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2 IMPLANTAÇÃO DO MUSEU DINÂMICO INTERDISCIPLINAR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ: UM ATO DE EMPREENDEDORISMO NO SERVIÇO PÚBLICO 1 JANETE APARECIDA DOS SANTOS PEREIRA RESUMO Este trabalho teve como objetivo descrever a criação do Centro Interdisciplinar de Ciências da Universidade Estadual de Maringá (UEM), seu crescimento e sua transformação no Museu Dinâmico Interdisciplinar, o que a nosso ver caracteriza-se como um ato empreendedor de um grupo de professores, técnicos e alunos da UEM. Os dados foram obtidos através da análise de documentos e relatórios realizados no período de 1986 a 2008, disponíveis no acervo bibliográfico do Museu Dinâmico Interdisciplinar, localizado no Bloco O-33, na Universidade Estadual de Maringá, campus sede, na cidade de Maringá, PR. O histórico de obtenção de recursos e as estratégias empregadas para construção da sede e implantação das ações itinerantes são analisados e comparados aos conceitos de empreendedorismo, sob a ótica do empreendedorismo social. PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo Social. Serviço público. Educação não formal. Museu de ciências. INTRODUÇÃO Consultando o histórico constante da página do Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) nos ocorreu a idéia de que para realizar o percurso que vai desde a criação do Centro Interdisciplinar de Ciências, em 1985, até a construção da sede do Museu Dinâmico Interdisciplinar, no ano de 2005, foi necessário um forte espírito de equipe, associado à capacidade empreendedora por parte de um grupo de servidores da Universidade Estadual de Maringá. Buscamos então na literatura, diversos conceitos e abordagens sobre o que vem a ser empreendedorismo. Estes conceitos e abordagens foram lapidados até chegar ao entendimento do que vem a ser empreendedorismo social. 1 Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização, apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de especialização em Liderança e Empreendedorismo no Serviço Público.

Mudi empreendorismo no servico publico

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Page 1: Mudi empreendorismo no servico publico

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IMPLANTAÇÃO DO MUSEU DINÂMICO INTERDISCIPLINAR DA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ: UM ATO DE

EMPREENDEDORISMO NO SERVIÇO PÚBLICO1

JANETE APARECIDA DOS SANTOS PEREIRA

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo descrever a criação do Centro Interdisciplinar de

Ciências da Universidade Estadual de Maringá (UEM), seu crescimento e sua

transformação no Museu Dinâmico Interdisciplinar, o que a nosso ver caracteriza-se como

um ato empreendedor de um grupo de professores, técnicos e alunos da UEM. Os dados

foram obtidos através da análise de documentos e relatórios realizados no período de 1986

a 2008, disponíveis no acervo bibliográfico do Museu Dinâmico Interdisciplinar,

localizado no Bloco O-33, na Universidade Estadual de Maringá, campus sede, na cidade

de Maringá, PR. O histórico de obtenção de recursos e as estratégias empregadas para

construção da sede e implantação das ações itinerantes são analisados e comparados aos

conceitos de empreendedorismo, sob a ótica do empreendedorismo social.

PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo Social. Serviço público. Educação não

formal. Museu de ciências.

INTRODUÇÃO

Consultando o histórico constante da página do Museu Dinâmico Interdisciplinar

(MUDI) nos ocorreu a idéia de que para realizar o percurso que vai desde a criação do

Centro Interdisciplinar de Ciências, em 1985, até a construção da sede do Museu

Dinâmico Interdisciplinar, no ano de 2005, foi necessário um forte espírito de equipe,

associado à capacidade empreendedora por parte de um grupo de servidores da

Universidade Estadual de Maringá. Buscamos então na literatura, diversos conceitos e

abordagens sobre o que vem a ser empreendedorismo. Estes conceitos e abordagens foram

lapidados até chegar ao entendimento do que vem a ser empreendedorismo social.

1 Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização, apresentado como requisito parcial para a

obtenção do título de especialização em Liderança e Empreendedorismo no Serviço Público.

Page 2: Mudi empreendorismo no servico publico

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Verificamos que a definição de empreendedor evoluiu com o decorrer do tempo, à

medida que a estrutura econômica mundial mudava e tornava-se mais complexa. Desde

seu início, na Idade Média, quando era usada para se referir a ocupações específicas, a

noção de empreendedor foi refinada e ampliada, passando a incluir conceitos relacionados

com a pessoa, em vez de com sua ocupação. Os riscos, a inovação e a criação de riqueza

são exemplos dos critérios que foram desenvolvidos à medida que evoluía o estudo da

criação de novos negócios.

Em 1985 o empreendedorismo foi definido por Hisrich e Brush, como sendo “o

processo de criar algo novo com valor dedicando o tempo e o esforço necessário,

assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais correspondentes e recebendo as

conseqüentes recompensas da satisfação e independência econômica e pessoal.”

