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UIVERSIDADE FEDERAL DE PERAMBUCO CETRO DE CIÊCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMETO DE MICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE FUGOS WEDELL MEDRADO TEÓFILO DA SILVA MYXOMYCETES COPRÓFILOS DO ESTADO DE PERAMBUCO, BRASIL RECIFE – PE 2009

MYXOMYCETES COPRÓFILOS DE PERNAMBUCO · Myxomicetes coprófilos do Estado de Pernambuco, Brasil/ Wendell Medrado Teófilo da ... A manutenção da matéria orgânica no solo é um

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U�IVERSIDADE FEDERAL DE PER�AMBUCO

CE�TRO DE CIÊ�CIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAME�TO DE MICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE FU�GOS

WE�DELL MEDRADO TEÓFILO DA SILVA

MYXOMYCETES COPRÓFILOS DO ESTADO DE PER�AMBUCO, BRASIL

RECIFE – PE

2009

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U�IVERSIDADE FEDERAL DE PER�AMBUCO

CE�TRO DE CIÊ�CIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAME�TO DE MICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE FU�GOS

MYXOMYCETES COPRÓFILOS DO ESTADO DE PER�AMBUCO, BRASIL

WE�DELL MEDRADO TEÓFILO DA SILVA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Biologia de Fungos,

Departamento de Micologia da

Universidade Federal de Pernambuco,

como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre em

Biologia de Fungos.

RECIFE – PE

2009

Orientadora: Profa Dra Laise de H. Cavalcanti Andrade Co-orientadora: Profa Dra Norma Buarque de Gusmão

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Silva, Wendell Medrado Teófilo da Myxomicetes coprófilos do Estado de Pernambuco, Brasil/ Wendell Medrado Teófilo da Silva. – Recife: O Autor, 2009. 54 folhas : il., fig., tab.

Orientadora: Laise de Holanda Cavalcanti Andrade Co-Orientadora: Norma Buarque de Gusmão

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco. Centro de Ciências Biológicas. Biologia de Fungos

2009.

Inclui bibliografia.

1. Fezes-microbiologia 2. Myxomycetes 3. Caatinga 4.

Pernambuco I. Título.

579.52 CDD (22.ed.) UFPE/CCB-2011-102

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AGRADECIME�TOS

A Deus por permitir que eu chegasse até aqui, sempre guiando meus passos e não

permitindo a corrupção dos meus pensamentos e atitudes.

Aos meus pais, Valter Teófilo e Benail Medrado por todo apoio e por prover sempre o

necessário e o indispensável para que eu pudesse trilhar meus caminhos.

À Dra. Laise de Holanda Cavalcanti Andrade, por toda orientação e pelo seu forte

exemplo como profissional.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela

concessão do apoio financeiro.

À Drª. Norma Buarque de Gusmão, pela orientação e o interesse nesse trabalho.

À Paula Danielle de Souza Vieira, por todo apoio profissional e emocional. Muito

obrigado por estar comigo em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis de

maneira incondicional.

Aos colegas e amigos do Laboratório de Myxomycetes, pelos momentos de convivência

na Universidade e no campo. Em especial Nestor Powell por tornar uma ida ao almoço

um momento especial; David Barreiro Nunes Lemos pela parceria, motivação e por ser

um braço direito principalmente nesses momentos finais; Glauciane Damasceno pela

amizade e confiança, Inaldo Ferreira pelas intermináveis sabatinas durante as coletas e

pela amizade; Drª Andrea Carla Caldas Bezerra por nunca se opor a ajudar. E a todos os

outros meu muito obrigado.

À Dra. Auxiliadora de Queiroz Cavalcanti, pesquisadora do Departamento de Micologia

da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por aceitar o convite de fazer parte da

minha banca.

À Dra. Maria de Fatima de Andrade Bezerra, não apenas por ter aceito o convite para

participar da minha banca, mas também por toda amizade e espontaneidade em ajudar

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desde o primeiro dia em que cheguei ao LABMYX. Para você Fatima o meu Muito

Obrigado!

Ao Dr. Andre Luiz Cabral Monteiro de Azevedo Santiago, por aceitar o convite para ser

suplente da minha banca e por sempre está disponível para ajudar com dúvidas e

materiais.

À Drª Tatiana Baptista Gilbertoni, por aceitar o convite para ser suplente da minha

banca.

Ao programa de pós- graduação em biologia de fungos da UFPE, por todo apoio na

minha formação acadêmica.

A todos os meus colegas e amigos da pós-graduação, em especial meus amigos Helder,

Suanni e Clarissa pela amizade e de certa forma tornar tudo menos sofrível.

À Rosângela, pela amizade e descontração e por junto comigo tentar tornar o LABMYX

um lugar mais habitável.

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RESUMO

Fezes de herbívoros são estudadas mundialmente como um microhabitat para

mixomicetos em diferentes ecossistemas, sendo comuns em regiões semi-áridas. Neste

estudo, investigaram-se as espécies ocorrentes em fezes de animais domésticos (cavalo,

vaca, cabra, bezerro) e silvestres (preá, mocó), coletadas em 13 municípios das subzonas do

Litoral-Mata, Agreste e Sertão do Estado de Pernambuco. Foram montadas 1.337 câmaras-

úmidas com material coletado nas estações seca e chuvosa durante os anos de 2007 e 2008,

utilizando-se placas de Petri adicionando-se papel filtro e mantidas em condições ambientes

por no mínimo três meses. Foram registrados plasmódios e/ou esporocarpos em 228

cultivos, sendo possível identificar 12 espécies, distribuídas em onze gêneros das famílias

Cribrariaceae (Cribraria violacea), Didymiaceae (Diderma effusum, Diderma sp.,

Didymium aff. serpula, Didymium sp.), Physaraceae (Badhamia sp.), Trichiaceae (Arcyria

cinerea, Perichaena depressa, P. corticalis, P. corticalis var. liceoides, P. aff. taimyriensis)

e Stemonitaceae (Stemonaria irregularis, Stemonitis pallida, S. fusca, Stemonitopsis

typhina, Synphytocarpus sp., Comatricha sp.). O registro de mixomicetos foi mais elevado

nas câmaras-úmidas com material coletado na estação chuvosa. Nos cultivos positivos,

observou-se maior incidência de espécies de Trichiaceae (67%). Perichaena foi o gênero

dominante, tendo P. aff. taimyriensis como nova referência para o Hemisfério Sul e S.

irregularis, S. typhina e D. aff. serpula são novos registros para este tipo de micro-habitat.

D. effusum, D. aff. serpula, P. corticalis var. liceoides e S. typhina são referidas pela

primeira vez para Caatinga.

Palavras Chaves: Myxomycetes, fezes de animais herbívoros, Caatinga

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ABSTRACT

Feces of herbivores have been studied worldwide as a microhabitat for

myxomycetes, being more common in deserts and semi-arid regions. In the first study on

the coprophilous mixobiota from the semi-arid region of Brazil were investigated and the

species occurring in feces of domestic (horse, cow, calf goat), and wild (preá, mocó)

animals, collected in 13 municipalities of the subzones Agreste and Sertão of Pernambuco

state. With material collected in the dry and rainy seasons of two years, 1337 moist

chambers were mounted, using the Petri dishes lined with filter paper and kept in ambient

light and temperature for at least 3 months. Plasmodia and / or myxomycetes sporocarps

were recorded from 228 cultures, and 12 species were identified, distributed in 11 genera

from the families Cribrariaceae (Cribraria violacea), Didymiaceae (Diderma effusum,

Didymium aff. serpula), Physaraceae (Badhamia sp.), Trichiaceae (Arcyria cinerea,

Perichaena depressa, P. corticalis, P. corticalis var. liceoides, P. aff. taimyriensis) and

Stemonitaceae (Stemonaria irregularis, Stemonitis pallida, S fusca, Stemonitopsis typhina).

The registration of myxomycetes was slightly higher in the moist chambers made with

material collected in the rainy season (102) than the dry season (95). In positive cultures,

was observed a higher incidence of species of Trichiaceae (67%), followed by

Stemonitaceae (7%), being rare Didymiaceae (3%), Cribrariaceae (2%) and Physaraceae

(1%); Perichaena was the dominant genus, having P. aff. taimyriensis as a new reference

for the south hemisphere and S. irregularis, S. typhina and D. aff. serpula are new records

for this kind of microhabitat. D. effusum, D. aff. serpula, P. corticalis var. liceoides and S.

typhina are cited for the first time to the Caatinga Biome.

Key words: Myxomycetes, feces of herbivorous, Caatinga

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1: Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros registros Pág.

Figura 1 -

A. Ambiente típico do Bioma Caatinga (Serra Talhada,

Pernambuco, Brasil); B-C. Aspecto da vegetação na estação seca

e na estação chuvosa, em um mesmo local (Mirandiba,

Pernambuco, Brasil).........................................................................

26

Figura 2 -

Myxomycetes coprófilos ocorrentes no semi-árido brasileiro. A.

Arcyria cinerea; B. Stemonitopsis typhina; C. Cribraria

violacea; D. Diderma effusum; E. Stemonaria irregularis; F.

Stemonitis fusca...........................................................................

32

Capítulo 2: Espécies coprófilas de Perichaena (Trichiales, Myxomycetes) Pág.

ocorrentes em Pernambuco, Brasil.

Figura 1 - Diferentes espécies de Perichaena ocorrentes no estado de

Pernambuco. A. P. depressa; B. P corticalis; C. P. corticalis var.

liceoides; D. P. aff. taimyriensis.....................................................

41

Figura 2 -

Aspectos morfológicos de Perichaena aff. taimyriensis. A. em

campo, sobre fezes de vaca; B. esporocarpos agrupados; C.

esporocarpo isolado; D. esporocarpos em formação; E.

ornamentação dos esporos; F. esporos com margem tipicamente

espessada........................................................................................

.

42

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LISTA DE TABELAS

Capítulo 1: Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros registros Pág.

Tabela 1 -

Incidência de mixomicetos em cultivos montados com fezes de

diferentes animais, coletadas ao longo de um transecto de 420 km,

no Estado de Pernambuco................................................................

27

Tabela 2 - Espécies de Myxomycetes coprófilos encontrados nas diferentes

estações do ano em regiões fitogeográficas do Estado de

Pernambuco e sua distribuição/substrato..........................................

