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Naomi Sugita Reis DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ____________________________________________________________ O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS Direitos Fundamentais são aqueles positivados, ou seja, os ditos pelos Estados na Constituição ou nas leis esparsas; enquanto os Direitos Humanos estão em plano internacional, previstos por Tratados. Quando um Direito Humano entra na esfera do Estado {interna}, ele vira direito fundamental. Quando um Direito Fundamental é ferido, a justiça comum é a competente, enquanto a justiça federal é competente para julgar violação a Direito Humano. I. Direitos Humanos: internacional {tratados, costumes} - 1a, 2a, 3a, 4a, 5a gerações; II. Direitos Fundamentais: nacional {Constituição Federal}: A. Cláusulas pétreas expressas - art. 60, §4º; B. Cláusulas decorrentes das expressas {não estão escritas em plano nacional, mas decorrem dos direitos humanos das diversas gerações}; C. Cláusulas implícitas {é o que consolida o Sistema de Governo Estado democrático de direito, que é o melhor tipo de estado para consolidação dos Direitos Humanos}. III. Gerações de DH 1a Geração: liberdade - Civis {art. 5º} - Políticos {art. 14} 2a Geração: igualdade - Econômicos {art. 171 e ss.} - Sociais {art. 6º} - Culturais {art. 6º} 3a Geração: fraternidade 1

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Naomi Sugita Reis

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ____________________________________________________________

O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS

Direitos Fundamentais são aqueles positivados, ou seja, os ditos pelos Estados na Constituição ou nas leis esparsas; enquanto os Direitos Humanos estão em plano internacional, previstos por Tratados. Quando um Direito Humano entra na esfera do Estado {interna}, ele vira direito fundamental.

Quando um Direito Fundamental é ferido, a justiça comum é a competente, enquanto a justiça federal é competente para julgar violação a Direito Humano.

I. Direitos Humanos: internacional {tratados, costumes} - 1a, 2a, 3a, 4a, 5a gerações;

II. Direitos Fundamentais: nacional {Constituição Federal}:

A. Cláusulas pétreas expressas - art. 60, §4º;

B. Cláusulas decorrentes das expressas {não estão escritas em plano nacional, mas decorrem dos direitos humanos das diversas gerações};

C. Cláusulas implícitas {é o que consolida o Sistema de Governo Estado democrático de direito, que é o melhor tipo de estado para consolidação dos Direitos Humanos}.

III. Gerações de DH

1a Geração: liberdade - Civis {art. 5º}

- Políticos {art. 14}

2a Geração: igualdade

- Econômicos {art. 171 e ss.}

- Sociais {art. 6º}

- Culturais {art. 6º}

3a Geração: fraternidade

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- Meio ambiente {art. 225}

- Autodeterminação {art. 4º}

- Desenvolvimento {art. 4º}

PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GOVERNO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO - PROTEÇÃO, EFICÁCIA E FISCALIZAÇÃO DOS

DIREITOS HUMANOS

Necessidade de instrumentos de proteção e de consolidação dos Direitos Humanos. A quem cabe inicialmente a proteção dos Direitos Humanos é do próprio Estado, visto que a ideia desse ramo do direito nasceu com a Revolução Francesa {característica de direitos fundamentais}. Em primeiro plano, em situação de Sistema de Estados, os direitos humanos que nasceram com a Revolução Francesa tinham que ser protegidos e efetivados em âmbito nacional apenas.

Com as duas grandes guerras do início do século XX, o Estado sozinho mostrou-se inapto para a proteção e efetivação dos Direitos Humanos. É por isso que veio a sua internacionalização, para que todos os Estados agissem em conjunto e com o mesmo objetivo.

Em um primeiro momento, essa internacionalização se deu após a Primeira GM e continuou após a Segunda GM.

Antes da internacionalização, existiam Direitos Humanos, mas a proteção, eficácia e fiscalização cabia apenas aos próprios Estados. Com o processo de internacionalização, a proteção, eficácia e fiscalização passam a ser matérias do Direito Internacional. Se antes só cabia ao poder judiciário nacional, agora cabe às cortes internacionais. Nesse sentido, cumpre dizer que nasceu um “poder judiciário internacional”.

A internacionalização se consolidou de fato ao final da 2GM. Quando a 1GM acabou, surgem mecanismos fiscalizatórios dos DH, mas não existe nada para condenar o Estado {por isso que era uma fase embrionária} — ainda não condena o Estado, mas pode fiscalizar. O processo de fiscalização se inicia em três momentos: surgimento da Liga das Nações, surgimento da OIT e do Direito Humanitário.

