Murilo e Palma

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    ESPAO ABERTO

    Dilogo sobre cientometria,mal-estar na academia e

    a polmica do produtivismo

    MURILO MARIANO VILAAUniversidade Federal do Rio de Janeiro

    ALEXANDRE PALMA

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    ACEITANDO UM CONVITE REFLEXO COLETIVA

    Um mal-estar assombra a Academia: o mal-estar provocado pelo fetichedo conhecimento-mercadoria e o seu canto de sereia o produtivismo.

    [...] a Academia parece estar desagradada e, em alguma medida, degra-dada pela direo e pelo ritmo do desenvolvimento das transformaesem curso no chamado sistema brasileiro de cincia e tecnologia

    T; R, 2011, p. 769

    Eunice Trein e Jos Rodrigues (2011) iniciam assim seu texto sobre o quedenominam de mal-estar na academia, publicado na Revista Brasileira de Educao(RBE), abordando aspectos sensveis da atual configurao do campo acadmico--cientfico. A tese desenvolvida que o conhecimento vem perdendo seu valor de

    usopara um valor de troca, tornando-se mercadoria, o que tem causado conflitos(mal-estar) na academia. Indubitavelmente, este tema delicado e envolve opespolticas sobre os rumos da cincia, sobre os quais queremos nos posicionar.

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    Aceitando o convite dos autores para elaborar uma reflexo coletiva, opresente ensaio visa a engrossar fileiras do lado assumido por eles, embora comalgumas ressalvas, contribuindo para a reflexo sobre o que criticam e denunciam,como a epgrafe do seu texto sugere. Consideraremos fatores que no se aplicam

    exclusivamente rea da educao, quem sabe contribuindo para evitar que sejamaduzidos a ela num futuro prximo.No intentamos encerrar a discusso, oferecendo uma sada perfeita ao

    quadro apresentado pelos autores, tampouco abordar todos os possveis pontos dodebate. Em vez disso, proporemos novas entradas, ampliando o debate e, possivel-mente, a polmica por meio dos conceitos infradefinidos.

    DEFININDO CONCEITOS; EXCOGITANDO DISTINES E RELAES

    Na avaliao da Coordenadoria de Aperfeioamento de Pessoal de NvelSuperior (CAPES), vrios matizes de produtividade so considerados. H umaespcie genrica de norma produtividade vigente. No entanto, hipotetizamos quehaja indcios de que a publicao priorizada, o que estabeleceria uma norma pro-dutividade num sentido especfico. Nesse caso, os artigos em peridicos tidos comoqualificados seriam a modalidade de publicao mais valorizada tanto pelas normasoficiais quanto pelo reconhecimento intersubjetivo dos pares (valor simblico), oque indicaria traos da compreenso de produo e divulgao cientficas vigente.

    No Brasil, a norma produtividade especficapode ser constatada, por exemplo,

    na determinao de um quantitativo mnimo ideal1

    a ser publicado e na valorizaodiferenciada por meio do sistema Qualis, especialmente no caso de docentes deprogramas de ps-graduao (PPGs). Alm de publicar dado nmero, eles tm deatentar ao estrato do peridico sua Qualisficao , pois isto representa a pontuaoque o artigo ter, o que chamamos de seu valor no mercado acadmico.

    Por isso, norma produtividadeser tomada em sentido estrito, significandoo conjunto de regras oficialmente institudas e a percepo intersubjetivamentecompartilhada que do especial valor publicao, especialmente de artigos, comocritrio avaliativo. Por meio dela, instituies (PPGs) e indivduos so hierarquizados

    para fins de distribuio de recursos, posies na carreira e reconhecimento. H algocomo uma espcie de periodicocracia do conhecimentona academia. Como norma,prescreve padres aos quais indivduos e instituies devem adequar-se, acarretandoformas de normao que preveem recompensas e punies (Foucault, 2005).

    1 Por exemplo: a rea biotecnologia recomenda um mnimo de trs publicaes deartigos; na educao, os conceitos muito bom a defciente atribudos a PPGs dependem

    da mdia ponderada de publicaes qualifcadasentre os docentes permanentes. Dadosdos Documentos de readisponveis, respectivamente, em: e . Acesso em: 9 jan. 2012.

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    Postulando que o fato de algo ser publicado em peridicos A1 ou A2 oucom alto fator de impacto (FI) no significa, necessariamente, que seja de qualidade(Sgalat, 2010; Young et al., 2008), usamos o neologismo Qualisficao para relativi-zar o modelo de qualificao vigente. Atualmente, os artigos tm valor ou qualidade

    discernidos conforme o sistema Qualis, que o que rege a periodicocracia no Brasil.Ou seja, o conhecimento produzido/divulgado e, consequentemente, seu autor einstituio so distintamente valorizados dependendo do peridico no qual o artigofoi publicado, lgica que no se restringe ao Brasil. Segundo os editores do PLoSMed (The PLoS..., 2006, p. 707, traduo nossa), o FI interfere na promoo deautores, na eleio departamental, na captao de financiamentos, sendo que, emalguns pases, o financiamento pblico de instituies inteiras depende do nmerode publicaes em peridicos com altos fatores de impacto.

    Alegando que a norma produtividade explica apenas parcialmente o que

    ocorre na academia, propomos a norma produtivismo, para designar a deliberadaao de criar estratgias para elevar a produtividade para alm dos limites estabe-lecidos por aquela norma, sobretudo envolvendo ms condutas cientficas (plgio;autoplgio; redundncias; fabricao e falsificao de dados e resultados; coautoriasde fachada etc). Isto , o produtivismo no exclusivamente numrico, mas envolveoutros fatores.

