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Introdutório

Modulo introdutorio

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Programa Nacional de Formação Continuada a Distância nas Ações do FNDE

Ministério da Educação

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

Secretaria de Educação a Distância

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Módulo IntrodutórioOreste Preti

Adalberto Domingos da Paz

Élida Maria Loureiro Lino

Programa Nacional de Formação Continuada a Distância nas Ações do FNDE

MEC / FNDE - SEED

Brasília, 2006

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Supervisão e acompanhamento

Renato Silveira Souza Monteiro

Cecília Guy Dias

Revisão

Matheus Ferreira

Lucy Ferreira Azevedo

Projeto gráfico e diagramação

Virtual Publicidade

Ilustrações

Zubartez

Impressão e acabamento

Cromos Gráfica

P942m Preti, Oreste

Módulo Introdutório / Oreste Preti, Adalberto Domingos da Paz,

Élida Maria Loureiro Lino. – Brasília : MEC, FNDE, SEED, 2006.

92 p. : il. color. – (Formação pela Escola)

1. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). 2.

Financiamento da educação. 3. Políticas públicas – Educação. 4.

Programas e ações – FNDE. 5. Formação continuada a distância –

FNDE. 6. Formação pela Escola – FNDE. I. Paz, Adalberto

Domingos da. II. Lino, Élida Maria Loureiro. I. Título. II. Série.

CDU 37.014.543

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Sumário

Plano de curso _________________________________________________________________________________ 5

Para começo de conversa ________________________________________________________________________ 7

Unidade I – Políticas públicas na área social _________________________________________________________13

Unidade II – Políticas para a Educação Básica _______________________________________________________23

Unidade III – Financiamento da Educação Básica ____________________________________________________37

Unidade IV – O controle social no âmbito das políticas públicas educacionais ____________________________55

Unidade V – Os Programas do FNDE _______________________________________________________________67

Retomando a conversa inicial ____________________________________________________________________79

Nossa conversa não se encerra ___________________________________________________________________83

Referências Bibliográficas _____________________________________________________________________86

Glossário __________________________________________________________________________________87

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Plano de curso

Unidade III – Financiamento da Educação Básica

Objetivos específicos:

:: identificar a legislação que garante recursos financeiros e o montante para a educação definido por essas leis;

:: explicar o que é o Fundo de Manutenção e Desenvolvi-mento do Ensino Fundamental e Valorização do Magisté-rio (FUNDEF) e definir a sua função.

Unidade IV – O controle social no âmbito das políticas públicas para a Educação

Objetivos específicos:

:: definir controle social;

:: descrever o papel dos conselhos no controle social;

:: conhecer os diferentes conselhos no âmbito dos progra-mas do FNDE.

Unidade V – Os programas do FNDE

Objetivos específicos:

:: explicar a função principal do FNDE na implementação de políticas públicas para a educação;

:: apontar os principais Programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Objetivos do Módulo

:: Compreender o sentido das políticas públicas na área so-cial e, particularmente, no campo da educação, em se tra-tando de uma sociedade capitalista;

:: Conhecer as fontes de financiamento da Educação Básica e os mecanismos para que a comunidade faça o acompa-nhamento e o controle social dos recursos destinados à educação;

:: Reconhecer o papel social do Fundo Nacional de Desen-volvimento da Educação no apoio às políticas públicas para a Educação Básica, mediante a implementação de diferentes programas e ações.

Conteúdo Programático

Unidade I – Políticas públicas na área social

Objetivos específicos:

:: definir sociedade, estado, governo e políticas públicas;

:: compreender o sentido das políticas públicas no campo social.

Unidade II – Políticas para a Educação Básica

Objetivos específicos:

:: definir globalização e neoliberalismo;

:: reconhecer as atuais políticas educacionais no Brasil.

Módulo Introdutório: O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e o Apoio às Políticas Públicas para a Educação Básica.

Carga horária: 40 horas

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Para começo de conversa

Boas-vindas

Prezado cursista,

Bem-vindo ao Programa FormAção pela Escola. Trata-se de uma iniciativa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em parceria com a Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação (SEED/MEC), para que você e sua comunidade escolar possam conhecer melhor os programas desenvolvidos pelo FNDE e o papel desses programas na concretização dos objetivos da política educacional brasileira.

A expectativa é que o FormAção pela Escola prepare cidadãos que atuem em parceria com o governo, de modo a buscar a melhoria da escola, facilitando o acesso, a permanência e o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos matriculados nos diferentes níveis e modalidades de ensino.

Você está de parabéns por se inscrever nesse programa. Isso demonstra seu desejo de participar ainda mais do cotidiano de sua comunidade. Por intermédio da sua atuação nas ações e programas do governo federal, exercendo o “controle social”, não restam dúvidas de que os recursos de nossos impostos, destinados à educação, serão mais bem utilizados e quem ganha somos todos nós, a comunidade local, a sociedade e o Brasil, com escolas de qualidade para formar e desenvolver seu povo. Estas ações e programas financiados pelo FNDE, somados ao projeto pedagógico das escolas e ao plano de educação do seu município, podem transformar a educação de nosso país.

Boas-vindas também à capacitação referente ao Módulo Introdutório que proporcionará conhecimentos sobre políticas públicas educacionais implementadas pelo governo federal.

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Temáticas

Sua formação continuada, então, tem início com esse Módulo, que tratará das seguintes temáticas:

Unidade I – Políticas públicas na área social

Unidade II – Políticas para a educação

Unidade III – Financiamento da Educação Básica

Unidade IV – O controle social no âmbito das políticas públicas para a educação

Unidade V – Os programas do FNDE

Na primeira Unidade, discutiremos um pouco o conceito e o sentido das políticas públicas no campo social – com que finalidade são executadas, a que segmentos da sociedade visam a atender prioritariamente e qual o projeto de sociedade que elas procuram concretizar.

Na segunda Unidade, focaremos as políticas para a educação implementadas nos últimos anos no Brasil, buscando compreendê-las dentro da atual conjuntura social e econômica, identificando os aspectos legais em que se sustentam e as ações executadas a partir dessas políticas.

Para implementar e dar suporte a essas políticas, são destinados recursos financeiros em todos os níveis de governo (federal, estadual e municipal). Por isso, na terceira Unidade, trataremos do financiamento da educação, das obrigações dos gestores na aplicação adequada dos recursos financeiros e da forma como a comunidade escolar pode participar no controle social de todo esse processo.

Na quarta Unidade, trataremos de questões relacionadas com a democracia participativa, com a efetivação do contro-le social e trataremos, ainda, dos principais conselhos gesto-res de políticas públicas que dizem respeito aos programas e ações do FNDE.

Finalmente, na quinta Unidade, lhe será proporcionada uma visão dos programas e ações do FNDE e, de maneira mais particular, daqueles que fazem parte do programa For-mAção pela Escola, que são: o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), o Programa do Livro (PLi), o Programa Nacio-nal de Alimentação Escolar (PNAE).

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Objetivos do Módulo

Assim, esperamos que, ao final das atividades deste Módulo Introdutório, você seja capaz de:

:: compreender o sentido das políticas públicas na área social e, particularmente, no campo da educação, em se tratando de uma sociedade capitalista;

:: conhecer as fontes de financiamento da Educação Básica e os mecanismos para que a comunidade faça o acompanhamento e o controle social dos recursos destinados à educação;

:: conhecer a dinâmica dos conselhos que atuam no controle das ações, programas e projetos educacionais e como se dá a participação da comunidade nesses conselhos;

:: reconhecer o papel social do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação no apoio às políticas públicas para a Educação Básica, mediante a implementação de diferentes programas e ações.

Esses objetivos foram elaborados considerando que a finalidade principal do Programa FormAção pela Escola é possibilitar a você e à comunidade escolar não somente o conhecimento das políticas educacionais e seus programas, mas sensibilizá-los a participar da construção da cidadania de maneira efetiva, para que atuem com consciência e espíri-to crítico e colaborativo nos programas do FNDE e nos rumos da educação na sua região e no País.

Transformar a escola que temos em uma escola de quali-dade não é tarefa somente de um governo. Cabe a to-dos nós, enquanto cidadãos, tornarmos isso possível pelo conhecimento mais aprofundado das políticas educacio-nais, das metas a serem alcançadas e dos programas im-plementados e pela participação efetiva na implantação e no acompanhamento dessas ações.

Para alimentar nossa conversa, no tópico Nossa Conversa não se Encerra Aqui, ao final desse Módulo Introdutório, você encontrará indicação de obras e de sítios na Internet, relacio-nados aos temas que aqui serão tratados, pelos quais poderá navegar e pesquisar.

Você, certamente, dará continuidade a sua formação política, à construção de sua cidadania, buscando pessoalmente mais informações, lendo outros textos, conversando com outras pessoas, participando de discussões e fóruns, promovendo encontros com especialistas, etc.

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ProblematizandoNão se preocupe. Não quere-

mos que você responda de ime-diato a essas questões. Temos certeza de que, ao longo do curso, as respostas serão construídas. Porém, não duvidamos de que outras interrogações surgirão.

No início dessa nossa conversa, queremos lhe propor um desafio. Ajude-nos a resolver a seguinte situação:

Um prefeito assumiu um município recém-emancipado, lá na re-gião Leste de Mato Grosso, em uma área de recente ocupação e com fluxo intenso de imigrantes. Durante seu primeiro ano de gestão o número de matrículas no Ensino Fundamental da rede municipal cresceu de maneira vertiginosa: de 400 matrículas, efetuadas no ano anterior, para 1.200. O secretário de educação, em um primeiro momento, efetuou a contratação de novos pro-fessores para atender ao número crescente de alunos. Preocu-pado com a questão da qualificação, em entendimento com o prefeito e por pressão dos professores, solicitou à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) a abertura de 100 vagas para o curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade a distância. Foi assinado convênio entre a UFMT e a prefeitura. Os professo-res fizeram o vestibular e se matricularam, mas o curso não pôde começar. O prefeito havia recuado alegando que não poderia

mais executar o convênio, pois os recursos eram insuficientes para tantas necessidades educacionais, como: transporte, estra-das, merenda, material didático, ampliação da rede física das es-colas, pagamento de professores, etc. Ele não queria ser acusado, posteriormente, pelo Tribunal de Contas, por falhar com a “Lei da Responsabilidade Fiscal”, gastando acima do estabelecido.

Nós, representantes do Ministério da Educação, fomos ao muni-cípio. À noite, num salão ajeitado, com simplicidade, para o en-contro e iluminado pelas luzes fracas produzidas por motores a diesel, encontramos o prefeito, os secretários de administra-ção e de educação, professores das redes municipal e estadu-al, os tutores, os alunos matriculados no curso de Pedagogia e algumas pessoas da comunidade, curiosas por saber o que ali se passava. Ouvimos calmamente a exposição dos presentes. O prefeito, apoiado pelo secretário de finanças, afirmava que os recursos financeiros para a educação eram muito escassos para atender à crescente demanda de matrículas, de construção de salas de aula e de contratação de professores. Informou que o município recebia dinheiro do FUNDEF, que esses recursos eram insuficientes e não podiam ser utilizados para custear cur-so superior. O secretário de educação, por sua vez, alegava não possuir competência para administrar esses recursos, ficando a cargo do secretário de administração e do prefeito a decisão de como aplicá-los. Sua preocupação era com o trabalho pedagó-gico, mas solicitava, dos presentes, sugestões e apoio para en-caminhar projetos ao MEC com o objetivo de conseguir libera-ção de mais verbas. Os professores, no entanto, discordavam do prefeito quanto ao fato de não haver dinheiro suficiente para a educação, mas, ao mesmo tempo, desconheciam o balancete da prefeitura, o montante de dinheiro disponível a ser aplicado na educação e da existência ou não de mecanismos para con-trole dos gastos públicos. Simplesmente, afirmavam seu direito de cursar gratuitamente a graduação pretendida, pois os gesto-res municipais haviam se comprometido com a oferta do curso. Como resolver esse problema?

Por que iniciar sua formação continua-

da com este Módulo Introdutório? Qual a importância em ampliar sua visão e com-preensão sobre as políticas e ações que um determinado governo implementa? Qual o papel que você deve desempe-nhar, como cidadão, nesse contexto?

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Se você estivesse naquela região, que caminhos você encontraria e sugeriria para solucionar o impasse?

Pense sobre esse assunto, durante a leitura das unidades.

Esperamos que o Módulo Introdutório possa motivá-lo a expandir seus conhecimentos e contribua para sua caminhada no FormAção pela Escola.

Essa caminhada não pode ser individual, um compromisso apenas seu. Procure envolver mais pessoas aí em seu município, em sua escola, em seu local de trabalho, etc.

Que ela se torne uma caminhada coletiva.

Então, vamos começar.

Boa leitura e muita disposição nesse início de curso.

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Unidade I

Políticas públicas na área social

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Introdução

Nesta unidade queremos lhe propor que faça como a águia que voa alto para melhor enxergar o que acontece lá embaixo, no vale, ou como uma gaivota observando o que acontece na praia, no mar. Certamente, você já deve ter subido um morro, ou ter ido até o terraço de um prédio ou ter voado de avião. O que acontece? Você consegue ver muito mais no alto, do que estando em um lugar mais baixo, não é verdade?

Lá de cima você tem uma visão panorâmica, enxerga mais longe. Vê estradas, pontes, rios, casas, a direção que os veícu-los tomam, identifica áreas com características comuns, per-cebe como os bairros estão interligados e separados ao mes-mo tempo. Seu olhar se expande e você se surpreende ao ver como é sua cidade, o local em que você mora, não é?

Por isso, acreditamos ser importante que você amplie sua vi-são sobre as ações que determinado governo

implementa durante sua gestão, para compreender suas políticas. Isso lhe permitirá entender e intervir de maneira efetiva nos progra-mas do FNDE em que você está inserido e contribuirá com sua ci-

dadania.

Assim, esperamos que ao final dessa unidade você seja capaz de:

:: definir sociedade, Estado, governo e políticas públicas;

:: compreender o sentido das políti-cas públicas no campo social.

Leia, então, essa breve anedota que nos chegou pelo correio eletrônico há muito tempo, em fevereiro de 1999.

Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a encontrar meios de solucioná-los. Passava dias em seu laboratório em busca de respostas para suas dúvidas.

Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu “santuário”, deci-dido a ajudá-lo a trabalhar. O cientista, nervoso pela interrup-ção, insistiu para que o filho fosse brincar em outro lugar. Vendo que o filho não lhe obedecia, o pai procurou algo que pudesse ocupar e distrair o filho. De repente deparou-se com o mapa do mundo, e pensou: “É isso”.

Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pe-daços e, junto com um rolo de fita adesiva, o entregou ao filho, dizendo:

– Você gosta de quebra-cabeças, não é? Então vou dar-lhe o mundo para consertar. Aqui está o mundo, todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho. Faça tudo sozinho.

Calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Pas-sados quinze minutos, ouviu a voz do filho, que o chamava cal-mamente:

– Papai, papai, já fiz tudo. Consegui terminar todinho.

A princípio o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria im-possível, na sua idade, ter conseguido recompor um mapa que jamais havia visto.

Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança.

Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possí-vel? Como o menino havia sido capaz?

– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conse-guiu?

Anedota:

narração curta de fato histórico, curioso ou divertido.

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– Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para con-sertar, eu até tentei, mas não consegui. Foi então que me lem-brei do homem. Então, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu já conheço bem. Quando consegui consertar o homem, virei do outro lado e vi que dessa forma eu havia consertado o mundo.

Essa anedota pode nos dizer uma coisa bem simples. Se você quer participar do “conserto” do mundo, a partir do seu local de trabalho, do seu município, da sua escola.

É importante que você aprenda a fazer uma leitura das políticas de um governo. Para isso, tente entender qual é o projeto de sociedade que ele deseja construir, quem se beneficia com essas políticas, que grupos o estão apoiando etc.

Só, assim, sua intervenção será eficiente e alcançará as mudanças desejadas.

Precisamos ter clareza quanto ao mundo que desejamos para nós e para nossos filhos – qual o projeto de sociedade está sendo implementado pelos governos que se sucedem no poder. É importante que possamos nos envolver nessa missão, na arrumação do quebra-cabeça desse mundo desarrumado.

Somente com essa compreensão é que podemos juntar os pedaços (programas, ações, propostas, projetos, etc.), uni-los, dando-lhes sentido e direção na construção de uma socieda-de humanizada e solidária. Portanto, é fundamental compre-ender o que está se passando em nosso país, no mundo, no campo das políticas sociais e, em nosso caso particular, nas políticas educacionais.

Assim, sua intervenção nesses programas e ações do FNDE será mais clara, mais objetiva e possibilitará que as mudanças aconteçam.

A finalidade dos programas do FNDE não é, apenas, levar recursos financeiros para dentro da escola para serem utilizados adequadamente, mas também propiciar formação cidadã à comunidade escolar.

Portanto, leia com muita atenção essa unidade, pois lhe servirá de base para discutir o conteúdo das próximas.

Vamos, então, buscar compreender a sociedade em que vivemos.

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1. Sociedade, Estado e governo

Você deve ter lido, ouvido falar, ou assistido ao filme que narra as aventuras de “Robinson Crusoé”, o único sobrevivente de um naufrágio. Salvou-se e foi atirado pelas ondas a uma ilha tropical. Durante muitos anos viveu sozinho, na companhia de animais... Viveu do jeito que bem quis até ser encontrado por um navio e regressar ao seu país de origem. Essa obra, do escritor inglês Daniel Defoe (1660-1731), é um clássico da literatura mundial e foi adaptado ao português por Monteiro Lobato (1882-1948).