(HISRICH e PETERS, 2004, p. 29)

Neste contexto o empreendedorismo envolve primeiramente o processo de criação,

ou seja, de criar algo novo e de valor, tanto para o empreendedor quanto para o público

para o qual a criação foi desenvolvida. Num segundo momento o empreendedorismo exige

a dedicação do tempo e do esforço necessários. Apenas quem se dedica a um

empreendimento aprecia a significativa quantidade de tempo e de esforço exigida para

criar algo novo e torná-lo operacional. Desta maneira os riscos necessários são o terceiro

aspecto do empreendedorismo. Tais riscos tomam uma série de formas, dependendo do

campo de atuação do empreendedor, mas em geral se concentram em torno das áreas

financeiras, psicológicas e sociais. Finalmente, a definição de empreendedorismo envolve

as recompensas de ser um empreendedor. A recompensa econômica também entra em jogo

para os empreendedores que buscam o lucro. Neste caso o dinheiro torna-se o indicador do

grau de sucesso.

Para Hisrich e Peters (2004) o termo empreendedorismo significa coisas diferentes

para pessoas diferentes, podendo ser visto sob perspectivas conceituais diferentes. Mas,

apesar das diferenças, há alguns aspectos comuns: riscos, criatividade, independência e

recompensa. Consideram que “Esses aspectos continuarão a ser a força impulsionadora

subjacente à noção de empreendedorismo no futuro.” (HISRICH e PETERS, 2004, p. 4)

Num negócio bem-sucedido além de uma boa idéia deve haver também um bom

empreendedor. A literatura existente mostra que embora o empreendedor ideal não possa

ter seu perfil traçado, há certas características potenciais e certas tendências que ele poderá

seguir. As características da personalidade empreendedora, uma correta modelagem do

negócio e um planejamento bem elaborado, aumentam as chances de sucesso de um

Page 3: Mudi empreendorismo no servico publico

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empreendimento. “(...) Rotineira e popularmente, empreendedores bem-sucedidos são

vistos como pessoas com ‘tino’, com ‘visão’, ‘visionários’, ‘líderes’, além do que

empreendedor tem a conotação de realizador, enérgico e persistente.” (BERNARDI, 2007,

p. 68)

Com relação ao estudo do empreendedorismo muita coisa ainda está em fase de

desenvolvimento, mas uma afirmação já pode ser feita: “o empreendedor deve ser alguém

que apresente alto comprometimento com o meio-ambiente e com a comunidade, dotado

de forte consciência social.” (DOLABELA, 2006, p.51)

O tema empreendedorismo social também é recente, existindo poucos

apontamentos bibliográficos a este respeito, mas, na prática, já acontece há muito tempo.

O estudo realizado demonstrou que tanto no Brasil quanto no exterior o assunto foi pouco

discutido, estando em fase de construção. Por ser precoce gera ainda algumas confusões de

cunho interpretativo. Por exemplo, termos como responsabilidade social e

empreendedorismo privado são bem distintos, mas ocorre de serem entendidos, tanto por

pesquisadores brasileiros quanto estrangeiros, como similares.

Para melhor compreensão do tema proposto apresentamos, primeiramente, alguns

conceitos nacionais e internacionais do significado contemporâneo de empreendedorismo

social. Logo após são traçadas as principais diferenças existentes entre os termos

responsabilidade social empresarial e empreendedorismo privado, tão comumente

confundidos com o empreendedorismo social.

Nas universidades a prática do empreendedorismo social já acontece há muito

tempo. A Reforma Universitária aprovada pela lei nº 5540 de 28/11/1968, estabeleceu a

obrigatoriedade da extensão em todas as instituições de ensino superior, vista então sob a

ótica de cursos e serviços especiais estendidos à comunidade. Num segundo momento a

extensão assumiu outra dimensão, tornando-se indissociável do ensino e da pesquisa.

Atualmente a discussão sobre o conceito de extensão passa por uma revisão, assim como a

discussão sobre a função social da Universidade.

Para Abreu (2001) mudar o patamar da educação para a ciência e para a tecnologia

requer um esforço consistente, resultando de ações sistêmicas em todos os aspectos do

processo educacional, destacando-se a importância da prática pedagógica na decodificação

das informações científicas e tecnológicas. Atingir o desenvolvimento sustentável do país

exige elevar o patamar de informação e formação da população. A alfabetização científica

e tecnológica e a popularização da ciência são elementos fundamentais para construção da

cidadania e solidariedade, bem como para a crescente competitividade do setor produtivo

Page 4: Mudi empreendorismo no servico publico

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nacional e para a preservação e sustentabilidade dos ecossistemas e do patrimônio cultural.

Finalmente, aumentar a capacidade de inovação do país exige ações que aproximem, de

maneira integrada e interdisciplinar, a ciência da tecnologia e o complexo técnico

científico dos complexos produtivos.

O objetivo deste trabalho é descrever uma ação empreendedora no setor público,

que resultou na implantação do Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) da UEM, o qual

visa promover a interação dos conhecimentos acadêmicos com os saberes e práticas

sociais acumuladas, constituindo-se em um Centro de Divulgação Científica por meio da

Educação Continuada para a comunidade em geral; de atualização para professores da

rede Estadual, Municipal e Privada; de interação dos acadêmicos de graduação com a

comunidade e, também, um centro de observações sistemáticas para a coleta de dados para

pesquisa.

