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MULTICULTURALISMO: O QUE É E QUAL A SUA RELEVÂNCIA PARA O DIREITO. Ao se pensar o surgimento do multiculturalismo, voltamos ao surgimento da própria diversidade cultural 1 . Não obstante, é indiscutível que o movimento ganha seu impulso principal com o fenômeno da globalização 2 e faz sua primeira aparição enquanto movimento social organizado após da década de 60. O multiculturalismo é uma forma de política social que visa a coibir a predominância de uma cultura considerada como superior e garantir, assim, o próprio fundamento do Estado democrático de direito, qual seja, a dignidade da pessoa humana. Importa destacar que o multiculturalismo não objetiva a elevação da cultura do oprimido à um patamar superior às culturas que, hoje, são tidas como dominantes, mas tão somente sua equiparação, para que haja uma conservação efetiva da diversidade cultural. É, então, verdadeiro “reconhecimento da alteridade, e não como algo para fazer as vezes de um “shopping center” de culturas do mundo, no qual o europeu ocuparia a loja mais cara e exclusiva” 3 . O multiculturalismo apresenta, por sua própria natureza de defesa das minorias, diversas interfaces com o direito, notadamente no que se refere aos Direitos Humanos. É por meio deste movimento que se busca não apenas a tolerância, mas 1 Não confundir, neste momento, multiculturalismo com diversidade cultural. Esta é, propriamente, o objeto que o primeiro, enquanto movimento social, procura proteger. 2 TORRES (2001), citado por GROFF, define globalização como sendo a “intensificação das relações sociais em nível mundial”. 3 Robert STAM, citado por OLIVEIRA JUNIOR.

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MULTICULTURALISMO: O QUE É E QUAL A SUA RELEVÂNCIA PARA O DIREITO.

Ao se pensar o surgimento do multiculturalismo, voltamos ao surgimento da própria

diversidade cultural1. Não obstante, é indiscutível que o movimento ganha seu impulso

principal com o fenômeno da globalização2 e faz sua primeira aparição enquanto

movimento social organizado após da década de 60.

O multiculturalismo é uma forma de política social que visa a coibir a predominância de

uma cultura considerada como superior e garantir, assim, o próprio fundamento do Estado

democrático de direito, qual seja, a dignidade da pessoa humana.

Importa destacar que o multiculturalismo não objetiva a elevação da cultura do oprimido à

um patamar superior às culturas que, hoje, são tidas como dominantes, mas tão somente

sua equiparação, para que haja uma conservação efetiva da diversidade cultural. É, então,

verdadeiro “reconhecimento da alteridade, e não como algo para fazer as vezes de um

“shopping center” de culturas do mundo, no qual o europeu ocuparia a loja mais cara e

exclusiva”3.

O multiculturalismo apresenta, por sua própria natureza de defesa das minorias, diversas

interfaces com o direito, notadamente no que se refere aos Direitos Humanos. É por meio

deste movimento que se busca não apenas a tolerância, mas essencialmente o

reconhecimento da cultura do outro enquanto igualmente importante.

Neste sentido, Oliveira Junior traz uma observação importante, e nos indaga se haveria

certa incompatibilidade entre Direito Humanos e sua pretensão de universalidade e a

singularidade dos discursos multiculturalistas. Ora, nos parece claro que a resposta é

negativa. É importante lembrar que quando falamos da universalidade pretendida pelos

Direitos Humanos, estamos falando de princípios e direitos que nos parecem ser inerentes

ao homem, estando localizado numa fase que precede a própria ideia de cultura, e não uma

norma rígida que será imposta a todos.

Por fim, é importante anotar que esta é apenas uma das diversas faces do multiculturalismo

e sua interseção com o direito. Trata-se de fenômeno que, assim como o pluralismo

cultural, é de natureza complexa, e demanda estudo mais aprofundado sobre o tema.

1 Não confundir, neste momento, multiculturalismo com diversidade cultural. Esta é, propriamente, o objeto que o primeiro, enquanto movimento social, procura proteger.2 TORRES (2001), citado por GROFF, define globalização como sendo a “intensificação das relações sociais em nível mundial”.3 Robert STAM, citado por OLIVEIRA JUNIOR.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GROFF, Paulo Vargas; PAGEL, Rogério. Multiculturalismo: Direitos das minorias na era da globalização. Revista USCS — Direito, ano X, n. 16, jan./jun. 2009

OLIVEIRA JUNIOR, J. A. Multiculturalismo: o “olho do furacão” no direito pós-moderno. Revista Direitos Culturais, volume 1, ano 1, dez. 2006.