de algumas

    ideias do sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002)presentes em seu ensaio A economia das trocas linguísticas: o que falar

    quer dizer. Nele, Bourdieu realiza uma vigorosa reflexão sobre como a

    linguagem extrapola sua condição de "instrumento de comunicação" ao

    se constituir também como recurso de representação e de distinção

    social: um tipo de capital simbólico.

    Bourdieu afirma que a emergência e consolidação dos

    diferentes Estados nacionais no ocidente só foi possível por meio da

    dominação cultural e simbólica de grupos dominantes sobre os demais,

    dominados. Essa dominação teve na unificação linguística do Estado um

    de seus esteios mais pujantes e decisivos para o forjamento de um

    sentido de unidade cultural destes Estados-Nação. Afinal, como

    argumentam as ideologias nacionalistas, "um povo, uma língua e um

    território" são os três pilares de um Estado-Nacional que se crê forte esoberano.

    É claro que todos/as nós percebemos, porém, que falar em

    unidade cultural e linguística como um fenômeno monolítico em um país

    tão grande e diversificado como o Brasil é um construto teórico.

    Percebemos os diferentes sotaques segundo os diferentes estados e

    regiões do país. Percebemos as diferenças de vocabulário entre os

    cearenses e os gaúchos (a chamada variação linguística diatópica, ou

    P

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    dialetal), e, mesmo, entre gaúchos de classe alta de Porto Alegre, e os

    menos economicamente favorecidos, que vivem nas periferias dessa

    mesma cidade (a chamada variação linguística diastrática, ou de classe

    social). Escrevemos um e-mail ou uma mensagem no celular bastanteinformal para uma amiga e, nos minutos seguintes, como servidoras e

    servidores do Estado, escrevemos um e-mail formal para uma servidora

    da Procuradoria Regional Federal em Sergipe, redigimos uma peça, lemos

    algum parecer de um/a Advogado/a da União.

    Em suma: em meio a tanta diversidade linguística em seu

    interior, o Estado, deve adotar uma variedade linguística para comunicar-

    se com absolutamente todo o conjunto de seus/suas os/as cidadãos/ãs.

    E essa variedade é a variedade padrão. Somos instados pela

    Administração Pública a empregar a variedade culta da língua, também

    chamada de variedade padrão ou norma padrão da língua.

    Vamos entender melhor essa ideia de diversidade

    linguística?

    Toda essa diversidade linguística inerente a uma

    democracia como a nossa, diversidade esta com que o Estado contribui,

    Bourdieu afirma que ela forma um mercado linguístico.

    Essa metáfora não é gratuita. Grosso modo, um mercado não

    é senão uma teia de relações entre agentes econômicos que estão em

    cooperação ou, mais comumente, em competição. Consumidores

    empenham-se em comprar buscando sempre a melhor relação custo

    benefício para si. Empresas, públicas ou privadas, em competição entre

    si, empenham-se em vender seus produtos/serviços também com vistas

    a obter vantagens para si. Agências reguladoras dizem se um produto

    pode ou não a estar no mercado: certificam se ele pode ou não circular

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    como bem (ou serviço) de uso consumo a partir de um modelo,

    estabelecido por meio de regras, do que seja um produto "adequado".

    Você já deve estar se perguntando: "ótimo, e o que Redação

    Oficial tem a ver com tudo isso?"

    Conforme dito acima, para Bourdieu a

    linguagem é mais do que instrumento de

    comunicação, é também recurso de representação e

    de distinção social: um tipo de capital simbólico,

    sendo a norma padrão o recurso linguístico de maior

    prestígio social, mais capital simbólico. Quanto mais

    um agente possuir desse capital, mais chances terá

    de transitar junto aos diferentes agentes deste

    mercado.

    No mercado linguístico brasileiro,

    rappers escrevem poesia em português popular

    urbano; repentistas do sertão nordestino podem

    cantar sua poesia oral em português popular rural,como no poema "Ai se sêsse", do poeta Zé da Luz

    (1902-1965) no banner   ao lado:

    Além disso, há romancistas que

    escrevem na variedade padrão da língua e há os que,

    por outro lado, não: buscam justamente, por meio

    deste recurso, representar os sujeitos desprovidos

    de capital cultural e simbólico. Há editoras que

    editam livros da área jurídica, plenos de jargão

    técnico, há aquelas que editam livros na variedade

    padrão da língua, compreensível para o sujeito

    comum de formação em nível médio e superior.

    Ai se sêsse

     Zé da Luz  

    Se um dia nois se gostasse

    Se um dia nois se queresse

    Se nois dois se empareasse

    Se juntim nois dois vivesse

    Se juntim nois dois morasse

    Se juntim nois dois drumisse

    Se juntim nois dois morresse

    Se pro céu nois assubisse

    Mas porém acontecesse de

    São Pedro não abrisse

    a porta do céu e fosse te dizer

    qualquer tulice

    E se eu me arriminasse

    E tu cum eu insistisse pra que

    eu me arresolvesse

    E a minha faca puxasse

    E o bucho do céu furasse

    Tarvês que nois dois ficasse

    Tarvês que nois dois caisse

    E o céu furado arriasse e as

    virge toda fugisse

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    Neste sentido, o Estado é um agente regulador do mercado

    linguístico. Ele se vale de diferentes instrumentos para determinar uma

    espécie de "padrão de qualidade" de como deve ser a comunicação - e a

    própria representação que se faz da língua - dele com outros agentes;desses agentes com ele e, claro, em seu interior. Ou seja: o Estado é um

    dos agentes normatizadores do que seja a norma padrão da língua

    portuguesa no Brasil.

    E é exatamente aí que se situa a Redação Oficial. Ela encarna

    um conjunto de expectativas - de representações - do que é um bom

    escrever na variedade padrão da língua portuguesa, expectativas essas

    que são expressas como recomendações, sendo o Manual de Redação da

    Presidência da República, sem sombra de dúvida, um desses

    instrumentos de regulação, de construção da norma padrão; um

    instrumento de normatização linguística, enfim, dentro do e para o

    Estado.

    Ora, então vejamos: se o Estado é um agente regulador do

    mercado linguístico brasileiro, e se ele próprio, no Manual de Redação daPresidência da República, determina que "redação oficial é a maneira pela

    qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações" (p. 03), ela

    deve ser a representação simbólica de atributos que o próprio Estado

    requer para si vis à vis seu funcionamento administrativo:

    Art. 37, CF/88. A administração pública direta e indireta de

    qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,

    moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...)

    É com base no Art. 37, CF/88, que a redação oficial é

    pensada. Afinal, se a publicidade é um dos princípios da administração

    pública, do ponto de vista linguístico as comunicações oficias e atos

    normativos devem se manifestar por inteligibilidade na leitura: qualquer

    cidadã/ão com formação média deve ser capaz de compreender um texto

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    oficial; e qualquer comunicação oficial deve ser passível de uma única

    interpretação. Vejamos o que o Manual de Redação da Presidência da

    República diz acerca disso:

    A transparência do sentido dos atos normativos, bem como suainteligibilidade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável

    que um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade

    implica, pois, necessariamente, clareza e concisão (p.03).

    [...]

    elas [as comunicações oficiais] devem sempre permitir uma única

    interpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exigecerto nível de linguagem (idem).

    Portanto, é com base no Art. 37, CF/88, que a redação oficial

    é pensada em cinco características:

    1) uso da variedade culta da língua;

    2) impessoalidade;

    3) clareza e concisão;

    4) formalidade;

    5) uniformidade.

    Vamos ver cada uma delas separadamente?

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     13Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.1.1 Uso da variedade padrão da língua portuguesa

    Em meio a tanta diversidade linguística em seu interior, o Estado

    deve adotar uma variedade linguística para comunicar-se com

    absolutamente todo o conjunto de seus/suas os/as cidadãos/ãs. E essa

    variedade é a norma padrão ou norma culta da língua portuguesa.

    OK, mas do que ela é feita? Essa pergunta é

    fundamental.

    Maurizzio Gnerre, em seu livro Linguagem, escrita

    e poder, explica, com base nas ideias de Bourdieu, que

    a norma padrão é a fala e a escrita das classes economicamentedominantes de um determinado país e que se apoderaram,

    historicamente, do poder de Estado. É a fala dos falantes pertencentes a

    esta classe e, mais particularmente, os atores econômicos desta classe

    que atuam no mercado linguístico, que configura a norma padrão ou

    norma culta.

