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Curso Ciência e Fé Módulo V O Caso Galileu (Parte 1) © Bernardo Motta [email protected] http://espectadores.blogspot.com

Módulo v o caso galileu - parte 1

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Curso Ciência e FéMódulo V – O Caso Galileu (Parte 1)

© Bernardo Motta

[email protected]

http://espectadores.blogspot.com

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Curso Ciência e Fé

I – Introdução

II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega

III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval

IV – Inquisição e Ciência

V e VI – O Caso Galileu

VII – A Revolução Científica

VIII – Darwin e a Igreja Católica

IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico

X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial

XI – Milagres e Ciência

XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência

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3

1. Introdução

2. Do nascimento de Galileu até 1616

3. Os acontecimentos de 1616

4. De 1616 até ao processo de 1633

5. Da sentença de 1633 até à morte de Galileu

6. O caso Galileu até aos nossos dias

7. Conclusão

Índice

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Nicolau Copérnico (1473-1543)

1473: nasce em Toruń, na Polónia; tem familiares na Ordem Terceira

de S. Domingos; Nicolau e o seu irmão André, seguem a carreira eclesiástica;

sua irmã mais velha torna-se freira e chega a Abadessa de Culm

1491: Nicolau é aluno da Universidade de Cracóvia

1497: o Bispo de Cracóvia envia Nicolau e o seu irmão para estudar para Itália

(Universidade de Bolonha); Nicolau estuda, entre outras coisas, Direito Canónico

1500: Nicolau e o seu irmão estão em Roma para assistir ao Jubileu; Nicolau

dá palestras sobre astronomia na Cidade Eterna

1501-1503: estuda Medicina e Jurisprudência em Pádua e Ferrara

1506-1512: exerce medicina em Heilsberg

1514: Leão X pede a opinião técnica de Copérnico acerca da revisão do calendário litúrgico; Copérnico

tem um papel importante na reforma do calendário gregoriano (final do séc. XVI)

Final da década de 1520: Nicolau torna-se administrador da diocese de Frauenburg

1537: o rei da Polónia, Segismundo, coloca Copérnico na lista de possíveis sucessores para o então

vago cargo episcopal em Ermlund; especula-se que, por isso, ele teria recebido as ordens maiores; no

entanto, não há registo histórico de uma ordenação sacerdotal de Copérnico

Introdução

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O “De Revolutionibus”

1543: é impressa em Nuremberga a sua principal obra De revolutionibus orbium coelestium, “Das

revoluções dos orbes celestes”, dedicada ao Papa Paulo III, na qual expõe o novo modelo

Publicada sob pedido insistente do Cardeal Schömberg e Tiedemann Giese, Bispo de Culm

Copérnico invocou a protecção papal para a obra, na esperança de a proteger dos ataques dos

“matemáticos” (categoria que incluía certos filósofos que procuravam ridicularizar o novo modelo)

Como todos os astrónomos antes de Kepler, Copérnico vai assumir órbitas circulares no seu modelo

«Talvez alguns balbuciadores que se dizem juízes em astronomia sendo todavia completamente

ignorantes sobre o tema e, distorcendo gravemente alguma passagem da Escritura para os seus fins,

se atreverão a encontrar falhas na minha obra e censurá-la. Eu ignoro-os ao ponto de desprezar o seu

criticismo como infundado. Pois é sabido que Lactâncio, um ilustre escritor mas dificilmente um

astrónomo, fala de forma bastante infantil acerca da forma da Terra, quando goza com os que

declaram que a Terra tem a forma de um globo. Assim, os estudiosos não devem ficar surpreendidos

se alguma dessas pessoas me ridicularizar. A astronomia é escrita para astrónomos.»

Introdução

5

Porque assume órbitas circulares, o modelo de Copérnico, para oferecer a

mesma precisão do ptolemaico, precisa de um ou mais epiciclos por órbita!5

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O “De Revolutionibus”

Apesar da forte oposição ao heliocentrismo feita por teólogos e autoridades protestantes, do lado

católico, nenhum Papa, nenhuma Congregação levantou qualquer questão à obra de Copérnico até 1616

Copérnico morre a 24 de Maio de 1543, em Frombork, diz-se que segurando um exemplar da sua obra

O prefácio de Andreas Osiander (à revelia de Copérnico) em muito contribuiu para apaziguar as críticas:

Copérnico, que estava convicto da realidade do seu modelo, teria considerado o prefácio como traição

O sábio polaco, e a sua obra, gozaram de grande prestígio até à crise do caso Galileu

Introdução

6

«Ao Leitor, acerca das hipóteses desta obra:

(…) É dever do astrónomo compor a história dos movimentos celestiais através de cuidadoso

e experiente estudo. Então, ele deve conceber as causas destes movimentos ou hipóteses

acerca deles. Dado que ele não pode de forma alguma chegar às verdadeiras causas, ele irá

adoptar quaisquer suposições que permitam que os movimentos sejam calculados

correctamente a partir dos princípios da geometria [quer] para o futuro assim como para o

passado. O presente autor executou estes deveres de forma excelente. Pois estas hipóteses

não têm que ser verdadeiras ou mesmo prováveis. Pelo contrário, se elas fornecem um

cálculo consistente com as observações, isso é suficiente. (…)»

6

Page 7: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O “De Revolutionibus”

Introdução

7

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O “De Revolutionibus”

Introdução

«In medio uero omnium reſidet Sol. Quis enim in

hoc pulcherrimo templo lampadem hanc in alio

uel meliori loco poneret, quàm unde totum ſimul

poſsit illuminare.»