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Direitos Fundamentais Direitos Humanos

Dito pelo Estado, “escrito” na CF. Previsto nas Fontes

Causas envolvendo violação tem competência na Justiça Comum.

Causas envolvendo violação tem competência na Justiça Federal.

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Primeiro Momento - pós 1GM

Liga das Nações: {paz e segurança} caracter fiscalizatório para transformar seus sistemas de governos em sistemas democráticos, visto que a democracia é o melhor sistema para os Direitos Humanos.

Organização Internacional do Trabalho: nasceu em 1919 e retirou do âmbito interno e jogou para âmbito internacional a fiscalização dos Direitos Humanos de segunda geração {econômicos, culturais e, especialmente, os sociais}. Os países devem obedecer os atos unilaterais da OIT. Não pode condenar, mas impõe normativas.

Direito Humanitário: direito de guerra — guerra é um LÍCITO internacional, visto que é a ultima ratio, o último passo do conflito entre os países. Ele garante um mínimo de dignidade da pessoa humana, ainda que em uma guerra.

Segundo Momento - pós 2GM

ONU: alterou a estrutura mundial. Consolidou o processo de internacionalização. O ECOSOC, com sua resolução nº5 de 1946 abriu a possibilidade de que um Estado seja responsabilizado internacionalmente por violação aos Direitos Humanos, pois a Assembléia Geral, em função dessa resolução, criou a Comissão de Direitos Humanos e, por conseguinte, o Sistema Universal de Direitos Humanos.

PRINCÍPIOS COMPATIBILIZADORES

A jurisdição nacional é vertical, enquanto a internacional é horizontal. A responsabilidade primária de proteção e efetivação dos Direitos Humanos é do Estado, ainda que ele seja parte da jurisdição internacional. Nesse sentido, hão de ser esgotadas as instâncias nacionais, ou seja, a verticalidade tem que ser respeitada, com o trânsito em julgado. O primeiro princípio que permeia a compatibilização é o da subsidiariedade, visto que o sistema internacional é subsidiário ao nacional, em outras palavras, o indivíduo deve se socorrer a uma ouriça estatal antes. Esse princípio é cumulativo com o prévio esgotamento dos recursos internos* {trânsito em julgado ou demora infundada mesmo que sem res judicata}. Só se pode chegar ao âmbito internacional, se ambos os princípios são obedecidos.

SISTEMAS INTERNACIONAIS

I. Universal:

A. ONU;

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II. Regional:

A. Corte Interamericana de Direitos Humanos, Corte Européia de Direitos Humanos e Corte Africana de Direitos Humanos

B. Atuação mais incisiva em função da proximidade com os Estados

SISTEMA UNIVERSAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Quando um Estado passa a fazer parte da ONU, ele é obrigado a entrar no sistema universal de proteção dos direitos humanos. Não tem como um Estado ser membro da ONU e não fazer parte do “pacotaço” {Carta de SF, CIJ e Pactos}.

I. Base Legal {pacotaço da ONU}:

A. Carta de São Francisco {tratado que criou a ONU} - 1945 - vinculativa;

B. Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948 - soft law, mas baseado no jus cogens. Os valores atinentes a Paz e Direitos Humanos são jus cogens, ou seja, um Estado pode ser responsabilizado por violar jus cogens, que embasa essa soft law;

C. Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos {1ª geração}- 1966 - todo mundo menos URSS;

D. Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais {2ª geração}- todo mundo + URSS.

II. Órgãos: o Sistema Universal de Proteção aos Direitos Humanos é dividido em duas partes, uma obrigatória e uma facultativa. Quando um Estado entra na ONU, ele obrigatoriamente entra no Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas ele pode escolher se vai entrar nas Comissões ou não.

A. Obrigatório: Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas situado em Genebra {até 2006 era uma “Comissão”}. Sua principal finalidade é aconselhar a Assembleia Geral sobre situações em que os direitos humanos são violados. Esse Conselho investiga alegações de violações de direitos humanos em estados membros da ONU e aborda importantes questões temáticas de direitos humanos como liberdade de associação e reunião, liberdade de expressão, liberdade de crença e religião, direitos das mulheres, direitos LGBT além de direitos raciais e étnicos.

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B. Facultativo: Comitês.

