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Curso Ciência e Fé Módulo IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico © Bernardo Motta [email protected] http://espectadores.blogspot.com

Módulo ix os argumentos cosmológico e teleológico

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Curso Ciência e Fé Módulo IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico © Bernardo Motta [email protected] http://espectadores.blogspot.com

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Curso Ciência e Fé

!   I – Introdução

!   II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega

!   III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval

!   IV – Inquisição e Ciência

!   V e VI – O Caso Galileu

!   VII – A Revolução Científica

!   VIII – Darwin e a Igreja Católica

!   IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico

!   X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial

!   XI – Milagres e Ciência

!   XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência

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1.  Introdução

2.  O Argumento Cosmológico

3.  O Argumento Teleológico

4.  Conclusão

Índice

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Page 4: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Universo Necessário !  Auto-suficiente e auto-subsistente

!  Contém a sua própria explicação

!  As constantes físicas não poderiam ter valores diferentes dos que têm

!  As leis da Natureza não poderiam ser diferentes do que são

!  Compreensível a priori pelo intelecto…

!  … porque sendo necessário, nem sequer teria que ser observado para ser

compreendido!

Universo Contingente !  Ontologicamente dependente (podia não ser

assim, ou podia nem sequer existir)

!  A sua existência requer explicação

!  As constantes físicas poderiam ter valores diferentes dos que têm

!  As leis da Natureza poderiam ser diferentes do que são

!  Compreensível a posteriori pelo intelecto, sem dispensar a observação empírica…

!  … porque não sendo necessário, há que “abrir os olhos” e ver como as coisas são!

Introdução

O Universo tem que ser contingente ! Se assim não fosse, nada no Universo poderia ser diferente do que é!

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Introdução

Criador e Criação !   O Criador é livre

!  Um Universo contingente só existe por causa de uma decisão livre

!  Deus não estava obrigado a criar este (ou qualquer outro) Universo

!   O Criador cria “fora” do tempo e do espaço

!  Estamos “formatados” para pensar de forma temporal (sequencial)

!  A Criação está sempre em curso, no “eterno presente” de Deus

!  A Criação é o acto pelo qual Deus mantém o Universo em “ser”

!   O Criador não é uma causa física (natural)

!  Deus não “dá à corda” ao Universo, deixando-o a trabalhar

!  O “Big Bang” não é um “empurrão” de Deus

!  Deus é a causa primeira, absolutamente transcendente ao Universo

!   O Criador não é complexo (apesar de o Universo ser complexo)

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1.  Introdução

2.  O Argumento Cosmológico

3.  O Argumento Teleológico

4.  Conclusão

Índice

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Page 7: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Versão de William Lane Craig (1949-) !   Premissa 1: Tudo o que não existe desde sempre deve a sua existência a algo distinto de si mesmo

!   Premissa 2: O Universo não existe desde sempre

!   Conclusão (MP, 1,2): Logo, o Universo deve a sua existência a algo distinto de si mesmo

!   P: “algo não existe desde sempre”

!   Q: “algo deve a sua existência a algo distinto de si mesmo”

Regra “modus ponens” 1. P → Q 2. P 3. Q

O Argumento Cosmológico "Kalam"

Uma vez provadas as Premissas, pela regra “modus ponens”, a Conclusão está provada e é inevitável: decorre das leis da Lógica!

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Demonstração da Premissa 1: “Tudo o que não existe desde sempre deve a sua existência a algo distinto de si mesmo”

!   Objecção: “e se uma coisa for a causa da sua própria existência?”

!  “A” seria a causa da existência de “A”…

!  Se “A” não existe desde sempre, então antes de “A” existir, “A” não existia

!  No entanto, apesar de “A” não existir, “A” fez surgir “A”, o que é absurdo!

