MTC IdeIias e Conceitos

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    Medicina Tradicional Chinesa Idias e ConceitosLilian M. Jacques

    rea Interdisciplinar de Histria da Cincia e da Tcnica e EpistemologiaCOPPE/UFRJ

    E-mail: [email protected]

    Trabalhos publicados em anais de eventoJACQUES, L. M.Medicina Tradicional Chinesa - idias e Conceitos In: 8. Seminrio Nacional da Cincia e daTecnologia, 2001, Rio de Janeiro.Seminrio Nacional de Histria da Cincia e da Tecnologia - Caderno de Resumos. , 2001.

    ResumoEste artigo aborda o campo da Medicina Tradicional Chinesa identificando a origem eas caractersticas das idias metafsicas que o inspiram. O momento da sistematizaocom a compilao das idias fundamentais nos cnones. Sua constituio enquantosistema mdico com doutrina mdica, morfologia, fisiologia, etiologia, semiologia,

    diagnose e teraputica.

    Introduo

    Este trabalho examina os conceitos, as doutrinas filosficas, as teorias e o modelo do sistemamdico conhecido como Medicina Tradicional Chinesa cujo convvio com a Medicina OcidentalContempornea se intensificou de forma marcante em todo o mundo a partir de meados do sculo XX.

    Duas vises distintas da Medicina Tradicional Chinesa no que se refere situao desse campo deconhecimento no contexto da Histria e Filosofia da Cincia so apresentadas: as idias de JosephNeedham que refletem o positivismo normal na historiografia tcnica dos anos 50 e a viso histrica e

    sistemtica de Paul Unschuld.A anlise da cosmoviso e do modelo terico da Medicina Tradicional Chinesa inspira-se na

    proposta epistemolgica de Rom Harr de explicitar as assunes empricas e metafsicas presentes deforma subliminal nas descries e explicaes cientficas com o propsito de identificar a linhagem defiliao dos conceitos utilizados para formular os problemas.

    So abordados aspectos das doutrinas mdicas, morfologia e fisiologia humana, do sistema dediagnose e a da teraputica, que em conjunto definem a Medicina Tradicional Chinesa como umsistema mdico

    O sistema de Canais e Pontos de Acupuntura compreendido como um sistema de representaosobre o qual se pode operar por meio dos estmulos exercidos por agulhas ou digitopresso nos pontosde acupuntura para induzir a secreo de substncias qumicas e influenciar a estabilidade de certos

    circuitos neurais com base na plasticidade neural.

    1. Breve Histrico da Medicina Tradicional Chinesa

    Todo sistema mdico possui um objetivo comum que consiste em buscar restabelecer a sade das pessoas ou pelo menos minimizar os efeitos das doenas sobre elas. Para que esse objetivo sejaalcanado necessrio o desempenho de uma atividade, o ato ou a arte de tratar doentes, por um agentetreinado especficamente para o desempenho dessa funo historicamente prestigiosa. O treinamento

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    desse agente pressupe a existncia de um conhecimento ou cincia das causas do adoecer e dosrecursos para tratamento.

    Esse conhecimento desenvolve-se dentro de um contexto social histrico e especfico, ancoradonum sistema metafsico que influencia a direo na qual os conceitos so construdos, articulados edisponibilizados para orientar operaes de ordem teraputica no que se refere arte de curar e aosinstrumentos usados para curar.

    O sistema mdico que chamamos de Medicina Tradicional Chinesa refere-se medicina praticadaainda hoje na China dentro do contexto institucional. O carter sofisticado e cumulativo dessa tradiosurpreendeu os estudiosos ocidentais cuja histria da medicina ignorava ou desqualificava comoprticas populares a experincia de civilizaes no europias .

    Seus recursos teraputicos mais comuns, acupuntura e massagem teraputica, penetraram a culturaocidental de maneira marcante depois da Segunda Guerra Mundial. Smente nos Estados Unidosestima-se que ao final do ano de 2001, as escolas que oferecem programas de treinamento de 2 a 3 anosem Medicina Tradicional Chinesa estejam formando 2000 profissionais por ano.

    No Brasil existem vrios institutos privados de ensino de um ou mais ramos da medicina chinesa ,sobretudo no Rio, So Paulo e Belo Horizonte. H um grande nmero de profissionais acupunturistas euma disputa poltica entre mdicos, fisioterapeutas e outros profissionais de sade pelo direito de usar omtodo na prtica clnica. O sistema de sade pblica comea absorver profissionais de acupuntura emassagem teraputica em algums hospitais e postos de sade. Contudo trabalhos desenvolvidos eminstituies de pesquisa so poucos. O Instituto de Medicina Social da UERJ e a Fundao OswaldoCruz so exemplos de instituies que abordam esse campo.

    A origem da Medicina Tradicional Chinesa remonta a perodos muito antigos mas um momentoimportante ocorre entre 481a .c. e 221a . c., no perodo conhecido como Chou tardio ou EstadosGuerreiros, poca da dissoluo do feudalismo chins que ceder lugar unificao do Imprio sobuma autoridade central. Evoluem parcialmente nesse perodo os conceitos da filosofia naturalchinesa1 que iro influenciar toda a cincia chinesa: a doutrina do Yin/Yang , a Teoria das CincoFases, a idia de Qi, o Taosmo e o Confucionismo.

    Os Estados Guerreiros chegam ao fim com a unificao da China sob Shi-Huang-di ( 221 a . c. 206 a . c.) que implementa um agressivo programa de reformas no sentido de eliminar quaisquervestgios da velha ordem feudal. Os senhores de terra foram expropriados e sua posio assumida poroficiais de altas patentes que poderiam ser substituidos a qualquer momento pelo governo central. Ahomogeneizao cultural foi imposta com padronizao da escrita, dos pesos e medidas e at mesmodas bitolas dos veculos que utilizavam as estradas pblicas. Todos os escritos histricos exceto os demedicina foram queimados e as crticas proibidas.

    A morte de Shih Huang-ti apenas onze anos aps fundar a primeira dinastia imperial da Chinareacende a oposio dos circulos feudais, ocorrem revoltas de trabalhadores e escravos, at que afundao a dinastia Han em 202 a.c. inaugura o grande desenvolvimento da civilizao chinesa. A vidasocial e religiosa deixa de ser controlada pelos nobres e uma classe de pessoas educadas passa a viverindependente de riqueza ou favores. A abertura da Estrada da Seda facilita intercmbios comerciais eculturais.

    A dinastia Han (206 a . c. 220 d. c.) marca o perodo da sistematizao da medicina chinesa. Os principais documentos do perodo Han so os achados arqueolgicos de Ma Wang-dui (168 a.c.),quatorze manuscritos sobre os primrdios da medicina chinesa descobertos na dcada de 70 emescavaes de tmulos antigos na provncia de Hunan. O Tratado de Medicina Interna do Imperador

    1 Aceitamos o uso da expresso filosofia natural chinesa por Unschuld devido ao carter eminentemente qualitativo dacincia chinesa semelhante ao carter qualitativo da cincia aristotlica . importante frisar no entanto que a viso chinesa diferente da Grcia Clssica como ficar evidente neste trabalho.