Pois bem, a situação desse náufrago não é algo comum. Não vivemos sozinhos. Vivemos em comunidades, pequenas ou grandes, cada uma com seus costumes, sua cultura, suas normas, sua maneira de viver e de se organizar. E, nelas, existem pessoas com hábitos, gostos, vontades e sonhos diferentes. Você consegue imaginar como seria o mundo se cada um fizesse o que bem desejasse e impusesse aos outros sua maneira de pensar e viver?

Para que as pessoas pudessem viver juntas, em comunidade, o homem se organizou de diversas maneiras, produzindo, assim, sua cultura, seus valores e buscando diferentes meios para sobreviver.

A sociedade é resultante do “agrupamento” de indi-víduos que se organizam, a partir de objetivos, valores e normas comuns, e que se relacionam para produzir seus meios e condições de vida, num processo dinâmico, em contínua transformação.

Trata-se, pois de “organização dinâmica”, construída pelos homens em relações recíprocas e com a natureza, em determinados momentos históricos.

A ciência História nos conta um pouco da trajetória da hu-manidade na construção de diferentes tipos e modelos de sociedade (tribal, feudal, capitalista). No diálogo estabeleci-do nesta unidade procuraremos compreender o que se pas-sa atualmente em nossa sociedade, que se organiza sob os cuidados de um Estado e de um governo.

Você sabe a diferença entre Estado e governo?

O Estado é identificado como o conjunto de instituições permanentes, como:

O Poder Legislativo (o Congresso Nacional – que elabora as leis que regem nossa vida social);

O Poder Executivo (o governo – que coloca em prática essas leis e administra os negócios públicos);

O Poder Judiciário (os tribunais – para julgar e aplicar as leis a casos particulares);

As Forças Armadas e a polícia (para impor a exigência do cumprimento das leis), etc.

O filme Robinson Crusoé – de Luis Buñuel – 1952, 89 min.

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Portanto, quando falamos em Estado, de maneira genérica, no singular e iniciado com letra maiúscula, estamos nos refe-rindo ao conjunto de instituições responsáveis pela “ordem” na sociedade e pelo “bem comum” dos cidadãos. Quando fa-lamos de maneira particular, também com letra maiúscula, nos referimos a uma região do nosso país, a um dos Estados da República brasileira.

Não confunda os vários significados da palavra “estado”. Vejamos os diversos significados da palavra, encontrados no Dicionário Michaelis, 2000:

:: O primeiro sentido (Estado) é o empregado no sentido de “nação politicamente organizada por leis próprias” .

:: O segundo corresponde à Unidade da Federação, à divi-são territorial do Brasil, como, por exemplo, o Estado do Piauí, ou os Estados do Ceará, de Goiás, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro.

:: Finalmente, um terceiro sentido diz respeito à idéia de de-terminada situação, como por exemplo, o “estado” em que se encontram as rodovias brasileiras.

Preste atenção, então, a esse exemplo: “O atendimento ao estado de saúde dos cidadãos residentes em todos os Estados da Federação é uma das obrigações do Estado”.

Percebeu as diferenças?

As instituições que compõem o Estado visam, fundamen-talmente, a fazer com que as pessoas convivam bem em so-ciedade, isto é, que seja mantida a “ordem social” e haja certo “bem-estar”. Por isso, a função do Estado não se limita a ser mediador de possíveis conflitos entre as instituições e a de atuar na política, no interior da sociedade. Estende sua ação no campo da economia. Além de se colocar como protetor

da propriedade privada, capta recursos, por meio de impos-tos, por exemplo, e os investe no desenvolvimento econômi-co para garantir a manutenção do sistema social.

O Estado existe nas sociedades que estabelecem a diferença entre governantes e governados, uma dife-rença institucionalizada, regulamentada por leis.

Nas sociedades indígenas brasileiras, por exemplo, em que não existe esta diferença, não há Estado.

Mas, quem vai viabilizar o funcionamento das instituições e dos poderes públicos que compõem o Estado? Quem vai dirigir a sociedade?

É o governo. Ao desempenhar as funções de dirigente do Estado, o governo é o responsável pelo planejamento e condução de determinadas políticas e do conjunto de programas e ações, durante certo período.

Portanto, o governo é transitório e é formado por grupos que se alternam no poder, enquanto o Estado é permanente e é composto por instituições que são estáveis.

Em outras palavras, o Estado, com suas instituições, per-manece, mas o governo muda constantemente e, com ele, as formas de conduzir a política e a economia do país. Aquilo que para um governo era prioritário pode deixar de ser para outro; o que estava sendo executado pode ser abandonado. Por que isso acontece?

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Numa coletividade, diferentes grupos se organizam e lu-tam por seus interesses; uns buscam impor aos outros suas vontades, sua maneira de pensar e de viver, acreditando ser isso o mais correto ou natural. Um desses grupos, via proces-so eleitoral ou pela força, conquista o posto de comando do país, assumindo o governo.

Um governo, ao assumir o controle do Estado, tem um projeto político de sociedade a implementar. Projeto esse que foi discutido e negociado com diferentes setores (em-presários, sindicalistas, associações, produtores, entre outros) e partidos que o apoiaram, por exemplo, durante a campa-nha eleitoral.

Esse projeto, portanto, representa os interesses de grupos particulares, como eles pensam sobre diferentes assuntos: a forma como a sociedade deveria ser organizada, como a vida econômica deveria ser conduzida, que tipo de ações deveriam ser implementadas junto à sociedade.

É importante que você aprenda a fazer uma leitura das políticas de um governo. Para isso, tente entender qual é o projeto de sociedade que ele deseja construir, quem se beneficia com essas políticas, que grupos o estão apoiando etc.

Os grupos que assumem o governo fazem de tudo para que seu projeto de sociedade, não somente seja consolidado e atenda seus interesses mas também seja aceito pelo conjunto de cidadãos.

Mas como isso acontece?

Pelo menos de duas maneiras. Utilizam os meios de comu-nicação para divulgar seu projeto, seu programa de governo, suas idéias e o que vêm realizando. Fazem críticas, muitas ve-zes, ao projeto do governo anterior e colocam em destaque os aspectos positivos do novo projeto. Com isso, esperam convencer a sociedade a apoiá-los.

Uma outra maneira é propor reformas econômicas, políticas e sociais, e conceber e implementar novos programas e ações que beneficiem a sociedade, que promovam o bem-estar comum.

A função principal do Estado é o bem comum e a do governo é a direção política e econômica desse Estado.

Portanto, não é somente no campo da economia que o governo age. Ele busca intervir também no campo das políticas sociais, por exemplo, no que diz respeito às desigualdades, no sentido de fazer uma redistribuição dos benefícios sociais produzidos coletivamente por meio do trabalho de todos os cidadãos.

É nesse momento que surgem as políticas públicas, sobretudo no campo social. Por meio delas, os grupos que estão no governo propõem e implementam programas e ações que beneficiam setores “menos favorecidos”. Com isso esperam também levar a sociedade a apoiar seu governo e aceitar o projeto de sociedade que eles querem implementar.

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2. As políticas públicas sociais

O que vêm a ser Políticas Públicas? E as políticas sociais

para que servem?

Há pouco falamos sobre Estado e governo. Pois bem, polí-tica é um termo que tem mais de 2.500 anos, vem da língua grega e significa “a arte de governar um Estado, uma cidade”. Para os gregos “polis” significava cidade. Em latim, a palavra correspondente é civitas, da qual derivou a palavra portu-guesa cidadão. Político e cidadão, assim, são sinônimos, sig-nificam a mesma coisa. Interessante, não é? Portanto, todo cidadão é, por natureza, ”um ser político” e a política seria a arte de governar os cidadãos, ou melhor, a capacidade da “ci-dade” se autogovernar, isto é, dos cidadãos elaborarem suas leis e governarem a si próprios.

Daí a necessidade de as políticas públicas serem pensadas, não como programas ou ações de determinado governo para um determinado período, mas como função e ação do Estado, de algo a ser implementado e concretizado independentemente de quem está no governo, visando ao bem-comum.

Mas, por que a denominação de públicas?Público é uma palavra também derivada da língua latina

e significa “o que é de interesse comum, o que é de todos, o que é de propriedade do Estado”. Assim, as políticas são denominadas de públicas porque visam a atender a todos

os cidadãos e não a esta ou aquela pessoa, ou a interesses particulares. Assim, esse atendimento quanto ao que vem a ser “público” é de responsabilidade do Estado.

Encontramos em livros e dicionários inúmeras definições para “políticas públicas”, mas que possuem os seguintes aspectos comuns:

:: as atividades de um governo ao longo do tempo;

:: as medidas tomadas pela sociedade política para realizar um projeto de sociedade;

:: as intenções que dirigem as ações de um governo na bus-ca de soluções aos problemas públicos, de atendimento a demandas vindas de grupos específicos da sociedade.

Dessa forma:

As políticas são denominadas ”públicas” por-que devem atingir todo o público. O governo tem a responsabilidade de garantir que essas políticas beneficiem efetivamente a todas as camadas da população.

Porém, outra questão a ser levada em conta não é o que o governo faz, mas também o que ele não faz. Sim, pois quando um governo deixa de fazer algo está sinalizando que aquilo não é tão importante ou prioritário para ele.

Em resumo, podemos dizer que Políticas Públicas são:

tudo o que um governo decide fazer, faz ou deixa de fazer em relação às necessidades dos cidadãos.

Política é um conjunto de intenções, de ações e de recursos necessári-os para se atingir deter-minados objetivos.

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Num sentido mais geral do termo, podemos entender política também como as decisões tomadas por determinado grupo para realizar, por exemplo, seu projeto comunitário, ou educacional – como o Projeto Político-pedagógico.

As políticas públicas podem ser sociais porque têm como finalidade desenvolver programas e ações voltadas para setores específicos da sociedade que se encontram em situação de grande desigualdade e não possuem um padrão de vida digno de um ser humano. Pois, é dever do Estado dar condições básicas de cidadania a esses que vivem em desigualdade.

Houve fases da história em que o Estado interveio de ma-neira mais decisiva para diminuir as desigualdades produzi-das pelo desenvolvimento socioeconômico. Essa intervenção foi conseqüência das pressões efetuadas pelos movimentos populares que buscavam maior participação na política, por meio da eleição de seus representantes, e que lutavam pelos seus direitos fundamentais.

Atividade 2a

Nós vivemos numa sociedade chamada capitalista, que se caracteriza pela divisão entre os que são proprietários dos meios de produção (terra, fábricas, instalações, equipamen-tos, máquinas, mão-de-obra), que são, portanto, possuidores de “capital” e os que não são proprietários. Ou seja, se carac-teriza pela divisão entre patrões e empregados.

Essa divisão provoca desigualdades sociais, maiores ou me-nores, dependendo do processo histórico de lutas de grupos organizados (sindicatos, associações, partidos) para ter aces-

so a bens e serviços fundamentais que asseguram a qualida-de de vida. Nos países em que as desigualdades são maiores, isto é, em que existe um pequeno grupo com grandes posses e uma parcela grande da população com pouco, ou nenhum, acesso a esses bens e serviços, os governos buscam, geral-mente, amenizá-las por meio de políticas públicas sociais.

Nesse sentido, as políticas públicas sociais podem ser entendidas como tendo funções redistributivas e compensatórias.

A função redistribuitiva diz respeito à distribuição de parte do que é produzido pela sociedade aos menos favorecidos. Em outras palavras, significa retirar dos bens e serviços, especialmente por meio de impostos, recursos financeiros para atender ao conjunto dos cidadãos mais necessitados. O Imposto de Renda é considerado uma forte política redistribuitiva.

Outro exemplo de políticas redistributivas é o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM), aprovado pelo Se-nado Federal, em 1991. Este consiste na instituição de uma renda mínima como direito básico de cidadania. Sua imple-mentação foi pensada como estratégia para se mudar uma prática política tradicional que utilizava as políticas públicas em benefício individual ou partidário.

Em outras situações, essas políticas sociais têm caráter compensatório, isto é, promovem programas emergenciais para atender a grupos sociais específicos (desempregados, negros, índios, analfabetos, excluídos, etc.) como, por exemplo, o salário desemprego, as cotas para negros para ingresso na universidade. Outro exemplo é o Programa Comunidade Solidária, criado, em 1995, para combater a fome e a pobreza.

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Essas ações são um dever do Estado. Ele não está fazendo caridade.

Está tirando do cofre público recursos produzidos por todos os cidadãos e utilizando-os para atender às necessidades da maioria da população.

Trata-se de um direito.

Porém, a finalidade central das políticas públicas é garantir aos cidadãos direitos que lhes foram negados anteriormente como, por exemplo, o direito à saúde, à educação.

Atividades 2b · 2c

Mas como o governo implementa suas políticas públicas? Como faz a “distribuição” de bens e serviços? A partir de que critérios? De onde vai tirar recursos para sustentar e viabilizar seus programas e ações? Em que consistem as políticas públicas no campo social?

São questões que iremos tratar nas próximas unidades.

Pois bem, as áreas que fazem parte das políticas públicas so-ciais são, entre outras: educação, saúde, previdência, habita-ção e saneamento. O que nos interessa analisar na próxima unidade são as políticas sociais no campo da educação, pois é nesse segmento que o FNDE atua.

Em síntese

Chegamos, assim, ao final da primeira unidade deste módu-lo. Espera-se que agora tenha ficado mais claro o seu enten-dimento sobre políticas públicas, que são ações adotadas por determinado governo para concretizar seu projeto de sociedade, buscando atender aos interesses e necessidades dos cidadãos. Elas contribuem para que a sociedade se or-ganize em função de um projeto político, durante determi-nado período de tempo.

Relembrando, a organização geral que permanece, com seus poderes, instituições e representações, é chamada de Estado. A organização temporal, provisória, composta por grupos que se sucedem no poder, dirigindo e administrando a sociedade durante determinado período de tempo, é chamada de governo.

Essa unidade tratou de temas importantes, mas complexos que exigem leitura mais aprofundada da realidade política, social e econômica. Por isso, o convidamos a expandir seus conhecimentos por meio de leituras da bibliografia sugerida ao final do Módulo, no tópico Nossa Conversa não se Encerra Aqui.

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Unidade II

Políticas para a Educação

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Introdução

Vimos na unidade anterior que o Estado, por meio do governo que está no poder, tem a possibilidade de desenvolver políticas sociais redistributivas e compensatórias no sentido de suavizar, de diminuir um pouco, as desigualdades presentes na nossa sociedade.

Este papel do Estado vem se modificando, sobretudo a partir da década de 1970, quando o mundo passou por uma crise econômica que acabou afetando o campo das políticas sociais e, conseqüentemente, aquelas relacionadas com a área educacional.

Por isso, nesta Unidade, conversaremos um pouco sobre as políticas públicas educacionais, especificamente aquelas voltadas para a Educação Básica.

Assim, esperamos que, ao final dessa unidade, você seja capaz de:

:: definir globalização e neoliberalismo;

:: reconhecer as atuais políticas educacionais no Brasil.

Trataremos, inicialmente, de dois termos muito conhecidos e que se referem diretamente ao que discutíamos na unida-de anterior com relação às políticas sociais: globalização e neoliberalismo.

Você sabe o que significam?

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1. Globalização e neoliberalismoNesses últimos anos, vivenciamos situações interessantes

e preocupantes, ao mesmo tempo:

:: crise econômica nos países capitalistas, levando-os a bus-car uma reestruturação da economia em escala planetária;

:: mudanças nas tecnologias de produção, na informática e na comunicação, acelerando a produtividade no trabalho;

:: integração nas relações econômicas, comercias e financei-ras, entre mercados produtores e mercados consumidores de diferentes países, etc.

Estes fatores, além de elevar de forma alarmante as taxas de desemprego, têm propiciado a globalização da economia, da ciência, da tecnologia e da cultura. O que isso significa?

Globalização vem da palavra globo, isto é, o planeta em que vivemos. Dá a idéia de algo que atinge o mundo todo, que che-ga a todos os habitantes. Pense um pouco sobre o que acontece no seu dia-a-dia. Você fica sabendo de fatos ocorridos em outra região do Brasil, ou mesmo em outros países. Acompanha os acontecimentos no Iraque, no Japão, na Austrália. Assiste, tran-qüilamente em sua casa, à novela e ao noticiário transmitidos a partir de São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo.

A notícia do assassinato do presidente norte-america-no Abraham Lincoln, em 1865, levou 13 dias para cruzar o Atlântico e chegar à Europa. A queda da Bolsa de Valo-res de Hong Kong (outubro-novembro, de 1997) levou 13 segundos para cair como um raio sobre São Paulo e Tóquio, Nova York e Tel-Aviv, Buenos Aires e Frankfurt. Eis ao vivo e a cores, a globalização.

(Clovis Rossi – do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo. In: www.iis.com.br/~rbsoares)

A globalização é muito mais do que as tecnologias de informação e comunicação. Olhe ao seu redor. Componentes de sua televisão e geladeira, provavelmente, foram importados, e o bolo ou o pão “francês”, que está comendo, foi feito com farinha vinda da Argentina, por exemplo. Você pode estar usando um relógio fabricado na China e calçando tênis vindo de Hong-Kong, ou do Paraguai. O que você encontra nos supermercados ou nas lojas de um shopping na sua cidade pode ser encontrado nos supermercados ou nas lojas dos shoppings espalhados pelo mundo.

Não é só isso. Há uma padronização, também, dos produtos e uma estratégia mundialmente unificada de marketing – de propaganda. Não é isso o que acontece, por exemplo, com os tênis da empresa Nike, ou os hambúrgueres da rede McDonald´s?

Globalização é um processo que ocorre nos mais diferentes campos da nossa vida. Significa que os países estão se tornando cada vez mais interligados na economia, no comércio, nas finanças e na cultura. Implica uniformização de padrões econômicos e culturais.

No Brasil, 7,8% o índice de desemprego (IBGE, 2002).

Fala-se em mais de 1 bilhão de desemprega-do, no mundo.