«No verdadeiro meio de tudo reside o Sol. Pois,

neste belíssimo templo, quem colocaria esta

lâmpada em melhor lugar do que aquele de

onde tudo pode iluminar de igual modo?»

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Tycho Brahe (1546-1601)

Genial astrónomo dinamarquês (luterano)

1573: De nova stella, acerca da observação de uma supernova em Cassiopeia

Brahe defende que esta “nova estrela” refuta a imutabilidade dos céus

Pela ausência de paralaxe, defende que não pode ser um fenómeno atmosférico

1576-1580: Construção de Uranienborg, na ilha de Hven (hoje Suécia)

1581: Construção do observatório subterrâneo de Stjerneborg (ilha de Hven)

1598: Astronomiae instauratae mechanica, onde descreve os instrumentos

Reuniu um conjunto único, pela sua precisão, de dados astronómicos

Tycho recorreu a um quadrante mural para medir graus de elevação

Os dados foram usados pelo seu assistente, Johannes Kepler (1571-1630)

Kepler publica em 1627 um importante catálogo de estrelas compilado ao

longo de décadas com base nos dados de Tycho, as Tabulae Rudolphinae

Brahe queria dedicar a obra ao Imperador Rodolfo II (1552-1612), mas em

1627 o Imperador já era Fernando II (1578-1637), a quem a obra é dedicada

Introdução

99

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Uranienborg (“Castelo de Urano”)

Palácio construído para ser o observatório astronómico de Tycho, na ilha de Hven (Oresund)

Construído entre 1576 e 1580

Introdução

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Stjerneborg (“Castelo das estrelas”)

Observatório subterrâneo de Tycho, construído perto de Uraniborg, por volta de 1581

Introdução

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Page 12: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Astronomiae Instauratae Mechanica (1598)

Introdução

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Page 13: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O sistema ticoniano

Introdução

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Johannes Kepler (1571-1630)

Genial matemático e astrónomo alemão (luterano)

1596: Kepler publica a sua importante obra sobre as órbitas planetárias,

Mysterium Cosmographicum, que reflecte forte influência platónica

1600-1612: Trabalha em Praga como ajudante de Tycho Brahe

1604: Regista o aparecimento de uma supernova na Via Láctea, constelação

de Ofiúco (SN1604), fenómeno que refuta a imutabilidade aristotélica dos céus

1609: Kepler publica a sua obra-prima, Astronomia Nova, fruto de dez anos de

observações a Marte, enquanto trabalhava para Tycho Brahe

A obra contém as primeiras duas leis de Kepler sobre o movimento planetário:

1. Os planetas movem-se em órbitas elípticas com o Sol num dos focos

2. A linha Planeta-Sol varre áreas iguais em iguais intervalos de tempo

A proposta das órbitas elípticas não foi bem aceite: preferiam-se as órbitas circulares dos epiciclos

Introdução

1414

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Introdução

«Entre 1543 e 1600, não consigo encontrar mais de dez

pensadores que adoptaram as principais teses da teoria

heliocêntrica. Estes incluem Thomas Digges e Thomas Hariot em

Inglaterra; Giordano Bruno e Galileo Galilei em Itália; Diego de

Zuñiga em Espanha; Simão Stevino nos Países Baixos; e, na

Alemanha, o maior grupo – Georg Joachim Rheticus, Michael

Maestlin, Christopher Rothmann, e Johannes Kepler» -

Robert Westman (Univ. California, San Diego)

15

Se nós nesta sala fôssemos todos intelectuais da segunda metade

do século XVI, seríamos todos adeptos do geocentrismo: estatisticamente,

nenhum de nós seria adepto do modelo de Copérnico!

Os dez adeptos do modelo de Copérnico no século XVI...

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Argumentos astronómicos a favor do geocentrismo

Paralaxe estelar

Constância da luminosidade aparente das estrelas

Tamanho (espúrio) dos discos estelares vistos através do telescópio (argumento de Riccioli, 1651)

Visibilidade simultânea de exactamente metade da esfera celeste

Excentricidades de Marte e Vénus e apogeu de Vénus

Argumentos físicos a favor do geocentrismo

Posição inferior dos corpos pesados e densos

Propriedades da peneira

Argumentos físicos contra o movimento diurno da Terra

Aspectos gerais: senso comum, ausência de ventos contrários

Queda vertical dos corpos

Movimento dos projécteis

Argumentos astronómicos contra o movimento anual da Terra

Constante latitude do nascimento e ocaso das estrelas fixas.

Constante altura do pólo celeste

Desigualdade da noite e dia

Movimento dos cometas (Tycho)

Argumentos físicos contra o movimento da Terra em geral

Corpos pesados preferem o repouso

O movimento natural

A luminosidade dos corpos

Introdução

1616

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Introdução

O fenómeno da paralaxe estelar

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Para se ter uma ideia da precisão, a estrela

mais próxima da Terra, Proxima Centauri,

ou “a Cen C” (Alfa Centauro é um sistema

de três estrelas, sendo C a mais pequena),

apresenta um desvio de paralaxe inferior a

um minuto angular (0,772 arco-segundos).