    Nossa ideia que as normas citadas coexistem, mas se diferem. Enquantoaquela apenas parcialmente contestvel, esta expressa uma ampla distoro daconduta acadmico-cientfica, visando acumulao de capital curricular. Este se

    refere ao incremento do valor de mercado do acadmicopor meio da agregao dovalor de troca das publicaes, corroborando a ideia de conhecimento fetichizadode Trein e Rodrigues (2011). Assim, o capital produzido pelo produtivismo criaoutra forma de fetichizao, a saber, a egofetichizao, que expressa na elevao doreconhecimento intersubjetivo pelos pares, das possibilidades de empregabilida-de e avanos na carreira, bem como daf inanciabilidade(poder de captar recursos,ganhar editais) e publicabilidade(chances de ter um artigo aprovado). Quanto aoltimo efeito, parece que formado um crculo virtuoso ou vicioso expresso naseguinte equao: mais e melhores publicaes = bom currculo = mais chances

    de publicar. Certas solicitaes dos peridicos sugerem essa lgica.2

    Ao que parece,o currculo pode contar mais do que a fora das ideias.Um currculo com muitas e boas publicaes um ponto-chave para que

    um indivduo torne-se uma referncia na rea, supondo que estamos distantes dareflexo sobre os condicionantes sociais de uma hiperproduo acadmica, bemcomo sobre suas consequncias. Destarte, enquanto a produtividade determinadapor um limite x de certos produtos (o que questionvel), o produtivismo pauta--se pela falta de limite e pelo recurso a ms prticas cientficas (o que reprovvel).

    2 OAlea Estudos Neolatinos, por exemplo, pede que, no ato da submisso de um artigo,os autores salientem as suas publicaes mais relevantes. Disponvel em: . Acesso em: 20 fev. 2012.

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    Para ns, conquanto, em ltima instncia, seja fruto de uma opo subje-tiva, as prticas produtivistas no so um desvio de carter individual, mas estodiretamente ligadas a um contexto em que um montante grandioso de artigos geramais admirao do que crticas. Ainda que no oficialmente, parece haver regras de

    reconhecimento intersubjetivo que positivam uma numerosa produo, ensejandoa norma produtivismo.Em suma, tal contexto ensejaria um tipoproblemtico demercado acadmico-

    -cientfico, em que a publicao possuiria valor de troca, sendo uma forma demoeda, produzindo ao menos seis problemticas consequncias: (1) ocorrncia detrocas financeiras (financiamentos e vagas de trabalho) e simblicas (autoridade,reconhecimento, influncia); (2) fast science (cincia rpida); (3) fetichizao doconhecimento; (4) egofetichizao; (5) gesto eficiente ou por resultados, deman-dando performatividade produtiva; (6) expropriao e heteronomia dos meios deproduo/divulgao do trabalho intelectual.

    COMEANDO PELO FIM OU SOBRE O POSTSCRIPTUM COMO MAGO ARGUMENTATIVO

    No artigo, os autores contestam o sistema brasileiro de cincia e tecnologia. Aposio assumida peremptria: no podemos concordar que o prolongamento [...]do atual modo de produo do conhecimento cientfico conduzir a sociedade brasi-

    leira enfim ao tlos de uma economia competitiva, pela mo do DesenvolvimentoCientfico & Tecnolgico (Trein; Rodrigues, 2011, p. 770). A despeito de uma im-preciso (a acepo de economia competitiva adotada) e da ambiguidade gerada pelasua construo, a afirmao d o tom do artigo. Todavia, parece-nos que os autores seequivocam ao coloc-la no futuro. Para ns, j h, genericamente, traos econmicos ecompetitivos na academia.

    Dito isso, voltamo-nos para opost scriptum, pois nele apresentada a supostacausa fundamentaldo sistema de medio criticado.

    Os autores dizem que tm enfrentado a questo como medir, de maneira mais ade-

    quada e menos perversa, a produtividade do pesquisador e a qualidade da pesquisa cientfica?(idem, p. 789, grifos do original). Entretanto, para eles, haveria uma questo anterior,pois a pergunta [...] na verdade, funciona como um biombo pergunta recalcada Porque medir? (idem, ibidem, grifos do original). Segundo eles, aquela questo no passvelde resposta e trataremos disso na ltima seo deste ensaio , porm a esta pode-seesboar uma:

    Ora, medimos para esconder o fato de que, na sociedade capitalista, no h lugar,poder, dinheiro, enfim, mercadorias para todos. Sabemos disso. Posto que no h

    mercadoria para todos, preciso criar (manter e refazer) mecanismos supostamenteobjetivos e impessoais que tero afnalidade de aliviar a angstia provocada pela res-posta. (idem, p. 789-790, grifos nossos)

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    Alegando que ela seja enquadrada naquilo que Cham Perelman e LucieOlbrechts-Tyteca (2005) chamam de argumentos baseados na estrutura do real, especifica-mente relacionada ao subgrupo ligaes de sucessodo tipo vnculo causal, cabe examin-la.

    Em suma, a resposta assevera que h uma coisa no mundo (a escassez inerente

    ao capitalismo) que alguns tentariam contornar. A sua revelao liberaria uma an-gstia represada. Tal resposta, aparentemente bvia e satisfatria, contudo, soa comoum descompasso diante do pargrafo imediatamente anterior a ela. Nele, os autoresdefendem uma ontolgica precariedade entre sujeito, mundo e linguagem. H sempre umdesvo, afirmam (Trein; Rodrigues, 2011, p. 789), o que torna toda resposta uma ten-tativa frustrante de superar a falha ou falta inerente quela relao tridica. A anunciadaadmisso da provisoriedade e incompletude da resposta dada parece contrastar com seucontedo e tom reveladores, monolgicos e definitivos.

    De sada, cabe questionar se sistemas de medio so exclusivamente capitalistas.

    Para Angelo Pinto e Jailson Andrade (1999, p. 448), a vontade de medir acompanhao homem desde muito tempo e parece ter sempre estado na base do pensamentoocidental. O problema da medida foi sempre central na cincia [...]. Na esteira desteentendimento, a histria pr-capitalista tem exemplos de mecanismos de medio,comparao e hierarquizao. Outras objees so, ainda, igualmente pertinentes: sobreo desvo anunciado, ele era algo ontolgico ou ideolgico, algo inerente ou forjado? Serque os autores cederam inadvertidamente tentao da (suposta) causalidade nica e

    verdadeira de um fenmeno complexo, que desvela todo falseamento ideolgico deum mundo objetivo, da realidade?

    Outro ponto crtico concerne a se o fato da escassez d conta da estrutura do realdescrita, sendo a causa nica do (efeito) sistema de medio criticado. As mediaes darelao causa-efeito esto claras? Alis, a escassez um dado simples, no relacionadoa outros fatores, tais como o desejo ilimitado pelo desfrute dos recursos e a varivelnecessidades? Por fim, ser que a escassez um fato decorrente exclusivamente do capi-talismo, de modo que antes ou fora dele no havia ou h escassez em alguma medida?

