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MOVIMENTO DOS ADVOGADOS TRABALHISTAS INDEPENDENTES Página 1 Excelentíssima Senhora Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal PEDIDO DE LIMINAR "O princípio da moralidade administrativa tem uma primazia sobre os outros princípios constitucionalmente formulados, por constituir-se, em sua exigência, de elemento interno a fornecer a substância válida do comportamento público. Toda atuação administrativa parte deste princípio e a ele se volta. Os demais princípios constitucionais, expressos ou implícitos, somente podem ter a sua leitura correta no sentido de admitir a moralidade como parte integrante do seu conteúdo. Assim, o que se exige, no sistema de Estado Democrático de Direito no presente, é a legalidade moral, vale dizer, a legalidade legítima da conduta administrativa" (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais da administração pública. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. pp. 213-214) JOÃO GILBERTO ARAÚJO PONTES, brasileiro, solteiro, advogado, portador da CNH 00261820608 RENACH, CPF 672.571.947-34, título de eleitor 004739830337, titular do endereço eletrônico [email protected], residente e domiciliado na e MARCOS LUIZ OLIVEIRA DE SOUZA, brasileiro, casado, advogado, portador da identidade OAB/RJ 61160, CPF 612791967-34, título de eleitor 070661360370, titular do endereço eletrônico [email protected], residente e domiciliado na e

MOVIMENTO DOS ADVOGADOS TRABALHISTAS … · violações das leis trabalhistas, flagradas e comprovadas em pelo menos 02 (duas) demandas judiciais, parece ofender ao juízo médio

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MOVIMENTO DOS ADVOGADOS TRABALHISTAS INDEPENDENTES

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Excelentíssima Senhora Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal

PEDIDO DE LIMINAR

"O princípio da moralidade administrativa tem uma primazia sobre os outros princípios constitucionalmente formulados, por constituir-se, em sua exigência, de elemento interno a fornecer a substância válida do comportamento público. Toda atuação administrativa parte deste princípio e a ele se volta. Os demais princípios constitucionais, expressos ou implícitos, somente podem ter a sua leitura correta no sentido de admitir a moralidade como parte integrante do seu conteúdo. Assim, o que se exige, no sistema de Estado Democrático de Direito no presente, é a legalidade moral, vale dizer, a legalidade legítima da conduta administrativa" (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais da administração pública. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. pp. 213-214)

JOÃO GILBERTO ARAÚJO PONTES, brasileiro, solteiro,

advogado, portador da CNH 00261820608 RENACH, CPF 672.571.947-34, título

de eleitor 004739830337, titular do endereço eletrônico

[email protected], residente e domiciliado na

e

MARCOS LUIZ OLIVEIRA DE SOUZA, brasileiro, casado,

advogado, portador da identidade OAB/RJ 61160, CPF 612791967-34, título de

eleitor 070661360370, titular do endereço eletrônico [email protected],

residente e domiciliado na

e

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MARCOS CHEHAB MALESON, brasileiro, casado,

advogado, portador do título de eleitor nº 091802130302 , CPF nº

073.855.907/56, OAB/RJ 100.223, titular do endereço eletrônico

[email protected], domiciliado na

, vem a V. Exª com fulcro no

art. 988 e ss do CPC, propor

RECLAMAÇÃO

em face do Excelentíssimo Senhor PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (processo nº 0010771-53.2018.3.00.0000 – SLS 2340/RJ),

autoridade do Poder Judiciário, estabelecida na SAFS, Quadra 06, Lote 01,

Trecho III, Brasília/DF, CEP: 70.095-900,

em face da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, a ser intimada pelo

Advogado-Geral da União – sediada no SIG, Quadra 06, Lote 800, 3º andar, sala

336, Plano Piloto, Brasília/DF, CEP 70.610-460,

em face de MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA, Presidente da República, titular do CPF nº 069.319.878-87, com endereço na Praça dos Três Poderes,

Brasília/DF, CEP 70.150-900 e em face de CRISTIANE BRASIL FRANCISCO, deputada federal, CPF nº

036.258.017/01, com endereço residencial na

, aduzindo os seguintes fatos e

fundamentos:

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INTRODUÇÃO

O MATI – MOVIMENTO DOS ADVOGADOS TRABALHISTAS INDEPENDENTE é um agrupamento de aproximadamente 300 (trezentos)

advogados especializados em direito do trabalho que recentemente se reuniram

no Rio de Janeiro para somar esforços à defesa dos interesses comuns dos

militantes desse ramo do direito, sem qualquer finalidade lucrativa. A despeito

da affectio societatis bem evidenciada entre seus membros, a associação ainda

não foi constituída formalmente. Desse modo, os autores dessa reclamação ajuízam-na em nome próprio, mas homenageiam todos os demais colegas

que, compondo o grupo, incentivam, de forma direta e indireta, a presente

medida. Registram também que é sentimento comum e praticamente unânime

que a solução agora postulada é verdadeira expressão de justiça e luta pela

moralidade pública e pela defesa do Direito do Trabalho.

DOS FATOS

Sua Exª, o Presidente da República, através de decreto sem número, datado

de 03 de janeiro de 2018 (publicado no D.O.U. de 04/01/2018), nomeou ao

cargo de Ministra de Estado do Trabalho a Deputada Federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO, pessoa que, com as devidas vênias, para além de não

reunir em seu currículo as características apropriadas à função (já que não se

tem notícia de qualquer expertise ou experiência, ainda que política, nas

competências da pasta), possui, pesando contra sua imagem, fatos desabonadores suficientemente importantes para ofender a moralidade

administrativa, o que, por isso mesmo, anularia sua nomeação.

Para instruir o feito no primeiro grau, os reclamantes, então autores,

apresentaram cópia de processos da Justiça do Trabalho onde foi provado

que a postulante ao cargo de Ministra havia, pessoal e deliberadamente,

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fraudado normas trabalhistas em pelo menos duas oportunidades, seja

deixando de promover formalização de vínculos de emprego, seja submetendo

os trabalhadores a jornadas exaustivas. Disseram também que ofenderia o juízo

médio de moralidade dar a uma pessoa atribuições próprias de autoridade com

incumbência de fiscalizar normas que ela mesma não tem qualquer apreço.

Note bem, Exª, em momento algum os autores pregaram que uma

condenação trabalhista, por si só, seja causa direta de impedimento indiscriminado para o exercício de cargos públicos em geral. O que se

sustenta, na verdade, é que a avaliação do critério moral não é estática. Deve-se ponderar o contexto e as circunstâncias de cada caso concreto.