Ou seja, o desvio angular da posição

aparente desta estrela, medido em

posições opostas da órbita da Terra, é

inferior a um arco-minuto, algo que é

praticamente indetectável, e isto para a

estrela mais próxima.

Introdução

O fenómeno da paralaxe estelar

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Passagens bíblicas usadas para defender o geocentrismo

Josué 10:12-13: «No dia em que o Senhor entregou os amorreus nas mãos dos filhos de

Israel, Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas. “Detém-te, ó Sol, sobre

Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aialon.” E o Sol deteve-se, e a Lua parou até o povo se

ter vingado dos seus inimigos. Isto está escrito no Livro do Justo. O Sol parou no meio do

céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro.»

Salmos, 19 [18]: 5-7: «[...] Deus fez, lá no alto, uma tenda para o Sol, donde ele sai, como

um esposo do seu leito, a percorrer alegremente o seu caminho, como um herói. Sai de uma

extremidade do céu e, no seu percurso, alcança a outra extremidade. Nada escapa ao seu

calor».

Salmos, 93 [92]:1: «O Senhor é rei, vestido de majestade; revestido e cingido de poder

está o Senhor. Firmou o universo, que não vacilará.»´

Salmos, 104 [103]: 5: «Fundaste a terra sobre bases sólidas, ela mantém-se inabalável

para sempre.»

Eclesiastes, 1: 4-5: «Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre. O Sol

nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar.»

Introdução

1919

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1. Introdução

2. Do nascimento de Galileu até 1616

3. Os acontecimentos de 1616

4. De 1616 até ao processo de 1633

5. Da sentença de 1633 até à morte de Galileu

6. O caso Galileu até aos nossos dias

7. Conclusão

Índice

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Introdução

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República de Veneza

697-1797

Capital: Veneza

Pádua

Grão-Ducado da Toscânia

1569-1849

Capital: Florença

Pisa (n. Galileu)

Estados Pontifícios

754-1870

Capital: Roma

Bolonha (1506-)

Ducado de Mântua

1530-1708

Capital: Mântua

Divisão política durante o Renascimento: os mecenas de Galileu

Page 22: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Galileu Galilei (1564-1642)

Galileu nasce a 15 de Fevereiro em Pisa, filho de Vincenzo Galilei

1575-78: recebe instrução com os beneditinos de Vallombrosa

1581-87: estuda em Pisa

1587: primeira viagem a Roma; conhece o astrónomo e matemático jesuíta Cristóvão Clávio (1537/38-1612); candidata-se ao cargo de professor de Matemática na Universidade de Siena, sem sucesso

1588: candidata-se a docente em Pisa, Siena, Pádua, Bolonha, e Florença; obtém em 1589 o cargo de professor de Matemática em Pisa, onde ficará até 1592

1591: morre o pai de Galileu

1592: obtém a cátedra de Matemática em Pádua, que manterá até 1610

1595: desenvolve a sua teoria sobre as marés, que implicaria o movimento da Terra; deverá datar desta época a sua adesão ao modelo de Copérnico

1603: Federico Cesi funda a Accademia dei Lincei (“Academia dos Linces”), com o patronato do Papa Clemente VIII. A instituição viria a ser dissolvida logo após a morte de Cesi, em 1630.

1606: nasce o filho de Galileu, Vincenzo

Do nascimento de Galileu até 1616

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De onde vem o método demonstrativo de Galileu Galilei?

Trata-se de uma questão muito complexa e longe de estar fechada

Duhem (a tese “pioneira”): uma ligação aos “Doctores Parisiensis”

Koyré: correntes neoplatónicas e neopitagóricas em voga na altura

Randall / Edwards: aristotelismo de Zabarella (Pádua)

Wallace: aristotelismo-tomismo do Collegio Romano

(método “ex suppositione”)

Galileu não usou o moderno método hipotético-dedutivo

Esse método não é demonstrativo (dicotomia entre verosimilhança e falsificabilidade)

Galileu orgulhava-se de ter criado um novo método demonstrativo

Quer o método “ex suppositione” clássico, quer a variante adoptada por Galileu são

métodos demonstrativos, variantes do silogismo “modus ponendo ponens”

Influência forte do método experimental de Arquimedes

Do nascimento de Galileu até 1616

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Galileu (1564-1642) e os Jesuítas do Collegio Romano

1534: Inácio de Loyola (1491-1556) funda o primeiro

grupo com seis companheiros, em Montmartre

1540: Paulo III confirma a nova ordem religiosa

1551: Inácio funda o Collegio Romano

1567: O Collegio conta com mais de mil alunos

O Ratio Studiorum de 1566 diz sobre a matemática:

Predominava então no Collegio a visão do filósofo e professor de Lógica Paolo della Valla

Segundo Valla, as abstracções matemáticas, tirando a quantidade, têm pouco a ver com a natureza

Cristóvão Clávio (1537-1612) vai mudar de forma radical o papel da Matemática no Collegio Romano24

«Acerca das matemáticas, o matemático deve ensinar, por esta

ordem, os [primeiros] seis livros de Euclides, aritmética, as

esfera [de Sacrobosco], cosmografia, astronomia, a teoria dos

planetas, as Tabelas Afonsinas, óptica e o registo do tempo.

