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Governo da República de Moçambique Governo da República do Zimbabwe Parte do projecto: DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA CONJUNTA DE GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ Monografia da BACIA DO RIO PUNGOÉ - EDIÇÃO LIGEIRA

Monografia da BACIA DO RIO PUNGOÉ - elmed … CD/Reports/por/Monograph... · tarefas chave do Projecto Pungoé foi por isso a de produzir uma “monografia”, descrevendo, em detalhe,

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Governo da República de MoçambiqueGoverno da República do Zimbabwe

Parte do projecto:

DESENVOLVIMENTO DA ESTRATÉGIA CONJUNTA DE GESTÃOINTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ

Monografia da

BACIA DO RIO PUNGOÉ- EDIÇÃO LIGEIRA

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Preâmbulo

A água é fundamental para a sobrevivência, saúde e dignidade humana e é um pré-requisito para o desenvolvimento humano. No entanto, em vários locais no mundo inteiro os recursos hídricos de água doce estão a sofrer uma pressão crescente devido à utilização excessiva e à poluição das actividades humanas. O Rio Pungoé não é excepção. Apesar da situação actual ser, em termos gerais, boa, as projecções dos requisitos de água futuros indicam uma competição crescente entre os vários consumidores. Além disso, o problema actual da mineração informal de pequena escala que cria, periodicamente, sedimentos suspensos no rio indica que o Rio Pungoé e os consumidores a jusante estão vulneráveis às actividades humanas nas secções de montante.

A gestão dos recursos hídricos é essencial para ultrapassar os problemas actuais e futuros de fornecer água em quantidade e de qualidade adequada a todos os consumidores na Bacia do Rio Pungoé. Esta gestão deve levar em consideração os interesses de todas as partes e sectores, incluíndo factores ecológicos, para permitir uma utilização sustentável e equitativa da água a nível da bacia. Actualmente, isto é conhecido como Gestão Integrada dos Recursos Hídricos ou, para abreviar, GIRH. A GIRH é um processo de planeamento participativo, com uma sólida base científica, que une as partes interessadas para determinar a forma de corresponder às necessidades de recursos hídricos de longo prazo da sociedade mantendo, ao mesmo tempo, valores ecológicos e económicos essenciais. É um processo interdisciplinar e conjunto que promove uma coordenação transversal entre os sectores na gestão dos recursos hídricos.

O Rio Pungoé é partilhado pelo Zimbabwe e por Moçambique. Os Governos do Zimbabwe e de Moçambique reconheceram a necessidade de uma gestão sustentável dos recursos hídricos do rio e, por isso, uniram esforços no projecto Estratégia Conjunta de Gestão Integrada dos Recursos Hídricos da Bacia do Rio Pungoé (mais conhecido por Projecto Pungoé). O Projecto Pungoé é um esforço de cooperação entre os dois Governos para criar um quadro de gestão equilibrada e sustentável e de desenvolvimento e conservação dos recursos hídricos da bacia do Rio Pungoé, com o objectivo de aumentar os resultantes benefícios económicos e sociais para as populações que vivem ao longo da bacia. Um elemento chave no desenvolvimento desta estratégia pelo Projecto reside na capacitação para a sua implementação e actualização de forma a facilitar uma gestão participativa eficaz por parte das autoridades e das partes interessadas.

O Projecto Pungoé é financiado pela Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (Asdi) através de um acordo com o Zimbabwe e Moçambique. O projecto está a ser implementado sob os auspícios do Department of Water Resources (DWR), no Ministério de Recursos Rurais, Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e Irrigação (MRRWD&I), Zimbabwe e da Direcção Nacional de Águas (DNA), no Ministério de Obras Públicas e Habitação, Moçambique, em nome dos dois governos. As agências de implementação são: Autoridade Nacional de Águas do Zimbabwe (ZINWA) através do Gabinete do Gestor da Bacia do Save e a Administração Regional de Águas do Centro (ARA-Centro), respectivamente. O Projecto Pungoé teve início em Fevereiro de 2002 e preve-se que seja finalizado em Abril de 2006. Um consórcio de Consultores, liderado pela SWECO International da Suécia, apoia as agências de implementação durante o projecto.

Um dos fundamentos básicos da GIRH é o conhecimento da situação actual na bacia. Qual é a quantidade de recursos hídricos que está disponível naturalmente? Quais são as condições socio-económicas? Qual é o potencial de desenvolvimento agrícola em relação à adequação do solo e à disponibilidade de água? Quais são os bens ambientais chave e como são afectados pelo desenvolvimento futuro? As respostas a estas e muitas outras questões semelhantes são fundamentais para uma implementação bem sucedida da gestão dos recursos hídricos. Uma das tarefas chave do Projecto Pungoé foi por isso a de produzir uma “monografia”, descrevendo, em detalhe, a Bacia do Rio Pungoé no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos. O resultado final desta tarefa é uma extensa série de relatórios com um relatório principal e doze anexos, para serem utilizados como uma ferramenta pelos profissionais a trabalhar na gestão dos recursos hídricos na Bacia do Rio Pungoé.

De forma a permitir um maior conhecimento da Bacia do Rio Pungoé entre as partes interessadas, os dois Governos sugeriram a criação de uma versão abreviada da monografia. Através desta versão abreviada as autoridades dos recursos hídricos de ambos os países pretendem aumentar a consciencialização e compreensão dos factores que afectam os recursos hídricos da Bacia do Rio Pungoé e, assim, promover o processo de gestão dos recursos hídricos entre as partes interessadas. Esperamos que esta Monografia da Bacia do Rio Pungoé forneça ao leitor uma experiência agradável e informativa.

Novembro 2006 Julião Alferes Vavarirai Choga Director Director Direccão Nacional de Águas, Moçambique Departamento de Recursos Hídricos, Zimbabwe

Manuel Fobra Thomas Murinye Director, ARA-Centro, Moçambique Gestor da Bacia, ZINWA Save, Zimbabwe

Rikard Lidén Director do Projecto, SWECO International, Suécia

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MONOGRAFIA DA BACIA DO RIO PUNGOÉ

Índice

Ambiente Biofísico 2

Condições Socio-económicas da Bacia do Rio Pungoé 10

Recursos Hídricos da Bacia do Rio Pungoé 14

Qualidade da Água na Bacia do Rio Pungoé 18

Uso da Água na Bacia do Rio Pungoé 20

Gestão dos Recursos Hídricos na Bacia do Rio Pungoé 22

Desenvolvimento Futuro dos Recursos Hídricos 24

Porto da Beira no Estuário do Pungoé

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Fisiografia e Drenagem

A Bacia do Rio Pungoé no Zimbabwe e em Moçam-bique abrange uma área total de 31,151 km2, dos quais 1,461 km2 (4.7%) no Zimbabwe, e 29,690 km2 (95.3%) em Moçambique. O próprio Rio Pungoé tem uma extensão aproximada de 400 km. O mapa na página oposta indica a área da bacia.

O Rio Pungoé tem origem no planalto oriental do Zim-babwe e corre numa direcção geral oriental através de Moçambique para desaguar no Oceano Índico.

O Rio Pungoé eleva-se das encostas ocidentais das Montanhas Inyangani a uma altitude de 2,500 m acima do nível médio do mar.

O rio corre para sul cerca de 20 km, mudando brusca-mente de curso em Pungwe Falls, uma localização con-hecida pela sua beleza pitoresca, e segue na direcção leste através de uma área conhecida como o Vale do Honde. O rio atravessa então a fronteira Moçambicana perto da Plantação de Chá de Katiyo, a aproximada-mente 60 km da sua cabeceira, a uma altitude de cerca de 579 m.

Os afluentes principais do Rio Pungoé no Zimbabwe são o Honde na margem direita e os rios Nyazengu, Chiteme, Nyamhingura, Nyawamba, Nyamukombe e Rwera na margem esquerda.