31

Tabela 3 - Frequência das espécies de mixomicetos coprófilos em fezes de

herbívoros coletadas em diferentes zonas fitogeográficas do

Estado de Pernambuco. Muito frequente: ≥10%. Frequente = 5-

10%. Pouco frequente = 1-5%. Rara ≤ 1%........................................

32

Capítulo 2: Espécies coprófilas de Perichaena (Trichiales, Myxomycetes) Pág.

ocorrentes em ern mbuco, rasil.

Tabela 1 -

Características dos municípios do Estado de Pernambuco onde

foram coletados espécimes de Perichaena e substratos usados para

montar as câmaras-úmidas................................................................

39

Tabela 2 - Percentual de positividade e faixa de p.h das espécies de

Perichaena registradas sobre fezes de cabra em diferentes zonas

fitogeográficas do Estado de Pernambuco........................................

43

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Tabela 3 - Percentual de positividade e faixa de pH das espécies de

Perichaena registradas sobre fezes de cavalo em diferentes zonas

fitogeográficas do Estado de Pernambuco........................................

43

Tabela 4 - Percentual de positividade e faixa de pH espécies de Perichaena

registradas sobre fezes de vaca em diferentes zonas fitogeográficas

do Estado de Pernambuco.................................................................

44

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SUMÁRIO

Pág.

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12

2.

2.1.

2.2.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................

Introdução de Animais Herbívoros em Pernambuco..........................................

Myxomycetes Coprófilos....................................................................................

14

14

15

3.

4.

5.

6.

CAPÍTULO 1: Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros

registros...............................................................................................................

Resumo................................................................................................................

Abstract...............................................................................................................

Introdução...........................................................................................................

Material e Métodos.............................................................................................

Resultados e Discussão.......................................................................................

CAPÍTULO 2: Espécies coprófilas de Perichaena (Trichiales, Myxomycetes)

ocorrentes em Pernambuco, Brasil......................................................................

Resumo...............................................................................................................

Abstract...............................................................................................................

Introdução...........................................................................................................

Material e Métodos.............................................................................................

Resultados e Discussão.......................................................................................

CONSIDERAÇÕES GERAIS...........................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................

21

22

23

23

24

26

33

34

35

36

37

39

46

47

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 12

1. I�TRODUÇÃO

Nas zonas fitogeográficas que compõem o semi-árido do estado de Pernambuco

habitam diferentes espécies de animais herbívoros, nativos ou introduzidos na época da

colonização e já bem adaptados exercem um importante papel no equilíbrio da

vegetação (LEAL et al., 2005).

A manutenção da matéria orgânica no solo é um dos principais fatores limitantes

ao desenvolvimento da sustentabilidade nas regiões semi-áridas (STEWART;

ROBINSON, 1997). A matéria orgânica proveniente do esterco de animais, como do

gado bovino, eqüino e caprino, influencia o crescimento vegetal através de seus efeitos

sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (STEVENSON, 1982).

Possui função física, porque promove boa estrutura do solo, reduz sua compactabilidade

(ZHANG et al., 1997), melhorando sua aeração, o movimento e a retenção de umidade

(TESTER, 1990). Sua função química é manifestada pela habilidade para interagir com

metais, óxidos e hidróxidos metálicos e formar complexos orgânico-metálicos, atuando

como depósito de N, P e S (SCHNITZER, 1991). O esterco aumenta a retenção de água

no solo, provavelmente devido à formação de agregados (TIARKS et al., 1974), e à

presença de substâncias orgânicas que, em sua maioria, têm acentuado caráter

hidrofílico (TRINCA, 1999). Também são observados aumentos lineares nos teores de

potássio e fósforo, do pH, magnésio e sódio na camada do solo de 20-40 cm

(MENEZES, 1993; SILVA et al., 2004).

A disponibilização de nutrientes como a adubação orgânica pode ser considerada

sob dois aspectos: o primeiro é que a mesma constitui uma fonte direta de macro e

micronutrientes, via processo de mineralização; o segundo se refere à participação da

fração orgânica em processos que melhoram a disponibilidade de tais nutrientes. Devido

ao seu elevado teor de carbono, a matéria orgânica é a fonte energética por excelência

para a ocorrência de diversos processos biológicos que melhoram a disponibilidade de

nutrientes do solo. Dentre esses processos, merecem destaque a fixação biológica do

nitrogênio, em associações simbióticas e assimbióticas, e a disponibilização de fósforo

em associações micorrízicas (TRINCA, 1999). Essas características tornam as fezes de

animais herbívoros um microhabitat para diversos microrganismos, entre eles os

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 13

mixomicetos, nos diferentes ecossistemas e biomas mundiais, particularmente em

desertos e regiões semi-áridas.

Poucas espécies de mixomicetos ocorrem predominantemente ou

exclusivamente em fezes de herbívoros, um substrato altamente complexo, e o exato

papel por eles desempenhado, em particular junto às comunidades de organismos

associados com a decomposição, ainda não é conhecido (ELIASSON; LUNDQVIST,

1979; ELIASSON; KELLER, 1999). De qualquer maneira, o esterco de herbívoros

possui diversas características favoráveis aos mixomicetos: alta umidade, grande

população microbiana e riqueza nutricional (HUDSON, 1986), embora este material

orgânico apresente um pH mais básico do que o de muitos outros substratos onde esses

organismos são tipicamente encontrados (STEPHENSON, 1989). Nas florestas tropicais

úmidas, as fezes se decompõem rapidamente e, normalmente, não resistem tempo

suficiente para servir como microhabitat potencial para mixomicetos e em florestas

temperadas costumam ser de menor importância (STEPHENSON, 1989;

SCHNITTLER; STEPHENSON, 2002). Todavia, em altas latitudes e ecossistemas

desérticos, esse substrato torna-se um dos mais importantes onde os mixomicetos

podem ser encontrados (STEPHENSON; STEMPEN, 1994).

Os primeiros estudos ao nível mundial sobre a mixobiota encontrada nesse

microhabitat datam da primeira década do século XIX (ELIASSON; LUNDQVIST,

1979). Os estudos realizados até o momento ainda são poucos e apenas pouco mais de

10% das espécies têm registro de ocorrência em fezes. Entretanto, existe um

posicionamento estabelecido com relação à sucessão dos microrganismos no processo

de degradação do substrato, colocando-os como um dos últimos a esporularem.

Algumas espécies não se desenvolvem diretamente no esterco, mas estão

freqüentemente presentes em terrenos adubados com material de origem animal, como

jardins e canteiros de hortaliças (MORENO; BARRASA, 1977).

O microhabitat oferecido pelo esterco de herbívoros vem se mostrando

importante para a ciência, pois tem permitido a descoberta de novos táxons

(KOWALSKI, 1969; NANNENGA-BREMEKAMP et al., 1978; ELIASSON &

LUNDQVIST, 1979; NOVOZHILOV et al., 2000; ADAMONYTE, 2003;

NOVOZHILOV et al., 2008). Neste contexto, o presente trabalho objetivou contribuir

para o conhecimento taxonômico-ecológico dos mixomicetos fimícolas presentes em

diferentes zonas fitogeográficas do estado de Pernambuco.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 14

2. FU�DAME�TAÇÃO TEÓRICA

2.1.Introdução de Animais Herbívoros em Pernambuco

A partir da colonização portuguesa, alguns animais domésticos foram

introduzidos no Brasil, podendo ser reconhecidos pelo menos três momentos: o

primeiro em 1534, para a Vila de São Vicente, em São Paulo; o segundo, em

Pernambuco, em 1535, por Duarte Coelho; o terceiro, na Bahia, trazidos por Tomé de

Sousa. Nessa época, a base econômica do país era composta por duas atividades

principais, a açucareira e a criatória. Ressalta-se ainda que a criação de gado bovino

sempre era acompanhada de tropa de cavalos para a lida (LIMA et al., 2006).

Em 1701, conflitos entre os criadores e os agricultores, que viam suas lavouras

invadidas e destruídas por animais, levaram o governo português a regulamentar esta

disputa através de uma Carta Régia que proibiu a criação de animais a menos de 10l

éguas da costa, onde se localizavam as lavouras. Desta forma, os criadores de gado

foram forçados a se deslocar para o interior, tornando-se uma atividade itinerante, de

acordo com o regime de águas e a distribuição dos mercados. Essa pecuária extensiva

foi ganhando espaço ao longo do tempo e na Região Nordeste do país encontrou na

zona das caatingas o local propício para o seu desenvolvimento (KILL; CORREIA,

2005).

Segundo dados do IBGE (2004), o Bioma Caatinga ocupa a maior parte da

região nordeste do Brasil, correspondendo a 100% do território do estado do Ceará,

quase todo o território da Paraíba (92%), do Rio Grande do Norte (95%) e de

Pernambuco (83%), mais da metade do Piauí (63%) e da Bahia (54%), quase metade de

Alagoas (48%) e Sergipe (49%), chegando até Minas Gerais (2%) e o Maranhão (1%).

Localizada em área de clima semi-árido e com vegetação do tipo savana-estépica, a

caatinga apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica,

significativo nível de endemismo e grande potencial forrageiro, frutífero, madeireiro,

melífero e medicinal (IBAMA, 2007; SILVA; GUIMARÃES FILHO, 2006). A

heterogeneidade da flora e da fisionomia da cobertura vegetal desse bioma decorre de

dois gradientes de umidade, um no sentido Norte-Sul, que se manifesta em uma

diminuição das precipitações e outro Oeste-Leste, que se expressa com um aumento do

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 15

efeito da continentalidade (RODAL et al., 2008). A Caatinga sensu stricto ocorre

especialmente nas terras baixas entre serras e planaltos (ANDRADE-LIMA, 1981).

No semi-árido nordestino, a criação de animais herbívoros contribui para a

alimentação humana através da produção de leite e carne, sendo uma fonte barata de

proteína de elevado valor nutritivo para as famílias de baixo poder aquisitivo (KILL;

CORREIA, 2005).

Na zona da caatinga, os caprinos, como a cabra (Capra aegagrus hircus L.) que é

representada principalmente pelas raças Moxotó e Canindé, são criados em pastagens

naturais, pois a vegetação nativa é rica em espécies forrageiras em seus três estratos:

herbáceo, arbustivo e arbóreo (ARAUJO FILHO et al., 2006).

O cavalo nordestino, descendente do cavalo berbere ou barbo do norte da África

(Equus caballus L.), moldado pela aridez e deficiências da região, pode viver com

muito pouco alimento, beber pouca água e viajar grandes distâncias sem demonstrar

sinal de cansaço. Além disso, não necessita de ferradura e caminha com facilidade em

terreno pedregoso e espinhoso (MACHADO, 2007).

