MORIN, Edgar - A idéia do progresso do conhecimento

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/7/2019 MORIN, Edgar - A idia do progresso do conhecimento

    1/6

    :

    I"

    q:J

    c"I\., I_j- l ("..t d _ e :8 ~c :L .. .

  • 8/7/2019 MORIN, Edgar - A idia do progresso do conhecimento

    2/6

    fl(j Ciencia CUt) Consciencia

    exernplo, e qualidade de vida; vernos, igualmente, que, a partirde certo lirniar, 0 crescimento pode produzir mais prejufzosdo que bern-estar e que as subprodutos tend em a tornar-se osprodutos principaia Portanto, a palavra progresso nao e taoclara quanta parece.

    Em segundo lugar, estamas habituados a associar a ideiade progresso a de racionaltdads, ordem e orgazuzacao: 0 quedeve progredir, para. nos , e a ordem e nao a desordem; a orga-n i7 .a c;a o e n ao a desorganlzacao. E m outras palavras, se 0 uni-verso se decompce, se a vida rnorre e a humanidade se afun-da no caos, e evidente que a ideia de progresso deve dar lugarA de regressao, Aqui se nos apresenta, M mals de um s 'c'llo,surpreendcnte problema fJsico que tendernos a nsgllgenclarem nosso universo humane e social. Esse problema foi levan-tado p 10 segundo principio da .ermodinarnlca, que e urnprincipio de degradacao da energia quando essa se transfer-rn a em c alor . O ra, todo trabalho produz calor e, asstrn, a ener-gia ten de, Irreverstvelmente, a degradar-se. 0 calor nao e ape-nas degradacao, como pareceu a. Carnot e Clausius; manlf'es-ta-se tambem, em sua propria natureza, como agitaCa o , dis-p rsao molecular e, segundo os trabalhos estausncos deBotzmann, como desordem; 1550 signlflca que, no universef isico, hEium prindpio de agita

  • 8/7/2019 MORIN, Edgar - A idia do progresso do conhecimento

    3/6

  • 8/7/2019 MORIN, Edgar - A idia do progresso do conhecimento

    4/6

    . l00 Ciencla ('o:rmCOIISCUncillhoje, chama-sa iencia; e par iso que toda v ntade de mono-polizar a Verdade pretende deter a "verdadeira" ciencla,

    o problema do conhecimento clent(jico1 1 : indubltavel que 0 conhecimento cientffico realizou, a par-

    tir do seculo 17 e ao longo dos seculo 18, 19 I 20, progressesextraordlnanos, mesmo sern falar - nao estou produzlndourn catalogo - dos progresses mais recentes em materia demicroffsica, astroff i'3au biologia, c m as d scab rtas dagenetlca, da btologia molecular e da etologta, Esses progres-os sao, evid ntemente, v riflcado: par aplicacoes t cnlcas,

    desd a nergla atomics at e s rnanlpulacoes gen ticas.Asstin, sab mas corn certeza cr cente a cornposicao ffsicaqufml a do no so unlverso, as J is d Interacao qu a reg rn:conhe emos nos lugar neste univ rso fiaico -" estamos not rceiro plan ta de run P QU no asrr nurna galaxia de p rife-ria -, conhecernos ada vez rnelhor a orgaruzacao do nos aSol, sabemo ituar-n cada vez am rnais preci a na volu-~ilo que levou urn ramo dos prtmatas - m diant evolU4;aamulto drverslncante - a pmriuzlr difercntes esp des horninf-deas e, flnalmsnt , a do homo dito apiens; mas, ao m srnot mpo que adqulriruos essas certeaas, p rdemos outras B 1 1 t i -gas, p udo ertezas e ganhamos urna in ert za func!am ntal:d ixarnos de julgar-no a centro de urn universo tixo e sterno,que nao sab rno de ond vern, para onde vai, n ru por quenasceu ; sabe rnos agora que a vida se orgaruaa em f u n c ; : a a deurn c6digo g netico que se encontra no acido desoxiribonu-cletco. Mas and surgiu es a Informacao odiflcada? Como S~produzlu? Qual e a senttdo da evolucao, se existe algurn?Qual e 0 sentido de nossa existencia? Equal . a naturezadesse esplrito corn que pensarno tudo Is a? Em ourras nala-.. .---;'TlG, correlative ao progresso do' conhe lin nt ~. h a 0 pro-gresso da incerteza e, diria mesrno, cia ignorancia