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    Amarelo, Huang Di Nei Jing, e o Nan Jing , o Clssico das Questes Difceis, compilados napassagem do sc II a. c. para I a. c. .

    O Nei Jing o cnone da Medicina Chinesa e representa o ponto onde as idias fundamentaissobre adoecimento e tratamento alcanam a maturidade nesse sistema. A medicina torna-se um campodistinto da atividade humana. escrito na forma de dilogo entre Huang Di, o lendrio imperadoramarelo e seu ministro Qi Bo. Consiste em duas partes: Su Wen ou Questes fundamentais que

    elucida aspectos da teoria mdica e Ling Shu ou Eixo Espiritual, que um manual de acupuntura.Nessa poca praticava-se a disseco na China e as estruturas internas eram conhecidas, no obstante olivro descreve o trajeto dos 12 canais principais de acupuntura que no constituem estruturasanatmicas no sentido das que conhecemos.

    O Nan Jing integra pela primeira vez todos os aspectos da sade nas doutrinas do Yin/Yang e dasCinco Fases que examinaremos nas prximas sees deste trabalho. Nesse tratado o sistema de canaisde acupuntura j apresenta os doze canais principais, o vaso da concepo Ren Mai e vaso governadorDu Mai. A escolha dos pontos de acupuntura faz-se baseada na idia da circulao de Qi, categoria dafilosofia natural chinesa que ns ocidentais traduzimos como energia. Um aspecto importante dasemiologia chinesa , o estudo dos pulsos , conhecido como pulsologia chinesa tambm abordado.

    Na Medicina Tradicional Chinesa tal como compreendida hoje, o conceito de sade est vinculadoao conceito de equilbrio energtico. Por equilbrio energtico entende-se o equilbrio entre Yin e Yangno organismo que garantido pelo livre circular do Qi. O organismo concebido como uma unidadeque compreende os nveis fsico, psquico, emocional e espiritual, em relao dinmica com o meioambiente.

    Quando ocorre uma desorganizao ou bloqueio do fluxo de Qi no organismo as propores entreYin e Yang se alteram, o equilbrio energtico rompido e aparece a doena. As causas dessedesquilbrio podem ser internas ou externas. As causas internas esto relacionadas com o padro psico-emocional da pessoa, com a deficincia da essncia ou Qi ancestral, a energia herdada dos pais, e comdesequilbrios anteriores que tenham enfraquecido os Zang Fu, rgos e vsceras. As causasexternas referem-se a fatores climticos, alimentao, atividade fsica e intelectual em deficincia ouexcesso e a entidades da medicina ocidental como bactrias e vrus que certamente no estavampresentes no sistema clssico.

    Para restabelecer a sade necessrio restaurar o equilbrio entre Yin e Yang no organismoregulando o fluxo de Qi nos canais de energia . Essa a funo da Medicina Tradicional Chinesa queutiliza vrios mtodos de tratamento, selecionados de acordo com as caractersticas da doena :Acupuntura, Fitoterapia, Diettica, Massagem e Exerccios.

    2. Duas Vises sobre a Cincia na China

    A primeira viso nos legada por Joseph Needham, bioqumico, embriologista e historiador dacincia. O autor interessou-se pelas tradies cientficas do extremo oriente, sobretudo da China, nofinal dos anos 30 e deu partida a um projeto monumental que incluia no incio 7 volumes sobreCincia e Civilizao na China, mas que desdobrou-se em 22 volumes alm da criao de um institutode referncia para a pesquisa da cincia do leste asitico em Cambridge, Inglaterra.

    Para a realizao dos volumes individuais Needham reuniu colaboradores com talentos especiais econhecimentos cientficos e tcnicos detalhados, na maior parte estudiosos e especialistas chineses,porm sua prpria viso sobre a histria da cincia comunicada de modo inequvoco em toda a obra :

    Ao longo dessa srie de volumes assume-se que exista apenas uma Cincia da Natureza, abordada mais ou menos deperto, construda mais ou menos com sucesso e continuidade , por vrios grupos da humanidade de tempos em tempos. Issosignifica que possvel estabelecer uma continuidade absoluta entre o incio da astronomia e da medicina na Babilnia , oavanar do conhecimento natural na China medieval, ndia, Islam e no mundo clssico Ocidental , at a ruptura do

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    Renascimento europeu tardio quando, como tem sido dito, o mais eficiente mtodo para descobrir foi ele prpriodescoberto.2

    O autor teoriza sobre as causas que teriam impedido a civilizao chinesa de experimentar oequivalente Revoluo Cientfica do sc XVII, posto que do sc I a.c. at o sc XV d.c. odesenvolvimento nas cincias, tecnologia e medicina na China foi muito superior ao da EuropaOcidental e certos sistemas de idias como o Taoismo e o Neo-Confucionismo pareciam mais

    congruentes com a cincia moderna do que qualquer sistema europeu, incluindo a teologia crist. Almdisso invenes e descobertas fundamentais para a transformao do mundo medieval no mundomoderno, tais como o papel , a imprensa, a plvora e a bssola, apenas para mencionar as maisconhecidas, so originrias da China.

    Contudo a Revoluo Cientfica no acontece na China e sim na Europa Ocidental no sc XVII . Aexplicao segundo Needham reside num paradoxo: o feudalismo militar aristocrtico europeu pareciamais forte do que sistema feudal chins de carter fundamentalmente burocrtico mas na realidade eramais fraco porque menos racional; das suas entranhas emerge a burguesia mercantil gerando ascondies para a transformao do modo de produo feudal em modo de produo capitalista queacompanhado pela Reforma Protestante completa o pacote que viabiliza a Revoluo Cientfica naEuropa ocidental .

    Dessa forma, a no transformao da sociedade chinesa a despeito de sua produo de mltiplasdescobertas e invenes, deveu-se a um equilbrio homeosttico3 atribudo racionalidade intrnsecano jogo de foras sociais, que a tornava impermevel influncia das inovaes que ela prpriaintroduzia, garantindo assim a continuidade de um modo de operar que converteu-se num entrave aodesenvolvimento cientfico.

    A sociedade europia do sc XV e XVI ao contrrio da chinesa apresentava uma inestabilidadeintrnseca que a tornou vulnervel penetrao da nova viso de mundo esboada por Copernico,desenvolvida por Kepler e Galileu e completada por Newton. A imagem de mundo medieval quedecorria da Escolstica , sntese da filosofia natural aristotlica com o cristianismo foi entosubstituda na Europa . O mtodo cientfico inaugurado mostrou-se eficiente na produo de umconhecimento expresso num idioma universal, a linguagem quantitativa precisa da matemtica que o

    liberou do selo tnico4

    das sociedades que o precederam.A segunda viso a de Paul Unschuld, uma das principais autoridades mundiais em Histria daMedicina Chinesa com inmeros trabalhos de referncia publicados, membro do Instituto de EstudosAvanados em Berlim e diretor do Instituto para a Histria da Medicina da Universidade de Munique.O autor critica a viso de Needham e Lu Gwei-djens baseada na verdade inquestionvel doconhecimento cientfico moderno, que privilegia os aspectos da medicina chinesa importantes para osmdicos praticantes ocidentais ou os que representam uma forma embrionria do pensamento mdicoda atualidade. Acredita que esses autores negligenciam pensamentos e fatos histricos da medicinachinesa que so irreconciliveis com o que eles consideram cientfico, protocientfico ou racional.Unschuld tambm chama ateno para a limitao da abordagem da medicina como um sistemacultural presente na antropologia mdica atual. Considera o conceito sistema cultural vago quando

    aplicado a civilizaes complexas, com grande diversidade intracultural como a civilizao chinesa,onde nos ltimos 2000 encontra-se anos uma variedade de sistemas teraputicos baseados em

    2 Joseph Needham, Lu Gwei-Djen. Science and Civilization in China . Vol 5 , part 2, section 33. Cambridge UniversityPress , Great Britain, 1974, p. xxi.