Global – por atingir o globo, o planeta

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Isso não significa que esse processo seja algo novo, pois a dominação política e econômica e a apropriação de riquezas de uns poucos países sobre os demais são características da modernidade, no mundo ocidental, desde o século XV. Você se lembra das grandes navegações, das viagens terrestres e marítimas de países da Europa, como Inglaterra, Espanha e Portugal, para conquistas comerciais, em busca de especiarias e de metais preciosos?

Esse processo se manteve acanhado até a Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), quando um conjunto de transformações tecnológicas, econômicas e sociais impulsionou o modo de produção capitalista. Entretanto, foi a partir da crise econômica da década de 1970 que o processo de globalização ganhou força e se expandiu, graças, também, ao desenvolvimento tecnológico, dos meios de transporte e de comunicação.

Mas, preste bem atenção. A globalização atinge os países de maneira diferente, pois os intercâmbios, como as relações comerciais ou culturais, por exemplo, são desiguais. Há países que exportam muito mais que outros; há países que crescem economicamente com esse comércio globalizado, enquanto outros empobrecem. O que se tem constatado é que os países ricos ficam mais ricos e os pobres, mais pobres. Indústrias e fábricas estrangeiras empresas multinacionais e transnacionais instalam-se em diversos países, como acontece no Brasil, levando, muitas vezes, as empresas nacionais à falência, provocando desemprego de milhões de trabalhadores.

Grandes mobilizações, como a greve na Coréia do Sul, a mobiliza-ção dos mineiros alemães e dos trabalhadores franceses e belgas da Renault revelam que os trabalhadores não estão dispostos a arcar com os custos da globalização.

(Luiz R. Lopes - www.iis.com.br/~rbsoares)

E o que se diz sobre isso? Qual a explicação que você costuma ouvir?

Que as empresas nacionais têm que se modernizar, ser competitivas e que os trabalhadores têm que se requalificar, desen-volver novas habilidades, não é?

E que você pensa sobre isso? Concorda com essas explicações?

Essa nova ordem global que está em processo e tem por base o poder econômico, ao invés do político, desloca a discussão sobre relações de poder para questões técnicas, de gerenciamento eficaz de recursos humanos e financeiros.

É uma discussão baseada no discurso neoliberal, adotado por organismos internacionais – como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) – para defender a globalização econômica, finan-ceira e comercial. É importante, então, que você entenda esse pensamento neoliberal, pois ele tem levado o Estado a mudar sua postura em relação às políticas sociais.

Mas, o que é o neoliberalismo e o que defende em relação às políticas públicas?

Intercâmbio: São as trocas intelectuais, cul-turais ou comerciais, realizadas entre dife-rentes países.

Nessa lógica de mer-cado, privado passou a significar “eficiência” e público como inefici-ente, um desperdício social.

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1.1. Estado do Bem-Estar ou do mal-estar social?

Com a recuperação da economia pós-guerra (II Guerra Mundial, 1939-45), foi criado, inicialmente na Inglaterra, um novo modelo de Estado, chamado de Estado do Bem-Estar Social ou Assistencialista, definido como aquele que garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação e educação a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político.

Essa forma de Estado, que rapidamente se espalhou por toda Europa, passou a criar empre-sas estatais para intervir diretamente na economia e no desenvolvimento do país, atuando, sobretudo, em áreas nas quais a iniciativa privada não investia, mas que o Estado considerava de interesse para a nação. Além disso, tomou para si a tarefa de cuidar dos setores “menos pri-vilegiados”, oferecendo serviços de assistência e de proteção. Por isso, foi chamado também de Estado Previdenciário, pois buscava “prover”, ou seja, providenciar aquilo que estava em falta, oferecendo o que as pessoas necessitavam mais. Isso acabou elevando significativamente os gastos públicos.

Porém, a crise econômica que se instaurou na década de 1970, e que atingiu o mundo globa-lizado, trouxe, como conseqüência imediata, a redução dos gastos nas áreas sociais (particular-mente na saúde e educação), além da diminuição de postos no mercado de trabalho.

É nesse contexto que surge a “onda neoliberal” defendendo a idéia de Estado Mínimo ou, como muitos autores preferem, Estado do mal-estar social. A lógica do pensamento neoliberal é reduzir os gastos públicos, ou seja, diminuir a participação financeira do Estado no fornecimento de serviços sociais. Isso ajudaria a combater o déficit fiscal do Estado, possibilitaria a redução de impostos e a conseqüente elevação dos índices de investimento privado. Assim, a economia voltaria a crescer, novos empregos seriam gerados, a renda do trabalhador seria elevada e, dessa forma, os serviços públicos de assistência social passariam a ser desnecessários (PAULA, 1998, p. 53).

Por isso, o neoliberalismo, essa nova (neo) versão do liberalismo, é a favor da não intervenção do Estado no campo da economia, dando liberdade à iniciativa privada para cuidar dos serviços sociais. As políticas públicas sociais, então, passaram a ser formuladas com base em duas palavras de ordem: redução (dos gastos públicos) e privatização. Lembra-se, por exemplo, dos processos de privatização de empresas estatais brasileiras que ofereciam serviços de energia, de saneamento e de comunicação?

Indivíduo: considera-do isoladamente em relação a uma coletivi-dade; independente.

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O neoliberalismo defende a não intervenção do Estado na condução da economia, nas relações patrão-empregado e na oferta de serviços à sociedade, entre outros.

A palavra-chave do neoliberalismo, então, é mercado. É este que deve regular as relações entre os indivíduos (outra palavra-chave), entre compradores e vendedores e não mais o Estado.

Nesse tipo de sociedade, tudo deveria funcionar como num jogo, em que há regras e cabe aos jogadores respeitá-las. Nada mais. O juiz (que seria o Estado) encontra-se presente para fazer com que essas regras sejam acatadas e punir os transgressores. Não pode tomar partido de uns, senão desequilibra o jogo. Você já observou o que acontece quando um juiz de futebol parece apitar a favor de um dos times? Acaba por atrapalhar o espetáculo, não é?

As mudanças efetivas na maneira do Estado entender seu papel na mediação dos conflitos de interesses e, ainda, as mudanças na forma de atuação na regulação da sociedade afetaram, também, o campo das políticas educacionais.

As políticas educacionais definem o que fazer e, ainda, como fazer e quais recursos utilizar, para que o direito à educação seja possibilitado a todos os cidadãos.

Como isso ocorre?

É do que trataremos a seguir.

Atividade 3

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2. As políticas educacionais

Você conhece as bases que dão suporte ao governo para definir suas políticas para a educação?

Vejamos, resumidamente, as principais:

A Constituição Federal (CF 1988): os Arts. 205 a 214 definem os princípios nos quais deve se basear o ensino em nosso país e, a partir dos quais, as políticas educacionais devem ser elaboradas em todos os níveis: federal, estadual e municipal.

A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – 1996): fruto da conciliação, da busca de um consenso sobre um projeto nacional de educação, situa a escola no centro das ações pedagógicas, administrativas e financeiras. Ela estabelece os fins, os princípios, os rumos, os objeti-vos, os direitos, etc. da educação (as diretrizes) e diz respeito à organização e ao funcionamento da educação (as bases), tratando, ainda, dos meios utilizados para alcançar os fins pretendidos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN – 1997): constituem referencial de qualidade para a Educação Básica. Foram elaborados para orientar e garantir a coerência dos investimen-tos no sistema educacional, oferecendo uma proposta curricular flexível a ser implementada de acordo com as realidades regionais e locais.

O Plano Nacional de Educação (PNE – 2001-2010): previsto no Art. 87 da LDB, com diretrizes e metas para 10 anos, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, da Organização das Nações Unidas (ONU). O PNE é um instrumento global de orientação das políticas educacionais no país.

O Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF): destina recursos para o financiamento do Ensino Fundamental “com o objetivo de assegurar a universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério” (Art. 60/CF-88 – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Em breve se transformará em FUNDEB, ampliando sua atuação para toda a Educação Básica.

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB): é um sistema de avaliação implemen-tado em 1995 e que, a partir de 2005, passou a ser organizado por dois processos de avaliação: a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC). Sua função é mensurar, isto é, medir a qualidade da educação no Brasil, produzindo

Estatísticas educacionais: www.inep.gov.br

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uma base de informações sobre o aprendizado, a gestão e as relações sociais e pedagógicas de cada comunidade escolar. É uma ferramenta útil para decisões pedagógicas e de gestão no interior de cada escola e para políticas educacionais nos níveis municipal, estadual e federal. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) é o responsável por sua aplicação.

As escolas do seu município participaram dessa avaliação?

Você conhece os resultados?

O Plano Plurianual (PPA - 2004-2007): é um conjunto de programas governamentais com a finalidade de concretizar o projeto do governo, nas diversas áreas sociais. Por exemplo, no caso do atual governo, o PPA é norteado pela inclusão social e pela desconcentração da renda. Assim, no âmbito educacional, visa ao acesso de todos à educação de qualidade, em todas as etapas e em todos os níveis e modalidades de ensino. Propõe programas e ações, tais como: Brasil Escolarizado, Brasil Alfabetizado, Desenvolvimento da Educação Profissional e Tecnológica, Brasil Quilombola, Identidade Étnica e Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas e Programa Nacional da Juventude.

Entretanto, não são apenas os programas citados que configuram o rumo das políticas educacionais. Ações como o Livro Didático, Dinheiro Direto na Escola, Aceleração da Aprendizagem, Informatização das Escolas Públicas, Ali-mentação Escolar, Escola Aberta, Fundescola III, entre outras,

são instrumentos fundamentais para a promoção da justiça social e da democratização da sociedade e da escola.

Os recursos disponíveis no orçamento do FNDE foram executados, em 2005, por meio de 16 programas e 107 ações de atividades fins, isto é, ações diretamente voltadas para a educação.

Agora, o que esses programas e ações têm em comum? Eles apontam para que direção, para que tipo de educação e de sociedade?

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2.1. Críticas ao sistema educacional

O neoliberalismo, ao se tornar pensamento condutor da economia e da política no Brasil, introduziu, na educação, um novo discurso e novas práticas pedagógicas.

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Segundo esse pensamento, o sistema educacional público brasileiro é “improdutivo”, isto é, ine-ficiente em sua função de ensinar, pois apresenta altas taxas de evasão e reprovação. Essa inefici-ência existe, no entender dos neoliberais, devido aos seguintes fatores:

:: a escola é incapaz de se organizar e se adequar aos novos tempos. Sua gestão não acompanha os novos métodos introduzidos na empresa privada, que têm funcionado muito bem;

:: o corpo docente é desqualificado e está acomodado, seguro em seu emprego, não sentindo necessidade de renovação e inovação em seu trabalho;

:: as organizações de classe (sindicatos e associações) são muito corporativistas, só lutam por questões salariais e não aceitam as mudanças necessárias.

Por isso, a escola pública é apontada como ineficiente e incompetente em sua função básica de ensinar e preparar o aluno para o mercado de trabalho.

Atividade 4b

O (mal) funcionamento da escola é reduzido a uma questão de gerência, de controle da qualidade.

A solução, segundo o neoliberalismo, estaria na condução de uma reforma administrativa para tornar a escola eficiente, competitiva e capaz de formar profissionais qualificados para o mercado de trabalho.

Para isso, o Estado necessita estabelecer mecanismos de controle e avaliação dos serviços edu-cacionais que devem estar articulados e subordinados às necessidades do mercado de trabalho.

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2.2. A reforma educacional

Surge daí a necessidade de uma reforma no campo da educação, ou seja, da implementação de políticas educacionais que orientem as escolas na oferta de seus serviços educacionais, seguindo o modelo das empresas privadas, com controle e avaliação da qualidade dos serviços prestados. Reformas educacionais foram iniciadas em diversos países da Europa, na década de 1980 e, aqui no Brasil, na década seguinte. Algumas palavras passaram a ser utilizadas com muita ênfase no discurso dessas reformas e na formulação das políticas educacionais:

descentralização, autonomia, gestão democrática, participação, qualidade, qualificação, valorização do magistério, competência, eqüidade, etc.

Essas palavras não foram criadas pelo pensamento neoliberal. Muitas delas são bandeiras de lutas levantadas pela comunidade educativa há muito tempo. Você tem de prestar atenção ao sentido que o pensamento neoliberal dá a essas palavras.

Um outro aspecto importante a ser conhecido, para melhor entendermos o rumo das políticas educacionais em nosso país, é o fato delas caminharem na direção dada pelo Banco Mundial, que incentiva a privatização da Educação Básica (do Ensino Superior, então, nem se fala!), definindo padrões de eficiência nos sistemas de ensino e na gestão dos recursos destinados à educação.

Banco Mundial

Criado em 1944, após a Segunda Guerra Mundial, é o maior provedor de créditos para países em desenvolvimento, com graves problemas sociais.

Por emprestar dinheiro, sente-se no direito de intervir e participar de decisões sobre políti-cas sociais e, de maneira especial, de formular as políticas educacionais, na América Latina.

No Brasil, é o principal financiador das ações do Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA), projeto atualmente gerido pelo FNDE.

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2.3. Avaliando a reforma

Vejamos, inicialmente, alguns aspectos positivos da refor-ma educacional proposta e implementada pelo pensamento neoliberal e o redimensionamento provocado nas políticas educacionais, nesses últimos anos, aqui no Brasil.

No início da década de 1990, as estatísticas educacionais situavam o Brasil em colocações muito incômodas. Nosso país ocupava os últimos lugares, quando comparados com países vizinhos da América Latina (Argentina, Chile, México, Colômbia, Costa Rica), em questões como: taxas altas de anal-fabetismo, índices alarmantes de evasão, repetência e crian-ças fora da escola. Essas estatísticas educacionais começaram a melhorar:

:: entre 1994-98, o Ensino Médio expandiu as matrículas em 37%;

:: durante o mesmo período, houve crescimento de 35% de alunos que concluíram o Ensino Fundamental;

:: em 2003, 97,2% das crianças entre 7 e 14 anos estavam matriculadas no Ensino Fundamental, ou seja, o acesso encontrava-se praticamente universalizado;

:: de acordo com o IBGE, a taxa de analfabetismo sofreu queda nos últimos anos: de 14,7%, em 1996, para 13,6%, em 2000 e 11,4% em 2004.

As importantes alterações apresentadas pelos dados esta-tísticos educacionais, na última década, podem ser percebi-das como conseqüência da proposta de descentralização e o conseqüente processo de municipalização da educação. Os municípios começaram a ganhar certa autonomia pedagó-gica e financeira no campo da educação.

Municipalizar significa que prefeitura municipal e comunidade são co-responsáveis pela presta-ção de serviços, como o da educação.

Significa a população organizada, participando ativamente da ação do poder público local.

É um processo de auto-gestão competente e eficiente dos serviços sociais básicos.

A escola sofreu modificações em sua organização pedagó-gica e administrativa, dentre as quais: a introdução da gestão democrática e de conselhos escolares (envolvendo a partici-pação da comunidade), a elaboração do próprio projeto po-lítico-pedagógico, a adequação do currículo e do calendário escolar às necessidades específicas da localidade.

Houve, ainda, melhoria na qualificação dos profissionais da educação, com projetos como o Programa de Formação de Professores em Exercício (ProFormação), qualificando em ní-

www.obancomundial.org

Prefeitura é o edifício, o local onde o prefeito exerce suas funções.

Município é uma área territorial gerida por munícipes, por cidadãos.

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vel de Ensino Médio (Magistério), e o ProLicenciatura (licen-ciaturas a distância), qualificando em nível superior.

Segundo os dados do Censo do Professor, realizado em 1997, no Brasil:

:: 1.617.611 professores trabalhavam na Educação Básica; desses, 822.655 (50,9%) não possuíam titulação em nível superior;

:: 616.956 atuavam nos primeiros quatro anos do Ensino Fundamental; desses, 457.282 (74,2%) não tinham curso superior.

O ProFormação já qualificou mais de 30 mil professores em exercício e os cursos de licenciatura a distância vêm aten-dendo a cerca de cem mil professores do Ensino Fundamen-tal. Certamente, os dados a serem divulgados pelo relatório do Censo dos Profissionais do Magistério da Educação Bá-sica, que o INEP realizou em 2004, apontarão a melhoria na qualificação dos profissionais da educação.

Os recursos destinados por lei à Educação Básica foram assegurados por decretos e são aplicados mediante a criação de mecanismos específicos para chegarem às unidades es-colares, como é o caso do FUNDEF e os Programas do FNDE (Dinheiro Direto na Escola, Alimentação Escolar, Transporte do Escolar, etc.).

A escola passou a ser o centro das políticas educacionais e das ações governamentais.

Por outro lado, há alguns aspectos negativos nessas políticas educacionais, sobre os quais é bom você refletir um pouco, tais como:

:: aumento do número de vagas na oferta da Educação Básica não acompanhou a qualidade nos serviços da

educação. O SAEB apontou, entre 1995 e 2001, queda nos níveis de aprendizado, no desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, com disparidades entre regiões e estados e, também, entre alunos de origens sociais diferentes. Houve ligeira melhoria em 2003.

:: A descentralização não se realizou de maneira completa. As decisões mais importantes costumam ser tomadas no âmbito federal, são centralizadas, cabendo aos municípios e às unidades escolares apenas a execução de propostas curriculares, programas e ações. Assim, não houve municipalização dos serviços educacionais, como pretendido, mas um processo de “prefeiturização”. As ações e as responsabilidades para com o ensino foram descentralizadas, ficaram a cargo da prefeitura, mas os recursos e a definição de políticas educacionais continuaram centralizados, sob o controle do governo federal. No município, muitas vezes, esse mesmo processo de “prefeiturização” acontece. Há uma centralização administrativa (nas mãos do prefeito) que impede a participação e o controle social organizado por parte da comunidade, dos munícipes.

Democracia e descentralização são duas faces da mesma moeda: o processo de construção da cidadania.