A vaca nordestina (Bos taurus L.), originária dos pré-desertos da Ásia, é um

bovino dócil, rústico, resistente, bom produtor de leite, de carcaça enxuta, com carnes

sadias, adaptado ao clima tropical, ao calor, à seca, às pastagens naturais da região,

notadamente à vegetação de caatinga, apresentando incrível competência para digerir

materiais fibrosos; é tolerante a parasitas e a algumas plantas tóxicas, como o

barbatimão (Stryphnodendron coriaceum) e a erva-de-rato (Palicourea marcgravii)

(MENEZES, 1999).

Esses animais herbívoros que habitam as zonas fitogeográficas que compõem o

semi-árido do estado de Pernambuco exercem um importante papel no equilíbrio

ambiental, pois a matéria orgânica proveniente do esterco de animais, como do gado

bovino, eqüino e caprino, influencia o crescimento vegetal através de seus efeitos sobre

as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (STEVENSON, 1982). (LEAL et

al. 2005).

2.2. Myxomycetes Coprófilos

Os primeiros registros sobre mixomicetos fimícolas datam da primeira década

do século XIX, referentes à presença de Physarum fimetario (nomen dubium) sobre

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 16

fezes de coelho, na Bélgica, e Didymium melanospermum (Pers.) T. Macbr. sobre fezes

de cavalo, na Alemanha (ELIASSON; LUNDQVIST, 1979).

Desde então, vários trabalhos mencionam a presença destes organismos na

microbiota de diferentes espécies de herbívoros, em especial animais domésticos, em

quase todos os continentes. Tóth (1963), por exemplo, ao trabalhar com fungos

coprófilos na Hungria, relatou a ocorrência de Perichaena corticalis (Batsch) Rostaf., P.

depressa Lib. e P. chrysosperma (Curr.) Lister sobre fezes de lebre, veado e de gado

bovino. Dois anos depois, o mesmo autor incluiu Diderma effusum (Schwein.) Morgan,

D. globosum Pers., Didymium difforme (Pers.) Gray, e Physarum didermoides (Pers.)

Rostaf. na lista de espécies para o mesmo país, também sobre fezes de gado.

Kowalski (1969) encontrou duas novas espécies fimícolas em fezes de vaca, em

Sacramento Valley, EUA, Calonema luteolum Kowalski e Didymium rugulosporum

Kowalski. Ainda nos Estados Unidos, mais precisamente no Colorado, Angel e

Wicklow (1975), ao trabalharem com fezes de animais silvestres e domésticos,

relacionaram a diversidade de mixomicetos para este substrato com a biomassa seca das

amostras e comentaram que algumas espécies não esporulam em materiais muito

decompostos.

Na Espanha, Moreno e Barrasa (1977), estudando fungos coletados sobre

material fecal de animais domésticos como vaca, carneiro e cavalo, registraram também

a presença dos mixomicetos, nas regiões de Canencia (Madrid) e Sierra Béjar

(Salamanca). Os autores discutem etimologicamente os termos fimícola e coprófilo, que

consideram como aplicáveis para estados diferenciados do substrato; o primeiro

corresponde às espécies que se desenvolvem nas fezes recém-expelidas, quando a

fermentação é mais ativa e condiciona uma microbiota distinta fisiológica e

bioquimicamente da fase seguinte, quando a fermentação está praticamente ausente e as

condições são completamente diferentes do anterior. Uma categoria intermediária

reconhecida por Barrasa & Moreno (1977) seria constituída pelos subcoprófilos,

organismos que não se desenvolvem diretamente no esterco, mas que estão

freqüentemente presentes em terrenos adubados com material de origem animal, como

jardins e canteiros.

Em 1980, Moreno e Barrasa apresentaram novos registros para o catálogo

micológico espanhol, onde se incluem Arcyria cinerea (Bull.) Pers. coletada em esterco

de vaca e Didymium trachisporum G. Lister, em esterco de carneiro.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 17

Ao comentarem a sucessão dos microrganismos no processo de degradação do

substrato, Moreno e Barrasa (1980) colocaram os mixomicetos como dos últimos a

esporularem, presentes na fase final, geralmente formando numerosos esporocarpos,

porém com um pequeno número de espécies. Os autores mencionam a presença de

esporocarpos mal formados ou mesmo abortados em substratos já bastante

decompostos.

Para o Uruguai, Garcia-Zorrón (1977) listou Licea punctiformis G. W. Martin, L.

tenera E. Jahn, Perichaena chrysosperma e Colloderma oculatum (C. Lippert) G.

Lister, ocorrentes em fezes de vaca, cavalo e lebre.

Nannenga-Bremekamp et al. (1978) descreveram a nova espécie Macbrideola

coprophila Nann-Brem., Mukerji & Singh para a Índia, coletada em fezes de “nilgai”.

Os referidos autores citaram Didymium quitense (Pat.) Torrend, registrada pela

primeira vez como coprófila, e uma nova referência para a Ásia.

Neste mesmo ano, nos Estados Unidos, Keller e Anderson (1978) apresentaram

o registro de Perichaena liceoides Rostaf. [= P. corticalis (Batsch) Rostaf.], Licea

fimicola Dearn. & Bisby [= Kelleromyxa fimicola (Dearn. & Bisby) Eliasson], L.

alexopouli M. Blackw. e Didymium difforme, em fezes de vaca.

Fungos coprófilos foram isolados por Rattan & El-Buni (1979) empregando a

técnica de câmara úmida, totalizando 17 espécies, sendo 16 novos registros para a Líbia,

onde se incluem Fuligo cinerea (Schwein.) Morgan e Physarum pusillum (Berk. &

Curt.) G. Lister.

A primeira revisão sobre os mixomicetos fimícolas foi apresentada por Eliasson

e Lundqvist (1979) que, além de fornecerem uma idéia geral sobre quais espécies

podem ocorrer sobre fezes de herbívoros, discutiram se certos táxons podiam ser

registrados como predominantemente ou exclusivamente fimícolas. Até aquela época,

eram conhecidas 80 espécies, distribuídas em 23 gêneros, de alguma forma registrados

em fezes. Nos resultados obtidos pelos referidos autores, são listadas 34 espécies,

desenvolvidas em câmara-úmida sobre fezes de animais silvestres, como alce e cervo,

ou domésticos, como vaca, cavalo, jumento, ovelha, lebre e coelho; nove dentre estas

espécies ainda não haviam sido referidas para este microhabitat, das quais Physarum

spinisporum Eliasson & N. Lundq. [= Badhamia spinispora (Eliasson & N. Lundq.)

H.W. Keller & Schokn.] foi descrita como nova. Também foi salientada pelos referidos

autores a preferência das espécies entre os tipos de esterco, embora ressaltem que as

fezes de animais silvestres, devido à menor amostragem seriam os mais raros. Os

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 18

autores discutiram se os esporos dos mixomicetos teriam passado pelo trato digestivo

dos animais ou seriam habitantes secundários e levantaram a questão se haveria alguma

adaptação morfológica ou fisiológica das espécies até o momento registradas como

fimícolas que lhes permitiria ocupar este microhabitat. No entanto, não ficou

confirmada a interação.

Na Noruega, Pointelli et al. (1981), ao estudarem fungos ocorrentes em fezes de

cavalo, registraram a presença dos gêneros Badhamia e Stemonitis. No mesmo ano, Cox

(1981), em um trabalho voltado para os mixomicetos fimícolas, citou 26 espécies

conhecidas, a maioria esporulando sobre fezes de animais domésticos, e Trichia

brunnea J. J. Cox como novo registro para a ciência.

No primeiro e único registro de mixomicetos subcoprófilos para o Brasil,

Cavalcanti et al. (1985) comentaram a ocorrência de abundantes frutificações de Fuligo

cinerea, sufocando e matando mudas de tomateiro que haviam sido adubadas com

esterco de galinha.

Hudson (1986) confirmou que o substrato constituido pelas fezes de herbívoros é

favorável à ocorrência de mixomicetos, devido à alta umidade, altas populações

microbianas e riqueza nutricional. Três anos depois, Stephenson (1989) também

mencionou a importância do substrato ao fazer considerações importantes no que diz

respeito ao alto pH, afirmando que a basicidade, ou simplesmente que este microhabitat,

por ser menos acidificado, seria ideal para o desenvolvimento de mixomicetos e serviria

como pequenas ilhas de umidade que proporcionariam a ocorrência dos mesmos em

ecossistemas desérticos.

Eliasson et al. (1991) propuseram Kelleromyxa como novo nome genérico para

Licea fimicola, visto que esse gênero difere de Licea sensu stricto por ter um capilício

verdadeiro e afinidades com a ordem Physarales. Na mesma década, Chung e Liu

(1995) trouxeram novos registros de mixomicetos fimícolas para Taiwan, em amostras

de fezes de vaca colhidas no campo, em que foi observada a presença de Stemonitis

axifera (Bull.) T. Macbr. e S. herbatica Peck. Um ano depois, também empregando a

técnica de câmara úmida, os mesmos autores registraram Licea pescadorensis Chao H.

Chung & C. H Liu e Physarum compressum Alb. & Schwein. em fezes de vaca e

ovelha.

Vinte anos depois da primeira revisão para os fimícolas, Eliasson e Keller

(1999) tornaram disponível uma relação mais atualizada das espécies de mixomicetos

que foram registradas em fezes de animais herbívoros, listando 99 espécies, distribuídas

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 19

em 23 gêneros. No referido trabalho, os autores comentam que a maioria das espécies

listadas é normalmente encontrada em outros substratos e só ocasionalmente são

coletadas em fezes de herbívoros. Entre as 99 espécies, os autores consideram apenas 15

como verdadeiramente fimícolas, contemplando oito gêneros pertencentes às

Didymiaceae (Didymium), Liceaceae (Licea), Physaraceae (Badhamia, Kelleromyxa),

Trichiaceae (Arcyria, Perichaena, Trichia) e Stemonitaceae (Macbrideola), distribuídas

em quatro ordens e duas subclasses. Respondendo à questão levantada por Eliasson e

Lundqvist (1979), os autores concluem que as espécies verdadeiramente fimícolas têm

em comum a parede do esporo uniformemente espessada, interpretada como uma

adaptação à passagem através do trato intestinal dos animais herbívoros e citam Trichia

brunea como exemplo. Nesta revisão, os autores disponibilizam uma chave para

identificação das espécies que são exclusivamente, ou repetidamente, registradas em

fezes, e uma lista com todos os táxons organizados em ordem alfabética. Indicam sua

ocorrência em diversos países da Europa, Ásia, América do Norte, América do Sul, mas

não fazem referência a registros feitos no Brasil.