Efetivamente, choca a sociedade ter uma Ministra do Trabalho com condenações trabalhistas, assim como chocaria um presidente de

Departamento de Trânsito que acumula infrações de trânsito ou um presidente de Banco estatal com restrições no SERASA. A hipótese,

portanto, é de avaliação da pertinência temática entre a restrição apontada e o cargo pretendido como fato gerador de imoralidade.

Com essas alegações buscaram tutela jurisdicional provisória em sede ação

popular no Juízo Federal da Subseção Judiciária de Niterói/RJ e o pedido foi deferido liminarmente pelo MM. Juiz LEONARDO DA COSTA COUCEIRO nos seguintes termos:

“PROCESSO: 0001786-77.2018.4.02.5102 (...) AUTOR: JOAO GILBERTO ARAUJO PONTES E OUTROS REU: UNIAO FEDERAL E OUTROS

DECISÃO

Trata-se de AÇÃO POPULAR com pedido de LIMINAR para suspensão da eficácia do decreto que nomeou CRISTIANE BRASIL FRANCISCO ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho, impedindo, inclusive, a

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posse, agendada para o próximo dia 09/01/2018, até segunda determinação do juízo.

Os Autores alegam, em apertada síntese, que a nomeação e posse para o cargo de Ministra de Estado do Trabalho ofende a moralidade administrativa, uma vez que a pessoa escolhida (Exma. Deputada Federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO) além de não reunir em seu currículo características apropriadas à função (já que não se tem notícia de qualquer expertise ou experiência, ainda que política, nas competências da pasta), possui, pesando contra sua imagem, fatos desabonadores já replicados nas grandes mídias, como condenação ao pagamento de dívida trabalhista.

Alegam que sendo a indicada ao Ministério do Trabalho uma pessoa que praticou pessoalmente graves violações das leis trabalhistas, flagradas e comprovadas em pelo menos 02 (duas) demandas judiciais, parece ofender ao juízo médio de razoabilidade dar-lhe atribuições próprias de autoridade cuja incumbência será fiscalizar o cumprimento de normas que ela própria demonstrou não respeitar.

Ressalta que um Ministro de Estado traça políticas nacionais de grandes repercussões. Inclusive, em um só dia, num só ato tem a capacidade de afetar milhares de relações jurídicas. O risco, portanto, da prática de atos administrativos por pessoa sem aptidão para exercício do cargo é severo, grave e iminente.

(...) É o relatório. Decido. (...) Em exame ainda que perfunctório, este magistrado

vislumbra fragrante desrespeito à Constituição Federal no que se refere à moralidade administrativa, em seu artigo 37, caput, quando se pretende nomear para um cargo de tamanha magnitude, Ministro do Trabalho, pessoa que já teria sido condenada em reclamações trabalhistas, condenações estas com trânsito em julgado, segundo os veículos de mídia nacionais e conforme documentação que consta da inicial “processos 0010538-31.2015.5.01.0044, encerrado com decisão judicial transitada em julgado, (fls. 29/246 - note-se especialmente que operou-se o trânsito em julgado da decisão condenatória cf. fls. 169); e 0101817- 52.2016.5.01.0048, encerrado com acordo judicial (fls. 323/324).

É bem sabido que não compete ao Poder Judiciário o exame do mérito administrativo em respeito ao Princípio da

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separação dos Poderes. Este mandamento, no entanto, não é absoluto em seu conteúdo e deverá o juiz agir sempre que a conduta praticada for ilegal, mais grave ainda, inconstitucional, em se tratando de lesão a preceito constitucional autoaplicável.

Vale ressaltar que a medida ora almejada é meramente cautelar, precária e reversível, e, caso seja revista somente haverá um adiamento de posse. Trata-se de sacrifício de bem jurídico proporcional ao resguardo da moralidade administrativa, valor tão caro à coletividade e que não deve ficar sem o pronto amparo da tutela jurisdicional.

O periculum in mora resta cabalmente demonstrado, porquanto a posse da nomeada ao cago está prevista para o dia 09/01/2018, amanhã.

Assim, verificada a presença dos requisitos do artigo 300 do CPC, DEFIRO em caráter cautelar e liminar inaudita altera parte, provimento para SUSPENDER a eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho, bem como sua posse.

(...) Niterói, 8 de janeiro de 2018.

(assinado eletronicamente) LEONARDO DA COSTA COUCEIRO Juiz Federal no exercício da titularidade da 04ª Vara Federal de Niterói

Diante dessa decisão, a UNIÃO buscou na Presidência do Tribunal Regional

Federal da Segunda Região para suspender o comando acima transcrito

através do procedimento especial da Lei 8.437/92, processo nº 0000114-

14.2018.4.02.0000, todavia, com uma percepção aguçada dos limites do

instrumento processual, Sua Exª, Desembargador GUILHERME COUTO DE CASTRO, Vice-presidente da Corte, indeferiu o pleito aos seguintes

fundamentos:

“PROCESSO: 0000114-14.2018.4.02.0000 REQUERENTE: UNIAO FEDERAL PROCDOR: ADVOGADO DA UNIÃO

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REQUERIDO: JUÍZO DA 4ª VARA FEDERAL DE NITERÓI/RJ

DECISÃO

Trata-se de pedido de suspensão de liminar

antecipatória de tutela, apresentado pela UNIÃO FEDERAL em face da decisão do Juízo da 4º Vara Federal de Niterói, proferida nos autos de ação popular n.º 001786- 77.2018.4.02.5102.

A ação popular objetiva impedir a nomeação da

Deputada Federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO no cargo de Ministra de Estado do Trabalho, e foi ajuizada por JOÃO GILBERTO ARAÚJO PONTES E OUTROS, em desfavor do Excelentíssimo Presidente da República e da União Federal.

Em 08/01/2018, o Juízo da 4º Vara Federal de Niterói

prolatou a decisão atacada, para: "em caráter cautelar e liminar inaudita altera parte, dou provimento para SUSPENDER a eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho, bem como sua posse. Fica cominada, para fins de descumprimento, multa pecuniária no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para cada agente que descumprir a presente decisão. Intimem-se e citem-se a União, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República e a Excelentíssima Senhora empossanda para imediato cumprimento".

