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Monotipia25

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25ª edição da #RevistaMonotipia (revista virtual que trata das artes em geral e dos quadrinhos em particular).

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Monotipia

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25 É, pessoal... dois anos. Para co-

memorar esta data querida (pá e

tal...), preparamos esta edição

bacaníssma, cheia de gente boa.

Está imperdível.

Martins de Castro

Monalisa Marques

Editores

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Marco Bravo

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Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto

ilustrador.

Marco Bravo: Faço mestrado na Faculdade de Belas Artes

da Universidade do Porto, em Portugal, com muito trabalho

prático e teórico para desenvolver. Sou formado em Belas

Artes na EBA - Escola de Belas artes da UFRJ e, antes disso,

estudei em mais três outras faculdades. Dito assim, parece até

que sou um exemplo de carreira acadêmica, mas não é bem

assim. Nunca fui bom aluno, sempre me pareceu impossível

me concentrar nos estudos. A verdade é que não levei adiante

as primeiras faculdades. Só me graduei mesmo depois

dos 40! No ensino fundamental então fui uma lástima!...

Mas, na adolescência, fui salvo pelo SENAC Artes

Gráficas. Lá, encontrei um mundo novo e tive o prazer

de aprender com professores que se tornaram meus

amigos – e o são até hoje! Essa experiência no SENAC

me deu a qualificação necessária para trabalhar nos

mercados publicitários e editoriais, conseguindo bons

empregos nas áreas de criação e ilustração. Durante esse

tempo, criei um diversificado portfólio e, depois dessa

parte resolvida, pude me dedicar à vida acadêmica.

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MT: Quais são as suas principais influências, no que

se refere a movimentos e/ou artistas?

MB: São muitas é claro, um ilustrador vive de apreender. A

própria prática de buscar referências te leva a conhecer

grandes nomes. Eu vejo que há momentos. Aos 17 anos, vi

numa livraria o livro “Fairies” de Brian Froud, até então

desconhecido no Brasil. Fui arrebatado por esse livro e nunca

aproveitei uma publicação tão intensamente quanto essa...

hoje, aquela temática inusitada para a época virou lugar

comum, cheio de gente tatuada com suas figuras, mas

mesmo assim continuo encantado. Também já fui

apaixonado por Nick Bantock, por conta dos livros “Griffin

and Sabine”. Outra grande influência foi o Ilustrador John J.

Muth, este último, acredito que tenha sido uma das maiores,

guardo até hoje é a Graphic Novel “Dracula” que ele escreveu

e ilustrou. Atualmente, estou fascinado por Hans Bellmer e

toda a sua obra. Ele é meu atual guru. Faço muitas injustiças

ao citar apenas esses nomes, pois vivo também na

companhia de Man Ray, Jenny Saville, Marina Abramovic,

Francesca Woodman, Koppa, Gigger e mais, mais, mais...

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MT: Há alguma predileção no que se

refere a formatos e materiais?

MB: Não necessariamente. Até sou repreendido

por alguns amigos por usar aquarela em papéis

vagabundos... Particularmente, eu até gosto

quando um papel se enruga e perde seu formato

rígido para dar lugar ao indisciplinado

amassado. Uso de tudo. Claro que o óleo sobre

tela tem prioridade para o meu trabalho, mas

sempre que posso fujo das regras, tanto na arte

quanto na vida.

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MT: Como é a dinâmica de produção das suas

ilustrações?

MB: Acho que a chave para um bom trabalho é criar. O fazer

é importante, mas tento primeiro fazer na minha mente. Da

Vinci, no “Tratado de laPitura”, afirma que a arte é “cosa

mentale” e o pintor deve ser “universale”. Baseado nessa

desculpa tão erudita, dou-me ao luxo de pensar dias sobre

uma ilustração para realizar em apenas poucas horas. É

difícil explicar aos clientes que meu processo envolve um

longo tempo de “maturação mental”. Geralmente, eles acham

que nós fabricamos ilustrações em série, mas não é bem

assim, ou melhor, não deveria ser. E, na prática, sempre me

vejo a virar noites para entregar trabalho, pois a parte de

pensar antes de começar a por as mãos na massa é

indispensável.

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MT: Quais costumam ser suas

preocupações narrativo-descritivas, no

que concerne à construção de um ritmo

visual, em suas ilustrações?

MB: É uma pergunta chave. Se quisermos

sistematizar o processo produtivo da ilustração,

primeiro encontraremos uma variedade

multifacetada de demandas. Vou me ater ao

universo editorial, onde, acredito com toda

convicção, que a ilustração deve por princípio ser

autônoma e não simples reprodução visual de um

texto ou ideia literária. Ouso mesmo em dizer

que quanto menos relação narrativo-descritiva

tiver, mais enriquecedor é o trabalho. Não

consigo entender um ilustrador que faz apenas o

que lhe é pedido, um ilustrador tem o dever de

acrescentar ao discurso, não pode ser uma figura

que apenas executa um trabalho, é mais. Já vi

coisas inacreditáveis. Acho pior quando vejo

ilustrações finamente rebuscadas que apenas

seguem o texto. Isso acaba depondo contra, não

vale de nada. Em contrapartida, ilustrações

“muito mais simples” ganham vida quando

suscitam leituras independentes. Eu parto do

princípio de que se entendes a leitura de um

texto, não precisas de uma ilustração para

mostrar do que se trata. A ilustração é um dado

novo, vivo e autônomo. Enfim, nada de legenda...

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MT: O que você tem produzido para além

de ilustrações?

MB: Pinto muito. No ano de 2012, apesar de

estar em Portugal, meu trabalho tem sido

exposto, tanto por aqui, em Paris, e muito no

Brasil. Ganhei uma medalha de ouro no primeiro

salão de artes plásticas que participei no início do

ano e, no segundo salão de artes, uma de prata aí

no Brasil, no concorridíssimo salão do Clube

Militar, nesse último fiquei realmente surpreso,

pois minha pintura, que é muito contemporânea,

chegou muito longe num salão supostamente

“tradicional”. Sinal dos tempos mesmo.

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MT: O que você tem lido ultimamente?

MB: Por conta dos estudos, leio muitos trabalhos

de arte e textos de artistas, mas me interesso

mesmo por livros sobre ciências e coisas assim.

Hoje, os autores científicos têm conseguido

escrever de uma maneira muito mais acessível

para nós leigos, em palavras simples e de fácil

compreensão. Um grande exemplo foi o livro “O

andar do bêbado” que, apesar do poético título, é

um livro que fala de matemática e estatísticas...

(?) Pois é, eu sempre fui um péssimo aluno,

especialmente de matemática, mas devorei esse

livro como um tubarão na frente de uma carcaça.

Conheça mais do Trabalho do Marco em

http://bravostudio.com.br/pt/

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Trilogia à Arte

André Lasak

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Arte do pó que sustenta

TERRA

Arte do nó que sustenta

LAÇO

Arte do solo que sustenta

CHÃO

Arte do polo que sustenta

IMÃ

Arte do colo que sustenta

SONO

Arte do pulo que sustenta

SALTO

Arte da sola que sustenta

CALÇO

Arte da perda que sustenta

DOR

Arte da pena que sustenta

ASA

Arte do vento que sustenta

VOO

Arte da cena que sustenta

TRAÇO

Arte da queima que sustenta

FÓSFORO

Arte da cana que sustenta

ÁLCOOL

Arte do nada que sustenta

TUDO

Arte do tudo que sustenta

NADA

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A arte

não está

No quadro

não está

No esquadro

não está

No desenho

não está

Na musa

não está

Na escultura

não está

Na moldura

não está

Na criatura

não está

No criador

não está

No coração

não está

Na beleza

não está

Na tristeza

A ARTE ESTÁ ONDE VOCÊ QUER VER ONDE VOCÊ POSSA VIR A SER

ARTE

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Arte em fato

Artefato ilusório

Do tempo numa tela

Da tela a óleo

Espreita uma face

Entre faces entre olhos

OLHOS

Observam tempos remotos

Conservam semblantes mortos

Tortos amorfos observatórios

Do tempo sobram

Papéis amarelados

Ideias repensadas

Mitos lendários

Mistérios insolúveis

Segredos intrincados

Sonhos não

ACABADOS

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Daniel Werneck

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Monotipia: para começar, fale sobre sua forma-

ção, enquanto ilustrador.

Daniel Werneck: Comecei a desenhar como qualquer

criança, rabiscando a parede de casa. Depois comecei a

concentrar esse esforço todo em pedacinhos de papel,

que eu pacientemente dobrava grampeava. Lá pelos sete

anos já fazia réplicas completas dos gibis que ganhava

dos adultos, com capa, logomarca de editora, preço, co-

luna do editor e tudo mais.

Em 1998 entrei na Escola de Belas Artes da UFMG, onde

me formei em Belas Artes com habilitação em Cinema de

Animação. Depois também comecei a habilitação em

Gravura, mas interrompi o curso quando passei no mes-

trado em artes, na mesma escola. Terminei o doutorado

em 2010, quando já atuava como professor nessa mesma

escola.

Também fiz um curso de quadrinhos com o italiano Pie-

ro Bagnariol, quando era adolescente, que me ajudou

bastante naquela época. Depois de passar muitos anos

estudando sozinho em livros e copiando os quadrinhos

que admirava, foi ótimo conhecer um quadrinista de

verdade, e também vários colegas iniciantes. Aquilo

me incentivou a continuar fazendo meus quadrinhos.

