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    PATRCIA TROIANI RUELA STUQUE

    FISIOPATOLOGIA DO ALCOOLISMO

    CENTRO UNIVERSITRIO DA FUNDAO DE ENSINO OCTVIO BASTOSSO JOO DA BOA VISTA, SP, 2008

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    PATRCIA TROIANI RUELA STUQUE

    FISIOPATOLOGIA DO ALCOOLISMO

    Monografia apresentada como requisitoda disciplina trabalho de concluso decurso, do curso de Cincias Biolgicas,ao Centro Universitrio da Fundao deEnsino Octvio Bastos, sob orientaodo Prof. Maurcio Jos CividiniMatthiesen.

    CENTRO UNIVERSITRIO DA FUNDAO DE ENSINO OCTVIO BASTOSSO JOO DA BOA VISTA, SP,2008

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    PARECER

    Este exemplar corresponde correo final do Trabalho de Concluso deCurso, do CURSO DE CINCIAS BIOLGICAS LICENCIATURA do Centro

    Universitrio da Fundao de Ensino Octvio Bastos, elaborado por PATRCIATROIANI RUELA STUQUE, e aprovada pela Banca Examinadora composta pelosprofessores MAURCIO JOS CIVIDINI MATTHIESEN Orientador, JUAREZGARZON REHDER Relator, em novembro de 2008.

    MAURCIO JOS CIVIDINI MATTHIESENOrientador

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    RESUMO

    O lcool uma droga lcita, que causa dependncia no humano, portanto h

    uma preocupao quanto a doena do alcoolismo, devido ao crescimento constantedas taxas de dependncia dessa substncia.

    Com base em referncias bibliogrficas, este trabalho mostra os efeitos que o

    lcool causa no organismo humano.

    O consumo abusivo de lcool traz limitaes funcionais, aumentando a

    freqncia de morbidades, levando a vrias conseqncias negativas.

    Ressaltamos que o alcoolismo no afeta somente o convvio social do

    alcolatra, mas como tambm sua fisiologia e a formao de um estado patolgico.O trabalho mostra que h um certo componente hereditrio da doena do

    alcoolismo.

    Buscamos compreender tanto as patologias ocorridas devido o consumo

    excessivo e crnico do lcool, como suas formas de tratamento.

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    ABSTRACT

    The alcohol is a legal drug that leads to addiction in the human, therefore

    there is a worry about the alcoholism disease, due to the constant growth of the

    addiction rate of this substance.

    With bibliographic references, this work shows the effects the alcohol causes

    in the human system.

    The abuse in the alcohol consumption brings functional limitation, increasing

    the frequency of deaths, taking to several negative results.

    We underlined that the alcoholism dont affect only the alcoholic social contact,

    but his physiology and the formation of a sick condition too.

    This work shows that there is a certain hereditary component of the

    alcoholism.

    We seek to understand as the sickness caused due to the chronic and

    excessive alcohol consumption, as the ways of treatment.

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    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1- OS DOZE PASSOS DE ALCOLICOS ANNIMOS ................... 30QUADRO 2- AS 12 TRADIES DE ALCOLICOS ANNIMOS .................... 31

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1- TRANSTORNOS RELACIONADOS AO LCOOL SEGUNDO O

    DSM-IV-TR .......................................................................................................... 13TABELA 2- DIAGNSTICOS DO DSM-IV-TR PARA INTOXICAO PORLCOOL .............................................................................................................. 15

    TABELA 3- DIAGNSTICOS DO DSM-IV-TR PARA ABSTINNCIA DELCOOL ..............................................................................................................

    17

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1- METABOLISMO DO LCOOL ........................................................ 11

    FIGURA 2- DOENA HEPTICA ALCOLICA ................................................. 19

    FIGURA 3- CIRROSE MICRONODULAR .......................................................... 21

    FIGURA 4- HEPATITE ALCOLICA AGUDA .................................................... 22

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    SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE QUADROS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE FIGURAS

    1- INTRODUO ............................................................................................... 1

    2- ALCOOLISMO ............................................................................................... 2

    2.1- HISTRICO ................................................................................................ 2

    3- EPIDEMIOLOGIA ........................................................................................... 4

    4- COMPLICAES SOCIAIS ........................................................................... 6

    5- FISIOLOGIA DO ALCOOLISMO .................................................................... 7

    5.1- SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) ..................................................... 7

    5.2- INTOXICAO ALCOLICA ...................................................................... 8

    5.3- ABSORO, METABOLISMO E EXCREO DO LCOOL ..................... 9

    6- PATOLOGIA DO ALCOOLISMO ................................................................... 12

    6.1- ALTERAES NEUROLGICAS .............................................................. 12

    6.1.1- INTOXICAO PATOLGICA ................................................................ 14

    6.1.2- BLACK-OUTS.......................................................................................... 14

    6.1.3- SNDROME DE ABSTINNCIA ............................................................... 15

    6.1.4- ALUCINOSES ALCOLICAS .................................................................. 17

    6.2- EFEITOS DO LCOOL NOS SISTEMAS ORGNICOS ............................ 18

    6.2.1- FGADO ................................................................................................... 18

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    6.2.1.1- ALTERAO GORDUROSA ................................................................ 19

    6.2.1.2- CIRROSE ALCOLICA ........................................................................ 20

    6.2.1.3- HEPATITE ALCOLICA AGUDA ......................................................... 21

    6.2.2- SISTEMA NERVOSO .............................................................................. 22

    6.2.3- SISTEMA CARDIOVASCULAR ............................................................... 23

    6.2.4- TRATO GASTRINTESTINAL ................................................................... 24

    6.2.5- MSCULO ESQUELTICO ..................................................................... 24

    6.2.6- SISTEMA REPRODUTOR ....................................................................... 25

    6.2.7- RINS ......................................................................................................... 25

    6.2.8- SISTEMA RESPIRATRIO ..................................................................... 25

    6.3- SNDROME DO LCOOL FETAL ............................................................... 25

    6.4- LCOOL E CNCER .................................................................................. 26

    7- IMPLICAES GENTICAS ......................................................................... 27

    8- TRATAMENTO .............................................................................................. 28

    8.1- TRATAMENTO MDICO ............................................................................ 28

    8.2- ALCOLICOS ANNIMOS ........................................................................ 29

    9- CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 33

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................... 34

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    AGRADECIMENTOS

    Depois de mais uma conquista na minha vida que esta graduao, quero

    expressar minha gratido queles que apoiaram e confiaram em mim.

    Ao meu pai Jos e minha me Glucia pelo amor, incentivo e fora que me derampara a concluso deste curso.

    Ao Murilo meu marido pela pacincia, serenidade e apoio que me deu durante estetempo.

    Aos meus avs pelo carinho e f que depositaram em mim.

    minha irm Thas que lutou junto comigo desde o comeo do curso. Ao meu irmoRodrigo por ter estado sempre ao meu lado.

    Ao meu tio Lus Carlos por ter me ajudado a conquistar este sonho.

    Ao Geraldo e a Rosana por acreditarem em mim; e a minha famlia pelocompanheirismo.

    s minha amigas Ana Elisa e Rosana que participaram dos momentos fceis edifceis desta jornada; e a todos amigos que caminharam comigo e me ajudaram naconcluso deste trabalho.

    Ao meu orientador Maurcio, pela sua dedicao, confiana e disponibilidade parame orientar neste trabalho. E a todos os professores que me auxiliaram no mesmo.

    Em especial, agradeo aos membros das irmandades de Alcolicos Annimos eNarcticos Annimos, que atravs de sua perseverana e boa vontade meinspiraram na realizao desta pesquisa.

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    1- INTRODUO

    Atravs de levantamento bibliogrfico, este trabalho tem como objetivo,

    abordar as conseqncias e complicaes fisiopatolgicas da doena do alcoolismo,mostrando assim os efeitos causados no corpo do indivduo devido ingesto

    crnica e contnua do lcool, observando as reaes do lcool em relao ao uso e

    abuso dessa substncia, levando em considerao que este hbito, pode ser

    altamente prejudicial sade, danificando o organismo do alcolatra.