III. Legitimidades:

A. Estado possui a legitimidade passiva.

B. A legitimidade ativa é de qualquer pessoa nacional de Estado-Membro, desde que respeite a subsidiariedade e também o prévio esgotamento dos recursos internos. Mas não há capacidade postulatória.

IV. Trâmite:

A. Pessoa tem seus direitos humanos violados e entra com uma petição inicial no primeiro grau da justiça interna;

B. Pessoa tem todos os recursos internos esgotados na via nacional ou então se depara com uma demora infundada na via nacional;

C. Os critérios de subsidiariedade e prévio esgotamento dos recursos internos são cumpridos;

D. Pessoa pode entrar no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas com uma “mera petição”:

1. Mera petição:

a) Preliminar: 2 princípios compatibilizadores;

b) Mérito: incluir os direitos violados e que estão previstos nos 2 Pactos

E. Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas poderá fazer inspeções in loco;

F. O Estado é chamado para responder {na pessoa do Presidente} por meio da AGU;

G. O final do processo gera uma resolução, que não é vinculativa.

V. Mecanismos:

A. Não convencionais - DA ONU: os países são obrigados a se vincularem.

1. Pacto sobre os Direitos Civis e Políticos 2. Pacto sobre os Direitos Sociais, Econômicos e Culturais 3. Conselho de Direitos Humanos

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B. Convencionais - NA ONU: não será necessariamente obrigatório a todos os Estados, visto que nasce de um tratado que envolva alguns países específicos apenas. Como a ONU é um foro de diálogo para os seus Estados Membros, existem vários Estados que podem acabar firmando tratados entre si na esfera da ONU, coisa que não seria tão fácil se eles não tivessem no mesmo local {UN Headquarters em NY}, nesse sentido, eles firmam um tratado na ONU, portanto, ela se intitula a depositária {a ONU sendo depositária, passará a fiscalizar os tratados. Para cada tratado firmado em sua estrutura, vai ser criado um comitê específico, que vai ser um órgão da ONU e que tem o fito de fiscalização}.

SISTEMAS REGIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

Existe uma escolha entre o Sistema Universal ou o Regional, mas eles não são hierarquizados! Eles estão no mesmo patamar. Mas, não pode primeiro entrar em um sistema e depois entrar no outro, “é impossível”. O mais novo é o Africano, o mais antigo é o Interamericano e o Europeu é o mais avançado. Os três sistemas regionais possuem Corte, o que difere do Sistema Universal.

SISTEMA EUROPEU

Sua base estrutural é muito boa. O Sistema Europeu de Direitos Humanos é diferente da União Européia. O motivo que explica o desenvolvimento desses Sistema específico é que um indivíduo pode postular diretamente na Corte Européia de DH, fazendo com que o indivíduo seja um sujeito de DIP. Nesse sentido, os três sujeitos que podem postular na Corte são: os Estados, as OI e os indivíduos europeus. Não precisa de advogado {sem capacidade postulatória} e as petições são online.

I. Sistema Europeu de Direitos Humano: para aderir a ele, precisa aderir ao

A. Conselho Europeu de Direitos Humanos: papel fiscalizador e efetivador dos DH B. Corte Européia: julga

II. União Européia: para aderir a ela, precisa entrar nos Tratados de Maastricht e de Lisboa

A. Conselho Europeu B. Conselho da Europa

III. Legitimidade:

A. Passiva: Estados europeus;

B. Ativa: os Estados, as OI e os indivíduos europeus.

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SISTEMA AFRICANO

A Carta Africana é considerada extremamente avançada em função de prever, em seu art. 4º, o meio-ambiente como um direito humano, enquanto na Carta Interamericana não há previsão alguma {possui apenas por meio de interpretação extensiva}. Ele é composto por Comissão e por Corte, e funciona assim como o Sistema Interamericano.

*SISTEMA INTERAMERICANO*

Assim como o Sistema Universal fica no âmbito da ONU o Sistema Interamericano fica no âmbito da OEA.

A Organização dos Estados Americanos nasceu em decorrência da 6a Conferencia, realizada a fim de integrar os Estados Americanos.

No Sistema Universal encontramos os seguintes órgãos: Comitês específicos e o Conselho de Direitos Humanos. Já no Sistema Interamericano existe a Comissão Interamericana {EUA} e Corte Interamericana {Costa Rica}.