Na mesma época também trocava muitas cartas com

fanzineiros do Brasil inteiro, era uma época muito

legal, e bem antes do acesso à internet se tornar uma

coisa comum em casa, eu já tinha todos esses amigos

em vários estados do Brasil, trocando zines, fitas cas-

sete, revistas repetidas e desenhos originais. Sinto

falta dessa época; Facebook é divertido, mas nada se

compara a receber envelopes pelo correio quase todos

os dias, cheios de desenhos e novidades.

MT: Quais influências, no que se refere a mo-

vimentos e/ou artistas,você identifica no seu

trabalho?

DW: Isso é um assunto complexo! Acho que me tor-

nei pesquisador acadêmico e professor justamente por

ser meio obcecado em pesquisar referências e a histó-

ria da arte. Tenho tantas influências que é difícil apon-

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tar apenas algumas. O que faço normalmente é trabalhar

orientado a projetos: cada coisa nova que começo tem

uma pasta de referências própria, onde vou depositando

tudo o que acho que faz sentido ali. Por exemplo, adoro o

trabalho do Lorenzo Mattotti, mas se estou desenhando

um mangá de samurais, dificilmente aquele estilo colori-

do e pintado dele vai me ser útil.

O que gosto de fazer é misturar influências e referências,

pois é assim que se encontra novas formas de fazer as

coisas, assim se desenvolvem os olhares mais interessan-

tes. Por exemplo, nesse quadrinho de samurais que estou

fazendo agora, estou buscando referências no expressio-

nismo alemão e naquilo que os nazistas chamaram de

"arte degenerada". Além de ser um estilo com o qual eu

me identifico, e que consigo fazer algo parecido (sou

grande fã do Egon Schiele por exemplo, e agora estou

descobrindo melhor a obra do Oskar Kokoschka), tam-

bém tem a ver com o que quero passar na história. O fato

de ter sido uma forma de representação visual proibida

pelos nazistas não me atrai apenas pessoalmente, mas

faz parte do conceito da história, então definitivamente é

uma influência para esse projeto específico. Mas ao

mesmo tempo também precisei da ajuda dos qua-

drinistas de guerra e terror dos anos 1960, filmes

sobre a guerra do Vietnã, xilogravuras japonesas do

século XIX, bandas de heavy metal contemporâ-

neas, camisetas de skate dos anos 1980, caligrafia

chinesa, a história do budismo na China, e muito

mais...

Quanto mais elementos diferentes consigo mistu-

rar, melhor para o resultado final. Essa nuvem de

referências me ajuda a pensar em tudo: na história,

nos diálogos, no design dos personagens, no mate-

rial de desenho, no formato das páginas, em tudo

mesmo. É uma forma de pensar diferente, não ne-

cessariamente visual, musical, ou verbal, mas um

meio-termo entre elas, uma espécie de nuvem de

idéias que mais tarde vai se consolidar na forma das

obras finalizadas.

Além disso tudo, existe uma beleza intrínseca quan-

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do se descobre que tantas coisas aparentemente

diferentes compartilham de uma mesma origem.

Os desenhos dos animadores da Disney dos anos

1940 se parecem muito com os estudos dos ex-

pressionistas alemães dos anos 1920, a pintura de

Van Gogh se parece muito com as gravuras japo-

nesas do século XIX, as capas dos discos de heavy

metal por sua vez refletem os memento mori da

idade média, e assim por diante.

MT: Há alguma predileção no que se refere

a formatos e materiais? (Se sim, quais? Se

não, por quê?)

DW: A questão dos materiais é um pouco mais

objetiva e pragmática, mas igualmente confusa.

Cada projeto exige um material diferente. Aprendi

isso por instinto, mas sedimentei esse conheci-

mento vendo uma entrevista do mestre Alberto

Breccia. Ele dizia que não podia escolher uma

única técnica e se prender a ela, porque ao fazer

quadrinhos, cada novo projeto é uma história di-

ferente, e cada história pede uma técnica que se

adeque a ela. Também é assim no mundo do cine-

ma de animação.

O ideal é conhecer o máximo de técnicas possível,

para ter sempre um repertório rico que pode se

adaptar a qualquer nova situação. Desenho, cola-

gem, pintura, técnicas digitais - vale tudo, desde

que a serviço da idéia por trás de tudo, do concei-

to do projeto, da história que precisa ser contada.

Em meu trabalho atual, como se trata de uma his-

tória de samurais e zumbis, estou procurando uti-

lizar materiais que dialoguem tanto com a arte

japonesa da época dos samurais (pincéis e tintas

de sumi-e) quanto com o mangá contemporâneo

(penas G e nanquim, retículas).

Quanto ao computador, só utilizo para finalização e

montagem de arquivos, letreiramento, coisas do tipo. É

como se fosse toda uma editora ou uma gráfica dos anos

1980, mas eu posso fazer tudo sozinho. Ele só interfere

no processo criativo porque é a principal ferramenta que

utilizo para pesquisar. Normalmente começo por ele,

coletando imagens de várias fontes na internet. Depois

vou para o reino do papel, com meus lápis e tintas, e só

volto na hora de scannear. Desenhar diretamente no

computador é algo que não entendo. Já fiz muito isso,

mas nunca me dei bem. Falta alguma coisa. Me sinto

tolhido, censurado, limitado. Seria como trocar uma

churrasqueira por um forno de microondas.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção dos

seus quadrinhos.

DW: Como disse antes, cada história tem sua técnica e

seu processo. No projeto atual ainda estou experimen-

tando qual vai ser a melhor maneira de trabalhar. Qua-

drinhos são uma coisa muito complexa, e cada pequeno

elemento interfere em todos os outros. Por exemplo, se

você define o tamanho final em que o livro será impres-

so, isso já direciona a escolha do tamanho dos originais,

a quantidade de quadrinhos que cabem em cada página,

quanto texto pode ser escrito em cada página, etc. A

complexidade da história também determina a técnica

de desenho a ser empregada - não faria sentido por

exemplo pedir ao Geoff Darrow desenhar um roteiro do

Chris Ware.

Como tenho um emprego complicado e dois filhos pe-

quenos que exigem muito do meu tempo, acabo produ-

zindo meus quadrinhos nos poucos espaços que tenho

entre uma tarefa e outra. Muita coisa acontece dentro do

ônibus, no intervalo das aulas, durante o banho, ou na

hora de dormir. Passo mais tempo criando os quadri-

nhos durante o sono do que sentado na prancheta. Atu-

almente trabalho com as páginas em formato A4 porque

são mais portáteis, e posso levá-las para todo lugar que

eu vou. É comum me encontrar desenhando com uma

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pranchetinha no colo, no sofá da sala, na cantina da es-

cola, no ponto do ônibus. É uma coisa bem de guerrilha

mesmo, faço o que dá na hora e no lugar que dá. Se eu

ficar esperando surgir a hora certa de fazer, ou o local

perfeito, nunca vou conseguir fazer nada.

Gosto de trabalhar sozinho porque meu processo é mui-

to caótico e acontece vinte e quatro horas por dia. Quan-

do a história está fluindo, só penso nisso o tempo intei-

ro. Esqueço de tomar banho, fico acordado a madruga-

da inteira pensando, depois caio da cama às oito para

anotar mais coisas. Passos horas enfurnado em bibliote-

cas, fazendo anotações, experimentando materiais. Pa-

rece que baixou um espírito, e fico possuído até a histó-

ria ficar pronta.

MT: Ok, vamo falar de samurais zumbis.

DW: Na hora em que tive a idéia, pareceu que foi por

acaso, subitamente, mas aos poucos fui lembrando de

todos os pequenos pedacinhos de coisas que foram se

juntando ao longo do tempo até formarem a idéia com-

pleta. Acho que tudo começou no tsunami que provocou

o acidente na usina nuclear de Fukushima. A reação de

algumas pessoas me deixou enojado, e mais uma vez fui

confrontado com a aparente diferença cultural que exis-

te entre ocidente e oriente. Mas será que ela existe mes-

mo? O Brasil tem a maior população japonesa fora do

Japão em todo o mundo: são 1.800.000 brasileiros ja-

poneses, quase o dobro do que existe nos Estados Uni-

dos.

Fui convidado a desenhar a capa para uma coletânea de

contos e poesias que seria lançada para angariar fundos

para as vítimas do acidente. Pesquisando sobre o tema,

decidi desenhar uma paisagem inundada, mostrando

apenas um portal shintoísta erguido sobre a água. Sain-

do dele, uma misteriosa mulher flutuava sobre a água.

Em primeiro plano, de costas, um enorme samurai com

uma armadura bem detalhada. A cena ficou com um

clima estranho que me agradou, era ao mesmo tempo

realista e surreal, masculina e feminina, fria e quente.

Mexeu comigo e com os editores que a aprovaram rapida-

mente.

Corta para o início de 2012, quando estava trabalhando

em algumas páginas para a revista MAD. Inspirado pelas

olimpíadas, desenhei uma série de ilustrações mostrando

como seria a atuação dos atletas zumbis em sua primeira

participação no evento. Entre várias piadinhas cretinas,

desenhei um zumbi cheio de flechas enfiadas no corpo, e

outro segurando uma espingarda. Falei sobre isso no

Twitter, em inglês, e na hora de digitar "shotgun" o dedo

escorregou e não apertou a letra t. Uma amiga apontou o

erro e ali nasceu o nome "shogun of the dead". Foi quan-

do veio a luz da inspiração e comecei a escrever o projeto.