No Zimbabwe, a área de drenagem é uma combinação da área do parque nacional, de plantações de flores-tas exóticas nas secções de montante e da agricultura variada nos vales central e inferior. O Rio Nyamuk-warara, um afluente do Honde, drena algumas áreas aluviais de mineração e prospecção de ouro no Zim-babwe e em Moçambique, onde recolhe uma grande quantidade de sedimentos que permanece visível ao longo do rio para além da Ponte na estrada para Tete em Moçambique.

AMBIENTE BIOFÍSICO

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Após atravessar o Zimbabwe, o Rio Pungoé segue para sudeste em direcção a Moçambique. Corre através de diversas terras agrícolas, passando ao longo da fronteira sul do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), onde entra na planície de inundação e depois no estuário do Pungoé (zona de influência da maré). Em seguida, corre para o Oceano Índico no Porto da Beira.

Os afluentes principais do Pungoé em Moçambique são os rios Nhazonia, Txatora, Vunduzi e Urema que se elevam do norte para se juntarem ao rio principal na sua margem esquerda, e o Honde, o Metuchira e o Muda a partir do sul. O sistema de Urema é alimentado pelo Rio Vanduzi (conhecido localmente como Vunduzi) a noroeste e pelo Rio Mucambezi a nordeste. O primeiro tem origem na Montanha da Gorongosa a uma altitude

de 1,863 m. O sistema de Mucambezi eleva-se a sul da divisão superficial que separa os sub-sistemas do Pungoé e do Zambezi. Ambos os afluentes correm para sul para o sazonal Lago Urema, que desagua no Rio Urema e, dali, no Rio Pungoé.

O padrão de fisiografia e de drenagem da bacia está ilustrado no mapa tri-dimensional abaixo. Na página oposta a figura indica os afluentes principais do Rio Pungoé em Moçambique em relação ao PNG e à Mon-tanha da Gorongosa.

O Lago Urema varia consideravelmente em dimensão de um mínimo de cerca de 10 km2 durante a época seca para 120 km2 durante períodos de caudal elevado. À volta do lago, o terreno é muito plano, sendo o ecos-

sistema da planície de inundação muito sensível a mudanças no regime do caudal.

As águas do lago e da secção jusante do Rio Urema são geralmente denominadas como ‘águas brancas’ devido à sua cor amarelo ocre distintiva e à opacidade que conti-nua a jusante até à confluência com o Rio Pungoé.

A bacia inferior está a apenas alguns metros acima do nível do mar e é, frequentemente, sujeita a inundações durante a época chuvosa. Durante os caudais baixos, a água do mar flui para o rio, estendendo-se até cerca de 80 a 100 km da foz.

Clima e Hidrologia Geral

As principais influências no clima na Bacia do Rio Pungoé são a altitude e a orografia (relevo), em com-binação com a proximidade do mar. O clima varia entre tropical continental a oeste a tropical húmido nas zonas costeiras a este. A partir do canal de Moçambique, o relevo geral é caracterizado por terrenos baixos, que se elevam rapidamente à medida que se aproximam das encostas orientais da cadeia montanhosa de Inyangani. As influências orográficas são mais acen-tuadas na parte ocidental da bacia, onde as altitudes aumentam de 600 m para mais de 2,500 m, ao longo de uma distância relativamente curta. Este padrão oro-gráfico obriga o ar oceânico, quando presente, a subir as encostas orientais, arrefecendo no processo e, caso esteja suficientemente húmido, resultando na formação de nuvens e, frequentemente, precipitação. A formação de nuvens diminui também a temperatura da superfície pois bloqueia os raios solares.

Na bacia, as temperaturas mínimas variam entre 22oC nas zonas costeiras a 9.9oC nas zonas mais altas da cadeia Montanhosa de Inyangani, com as máxi-mas entre os 29oC a 19.8oC à medida que a altitude aumenta. Nas altitudes mais elevadas, as temperaturas ao longo do ano encontram-se entre as mais baixas no Zimbabwe. Estas temperaturas baixas têm um efeito

AMBIENTE BIOFÍSICO

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Fisiografia e padrão de drenagem da Bacia do Rio Pungoé

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moderador na evapotranspiração na região, em compa-ração com outras regiões do país.

O efeito da orografia na precipitação é mais pronunciado nas secções superiores da bacia onde existe um rápido aumento na altitude, conforme indicado no modelo 3D abaixo à direita. Os efeitos orográficos na precipitação estão também ilustrados de forma clara pela mudança brusca no escoamento específico entre as estações hidrométricas localizadas em altitudes diferentes.

Verifica-se um efeito semelhante na Montanha da Gorongosa, em Moçambique, que recebe bastante mais precipitação em comparação com as áreas circundantes.

Em geral, as principais influências da precipitação na zona da bacia do Pungoé são os movimentos da Zona de Convergência Inter-Tropical (ZCIT) e os Ventos de Sudeste.

A influência da ZCIT estende-se, normalmente, de Novembro a Março. A ZCIT é uma zona complexa onde convergem as seguintes três correntes de ar distintas:

1. Os Ventos de Sudeste do Oceano Índico abrang- endo Moçambique e o Zimbabwe

2. Os Ventos de Sudoeste do Oceano Atlântico que se aproximam do Zimbabwe a partir de Noroeste e são normalmente denominados como Ar do Zaire

3. A monção de Nordeste proveniente do Planalto Asiático na região do mar da Arábia

Os ventos de Sudeste são responsáveis pela precipi-tação de Inverno entre Abril e Setembro nas zonas mais elevadas da bacia. Na região de Nyanga, a precipitação de Inverno representa aproximadamente 12% da preci-pitação anual na área.

Zimbabwe

Mozambique

1220

1600

2010

2730 2100

2290

1490

1330

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Principais afluente do Rio Pungoé em relação com o PNG e a Montanha da Gorongosa

Planalto Oriental no Zimbabwe

Precipitação no Alto Pungoé [mm/ano]

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Geologia e Solos

Nas partes ocidentais, a geologia da Bacia do Rio Pungoé é dominada por granitos muito cortados com ocasionais diques intrusivos. Esta característica geológica deu origem à formação de picos montan-hosos elevados (Montanha de Inyangani), gargantas profundos (Garganta do Pungoé) e vales, bem como rápidos e cataratas (Pungwe Falls) nas proximidades dos diques. Observam-se rochas gneissicas metamór-ficas laminadas ocasionais na geologia da área de dre-nagem do Rio Honde. Na parte central da Bacia em Moçambique, a geologia é dominada pelo complexo cristalino que consiste de montanhas (Mt Gorongosa), planalto superior e central. A este, a geologia é carac-terizada principalmente por arenitos nas Planícies do Sena e no Planalto de Cheringoma que estão divididos por uma continuação do sistema do Vale do “Rift” da África Oriental. A parte ocidental da bacia consiste de solos vermelhos com profundidade considerável em algumas áreas, que se tornam menos profundos nas zonas montanhosas.

A este, os solos abaixo do planalto variam de solos fluviais escuros argilosos-arenosos a solos pouco pro-fundos com pouco potencial agrícola.

Flora

A figura na página oposta indica a distribuição de 16 tipos de vegetação da Bacia do Rio Pungoé.

O tipo de vegetação dominante, que ocupa aproxima-damente 50% da bacia, é a floresta aberta de miombo. Encontram-se um total de cinco espécies diferentes de floresta aberta de miombo na bacia, dependendo da altitude e da precipitação.

Existem dois tipos de vegetação importantes de flo-restas húmidas perenes na Montanha da Gorongosa e nas encostas e ravinas da cadeia Montanhosa de Inyangani, ao longo da fronteira entre Moçambique e o Zimbabwe. Estes ecossistemas únicos foram criados por micro-climas que ocorrem nas zonas de elevada altitude e precipitação. Durante a época chuvosa, vastas áreas à volta do lago

Urema e das planícies de inundação estão inundadas dando origem a pastagens flutuantes e a nenúfares brancos. Este crescimento viçoso e verdejante cont-rasta com a camada murcha de erva castanha comum na época seca.