    Sua origem está no que estes atores detentores de poder

    econômico e poder político consideram como exemplos de linguagem de

    excelência. E, não raro, escritores contemporâneos à formação de um

    dado Estado nacional são adotados como modelos dessa excelência. E

    escritores do presente também. Não é à toa que gramáticas da língua

    portuguesa - e é assim que, em larga medida, se aprende na escola -

    sempre se valem de fragmentos textuais de José de Alencar, Machado de

    Assis ou Graciliano Ramos para exemplificar a norma culta da língua.

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     14Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Mas hoje não falamos e escrevemos mais exatamente

    como se falava e se escrevia no século XIX, não é mesmo?

    Exatamente! As línguas estão em constante - mas

    lenta - mudança. O próprio Manual de Redação da Presidência da

    República reconhece isso quando afirma que

    A redação oficial não é, portanto, necessariamenteárida e infensa à evolução da língua. É que suafinalidade básica –  comunicar com impessoalidade emáxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso quese faz da língua, de maneira diversa daquele daliteratura, do texto jornalístico, da correspondênciaparticular, etc. (p. 03).

    Ora, mas que confuso! Como assim a norma padrão, ensinada nas

    gramáticas e nas escolas, baseia-se nos grandes mestres da literatura

    mas, paradoxalmente, "impõe certos parâmetros ao uso que se faz dalíngua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto jornalístico"?

    Essa norma padrão da língua portuguesa existe realmente?

    Essa última pergunta é importantíssima. Quem a responde muito

    bem é o linguista Marcos Bagno em seu livro O português são dois.

    A norma padrão é caracterizada por um embate entre norma

     padrão enquanto língua ideal X norma padrão enquanto ideal de língua.A norma enquanto língua ideal é aquela que alguns agentes do

    mercado linguístico praticam: textos instrucionais em livros didáticos e

    técnicos, editoriais de jornais de grande circulação nacional, redações de

    concursos públicos e... na redação oficial. Conforme já dissemos,

    Estado também constrói uma representação simbólica da língua, sendo

    ela a redação oficial. A norma padrão enquanto língua ideal é reconhecida

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     15Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    nestas práticas de linguagem.  Já a norma padrão enquanto ideal de

    língua é aquela presente nas gramáticas normativas.

    Seja em sua materialização como "língua ideal", seja como "ideal

    de língua", a norma padrão - ou norma culta - consiste sempre em umarepresentação simbólica do que essas classes dominantes entendem

    como o "bem falar" e o "bem escrever". Por isso é que dominar a norma

    padrão é, como dissemos mais acima, um tipo de capital simbólico.

    Estudar a redação oficial é, portanto, dominar uma face da norma

    padrão enquanto prática social: a redação oficial.

    E o que o vocabulário, a frase e a redação jurídica têm a ver com tudo isso?

    Embora no universo jurídico não necessariamente se

    adote regras da redação oficial, elas poderão de ser

    grande valor para os operadores do direito. Queremos

    incentivar você, caro/a cursista, a compreendê-las e a

    utilizá-las em sua prática profissional.

    Não basta saber escrever com correção e dominar as regras

    gramaticais. Para uma comunicação eficiente, é preciso observar um

    conjunto de fatores: o vocabulário, sua adequação à audiência, levando

    em conta o nível intelectual, o conhecimento e a faixa etária e interesses

    do auditório ao qual se destina a nossa mensagem, como vimos no

    Módulo I, quando tratamos especificamente do tema argumentação; o

    objetivo da comunicação, as circunstâncias e o canal usado são também

    importantes. Em se tratando de comunicação oral, a postura e

    gesticulação e o tom de voz interferem bastante no processo, pois a

    forma como passamos a mensagem também determina sua

    compreensão. Os recursos extralinguísticos, como o tom de voz, a

    expressão corporal, o olhar, o ritmo, são muitos importantes na

    comunicação oral e concorrem para o entendimento de uma mensagem.

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     16Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Assim, quando temos que transferir a comunicação oral para textos

    escritos, devemos levar em conta que os recursos linguísticos devem ser

    bem escolhidos, para que substituam esses elementos sem prejuízo da

    mensagem. Diferentemente da comunicação oral, quando temos outrosmecanismos para expressar nosso pensamento com clareza e contamos

    com a possibilidade de corrigir em tempo a nossa fala, no texto escrito,

    principalmente porque fica registrado, o cuidado com a correção deve ser

    redobrado.

    Entretanto, a questão da correção não se reduz aos erros de

    ortografia, mas diz respeito também à adequação ou inadequação dos

    usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo empregado.

    Há outras impropriedades: frases ou períodos truncados, violações de

    relações discursivas ao se produzir um texto: a hipercorreção, a falsa

    análise do enunciado, a falsa analogia, a impropriedade lexical, a falta de

    paralelismo sintático ou semântico, dentre outros fatores.

    Por exemplo, o uso de uma variedade popular num gênero em que

    se exige a norma culta, como o texto jurídico, ou o uso de gírias e termoschulos numa situação de comunicação em que sua utilização causa

    estranheza e constrangimento. É preciso considerar que há realizações

    linguísticas que, por descuido ou por falsa análise realizada pelo falante,

    contrariam as regras de organização do sistema linguístico ou não

    cumprem adequadamente a função de comunicar. Esses fatos são

    sentidos principalmente na escrita.

    Para que nosso texto seja bem compreendido, é importante

    observar a ortografia das palavras para evitar incoerências. Isso é o mais

    evidente e superficial em um texto, mas a preocupação com a correção

    deve ir além das questões lexicais e ortográficas. Uma troca de letra pode

    provocar ambiguidade ou alterar o teor da mensagem. Assim como a

    pontuação incorreta. Não se trata apenas de uma questão formal, implica

    mudança no sentido do que se quer dizer.

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     17Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Como vocês sabem, a Procuração é um

    instrumento de mandato. É um gênero textual

    em que um outorgante outorga um mandato

    escrito, no qual ele expressa poderesconferidos a um/a procurador/a.

    É preciso, então, retomarmos o que foi

    tratado no Módulo I, quando foi dedicada uma

    parte à consideração sobre o Auditório. Para que

    a comunicação seja clara, é importante saber qual

    é o nosso auditório. Se particular, ou universal,

    assim como é necessário adequar a linguagem ao

    gênero empregado. Há expressões que são

    usadas apenas por um grupo de pessoas, por um

    auditório particular, pois toda ciência ou profissão

    tem sua linguagem técnica que lhe é peculiar e

    que deve ser empregada em seu contexto. E no

    Direito isso é bastante evidente. Todavia, quando

    se trata de se comunicar com um auditório

    universal, ainda que não se descuide dos termos

    ou jargões próprios da área, o operador do direito

    não pode se esquecer do princípio básico da

    comunicação que é se fazer entender por um

    público mais amplo que os seus pares.

    Obviamente a linguagem técnica jurídica

    deverá será empregada sempre que for preciso,

    nos gêneros específicos requeridos, mas há que

    ser evitado o uso excessivo de um léxico ou

    sintaxe particular que tem se caracterizado por

    uma linguagem indecifrável aos demais falantes

     – simplicidade:

    embora obediente à língua

    culta, seu texto deve ser

    acessível, com o mínimo de

    erudição possível (diga

    “também” ou “igualmente”

    em vez de “outrossim”); 

     – clareza:

    fuja da ambiguidade, do

    “duplo sentido”, da ironia,

    do conteúdo implícito; seja

    explícito em suas ideias;

     – objetividade:

    os juízes e tribunais têm

    pouco tempo; por isso, em

    textos jurídicos, “sendo

    completo, quanto menor,

    melhor”; 

     – correção gramatical:

    é ideal a ser perseguido por

    toda a vida; o único modo de

    se aprender gramática é,

    infelizmente, estudando-a; a

    leitura de escritores clássicos

    ajuda, mas não substitui oestudo da gramática.

    Extraído de: Orientações mínimas

    para redação de peças forenses- Texto

    produzido pelos procuradores da

    República Gustavo Torres Soares e

    Bruno Costa Magalhães

    Um bom texto é simples,

    claro, objetivo e

    gramaticalmente correto: 

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    da Língua Portuguesa, o que se convencionou

    chamar de juridiquês, posto que extrapola ao uso

    comedido e necessário de termos técnicos.

    Uma crítica que se apresenta na sociedadeé que a prática do  juridiquês  não é restrita

    somente a magistrados, como acreditam

    algumas pessoas, mas também a muitos

    advogados, procuradores, promotores, e demais

    profissionais do Direito.