    3 Joseph Needham.La gran titulacin - Cincia y sociedad em Oriente y Occidente . Alianza Editorial, p. 216.4 Expresso utilizada por Needham no prefcio do livro de Robert Temple, The Genius of China 3,000 years of science,discovery and invention.

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    diferentes conceitos, que em parte se sobrepem e em parte so antagnicos mas que so igualmenterepresentativos da cultura chinesa.

    Na sua investigao, Unschuld pretende tratar no apenas das origens e do desenvolvimento dosdiversos conceitos de sistema de sade na China ao longo do tempo, dentro do contextosocioeconmico e socioideolgico, mas tambm da pluralidade e das mudanas desses conceitos.Sugere uma abordagem histrica e sistemtica, baseada nas fontes mais antigas disponveis, j que elas

    so abundantes na China, datando de 1500 a. c. at os dias de hoje. Nesse perodo de 3500 anos o autor identifica sete sistemas conceituais maiores no mbito daMedicina Chinesa sem que tenham ocorrido numa sucesso linear simples : terapia oracular, medicinademonaca, cura religiosa, terapia pragmtica com uso de drogas, medicina Budista, medicina dacorrespondncia sistemtica e a medicina ocidental. O sistema que Unschuld identifica como Medicinada Correspondncia Sistemtica o que nos interessa e que chamamos de Medicina TradicionalChinesa.

    3. Cosmoviso e Idias Metafsicas da Medicina Tradicional Chinesa

    A cosmoviso dos chineses que repercute na Medicina Tradicional Chinesa baseia-se numametafsica cujas categorias centrais, Tao e Yin/Yang, so diferentes daquelas que orientaram aformao do pensamento ocidental moderno. Os pensadores chineses no tentaram formular leis paraentender o Universo, nem tampouco veneraram deuses, no entanto seu pensamento demonstrou um altopoder civilizatrio como atestam os costumes, artes, caligrafia , medicina e sabedoria. Marcel Granetelucida essas categorias centrais:

    As idias conjuntas de Ordem, Totalidade e Eficcia dominam o pensamento dos chineses. Eles no se preocupam emdistinguir reinos da Natureza . Toda realidade total em si . Tudo no Universo como o Universo. A matria e o espritono aparecem como dois mundos opostos . No se confere ao homem um lugar parte ... a no ser na medida em que ,possuindo uma posio na sociedade , so dignos de colaborar na manuteno da ordem social, fundamento e modelo daordem universal. ... Essas idias coadunam-se com uma representao do Mundo que se caracteriza no peloantropocentrismo , mas pela predominncia da noo de autoridade social. A ordenao do Universo efeito de umaVirtude principesca, que as artes e a cincia devem ser empregadas para prover. Uma regulamentao protocolar vlida

    para o pensamento e para a vida; o reino da etiqueta universal. Tudo lhe est submetido na ordem fsica e na ordem moral,que os chineses se recusam a distinguir de modo contrastante como uma ordem determinstica e ordem de liberdade. Elesno concebem a idia de Lei. Tanto para as coisas quanto para os homens, propem apenas Modelos. 5

    A idia de Totalidade referida pela palavra Tao que significa caminho, via central, eixo . O Taono concebido como um princpio primordial mas como uma categoria concreta que dirige asarticulaes de todos os processos exercendo um poder regulador. No entanto no considerado umafora ou substncia, no em si mesmo uma causa primria , no um criador. apenas umasublimao da Eficcia e da Ordem que ordena as aes e torna o mundo inteligvel.

    O Tao constitudo por dois aspectos polares, complementares, alternantes e intercambiantes, o Yine o Yang . Porm no a soma deles e sim o regulador de sua alternncia cclica. Granet diz sobreesses aspectos fundamentais do pensamento chins:

    O Yin e o Yang no podem ser definidos nem como puras entidades lgicas, nem como simples princpioscosmognicos. No so nem substncias, nem foras, nem gneros. So tudo isso, indistintamente, para o pensamentocomum, e nenhum tcnico jamais os considera sob um dessses aspectos , excluso dos outros. ... Totalmente dominado pela idia de eficcia , o pensamento chins move-se num mundo de smbolos feito de correspondncias e oposies.Quando se quer agir ou compreender, basta p-lo em funcionamento.6

    5 Marcel Granet , O Pensamento Chins , 1a. ed. , Rio de Janeiro, Contraponto, 1997, p. 211.6 Granet,op. cit. , p. 99.

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    Yin refere-se ao lado da montanha que est na sombra e yang ao lado da montanha que estno sol. Entretanto como esclarece Granet, os termos yin e yang no retm um significado especficocomo foras ou substncias , servindo apenas como emblemas para caracterizar duas linhas decorrespondncia onde os atributos de cada elemento determinam sua natureza Yin ou Yang indicando alinha a que pertencem.

    Na linha de correspondncia Yin esto arrolados os fenmenos mais materiais, mais densos, maisprofundos, mais frios, mais inertes, mais escuros. Na linha Yang os fenmenos mais imateriais, maisvolteis, mais quentes, mais claros e com mais movimento. (fig1e fig 2 )

    Cu smbolo doYangTerra smbolo doYin

    Fig 1Tai Qi, princpio Yin & Yangefetor do Tao(Requena: 100)

    Fig 2:Smbolos do Yin & Yang(Requena: 100)

    O conhecido modelo Tai Qi (fig 1) representa a interao rtmica do Yin e do Yang eminterpenetrao mtua segundo uma dinmica onde os padres cclicos constituem ao mesmo tempo princpios de de ordenao e transformao de todas as relaes. A noo de mutao conferemovimento ao modelo.

    Os chineses ao analisar a mutao, verificam que ela prpria invarivel. Sendo onipresente eabsoluta , a mutao imutvel. Ante a sua universalidade no se pode falar de algo ou algum quemuda mas deve-se compreender os modos e estgios da mutao para fluir de acordo com ascircunstncias, evitando o atrito e escapando ao desgaste.

    Essas idias metafsicas oriundas da sabedoria chinesa parecem encampar os trs indivduosreferidos por Harr no cap. 4 do livro As Filosofias da Cincia : o indivduo Parmenideano ,permanente e imutvel; o efmero indivduo Heracliteano e o indivduo Aristotlico cuja permannciaainda que provisria outorga-lhe potencial para mudana sem que perca a identidade.