A partir do momento em que um país passa a integrar a Organização dos Estados Americanos ele faz parte tanto da Comissão quanto da Corte. Isso acontece porque ambas são órgãos da OEA. Entretanto, os Estados Unidos, por mais que façam parte da Corte em função de ela ser um órgão da OEA, Organização Internacional da qual eles são efetivamente membros, eles não poderão ser julgados por ela, porque a competência da Corte depende de diversas coisas, tal como o reconhecimento expresso da competência jurisdicional — se um Estado, por mais que seja membro da OEA e, consequentemente, por mais que faça parte da Corte, deverá reconhecer expressamente a sua jurisdição para que ela efetivamente a tenha perante esse Estado.

I. Base Legal:

A. Carta da OEA {princípio democrático};

B. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem;

C. Pacto de São José da Costa Rica/ Convenção Americana sobre Direitos Humanos {1ª geração};

D. Protocolo de São Salvador {2ª geração};

E. Reconhecimento expresso da competência jurisdicional da Corte Interamericana {no Brasil foi feito o reconhecimento pelo Decreto Presidencial 89/98}.

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Comissão Interamericana Washington, DC

A Comissão é um órgão do Sistema Interamericano, mas não possui poder jurisdicional, pois somente impõe recomendações vinculativas. Portanto, ele não condena os Estados. Quem atribui responsabilidade internacional aos Estados é a Corte Interamericana. Caso um Estado descumpra as suas recomendações, a Comissão, com seu poder coercitivo, poderá jurisdicionalizar a sua atuação e de levar esse Estado para a Corte no status de Organização Internacional {caso o Estado não tenha reconhecido o poder jurisdicional da Corte, ele será levado para a Assembléia Geral da OEA, que não possui um poder jurisdicional}. Portanto, o primeiro legitimado para levar premissas à Corte Interamericana é a Comissão, através de seu poder coercitivo.

Ela possui duas funções: investigatória e fiscalizatória, para que os Direitos Humanos possam ser efetivados, o que depende de qual Estado é que está sendo investigado/ fiscalizado, pois o Estado pode fazer parte da OEA {Carta da OEA} e, portanto, fazer parte da sua Comissão {que é um órgão}. Contudo, pode não fazer parte dos Protocolos e Declaração. Sendo assim, as competências podem ser de acordo com os instrumentos normativos aos quais o Estado se vinculou.

I. Competência — o Estado Membro pode:

A. Fazer parte da Carta da OEA {princípio democrático};

B. Fazer parte da Carta da OEA + Pacto de São José da Costa Rica {democracia + princípios civis e políticos};

C. Fazer parte da Carta da OEA + Protocolo de São Salvador {democracia + princípios econômicos, sociais e políticos};

D. Fazer parte da Carta da OEA + Pacto de São José da Costa Rica + Protocolo de São Salvador {democracia + princípios civis e políticos + princípios econômicos, sociais e políticos}.

II. Os poderes da Comissão, ou seja, o que pode a Comissão Interamericana fazer:

1º poder: fiscalização in loco dos Estados sem necessidade de autorização {analisando cada Estado de acordo com as duas competências para com aquele Estado}. O país é obrigado a receber essa comissão para que ela possa analisar a questão dos direitos humanos no país. Essa fiscalização serve para que sejam emitidos relatórios {meras descrições, sem poder vinculativo} anuais sobre a situação de violação dos direitos humanos em casa um dos Estados. Esses relatórios apresentam uma conjuntura de melhoria para que o Estado possa melhorar sua própria situação.

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2º poder: interposição de medidas cautelares. Serve para cessar de imediato a violação de direitos humanos, seja de ofício seja por intermédio de provocação {petição individual pedindo a interposição}. Há se ser mostrado o periculum in mora e o fumus boni iuris e ainda a urgência {caso de vida ou morte, requisito esse que veio em função do caso de Belomonte, vou seja, em função da birra do Brasil}.

3º poder: propositura de alteração legislativa. “Faça uma lei prevendo X, Y, Z”.

4º poder: análise de petições individuais. Trazem casos de violação que ocorreram no âmbito interno dos Estados, pois trazem consigo tais alegações. A Comissão por ser um órgão e não uma OI, permite que qualquer pessoa leve sua petição individual, sem personalidade jurídica de direito internacional. Qualquer pessoa física, jurídica, assim como o Estado e qualquer ente despersonalizado {massa falida, mesas das assembleias}. Vislumbra-se a necessidade das preliminares de prévio esgotamento das vias internas e também de subsidiariedade. Não existe capacidade postulatória, ou seja, não há necessidade de advogado.