Apenas no segundo ano os alunos de filosofia ouvirão estas

aulas, mas por vezes, com permissão, também os estudantes

de dialéctica.»

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 25: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Do nascimento de Galileu até 1616

A rede jesuíta de ensino

Presença em três continentes:

Europa, América do Sul e Ásia

1540: Paulo III reconhece a nova ordem

1552: Brasil (via Portugal)

1568: México (via Castela)

1572: Perú (via Castela)

1583: Goa (via Portugal)

1605: Filipinas (via Castela)

1618: Japão (via Portugal)

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Page 26: Módulo v   o caso galileu - parte 1

«The single most important contributor to the

support of the study of physics in the

seventeenth century was the Catholic Church

and, within it, the Society of Jesus» (p. 2)

«O mais importante contribuidor para o apoio do

estudo da física no séc. XVII foi a Igreja Católica

e, nela, a Companhia de Jesus» (p. 2).

J. L. Heilbron,

Electricity in the 17th and 18th

Centuries

26

Do nascimento de Galileu até 1616

A rede jesuíta de ensino

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Page 27: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Do nascimento de Galileu até 1616

A rede jesuíta de ensino – o Marquês de Pombal e a Universidade de Coimbra

1759: Pombal expulsa os Jesuítas, encerra a Universidade de Évora, e faz uma “reforma” à de Coimbra

1771: “Compêndio histórico do estado da Universidade de Coimbra”, libelo contra os “velhos estatutos”

1772: Novos estatutos da Universidade de Coimbra; restrições (sociais e financeiras) à admissão

Quebra no número médio de alunos por ano após a “reforma” da Universidade de Coimbra: -70% !

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

Novos alunos

(inicial)

Novos alunos

(final)

Total de alunos

(média anual)

1577-1625

1626-1669

1670-1717

1718-1770

1772-1820

27

Page 28: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Galileu (1564-1642) e os Jesuítas do Collegio Romano

Cristóvão Clávio (1538-1612) foi professor de Matemática no Collegio

Nasceu em Bamberg, na Alemanha

1555: Inicia o percurso de formação Jesuíta

1556-60: A estudar no Colégio Jesuíta da Universidade de Coimbra

1560: Muda-se para Roma, para estudar Teologia no Collegio

1564: Ordenado sacerdote; começa a dar aulas de Matemática no Collegio

Obras:

Comentários à Esfera de Sacrobosco (1570)

Comentários aos Elementos de Euclides (1574, 1ª edição)

Na 2ª edição (1589), faz uma vigorosa defesa da Matemática

Geometria Practica (1604), Álgebra (1608)

As obras matemáticas de Clávio foram usadas em todo o Mundo nos

institutos da rede de ensino jesuíta (Ratio Studiorum de 1586 e seguintes)

1582: Matemático sénior da Comissão de reforma do Calendário

(4 de Outubro de 1582 passa a 15 de Outubro no calendário gregoriano)

Introduz a regra actual para o cálculo dos anos bissextos 28A cratera “Clavius” na Lua

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 29: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Galileu (1564-1642) e os Jesuítas do Collegio Romano

Enquanto leccionava em Pisa (1589-1591), Galileu escreveu estas notas:

1588-89: questões sobre nos Analíticos Posteriores (MS 27)

1590: questões sobre o De caelo e o De generatione (MS 46)

1590: questões sobre movimento local, esboços de um diálogo (MS 71)

William Wallace mostra que elas se baseiam em textos do Colégio Romano

As questões lógicas do MS 27 espelham um curso de Valla (1587-88), via plágio de Ludovico Carbone

As questões físicas permitem paralelos com as obras dos professores Menu, Valla, Vitelleschi, Rugerius,

Pereirus e Del Bufalo

Sobre os problemas da queda dos corpos, Rugerius refere as soluções de Soto e Toledo:

Domingos de Soto (1494-1560), Filosofia em Alcalá (1520), Teologia em Salamanca (1532)

Soto foi o primeiro a afirmar que a queda dos corpos é uniformemente acelerada

Francisco de Toledo (1532-1596), aluno de Soto, exegeta bíblico e professor no Collegio

Sobre o movimento dos projécteis, Menu refere os alunos às obras de Temístio, Simplício, Filopono,

Alberto Magno, Buridan, Alberto da Saxónia, Gratiadei, Paulo de Veneza, Scaliger, Domingos de Soto 29

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 30: Módulo v   o caso galileu - parte 1

A “biblioteca medieval” de Galileu (1564-1642)

As obras de Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.)