    A emergncia e ascenso dessas idias na filosofia natural chinesa marca um dos perodos maisdecisivos da histria intelectual da China. Paul Unschuld chama de paradigma da correspondnciasistemtica o pensamento de tipo indutivo associado noo da correspondncia sistemtica entretodos os fenmenos, que encontra-se na base da literatura terico-mdica da China como sugere adoutrina do Yin/Yang e a Teoria das Cinco Fases, a segunda doutrina da filosofia natural chinesa queinfluenciou profundamente a medicina da correspondncia sistemtica.

    O conceito de correspondncia sistemtica baseia-se no princpio de que fenmenos do mundovisvel e invisvel guardam uma relao de dependncia mtua por meio de sua associao com certaslinhas de correspondncia. Unschuld define o paradigma das correspondncias como a combinao

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    de dois conjuntos de conceitos cuja relao conceitual estreita justifica uma denominao comum. Amanipulao de um elemento numa linha especfica de correspondncia pode influenciar outroselementos na mesma linha.

    Para Unschuld dois paradigmas bsicos forneceram o ncleo duro7 para todos os sistemasteraputicos da medicina chinesa. O primeiro o paradigma da relao de causa e efeito entrefenmenos correspondentes que implica em que qualquer mudana num determinado fenmeno

    passvel de afetar outros fenmenos correspondentes que compartilhem o mesmo princpio subjacente.O segundo o paradigma da relao de causa e efeito entre fenmenos no correspondentes que sobcondies especficas exercem influncias mtuas.

    Na Medicina Tradicional Chinesa a causalidade por meio da correspondncia sistemtica traduz-sena correspondncia pelo Yin/Yang e na correspondncia pelas Cinco Fases.Na teoria das Cinco Fases,atribuda a Tsou Yen ( + - 350 a.c. 270 a.c ), os fenmenos naturais e conceitos abstratos noaparecem arrolados em duas mas sim em cinco linhas de correspondncia. Os termos usados comoemblemas no so abstratos como YinYang porm sim cinco fenmenos naturais tangveis : madeira,fogo, terra, metal e gua. As tradues para o portugus costumam usar o termo elemento oumovimento para designar cada fase. O termo elemento deve ser evitado pois no reflete a noodinmica do termo chins que designa as Cinco Fases - wu-hsing. Tampouco deve-se considerar essateoria semelhante teoria dos quatro elementos dos gregos.

    No paradigma da relao de causa e efeito entre fenmenos no correspondentes a causalidade dada pela influncia de fenmenos naturais, alimentos e bebidas, influncias materiais sutis , parasitas,vrus e bactrias.

    Outra idia da metafsica chinesa muito importante para a medicina chinesa o conceito de Qi. Essaidia muito antiga aparece expressa por meio de um ideograma que representa vapores ascendendo dacozedura do arroz para formar nuvens acima. Seu significado tem sido reinterpretado ao longo dotempo como fora vital, energia vital, energia sutil, energia, pneuma .

    A idia de Qi como um todo indiferenciado precursor de tudo na natureza, tanto de seres animadoscomo inanimados, influenciou os autores da medicina chinesa para quem todos os fenmenoscompartilham qualidades e relaes baseados na sua origem comum no Qi. Todas as coisas refletem oQi e tm ressonncia com o Qi ainda que no estejam conectadas no tempo ou no espao. O corpohumano para os chineses reflete no apenas o cosmo e a natureza mas tambm as interaes pessoais esociais.

    O Qi nos organismos vivos tm dois aspectos primrios: a nutrio energtica do corpo e da mente esua atuao em todas as atividades funcionais do corpo. Na literatura mdica os aspectos secundriosdo Qi so definidos como: Qi prnatal e Qi psnatal . O primeiro abarca as qualidades essenciais deconstituio fsica, vitalidade e inteligncia, herdada da unio das essencias dos pais no momento dafertilizao. Acredita-se que esse Qi fique armazenado no sistema energtico relacionado com o rim (eglndulas suprarenais), e que seu montante seja finito, devendo ser cultivado com prticas saudveis para que a vida seja longa. O Qi psnatal o Qi essencial obtido pelos nutrientes e pelo ar que serespira. Quanto mais se absorve esse Qi menos se depleta o Qi prnatal. Para isso necessrio que aalimentao e o ar sejam de boa qualidade e que as funes respiratria e digestiva sejam otimizadas.

    Quando o Qi prnatal e o psnatal combinam no corpo formam a essencia ou Jing que desempenhaum papel importante nas funes fisiolgicas relacionadas com o processo de crescimento,desenvolvimento e amadurecimento. Esses trs tipos de Qi determinam os fundamentos dos seres

    7 A categoria ncleo duro traduzida de hard core demonstra a adeso de Paul Unschuld ao pensamento de ImreLakatos in The Metodology of Scientific Research Programmes .

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    humanos e sua relao com o mundo. Entretanto a funo operativa do Qi executada por outros tiposde Qi que derivam dos primeiros: Qi original, Qi dos alimentos, Qi nutritivo e Qi defensivo.

    4. Doutrina MdicaMadel Luz em Racionalidades Mdicas, Estudo Comparativo da Medicina Ocidental Moderna, da

    Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurvdica e Homeopatia constri a categoria

    racionalidade mdica a partir da identificao nos diferentes sistemas mdicos de dimensesfundamentais: cosmologia, doutrina mdica, morfologia, fisiologia ou dinmica vital, sistemadiagnstico, sistema teraputico.

    O estudo define como doutrina mdica a formulao de certas concepes tericas sobre as origense as causas do adoecer do homem. Na Medicina Tradicional Chinesa a doutrina mdica est expressanas teorias do Yin/Yang e das Cinco Fases, utilizadas para orientar as estratgias teraputicas quevisam equilibrar o organismo eliminando as causas do adoecer.

    Todas as estruturas e funes orgnicas e todos os sinais e sintomas que apontam para disfunesorgnicas, podem ser analisados e interpretados segundo a tica da interao dos dois princpiosYin/Yang como demonstram os quadros abaixo.

    ESTRUTURAS E FUNES ORGNICASYIN & YANGEstrutura funofeminino masculinovulo espermatozidecorpo cabeafrente (trax, abdmen) dorsointerior (rgos) exterior (pele, msculos)zang (rgos) fu (vsceras ocas)abaixo da cintura acima da cinturaregio antero-medial regio pstero-lateral

    sangue QiQi nutritivo (ying qi) Qi defensivo (wei qi)conservao transformaoarmazenamento: sangue

    lquidosessncia

    circulao: sanguelquidosqi

    MANIFESTAES CLNICASYIN & YANGSinais Sintomas

    Doena crnica doena agudaincio gradual inicio rpidoalterao lenta do quadro alterao rpida do quadrofrio calorsonolncia, apatia agitao, insniadeita-se encolhido deita-se esticadoface plida rubor facialvoz fraca -falar pouco voz alta - falar muitorespirao lenta e superficial dispnia

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    ausncia de sede sedeurina profusa e plida urina escassa e escuradiarria constipaolngua plida - saburra branca lngua vermelha - saburra branca pulso vazio pulso cheio

    A teoria das Cinco Fases a outra doutrina que atravessou os tempos, semelhana do Yin/Yang, eat hoje desempenha papel importante na Medicina Tradicional Chinesa praticada em todo o mundo.Sua importncia advm do padro de relacionamento que as fases estabelecem entre si no processo detransformao contnuo dos fenmenos naturais que, no organismo humano determina a manutenoou a ruptura do equilbrio, produzindo a sade ou a doena. O teraputa deve identificar osdesequilbrios no ciclo das cinco fases para orientar a sua interveno no sentido de restaurar as leis dosistema.