No presente pedido de suspensão, a UNIÃO

FEDERAL aponta que há situação de grave lesão à ordem pública e à ordem administrativa; que a decisão interfere de maneira absolutamente sensível na separação de poderes e usurpa competência legitimamente concedida ao Poder Executivo; que a decisão fere diversos dispositivos legais e coloca em risco a normalidade institucional do país; que a decisão impede a posse da Deputada Federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO marcada para 09/01/2018, às 15h; que os atos praticados pela empossanda e julgados pela Justiça do Trabalho não repercutem em seara criminal e tampouco denotam qualquer prática contra a Administração Pública; que juízes federais indeferiram pedidos de antecipação de tutela no bojo de outras ações populares; que é descabida a ação popular

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diante da ausência de lesão; que a mera nomeação de um Ministro é incapaz de causar qualquer prejuízo e o art. 84 da Lei Maior estabelece a competência do Presidente da República para nomear e exonerar Ministros de Estado. Requer a suspensão da liminar, nos termos do art. 4º, § 7º, da Lei n.º 8.437/92 (01/13).

Às 13h de 09/08/2017, os autos vieram à Vice-

Presidência para atuar, no caso, em substituição à Presidência, ante à suspeição do Excelentíssimo Presidente, Desembargador Federal André Fontes, e ao disposto no art. 23, caput do Regimento Interno desta Corte (fls. 18).

É o relatório. DECIDO.

Dispõe o artigo 4º da Lei nº 8.437/92:

(...)

A lei exige (i) o manifesto interesse público e (ii) a

necessidade de evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública provocados pela decisão atacada.

A suspensão da execução de liminar tem

pressupostos próprios e excepcionais, e não pode ser banalizada e ampliada em utilização substitutiva do recurso legalmente previsto para a hipótese.

Assim: "Não cabe na suspensão de liminar prevista

na Lei n.º 8.437/92, art. 4º, o exame de matérias relacionadas ao mérito da causa em que proferida, nem a reapreciação dos requisitos necessários à concessão da liminar. Via restrita a verificação da ocorrência dos pressupostos relacionados ao risco de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas" (STJ - Corte Especial, SL 69-AgRg, Min. Edson Vidigal, j. 19.5.04, DJU 4.10.04)

No caso, a decisão atacada não tem o condão de

acarretar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública. E a suspensão não é apta a adiantar, substituir ou suprimir exame a ser realizado na via judicial própria.

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Basta dizer que nem cópia da decisão foi trazida no pedido de suspensão e os argumentos elencados, quanto à competência para escolher e indicar seus ministros, é matéria eminentemente de mérito.

As questões a serem respondidas positivamente,

para autorizar o manejo da suspensão, são muito simples: (i) há grave lesão à ordem econômica ou à saúde? (ii) há tumultuária inversão da ordem jurídica e administrativa, apta a autorizar suspensão, independentemente do debate na via própria?

Apenas a concessão da liminar que, por ora, impede

posse de Deputada Federal indicada não é apta, por si, a responder positivamente a tais pressupostos.

Do exposto, com amparo no art. 4º, caput, da Lei nº

8.437/92, c/c o art. 23 e 225, os últimos do Regimento Interno desta Corte, INDEFIRO o pedido de suspensão.

Oficie-se ao Juízo da 4ª Vara Federal de Niterói, comunicando o inteiro teor desta decisão.

Publique-se. Intimem-se. Decorrido o prazo, arquivem-se os autos.

Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 2018. GUILHERME COUTO DE CASTRO Desembargador Federal Vice-Presidente, no exercício da Presidência (art. 23, caput do Regimento Interno desta Corte)

Paralelamente a UNIÃO também aviou agravo de instrumento, processo nº

0000132-35.2018.4.02.0000, postulado antecipação de tutela recursal, mas

o pedido, do mesmo modo que a pretensão anterior, foi negado pelo MM. Relator

nos seguintes termos:

“Agravo de Instrumento 0000132-35.2018.4.02.0000 RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO SCHWAITZER AGRAVANTE: UNIAO FEDERAL AGRAVADO: JOAO GILBERTO ARAUJO PONTES E OUTROS

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ORIGEM: 04ª Vara Federal de Niterói

DECISÃO

Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto pela UNIÃO FEDERAL contra decisão proferida nos autos da ação popular nº 0001786- 77.2018.4.02.5102, distribuída para a 4ª Vara Federal de Niterói, que deferiu, em caráter cautelar, a liminar pleiteada pelo impetrante, para suspender a eficácia do decreto que nomeou a ora agravante para o cargo de Ministra de Estado do Trabalho, bem como sua posse, além da aplicação da multa pecuniária no valor de R$500.000,00 para cada agente que descumprir a decisão.

Aduz a agravante que a decisão recorrida deve ser

revogada ou reformada, tendo em vista a prevenção com a ação popular nº 0502878-70.2017.4.02.5101, em trâmite na 1ª Vara Federal de Magé.

Sustenta, ainda, urgência na concessão de decisão

que suspenda a eficácia da liminar proferida no processo originário, levando-se em consideração o grande impacto na ordem pública e administrativa que pode causar.

Ressalta que a nomeação observou os parâmetros

constitucionais e a decisão agravada vai de encontro com o princípio da separação dos Poderes.

Esclarece que houve acordo nos autos da demanda trabalhista que teria servido como argumento para o deferimento da liminar; e que a nomeação de um Ministro de Estado não é mero ato administrativo, mas sobretudo político.

Requer a concessão de efeito suspensivo a fim de

suspender a os efeitos da decisão agravada.

Os autos deste processo foram distribuídos por prevenção ao agravo de instrumento 0000131- 50.2018.4.02.0000.

Decido.

Compulsando os autos nota-se que a decisão

agravada está assim fundamentada:

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(...)

Nos termos do art. 995, do CPC, "os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso".

Por seu turno, o seu parágrafo único dispõe que "a

eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso".

No caso, conforme também restou decidido nos autos

do agravo de instrumento nº 0000131-50.2018.4.02.0000, a decisão atacada não tem o condão de acarretar risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação. Outrossim, é prematuro afirmar estar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.

Com efeito, a competência do Presidente para

escolher e indicar seus ministros, é matéria eminentemente de mérito.

Quanto à tese de prevenção com a ação popular nº

0502878-70.2017.4.02.5101, em trâmite na 1ª Vara Federal de Magé, é importante observar que em consulta ao sistema processual APOLO constata-se a existência de outras demandas, todas protocoladas na mesma data, porém em horários diferentes, com decisões em apenas alguns dos casos, e em nenhum deles algum Juízo se pronunciou acerca de eventual prevenção.

Ou seja, não está claro nos autos se, havendo

prevenção, qual seria o Juízo prevento, motivo pelo qual não cabe tal análise neste momento processual.