Em seus estudos em Floresta de Tundra na Rússia, Novozhilov et al. (2000)

registraram a presença da nova espécie Perichaena taimyriense Novozh. & Schnittler

que, até o momento tem a sua distribuição restrita à península de Taimyr e ao substrato

de fezes de renas. Essa espécie se apresenta muito semelhante à P. corticalis, sendo o

tamanho e a ornamentação do esporo as características que a tornam inconfundíveis.

Neste trabalho, também é salientada uma maior riqueza de espécies de mixomicetos

fimícolas para regiões áridas.

Em seus estudos em Porto Rico, Novozhilov et al. (2001) coletaram 44 espécies

de mixomicetos, das quais duas são novas para a região do Caribe e oito são novas para

Porto Rico. Nenhuma destas espécies foi observada sobre fezes de herbívoros, levando

os autores a afirmar a inexistência de mixomicetos fimícolas nas florestas tropicais

úmidas.

Adamonyté (2003), em suas pesquisas na Lituânia, encontrou a nova espécie

Trichia papillata Adamonyté, considerada estritamente fimícola por não ter sido

registrada para outro substrato. A autora a distingue das outras espécies de Trichia por

apresentar um perídio papiloso areolado, o qual é dividido por bandas amarelas em

segmentos angulares, e essa é a única espécie do gênero a apresentar um plasmódio

amarelo. Até aquela ocasião, considerando a lista de Eliasson e Keller (1999), apenas

eram citadas como fimícolas T. botrytis (J. F. Gmel.) Pers., T. Brunnea J. J. Cox, T.

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contorta (Ditmar) Rostaf., T. fimicola (Marchal) Ing e T. varia (Pers. ex J. F. Gmel.)

Pers. Dentre essas, T. brunnea esporula sobre esterco de vaca e T. fimicola,

anteriormente considerada uma variedade de T. varia, é ocorrente em fezes de coelho na

Escócia e Bélgica (ELIASSON e LUNDQVIST, 1979).

Na Venezuela, Delgado Ávila et al. (2005), ao trabalharem com fungos

ocorrentes em fezes de animais de zoológico, relatam a ocorrência de Lycogala

epidendrum (L.) Fr. em fezes de tartaruga e Physarum flavidum (Peck) Peck em fezes

de bezerro e ovelha.

No Brasil, Medrado (2004) trouxe os primeiros registros de mixomicetos

coprófilos através de cultivos preparados com amostras de excrementos do coelho

brasileiro-tapeti (Sylvilagus brasiliensis L.) e fezes de caramujo (Biophlaria sp.), récem

depositadas no ambiente, observando-se indícios de endocoprofilia e presença do

plasmódio. Dando sequencia aos estudos, Bezerra et al. (2005; 2008 a,b) ao trabalharem

em duas fisionomias vegetais características do pais: Cerrado e Floresta Atlântica, com

fezes de cavalo (Equus caballus L.) e coelho brasileiro, mencionam dez espécies:

Cribraria cancellata (Batsch) Nann.-Bremek., C. microcarpa (Schrad.) Pers.,

Metatrichia vesparium (Batsch) Nann.-Bremek. ex G.W. Martin & Alexop., P. roseum

Berk. & Broome, que constituem as primeiras referências, a nivel mundial da ocorrência

dessas espécies em fezes de herbívoros, e ainda Cribraria violacea Rex, Physarum

cinereum (Batsch) Pers., Comatricha mirabilis R. K. Benj. & Poitras, Arcyria cinerea e

Hemitrichia minor G. Lister.

Novozhilov et al. (2006) trazem uma avaliação da biodiversidade de

mixomicetos na Bacia do Baixo Rio Volga, uma região desértica e de estepe, com base

em coletas realizadas durante dez anos (1995 – 2005). Foram registradas 158 espécies, e

23 esporularam em câmara-úmida sobre 136 amostras de fezes (lebre, camelo, vaca,

cavalo, ovelha e alguns roedores). Os autores comentam que esse substrato apresentou

uma diversidade mais baixa em relação aos outros explorados na pesquisa.

Perichaena heterospinispora e P. polygonospora Novozhilov, Y.K. et al.

(2008), foram recentemente acrescentadas ao gênero. Ocorrendo em folhedo e esterco

de roedores nas estepes áridas e desertos da Rússia e Cazaquistão. P. polygonospora se

distingue pelo escasso capilício, perídio simples e, principalmente, pelos esporos

angulosos e reticulados, muito diferentes das demais espécies do gênero.

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3. Capítulo 1

Mixobiota Coprófila do Estado de Pernambuco:

Primeiros Registros

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Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros registros 1

Resumo- (Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros registros). No

primeiro estudo sobre a mixobiota coprófila da região semi-árida do Brasil investigou-

se as espécies ocorrentes em fezes de animais domésticos (cavalo, vaca, cabra, bezerro)

e silvestres (preá, mocó), coletadas em 11 municípios das subzonas Litoral – Mata,

Agreste e Sertão do Estado de Pernambuco. Foram montadas 1337 câmaras-úmidas

com material coletado nas estações seca e chuvosa de dois anos (2007/2008),

utilizando-se placas de Petri forradas com papel filtro e mantidas à luz e temperatura

ambiente por no mínimo três meses. Foram registrados plasmódios e/ou esporocarpos

de mixomicetos em 228 cultivos, sendo possível identificar 12 espécies, distribuídas em

onze gêneros das famílias Cribrariaceae (Cribraria violacea), Didymiaceae (Diderma

effusum, Didymium aff. serpula), Physaraceae (Badhamia sp.), Trichiaceae (Arcyria

cinerea, Perichaena depressa, P. corticalis, P. corticalis var. liceoides, P. aff.

taimyriensis) e Stemonitaceae (Comatricha sp., Synphytocarpus sp., Stemonaria

irregularis, Stemonitis pallida, Stemonitis fusca, Stemonitopsis typhina). O registro de

mixomicetos foi mais elevado nas câmaras-úmidas montadas com material coletado na

estação chuvosa (102) do que na seca (95). Nos cultivos positivos, observou-se maior

incidência de espécies de Trichiaceae (67%) seguida de Stemonitaceae (7%), sendo

mais raras as Didymiaceae (3%), Cribrariaceae (2%) e Physaraceae (1%). Perichaena

foi o gênero dominante, P. aff. taimyriensis, Synphytocarpus sp., S. irregularis, S.

typhina e D. aff. serpula são novos registros para este tipo de microhabitat, enquanto D.

effusum, D. aff. serpula e S. typhina são referidas pela primeira vez para o Bioma

Caatinga.

Palavras-chave – Myxomycetes, Caatinga, semi-árido, fezes de herbívoros, Perichaena

_________________________________ 1 Trabalho a ser submetido para publicação como Medrado, W.T.S.; Cavalcanti, L.H. 2011. Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros registros. Acta Botanica Brasilica.

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Abstract- (Coprophilous myxobiota from Pernambuco State: first report). In the first

study on the coprophilous mixobiota from the semi-arid region of Brazil it was

investigated the species occurring in feces of domestic (horse, cow, calf goat), and wild

(preá, mocó) animals, collected in 13 municipalities of the subzones Litoral-Mata,

Agreste and Sertão of Pernambuco state. With material collected in the dry and rainy

seasons of two years, 1337 moist chambers were mounted, using the Petri dishes lined

with filter paper and kept in ambient light and temperature for at least 3 months.

Plasmodia and/or myxomycetes sporocarps were recorded from 228 cultures, and 14

species were identified, distributed in 9 genera from the families Cribrariaceae

(Cribraria violacea), Didymiaceae (Diderma effusum, Didymium aff. serpula),

Physaraceae (Badhamia sp.), Trichiaceae (Arcyria cinerea, Perichaena depressa, P.

corticalis, P. corticalis var. liceoides, P. aff. taimyriensis) and Stemonitaceae

(Comatricha sp., Synphytocarpus sp., Stemonaria irregularis, Stemonitis pallida,

Stemonitis fusca, Stemonitopsis typhina). The registration of myxomycetes was slightly

higher in the moist chambers made with material collected in the rainy season (102)

than the dry season (95). In positive cultures, was observed a higher incidence of

species of Trichiaceae (67%), followed by Stemonitaceae (7%), being rare Didymiaceae

(3%), Cribrariaceae (2%) and Physaraceae (1%); Perichaena was the dominant genus,

especially P. aff. Taimyriensis. Synphytocarpus sp, S. irregularis, S. typhina and D. aff.

serpula are new records for this type of microhabitat; D. effusum, D. aff. serpula and S.

typhina are mentioned for the first time for the Caatinga Biome.

Key words - Myxomycetes, Caatinga, dung, semi-arid, Perichaena

Introdução

Diferentes grupos de seres vivos, desde bactérias, leveduras, fungos

filamentosos e mixomicetos até larvas de diversos animais contribuem para a

decomposição e a incorporação ao solo dos nutrientes presentes de fezes de herbívoros

domésticos, em cativeiro ou silvestres.

Dentre os organismos coprófilos destacam-se os fungos, representados por todos

os seus grupos, como evidenciado pelos numerosos estudos que vêm sendo realizados

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desde o século XIX. Os mixomicetos que ocupam este microhabitat têm sido menos

investigados, dispondo-se de uma lista de pouco mais de 100 espécies, dentre as quase

900 conhecidas para a classe (Eliasson & Lundqvist 1979; Eliasson & Keller 1999;

Novozhilov et al. 2008; Bezerra et al. 2008).

Segundo Angel & Wicklow (1974, 1983) e Richardson (2001), além da presença

de animais que fornecem substrato para seu desenvolvimento, a distribuição mundial

dos microrganismos coprófilos depende de fatores abióticos - como clima e gradiente

latitudinal- e bióticos, como componentes orgânicos e acidez das fezes e tipo de

vegetação.

No Brasil, diversas pesquisas foram direcionadas ao estudo dos fungos

coprófilos, como as de Trufem (1984), Trufem & Viriato (1985), Viriato & Trufem

(1985) e Alves et al. (2002). No entanto, até o momento, apenas Bezerra et al. (2008

a,b) trataram especificamente dos mixomicetos, referindo 10 espécies ocorrentes em

Sylvilagus brasiliensis L., encontrado em ambientes naturais no Nordeste do país.