    O lcool est includo nas relaes de drogas e causa dependncia. Seu uso

    em determinadas situaes pode ser chamado de alcoolismo (MINISTRIO DA

    SADE, 2008).O alcoolismo tem um comprometimento fsico, mental e social, e pode ser

    explicado como uma sndrome multifatorial (EDWARDS E GROSS, 1976;

    EDWARDS et al. 1976 apud BAU, 2002).

    O lcool a droga que mais causa danos sociedade, e o seu consumo

    uma causa significante de morbidade fsica. importante discernir as complicaes

    fsicas, para avaliar a gravidade da situao e promover um estmulo que influencie

    o comportamento de beber (FIGLIE, et al. 2004).Como substncia psicotrpica, o lcool afeta humor, julgamento,

    comportamento, concentrao e conscincia. Muitos dos consumidores crnicos so

    pessoas com mais de 60 anos de idade e adultos jovens (SMELTZER, et al. 2002).

    FIGLIE et al. (2004), relata que 80 a 85% das internaes por intoxicao em

    hospitais e clnicas psiquitricas so por abuso e dependncia de lcool.

    Atualmente so conhecidas diversas patologias associadas a questo,

    causadas pelo alcoolismo, neurolgicas, gastrintestinais, cardiovasculares e outras

    que afetam o organismo do alcolatra como um todo.

    2- OALCOOLISMO

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    Embora se condene o uso abusivo do lcool, seu consumo moderado aceito

    pela sociedade e a droga mais utilizada pelo homem (PEREIRA,2004).

    O consumo de lcool influenciado por hbitos culturais e religiosos, sendo

    heterogneo entre os diversos pases do mundo (CABRAL, 2000).

    A sndrome da dependncia do lcool, como tambm chamado o

    alcoolismo, se caracteriza por compulso por ingesto de lcool, perda de controle,

    dependncia fsica e tolerncia (MINISTRIO DA SADE, 2008).1

    O alcoolismo fundamenta duas fases que so o vcio do lcool e ingesto

    problemtica, que consiste no uso repetitivo de lcool. Os alcolatras tm uma

    primazia maior de distrbios psiquitricos durante a vida. Os principais critrios para

    a identificao do alcoolismo a dependncia fisiolgica que se manifesta pelasndrome de abstinncia, quando a ingesto interrompida; tolerncia dos efeitos do

    lcool; doenas ligadas ao lcool; fazer uso contnuo de lcool, mesmo tendo

    problemas fsicos e sociais; depresso; amnsia; deficincia profissional e social;

    odor de lcool; tremores, neuropatia perifrica; entre outros (EISENDRATH, 1998).

    2.1- HISTRICOAcredita-se que a bebida alcolica teve origem durante o Perodo Neoltico;

    h aproximadamente 10.000 anos o ser humano passou a ingerir e atribuir

    diferentes significados ao uso do lcool, a partir de um processo de fermentao

    natural (CISA, 2008).

    Segundo o Centro de Informaes sobre Sade e lcool (CISA), os solos da

    Grcia e de Roma eram ricos para a produo de uvas, portanto para a produo de

    vinhos. O vinho fazia parte das celebraes sociais e religiosas dos gregos e

    romanos, mas a embriaguez e o abuso de lcool eram censurados por esses povos.

    Os egpcios acreditavam que as bebidas alcolicas deviam ser usadas para

    combater germes e parasitas; deixaram papiros com as etapas de fabricao ecomercializao do vinho e da cerveja. Na Idade Mdia a Intoxicao Alcolica

    passou a ser considerada um pecado pela Igreja. Na Idade Moderna, comeou

    haver a fiscalizao dos cabars e tabernas, sendo estipulado horrio para

    funcionamento, pois nestes locais o uso de lcool participava dos debates polticos,

    1 Os problemas no precisam ocorrer juntos necessariamente.

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    inclusive na Revoluo Francesa. No fim do sculo 18, o uso excessivo de bebida

    passa a ser visto por alguns como doena. Durante o sculo 20, pases comeam a

    determinar a maioridade para o consumo de lcool. E em 1920 o estado Americano

    decreta a Lei Seca, que se caracteriza pela proibio da venda, troca, fabricao,

    transporte, importao, exportao, distribuio, posse e consumo de lcool, por 12

    anos. Somente em 1952 o alcoolismo foi considerado como uma doena, na

    primeira edio do DSM-I2. Em 1967, o conceito de doena do alcoolismo foi

    incorporado pela Organizao Mundial de Sade (CISA, 2008).

    3- EPIDEMIOLOGIA

    Vrios estudos tm sido feitos em relao ao uso e dependncia de lcool,

    mostrando que o abuso e ou dependncia de lcool est em destaque entre os

    diagnsticos psiquitricos considerados. Foi verificado tambm que o alcoolismo

    afeta 11 vezes mais os homens do que as mulheres (FIGLIE, et al.2004).

    2 Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

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    Embora as taxas de incidncia nos homens sejam maiores que nas mulheres,

    isto pode estar mudando. As mulheres demoram a buscar tratamento, e

    normalmente buscam em centros de sade mental e mdica, e no em centros de

    tratamento alcolico (EISENDRATH, 1998).

    Em sua obra, FIGLIE et al. (2004), revela que o lcool a droga mais utilizada

    entre os estudantes de 1o e 2o graus; cerca de 50% dos estudantes fizeram uso do

    lcool entre 10 e 12 anos; 28,61% dos alunos ingeriram lcool pela primeira vez em

    suas residncias, 21,8% ingeriram lcool oferecido pelos pais, 28,9% usaram bebida

    alcolica at se embriagarem e 23,81% por influncia de amigos; 19,5% relatam que

    haviam faltado escola aps beber e 11% que j haviam brigado aps ingesto de

    lcool.H dois tipos de alcoolismo. O primeiro tipo percebe-se uma influncia por

    fatores como baixo nvel de educao, pobreza e atinge os dois sexos, no havendo

    associao com histria familiar. J o segundo tipo est associado a uma forte

    histria familiar e a personalidade anti-social, tendo um ndice de ocorrncia mais

    alto em homens (MOTTA, 2005).

    Atualmente ocorre um assustador crescimento das taxas de alcoolismo, no

    s em adultos, mas tambm em crianas e adolescentes (MOTTA, 2005). E o lcool a principal substncia lcita que causa a dependncia e o abuso (LOUZ NETO, et

    al. 2007).

    De 8 a 15% das pessoas que consomem uma mdia de 120g de lcool,

    durante mais de 10 anos, desenvolvem a cirrose (FRIEDMAN, 1998). E motoristas

    embriagados esto envolvidos em 50% de todas as mortes por acidente de trnsito,

    aumentando para 75% se forem considerados somente as ocorrncias na

    madrugada. Cerca de 50% de todos os homicdios e 25% de todos os suicdios,esto associados ao uso e transtornos relacionados ao lcool. O lcool a primeira

    causa de morte associada ao uso de substncias, reduzindo em 10 anos a

    expectativa de vida (SADOCK, et al.2007).

    Os sistemas de sade muito se preocupam com a doena do alcoolismo, pois

    estima-se que 10 e 15% da populao mundial sejam dependentes (MINISTRIO

    DA SADE, 2008).

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    4- COMPLICAESSOCIAIS

    Para ARAJO (2008, p.89), O alcoolismo reflexo de uma perturbao

    social profunda com conseqncias pessoais e sociais amplas. O padro do

    consumo da bebida o causador dos problemas sociais do indivduo e no, o

    alcoolismo atingindo determinadas pessoas das quais as redes de relaes sociais,

    j estaria debilitada. Contudo, os defeitos da personalidade e as falhas de carter,

    seriam os sintomas do alcoolismo e no sua causa.

    Pessoas de todas as classes socioeconmicas podem apresentar transtornos

    relacionados ao lcool, sendo freqentes em indivduos com nveis socioeconmicos

    superiores e graus acadmicos avanados. Ao contrrio do que se imagina, os

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    alcolatras de rua estabelecem menos de 5% da populao com transtornos

    (SADOCK, et al.2007).