    Certamente, um texto jurídico não podeprescindir de sua linguagem técnica, mas o

    redator terá que observar a função social da

    linguagem nesta área, pois muito mais do que

    produzir peças, aquele que redige este e outros

    gêneros jurídicos tem uma obrigação ética e

    social para a qual precisa sempre levar em conta

    o outro, o destinatário de sua mensagem, em umauditório particular e tendo em vista um auditório

    universal, a sociedade de forma mais ampla que

    quer saber quais direitos estão sendo defendidos

    ou violados.

    Logo, o operador do Direito precisará ter,

    além da linguagem especifica de seu campo

    profissional, uma competência comunicativa tal

    que o ajude a dosar o seu texto, de forma que a

    linguagem técnica não se sobreponha à clareza

    do que está sendo dito.

    Portanto, a redação precisa ser expressa

    por meio de um léxico adequado e uma sintaxe

    clara, bem como os demais níveis de investigação da linguagem

    Entre os vários tipos de

    lexicalização possíveis

    das modalizações,

    podem-se citar:

    •Advérbios: talvez,

    felizmente, infelizmente,

    lamentavelmente,

    necessariamente,

    certamente,

    provavelmente,

    possivelmente, etc.

    •Predicados cristalizados: é

    certo, é preciso, é

    necessário, é provável, é

    obrigatório, etc.

    •Performativos explícitos:

    eu ordeno, eu proíbo, eu

    permito, eu quero, etc.

    •Verbos auxiliares: poder,

    dever, ter que/de, haver de

    precisar de, etc.

    •Verbos de atitude

    proposicional: eu creio, eu

    sei, eu duvido, eu acho, etc.

    •Modos (e tempos) verbais:

    indicativo, subjuntivo,

    imperativo

    Modalizadores

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    20/79

     19Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    (semântica e pragmática) são ferramentas valorosas no exercício do

    Direito no seu sentido lato e estrito.

    Assim, tão importante quanto conhecer as qualidades de um texto,

    que devem ser intrínsecas às características da redação oficial, as quaismencionamos na seção 2.1 deste Módulo - e as quais veremos mais

    detalhadamente -, é salutar conhecer também, para saber evitá-los, os

    principais defeitos de um texto. Trataremos disso panoramicamente na

    seguinte seção.

    2.1.2 Alguns defeitos recorrentes em textos

    Na seção anterior já tratamos das características de um texto oficial

    e das qualidades que devem ser cultivadas para que o texto seja legível

    e efetivo tanto para um auditório particular, quanto para um auditóriouniversal. Vamos agora tratar de

    alguns defeitos que empobrecem

    o texto e que, portanto, devem

    ser evitados.

    Devido à nossa formação

    de um ensino arraigado na

    concepção de que aprender

    gramática garante a escrita de

    um bom texto e que não

    promoveu a compreensão de que

    um bom texto traz em si uma

    gramática implícita, mas é a leitura e o exercício da escrita que fazem o

    bom escritor, em geral, ao escrever nos preocupamos muito com a

    O ensino gramatical que se sistematiza com base

    nessa concepção de linguagem e enformado no

    aspecto prescritivo da língua tem na análise

    sintática e morfológica sua estratégia mais

    tradicional, enfatizando o ensino danomenclatura, que nada acrescenta ao aluno no

    exercício de elaboração das ideias e muito pouco

    auxilia na formatação do pensamento por meio da

    língua.

    (RIBEIRO, 2001, p. 152). 

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     20Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    ortografia ou com outros aspectos formais do texto. Porque fomos

    ensinados em uma escola que se preocupou demasiado com o ensino da

    gramática tradicional e com a estruturação da língua sem fornecer meios

    para tal, resultando em uma ênfase exagerada no ensino danomenclatura, não raras vezes nos deparamos, ao escrever, com

    preocupações do seguinte tipo: esta palavra se escreve com s ou com

    ss? E esta é com x ou com ch?

    Essas questões são fáceis de se resolver, se tivermos

    o cuidado de consultar um dicionário de fazer uma revisãocuidados de nosso texto, mas nem todos se preocupam

    com questões mais centrais da escrita e que efetivamente

    truncam a compreensão do texto, ainda que superficialmente pareça

    correto. Vejamos algumas delas a seguir.

     Ambiguidade 

    A ambiguidade  é, segundo Dubois et al. (1993, p. 45), a

    propriedade de certas frases realizadas apresentarem vários sentidos e

    pode advir do fato de que a frase tenha uma estrutura sintática suscetível

    de várias interpretações, ou decorrer do léxico quando certos morfemas

    apresentarem vários sentidos (RIBEIRO, 2006, p.94).

    Assim posto, pode parecer por demais simplista, se tomarmos essa

    definição literalmente, sem atentarmos para outros aspectos

    concernentes à própria natureza do discurso, da especificidade do gênero

    e seus objetivos. A ambiguidade em um texto nem sempre é uma

    característica negativa. Para os humoristas ela é a coluna dorsal de seu

    texto, para os jornalistas e publicitários pode ser uma excelente

    coadjuvante se bem empregada. Mas em uma comunicação oficial

  • 8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial

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     21Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    dificilmente ela será apropriada. Uma construção ambígua em uma peça

     jurídica pode trazer sérios danos às partes envolvidas no processo.

    Em poucas palavras, podemos afirmar que ocorre ambiguidade 

    quando a frase apresenta mais de um sentido. Ocorre geralmente por mápontuação ou mau emprego de palavras ou expressões. É considerada

    um defeito da prosa, porque atenta contra a clareza. Veja alguns

    exemplos de frases ambíguas:

      O guarda deteve o suspeito em sua casa.

      João saiu com sua irmã.

    Nesses exemplos, a ambiguidade decorre do fato de o possessivo

    sua poder estar se referindo a mais de um elemento (casa do guarda ou do

    suspeito? Irmã de João  ou do interlocutor?). Portanto, é necessário muito

    cuidado no emprego desse pronome. Você pode evitar a ambiguidade substituindo-

    o por dele(s) ou dela(s).

    Pleonasmo e tautologia

    O pleonasmo (ou redundância) consiste na repetição desnecessária

    de um conceito ou de um termo. O termo vem de pleos, em grego, que

    quer dizer "abundante" e significa, em síntese, uma repetição, no falar

    ou escrever, de ideias ou palavras que tenham o mesmo sentido. Assim

    como a ambiguidade, há situações em que pode ser benéfico à

    linguagem, tendo em vista o auditório, os objetivos e o gênero

    empregado. Há situações em que pode adornar a linguagem, quando se

    busca dar força à expressão, nos casos de pleonasmos de estilo.

    A expressão "Vi com meus próprios olhos" pode dar ênfase a um

    texto, todavia, quando se diz " Descer para baixo" fica evidente o

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     22Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    empobrecimento do conteúdo, pois a repetição em nada acrescenta,

    constituindo-se em um vício da linguagem que deve ser evitado.

    O mesmo pode-se afirmar da tautologia, termo que vem de tautos,

    em grego, e que exprime a ideia de idêntico. Há tautologias que nem

    sempre são identificadas, por desconhecimento do real significado das

    palavras, ou porque as expressões já estão de certo modo enraizadas no

    uso que fica difícil percebê-las e eliminá-las.

    Vejam os seguintes exemplos:

      A brisa matinal da manhã enchia-o de frescor e de ânimo.  Ele teve uma hemorragia de sangue e não resistiu.

      O arquiteto definiu o acabamento final  com detalhes

    minuciosos, observando metades iguais para cada lado do

    terreno, porque planejou antecipadamente.

      Porque fez um empréstimo temporário, obteve um

    superávit positivo.

    Percebam que as informações destacadas são redundantes no texto,

    sendo, portanto, desnecessárias, uma vez que nada acrescentam ao

    leitor. Observem também o texto1 a seguir e faça o exercício de, em uma

    segunda leitura, ignorar as palavras e expressões em destaque:

    1 Texto retirado de RIBEIRO, Ormezinda Maria. Ri melhor quem ri na escola: quando o texto humorístico é

    também pedagógico. In: VIEIRA, Sérgio Darci. (org.). Dicas para lecionar. Uberaba: Publi, 2006. p.71-98.