    A primeira das leis do sistema das cinco fases diz respeito ao equilbrio entre o Yin e o Yang dentrode cada fase. As funes do rgo, da vscera e de seus respectivos canais de energia numadeterminada fase, devem coexistir em equilbrio dinmico. Quando uma fase apresenta desequilbrio

    haver repercusso em todo o sistema, j que as leis que se seguem demonstram a interdependnciaentre as fases.A lei da gerao de energia ou lei me-filho, trata da ordem de transformao das fases segundo sua

    sucesso normal na natureza, por exemplo: primavera-vero-cancula-outono-invernoprimavera... Deacordo com essa lei cada fase gera energia para reforar a fase seguinte. De forma simblica a relaoentre os elementos que representam cada fase pode ser lida como : a madeira me do fogo poisfornece a matria prima para a ocorrncia dele; o fogo me da terra, formada pelas cinzas. A terraengendra os metais que no processo de contrao eliminam a gua, que irriga a madeira, favorecendo agerminao de um novo ciclo.

    AS CINCO FASES NA NATUREZA

    MADEIRA FOGO TERRA METAL GUAEstao primavera vero cancula outono inverno

    Orientao leste sul centro oeste norte

    Sabor cido amargo doce picante salgado

    Cor verde vermelho amarelo branco preto

    Fat.Ambiental

    vento calor umidade seca frio

    Processo germinar crescer transformar contrair eliminar

    CINCO FASES E O CORPO HUMANOMADEIRA FOGO TERRA METAL GUA

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    rgos(Zang)

    Fgado corao bao/pncreas Pulmo rins

    Vsceras(Fu)

    vescula biliar intestinodelgado

    estmago intestinogrosso

    bexiga

    Sentidos Olhos lngua boca Nariz ouvido

    Tecidos Tendo vasos msculos pele e pelos ossos

    Emoo Ira alegria preocupao Tristeza medo

    Atitude Planejamento comunicao reflexo ordenao vontade

    Canaisdeenergia

    F/VB C/ID CS/TA BP /E P/IG R/B

    A fim de evitar que se forme uma espiral energtica excessiva e descontrolada, cada fase ao mesmo

    tempo que fornece energia para o desenvolvimento da fase seguinte, controla a formao da terceirafase, obedecendo lei da dominncia ou controle, tambm conhecida como a lei av-neto.

    Assim uma fase ao gerar seu filho, controla seu neto. Simblicamente temos que a madeira gera ofogo mas controla a terra, extraindo energia do solo; o fogo gera a terra e controla o metal, fundindo-o;a terra gera o metal mas controla a gua contendo-a; o metal gera a gua mas controla a madeiracortando-a e por fim a gua gera a madeira mas controla o fogo apagando-o.

    No terreno da sade e das doenas, as relaes patolgicas se instalam quando ocorremdesequilbrios no ciclo da dominncia. Uma fase com excesso de energia pode exercer umasuperdominncia, enfraquecendo a fase dominada, em lugar de apenas control-la. Por exemplo,quando a energia do fgado est em excesso pode depletar a energia do bao/pncreas. Nesse casotemos a madeira agredindo a terra, causando alteraes digestivas. Ao contrrio, pode ocorrer a

    contradominncia, quando a fase dominada fica to excessiva que agride seu controlador. Um excessode energia no corao pode voltar-se contra o rim. Temos ento o fogo contradominando a gua com oaparecimento da hipertenso arterial.

    A teraputica da Medicina Tradicional Chinesa oferece recursos para a regulao energtica do ciclodas cinco fases, uma vez que o diagnstico do desequilbrio tenha sido alcanado. A identificao dasfases acometidas e dos padres de acometimento pode ser facilitada por meio do agrupamento eclassificao dos sinais e sintomas do paciente de acordo com as cinco fases. importante ressaltar, noentanto, que o diagnstico e tratamento pelas cinco fases no o mtodo exclusivo utilizado pelospraticantes de Medicina Tradicional Chinesa.

    Na Medicina Ocidental Contempornea segundo Kenneth Rochel de Camargo Jr. A doutrina mdicaest implcita e no claramente enunciada. Pode ser deduzida da forma consensual do exerccio da

    prtica mdica e de representaes coerentes com a viso mecanicista que alicera o saber mdico taiscomo:

    as doenas so coisas, de existncia concreta, fixa e imutvel, de lugar para lugar e de pessoa para pessoa; as doenas seexpressam por um conjunto de sinais e sintomas que so manifestaes de leses, que devem ser buscadas no mago doorganismo e corrigidas por algum tipo de interveno concreta 8 .

    8 Kenneth Rochel de Camargo Jr.Racionalidades Mdicas: A Medicina Ocidental Contempornea. Instituto de MedicinaSocial, Uerj, 1996, p 13, 24 ,25.

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    Kenneth sugere que apesar da inexistncia no contexto do saber mdico de uma conceituao geraldo que seja uma doena, possvel identificar elementos dessa categria em trs nveis: explicativo,morfolgico e semiolgico. O primeiro refere-se caracterizao de doenas como processo com umacausa e uma histria, campo da fisiopatologia, onde o saber mdico mais se aproxima das cinciasduras. H aqui uma idia de mecanismo causal produzindo um fenmeno.

    O segundo nvel refere-se descrio das leses patognomnicas com auxlio dos examescomplementares obtidos por meio da parafernlia laboratorial. O terceiro nvel o da clnica onde asdoenas so vistas como constelaes de sinais e sintomas formando gestalts semiolgicas . Os doisltimos nveis vo em direes contrrias: o da generalizao e classificao que aproxima a clnica daepidemiologia e o da individualizao no caso das gestalts semiolgicas.

    O nvel explicativo da fisiopatologia est presente na Medicina Tradicional Chinesa porm comlinguagem prpria e o que Kenneth chama de gestalt semiolgica exatamente o contexto que umpraticante hbil de Medicina Tradicional Chinesa deve penetrar para propor a teraputica.

    RELAES DE EQUILBRIO ENTRE AS FASES

    Fig 3Ciclo da gerao

    Fig 4Ciclo do controle

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    RELAES PATOLGICAS ENTRE AS FASES

    Fig 5Superdominncia

    Fig 6Contradominncia

    5. Etiologia em Medicina Tradicional Chinesa

    A causa mais geral da doena em Medicina Tradicional Chinesa tida como a ruptura do equilbrioentre o Yin e Yang que ocorre em conseqncia de uma perda de capacidade do Qi - antipatognicode proteger o organismo, ou devido penetrao de fatores patognicos ultrapassando as possibilidadesde defesa orgnica. As causas mais especficas podem ser internas, externas, ou relacionadas com a

    energia ancestral e hbitos de vida.As causas internas relacionam-se com emoes intensas e persistentes ou hipersensibilidade adeterminados agentes que prejudicam os rgos e vsceras, Zang Fu, seletivamente. Fala-se em setefatores emocionais considerados como fatores endgenos desencadeadores da alterao no equilbrioYin/ Yang do organismo: a fria que faz o Qi ascender e afeta o fgado. A euforia que faz o Qi fluirlentamente e afeta o corao. A melancolia que dissolve o Qi e afeta o pulmo. A preocupao eexcesso de abstrao que paralisam o Qi e afetam o bao. O medo que faz o Qi descender e afeta o rim.O choque que dispersa o Qi afetando o rim e o corao.