1. MATERIAL E MÉTODO

Foi realizado um estudo documental visando descrever como foi construído o

Museu Dinâmico Interdisciplinar da Universidade Estadual de Maringá.

Os dados foram obtidos através da análise de documentos e relatórios realizados no

período de 1986 a 2008, disponíveis no acervo bibliográfico do MUDI, localizado no

Bloco O-33, na Universidade Estadual de Maringá, campus sede, na cidade de Maringá,

PR, e foram analisados sob a óptica de múltiplos conceitos de empreendedorismo.

2. ENTENDENDO O EMPREENDEDORISMO SOCIAL

De acordo com os estudos realizados por Oliveira (2004), parte da pouca

bibliografia disponível sobre o assunto é encontrada em artigos e trabalhos produzidos por

outros países.

Para melhor compreensão do que vem a ser “empreendedorismo social” são

apresentados, a seguir, sob a ótica de algumas organizações internacionais, alguns

conceitos sobre o assunto. Estes estudos desenvolvidos pela School Social

Entrepreneurship – SSE, UK – Reino Unido, Canadian Center Social Entrepreneurship –

CCE, Canadá: Foud Schwab, Suíça; e The Institute Social Entrepreneurs – ISE, Estados

Unidos, têm influenciado a disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo

social.

Page 5: Mudi empreendorismo no servico publico

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QUADRO 1 – CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL – VISÃO INTERNACIONAL

ORGANIZAÇÃO ENTENDIMENTO

School Social Entrepreneurship – SSE, UK-

Reino Unido

É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas

para um público ou um benefício social, em lugar de ganhar

dinheiro. Empreendedores sociais podem trabalhar em

negócios éticos, órgãos governamentais, públicos,

voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais

nunca dizem ‘não pode ser feito’.

Foud Schwab, Suíça

São agentes de intercambiação da sociedade por meio de:

proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas

sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação,

criando assim novos procedimentos e serviços; criação de

parcerias e formas/meios de auto-sustentabilidade dos

projetos; transformação das comunidades graças às

associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no

mercado para resolver os problemas sociais; identificação de

novos mercados e oportunidades para financiar uma missão

social. [...] características comuns aos empreendedores

sociais; apontam idéias inovadoras e vêem oportunidades

onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com

critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas

concretos, são visionários com sentido prático, cuja

motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24

horas do dia para conseguir seu objetivo social.

The Institute Social Entrepreneurs – ISE,

EUA

Empreendedores sociais são executivos do setor sem fins

lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado

sem perder de vista sua missão (social) e são orientados por

um duplo propósito: empreender programas que funcionem

e estejam disponíveis às pessoas (o empreendedorismo

social é base nas competências de uma organização),

tornando-as menos dependentes do governo e da caridade.

Ashoka, Estado Unidos

Os empreendedores sociais são indivíduos visionários que

possuem capacidade empreendedora e criatividade para

promover mudanças sociais de longo alcance em seus

campos de atividades. São inovadores sociais que deixarão

sua marca na história.

Erwing Marion, Kauffman Foundation

Empreendedorismo sem fins lucrativos são o

reconhecimento de oportunidades de cumprimento de uma

missão para criar e sustentar um valor social, sem se ater

exclusivamente aos recursos. FONTE: Oliveira (2004)

Page 6: Mudi empreendorismo no servico publico

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Ainda, segundo Oliveira (2004), os conceitos investigados no Brasil são

semelhantes aos encontrados no exterior, conforme pode ser observado no quadro a seguir.

QUADRO 2 – CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL – VISÃO NACIONAL

AUTOR CONCEITO

Leite (2002)

O empreendedor social é uma das espécies do gênero

dos empreendedores. [...] São empreendedores com

uma missão social, que é sempre central e explícita.

Ashoka Empreendedores Sociais e Mackisey E Cia.

INS (2001)

Os empreendedores sociais possuem características

distintas dos empreendedores de negócios. Eles

criam valores sociais pela inovação, pela força de

recursos financeiros em prol do desenvolvimento

social, econômico e comunitário. Alguns dos

fundamentos básicos do empreendedorismo social

estão diretamente ligados ao empreendedor social,

destacando-se a sinceridade, paixão pelo que faz,

clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa

vontade de planejamento, capacidade de sonhar e

uma habilidade para o improviso.

Melo Neto e Froes (2001)

Quando falamos de empreendedorismo social,

estamos buscando um novo paradigma. O objetivo

não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim,

do negócio do social, que tem na sociedade civil o

seu principal foco de atuação e na parceria

envolvendo comunidade, governo e setor privado, a

sua estratégia.

Rao (2002)

Empreendedores sociais, indivíduos que desejam

colocar suas experiências organizacionais e

empresariais mais para ajudar os outros do que para

ganhar dinheiro.

Rouere e Pádua (2001)

Constituem a contribuição efetiva de

empreendedores sociais inovadores cujo

protagonismo na área social produz desenvolvimento

sustentável, qualidade de vida e mudança de

paradigma de atuação em benefício de comunidades

menos privilegiadas. FONTE: Oliveira (2004)

O presente estudo revela que há certa similaridade entre a lógica do

empreendedorismo empresarial com o empreendedorismo social e a responsabilidade

social empresarial, face à necessidade das empresas se inserirem no processo de

Page 7: Mudi empreendorismo no servico publico

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enfrentamento dos problemas sociais, como forma de garantirem sua própria

sobrevivência.