Na direcção da costa, na planície de inundação, ocor-rem comunidades de mangal nas ilhas inter-ribeirinhas e nos terrenos lamacentos do estuário do Pungoé-Buzi.

Cerca de 53 km2 do planalto oriental do Zimbabwe estão cobertos com plantas invasoras Acácia escura e Pinheiro Mexicano, incluíndo áreas mais pequenas de Australian Blackwood. Estas espécies produzidas comercialmente são uma ameaça para o ecossistema natural nas terras altas devido à invasão de sementes transportadas pelo vento e à subsequente supressão das espécies indígenas.

AMBIENTE BIOFÍSICO

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Montanha da Gorongosa

Na parte Zimbabweana da Bacia do Rio Pungoé o granito massivo altera-se para cúpulas nuas

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As espécies protegidas que é provável encontrar na Bacia do Rio Pungoé incluem:

• Fire lily, no limite da encosta do Monte Inyangani, a sul das Cataratas de Mtarazi

• Flame lily, na margem da floresta entre fetos e flo- resta aberta no planalto

• Árvores de fetos, à volta e na Garganta do Pungoé

• Orquídeas, com floresta aberta de miombo e flo- restas, especialmente ao longo dos rios, linhas de água e pastagens de montanha

• Cicadáceas, nos parques nacionais de Nyanga e da Gorongosa

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Fauna

Na Bacia do Rio Pungoé, a ocorrência significativa de mamíferos de grande porte está confinada principal-mente às zonas protegidas dos parques nacionais da Gorongosa e de Nyanga. No PNG, Tinley descreveu a “vida selvagem espectacularmente rica do Vale do “Rift”” como sendo ”uma consequência da evolução de mosaico do mato florestal e da savana, contígua a um ecossistema de pastagens de planície de inundação de elevada produtividade primária em solos saturados de base”. Esta vida selvagem, que abrange a maioria dos mamíferos tropicais de grande porte foi quase toda dizi-mada durante a guerra civil de Moçambique. Estão em curso esforços para restaurar este santuário da vida sel-vagem de importância regional à sua glória anterior. No entanto, estes podem estar perante uma nova ameaça resultante da proliferação dos assentamentos humanos.

Existem algumas espécies de peixe raras e vulnerá-veis no Rio Pungoé, em particular nas secções supe-riores do rio. Estas espécies de água fria dominam as secções superiores do rio, onde a água tem baixa condutividade. Espécies de águas quentes e marin-has tornam-se mais comuns nas secções inferiores, por exemplo, o Beira killifish endémico, representado acima.

Tipos de vegetação relevantes para a conservação

Os tipos de vegetação relevantes para a conservação que estão directamente dependentes dos recursos hídricos são:

• Os Tandos da Gorongosa, inundado sazonal- mente, que ligam o Vale do Zambeze no norte com o sistema do Pungoé no sul através do Vale do Urema (Vale do “Rift”)

• Os pastos sazonalmente inundados das planícies de inundação inferiores do Pungoé/Buzi que abrangem aproximadamente 4,500 km2 de terras húmidas

• Os mangais dos estuários

• A floresta tropical em Pungwe Falls (representada à direita)

Os tipos de vegetação mencionados acima são o habitat vital de uma variedade de fauna, alguma da qual é endémica e/ou está ameaçada. As áreas de conservação protegidas incluem os 5,370 km2 do Parque Nacional da Gorongosa em Moçambique, criado em 1960, e os 330 km2 do Parque Nacional de Nyanga no planalto oriental do Zimbabwe.

AMBIENTE BIOFÍSICO

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O “killifish” da Beira

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Pungwe Falls no Parque Nacional de Nyanga

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Assentamentos

O Rio Pungoé é um curso de água partilhado entre o Zimbabwe e Moçambique. Consequentemente, a uti-lização dos recursos hídricos e a gestão do uso da terra no estado ribeirinho a montante (Zimbabwe) têm impacto no estado a jusante (Moçambique).

Em termos administrativos, a bacia abrange o Distrito Rural de Mutasa, o Parque Nacional de Nyanga e uma pequena parte do Distrito Rural de Nyanga no Zim-babwe. Em Moçambique, abrange partes das provín-cias de Sofala e de Manica.

Em geral, os assentamentos na Bacia do Rio Pungoé consistem em comunidades rurais, alguns centros urbanos dispersos, pontos de crescimento e quintas e plantações comerciais. Estas estão concentradas ao longo dos vales dos rios, nas planícies de inundação, ao longo das estradas principais e à volta dos centros administrativos. A Cidade da Beira em Moçambique é o principal centro urbano e industrial na bacia. O maior centro administrativo e comercial na bacia no Zimbabwe é o Ponto de Crescimento de Hauna. Outras cidades relevantes na bacia em Moçambique são Chimoio, no limite da bacia, Gondola, Nhamatanda e Gorongosa.

População

Calcula-se que, em 2003, a Bacia do Rio Pungoé tinha uma população total de 1,199,567 pessoas, das quais 8% residentes no Zimbabwe. Calcula-se que em 2023, a população total na bacia atinja cerca de dois milhões de pessoas.

A densidade populacional total na bacia é mais elevada no Zimbabwe em comparação com Moçambique. No entanto, na parte posterior da bacia, a densidade da população aumenta nas zonas interiores à volta das

cidades e dos centros administrativos, bem como ao longo das estradas principais. A distribuição da popu-lação na bacia, dividida em sub-bacias, é apresentada na figura a seguir.

Actividades Económicas

As actividades económicas entre as comunidades da bacia são, em grande parte, baseadas na agricultura. Estas incluem cultivos e criação de gado, florestas, pescas, mine-ração de ouro e eco-turismo. A agricultura é uma mistura da subsistência de sequeiro e de culturas de irrigação.

CONDIÇÕES SOCIO-ECONÓMICAS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ

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Assentamentos no Vale do Honde

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A parte superior da bacia que fica no Zimbabwe apoia a agricultura intensiva nas densamente povoadas Ter-ras Comunitárias de Mutasa e plantações comerciais de café, chá e florestas de grande escala. A parte sul do Parque Nacional de Nyanga, uma localização turística importante, é drenada pelas cabeceiras do Rio Pungoé. A Cidade de Mutare toma água do rio a montante das Pungwe Falls.

A secção central do Bacia do Rio Pungoé em Moçam-bique está também, em grande parte, pouco desenvol-vida e pouco povoada, com potencial para a agricultura de irrigação, turismo e desenvolvimento da vida selva-gem. Recentemente, houve um aumento contínuo nos investimentos na agricultura comercial de grande escala de culturas importantes como milho, tabaco e produtos hortícolas, em particular na Província de Manica.

Na parte inferior da bacia, na planície de inundação, existem recursos naturais e económicos significativos e interesses sociais que abrangem o Parque Nacional

da Gorongosa (PNG), uma grande açucareira, o abas-tecimento de água das Cidades de Beira/Dondo, e a criação e pesca de camarão à volta e no estuário. Na planície de inundação, a jusante do local para a barra-gem de Bué Maria, existe um grande potencial para o desenvolvimento agrícola devido à existência de solos férteis e à possibilidade de uma grande barragem no Rio Pungoé. Além disso, a reabilitação em curso do eco-turismo no PNG e áreas circundantes tem o poten-cial para criar condições favoráveis para o desenvolvi-mento económico na bacia.

Saúde e Saneamento

O estado das unidades sanitárias na bacia é, em geral, fraco, em particular em Moçambique. No Zimbabwe, que tem melhores infraestruturas, os serviços estão a deteriorar devido à diminuição dos recursos.

