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F. Jorge Lino Módulo de Weibull MÓDULO DE WEIBULL F. Jorge Lino Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto, Portugal, Telf. 22508704/42, [email protected] , www.fe.up.pt/~falves 1. Natureza Estatística da Fractura: Análise de Weibull O facto de Leonardo da Vinci repetir várias vezes as suas experiências para verificar os resultados obtidos, mostra a sua preocupação com a natureza estatística dos fenómenos de fractura. Geralmente, a variação estatística de um dado valor de uma propriedade mecânica (por exemplo, a resistência à fractura) depende de erros inerentes às medições, tais como variações no alinhamento da amostra e do meio ambiente do ensaio, e variações inerentes às propriedades do material. Nesta análise, apenas se considera a última fonte de variação estatística das propriedades de fractura. Sendo assim, um evento de fractura dependerá da probabilidade de que uma fissura de uma dada dimensão e orientação esteja presente quando é aplicada uma tensão específica. Por exemplo, considere-se a existência dos 4 tipos diferentes de fissuras representados na figura seguinte. F F b a B A Admita-se ainda que os comprimentos das fissuras A e B são iguais aos comprimentos das fissuras a e b, respectivamente, e que cada defeito actua independentemente dos outros três. A Fevereiro 2006 1

Modulo WeiBull

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Dissertação sobre o módulo de Weibull.

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  • F. Jorge Lino Mdulo de Weibull

    MDULO DE WEIBULL

    F. Jorge Lino Departamento de Engenharia Mecnica e Gesto Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,

    Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto, Portugal, Telf. 22508704/42, [email protected], www.fe.up.pt/~falves

    1. Natureza Estatstica da Fractura: Anlise de Weibull

    O facto de Leonardo da Vinci repetir vrias vezes as suas experincias para verificar os

    resultados obtidos, mostra a sua preocupao com a natureza estatstica dos fenmenos de

    fractura. Geralmente, a variao estatstica de um dado valor de uma propriedade mecnica (por

    exemplo, a resistncia fractura) depende de erros inerentes s medies, tais como variaes no

    alinhamento da amostra e do meio ambiente do ensaio, e variaes inerentes s propriedades do

    material. Nesta anlise, apenas se considera a ltima fonte de variao estatstica das

    propriedades de fractura. Sendo assim, um evento de fractura depender da probabilidade de que

    uma fissura de uma dada dimenso e orientao esteja presente quando aplicada uma tenso

    especfica. Por exemplo, considere-se a existncia dos 4 tipos diferentes de fissuras

    representados na figura seguinte.

    F

    F

    b

    a

    B

    A

    Admita-se ainda que os comprimentos das fissuras A e B so iguais aos comprimentos das

    fissuras a e b, respectivamente, e que cada defeito actua independentemente dos outros trs. A

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    fractura ocorrer quando B atingir um valor crtico. Uma vez que A

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    1/4. Para trs caras, a probabilidade ser 1/8, ou (1/2)3). Se a distribuio de fissuras em cada

    volume for a mesma, a probabilidade de sobrevivncia do veio ser:

    S V( ) = S V0( )x , (1)

    sendo o volume de cada unidade do slido. Utilizando logaritmos e rearranjando a equao

    (1), teremos

    V0

    S V( ) = exp x ln S V0( )[ ]( ) . (2)

    Weibull definiu o risco de ruptura R como sendo

    R = x ln S V0( )[ ] , (3)

    e consequentemente

    S V( ) = exp R( ) . (4)

    Para um volume V, demonstra-se que o risco de ruptura

    R = f ( )V dV , (5)

    sendo apenas funo da tenso.

    Alem disso, segundo Weibull

    f ( ) = u( ) 0

    m

    , (6)

    onde:

    - tenso aplicada u - tenso abaixo da qual h 0% de probabilidades de ruptura. Isto implica a existncia de um limite superior para o tamanho dos defeitos presentes no material. (No caso da

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    fadiga em aos, u = fadiga . Para os cermicos frgeis, u = 0 uma vez que qualquer tenso de traco poder causar fractura. Para < 0 no previsvel a ocorrncia de fractura, uma vez que tenses de compresso tendem a fechar a fissura.).

    f ( )

    R= 0.5 0

    0 - tenso caracterstica, sendo semelhante tenso (resistncia) mdia do material. m - mdulo de Weibull que caracteriza a varincia na resistncia do material, sendo

    anlogo ao desvio padro da resistncia dos materiais.