Assim, o objetivo do presente trabalho foi reunir e interpretar dados sobre a riqueza de

espécies de mixomicetos coprófilos no Estado de Pernambuco, Brasil.

Material e métodos

O Estado de Pernambuco possui um território de 98.311 km2, limitando-se a

leste com o Oceano Atlântico, ao norte com Paraíba e Ceará, ao sul com Alagoas e

Bahia, com maior extensão na direção leste-oeste (SECTMA, 2002). Próximo à costa,

onde a densidade populacional é significativamente maior, o clima do tipo tropical

atlântico permite encontrar fragmentos remanescentes de Floresta Atlântica e

ecossistemas associados, como manguezal e restinga, enquanto para o interior do

continente a vegetação vai se tornando cada vez mais seca, predominando o estrato

arbustivo com muitas plantas armadas com espinhos, caracterizando o ambiente da

caatinga. Neste tipo de vegetação exclusivo do Brasil habitam diversos animais

herbívoros, nativos, como roedores da família Caviidae conhecidos como mocó

(Kerodon rupestris Wied-Neuwied) e preá (Cavia aperea hircus Erxleben), ou

introduzidos desde a época da colonização, como o cavalo, o boi e a cabra.

Ao longo de um transecto de 420 km, foram coletadas amostras de fezes de

cavalo (Equus caballus L.), cabra (Capra aegagrus hircus L.), vaca (Bos taurus L.),

bezerro, mocó e préa, conforme a disponibilidade de material, em dois municípios da

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subzona Litoral-Mata (São Lourenço da Mata e São Vicente Ferrer), quatro municípios

da subzona do Agreste (Gravatá; Tacaimbó; Pesqueira e Buíque) e cinco municípios da

subzona do Sertão (Arco Verde; Sertânia; Custódia; Serra Talhada e Mirandiba), nas

estações seca e chuvosa de 2007 (fevereiro/junho) e seca de 2008 (fevereiro) (Fig. 1).

Foram montadas 1337 câmaras-úmidas, preparadas segundo Bezerra et al. (2008a).

Após aferir o pH, os cultivos foram mantidos à luz e temperatura ambiente (28 °C) e

observados semanalmente por um período mínimo de três meses para registro da

presença de plasmódios e esporocarpos. A umidade do substrato foi mantida

adicionando-se periodicamente água destilada. Os esporocarpos maduros foram

retirados junto com o substrato, desidratados em estufa a 50°C por 6 h e tombados na

coleção de mixomicetos do herbário UFP. A identificação das famílias, gêneros e

espécies, foi realizada de acordo com: Martin e Alexopoulos (1969); Farr (1976); Lado

e Pando (1997); Mitchell (1999); Novozhilov et al. (2006).

Considerou-se como um espécime todas as esporulações de uma mesma espécie

que ocorreram em uma câmara-úmida durante o período de observação. A freqüência de

ocorrência foi avaliada pela relação entre o número de vezes em que a espécie foi

registrada nos cultivos e o total de cultivos positivos para mixomicetos. A freqüência de

ocorrência de mixomicetos nas fezes dos diferentes animais foi avaliada pela relação

entre o número de cultivos positivos e o total montado para o mesmo. Foram adotadas

as seguintes classes de freqüência, indicadas por Sarma e Hyde (2005): Muito

freqüente= ≥10%. Freqüente= 5-10%. Pouco freqüente= 1-5%. Rara ≤ 1%.

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Figura 1. A. ambiente típico do Bioma Caatinga (Serra Talhada, Pernambuco, Brasil);

B-C. Aspecto da vegetação na estação seca e na estação chuvosa, em um mesmo local

(Mirandiba, Pernambuco, Brasil).

Resultados e discussão

Foram montadas um total de 1.337 câmaras-úmidas a partir de fezes de cada

animal herbívoro selecionado (bezerro, cabra, cavalo, preá, mocó e vaca), onde a

montagem dessas placas diferiu conforme a disponibilidade do material coletado ao

longo de um transecto de 420 km no Estado de Pernambuco, sendo montadas mais

placas para a zona fitogeográfica do sertão (758 placas) e para o animal cavalo (342

placas) (Tab. 1).

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Tabela 1 - Incidência de mixomicetos em cultivos montados com fezes de diferentes

animais, coletadas ao longo de um transecto de 420 km, no Estado de Pernambuco.

Animal

Zonas Fitogeográficas Placas

Montadas

Placas

Positivas

Litoral-Mata Agreste Sertão Total Total

Bezerro 0 5 0 5 1

Cabra 6 91 147 244 41

Cavalo 200 156 342 698 108

Mocó 0 0 20 20 5

Preá 0 3 0 3 2

Vaca 0 118 249 367 71

Total 206 373 758 1337 228

Foram obtidos 228 cultivos positivos, nos quais registrou-se a presença de 12

espécies distribuídas em 11 gêneros, pertencentes às subclasses Stemonitomycetidae

(33,3%) e Myxogastromycetidae (66,7%), sendo a maior freqüência de ocorrência

observada para Perichaena (145 cultivos= estação seca+ estação chuvosa) (Tab. 2).

Esporularam 178 cultivos montados com fezes de cavalo, cabra e vaca entre as

coletas realizadas na estação seca (39; 19; 21) e chuvosa (54; 15; 29). Nos cultivos

montados com fezes de cavalo, 9 câmaras-úmidas com substrato coletado na estação

seca e 13 coletados na estação chuvosa, apresentaram plasmódios, mas estes não

esporularam; o mesmo aconteceu nos cultivos montados com fezes de cabra (2; 6) e

vaca (5; 8). Quanto aos animais silvestres, preá e mocó, mostraram um alto índice de

positividade considerando o pequeno número de cultivos.

Nas 1.337 câmaras-úmidas montadas, obteve-se o registro de 11 gêneros e 12

espécies em fezes de cavalo, 4 em fezes de vaca, 6 em fezes de cabra e apenas uma

espécie em fezes de bezerro, preá e mocó, respectivamente. Mais da metade das

espécies apareceram esporadicamente nos cultivos, concordando com o padrão revelado

em estudos realizados sobre diversidade de fungos coprófilos, como o de Piontelli et al.

(2006), onde em cada comunidade apenas um pequeno número de espécies representa a

maioria das coleções.

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Tabela 2. Myxomycetes coprófilos encontrados nas diferentes estações do ano ao longo

do Estado de Pernambuco e sua distribuição nas fezes de: cv= cavalo; cb= cabra; vc=

vaca; bz= bezerro; pr= preá; mo= mocó.

Espécies

Estação Seca

Estação Chuvosa

Total

cv cb vc bz pr mo cv cb vc mo Arcyria cinerea* 1 1 0 0 0 0 1 0 0 0 3 Badhamia sp. 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Cribraria violacea 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 Comatricha sp. 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Diderma effusum 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Diderma sp. 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 2 Didymium aff serpula 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 Didymium sp. 0 1 1 0 0 0 1 3 0 0 6 Perichaena depressa* 17 12 8 0 1 0 7 2 0 0 48 Perichaena corticalis* 9 1 10 1 0 2 9 1 7 0 42 P. corticalis var. liceoides

0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 2

P. aff taymiriensis 1 1 2 0 0 0 27 4 18 0 53 Stemonaria irregularis 0 0 0 0 0 0 1 4 0 0 5 Stemonitis sp. 1 0 0 0 0 0 3 0 1 0 5 Stemonitis fusca 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Stemonitis pallida 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 3 Stemonitopsis typhina 0 0 0 0 0 0 2 0 2 0 4 Synphytocarpus sp. 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 Total 39 19 21 1 1 2 54 15 29 3 185 Plasmódio 9 2 5 0 0 0 13 6 8 0 43

Não foi possível identificar a única espécie de gênero Badhamia registrada no

material estudado, que esporulou sobre fezes de cabra, apresentando um esporocarpo

plasmodiocárpico com capilício escasso, pouco ramificado, perídio fino e esporada

enegrecida.

Poucos registros foram efetuados com o material coletado durante a estação

seca. Nesta estação, P. aff taimyriensis Novozhilov & Schnittler ocorreu em fezes de

cabra, cavalo e vaca coletadas em municípios da zona da Mata (São Lourenço da Mata,

São Vicente Ferrer), Agreste (Gravatá, Tacaimbó, Pesqueira, Buique) e Sertão

(Arcoverde, Sertânia, Custódia, Serra Talhada e Mirandiba); P. corticalis (Batsch)

Rostaf. também foi observada em material coletado na estação seca, esporulando em

fezes de cabra, cavalo e vaca coletadas nos municípios de São Vicente Ferrer, Gravatá,

Tacaimbó, Pesqueira, Buique, Custódia e Serra Talhada. Cribraria violacea Rex,

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 29

Comatricha sp., Diderma effusum e S. fusca Roth foram assinaladas apenas em

câmaras-úmidas montadas com material coletado nesta estação.

Trichiaceae foi a família mais constante, pois esteve presente em todos os meses

de amostragem e P. aff taimyriensis destacou-se das demais pela sua freqüência nos

cultivos montados com fezes de cavalo e vaca.

Apesar de quase todas as áreas de coletas situarem-se no semi-árido nordestino,

em municípios onde a pluviosidade anual fica em torno de 800 mm, concentrada em

curtos períodos do ano (SECTMA 2002) e do pequeno número de animais estudados,

observou-se riqueza de espécies, quando comparada aos resultados obtidos em outros

países como: Estados Unidos (Keller & Anderson 1978), Uruguay (Zorrón 1977), India

(Nannenga-Bremekamp et al 1978). Vale lembrar que no Agreste e Sertão, forma-se um

orvalho nas primeiras horas da manhã que pode ser suficiente para umedecer o substrato

e permitir o desenvolvimento de espécies menos exigentes. Em alguns casos, esse

orvalho é retido por verdadeiras redes formadas por fungos filamentosos existente nas

fezes, principalmente nas de cavalo.

Analisando-se o tempo necessário para ocorrer a esporulação, os representantes

das Trichiaceae foram os primeiros a ser observados, necessitando cerca de 95 dias após

a montagem dos cultivos e P. aff. taimyrienssis foi a espécie mais freqüente da família

(Tab. 3). Nos países do Hemisfério Norte, espécies desta família são comuns em fezes

de gado, cavalo e lebre (ELIASSON; KELLER, 1999; NOVOZHILOV et al. 2001;

NOVOZHILOV et al. 2008).