    10 15 ~ nornenos progressivos/regressivos u s ja, que fazern

    proaredir simultaneamente a conhecimento e a lgnorancla,eaI1stituem progr sso rears: U ro dizer qu ,a rn u v r, reco-nhecer urna Ignorancta e uma Incerteza constitui progresso.las abemos tambern qu , na Cimcia, as onsequ ncias dosprogre 90S de conheeimentos n8.o sao nee ssariarnente pro-grE'!3Sivas.Esse. de re to, e urn do pontos hBmuito estabele-cldos, uma vez qu s diz: a iencla progrid como conheci-mento, mas SUIlS consequencias podem ser atroz 5! mortals(bomba atomi a). Gostaria de lernbrar aqui que as potenciali-dades negativas ou destrutivas nllO se encontram unicamenteno exterior do conhe imento ci ntifi 0, au ej, n Politi a,no 8st.ado. na Scciedade: encontrarn-se tarnbern no interior.Asslrn, durante multo tempo. 0 metodo fun lamental daCiencia fo l a e en rnen tal, qu C ns; tia em tamar urn bj toau urn ser . colo I1-Jo em condicoes artlficiaia para tentar

    ntrolar as vanacoe: nel provocadas. Ora. a xperirnenta-;:do,que serviu para alimental' as progre so c ia c on hec lr nen -t .prov cou a desenvolvtrnento cia m nipula '8 . ,au seja, das

    \ dlsposlcces oesnnadas a xperirnentacao, f' Ps.~1'1 manipula-\ ~ao d subproduto da lencia, pode tornar-s 0 produto prin-

    cipal no universe des apllcacoes tecnlcas, onde, flnalm nt ,se expenrn nta para rnanlpular (em vez d manipular paraxperun ntar). Em outras palavras, as p tencialldad manl-puladoras d Que acusamc os Estado foram produardaspelo des nvolvtrnento do proprio onh cimento clen we ,auseja, 0 .onnectrnento cientifico tern carater tragicarnentearnbivalente: proqressiuo/reqressi o.

    Fal ida especializacao e quero dizer que ela comporta pro-gresso, efetivarn nt , porque 0 progre so sta na especlaliza-

  • 8/7/2019 MORIN, Edgar - A idia do progresso do conhecimento

    5/6

    10 2

    ~...~I. ~"".....~..-...._ ., ..... ",0- ,_ ~~---~,..." J; S!tiLlO';[C,~, l,;~I I ' CCt\.(k:_S Hi. 1::'~~ !';1 :: _ _ 2Jmenta mutilado; e urn conhecimento rnutilado conduz semprea uma pratica mutilante. Pademos duel' que 0 progresso doconhecimento cientiflco e inseparavel dos progress as da quan-tificacao: e Incontestavel, Mas-isso se torna regressao quandoha a que Sorokin chama de quantofrenia, ou seja, visa.o unica-men e quantitativa de que toda concepcao de qualidades desa-parece. Sabemos, como acabo de dlzer, que a experimentacaoconstltui progresso, mas, ao mesmo tempo - alern do proble-ma d a r na nr pu la ea o rec ern -m en cio na do -, a ex per im en ta ca opode conduzir a regressao do conhecimento na medida emque ere conhecer urn objeta abstraindo-o de seu ambiente.Descobrirnos cada vez rnals que, com relacao aos seres vivossuperiores, a bserv ac ao e superior a exper imentacao. Comovoces sabem, pratica-se a experirnentacao com os animals,nomeadamente com as macacos e os chimpanzes nos labora-torios: assim, ern. CIn animals isolados, fechados em gatolss,que se apllcavarn testes; testes, entretanto, incapazes de reve-lar aptidoes e qualidades que se manifestam na vida social,afetiva e pratica dos chimpanzee em llb rdade, Fez-sa progres-so quando se abandonou a experimentacao para estudar as( 'PlmpRn7:P8 pm ."ml' l ROriPr iActl ? ~ no SN t amblen te naturals Apaciente observacao de uma ex-datilografa, Janette Lawick-Godal, autora de conhecido livro sabre os chirnpanzes, foirnais util ao conhecimento cientifico, revelando cornplexidadede cornportarnento e de inteligencla lmperceptfvets ao rnetodoexperimental, do que este Ultimo.