    Depois de fazer planos e projetos para o futuro  a viúva de um falecido, General do

    Exército, considerando o panorama geral, decidiu encarar de frente sua nova vida e, em

    seu habitat natural, criou novos empregos e conviveu  junto com um vereador municipal,

    gastando o erário público. O que a fez exultar de alegria. Mas isso são pequenos detalhes...

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     23Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Não podemos desprezar, no entanto, os textos de bons autores que

    costumam recorrer ao pleonasmo com função estilística, a fim de tornar

    a mensagem mais expressiva. Nesse caso, assim como o uso deliberadoe espirituoso da ambiguidade ou do cacófato para os publicitários e

    humoristas, o pleonasmo não é considerado um defeito. Veja o exemplo

    a seguir:

    Cacófato

    Etimologicamente, a palavra cacófato tem origem em duas palavras

    gregas: kako + phóne, e significa algo que soa mal. A cacofonia (ou

    cacófato) consiste num mau som obtido pela união das sílabas finais de

    uma palavra com as iniciais de uma outra, como nos exemplos a seguir:

      Uma mão lava a outra.

      Estas ideias, como as concebo, são irrealizáveis.  “Alma minha gentil, que te partiste.” (Camões). 

    Veja a seguir uma crônica escrita com uma lista de cacófatos.

    Observe que o seu emprego não foi inadvertido, mas deliberado, tendo

    em vista que a autora fez uso consciente de uma possibilidade linguística

    que em outros gêneros, como os que circulam no meio acadêmico ou no

     jurídico, poderia ser inadequada. A autora considerou os objetivospedagógicos e o público alvo, um auditório universal, os possíveis e

    diversos leitores de um jornal. Assim, apresentou de forma cômica uma

    reflexão sobre um tema relevante para a escrita de textos formais.

    Por fim, além desses defeitos há que se evitar também as frases

    feitas, os chavões, pois empobrecem muito o estilo.

    Vejamos alguns exemplos de chavões:

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     25Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.1.3 Impessoalidade

    Conforme determina o Manual de Redação da Presidência da

    República, na redação oficial, quem comunica, isto é, quem é o emissor, 

    é o Serviço Público; o que se comunica  é um "assunto relativo às

    atribuições do órgão que comunica" (p. 03); o destinatário pode ser o

    conjunto dos cidadãos sobre os quais o Estado exerce sua soberania

    ou outro órgão público. 

    Como teorizou o sociólogo Marx Weber, a burocracia estatal deveser dotada de racionalidade e precisão para seu bom funcionamento. Atos

    administrativos devem ser produzidos pela função servidor público 

    (ocupada, obviamente, por uma pessoa física), em nome do Serviço

    Público (pessoa jurídica sob diferentes formas: autarquia, departamento,

    etc.), e não pelo indivíduo pessoa física com suas idiossincrasias. É neste

    sentido que a impessoalidade deve necessariamente implicar em

    ausência de impressões individuais  tanto por parte da emissão

    quanto por parte da recepção.

    Não custa lembrar ainda - embora isso seja bastante evidente - que

    não é apenas o Poder Público que se comunica somente consigo mesmo

    ou com o conjunto da sociedade, pessoas físicas e pessoas jurídicas.

    Outras pessoas de direito, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, de

    direito privado, também podem comunicar-se com o a AdministraçãoDireta ou Indireta; ou podem provocar o Estado-Juiz, enfim, podem

    dirigir-se ao Poder Público. E, para isso, devem também valer-se dos

    princípios da redação oficial. Afinal, presume-se que o Estado,

    enquanto um dos agentes reguladores do mercado linguístico, só aceita

    ser comunicado com base em  procedimentos textual-discursivos iguais

    ou semelhantes aos de que se vale em suas comunicações.

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     26Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Vamos ver um exemplo disso no gênero procuração?

    Como vocês todos/as sabem, a procuração é um

    instrumento de mandato. É um gênero textual em que

    um outorgante outorga um mandato escrito, no qual eleexpressa poderes conferidos a um/a procurador/a.

    Vejamos um exemplo de Procuração de Pessoa

    Jurídica a seguir2. Após sua leitura, vamos discutir a

    impessoalidade neste gênero jurídico:

    2 Modelo disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2015.

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     27Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    MINISTÉRIO DA FAZENDA

    PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

    PROCURAÇÃO  –  PESSOA JURÍDICA 

    O outorgante: , também denominada , CNPJ nº _________________________, sita a

    , telefone ___________, neste ato representada por

    , constitui , sito a , CNPJ/CPF n°

     _______________________, telefone _____________, como seu bastante

     procurador com o fito específico de representá-la junto à Procuradoria-Geral

    da Fazenda Nacional, com poderes para requerer/solicitar , responsabilizando-se por todos os atos praticados no

    cumprimento deste instrumento, cessando os efeitos deste instrumento  

    após um ano contado da data de outorga.

     __________________,______de______________de______

    (local) (data)

     ___________________________________________________

    (assinatura do sócio com poderes de gerência no contrato social)

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     28Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.1.4 Clareza e concisão

    O princípio da concisão diz respeito a uma máxima: "transmitir

    um máximo de informações com um mínimo de palavras", segundo o

    Manual de Redação da Presidência da República  (p.05). Não há como

    dissociar a concisão da impessoalidade. Se a impessoalidade é o

    preenchimento da função autor, a concisão se manifesta pela ausência

    marcas textuais que super dimensionam a subjetividade enunciativa:

    adjetivos em excesso, por exemplo.

    Que tal pensar a concisão definindo o seu oposto, a

    prolixidade?

    A prolixidade consiste em utilizar mais palavras do que

    o necessário para exprimir uma ideia, é o oposto da concisão.

    Ser prolixo é ficar “enrolando”, “dando voltas”, sem ir direto ao assunto.

    O uso de expressões que não acrescentam nada ao texto, servindo tão-

    somente para prolongar o discurso, também pode torná-lo prolixo. 

    Tema: Os jovens têm algo a transmitir aos mais velhos?

    “Não se pode afirmar com convicção e segurança. Paira uma gritante e há sempre umaperene dissensão entre as gerações. Os mais jovens, de seu lado, pensam e agem de um

     jeito, por vezes bizarro, que chega a escandalizar os mais idosos... Por seu turno, os mais

    velhos, tendem, na maioria das vezes, a crerem que os mais jovens, em alguns casos, nada

    têm a transmitir aos mais velhos.” 

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     29Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Observe que se tirarmos desse texto as palavras desnecessárias a

    ideia contida nele poderia ser expressa em uma única frase.

    Falar em concisão  é falar em busca pela objetividadeinformacional. Esta, por sua vez, remete à ideia-irmã da concisão: a

    clareza.

    E o que é ser claro em redação oficial?

    Que tal respondermos a essa pergunta também

    definindo o contrário da clareza, a obscuridade? Assim poderá

    ser mais fácil compreendê-la em redação oficial.

    Vários motivos podem determinar a obscuridade de um texto: 1)

    períodos excessivamente longos, 2) linguagem rebuscada, 3) má

    pontuação. Todavia há que se refletir, com Perelman, (1996, p. 622)

    mas quando se poderá dizer que um texto é claro ? Quandoé claro o sentido que o legislador antigo lhe deu? Quando osentido que se lhe dá é claro para o juiz? Quando os doissentidos claros coincidem?

    “Há sempre uma divergência entre as gerações” 

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     30Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Um texto obscuro exige muito mais esforço dos seus leitores e tira-

    lhes a energia e o interesse pelo conteúdo, dificultando-lhes a

    compreensão e a interlocução. Observe esse exemplo retirado de Fonseca

    (2010)3

    :

    Você reparou que o exemplo acima não é escrito na ordem

    direta? O autor antepõe um conjunto de informações que

    servem como premissas para afirmar sua conclusão: "fica claro

    que a embargante merece ver cancelada a exigência de ICMS

    (...)".

    A clareza, em redação oficial, é favorecida sintaticamente

    pela ordem direta da frase, por meio da estrutura

    3  Disponível em: .

    Por tudo o que restou até aqui exposto, considerada a legislação tributária de regência, e

    tendo em vista o atual panorama da jurisprudência aplicável à hipótese em foco, fica claro

    que a embargante realmente merece ver inteiramente cancelada, nesses autos de embargos

    contra execução fiscal, a insustentável e inaceitável exigência de ICMS objeto da

    malsinada CDA aqui guerreada pela empresa".