Os principais problemas em relação à gestão da saúde em Moçambique estão relacionados com:

• cobertura fraca e, consequentemente, acesso limi- tado a serviços de qualidade

• acesso a água potável e saneamento adequado

• falta de educação e prevenção de doenças

• analfabetismo

• estratégias de alívio da pobreza pouco desen- volvidas

As facilidades de saneamento na bacia são, em geral, básicas e em grande parte baseadas em latrinas ou na utilização do mato. A cobertura varia, havendo mais unidades no Zimbabwe do que em Moçambique.

A pandemia do HIV/SIDA está a exercer uma pressão considerável num sistema de prestação de saúde já sob pressão na bacia. Calcula-se que cerca de 20% da população na bacia é seropositiva e que até 2010, a esperança de vida seja reduzida para 36.5 anos de idade.

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Camarão pescado no Estuário do Pungoé

Plantações de tabaco

Agricultura de pequena escala

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Educação

O estado da educação na bacia é variável. Enquanto em Moçambique a maioria dos alunos que completam a escola primária não prosseguem para os níveis mais altos, no Zimbabwe, a maioria dos alunos no sistema da educação prosseguem para a escola secundária. As áreas remotas em Moçambique são particularmente pouco servidas, estando as poucas escolas secundárias existentes localizadas nas capitais distritais.

Em Moçambique, a falta crítica de professores qualifica-dos agrava o problema. No entanto, a rede de educação está a desenvolver-se continuamente. O Ministério da Educação está a implementar cursos de formação de curta duração em cooperação com parceiros como o UNICEF e GTZ.

Género e Pobreza

A pobreza na bacia continua a representar um grande problema para o desenvolvimento sustentável, apesar dos recursos hídricos abundantes e de outros recursos naturais. Isto é exacerbado pelas desigualdades na distribuição e controlo dos recursos naturais como terra e água a favor dos homens.

No Zimbabwe, as mulheres têm representação nos órgãos de tomada de decisão como concelhos da bacia e da sub-bacia. O sector das águas em Moçambique recomenda também que as mulheres sejam incluídas nas comissões dos recursos hídricos. Espera-se que estas disposições administrativas progressivas sejam apoiadas pela vontade política necessária para promo-ver a participação das mulheres nos assuntos relacio-nados com os recursos hídricos e com o desenvolvi-mento em geral.

Em relação à pobreza, a maioria dos agregados rurais na Bacia do Rio Pungoé têm rendimentos abaixo de um nível que satisfaça as necessidades básicas.

Infra-estrutura

Abastecimento de Água, Barragens

A Bacia do Rio Pungoé no Zimbabwe tem apenas uma grande barragem no Rio Nyawamba, com uma capacidade de 17 milhões m3, e um pequeno açude de 40,000 m3 no Rio Nyamasupa. A Barragem de Nya-wamba é propriedade e operada pela Eastern High-lands Tea Estate.

Não existem grandes barragens na Bacia do Rio Pungoé em Moçambique, havendo apenas 19 pequenas barra-gens utilizadas para a irrigação de culturas.

Principais Esquemas de Abastecimento de Água

Os principais esquemas de abastecimento de água localizados no Rio Pungoé incluem o Projecto de Abas-tecimento de Água de Mutare e a Açucareira de Mafam-bise/Sistema de Abastecimento de Água da Beira.

Outros Esquemas de Abastecimento de Água

Outros esquemas de abastecimento de água abrangem os esquemas de abastecimento de água canalizada nos afluentes do Rio Pungoé no Zimbabwe, e vários peque-nos esquemas de irrigação em ambos os países.

Saneamento

As unidades de saneamento na bacia são, em grande parte, baseadas em latrinas para as aldeias rurais, com excepção da Cidade de Hauna e da Beira onde se desenvolveram sistemas de esgotos.

Energia

A Bacia do Rio Pungoé é abastecida com energia das redes nacionais do Zimbabwe e de Moçambique. No entanto, a distribuição está limitada aos principais cen-

CONDIÇÕES SOCIO-ECONÓMICAS DA BACIA DO RIO PUNGOÉ

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tros urbanos e administrativos, e a algumas quintas e plantações comerciais de grande escala. A maioria das comunidades rurais não está ligada à electricidade e utilizam carvão vegetal para a energia doméstica. A desflorestação e o risco de erosão do solo são, por isso, uma ameaça séria para o ambiente natu-ral e para os habitats de vida selvagem associados.

Estradas e Caminhos-de-Ferro

Em geral, os principais centros na bacia estão servidos por uma boa rede de estradas nacionais pavimentadas. Estas são bem mantidas pelas autoridades nacionais. No entanto, a comunicação por estradas nas áreas remotas é muito fraca e consiste de estradas de terra e picadas.

Apesar da rede de estradas secundárias no Zimbabwe ser melhor, a maioria das aldeias não estão abrangi-das devido ao terreno montanhoso que complica a con-strução das estradas.

O Porto da Beira está ligado a Mutare por uma linha fér-rea. No entanto, o tráfego ao longo da linha foi reduzido nos últimos anos devido, em grande parte, à combi-nação dos efeitos residuais da guerra civil em Moçam-bique e ao declínio actual na economia do Zimbabwe.

Telecomunicações

Os principais centros e algumas quintas comerciais de grande escala e escolas têm serviços de telefone fixo. Tanto Moçambique como o Zimbabwe têm serviços de telefone móvel. No entanto, a cobertura está também limitada aos principais centros e ao longo de algumas secções da rede rodoviária primária.

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Toma de água para o abastecimento de água à Beira

Desflorestação próximo da Ponte da Gorongosa

Ponte sobre o Rio Nhamucuarara em Moçambique, estrada secundária

A Ponte da Gorongosa, estrada nacional

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Medição e Monitoria

A avaliação ou quantificação dos recursos hídricos requer a medição contínua da precipitação, evapo-ração e do caudal. No âmbito deste requisito, as autoridades de gestão dos recursos hídricos e me-teorológicas em Moçambique e no Zimbabwe ope-ram redes de estações para a medição destes parâ-metros hidrológicos. A distribuição destas estações, existentes e históricas, é apresentada na figura à direita.

Em termos gerais, os registos de precipitação disponí-veis foram recolhidos para períodos mais longos do que os registos do caudal do rio. A medição da precipitação é também mais simples de modo que os dados estão normalmente disponíveis atempadamente e com uma distribuição espacial adequada.

Estações de Precipitação

Na bacia, Moçambique e o Zimbabwe, respectivamen-te, têm dados de precipitação de 77 e 18 estações iden-tificadas. Três das estações no Zimbabwe e seis em Moçambique são descritas como sinópticas porque in-cluem as medições dos dados de evaporação e outros parâmetros do tempo tais como pressão barométrica, temperatura e humidade. Idealmente, a distribuição das estações de precipi-tação numa bacia deve ser o mais uniforme possí-vel, e levar em consideração as variações no relevo. No entanto, na bacia, este requisito é limitado pela fraca rede de estradas aliada à desigual distribuição dos assentamentos, em especial em Moçambique. Além disso, uma proporção significativa dos dados de precipitação tem dados em falta e são de precisão questionável.

Estações de Medição do Caudal

A medição do caudal fornece uma medição directa dos recursos hídricos superficiais da bacia. Os caudais dos rios são, normalmente, medidos através de um limnígrafo (medidor automático de nível). O parâmetro medido no terreno é a altura de água que é, em se-guida, transformada em caudal através de uma curva de vazão previamente desenvolvida.

Na Bacia do Rio Pungoé, os dados do caudal estão disponíveis a partir de 22 estações em Moçambique

e quatro no Zimbabwe. A extensão destes registos de caudal abrange desde 1953 até à data. Quase todas as séries de dados das estações de medição têm falhas, normalmente quando as medições do caudal não foram feitas por diversas razões.