Pois, uma democracia é real e efetiva quando os cidadãos participam das decisões que dizem respeito à sua vida pessoal e coletiva.

Por isso, uma verdadeira “municipalização” exige gestão democrática.

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:: A falta de valorização do professor ainda está presente na sociedade brasileira. Existe um longo caminho a percorrer para que realmente o profissional da educação seja valorizado e possa realizar seu trabalho em melhores condições, com infra-estrutura adequada e salários condizentes com sua formação e com a importância social de sua ação educativa.

:: Os recursos financeiros ainda são insuficientes para atender à quantidade e à qualidade de uma educação voltada para a formação de cidadãos.

A qualidade da educação está diretamente ligada à distribuição dos recursos materiais. Os recursos não são a garantia automática de qualidade na educação, mas, sem eles, uma educação de qualidade não se viabiliza.

Atividade 4c

Como superar isso?Vimos na unidade anterior que as políticas públicas no

campo social definem o modelo de sociedade que determina-do governo deseja construir. Porém, sua definição e execução não podem ser simplesmente deixadas na mão do governo e dos políticos, ainda mais hoje, com a forte influência do pensa-mento neoliberal na política e na economia de nosso país.

Dados de uma pesquisa de opinião pública realizada pelo IBOPE, a pedido da ONG Ação Educativa, em novembro de 2003, mostram que:

:: 44% dos brasileiros dizem crer que de fato influenciam as políticas públicas e, entre estes, 68% acham que o fazem apenas ao votarem no dia das eleições.

(Disponível em www.patri.com.br; acesso em 20/10/05)

Por isso, a intervenção dos cidadãos, individualmente ou em grupo, é fundamental para a construção de uma sociedade justa, igualitária e solidária. A educação, então, pode vir a desempenhar papel importante na conscientização dos cidadãos e na introdução de práticas educativas que levem à transformação da atual sociedade.

Mas como garantir o direito à educação e propiciar uma formação escolar que provoque mudanças sociais?

Um dos caminhos é alocar e empregar bem os recursos financeiros destinados à educação. É disso que iremos tratar na próxima unidade.

Em síntese

Nessa segunda unidade, fizemos um percurso rápido sobre alguns temas fundamentais para compreensão da atual política educacional. Estudamos a influência do pensamento neoliberal no campo da economia, que proporcionou outra direção às políticas sociais nesse mundo globalizado. Em seguida, analisamos os reflexos desse pensamento na educação, especialmente no que diz respeito aos documentos oficiais que tratam da educação e da gestão da escola, apresentando aspectos positivos e negativos da reforma educacional, implementada no Brasil pelos governos que se sucedem no poder, sobretudo, nesses últimos anos.

Aprofunde seus conhecimentos por meio de leituras da bibliografia sugerida ao final do Módulo, no tópico Nossa Conversa não se Encerra Aqui.

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Unidade III

Financiamento da Educação Básica

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Introdução

O Estado para realizar suas políticas no campo social e, no nosso caso, na área da educação, disponibiliza recursos financeiros para manutenção e desenvolvimento do sistema educacional nos níveis federal, estadual e municipal.

Daí a importância de você saber quantos são os recursos e como chegam à sua região e ao seu município para que crianças, jovens e adultos possam ter acesso à educação.

Por isso, nesta Unidade, iremos conversar um pouco sobre o financiamento da educação, especificamente, no âmbito da Educação Básica.

Esperamos que, ao final dessa Unidade, você seja capaz de:

:: identificar a legislação que garante recursos financeiros para a educação e o montante definido por essas leis;

:: explicar o que é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF) e definir a sua função.

Você deve ter ouvido muito, em discursos de políticos e governantes, que a educação é fundamental para o desenvolvimento do País e que se deve dar prioridade a esta área social. É essencial que os investimentos sejam ampliados para que melhorem as condições de funcionamento das escolas e de trabalho dos professores.

Você sabe qual o montante de dinheiro que seu município tem à disposição para aplicar na educação e o quanto destes recur-sos é investido? Você sabe de onde vêm e como são arrecadados e contabilizados? Será que os investimentos são suficientes para a oferta de uma educação de qualidade?

Como está vendo, há muita coisa importante a ser discutida nesta Unidade ou, pelo menos, a ser apontada para que você procure aprofundar mais ainda seus conhecimentos sobre o financiamento da educação. Assim, você poderá contribuir para solução de situações problemáticas, como a vivenciada por aquela comunidade da região Leste de Mato Grosso, mencionada no tópico “Problematizando” deste Módulo, lembra-se?

Vamos, então, sobrevoar essa temática?

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Infelizmente, em nosso país, no momento em que se discutia o Plano Nacional de Educação, em 2000, não foi aprovada a proposta de aumentar gradativamente o orçamento destinado à educação até atingir, ao final dos 10 anos de vigência do Plano (2010), o índice de 7% do PIB.

Estima-se que o Brasil, na década passada (1990-2000), in-vestiu, anualmente, somente 1,4% do PIB, no Ensino Funda-mental e o que chegou efetivamente às escolas representaria pouco mais de 0,6% do PIB.

Para financiar os gastos com o Ensino Fundamental, a Constituição garante recursos vinculados de impostos (18% dos federais e 25% dos estaduais e municipais), isto é:

A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (Art. 212).

O que isso significa? O que a Constituição Federal, com-plementada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-cional (LDB), trouxe de novidade?

Vamos destacar três aspectos importantes relacionados com financiamento da educação:

1. Vinculação dos recursos a impostos, isto é, os recursos ar-recadados de determinados impostos (definidos pela le-gislação) têm destinação específica: o ensino.

2. O repasse dos recursos vinculados aos órgãos da educação. Pois, antes, os impostos e transferências entravam numa “conta única” da União, dos Estados ou dos municípios,

1. Recursos financeiros para a educação

A Constituição Federal de 1988, que ficou conhecida por Constituição Cidadã, restabeleceu importantes direitos aos cidadãos brasileiros, após o período da ditadura militar, e proclamou a educação como direito de todos. Para garantir essa prerrogativa, a Constituição determinou que o poder público é obrigado a aplicar 5% do Produto Interno Bruto do País (PIB) em educação.

Veja o montante do PIB produzido em nosso país nestes últimos três anos:

Ano valor em R$ - trilhão

2003 1,5

2004 1,7 (1.766.577.810.000,00)

2005 1,9 (1.951.900.000.000,00)

1,9

2005

1,7

2004

1,5

2003

Do montante do PIB, 5% é utilizado para custear a educação. Faça os cálculos, quanto é?

R$97.000.000.000, isto é, 97 bilhões, em 2005. Parece muito dinheiro, não é? Pois bem, países vizinhos, como Argentina e Uruguai, aplicam, em educação, em torno de 10% de seu PIB.

Prerrogativa: garantia ou vantagem conquis-tada ou assegurada aos cidadãos.

PIB: Representa a “riqueza nacional”. Inclui tudo aquilo que é pro-duzido no País, durante um ano, em todos os setores econômicos: indústria, agricultura, comércio e serviços de todo tipo.

União significa a uni-dade do País. Tem o mesmo significado de governo federal.

Recurso vinculado: é aquele recurso atrelado a determinado impos-to, com destinação es-tabelecida por lei.

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o que facilitava o uso do dinheiro da educação para outras atividades. A partir da LDB, o dinheiro destinado à educação é depositado em uma conta específica. Assim, o controle sobre seu uso e destino fica mais fácil.

3. A definição de um “mínimo” a ser aplicado diretamente no ensino.

Impostos Federais

18%

Impostos Estaduais

25%

Impostos Municipais

25%+ +

De tudo o que as diferentes esferas administrativas recolhem por meio de impostos e transfe-rências, uma porcentagem deve ser destinada à educação escolar, isto é, a atividades diretamente relacionadas com o ensino, em todos os níveis e modalidades. O art. 70 da LDB define, com clareza, o que é considerado como despesa na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE) e o art. 71 delimita em quê esse recurso destinado ao ensino não pode ser gasto. É importante que você consulte a LDB e dê uma lida nesses dois artigos, que encontram-se no Glossário.

Preste bem atenção! Os percentuais indicados (18% para União e 25% para Distrito Federal, Estados e municípios) constituem um piso, isto é, um mínimo de aplicação de recursos. Isso significa que o Estado ou o município pode elevar este percentual.

Você sabe qual é o percentual a ser investido na educação, estabelecido pela Constituição do seu Estado ou pela Lei Orgânica do seu município? Sabe se o seu município aplica esse percentual?

Atividades 5a, 5b

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1.1. Receitas de impostos para a educaçãoVamos tentar, por meio de um quadro, visualizar melhor as fontes dos recursos financeiros disponíveis para a educação.

Quadro 1- Recursos Financeiros para a Educação (CF – 1988)

Impostos Federais (18%) Impostos Estaduais (25%) Impostos Municipais (25%)

IR – Imposto de Renda

IPI – Imp. sobre Produtos Industrializado

ITR – Imp. Territorial Rural

IOF – Imp. Operações Financeiras

II – Imp. Importação

IE – Imp. Exportação

FPE – Fundo de Participação Estados

IPI – Imposto sobre produtos industrializado

IOF – ouro

ICMS – Imp. Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços

IPVA – Imp. Propriedade de Veículos Automotores

FPM – Fundo Part. Municípios

IPI – Imp. sobre Produto Industrializado

ITR – Imp. Territorial Rural

IOF – ouro

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços

IPVA – Imp. Propriedade de

Veículos Automotores

IPTU – Imp. Predial Territorial Urbano

ITBI – Imp. Transmissão de Bens Imóveis

ISS – Imp. sobre Serviços

Contribuições Sociais à União

Salário Educação (quota federal 1/3)

Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS)

Fundo de Amparo ao Trabalhador

Salário Educação (quota 2/3) Salário Educação (participação na quota estadual)

(Fonte: MONLEVADE, J.; FERREIRA, Eduardo, B. 1998, p. 27)

Você, como cidadão, a qualquer momento, tem o di-reito constitucional de solicitar, à prefeitura, prestação de contas e verificar se ela aplica adequadamente, con-forme a lei, os recursos alocados para a educação.

Mas de quais impostos vêm os recursos destinados à educação?

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Mas quando você entra numa loja de eletrodomésticos e compra uma TV, como isso se aplica? Quanto vai para o ensino?

Suponhamos que você pagou pelo aparelho R$500,00, preço à vista e exigiu a nota fiscal.

Vamos calcular a quantia destinada à educação desse valor que você pagou. Para simplificar esse exemplo, vamos nos referir somente aos dois principais impostos – ICMS e IPI:

Você pagou R$ 500,00 pela TV.

1. A loja onde você comprou a televisão tem que pagar ao governo 18% de ICMS. Ou seja, nesse exemplo, a loja recolhe ao Estado R$ 90,00 (noventa reais) de ICMS.

O Estado recebe o imposto (os R$ 90,00) e o divide com o município onde foi efetuada a venda.

2. O Estado fica com 75% (R$ 67,50) e o município com 25% (R$ 22,50).

3. Tanto o Estado quanto o município são obrigados, por lei, a separar 25% desse valor para a educação. Desta forma, o Estado tem que reservar R$ 16,87 e o município R$ 5,63 para a educação.

Percebeu que, no fundo, o dinheiro que foi para o governo (estadual e municipal) para ser aplicado na educação (R$ 22,50), foi você quem pagou no momento que comprou a TV?

Mas não é só esse imposto que você pagou quando comprou a TV. Existe outro imposto muito importante sobre todos os produtos industrializados chamado IPI. Como ele funciona?

Quando a fábrica produziu a televisão, ela o fez com o intui-to de vendê-la para uma loja. No momento dessa venda, a fá-

brica recolheu determinada porcentagem (12%, por exemplo) de imposto. Vamos supor que ela vendeu a TV para a loja por R$ 300,00. Logo, a fábrica recolheu R$ 36,00 referente ao IPI.

Preste bem atenção. Foi você, como consumidor final, quem pagou, também, esse custo.

Você pagou R$ 500,00 pela TV – Como fica o IPI?

A fábrica recolheu R$ 36,00 de imposto pela TV.

Como fica a distribuição desse valor?

1. a União fica com 56 %, o Estado com 21,5 % e o mu-nicípio com 22,5%.

No nosso exemplo a União ficaria com R$ 20,16; o Estado com R$ 7,74 e o município com R$ 8,10.

Você se lembra que a lei obriga a União a gastar 18%, o Estado e o município 25% do total arrecadado em educação?

2. Portanto, do valor que você pagou de IPI quando com-prou a Televisão a União é obrigada a gastar R$ 3,62; o Estado R$ 1,93 e o município R$ 2,02 em educação.

Se somarmos só os dois impostos (ICMS e IPI), você pa-gou R$ 126,00 em impostos e desse total R$ 30,07 devem ser destinados à educação.

Este exemplo é apenas ilustrativo e não considera as diversas exceções e compensações pre-vistas em leis específicas.

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Por isso, é importante conhecer como é possível fiscalizar se esse dinheiro está mesmo indo para a educação e se está sendo bem aplicado.

Além das receitas de impostos, há ainda as de contribuições sociais, como o Programa de Integração Social (PIS), o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), a Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos de Natureza Financeira (CPMF). Entre elas, vamos destacar o Salário-Educação, que é uma contribuição social de 2,5% sobre a folha de salário dos empregados das empresas, destinada somente ao Ensino Fundamental.

Para você ter uma idéia do volume arrecadado com essa contribuição, observe o gráfico.

Dados da Arrecadação do Salário-Educação (em valores correntes)

Ano Arrecadação

2003 4,005 bilhões

2004 4,826 bilhões

2005 5,906 bilhões

De 2003 para 2004 houve um crescimento de mais de 20% na arrecadação. De 2004 para 2005, a arrecadação aumentou 22,38%, ou seja, o FNDE conseguiu arrecadar 1,08 bilhão a mais.

O Salário-Educação é distribuído da seguinte forma:

:: 10% são mantidos pela União para distribuição em pro-gramas como transporte escolar de alunos do Ensino

Fundamental, residentes na zona rural, e a Educação de Jovens e Adultos;

:: 90% restantes são divididos assim: um terço (1/3) para o governo federal (para projetos, programas e ações vol-tadas para o Ensino Fundamental público); e dois terços (2/3) para Estados e municípios, a ser dividido propor-cionalmente ao número de matrículas no Ensino Funda-mental.

Veja o exemplo para entender como é feita a divisão:

900 milhões União

2/3 para Estados e

1/3 para União

9 bilhões8,1 bi para

União, Estados, municípios

A União, então, recolhe a contribuição do Salário-Educação e devolve uma parte aos Estados. Essa quota estadual, por sua vez, pela Lei no 9.766, de 1988, é redistribuída entre o Estado e os respectivos municípios, conforme critérios estabelecidos em lei estadual.

Agora, você sabe que os recursos têm endereço certo e que devem ser aplicados no ensino público, senão o gestor sofre as sanções da lei: processo por crime de responsabilidade e processo penal, além de inelegibilidade por oito anos.

Salário Educação (Art. 212 CF – 1988)

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Quanto dispõe seu município para o Ensino Fundamen-tal, a partir da receita dos impostos mencionados?

Atividade 5c

Então, vamos nos deter em um aspecto particular da sistemática do Estado para assegurar que os recursos destinados ao Ensino Fundamental sejam garantidos e aplicados.

2. FUNDEF e FUNDEBA LDB, em seu Art. 21, define a organização do sistema educacional brasileiro em dois grandes

níveis escolares: a Educação Básica e a Educação Superior. A Educação Básica é formada pela Educação Infantil, o Ensino Fundamental, o antigo 1º Grau (ambos de responsabilidade dos municípios) e o Ensino Médio, o antigo 2º Grau (de responsabilidade dos Estados).

Sistema Educacional Brasileiro

Educação Básica

Educação Infantil

Ensino Fundamental (8 anos)*

Ensino Médio (3anos)

Educação Superior

:: cursos seqüênciais

:: graduação

:: pós-graduação

:: extensão

responsabilidade dos municípios

responsabilidade dos estados

responsabilidade do Governo Federal

* Em fase de ampliação gradual para 9 anos.

As políticas públicas no campo da educação têm definido, nesses últimos anos, o Ensino Fundamental como prioridade, canalizando para essa etapa da Educação Básica um significativo volume de recursos.

Equânime: de acordo com o número de matrículas.

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2.1. FUNDEFPara viabilizar essa prioridade, foi criado, em 1996, o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério, pela Emenda Constitucional nº 14.

É um fundo de natureza contábil, isto é, uma conta bancária especial onde são creditados, exclusivamente, os recursos do fundo, destinados ao financiamento do Ensino Fundamental.

Trata-se de um fundo de âmbito estadual, cujos recursos devem ser distribuídos, de maneira automática e equânime, entre o governo estadual e seus municípios.

A Constituição de 1988 já estabelecia que 25% da receita de impostos e transferência devem ser aplicados na manuten-ção e desenvolvimento do ensino, pelos Estados e municípios, sendo que 60% desses recursos devem ser aplicados no En-sino Fundamental da rede pública. O FUNDEF é formado por uma parcela desses recursos vinculados, constituída por 15% dos principais impostos e transferências (FPE, FPM, ICMS, IPI-exportação e Desoneração de Exportações - Lei Comple-mentar nº 87/96, conhecida como Lei Kandir).

O restante dos 25% dos recursos vinculados continua sendo destinado ao ensino, em seus diferentes níveis, para financiamento das mais diferentes atividades educacionais da rede pública, observada a competência de cada ente go-vernamental (União, estados e municípios) no atendimento, estabelecida no Art. 211 da Constituição Federal.

Se os gestores públicos quiserem contribuir para o ensino privado (escolas comunitárias, confessionais, filantrópicas, isto é, sem fins-lucrativos), podem fazê-lo, mas que seja com recursos acima dos percentuais vinculados, isto é, fora dos 25%.