!   Objecção: “na mecânica quântica há fenómenos sem causa”, como a materialização espontânea de pares de partículas virtuais (partícula e antipartícula)

!  Há pelo menos 14 interpretações filosóficas da mecânica quântica (4 determinísticas)

!  Mesmo segundo a interpretação de Copenhaga (indeterminista), as partículas virtuais não surgem “do nada”: são flutuações espontâneas da energia de vácuo

!  Essa energia, em sentido aristotélico, é a causa material do par de partículas

!  Um fenómeno espontâneo é imprevisível, o que não é o mesmo que não causado

!  O eventual indeterminismo quântico não implica a ausência de causas dos fenómenos

!  O princípio da incerteza de Heisenberg é epistémico (reflecte uma incerteza no nosso conhecimento), e não ontológico (não implica uma incerteza real) 8

O Argumento Cosmológico "Kalam"

Page 9: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Demonstração da Premissa 1: “Tudo o que não existe desde sempre deve a sua existência a algo distinto de si mesmo”

!   Objecção: “A Ciência vai provar, um dia, que a causa do Universo está no Universo”

!   Nunca haverá essa prova definitiva: tese Jaki-Gödel !  Teoremas da Incompletude do matemático Kurt Gödel (1930)

!  Num sistema formal consistente com regras básicas de lógica e de aritmética…

!  … há proposições que não podem ser nem provadas nem refutadas partindo dos axiomas e usando as regras internas do sistema – proposições indecidíveis

!  Um sistema formal só é completo se não contiver proposições indecidíveis

!  Então: 1) não há sistemas formais consistentes e completos

!  Então: 2) um sistema formal ou é inconsistente ou é incompleto

!  Ou seja, não é possível provar a completude de um sistema formal consistente usando os seus axiomas e as suas regras internas!

!  A Física baseia-se na matemática; logo, está sujeita aos Teoremas de Gödel

!  A Física não se pode apoiar em sistemas formais inconsistentes (com contradições)

!  Logo, a Física apoiar-se-á sempre em sistemas formais incompletos

!   Pode-se vir a descobrir uma “teoria de tudo”, mas não se poderá provar que é a última! 9

O Argumento Cosmológico "Kalam"

Page 10: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Demonstração da Premissa 2: “O Universo não existe desde sempre”

!   Argumentos filosóficos:

!  Não existe um infinito actual (apenas potencial)

!  Não existe uma regressão infinita de eventos temporais

!  Senão, nunca chegaríamos ao presente

!   Argumentos científicos:

!  A solidez do Modelo Standard (Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker: “Big Bang”)

!  Os Teoremas da Singularidade de Hawking e Penrose (1970)

!  O Teorema da Singularidade de Borde, Guth e Vilenkin (2003)

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O Argumento Cosmológico "Kalam"

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O Argumento Cosmológico "Kalam"

Page 12: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Demonstração da Premissa 2: “O Universo não existe desde sempre”

!   Teoremas da Singularidade de Hawking e Penrose (1970)

!  Singularidade espacial: massa concentrada num só ponto (volume zero)

!  Singularidade temporal: luz emitida por região com curvatura infinita do espaço-tempo

!  Numa singularidade, as quantidades usadas para medir o campo gravítico no modelo da Relatividade Geral tornam-se infinitas (p. ex.: curvatura infinita do espaço-tempo)

!  Incompletude geodésica: existem percursos (geodésicas) no espaço-tempo que não podem ser percorridos em tempo infinito por terminarem numa singularidade

!  Hawking e Penrose demonstraram que, desde que o Universo seja regulado pela Relatividade Geral de Einstein, o seu passado irá incluir uma singularidade

!   Escapar aos Teoremas da Singularidade de Hawking e Penrose…

!  Closed Timelike Curves (CTCs): “máquinas do tempo” (permitidas pela Rel. Geral)

!  Modelo algo “louco”, implicando o tempo fechado sobre si mesmo

!  Violação da Condição de Energia Forte: inflação eterna/caótica

!  Falsidade da Relatividade Geral na fase inflaccionária: gravidade quântica? 12

O Argumento Cosmológico "Kalam"

Page 13: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Demonstração da Premissa 2: “O Universo não existe desde sempre”

!   Teorema da Singularidade de Borde, Guth e Vilenkin (2003)