Antes de serem utilizados na avaliação dos recursos hídricos, os registos históricos do caudal são primeiro triados e, em seguida, corrigidos ou alargados através de relações matemáticas (modelos) com a precipitação medida.

RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOE

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Precipitação na Bacia do Rio Pungoé

Os recursos hídricos numa bacia, em especial recursos hídricos superficiais, são uma função da precipitação. Uma precipitação elevada traduz-se em elevados es-coamentos unitários nos rios. O efeito da precipitação nos recursos hídricos subterrâneos depende da distri-buição relativa das áreas de recarga, da geologia da área e da natureza do movimento do escoamento sub-terrâneo.

A precipitação média anual na bacia varia entre mais de 2,020 mm nas áreas elevadas da cadeia montanhosa de Inyangani no Zimbabwe, a cerca de 1,180 mm no Estuário do Pungoé. A figura abaixo indica a precipi-tação média anual para a Bacia do Rio Pungoé, dividida em sub-bacias.

A evaporação está entre 1,380 a 1,590 mm, dependen-do da temperatura e da humidade relativa.

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Estação hidrométrica F14 no Zimbabwe

Escala para medir o nível da água na estação E65 em Moçambique

Estação hidrométrica F22 no Zimbabwe

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Recursos Hídricos Superficiais

A principal fonte de água na Bacia do Rio Pungoé é a dos recursos hídricos superficiais. Uma melhor com-preensão dos recursos hídricos superficiais de longo prazo da bacia é essencial para o desenvolvimento sustentável da bacia.

Os recursos hídricos de longo prazo da Bacia do Rio Pungoé foram determinados para as várias sub-bacias e em localizações específicas ao longo do rio principal.

O escoamento médio anual em mm/ano por sub-bacia é indicado na figura à direita. O efeito da precipitação no escoamento unitário está claramente identificado.

TOTAL OUTFLOW TO THE INDIAN OCEAN

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(Mm

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)

Exceedance of 20% (Wet year)

Exceedance of 50% (Medium year)

Exceedance of 75% (Dry year)

A tabela indica as contribuições relativas para o escoa-mento de longo prazo das áreas da bacia no Zimbabwe e em Moçambique.

Apesar do Zimbabwe ser apenas cerca de 5% da área total da bacia, representa 28% do escoamento total. Por isso, é provável que o uso da água no Zimbabwe tenha um impa-crto significativo nos recursos hídricos em Moçambique.

O gráfico à direita indica a distribuição média mensal do escoamento na foz do Rio Pungoé. Em média, o caudal mais elevado ocorre por volta do mês de Fevereiro.

RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO RIO PUNGOE

Com base em dados do período 1960-80

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Recursos Hídricos Subterrâneos

Grandes áreas da Bacia do Rio Pungoé têm um poten-cial de água subterrânea moderado a baixo, com ex-cepção de pequenas secções do Alto Pungoé onde o potencial pode ser considerado elevado.

Prevê-se que as zonas ao longo dos rios tenham cau-dais subterrâneos elevados, dependendo da geologia prevalecente.

Cheias

As cheias causam, frequentemente, problemas nas secções inferiores da Bacia do Rio Pungoé. Nos três anos consecutivos de 1999-2001 registaram-se ní-veis muito elevados de água no Rio Pungoé, cau-sando danos a, entre outros, Estrada nacional entre a Beira e Chimoio. A cheia de 2001 é a cheia mais elevada observada na estação hidrométrica da pon-te do Pungoé desde o início das observações nos anos 50.

A característica principal das cheias na bacia inferior é que são muito longas com períodos muito longos de níveis de água elevados. As cheias de 1999 e de 2001 indicam períodos de 2-3 meses com caudais muito al-tos. Cheias como estas são muito difíceis de mitigar. No entanto, é possível mitigar através de barragens, até certo ponto, cheias mais moderadas.

No entanto, as cheias são importantes para a ecolo-gia do sistema hidrográfico. O cultivo na planície de in-undação e a fauna estuarina estão dependentes dos nutrientes que são descarregados durante períodos de caudal elevado.

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Poço em Moçambique

Imagens da cheia em 1999 na Ponte do Pungoé em Moçambique

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Fontes de Poluição da Água

A qualidade da água da bacia é afectada pelos assenta-mentos humanos, a geologia e o solo e pela vegetação. Os assentamentos humanos alteram o estado natural da qualidade das águas superficiais e subterrâneas através dos diferentes usos da terra e do uso da água para fins domésticos, industriais, agrícolas e para a mi-neração.

As principais fontes de poluição da água no Bacia do Rio Pungoé são os assentamentos rurais e urbanos, a agricultura, a floresta plantada, a prospecção de ouro e a intrusão salina. Apesar da última ser um fenómeno natural, pode ser exacerbado por uma elevada abst-racção de água do rio durante a época de estiagem.

Com excepção da mineração aluvial de ouro no Rio Ny-amukwarara, a maioria das potenciais fontes de polu-ição não são consideradas sérias de momento. Como resultado das actividades de prospecção de ouro são libertadas, de forma rotineira, grandes quantidades de sedimentos no Rio Nyamukwarara.

Qualidade da Água Ambiental

A qualidade da água nas secções superiores do Rio Pungoé no Zimbabwe é quase virgem devido à ex-istência do Parques Nacional de Nyanga onde os as-sentamentos humanos são proibidos por lei. Para o resto da bacia, o uso da terra e as práticas de sa-neamento desempenham um papel fundamental para determinar a qualidade da água nos rios da bacia. O carácter rural dos assentamentos da bacia tem uma influência significativa na natureza da qualidade da água ambiente. É provável registar-se a ocorrência quer da poluição pontual quer da difusa na bacia, re-sultante da agricultura comercial de grande escala e de subsistência, bem como das práticas gerais de sa-neamento na bacia.

QUALIDADE DA ÁGUA NA BACIA DO RIO PUNGOÉ

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Actividades informais de mineração de ouro no Rio Nhamucuarara

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Mineração Artesanal de Ouro

A prospecção desregulada de ouro no Rio Nyamukwara-ra apresenta problemas de qualidade da água sérios, em particular durante a época seca, quando o factor de dilu-ição é baixo. Devido às deficiências funcionais na rede de esgotos da Cidade da Beira, prevê-se que as concen-trações de bactérias, de material orgânico e de sólidos suspensos na zona inferior do estuário sejam elevadas.

A mineração ocorre na bacia do Rio Pungoé há já várias centenas de anos. No entanto, desde 2003 que as con-centrações de sedimentos no rio aumentaram significa-tivamente devido ao aumento das actividades informais de mineração de ouro. Antes disso, estas actividades realizavam-se principalmente nas zonas circundantes do afluente Rio Nyamukwarara na província de Manica, que estão, em alguns locais, destruídas. Actualmente, as actividades informais de mineração de ouro espal-haram-se na bacia do Rio Pungoé e estendem-se até jusante na bacia na Província de Sofala.

Para além da erosão causada directamente pela pro-specção de ouro, a erosão natural, em especial durante os períodos chuvosos, aumenta também uma vez que a camada superior de protecção do solo e a vegetação são removidas nas áreas de mineração de ouro. Isto dá ori-gem a erosão adicional e à destruição de terra arável.

O sedimento erodido das actividades de mineração acaba no sistema do Rio Pungoé. Os sedimentos sus-pensos consistem principalmente em lodo e argila ver-melho-acastanhada, com uma proporção insignificante de areia fina. Devido ao tamanho das partículas finas, os sedimentos ficam suspensos e podem ser vistos até ao estuário do Pungoé.

Os sedimentos suspensos tornam a água inadequada para consumo, para lavar e para a irrigação, enterram a fauna aquática, impedem a fotossíntese e afectam a população de peixes.