P. depressa Lib., de distribuição cosmopolita, é a espécie mais conhecida do

gênero, e foi isolada de fezes de cavalo, cabra, vaca e preá. Os esporocarpos

desenvolvidos em 50 cultivos apresentaram os caracteres típicos da espécie, o mesmo

não acontecendo com os de P. corticalis, registrada em aproximadamente 17% das

amostras positivas que se apresentaram sem capilício. O capilício escasso ou ausente

não é incomum nos esporocarpos desta espécie, o que levou Rostafinski em 1875 a

propor a nova espécie Perichaena liceoides que mais tarde foi colocada como uma

variedade de P. corticalis (LISTER, 1925). A presença ou ausência de capilício é um

caráter taxonômico importante para os mixomicetos, mas tem sido questionado por

alguns especialistas ao longo do tempo, porque más formações e desenvolvimentos mal

concluídos podem ser induzidos não só por condições bióticas e abióticas do meio

ambiente como também pelas condições em que se encontra o substrato em questão.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 30

Nenhum membro do gênero Perichaena era considerado estritamente coprófilo,

mesmo com 11 de suas 26 espécies tendo registro neste microhabitat. Hoje em dia, P.

taymiriensis, esporulando sobre fezes de rena (Rangifer tarandus L.) (Novozhilov

2000), P. heterospinispora e P. Polygonospora, ambas recentemente descritas por

Novozhilov, Zemlyanskaya, Schnittler e Stephenson, 2008) sobre fezes de roedor,

podem ser consideradas como exclusivamente coprófilas, por nunca terem sido

registradas em outro tipo de substrato. No presente estudo, foram obtidos 60 espécimes

com características semelhantes à P. taymiriensis, esporulados sobre fezes de cabra,

cavalo e vaca, os quais mostraram semelhanças quanto ao tipo de esporulação, borda do

esporo e falta de capilício, mas diferiam um pouco pela coloração do perídio, variando

do castanho ao amarelo.

As espécies de Stemonitis, Stemonaria irregularis, Cribraria violacea,

Stemonitopsis typhina (F. H Wigg) Nann-Brem. e Diderma effusum (Schwein) Morgan

foram raras, sendo enquadradas como pouco freqüentes (Tab. 3). Duas espécies de

Stemonitis, uma de Stemonaria e uma de Stemonitopsis foram identificadas entre as

Stemonitaceae, sendo Stemonaria irregularis (Rex) Nann.-Bremek, R. Sharma et Y.

Yamam predominante entre as demais, estando presente em cinco cultivos, que

representam 33% dos que apresentaram registro para esta família. Este gênero, com

nove espécies e Stemonitopsis, com 10, nunca foram citados em fezes de herbívoros.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 31

Tabela 3 - Freqüência das espécies de mixomicetos coprófilos em fezes de herbívoros

coletadas em diferentes zonas fitogeográficas do Estado de Pernambuco. Muito

frequente = ≥10%. Frequente = 5-10%. Pouco frequente = 1-5%. Rara ≤ 1%.

Espécies

Percentual

do total de espécimes

Classes de frequência

Arcyria cinérea 0,91 Rara

Badhamia sp. 0,45 Rara

Cribraria violácea 2,73 Pouco freqüente

Diderma effusum 0,45 Rara

Didymium aff. Serpula 0,45 Rara

Perichaena corticalis 16,89 Muito freqüente

Perichaena corticalis var. liceoides 0,91 Rara

Perichaena depressa 21,00 Muito freqüente

Perichaena aff. Taimyriensis 24.20 Muito freqüente

Stemonaria irregularis 3,19 Pouco freqüente

Stemonitis fusca 0,45 Rara

Stemonitis pallid 1,36 Pouco freqüente

Stemonitopsis typhina 1,82 Pouco freqüente

No presente estudo, a montagem das câmaras-úmidas diferiu conforme a

disponibilidade do material, não permitindo comparações estatisticamente válidas

quanto à riqueza e abundância das espécies que compõem a mixobiota. Todavia, sendo

este um primeiro estudo, foi possível verificar que este microhabitat pode ser um dos

ocupados no ambiente pouco favorável da Caatinga e fez-se o registro de espécies ainda

desconhecidas como capazes de desenvolver-se em fezes de herbívoros, como S.

irregularis e S. typhina. Acrescentou-se, ainda, D. aff serpula, D. effusum e S. typhina à

lista de mixomicetos ocorrentes no semi-árido brasileiro (Fig. 2), elaborada por

Cavalcanti et al. (2006).

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Figura 2. Myxomycetes coprófilos ocorrentes no semi-árido brasileiro. A.

Arcyria cinerea; B. Stemonitopsis typhina; C. Cribraria violacea; D. Diderma

effusum; E. Stemonaria irregularis; F. Stemonitis fusca.

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4. Capítulo 2

Espécies coprófilas de Perichaena (Trichiales,

Myxomycetes) ocorrentes em Pernambuco, Brasil

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Espécies coprófilas de Perichaena (Trichiales, Myxomycetes) ocorrentes em

Pernambuco, Brasil1

Resumo – (Espécies coprófilas de Perichaena (Trichiales, Myxomycetes) ocorrentes

em Pernambuco). Fezes de herbívoros têm sido estudadas mundialmente como um

microhabitat para mixomicetos em diferentes ecossistemas, sendo mais comuns em

desertos e regiões semi-áridas. Dentre as 26 espécies reconhecidas para o gênero

Perichaena (Trichiales, Trichiaceae), 11 têm registro como coprófilas. Na mixobiota

brasileira ocorrem quatro espécies deste gênero, mas não se tem registros como

coprófilas. A fim de contribuir para o conhecimento da distribuição do gênero

Perichaena no Brasil, entre fevereiro de 2007 e agosto de 2008 foram efetuadas coletas

de fezes de vaca (Bos taurus), cabra (Capra aegagrus), cavalo (Equus caballus), mocó

(Kerodon rupestris) e preá (Cavia aperea) em 12 municípios de Pernambuco situados

nas zonas do Litoral-Mata e Caatinga, subzonas do Agreste e Sertão. Foram montadas

698 câmaras-úmidas com fezes de cavalo, 367 com fezes de vaca, 211 com fezes de

cabra, três com fezes de preá e 20 com fezes de mocó, procurando-se manter a mesma

quantidade de câmaras-úmidas para cada estação do ano e localidade. Após registrar o

pH inicial, os cultivos foram mantidos à luz e temperatura ambiente (28 °C) e

observados por pelo menos três meses. Exsicatas representativas do material estudado

foram depositadas no herbário UFP, da Universidade Federal de Pernambuco. Foram

obtidos 151 espécimes, correspondendo a três espécies e uma variedade: P. corticalis,

P. corticalis var. liceoides, P. depressa e P. aff. taimyriensis. Constatou-se a ampla

distribuição das três espécies ao longo do transecto de 570 km estabelecido na direção

leste-oeste no Estado de Pernambuco, ocorrendo em todos os municípios onde foram

tomadas amostras. Observou-se elevada incidência do gênero nos cultivos e a

predominância do pH na faixa do neutro ao alcalino. Os registros ampliam a lista de

mixomicetos coprófilos brasileiros assim como os ecossistemas nos quais podem ser

encontrados. P. aff. taimyriensis está sendo referida pela primeira vez para o Hemisfério

Sul e P. corticalis var. liceoides para o Bioma Caatinga.

Palavras-chave – Caatinga, semi-árido, fezes de herbívoros _____________________________________ 1 Trabalho a ser submetido para publicação como Medrado, W.T.S.; Cavalcanti, L.H. 2011. Mixobiota coprófila do Estado de Pernambuco: primeiros registros. Acta Botanica Brasilica.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 35

Abstract – (Coprophilous Species of Perichaena (Trichiales, Myxomycetes) occurring

in Pernambuco). Feces of herbivores have been studied worldwide as a microhabitat for

myxomycetes and different ecosystems have been explored, being more common in

deserts and semi-arid regions. Among the 26 species known to Perichaena genus

(Trichiales, Trichiaceae), 11 were registered as coprophilous. In the Brazilian

myxobiota there are six species of this genus, but they are not recorded as

coprophilous.In order to contribute to the knowledge of their distribution in this

microhabitat for Brazil, between February 2007 and August 2008 were made collections

of cow (Bos taurus), goat (Capra aegagrus), horse (Equus caballus) and Guinea pigs

(Cavia aperea) dung in 11 municipalities of Pernambuco state in areas of the Littoral-

Forest and Caatinga zones (Agreste and Sertão sub-zones); 698 moist chambers cultures

were mounted with feces of horses, 367 with feces of cows, 211 with goat feces of three

with the Guinea pigs feces, trying to maintain the same number of cultures for each

season and location. After registering the initial pH, the cultures were kept in ambient

light and temperature (28 °C) and observed for at least three months. Representative

exsiccates of the studied material were deposited in the Herbarium UFP, Federal

University of Pernambuco. 151 specimens were obtained, corresponding to three

species and one variety: P. corticalis, P. corticalis var. liceoides, P. depressa e P. aff.

taimyriensis. It was noted the wide distribution of the three species along the transect of

570 km set in the east-west in the state of Pernambuco, occurring in all municipalities

where samples were taken. There was a high incidence of the genus in the cultures and

the predominance of pH in the range of neutral to alkaline. The records extend the list of

Brazilian coprophilous myxomycetes and ecosystems on which they can be found. P.

aff. taimyriensis is being recorded for the first time in the Southern Hemisphere and P.

corticalis var. liceoides for the Caatinga Biome.

Key words - Caatinga, semi-arid, feces of herbivores

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 36

Introdução

Os primeiros registros de espécies de mixomicetos em fezes de animais

herbívoros foram feitos através de coletas esporádicas realizadas em expedições não

direcionadas ao estudo de um bioma específico ou região geográfica. No checklist de 99

táxons registrados na literatura para esse microhabitat apresentado por Eliasson &

Keller (1999), foram registrados em estercos de diferentes animais [P. chrysosperma

(Curr.) Lister, P. corticalis (Batsch) Rostaf., P. corticalis var. liceoides (Rostaf.) Lister,

P. depressa Lib., P. luteola (Kowalski) Gilert, P. pedata (Lister) G. Lister, P. quadrata

T. Macbr., P. syncarpon T. E. Brooks e P. vermicularis (Schwein.) Rostaf.].

O gênero Perichaena foi proposto em 1817 por Fries, que enfatizou a parede

dupla do perídio e a falta de espirais no capilício (MARTIN et al., 1983). A espécie tipo

é Perichaena populina Fr. (=P. corticalis) e existem atualmente 26 espécies válidas

reconhecidas por Hernández-Crespo e Lado (2005). Algumas dessas espécies são

cosmopolitas e distribuídas em diferentes países, ecossistemas e substratos, como P.

depressa, P. chrysosperma e P. corticalis, que são muito estreitamente relacionadas e

muitas vezes difíceis de distinguir.