    A juno de coisas to distintas e complexas (lugar, poder, dinheiro e mercado-rias) de modo impreciso e indistinto outro aspecto importante. Que noo de lugar,

    poder, dinheiro ou mercadoria adotada? Sem saber ao certo, cumpre questionar se esseselementos so suficientes para todos fora do capitalismo. No obstante os limites queo capitalismo impe, retorquimos se a escassez um efeito do capitalismo ou se algoexperimentado por regimes no capitalistas, inclusive em maior monta. Colocando aquesto de outro modo, a no escassez alcanvel ou uma utopia? Talvez ela no seja acausa do sistema de medio, de modo que, antes e mais adequadamente, o ponto seriao modo empregado para distribuir os recursos disponveis e o tipo de sociedade que sequer promover. Se estivermos corretos, alguma forma de distribuio dos recursos terde ser implementada at mesmo em sociedades no capitalistas, a no ser que se aposte

    em uma irracional diviso radicalmente igualitria. No tocante cincia, diferentesreas demandam desiguais aportes. Por exemplo, no h como comparar engenhariacom educao. A questo fulcral quais critrios sero utilizados e visando a quais fins.

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    A deciso por investir mais em dada rea eminentemente poltica. A concepo desociedade determinar, em parte, o tipo de distribuio realizada.

    Outro ponto delicado a avaliao dos resultados dos recursos disponibiliza-dos. Sem defender o efeito Mateus3(Merton, 1968) vigente na lgica cientomtrica

    de alocao de recursos, parece-nos razovel que dada instituio e seus constitutivostenham de mostrar resultados condizentes sua finalidade e aos recursos desfrutados.H, sem dvida, uma disputa sobre a natureza dos resultados e dos critrios adotadospara avali-los, assim como dos efeitos do processo. Mas alguma maneira de avaliar osresultados no nos parece esdrxula ou injusta de antemo, pois pode expressar o zelonormativamente justificvel com aquilo que investido, sobretudo no caso de recursospblicos.

    Ademais, pensamos que os mecanismos de medio, que so questionveis, noforam criados, necessariamente, com o objetivo de escamotear a escassez. Ou seja, para

    alm de uma crtica, por assim dizer, ideolgica de denncia tentativa de falsear umarealidade , eles seriam um modo de reconhecer os problemas gerados pela distribuiodesigualdos recursos disponveis inevitavelmente escassos e uma tentativa de dar um tomde justeza. Eles podem ressoar traos de uma forte tendncia em filosofia poltica nasltimas cinco dcadas, a saber,as teorias de justia distributivas. A ttulo de exemplo, o queno significa que concordamos com elas, citamos John Rawls4e Ronald Dworkin5. Seusenfoques por igualdade de bens e igualdade de recursos, respectivamente representamformas de no ocultar, mas refletir sobre como encarar o fato da escassez de modo justo.

    Perante os limites que apontamos, a resposta questo fundamental por que

    medir? torna-se parcialmente questionvel, merecendo mais ateno e detalhamentoou, at mesmo, uma reviso.Note-se que no estamos fazendo uma ode ao capitalismo. O objetivo contri-

    buir para o aperfeioamento dos argumentos. No nosso entendimento, semelhanados autores, h indcios de que, de fato, haja uma lgica de economia de mercado gene-ricamente concebida gerindo o conhecimento, o que deve ser criticado. Vejamos, ento,algumas evidncias, indcios e imprecises inerentes problemtica cientometria vigente.

    SOBRE EVIDNCIAS, INDCIOS E IMPRECISES

    Nas duas prximas sees, defendemos que h algumas evidncias e algunsindcios que justificam pontos da crtica de Trein e Rodrigues, notadamente a ideiade conhecimento-mercadoria. Em total codependncia, a norma produtividade ea periodicocracia do conhecimento acadmico-cientfico so traos basilares dofuncionamento da academia.

    3 Como destaca Robert Merton (1968), esta uma forma de interpretar teoricamente

    a desproporcionalidade dos recursos baseada na posio de eminncia gozada porcientistas (e, acrescentamos, tambm por instituies).4 Originalmente desenvolvida na obra Uma teoria da justia, de 1971.5 Desenvolvida, por exemplo, na obra Virtude soberana, de 2000.

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    NORMA PRODUTIVIDADE: EVIDNCIAS NOSISTEMA DE AVALIAO DA CAPES6

    No Brasil, a CAPES destaca-se no cenrio cientomtrico, sobretudo no

    tocante aos PPGs. Seu modelo de avaliao confere especial valor produtividadenum sentido amplo. Dir-se-ia, com relativa razo, que o modelo considera outrosfatores. Todavia, tanto em si quanto nas articulaes que estabelece, ela umimportante parmetro do modelo de avaliao vigente, como mostraremos. Almdisso, conforme argumentaremos, em meio ao campo genrico da produtividade, aproduo intelectual em termos de artigos sobressai.

    Considerando os cinco quesitos da avaliao trienal dos PPGs feita pelaCAPES, percebe-se que em todos eles alguma forma de produtividade conside-rada. Dentre eles, h um quesito (produo intelectual) destinado especificamente

    produo. Vejamos alguns exemplos, recorrendo a reas distintas.No quesito proposta do programa, segundo a rea letras/lingustica, osProgramas devem constituir-se como um todo orgnico, em que as reas de con-centrao, as linhas e os projetos de pesquisa, a estrutura curricular e a produointelectualconfigure essa integrao (grifo nosso).