    Uma complicao social est relacionada ao fracasso, onde o alcolatra no

    cumpre adequadamente seu papel social desejado, resultando prejuzos para si

    mesmo e conseqentemente para outras pessoas (FIGLIE, et al.2004). A relao

    entre os transtornos relacionados ao lcool e da personalidade anti-social citada

    com freqncia. (SADOCK, et al.2007).

    Um elemento para constatar problemas relacionados ao uso de lcool uma

    baixa capacidade de se conter e alto nvel de angstia. Os alcolatras expressam

    deficincias no funcionamento interpessoal, violncia domstica, problemas no

    trabalho, habitao, dificuldades financeiras, crimes, dirigir alcoolizado e vitimizao(FIGLIE, et al.2004).

    Alguns ambientes sociais como dormitrios universitrios e bases militares

    levam ao consumo excessivo de lcool, sendo esse consumo em excesso ser

    freqente reconhecido como normal e socialmente esperado (SADOCK, et al.2007).

    5- FISIOLOGIA DO ALCOOLISMO

    O uso constante do etanol causa uma variedade de efeitos sistmicos, como

    a deficincia de vitaminas especficas (COTRAN et al, 2000), a secreo gstrica

    pela excitao reflexa dos terminais sensoriais na mucosa bucal e gstrica, epossivelmente implicando a liberao de gastrina (FIGLIE, et al. 2004), afetando

    sistemas neurotransmissores no Sistema Nervoso Central, prevalecente NMDA

    (principal sistema excitatrio do crebro), serotonina, dopamina e GABA (principal

    sistema inibidor do crebro) (LOUZ NETO, et al. 2007).

    Por sua ao sobre o receptor GABA-a, o lcool tem efeito ansioltico, que

    contribui para o desenvolvimento da dependncia. Contudo, devido sedao do

    sistema nervoso causada pelo lcool, aps o efeito relaxante inicial, acontecer uma

    excitao desconfortvel do organismo e o usurio ficar ainda mais ansioso

    (FIGLIE, et al. 2004).

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    A dependncia fsica vista quando a suspenso do uso causa sintomas e

    sinais, aps um perodo de intoxicao crnica (NITRINI, et al. 2003).

    5.1- SISTEMANERVOSOCENTRAL(SNC)

    Apesar de o etanol produzir um aumento da fluidez das membranas lipdicas,

    provvel que suas aes dependam de seus efeitos sobre canais inicos e

    receptores especficos da membrana. O efeito do etanol a nvel celular depressor,

    embora aumente a atividade dos impulsos em algumas partes do SNC, sobretudo

    nos neurnios dopaminrgicos mesolmbicos. As principais teorias sobre a ao do

    etanol so a potencializao da inibio mediada pelo GABA, inibio da entrada de

    clcio atravs dos Canais de Clcio regulados por voltagem e inibio da funo dos

    receptores NMDA (RANG, et al. 2001).

    Ao atuar sobre os receptores GABA-ao etanol potencializa a sua ao. No

    foi demonstrado nenhum efeito do etanol sobre a transmisso sinptica inibitria do

    SNC. Ao inibir a abertura dos Canais de Clcio sensveis voltagem nos neurnios,

    o etanol impede a liberao de transmissores em resposta despolarizao das

    terminaes nervosas. O etanol inibe os efeitos excitatrios do glutamato,produzindo efeitos depressores sobre o SNC (RANG, et al. 2001).

    5.2- INTOXICAO ALCOLICA

    O lcool j detectado no sangue, 5 minutos aps ser ingerido, sendo que a

    concentrao mxima atingida em 30 a 90 minutos. Os comas causados por

    intoxicao exgena so de aproximadamente 25% pelo alcoolismo (NITRINI, et al.2003).

    Na Intoxicao aguda a oxidao do etanol inibe o metabolismo de

    xenobiticos3 pelo sistema microssomal. O sistema microssomal induzido, na

    ingesto crnica. Se o indivduo se abstm ou reduz o uso de lcool, aumenta a

    capacidade de metabolizar xenobiticos; no entanto, se continua usando lcool, a

    competio persiste e o metabolismo de outras drogas pode aumentar ou no. O

    uso do lcool pode aumentar a toxidade de muitas substncias podendo ser

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    explicado pela sua ao sobre o REL (Retculo Endoplasmtico Liso) (PEREIRA,

    2004).

    A agressividade, hiperatividade e aumento da excitabilidade eltrica do crtex

    cerebral, que so alguns dos efeitos precoces do lcool, so causados pela inibio

    de certas estruturas subcorticais, que modulam a atividade cortical. O efeito se

    espalha envolvendo neurnios corticais, do tronco cerebral e neurnios espinais. A

    margem entre a depresso respiratria e a dose de lcool que produz anestesia

    muito estreita. E, nos casos de coma, necessrio emergncia mdica, e o alvo

    prevenir a depresso respiratria. Nos pacientes com alta concentrao de lcool no

    sangue, que igual ou superior a 500 mg/dl, deve se pensar em hemodilise, pois a

    administrao de insulina e glicose tem baixo valor prtico para baixar a alcoolemia(NITRINI et al, 2003).

    5.3- ABSORO, METABOLISMO E EXCREO DO

    LCOOLExistem mecanismos que protegem o corpo contra o lcool, como a secreo

    pelo estmago de muco e o fechamento da vlvula pilrica sempre quando a

    concentrao se mostra alta no contedo gstrico. Isto leva reduo da absoro,

    impedindo que o lcool passe para o intestino delgado onde no existem restries

    significativas absoro. Contudo, grandes quantidades de lcool podem ficar no

    estmago durante horas sem serem absorvidas. O espasmo pilrico, ento, muitas

    vezes resulta em nuseas e vmitos (SADOCK, et al. 2007).

    Ingerido, o lcool vai diretamente para o estmago e absorvida uma

    pequena poro. Do estmago vai para o intestino delgado, onde sua maior parte

    ser absorvida. O lcool atravessa as paredes do estmago e intestino delgado, e

    ganha a corrente sangnea e distribudo por todo o corpo (FIGLIE, et al. 2004).

    O lcool rapidamente absorvido no trato gastrintestinal por difuso simples.

    Facilmente o lcool penetra no sangue, crebro e placenta (WEXLER, 1998). O

    3 Os xenobiticos so agentes qumicos estranhos, sendo compostos que so alheios ao organismo (MURRAY,et al. 1994).

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    lcool acumula-se nos tecidos que apresentam maiores quantidades de gua; pode

    atravessar a placenta at a circulao fetal, por ser solvel tanto em gua quanto em

    gordura (FIGLIE, et al. 2004).

    rgos com pouco fluxo sangneo (msculos) apresentam nveis alcolicos

    menos elevados que os rgos com alta perfuso (crebro, pulmes e rins). A

    concentrao de lcool no sangue assemelha-se taxa do mesmo nos tecidos de

    grande parte, ou mesmo quase todo o corpo, com exceo da gordura, onde o

    lcool tambm dissolvido, gerando uma concentrao de lcool no sangue mais

    alta (FIGLIE, et al. 2004).

    Aproximadamente 80 a 90% do lcool absorvido entre 30 e 60 minutos aps

    a ingesto (WEXLER, 1998), e se o estmago estiver cheio, a absoro do lcool mais lenta, contudo todo lcool ser absorvido (FIGLIE, et al. 2004).

    O lcool circula pelo sangue aps segundos da ingesto, alterando o

    funcionamento do crebro aps meio minuto (ROYCE, 1981 apud DAVIDOFF,

    2001).

    Especialmente na ingesto leve ou moderada de lcool, o metabolismo do

    etanol no estmago, leva a oxidao de 20% da quantidade ingerida, diminuindo sua

    disponibilidade para os demais rgos e tecidos. Nas mulheres a capacidade demetabolizar o etanol no estmago menor, e nos alcolatras crnicos est

    diminuda (PEREIRA, 2004). Os bebedores habituais chegam a tolerar at 700

    mg/dl no sangue, j os bebedores ocasionais toleram nveis sangneos de lcool de

    200mg/dl. Neste ltimo caso ao alcanar nveis de 300 a 400 mg/dl, pode causar

    coma, morte e parada respiratria. Essa tolerncia pode ser compreendida por uma

    induo cinco a dez vezes maior da enzima de metabolismo dos xenticos do

    citocromo P-450 CYPZE1. Essa induo aumenta o metabolismo do lcool(COTRAN et al, 2000).