Cavalcanti (1974) relacionou cinco espécies, P. chrysosperma, P. corticalis, P.

depressa, P. minor (G. Lister) Hagelst. (= Hemitrichia minor G. Lister) e P.

vermicularis (Schwein.) Rostaf., ocorrendo em diferentes microhabitats da zona do

Litoral-Mata do estado de Pernambuco. Este mesmo grupo de espécies foi novamente

citado compondo uma lista de 88 táxons para a região semi-árida do Nordeste do país.

Entretanto, não há registros de mixomicetos coprófilos nesses trabalhos

(CAVALCANTI et al., 2006).

A vegetação característica do semi-árido nordestino é a Caatinga, uma savana

estépica exclusiva do Brasil (RODAL et al. 2008). O clima dessa região, caracterizado

por uma entrada de energia extremamente alta, elevadas temperaturas, taxas de

transpiração e evapotranspiração, não é favorável à presença de mixomicetos, exceto em

microhabitats especiais, como os oferecidos por plantas suculentas e fezes de animais

herbívoros.

Na mixobiota brasileira, todas as espécies registradas como coprófilas foram

coletadas em uma vegetação semelhante à savana no Parque Nacional Serra de

Itabaiana, Sergipe (BEZERRA et al. 2008 a;b). Nesta unidade de conservação, Arcyria

cinerea (Bull.) Pers., Comatricha mirabilis R. K. Benj. & Poitras, Cribraria cancellata

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(Batsch) Nann.- Bremek., Cribraria microcarpa (Schrad.) Pers., Cribraria violacea

Rex, Hemitrichia minor G. Lister, Metatrichia vesparia (Batsch.) Nann.-Bremek. ex G.

W. Martin et Alexop., Physarum cinereum (Batsch) Pers. e Physarum roseum Berk. &

Broome, foram reportados em fezes de coelho (Sylvilagus brasiliensis L.) e C.

microcarpa foi registrada em fezes de cavalo. As Trichiaceae estão representadas pelos

gêneros Arcyria, Hemitrichia e Metatrichia, não sendo incluídas espécies de

Perichaena, que têm elevada ocorrência em outros microhabitats no Estado de

Pernambuco (CAVALCANTI, 1974).

Com uma vasta população microbiana, riqueza nutricional e retenção de água,

excrementos de herbívoros são apropriados para o desenvolvimento de mixomicetos

(Hudson 1986). Embora, o pH seja mais elevado do que o de muitos outros substratos

sobre os quais são tipicamente encontrados (STEPHENSON, 1989). Portanto, as fezes

de animais herbívoros são importantes microhabitats em algumas altas latitudes e

ecossistemas existentes em regiões semi-áridas ou desérticas, onde podem atuar como

micro-ilhas de umidade ou simplesmente como câmaras úmidas naturais

(STEPHENSON; STEMPEN, 1994).

Ampliando o registro de espécies de Perichaena conhecidas para esse

microhabitat no Estado de Pernambuco e visando contribuir para o conhecimento sobre

mixomicetos coprófilos no Brasil, pesquisou-se a mixobiota presente em fezes de

animais nativos e introduzidos, coletados desde o litoral até o sertão pernambucano.

Material e Métodos

Os espécimes foram obtidos de amostras de campo e câmaras-úmidas montadas

com as mesmas provenientes de 11 municípios localizados nas zonas do Litoral-Mata e

Caatinga (subzonas Agreste e Sertão) do Estado de Pernambuco: São Lourenço da

Mata, Gravatá, São Vicente Ferrer, Tacaimbó, Pesqueira, Buique, Arcoverde, Sertânia,

Custódia, Serra Talhada e Mirandiba.

As características das localidades onde foram efetuadas coletas nas zonas de

Litoral/Mata e Caatinga no Estado Pernambuco são apresentadas na tabela 1; a primeira

delas caracteriza-se pelos remanescentes de Floresta Atlântica e ecossistemas

associados, enquanto o Agreste apresenta uma vegetação que abrange desde Floresta

caducifólia à Caatinga hipoxerófila; no Sertão ocorre a Caatinga hipoxerófila e a

hiperxerófila. Em ambos são encontrados são encontrados os brejos de altitude, ilhas de

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 38

florestas (ombrófila e estacionária) rodeadas pela vegetação típica do semi-árido.

Nessas localidades habitam diferentes espécies de animais herbívoros, nativos ou

introduzidos e bem adaptados às condições climáticas e vegetacionais locais, como a

cabra, que é representada principalmente pelas raças moxotó e canindé (LEAL et al.,

2005). O cavalo do Nordeste é bem adaptado à deficiência hídrica da região, bebe pouca

água e viaja grandes distâncias sem demonstrar cansaço e anda com facilidade em

terrenos pedregosos e acidentados (Machado, 2007). O preá (Cavia aperea Erxleben) é

um roedor amplamente distribuído na América do Sul, medindo cerca de 25 cm de

comprimento, pelagem cinza, corpo robusto, pernas e orelhas curtas, rabo e incisivos

ausentes. Na Região Nordeste do país a vaca é representada principalmente pela raça

pé-duro, que é dócil, rústica, resistente, adaptada ao clima tropical, ao calor, à seca, às

pastagens naturais, notadamente do semi-árido com sua vegetação caducifólia

(BRITTO; MELLO, 1999).

Os pontos de coleta foram escolhidos de acordo com o Atlas da Biodiversidade

de Pernambuco (SECTMA, 2002), e foram priorizados locais de extrema importância

biológica e insuficientemente conhecidos, principalmente para fungos lato sensu e

liquens. As coordenadas de geográficas foram registradas com a ajuda de um GPS e os

dados de altitude, mesorregião, microrregião, clima e distância da costa (Recife foi

usado como referência), foram obtidos da literatura (CPRH, 1994; CORREIA, 1996).

Entre fevereiro de 2007 e agosto de 2008, amostras de excrementos dos quatro

animais selecionados para o estudo foram coletadas, acondicionadas em sacos plásticos

e etiquetadas com informações sobre o local. Seiscentos e noventa e oito câmaras-

úmidas foram montadas com fezes de cavalo, 367 com fezes de vaca, 211 com fezes de

cabra e três com fezes de preá, de acordo com a disponibilidade do substrato nos locais

e estação do ano (HARKONEN, 1981), tentando-se manter a padronização a respeito da

quantidade de câmaras úmidas para cada estação e localidade.

Depois de ser registrado o pH inicial as culturas foram mantidas à luz e

temperatura ambiente (28 °C) e observadas por no mínimo três e no máximo 12 meses.

Culturas com a ocorrência de plasmódio e/ou esporocarpos foram consideradas

positivas.

Para a identificação das espécies foram usados como literatura básica: Martin e

Alexopoulos (1969); Farr (1976); Lado e Pando (1997); Mitchell (2002) e Novozhilov

et al., (2006). Exsicatas representativas do material estudado foram depositadas no

Herbário UFP, da Universidade Federal de Pernambuco.

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Tabela 1 – Características dos municípios do Estado de Pernambuco onde foram coletados espécimes de Perichaena.

Municípios Mesorregião/ Microregião

Altitude (m)

Clima Hidrografia Vegetação Distância do Recife (km)

São Lourenço da Mata

(08º00`08``S 35º01`06``W)

Zona da Mata/Metropolitana

do Recife

58 As` Rio Tapacurá Floresta Atlântica 16

Gravatá (08º19`957``S 36º16`220``W)

Agreste/ Vale do Ipojuca

447 As`a Rio Capibaribe Floresta caducifólia e Caatinga

Hipoxerófila

85

São Vicente Ferrer

(35°30’00”W- 07°35’00”S)

Agreste/ Médio Capibaribe

650 a 1.000

As` Rio Goiana Florestas Subcaducifólias e

caducifólias

116

Tacaimbó (08º18'58"S 36º17'36"W)

Agreste/ Vale do Ipojuca

576 As` Rios Ipojuca, Una e Capibaribe

Caatinga Hiperxerófila

170

Pesqueira (08º21'28" S 36º41'45 W)

Agreste/ Vale do Ipojuca

654 As` Rios Ipojuca, Una e Ipanema

Caatinga Hipoxerófila e

Floresta estacional

215

Buique (08º37'23" S 37º09'21"W)

Agreste/ Vale do Ipanema

798 BShW Rio Ipanema Florestas Perenefólia,

Caatinga e Campos Rupestres

285

Arcoverde (08º25'08" S 37º03'14"W),

Sertão/ Sertão do Moxotó

663 BShW Rios Moxotó e Ipojuca

Caatinga 259

Sertânia (08º10´002´´S 37º27`781``W)

Sertão/ Sertão do Moxotó

558 BShW Rio Moxotó Caatinga Hiperxerófila

316

Custódia ( 08º05`15´´S 37º38´35´´W)

Sertão/ Sertão do Moxotó

542 BShw Rios Moxotó e Pajeú

Caatinga Hiperxerófila

335

Serra Talhada (07º59'31" S 38º17'54" W)

Sertão/ Sertão do Pajeú

429 BSwh' Rio Pajeú Caatinga Hiperxerófila

375

Mirandiba (08º07'13" S 38º43'46"W)

Sertão/ Salgueiro 450 BShW Rio Pajeú Caatinga Hiperxerófila

423

Resultados e Discussão

O estudo dos 151 espécimes de Perichaena obtidos no campo e em câmara-

úmida revelou a ocorrência de três espécies e uma variedade: Perichaena corticalis, P.

depressa, P. corticalis var. liceoides e P. aff. taimyrensis (Fig. 1). As duas primeiras

espécies foram referidas para o Brasil por vários autores (CAVALCANTI, 2002;

MAIMONI-RODELLA, 2002; PUTZKE, 2002), mas nenhuma havia sido registrada

como coprófila para o país até o presente momento.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 40

Observou-se a ampla distribuição das espécies no transecto estabelecido de leste

a oeste no estado, ocorrendo uma alta incidência nas culturas e predominância na faixa

de pH neutra à alcalina (Tab. 2-4).