Conforme afirmado nos autos do agravo de

instrumento nº 0000131-50.2018.4.02.0000, decisões proferidas por outros magistrados em ações populares diversas, não são capazes de afastar os efeitos da decisão agravada, mormente considerando o fato de que foi prolatada em sede cautelar e sem manifestação conclusiva acerca da prevenção.

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Cumpre observar, ainda, que a decisão atacada não se aparenta teratológica, conforme analisado nos autos do agravo de instrumento nº 0000131-50.2018.4.02.0000, na medida em que o magistrado de piso, fundamentando sua decisão no princípio da moralidade administrativa (art. 37, caput, da CRFB/88), determinou, de forma cautelar, a suspensão da eficácia do decreto que nomeou a ora agravante para o cargo de Ministra de Estado do Trabalho, diante da suposta gravidade dos fatos narrados (condenações transitadas em julgado na seara trabalhista).

A existência de certidões negativas em nome da

agravante com relação a débitos previdenciários e trabalhistas é questão meritória, não sendo cabível a sua apreciação neste momento processual.

Observa-se também que o próprio magistrado que

prolatou a decisão atacada esclareceu inexistir violação à separação dos Poderes quando o Poder Judiciário está a resguardar preceito constitucional autoaplicável.

Por fim, em consulta ao sistema processual é possível perceber que a UNIÃO ingressou com pedido de suspensão de liminar (processo 0000114-14.2018.4.02.0000), sendo certo que a Presidência do Eg. TRF da 2ª Região proferiu decisão de indeferimento, sob o argumento de que "apenas a concessão da liminar que, por ora, impede a posse de Deputada Federal indicada não é apta, por si, a responder positivamente a tais pressupostos", quais sejam: (i) há grave lesão à ordem econômica ou à saúde? (ii) há tumultuária inversão da ordem jurídica e administrativa, apta a autorizar suspensão, independentemente do debate na via própria?".

Ante o exposto, INDEFIRO, por ora, O PEDIDO DE

EFEITO SUSPENSIVO formulado pelo agravante, mantendo a decisão agravada.

Intime-se a parte agravada para fins do disposto no

artigo 1019, inciso II, do Código de Processo Civil.

Após, ao Ministério Público Federal. Enfim, retornem os autos conclusos.

Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 2018. VLADIMIR SANTOS VITOVSKY Juiz Federal Convocado - Relator”

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E nesse cenário processual, derradeiramente, a UNIÃO aforou pedido de

SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA no SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, processo nº 0010771-53.2018.3.00.0000 (SLS 2340/RJ), cuja

cópia na íntegra agora é anexada.

Vale dizer, a propósito, que, na peça vestibular do referido expediente abriu-

se um capítulo próprio (e extenso) para tentar justificar a competência

daquela Corte. Transcrevem-se a íntegra os argumentos apresentados:

“II – DA COMPETÊNCIA DO STJ. DA VIOLAÇÃO MERAMENTE REFLEXA AO ART. 37, caput, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. VIOLAÇÃO AO ART. 4º, I DA LEI N. 4.717/65

Como visto, trata-se, na origem, de decisão liminar,

proferida em primeiro grau, que suspendeu a eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco ao cargo de Ministra do Estado do Trabalho, bem como sua posse.

A decisão restou vergastada em sede de Agravo de

Instrumento e Pedido de Suspensão de Liminar, ambos perante o Tribunal Regional Federal da 2ª Região, não tendo a União obtido o provimento pretendido.

Nos termos do art. 4º da Lei n. 8.437/92, cabe ao

Presidente do Tribunal ao qual couber o respectivo recurso a análise de pedido de suspensão, como se vê:

Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

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Por oportuno, destaque-se que não há falar em competência da Corte de origem para apreciar pedido de suspensão por decisão monocrática de membro do Tribunal, sob pena de usurpação da competência do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal, conforme já manifestado pela Corte Especial desse Egrégio STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. LIMINAR CONCEDIDA EM MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PEDIDO DE SUSPENSÃO AJUIZADO PERANTE O PRÓPRIO TRIBUNAL A QUO. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO STJ. LIMINAR NA RECLAMAÇÃO DEFERIDA. I - A reclamação tem cabimento para preservar a competência deste Superior Tribunal de Justiça ou garantir a autoridade das suas decisões (art. 105, inciso I, alínea f, da Constituição Federal de 1988 e art. 187 do RISTJ). II - Conforme o disposto nos artigos 25 da Lei 8.038/90 e 271 do RISTJ, compete ao Presidente do STJ, para evitar grave lesão à ordem, saúde, segurança ou economia públicas, suspender, em despacho fundamentado, a execução de liminar ou de decisão concessiva de mandado de segurança contra o Poder Público, proferida, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal. III - In casu, deferida liminar contra o Poder Público por desembargador do eg. TJRJ, em mandado de segurança originário daquela Corte, tal decisão desafia incidente de suspensão a ser ajuizado perante esta Corte, ou o eg. Supremo Tribunal Federal, se a matéria tiver índole constitucional. IV - Assim, ajuizado pedido de suspensão no próprio col. TJRJ, e deferido o pedido, resta aparentemente usurpada a competência desta Corte, razão pela qual, presentes os requisitos, deferiu-se liminar para suspender a r. decisão proferida pela presidente do eg. Tribunal a quo, até o julgamento da presente reclamação. Agravo regimental desprovido.

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(AgRg na Rcl 12.363/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/06/2013, DJe 01/07/2013)

A contrario sensu, da decisão monocrática que

indefere medida liminar pleiteada pela União, de igual monta cabe pedido de suspensão ao tribunal competente para apreciar eventual Recurso Especial ou Extraordinário, a depender da matéria.

De plano, destaque-se que a doutrina é categórica ao

afirmar que a definição do Tribunal competente para apreciar passa não apenas pelos fundamentos da decisão vergastada, mas principalmente pela identificação da causa de pedir da demanda e da matéria prequestionada. Nesse sentido leciona Leonardo Carneiro da Cunha:

Para efeito de definir a competência do STF ou do STJ, deve-se aferir se a matéria é constitucional ou infraconstitucional. Qual elemento identifica de que matéria se trata? É o fundamento da decisão proferida pelo tribunal? São os motivos invocados na petição do pedido de suspensão? São os argumentos que integram a causa de pedir da demanda proposta?