    Confesso: ao ler o parágrafo, fiquei tentado a pular para o próximo, mesmo

    sem compreender muito bem o que havia sido dito. Resisti, reli e convido-lhes

    agora a um exercício de clareza:

    "Pelo que foi aqui exposto, considerada a legislação tributária, e tendo em vista a

     jurisprudência aplicável à hipótese, fica claro que a embargante merece ver cancelada a

    exigência de ICMS objeto da CDA aqui combatida".

    Sujeito (da frase) + Verbo + Predicado 

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     31Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Embora a segunda versão do exemplo acima já esteja clara, ela

    poderia ser trabalhada na ordem direta, tornando-se mais clara ainda,

    como se lê na proposta de reescrita abaixo:

    Por todo o exposto [retomada de ideias anteriores], a embargante[SUJEITO]  realmente merece ver [LOCUÇÃO VERBAL]  inteiramente

    cancelada, nestes autos de embargos contra a execução fiscal [adjunto

    adverbial], a insustentável e inaceitável exigência de ICMS

    [PREDICADO VERBAL]. Para tanto, [SUJEITO INDETERMINADO PELA

    PARTICULA "se"]considerou-se [VERBO] a legislação tributária de

    regência [PREDICADO VERBAL 1], bem como a atual jurisprudência sobre

    o tema [PREDICADO VERBAL 2], que se aplica à hipótese em foco.

    Reparou que o fragmento ganhou mais clareza? Primeiramente,

    dividimo-lo em dois períodos simples, articulados pelo articulador textual

    "para tanto". Dois períodos bem articulados dão mais ideia de clareza e

    concisão do que apenas um longo período:

    Período 1 - Por todo o exposto [retomada de ideias anteriores], a

    embargante [SUJEITO]  realmente merece ver [LOCUÇÃO VERBAL] 

    inteiramente cancelada, nestes autos de embargos contra a execução

    fiscal [adjunto adverbial], a insustentável e inaceitável exigência de ICMS

    [PREDICADO VERBAL]. 

    Para tanto,

    Período 2  - [SUJEITO INDETERMINADO PELA PARTICULA

    "se"]considerou-se [VERBO] a legislação tributária de regência

    [PREDICADO VERBAL 1], bem como a atual jurisprudência sobre o tema

    [PREDICADO VERBAL 2], que se aplica à hipótese em foco. 

    Repare ainda na presença de outros elementos, como uma

    expressão de retomada de ideias anteriores ("por todo o exposto"), ou

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     32Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    um adjunto adverbial   ("nestes autos de embargos contra a execução

    fiscal"), que é um termo acessório da oração.

    Vimos que o Estado, enquanto um dos agentes reguladores do

    mercado linguístico brasileiro adota e impõe uma variedade linguística, achamada "norma padrão". A clareza está diretamente relacionada ao uso

    da norma padrão da língua porque este agente regulador compreende

    que o léxico  e as regras da gramática normativa  são (ou ao menos

    deveriam ser) um mínimo comum ao conjunto dos falantes da língua,

    sendo, portanto, capazes de assegurar compreensão por um número

    mais abrangente possível de pessoas.

    Atenção a um aspecto muito importante: o próprio Manual de

    Redação da Presidência da República  adverte para o fato de que a

    redação oficial não é um "padrão oficial de linguagem" (p. 04) e tampouco

    uma forma de linguagem burocrática - o "burocratês" - ou, no caso do

    universo jurídico, o juridiquês.

    Veja, no quadro a seguir, que consta no Manual de Redação da

    Presidência da República tendo sido retirado da obra Para falar e escrever

    melhor o português, de Adriano G. Kury, com exemplos de total falta de

    clareza e concisão (objetividade). Se você ler cada coluna e linha em

    qualquer sequência, perceberá que a frase formada não tem sentido, um

    verdadeiro como não se deve escrever:

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     33Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    COLUNA A COLUNAB

    COLUNA C COLUNA D COLUNA E COLUNA F COLUNA G

    1. A necessidade

    emergente

    se

    caracterizapor

    uma correta

    relação entre

    estrutura e

    superestrutura

    no interesse

    primário dapopulação

    substanciando e

    vitalizando

    numa ótica

    preventiva e nãomais curativa

    a transparência

    de cada atodecisional

    2. O quadro

    normativo

    Prefigura a superação de

    cada obstáculo

    e/ou resistência

    passiva

    sem prejudicar o

    atual nível das

    contribuições

    não assumindo

    nunca como

    implícito

    no contexto de um

    sistema integrado

    um

    indispensável

    salto de

    qualidade

    3. O critério

    metodológico

    reconduz a

    sínteses

    a pontual

    correspondência

    entre objetivos e

    recursos

    com critérios

    não-dirigísticos,

    potenciando e

    incrementando

    na medida em que

    isso seja factível

    o aplacamento

    de

    discrepâncias e

    discrasias

    existentes

    4. O modelo de

    desenvolvimento

    incrementa o

    redirecionamento

    das linhas de

    tendências em

    ato

    para além das

    contradições e

    dificuldades

    iniciais

    evidenciando e

    explicitando

    em termos de

    eficácia e

    eficiência

    a adoção de

    uma

    metodologia

    diferenciada

    5. O novo tema

    social

    Propicia o incorporamento

    das funções e a

    descentralização

    decisional

    numa visão

    orgânica e não

    totalizante,

    ativando e

    implementando

    a cavaleiro da

    situação

    contingente,

    a redefinição de

    uma nova figura

    profissional

    6. O método

    participativo

    propõe-se a o reconhecimento

    da demanda nãosatisfeita

    mediante

    mecanismos daparticipação,

    não omitindo ou

    calando, masantes

    particualrizando,

    com as devidas e

    imprescindíveisenfatizações,

    o co-

    envolvimentoativo de

    operadores e

    utentes

    7. A atualização

    potencial

    Privilegia uma coligação

    orgânica

    interdisciplinar

    para uma práxis

    de trabalho de

    grupo

    segundo um

    módulo de

    interdependência

    horizontal

    recuperando, ou

    antes

    revalorizando

    como sua

    premissa

    indispensável e

    condicionante

    uma congruente

    flexibilidade de

    estruturas.

  • 8/18/2019 MODULO 2 Redação Oficial

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     34Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.1.5 Formalidade e Uniformidade 

    A formalidade, em redação oficial, diz respeito à formalidade de

    tratamento, tanto do ponto de vista da formatação dos textos, quanto do

    ponto de vista material.

    Do ponto de vista da formatação, a formalidade de tratamento diz

    respeito à própria apresentação dos textos mediante o uso de papeis

    uniformes e diagramação do texto a ser redigido. O Capítulo II, "As

    comunicações oficiais" do Manual de Redação da Presidência da República

    fornece todas as normas específicas para diferentes gêneros textuais decomunicação oficial. Neste sentido formalidade  e uniformidade  são

    visualmente constituídas.

    Do ponto de vista material, a formalidade abrange ainda tanto o

    emprego adequado de pronomes de tratamento quanto, sobretudo, a

    polidez e a civilidade (p. 04) no tratamento do tema de que trata a

    comunicação. Para uma lista de emprego de pronomes de tratamento,

    tal como determina o Manual de Redação da Presidência, ver a seção

    2.1.3 Emprego dos Pronomes de Tratamento. Quanto à polidez  e à

    civilidade, devem constituir o próprio enfoque do tema abordado.

    Vejamos o exemplo do gênero jurídico abaixo4:

    EXCELENTÍSSIMO SR. (observar a autoridade indicada no art. 4o da

    Portaria no 408/2009)

    Ref. Representação Judicial.

    4 Exemplo retirado do documento Representação de Agentes Públicos pela Advocacia-Geral da União.Disponível em: . Acesso em: 26 dez. 2015.

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     35Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    (NOME COMPLETO DO INTERESSADO), (qualificação completa, cargo ou

    função ocupada na época dos fatos, endereço, e-mail e telefone de

    contato), solicita à V. Exa, com fundamento no art. 22 da Lei no

    9.028/95, conforme a redação dada pela Medida Provisória no 2.216-37,de 31 de agosto de 2007, bem como seja procedida à sua representação

     judicial nos autos da Ação de....... no ................, em trâmite no Juízo

    na Vara ..............

    Esclareço que....(fazer descrição pormenorizada sobre os fatos que

    deram origem à ação).

     Justifica-se o pedido de representação pelo fato de que os atosadministrativos foram praticados no exercício de suas atribuições

    constitucionais, legais e regulamentares (relatar o interesse público

    envolvido, quando possível).

    Informa que não constituiu advogado particular nos autos da referida

    ação.