Intrusão Salina

As variações das marés no Estuário do Pungoé são consideráveis, entre os 7-8 m. A tomada de água da estação de bombagem de Mafambisse localizada a cer-ca de 90 km a montante, também utilizada para o Abas-tecimento de Água da Beira, é, por isso, afectada perio-dicamente. A intrusão salina obrigou a empresa Águas de Moçambique a re-localizar a tomada do Abasteci-mento de Água da Beira para 40 km mais a montante. O problema da intrusão salina na estação de bombagem que serve a Açucareira de Mafambisse persiste e causa interrupções nas actividades de irrigação.

A variação das marés implica vários ciclos. Para além do ciclo diário com duas marés altas por dia, a magnitude varia vários metros num ciclo de 2 semanas. Além disso, existe um ciclo sazonal com as diferenças de marés mais elevadas a ocorrerem duas vezes por ano. Através da utilização de programas grátis, é possível calcular os ní-veis das marés para qualquer local e altura. Consequen-temente, é fácil prever as datas com marés extremas.

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O Rio Pungoé no Parque Nacional de Nyanga no Zimbabwe

O Rio Pungoé na Ponte da Estrada de Tete em Moçambique Intrusão salina no Rio Pungoé, causada pelas variações de marés no Oceano Índico na Beira

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Usos da Água na Bacia do Rio Pungoé

Os usos da água na bacia reflectem as condições so-cio-económicas e desenvolvimentos existentes dos re-cursos hídricos. Os principais consumidores de água do Rio Pungoé e respectivos afluentes são os seguintes:

• consumidores domésticos rurais através de pe - quenos sistemas e tomadas de água pouco de - senvolvidas

• consumidores domésticos urbanos e industriais das cidades de Beira/Dondo e Mutare

• irrigação de pequena e de grande escala

• floresta plantada

O maior consumidor de água na Bacia do Rio Pungoé é o sector agrícola. A irrigação representa, em média, mais de 80% do uso total da água. O segundo maior uso da água é o abastecimento de água urbano para a Beira e Mutare. No entanto, Mutare está fora da bacia

do Rio Pungoé e recebe água através da transferência inter-bacias através do túnel e da conduta de Pungoé-Mutare.

O abastecimento de água rural é, em comparação com o abastecimento agrícola e urbano, muito pequeno e é, em geral, servido por pequenos esquemas locais com utilização de águas subterrâneas.

Demanda de Água na Bacia do Rio Pungoé

Em 2003, a demanda de água na bacia foi calculada em 35,8 milhões m3 por ano para uso doméstico e in-dustrial e, entre 146 e 260 milhões m3 por ano para uso agrícola, incluíndo florestas e gado.

A demanda de água futura depende do desenvolvi-mento socio-económico geral na Bacia do Rio Pungoé. As estimativas indicam que, num cenário de desenvol-vimento médio, a demanda de água total na bacia irá aumentar para entre 750 e 800 milhões m3 por ano em 2025. Calcula-se que aproximadamente 15-25% desta demanda de água futura se registe no Zimbabwe.

USO DA ÁGUA NA BACIA DO RIO PUNGOÉ

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Estação de captação de água de Mafambisse

Plantações de cana-de-açúcar

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Balanço Hídrico

Neste contexto, um balanço hídrico refere-se à com-paração do uso volumétrico da água previsto com os recursos totais disponíveis.

Os recursos hídricos na bacia estão, de momento, pouco utilizados. Considerando que os recursos hídri-cos superficiais totais de longo prazo do Rio Pungoé estão calculados em cerca de quatro biliões m3/ano, a demanda de água futura prevista para 2025 abrange apenas um quinto dos recursos disponíveis.

No entanto, a variação dos recursos hídricos é signi-ficativa quer em termos temporais quer espaciais. O padrão cíclico com muitos anos húmidos seguidos por anos secos consecutivos é típico da África Austral. Os períodos secos como o registado no início dos anos 90 definiram os limites para o abastecimento de água se-guro mesmo se o caudal médio for, normalmente, sufi-ciente para cobrir a demanda média.

A figura indica o escoamento médio anual dos últimos 50 anos (Mm3/ano). A linha vermelha indica o caudal anual médio do rio. A grande variação inter-anual nos recursos hídricos na Bacia do Rio Pungoé causa grandes demandas na gestão dos recursos hídricos. Os períodos secos, como por exemplo 1991-1995, causam grande stress aos consumidores.

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Beira Water intake

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Zimbabwe border

Uma análise do balanço hídrico, levando em conside-ração a variação temporal, indica que são necessárias medidas para abastecer o centro urbano de Mutare caso a única fonte seja o Pungoé. Em 2025, irão ocor-rer faltas de água graves se não for construída uma barragem a montante da actual tomada da conduta de Mutare ou se não se utilizarem outras fontes. No en-tanto, os requisitos de água da Beira de 2025 serão, provavelmente, cumpridos sem infra-estruturas adicio-nais no Rio Pungoé, desde que a tomada de água não seja afectada pela intrusão salina.

No caso da maioria dos afluentes na Bacia do Rio Pungoé, os requisitos totais de irrigação de 2025 po-dem ser cumpridos pelo escoamento natural. As bar-ragens locais de pequena escala poderiam, provavel-mente, fornecer uma garantia total de abastecimento nestas áreas. No entanto, na parte inferior da bacia os requisitos médios de 2025 resultariam das plantações de cana-de-açucar de grande escala, que não pode ser cumprido sem grandes barragens de regulação.

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Rio Mapopo no Alto Pungoé

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Gestão da Bacia do Rio Pungoé

Existem cinco cursos de água partilhados entre o Zim-babwe e Moçambique abrangendo os rios Pungoé, Buzi, Save, Zambeze e Limpopo, conforme indicado na figura à direita. Em todos os casos, Moçambique é o estado ribeirinho a jusante. A gestão dos recursos hídricos nos dois estados é orientada pelas seguintes leis nacionais:

• Moçambique – Lei de Águas, Lei Nº 16/91

• Zimbabwe – Lei da Água [Capítulo 20:24] Nº 31/98

• Zimbabwe – Lei das Autoridades Nacionais dos Recursos Hídricos do Zimbabwe [Capítulo 20:25] Nº 11/98

• A cooperação bilateral na gestão dos recursos hídricos é abordada através das seguintes con - venções internacionais, protocolos regionais e declarações relacionadas

• A Convenção das Nações Unidas sobre a lei dos usos diversos da navegação em rios internacio- nais, 1997

• O Protocolo revisto da SADC sobre sistemas hidrográficos partilhados, 2000

• A Convenção sobre a conservação da natureza e dos recursos naturais, Setembro 1997

• O Acto de Constituição da União Africana (Junho 2000) e o NEPAD • A Declaração Ministerial de Abuja sobre os Recur- sos Hídricos – essencial para o desenvolvimento sustentável, Abril 2002

GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO PUNGOÉ

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Estatutos Nacionais

A Lei de Águas de Moçambique

A Lei de Águas Nº 16/91 foi promulgada em 1991 com base no princípio de descentralização na gestão dos recursos hídricos, a nível operacional.

Esta abriu o caminho para a criação de cinco Adminis-trações Regionais de Água (ARAs) com base em bacias hidrográficas contíguas. A ARA-Centro é responsável pela gestão técnica e administrativa dos recursos hídri-cos das bacias do Pungoé, Save e Buzi. O seu mandato inclui também a planificação, concepção, construção, operação e manutenção da rede hidrometerológica, bem como de obras hidráulicas.

A Lei da Água do Zimbabwe

A Lei da Água, Capítulo 20:24 de 1998 é a lei mãe para a gestão e administração de todas as questões relacio-nadas com os recursos hídricos no Zimbabwe. É a base da declaração dos ‘sistemas fluviais’ ou áreas hidrog-ráficas. Existem actualmente sete sistemas fluviais no Zimbabwe cujas fronteiras foram estabelecidas através do Statutory Instrument Nº 34 de 2000, para a gestão dos recursos hídricos no Zimbabwe. A Área da Bacia é administrada pelo Concelho da Bacia, um órgão eleito de partes interessadas que foi criado através do Statutory Instrument Nº 209 de 2000, para controlar e administrar as questões relacionadas com os recursos hídricos na bacia. Cada Área da Bacia está dividida em sub-bacias, para permitir a gestão dos recursos hídricos por uma sub-comissão da bacia eleita no âmbito de um subsistema mais localizado do rio.