    Sobre o quesito corpo docente, bolsas de produtividade so um fator relevanteem algumas reas (por exemplo, antropologia, engenharia IV, qumica e zootecnia/recursos pesqueiros). Alm de bolsas, h reas (por exemplo, geografia e sadecoletiva) que valorizam a capacidade docente de captar outros apoios financeiros

    (suaf inaciabilidade).Quanto ao quesito corpo discente, teses e dissertaes, na rea cincias e tecno-logias de alimentos, a participao de discentes na produo cientfica (peridicos)[...] tida como importantssima. Ela compe o item 3.3 do quesito, que corres-ponde a 45% do seu valor total. Na rea, a trade corpo discente, teses e dissertaes eaproduo intelectualso os pontos centrais da avaliao, devendo ser valorizadossegundo osprodutos, e no enquanto um processo. Na qumica, o item 3.3 do quesi-to que se refere, basicamente, qualidade das teses e dissertaes detm quase ametade (45%) dos 35% conferidos ao quesito inteiro. Alm disso, a compreenso de

    qualidade da rea clara: nmero de artigos com discentes x peso relativo Qualise relativizado pelo nmero de discentes.Destarte, a qualidade das teses e dissertaes medida pela periodicocra-

    cia. Ou seja, se elas forem publicadas em formato de artigo em peridicos bemQualisficados, logo, sero tidas como qualitativamente boas, um raciocnio contes-tvel ou incomodamente curioso. Isto porque, por um lado, no incomum ouvirna academia que h muitos artigos ruins sendo publicados (Ford, 2010). Por outro,Alceu Ferraro (2005), citando Pedro Goergon, assevera que timos trabalhos no

    6 As informaes das reas citadas nesta seo provm dos respectivos Documentos derea 2009. As excees sero devida e particularmente identificadas. Disponvel em:. Acesso em: 9 fev. 2012.

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    conseguem ser publicados, talvez em funo dos problemas apontados por SlvioBotom (2011). De todo modo, se a lgica for essa, os discentes e PPGs ficariam merc dos peridicos, o que nos parece uma distoro ou contrassenso, pois umPPG s poderia aprovar uma tese ou dissertao aps ela ter sido publicado em

    formato de artigo. Do contrrio, admitindo-se que tal lgica estivesse correta, se-ria legtimo questionar o PPG que aprovou uma tese que no resultou em artigo,portanto, aprovou algo de m qualidade.

    No quesito insero social, h meno importncia da produo de livros ecaptulos de livros direcionados a estudantes de todos os nveis, caso da qumica eda educao. Alm disso, a produtividade (teses, dissertaes e outros produtos) contemplada quanto necessidade da suapublicidadeem pginas webatualizadas.

    O quesitoproduo intelectualfocaliza tipos especficos de produtividade.Grosso modo, tem um peso (percentual) que varia de 30 a 40.7Ou seja, a con-

    siderarmos apenas um dos quesitos, quase metade da nota conferida a um PPGdepende disso. Via de regra, ao menos a metade do peso do quesito correspondediretamente ao nmero e Qualisdade de artigos, captulos e livros publicados.8Ademais, h reas em que os artigos so absolutamente priorizados, de modoque captulos e livros sequer so citados.9Conforme argumentamos a seguir, ofoco nos artigos no excepcional. Ao contrrio, eles so a principal moeda naacademia, indiciando caractersticas do atual modo de produo/divulgao deconhecimento.

    Para encerrar esta seo, ressaltamos que o fato de a CAPES focalizar as

    vrias formas de produtividade como critrio de avaliao no deveria, necessaria-mente, gerar surpresa ou indignao. Para ns, pertinente que a academia tenhade produzir resultados e torn-los pblicos, prestando contas ao meio acadmico e,em tese, ao meio social mais amplo. Todavia, a norma produtividade possui traos eproduz efeitos contestveis. Nos termos de Piotr Trzesniak (2006), ela possui traostcnico-normativos, estabelecendo critrios tcnicos focalizados em produtos, e nono processo, estabelecendo uma norma qual a academia deve se ajustar. Dentreos traos questionveis, elegemos a periodicocracia por meio da Qualisficao paraanalisar a seguir. No tocante aos efeitos, a presso por publicao, o produtivismo e

    as ms condutas sobressairiam. Dado o limite deste ensaio, focalizaremos apenas osdois primeiros. Porm, cabe salientar que autores vm estabelecendo nexos entre oexacerbado valor dado publicao e a ocorrncia das ms condutas (Fanelli, 2010),ponto que merece ateno.

    7 Enquanto a rea educao confere peso 30, a economia confere 35 e a antropologia, porsua vez, 40.

    8 Embora, por exemplo, a antropologiae a sade coletiva deem peso 40%; aeducao, aengenhariaIV, a filosofia, a medicina II, entre outras, do peso 50%. H, ainda, reasque do peso superior, como a qumica (60%) e a economia (65%).

    9 Como exemplo, medicina I, qumica e zootecnia/recursos pesqueiros.

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    PUBLICAR OU PERECER: PERIODICOCRACIA E QUALISFICAO

    Atualmente, h evidncias e indcios de que a publicizaotem concorridocom apublicao.10 consenso que os resultados das pesquisas tm de ser tornados

    pblicos. Mas, se a questo dar o maior acesso possvel, poder-se-ia faz-lo em umsiteou meio impresso de grande circulao, atravs de uma linguagem que inclusseos no cientistas. Alis, este um tipo de preocupao recentemente partilhado peloCNPq. Mas so os peridicos especializados o meio mais prestigiado. Em parte,h a crena de que o sistema utilizado, especialmente a reviso por pares, garante acientificidade/qualidade do produto, o que vem sendo contestado (Botom, 2011).No obstante os problemas referentes legitimidade e probidade do processo, alinguagem utilizada, entre outros fatores, tornam os meios de publicizao relativa-mente ineficientes, caso se considere a democratizao da cincia. Aduzindo o ques-tionamento de Joo Jardim (2011), cumpre saber o que se pretende difundir pelosartigos, at porque pode ser apenas o nome do autor, da instituio, do peridico.

    Ademais, no qualquer peridico que um bom meio, mas, sim, aquelesbem Qualisficados. Quanto a isso, h fatores que sugerem que o carter qualitativo subsumido ao quantitativo. A norma produtividade estabelece um quantitativomnimo de produo para que um PPG ou pesquisador seja tido como de qualidade.Outra evidncia que o nmero de citaes11determina, por vezes, a qualidade deum peridico, o que, por sua vez, determina o valor do conhecimento publicado.