Essa discussão acarreta diversas dúvidas. Vejamos as mais comuns:

1. Em que podem ser gastos os recursos do FUNDEF?

O Art. 7º da Lei do FUNDEF vem reafirmar o que está pre-visto na LDB: valorização do profissional da educação e ma-nutenção e desenvolvimento do ensino. Por isso, o recurso do FUNDEF é para:

:: pagamento dos profissionais do magistério em efetivo exercício (professores, diretores de escolas e profissionais que exercem cargo/função de planejamento, inspeção, su-pervisão e orientação educacional), utilizando-se pelo me-nos 60% dos recursos do Fundo;

:: despesas de “manutenção e desenvolvimento do Ensino Fundamental” (40%). Lembra do Art. 70 da LDB?

2. Como é distribuído o recurso do FUNDEF?

A distribuição é proporcional ao número de matrículas no Ensino Fundamental regular e especial das respectivas redes do ensino público. Assim, a manutenção do aluno na escola assegura um valor per capita anual para o Estado ou município que o atende.

3. Como é calculado o valor por aluno/ano?

Como o Fundo é de âmbito estadual (não há comunicação entre Fundos de Estados diferentes), o valor é calculado por estado, de forma que temos 27 valores diferentes, por aluno. Além disso, é importante esclarecer que são calculados, atualmente, quatro valores per capita diferentes:

I) para os alunos das séries iniciais urbanas;

II) para os alunos das séries iniciais rurais;

III) para as quatro séries finais urbanas;

IV) para as quatro séries finais rurais e educação especial.

Per capita: por indivíduo.

www.mec.gov.br/fundef

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Assim, o cálculo é realizado por estado, adotando-se a fórmula específica, conforme exemplo hipotético, no quadro abaixo.

Montante anual da receita

Cálculo dos 15% (FUNDEF)___R$645.000.000.000,00

Base do FUNDEF no Estado __________ R$4.300.000.000,00

Cálculo dos 15% (FUNDEF) ________ R$645.000.000.000,00

Número de alunos do Ensino Fundamental, no ano anterior:

Séries iniciais urbanas ____________________ 405.000

Séries iniciais rurais ______________________ 190.000

Quatro séries finais urbanas _______________ 175.000

Quatro séries finais rurais __________________ 14.000

Total de alunos _________________________ 784.000

R$645.000.000.000,00

Fórmula de cálculo: ________________________ (405.000 + 1,02 x 190.000 + 1,05 x 175.000 + 1,07 x 14.000)

Valor por aluno/ano

:: para as séries iniciais urbanas= R$808,74

:: para as séries iniciais rurais= R$808,74 x 1,02 = R$824,91

:: para as quatro séries finais urbanas R$808,74 x 1,05= R$849,18

:: para as quatro séries finais rurais e Educação Especial R$808,74 x 1,07 = R$865,35

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Você conseguiu compreender? Os cálculos são feitos a partir da previsão de receitas para o ano seguinte (isto é o quanto o governo prevê arrecadar por meio de impostos e transferências) e o número de alunos matriculados no Ensino Fundamental, de acordo com o Censo Escolar.

Censo Escolar

Anualmente, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, realiza coleta de dados sobre o número de matrículas, professores, diretores, infra-estrutura, atividades na comunidade e entidades representativas (alunos, pais e professores), em todas as escolas públicas e privadas do país (mais de 200 mil, no total).

Os programas do FNDE utilizam-se desses dados para repasse de recursos.

4. Como é definido o valor mínimo nacional por aluno/ano?

O valor mínimo nacional por aluno/ano é definido pelo governo federal, que o estabelece to-mando como referência a previsão de receita do Fundo e o número de alunos do Ensino Funda-mental, segundo os dados do Censo Escolar. Entretanto, o valor é definido, não por meio de uma fórmula matemática pré-estabelecida, mas seguindo os parâmetros de política sócio-econômica que consideram a capacidade financeira da União para assegurar os recursos necessários e o comportamento do crescimento do valor mínimo.

Observe a evolução desse recurso ao longo desses anos:

Em 1997, o valor mínimo nacional por aluno foi de R$300,00. De 1998 a 1999 foi de R$315,00.

A partir de 2000, esses valores passaram a ser diferenciados:

Ano Séries iniciais Séries finais e Educação Especial

2000 333,00 349,65

2001 363,00 381,15

2002 418,00 438,90

2003446,00

462,00

468,30

485,10

2004537,71

564,63

564,60

592,86

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A partir de 2005, os valores foram diferenciados em quatro grupos:

AnoSéries iniciais

urbanasSéries iniciais

ruraisSéries finais

urbanasSéries finais rurais e Educação Especial

2005 620,56 632,97 651,59 664,00

2006 682,6 696,25 716,73 730,38

5. Mas o que acontece, se a arrecadação e o número de matrículas são diferentes de um estado para outro?

Como há arrecadações diferentes devido às diferenças e desigualdades regionais, o financia-mento por aluno varia entre os estados e entre as regiões. Assim, no Maranhão o financiamento por aluno pode ser de R$550,00, enquanto no Rio Grande do Sul,de R$1.000,00.

Os Estados que não alcançam o mínimo definido pelo governo federal recebem, então, uma complementação da União. Portanto, no exemplo anterior, o Estado do Rio Grande do Sul não precisa receber dinheiro federal do FUNDEF, pois, os 15% destinados ao Ensino Fundamental (dos recursos financeiros arrecadados com os impostos), seriam suficientes.

6. E o que acontece quando o custo aluno por ano for maior do que o estabelecido pelo governo?

De acordo com a LDB, a Educação Básica é uma obrigação dos Estados e municípios. Por isso, o dinheiro do FUNDEF, que o governo federal repassa a estados e municípios que necessitam, é uma complementação aos recursos que os gestores estaduais e municipais devem aplicar para a manutenção e desenvolvimento do ensino e que são assegurados pela legislação.

7. Você sabe qual o valor mínimo estabelecido pelo governo para 2005? E qual o “valor” do aluno em seu Estado? Ainda, sabe se a sua prefeitura recebe mensalmente esse recurso do FUNDEF? Qual a quantia?

É importante que você se informe sobre os recursos, destinados à educação, que chegam ao seu município. No sítio do MEC, cujo endereço eletrônico é www.mec.gov.br, são disponibilizadas informações sobre todos os repasses realizados a todos os Estados e municípios brasileiros.

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O dinheiro do FUNDEF é significativo. Veja os valores des-ses últimos anos.

Ano R$ (valores correntes)

2001 19 bilhões

2002 22 bilhões

2003 25,2 bilhões

2004 28,6 bilhões

2005 32,7 bilhões

Atividades 6a, 6b, 6c

2.2. FUNDEB

O FUNDEF está para ser transformado em Fundo de Ma-nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). Irá atender aos alunos da Educação Infantil, Ensino Funda-mental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos.

Com a criação do FUNDEB, a escola pública ganhará novo impulso. Em que sentido?

Os ganhos para a educação no País serão imensos.

Estima-se que mais de 47 milhões de alunos serão beneficiados com investimentos públicos da ordem de R$50,4 bilhões.

O que o FUNDEB vai trazer de novo, de diferente em relação ao FUNDEF?

a. Diferente do FUNDEF, que financiava apenas o Ensino Fundamental, o FUNDEB investirá na Educação Básica, isto é: na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

b. O novo Fundo atenderá, em suas necessidades especí-ficas, às diversas realidades dos alunos no que se refe-rem a série, idade e regiões onde estudam. Por isso, o FUNDEB definiu 11 faixas de valores por aluno/ano e em substituição às quatro, como funcionava antes.

Educação infantil

1ª a 4ª série urbana 1ª a 4ª série rural

5ª a 8ª série urbana 5ª a 8ª série rural

Ensino Médio urbano

Ensino Médio rural

Ensino Médio profissionalizante

Educação de Jovens e Adultos

Educação Especial

Educação indígena e de quilombolas.

c. Com a criação do FUNDEB, o montante de recursos aplicados pela União, Estados, Distrito Federal e muni-cípios na Educação Básica pública aumentará, progres-sivamente, de 16,15% no 1º ano a 20%, a partir do 4º ano. A cesta de impostos (relativa aos estados, ao Distri-to Federal e aos municípios), que vão financiar o FUN-DEB, é composta pelos mesmos tributos definidos para o FUNDEF, como vimos anteriormente.

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No FUNDEF, o Ministério da Educação investia, em média, R$ 570 milhões por ano para a complementação do fundo. Com o FUNDEB, esse valor chegará a R$ 4,3 bilhões anuais em 2009 [valores de 2005].

d. Continuam garantidos, para o Ensino Fundamental, os valores mínimos, não inferiores aos praticados pelo FUNDEF, e pelo menos 60% dos recursos do FUNDEB, inclusive os de complementação da União, será desti-nado ao pagamento dos salários dos profissionais do magistério, em exercício. O restante dos recursos será ultilizado em outras despesas relativas à manutenção e desenvolvimento do ensino na Educação Básica.

e. Os recursos do FUNDEB possibilitarão a abertura de mais vagas nas escolas (especialmente na pré-escola, no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos), a melhoria da infra-estrutura das escolas e a formação continuada dos professores de toda a Educação Básica.

f. Quanto aos aspectos contábeis:

:: Autorização para movimentação dos recursos do FUN-DEB por meio de contas em bancos oficiais estaduais (antes a movimentação era feita, apenas, pelo Banco do Brasil). O repasse, porém, continuará a ser realizado pelo Banco do Brasil.

:: Previsão de 4 anos para exclusão gradativa de inativos e pensionistas da folha de pagamento do FUNDEB.

:: Aperfeiçoamento das regras de controle e fiscalização dos recursos do fundo, como a integração do Conselho

do FUNDEB ao Conselho Municipal de Educação, nos municípios com até 50 mil habitantes.

:: Exclusão do salário-educação como fonte de recursos da União para complementação do Fundo. Assim, garante maior investimento federal na Educação Básica, para que fiquem resguardadas outras ações na área de educação.

Com duração de 14 anos (2006-2019), o FUNDEB será implantado de forma gradativa.

Até chegar ao quarto ano de vigência, o objetivo é atender 47,2 milhões de alunos com investimentos públicos anuais de R$ 50,4 bilhões, dos quais R$ 4,3 bilhões provenientes da União, responsável, também, por complementar os recursos quando o valor anual por aluno, nos Estados e no Distrito Federal, não alcançar o mínimo definido nacionalmente.

Mas, como ocorre o controle social sobre esses recursos?

Este será o nosso objeto de estudo da Unidade IV.

Atividade 6d

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Em síntese

Nessa Unidade, estudamos como a Constituição Federal e a legislação federal, estadual e municipal, nesses últimos anos, sob pressão da sociedade, dos movimentos organizados, das entidades edu-cativas, vêm ampliando os recursos financeiros destinados à educação escolar, sobretudo no Ensino Fundamental. Não representa, ainda, tudo aquilo que o País necessita, mas não podemos negar os avanços significativos.

Apontamos as fontes desses recursos e o percentual destinado à educação escolar e a cada es-fera de governo. Finalmente, nos detivemos um pouco mais sobre o FUNDEF, por ser um marco histórico nas políticas sociais voltadas para a educação. Você sabe que há dinheiro disponibiliza-do para a educação, mas, infelizmente, o mesmo nem sempre chega ao destino pretendido, ou não é bem aplicado.

Por isso, o governo federal conta com você, com sua participação como, por exemplo, no Conselho do FUNDEF, ou em outros conselhos que têm como função acompanhar e fazer o controle social dos recursos destinados à educação para que eles realmente produzam o efeito desejado:

A melhoria da qualidade da educação em seu município e no Brasil, possibilitando, a milhões de pessoas, a construção de sua cidadania. Este é o objetivo que precisamos alcançar e sua participação é fundamental nesse processo.

Há um lindo poema de João Cabral de Melo Neto, talvez você o conheça, a respeito do qual vale a pena a gente reler e refletir um pouco.

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Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tendo, onde entrem todos, se entretendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balcão.

(Poesias Completas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986).

Solte sua voz, seu grito, dizendo o que você apanhou do tecido complexo da nossa realidade, da teia das atuais políticas sociais e educacionais. Certamente, outras vozes irão se juntar, outros gritarão com você e juntos faremos um novo amanhecer para o seu município, para o nosso país, para milhões de cidadãos que freqüentam nossas escolas públicas.

Um dos objetivos das políticas educacionais do governo é atenuar as desigualdades existentes também no âmbito do sistema educacional, dos serviços oferecidos, da qualidade da educação.

Se desejar aprofundar mais ainda seus conhecimentos, leia a bibliografia sugerida ao final do Módulo, no tópico Nossa Conversa não se Encerra Aqui.

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Unidade IVO controle social no âmbito das políticas públicas para a Educação

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Nessa quarta Unidade, estudaremos o tema acompanhamento e controle social, em rela-ção às políticas públicas educacionais. É um tema muito importante porque trata diretamen-te de questões relacionadas com sua atuação como cidadão. Ainda, o FNDE coloca o acompa-nhamento e controle social como um dos objetivos a serem alcançados em seus programas, visando à transparência e ao uso social aos recursos aplicados.

Você consegue imaginar o quanto acompanhamento e controle social estão ligado à parti-cipação política? Qual a vinculação existente entre controle social e os conselhos formados para acompanhar a execução dos programas e ações públicas? Como ocorre o controle social dos pro-gramas do FNDE?

Gostaríamos que você, durante a leitura desta Unidade, buscasse respostas a estas perguntas e socializasse suas reflexões com colegas de trabalho e do curso.

Ao final da leitura desta Unidade, esperamos que, você seja capaz de:

:: definir controle social;

:: descrever o papel dos conselhos no controle social;

:: conhecer os diferentes conselhos no âmbito dos programas do FNDE.

1. Entendendo controle social

Então vamos começar mais uma etapa de nossa jornada, estudando, em primeiro lugar, o que é acompanhamento e controle social, expressão que possui um conceito muito amplo.

Inicialmente, para uma maior compreensão, vamos buscar significados para as palavras acompanhamento, controle e social, separadamente. Acreditamos que, para entender uma palavra, devemos começar por buscar seu significado em um dicionário. Foi o que fizemos.

No Dicionário Aurélio, com relação à palavra “acompanhamento”, encontramos a idéia de “observar a marcha, a evolução de”. Quanto a ”controle”, nos deparamos com a seguinte definição: “fiscalização exercida sobre as atividades de pessoas, órgãos, departamentos, ou sobre produtos,

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etc., para que tais atividades, ou produtos, não se desviem das normas preestabelecidas”. Finalmente, o sentido da palavra “social” é: “próprio dos sócios de uma sociedade, comunidade ou agremiação”.

Para que você entenda melhor a extensão e a importância da expressão “acompanhamento e controle social”, vamos pensar no seguinte: quando você acompanha alguém, você vai junto, fica na companhia dele, não é mesmo? Ao acompanhar alguém você passa a fazer parte da caminhada, segue com atenção os passos do companheiro.

Quando alguém está cantando os músicos fazem o “acom-panhamento”. Imagine se cada músico resolvesse tocar com tonalidades ou ritmos diferentes? Seria um desastre! Pois, o acompanhamento exige trabalho coletivo “afinado” e envol-vimento das pessoas.

E qual a relação entre “acompanhamento” e “controle social”?

Leia esta pequena história.

O proprietário de uma pequena granja, diante do baixo ren-dimento da mesma, procurou um sábio para que lhe dissesse o que fazer. O sábio escreveu algo num pedaço de papel, co-locou dentro de uma pequena caixa e disse ao granjeiro que três vezes ao dia desse uma volta por toda a granja com a caixa, sem abri-la.

O granjeiro obedeceu. Pela manhã, ao passar pela granja en-controu um empregado ainda dormindo. Após acordá-lo, deu uma bronca. Pela tarde, encontrou as galinhas famintas, sem alimentação. Chamou a atenção do encarregado pelo serviço.

À noite, ao passar pela cozinha, viu o cozinheiro desperdiçando alimentos e o repreendeu.

O proprietário de uma pequena granja, diante do baixo rendi-mento da mesma, procurou um sábio para que lhe dissesse o que fazer. O sábio escreveu algo num pedaço de papel, colo-cou dentro de uma pequena caixa e disse ao granjeiro que três vezes ao dia desse uma volta por toda a granja com a caixa, sem abri-la.

O granjeiro obedeceu. Pela manhã, ao passar pela granja en-controu um empregado ainda dormindo. Após acordá-lo, deu uma bronca. Pela tarde, encontrou as galinhas famintas, sem alimentação. Chamou a atenção do encarregado pelo serviço. À noite, ao passar pela cozinha, viu o cozinheiro desperdiçando alimentos e o repreendeu.

Assim, todos os dias, ao dar a volta pela granja, levando consigo a caixa misteriosa, sempre encontrava algo a ser corrigido.

Ao final do ano, constatou uma melhoria na sua granja. Foi, então, ao sábio e pediu para ficar com a caixa por mais um ano, pois lhe havia trazido sorte.

O sábio, então, sorriu e disse que ele não precisava mais da caixa, pois não precisava mais daquele amuleto da sorte. Abriu a caixa e deu o papel para que o granjeiro o lesse. Estava escri-to: Se quer que as coisas melhorem, acompanhe-as de perto!

E agora você já entendeu a relação entre “acompanhamento” e “controle social”?

Bem, quando você acompanha a execução das ações e programas do governo, está efetuando o controle social. A definição técnica para controle social é a seguinte:

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É a participação da sociedade no acompanhamento e verificação da execução das políticas públicas, avaliando objetivos, processos e resultados.

De maneira simplificada, podemos considerar que é a ação fiscalizadora, exercida pelos sócios (participantes) de uma comunidade.