Dali em diante, fiz um download de milhares de pequenos

elementos que se acumulavam no fundo da minha memó-

ria, como pequenas peças de um quebra-cabeças que es-

perava para ser montado. Me aprofundei no tema da rela-

ção cultural Brasil-Japão e descobri que alguns antropó-

logos argumentam que os povos desses dois países depen-

dem de uma mesma população vinda da Polinésia. A lín-

gua japonesa nativa é muito parecida com o tupi-guarani,

e o kuarup se parece assustadoramente com o sumô. Aos

poucos fui acrescentando elementos de outras obsessões

minhas: a segunda guerra mundial, filmes de kung fu,

Akira Kurosawa, Lobo Solitário, pincéis e penas, histórias

de terror de culturas não-cristãs, e assim por diante.

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Quanto aos zumbis samurais, as lendas orientais são chei-

as de assombrações e necromancia. Também existem mui-

tos tipos de personagens mortos-vivos que não são neces-

sariamente zumbis, como as múmias, os fantasmas e os

vampiros. Esse universo do limiar entre a vida e a morte é

muito rico na mitologia de toda a nossa espécie. A curiosi-

dade de saber o que acontece depois que morremos, e se

existe algo lá, ou se podemos conversar com os mortos,

tudo isso é fascinante para qualquer ser humano, mesmo

quando usado apenas como fantasia. No meu caso, uso

sempre como metáforas para alguma coisa: pessoas que

parecem que estão vivas, mas estão mortas por dentro;

soldados que voltam da guerra e, traumatizados, não con-

seguem mais lidar com o mundo dos vivos; pessoas que

convivem diariamente com a morte e passam a ter uma

visão diferenciada sobre esse tema; pessoas que não usam

o cérebro adequadamente e agem sempre sob o comando

de outras, obedecendo ordens sem questionar suas pró-

prias ações, etc.

MT: Sobre o Shogum dos Mortos, como foi a

pesquisa de referências históricas, do visual e

da linguagem dos personagens?

DW: À medida em que as idéias foram saindo da

memória para as anotações, comecei a me aprofun-

dar em pesquisas mais direcionadas.

A primeira coisa a fazer era decidir: como fazer um

quadrinho de samurais depois de Lobo Solitário? É

uma das maiores obras da história dos quadrinhos.

Ou eu tentaria fazer igual, e ficaria no máximo pare-

cido, uma cópia medíocre, ou então eu teria que en-

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contrar uma nova maneira de lidar com esse tema

nessa linguagem. Fui atrás de outros quadrinhos de

samurai, e encontrei um pouco de tudo. O realismo

naturalista de "Vagabond" me deixou um pouco en-

tediado. Preferi o exagero de "Blade of the Imortal",

que além do desenho mais solto também tinha essa

temática dos mortos e vivos. "Lady Snowblood" tam-

bém ajudou a refrescar o estilo para mim. Encontrei

um quadrinho italiano desenhado pelo mestre Sér-

gio Toppi, e me lembrei dos mangás brasileiros fei-

tos pelo Júlio Shimamoto e pelo Cláudio Seto.

Então chegou a hora de misturar outras influências.

Para fazer um quadrinho de zumbis samurais real-

mente bom, eu não poderia fazer nem um quadrinho

de zumbi, nem um quadrinho de samurais. Precisa-

ria ser uma terceira coisa. Foi então que comecei a

puxar elementos dos quadrinhos de guerra, e de ter-

ror. Minha principal referência nesse campo são os

quadrinhos da E.C., e alguns artistas que trabalha-

ram neles, especialmente Jack Davis e Bernie Krigs-

tein. Também gosto muito de uma revista que teve

apenas 4 edições, chamada "Blazing Combat", que

recentemente foi reunida em um livro único, lança-

do inclusive no Brasil.

Por cima disso tudo, algumas influências mais pon-

tuais, mas que foram úteis: Hugo Pratt, Mike Migno-

la, Alex Toth, Paul Grist, Bill Sienkiewicz...

MT: Quanto tempo levou dos primeiros ras-

cunhos até a HQ ganhar o mundo?

DW: Eu comecei a rabiscar o samurai da capa do

livro em meados de 2011, e os zumbis da MAD foram

no primeiro semestre de 2012. Em agosto de 2012

eu estava esperando a Lei de Incentivo à Cultura

abrir seu edital, mas ele foi atrasando, atrasando... No fi-

nalzinho de outubro eu fui ao Fest Comix em São Paulo, e

ver aquela multidão de gente curtindo quadrinhos me deu

o empurrão que estava precisando. Enchi uma cesta da-

quelas com mangás e outros quadrinhos, e levei a pilha de

papel para estudar em casa. Foi então que eu reli um de

meus quadrinhos favoritos, que não lia há muitos anos: o

arco "Chemako", do Ken Parker. Eu gosto tanto daquela

história, que lê-la reforçou minha crença nos quadrinhos.

Foi ali no avião, voltando para Belo Horizonte, que decidi:

preciso fazer esse projeto acontecer. Então no comecinho

de Novembro de 2012 eu comecei a rabiscar e escrever o

projeto mais a sério, ignorando a Lei de Incentivo.

Decidi fazer o financiamento por crowdfunding não ape-

nas porque a Lei de Incentivo estava demorando, mas

também porque eu precisava saber se o livro teria leitores,

e quem seriam eles. Saber que existiriam um número X de

leitores esperando para ler os capítulos a cada mês me da-

ria um senso de propósito essencial para completar a tare-

fa hercúlea que ainda tenho pela frente.

Então fiz os desenhos e testes de design e materiais em

Novembro e Dezembro de 2012. Mandei o projeto final

para o Catarse no finalzinho do ano, quase no reveillon.

Terça-feira, dia 15 de Janeiro, quando o projeto for lança-

do no site deles, estarei começando a desenhar a primeira

página do livro, e vou continuar nesse ritmo até o lança-

mento dele, em Novembro de 2013.

MT: Quais são suas preocupações narrativas no

que concerne ao ritmo da história?

DW: Me preocupo muito com vários pequenos elementos

que podem fazer uma página funcionar ou fracassar.

Um deles é o conceito de spread. Eu nunca penso uma pá-

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gina isolada. Quando a pessoa abre o livro, ela vê

sempre duas páginas ao mesmo tempo, uma ao lado

da outra. Eu preciso considerar que o primeiro qua-

drinho da página da esquerda é o primeiro do spread,

e ele vai ser lido até o último quadrinhos da página da

direita.

Também levo em consideração o ato de virar a pági-

na. Isso pode funcionar como se fosse um corte ou

uma transição na linguagem cinematográfica. Dentro

da página, posso ter um tempo mais lento, com pou-

quíssima coisa acontecendo de um quadrinho para o

outro, mas quando a página é virada, isso é um trau-

ma maior no fluxo do tempo, e deve ser levado em

consideração.

Outra coisa importantíssima é a composição dos qua-

drinhos e das páginas. Os balões de texto também

precisam ser levados em consideração, a ordem de

leitura deles precisa ser clara e conduzir o olhar do

leitor. O que vem dentro deles também é essencial: a

fonte precisa ser bem legível, ter um bom tamanho, e

com boas margens em relação à linha de contorno do

balão. Evito dividir palavras usando hífen, e também

procuro usar letras maiúsculas e minúsculas para fa-

cilitar a leitura.

Tenho usado um termo muito importante em quadri-

nhos que é "compressão", ou seja, a quantidade de

história enfiada em cada página. O tempo nos quadri-

nhos é muito flexível, de um quadrinho para outro

pode se passar 1 ano ou 1 segundo, só depende do au-

tor definir isso. É preciso criar um ritmo preciso, o

quadrinista tem que ser um maestro que regula o ti-

ming da história, acelerando e desacelerando, com-

primindo e descomprimindo dependendo do que a

história pedir.

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MT: O que você tem produzido para além dos

quadrinhos?

DW: Eu sou professor de animação na UFMG, e traba-

lho como curador do FIQ. Fora isso, todos meus outros

projetos estão suspensos por causa do Shogum dos Mor-

tos. Morro de saudades das minhas bandas de rock e de

fazer filmes, mas no momento, preciso me concentrar

100% nesse projeto. É o único jeito de conseguir executá-

lo.

MT: Por que quadrinhos?

DW: Eu sempre gostei muito de desenhar e de contar

histórias. Cinema de animação também é uma ótima

maneira de contar histórias com imagens, e com som

também, que é algo com que gosto muito de trabalhar.

Mas animação custa muito caro e demora muito para

produzir. Histórias em quadrinhos são algo que eu posso

fazer sozinho, e só custa o preço de algumas folhas de

papel, lápis e canetas.