    O modelo cientomtrico vigente no s no Brasil tem sido amplamentequestionado. Por um lado, por ser marcadamente quantitativo (De Meis et al.,2003a; Fanelli, 2010; Notkins, 2008; Schmidt, 2011). Por outro, por ser, conformeSandra Sousa e Lucdio Bianchetti (2007), burocrtico e autoritrio, estabelecendocritrios absurdos. A crtica ao modelo pode se voltar para os quesitos supracitados12ou referir-se precisamente periodicocracia associada ao Qualis e ao esprito queendossa, pois pode estar gerando efeitos como o produtivismo. O quantitativomnimo (x produtos/pontos no trinio) e o modo de sopes-lo so questionveis.Se um dos objetivos combater a ociosidade docente ou malversao dos recursos,relatrios de pesquisa poderiam servir para informar o que vem sendo estudado,ainda que no tenha resultado em artigos; e, se peridicos so meios legitimadosde publicizar a produo acadmico-cientfica, todos eles deveriam ter, a priori, omesmo valor.

    Todavia, nem toda publicizao tem o mesmo valor, pelo menos de acordocom as regras vigentes. Quer dizer, o meio (peridico) no qual um conhecimento

    10 Usaremos os termos publicizaoe publicaopara diferenciar a necessidade de tornaralgo pblico do imperativo da publicao Qualisficada.

    11 No abordaremos aqui, mas h outro ndice ndice H que tambm depende disso,

    mas envolve outra equao e se refere mais especificamente ao impacto do autor e nodo peridico.12 Os quadros disponibilizados por Trzesniak (2006, p. 358-361) para comentar

    criticamente a noo de qualidade adotada so dignos de consulta.

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    tornado pblico estabelece o seu valor (de mercado) cientfico. Mas este valor epistmico? Que critrios epistemolgicos13esto envolvidos?

    Aparentemente, na falta de critrios precisos, que chamaremos genericamentedepropriamente epistmicos, a academia adota critrios de outras ordens, notadamente

    quantitativos. Antes de ingressar na demonstrao de traos da lgica qualificadoravigente, cabem alguns comentrios gerais e a explicitao de algumas premissas dacrtica que fazemos nesta seo.

    Partindo da premissa de que so os artigos publicados em peridicos a formapreconizada de publicizar o conhecimento na atualidade, pode-se dizer que elesso a moeda vigente(Righetti, 2011). H, segundo alguns, um verdadeiro mercadode publicaes, ao qual a ideia de um mercado acadmico-cientfico est atreladadiretamente. Vrios autores constatam o fato de que, como moeda, a publicaode artigos determina o sucesso ou fracasso no mercado acadmico-cientfico. John

    Ford (2010, traduo nossa) afirma que curricula vitaeso avaliados por meio daspublicaes. Laurent Sgalat (2010, p. 86, traduo nossa) destaca que a maioriados cientistas veem uma publicao naNature,Cellou Sciencecomo uma importanteconquista na carreira, em vez de uma contribuio ao conhecimento. De Meis etal.(2003a) argumentam que a publicao de artigos em peridicos de alto FI uma das bases da lgica competitiva da cincia. Luiz Rodrigues (2007) e De Meiset al. (2003a) concordam que a lgica de financiamento estimula a competioentre os pesquisadores, pressionando-os a publicar cada vez mais, sem considerarnecessariamente a sua relevncia, promovendo distores produtivistas (Guedes,

    2011). Como Trein e Rodrigues (2011) argumentam, o conhecimento vira umamercadoria, servindo para trocar por coisas, como as citadas no incio deste ensaio.Mark Thornton (2004) afirma que perfeitamente razovel empregar o

    termo mercado para o processo de publicaes acadmicas, denominando-o comoum mercado de ideias. Ele defende que adequado falar em como um artigo podeimpactar o mercado, comercializando ou egofetichizando o autor no mercadoacadmico de publicaes. Trzesniak (2006, p. 348), em um elucidativo artigo quetambm aborda a diacronia da valorizao dos peridicos, afirma que possvelinferir que [...] a qualidade desses veculos se estruture sobre quatro dimenses

    bsicas: a de adequao tcnico-normativa do produto, a de finalidade do produto,a de processo de produo e a de mercado. Young et al.(2008) sugerem seis ana-logias entre termos tipicamente econmicos e a publicao cientfica: a maldiodo vencedor(Winners curse),14oligoplio, comportamento de rebanho (Herding), escassezartificial, incertezae Branding.15

    13 Adotamos, a ttulo argumentativo, a perspectiva epistemolgica internalista.14 Afeito ao processo do leilo, na cincia, refere-se superestimao dos dados ou ao

    exagero dos resultados, preo que o pesquisador pagaria para vencer o leilo pelapublicao e/ou patente.15 Em reas como design, marketinge publicidade, designa a fixao da marca, associao

    da identidade da empresa sua marca, construo da imagem no mercado.

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    H uma relao direta entre isso e o fenmeno denominado pelo aforismopublish or perish(publique ou perea). Ladislau Dowbor (2011, p. 34) afirma: souobrigado a publicar, pois sem isso o programa da PUC-SP, onde sou professor, noter pontos necessrios ao seu credenciamento. Para Roberto Refinetti (2011),

    uma corrida obsessiva por publicar se iniciou em 1950 e, desde ento, s agrava-da. Hoje, h uma espcie de ditadura da cincia rpida, pois esta adequada pararesponder pressure to publish (presso para publicar). Para Alceu Ferraro (apudSousa; Bianchetti, 2007, p. 402),

    Ningum mais tem tempo para parar e pensar, escrever um artigo tranquila-mente, produzir alguma coisa nova. Tudo feito em cima do joelho, correndo[...]. A avaliao no incide sobre a qualidade, a quantidade tem um peso muitogrande [...] a avaliao tende a se transformar num elemento traumatizador,

    num elemento inibidor, num elemento de mero controle. No entanto, ela de-veria ser um elemento estimulador, provocador, representando mais um desafiodo que propriamente punio.

    Segundo a anlise histrica que faz da ps-graduao em educao no Brasil,Paolo Nosella (2010, p. 179) afirma, particularmente no tocante ao perodo ps--ditadura (1985-2008), que a presso produtivista enorme e estressante. Assim,publica-se de forma ansiosa todo tipo de texto em peridicos ou apresenta-sepaperem congressos, j chamados no jargo acadmico de qualisficados [...]. SegundoSchmidt (2011), a sociloga Maria Sylvia de Carvalho Franco, em 1988, previu

    que o produtivismo tornaria-se hegemnico e naturalizado.Os dados apresentados na seo anterior somam-se a essas referncias, in-

    diciando que uma cultura da performatividade pautada pela periodicocracia vemse estabelecendo nas reas, ainda que em nveis distintos.