Na verdade, o pedido de suspensão deve ser ajuizado perante o tribunal competente para julgar o recurso a ser interposto. É preciso, então, verificar qual a causa de pedir da demanda ou qual matéria restou prequestionada na decisão de que se irá recorrer. Se o prequestionamento foi de matéria constitucional, então o pedido de suspensão deverá ser dirigido ao Presidente do STF. Se, diversamente, a matéria prequestionada for de índole infraconstitucional, deverá o pedido de suspensão ser ajuizado perante o Presidente do STJ. (A Fazenda Pública em juízo / Leonardo Carneiro da Cunha. - 14. ed. rev., atual e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 616/617)

A interpretação se coaduna com o disposto no art. 25

da Lei n. 8.038/90, que instrui as normas procedimentais de processos perante o Superior Tribunal de Justiça e o

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Supremo Tribunal Federal, o qual destaca que o fundamento da causa é que deverá definir a competência para a análise do pedido de suspensão, a saber:

Art. 25 - Salvo quando a causa tiver por fundamento matéria constitucional, compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça, a requerimento do Procurador-Geral da República ou da pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, suspender, em despacho fundamentado, a execução de liminar ou de decisão concessiva de mandado de segurança, proferida, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.

Para além, é farta a jurisprudência do STJ nesse

exato sentido: AGRAVO INTERNO. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. PARTICIPAÇÃO DE MILITARES ESTADUAIS EM CURSO DE FORMAÇÃO. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DE CRITÉRIOS DE EDITAL FORMALIZADO POR ÓRGÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE DE JULGAR PRETENSÃO SUSPENSIVA À LUZ DE DIREITO LOCAL. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A competência da Presidência do STJ para julgar pedido de contracautela está vinculada à fundamentação de natureza infraconstitucional, com conteúdo materialmente federal, da causa de pedir indicada no feito principal. Inteligência do art. 25 da Lei n.º 8.038/90. 2. O julgamento de pretensão suspensiva à luz de direito local é estranho às atribuições jurisdicionais das Presidências do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça (precedentes do STF e desta Corte). Dessa forma, não há como aferir a possibilidade ou não da participação de servidor público em curso de formação com

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parâmetro em critérios de edital formalizado por órgão da Administração Pública estadual. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt na SS 2.897/BA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 29/11/2017) -------------------------------------------------------------- ------------------------------------------ AGRAVO INTERNO. PEDIDO DE SUSPENSÃO. AÇÃO ORDINÁRIA. REPASS INTEGRAL DA COTA DE PARTICIPAÇÃO NA ARRECADAÇÃO DO ICMS. TUTELA PROVISÓRIA. PENHORA ON-LINE EM CONTAS PÚBLICAS. CAUSA DE PEDIR COM FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A competência do Superior Tribunal de Justiça para deliberar acerca de pedidos de suspensão de liminar está vinculada à fundamentação de natureza infraconstitucional, com conteúdo materialmente federal, da causa de pedir. 2. Hipótese em que a causa (possibilidade de bloqueio de verbas públicas) tem, também, status constitucional (art. 100 da Constituição da República). Âmbito de discussão estranho à competência desta Corte para examinar o pleito suspensivo, nos termos do art. 25, caput, da Lei n.º 8.038/1990. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt na SLS 2.249/GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 29/03/2017, DJe 25/04/2017)

Pois bem.

Fixada referida premissa, é certo que a definição da

competência para análise do presente pedido de suspensão de liminar deve ter em vista o quanto exposto enquanto causa de pedir na petição inicial.

Nessa esteira, analisando detidamente a exordial,

verifica-se que a questão posta tem índole infraconstitucional, versando sobre a escorreita aplicação do art. 4º, I da Lei n. 4.717/65, dispositivo que integra a causa

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de pedir da ação, conforme anotado na página 6 da petição inicial (em anexo), no seguinte trecho:

“É por todo o exposto que, s.m.j., parece estar claro que o ato administrativo que nomeia a deputada federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO, ao Ministério do Trabalho e Emprego, é nulo por violar o art. 37, caput da CRFB/88, o art. 2º, c, d, e e, parágrafo único c, d e e, c/c art. 4º, I, da Lei 4.717/65, vejamos:”

Ainda que na decisão ora impugnada tenha sido

mencionado o art. 37, caput, da CF/88, por entender o autor popular que a nomeação da Exma. Deputada Cristiane Brasil ao cargo de Ministro do Trabalho violaria o princípio da moralidade administrativa, não se verifica, na realidade, nenhuma ofensa direta a ele.

Com efeito, em que pese ter sido invocado o aludido

dispositivo, mesmo in status assertionis, qualquer análise sobre a moralidade administrativa, no caso, requer primeiro a verificação dos dispositivos da Lei n. 4.717/65 (Lei da Ação Popular), notadamente seu art. 4º, I, de modo que haveria violação meramente reflexa ao texto constitucional.

Explica-se.

Conforme narrado linhas atrás, o autor popular

entende que o Decreto que nomeou a Deputada Cristiane Brasil para o cargo de Ministra do Trabalho estaria eivado de nulidade, por conta da existência, em seu desfavor, de condenações sofridas na justiça do trabalho, fato que a desabonaria e desabilitaria para ocupar o cargo.

Desse modo, sustenta a violação do art. 37, caput, da

CRFB/88, que expressamente preceitua o princípio da moralidade administrativa, bem como do art. 4º, I da Lei n. 4.717/65, que trada dos requisitos para atos de admissão no serviço público, in verbis:

Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.

I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições de habilitação, das normas legais,

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regulamentares ou constantes de instruções gerais.

Em paralelo, não se pode perder de vista que a

demanda originária se instaura em sede de ação popular, a qual, em regra, exige a comprovação do dano ao patrimônio público, salvo nos casos em que há presunção legal de lesividade da conduta, o que a tornaria lesividade in re ipsa, situação em que o autor popular está dispensado de demonstrar concretamente o prejuízo.

O presente caso se ajusta à situação descrita, em que

o autor popular não descreve e nem demonstra qualquer dano concreto ao patrimônio público, mas se arvora na presunção legal erigida pelo art. 4º, I da Lei n. 4.717/65 para presumir a lesividade da nomeação da Exma. Deputada ao cargo de Ministra do Trabalho. Caso assim não o fizesse, a ação popular seria prontamente incabível, pela ausência de demonstração da lesividade.