     Anexo à presente os seguintes documentos (anexar documentos

    comprobatórios, cópia reprográfica do processo ou inquérito, se

     possível).

    Indico como testemunhas as seguintes pessoas/servidores (nome

    completo, telefone ou endereço físico ou eletrônico para contato).

    Brasília-DF,.....de ........................ de 201__.

     __________(Assinatura)____________

    (NOME DO INTERESSADO) 

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     36Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    O exemplo em questão é um pedido de representação judicial.

    Observa-se formalidade no documento já de início, por meio do uso do

    pronome de tratamento adequado para introduzir a função interlocutor:

    Excelentíssimo sr ., seguido da função-sujeito a quem o pedido se destina,com referência específica à ocupação social deste sujeito. De antemão, a

    formalidade material se faz notória, atuando na construção da

    interlocução.

    Além disso, a polidez  e a civilidade no exemplo acima

    manifestam-se por meio da objetividade informacional. A ausência de

    advérbios ou locuções adverbiais como "respeitosamente" ou "por

    gentileza" não tiram o caráter polido do documento justamente porque

    ele é construído como um pedido direto ("solicito à V. Ex.", "esclareço",

    "informa", "indica") mas que não impõe obrigação de conduta ao

    interlocutor . Assim como no endereçamento não cabem adjetivos

    pessoais, mas somente a designação respeitosa à função sujeito por meio

    da denominação do cargo, também as ações que o demandante realiza

    no texto em questão são ações que não configuram afronta a sua face.

    Isso, em redação oficial, significa polidez e civilidade: do ponto

    de vista formal, é necessário adotar os pronomes de tratamento

    adequados e redigir o texto na variedade padrão da língua; do ponto de

    vista material, basta ser objetivo em seus propósitos e fundamentado em

    suas justificativas. Conforme afirmamos, formalidade e uniformidade 

    manifestam-se na própria abordagem do tema.

    A linguagem oficial prima e é reconhecida pelo uso do estilo formal

    da língua, principalmente quando se trata de documento escrito. A

    seleção lexical acurada (propriedade terminológica do contexto), os

    pronomes de tratamento adequados, enfim, as referências de

    interlocução e as marcas linguísticas de modalização discursiva (respeito,

    modalização, polidez, civilidade, eufemismos, apreços) fazem parte de

    um estilo que zela pela formalidade, sempre com observância nas

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     37Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    relações simétricas (entre mesmo nível institucional) e assimétricas

    (entre níveis institucionais diferentes), preservando o caráter hierárquico

    estabelecido.

    Em redação oficial, essa característica diz respeito à formalidadede tratamento, tanto do ponto de vista formal dos textos, quanto do

    ponto de vista material.

    Esse aspecto refere-se às relações de simetria e de assimetria entre

    os interlocutores da ação verbal, isto é, às relações entre papéis sociais

    desempenhados pelos sujeitos discursivos tendo em vista a hierarquia da

    função ocupada pelos sujeitos com os quais se correspondem no âmbitodas instituições, interna e externas. Nesse sentido, há de se preservar o

    respeito pelo cargo, não sendo considerado, portanto, o grau de

    relacionamento pessoal entre os interactantes e, sim, o de formalidade,

    que vai depender do nível hierárquico: superior, inferior ou de mesmo

    nível.

    Em qualquer um desses níveis, outro aspecto está relacionado

    intrinsecamente à formalidade, qual seja, a ética, entendida como padrão

    de comportamento adequado em relação a quem se dirige. Assim sendo,

    é esperado, pelas regras de formalidade, que um servidor se dirija ao seu

    superior, seja esse imediato ou mediato, com a correta atitude formal

    que a instituição exige. Da mesma forma, os superiores devem se dirigir

    aos seus colaboradores com adequação de tratamento, não sendo

    tolerados menosprezos ou descortesias, em nome de uma pseudo-

    superioridade pessoal.

    Esses dois aspectos formalidade e ética manifestam-se, no texto

    escrito, entre outras escolhas, na seleção e emprego adequado dos

    pronomes de tratamento, que implicam, por sua vez, a relação de

    concordância verbal.

    Já sabemos que o estilo das comunicações oficiais deve ser formal,

    com todas as peculiaridades linguísticas que representa. Isso implica

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     38Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    necessariamente o uso do nível padrão (culto)5 da língua, compatível com

    esse contexto. A obrigatoriedade desse nível padrão, segundo o Manual da

    Presidência da República (2002, p. 05) “decorre do fato de que ele está

    acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dosmodismos vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por

    essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os

    cidadãos.” Isso não significa dizer que esse nível apresenta pobreza de

    expressão. A simplicidade desse nível tem a ver com a clareza e a concisão

    linguística com que a informação deve ser tratada.

    A formalidade e a padronização são qualidades que conduzem a

    uma uniformidade nas comunicações oficiais, o que facilita e dá agilidade

    ao fluxo dessas comunicações.

    5 Embora não seja de domínio comum dos cidadãos, há distinção, do ponto de vista linguístico, entre oque é considerado culto e o que é padrão na língua. O uso culto diz respeito a domínios discursivos comoLiteratura dos autores que primam pela “riqueza” da eloquência e o da Retórica, sobretudo os de tradição

    clássica. Já o nível padrão, como o próprio nome já sugere, refere-se a uma certa padronização da língua, emsituações formais de fala da escrita e prima por regras morfossintáticas e ortográficas que resgatam prescrições

    de orientação da tradição gramatical greco-latina. Esse nível é o que está presente nos jornais, diários, revistasde grande circulação e também nos normativos institucionais.

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     39Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.2 Dois gêneros específicos de circulação jurídica: peças e pareceres 

    Chegamos à última parte deste módulo.

    Vamos agora estudar dois gêneros textuais muito correntes na

    prática das/os operadoras/es do Direito, em especial, gêneros muito

    comuns para vocês Advogados/as da União, Procuradores/as da Fazenda

    Nacional, Procuradoras/es Federais, Procuradoras/es do Banco Central e

    servidores/as da AGU. São eles: a peça vestibular (ou peça exordial)e o parecer jurídico.

    Do porquê da escolha destes dois gêneros: como já apresentamos

    - embora todos/as vocês já saibam disso perfeitamente bem -, segundo

    o Art. 131 da Constituição Federal de 1988, a "Advocacia-Geral da União

    é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado,

    representa a União, judicial e extrajudicialmente", cabendo-lhe, segundo

    prevê a Lei Complementar 73/93, realizar consultoria e assessoramento

     jurídico do Poder Executivo Federal seja junto ao STF (por meio do

    Advogado-Geral da União), seja junto ao STJ em questões cíveis e

    trabalhistas, seja via Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, no que diz

    respeito à execução de dívida ativa de natureza tributária.

    Assim, a AGU, porque interpreta a Constituição, leis e atos

    normativos, tem a função, constitucionalmente prevista, de provocar oEstado-Juiz para sanar problemas de ordem jurídica e/ou garantir a

    aplicação correta de leis. Por essas razões práticas é que os

    gêneros peça e parecer  jurídico são tão importantes para

    nós neste curso.

    Vamos discuti-los à luz do que estudamos sobre a

    linguagem da redação oficial?

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     40Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.2.1 A Peça Exordial

    Uma ressalva rápida antes de iniciarmos nossa exposição sobre

    este gênero: peça é um termo polissêmico no campo do Direito e podegerar equívocos.

    Tomemos duas fontes de divulgação de conteúdo jurídico que

    exemplificam isso. Segundo a página Direito Virtual , o termo peça é

    definido como "qualquer escrito judicial, ou documento, que é introduzido

    nos autos de um processo ou o instrui"6. Nem sempre "peça" é sinônimo

    de "petição" e, particularmente, de "petição inicial" ou "peça exordial".

    Empregaremos, no entanto, para os fins deste curso, peça como

    sinônimo de peça exordial, ou seja, petição inicial . Segundo o Glossário

     Jurídico na página do STF, petição "de forma geral, é um pedido escrito

    dirigido ao Tribunal. A Petição Inicial é o pedido para que se comece um

    processo. Outras petições podem ser apresentadas durante o processo

    para requerer o que é de interesse ou de direito das partes. No Supremo,

    a Petição (PET) é um processo"7. 

    Vejamos passo a passo a construção de uma peça exordial 8.