A pura lógica do empreendedorismo empresarial prevê a produção de bens e

serviços, tendo como foco o mercado e a medida de desempenho o lucro. Visa satisfazer

as necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio.

Já o empreendedorismo social produz bens e serviços à comunidade, mas tem

como foco a busca de soluções para os problemas sociais e, a medida de desempenho é o

impacto social. Visa respeitar pessoas da situação de risco social e promovê-las.

A responsabilidade social empresarial por sua vez, pressupõe um conjunto

organizado e planejado de ações internas e externas, com definição clara da missão e

atividade da empresa, ante as necessidades da comunidade. Para o Instituto Ethos a

responsabilidade social empresarial é

a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da

empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo

estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o

desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos

ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e

a redução das desigualdades sociais" (INSTITUTO ETHOS apud RICI,

2004, p. 73)

Através deste breve estudo teórico é possível observar como, na prática, se

comporta o empreendedorismo social.

Nas universidades, através da extensão são verificadas inúmeras ações

empreendedoras, mas para fins do presente estudo será abordado, em especial, o caso da

implantação do Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) da Universidade Estadual de

Maringá UEM, por ser este um exemplo vivo de como o empreendedorismo social

acontece no serviço público.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Vivemos numa sociedade onde conhecimento, informação e cultura científica são

indispensáveis para a obtenção do sucesso profissional, bem como para a vida cotidiana. A

grande produção de conhecimentos novos e sua aplicação na forma de novas tecnologias

constituem-se em avanços que desafiam os sistemas tradicionais de ensino e por vezes

superam a sua capacidade de, por meio do ensino formal, proporcionar aos cidadãos a

Page 8: Mudi empreendorismo no servico publico

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apropriação de uma cultura científica que os qualifique para exercer sua cidadania na

sociedade contemporânea.

Neste sentido, tem se observado nas últimas décadas um crescimento quantitativo e

qualitativo dos centros e museus que popularizam conhecimentos científicos e

tecnológicos por meio da educação não formal. Muitos destes museus são criados e

mantidos nas universidades por pessoas interessadas em levar ao público leigo os novos

conhecimentos da cultura geral e científica. Em muitos deles existem projetos específicos

que oferecem um conjunto de atividades voltadas à complementação da formação dos

alunos ou a atualização dos professores do Ensino Básico.

Na Universidade Estadual de Maringá (UEM) o Projeto de Extensão “Centro

Interdisciplinar de Ciências”- CIC, iniciado em 1985, teve como principal diretriz a

integração da Universidade com o Ensino Fundamental e Médio.

Inicialmente o projeto foi sediado num pequeno espaço oferecido pelo Instituto de

Educação, onde funcionava a secretaria do projeto e um acervo de materiais voltado às

Ciências Naturais. Neste ambiente eram desenvolvidos materiais instrucionais, oferecidos

cursos e a viabilização de visitas à UEM em diversas áreas, tais como: Física, Química,

Matemática, Morfologia Humana, Botânica, Saúde e Língua Inglesa. A ação

empreendedora é aqui marcada pela capacidade de um grupo de servidores públicos

(técnicos e professores), pensarem possíveis soluções para melhorar o ensino básico,

condição indispensável para que os outros níveis de ensino sejam fortalecidos. Mas para

realizar seu intento a equipe teve que conquistar seus clientes, escolas e professores, e

buscar parceiros, órgãos de fomento, que lhes proporcionassem um espaço e recursos

financeiros para trabalhar. Desta forma aquilo que se sonhou ou idealizou em 1985,

tornou-se realidade em 1986 com recursos obtidos por meio de projeto enviado à

Coordenadoria de Pessoal de Nível Superior - CAPES e ao Ministério da Educação e

Cultura – MEC. A implantação, embora ainda tímida, contava com um grupo formado por

19 professores e 08 estagiários que ousaram atravessar os muros da Universidade e

implantar um espaço alternativo de trabalho no seio de uma escola pública de ensino

fundamental e médio. “O empreendedor é alguém que sonha e busca transformar seu

sonho em realidade.” (DONABELA, 2006, p. 25)

Em 1989 o grupo conseguiu um novo avanço, a transferência do espaço da

secretaria do Centro Interdisciplinar de Ciências para o Campus Universitário e a

implantação de pequenos “museus” das áreas de anatomia humana, física, química e

Page 9: Mudi empreendorismo no servico publico

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matemática, junto aos departamentos. Houve também uma ampliação de ações nas escolas

com implantação de pequenos postos meteorológicos e hortas de plantas medicinais.