Agora, que já entendeu o conceito, que tal buscarmos as origens desse fenômeno social?

Segundo Bobbio, Mateucci e Pasquino, importantes cien-tistas políticos italianos, autores do Dicionário de Política (1991), “acompanhamento e controle social” é um conceito que está presente, mesmo que indiretamente, em obras clás-sicas da filosofia política que abordam os temas de Estado, poder, relação entre o agir individual e o coletivo, entre ou-tros, escritas há muitos anos.

A História relata inúmeros movimentos sociais, que se espa-lharam pela Europa e América, a partir do final do século XVII, defendendo idéias de igualdade, democracia participativa e controle do Estado, bases das atuais democracias contemporâ-neas.

E quanto ao Brasil, você sabe dizer quando a sociedade passou a participar mais intensamente das decisões?

Ao avaliarmos a história de nosso país, percebemos que, após a Independência, que ocorreu em 1822, passamos por vários momentos políticos, incluindo períodos ditatoriais, nos quais aprendemos o valor de lutar pela reconquista e pela garantia da democracia. Após o regime militar (1964-1984), com a promulgação da Constituição Federal de

1988, adotou-se no país uma perspectiva de democracia representativa e participativa, incorporando a participação da comunidade na gestão das políticas públicas.

CF-1988 - Art.1º, § único: “Todo poder emana do povo, que o exerce indiretamente, por representantes eleitos, ou diretamente, nos termos desta constituição”.

A gestão participativa, portanto, é uma experiência relati-vamente nova em nosso país e que chegou ao ensino públi-co com a proposta da gestão democrática, confirmada pela LDB, em 1996, e pelo Plano Nacional de Educação, em 2001.

A partir destes marcos, diversos mecanismos de participação têm sido implementados e consolidados, pela sociedade civil e na administração pública, tais como: conselhos, conferências, fóruns, orçamento participativo, plebiscito, iniciativa popular de lei e referendo.

Pesquisas e estudos realizados no Brasil apontam para o fato de o controle social sobre as ações do governo federal ser um caminho trilhado por um número cada vez maior de orga-nizações da sociedade civil. É o resultado também da imple-mentação de políticas públicas que têm como objetivo a des-centralização do poder de decisão sobre os recursos a serem utilizados na prestação de serviços sociais, principalmente no setor da educação.

Assim, construímos, cada dia mais, uma democracia na qual todos se transformam em sujeitos conscientes, que lutam pelos seus direitos legais, tentam ampliá-los e, ainda, acompanham e controlam socialmente a execução de programas, projetos e ações que concretizam esses direitos.

Um novo cidadão está surgindo, um ser político, capaz de, como dizia Paulo Freire, questionar, criticar, reivindicar,

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participar, ser militante e engajado, contribuindo para a transformação de uma ordem social injusta e excludente.

O controle social é um direito do cidadão brasileiro, conquistado na Constituição Federal de 1988. Ou seja, é o direito da participação da sociedade no acompa-nhamento e verificação da gestão dos recursos fe-derais empregados nas políticas públicas.

Atividade 7

2. O papel dos conselhos no controle social

Agora, vamos tratar especificamente de um dos mecanismos de controle social mais importante: os Conselhos Gestores de Políticas Públicas.

Mas, o que é um “conselho”?

Em qualquer dicionário que você for consultar, encontrará significados parecidos com o de reunião de cidadãos, sob a presidência de um de seus membros, que deliberam so-bre questões específicas, relacionadas aos interesses de pessoas ou grupos que eles representam. Em outras pala-vras, é um grupo de representantes com funções consultivas e/ou deliberativas, isto é, reúne-se para avaliar, julgar, plane-jar, decidir, etc. Os conselhos são, ainda, no caso tratado por nós, uma forma de os cidadãos reconquistarem a soberania popular na gestão do bem público.

Aqui nós iremos tratar dos Conselhos Gestores das Políticas Públicas. O que são esses conselhos?

Conselhos Gestores de Políticas Públicas

São espaços públicos de composição plural e paritária entre Estado e Sociedade Civil, de natureza deliberativa e consultiva, cuja função é formular e controlar a execução das políticas públicas setoriais. Os conselhos são o principal canal constitucional de participação popular encontrada nas três instâncias de governo (federal,estadual e municipal).

O que isto significa?

Na verdade, estes conselhos são espaços públicos, porque constituem uma arena de debate e discussão na construção de acordos e na elaboração de políticas públicas. É o espa-ço no qual ocorrem: a explicitação dos diversos interesses; o reconhecimento da existência de diferenças e da legitimi-dade do conflito; e a troca de idéias como procedimento de tomada de decisões sobre a elaboração, acompanhamento, fiscalização e avaliação das políticas públicas.

Observe suas principais características:

a. formação plural: permite a participação de pessoas de qualquer crença religiosa, etnia, filiação partidária, convicção filosófica, contando, assim, com a representação dos vários atores que constituem a sociedade brasileira;

b. representação paritária do Estado e da Sociedade Civil: os conselhos devem ser compostos por um número par de conselheiros, sendo que, para cada conselheiro representante do Estado, haverá um representante da sociedade civil;

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c. natureza deliberativa: capacidade própria de decidir sobre a formulação, controle, fiscalização, supervisão e avaliação das políticas públicas, inclusive nos assuntos referentes à definição e aplicação do orçamento, como instituição máxima de decisão;

d. natureza consultiva: tem caráter de assessoramento e é exercido por meio de pareceres, aprovados pelos membros, respondendo a consultas do governo e da sociedade;

e. função fiscalizadora: competência para fiscalizar o cumprimento das normas e a legalidade de ações;

f. função mobilizadora: é a que situa o conselho numa ação efetiva de mediação entre o governo e a sociedade.

Contra o autoritarismo, a corrupção e o corporativismo dos tradicionais mecanismos de luta popular (partidos, sindicatos, associações...), os movimentos sociais das décadas de 1970 e 1980 reivindicavam espaços de controle social das políticas públicas através da criação de conselhos em diversas áreas, configurando-os em espaços de articulação entre governo e sociedade.

A década de 90 presenciou uma verdadeira explosão de cria-ção de conselhos em todo o Brasil, que culminou com a obri-gatoriedade da implementação dos Conselhos de Saúde, Con-selhos Tutelares e de Direitos da Criança e do Adolescente, os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), e os Conselhos Escolares.

Estes conselhos, instituídos de norte a sul em nosso país, apresentam características bem diferenciadas, no que tange à natureza, papel, funções, atribuições, composição, estrutura e regimento.

No entanto, vale ressaltar que a constituição e efetiva atuação dos conselhos possibilita a participação da so-ciedade no interior do próprio Estado.

Afinal, qual é o papel dos conselhos e quais seus principais desafios?

Promover o reordenamento das políticas públicas adota-das no Brasil, rumo a sua eficácia, eficiência e efetividade, podendo realizar diagnósticos, construir proposições, fa-zer denúncias de questões que corrompem o sentido e o significado do caráter público das políticas, entre outros.

Representam, assim, o rompimento do distânciamento entre a participação popular e a esfera em que ocorrem as tomadas de decisões e, ainda:

:: superar a fragilidade de organização da sociedade civil brasileira, uma vez que não se pode negar o passado au-toritário de nossa história;

:: superar a pouca capacitação técnica e política dos agen-tes sociais para a negociação e proposição de políticas pú-blicas;

:: buscar a transparência das gestões governamentais;

:: estabelecer parcerias com a sociedade;

:: lutar pela democratização do Estado e sociedade, buscan-do a co-gestão das políticas públicas.

O Governo Federal, por intermédio do Ministério da Edu-cação e do FNDE, vem estimulando a organização da socie-dade civil e sua participação no planejamento, acompanha-mento e avaliação das políticas públicas locais. Em lugares

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remotos do Brasil, os programas do FNDE propiciaram o primeiro exercício e experiência de gestão democrática e participativa para muitos cidadãos brasileiros.

Atividade 8

3. Controle social das ações e programas do FNDE

Você sabia que os programas educacionais do FNDE contam com estruturas que viabilizam a participação social?

Pois, bem! Vamos falar sobre essas estruturas. São elas: os conselhos do FUNDEF, os conselhos de alimentação escolar e as unidades executoras próprias das escolas.

3.1. Conselho de acompanhamento e controle social (CACS)

Alguns programas do FNDE, como o Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE), o Programa de Atendimento Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência (PAED) e, ainda, o Programa de Apoio aos Sistemas de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) são acompanhados pelo Conselho do FUNDEF, daí a importância de falarmos brevemente sobre ele.

O Art. 4 da Lei do FUNDEF estabelece que o acompanhamento e o controle social sobre a re-partição, a transferência e a aplicação dos recursos do Fundo sejam exercidos pelos Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (CACS), em cada esfera administrativa, e de acordo com as normas editadas, por esfera, para esse fim.

Para que esse montante realmente chegue ao destino pretendido, são estabelecidos prazos, depósitos automáticos em contas específicas e a criação dos CACS, a serem instituídos no âmbito da União, do Estado e do município.

No município, este conselho é composto por, no mínimo, quatro membros, representando:

:: a Secretaria Municipal de Educação ou órgão equivalente;

:: os professores e diretores das escolas públicas do Ensino Fundamental;

:: os pais de alunos;

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:: os servidores das escolas públicas do Ensino Fundamental;

:: o Conselho Municipal de Educação, caso ele exista.

Esse conselho não tem estrutura administrativa própria e seus membros não recebem qualquer espécie de remuneração pela participação no colegiado, seja em reunião ordinária ou extraordinária.

Cabe a cada setor ou categoria representada no conselho indicar, de acordo com suas normas, o representante que atuará nele.

E qual a principal função desse conselho?

A função do CACS é o acompanhamento e o controle social sobre a repartição, a transferência e a aplicação dos recursos do FUNDEF.

Por isso, quem compõe esse conselho, representando o segmento ou o setor no qual atua, tem responsabilidade social importante e papel político fundamental para que os recursos des-tinados à educação sejam aplicados adequadamente beneficiando os alunos em sua formação.

Portanto, esse conselho é responsável pelo acompanhamento e controle social não somente do FUNDEF, mas também dos recursos destinados a diversos programas do FNDE, como, por exemplo, o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE). Para realizar sua função, ele busca informações e dados junto aos órgãos competentes e analisa a prestação de contas que o Órgão Executor (nesse caso, a Prefeitura) lhe envia.

Se você é conselheiro, para obter o extrato basta procurar o gerente da agência do Banco do Brasil onde é mantida a conta FUNDEF com documento de identificação que comprove sua condição de representante.

Na Internet, também estão disponíveis os dados sobre os valores repassados, na página do FUNDEF, nos links localizados no item Recursos.

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Se você não faz parte do conselho, procure as pessoas que participam ativamente dele. Converse com elas para co-nhecer melhor o que ele realiza e vá à próxima reunião para acompanhar o que se discute. Certamente, irá compreender melhor o papel desse conselho na execução das políticas no campo da educação. No sítio do FUNDEF (www.mec.gov.br/seb) você encontra os nomes de todos os conselheiros, em cada município da federação, com endereço e telefone, para possíveis contatos.

Agora, mais uma questão merece ser tratada: o que fazer em caso de irregularidades?

Se você sabe de alguma irregularidade no cumprimento da legislação do FUNDEF, o Ministério da Educação recomenda a seguinte seqüência de providências:

a. Procure, primeiramente, os membros do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF, bem como os governantes do estado ou município, para aler-tá-los, formalmente, sobre as impropriedades ou irregula-ridades praticadas, solicitando correções.

b. Em seguida, se necessário, procure os representantes do Poder Legislativo, para que estes, pela via da ne-gociação ou adoção de providências formais, possam buscar a solução junto ao governante responsável.

c. Ainda, se necessário, recorra ao Ministério Público, for-malizando denúncias sobre as irregularidades pratica-das, para que a Promotoria de Justiça promova a ação competente no sentido de obrigar o Poder Executivo a cumprir as determinações contidas na lei do FUNDEF.

O MEC recomenda, também, o encaminhamento dessas denúncias ao Tribunal de Contas do município, ou do Estado.

Mas, preste atenção. Quaisquer formalizações de denún-cias, inclusive sobre utilização de recursos de forma diversa da prevista na legislação, deverão ser fundamentadas de maneira objetiva e clara, apontando o problema de forma direta e es-pecífica (evitando colocações genéricas), juntando-se, ainda, provas disponíveis (como cópias autenticadas de documen-tos, de atos ou medidas administrativas eventualmente prati-cadas, etc.) que possam caracterizar a impropriedade ou irre-gularidade apontada, de forma a permitir a ação do Ministério Público, Tribunal de Contas ou de outro órgão de controle.

Se você não estiver satisfeito com o trabalho que o CACS vem desenvolvendo em seu município, reúna mais pessoas insatisfeitas como você e solicite uma reunião do conselho para que se faça uma avaliação de seu trabalho. Não fique somente reclamando. Tome iniciativa e exerça seu direito de cidadão.

3.2. O Conselho de Alimentação Escolar (CAE)

O processo de descentralização dos recursos financeiros para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), iniciado a partir de 1994, foi acompanhado da criação de um mecanismo de controle social, que permitisse o aprimoramento da gestão do Programa nas Secretarias Municipais e Estaduais de Educação.

O Conselho de Alimentação Escolar (CAE) é um órgão co-legiado deliberativo de controle social desse programa. Sua principal finalidade é o acompanhamento e assessoramento às entidades executoras do PNAE nas aplicações dos recur-sos financeiros transferidos pelo governo federal. O ato de criação, a composição, as atribuições, o regimento interno e a atuação do CAE na execução do PNAE serão debatidos no Módulo Específico do Programa Formação pela Escola.

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3.3. Os conselhos escolares

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no seu artigo 15, recomenda a autonomia pedagógica, administrativa e financeira das unidades escolares públicas da Educação Básica. A inclusão desse artigo na lei que rege a educação escolar brasileira não foi simples acaso. Estudos e pesquisas realizados no Brasil indicam que as escolas que exercem controle direto sobre seus recursos apresentam, em geral, melhores resultados escolares.

Nesse sentido, o Ministério da Educação e diversas Secretarias de Educação vêm adotando políticas de repasse direto dos recursos às escolas. Partindo da premissa de que os diretores, professores e a comunidade escolar estão em melhores condições para definir as necessida-des de sua escola. Essa política possibilita agilidade nos processos e utilização mais eficiente dos recursos.

O maior exemplo desse tipo de política pública é o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que repassa recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino, para todas as escolas com mais de 50 alunos que constituírem Unidades Executoras (UEx). Lembre-se de que, no FormAção pela Escola, será oferecido um Módulo Específico sobre o PDDE. Nele você poderá ter informações detalhadas sobre o acompanhamento que as UEx realizam no processo de execução do programa.

Unidade Executora (UEx)

É uma denominação genérica utilizada pelo MEC, para referir-se a diversos órgãos representativos da comunidade escolar, encontrados em todo o território nacional.

No sentido de apoiar a progressiva autonomia das escolas, as Secretarias de Educação Esta-duais, Distrital e Municipais vêm promovendo, em parceria com as escolas, a organização de co-legiados ou órgãos deliberativos das mais diversas naturezas e formas. Em diferentes Estados do Brasil, essas organizações são conhecidas por diversas nomenclaturas, tais como: Caixa Escolar, Cooperativa Escolar, Associação de Pais e Professores, Associação de Pais e Mestres ou Círculo de Pais e Mestres.

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Independente da nomenclatura adotada, o importante é que tanto a autonomia pedagógica, quanto a administrativo-financeira sejam asseguradas a todas as escolas públicas de Educação Básica, por meio destes espaços de participação popular.

Portanto, faz parte dos nossos direitos participar de conselhos para exercitar o controle social acerca dos recursos públicos destinados à comunidade local e escolar. Ainda, o FNDE, por meio de seus programas, tem buscado despertar essa consciência cívica, esperando que a comunidade não somente faça o acompanhamento da prestação de contas, mas, sobretudo, participe de todo o processo de tomada de decisões e de gestão dos recursos públicos.

Você pode perceber que, nos três exemplos de conselhos citados, o controle social é possível, quando os cidadãos deixam de ser “espectadores” para assumir a sua participação social, ou seja, quando os sujeitos se tornam atuantes na sociedade, capazes de orientar e fiscalizar as ações do Estado.

Atividade 9

Em síntese

Essa unidade assume um significado especial por tratar de um tema importante ao FNDE e por propiciar a reflexão sobre nosso papel de cidadãos na definição dos rumos de nosso país, mediante a participação e envolvimento em programas e ações no campo da educação.

Estudamos que acompanhamento e controle social significam a participação da sociedade no acompanhamento e verificação da gestão dos recursos federais empregados nas políticas públicas por meio de mecanismos que propiciem transparência. Daí a importância dos conselhos, fruto das lutas dos movimentos sociais, que têm como função principal zelar pela efetividade das políticas públicas sociais.

Entre eles demos destaques aos conselhos que fazem o Acompanhamento e o Controle Social dos programas do FNDE: o CACS/FUNDEF, o CAE e os Conselhos Escolares.

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Unidade V

Os programas do FNDE

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As políticas educacionais se concretizam e se tornam visíveis mediante a implementação de programas e ações específicas e com recursos vindos de diferentes fontes, como vimos na unidade anterior. Daí, a importância de conhecer essas ações para melhor compreender as po-líticas no campo social e educacional do governo federal.

Nessa unidade, então, trataremos de alguns desses programas, os mais significativos, cujas execuções estão sob a responsabilidade do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e que você, provavelmente conheça, conhece muito bem.

Aquela comunidade descrita no começo do Módulo, reunida naquele longínquo município, discutindo como dar conta de tantas necessidades no campo da educação, será que sabia da existência do FNDE, de suas ações e para que servem? Se você estivesse lá, participando da reunião estaria em condição de falar sobre o FNDE e seus programas?