    Outro example: pode dtzer-se que a forrnalizacao das teo-rias cientiflcas constitui Incontestavel progresso, sobretudoporque permite a dessubstancializacao do universo, ou seja,deixa-se de eonsiderar 0 universe constituido por substanciasfixas e estaveis, atribuindo-se, em seu lugar, relacoes; mas, aomesmo tempo, 5e a formalizacao se torna 0 unico modo deconhecimento, ela provoca regressao, porque conduz a ummundo desencarnado, ja constituido apenas por idealidades

    "'[l'C"S E 1)01'esptmtoso paradoxa, observamos cientis-I1l~tem

  • 8/7/2019 MORIN, Edgar - A idia do progresso do conhecimento

    6/6

    nao cons guirmos eonceber que as I'eS que somes, vocesE'U, s a o res hurnanos, splriruais, biol6gic e ffsicos;apesarde terrnos certeza disso, n a o conseguirnos fazer essa articula-\a o que demanda 0 espaeo n tr as disc iplin as, E a lg u ns c i en t i, s. .ca s juJgwn. t ng en ua rn en ee . q ue n ao ex is te a q ue s eu s instrum n-tos nao podem apreender , Nesse s ntido, 0.< ; bl61ogos afumam:~N6d stu darnos rnoleculas, mas nada sabemos sobre a vida,panama a vida ~ nocao puramente id al." Da me rna rormS,ju lg ou -s e q ue 0 hornem nlto exist la: como . p en sa va q ue 56e .. uam as sod dad a u a se str utu ra s. p od ia -s e co n om iz ar 0c on certo de hom 'Ill. :'lIas por que oaorn lzar mats 0 concertode hom rn do que o d rato ou tie pulga?o exrraordin ano que nos dames com a ue que 0 car tentre clencta: e mosofia QU se apercu a partir do 5 culo 17coma dis octacao fonnwnda por D s an entre 0 eu pen-ante, 0 Ego c oqiu nu . e a coisa rnatenal, a R ertensa , criau rn p ro b lem a trdglco n a cleneta; ,1 c lf !n c la . n a o s e c on n ec e:nAo dispO da capacldade nuto-rerlexiva E ' drama concer-ne trunb m iI . filo ofla, que, deixnndo de SeT emptr tcamentealnnenteda, sofrou a agoru da N o t r p l ti lo s o p h i e a fracassoda Lebensphi losophie- ; M tanta extralucid z m H u B S rl quan-d o d la gn o ttcava a c r tse do c onhec im en to ri 'n tffic o com o Mllusdo rnetaffsica, vasao estrato f~rtca na td la d "ego tI '1lI lS-c endental". Assim, a fllo ofia e tmpotente para fecundar a 'c l n c la que p, pa r sua v z, lm po re nte para c on ceb er-s .o qu e q u e ro dlaer agor a, par a con chur, que temos de com-PTipndr qu e a progresso do onh - Imento nso pod m seridentificados com aelirrunacao da 19norancia Estarnos numanuvem d desconh ctmento de incertza, produztda pelaonh ctrnento: podemos dizer qu a produqao dessa nuvem ~

    urn doselernentos do progresso, d sde qu 0 reconheVUllos.E l l [ uulr a:. l J d l < J HI..::!,cunhecer t:lll:'L:udaJ, lntualll l :u, d i : : . \ . , u t l r ,debarer-se com 0 d sconnecido que se reconstitui incessante-mente, porque toda solucao produz nova questao.

    Asslm, portanto, devo d t r nil' nesra conclusao provisorta:o progre: so cia l 'iencia . ideia que comporta em si tncerteza,cnnJlitu e jogo .. 'iao se pede cone 'her absoluta ou alternativa-mente Progr sso e R eg re . sao, Conhecimento e lgnorancla E,sobretudo. para que hqja novo e decisive progresso no conhd1llento, t er no s d e superar esse npo de altemativa e conceberemeontplexidade as nocees de>progresso de ronhectmento