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MpMagEst Penal Especial Gustavo Junqueira Data: 18/04/2013 Aula 04 MpMasEst 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Homicídio 2. Aborto 1. HOMICÍDIO (continuação) 1.1. Homicídio qualificado privilegiado – É possível se a qualificadora for objetiva, ou seja, meios e modos (inciso III e IV). Não será possível nas subjetivas (incisos I, II e V). O privilégio é incompatível com crime hediondo. 1.2. Causas de aumento do homicídio culposo. “§ 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.” (i) Inobservância de regra técnica de profissão arte e ofício – não é imperícia, uma vez que o sujeito conhece a regra, mas não a aplica por leviandade (é mais grave do que não conhecer a regra). Na imperícia o sujeito não tem o talento ou o conhecimento. (ii) Não prestar socorro – a morte mediata não afasta a necessidade de prestar socorro. O argumento do STF é no sentido de que não cabe ao sujeito ativo julgar ou verificar a constatação da morte. (iii) Não procura diminuir consequências do crime – desde que possa fazê-lo sem risco pessoal (iv) Fuga para evitar o flagrante – é controversa a constitucionalidade da causa de aumento da fuga para evitar flagrante, que tem redação muito semelhante ao artigo 305 do código de trânsito. Tal dispositivo já foi reconhecido como inconstitucional em tribunais estaduais (controle difuso) por afrontar o privilégio da não auto incriminação. 1.3. Causas de aumento de pena no homicídio doloso (i) Se a vítima é menor de 14 anos

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MpMagEst Penal Especial

Gustavo Junqueira Data: 18/04/2013

Aula 04

MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha

Complexo Educacional Damásio de Jesus

RESUMO

SUMÁRIO

1. Homicídio 2. Aborto

1. HOMICÍDIO (continuação)

1.1. Homicídio qualificado privilegiado – É possível se a qualificadora for objetiva, ou seja, meios e

modos (inciso III e IV). Não será possível nas subjetivas (incisos I, II e V). O privilégio é incompatível com crime hediondo. 1.2. Causas de aumento do homicídio culposo.

“§ 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.”

(i) Inobservância de regra técnica de profissão arte e ofício – não é imperícia, uma vez que o sujeito conhece a regra, mas não a aplica por leviandade (é mais grave do que não conhecer a regra). Na imperícia o sujeito não tem o talento ou o conhecimento.

(ii) Não prestar socorro – a morte mediata não afasta a necessidade de prestar socorro. O argumento do STF é no sentido de que não cabe ao sujeito ativo julgar ou verificar a constatação da morte.

(iii) Não procura diminuir consequências do crime – desde que possa fazê-lo sem risco pessoal

(iv) Fuga para evitar o flagrante – é controversa a constitucionalidade da causa de aumento da fuga para evitar flagrante, que tem redação muito semelhante ao artigo 305 do código de trânsito. Tal dispositivo já foi reconhecido como inconstitucional em tribunais estaduais (controle difuso) por afrontar o privilégio da não auto incriminação.

1.3. Causas de aumento de pena no homicídio doloso

(i) Se a vítima é menor de 14 anos

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(ii) Se a vítima é maior de 60 anos. 1.4. Perdão judicial

Aplicado apenas no homicídio culposo, se as consequências do crime torna a pena desnecessária.

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.”

Obs.: o perdão judicial tem natureza extintiva da punibilidade e deve ser reconhecido no momento da sentença, após a certeza do injusto e culpabilidade.

1.5. Milícia Milícia é corporação com estrutura e disciplina militar. É organização privada a pretexto de serviço de segurança ou grupo de extermínio. Grupo de extermínio com a associação com objetivo de matar pessoas entre si vinculadas por determinada característica.

“§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.”