A utilização social das coleções dos materiais de diferentes áreas, que participavam

do CIC, fez com que o atendimento crescesse ano a ano. Devido às limitações das

instalações físicas, não era possível atender as inúmeras solicitações de trabalhos, pois,

além do ensino fundamental e médio, também pastorais da saúde, curso técnico em

música, grupos de cortadores de cana, corpo de bombeiros, polícia rodoviária, empresas,

instituições de ensino superior particulares interessadas em ter uma estrutura semelhante e

várias pessoas que viam, no aprendizado por meio dos cursos oferecidos, a possibilidade

de iniciar seu próprio negócio, por exemplo, por meio do cultivo e comercialização de

plantas medicinais. Indubitavelmente a comunidade extra-universitária via com bons olhos

as trocas de conhecimentos realizadas com os professores e alunos universitários que

atuavam no CIC.

É discussão corrente que o processo econômico e social de um país depende,

sobretudo, do fortalecimento e da credibilidade das instituições públicas. Dentre essas,

destacam-se as universidades como valiosos patrimônios sociais exercendo as funções de

Ensino, Pesquisa e Extensão. Além disso, são responsáveis pela geração, sistematização e

transmissão do conhecimento e do saber, preservando e estimulando a produção, criação e

difusão cultural, filosófica, científica e artística. Possibilitam, ainda, a criação de

tecnologias e são partícipes na solução dos problemas sociais (Schlemper Júnior, 1989).

A implantação do novo currículo Básico para as Escolas Públicas do Paraná em

1990 gerou uma grande demanda por capacitação dos professores do ensino fundamental e

médio que já se encontravam em serviço, porém poucos eram os docentes universitários

que se sentiam preparados ou direcionavam suas atividades para tal ação extensionista. Os

docentes e estagiários do CIC se envolveram neste processo de capacitação e desta forma

ofertaram numerosos cursos alcançando professores de todo o estado. Capitalizaram,

portanto, conhecimentos novos e reconhecimento por parte dos educadores do Paraná, ao

mesmo tempo em que foram amplamente divulgadas as ações realizadas na sede do CIC,

aumentando a demanda de visitas, bem como o interesse de novos acadêmicos e

professores universitários em participar do projeto. Essa demanda crescente levou os

docentes vinculados ao CIC a refletirem sobre a viabilidade da expansão de suas

atividades.

A idéia de um empreendimento surge da observação, da percepção e

análise de atividades, tendências e desenvolvimentos, na cultura, na

sociedade, nos hábitos sociais e de consumo. As oportunidades

detectadas ou visualizadas, racional ou intuitivamente, das necessidades

Page 10: Mudi empreendorismo no servico publico

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e das demandas prováveis, atuais e futuras, e necessidades não atendidas

definem a idéia do empreendimento. (BERNARDI, 2007, pg. 63)

Neste caso percebia-se claramente um anseio da comunidade em geral para

“consumir cultura e conhecimentos científicos”. Porém manter as ações já havia se

tornado complexo devido à falta de novos editais para o fomento a estes projetos. A

equipe busca então uma oportunidade de sustentar o projeto por meio da geração de

recursos próprios. Dentre as muitas temáticas trabalhadas em uma visão interdisciplinar

estavam as plantas medicinais, seus benefícios, importância de cultivo, perigos do

extrativismo, formas de preparo e utilização. Havia um vácuo, a falta de um livro que

fosse simples o suficiente para ser entendido por leigos e por professores de ciências sem,

contudo, perder a cientificidade. A equipe de professores e alunos universitários realizou

um levantamento, com a ajuda de professores, benzedeiras e curandeiros de todo o estado,

verificando quais as plantas medicinais mais utilizadas e como isto se processava na

cultura popular. De posse destes conhecimentos realizou pesquisa bibliográfica e produziu

o livro “Noções sobre o Organismo Humano e Utilização de Plantas Medicinais” (Silva et

al. 2005), retornou à comunidade e ofereceu numerosos cursos de capacitação com intuito

de corrigir visões erradas do uso das plantas medicinais, bem como, de coletar novas

informações populares motivadoras para novos estudos científicos. Ao mesmo tempo

assessorou a implantação de hortos de plantas medicinais em outros órgãos como, escolas,

universidades, prefeituras entre outros, sempre com mudas botanicamente identificadas e

cujos princípios ativos estivessem farmacologicamente avaliados.

Desta forma o CIC realizava um conjunto de ações que trazia em si o caráter de

uma extensão universitária dinâmica, atual e empreendedora, pois segundo o Plano

Nacional de Extensão Universitária do Fórum Nacional de Pró-Reitores das Universidades

Públicas Brasileiras (2001), a extensão universitária é o processo educativo, cultural e

científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação

transformadora entre universidade e sociedade. A extensão é uma via de mão dupla, com

trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a

oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à

universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão

teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes

sistematizados, acadêmico e popular, terá como conseqüências a produção do

conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a

Page 11: Mudi empreendorismo no servico publico

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democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na

atuação da universidade.

Cabe ainda destacar que os custos da primeira edição do Livro “Noções sobre o

Organismo Humano e Utilização de Plantas Medicinais” foi rateado entre os próprios

autores e numerosos professores do Paraná que convencidos da importância do CIC e de

suas ações compraram antecipadamente o livro para custear os serviços gráficos. Foram

produzidas 5 edições que por quase uma década representou a principal forma de angariar

recursos para manter o projeto e para construir o “Horto Didático de Plantas Medicinais

Irenice Silva” da UEM, bem como para viabilizar a primeira edição de outros livros, cujos

recursos são utilizados pelos autores para adquirir materiais e equipamentos que são

doados ao Museu.