Galileu usa uma edição veneziana (Paulo Manúcio, 1558)

Preservadas durante a Idade Média pelo arquitecto bizantino Isidoro de Mileto (c. 530)

Traduções para árabe por Ibn Qurra (836-901) e para latim por Gerardo de Cremona (c.1114-1187)

Elementos de Euclides (séc. IV a.C.), trad. Campano de Novara

Obras de Ptolomeu (vários)

Os tratados de óptica de Alhazen (965-c. 1040)

Tábuas Afonsinas (Afonso X de Castela e Leão, 1221-1284)

Os tratados de óptica de Vitelo (c.1230-c.1280/1314)

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Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 31: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Galileu e a Universidade de Pádua (1592-1610)

Já existia pelo menos em 1222, fundada por um grupo

de alunos e professores da Universidade de Bolonha

Duas faculdades: Direito e Teologia

1399: Divide-se em Direito, Artes e Teologia

1405: Pádua fica sob domínio da República de Veneza

Muito marcada pelo aristotelismo e pelo averroísmo

Herdou de Oxford/Paris a “nova física” do movimento

Nos séculos XV e XVI desenvolveu a Medicina

Figuras proeminentes:

1417-25: Nicolau de Cusa (1401-1464), Cardeal

1501-03: Nicolau Copérnico (1473-1543)

1536-43: André Vesálio (1514-1564)

1551-62: Gabriel Fallopio (1523-1562)

1559-1604: Jerónimo Fabrizio d’Acquapendente (1537-1619)

1592-1610: Galileu Galilei (1564-1642)

Nicolau de Cusa adopta a teoria do ímpeto (Buridan, etc.)

e faz trabalho pioneiro na área do cálculo infinitesimal 31O Teatro Anatómico de Fabrizio (1594) 31

Do nascimento de Galileu até 1616

Page 32: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Galileu e a Universidade de Pádua (1592-1610)

1606: obra científica dedicada ao Grão-Duque da Toscânia: a estratégia de ascensão social de Galileu

1607: o caso de plágio do jovem milanês Baldassare Capra (1580-1626), que acaba humilhado por Galileu

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Do nascimento de Galileu até 1616

Page 33: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Os vários tipos de lente

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 34: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Lentes convergentes e lentes divergentes

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 35: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O telescópio galileano

Objectiva convergente (plano-convexa ou biconvexa) e ocular divergente (plano-côncava ou bicôncava)

Campo de visão muito estreito (Galileu sofreu!), mas a imagem sai direita

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 36: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O telescópio kepleriano (cfr. Dioptrice, 1611)

Primeiro construtor: Christoph Scheiner, Rosa Ursina (1630)

Maior campo de visão, mas sofre de aberração cromática (requer maiores distâncias focais, f1/f2)

Imagem sai invertida

1. Objectiva divergente (plano-convexa)

2. Ocular divergente (plano-convexa)

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 37: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O telescópio kepleriano (cfr. Dioptrice, 1611)

Christiaan Huygens (1629-1695) descobre, em 1655, Titã, a maior lua de Saturno

Giovanni Cassini (1625-1712) descobre, em 1672, Reia, a segunda maior lua de Saturno

O telescópio kepleriano de Huygens tinha 4 metros de comprimento e o de Cassini tinha 11 metros

O telescópio de Johannes Hevelius (1611-1687), com 45 metros de comprimento: frágil e pouco eficaz!

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 38: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Ao serviço da Sereníssima: Galileu apresenta o telescópio ao Doge

Do nascimento de Galileu até 1616

38Galileu apresenta o telescópio ao Doge Leonardo Donato (1536-1612)

Page 39: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Ao serviço da Sereníssima:

Galileu apresenta o telescópio ao Doge

Rascunho da carta enviada a 24-08-1609

Do nascimento de Galileu até 1616

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«Mui Sereno Príncipe,

Galileo Galilei prostra-se humildemente ante Sua

Alteza, (...) tendo decidido presenteá-La com um

telescópio que será grande ajuda em empreitadas

marítimas e terrestres. Asseguro-Vos que manterei

esta nova invenção como grande segredo e

mostrá-la-ei apenas a Vossa Alteza. O telescópio

foi feito para o rigoroso estudo das distâncias. Este

telescópio tem a vantagem de descobrir navios

inimigos duas horas antes de serem vistos com a

visão natural, e distinguir o seu número e

qualidade, e avaliar a sua força e estar preparado

para os perseguir, combater, ou deles fugir; ou, no

campo, para ver todos os detalhes e para distinguir

cada movimento e preparação.»

Page 40: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Ao serviço da Sereníssima: Galileu apresenta o telescópio ao Doge

Texto da carta enviada a 24-08-1609

Do nascimento de Galileu até 1616

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«Sereníssimo Príncipe,

Galileu Galilei, humilíssimo servo de S.ma V. A., assiduamente atento e com todo o espírito para poder, não somente

satisfazer o encargo que tem como lente de Matemática no Estúdio de Pádua, mas também com algum achado útil e

assinalável poder aportar benefício extraordinário a S.de V.a, apresenta-se com um novo artefacto de telescópio obtido

das mais recônditas especulações de perspectiva, o qual conduz os objectivos visíveis de tal forma perto do olho, e de

tal modo grandes e distintos os representa, que aquilo que é distante, p. ex., nove milhas, aparece como se distasse

uma milha só : coisa que para todo o negócio e empreitada marítima ou terrestre pode ser de proveito inestimável ;

podendo-se, no mar, a distância assaz maior do que o habitual, descobrir o madeirame e as velas do inimigo, de modo

que podemos descobri-lo duas ou mais horas antes que ele nos descubra a nós, e distinguindo o número e a qualidade

das embarcações, avaliar a sua força, para nos prepararmos para os perseguir, combater, ou deles fugir ; e igualmente

podendo-se em terra ver dentro das praças, quartéis e abrigos do inimigo a partir de qualquer altura bem distante, ou