Corroborando tal entendimento, veja-se o Recurso

Especial n. 1.559.292/ES, cujo mote também versa sobre cabimento da ação popular em casos de violação ao princípio da moralidade:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. TRANSPORTE URBANO COLETIVO DE PASSAGEIROS. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO. CABIMENTO DA AÇÃO POPULAR. PREJUÍZO AO ERÁRIO IN RE IPSA. ADMITIDA A DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI MUNICIPAL. VIOLAÇÃO DA CLÁSULA DE RESERVA DO PLENÁRIO. OFENSA AOS ARTIGOS 480 E 481 DO CPC. SÚMULA VINCULANTE 10/STF. 1. A insurgência das recorrentes cinge-se à possibilidade de o Tribunal a quo declarar, em Ação Popular, de forma incidental, por órgão fracionário, a inconstitucionalidade da Lei Municipal 5.432/2001, que concedeu serviços municipais de transporte público e de passageiro sem prévia licitação. 2. Sobre a necessidade de comprovação de dano em Ação Popular, é possível aferir que a lesividade ao patrimônio público é in re ipsa. Sendo cabível para a proteção da moralidade

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administrativa, ainda que inexistente o dano material ao patrimônio público, a Lei 4.717/65 estabelece casos de presunção de lesividade, bastando a prova da prática do ato nas hipóteses descritas para considerá-lo nulo de pleno direito. 3. Ademais, é possível a declaração incidental de inconstitucionalidade em Ação Popular, "desde que a controvérsia constitucional não figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou simples questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal, em torno da tutela do interesse público". (REsp 437.277/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 13/12/2004). 4. A jurisprudência do STJ é de que, "nos termos do art. 481, parágrafo único, do CPC, 'os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a argüição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão'. Conforme se verifica, a regra exceptiva exige o prévio pronunciamento sobre a questão pelo plenário (ou órgão especial) do respectivo tribunal ou pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, de modo que a existência de precedentes em casos similares que levaram em consideração a legislação de outros entes federativos , por si só, não é suficiente para afastar a cláusula de reserva de plenário" (REsp 1.076.299/BA, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 19/10/2010, DJe 27/10/2010.) 5. In casu, não podia o órgão fracionário declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal 5.432/2001 sem observar as regras contidas nos arts. 480 a 482 do CPC, ou seja, sem suscitar o incidente de declaração de inconstitucionalidade. 6. Recursos Especiais parcialmente providos para anular o acórdão recorrido e determinar que seja observado o procedimento previsto nos artigos 480 e seguintes do CPC.

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(REsp 1559292/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 23/05/2016)

Apenas se caracteriza violação ao princípio da

moralidade nos casos de ação popular com comprovação material da lesividade ao patrimônio público (lesividade in re ipsa), nas hipóteses que se enquadrem no art. 4º da Lei n. 4.717/65.

Noutros termos, a invocação ao art. 37, caput, da

CRFB/88 apenas se afigura possível ante a violação anterior do art. 4º da Lei n. 4.717/65, o que caracteriza violação meramente reflexa ao texto constitucional.

Eis a razão pela qual a União é categórica em afirmar

que a competência para análise do presente Pedido de Suspensão é do Superior Tribunal de Justiça.

Por fim, sanando qualquer dúvida a esse respeito,

acentue-se que o Supremo Tribunal Federal já afirmou que as violações aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37, caput, da CF/88), se dependentes de reexame prévio de normas infraconstitucionais, configuram no máximo ofensa reflexa ao texto da Constituição, como se vê:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROCESSO DISCIPLINAR. OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. VIOLAÇÃO AO ART. 5º, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO. REEXAME DO ACERVO FÁTICOPROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 279. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO. OFENSA REFLEXA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. I – A jurisprudência deste Tribunal firmou-se no sentido de que, nos procedimentos administrativos, é necessária a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, conforme assegurado pelo art. 5º, LV, da Constituição. Precedentes. II – Para dissentir da conclusão adotada pelo acórdão recorrido, quanto à suposta violação à

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ampla defesa e ao contraditório no processo administrativo ao qual foi submetido o ora agravante, necessário seria o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279 do STF. Precedentes. III – As alegações de desrespeito aos postulados da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, se dependentes de reexame prévio de normas infraconstitucionais, podem configurar, quando muito, situações de ofensa meramente reflexa ao texto da Constituição. III – Agravo regimental improvido. (ARE 728143 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 11/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe- 121 DIVULG 24-06-2013 PUBLIC 25-06-2013)

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Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REAPRECIAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE NORMA INFRACONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I – Esta Corte firmou orientação no sentido de que, em regra, a alegação de ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, quando dependente de exame prévio de normas infraconstitucionais, configura situação de ofensa reflexa ao texto constitucional, o que impede o cabimento do recurso extraordinário. II - Agravo regimental improvido. (ARE 646526 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 22/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe- 231 DIVULG 05-12-2011 PUBLIC 06-12-2011)

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Nesse esteio, inconteste que o órgão competente para apreciar este pedido de suspensão é o STJ, pois a competência desse tribunal “para deliberar acerca de pedidos de suspensão de decisão está vinculada à fundamentação de natureza infraconstitucional da causa”

(Petição inicial da SLS 2340/RJ)

Pois bem! Hoje, sábado, 20 de janeiro de 2018, Sua Exª, o VICE- PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no exercício

da presidência, deferiu o pedido da UNIÃO e suspendeu a eficácia da liminar

antes concedida pelo juízo da 004ª Vara Federal da Subseção Judiciária de

Niterói/RJ. Tal fato, aliás, está sendo amplamente noticiado, inclusive no sítio

oficial do próprio STJ. Confira-se:

(http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/not icias/Not%C3%ADcias/Suspensa-decis%C3%A3o-que-impedia-posse-de- Cristiane-Brasil-no-Minist%C3%A9rio-do-Trabalho )

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Infelizmente, a íntegra da decisão ainda não foi disponibilizada aos

reclamantes e só o será após publicação (prevista para 02 de fevereiro

de 2018), mas a urgência da medida que ora se postula não permite aguardar

até tal data, valendo considerar que não há dúvidas acerca de sua existência

nem de seu conteúdo, pelo que se pode extrai da análise do texto noticiado pelo

STJ e da certidão de movimentos processuais em anexo:

“Suspensa decisão que impedia posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho

O vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça

(STJ), ministro Humberto Martins, no exercício da presidência, suspendeu a decisão do juízo da 4ª Vara Federal de Niterói que impedia a posse da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) como ministra do Trabalho.

Após a suspensão da posse em primeira instância e

a manutenção dessa decisão por parte do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), a Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com um pedido de suspensão de liminar no STJ.