Além disso, a cena de quadrinhos é muito mais emocio-

nante. Se você fizer um filme de animação, o máximo

que você vai conseguir é projetá-lo em alguns festivais,

passar na televisão, ou na internet. Por mais que milhões

de pessoas vejam seu filme, é uma coisa muito impesso-

al. Eu gosto de quadrinhos, gosto de ir na gráfica impri-

mir os livros, depois levá-los até uma grande festa, e ven-

der os objetos um a um, olhando no olho dos leitores,

apertando a mão deles, autografando e desenhando

nos livros. O retorno é muito mais real. Além disso

existe toda uma comunidade muito unida e divertida

de leitores, quadrinistas, jornalistas, organizadores

de festival - algo que nunca encontrei nos festivais de

animação que já freqüentei.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultima-

mente? E o que além deles?

DW: Eu procuro manter uma dieta equilibrada: 40%

quadrinhos que são diretamente ligados à pesquisa

do Shogum dos Mortos, 40% quadrinhos de boa qua-

lidade em geral, independentemente de serem in-

fluências para o projeto ou não, e 20% de qualquer

coisa que aparecer pela frente. Esses 20% eu supro

com webcomics, tirinhas, coisas do tipo. Ultimamen-

te eu não tenho lido nenhuma, a não ser o Ryotiras,

do Ricardo Tokumoto, que é minha favorita atual-

mente. Gosto demais do trabalho dele, e o livro ficou

muito bom.

Olhando aqui em volta, os quadrinhos que encontro

espalhados pelo meu escritório nesse exato momento

são: Lobo Solitário (Koike, Kojima), Yamato (Leiji

Matsumoto), East Coast Rising (Becky Cloonan), um

DVD sobre o Cláudio Seto, Time² (Howard Chaykin),

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Judge Dredd, O Homem e Seus Símbolos,

(organizado pelo Jung), Crepúsculo dos Ídolos

(Nietzsche), Um livro acadêmico sobre tudo que o

Nietzche escreveu sobre tragédia, From Hell(Moore,

Campbell), Casanova (Matt Fraction, com Gabriel Bá

e Fábio Moon) e Blazing Combat.

E estou acompanhando o garimpo que o Matt Frac-

tion está fazendo no blog dele, colocando os melhores

quadrinhos dos primeiros números de "Fantastic

Four" da época do Jack Kirby.

MT: Quais suas perspectivas para 2013?

DW: Acho que o FIQ 2013 vai ser maravilhoso, e vai

ter uma enxurrada de novos lançamentos. Muita gen-

te reclamou que 2012 foi uma droga, mas acho que

em 2013 vai ter muita coisa boa acontecendo. O lan-

çamento da editora "Offset" nos Estados Unidos é

apenas um exemplo do tipo de coisa nova que vamos

aproveitar. O mercado mundial está muito interes-

sante, tem muita coisa boa nova saindo nos EUA

(especialmente pela Image e pela Fantagraphics), na

Europa e no Japão. As micro-editoras estão aparecen-

do em todo lugar. Tem cada vez mais artistas comple-

mentando o trabalho mainstream com projetos para-

lelos. Enfim, muita coisa boa acontecendo!

Quanto a mim: vai ser um ano de dormir pouco e sonhar

muito. Desenhar como um louco e completar minha pri-

meira ""graphic novel"". Brincar mais com meus filhos.

Ajudar a organizar o melhor FIQ de todos os tempos. Fa-

zer um livro que dê orgulho não somente a mim, mas a

todos os leitores que estão me ajudando a construir esse

projeto com seu apoio moral.

Resumindo: só quero viver uma vida menos chata, e aju-

dar as pessoas a fazer o mesmo!

Saiba mais sobre Shogum dos Mortos em

http://issuu.com/shogumdosmortos

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Fefê

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Monotipia: Fale sobre sua formação, en-

quanto ilustradora e quadrinhista.

Fefê Torquato: Eu sempre desenhei como todo

mundo faz quando é criança, mas quando a maio-

ria parou eu continuei, de uma forma despretensi-

osa, por divertimento. Nunca pensei em trabalhar

com isso. Minha formação são cursos extracurri-

culares de arte que a minha escola oferecia duran-

te o 1o.s grau e mais tarde resolvi fazer um dos

cursos de Artes Plásticas da EMBAP (Escola de

Música e Belas Artes do Paraná) só pensando em

estudar mais sobre história da arte e continuar

desenhando. Mais tarde, precisando trabalhar ur-

gente, pensei sobre o que eu sabia fazer que pu-

desse render algum trabalho. Desenhar. Começou

assim, meio de má vontade, não sabia nada sobre

ilustração, em como ela poderia ser utilizada, e foi

como se surgissem mil novas possibilidades na

minha vida. Os quadrinhos vieram em seguida,

não lia quadrinhos quando era criança além da

Turma da Mônica, e quando voltei a desenhar sen-

ti a necessidade de usar os desenhos como uma

forma de comunicação, uma forma de dizer coisas que

eu não coseguiria de outra forma.

Recentemente eu ouvi que eu só escrevo sobre mim, e

é verdade. Por mais fantasiosa que seja uma história

minha, ela sempre será inspirada em algum fato real,

que eu tenha presenciado ou vivido.

MT: Quais influências, no que se refere a movi-

mentos e/ou artistas,você identifica no seu tra-

balho?

Fefê: A arte moderna é o meu período preferido da

arte. Eu me inspiro em vários movimentos deste perío-

do, o impressionismo, cubismo, fauvismo. Quando eu

era pequena adorava Salvador Dalì, ficava delirando

nas imagens das pinturas dele na hora do recreio, era

como um universo paralelo, mas também dividia esse

tempo com os livros de 3D então acabei superando

essa fase! Depois na adolescência passei pela fase do

Klimt, acho que muito ilustrador passa por essa fase,

ainda gosto bastante mas não é mais minha maior re-

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ferência, hoje eu o considero meio exagerado em alguns

pontos. E agora meus preferidos são Matisse e Picasso.

Eu não sei qual influência deles no meu trabalho, é uma

coisa tão distante, noutro nível artístico, que eu nem ou-

so!! Mas uma coisa que eu tento aprender com eles é a

ousadia. Ter coragem de errar, de experimentar e de ou-

sar sem temer o erro. Eu disse que eu tento, não que eu

consigo! Em relação à ilustradores eu gosto muito do

trabalho do Jim Flora pra Columbia Records e pra RCA.

Como eu não consigo fugir do geométrico, da linha reta e

do traço forte, e me inspiro muito nele. Também admiro

muito o trabalho do Saul Bass, eu tenho uma queda gi-

gantesca pela estética dos anos 50, minimalista, gráfica e

com um uso genial da cor. E outro cara que eu sigo regu-

larmente é o Liniers. O trabalho dele é uma combinação

de sensibilidade e humor como eu raramente vi por aí.

Eu me inspiro também na literatura, Machado de Assis,

Nelson Rodrigues, Luis Fernando Veríssimo, pode pare-

cer um grupo incoerente mas eles têm em comum o hu-

mor, o que eu acho imprescindível em qualquer situa-

ção.

MT: Há alguma predileção no que se refere a for-

matos e materiais?

Fefê: A ilustração digital é o maior conforto, com o ctrl-z

ali não tem coisa melhor. Mas eu estou tentando voltar

aos poucos a usar técnicas mais artesanais, lápis, nan-

quim, aquarela, canetas, lápis de cor. Já pintei muito com

guache, acrílica e tinta à óleo, e nunca fui naturalmente

boa com pintura. Nunca tive a paciência necessária. Mas

também antes as expectativas eram outras, era um curso

de Artes Plásticas, a gente tinha que mirar longe, muito

longe. Com a ilustração eu me sinto muito mais livre, e ao

mesmo tempo mais próxima de fazer algo interessante.

Então quero voltar a pintar. Uma coisa que também me

interessa bastante é o grafite, mas ainda tive poucas

oportunidades de brincar com isso, quem sabe mais pra

frente.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das su-

as ilustrações e HQs.

Fefê:Eu não tenho um método, até onde eu reparei. Ali-

ás eu sou muito desorganizada e desperdiço bastante

tempo. Tenho muitas ideias de hqs, todas semidesenvol-

vidas anotadas num caderninho. Quanto melhor a ideia

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mais tempo eu me enrolo pra passá-la pro papel, co-

mo eu disse antes, as expectativas me atrasam muito.

Algumas eu escrevo em forma de conto, e depois te-

nho um segundo trabalho para adaptá-las aos quadri-

nhos, o que me atrasa mais um pouco. Tenho menos

imaginação no que diz respeito à ilustração, eu preciso

de uma história. Eu não tenho o costume de desenhar

toda hora, como eu vejo por aí com vários ilustrado-

res, que carregam pra cima e pra baixo sketchbooks,

morro de inveja, mas é como ficar jogando papo fora

eu não consigo, só faço as coisas com um objetivo. E

depois eu fico meio constrangida em desenhar em pú-

blico... Eu tento me soltar um pouco com projetos co-

mo o Diário Ilustrado que eu tenho feito todo dia des-

de novembro do ano passado. Não que a minha vida

seja interessante a ponto de precisar ser registrada, eu

só comecei a fazer o diário pra tentar não ser tão exi-

gente e crítica comigo mesma. Eu quero simplesmente

produzir, por no papel de vez, sem cobrança. Quem

sabe agora eu não finalize enfim as minhas hqs enca-

lhadas!

MT: Quais costumam ser suas preocupações

narrativas, no que concerne à construção de

um ritmo visual, em suas HQs?