!  Desde que Hav>0 (o Universo tenha estado, em média, em expansão)…

!  … as geodésicas nulas e temporais são incompletas no passado

!  Ou seja, a idade do Universo é finita

!  O teorema é válido para Universos não sujeitos à Relatividade Geral

!  O teorema é válido para Universos multidimensionais

!   Como escapar ao Teorema de Borde, Guth e Vilenkin…

!  Contracção infinita (Hav<0): neste caso, o Universo esteve em contracção desde o passado infinito até chegar a um “big crunch”, seguido de um “big bang”; modelo instável, requer afinação incrivelmente precisa antes do “big crunch”

!  Estaticidade assimptótica (Hav=0, porque H(∞)=0): neste caso, no infinito temporal, o Universo deixará de se expandir; modelo instável, requer afinação precisa

!  Universo cíclico (Hav=0): já deveria estar em equilíbrio termodinâmico

!  Tempo exótico: inversão temporal na singularidade (t → -∞ “antes” da singularidade) 13

O Argumento Cosmológico "Kalam"

Page 14: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

William Lane Craig (1949-) !   Premissa 1: Tudo o que não existe desde sempre deve a sua existência a algo distinto de si mesmo

!   Premissa 2: O Universo não existe desde sempre

!   Conclusão (MP, 1,2): Logo, o Universo deve a sua existência a algo distinto de si mesmo

!   P: “algo não existe desde sempre”

!   Q: “algo deve a sua existência a algo distinto de si mesmo”

Regra “modus ponens” 1. P → Q 2. P 3. Q

O Argumento Cosmológico "Kalam"

Uma vez provadas as Premissas, pela regra “modus ponens”, a Conclusão está provada e é inevitável: decorre das leis da Lógica!

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Page 15: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

William Lane Craig (1949-) !   Premissa 1: Se o Universo não existe desde sempre, então deve a sua existência a algo distinto de si mesmo

!   Premissa 2: O Universo não existe desde sempre

!   Conclusão (MP, 1,2): Então, o Universo deve a sua existência a algo distinto de si mesmo

!   P: “O Universo não existe desde sempre”

!   Q: “O Universo deve a sua existência a algo distinto de si mesmo”

O Argumento Cosmológico "Kalam" – versão "modesta"

Uma vez provadas as Premissas, pela regra “modus ponens”, a Conclusão está provada: decorre das leis da Lógica!

Regra “modus ponens” 1. P → Q 2. P 3. Q

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Page 16: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Segundo Craig, a causa do Universo… !   Não é espacial, não é temporal, não é material, não é energética

!  O espaço-tempo não se prolonga infinitamente para o passado

!  Logo, o espaço-tempo não existe desde sempre

!  Logo, a causa do Universo transcende o espaço-tempo

!  Matéria e energia fazem parte da realidade do Universo

!  A causa do Universo, por ser distinta deste, não é composta por matéria ou energia

!   É dotada de vontade e de livre arbítrio, é um agente livre

!  O Universo é o efeito de uma causa sobrenatural ("fora" do âmbito da Natureza)

!  Logo, o surgimento do Universo não se explica por leis científicas e estados anteriores

!  Excluída uma causa de tipo natural (científica), resta supor um agente livre

!   Será uma mente?

!  Só concebemos dois tipos de entidades imateriais: mentes e conceitos abstractos

!  Mas os conceitos abstractos (p. ex.: números) não são agentes nem causam nada!

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O Argumento Cosmológico "Kalam"

Page 17: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Porque razão existe algo em vez de nada? !   O cristão diz que nada existiria sem um ser cuja inexistência é impossível (ser necessário)

!   Mais concretamente, o aristotélico-tomista diz que:

!  A essência desse ser é existir (essência e existência são idênticas em Deus)

!  Esse ser é que concede a existência a tudo o que existe

!  Logo, nada existiria sem esse ser, que é “o Ser”!

!   Esse ser necessário, não causado, é a “causa primeira” que dá existência ao Universo

!   Pelo contrário, o ateu só pode dizer…

!  … Que a inexistência do Universo é impossível (Universo necessário e eterno), ou…

!  … Que o Universo é a causa da sua existência (Universo necessário e eterno), ou…

!  … Que o Universo, a certa altura, surgiu do nada, sem causa e para nada!