( ... ) é fácil perceber que a perseverança é um atributo de quem gosta

muito do que faz. A liderança nasce da capacidade de convencer pessoas

a nos apoiar e seguir. Só um apaixonado consegue se dedicar tanto a um

sonho a ponto de conhecê-lo na sua integridade e assim adquirir a

capacidade de seduzir pessoas para participar de sua realização.

(DOLABELA, 2006, p. 36)

Na equipe do CIC existiam vários apaixonados, que há anos se dedicavam ao

sonho de ver o crescimento qualitativo e quantitativo de suas ações. Porém convencer a

sociedade a ajudar a equipe a dar o próximo passo, ou seja, construir uma sede que

reunisse os diversos projetos com seus acervos em um único local, de maneira a

potencializar as ações e interações por meio de uma convivência mais próxima entre os

diversos atores não se mostrava uma missão fácil.

Desta forma, em 1999, a equipe dos diferentes projetos realizou a I Mostra do

“Museu Dinâmico Interdisciplinar” (nome a ser adotado pelo CIC, em função das

características que possuía de um museu de divulgação científica e tecnológica) em

integração com a Semana de Artes da UEM. Por uma semana o Departamento de Ciências

Morfofisiológicas foi fechado, e suas salas e laboratórios foram transformados em espaços

de exposições de ciência e arte para dar idéia à comunidade universitária e à sociedade de

como seria o Museu Dinâmico Interdisciplinar. Nesta mostra que teve como tema

unificador “cultura alimento do corpo e da alma”, foram atendidas em apenas uma semana

4950 pessoas. Como forma de motivar a reflexão sobre a importância de se construir o

museu, foram colocadas faixas e cartazes com o seguinte dizer “Maringá merece um

museu assim”.

A exposição do acervo de maneira mais adequada demonstrou a capacidade que as

coleções museológicas tinham de comunicarem-se com o público em geral, reforçando a

Page 12: Mudi empreendorismo no servico publico

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colocação de Santos (1987, 1990a, 1990b) que “a ação museológica nos conduz ao

entendimento e à aceitação do compromisso social.”

Primeiro fruto desta ação foi o convite para a equipe realizar uma ação semelhante

na Cidade de Goiânia como parte do Congresso Luso Brasileiro de Morfologia, com todos

os custos bancados pelo CNPq e outros órgãos de fomento.

Em 2001, o CIC atendeu cerca de 15.000 pessoas com visitas monitoradas, com

palestras e cursos realizados na UEM, sendo que mais de 20.000 solicitações deixaram de

ser atendidas por falta de estrutura, demonstrando, portanto, a existência de uma demanda

reprimida.

Em 2002, além do público atendido rotineiramente (cerca de 15.000 pessoas), a

equipe realizou a “III Mostra do Museu Dinâmico Interdisciplinar” em lonas de circo

armadas no espaço da feira do produtor em Maringá, alcançando com a mostra um público

de 15.623 pessoas, uma grande divulgação na mídia e a conquista de um outro olhar pela

Universidade que então se propôs a dar início ao processo de construção da sede.

Acredita-se hoje que o empreendedor seja, o ‘motor da economia’”, um

agente de mudanças. Muito se tem escrito a respeito, e os autores

oferecem variadas definições para o termo. O economista austríaco

Schumpter (1934) associa o empreendedor ao desenvolvimento

econômico, a inovação e ao aproveitamento de oportunidades em

negócios. ( ... ) a definição de Filion (1991): ‘um empreendedor é uma

pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões.’ (DOLABELA, 2006,

p. 25 )

Aproveitar oportunidades e realizar visões foi o que a equipe teve e tem que fazer

para construir e manter o museu. As várias tentativas de conseguir fomento para construir

o museu foram frustrantes. Isto gerou uma inquietação e a busca de alternativas. Desta

forma a partir de 1993 a equipe passou a oferecer voluntariamente cursos de

especialização aos finais de semana, pois havia uma grande demanda, em função da

carreira docente no ensino fundamental e médio e também por parte de profissionais

liberais. Os recursos obtidos serviram para a compra de materiais necessários ao início da

obra em 2003.

Os recursos angariados com os cursos de especialização eram suficientes para

construir a estrutura, mas insuficientes para o acabamento. Mesmo assim a equipe correu o

risco e solicitou que a obra fosse iniciada, pois entendia que seria mais fácil encontrar

parceiros para sua finalização do que para o seu início.

Segundo Dornelas (2003) entre as características-chave dos empreendedores está a

proatividade, persistência, capacidade de inovar, agilidade na tomada de decisão,

iniciativa, capacidade de avaliar e assumir riscos, trabalhar em equipe, capacidade de

Page 13: Mudi empreendorismo no servico publico

14

planejar, persuasão e habilidade ao vender suas idéias dentro e fora da organização,

motivação, busca de diferenciação, auto-estima, entre outras. Ainda de acordo com

Dornelas “a palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele

que assume riscos e começa algo novo” (DORNELAS, 2005, p. 29). Para este pesquisador

algumas características estão implícitas a qualquer definição de empreendedor, tais como:

ter iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz, transformar o ambiente,

aproveitando criativamente os recursos disponíveis.