    O ltimo parmetro analtico admitido por ns a ilogicidade do racio-cnio pouca quantidade = alta qualidade ou vice-versa. possvel que haja algumaconsequncia de uma lgica quantitativa para a qualidade, mas isso no inesca-pvel, pois depende da acepo de qualidade, e, sobretudo, das condies concretasde execuo das pesquisas (recursos humanos e materiais disponveis), do tipo de

    objeto, pesquisa e rea. Assim, embora haja possibilidades reais da quantidadecomprometer a qualidade, qualquer suspiro nostlgico sobre um tempo em queproduzamos pouco e ramos melhores pesquisadores soa, no mnimo, ingnuo.

    Um irracional saudosismo deve ser rejeitado, mas, concomitantemente,no deve servir de rtulo da crtica ao produtivismo. Retoricamente contra ela,denomin-la de nostlgica tem o efeito de rotulao genrica, conferindo-lhe umcarter pejorativo, infundado ou simplrio. Rotular um argumento ou um autor um dos 38 estratagemas retricos (o 32o rtulo odioso) abordados por ArthurSchopenhauer (2003) em um clssico livro sobre como vencer debates sem ter

    razes. Como se sabe, o livro no sobre verdade ou razo (no sentido de umaracionalidade no instrumental), mas sobre a arte da persuaso. A finalidade emquesto meramente o convencimento, para o qual se selecionam os melhores

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    meios instrumentais, mesmo que coisas como a veracidade, a sinceridade, a lgica,a demonstrao sofram prejuzos.

    Alm da rotulao, comum a ausncia da lista dos autores saudosistas.Indubitavelmente, equivoca-se quem toma o passado como critrio de verdade.

    Resta, contudo, saber quem o faz de fato no tocante ao tema. Os autores citados aolongo deste ensaio compem uma extensa lista de crticos no nostlgicos. Assim,soa equivocado tratar a crtica ao produtivismo como uma postura que assumecontornos restaurativos, celebrando romanticamente um passado vivido apenascomo fantasia presente. [...] como uma tentativa de recuperar algo tido como verdadeabsoluta (Macedo; Sousa, 2010, p. 167). Para ns, tomar a crtica ao produtivismocomo nostlgica uma forma infundada de descaracteriz-la e desqualific-la.

    Vejamos, finalmente, traos da Qualisficao ou fetichizao do conheci-mento no mercado acadmico-cientfico brasileiro.

    No Brasil, as reas,16

    com pequenas variaes, atribuem valores aos peri-dicos em termos alfanumricos com correspondncia quantitativa na relaoestrato-pontuao (por exemplo, A1=100) ou estrato-valor percentual (por exemplo,A1=100%) do seguinte modo: A1=100 (%); A2=85 (%); B1=70 (%); B2=55 (%);B3=40 (%); B4=25 (%); B5=10 (%); C=sem valor ou zero.

    Muitas reas, especialmente as tecnolgicas e biomdicas, utilizam apenas oFI como critrio de discernimento qualitativo dos peridicos. O FI determinadopela empresa Institute for Scientific Information (ISI Thomson), que os publica nosJournal Citation Reports (JCR). Supondo que X o nmero de vezes que os itens

    citveis de um peridico foram citados em dado perodo (por exemplo, 2010-2011)em peridicos indexados pelo ISI; e que Y o nmero total destes itens publicadosneste perodo; o FI do peridico no ano subsequente (2012) igual a X/Y.

    O FI o que determina o estrato do peridico nalgumas reas. Por exemplo,na rea astronomia/fsica, o estrato A1 (considerado topo da pirmide) tem FI 6; oA2 6 < e 3,5; o B1 3,5 < e 2; o B2 2 < e 1,5. Na medicina I, peridicos A1 tmFI 3,800; A2 entre 2,500 e 3,799; B1 entre 2,499 e 1,300; e B2 entre 1,299 e 0,001.Isto posto, a qualidade inferida por um critrio eminentemente quantitativo.

    Pressupe-se que se os artigos de um peridico so muito citados, este

    qualificado, uma inferncia questionvel. Um artigo pode ser muito citado por apre-sentar metodologia e/ou argumentos polmicos, (por exemplo, a favor do nazismoou do racismo) e/ou concluses mirabolantes. Alm disso, artigos muito citados vmsendo retratados/cancelados. Graciela Flores (2005), por exemplo, afirma que umartigo produzido em 1997 e citado 227 vezes foi retirado da Sciencedepois que umdos autores foi considerado culpado em casos de fabricao e falsificao de dados.Dois destaques e uma questo impem-se diante disso: o artigo foi amplamentecitado e o peridico um dos mais importantes do mundo, tendo um FI dos maiselevados;17o FI do peridico foi revisto aps a perda das citaes? Os editores do

    16 Idem nota 6.17 JCR 2010 = 31.364.

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    peridico PLoS Medicine(The PLoS..., 2006, p. 707), num editorial com traos dedenncia, afirmam que at mesmo a Thomson admite que o FI est fora de controle,sendo utilizado de muitos modos inadequados, concluindo que ele no diz nadasobre a qualidade de qualquer trabalho ou autor especificamente.

    Esse critrio de distino acadmico-cientfica est nas mos de uma s em-presa. O FI de um peridico, que ela determina, medido pelas citaes feitas nosperidicos que ela indexa. Ora, se a mesma empresa determina em quais peridicosuma citao tem valor e qual o montante desse valor, ela domina todas as fases doprocesso produtivo de um valor simblico-mercadolgico e no epistmico doconhecimento. A empresa ainda desfruta da autonomia dada pelo esprito dolivre mercado de no publicizar os critrios adotados no seu processo de escolhados tipos de artigos e outros itens citveis. Para ns, o critrio publicidade dasregras uma condio de possibilidade de uma instituio/organizao justa, con-

    fivel, condizente a um ambiente, por assim dizer, democrtico. Todavia, segundoos editores da PLoS Medicine(idem), a Thomson Scientific o nico rbitro dojogo do fator de impacto, no tendo obrigao de prestar contas, a no ser para osacionistas da Thomson Corporation. Ou seja, em que pese a importncia do FIpara a cincia mundo afora, apenas poucos os donos do capital da empresa tmpleno acesso a ele.