O Argumento Cosmológico

O ateísmo é filosoficamente absurdo e incompatível com o conhecimento científico dos nossos tempos!

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Page 18: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Desvantagens do Argumento Cosmológico “kalam” (ACK) !   Não é tão sólido quanto as provas tomistas (primeira, segunda e terceira vias):

!  A segunda premissa do ACK, “O Universo não existe desde sempre”, é vulnerável:

!  A uma eventual nova filosofia do tempo que explicasse um Cosmos eterno

!  A eventuais (mesmo que remotas) provas científicas da eternidade do Cosmos

!  A primeira premissa é irrefutável, mas se a segunda for falsa, o ACK cai por terra…

!   As provas tomistas, apesar de muito criticadas e tidas por inválidas, nunca foram refutadas

!   As provas tomistas não dependem, e nunca dependeram, do conhecimento científico

!   Nenhuma descoberta científica futura pode enfraquecer as provas tomistas

!   Sendo puramente metafísicas, tais provas são sempre e necessariamente válidas

O Argumento Cosmológico

Apesar do seu interesse filosófico-científico, o ACK não é tão sólido quanto as três primeiras provas filosóficas de São Tomás

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Page 19: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

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1.  Introdução

2.  O Argumento Cosmológico

3.  O Argumento Teleológico

4.  Conclusão

Índice

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Page 20: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Introdução

!   Argumento filosófico a favor da finalidade (“telos”, em grego) do Universo

!   Assenta no facto científico da “afinação” (“fine tuning”) do Universo:

!  “Afinação” das leis da natureza

!  “Afinação” das constantes da natureza

!  “Afinação” das condições iniciais do Universo

!  Quatro explicações possíveis:

1.  O Universo só podia ser assim: porquê?

2.  O Universo podia não ser assim, mas é assim: pura sorte?

3.  Existem inúmeros Universos, e o nosso está “afinado”: como provar?

4.  O Universo foi criado por um ser inteligente

O Argumento Teleológico

A explicação teleológica é a mais racional! 20

Page 21: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

A “afinação” do Universo

!   Definição rigorosa de “afinação”

!   Diz-se que uma constante C está “afinada” para a existência de vida se:

!   WVPV é a gama de valores possíveis para a constante C que permitem a vida

!   Ou seja, se a constante C tivesse valores fora dessa gama, a vida não seria possível

!   WVC é uma gama adequada de valores de comparação para a constante C

!   A discussão em torno da gama de comparação é polémica e ainda está em curso!

!   Essa discussão é importante para quantificar as “afinações”, mas não há como negá-las!

!   Robin Collins é um filósofo norte-americano que se tem destacado nesta discussão

O Argumento Teleológico

1<<VC

VPV

WW

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Page 22: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

A “afinação” do Universo

!   Quatro forças fundamentais da Natureza

!  Força gravítica

!  Força electromagnética

!  Força nuclear forte

!  Força nuclear fraca

!   A força forte mantém a coesão do núcleo atómico

!   A força electromagnética causa atracção/repulsão entre partículas com carga eléctrica

!   Uma variação de mais de 0,5% na força forte…

!   … ou de mais de 4% na força electromagnética…

!   … resultaria:

!  Na destruição de todo o Carbono estelar

!  Na destruição de todo o Oxigénio estelar

!  Não conhecemos qualquer forma de vida sem Carbono ou sem Oxigénio

O Argumento Teleológico

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Page 23: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

A “afinação” do Universo

!   Para a existência de 92 elementos estáveis, a estrutura dos núcleos tem que ser estável

!  A força forte tem que estar muito equilibrada com a força electromagnética

O Argumento Teleológico

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Page 24: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

A “afinação” do Universo

!   O processo triplo-alfa e o nível de energia do Carbono 12

!   Como surgiram as partículas mais pesadas que o 4He, dado que não há átomos estáveis com 5 ou 8 partículas no núcleo?

!  O 5Li (5 nucleões) e o 8Be (8 nucleões) são instáveis

!  O processo triplo-alfa explica o surgimento de 12C pela colisão de 8Be com 4He

!   Os cálculos teóricos previam muito menos 12C do que o existente no Universo

!   Como surgiu o restante Carbono 12?