Fefê: O meu desenho é geométrico, e um tanto duro,

eu penso. Por isso a história tem que ser fluida. E uma

coisa muito importante pra mim é o humor. Não a

comédia, mas o humor. Esse seria o elo de comunica-

ção entre a ilustração e o texto, bom isso seria o ideal e

é o que eu quero alcançar um dia. Até agora eu só ter-

minei uma pequena hq, "Vendavais", e fiquei muito

longe desses objetivos... Quem sabe na próxima eu me

aproximo. No mais são tirinhas sobre a vida. Eu sou

bem menos exigente em relação a elas. Meu traço é

bem cartum, e até certo ponto eu acho divertido. Co-

mo a GataGarota por exemplo, a GataGarota é a mi-

nha versão da Mulher Gato. É só brincadeira, pra rir,

ou sorrir pelo menos. Então eu não me cobro tanto a

perfeição e experimento mais, o que às vezes dá certo

e às vezes não.

MT: O que você tem produzido para além dos

quadrinhos?

Fefê: Quando eu não desenho, eu desenho, e quando

eu não desenho eu escrevo, e quando eu não escrevo

eu estudo música. Minha vida é praticamente feita de

hobbies. Eu faço minhas tirinhas e sonho em fazer di-

nheiro com isso. Eu estudo música e sonho fazer uma

carreira disso. Mas nesse exato momento eu só matuto

por ideias de como divulgar o meu trabalho para assim

conseguir mais trabalho. É um ciclo vicioso! Contanto

que ele rode pra frente...

MT: Por que quadrinhos?

Fefê: Eu acho que toda pessoa que escolhe alguma

carreira artística está em busca de alguma forma de

comunicação. Eu sei que eu estou. Acho que essa é uma

forma que eu encontrei pra dizer coisas que eu não

consigo expressar de outra forma. É como eu enxergo o

mundo, é o meu ponto de vista. Pra mim é sempre au-

toral, mesmo inventado. Não sei se eu vou fazer algu-

ma coisa relevante com isso, minha ambição nesse sen-

tido sempre foi destinada à música, e tamanha ambi-

ção só conseguiu diminuir o prazer em fazer música.

Por isso agora meu maior objetivo é muito pessoal e

próximo, quero fazer o que eu gosto, da forma que eu

achar melhor e se eu acertar o alvo, ótimo! Mas não

vou mais me guiar por isso.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamen-

te? E o que além deles?

Fefê: Eu leio muita webcomic. Pra citar alguns: Ryan

Andrews (www.ryan-a.com) escreve uns quadrinhos

muito malucos e intrigantes. Sam Alden

(gingerlandcomics.tumblr.com) também tem um traço

que eu invejo. Tem um francês que é meu grande ídolo,

chamado Gilles Roussel, ele assina Boulet

(www.bouletcorp.com) e escreve no blog dele sobre as

coisas mais comuns do cotidiano mas de uma maneira

inteligente, inspiradora e super engraçada! Também

tem a Kate Beaton (www.harkavagrant.com) que é ge-

nialmente engraçada. E tem um cartunista chamado

Francisco Javier Olea (oleismos.blogspot.com) que tem

cartuns muito bons que eu acompanho sempre. No

mais os únicos livros que eu tenho lido são sobre histó-

ria da música, "História da Música Ocidental" de Do-

nald J. Grout e Claude V. Palisca, por exemplo. É a ter-

ceira vez que eu leio e sempre decubro algo novo! Eu

adoro história de uma maneira geral, e acho que todo

mundo que gosta mesmo de música deveria ler este

livro ouvindo todas as referências, é uma experiência

incrível!

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Conheça mais do Trabalho da Fefê em

http://www.blogdafefe.com.br/

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Thais

Gualberto

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Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto

ilustradora e quadrinhista.

Thais Gualberto: Aqui em casa sempre tive acesso aos

quadrinhos dos meus irmãos e dos meus pais. Antes

mesmo de começar a ler, eu folheava os gibis da Turma

da Mônica, depois comecei a ler Mafalda, Maria (do

Henrique Magalhães), Peanuts e o que mais encontrasse

pela casa, além de Menino Maluquinho, Senninha, Bar-

bie... Criança gosta de quadrinho, mesmo quando não

entende o que se passa. Aí já na infância eu comecei a

fazer quadrinhos. Criei um personagem chamado Bago

(cujo traço, guardadas as devidas proporções, era uma

cópia da Turma da Mônica) e uma editora chamada Co-

xo, onde além do Bago eu fazia também alguns livros

infantis. Mas parei na infância mesmo. Só retomei esse

negócio de fazer quadrinhos e editoração depois dos vin-

te.

Eu não sou ilustradora, nunca vendi um desenho, acho

que ainda preciso melhorar muito. Nunca fiz nenhum

curso de desenho, mas também não pretendo. Tenho

medo de ficar engessada. Lá pela adolescência, quando

comecei a assistir animes e ler mangás, voltei a desenhar.

Foi a época em que eu treinei mais. Até hoje tento me

libertar da influência do traço do mangá, mas de vez em

quando me pego fazendo uns olhos grandes e uns narizes

pequenos. Aí passei quase dez anos sem desenhar, então

não evoluí muito de lá pra cá...

Nessa época eu fiz umas dez tirinhas com situações base-

adas na minha vida, mas eu não investia em material,

então a arte não ficava muito boa e eu ficava frustrada,

desistia logo. Sem contar que achava muito trabalhoso

desenhar, cobrir, escanear... Sou meio preguiçosa. Mas

em 2009 fiz a primeira tirinha da Olga e curti muito. Os

meus amigos também curtiram e quando eu me dei con-

ta, estava gostando de fazer quadrinhos, então resolvi

levar o negócio a sério. Além do mais, na sua gênese a

Olga era extremamente simples, só cabelo, boca e óculos,

eu desenhava tudo com o mouse e a produção era mais

simples e rápida, eu podia fazer mais de uma tirinha por

dia, se quisesse. Depois que eu comecei a acrescentar

mais detalhes e quando eu comprei a mesa digitalizadora

comecei a fazer outras coisas além da Olga.

MT: Quais influências, no que se refere a movi-

mentos e/ou artistas,você identifica no seu traba-

lho?

TG: Não sei se eu utilizo deliberadamente influências de

outros artistas ou movimentos no meu trabalho. Eu faço

as minhas coisas dentro das minhas limitações, experi-

mentando uma coisa aqui, outra ali. Mas eu gosto de ler

os quadrinhos nacionais independentes. Gosto de ver as

inovações nos traços, nas linguagens. Isso me inspira.

Minhas leituras preferidas são as revistas tipo a Tarja

Preta, Prego, Golden Shower, Ragu. Tudo que a gente

apreende acaba servindo de referência, né? Mas sincera-

mente, não consigo identificar uma influência específica.

Talvez depois eu me lembre de algo, mas agora não me

vêm nada à cabeça. Os beats, quem sabe.

MT: Há alguma predileção no que se refere a for-

matos e materiais?

TG: Apenas pelo físico. Não gosto de ler no computador.

Mas quanto ao resto não, nenhuma.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das su-

as ilustrações e HQs.

TG: Eu tenho um problema sério para criar. Eu odeio

tudo que eu me esforço para criar. Sempre ando com um

caderninho na bolsa para anotar as ideias que eu tenho,

senão fico sem ideias para executar, porque eu não lem-

bro de nada. Antes de fazer quadrinhos eu escrevia con-

tos no meu blog e o processo era o mesmo. Por isso que

eu nunca consegui criar nada longo. Com quadrinhos

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também não. Aí eu geralmente acabo fazendo só tiri-

nhas ou no máximo alguma história de uma página. O

pior é que eu me condicionei a condensar o meu pensa-

mento em três quadros, então acaba se tornando uma

dificuldade hercúlea fazer algo diferente. Para a Sanitá-

rio #2 eu estou preparando uma história de nove pági-

nas, mas só porque fiz algo baseado em um conto anti-

go meu. Entretanto, tô fazendo só dois quadros por

página, então se eu mantivesse o esquema de seis qua-

dros por página seria uma história com apenas três

páginas.

MT Quais costumam ser suas preocupações

narrativas, no que concerne à construção de

um ritmo visual, em suas HQs?

TG: Geralmente minha preocupação é desenvolver

histórias que caibam em três ou seis quadros. Essa his-

tória nova pra Sanitário eu fiz um storyboard, mas ge-

ralmente nem isso, anoto apenas os diálogos. Meu úni-

co método é pensar na melhor maneira de distribuir as

informações nos quadros. É tudo meio instintivo.

MT: O que você tem produzido para além dos

quadrinhos?

TG: Trabalho com editoração numa fundação cultural

e tentei aprovar o projeto de um curta que eu escrevi

em 2009, mas já foi reprovado em dois editais. Então

basicamente, nada. De vez em quando escrevo alguns

poemas no meu blog, mas bem despretensiosamente,

não pretendo virar poeta. Estou bem focada nos qua-

drinhos, dentro e fora do Coletivo WC.

MT: Por que quadrinhos?