    Malgrado os limites da cultura, febre ou jogo do FIapontados por uma sriede pesquisadores (Cherubini, 2008; De Meis et al., 2003b; Jardim, 2011; Notkins,2008; Sgalat, 2010), ele um parmetro-ouro de qualidade (Pinto, 2008). Mas por

    qu? A resposta de Pinto e Andrade (1999, p. 451-452), num artigo prdigo eminformaes sobre variados ndices e traos da cientometria, , em suma, porque:

    1 publicaes cientficas vem [sic] sendo, cada vez mais, um produto de mer-cado, tendendo, cada vez menos, a atender a propsitos cientficos.

    2 a contabilidade numrica cada vez mais posta em prtica [...] tem levadoao imperativo publicar ou perecer, independentemente do valor cientfico in-trnseco do trabalho. [...]

    4 linhas de pesquisas vem [sic] se transformando em verdadeiras fbricas de

    artigos [...], sacrificando a formao de pesquisadores crticos s custas da ob-teno de ndices numricos.

    5 cada vez mais frequente a cristalizao de lideranas cientficas com baseno nmero de artigos publicados [...].

    O FI, sem dvida, um ponto-chave da lgica do mercado das publicaes.Os peridicos com alto FI tornam-se um objeto de desejo. Edna Kimura (2008),editora-chefe de um peridico nacional, diz que o questionamento sobre o seu FI recorrente. No estudo desenvolvido por De Meis et al.(2003a), um pesquisador ini-

    ciante relata que eles [os pesquisadores experientes] avaliam as pessoas pelo nmerode publicaes... e ento classifica-as pelo impacto [fator de impacto] dos peridicos:cientistas de alto e de baixo impacto. Ou seja, estabelecem seu Brandingacadmico.

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    Outro efeito opreo da publicao. Numa lgica tipicamente de mercado, quantomaior a demanda e menor a oferta, maior o preo da mercadoria. Peridicos comalto FI e/ou bem Qualisficados, inclusive no Brasil,18cobram pela submisso e/oupublicao de artigos. H, tambm, cobrana pelo acesso ao artigo, inclusive do

    seu prprio autor (Dowbor, 2011). Young et al.(2008), por meio da analogia coma lgica do leilo, salientam que alguns pesquisadores podem estar dando lancesmuito altos (superestimando resultados), a fim de publicar nos peridicos de alto FI.

    George Monbiot (2011, traduo nossa) cita como a poltica do acesso livre(Open-access publishing) perde fora frente ao poder do monoplio editorial, poisas grandes editoras tm abarcado os peridicos com maiores fatores de impactoacadmicos, publicaes essenciais para pesquisadores que tentam assegurar finan-ciamentos e avanos na carreira. H um lucrativo negcio em torno da edio epublicao de artigos cientficos, no qual quem ganha so as editoras. Mas Monbiot

    (idem) contesta o argumento delas de que a cobrana necessria, dados os supostoselevados custos para manter a infraestrutura de produo e divulgao dos artigos,mencionando a anlise feita pelo Deutsche Bank. Cabe registrar que as editoras noproduzem artigos, mas apenas arquivos nos quais eles (as suas ideias, seu pensamento,seus dados e resultados) so publicizados. Em sntese, o conhecimento tem valor,e no mera ou propriamente epistmico e/ou qualitativo.

    H reas que no utilizam o FI. Nelas, emprega-se o que chamamos tal-vez na falta de uma expresso melhor de critrios convencionalistas. A expressoperidicos amplamente reconhecidos pela rea usada, entre outras, na educao, filo-

    sofia e letras/lingustica para definir peridicos A1 e A2. Percentual de endogenia,indexaes (inclusive no ISI), internacionalizao e vinculao so outros critriosusados. O fator convenotambm se aplica a eles. Afinal, por que a indexao emdadas bases garantiria qualidade? Por que o fato de haver um pesquisador estrangeirono corpo editorial ou a publicao de um autor estrangeiro o torna mais relevante?Um pesquisador sem vinculao ou doutorado19produziria algo de m qualidade?

    Tais convenes podem criar uma aristocracia do conhecimento, estimulando, porexemplo, coautorias de fachada.

    Talvez, a noo de crdito-reconhecimentode Bruno Latour e Steve Woolgar

    (1986) seja adequada para entender tal critrio. O crdito conferido aos fatoresdistintivos de qualidade soam mais apropriadamente como acordos sociolgicosda academia, cujos fundamentos passariam ao largo da epistemologia (so externosao conhecimento), podendo ser desfeitos a qualquer momento, sem que isso resulteem prejuzo ou benefcio para a cincia. Assim, a sua vigncia pode no garantircientificidade alguma.

    18 Por exemplo, os peridicos Bragantia e Horticultura Brasileira, ambos na base SciELO.

    19 O peridico Veritas, da rea filosofia, informa que A revista publica apenas trabalhosde professores doutores ou em coautoria com doutorandos. Disponvel em: . Acesso em: 23 jan. 2012.

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    QUE QUALIDADE? DE PEDRA ANGULAR PEDRA DE TROPEO

    O critrio qualidade parece ser uma pedra angularna academia. A buscapor qualidade uma preocupao antiga e perene (Ferraro, 2005). Contudo, essa

    pedra angular tem servido de pedra de tropeo para a academia. Afinal, o que uma pesquisa ou um artigo de qualidade?Retomamos a afirmao de Trein e Rodrigues (2011) sobre a impossibilidade

    de responder quela questo por meio de um ponto especfico. Embora seja claro, ofundamento da impossibilidade seria a falta de um critrio de qualidade cientfica,

    vez que, se ns o tivssemos, o como mensurarseria objetivamente possvel. O quefazer com o resultado da mensurao permaneceria em disputa, mas a importanteanlise da qualidade do que a cincia tem produzido poderia ser feita adequada-mente. Mas, dito de modo breve, direto e provocativo, no sabemos definir o que

    uma pesquisa de qualidade. Mesmo admitindo no saber, emitimos discursossobre qualidade que tem um poder normativo, distintivo e hierarquizador. Artigosso aprovados ou no, pesquisas e pesquisadores so financiados ou no devido sua qualidade. Mas, se no sabemos o que ela , como podemos operar as distin-es? Aduzindo Botom (2011), o julgamento pode no ser pautado por critriosacadmico-cientficos, epistmicos, o que obscurece e compromete o processo.