!   Graças à ressonância do seu nível de energia, que amplifica o processo triplo-alfa!

O Argumento Teleológico

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Page 25: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

A “afinação” do Universo

!   A proporção entre a massa do protão e a massa do neutrão

!   O neutrão, fora do núcleo, é instável: decai em 15 minutos gerando um protão (p), um electrão (e-) e um antineutrino de electrão (νe)

!   O protão é estável porque não tem energia suficiente para decair (Ep ≈ 99,86% En)

!   Se o protão fosse apenas 0,14 % mais pesado, não seria estável; o Hidrogénio não existiria, nem a água, nem os compostos orgânicos como os conhecemos

!   Se o neutrão fosse apenas 0,15% mais pesado, o processo pelo qual uma estrela consome Hidrogénio não operaria: não teríamos estrelas!

O Argumento Teleológico

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Page 26: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

A “afinação” do Universo !   A energia de expansão do Universo “compete” com a força gravítica !   A densidade crítica é o limite a partir do qual a gravidade vence: 5 átomos por metro cúbico !   A densidade actual é 30% da densidade crítica (Universo em expansão) !   Perto do Big Bang, a densidade manteve-se praticamente igual à critica

O Argumento Teleológico

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Page 27: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

O Argumento Teleológico

A escala do Universo

!   Das ínfimas partículas subatómicas (raio do electrão ~10-20m)…

!   … aos enormes aglomerados de galáxias (~1023m)…

!   ... o tamanho do ser humano está aproximadamente a meio da escala logarítmica!

!   Este exemplo é apresentado como curiosidade, e não como uma “afinação” rigorosa

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Page 28: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Versão de Robin Collins (“The Blackwell Companion to Natural Theology”, 2009)

!   UAV: Universo Afinado para a Vida (facto)

!   T: Hipótese teísta (existe um ser inteligente que criou o Universo, i.e., Deus)

!   N: Hipótese naturalista: só existe um Universo – o nosso – cuja existência é um facto bruto

!   As hipóteses T e N excluem-se mutuamente, pois a hipótese N nega a existência de Deus

!   A probabilidade do facto UAV dada a tese N é extremamente baixa:

!   Mas a probabilidade do facto UAV dada a tese T não é inverosímil:

!   Pelo princípio da verosimilhança:

!   T é uma hipótese sugerida muito antes (e independentemente) de sabermos o facto UAV

!   Pelo princípio da verosimilhança, o facto UAV reforça fortemente a hipótese T face à N

O Argumento Teleológico

O Argumento Teleológico é probabilístico: não nos dá certeza absoluta!

0)|( ≈NUAVP0)|(~ ≈TUAVP

1)|()|(

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>>==ΛNUAVPTUAVP

UAVNLUAVTL

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Page 29: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

O Argumento Teleológico

Como escapar à conclusão?

!   Recorrer ao “Multiverso”

!  O nosso Universo seria apenas um de muitos “domínios” de um “Multiverso”

!  O “Multiverso” seria regido por leis mais gerais, comuns a todos os “domínios”

!  O problema: o “Multiverso” continua baseado em leis universais que unem os “domínios”

!  Tais leis universais, e respectivas constantes, vão apresentar “afinação”!

!   Recorrer a infinitos universos

!  É como jogar infinitas vezes na lotaria: a certa altura vamos ganhar de certeza!

!  Todas as combinações das variáveis físicas estariam presentes num dado universo

!  Existiriam infinitos universos para esgotar todas essas combinações

!  Se todos estes universos tivessem que existir, o nosso também teria que existir!

!   A teoria dos “infinitos universos” (inacessíveis, logo, indemonstráveis) é o suicídio científico!

Para “escapar” à existência de um Deus cientificamente indemonstrável, sugerem-se infinitos universos cientificamente indemonstráveis?...