    As causas externas envolvem as variaes climticas para alm da capacidade de adaptao doorganismo. Os fatores patognicos penetram no organismo atravs da pele, nariz e boca e podem atuarisoladamente ou em associao com outros fatores, por exemplo, vento-frio ou calor-umidade. Os

    fatores climticos denotam tanto causa como padro patolgico. Por exemplo, a doena pode sercausada por um fator patognico externo como o vento, que pode provocar paralisia facial perifrica oupode ser produzida por causas internas e apresentar um padro de vento, como a paralisia facial central,considerada vento interno.

    Os seis fatores climticos so: vento , calor de vero , umidade, secura , frio e fogo. O vento, fatoryang, tpico da primavera, ataca a poro superior do corpo provocando dores de cabea, obstruonasal, irritabilidade, dores migrantes, sintomas que aparecem e desaparecem como artrite, urticrias,espasmos, tremores, paralisia facial. O calor de vero, fator yang, consome yin, tem direo ascendentee perturba a mente, provoca transpirao, sede, respirao ofegante, cansao, urina concentrada, febre

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    alta, inquietao, pele avermelhada, delrio, coma. Costuma associar-se umidade causando tontura,cabea pesada, sensao de sufoco no peito, nusea, falta de apetite, diarria e lentido.

    A umidade um fator etiolgico tpico da cancula, poca das chuvas, aumenta a viscosidade doslquidos provocando estagnao. Manifesta-se como indolncia, sensao de distenso na cabea,tonturas, cansao geral, opresso do epigstrio, nusea, vmito, viscosidade e sabor adocicado na boca,abcessos, lceras gotosas, leucorria de natureza purulenta com odor, urina turva, doenas prolongadas,

    artrite reumatide, encefalite, epidemias. A secura, fator patognico do outono, consome os lquidos, principalmente yin do pulmo, afeta a pele provocando ressecamento, rugas e rachaduras, provocaainda secura na boca e nariz e garganta, irritabilidade e tosse seca.

    O frio, fator yin, ocorre no inverno, consome Qi e yang. Caracteriza-se por contrao e estagnao,retardamento da circulao de Qi e sangue, que pode manifestar-se como entorpecimento dasextremidades, arrepios, calafrios, membros frios, palidez, diarria com alimentos no digeridos nasfezes, urina lmpida com aumento de volume. O fogo, fator yang, danifica o yin, perturba a mente,incita o vento, provoca distrbio no sangue e esgota o yin do fgado. Manifesta-se como febre alta,coma, delrio, convulso, rigidez no pescoo, hemorragia, hematmese, epistaxe, erupes e infecona pele, edema, calor, dor, furnculos e lcera.

    Alm das emoes e dos fatores climticos, as doenas podem ser produzidas por fatorespatognicos variados como a compleio debilitada herdada dos pais ou decorrente de intercorrnciasna concepo e no nascimento. Esse fator pode ser modificado dentro de certos limites pelo cultivo doQi por meio de dieta, exerccios e tratamento adequado. A dieta irregular outro fator patognico.Alimentos crus e frios afetam bao-pncreas e estmago provocando regurgitao cida, dorepigstrica e abdominal, borborinho e diarria. Bebidas alcolicas, gorduras, alimentos aromatizados produzem umidade-calor ou fleugma-calor no bao-pncreas. Pouca ingesto de alimentos produzinsuficincia de QI e sangue. Excesso de alimentos enfraquece o bao e o estmago produzindoacmulo de muco. O excesso ou a falta de atividades fsicas, as leses traumticas e o excesso deatividade mental e sexual esto includos no rol dos fatores patognicos variados. A estagnao desangue e fleuma constituem tambm fatores patognicos importantes.

    6. Morfologia Humana

    Na Medicina Tradicional Chinesa os Zang Fu so as unidades morfolgicas fundamentais. O termoZang Fu pode ser traduzido como rgos e vsceras mas na verdade expande o significado queatribumos aos rgos e vsceras na Medicina Ocidental. Constituem-se em entidades morfo-psquico-fisiolgicas no organismo humano.

    Zang so os rgos macios, de natureza Yin, responsveis pela produo e armazenamento dassubstncias vitais. O fgado, corao, bao-pancreas, pulmo, rim e pericrdio so os Zang. Fu so asvsceras ocas, de natureza Yang, responsveis por digerir os alimentos, absorver substncias enutrientes, distribuir e excretar excessos. Vescula biliar, intestino delgado, estmago, intestino grossoe bexiga so Fu. O triplo aquecedor no uma vscera mas uma funo considerada Fu.

    Os Zang Fu interagem em pares que se associam aos canais de energia acoplados e s 5 Fases (verquadro na seo 3) . O crebro e o tero so rgos extraordinrios pois apresentam caractersticastanto de Zang quanto de Fu. O canal de energia associado ao sistema nervoso e consequentemente aocrebro o Du Mai ou vaso governador, e ao tero o Ren Mai ou vaso concepo. Esses canais soconsiderados vasos maravilhosos devido importncia de suas funes.

    Os Canais ou Meridianos e os Pontos de Acupuntura constituem as estruturas morfolgicasmais curiosas e interessantes da Medicina Tradicional Chinesa. Embora no possam ser dissecadosenquanto enquanto tal, tm sido descritos detalhadamente pela tradio chinesa desde a dinastia Han

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    (206 a.c.- 220d.c.), e utilizados com sucesso na clnica mdica, em profilaxia, gesto de doenascrnicas e degenerativas, e tambm no tratamento de algumas doenas agudas.

    A possibilidade de se fazer analgesia por acupuntura aponta para a existncia de um mecanismo deao sobre circuitos neurais e endcrinos induzindo a sntese de substncias qumicas que influenciamo desempenho de tais circuitos. A analgesia por acupuntura tem motivado a pesquisa do sistema decanais e pontos de acupuntura pelos cientistas ocidentais e orientais da atualidade na busca de

    esclarecimento sobre o mecanismo de ao, contudo esse no seu campo de aplicao maisimportante.Os canais e colaterais constituem uma rede que conecta todas as partes do organismo transportando

    Qi, Xue ( sangue) e Jing Ye ( lquidos orgnicos ) para todos os rgos, vsceras e tecidos. Dessescanais, doze so considerados canais principais. Localizam-se no tecido subcutneo e descrevem um percurso longitudinal em relao linha mdia do corpo. So bilaterais, simtricos e relacionam-secom os Zang Fu por meio de canais secundrios. Aparecem acoplados em pares, so designados pelonome do rgo ou funo que representam e esto associados s Cinco Fases. Cada par formado porum canal Yin e um canal Yang. Os canais Yin referem-se aos rgos (zang) e os canais Yang svsceras ocas (fu): Fgado/Vescula Biliar (F/VB), fase madeira; Corao/Intestino Delgado (C/ID) eCirculao Sexualidade/Triplo Aquecedor (CS/TR), fase fogo; Bao Pncreas/ Estmago (BP/E), faseterra; Pulmo/Intestino Grosso (P/IG), fase metal e Rim/Bexiga (R/B), fase gua.