Ao analisar o caso durante o recesso forense, o

ministro Humberto Martins concordou com os argumentos da AGU no sentido de que condenações em processos trabalhistas não impedem a deputada de assumir o cargo, já que não há nenhum dispositivo legal com essa determinação.

“Ocorre que em nosso ordenamento jurídico

inexiste norma que vede a nomeação de qualquer cidadão para exercer o cargo de ministro do Trabalho em razão de ter sofrido condenação trabalhista. O fumus boni iuris acerca da questão é evidente”, afirmou o ministro.

Legislação infraconstitucional

A posse foi suspensa no início de 2018 por decisão do juízo da 4ª Vara Federal de Niterói com base no artigo 4º da Lei da Ação Popular (Lei 4.717/65). Ao analisar um

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pedido inicial de suspensão, o TRF2 o negou. Com isso, abriu-se a possibilidade da União recorrer ao STJ.

Para justificar o pleito de suspensão no tribunal,

a AGU alegou que, embora o juízo de primeira instância tenha citado o artigo 37 da Constituição, tal violação foi reflexa, e o fundamento jurídico para embasar a decisão que suspendeu a posse foi o artigo 4º da Lei da Ação Popular.

O ministro Humberto Martins explicou que a questão

jurídica em debate é de caráter infraconstitucional e diz respeito à interpretação a ser dada quanto à aplicabilidade dos dispositivos da Lei da Ação Popular ao caso.

Ordem pública

Para a AGU, “vedar a posse de alguém em cargo público em razão de simples condenação decorrente de prática de ato inerente à vida privada civil” é uma forma nítida de “grave lesão à ordem pública administrativa”.

Humberto Martins destacou que o cargo de ministro

de Estado é de livre nomeação do presidente da República, sendo descabida a suspensão da posse sem embasamento jurídico-legal que justifique tal medida.

Segundo o ministro, é sabido que se exige retidão,

aferida pela ausência de condenações criminais ou em casos de improbidade administrativa, para nomeação e posse em diversos cargos públicos. Entretanto, Humberto Martins destacou que a condenação de um cidadão na Justiça do Trabalho não equivale, em seus efeitos, à aplicação de uma sanção criminal ou por improbidade, já que não há qualquer previsão normativa de incompatibilidade de exercício de cargo ou função pública em decorrência de uma condenação trabalhista, que diz respeito a uma relação eminentemente privada, como no caso dos autos.

“O perigo da demora – grave risco de dano de

difícil reparação ou mesmo irreparável – está suficientemente demonstrado pela necessidade de tutela da normalidade econômica, política e social. Não é aceitável que decisões liminares suspendam atos de

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nomeação e de posse, sem clara comprovação de violação ao ordenamento jurídico”, afirmou o vice- presidente do STJ.

O ministro determinou que a União, o presidente da

República, o Ministério Público Federal e demais interessados sejam comunicados da decisão que determinou o retorno da eficácia do decreto que nomeou Cristiane Brasil Francisco para o cargo de ministra de Estado do Trabalho, bem como possibilitou sua posse, até o trânsito em julgado da decisão originária.” (http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C 3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Suspensa- decis%C3%A3o-que-impedia-posse-de-Cristiane-Brasil-no- Minist%C3%A9rio-do-Trabalho )

Ciente dessa decisão o Presidente da República dará posse à Ministra

do Trabalho na manhã do dia 22 de janeiro de 2018, como está sendo

amplamente informado pela imprensa. Confira-se:

(https://g1.globo.com/politica/blog/gerson-camarotti/post/2018/01/20/governo- recebe-com-alivio-decisao-do-stj-e-dara-posse-a-cristiane-brasil-na- segunda.ghtml)

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DA USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA SUPREMA CORTE

Deveras, todos conhecem a redação do art. 4º da Lei Federal 8.437/92

e sabem que sua interpretação, abalizada pelo norte dos art. 102 e art.

105 da CRFB/88, divisam com clareza a atribuição para conhecimento das

suspensões liminares oriundas dos tribunais de segundo grau entre o Superior

Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Sabem também que a ofensa

reflexa a comandos constitucionais não autorizam acesso ao Pretório Excelso.

E justamente tentando demonstrar, a fórceps, que análise da questão esbarrava no art. 4º, I, da Lei da ação popular, a UNIÃO desenvolveu o

longo arrazoado (transcrito acima). Ocorre que, apesar de todo o louvável

esforço, seus argumentos não convencem, d.v.. Explica-se:

O texto do art. 4º, I, da Lei 4.717/65 em momento algum trata dos

efetivamente dos pontos debatidos e controvertidos no processo, como

o conceito de moralidade administrativa, o princípio da separação dos poderes ou a competência privativa do Presidente da República para

nomeação de Ministros. Confira-se:

“Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º. (...) I. A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais.” (Lei da ação popular)

Na verdade, a norma citada é apenas instrumental e de segundo plano, assim como são, por exemplo, as eventuais citações exemplificativas

do CPC sobre procedimentos ou validade da representação. Basta observar que: se o dispositivo infraconstitucional for retirado do mundo jurídico, o ato permaneceria nulo por violação direta da Constituição.

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Tanto é verdade que em momento algum quaisquer dos magistrados

que apreciaram o processo nas instâncias inferiores se referiram aos

dispositivos infraconstitucionais invocados. Prova maior, portanto, de que a

ofensa é direta, e não reflexa. Observe-se, Exª, que o debate que se travou nas

instâncias originárias avaliou e cotejou diretamente e tão somente os comandos

e princípios constitucionais, vale dizer do art. 2º (independência entre os

poderes), do art. 37, caput (princípio da moralidade administrativa) e do art. 87

(competência para escolha de Ministros), CRFB/88. Basta conferir:

“PROCESSO: 0001786-77.2018.4.02.5102 (...) AUTOR: JOAO GILBERTO ARAUJO PONTES E OUTROS REU: UNIAO FEDERAL E OUTROS DECISÃO

(...) Os Autores alegam, em apertada síntese, que a

nomeação e posse para o cargo de Ministra de Estado do Trabalho ofende a moralidade administrativa, uma vez que a pessoa escolhida (Exma. Deputada Federal CRISTIANE BRASIL FRANCISCO) (...), possui, pesando contra sua imagem, fatos desabonadores já replicados nas grandes mídias, como condenação ao pagamento de dívida trabalhista.