    Segundo Damião e Henriques (1992, p. 193), a petição inicial é um

    requerimento complexo. Ela concretiza o direito geral e abstrato de ação

    com vistas a "formular ao juiz uma pretensão em face de um sujeito

    passivo". Ela é o "ponta pé inicial" para a aplicação do direito ao caso

    concreto. Neste sentido, ela deve atender aos princípios da redação

    6 Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2015.7 Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=A&id=195>. Acesso em: 19dez. 2015.8 A sequência expositiva e os exemplos presentes nesta subseção foram fortemente baseadas em Damião e

    Henriques (1992) e no site JusScientiste, disponível em: e acessado em 03 jan. 2016.

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     41Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    oficial: ser impessoal   e formal   na construção da interlocução; clara  e

    concisa na narração dos fatos e na citação dos direitos; deve ser uniforme 

    em termos de estrutura composicional, obedecendo às regras do gênero,

    pois, contém, a um só tempo, um pedido e um requerimento (op. cit ). E,resta claro, deve ser redigida na norma padrão da língua.

    Um dos aspectos de uniformidade da estrutura composicional da

    peça exordial - o que reforça ser o Estado um agente regulador do

    mercado linguístico nacional - é o fato de que o Art. 319 do Código de

    Processo Civil 2015 (CPC/2015)9

    , equivalente ao Art. 282 do CPC/1973,que prevê que a petição indique o juízo a que é dirigida:

    1) Para processo na esfera federal:

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____

    VARA ________DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE _________. 

    2) Para processo em esfera estadual:

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___

    VARA _____ DA COMARCA DE ______. 

    3) Para Tribunais dos Estados:

    9 Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015.

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     42Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Tribunal Regional Federal –  EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR

    DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL

    REGIONAL FEDERAL DA _____REGIÃO. 

    Como você pode observar, o cabeçalho, ou endereço da petição, é

    um locus muito explícito da impessoalidade e da formalidade pois o

    preenchimento dos espaços em branco varia segundo a competência do

     juiz ou, em alguns casos, é determinada pela natureza da ação.

    Identificado o endereçamento adequado, deve-se, ato contínuo,

    realizar espaçamento de dez linhas e, tal como prevê o Art. 319 do

    CPC/2015, em seguida realizar a qualificação do autor e do réu:

    II –  os nomes, os prenomes, o estado civil, a

    existência de união estável, a profissão, o número

    no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional

    de pessoas jurídicas, o endereço eletrônico, o

    domicílio e a residência do autor e do réu; (Lei

    13.105/2015) 10 

    O que também reitera a impessoalidade, a formalidade e a

    uniformidade da redação oficial deste gênero jurídico na medida em que

    para a concepção do gênero petição inicial é preciso que haja a função

    autor e a função réu que podem ser ocupadas por quaisquer sujeitos.

    O próximo passo é a qualificação da peça exordial. Determina a

    clareza e a concisão que ela seja nomeada objetivamente: MANDADO DE

    10  Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acessoem: 05 jan. 2016.

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     43Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    SEGURANÇA; APELAÇÃO em caixa alta. Há quem nomeie a petição inicial

    na mesma linha imediatamente após a qualificação da parte proponente.

    Por outro lado, há quem pule uma linha para escrever o nome da peça

    exordial, em formatação centralizada, para, em seguida, pular mais umalinha e então seguir na redação da peça, agora apresentando a

    qualificação da outra parte.

    Vejamos um exemplo, redigido nestas duas formas, retirado da

    prova prático-profissional de Direito Civil do VI Exame da OAB de 201211.

    Como a prova é anterior ao novo Código de Processo Civil, de 2015,acrescentamos na resposta um aspecto do Art. 319, II, CPC/2015, a

    saber, o endereço eletrônico:

    PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL

     Joana teve um relacionamento esporádico com Flávio, do qual nasceu

    Pedro. Durante cinco anos, o infante foi cuidado exclusivamente por sua

    mãe e sua avó materna, nunc a tendo recebido visita ou auxílio financeiro

    do genitor, mesmo tendo ele reconhecido a paternidade. Entretanto, no

    final do mês de fevereiro do corrente ano, a mãe, a pedido do pai da

    crianç a, levou o menor para a cidade de Belo Horizonte/MG para que

    conhecesse os avós paternos, sobretudo o avô, que se encontra

    acometido de neoplasia maligna.

    Chegando à  casa de Flávio, Joana foi agredida fisicamente por ele e

    outros familiares, sendo expulsa do local sob ameaç a de morte e obrigada

    a deixar seu filho Pedro com eles contra sua vontade. Em seguida, ainda

    11 Disponível em: . Acesso em: 05 jan. 2016.

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     45Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em

    face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão

     ____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF

    sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir

    serão devidamente expostas: 

    Ou então, a qualificação da peça exordial pode vir como segue:

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA

     _____ DA COMARCA DE ______.

     Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,

     portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob

    o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua

     _____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de

    seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem

    respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos

    artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor

    MEDIDA CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE

    LIMINAR 

    em face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão

     ____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF

    sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade

     ________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir

    serão devidamente expostas: 

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     46Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Atendendo à clareza  e à concisão  da redação oficial, à qual a

    redação jurídica, no contexto da AGU, deve observar, o peticionário deve

    ser bastante objetivo na etapa seguida da petição inicial, a narrativa dos

    fatos. Esta parte é eminentemente narrativa; mas é também expositiva

    e - por que não - argumentativa. 

    É ela o primeiro locus, por excelência, na peça exordial, da

    construção de uma argumentação dentro dos parâmetros estabelecidos

    pela redação oficial. Como prevê o Art. 330, § 1o  CPC/2015, "Considera-

    se inepta a petição inicial quando: (...) III - da narração dos fatos não

    decorrer logicamente a conclusão"; ou seja, de nada adianta um bom

    conhecimento do Direito se sua competência narrativo-expositiva não for

    suficiente.

    Atenção, então! Agora é que a dimensão retórica e argumentativa,

    que vimos no Módulo I deste curso, entra em evidência!

    Assim, após a qualificação da peça exordial, deve-se saltar duas

    linhas e inscrever:

    I. DOS FATOS: em negrito e caixa alta com numeração sequencial em

    algarismo romano. Vejamos:

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     47Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA

     _____ DA COMARCA DE ______.

     Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,

     portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob

    o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua

     _____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de

    seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem

    respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos

    artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor MEDIDACAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em

    face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão

     ____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF

    sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade

     ________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir

    serão devidamente expostas: 

    (espaço de duas linhas)

    Em seguida, deve-se saltar mais três linhas para a elaboração de

    II. DO DIREITO, que, a exemplo de I. DOS FATOS, também deve estar

    em negrito e em caixa alta com enumeração sequencial em algarismo

    romano.

    A boa articulação entre essas duas partes é de suma importância

    também: é II. DO DIREITO que dá consistência aos fatos como fatos

     jurídicos, alocando-os dentro do ordenamento jurídico.

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     48Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Este é o segundo locus, na peça exordial, da construção de uma

    argumentação dentro dos parâmetros estabelecidos pela redação oficial,

    afinal, é quando o requerente se lança a convencer- isto é,

    racionalmente; não se trata de persuadir - o juízo legítimo das alegaçõespostas. Vejamos:

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA

     _____ DA COMARCA DE ______.

     Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,

     portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob

    o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua

     _____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de

    seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem

    respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos

    artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor MEDIDA

    CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em

    face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão

     ____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF

    sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade

     ________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir

    serão devidamente expostas: 

    (espaço de duas linhas)

     I. DOS FATOS .

    texto texto texto texto texto

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     49Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    (espaço de três linhas)

     II. DO DIREITO

    texto texto texto texto

    A narração (I. DOS FATOS) e a apresentação do direito (II. DO

    DIREITO) são de extrema importância para a argumentatividade da

    peça exordial. Se feitas de forma articulada e detalhada, em linguagem

    direta e objetiva, elas ensejarão, na parte seguinte, DO PEDIDO,construção da tese de adesão inicial e a tese principal, a ser desenvolvida

    assente em fatos e/ou presunções que a jurisprudência ou a doutrina

    ensejam.

    Resta claro então que os direitos requeridos devem ter fundamento

    nos textos legais pertinentes. Resta claro sobretudo que ganha força o

    pedido quando também embasado em jurisprudência e na

    doutrina.

    Você se lembra de todas as técnicas argumentativas

    que estudamos no Módulo I deste curso, não?