A sub-bacia do Pungoé no Zimbabwe está dentro da jurisdição da Bacia do Save em conjunto com as sub-bacias do Odzi, Alto Save, Baixo Save, Baixo Save Oci-dental, Macheke, Budzi e do Devure.

A Lei da Água prevê a nomeação de um Gestor da Bacia que é um funcionário da Autoridade Nacional dos Recursos Hídricos do Zimbabwe, (ZINWA).

O Gestor da Bacia (GB) é responsável pela gestão e administração diária das questões do Concelho da Bacia. Por conveniência, as funções do Con-celho da Bacia são delegadas para o escritório do GB, conforme adequado, no curso normal da acti-vidade. O GB desempenha as suas funções sob a direcção do Concelho da Bacia com a supervisão de ZINWA.

Em termos da Lei de Águas, as funções principais do Concelho da Bacia estão resumidas a seguir.

1. Preparar um Plano da Bacia (PB) para o sistema do rio.

2. Determinar e emitir licenças de uso da água.

3. Regular e fiscalizar a aplicação dos direitos de uso da água.

4. Assegurar o cumprimento da Lei e fiscalizar os concelhos das sub-bacias (CSB).

O CSB é o braço operacional do CB na regulação e fiscalização da aplicação dos direitos da água na área para a qual foi estabelecido.

Para além das suas responsabilidades de secretariado e de aconselhamento, o Gabinete da Bacia do Save da ZINWA tem outras funções centrais relacionadas com serviços de engenharia para a provisão do abasteci-mento de água, recolha e análise de dados hidrológicos bem como controlo da poluição.

Cooperação Bilateral

O instrumento chave para a cooperação bilateral em águas internacionais na região da África Autral é o Pro-tocolo Revisto sobre Cursos de Água Partilhados na SADC. Em primeiro lugar, aborda questões chave de gestão dos recursos hídricos relacionadas com o uso equitativo e sustentável dos recursos hídricos partilha-dos. Para atingir estes nobres objectivos, o protocolo prevê o estabelecimento de comissões dos cursos de água, também designadas Comissões Conjuntas dos Recursos Hídricos para administrar os acordos inter-estatais dos recursos hídricos e fornecer aconselha-mento técnico. A Comissão Conjunta dos Recursos Hídricos (CCRH) para o Rio Pungoé foi criada em Dezembro de 2002. As suas funções centrais são de aconselhar os Estados sobre medidas e disposições para determinar a água potencialmente disponível, os níveis de utilização, a demanda razoável, dados e infor-mações relevantes, critérios de conservação, distribu-ição e utilização sustentável e prevenção da poluição dos recursos hídricos comuns.

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Cerimónia de assinatura do Projecto Pungoé

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DESENVOLVIMENTO FUTURO DOS RECURSOS HIDRICOS

Desenvolvimento dos Recursos Hídricos

A perspectiva de desenvolvimento da Bacia do Rio Pun-goé depende de várias questões, algumas das quais não estão directamente nas mãos da população da bacia e de dimensão macro-política e económica. No entanto, ambos os países adoptaram, recentemente, políticas que têm como objectivo a promoção de um desenvolvi-mento sustentável e o uso dos recursos hídricos como meio para combater a pobreza e apoiar o desenvolvi-mento económico noutros sectores da sociedade.

A agricultura é o principal sector económico na Bacia do Rio Pungoé em ambos os países. O potencial para uma expansão futura das actividades agrícolas na bacia é ampla, no entanto, a infra-estrutura hidráulica actual ape-nas tem capacidade para apoiar uma fracção do potencial de desenvolvimento. Está a verificar-se uma maior diver-sificação de culturas, apesar das culturas dominantes serem ainda o chá, o tabaco e a cana-de-açucar.

Não existem planos imediatos para grandes desenvolvi-mentos industriais na bacia devido, em parte, à falta de infra-estruturas de apoio. Os desenvolvimentos agro-industriais estão a crescer lentamente e têm potencial para aumentar em paralelo com o aumento da agricul-tura e das actividades de irrigação.

Os sistemas de abastecimento de água Urbano e Rural necessitam de grandes reabilitações e expansão para corresponder aos objectivos nacionais de uso eficaz da água e de níveis de cobertura. Tanto a Beira como Mutare apresentam perdas muito elevadas nos seus sistemas de distribuição.

O potencial de energia hidroeléctrica do Rio Pungoé em Moçambqiue deve ser encarado como uma possibili-dade interessante no contexto nacional e regional, uma vez que o sistema de energia está interligado com a Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Uma troca/exportação directa de electricidade entre Moçambique e o Zimba-bwe é outra possibilidade interessante.

As cheias são frequentes nas secções inferiores da Bacia do Rio Pungoé. As futuras barragens de irrigação e de energia eléctrica no Rio Pungoé podem, até certo ponto, mitigar os efeitos das cheias na bacia inferior, mas é também necessário instalar sistemas de pre-visão de e protecção contra cheias na bacia. O impacto no rio das actividades de mineração de ouro na bacia superior é um grande problema de uma perspectiva de qualidade da água no Rio Pungoé. O impacto é, actualmente, o problema ambiental mais evi-dente que necessita de atenção urgente.

O Parque Nacional da Gorongosa desempenharia um papel importante no desenvolvimento turístico da bacia, atraindo o eco-turismo, mas requer reabilitação e a actualização do seu estado. Os vales dos rios Pun-goé, Honde e Nyamakwarara e o Parque Nacional de Nyanga na bacia superior no Zimbabwe, com as suas montanhas e planaltos circundantes, constituem parte do cenário mais espectacular, variado e interessante de toda a África Austral e são um candidato ao estatuto de Herança Mundial.

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Participação das Partes Interessadas

A participação das partes interessadas e a consulta são elementos chave no desenvolvimento da Bacia do Rio Pungoé. É necessária uma abordagem participativa para chegar a um consenso para o desenvolvimento futuro e, assim, assegurar que os interesses e as preo-cupações das partes interessadas são levadas em con-sideração no processo de identificação e concepção de projectos e programas.

No Zimbabwe, os consumidores e outras partes inter-essadas estão organizadas no Concelho da Sub-Bacia do Pungoé, um órgão legal sob os auspícios da Lei da Água. Na parte Zimbabweana da Bacia do Rio Pungoé, o Concelho da Sub-Bacia do Pungoé está totalmente operacional, tem o seu próprio escritório em Hauna e dois funcionários remunerados. Na parte Moçambicana da Bacia do Rio Pungoé, a ARA-Centro, sendo uma instituição relativamente nova, estabeleceu recente-mente a Comissão da Bacia do Pungoé.

Estes fóruns das partes interessadas garantem que a informação sobre as demandas dos consumidores e de outras partes chega às autoridades dos recur-sos hídricos, enquanto a informação sobre regula-mentos e questões técnicas segue o caminho oposto. Os programas de desenvolvimento sobre, por exem-plo, a gestão da demanda de água, o abastecimento de água rural, a maior fiabilidade da agricultura de

sequeiro e a irrigação de pequena escala e a legaliza-ção dos mineiros de ouro informais devem ser inicia-dos através do processo de participação das partes interessadas.