    Valores crescentes de m reflectem o comportamento de um material mais homogneo, com

    nveis de resistncia, para um dado componente, mais previsveis. No limite, quando m tender

    para infinito, a probabilidade de fractura, para todos os nveis de tenso

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    2. Efeito do Tamanho na Natureza Estatstica da Fractura

    Combinando as equaes (4) a (6), a probabilidade de sobrevivncia para uma tenso

    uniforme dada por

    S V( ) = exp V u 0

    m

    . (9)

    O mesmo dizer que o risco de falha F

    F = 1 exp V u0

    m

    . (10)

    Considerando o duplo logaritmo da equao (9) e rearranjando, poder obter-se uma

    relao linear entre a probabilidade de sobrevivncia e a tenso aplicada num componente, sendo

    o declive do grfico caracterizado pelo mdulo de Weibull, m (ver por exemplo a figura

    seguinte).

    A equao (9) mostra que para a mesma probabilidade de sobrevivncia, a resistncia

    fractura de um dado material varia com o volume do componente. Por exemplo, se u = 0 ,

    V1 1( )m = V2 2( )m , (11) Fevereiro 2006 5

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    e

    12 =

    V2V1

    1m

    . (12)

    Logicamente, que para uma probabilidade igual de sobrevivncia, quanto maior for o

    volume do componente, mais baixa a tenso necessria para ocorrer a fractura (ver figura

    anterior).

    Exemplo

    Considere a utilizao de duas peas fabricadas em materiais cermicos frgeis numa dada

    aplicao. Os mdulos de Weibull para os dois materiais so 2 e 10, respectivamente. Se A e B representarem as tenses necessrias para a mesma probabilidade de sobrevivncia de provetes laboratoriais dos dois materiais, de quanto devero ser alteradas as tenses respectivas

    se o volumes dos componentes reais de cada material forem 10x maiores do que os dos provetes

    laboratoriais?

    Em cada caso, a tenso necessria para a mesma probabilidade de sobrevivncia varia com

    a relao volume provete/componente (ver equao (12)). Para o caso do material com mdulo

    de Weibull mais elevado, a tenso para a mesma probabilidade de sobrevivncia diminuir

    1.26x, considerando o volume do componente 10x maior de que o do provete. Mais preocupante

    ser a tenso necessria para a mesma probabilidade de sobrevivncia do outro material, a qual

    diminuir 3.16x, quando o volume aumentar 10x. Obviamente que o material com o maior grau

    de disperso nas propriedades mecnicas (isto , mdulo de Weibull mais baixo) ser mais

    sensvel ao efeito de tamanho.

    A probabilidade de sobrevivncia depender tambm da existncia de gradientes de tenso

    e do volume de material associado que fica sujeito tenso mxima no componente ou provete.

    Por exemplo, espera-se que a probabilidade de fractura seja maior em traco do que em

    compresso. Uma fora de traco produz a mesma tenso atravs de toda a rea da seco

    transversal do componente, enquanto que foras de flexo originam uma tenso mxima somente

    na parte exterior do veio. Considerando os volumes respectivos dos locais sujeitos a tenses Fevereiro 2006 6

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    mximas de traco e de flexo, poder ser demonstrado que para a mesma probabilidade de

    sobrevivncia os nveis de tenso de fractura nas amostras sujeitas a traco e flexo sero

    diferentes. Considere-se a relao entre foras de traco e flexo para a mesma probabilidade de

    sobrevivncia:

    3pontos traco = 2 m +1( )

    2{ }1m . (13)

    Se o mdulo de Weibull de dois materiais for 2 e 10, respectivamente, tal como foi

    exemplificado no exemplo anterior, a relao tenso flexo/traco para uma probabilidade igual

    de sobrevivncia ser 4.24 e 1.73, respectivamente. A barra sujeita flexo ter maior resistncia

    uma vez que o volume de material sujeito tenso mxima menor do que o da barra sujeita

    traco. Isto verdade especialmente para os casos em que m baixo. Contrariamente, medida

    que m se aproxima do infinito, as propriedades das barras sujeitas traco e compresso

    convergem para o mesmo valor.