Portanto, novamente a equipe se viu frente à necessidade de convencer pessoas e

instituições da importância do Museu. Desta forma, no ano de 2004 realizou-se na Vila

Olímpica, em Maringá, a “IV Mostra do Museu Dinâmico Interdisciplinar, em integração

com a VII Semana de Artes da UEM e II Mostra Integrada de Ensino Pesquisa e

Extensão”, tendo como tema: Beleza de Corpo e Alma. Alcançou-se um público de 25.267

pessoas. Na oportunidade foram convidados o delegado da Receita Federal, presidentes de

vários clubes de serviços e de ONGs, para conhecer o espaço e vislumbrar no concreto

como viria a ser o Museu Dinâmico Interdisciplinar. Convencidos da importância e

qualidade das ações, a Receita Federal doou mercadorias e, o Lions Clube e o Rotary

Clube realizaram bazares, o que resultou na arrecadação de fundos que serviram para a

aquisição dos materiais de acabamento e aquisição de equipamentos básicos, os quais

possibilitaram terminar a obra e dar início ao funcionamento do MUDI.

Nesta trajetória a equipe de servidores envolvidas com o MUDI vivia uma relação

constante entre o que almejava e os problemas que se apresentavam, contrariando a

retórica de que o servidor público não empreende, pois a equipe sempre buscava soluções

criativas para dar continuidade ao empreendimento iniciado, ou seja, construir o que

denominava de fase 1 do MUDI, um prédio com 1.700m2, e ao mesmo tempo já sonhava

com sua expansão futura que viria por meio de uma fase 2.

O método do big-dream requer que o empreendedor ‘sonhe’ com o

problema e sua solução, em outras palavras, que ele pense grande.

Todas as possibilidades devem ser registradas e investigadas sem levar

em conta nenhum dos pontos negativos envolvidos ou os recursos

necessários. As idéias devem ser conceitualizadas sem quaisquer

restrições, até que uma idéia seja desenvolvida de uma forma viável.

(HISRICH e PETERS, 2006, p. 171)

A Inauguração da fase 1 da construção da sede do museu permitiu aumentar a

capacidade e a qualidade do atendimento à comunidade extra-universitária, fortalecer as

ações relacionadas ao processo de educação informal como complementação da educação

formal e expansão cultural, reunir em um único local os acervos e atividades dos 24

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15

projetos que integravam o programa em maio de 2005 e atender grande parte da demanda

reprimida, dando oportunidade inclusive às famílias, para que aos domingos pudessem

conjuntamente aprender e se divertir no espaço do MUDI. Neste sentido Abreu destaca

que,

(...) a formação do indivíduo, tanto nos seus aspectos

básicos/fundamentais, quanto na sua formação científica, não deve ficar

restrita apenas ao espaço escolar: ampliaram-se os espaços de formação

complementar, como museus e centros de ciências, entre outros, que

efetivamente contribuem para desenvolver uma cultura científica, que

devem ser reforçados, modernizados, reciclados, atualizados, para que

atendam as necessidades geradas pelo novo paradigma, assim como

possa continuar a contribuir para diminuir as enormes desigualdades

herdadas do passado remoto e recente. (ABREU, 2001, p. 27)

No MUDI há uma diversidade de ambientes e ações onde se pode aprender a

digitar e navegar na internet, sobre física de forma lúdica, discutir a evolução da vida,

compreender a constituição e o funcionamento do corpo humano e dos animais,

acompanhar e compreender o processo de pesquisa para produção de mudas de orquídeas

e bromélias a partir de sementes como forma de propiciar seu uso comercial sem depredar

o meio ambiente. Tudo isto contando com objetos concretos organizados em exposições

temáticas para mediarem as aprendizagens que ali ocorrem, com monitores e professores

que acompanham o visitante.

Lourenço (2000) argumenta que se pode nomear verdadeiramente como um bem,

que se espera público, o abrigado nos museus, uma vez que em seu conjunto incluem-se

elementos naturais e do meio ambiente, processos, técnicas e a cultura material produzida.

A diversidade é sua riqueza e a atribuição de tal valor apresenta um grande componente

cultural, daí o denominar de bem cultural. Acrescenta ainda, que o museu é uma

instituição significativa, por quanto propicia a ampliação do saber em presença do acervo

recolhido, assim alargando as possibilidades de pesquisa, ensino e extensão cultural.

No ambiente de exposição do museu foi possível conjugar uma série de relações

interessantes, constantemente atualizadas, e concentradas num mesmo espaço, tais como:

entretenimento e aprendizado, curiosidade e percepção de diferentes saberes, exercícios de

reflexão e observação, o que torna o processo de aprendizado dinâmico, exatamente

porque é caracterizado como aprendizado “não formal”. Nesse espaço ocorre um encontro

entre observador e objeto, no qual o visitante participa interagindo com várias de suas

capacidades intelectuais.