    Perguntamos a você então: na parte DO DIREITO,

    na peça exordial, o uso de jurisprudência pelo requerente para sua

    construção argumentativa pode ser compreendido como um argumento

    de justiça? A resposta pode ser afirmativa, não é mesmo? Mas também

    pode ser um argumento por analogia, não é mesmo?

    Cabe ressaltar ainda que quanto mais atuais forem as

     jurisprudências utilizadas para a argumentação, melhor.

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     50Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    O ideal é que, conforme lembra o site JusScientiste, "cada direito

    mencionado deve ser colocado em separado, por exemplo, se você vai

    alegar três direitos (inexigibilidade do débito, responsabilidade civil e

    dano moral), em uma ação declaratória de inexigibilidade de débito,coloque estes três divididos em tópicos, utilizando a numeração

    alfabética": 

    II – DO DIREITO 

    a – DA INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO 

    xxxxxxxxxxxxxxxxxxx

    b – DA RESPONSABILIDADE CIVIL 

    xxxxxxxxxxxxxxx

    c – DO DANO MORAL 

    Estamos chegando à conclusão da peça exordial. O último passo é

    a realização DO PEDIDO que, também como os anteriores, deve estar

    em caixa alta e negrito, numerado sequencialmente em algarismo

    romano (III. DO PEDIDO). Após a apresentação do direito referente ao

    caso concreto, o mais lógico a se fazer é requerer junto ao Poder

    Judiciário a aplicação deste direito ao caso concreto.

    Saltar três linhas, escrever III. DO PEDIDO, saltar duas linhas,

    para, em seguida, escrever: "Diante do exposto, requer-se a Vossa

    Excelência". Aqui devem vir, numerados em ordem alfabética, e em

    minúsculo, cada pedido necessário para o pleno atendimento do direito,

    como segue abaixo:

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     51Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA

     _____ DA COMARCA DE ______.

     Joana, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão ____,

     portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF sob

    o nº _____, com correio eletrônico ___________ residente na Rua

     _____, nº___, Bairro____, Cidade ________, Estado_____, por meio de

    seu advogado constituído que a esta subscreve, mandato em anexo, vem

    respeitosamente diante de Vossa Excelência, com fundamento nos

    artigos 801, 839 e 840 do Código de Processo Civil propor MEDIDACAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO C/C PEDIDO DE LIMINAR em

    face de Flávio, nacionalidade _______, estado civil_____, profissão

     ____, portadora da carteira de identidade RG nº ____, inscrita no CPF/MF

    sob o nº _____, residente na Rua _____, nº___, Bairro____, Cidade

     ________, Estado_____, pelas razões de fato e de direito que a seguir

    serão devidamente expostas: 

    (espaço de duas linhas)

     I. DOS FATOS  

    texto texto texto texto texto

    (espaço de três linhas)

     II. DO DIREITO

    texto texto texto texto 

    (espaço de três linhas)

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     52Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

     III. DO PEDIDO

    (espaço de duas linhas)

    Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência:

    a) que seja concedida...

    b) que seja recebido o presente agravo em seu efeito Suspensivo...

    c) intimar o agravado, na pessoa de seu advogado, para que...

    n)... 

    Não custa lembrar que todos os direitos mencionados devem

    constar no pedido e que, evidentemente, os itens relacionados na seção

    DO PEDIDO devem ter relação lógica e jurídica com o que havia sido

    exposto na seção DO DIREITO.

    Por fim, deve-se solicitar deferimento seguido do local, da data e

    do nome do/a Adovogado/a, como segue:

    Nestes termos, pede deferimento

    Termos em que

    Pede o Deferimento

    Termos em que pede deferimento

    Local ______ Data__________

    Nome da/o Advogada/o 

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     53Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    2.2.2 O Parecer Jurídico 

    Agora que já analisamos em detalhe a peça exordial, não será

    difícil compreender o gênero parecer jurídico. Vamos ser bem objetivospara compreender seus aspectos principais.

    Para o estudo da redação oficial, guiamo-nos pelo Manual de

    Redação da Presidência da República, não foi mesmo?

    Para o estudo de pareceres jurídicos, vamos dialogar

    com Manual de Boas Práticas Consultivas  da Advocacia-

    Geral da União. O arquivo12 está disponível na página da

    AGU, no link a seguir:

    A importância de discutirmos este gênero textual está no fato de

    que é uma das prerrogativas de caráter consultivo da Consultoria-Geral

    da União, órgão superior da AGU, apoiar o Advogado-Geral da União na

    elaboração de pareceres para o assessoramento da Presidência da

    República temas de seu interesse. É exatamente isso que o Art. 3º da

    Portaria AGU nº 1.399/2009 fundamenta:

    o parecer deverá ser elaborado como resultado de estudose análises jurídicas de natureza complexa que exijamaprofundamento, como também para responder consultasque exijam a demonstração do raciocínio jurídico e o seudesenvolvimento. 

    12 Acesso em 08 jan. 2016.

    http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/153380http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/153380http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/153380

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     54Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    E o que é um Parecer Jurídico?

    O Parecer Jurídico consiste em um "instrumento

     jurídico pelo qual o Advogado consultivo presta

    assessoramento técnico ao Poder Público. Por meio dele, o advogado

    público desenvolve o raciocínio jurídico em torno de questionamentos

    formulados pela área técnica da Administração" (TOLFO JÚNIOR, 2015)13.

    Ele difere da cota e do despacho segundo o enunciado nº 01 do Manual

    de Boas Práticas Consultivas da AGU. Da cota, porque ela é utilizada parainstrução dos autos em que não é necessária fundamentação jurídica - e

    o parecer exige  fundamentação jurídica. Do despacho, porque este

    consiste na avaliação, seja ela aprovação ou reprovação (total ou parcial)

    de peças jurídicas- e o parecer não tem caráter deliberativo, mas

    consultivo.

    O parecer jurídico é fundamental na/para a tomada de decisões,

    por exemplo, para a implementação de políticas públicas; é fundamental,

    inclusive, para o funcionamento da própria Administração Federal,

    conforme se lê no site da AGU:

    O parecer do Advogado-Geral da União quando aprovado peloPresidente da República e publicado juntamente com odespacho presidencial adquire caráter normativo e vincula todosos órgãos e entidades da Administração Federal, que ficamobrigados a lhe dar fiel cumprimento. O parecer não publicadono Diário Oficial da União obriga apenas as repartiçõesinteressadas e os órgãos jurídicos da AGU ou a esta vinculados,a partir do momento em que dele tenham ciência14.

    13  Disponível em: < http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,orientacoes-para-elaboracao-de-parecer-

     juridico-em-concursos-publicos,53457.html >. Acesso em: 08 jan. 2016.14 Disponível em: . Acesso em: 07 jan. 2016.

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     55Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    Como é a estrutura de um Parecer Jurídico emitido

    pela AGU?

    Esquematicamente, o parecer não tem estrutura de difícil

    compreensão, como neste modelo geral apresentado por Tolfo Júnior

    (2015)15:

    Já Silva Neto e Guimarães (2012), em sua obra Manual do Parecer

     Jurídico - teoria e prática propõem que o parecer seja dividido em:

    15 idem.

    CABEÇALHO 

    · Numeração (Parecer nº ____);

    · Referência (Processo Administrativo nº ___);

    · Assunto;

    · Interessado;

    · Ementa.

    DESENVOLVIMENTO 

    · Relatório;

    · Fundamentos Jurídicos;

    · Conclusão.

    DESFECHO 

    · Expressão conclusiva;

    · Local e data;

    · Assinatura/Cargo.

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     56Argumentação e Redação Oficial de Peças e Pareceres

    1) preâmbulo - ou cabeçalho;

    2) ementa;

    3) relatório;

    4) fundamentação;

    5) conclusão.

    Reparou que há uma pequena diferença no entendimento do que

    seja a estrutura geral do parecer destes autores? Para Tolfo Júnior

    (2015), a ementa compreende uma parte do cabeçalho. Para Silva Netoe Guimarães (2012) a ementa é uma parte específica. Além disso, para

    Tolfo Júnior (2015), relatório, fundamentos   jurídicos  e conclusão 

    compõem uma seção mais geral: o desenvolvimento. Já para Silva Neto

    e Guimarães (2012), relatório, fundamentação (jurídica) e conclusão são

    seções específicas e independentes.

    Fazemos isso apenas para você vislumbrar, caro cursista, de que

    nos basearemos mais em Silva Neto e Guimarães (2012) para o passo-

    a-passo a seguir sobre como elaborar um pare