    A fase fogo est associada a dois pares de canais, o par C/ID chamado de fogo prncipe e o parCS/TR, fogo ministro. Este ltimo tem a funo de proteger o corao e se relaciona com todos osZang Fu para manter o equilbrio do organismo. O CS est associado ao pericrdio e o TR embora noesteja vinculado diretamente a uma estrutura anatmica, guarda uma relao com a atividade dasglndulas endcrinas na manuteno do equilbrio interno.

    Considerando a posio anatmica chinesa, com as mos para o alto e as palmas voltadas para afrente, o trajeto dos canais Yin ascende dos ps para o trax pela face medial dos membros inferiores eabdome (R, F, BP), e do trax para as mos pela face anterior dos membros superiores e mos (C, CS,P). A energia dos canais Yin desemboca nos canais Yang, nas extremidades dos dedos da mo. Oscanais Yang ento, a partir das extremidades digitais, dirigem-se pelo dorso das mos e dorso dosmembros superiores, para a cabea (ID, TR, IG), da descendem at as extremidades digitais dos ps(B, VB, E), onde desaguam sua energia nos canais Yin.

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    Fig 6Os trs canais Yin e a polarizao da parte anterior do corpo. Em branco o que

    mais Yin e em preto o que mais Yang. (Requena:109)

    Fig 7 Os trs canais Yang e a polarizao da parte posterior do corpo. Em branco o que mais Yang

    e em preto o que menos Yang . (Requena:108)

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    Cada um dos trs canais Yin das pernas se associa a um dos Yin dos braos para formar trs grandescanais Yin ligando a parte inferior e superior do corpo. O mesmo ocorre com os canais Yang dosbraos que se ligam aos Yang das pernas relacionando o alto do corpo s partes inferiores, por meio detrs grandes canais Yang. Esses seis grandes canais correspondem a seis nveis energticos de acordocom a profundidade que a energia adquire. Os canais Yin, localizam-se ntero-medialmente,relacionando-se com a linha mdia anterior. Do nvel mais profundo para o mais superficial temos:

    Shao Yin (R e C), Jue Yin (F e CS) e Tai Yin (BP e P). Os canais Yang so mais superficiais que oscanais Yin e localizam-se pstero-lateralmente, com exceo do canal do E que desce pela regiontero-lateral do corpo. Do nvel Yang mais profundo para o mais superficial temos: Yang Ming (E eIG), Shao Yang (VB e TA) e Tai Yang (B e ID). Os nveis energticos no consistem em unidadesisoladas, formam um sistema fechado de circulao de energia onde cada nvel Yin se relaciona comum nvel Yang e transfere energia para o nvel seguinte, incessantemente do Yin para o Yang e doYang para o Yin.

    Ao longo dos canais principais, em locais anatmicos precisamente delimitados de mais ou menos1mm, situam-se os pontos de acupuntura, atravs dos quais o canal se comunica com o meio externo. Aregulao do fluxo energtico nos canais pode ser feita a partir do exterior por meio de estmulosadequados nos canais e pontos. Dentro da tradio chinesa cada ponto de acupuntura recebe um nome.Existem 361 pontos nos doze canais principais e alguns pontos extras, fora dos canais. Como cadacanal simtrico e bilateral, na verdade estamos falando de 722 pontos nos canais principais.

    Numa srie de experimentos recentes, os pontos de acupuntura foram examinados por dissecopara a verificao de sua correspondncia direta com nervos , vasos sanguneos e linfticos: em 324pontos examinados 304 eram supridos por um nervo cutneo superficial; 155 por um nervo cutneo profundo; 137 pontos eram supridos por ambos. Somente um ponto no era inervado. Num outroexperimento 309 pontos foram examinados, verificou-se que 24 deles encontram-se diretamente sobreramos arteriais; 262 encontram-se a meio centmetro de ramos arteriais ou venosos. Poucos pontos, noentanto, apresentaram relao com um mesmo vaso linftico.

    7. Fisiologia ou Dinmica Vital

    Na Medicina Tradicional Chinesa a fisiologia ou dinmica vital envolve as Substncias Vitais, osZang Fu (rgos e vsceras) e os Canais e Colaterais (jing-luo) que definimos na seo sobremorfologia . As substncias vitais compreendem o Qi, energia vital, de natureza Yang, que circulapelos canais de energia. Xue, o sangue, de natureza Yin, cuja funo nutrir e umedecer os tecidos.Jing Ye, os lquidos orgnicos que umedecem os tecidos e os zang fu e contribuem para a formao dosangue. medida em que circulam pelo corpo os lquidos orgnicos vo perdendo suas propriedadesat transformarem-se num lquido trbido que deve ser eliminado sob forma de urina e secrees.Considera-se ainda Jing, essncia, energia ancestral, que o ser apresenta como potencialidade ao nascere Shen, esprito ou conscincia, sintetizado pelo corao a partir das essncias imateriais de todos osrgos.

    Cada Zang Fu apresenta uma srie de funes complexas que foge ao escopo deste trabalhodescrever . Os canais de energia veiculam o Qi em seus diversos aspectos e os pontos de acupunturapossuem um papel individual e caracterstico na fisiologia humana influenciando o estado geral do Qi edos Zang Fu de maneira bem especfica. As propriedades dos pontos de acupuntura que recebem nomesdiferentes, cujo simbolismo remete sua funo, determinam a sua seleo para o tratamento dediversas alteraes da sade por acupuntura ou massagem teraputica.

    8. Sistema diagnstico

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    O adoecimento visto como um processo dinmico em Medicina Tradicional Chinesa. A doenasofre transformaes progressivas em relao a seu momento inicial. Diagnosticar significa entoidentificar as caractersticas presentes do adoecimento a fim de prevenir sua futura evoluco. Odignstico ser alcanado a partir de vrios procedimentos. O exame deve ser o mais abrangentepossvel. Todas as caractersticas tm significado.

    O estado das relaes entre Yin/Yang e das Cinco fases pode ser avaliado pela observao do

    aspecto das unhas, pele, cabelo, olhos, orelhas, nariz, lbios, dentes e garganta; o volume e o timbre davoz, a postura do corpo e os gestos, o cheiro do corpo e o hlito. O exame dos pulsos ou a pulsologiachinesa um mtodo de verificao de qualidades bsicas do Qi e da relao entre os sistemasZangFu/Canais por meio do estudo de trs posies contguas na artria radial proximas s pregas do punho, de ambos os lados. Cada posio corresponde a um par acoplado de canais de energia e ascaractersticas do pulsar da artria radial sob a polpa dos dedos do terapeuta em cada posio, forneceinformaes sobre a natureza, local e extenso do adoecimento. Outro recurso importante nasemiologia chinesa o exame da lngua quanto sua forma, movimento, cor e revestimento. Esseexame revela o interior do paciente ou seja os Zang/Fu.