    Pinto (2008) responde positivamente quela questo que Trein e Rodriguesjulgam no ser passvel de resposta, apontando o FI e o ndice H como confiveisparmetros de qualidade. Mas, como vimos, eles no so fundamentalmente quali-

    tativos, mas quantitativos, e, no caso especfico que foi analisado (FI), possui muitossenes. Ainda que por aproximao, pode-se inferir que Macedo e Sousa (2010,p. 167) entendem que qualidade um significante vazio preenchido por meio dearticulaes hegemnicas, restringindo-se a afirmar que pouco ainda se pode falarsobre a qualidade das produes (idem, p. 173) e que o Qualis que a determina.

    Eles podem ter razo no sentido constatativo. Talvez o que valha seja o con-senso entre os que tm o poder de estabelecer os critrios de qualidade, fazendocom que esses critrios sejam os mencionados. Contudo, cabe questionar, eles so

    justificveis? O consenso hegemnico tem poder normativo inconteste? Resta-nos

    aquiescer com o consenso estabelecido por uma minoria ou podemos expressarnossa crtica no nostlgica?Nossa posio que a cincia no deve ficar ao mero sabor dos acordos

    entre pares. Acordos hegemnicos podem ser irracionais ou normativamente insus-tentveis. Botom (2011, p. 336), na sua crtica, por assim dizer, cida ao valor dahegemonia, contesta a naturalizao da falcia, apresentada como argumento: aqui assim... voc precisa entender isso e adaptar-se, afirmando que a discordnciatransformou-se em quase ofensa, a hegemonia [...] parece ser sagrada e no podeser questionada ou alterada.

    Sem desprezar o valor dos consensos majoritrios absolutamente, se tudofor determinado por acordo, os esforos dos epistemlogos internalistas foram

    vos. H critrios propriamente epistmicos que se forem desacreditados por um

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    consenso hegemnico tornaro a cincia absurda. Sem princpios epistmicos, algocomo uma verdade cientfica seria um mero discurso social, no qual, de acordo coma hegemonia vigente, seria fundamental saber quem e onde disse.

    No nos parece satisfatrio que a qualidade na academia seja aferida meramente

    pelas relaes de poder que estabelecem hegemonias. Alm de o consenso vigente terum valor bastante relativo, at porque ele forjado por poucos indivduos, isso podecriar srias distores. Uma delas, presume-se, a aristocracia acadmica, isto , queuma posio privilegiada quanto ao exerccio do poder na academia privilegie tantoestabelecimento dos critrios consensuais abrangentes quanto o usufruto deles.

    A fim de manter o debate, postulamos que, ao lado da cientometria, o mal--estar da academia deve se estender impreciso admitida acerca dos critrios dequalidade. Propomos que isto seja enfrentado honesta, ampla, urgente e criticamente.

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    SOBRE OS AUTORES

    M M V mestre em educao pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor colaborador da mesma instituio.E-mail:[email protected]

    A P doutor em sade pblica pela Fundao OswaldoCruz (FIOCRUZ). Professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    (UFRJ).E-mail:[email protected]

    Recebido em maio de 2012Aprovado em agosto de 2012

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    MURILO MARIANO VILAA E ALEXANDRE PALMA

    Dilogo sobre cientometria, mal-estar na academia e a polmica doprodutivismo

    O ensaio um dilogo sobre cientometria e seus efeitos. O ponto de partida oartigo de Eunice Trein e Jos Rodrigues (2011). Contestamos o argumento da escassezpresente nopost scriptum, mas endossamos a ideia de que o conhecimento tem sidotratado como uma mercadoria. Sugerimos, tambm, uma distino entre o produtivismoe a produtividade. Ademais, recolhemos indcios e evidncias, bem como revisamos

    parte da literatura nacional e internacional, corroborando o cerne da crtica dos autorese aprofundando alguns pontos. O foco da nossa crtica norma produtividade queo modelo de avaliao e valorizao est equivocadamente baseado no prestgio do

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    Resumos/abstracts/resumens

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    peridico e em critrios quantitativos ou convencionais, sendo carente de parmetrosqualitativo-epistmicos, podendo gerar o produtivismo.

    Palavras-chave:cientometria; produtividade; produtivismo; qualidade dapesquisa.

    Dialogue on scientometrics, malaise in the academy and thecontroversy about productivism

    The essay is a dialogue about scientometrics and its effects. The starting point is thearticle by Eunice Trein and Jos Rodrigues (2011). We criticize the argument of shortage inits post scriptum, but we endorse the idea that knowledge has been treated as a commodity.We also suggest a distinction between productivism and productivity. In addition, we collectsome signs and evidence, and also review part of the national and international literature,supporting the core of the criticism of the authors and deepening some points. The focus of our

    critique of the productivity norm is that the model of evaluation and valuation is mistakenlybased on the prestige of the journal and on quantitative or conventional criteria, and lacksepistemic and qualitative parameters, which can generate productivism.

    Keywords: scientometrics; productivity; productivism; research quality.

    Dilogo sobre cienciometra, malestar en la academia y la controversiadel productivismo

    El ensayo es un dilogo sobre la cienciometra y sus efectos. El punto de partida es elartculo de Eunice Trein y Jos Rodrigues (2011). Contestamos el argumento de la escasezpresente en el post scriptum, pero apoyamos la idea de que el conocimiento ha sido tratado comouna mercanca. Sugerimos tambin una distincin entre el productivismo y la productividad.Adems, recogimos algunos indicios y evidencias, bien como revisamos la literatura nacional einternacional, corroborando el centro de la crtica de sus autores y profundizando algunos puntos.El foco de nuestra crtica a la norma productividad es que el modelo de evaluacin y valoracinpor error se basa en el prestigio de los peridicos y criterios cuantitativos o convencionales, ycarece de parmetros cualitativo-epistmicos, pudiendo generar el productivismo.

    Palabras clave:cienciometra, productividad; productivismo; calidad de investigacin.

    Resumos/abstracts/resumens