Finalizada a fase 1 a equipe deu início à busca de recursos para a fase 2. Novos

cursos de especialização foram oferecidos, um novo bazar com mercadorias doadas pela

Page 15: Mudi empreendorismo no servico publico

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Receita Federal foi realizado, novos recursos foram angariados com a venda de livros

escritos pela equipe. Em 2006 foi firmado convênio com o Ministério da Ciência e

Tecnologia/Secretaria Nacional da Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, a qual

repassou R$ 120.013,88 que, adicionados aos recursos já mencionados e a R$ 87.000,00

concedidos pela administração da UEM, possibilitaram climatizar diversos ambientes do

MUDI, o que é indispensável para a conservação dos acervos e para o desenvolvimento de

vários experimentos. Possibilitou também, dar início à construção de um anexo com

600m2, previsto para ser inaugurado em 2009, onde serão instalados novos experimentos,

a recepção aos visitantes e o elevador de acesso ao pavimento superior, adaptado para

idosos e portadores de necessidades especiais. Na seqüência será construída uma ampla

lanchonete, visando um atendimento de melhor qualidade aos visitantes.

Assim a universidade, além das missões de ensino, pesquisa e extensão, tem

segundo Candotti (1993) três grandes modos de ser. Uma é a universidade produtora de

conhecimento que, em seus laboratórios procura saber o que acontece no mundo, na

sociedade, na natureza, trabalhar os dados, e com isso construir fatos novos. Outra, é a

universidade formadora, que ensina, que forma jovens e lhes dá as possibilidades de ler,

escrever de maneira um pouco mais sofisticado do que aquela ensinada nos ciclos

anteriores. Essa capacidade de ler, escrever, compreende também uma certa capacidade de

recuperar uma memória, de escrever uma história, de produzir uma cultura, enfim, de

estabelecer as condições de vida civilizada e se preparar para o exercício da cidadania.

Enfim, uma outra universidade, que é a universidade daquilo que chamamos de extensão,

todas aquelas atividades que a universidade exerce, formal ou informalmente, mas como

centro de difusão cultural, de conhecimento, uma espécie de laboratório que a sociedade

tem para testar experiências, para promover novas perspectivas, projetos, debates, para não

ficar restrita aos locais de seu recinto.

Ainda no ano de 2005 a equipe adquiriu uma série de equipamentos e materiais

para o Museu com recursos do CNPq, da Fundação VITAE e da Associação SER-

Maringá. Recebeu também um ônibus e um caminhão da Receita Federal, o que tem

permitido a realização de numerosas ações itinerantes onde exposições científicas e

espetáculos educativos são levados a diferentes comunidades, geralmente por meio de

parcerias com Universidades privadas, outras Universidades públicas, ONGs, Secretaria

de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia.

CONCLUSÃO

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A persistência em perseguir “o sonho” de um museu de divulgação científica e

tecnológica e as diversas estratégias para garantir a sua construção e manutenção

caracteriza um forte espírito empreendedor de um grupo de servidores públicos.

A determinação, paixão, clareza, confiança, boa vontade e criatividade para

improvisos, são outros atributos do empreendedor social, os quais também estão presentes

na equipe do MUDI, demonstrando elevado grau de independência, comprometimento e

maturidade na missão de empreender programas que funcionem e estejam disponíveis à

comunidade, como forma de promover mudanças sociais de longo alcance em seus

diversos campos de atividades.

A implementação do Museu Dinâmico enquanto sede e enquanto estrutura de

itinerâncias significou a ampliação do espaço interativo para exposições temáticas,

facilitando o uso dos acervos científicos e tecnológicos, bem como os recursos escritos,

audiovisuais e de multimídia, tanto para a educação formal como não formal, no sentido

de inspirar, surpreender e educar. Nesta ótica, a implantação do MUDI, com a perspectiva

de possibilitar aos visitantes a ampliação dos horizontes de informação e conhecimento,

em relação ao status científico e seu significado para a vida social, econômica e cultural,

configurando-se como oportunidade altamente positiva de divulgação e popularização

científica.

A prática do empreendedorismo no serviço público, a exemplo do que acontece na

Universidade Estadual de Maringá através do MUDI, demonstra que tanto na iniciativa

privada quanto no setor público, não existe mágica para que o empreendedorismo

aconteça. No caso estudado a ação empreendedora só aconteceu e acontece porque

existem “atores” dotados de forte consciência social (professores, técnicos, entre outros)

sempre dispostos a vislumbrar novas oportunidades para a emancipação da sociedade, seja

através da criação de idéias úteis para a população, combinação de prática e conhecimento,

criação de novos procedimentos e serviços, criação de parcerias e formas de auto-

sustentabilidade dos projetos, como também através da sábia combinação de riscos com o

valor social almejado. Estes atores são capazes de trabalhar com entusiasmo, inteligência e

determinação, se necessário vinte e quatro horas por dia, a fim de alcançarem resultados

que interfiram positivamente na vida das pessoas, missão sublime de cada nação, de cada

instituição, de cada cidadão, e que deve ser incentivada, valorizada e imitada por todos os

seguimentos de nossa sociedade.

REFERÊNCIAS

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