Por isso, o objetivo dessa unidade é que você seja capaz de:

:: compreender o papel social do FNDE na implementação de políticas públicas para a Educação Básica;

:: apontar os principais Programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

1. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)

O FNDE foi criado pela Lei no 5.537, de 21 de novembro de 1968, modificada pelo Decreto-Lei nº 872, de 15 de setembro de 1969. Trata-se de uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação. Sua missão é:

Prover recursos e executar ações para o desenvolvimento da Educação, visando garantir educação de qualidade a todos os brasileiros.

Autarquia: entidade com recursos próprios, criada pelo Estado para auxiliá-lo no serviço público.

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Tem, como valores. a transparência, a cidadania, o controle social, a inclusão social, a avaliação de resultados e a excelência na gestão. Nesse sentido, ele vem, cada vez mais, aprimorando sua atuação, com maior eficiência e com resultados sociais significativos.

Para dar conta de sua missão, o FNDE canaliza os recursos financeiros para projetos educa-cionais que seguem as diretrizes do MEC, visando garantir educação de qualidade com acesso a todos. Tem sob sua responsabilidade, atualmente, a gestão de 16 programas e 107 ações do Plano Plurianual (PPA), conhecido como Plano Brasil de Todos, que é a peça-chave do planejamento social e econômico do atual governo.

Plano Plurianual (PPA)

É um plano que indica e organiza todas as ações a serem desenvolvidas pelo governo durante determinado período. Ex.: PPA 2004-2007.

Programa:

É o instrumento de organização da atuação governamental que articula um conjunto de ações que concorrem para um objetivo comum preestabeleci-do, mensurado por indicadores, visando a solução de um problema ou aten-dimento de determinada necessidade ou demanda da sociedade. Define o que fazer.

O Programa possibilita maior racionalidade e eficiência na administração pública e ampliação da visibilidade dos resultados e benefícios gerados para a sociedade, além de elevar a transparência na aplicação dos recursos públicos.

Ação:

É o instrumento de realização do programa, de sua execução.

Define como fazer e onde fazer determinada atividade, projeto ou operação especial.

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O FNDE conta com recursos provenientes do Tesouro Nacional, sendo sua maior fonte a receita de arrecadação da contribuição social do Salário-Educação. Lembra quando falamos dessas contribuições na Unidade anterior?

O orçamento do FNDE, em 2005, foi de R$ 9 bilhões para atender a mais de 56,5 milhões de alunos da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), matriculados em mais de 215 mil escolas públicas.

Desde 2004, atendendo às prioridades que o governo vem conferindo à educação, por considerá-la área estratégica para o desenvolvimento do Brasil, o FNDE passou a estender a obrigatoriedade do atendimento aos demais níveis que compõem a Educação Básica. É importante, então, que você conheça um pouco esses programas, não acha?

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2. Programas do FNDE

Aqui, nos limitaremos a apresentar, de maneira bem resumida, os principais programas que o FNDE desenvolve para oferecer assistência à Educação Básica. Não entraremos em detalhes, pois alguns deles serão estudados por você nos Módulos Específicos desse programa de formação a distância, o FormAção pela Escola.

Retiramos as informações a seguir do sítio do FNDE, na Internet, e de outros documentos oficiais e sistemas como o Relatório de Atividades de 2005, os Relatórios Gerenciais e o Sistema Integrado de Monitoramento do Ministério da Educação – SIMEC. Se você quiser conhecer melhor cada um, ou deseja informações mais detalhadas sobre alguns aspectos de um ou mais desses programas, acesse o endereço www.fnde.gov.br.

2.1- Principais Programas do FNDE

2.1.1. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)

Implantado em 1955, garante, por meio da transferência de recursos financeiros, a alimentação escolar dos alunos da Educação Infantil (creches e pré-escola) e do Ensino Fundamental,

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inclusive das escolas indígenas e quilombolas, matriculados em escolas públicas e filantrópicas.

Seu objetivo é atender às necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanência em sala de aula, contribuin-do para o crescimento, para o desenvolvimento, para a apren-dizagem e para o rendimento escolar dos estudantes, bem como para a formação de hábitos alimentares saudáveis.

O PNAE tem caráter suplementar, isto é, trata-se de uma complementação. Cabe aos Estados e municípios prover a alimentação escolar para os alunos do Ensino Fundamental, de creches e pré-escolas e ao governo federal somente oferecer um acréscimo de recursos a essa política pública.

O repasse é feito diretamente aos Estados e municípios, com base no Censo Escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. O programa é acompanhado e fiscalizado por meio do FNDE, do Tribunal de Contas da União (TCU), da Secretaria Federal de Controle Interno (SFCI) e do Ministério Público e, ainda diretamente pela sociedade, atráves dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAEs).

Atualmente, o valor per capita (por aluno/dia) repassado pela União é de R$0,18 para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental. Para as escolas indígenas, as localizadas em comunidades quilombolas e, ainda, para as creches públicas e filantrópicas o valor é de R$0,34. Em 2005, por exemplo, os recursos destinados a esse programa foram da ordem de R$ 1,23 bilhão, para atender cerca de 36 milhões de alunos.

2.1.2. Programas do Livro

Desde 1929, quando o governo brasileiro criou o Instituto Nacional do Livro (INL), para legislar sobre a política do livro didático, a ação federal nessa área vem se aperfeiçoando,

com a finalidade de prover as escolas das redes federal, estadual, municipal e do Distrito Federal com obras didáticas, para-didáticas e dicionários de qualidade. Atualmente, essa política está consubstanciada em diferentes programas:

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD): distribui gratuitamente obras didáticas para todos os alunos de todas as séries da rede pública de Ensino Fundamental. A partir de 2003, as escolas de educação especial públicas e as instituições privadas definidas pelo Censo Escolar como comunitárias e filantrópicas foram incluídas no programa.

A definição do quantitativo de exemplares a ser adquirido é feita pelas próprias escolas, em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Os resultados do processo de escolha são publicados no Diário Oficial da União, para que os Estados e municípios tomem conhecimento. Em caso de desconformidade, os Estados e municípios podem solicitar alterações, desde que devidamente comprovada a ocorrência de erro.

Em 2001, também, o PNLD passou a atender alunos porta-dores de deficiência visual que cursam o Ensino Fundamen-tal em escolas públicas de ensino regular e escolas especiali-zadas sem fins lucrativos.

Para a transcrição e adaptação dos títulos, o FNDE tem parcerias com o Instituto Benjamin Constant (IBC), do Ministério da Educação, e com a Fundação Dorina Nowill para Cegos (FDNC). Os títulos adaptados para o sistema Braille são distribuídos, em meio magnético, a todos os Centros de Apoio Pedagógicos (CAP) e aos Núcleos de Apoio Pedagógico e Produção em Braille do país.

No ano letivo de 2006, mais de 29,8 milhões de alunos de 147.407 escolas serão beneficiados com a aquisição

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e distribuição de cerca de 44 milhões de exemplares de livros didáticos e, ainda, mais de 6 milhões de dicionários (trilingües, para 1ª a 8ª séries). Para tanto o FNDE investiu aproximadamente R$ 318 milhões.

Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM): A Resolução nº 38, de 15 de outubro de 2003, do Conselho Deliberativo do FNDE criou o programa e definiu o atendimento aos alunos das três séries do Ensino Médio das regiões Norte e Nordeste, prioritariamente e de forma progressiva.

Implantado em 2004, o PNLEM prevê a distribuição de livros didáticos para os alunos do Ensino Médio público de todo o país. Inicialmente, o programa atendeu, de forma experimental, 1,3 milhão de alunos da primeira série de 5.392 escolas das regiões Norte e Nordeste. Em 2005, disponibilizou R$ 56,5 milhões para atender a 1,914 milhão de alunos, distribuindo livros de Português e Matemática.

O programa universalizou a distribuição de livros didáticos de Português e Matemática para o Ensino Médio em 2006, beneficiando mais de 7 milhões de alunos das 13.253 escolas do país. Para a aquisição e distribuição de mais de 12 mil livros, o FNDE investiu mais de R$ 135 milhões. Em 2007, a autarquia deverá começar a expandir o programa, de forma gradativa, com a aquisição de livros das demais disciplinas do Ensino Médio.

Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE): O Mi-nistério da Educação vem, desde 1997, incentivando o hábito da leitura e o acesso à cultura junto aos alunos, professores e a comunidade em geral mediante a execução do PNBE. O programa consiste na aquisição e na distribuição de obras de Literatura Brasileira e Estrangeira, infanto-juvenis, de pesqui-

sa, de referência, além de outros materiais de apoio a profes-sores e alunos, como atlas, globos e mapas.

O PNBE distribui obras de literatura às escolas públicas que oferecem matrículas nas séries iniciais do Ensino Fundamen-tal cadastradas no Censo Escolar. Em 2005 o FNDE adquiriu 176.000 livros, investindo mais de R$ 47,26 milhões, para am-pliar os acervos das bibliotecas escolares em 2006.

2.1.3. Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)

Criado em 1995, consiste no repasse anual de recursos às escolas públicas do Ensino Fundamental estaduais, mu-nicipais e do Distrito Federal e às do ensino especial man-tidas por Organizações não-Governamentais (ONGs), desde que registradas no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).

Os recursos são destinados:

:: à aquisição de material permanente e de consumo neces-sários ao funcionamento da escola;

:: à manutenção, conservação e pequenos reparos da uni-dade escolar;

:: à capacitação e ao aperfeiçoamento de profissionais da educação;

:: à avaliação de aprendizagem;

:: à implementação de projeto pedagógico;

:: ao desenvolvimento de atividades educacionais.

Em 2005, os recursos investidos nesse programa foram da ordem de R$ 302,8 milhões, efetuando atendimento a mais de 128 mil escolas e 28milhões de alunos.

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2.1.4. Programas de Transporte Escolar

São desenvolvidas duas ações conhecidas como Programa Nacional de Transporte Escolar e Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar.

Programa Nacional de Transporte Escolar (PNTE): Foi criado em junho de 1994, com o objetivo de contribuir financeiramente com os municípios e Organizações não-Governamentais para a aquisição de veículos automotores zero quilômetro, destinados ao transporte diário dos alunos da rede pública de Ensino Fundamental, residentes na área rural, e às escolas de Ensino Fundamental que atendam alunos com necessidades educacionais especiais.

A partir de 2004, o Programa Nacional de Transporte do Escolar foi modificado. Hoje, consiste no repasse de recursos financeiros somente às organizações não-governamentais sem fins lucrativos que mantenham escolas especializadas de Ensino Fundamental, atendendo até 100 alunos com necessidades educacionais especiais. Em 2005, beneficiou 10 mil alunos.

As entidades recebem, em uma única parcela, um valor determinado pelo Conselho do FNDE, através de Resolução, para aquisição de veículo escolar. Em 2005, foram repassados 4,25 milhões a ONGs, fator que permitiu a aquisição de 122 veículos.

Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE): Instituído em junho de 2004, tem como objetivo garantir o acesso e a permanência dos alunos do Ensino Fundamental público, residentes em área rural e que utilizem transporte escolar, por meio de assistência financeira, em caráter suplementar, aos Estados, Distrito Federal e municípios.

O PNATE consiste na transferência automática de recursos financeiros, sem necessidade de convênio ou outro instrumento congênere, para custear despesas com a manutenção de veí-culos escolares pertencentes às esferas municipal ou estadual e para a contratação de serviços terceirizados de transporte, tendo como base o quantitativo de alunos transportados e infor-mados no Censo Escolar realizado pelo INEP/MEC, relativo ao ano anterior ao do atendimento. Em 2005, por intermédio do programa, o FNDE atendeu mais de 3,21 milhões de alunos resi-dentes em áreas rurais, investindo cerca de R$ 247 milhões.

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2.1.5. Brasil Alfabetizado (BRALF)

Em 2003, foi criado o Programa Brasil Alfabetizado para servir como porta de entrada e de integração à escola a todos aqueles que estão fora do sistema de ensino. Pois, no Brasil, temos:

:: 65 milhões de pessoas que não completaram o Ensino Fundamental; desse total,

:: 33 milhões são “analfabetos funcionais” (isto é, com menos de quatro anos de estudo),

:: 16 milhões de indivíduos analfabetos, com idade acima de 15 anos.

Coordenado pelo Ministério da Educação e financiado com recursos do FNDE, o programa atua por meio de parcerias com Estados, municípios, empresas privadas, universidades, organizações não-governamentais e instituições civis, como forma de potencializar o esforço nacional de combate ao analfabetismo.

O programa tem por objetivo capacitar alfabetizadores que atendam pessoas com 15 anos ou mais e não tiveram oportunidade ou foram excluídas da escola antes de aprender a ler e escrever.

Os interessados em participar do programa devem procurar as instituições alfabetizadoras conveniadas com o Ministério da Educação na região onde moram. São órgãos executores do programa: o Estado, representado pela Secretaria Estadual de Educação; os municípios, repre-sentados pelas prefeituras; e Organizações não-Governamentais com experiência comprovada em alfabetização de jovens e adultos.

Por meio do repasse direto efetuado pelo Ministério da Educação, foram atendidos, em 2005, mais de 1,5 milhão de pessoas.

A transferência de recursos do programa é feita automaticamente, em cinco parcelas. A quantia relativa à formação de alfabetizadores é transferida uma única vez, junto com a primeira parcela relativa à bolsa, o pagamento, destes. Por esse repasse, foram capacitados, em 2005, mais de 90 mil alfabetizadores e, para os mesmos, concedidas bolsas. Também, foram capacitados mais de 3,2 mil professores, encarregados de capacitar os alfabetizadores, e alfabetizados cerca de 3,5 milhões de alunos. No total, foram investidos no programa recursos na ordem de R$ 668 milhões.

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2.2. Outros Programas do FNDE

2.2.1. Escola Aberta

O programa tem por objetivo promover a melhoria da qualidade da educação no país, ampliando as oportunida-des de acesso a atividades educativas, culturais, esportivas, de lazer e de geração de renda com o funcionamento de es-colas públicas de 5ª a 8ª séries e de Ensino Médio, nos finais de semana. As atividades são abertas a toda a comunidade e visam à melhoria do relacionamento entre professores, alu-nos e familiares, de maneira a reduzir os índices de violência entre os jovens, sobretudo aqueles em situação de vulnera-bilidade social.

É um programa do governo federal desenvolvido em par-ceria entre os Ministérios da Educação, Trabalho e Emprego, Esporte e Cultura e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Em 2004, o programa apoiou a abertura de 200 escolas, todas localizadas em regiões metropolitanas de capitais do país, em áreas onde os índices de violência são mais altos. Em 2005, o projeto se estendeu a outros sete Estados, chegando a mil escolas e atendendo a um milhão de brasileiros aos sábados e domingos.

A previsão de duração do programa é de 40 meses. Ao longo desse período, serão aplicados R$ 95,4 milhões, em recursos do orçamento da União. Em 2004, o investimento foi de R$ 6 milhões, sendo metade do MEC e metade do Ministério do Trabalho e Emprego. Os valores investidos em 2005 foram da ordem de R$ 19 milhões e 1.161 escolas foram atendidas nos Estados de Minas Gerais, Pernambuco e Espírito Santo.

2.2.2. Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA):

É um programa originado em um acordo de financiamento entre o Banco Mundial e o MEC, desenvolvido em parceria entre a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com vistas à melhoria da qualidade das escolas do Ensino Fundamental e à permanência das crianças nas escolas públicas dessas regiões.

O FNDE assumiu o controle do programa em meados de 2004 e está implementando um novo modelo organizacional, redesenhando sua atuação. Em 2005 foram investidos aproximadamente R$ 67 milhões, beneficiando 5.416 escolas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

2.2.3. Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA):

Destina-se ao cidadão que não teve a oportunidade de acesso ou permanência no Ensino Fundamental na idade escolar própria (dos 7 aos 14 anos). O programa é desenvolvido pelo MEC em conjunto com os governos estaduais e municipais, por meio da transferência, em caráter suplementar, de recursos administrados pelo FNDE.

Os recursos destinados são para:

:: aquisição de livros didáticos destinados aos alunos adultos;

:: contratação temporária de professores, quando necessá-ria a ampliação do quadro;

:: formação continuada de docentes;

:: aquisição de gêneros alimentícios.

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Foram executados recursos na ordem de R$ 448 milhões e atendidos 1.561 alunos/mês.

2.2.4. Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência (PAED):

Foi instituído em março de 2004, com a finalidade de complementar as disponibilidades financeiras das escolas privadas de educação especial mantidas por Organizações não-Governamentais, filantrópicas, sem fins lucrativos, para o alcance da universalização do atendimento especializado de alunos portadores de necessidades especiais, cuja situação não permite a integração em classes comuns de ensino re-gular. No programa, foram investidos mais R$ 6,325 milhões, apoiando projetos de mais de 1.470 escolas, beneficiando cerca de 180 mil alunos.

2.2.5. Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Mé-dio (PROMED)

Tem por objetivos melhorar a qualidade e a eficiência do Ensino Médio, expandindo sua cobertura, e garantir maior eqüidade social. Para isso, propõe:

:: apoiar e implementar a reforma curricular e estrutural, as-segurando a formação continuada de docentes e gestores de escolas deste nível de ensino;

:: equipar, progressivamente, as escolas de Ensino Médio com bibliotecas, laboratórios de informática e ciências e equipamentos para recepção da TV Escola;

:: implementar estratégias alternativas de atendimento;

:: criar 1,6 milhão de novas vagas, nessa modalidade de ensino;

:: melhorar os processos de gestão dos sistemas educacio-nais dos estados e do Distrito Federal.

O PROMED está estruturado em dois subprogramas:

:: Projetos de Investimento das Unidades Federadas: objetiva assegurar aos Estados e ao Distrito Federal recursos para a implantação da reforma, melhoria da qualidade e expan-são da oferta de Ensino Médio em suas redes públicas.