    O metabolismo se caracteriza pela converso de uma substncia ingerida em

    outras substncias, mais ou menos txicas do que a original (Figura 1). A primeira

    passagem de metabolismo que o lcool sofre no estmago, mas o fgado

    metaboliza de 90 a 98% do lcool. O fgado tem uma capacidade limitada de

    metabolizao, que cerca de 10g por hora, portanto o lcool circular pelo corpo,

    inclusive o crebro at que tenha tempo para metabolizar a quantidade ingerida de

    lcool (FIGLIE, et al. 2004). O etanol metabolizado pelo citocromo P-450

    (CYPZE1), catalase no fgado e acetaldedo pela lcool-desidrogenase na mucosa

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    gstrica e no fgado. A aldedo-desidrogenase converte o acetaldedo em cido

    actico. O metabolismo do etanol afetado por polimorfismos genticos da aldedo-

    desidrogenase. As mulheres podem apresentar nveis sangneos mais elevados de

    lcool do que os homens, ingerindo a mesma quantidade de etanol, logo, elas

    expressam nveis mais baixos de atividade da lcool-desidrogenase gstrica do que

    os homens. O metabolismo do lcool responsvel pela maioria de seus efeitos

    txicos (COTRAN et al, 2000).

    H um aumento de NADH, no metabolismo do lcool no hialoplasma,

    favorecendo a sntese de cidos graxos, reduzindo a atividade do Ciclo de Krebs,

    levando a um acmulo de acetil CoA, sendo outro fator que auxilia na sntese de

    triglicerdeos (PEREIRA, 2004).Somente 5 a 10% do lcool ingerido excretado pelos rins e pulmes

    (WEXLER, 1998).

    lcool etlico Acetaldedo Acetato(ou aldedo actico)

    ADH ALDHenzima lcool desidro enase enzima aldedo desidro enase

    Figura 1. Metabolismo do lcoolFonte: FIGLIE, et al. 2004. p.33

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    6- PATOLOGIA DO ALCOOLISMO

    DAVIDOFF (2001) afirma que, o uso de lcool sempre compromete a sade.

    estimado que o lcool reduz o tempo de vida do indivduo de 10 a 12 anos.

    O uso eventual ou permanente do lcool, tem efeito rpido sobre o

    comportamento humano (PEEL E DALONZO, 1973 apud CABRAL, 2000).

    Os efeitos do lcool danificam o corpo como um todo, pois age no SNC

    (Sistema Nervoso Central) e SNP (Sistema Nervoso Perifrico), cardiovascular e

    outros (LOUZ NETO, et al. 2007).

    O etanol, ou lcool um depressor do SNC, que ocasiona sonolncia,

    incoordenao, turvao da fala, alteraes sbitas do humor, agresso,

    beligerncia, grandiosidade e comportamento desinibido, assim como uma toxina

    direta para mltiplos sistemas. Sendo ingerido com exagero pode causar estupor,coma e morte (SMELTZER, et al. 2002).

    O Alcoolismo uma doena que se caracteriza por episdios de intoxicao,

    repetidos ou continuados (NITRINI, et al. 2003).

    Na tabela 1, pode se verificar os transtornos relacionados ao lcool segundo o

    DSM-IV-TR.

    6.1- ALTERAES NEUROLGICAS

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    O lcool sendo ingerido por longo tempo, causa fenmenos degenerativos

    nos neurnios. Essas degeneraes so decorrentes da ao lesiva dos steres

    etlicos formados pelo etanol com cidos graxos, por essas clulas no possurem

    desidrogenase alcolica (PEREIRA, 2004).

    O abuso de lcool causa diversas doenas neurolgicas, sendo algumas

    raras e de patognese certa (NITRINI, et al. 2003).

    TABELA 1 Transtornos relacionados ao lcool segundo o DSM-IV-TR

    Transtornos por uso de lcool

    Dependncia de lcool

    Abuso de lcool

    Transtornos induzidos pelo lcool

    Intoxicao com lcool

    Abstinncia de lcoolEspecificar-se:

    Com perturbaes da percepo

    Delirium por intoxicao com lcool

    Delirium por abstinncia de lcool

    Demncia persistente induzida pelo lcool

    Transtorno amnstico persistente induzido pelo lcool

    Transtorno psictico induzido por lcool, com delriosEspecificar-se:

    Com incio durante a intoxicaoCom incio durante a abstinncia

    Transtorno psictico induzido pelo lcool, com alucinaesEspecificar-se:

    Com incio durante a intoxicaoCom incio durante a abstinncia

    Transtorno do humor induzido por lcoolEspecificar-se:

    Com incio durante a intoxicaoCom incio durante a abstinncia

    Transtorno da ansiedade induzido por lcoolEspecificar-se:

    Com incio durante a intoxicao

    Com incio durante a abstinnciaDisfuno sexual induzida por lcool

    Especificar-se:

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    Com incio durante a intoxicao

    Transtorno do sono induzido por lcoolEspecificar-se:

    Com incio durante a intoxicao

    Com incio durante a abstinnciaTranstorno relacionado ao lcool sem outra especificao

    Fonte: DSM-IV-TRTM,2002. p. 226.

    6.1.1- Intoxicao Patolgica

    Segundo BRUST (1997), o termo intoxicao patolgica refere-se a uma

    excitao extrema sbita, com comportamento irracional ou violento at mesmo

    depois de pequenas doses de etanol.

    Mesmo o indivduo ingerindo uma pequena quantidade de lcool, mostra-se

    agressivo, com acesso de fria e logo aps acaba em sono profundo, e despertando

    no se lembra do ocorrido (NITRINI et al, 2003).

    Na intoxicao leve do etanol, observa-se o nvel de lcool no sangue de 0,05

    a 0,15%; que acarreta sintomas como a perda da atividade visual, descoordenao

    motora, decrscimo na ao de reao e mudanas na personalidade

    comportamento e humor. Nos nveis de 0,15 a 0,3% verifica-se perda dos sentidos,

    m coordenao muscular e fala inarticulada. De 0,3 a 0,5% de lcool no sangue, h

    uma severa intoxicao que se caracteriza por m coordenao motora, viso

    distorcida, hipotermia, nusea, vmito e eventualmente hipoglicemia e convulses.

    Acima de 0,4% os sintomas so de diminuio dos reflexos, hipertenso, diminuio

    da respirao, hipotermia e morte por falha respiratria ou circulatria (WEXLER,1998).

    Na ingesto alcolica intensa, pode ocorrer coma grave com depresso dos

    centros respiratrios e circulatrios, obrigando a utilizao de reanimao intensiva

    (CAMBIER, et al. 1999).

    De acordo com a Tabela 2, podemos ver os Diagnsticos do DSM-IV-TR para

    intoxicao por lcool.

    6.1.2- Black-outs

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    Os episdios de amnsia so chamados de black-outs, que ocorrem quando

    ingeridas grandes quantidades de lcool. O indivduo sbrio no se lembra de

    eventos que aconteceram durante a embriaguez (NITRINI, et al. 2003).

    Os black-outs caracterizam-se perda de memria transitria. Existem dois

    tipos que so a variedade fragmentria, sendo fragmentos de amnsia e a variedade

    em bloco, que caracteriza a amnsia densa e total. Durante a amnsia a pessoa

    realiza atividades sem parecer estar alterada ((FIGLIE, et al. 2004).

    TABELA 2 Critrios Diagnsticos do DSM-IV-TR para intoxicao por lcoolA. Ingesto recente de lcool

    B. Alteraes comportamentais ou psicolgicas clinicamentesignificativas e mal-adaptativas (p. ex., comportamento sexual ou

    agressivo inadequado, humor instvel, prejuzo no julgamento,prejuzo no funcionamento social ou ocupacional) desenvolvidasdurante ou logo aps a ingesto de lcool.