ainda no campo aberto ver e distinguir particularmente, com grande vantagem nossa, cada movimento ou preparação

sua ; para além de muitas outras utilidades, notórias para toda a pessoa judiciosa. E portanto, julgando-o digno de ser

recebido e estimado como utilíssimo pela S. V., determinou de o apresentar e, sob o seu arbítrio, determinar acerca

deste achado, ordenando ou providenciando que, segundo o que parecerá oportuno à sua prudência, sejam ou não

sejam fabricados. E isto apresenta com todo o afecto o dito Galileu a S. V. como um dos frutos da ciência que ele, já

completos 17 anos, professa no Estúdio de Pádua, com esperança de estar à altura de lhe apresentar [frutos] maiores,

se aprouver ao S. Deus e à S. V. que ele, segundo o seu desejo, passe o resto da sua vida ao serviço de V. S. À qual

humildemente se inclina, e da Sua Divina Majestade lhe roga o cume de todas as felicidades.»

Page 41: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O momento de glória de Galileu: o “Sidereus Nuncius” (1610)

Galileu dedica a obra ao Grão-Duque da Toscânia, Cosme II de Médicis (1590-1621)

Os satélites de Júpiter são apelidados de “medicea siderea” (planetas mediceanos)

A obra lança Galileu para o estrelato: Galileu consegue o cargo de filósofo e matemático de Cosme II

Galileu muda-se de Pádua para a corte florentina a 7 de Setembro de 1610

Galileu, Sidereus Nuncius, Veneza, 1610 Cosimo II de Medici (1590-1621)

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 42: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Medalha de Gaspare Mola, para celebrar a descoberta das "estrelas" (1610)

Na frente, vê-se Cosme II com a inscrição "COSMIVS II MAGNVS DVX ETRVR[AE] IIII"

No verso, Júpiter sobre as núveus e as quatro "estrelas", e ainda a inscrição "SIDERA MEDICEA"

Aproveitamento dinástico das "estrelas dos Medici"

Page 43: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Aproveitamento dinástico das "estrelas dos Medici"

Pietro da Cortona (1596-1669) – Sala de Júpiter - Palazzo Pitti (1643/44, c. 1665)

A corte mudou-se do Palazzo

della Signoria para o Palazzo

Pitti

A decoração que chegou aos

nossos dias é do tempo do

Grão-Duque Ferdinando II de'

Medici (1610-1670)

Cortona pinta os tectos das

Salas Planetárias

Na Sala de Júpiter, vêem-se

as Estrelas de Médicis

Apenas dez anos após a

condenação de Galileu, a

representação dos satélites de

Júpiter era matéria delicada

As Estrelas são usadas aqui

como símbolo das quatro

virtudes cardeais

Galileu já tinha associado as

Estrelas às virtudes de Cosme I

Page 44: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Aproveitamento dinástico das "estrelas dos Medici"

Giovanni Battista Foggini (1652-1725) – c. 1683 (50 anos após a condenação)

Reverso de uma medalha de bronze em homenagem a Vittoria della Rovere, mãe de Cosimo III

Sobre a Fama está o planeta Júpiter e as quatro Estrelas de Médicis

A citação “famam quae [i.e. ‘qui’] terminet astris” é da “Profecia de Júpiter” da Eneida (Livro I, 285)

Page 45: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Aproveitamento dinástico das "estrelas dos Medici"

Luca Giordano (1634-1705)

A apoteose dos Medici (1685)

(Pallazzo Medici Riccardi, Florença)

No topo está Júpiter

Logo abaixo, ao centro, está Ferdinando II

Abaixo de Ferdinando II, com manto encarnado, está o

seu filho Cosimo III

Cosimo IIII está ladeado pelos seus dois filhos:

Gian Gastone, que viria a ser o último Grão-Duque

O Grão-Príncipe Ferdinando

Cada Médici está encimado por uma estrela

Page 46: Módulo v   o caso galileu - parte 1

O momento de glória de Galileu: o “Sidereus Nuncius” (1610)

As fases da Lua (fls. 8, 9v, 10, 10v) Os satélites de Júpiter (fl. 25v)

Do nascimento de Galileu até 1616

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Galileu, Sidereus Nuncius, Veneza, 1610 Manuel Dias, Tianwenlüe, Pequim, 1614

O momento de glória de Galileu: o “Sidereus Nuncius” (1610)

O feito de Galileu chega cedo a Pequim, pela mão do missionário jesuíta Manuel Dias (1574-1659)

Na obra Tianwenlüe (“Sumário de Questões sobre o Céu”), de 1614, Manuel Dias retrata Saturno tal

como Galileu o retratou: os dois círculos menores adjacentes a Saturno foram interpretados como planetas

mas na verdade trata-se dos anéis de Saturno

Do nascimento de Galileu até 1616

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A descoberta das fases de Vénus (Outubro-Dezembro de 1610)

As fases de Vénus, como deveriam aparecer no modelo ptolemaico (clicar para abrir website)

Vénus tem uma órbita epicíclica sobre um deferente em torno da Terra

Note-se que Vénus nunca exibe as fases crescente convexa e minguante convexa

Do nascimento de Galileu até 1616

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A descoberta das fases de Vénus (Outubro-Dezembro de 1610)