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Page 30: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

Desvantagens do Argumento Teleológico de Collins (ATC) !   Não é tão sólido quanto a quinta via tomista (pela causa final)

!  O ATC é um argumento probabilístico: perante o grau de “afinação” do Universo, é muito mais provável que o Universo se deva a um ser inteligente do que ao acaso

!  A quinta via é um argumento dedutivo: a conclusão decorre das premissas

!  Conhecimento científico futuro pode tornar menos improvável a “afinação” do Universo

!  Conhecimento científico futuro pode enfraquecer consideravelmente o ATC

!   A quinta via tomista nunca foi refutada

!   A quinta via tomista não depende, e nunca dependeu, do conhecimento científico

!   Nenhuma descoberta científica futura pode enfraquecer essa prova tomista

!   Sendo puramente metafísica, tal prova é sempre e necessariamente válida

O Argumento Teleológico

Apesar do seu interesse filosófico-científico, o Argumento Teleológico de Robin Collins não é tão sólido quanto a quinta via de São Tomás

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Page 31: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

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1.  Introdução

2.  O Argumento Cosmológico

3.  O Argumento Teleológico

4.  Conclusão

Índice

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Page 32: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

O “argumento central” contra Deus, de Richard Dawkins !   Richard Dawkins apresenta-o em “The God Delusion”, p. 198-199

1.  O maior desafio é explicar a complexa e improvável aparência de um design criador

2.  A tentação natural é atribuir a aparência de design ao próprio design

3.  A tentação anterior é falsa: quem criou esse criador do design?

4.  Pelo contrário, a evolução darwiniana explica a complexidade a partir da simplicidade: um “guindaste” (“crane”) assente no chão em vez de uma série de “ganchos” (“hooks”) vindos do céu

5.  No entanto, ainda não há algo semelhante ao darwinismo para a Física, que explique o aparente design do universo: será o multiverso? O princípio antrópico dá-nos direito de aceitar a sorte que temos em estar no universo certo

6.  Não devemos desistir de esperar por um “guindaste” que explique o design do universo; até lá, ficamos com o princípio antrópico (“sorte”), que é melhor que ganchos no céu

!   Logo, é quase certo que Deus não existe!

Conclusão

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Page 33: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

O “argumento central” contra Deus, de Richard Dawkins !   Dawkins não refutou o argumento teleológico

!   A pretensa “refutação” de Dawkins está mal estruturada: não se percebe onde estão as premissas e como está montado o argumento, pois ele não segue as regras da lógica e dos silogismos

!   “Who designed the Designer?”, pergunta Dawkins:

!  Uma explicação não é má ou inútil só porque não temos uma explicação da explicação

!  Senão todo o conhecimento humano cairia por Terra

!  É irracional só aceitar uma explicação E1, se tivermos uma explicação E2 que explica E1, e uma explicação E3 que explica E2, e uma explicação E4 que explica E3, e assim por diante … até ao infinito!

!  Nunca se explicaria nada!

!   Recorrer ao multiverso para tentar fugir do “design” é uma solução “ad hoc”

!   Apelar à sorte é irracional: “estamos aqui, não estamos?”

!   Recorrer a “guindastes” e “ganchos” não salva um mau argumento

Conclusão

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Page 34: Módulo ix   os argumentos cosmológico e teleológico

O argumento de Richard Dawkins contra a explicação divina ! Dawkins pretende que Deus não pode ser uma explicação para o Cosmos

!   Afirma que, nesse caso, Deus seria mais complexo que o Cosmos

!   E diz que devemos abandonar a explicação divina por ser mais complexa

!   Há, pelo menos, três erros fatais com este argumento:

1.  O cristianismo afirma que Deus é simples; aliás, o ente mais simples

2.  Mesmo que Deus fosse mais complexo do que o Cosmos...

!  ... Deus poderia ser uma boa explicação para o Cosmos

!  Afinal... Dawkins é mais complexo que qualquer um dos seus livros!

!  E no entanto, Dawkins é uma excelente explicação para a existência de qualquer um dos dos seus livros

3.  E como vimos no “slide” anterior, não precisamos de ter uma explicação da explicação para esta ser uma boa explicação

Conclusão

O ateísmo de Richard Dawkins é filosoficamente rudimentar e insuficiente! 34