    C. Um ou mais dos seguintes sinais, desenvolvidos durante ou logo apso uso de lcool:

    fala arrastadaincoordenaomarcha instvelnistagmocomprometimento da ateno ou da memria

    estupor ou coma

    D. Os sintomas no se devem a uma condio mdica geral, nem somelhor explicados por outro transtorno mental.

    Fonte: DSM-IV-TRTM,2002. p. 226.

    6.1.3- Sndromes de Abstinncia

    O crebro se adaptou presena de substncia depressiva cerebral, no

    podendo funcionar de forma adequada sem ela, desenvolvendo assim, a abstinncia

    (SADOCK, et al. 2007).

    A Sndrome de Abstinncia est relacionada a tremores, delirium tremens e

    convulses. Esses quadros acontecem depois da absteno, relativa ou total de

    lcool, freqentemente entre 12 e 72 horas. Uma reduo relativa aos nveis

    sangneos do etanol pode antecipar a sndrome. As manifestaes acima podem

    ocorrer em vrias combinaes. O padro desses indivduos o bebedor peridico,

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    embora a abstinncia tambm possa ocorrer no bebedor crnico, que pare de beber

    (NITRINI, 2003).

    O delrio por abstinncia de lcool um estado txico agudo, ocorrendo aps

    ingesto intensa ou depois de ingesto prolongada de lcool, quando o indivduo

    cessa o uso. Dependendo da quantidade e por quanto tempo foi ingerido lcool

    que se pode saber a gravidade dos sintomas (SMELTZER, et al. 2002).

    A manifestao mais comum de abstinncia alcolica o tremor. Os sintomas

    podem se tornar mais intensos se o indivduo continuar sem ingerir lcool,

    alcanando seu auge de intensidade em 24 a 36 horas. Neste perodo, o indivduo

    pode ficar agressivo, apresentar a face vermelha, taquicardia, anorexia, irritabilidade,

    insnia e as conjuntivas injetadas, melhorando essa sintomatologia em poucos dias,contudo permanece a agitao por vrias semanas (NITRINI, 2003).

    Em 25% dos pacientes com tremor ocorrem alteraes da percepo. Podem

    ocorrer alucinaes, objetos podem ser vistos de formas distorcidas e sons e

    sombras podem ser mal interpretados. Aps um perodo de intoxicao crnica h

    uma propenso para o desenvolvimento de uma crise convulsiva, com um pico de

    incidncia entre 13 e 24 horas. Pode acontecer somente uma crise, porm na

    maioria dos casos ocorrem de 2 a 6 crises ou mais, e eventualmente o indivduopode entrar em estado de mal epiltico. Cerca de 1/3 dos indivduos que apresentam

    convulses, desenvolvem delirium tremens (NITRINI, 2003).

    O delirium tremens uma complicao do alcoolismo crnico, sendo que seu

    quadro est associado a alteraes psquicas e neurolgicas a uma sndrome geral;

    constitui-se em dois a trs dias (CAMBIER, et al. 1999).

    A imprevisibilidade do comportamento dos pacientes com delirium tremens,

    constitui um risco para si mesmos e para os outros. O delirium tremens pode resultarem morbidade e mortalidade, sendo uma emergncia mdica (SADOCK, et al.2007).

    O delirium tremens caracterizado por sinais de hiperatividade do Sistema

    Nervoso Autnomo (midrase, febre, taquicardia e sudorese), profunda confuso

    mental, iluso, alucinaes, tremores, agitao, insnia, e a mais grave e

    dramtica de todas as manifestaes de abstinncia alcolica. Na maioria dos casos

    o delirium tremens se cessa aps alguns dias. O delirium tremens termina

    fatalmente por hipertemia maligna, colapso circulatrio ou por complicaes

    infecciosas, em 5 a 15% dos casos (NITRINI, 2003).

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    A hiperexcitabilidade do Sistema Nervoso pode ser explicada, pois na fase

    inicial da abstinncia que de 7 a 8 horas, ocorre um aumento de pH sangneo por

    alcalose respiratria e uma queda na magnesemia (NITRINI, 2003).

    De acordo com a Tabela 3, podem ser verificados os Diagnsticos do DSM-

    IV-TR para Abstinncia de lcool.

    Tabela 3 Critrios Diagnsticos do DSM-IV-TR para abstinncia de lcoolA. Cessao (ou reduo) do uso pesado ou prolongado de lcool.

    B. Dois ou mais dos seguintes sintomas, desenvolvidos dentro dealgumas horas a alguns dias aps o Critrio A:

    1. hiperatividade autonmica (p. ex., sudorese ou freqncia

    cardaca acima de 100)2. tremor intenso3. insnia4. nuseas ou vmitos5. alucinaes ou iluses visuais, tteis ou auditivas transitrias6. agitao psicomotora7. ansiedade8. convulses de grande mal

    C. Os sintomas no Critrio B causam sofrimento ou prejuzo clinicamentesignificativo ao funcionamento ocupacional ou a outras reasimportantes na vida do indivduo.

    D. Os sintomas no se devem a uma condio mdica geral, nem somelhor explicados por outro transtorno mental.

    Especificar-se:Com perturbaes da percepo

    Fonte: DSM-IV-TRTM,2002. p. 226.

    6.1.4- Alucinoses Alcolicas

    Essa sndrome caracterizada por confuso, psicose paranide semtremores e sentidos embotados vistos na Sndrome de Abstinncia. Ela ocorre tanto

    durante a ingesto ou na abstinncia (EISENDRATH, 1998).

    A alucinao ocorre aps um perodo de pesado consumo alcolico, e uma

    complicao da abstinncia. Costumam ocorrer com clara conscincia, so vvidas e

    de incio agudo, sucedendo 48 horas aps cessao ou diminuio do uso de lcool.

    Os pacientes exprimem ansiedade, agitao e medo. Normalmente se soluciona em

    algumas semanas, mas pode durar meses (FIGLIE, et al. 2004).

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    6.2- EFEITOS DO LCOOL NOS SISTEMAS ORGNICOS

    A dependncia e o abuso de lcool afetam mltiplos sistemas do organismo.

    6.2.1- Fgado

    As modificaes morfolgicas observadas nos hepatcitos de alcolatras

    crnicos so decorrentes das alteraes metablicas induzidas pelo etanol, que so

    o aumento de volume celular devido ao acmulo de protenas, de triglicerdeos, de

    eletrlitos e de gua; aumento do REL, causando aumento de volume celular;

    alteraes mitocondriais, reduzindo a capacidade funcional da mitocndria;

    alteraes na constituio da membrana citoplasmtica; aparecimento doscorpsculos hialinos de Mallory e necrose hepatocitria (PEREIRA, 2004).

    O uso crnico de lcool faz com que ocorra um desenvolvimento de varizes

    esofgicas, que pode sangrar de forma sbita e catastrfica, devido ao desvio do

    fluxo sangneo porta ao redor do fgado fibrtico (RANG, et al. 2001).

    O alcolatra acaba ficando desnutrido , por satisfazer grande parte de suas

    necessidades calricas com o lcool. A desnutrio crnica e toxicidade celular do

    etanol, que promove alteraes inflamatrias no fgado, acarretam alteraes

    hepticas dos alcolatras (RANG, et al. 2001).

    O etanol pode provocar Alterao Gordurosa, Cirrose e Hepatite Alcolica

    Aguda. (Figura 2).

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    Figura 2. Doena heptica alcolica. As inter-relaes da esteatose heptica,hepatite e cirrose so mostradas, alm da representao das caractersticasmorfolgicas fundamentais.Fonte: COTRAN, et al. 2000. p.780.

    6.2.1.1- Alterao gordurosa

    Ocorre devido ingesto de lcool e uma manifestao aguda e reversvel.

    O acmulo de gordura pode causar um aumento do fgado, no alcoolismo crnico.

    Os mecanismos bioqumicos do acmulo de gorduras nos hepatcitos so um

    aumento na liberao de cidos graxos livres para o fgado devido ao aumento do

    catabolismo dos lipdios nos tecidos perifricos; a forma oxidada da nicotinamida

    adenina-dinucleotdeo (NAD+), convertida pelo metabolismo do etanol nohialoplasma e de seu derivado, acetaldedo, nas mitocndrias, na forma reduzida

    (NADH). O excesso de NADH em relao ao NAD, ativa a biossntese de lipdios; a

    oxidao dos cidos graxos pelas mitocndrias diminui; ocorre menor transporte de

    lipoprotenas do fgado, visto que, o acetaldedo forma produtos de adio com a

    tubulina e compromete a funo dos microtbulos (COTRAN et al, 2000).