2. ABORTO

2.1. O aborto protege a vida endouterina, que tem início:

(i) Posição tradicional – nidação: momento em que o ovo fecundado é fixado à parede do útero;

(ii) Posição moderna – concepção: justificativa é o Art. 4º, I do pacto interamericano de direitos humanos. A posição tradicional tende a migrar para entender que o início da vida se dá com a concepção, contudo, em bancas de concurso também há quem defenda a nidação. Crítica: da pílula do dia seguinte e DIU

(iii) Compromisso relacional mãe e filho – quando a mãe começa a se sentir mãe. Posição de difícil instrumentalização. (Silva Franco e Ferrajoli)

2.2. Término da vida endouterina se dá com o início do parto.

(i) Rompimento da bolsa amniótica;

(ii) Primeira incisão no parto cirúrgico.

2.3. Conceito de aborto – é a interrupção da gestação com o resultado morte do feto. Obs.: A morte pode ocorrer fora do ventre da gestante desde que em razão da interrupção da gestação.

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A gravidez molar (acúmulo de células desorganizadas) ou extrauterina não tem proteção penal.

2.4. Gravidez gemelar – provoca concurso formal impróprio se o autor conhece as circunstâncias.

2.5. Gestante que tenta suicídio – para a doutrina tradicional (Rogério Greco) responde por tentativa de aborto ou aborto consumado. Crítica: o contexto de autolesão afasta relevância do fato (Vitor Gonçalves).

2.6. Suspensão condicional do processo – nos artigos 124 e 126 é possível suspensão condicional do processo.

2.7. Auto-aborto – só se protege a vida do feto, enquanto nas demais figuras também se protege a vida e a integridade da gestante.

“Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos.”

O tipo subjetivo é o dolo, direito ou eventual. Os verbos são provocar e consentir. Prevalece ser possível o auto-aborto por omissão. Consuma-se com a morte do feto e é possível tentativa. Obs.: trata-se de exceção pluralista a teoria monista, pois a gestante que consente responde nas penas do artigo 124 e o terceiro que provoca nas penas do artigo 126. Obs.: as causas de aumento do artigo 127 só incidem nos artigos 126 e 125 com objetivo de impedir a auto lesão punível. No verbo provocar, aquele que colabora com a gestante responderá nas penas do próprio artigo 124. No caso de lesão grave ou morte da gestante por culpa, para parte da doutrina, não há reflexo penal, pois o artigo 127 não atinge não o artigo 124. Possível defender (MP) o concurso entre o artigo 124 e o crime autônomo culposo (lesão culposa ou homicídio culposo). Obs.: no verbo consentir a solução é a mesma, com uma ressalva: só será colaborador no artigo 124, se toda a conduta se dirige ao consentimento. Qualquer colaboração com o terceiro transfere a capitulação para o art. 126, que absorve o artigo 124. Obs.: o verbo consentir também se consuma com a morte do feto. Obs.: há forte entendimento nos tribunais que entende possível converter a pena do auto-aborto em restritiva de direitos, pela interpretação restritiva da condição negativa “sem violência ou grave ameaça à pessoa”.

2.8. Provocar aborto sem consentimento. É crime doloso de ação livre. Obs.: o artigo 126 p. único manda aplicar a pena do artigo 125 se a gestante for menor de 14 anos, alienada, ou se o consentimento foi obtido mediante violência, grave ameaça ou fraude.

“Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos.”

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2.9. Provocar aborto com consentimento. O consentimento deve perdurar por toda a conduta.

“Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.”

2.10. Causas de aumento de pena.

Obs.: Aplica-se para lesão grave ou morte da gestante e a lesão leve é absorvida. Os resultados devem ser culposos. Se doloso há concurso de crimes. Não importa o consentimento da gestante. Só incide nos artigos 126 e 125 (deixa de atingir o colaborador do artigo 124).

“Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.”

2.11. Tentativa.

Hipótese: sujeito quer o aborto, mas não a morte e o feto nasce com vida e a gestante morre. Primeira posição (Rogério Greco) é excepcionalmente admitida a tentativa. Segunda posição parte da premissa que não cabe tentativa em preterdoloso, possível concluir pelo concurso entre a tentativa de aborto e o crime culposo autônomo (homicídio ou lesão corporal). Terceira posição (Capez) por coerência à súmula 610 do STF não já tentativa. Como o resultado culposo o crime está consumado mesmo que o feto não morra.

Súmula 610 – Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que o agente não realize o agente a subtração de bens da vítima.”

2.12. Aborto legal.

“Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.”