:: Políticas e Programas Nacionais: que se destina a garantir à Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) o desempenho de seu papel de impulsionadora e coordenadora nacional da Reforma do Ensino Médio, contribuindo de modo efeti-vo e eficaz para a implementação das políticas de melho-ria e expansão do atendimento, no conjunto do país.

Em 2005, o PROMED, especificamente para a expansão e melhoria da rede escolar, beneficiou 5.400 escolas, em dezenove estados da federação, e, para tanto, foram investidos R$ 46,5 milhões.

2.2.6. Programa Nacional de Saúde do Escolar (PNSE)

Foi criado em 1984 e, na sua atual concepção, concede aos municípios apoio financeiro, em caráter suplementar, para a realização de consultas oftalmológicas, aquisição e distribuição de óculos para os alunos com problemas visuais, consultas médicas (diagnóstico clínico) e fonoaudiológicas (audiometria). Este recurso destina-se aos alunos matriculados na 1ª série do Ensino Fundamental público, das redes municipais e estaduais.

Seu objetivo é a identificação e a correção precoces de problemas visuais e deficiências auditivas que possam com-prometer o processo de aprendizagem, visando à diminuição

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dos índices de repetência e evasão escolar. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 10% dos alunos da 1ª sé-rie do Ensino Fundamental público apresentam deficiências visuais e necessitam de medidas corretivas. No programa, em 2005, foram beneficiados 51.878 alunos e investidos em torno de R$ 5,7 milhões.

2.2.7. Projetos Educacionais:

O FNDE dá assistência financeira a projetos educacionais com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino brasileiro. Seus recursos destinam-se ao Ensino Fundamental, incluindo a Educação Infantil (creche e pré-escola), à Educação de Jo-vens e Adultos, à Educação Especial e às escolas localizadas em áreas remanescentes de quilombos e educação indígena. Destinam-se, ainda, a ações educacionais complementares e inovadoras vinculadas a temas como a Aceleração da Apren-dizagem, Educação Ambiental, Educação do Campo, Educa-ção Especial e outros que visam à inclusão educacional.

A aplicação dos recursos é direcionada à qualificação de docentes, aquisição e impressão de material didático-pedagógico de alta qualidade, aquisição de equipamentos e adaptação de escolas com classes de ensino especial.

Você sabia da existência de todos esses programas?

O governo busca implementá-los para tornar cada vez mais concretas suas políticas públicas e seu projeto de uma sociedade em que as desigualdades sociais se amenizem.

O FNDE cumpre seu papel de gerir os recursos do Salário-Educação de maneira eficiente, e transparente, promovendo e incentivando o controle social, para que as camadas menos

privilegiadas tenham acesso a uma educação que possa propi-ciar-lhes cidadania e perspectivas de melhoria em suas vidas.

Você que é gestor municipal, gestor estadual, técni-co, ou conselheiro, poderá responder com precisão: todos os envolvidos nos programas do FNDE têm feito a sua parte?

Acreditamos que agora, com as informações que esse Módulo acrescentou às que já possuía, você possa contribuir apontando possíveis caminhos a serem seguidos em sua comunidade frente a situações problemáticas como as vivenciadas por aquela comunidade, na região Leste de Mato Grosso. Você se lembra?

Atividades 11a, 11b

Em síntese

Nessa última Unidade, apresentamos a missão do FNDE e seu campo de atuação para viabilizar as políticas sociais na educa-ção. Apresentamos o volumoso trabalho dessa autarquia que tem um significado social fundamental na construção da ci-dadania e na democratização da educação escolar. Apresenta-mos, então, resumidamente, seus principais programas, alguns dos quais serão objeto de estudo em Módulos específicos.

Se quiser conhecer melhor os programas do FNDE, poderá fazê-lo lendo os Módulos que o Programa FormAção pela Escola vai colocar à sua disposição e também consultar a bib-liografia sugerida ao final deste Módulo, no tópico Nossa Con-versa não se Encerra Aqui e no sítio www. fnde.gov.br.

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Retomando a conversa inicial

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Prezado cursista,

Chegamos ao final do Módulo Introdutório, da caminhada que você realizou pessoalmente e trocando idéias com outras pessoas que atuam no seu município, com seus colegas de curso e, ainda, com o seu tutor.

Nós, então, nos perguntamos:

Será que tudo o que foi exposto nesse Módulo Introdutório foi signi-ficativo para o nosso interlocutor, que é você? Será que irá contribuir para que sua ação seja mais consciente e efetiva nos programas do FNDE e no campo da educação?

Só você poderá responder.

Confessamos que, para nós, a experiência de escrever esse Módulo Introdutório foi significativa. Fomos levados a refletir mais sobre os caminhos que nosso país está seguindo, sobretudo no que diz respeito à educação do seu povo. Lemos textos novos, relemos outros antigos, passamos a nos inteirar mais dos programas do governo e, de maneira especial, os do FNDE. Aprendemos muito.

Esse material é um “começo de conversa” e não um ponto de chegada. Temos certeza de que você irá ampliar seus conhecimentos e buscar mais informações, para que sua atuação seja efetiva e se sinta cidadão nesse processo de implementação das políticas educacionais, mediante programas e ações específicos.

Mas, você não deve e nem pode se sentir sozinho.

Sua ação deve ser marcada pelo trabalho colaborativo, pela solidariedade, pela abertura em querer aprender com o outro, em reconhecer suas limitações e acreditar em suas qualidades e em seus sonhos.

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Por isso, queremos fechar essa nossa conversa com um trecho da obra Capitães de Areia, do saudoso escritor brasileiro Jorge Amado.

Numa mesa pediram cachaça. Houve um movimento de copos no balcão. Um velho disse:

— Ninguém pode mudar o destino. É coisa feita lá em cima – apontava o céu.

Mas João de Adão falou de outra mesa:

— Um dia a gente muda o destino dos pobres...

Pedro Bala levantou a cabeça. Professor ouviu sorridente. Mas João Grande e Boa Vida pareciam apoiar as palavras do velho, que repetiu:

— Ninguém pode mudar, não. Está escrito lá em cima...

— Um dia a gente muda ... – disse Pedro Bala, e todos ol-haram para o menino.

Você acredita que é possível mudar a situação em que se encontra nosso país, sobretudo no campo da educação?

Nós acreditamos que sim. É possível realizar mudanças!

Um dia a gente muda...... o número de crianças que abandonam cedo a escola.

Um dia a gente muda...... as altas taxas de analfabetismo e de repetência.

Um dia a gente muda...... o não acesso a uma escola gratuita e de qualidade para todos os brasileiros.

Um dia a gente muda...... a não adequada aplicação ou o desvio de recursos financeiros que não chegam à escola, a quem mais necessita.

Um dia a gente muda...... a reduzida autonomia financeira, administrativa e pedagógica das escolas.

Um dia a gente muda...... os baixos salários dos profissionais da educação.

Um dia a gente muda...... as precárias condições de funcionamento da maioria das escolas em nosso país.

Um dia a gente muda...... a pouca participação dos pais nas decisões das políticas locais de educação e da escola.

Um dia a gente muda.......................

Um dia ... A gente muda!

Certamente, as mudanças não dependem simplesmente de um governo, de programas, de algumas pessoas.

Exigem vontade política, compromisso social e a implantação de novas práticas de gestão, de controle social, de inovações pedagógicas, oferecendo condições para a melhoria do ensino, entre outras ações.

O FNDE, o MEC, o atual governo e a escola contam com você, com seu envolvimento, com sua participação.

Vamos, então, à luta. Seja teimoso como o menino Pedro Bala, líder dos Capitães de Areia, acreditando em seus sonhos, em possíveis mudanças e cantando, junto com Geraldo Vandré:

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Obrigado por ter estado conosco nesse início de conversa do curso de Formação Continuada nas Ações do FNDE, na modalidade a distância.

Esperamos ter realizado nossa parte, a seu contento.

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A leitura desse Módulo Introdutório e dos Módulos Específicos, talvez, não seja suficiente para resolver os problemas da educação em sua comunidade, mas o(a) auxiliará a compreendê-los para que sua ação se torne mais clara, objetiva e eficiente na solução dos mesmos.

Portanto, quanto maior clareza tiver sobre as políticas públicas do governo e suas ações para concretizá-las, mais efetiva se dará sua participação nas mudanças sociais e na construção de uma sociedade mais justa e solidária.

Daí, o nosso convite para que você expanda seu horizonte de compreensão com outras leituras.

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Referências Bibliográficas

BOBBIO, N.; MATEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília, UnB/Linha Gráfica, 1991.

MARTINS, Paulo S. O financiamento da educação. Disponível em: www.tvebrasil.com.br/salto; capturado em 16/08/2005.

MONLEVADE, João. Educação pública no Brasil: contos & Dês$conto$. Ceilândia, DF: Idea, 1997.

___________. O FUNDEF e seus pecados capitais. 2 ed. Ceilândia, DF: Idea, 1998.

___________. Financiamento da Educação Básica. Disponível em: www.tvebrasil.com.br/salto; capturado em 16/08/2005.

PAULA, Juarez de. Para além do século XX. Rev. Século XXI. Brasília, Ano I, n. 1, dez. 1998. p. 51-4.

SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. S. Paulo: Círculo do Livro, 1995.

SILVA, Tomaz Tadeu da; GENTILI, Pablo. Escola S. A.: quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo. Brasília: CNTE, 1996. Visitar sítio: www.cnte.org.br

Sítios

Artigos sobre políticas públicas, políticas educacionais, FUNDEF, Fundescola, Conselhos Municipais, etc. nas revistas:

Cadernos Cedes: www.cedes.unicamp.br;

Educação & Sociedade, Cadernos de Pesquisa e outras revistas no campo as Ciências Humanas e Sociais em www.scielo.com.br

Jornal eletrônico: www1.folha.uol.com.br - Educação

Núcleo de Políticas Públicas – Unicamp – www.unicamp.br

Veja também Glossário de palavras técnicas de serviços do governo em:

http://www.tesouro.fazenda.gov.br/servicos/glossario/glossario_c.asp

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GlossárioCapital

Um dos fatores de produção, formado pela riqueza e que gera renda. Pode ser compreendido também como todos os meios de produção que foram criados pelo trabalho e que são utilizados para a produção de outros bens e serviços destinados à venda, isto é, as mercadorias. É representado em dinheiro.

Capitalismo

Surgiu na Europa entre o século XI ao XV, quando o centro da vida econômica, social e política se transferiu para a ci-dade. A sociedade que daí surge, a sociedade capitalista, tem como base o lucro e um sistema econômico e social em que há separação entre trabalhadores e capitalistas. Os trabalhadores, juridicamente livres, dispõem de sua força de trabalho e a vendem em troca de salário. Os capitalistas são os proprietários dos meios de produção e contratam os tra-balhadores para produzir mercadorias visando obter lucro.

Cidadania

Qualidade do cidadão, do sujeito que não somente tem consciência de seus direitos e deveres, mas que é impul-sionado ao respeito ao outro, às diferenças, à solidarieda-de e à participação. Aquele que aprende a viver junto, que se envolve com as questões que estão ao seu redor.

Contribuições Sociais

A Constituição Federal prevê a instituição de contribui-ções sociais, de intervenção no domínio econômico e

de interesse de categorias profissionais e econômicas. As contribuições sociais têm sua arrecadação vinculada ao financiamento da seguridade social.

Déficit fiscal

Déficit é uma palavra que vem do latim e significa “que falta”. Em linguagem contábil, significa que as despesas e os pagamentos são maiores que o faturamento – o que se ganha, o total do dinheiro que se tem em caixa – resultando em saldo negativo.

Descentralização

Quando a gestão, execução e fiscalização dos recursos pú-blicos são realizadas, não somente pelos governos (mu-nicipais, estaduais, distritais, federais), mas pelos variados segmentos da sociedade de maneira organizada e repre-sentativa (organizações não-governamentais, conselhos, entidades, instituições, entre outras).

Efetividade

Diz respeito ao impacto da implementação das políticas, à relação causa-efeito entre o procedimento da implantação e o resultado social ocasionado.

Eficácia

Fica evidenciada quando os resultados de determinada política pública alcançar seu objetivo.

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Eficiência

Relaciona-se com o gasto racional dos recursos públicos para obtenção do bem público.

Eqüidade

Na terminologia neoliberal, costuma se contrapor à “igualdade”. Significaria promover as di-ferenças produtivas entre os indivíduos.

Fundo

Conjunto de recursos monetários empregados como reserva ou para cobrir despesas extraordinárias.

No setor das finanças públicas, o termo refere-se às verbas destinadas ao desenvolvimento de determinados setores.

(SANDRONI, P. Dicionário de Economia. 1995, p. 144)

Gestão Democrática

Administração com a participação do povo, da sociedade, da comunidade. Quando o go-verno recorre à opinião pública para o planejamento sobre onde e como aplicar os recursos públicos.

Globalização

Interligação dos mercados internacionais com a conseqüente uniformização de padrões eco-nômicos e culturais em âmbito mundial.

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Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Artigos 70 e 71:

Art. 71 Não constituirão despesas de manutenção e de-senvolvimento do ensino aquelas realizadas com:

I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão;

II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural;

III - formação de quadros especiais para a administração pú-blica, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;

IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e ou-tras formas de assistência social;

V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para bene-ficiar direta ou indiretamente a rede escolar;

VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia a manutenção e desenvolvimento do ensino.

Art. 70 Considerar-se-á como de manutenção e desenvol-vimento do ensino as despesas realizadas com vistas à conse-cução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:

I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação;

II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino;

III - uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensi-no,

IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à ex-pansão do ensino;

V - realização de atividades-meio necessárias ao funciona-mento dos sistemas de ensino;

VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas pú-blicas e privadas;

VII - amortização e custeio de operações de crédito destina-das a atender ao disposto nos incisos deste artigo;

VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programa de transporte escolar.

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Lei da Responsabilidade Fiscal

A Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF (Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000) estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, mediante ações em que se previnam riscos e corrijam os desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, destacando-se o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização, como premissas básicas. Estabelece as normas voltadas para a gestão e para a elaboração do orçamento. Define limite com gastos de pessoal , endividamento público, metas fiscais anuais, entre outros

Essa Lei cria condições para a implantação de uma nova cultura gerencial na gestão dos recursos públicos e incentiva o exercício pleno da cidadania, especialmente no que diz respeito à participação do contribuinte no processo de acompanhamento da aplicação dos recursos públicos e de avaliação dos seus resultados.

Lei Kandir

Foi assim chamada a Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, elaborada pelo Mi-nistro dos Transportes Kandir. Essa Lei dispõe sobre o imposto dos estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação e sobre prestações de serviços de transporte interestadu-al e intermunicipal e de comunicação.

Liberalismo

Doutrina que serviu de substrato ideológico à revoluções antiabsolutistas que ocorreram na Europa (Inglaterra e França, basicamente) ao longo dos séculos XVII e XVIII e à luta pela independência dos Estados Unidos [...]. Defendia: 1)a mais ampla liberdade individual; 2) a democracia representativa com separação e independência entre três poderes (executivo, legislativo e judiciário); 3) o direito inalienável à propriedade; 4) a livre iniciativa e a concorrência como princípios básicos capazes de harmonizar os interesses individuais e coletivos e gerar o progresso social [...]. Não há lugar para a ação econômica do Estado, que deve apenas garantir a livre-concorrência entre as empresas e o direito à propriedade privada, quando esta for ameaçada por convulsões sociais.

(SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. 1995, p. 192-3)

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Mercado

Pode ser entendido como “o local, teórico ou não, do encontro regular entre compradores e vendedores de uma economia determinada [...]. É formado pelo conjunto de instituições em que são realizadas transações comerciais [...]. Ele se expressa, entretanto, sobretudo na maneira como se organizam as trocas realizadas em determinado universo por indivíduos, empresa e governos”

(SANDRONI, Paulo. Dicionário de Economia. 1995, p. 213).

Modernidade

Uma palavra que vem do latim modernu (séc. V d. C.) com o sentido de “recentemente, há pouco”, para se opor a “antigo” e, de maneira específica, ao que não era cristão. Os livros de História datam o aparecimento da Modernidade com o Renascimento, marcando a ruptura com a Idade Média (séc. XV). Trata-se de um movimento nos mais diferentes campos (político, econômico, social, cultural e religioso) e que se consolida ao final do séc. XVIII, com a Revolução Industrial, na Inglaterra. Muitos autores associam modernidade com o surgimento do capitalismo

Neoliberalismo

Doutrina político-econômica, surgida na década de 1930, que adapta os princípios do liberalismo econômico às novas condições do capitalismo. Defende o máximo de liberdade às iniciativas individuais e a redução dos controles de autoridades centrais sobre as mesmas. Por isso, exalta o mercado livre, a liberdade individual e o mínimo de presença do Estado.

Participação

Não é sinônimo de “fazer parte de”, mas sim de “tomar parte de”, envolver-se, tomar par si o problema do outro, do grupo, da comunidade, da sociedade.

PIB

O Produto Interno Bruto indica, em unidades monetárias, o valor reunido por todos os bens e serviços finais produzidos num país, isto é, o que a economia de um país produziu durante um ano.

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Planejamento Participativo

Quando os variados segmentos da sociedade, de maneira representativa, definem priorida-des que são respeitadas pelos gestores nos momentos da aplicação dos recursos. Significa a participação da sociedade civil no recebimento, gestão e fiscalização dos recursos públicos.

Propriedade privada

Aquilo que é próprio, exclusivo de uma pessoa (física ou jurídica). É o direito de alguém sobre determinado bem. Diferente da propriedade pública (bens e serviços pertencentes ao Estado) e da propriedade cooperativa.

Receita

Em termos contábeis, é a soma de todos os valores recebidos durante determinado período de tempo (dia, mês, ano).