Galileu faz várias observações a Vénus entre Outubro e Dezembro de 1610

Descobre que Vénus, tal como a Lua, apresenta um ciclo completo de fases

Estas observações refutam o sistema ptolemaico, no qual esse ciclo de fases não é possível

Só dois sistemas eram compatíveis com as fases de Vénus: o de Copérnico e o de Tycho

Galileu reporta a descoberta a Giuliano de Medici a 1 de Janeiro de 1611, defendendo-a como uma prova a favor do modelo de Copérnico; Galileu nunca defendeu o modelo de Tycho

Galileu também deduz, desta descoberta, que os planetas não têm luz própria, e que a derivam do Sol

Do nascimento de Galileu até 1616

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A Ciência na Aula da Esfera: Giovanni Lembo

Giovanni Paolo Lembo (1570?-1618), matemático jesuíta

Construiu telescópios galileanos no Collegio Romano

Um dos 4 matemáticos que assinam o parecer a Bellarmino

Entre 1615-17 leccionou a Aula da Esfera no Colégio de Santo

Antão, e ensinou os alunos a construir telescópios galileanos

Os Jesuítas abandonam cedo o modelo ptolemaico

No tempo de Clávio, mostram preferência pelo modelo heliocêntrico

Depois da condenação do heliocentrismo, mudam para o de Tycho

Azulejaria alusiva à Aula da Esfera (Colégio de Santo Antão

o Novo, hoje Hospital de São José, em Lisboa)

Do nascimento de Galileu até 1616

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Bellarmino escreve aos matemáticos do Collegio Romano (19-4-1611)

Bellarmino pergunta aos Jesuítas se aprovam as descobertas de Galileu: a multidão das estrelas da Via

Láctea, a estrutura de Saturno, as fases de Vénus, a superfície lunar, e os satélites de Júpiter

Do nascimento de Galileu até 1616

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Page 52: Módulo v   o caso galileu - parte 1

Os matemáticos do Collegio Romano respondem a Bellarmino (24-4-1611)

Os matemáticos do Collegio Romano que assinam a carta confirmam as descobertas de Galileu

Assinam: Cristóvão Clávio, Cristóvão Grienberger, Odo van Maelcote e Giovanni Paolo Lembo

O apoio dos Jesuítas a Galileu está relacionado com o projecto de Clávio para legitimar a matemática

Do nascimento de Galileu até 1616

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Galileu e a Accademia dei Lincei

25-4-1611: Galileu é aceite na Accademia dei Lincei (6º membro)

A Accademia foi fundada em 1603 por Federico Cesi (1585-1630)

Bartolomeo Cesi, tio de Federico, era Cardeal

A Accademia foi fundada para fazer investigação científica através

da observação, do método experimental e do método indutivo

O nome escolhido inspira-se na capa da obra “Magia Naturalis”, de

Giambattista della Porta, na qual surge um lince

Galileu manteve sempre o orgulho de ser um “linceo”

A Accademia foi muito importante pelo seu apoio à carreira de Galileu

1613: A Accademia publica a obra de Galileu "Istoria e dimostrazione

intorno alle macchie solari" (cartas sobre as manchas solares)

Nestas cartas, Galileu envolve-se em polémica com o jesuíta alemão (de Ingolstad) Christoph Scheiner

(1573/5-1650) acerca da natureza das manchas solares

1623: A Accademia publica a obra de Galileu “Il Saggiatore”

Nesta obra, Galileu envolve-se numa polémica mordaz com o matemático jesuíta Orazio Grassi (1583-

1654), do Collegio Romano, acerca da natureza dos cometas, nas sequência do cometa de 1618

Grassi assinava com o pseudónimo “Lotario Sarsi”

Do nascimento de Galileu até 1616

Federico Cesi (1585-1630)

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Christoph Scheiner (1573/75-1650)

“Rosa Ursina sive Sol”, a principal obra de Scheiner sobre as manchas solares (Bracciano, 1626/30)

A volumosa obra (780 páginas) principia com um vívido ataque a Galileu, logo no Livro I

Do nascimento de Galileu até 1616

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Galileu em Roma (1611)

29 de Março: Galileu chega a Roma, no estatuto de uma espécie de “embaixador científico” dos Medici

Galileu ofereceu telescópios a vários Cardeais: Del Monte, Montalto, Acquaviva e Borghese

30 de Março: Galileu visita o Collegio Romano e encontra-se com Clávio, Grienberger e van Maelcote

2 de Abril: Galileu visita o Cardeal Maffeo Barberini (futuro Papa Urbano VIII, que condenaria Galileu)

Galileu monta um telescópio nos jardins do Cardeal Ottavio Bandini (perto do Quirinal)

19 e 24 de Abril: troca de cartas entre Bellarmino e os matemáticos do Collegio Romano

22 de Abril: Galileu é recebido por Paulo V, que não o deixa estar ajoelhado (quebrando o protocolo)

25 de Abril: Federico Cesi dá um jantar para a recepção forma de Galileu na Accademia dei Lincei

13 de Maio: Galileu é recebido em apoteose no Collegio Romano, estando presentes vários cardeais

Odo van Maelcote discursa sobre as descobertas de Galileu, confirmando-as em nome do Collegio