TG: Não sei. Sempre gostei de ler quadrinhos e em

alguns momentos da vida fazer também. Acho que o

fato de receber feedbacks positivos quando comecei a

fazer as tirinhas da Olga ajudou. De vez em quando al-

gum conhecido chega pra mim e diz "eu adoro a Olga!"

e eu adoro isso. Eu cresci em um ambiente artistica-

mente favorável e desde criança experimentei de tudo

um pouco. Desisti do teatro, desisti da música e com os

quadrinhos as coisas começaram a dar certo. Aí eu vi

que gostava de fazer aquilo. Quando eu queria traba-

lhar com cinema era muito frustrante pra mim porque

morando na Paraíba é difícil fazer cinema, aqui rola

mais na guerrilha. Como eu tenho uma filha pequena,

também ficava difícil sair daqui. Sem contar que o cine-

ma é que nem um esporte de equipe, tem muita gente

dependendo de você e se você fizer merda pode botar

tudo a perder. E eu nunca me dei bem nos esportes de

equipe, sempre pegava as bolas erradas. Com quadri-

nhos não, eu me sinto mais à vontade e posso fazer isso

de qualquer lugar do mundo.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamen-

te? E o que além deles?

TG: Acho que os últimos quadrinhos que eu li foram o

RyotIRAS Omnibus (do Ricardo Tokumoto. N.E.) e o

Muchacha do Laerte. Um dos maiores desafios da

minha vida atualmente é arranjar tempo para tudo que

eu devo e que eu quero fazer. O resultado disso é que

além de histórias a desenhar tenho um monte de leitu-

ras empacadas me esperando. Ganhei de natal do meu

tio os quadrinhos que eram dele e ainda não consegui

parar pra ler. Tem altas preciosidades ali, inclusive o

primeiro número da Circo. Ganhei também Diome-

des, do Mutarelli, mas atualmente estou lendo um livro

sobre Billie Holiday (sou fanática por ela) e a sua rela-

ção com a primeira canção americana sobre o racismo,

Strange Fruit. O livro é lindo, sempre me impressio-

no com as edições da Cosac Naify. E a música é uma

loucura.

Conheça mais do Trabalho da Thais em

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Roger Vieira

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Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto

ilustrador e quadrinhista.

Roger vieira: Minha formação acadêmica é em peda-

gogia, artisticamente sou autodidata, mas não por op-

ção, aqui no Recife os cursos para os aspirantes a ilus-

tradores e quadrinistas são escassos ou não existem;

quando iniciei nos quadrinhos tinha uns 16 anos, como

não haviam cursos, nem ninguém próximo a mim com

mais experiência, e com boa vontade de ensinar...tive

que comprar muitas revistas, livros, frequentar bibliote-

cas, baixar ebooks, ler entrevistas e fui aprendendo as-

sim... sempre ouvi dos desenhistas mais experientes

que a prática é o segredo para o desenvolvimento do

artista, levei isso ao pé da letra, todo lugar que vou levo

meu sketchbook para fazer anotações, esboçar ideias,

anotar nome de autores e até aqui, acho que os resulta-

dos foram satisfatórios. rsrs

MT: Quais influências, no que se refere a movi-

mentos e/ou artistas,você identifica no seu tra-

balho?

RV: São várias, sempre mudam e quase todos são qua-

drinistas ou ilustradores. No inicio gostava muito de

quadrinhos japoneses, tinha como referência máxima o

katsuhiro otomo, hiroaki samura, yoshitaka amano e

moebius( esse não é japonês). Depois conheci alguns

artistas que desenham pro mercado americano e fiquei

um bom tempo curtindo os trabalhos deles, normalmen-

te eram caras que usavam um desenho mais limpo e se

preocupavam bastante com a narrativa...Nessa época eu

até fiz uns trabalhos freelancers para editoras e clientes

norte americanos. Em seguida me envolvi muito com

pintura manual (um desejo antigo), e acabei conhecendo

alguns artistas brasileiros ótimos e que me influencia-

ram bastante: cárcamo, Julia bax, Davi calil, Lelis, den-

tre outros.

Atualmente tenho curtido bastante artistas como: laureli-

ne matiussi, Thierry Martin, Olivier deloye, aurelie

neyret, Tony Sandoval, os mestres Sergio Martinez e Car-

los nine. Sou fissurado em ficar na internet buscando ar-

tistas diferentes, salvando imagens e aprendendo com

esses caras.

MT: Há alguma predileção no que se refere a for-

matos e materiais?

RV: Quem me conhece, sabe que sou fã assumido dos

materiais tradicionais, gosto de usar nanquim, canetas

descartáveis, aquarelas, pinceis, limpa tipos, papeis com

diferentes texturas, réguas, godês... adoro ir comprar os

materiais , ter os desenhos originais, carregá-los nas pas-

tas, ver os erros e as sujeiras nas folhas.

Mas vale lembrar que atualmente resolvi experienciar

mais o meio digital e estou curtindo bastante, faço as co-

res de meus quadrinhos no photoshop, faço ilustrações

totalmente digitais, as vezes até faço esboços e testes de

cores no photoshop, antes de pintar manualmente. A eco-

nomia e rapidez são fatores positivos na arte digital.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das su-

as ilustrações e HQs.

RV: Basicamente, quando as inspirações e ideias estão

bem sólidas na mente, começo buscando referên-

cias,principalmente quando a ilustração ou quadrinho é

ambientado em determina cultura, região, país, época..

Depois começo a rabiscar em sulfite mesmo, testando

cores, ângulos, desenhando as roupas, os personagens em

vários ângulos. Até que num momento sai alguma coisa

que me agrada. Daí é só levar pra frente, ou seja: dese-

nhar em tamanho original, limpar o desenho na mesa de

luz, preparar as tintas e colorir.

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Com quadrinho o processo é bem parecido, com o ro-

teiro já escrito, começo fazendo vários desenhos dos

personagens, é nessa hora que defino como serão as

roupas,acessórios, silhueta...depois vou rabiscando as

cenas, enquadramentos e como ficará disposição dos

quadros nas páginas. Após esse planejamento, dese-

nho em A3 fino a página inteira, depois passo na mesa

de luz, faço a arte final, escaneio e faço as cores no

photoshop.

MT: Quais costumam ser suas preocupações

narrativas, no que concerne à construção de

um ritmo visual, em suas HQs?

RV: Eu sempre pensei que os quadrinhos não são o

melhor meio para exibição de desenhos perfeitos.

Acredito que ali, naquela pequena folha em branco é o

local para se contar histórias..claro que o desenho tem

que ser compreensível e ter sentido. Mas jamais se

pode priorizar o desenho, esquecendo que quem lê

uma revista em quadrinhos, acima de tudo quer enten-

der a história, se divertir, dar risada, se emocionar ou

aprender alguma coisa. Tenho grande preocupação em

passar a mensagem que inicialmente me dispus a pas-

sar, mas meu maior desejo é que o leitor olhe uma pá-

gina minha e não fique nervoso ou confuso com a car-

ga de informação ou profusão de imagens, quero que

quando ele bata o olho na página, sinta-se convidado a

ler todo o resto da história.

MT: Sobre "Brevestory", do que a história tra-

ta?

RV: Brevestory é um projeto que faz uns quatro anos

que venho planejando começar. Fiquei uns três anos

me dedicando ao mercado americano e deixei meus

projetos pessoais de lado. No meio de 2011 decidi reto-

mar meus projetos e logo me surgiu a ideia da webco-

mic. A intenção é trazer histórias curtas de no máximo

10 páginas e com temas variados, a primeira segue uma

linha cômica. As próximas podem ser sérias, e com am-

bientação diferente...O legal é se experimentar mesmo.

Penso que lá funciona para mim como um laboratório

de ideias, quero me testar, para num futuro próximo

lançar uma HQ que há muito venho idealizando.

Normalmente as ideias para Brevestory surgem en-

quanto estou estudando, lendo ou ouvindo música, as-

sistindo filmes... às vezes uma frase num livro, a letra/

melodia de uma música ou até mesmo situações que

observo quando estou caminhando pela rua, que me

remete a algum tema ou cena, vou logo esboçar e desen-

volver algo.

MT: Qual será a sua periodicidade?

RV: O ideal é produzir uma história por mês, mas nun-

ca se sabe. Também tenho outros projetos e obrigações

que podem adiar a publicação de alguns trabalhos.

MT: Há planos para publicá-la em meios físicos?

RV: Sim, mas é algo que está um pouco distante ainda.

Quem sabe quando tiver bastante história, fazer uma

seleção das mais bacanas e lançar em formato de gra-

phic novel.

MT: O que você tem produzido para além dos

quadrinhos?

RV: Estudando bastante pintura tradicional. Tenho

praticado com acrílica, pastel óleo e principalmente a

aquarela. Foi com ela que mais me identifiquei e senti

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que poderia seguir em frente. Também faço oficinas

de quadrinhos e ilustrações em faculdades, dou aula

de quadrinho em escolas da cidade e estou ilustran-

do um livro de RPG chamado: Despertos.

MT: Por que quadrinhos?

RV: Ao contrario do que algumas pessoas pensam,

quando criança eu não gostava de ler quadrinhos,

mas sim de desenhar, ilustrar, copiar desenhos e ver

animações na TV. Quando tinha uns 16 anos um

amigo me mostrou uma página que outros amigos

dele tinham feito, quando vi de perto eu adorei, era a

oportunidade que eu tinha de contar algumas histó-

rias e mentiras que eu tinha na mente. O que me

mais me atrai nos quadrinhos é que você não precisa

de várias pessoas para fazer a história, não tem que

esperar o outro estar livre pra tocar o projeto, sozinho

você pode fazer tudo e o melhor... sem gastar muito

dinheiro!