(...) Em exame ainda que perfunctório, este magistrado

vislumbra fragrante desrespeito à Constituição Federal no que se refere à moralidade administrativa, em seu artigo 37, caput, quando se pretende nomear para um cargo de tamanha magnitude, Ministro do Trabalho, pessoa que já teria sido condenada em reclamações trabalhistas, condenações estas com trânsito em julgado

(...) É bem sabido que não compete ao Poder Judiciário o

exame do mérito administrativo em respeito ao Princípio da separação dos Poderes. Este mandamento, no entanto, não é absoluto em seu conteúdo e deverá o juiz agir sempre que a conduta praticada for ilegal, mais grave ainda, inconstitucional, em se tratando de lesão a preceito constitucional autoaplicável.

(...) Niterói, 8 de janeiro de 2018.

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(assinado eletronicamente) LEONARDO DA COSTA COUCEIRO Juiz Federal no exercício da titularidade da 04ª Vara Federal de Niterói

“PROCESSO: 0000114-14.2018.4.02.0000 REQUERENTE: UNIAO FEDERAL PROCDOR: ADVOGADO DA UNIÃO REQUERIDO: JUÍZO DA 4ª VARA FEDERAL DE NITERÓI/RJ DECISÃO

Trata-se de pedido de suspensão de liminar antecipatória de tutela, apresentado pela UNIÃO FEDERAL em face da decisão do Juízo da 4º Vara Federal de Niterói, proferida nos autos de ação popular n.º 001786- 77.2018.4.02.5102.

(...) No presente pedido de suspensão, a UNIÃO

FEDERAL aponta que há situação de grave lesão à ordem pública e à ordem administrativa; que a decisão interfere de maneira absolutamente sensível na separação de poderes e usurpa competência legitimamente concedida ao Poder Executivo;(...); que a mera nomeação de um Ministro é incapaz de causar qualquer prejuízo e o art. 84 da Lei Maior estabelece a competência do Presidente da República para nomear e exonerar Ministros de Estado.

(...) (...) A suspensão da execução de liminar tem

pressupostos próprios e excepcionais, e não pode ser banalizada e ampliada em utilização substitutiva do recurso legalmente previsto para a hipótese.

(...) As questões a serem respondidas positivamente,

para autorizar o manejo da suspensão, são muito simples: (i) há grave lesão à ordem econômica ou à saúde? (ii) há tumultuária inversão da ordem jurídica e administrativa, apta a autorizar suspensão, independentemente do debate na via própria?

Apenas a concessão da liminar que, por ora, impede posse de Deputada Federal indicada não é apta, por si, a responder positivamente a tais pressupostos.

(...)

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Rio de Janeiro, 9 de janeiro de 2018. GUILHERME COUTO DE CASTRO Desembargador Federal Vice-Presidente, no exercício da Presidência

“Agravo de Instrumento 0000132-35.2018.4.02.0000 RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO SCHWAITZER AGRAVANTE: UNIAO FEDERAL AGRAVADO: JOAO GILBERTO ARAUJO PONTES E OUTROS ORIGEM: 04ª Vara Federal de Niterói DECISÃO

Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto pela UNIÃO FEDERAL contra decisão proferida nos autos da ação popular nº 0001786- 77.2018.4.02.5102, distribuída para a 4ª Vara Federal de Niterói, que deferiu, em caráter cautelar

(...) Ressalta que a nomeação observou os parâmetros

constitucionais e a decisão agravada vai de encontro com o princípio da separação dos Poderes.

(...) Requer a concessão de efeito suspensivo a fim de

suspender a os efeitos da decisão agravada.

(...) Decido. (...) Cumpre observar, ainda, que a decisão atacada não

se aparenta teratológica, conforme analisado nos autos do agravo de instrumento nº 0000131-50.2018.4.02.0000, na medida em que o magistrado de piso, fundamentando sua decisão no princípio da moralidade administrativa (art. 37, caput, da CRFB/88), determinou, de forma cautelar, a suspensão da eficácia do decreto que nomeou a ora agravante para o cargo de Ministra de Estado do Trabalho, diante da suposta gravidade dos fatos narrados (condenações transitadas em julgado na seara trabalhista).

(...) Observa-se também que o próprio magistrado que

prolatou a decisão atacada esclareceu inexistir violação à separação dos Poderes quando o Poder Judiciário está a resguardar preceito constitucional autoaplicável.

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(...) Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 2018. VLADIMIR SANTOS VITOVSKY Juiz Federal Convocado - Relator”

É, portanto, a reclamação ao Supremo Tribunal Federal a única via para

que a ordem jurídica seja reestabelecida e os autos da SLS2340/RJ

encaminhados para análise do seu juízo natural, o que se requer. DA MEDIDA LIMINAR POSTULADA E DA URGÊNCIA

Certo é – e ninguém duvida – que deverá ser concedido aos

reclamados, no curso do processo, pleno direito de defesa e contraditório. No

entanto, o deferimento da medida liminar para suspender, ao menos

temporariamente, a decisão do Superior Tribunal de Justiça é medida que se

impõe à vista do balizamento entre os valores, princípios e riscos envolvidos

nessa demanda, principalmente porque a cognição exauriente para julgamento

da reclamação consumirá tempo demasiado para evitar os danos

que poderão advir.

Fato é (público e notório, aliás), noticiado pelo oficialmente Governo

Federal, que a posse da Ministra está agendada para a próxima segunda-feira,

dia 22 de janeiro de 2018. Não há, portanto, tempo hábil para se

aguardar dilação probatória ou oferecimento do contraditório. DO PEDIDO

Isso posto

REQUER

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I. Liminarmente, à vista da evidência do direito invocado e do risco de

dano demonstrado, seja determinada a suspensão dos efeitos da

decisão proferida pelo Min. Vice-presidente do Superior Tribunal de

Justiça nos autos da SLS 2340/RJ, repristinando a decisão do juízo da

Quarta Vara Federal de Niterói/RJ até segunda determinação

II. A requisição de informações à autoridade reclamada.

III. A citação dos beneficiados pelo ato impugnado.

IV. A oitiva do Ministério Público.

V. A procedência da reclamação para cassar a decisão impugnada e

avocar os autos da SLS2340RJ para que seja julgado, como de direito,

na Presidência deste Supremo Tribunal Federal.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais)

protestando pelas provas em direito admissíveis.

Declina o advogado subscritor, na forma do art. 77, V, do

código de processo civil, o endereço profissional onde receberá intimações, a

saber: “Av. Presidente Vargas, nº 31, cc 01, centro, Cordeiro/RJ, CEP 28.540-

000”.

Termos em que, P. Deferimento.

Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2018.

DOMINIQUE SANDER LEAL GUERRA OAB/RJ 104.564