    Procede-se ento o diagnstico segundo os oito princpios, Ba Gang, para determinar a natureza, aintensidade, a localizao e a profundidade da doena. Os oito princpios organizam-se em quatropares: Interno/Externo, indica a profundidade e gravidade do adoecimento. Frio/Quente, relaciona-se maneira como o paciente percebe a doena. Vazio/Plenitude, avalia o enfraquecimento da essencia emrelao virulncia do Qi patognico. Yin/Yang trata da reunio das sndromes em que o Yin/Yangesto em desarmonia. Existe literatura tcnica abundante sobre o dignstico segundo a MedicinaTradicional Chinesa.

    Na Medicina Ocidental a diagnose envolve vrias tcnicas denominadas em conjunto de semiologiaque compreendem a anamnese e o exame fsico. Este ltimo subdivide-se em: inspeo, palpao,percusso e ausculta. So muito importantes os exames complementares que dependem de intrumentostecnolgicos. Passa-se ento leitura do quadro clnico apresentado pelo paciente e localiza-se adoena na grade conceitual das doenas conhecidas.

    Kenneth Rochel de Camargo comenta a esse respeito que muitas vzes as hipteses dignsticasinfluenciam a coleta de dados, o que refora a tese de Harr sobre a no existncia de fatos puros.Vale a pena chamar ateno para a valorizao do diagnstico em relao teraputica pela corporaomdica na prtica mdica ocidental, atitude que encontra-se no centro da crise de relacionamentomdico/paciente presente na Medicina Ocidental Contempornea e que desempenha um papel nocrescimento da procura por tratamentos alternativos por parte da populao medida em que sedesenvolve o conceito de qualidade de vida.

    9. Sistema teraputico

    A profilaxia e o tratamento em Medicina Tradiciona Chinesa enfatizam a expulso do Qi patognico,os fatores externos causadores de doenas, e proteo ao fator antipatognico, Wei Qi ou Qi defensivo,anlogo ao conceito de sistema imunolgico. Os procedimentos teraputicos devem favorecer acirculao de Qi, sangue e lquidos orgnicos e a eliminao do Qi trbido. Atuar sobre os Canais deEnergia e sobre os Zang Fu otimizando seu funcionamento. Facilitar o equilbrio psquico e emocionalatuando sobre o Shen e tonificar Jing, a essncia, mantendo todo o organismo num padro energticoadequado.

    Apesar da grande nfase dada acupuntura no ocidente, os recursos teraputicos da MedicinaTradicional Chinesa so vrios: acupuntura, fitoterapia, diettica, massagem teraputica e exercciosteraputicos. semelhana das especialidades na Medicina Ocidental h tambm uma tendncia nessesentido na Medicina Tradicional Chinesa em relao teraputica. A acupuntura e massagemteraputica so mais indicadas para as doenas que se encontram nos nveis dos canais de energia

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    enquanto que a fitoterapia e diettica esto indicadas para o tratamento das doenas que j atingiram osZang Fu.

    Na Medicina Ocidental a teraputica considerada efetiva consiste no uso de medicamentos e nascirurgias. As dietas e exerccios embora constem dos manuais no tem o mesmo status das primeiras eso pouco indicadas. Persiste a tendncia que valoriza mais o diagnstico do que o tratamento.

    10 . ConclusoComo todas as idias podem ser abordadas numa escala que vai do pragmatismo ao dogmatismo, o

    caminho do meio da filosofia taosta parece uma via qualificada, ao lado da cincia que pergunta eduvida sempre, exigindo explicaes e testes, fazendo crticas e impondo reformulaes, comconscincia do provisrio e do paradoxo sem com isso se angustiar.

    No que concerne a metafsica chinesa, a idia de Qi tem suscitado analogias com o atomismo:Yin/Yang, Positivo/Negativo, Prton/Eltron. Com a Relatividade Geral: todas as coisas refletem o Qie tm ressonncia com o Qi ainda que no estejam conectadas no tempo e no espao. Ou com amecnica quntica : aspecto Yin do Qi como partcula , aspecto Yang como onda.

    Mas tambm tem suscitado analogia com msticas medievais, paracelsianas , do tipo como emcima, embaixo, semelhana de microcosmo/macrocosmo dos astrlogos e alquimistas. Ou se presta aanalogias qualitativas como as da filosofia natural: todos os fenmenos compartilham qualidades erelaes baseados na sua origem comum no Qi, o Qi se diferencia em formas. No entanto os chinesesno possuiam o horror ao vcuo dos aristotlicos pois se referiam ao Tao como o grande Vazio, emborao Qi tudo permeasse:

    O caminho o VazioE seu uso jamais o esgota imensuravelmente profundo e amplo,Como a raiz dos dez mil seres9

    Ou

    O grande quadrado no tem ngulosO grande recipiente conclui-se tardeO grande som carece de rudoA grande imagem no tem forma 10

    Mas como lidar com categorias to abrangentes que parecem desejar encampar todos os paradoxossem assumir o nome de Deus?

    Os campos da Filosofia Chinesa , da Relatividade Geral e da Mecnica Quntica so to vastos queproferir veredictos sobre as analogias propostas por alguns autores tarefa de alto risco. Um caminhomais seguro ater-se viso da Filosofia da Cincia que aceita diferentes maneiras de conhecer econstruir objetos cientficos. Nesse sentido o modelo conhecido como Sistema de Canais e Pontos

    ou Sistema de Meridianos da Medicina Tradicional Chinesa constitui um objeto cientficopromissor.A idia de que tal sistema tenha sido descoberto empiricamente por meio de disseco de

    prisioneiros vivos como sugere certo tipo de literatura sobre o assunto parece to pouco plausvelcomo a que considera o sistema revelado por sbios-heris num perodo mtico.

    No entanto como um sistema de representao, o sistema de Canais e Pontos de Acupuntura podeser operado e ensinado ao corpo por meio dos estmulos exercidos por agulhas ou massagem nos

    9 Parte do Poema 4 do Tao Te Ching de Lao ts traduzido por Wu Jyh Cherng10 Parte do Poema 41 do Tao Te Ching de Lao ts traduzido por Wu Jyh Cherng.

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    pontos de acupuntura. Seus fundamentos neurofisiolgicos podem ser estabelecidos com base naplasticidade neural que faculta experincia sensorial influenciar a modificao de fluxos cerebrais,estimulando ou inibindo a secreo de substncias qumicas especficas. As alteraes de fluxocerebral tm sido verificas por meio de experimentos com acupuntura e as modernas tcnicas deimagens funcionais do crebro

    Resta no entanto esclarecer em que bases a tradio preconiza o uso de diferentes conjuntos de

    pontos para os diferentes tratamentos. Uma explorao desse objeto por meio de uma abordagemmultidisciplinar com base nas cincias naturais, nas teorias de sistemas e de linguagem, e naneurocincia computacional, sem perder de vista a tradio filosfica e o contexto histrico doaparecimento e desenvolvimento do sistema , deve trazer frutos tanto para o campo da MedicinaTradicional Chinesa como para o campo da Histria e Filosofia da Cincia e da Tcnica.

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