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamen-

te? E o que além deles?

RV: Ultimamente tenho lido umas adaptações de clás-

sicos literários para o quadrinhos que a delcourt publi-

cou, acabei de ler oliver twist; umas histórias curtas de

Kafka que o Peter kuper adaptou para os quadrinhos;

uns artigos do gazy andraws e uns livros do Flavio Ca-

lazans. Também tenho lido alguns textos e artigos so-

bre teoria das cores, pintura tradicional e digital e os

meus velhos livros de história/arqueologia e filosofia.

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Conheça mais do Trabalho do Roger em

https://www.facebook.com/rogerilustras

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Pedro Cobiaco

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Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilus-

trador e quadrinhista.

Pedro Cobiaco: Bem, eu me formei em Harvard e... Haha-

ha, brincadeirinha. Essa pergunta é complicada, não sei bem

como responder, acho que nem me formei ainda, hahahah, é

um processo eterno, nunca acaba. ( mais ou menos igual a fila

dos correios ). Minha formação é bem auto-didática, mas ao

mesmo tempo não é. Hahahah. É auto-didática no sentido de

tentar aprender sozinho, coisa que faço sempre, estudando

tudo que eu acho que valha a pena, dissecando o trabalho de

todos meus artistas favoritos. Mas ao mesmo tempo não é,

porque tive muita ajuda de fora até hoje, a começar por meu

pai, Fábio Cobiaco, que é um grande cartunista, e passando

por vários amigos com quem convivi que foram mestres pra

mim, como o Grampá e o Coutinho. Incluo também meus

colegas de mesma idade que eu que também fazem quadri-

nhos, como o Jopa e o Calvin ( meu editor parceiro e meu

parceiro não-editor no coletivo de quadrinhos Trapezistas de

Estrada), ou o Montanaro ( que também trabalha na Folha ).

Esse aprendizado com as pessoas que estão no mesmo pata-

mar em que estou é pra mim tão importante quanto o que

tenho com os grandes mestres da área, esse negócio de se de-

senvolver lado a lado é crucial, é o que aconteceu em vários

movimentos artístico importantes.

Minha formação em questão de influências é gigantesca ( co-

mo a de todos que trabalham com arte ), não dá pra ficar só

nos quadrinhos, vai além, muito além. Literatura, cinema,

música, teatro, cotidiano, é importante beber de todos os

jarros, não ficar só nos quadrinhos. Ao menos eu considero

importante, hahah

Adoraria ficar aqui citando nome de todos/todas que me in-

fluenciaram e ajudaram, direta ou indiretamente, em minha

formação. Mas levaria décadas e ainda assim eu esqueceria

uma boa leva de gente hahahha, então nem me arrisco.

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MT: Quais influências, no que se refere a movimen-

tos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho?

PC: Hum... como eu disse, tudo que eu vejo me influência de

algum modo, então inevitavelmente eu teria que listar todas

minhas influências. Isso eu não consigo, mas dá pra fazer uma

tentativa leve

: )

Na escrita: Tolkien ( em especial O Hobbit ), Martin, John

Fante ( Pergunte ao Pó é um dos meus livros favoritos ), Bu-

kowski ( Destaque para alguns contos em especial, como Kid

Foguete, 15 Centímetros ), Poe ( Adoro principalmente os po-

emas, meio redundante citar o Corvo, mas é o que mais gosto,

e também adoro as histórias protagonizadas por Dupin, como

Os Crimes da Rua Morgue ), Sir Arthur Conan Doyle ( Sher-

lock Holmes é talvez meu personagem favorito de toda a lite-

ratura), Machado de Assis ( tudo. Destaco As memórias Pós-

tumas de Brás Cubas,mas todo o resto é excelente, inclusive

alguns contos escritos sob pseudônimos), Moore ( Tudo. O

unico cara que fez uma hq do super man ser interessante ),

Gaiman ( Preciso ler mais, mas do que li, gostei de tudo ), Mi-

chael Chabon ( dele só li A Solução Final, mas bastou para eu

adorar o autor ), autores mais recentes como o Daniel Galera

( Barba Ensopada de Sangue virou um dos meus livros prefe-

ridos logo após terminar a leitura ), a lista é mais que longa.

Como dá pra perceber, são todos escritores completamente

diferentes, mas acho que isso é bom, sei lá hahhaha.

Sou também apaixonado por folclore, em especial o japonês,

também adoro o Irlandês, o Nórdico. Estudo muito livros an-

tigos de cantigas e lendas de folclores mais antigos ainda. Tu-

do que eu gosto, de uma maneira ou outra, alguns mais outros

menos, está impresso no meu trabalho. Não gosto de um

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gênero ou movimento específico, e sim de vários.

Entre os pintores, os que mais admiro - obviamente esquece-

rei vários nomes, minha memória é péssima - são também de

movimentos bem variados: Frida, Klimt, Van Gogh, Schiele,

até caras mais recentes como o Ashley Wood, o Gary Base-

man, novamente, a lista é colossalmente longa, cito só os

principais de quem me lembrei mais rápido.

Nos Quadrinhos, meu favorito é provavelmente o Mignola. O

que ele faz é a essência do que eu adoro fazer, e ele faz do me-

lhor jeito possível. Me explico: Me refiro não só ao que ele faz

com a arte, essa síntese perfeita em que nada é obsoleto no

traço, essa composição absurda com rios de preto guiando o

olho direto pra onde ele quer que guie. Me refiro também ao

que ele fez com o Hellboy, esse negócio de criar uma mitolo-

gia própria a partir de muitas outras, acrescentando um to-

que pessoal. Tem muito, mas muito mesmo, muito folclore no

trabalho do Mignola. Irlandês, nórdico, milhares de outros.

Ele mistura isso com as outras influências dele, Jack Kirby,

Lovecraft, bota tudo num caldeirão e transforma em ouro. É

também o que caras como Tolkien fizeram. Essa alquimia

perfeita da criação do universo em que se passa a história,

isso é crucial, e algo que um dia espero alcançar. Tem, é claro,

os mestres absolutos como o Eisner, o Laerte, o Nine, o Moe-

bius, o Crumb, o McCay, o Kirby, o Otomo, o Toryiama, o

Mazzuchelli ( Asterios Polyp é minha graphic novel favorita ),

o Colin. Adoro também o trampo de caras fodas, como o meu

pai, o Grampá, o Coutinho, o Angeli, o Moon e o Bá, o Glauco,

o Craig Thompson, do Sienkiewicz, do Ware, dos caras da

Beleléu, da Samba, do Spielgman, do Clowes, do Burns, dos

Cafaggi, do Ryot, da galera do Rasos, é muita, mas muita gen-

te. Nem preciso falar de novo que a lista é super longa.

Enfim, esqueci gente pacas, com certeza, mas em suma é isso.

Adoro ler, e estou sempre descobrindo novos artistas que aca-

bo por admirar.

Tem também os campos da ilustração, da música, da anima-

ção, do cinema... Putz, é coisa demais. E nem para por ai, tu-

do MESMO influência, pessoas que habitam ao meu redor,

etc. Hahahah, realmente é impossível falar tudo.

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MT: Há alguma predileção no que se refere a forma-

tos e materiais? (Se sim, quais? Se não, por quê?)

PC: Acho que não. Tem os materiais que eu mais uso, que

são:

Qualquer lápis que estiver à mão para fazer o... lápis ( duh ), e

pincel W&N com nanquim para finalizar. Papel geralmente

formato a3 específico para quadrinhos.

Mas estou sempre dando uma pirada e experimentando tudo.

Aquarela, guache, acrílica, óleo, giz, tudo. Agora mesmo es-

tou trampando em uma história curtinha que vai ter tudo

quanto é coisa, de lápis de cor até acrílica, só falta botar papel

higiênico na página, hahahhaha, estou experimentando ao

máximo nessa.

Muitas vezes meus experimentos ficam uma legítima merda,

hahahha, mas acho que só a diversão do processo faz valer.

Ter tesão em fazer a parada é o crucial. Sem contar o apren-

dizado, e o fato de que é sempre bom tentar tudo, a gente

nunca sabe o que pode agradar ou não.

Algumas das melhores coisas saíram de caras que sabem essa

importância da experimentação.

Pega um Elektra Assassina do Sienkiewicz ( puta sobrenome

maldito esse ), e vê aquilo ali. É demais! O cara usa tudo!

Nanquim, acrílica, estilete, etc. Foi depois de ler essa graphic

que comecei a ter vontade de pirar em tudo. Ou pega então

qualquer coisa do McKean, puta que pariu, como não ficar

inspirado?

Não sei quem fez uma hq pintada com tinta de parede. Porra,

é isso ai, experimentar com tudo é o caminho. Se quiser dese-

nhar uma história inteira usando uma pena de gaivota e tinta

de cabelo pra finalizar, tá valendo, hahahhahah

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MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas

ilustrações e HQs.

PC: Dinâmica de produção não é um bom termo no meu ca-

so, acho que o mais correto seria "lerdeza de procrastinação",

hahahhaha

Falando sério, eu não tenho muito ritmo, mas quando tem

que sair, sai.

Isso, é claro, se encaixa só nos meus projetos pessoais. Ilus-

trações editoriais, as tiras pra Folha, essas coisas eu sempre

forço pra sair no prazo certinho, e sempre acaba saindo.