Perichaena aff. taimyriensis Novozh. & Schnnittler (Fig. 2), obtida em campo e

em câmaras-úmidas com fezes, exceto as de preá, foi representativa nas três subzonas

do estado, ocorrendo em um diferente gradiente de umidade e compondo 66% de todas

as culturas positivas (Tab. 2-4).

Esse é o primeiro registro dessa espécie para os Neotrópicos, desde que ela era

conhecida apenas para a localidade tipo, na Península de Taimyr, Ártico russo,

esporulando sobre fezes de rena (Rangifer tarandus L.) Os caracteres mais marcantes da

espécie são o tamanho e o espessamento da parede dos esporos (1-1,5 µm), que pode ser

uma adaptação à passagem através do trato digestivo de animais herbívoros

(ELIASSON; KELLER, 1999; NOVOZHILOV; SCHNNITLER, 2000). Nessa espécie,

o capilício é ausente, aproximando-se do gênero Licea. A presença ou ausência de um

capilício como um caráter taxonomicamente importante foi questionada por diferentes

autores, como Alexopoulos (1976), Eliasson e Lundqvist (1979) e Keller e Brooks

(1971) e a linha de separação entre Perichaena e Licea não é clara quanto a esse

aspecto. Aparentemente, P. taimyriensis representa um táxon intermediário entre esses

dois gêneros.

A morfologia do esporângio de P. taimyriensis lembra no seu hábito (esporângio

séssil) P. corticalis var. liceoides, que foi encontrada no presente estudo em amostras de

fezes de cavalo apenas na Mesorregião Agreste (Tab. 3). Esta espécie parece ser uma

outra forma intermediária que liga espécies de Perichaena e Licea.

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Figura 1. Diferentes espécies de Perichaena ocorrentes no estado de Pernambuco.

A. P. depressa; B. P corticalis; C. P. corticalis var. liceoides; D. P. aff.

taimyriensis.

A B

C D

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 42

Figura 2. Perichaena aff. taimyriensis. A. campo, sobre fezes de vaca; B.

esporocarpos agrupados; C. esporocarpo isolado; D. esporocarpos em formação;

E. esporos; F. esporos com margem tipicamente espessada.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 43

Tabela 2 – Percentual de positividade e faixa de pH das espécies de

Perichaena registradas sobre fezes de cabra em diferentes zonas

fitogeográficas do Estado de Pernambuco.

Município/ Zona Fitogeográfica

Espécies Cultivos (n°)

PPP (%)

pH (Faixa)

São Lourenço da Mata/ Litoral – Mata

P. aff. taimyrensis

06

100

8,18 - 8,41

Buique / Agreste

P. corticalis 77

81

7,03 – 8,29 P. depressa

P. aff. taimyrensis

Sertânia / Sertão

P. depressa

28

100

7,52 – 8,08

Serra Talhada / Sertão

P. corticalis 99

54

7,30 – 8,19 P. depressa

P. aff. taimyrensis

* PPP(%) – Percentual de Positividade para o gênero Perichaena.

Tabela 3 - Percentual de positividade e faixa de pH das espécies de Perichaena

registradas sobre fezes de cavalo em diferentes zonas fitogeográficas do Estado

de Pernambuco.

Municipio/ Zona Fitogeográfica

Espécies Cultivos (n°)

PPP (%)

pH (Faixa)

São Vicente Ferrer / Mata

P. corticalis 200

44

6,23 – 8,74 P. depressa

P. aff. taimyrensis

Tacaimbó / Agreste P. corticalis

56

78

7,83 – 8,51 P. aff. taimyrensis

Pesqueira / Agreste P. corticalis

36

63

7,80 – 8,11 P. aff. taimyrensis

Buique / Agreste

P. corticalis

64

100

7,33 – 8,27 P. corticalis var.

liceoides P. depressa

P. aff. taimyrensis Sertânia / Sertão P. aff. taimyrensis 14 100 8,25 – 8,38

Custódia / Sertão

P. corticalis 116

79

7,82 – 8,85 P. depressa

P. aff. taimyrensis

Serra Talhada / Sertão

P. corticalis 192

53

7,36 – 8,12 P. depressa

P. aff. taimyrensis

Mirandiba/Sertão P. depressa

20

60

7,39 – 7,88 P. aff. Taimyrensis * PPP(%) – Percentual de Positividade para o gênero Perichaena.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 44

Tabela 4 - Percentual de positividade e faixa de pH espécies de Perichaena

registradas sobre fezes de vaca em diferentes zonas fitogeográficas do Estado de

Pernambuco.

Municipio/ Zona Fitogeográfica

Espécies

Cultivos (n°)

Positivas

(%)

pH

(Faixa)

Gravatá / Agreste

P. corticalis

82

83

7,83 – 8,46 P. depressa

P. aff. taimyrensis

Buique/ Agreste P. corticalis

36

90

7,47 – 9,00 P. depressa

Arcoverde / Sertão P. aff. taimyrensis 32 75 7,95 – 8,56

Custódia / Sertão P. corticalis

56

88

7,84 – 8,42 P. aff. taimyrensis

Serra Talhada / Sertão

P. corticalis

141

67

7,21 – 8,50 P. depressa

P. aff. taimyrensis Mirandiba / Sertão P. depressa 20 50 7,43 – 7,85

Em trabalho sobre a identidade de Perichaena liceoides, Gilert (1990)

argumenta a respeito do posicionamento taxonômico dessa espécie que, ao longo do

tempo, vem causando dúvidas com relação a sua classificação como uma espécie, como

uma variedade de Perichaena corticalis ou como sinônimo desta última. A variedade

liceoides foi baseada em material desenvolvido em câmaras úmidas feitas com fezes de

lebre, em que foram considerados o tamanho do esporocarpo, o perídio translúcido e o

capilício escasso (MARTIN; ALEXOPOULOS, 1969).

Através de estudos bioquímicos Gilert (1990) mostrou diferenças quanto à

composição química dos perídios, concluindo que em Perichaena liceoides existe um

depósito granular de cálcio na camada externa e silício na interna, enquanto que em P.

cortcalis var. liceoides a camada externa apresenta muito potássio e pouco silício e a

interna não apresenta depósitos. Ao analisar diversas amostras de P. corticalis, a

referida autora verificou a ocorrência de sulcos no capilício de alguns espécimes, o que

é marcante na variedade liceoides. Nas amostras provenientes do município de Buique,

Agreste pernambucano, os espécimes possuíam todas as características necessárias para

serem enquadradas na variedade liceoides segundo Lado e Pando (1997).

Nas amostras de fezes de vaca, observou-se, em campo, a presença de

Perichaena aff. taimyriensis, tanto na estação seca quanto na chuvosa. Essa espécie

também ocorreu nos cultivos de câmara úmida montadas com fezes desse mesmo

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 45

animal, que tem boas condições como substrato para a ocorrência de mixomicetos em

diferentes continentes (ELIASSON; LUNDQVIST, 1979). Concordando com a

literatura o pH desse tipo de substrato mostrou-se bastante básico, com uma variação de

7,21 a 9,00 (Tab. 4).

Presente nas fezes de cabra, cavalo e vaca, coletadas nas estações seca e

chuvosa, P. corticalis foi observada em 17% dos cultivos positivos para o gênero,

assinalada desde a Zona da Mata, em fezes de cavalo (São Vicente Ferrer), passando

pelo Agreste (Gravatá, vaca; Buique, cabra, cavalo, vaca; Tacaimbó, cavalo; Pesqueira,

cavalo) e chegando até o Sertão (Custódia, cavalo, vaca; Serra Talhada, cabra, cavalo,

vaca) (Tab. 2-4). Os espécimes mostram as características típicas da espécie, citada para

Pernambuco por Cavalcanti (1974, 2002), esporulando sobre substrato lenhoso morto e

casca de troncos vivos em ambiente de Floresta Costeira.

P. depressa esporulou em cultivos feitos com fezes de praticamente todos os

animais estudados, exceto bezerro e mocó, apresentando uma boa distribuição ao longo

percorrido. Nos excrementos de preá coletados no município de Buique, as mesmas

apresentaram pH ácido, variando entre 6,38 e 6,68, sendo este o primeiro registro de

Perichaena em fezes deste animal.

Os registros feitos neste estudo aumentam a lista dos mixomicetos coprófilos do

Brasil apresentada por Bezerra et al. (2008a) e também ampliam o conhecimento da

distribuição desses organismos nos diferentes.

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Medrado, W. T. S. Myxomycetes Coprófilos do Estado de Pernambuco... 46

5. CO�SIDERAÇÕES GERAIS

O presente trabalho amplia o conhecimento sobre as espécies de Myxomycetes

coprófilos ocorrentes no Brasil, contribuindo também para o conhecimento de sua

distribuição no Nordeste em especial nas diferentes zonas fitogeográficas do Estado de

Pernambuco.

O padrão de positividade junto à riqueza de espécies encontradas apresentou-se

de normal a superior ao que é normalmente relatado na literatura, talvez isso se atribua a

um tempo maior de observação dos cultivos, ou a quantidade dos mesmos.

A maior frequência foi observada para o Gênero Perichaena, que se mostrou

bem generalista no que se diz respeito ao tipo de substrato, ocorrendo praticamente em

todos anlizados. Sendo também bem representativo nos diferentes tipos de ambientes e

estações do ano. Tendo destaque aqui a P. aff taimyriensis não só por sua ampla

distribuição, como também por se tratar de um possível segundo registro mundial.

A observação constante da retenção da umidade na forma de orvalho por parte

dos fungos filamentosos em fezes gomosas como as de cavalo, mostrou-se como

possível fator colaborador no desenvolvimento de espécies menos favorecidas.

Ao compararmos o padrão de positividade dos substratos provenientes de

animais domésticos com o de selvagens, o segundo apresentou-se por proporcionalidade

mais viável à ocorrência de Myxomycetes.

As Stemonitomycetidae não se apresentaram muito frequentes. Duas espécies de

Stemonitis, uma de Stemonaria e uma de Stemonitopsis foram identificadas entre as

Stemonitaceae, sendo Stemonaria irregularis a mais frequente. Este gênero e

Stemonitopsis nunca foram citados em fezes de herbívoros.

Acrescentou-se, ainda, D. aff serpula, D. effusum e S. typhina à lista de

mixomicetos ocorrentes no semi-árido brasileiro.

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