Graças às descobertas de Galileu, o “decano” Clávio abandona de vez o sistema ptolemaico

31 de Maio: o Cardeal Del Monte escreve ao patrão de Galileu, o Grão-Duque da Toscânia:

4 de Junho: Galileu regressa a Florença: a sua digressão a Roma foi um completo sucesso

Do nascimento de Galileu até 1616

«Se estivéssemos ainda no tempo da antiga República Romana, creio que certamente lhe seria

erigida uma estátua em Campidoglio, para honrar a excelência do seu valor»

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Page 56: Módulo v   o caso galileu - parte 1

1613-16: Entra em cena a questão das Sagradas Escrituras

Dez-1613: num jantar, Boscaglia, professor em Pisa, diz que o heliocentrismo é contrário à Bíblia

A Grã-Duquesa Cristina interroga Benedetto Castelli, amigo de Galileu, sobre a questão

21-12-1613: Galileu escreve a “Carta a Castelli” discutindo as relações entre Bíblia e Ciência

Dezembro de 1614: sermão do frade Tommaso Caccini (1564-1648), em Florença, contra Galileu

Janeiro de 1615: o superior (dominicano) de Caccini escreve a Galileu a pedir-lhe desculpas

7 de Fevereiro: Niccolò Lorini, outro dominicano, escreve uma carta contra Galileu ao Cardeal Sfondrati

A carta de Lorini chega à Inquisição, Caccini e outros são interrogados, mas tudo é arquivado

16 de Fevereiro: Galileu, sentido necessidade de se defender, escreve a Monsenhor Piero Dini

12 de Abril: Bellarmino escreve a Foscarini, Provincial dos Carmelitas na Calábria e amigo de Galileu:

1615: Galileu escreve “Considerações sobre a opinião copernicana” e “Carta à Grã-Duquesa Cristina”

Do nascimento de Galileu até 1616

«(…) Vossa Reverência e o Senhor Galileu actuariam prudentemente limitando-se a falar hipoteticamente e

não de modo taxativo, como aliás sempre fez Copérnico. (…) Digo que, se fosse verdadeira a demonstração

de que o Sol está no centro do Universo e a Terra no terceiro céu, e que o Sol não gira em torno da Terra,

mas a Terra em torno do Sol, então seria necessário ter muito cuidado ao explicar as Escrituras que

parecem contrárias, dizendo eventualmente que não as entendemos, em vez de dizer que é falso aquilo que

se demonstra. (…)»

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1615: A Carta à Grã-Duquesa Cristina (1565-1637)

No célebre jantar de Dezembro de 1613, nem a Grã-Duquesa nem Boscaglia ficaram convencidos com os argumentos de Castelli

Galileu, consciente da importância de “ganhar” o apoio da mãe do seu patrono Cosme II, escreve a “Carta à Grã-Duquesa Cristina”

Na Carta, Galileu defende categoricamente o modelo de Copérnico:

Galileu defende a inerrância bíblica e critica o absoluto literalismo:

Do nascimento de Galileu até 1616

«(…) tenho, acerca da constituição das partes do mundo, que o Sol, sem

mudar de lugar, permanece situado no centro das conversões dos orbes

celestes, e que a Terra, girando sobre si mesma, move-se-lhe em torno (…)»

«(…) se alguém, ao expô-la, se ficasse sempre pelo nú sentido literal, poderia,

erradamente, fazer aparecer na Escritura não só contradições e proposições

remotas da verdade, mas graves heresias e blasfémias: pois seria necessário

atribuir a Deus pés e mãos e olhos, e não menos [atribuir-Lhe] afectos

corporais e humanos, como de ira, de arrependimento, de ódio, e ainda por

vezes o esquecimento das coisas passadas e a ignorância do futuro (…)»

Defende que a estabilidade ou movimento da Terra e do Sol não pertencem à doutrina (não são matéria “de fide”) nem aos costumes (à moral); o fito das Escrituras não é o de ensinar essas matérias 57

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1614-1616: O problema do tamanho das estrelas

Simon Marius, Mundus Jovialis (1614)

Georg Locher, Disquisitiones Mathematicae (1614)

Ambos são anti-copernicanos

Utilizam observações com o telescópio para questionar o modelo de Copérnico

Francesco Ingoli, carta a Galileu (1616)

Christopher Graney tem divulgado estas objecções astronómicas ao copernicanismo

George Biddell Airy (1801-1892)

O disco de Airy surge, em focagem ideal, quando a fonte de luz atravessa uma lente de abertura circular

O padrão de Airy resulta da difracção da luz emitida por essa fonte ao atravessar a lente

θA é o ângulo de abertura do disco de Airy

λ é o comprimento de onda da fonte de luz, e D é o diâmetro de abertura

O ângulo de abertura não depende da distância à fonte de luz!

Do nascimento de Galileu até 1616

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qA =1,22l

D

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1614-1616: O problema do tamanho das estrelas

Do nascimento de Galileu até 1616

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1614-1616: O problema do tamanho das estrelas

Do nascimento de Galileu até 1616

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1614-1616: O problema do tamanho das estrelas

Do nascimento de Galileu até 1616

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1614-1616: O problema do tamanho das estrelas

Do nascimento de Galileu até 1616

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1614-1616: O problema do tamanho das estrelas

Do nascimento de Galileu até 1616

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