Mas nos meus projetos, gosto de tomar meu próprio tempo,

fazer do jeito que eu quero fazer, e no final sai um produto

bonito, então tá ótimo.

Enquanto na ilustração editorial eu tento ser mais dinâmico e

objetivo, conciliando isso com a criatividade, nas minhas hqs

ou ilustrações pessoais eu já piro.

Pro Askafroa, por exemplo, passei dois meses só pesquisando

mitologia e folclore, trabalhando a mutação e o encaixe disso

no universo em que se passa a hq, etc.

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MT: Quais costumam ser suas

preocupações narrativas, no que concerne à constru-

ção de um ritmo visual, em suas HQs?

PC: Primeiro vem o básico: o leitor tem que entender o que

está acontecendo. Não adianta a página ter uma construção

toda louca de ver, com um puta desenho lindodetalhado, se o

leitor bater o olho e não entender porra nenhuma ( a não ser

que a idéia seja que ele não entenda mesmo ). Me preocupo

em fazer a ação clara - repare que eu disse clara, e não masti-

gada -, em fazer o traço legível. Nessas horas me inspiro mui-

to em animadores que gosto, afinal na animação essa clareza

é ainda mais importante. Estudo bastante o trabalho de caras

que fizeram escola no passado - e fazem até hoje - como o

Milt Kahl, o Kimball, animadores franceses também, tudo é

bom de estudar. Também estudo bastante os caras de agora,

como por exemplo um animador que tem um blog de dicas

que tem me sido super util. O animador, no caso, é o Rad

Sechrist, e o blog é esse: http://radhowto.blogspot.com.br/ .

As minhas preocupações seguintes são de deixar o trabalho

bonito. Também não quero que seja só legível, hahah, quero

que o leitor olhe e se deleite no desenho. Trabalho bastante

nas texturas, finalizo com capricho e controle, viajo nos cená-

rios, penso bem a composição. Quer dizer, ao menos eu tento

fazer tudo isso. Se esforçar é crucial. O leitor não é burro. Ele

percebe quando o cara só é ruim, e quando o cara simples-

mente fez tudo nas coxas. Mesmo se você não for um super

desenhista ( como eu mesmo não sou ), o importante é ralar

naquilo, suar sangue na página. O leitor vai perceber

que você se esforçou pra fazer aquilo ali, e vai levar

em conta. Você mencionou o ritmo. O ritmo também é

outra coisa crucial. É importante saber como acelerar

ou desacelerar o ritmo de uma hq, e isso vai de tudo,

desde o número e a disposição de quadros na página

até o traço mais ou menos detalhado, as linhas de mo-

vimento, tudo isso importa.

Pra entender melhor ritmo de página eu tento estudar

bastante caras como o Eisner, o Mazzucheli. Autores

japoneses também são mestres nisso, caras como o

Otomo tem que ter a obra bem dissecada, vale muito a

pena.

No final, eu checo se tudo que eu queria com aquela

página foi conseguido ali. Claro que é sempre preciso

ter em mente as limitações do meu desenho. Se eu

sinto que não foi, tento consertar na página mesmo.

Se sinto que não tem jeito, eu jogo fora e começo de

novo. Melhor tardar e acertar do que criar algo ruim

dentro do prazo inicial. Ao menos eu funciono assim.

Cada um funciona de um jeito, o importante é a pági-

na ficar boa no final.

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MT: Sobre Askafroa, do que a história trata? (Fale o

quanto quiser sobre enredo, personagens, o tempo

que vc levou pra amadurecer os elementos que com-

põe a HQ)

PC: Hum, prefiro deixar isso sob a névoa por enquanto. Que-

ro que as pessoas leiam a hq e descubram por elas mesmas.

Preciso saber se as pessoas vão entender e gostar graças ao

que elas terão em mãos ( metaforicamente, já que de inicio

será digital hahaha ), ao invés de gostarem e entenderem gra-

ças a alguma explicação ou descrição prévia que dei. O que já

disse, e posso dizer novamente aqui, é que será primariamen-

te uma hq de aventura, uma hq de entretenimento, um qua-

drinhos de mistério e porradaria, uma história no estilo anti-

go de hq que se perdeu nos últimos anos, mas é claro, com

outros elementos que eu quero botar na história. : )

MT: Qual será a sua periodicidade?

PC: Não tenho planos em relação a isso. Queria publicar uma

boa quantia de histórias por ano, mas isso vai depender de

como as coisas vão ser. É preciso ter em mente que farei tudo

por conta própria, e de graça. Mas acho que pelo menos uma

história a cada 3 meses é uma garantia certeira. Se tudo cor-

rer como o esperado, talvez uma a cada um ou dois meses. Só

o tempo dirá.

MT: Há planos para publicá-la em meios físicos?

PC: Sim. Tanto em revistas que vão conter outras histórias

não relacionadas a essa, quanto em uma coletânea anual só

com hqs, contos, ilustrações e textos passados no universo de

Askafroa. Meio que uma coletânea com as hqs já publicadas,

novas hqs, e muito, mas muito conteúdo extra. Mas por en-

quanto, isso está no papel. Torço pra que venha a acontecer.

: )

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MT: O que você tem produzido para além dos quadri-

nhos?

PC: Bem, em breve estreio uma loja de arte com meu pai. Es-

tamos fazendo trocentas coisas pra vender por lá, hahah, des-

de originais até posteres, camisetas. Também produzo muita

coisa pessoal, só por diversão mesmo

Ah, e aproveitando o espaço e - desculpinha - contrariando a

pergunta, agora estou trabalhando também no Gigantoche, um

projeto de hq com o escritor fodón Douglas MCT, autor de Ne-

crópolis. Vai ficar bonito!

Também tenho escrito bastante, mas como geralmente odeio

meus textos, nunca publico em lugar nenhum. Ao menos, não

como Pedro Cobiaco. ; )

MT: Por que quadrinhos?

PC: Porque não? Hahaha

É bem simples, na verdade. O que eu realmente gosto é de

contar histórias. E conta-las através dos quadrinhos foi o jeito

mais prazeroso que encontrei de realizar tal coisa.

Os quadrinhos são um território bem mais inexplorado que

outras mídias, além de tudo.

Mas acho que no final das contas, essas coisas eu conclui de-

pois de já ter escolhido fazer hq. Escolhi isso por que senti que

deveria escolher, e não me arrependi em nenhum momento

até agora. Algumas coisas já estão meio que printadas na nossa

alma desde o começo, não dá pra fugir, o negócio é abraçar. Eu

amo fazer quadrinhos desde sempre, amo desenhar, amo es-

crever, não consigo ficar sem fazer as duas coisas, então que

modo melhor de unir as paixões que os quadrinhos?

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MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E

o que além deles?

PC: Tenho lido Hellboy in Hell, nova série do Mignola que é

provavelmente uma das melhores coisas já feitas em quadri-

nho, tenho lido vários B.P.R.D's, parei na saga desenhada

pelos gêmeos ( Moon e Bá ), que ficou linda. Tenho lido mui-

tas webcomics em minhas pesquisas para o Askafroa, além

das que eu já lia antes, hahaha, como as do Petisco, as tiras

do Ryot, Quadrinhos Rasos, Gnut, do Paulo Crumbim, Qua-

drinhos A2, que é também do crumbim, só que unindo forças

com a mulher dele, a também desenhista - e também fodona

- Cris Eiko, tenho lido algumas coisas antigas do Moore, co-

mo uns quadrinhos que ele escreveu de super-heróis ( Ar-

queiro Verde, Super Man, e mais uns outros. Uma das pou-

cas leituras de super-heroi que gosto ), tenho tirado meu

atraso de Little Nemo, e estou esperando um box de livros do

Gaiman chegar pra tirar meu atraso com a obra dele também

( Dele li Violent Cases e Orquídea Negra, de quadrinhos, os

dois excelentes ), tenho comprado muita coisa que saiu pela

Companhia, como o genial V.I.S.H.N.U., uma graphic não só

excelente pela qualidade artística, de roteiro e de concepção,

como também por não ter nada semelhante no mercado, e

tenho lido várias hqs mais antigas aqui do arquivo do meu

pai, umas revistas Calafrio, Cripta do terror, coisas de fora

como LOCAS, do Jaime Hernandez, ou Crônicas de Palomar,

do Gilbert Hernadez ( as duas são obras lindas, gosto da pe-

gada punk do LOCAS e desse lirismo pé no chão, esse realis-

mo mágico do Palomar ), estou sempre lendo revistas CIR-

CO, Piratas e Chiclete que acho por aqui ( acho que já li todas

umas mil vezes, pero todo bien haha ), e é isso. Leio muita

coisa que pipoca na minha timeline do facebook também,

tem todo um grupo de quadrinistas de internet novo surgin-

do no facebook, vale a pena ficar ligado em páginas como

Dadaísmo em Quadrinhos e Quadrinhos Insones.

Recentemente li também Habibi, que é maravilhoso. Aquela

ornamentação que o Thompson deu ao quadrinho, aquele

trato cuidadosíssimo a arte, ao roteiro, tudo foda. O cara é de

outro mundo.

Como eu disse, minha memória é uma merda, então tem

muito mais que eu vou lembrar depois que a entrevista já

estiver no ar, hahahha, mas tá valendo.

Mais do trabalho do Pedro em

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