    6.2.1.2- Cirrose alcolica

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    A cirrose heptica caracterizada anatomicamente pela presena de ndulos

    que se projetam no fgado, e considerada a fase final e irreversvel da hepatopatia

    alcolica, podendo ser definida como uma fibrose heptica disseminada com

    formao de ndulos, sendo um fenmeno que se segue necrose de hepatcitos

    (CABRAL, 2000).

    Cerca de 10 a 15% dos alcolatras desenvolvem cirrose alcolica ou leso

    heptica irreversvel, devido alta ingesto contnua do lcool. A formao de

    microndulos de hepatcitos em regenerao, circundado por densas faixas de

    colgeno, fgado endurecido e contrado, so caractersticas da cirrose alcolica. A

    cirrose alcolica uma doena grave e fatal, seguida de consuno muscular,

    hemorragia gastrintestinal, ascite, fraqueza e coma. Inicialmente, verifica-sedeposio de colgeno por clulas estreladas perissinusoidais, que so as clulas

    de Ito, nos espaos de Disse, com fibrose perissinusoidal. O efeito txico direto do

    lcool ou de seus metablitos que pode causar a estimulao da sntese de

    colgeno pelas clulas de Ito. Pacientes com cirrose tem sua vulnerabilidade leso

    oxidativa aumentada, pois apresentam depleo das reservas hepticas de -

    tocoferol (COTRAN et al, 2000).

    Na Figura 3, pode ser verificado em corte histolgico um fgado com cirrosealcolica.

    Figura 3. Cirrose micronodular (corante tricmico de Masson). A arquitetura heptica deformada por ndulos de hepatcitos em regenerao, circundados por densasfaixas de tecido fibroso de colorao azul.Fonte: COTRAN, et al. 2000. p.369.

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    6.2.1.3- Hepatite alcolica aguda

    A hepatite alcolica se caracteriza por necrose parenquimatosa do fgado, e

    inflamao aguda ou crnica, que so levados pelo uso do lcool; sendo precursora

    da cirrose (FRIEDMAN, 1998).

    uma forma reversvel de leso heptica. Embora no haja sintomas na

    alterao gordurosa, com exceo do aumento de tamanho do fgado, a hepatite

    alcolica pode provocar febre, hipersensibilidade heptica e ictercia. Podem ser

    observadas reas focais de necrose dos hepatcitos, e a leso celular causada por

    acmulos de gordura e corpsculos hialinos alcolicos atravs de exame histolgico.

    Um acmulo de neutrfilos ocorre ao redor dos focos de necrose. Um efeito txico

    direto do lcool representado pela hepatite alcolica. Considera-se que seja

    mediada pela leso mitocondrial, o acetaldedo e aumento de produo de espcies

    reativas de oxignio atravs da atividade induzida do citocromo P-450, reduz a

    depleo da glutationa. Podem atuar como neo-antgenos e estimular uma resposta

    imune, os produtos de acetaldedo-protena. A necrose hepatocelular inicia ao redor

    da veia central, propondo que a hipxia pode colaborar para essa leso (COTRAN et

    al, 2000).

    A Figura 4 mostra um fgado com hepatite alcolica aguda em corte

    histolgico.

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    Figura 4. Hepatite alcolica aguda. Os hepatcitos exibem acmulo de gordura ematerial hialino (seta) no citoplasma. Verifica-se a presena de um infiltradoinflamatrio difuso.Fonte: COTRAN, et al. 2000. p.368.

    6.2.2- Sistema Nervoso

    A dependncia e os efeitos depressores agudos originados pelo lcool

    podem estar relacionados com alteraes na transduo de sinal e a fluidificao

    dos fosfolipdios da membrana. Em alcolatras crnicos geralmente existe a

    deficincia de tiamina. A deficincia crnica de tiamina contribui para a glicosereativa, atrofia do cerebelo e dos nervos perifricos e degenerao das clulas

    nervosas. Ocasiona a sndrome de Wernicke, que se caracteriza por ataxia,

    alterao da cognio, oftalmoplegia e nistagmo. Alguns alcolatras apresentam a

    sndrome de Korsakoff, que tem como caracterstica uma grave perda da memria, e

    acredita-se que o processo resulte de uma combinao de deficincia de tiamina e

    toxicidade (COTRAN, et al. 2000).

    Na intoxicao aguda do etanol, pode ser percebida, a fala arrastada,

    descoordenao motora, aumento da autoconfiana e euforia (RANG, et al. 2001).

    No Sistema Nervoso Perifrico h a presena de uma Neuropatia Perifrica

    caracterizada por alteraes de sensibilidade e fora, freqente no paciente

    portador do alcoolismo (LOUZ NETO, et al. 2007).

    Os efeitos que o lcool causa sobre o Sistema Nervoso Central (SNC),

    dependem do aumento da concentrao alcolica no sangue e quantidade da dose.

    Com 30mg% o indivduo j perde a habilidade de dirigir; 50 a 100mg% provoca

    mudana de comportamento e humor; 150 a 300mg% ocorre perda de autocontrole;

    e 300mg% j evidencia uma intoxicao (FIGLIE, et al. 2004).

    6.2.3- Sistema Cardiovascular

    O abuso crnico do lcool pode provocar uma doena degenerativa do

    msculo cardaco, que se caracteriza pela cardiomiopatia, resultando em dilatao

    do corao. desconhecido o mecanismo exato responsvel pela alterao dacontratilidade e pela leso do miocrdio, ainda que seja mais provvel que o

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    processo ocorra devido a toxidade direta do que a deficincia de tiamina (COTRAN,

    et al. 2000).

    Nos alcolatras crnicos mais comum a hipertenso, secundariamente aos

    efeitos vasopressores do etanol desencadeados pela liberao aumentada de

    catecolaminas (COTRAN, et al. 2000). A incidncia de insuficincia cardaca est

    relacionada ao uso de lcool (LOUZ NETO, et al. 2007).

    O etanol causa uma vasodilatao cutnea, que d a sensao de calor, e

    aumenta a perda de calor (RANG, et al. 2001). Doses moderadas causam

    vasodilatao, especialmente na pele, ocorrendo o rubor facial; e um pequeno

    aumento temporrio no ritmo cardaco. Grandes doses provocam uma captao de

    oxignio reduzido no crebro, com uma menor resistncia cerebrovascular eaumento do fluxo sangneo cerebral (FIGLIE, et al. 2004).

    6.2.4- Trato Gastrintestinal

    O consumo a longo prazo e pesado de lcool est relacionado ao

    desenvolvimento de esofagite, gastrite, acloridria e lceras gstricas. Uma

    emergncia mdica que resulta em morte por hemorragia so as varizes

    esofagianas, que se do devido o abuso crnico de lcool (SADOCK, et al. 2007).

    O consumo em excesso pode interferir nos processos de absoro alimentar

    e processos normais de digesto, assim como pode causar distrbios do intestino

    delgado, pancreatite, insuficincia e cncer pancreticos. Pode haver interferncia

    na absoro de nutrientes atravs do intestino (SADOCK, et al. 2007).

    O efeito txico direto do uso do etanol provoca a gastrite aguda. Os usurios

    crnicos de lcool so vulnerveis a pancreatite aguda e crnica, podendo proceder

    a destruio dos cinos e das ilhotas do pncreas. A destruio dos cinos

    pancreticos contribui para a deficincia de vitaminas e compromete a absoro

    intestinal de nutrientes (COTRAN, et al. 2000).

    Bebidas com alta concentrao alcolica provocam uma gastrite erosiva e

    inflamao do revestimento do esfago. Devido a intoxicao alcolica ocorre a

    parada das funes gastrintestinais secretoras e motoras (FIGLIE, et al. 2004). O

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    lcool pode provocar varizes de esfago e hipertenso portal, e o aumento da

    incidncia de cncer de esfago e na orofaringe. (LOUZ NETO, et al. 2007).