O desenvolvimento da infra-estrutura de recursos hídri-cos envolverá, de preferência, um processo intensivo de consultas das partes interessadas, como parte da preparação dos estudos de viabilidade e das activi-dades de implementação. É necessário distinguir dois aspectos. O primeiro é o processo de consulta formal que qualquer desenvolvimento de infra-estruturas de tal magnitude requer, focando principalmente as partes directa ou indirectamente afectadas, como os utentes da terra e as comunidades residentes nas áreas afecta-das pela construção de barragens e respectivas albu-feiras. O segundo aspecto é que o desenvolvimento da infra-estrutura hidráulica, como parte de uma visão para o desenvolvimento económico local e regional, deve ser considerado como uma oportunidade para envolver as partes interessadas no processo de desenvolvimento económico.

Funções Institucionais e Acordos Bilaterais

As autoridades regionais dos recursos hídricos em Moçambique e no Zimbabwe, a ARA-Centro e a ZINWA Save, terão um papel chave no desenvolvimento con-junto dos recursos hídricos da Bacia do Rio Pungoé. Elas serão responsáveis pela gestão dos recursos hídricos em conjunto com as partes interessadas e por realizar as actividades chave dos programas de desen-volvimento. O crescimento geral no uso da água req-uererá também capacidade para exercer autoridade em termos de planificação, aprovação e fiscalização.

Para a gestão conjunta futura do Rio Pungoé existe uma necessidade adicional de um acordo bilateral abrangente entre o Zimbabwe e Moçambique. Ambos os países ratificaram o Protocolo Revisto sobre Cursos de Água Partilhados na região da SADC e foi estabel-ecida uma Comissão Conjunta dos Recursos Hídricos. Por conseguinte, o passo seguinte é um acordo base-ado, entre outros, na informação nesta monografia para a implementação de uma gestão integrada conjunta dos recursos hídricos na Bacia do Rio Pungoé.

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Encontro de partes interessadas no Dondo, Moçambique

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ABREVIAÇÕES, ACRÓNIMOS E DEFINIÇÕES

ARAs Autoridades Regionais de Águas de Moçambique

CB Concelho da Bacia

GB Gestor da Bacia

PB Plano da bacia

Estuário Uma secção do rio perto da foz que influenciada pelas marés

Fauna Animais

Flora Vegetação

Geologia Um estudo das rochas na crusta terrestre

PNG Parque Nacional da Gorongosa

Hidrologia Um estudo dos recursos hídricos superficiais e da sua variação temporal e espacial

CCRH Comissão Conjunta dos Recursos Hídricos

PAM Precipitação Anual Média

EAM Escoamento Anual Médio

Orografia Relevo

Fisiografia Relevo geral e a sua relação com o sistema hidrográfico

Monografia Informações e dados de base sobre as condiçõesdo Pungoé socio-económicas e biofísicas na Bacia

Curva de Relação física entre o nível das águas superficiais de um rio e ovazão respectivo caudal

CSB Concelho da Sub-bacia

Nível Nível das águas superficiais de um rio em relação a um zero (fundo) específico

ZINWA Autoridade Nacional de Águas do Zimbabwe

O PROJECTO PUNGOÉ

O Projecto Pungoé é financiado pela Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (Asdi) através de um acordo com o Zimbabwe e Moçambique. O projecto está a ser implementado sob os auspícios do Department of Water Resources (DWR), Zimbabwe, e da Direcção Nacional de Águas (DNA), Moçam-bique, em nome dos dois governos. As agências de implementação são: Autori-dade Nacional de Águas do Zimbabwe (ZINWA) através do Gabinete do Gestor da Bacia do Save e a Administração Regional de Águas do Centro (ARA-Centro), respectivamente.

O projecto recebe assistência técnica de um consórcio de empresas e instituições de consultoria lideradas pela SWECO International AB da Suécia. Estão listados a seguir os outros membros do consórcio.

• CONSULTEC – Consultores Associados, Moçambique

• IMPACTO – Projectos e Estudos de Impacto Ambiental, Moçambique

• UCM – Universidade Católica de Moçambique

• ICZ – Interconsult Zimbabwe, Zimbabwe

• ARCADIS Euroconsult, Holanda

• OPTO International AB, Suécia

• NCG – Nordic Consulting Group of Sweden

• SMHI – Swedish Meteorological and Hydrological Institute (Instituto Sueco de Meteorologia e Hidrologia)

Os resultados do projecto que são parcialmente apresentados neste relatório representam um esforço conjunto do Cliente, Agência de Financiamento e da equipa do Consultor listada acima. Reconhecem-se todas as contribuições para o projecto dos membros das organizações acima bem como de pessoas e organi-zações externas.

É possível obter informações sobre o Projecto Pungoé em www.pungweriver.net.

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BIBLIOGRAFIA

O Projecto Pungoé produziu os seguintes relatórios principais:

Relatório da Monografia do Pungoé (Abril 2004):

Relatório PrincipalAnexo I Recursos Hídricos SuperficiaisAnexo II Redes HidrométricasAnexo III Modelação e Qualidade dos Dados HidrológicosAnexo IV Recursos Hídricos Subterrâneos Anexo V Barragens e Outras Obras HidráulicasAnexo VI Qualidade da Água e Transporte de SedimentosAnexo VII Demanda de Água para Abastecimento e SaneamentoAnexo VIII Demanda de Água para Irrigação e FlorestasAnexo IX PescasAnexo X Áreas de Conservação, Vida Selvagem e TurismoAnexo XI Infra-estruturasAnexo XII Socio-economia

Relatório de Cenários de Desenvolvimento (Dezembro 2005):

Volume I Relatório PrincipalVolume II Actividades da Componente das Partes InteressadasVolume III Relatório TécnicoVolume IV Capacitação Institucional

Relatório da Estratégia Conjunta de GIRH (Novembro 2006)

CONTACTOS

Para obter informações adicionais sobre o Projecto Pungoé ou o trabalho de GIRH em curso na bacia, por favor contacte:

ARA-Centro - BeiraSr. Manuel Fobra, Directortel. +258 23 324168 or 324153fax +258 23 324163e-mail: [email protected]

ZINWA Save - MutareSr. Thomas Murinye, Gestor da Baciatel. +263 20 60926fax +263 20 62848e-mail: [email protected]

SWECO InternationalSr. Rikard Lidén, Director do Projectotel. +46 40 167281fax +46 40 154347e-mail: [email protected]

Sida (Asdi), MaputoSra. Gunilla Ölund Wingqvist, Responsável do Programa,Recursos Hídricos Regionaistel. +258 21 480300fax +258 21 480390e-mail: [email protected]

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CIDDI - UCM

ARACENTRO

A Estratégia Conjunta de Gestão Integrada dos Recursos Hídricos do Rio Pungoé (GIRH) é um esforço de cooperação entre os Governos do Zimbabwe e de Moçambique para criar um quadro de gestão equilibrada e sustentável e de desenvolvimento e conservação dos recursos hídricos da bacia do Rio Pungoé, com o objectivo de aumentar os benefícios económicos e sociais resultantes para as populações que vivem ao longo da bacia. Um elemento chave no desenvolvimento desta estratégia pelo Projecto reside na capacitação para a sua implementação e actualização de forma a facilitar uma gestão participativa eficaz por parte das autoridades e das partes interessadas. O Rio Pungoé é um curso de água partilhado pelos dois países.

O Projecto Pungoé é financiado pela Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (Asdi) através de um acordo com o Zimbabwe e Moçam-bique. Uma equipa de consultores da Suécia, Holanda, Moçambique e Zimbabwe, liderada pela SWECO International, realiza o estudo em conjunto com as agências de implementação no Zimbabwe e em Moçambique.

Esta monografia do Rio Pungoé faz uma introdução à Bacia do Rio Pungoé e é a base para a gestão dos recursos hídricos na bacia do rio. O relatório pretende fornecer ao leitor uma descrição geral da situação actual na Bacia do Rio Pungoé no que diz respeito ao enquadramento legal e institucional para a gestão dos recursos hídricos, demanda de água, opções de desenvolvimento e condições ambientais e socio-económicas.