    H um aumento da secreo gstrica e salivar, que pode ser pela ao

    irritante do etanol ou mesmo pelo sabor (RANG, et al. 2001).

    6.2.5- Msculo Esqueltico

    A fraqueza muscular, dor e degradao da mioglobina, so conseqncias da

    leso dos msculos esquelticos, devido a toxidade direta do etanol (COTRAN, et al.

    2000).

    6.2.6- Sistema Reprodutor

    O uso crnico de lcool resulta em diminuio da fertilidade em ambos os

    sexos, e atrofia testicular. As mulheres que consomem lcool apresentam aumento

    do risco de aborto espontneo (COTRAN, et al. 2000). Verifica-se uma reduo na

    sntese de esterides testiculares e aumento na taxa de inativao da testosterona,

    portanto alcolatras crnicos so freqentemente impotentes e exibem sinais de

    feminilizao (RANG, et al. 2001).

    6.2.7- Rins

    A secreo de um hormnio antidiurtico diminuda pelo lcool. A

    concentrao de lcool no sangue proporcional ao efeito diurtico provocado, e

    ocorre quando os nveis esto subindo (FIGLIE, et al. 2004).

    6.2.8- Sistema Respiratrio

    A ingesto de grandes quantidades de lcool provoca depresso respiratria.

    Em quantidades moderadas, a respirao pode ser estimulada ou deprimida. Devido

    os defeitos nas respostas imunolgicas geradas pelo consumo de lcool, h umexcesso de infeces respiratrias (FIGLIE, et al. 2004).

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    6.3- SNDROME DO LCOOL FETAL

    A incidncia no mundo da Sndrome do lcool Fetal, de cerca de 30% das

    crianas nascidas de mes alcolatras (RANG, et al. 2001).

    A sndrome do lcool fetal foi descrita pela primeira vez em 1968. Ela

    representada como uma conseqncia trgica do consumo materno de lcool, com

    apenas 1 dose por dia. Caracteriza-se essa sndrome por defeito de crescimento e

    desenvolvimento, incluindo desmorfologia facial e malformao do crebro,

    microcefalia, malformao do sistema genitourinrio e do sistema cardiovascular. H

    uma hiptese de que o acetaldedo, um metablito do etanol, atravessa a placenta e

    provoca leso do crebro fetal, assim como, a alterao na liberao de

    prostaglandinas, e no fluxo sangneo placentrio provoca hipxia e retardo do

    crescimento do feto (COTRAN, et al. 2000).

    Os efeitos da Sndrome do lcool Fetal se caracterizam por reduo da

    circunferncia craniana; retardo mental e anormalidades comportamentais; olhos

    afastados; fissuras palpebrais curtas e malares pequenos (RANG, et al. 2001).

    Crianas afetadas apresentam irritabilidade e pouca coordenao muscular

    (WEXLER, 1998).

    Verifica-se que o feto se mantm muito quieto no tero, com alta incidncia de

    crescimento ps natal retardado (EISENDRATH, 1998). Foi descoberto o lcool em

    um fluido amnitico, depois da ingesto de apenas uma nica dose ingerida pela

    me (WEXLER, 1998).

    Mulheres que estejam amamentando ou grvidas no devem consumir lcool.

    O lcool pode provocar desequilbrios hormonais aumentando o risco de

    anormalidades no feto (SADOCK, et al. 2007).

    6.4 - LCOOL E CNCER

    Uma incidncia aumentada de cncer da faringe, cavidade oral, fgado,

    esfago e, possivelmente mama est associada ao uso de bebidas alcolicas. O

    etanol no um carcingeno de ao direta, mas um de seus metablitos, o

    acetaldedo, pode atuar como promotor tumoral. A ativao metablica de outros

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    carcingenos bem como o estresse oxidativo pode ser aumentada devido induo

    das enzimas de metabolizao do citocromo P-450 pelo etanol. O uso crnico de

    lcool ocasiona deficincia de vitamina A e aumento da degradao de retinol pelo

    fgado, o que pode estar associado a uma incidncia aumentada de cncer

    (COTRAN et al, 2000).

    Com a intoxicao crnica do lcool, h um aumento do efeito carcinognico

    de muitas substncias, possivelmente pelo REL amplificado, que aumenta a

    produo de metablitos ativos a partir dos carcingenos ingeridos. Em alcolatras

    crnicos, maior a ocorrncia de cncer (PEREIRA, 2004).

    7- IMPLICAES GENTICAS

    H muitas discusses quanto ao alcoolismo ser ou no gentico (MOTTA,

    2005), contudo, vrias fontes sustentam a hiptese de que a hereditariedade

    contribui para a bebida em alguns alcoolistas (HOROWITZ E DUDEK, 1983;

    WIMER E WIMER, 1985 apud DAVIDOFF, 2001).

    Pode ser verificado um risco de 3 a 4 vezes maior de problemas com o lcool

    em parentes prximos de alcolatras, o que sustenta a concluso gentica. Existe a

    probabilidade de que diferentes fatores genticos ajam em famlias distintas para

    produzir o quadro de heterogeneidade gentica e que o transtorno seja a simples

    manifestao de eventos ambientais em algumas famlias. Outros dados em apoio

    s influncias genticas so que, gmeo idntico de alcoolista tem risco maior do

    que o gmeo fraterno; e que filhos adotados de alcolatras tm risco quatro vezes

    maior (SADOCK, et al.2007).

    Existem propostas de que h causas bioqumicas para o alcoolismo. Uma das

    teorias a deficincia da serotonina. O lcool pode ter um efeito bifsico sobre o

    metabolismo da serotonina, aumentando a atividade serotoninrgica e, aps a

    intoxicao, a atividade de serotonina cai a nveis subnormais, durante a intoxicao

    aguda. Portanto, os alcolatras, primeiro beberiam para se sentirem bem (serotonina

    alta), e depois com a serotonina baixa, beberiam para parar de sentirem mal, pela

    falta do que lhes traziam bem-estar. Uma outra teoria prope que haja uma

    capacidade reduzida de oxidar aldedos procedendo na superproduo de

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    compostos alcalides similares morfina. Talvez estas teorias estejam corretas, o

    que leva a uma heterogeneidade gentica para o alcoolismo (MOTTA, 2005).

    Segundo BUCHALLA (2007) apud ARAJO (2008), considera-se que 40 a

    60% da vulnerabilidade individual ocorra por fatores genticos. A enzima

    monoaminoxidade A, uma das substncias responsveis pelo equilbrio de

    dopamina no crebro; existe um gene associado sntese desta enzima. O indivduo

    que tem um funcionamento inadequado da enzima, sente um prazer maior ao usar a

    droga.

    8 - TRATAMENTO

    O tratamento para o alcoolismo pode ser atravs da desintoxicao, que a

    retirada do lcool; tomar medicamentos receitados por mdicos especializados, para

    ajudar a pessoa no retornar ao uso; e aconselhamentos individuais ou em grupo

    (MINISTRIO DA SADE, 2008).

    O tratamento requer ateno, tempo, exatido e pacincia (SMELTZER, et al.

    2002). Todos os tratamentos apresentam controvrsias, portanto o que funciona

    para um pode no funcionar para o outro (PARLOFF e cols., 1986 apud GABBARD,

    1998).

    8.1 - TRATAMENTO MDICO

    A reabilitao constitui em esforos continuados para aumentar e manter a

    abstinncia, ajudar o paciente a se reajustar ao estilo de vida sem o lcool e prevenir

    recadas (SADOCK, et al. 2007).

    O tratamento do alcolatra consiste na detoxificao da intoxicao aguda,

    recuperao e reabilitao. Normalmente os pacientes usam de mecanismos de

    defesa e negao (SMELTZER, et al. 2002).

    O paciente pode ser enviado a um centro de desintoxicao ou mesmo

    hospitalizado (SMELTZER, et al. 2002).

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    Estudos clnicos mostraram que o uso de drogas no tratamento do alcolatra,

    melhora o xito em manter a abstinncia do lcool, tendo poucos efeitos

    desagradveis (RANG, et al. 2001).

    Antes de o paciente procurar tratamento, ter que superar a negao,

    reconhecendo que tem um problema com a bebida. Para pacientes que tratam a

    dependncia do lcool como um problema social, e no um problema psiquitrico

    pessoal, mais aceitvel a terapia de grupo. So usados frmacos como

    Naltrexona, que diminui a avidez pelo lcool, auxiliando na conquista do objetivo da

    abstinncia, diminuindo o consumo de lcool e evitando a recada (KAPLAN, et al.

    1998).

    Normalmente os benzodiazepnicos so utilizados para aliviar a Sndrome deAbstinncia, a clonidina e o propranolol tambm so teis. O dissulfiram torna o uso

    de lcool desagradvel. O acamprosato semelhante da taurina e foi recentemente

    introduzido, usado para reduzir o desejo doentio do paciente (RANG, et al. 2001).

    Os aspectos psicolgicos e as variveis de personalidade so relevantes no

    tratamento de vrios pacientes alcoolistas (GABBARD, 1998).

    8.2 ALCOLICOS ANNIMOS

    ALCOLICOS ANNIMOS uma irmandade de homens e mulheres quecompartilham suas experincias, foras e esperanas, a fim de resolver seuproblema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo (A.A.,2002, p. 3).

    Deve ser reconhecida a importncia dos Alcolicos Annimos (A.A.), sendo

    que seus participantes so amparados 24 horas por dia, aprendendo que possvel

    participar de reunies sociais sem fazer uso de lcool, unindo a um grupo de amigossbrio e contando com um modelo de recuperao (SADOCK, et al. 2007).

    A experincia clnica tem mostrado que o (A.A) no adequado para todos os

    pacientes alcoolistas, pois funciona para aqueles que aceitam que no tm o

    controle para beber, e para aqueles que no possuem outros transtornos

    psiquitricos (GABBARD, 1998).

    No programa de Alcolicos Annimos (A.A) , sugerido que sigam os 12

    passos, para a recuperao individual do membro (Quadro 1). Raramente foi vistoalgum recair seguindo corretamente os caminhos de A.A (A.A, 1976).

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    Segundo A.A (1976), quando um alcolico se abstm, o que pode fazer

    durante anos, reage igualmente as outras pessoas. Mas, atravs de experincias de

    qualquer alcolico confirma que, ingerindo apenas uma vez bebida alcolica

    acontece algo, tanto mentalmente como fisicamente que faz com que seja

    impossvel parar de beber.

    Quadro 1 Os 12 Passos de Alcolicos Annimos

    Passo 1 Admitimos que ramos impotentes perante o lcool que tnhamosperdido o domnio sobre nossas vidas.

    Passo 2 Viemos a acreditar que um Poder superior a ns poderia nos devolver sanidade.

    Passo 3 Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas ao cuidado de Deus,na forma que O concebamos.

    Passo 4 Fizemos minucioso e destemido inventrio moral de ns mesmos.Passo 5 Admitimos perante Deus, perante ns mesmos e perante outro serhumano, a natureza exata de nossas falhas.

    Passo 6 Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todosesses defeitos de carter.

    Passo 7 Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeies.

    Passo 8 Fizemos uma relao de todas as pessoas que tnhamos prejudicado enos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

    Passo 9 Fizemos reparaes diretas dos danos causados a tais pessoas,sempre que possvel, salvo quando faz-lo significasse prejudica-las, ou outrem.Passo 10 Continuamos fazendo o inventrio pessoal e, quando estvamoserrados, ns o admitamos prontamente.

    Passo 11 Procuramos, atravs da prece e da meditao, melhorar nossocontato consciente com Deus, na forma em que O concebamos, rogando apenaso conhecimento de Sua vontade em relao a ns e foras para realizar estavontade.

    Passo 12 Tendo experimentado um despertar espiritual graas a estes passos,procuramos transmitir esta mensagem aos alcolicos e praticar estes princpios

    em todas as nossas atividades.Fonte: Adaptado de A.A.,1976.

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    As 12 Tradies de Alcolicos Annimos (Quadro 2), garantem a recuperao

    e estrutura organizacional do grupo (A.A., 1976).

    Quadro 2 As 12 Tradies de Alcolicos Annimos

    Tradio 1 Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar; a reabilitao

    individual depende da unidade de A.A..Tradio 2 Somente uma autoridade preside, em ltima anlise, ao nossopropsito comum um Deus amantssimo que se manifesta em nossa conscinciacoletiva. Nossos lderes so apenas servidores de confiana; no tm poderespara governar.

    Tradio 3 Para ser membro de A.A., o nico requisito o desejo de parar debeber.

    Tradio 4 Cada grupo deve ser autnomo, salvo em assuntos que digamrespeito a outros grupos ou a A.A. em seu conjunto.

    Tradio 5 Cada grupo animado de um nico propsito primordial o detransmitir sua mensagem ao alcolico que ainda sofre.

    Tradio 6 Nenhum grupo de A.A. dever jamais sancionar, financiar ouemprestar o nome de A.A. a qualquer sociedade parecida ou empreendimentoalheio Irmandade, a fim de que problemas de dinheiro, propriedade e prestgiono nos afastem do nosso objetivo primordial.

    Tradio 7 Todos os grupos de A.A devero ser absolutamente auto-suficientes,rejeitando qualquer doao de fora.

    Tradio 8 Alcolicos Annimos dever manter-se sempre no-profissional,

    embora nossos centros de servios possam contratar funcionrios especializados.Tradio 9 A.A. jamais dever organizar-se como tal; podemos, porm, criar juntas ou comits de servio diretamente responsveis perante aqueles a quemprestam servios.

    Tradio 10 Alcolicos Annimos no opina sobre questes alheias Irmandade; portanto, o nome de A.A. jamais dever aparecer em controvrsiaspblicas.

    Tradio 11 Nossas relaes com o pblico baseiam-se na atrao em vez dapromoo; cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal na imprensa, no rdioe em filmes.

    Tradio 12 O anonimato o alicerce espiritual das nossas tradies,lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princpios acima das

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    personalidades.

    Fonte: Adaptado de A.A., 1976.

    importante ressaltar que tanto os 12 passos quanto as 12 tradies so

    sugeridas, nada no programa imposto ao membro (A.A., 1976).

    O nico requisito para ser membro de A.A. o desejo de parar de beber,

    sendo que o membro no necessita pagar taxas ou mensalidades. Na tradio 7,

    diz que A.A. deve ser auto-sustentado, no recebendo contribuies de fora.

    Contudo, o membro faz doaes, se quiser e se puder, sem revelar o valor, para

    manter os servios de A.A. (A.A., 2002).

    O propsito primordial de A.A. se manterem sbrios e acolher outros

    alcolicos necessitando de sobriedade; no tendo vnculos a nenhuma religio,

    nenhum partido poltico e nenhuma organizao ou instituio, no entrando em

    controvrsias nem apoiando quaisquer causas (A.A., 2002).

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    9- CONSIDERAES FINAIS

    O alcoolismo atualmente considerado por muitos uma doena, que causa

    preocupao entre mdicos e rgos de sade, dado o aumento do nmero de

    casos.

    Sendo uma droga lcita, a populao aceita o uso de lcool, porm seu

    consumo provoca dependncia, e o seu abuso diversas patologias. Dada sua ampla

    distribuio social, o alcoolismo deve ser considerado como um grave problema

    social e de sade, necessitando uma poltica pblica de longo prazo e baseada na

    educao.

    O lcool afeta o alcolatra e todos ao seu redor, embora, o indivduo que faz

    uso, nem sempre esteja a par dos problemas que esto sendo causados.

    Pode-se verificar que a informao da populao sobre as patologias e

    implicaes pessoais e sociais relacionadas ao alcoolismo, seria to importante

    quanto as possibilidades de cura, inclusive em estgios crnicos.

    O tratamento mdico em conjunto com o de entidades no governamentais

    como os Alcolicos Annimos, tem surtido efeitos significativos, levando o alcolatra

    a uma nova possibilidade de uma vida sem beber.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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