1. Parte postulante ingressa com a petição;

2. Notificação do Estado na figura do Presidente;

3. Ampla defesa e contraditório {exercidos pela AGU};

4. Comissão fará visitas in loco para estabelecer provas;

5. Ao fim do processo, não será proferida sentença porque a Comissão não é um órgão jurisdicional. Por isso é que o desfecho se chama Informe, que traz os termos do que o Estado tem que fazer para acabar com a violação de Direitos Humanos e funcionará tal qual uma sentença — por isso é que ele tem caráter vinculativo e coercitivo {se diferindo dos Relatórios anuais derivados das análises in loco}, mas não será coativo. Caso não haja cumprimento do Informe em três meses, será dilatado o prazo por mais três. Portanto, o Estado terá, em linhas gerais, seis meses para cumprir esse Informe da Comissão. A tal “coerção do Informe” não é uma responsabilidade internacional do Estado, mas será a jurisdicionalização da situação — ou seja, o Estado vai ser levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos apenas se ele fizer parte da Corte como Organização Internacional, tendo reconhecido expressamente ela {organismo com competência jurisdicional para atribuir responsabilidade internacional do Estado}. Sendo assim, o Informe pode tomar duas vias:

1. Estado que faz parte da Corte Interamericana como Organização Internacional {reconhecimento expresso}: caso do Brasil — a petição vai ser levada à Corte, que como órgão jurisdicional que é, ensejará em responsabilidade do Estado através de um processo devidamente instalado.

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2. Estado que não faz parte da Corte Interamericana como Organização Internacional {sem reconhecimento expresso}: caso dos EUA — se o Estado não reconhece a competência jurisdicional da Corte, a partir do momento em que a Comissão observar que esse Estado não cumpriu o informe, ela levará esse Estado para a Assembléia Geral da OEA, que não possui atribuição jurisdicional, mas analisará todo o caso de suposta violação de direitos humanos e não imporá a esse Estado responsabilidade, mas poderá suspende-lo ou expulsa-lo da OEA {através de ato unilateral de Organização Internacional, que é vinculativo}.

Corte Interamericana de Direitos Humanos São José da Costa Rica, Costa Rica

A Corte se divide em duas competências: a jurisdicional e a consultiva. A competência consultiva faz com que a Corte seja um órgão, obedecendo a teoria do órgão, portanto. Sendo assim, quando um país, como os Estados Unidos, entrou na OEA, ele está dentro da Corte no âmbito da competência consultiva da Corte. Já a competência jurisdicional se relaciona com a atribuição da Corte de Organização Internacional, isso se dá porque as Cortes Internacionais, tais como a Corte Internacional de Justiça e a própria Corte Interamericana de Direitos Humanos são Organizações Internacionais, com competência jurisdicional — dessa função jurisdional é que os Estados podem optar se submeterem ou não. Isso explica o motivo pelo qual os EUA fazem parte da Corte e ao mesmo tempo não fazem: por ser Estado Membro da OEA, ele faz parte da Corte como órgão, ou seja, faz parte da Corte em sua atribuição consultiva, mas como não reconheceu expressamente a sua jurisdição, ele não faz parte dela como Organização Internacional e, portanto, não se submete à sua competência contenciosa/ jurisdicional.

Para entrar em uma Organização Internacioal, é necessário um Tratado. Para a função jurisdicional da Corte Interamericana, é formulada uma quinta base legal, abrindo espaço para o Tratado Constitutivo da Corte Interamericana, chamado de “Reconhecimento Expresso da competência jurisdicional da Corte Interamericana”. Para o Estado entrar na competência jurisdicional da Corte Interamericana, existe a necessidade de um reconhecimento expresso, para que o Estado esteja submetido a todo o ordenamento jurídico do sistema interamericano. O Estado só fará parte de todo o sistema interamericano se ele aderiu a TODA a base legal, mas para ele entrar na OEA, ele precisa entrar apenas ter ratificado a sua Carta.

Quando o Estado entra na Carta da OEA, ele pode simplesmente aderir a essa Carta, portanto, os instrumentos do Sistema Interamericano não são vinculativos {teoria total do Pacta sunt servanda}. O Estado escolhe por liberalidade sua se ele vai entrar no Protocolo, Pacto e se ele reconhecerá a Corte como Organização Internacional com jurisdição sobre ele. É algo bem diferente de quando um Estado entra na ONU, porque os instrumentos lá são vinculativos {quando um Estado entra na ONU, ele não pode

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escolher aderir apenas à Carta de São Francisco, ele precisa entrar em toda a sua base legal — Pactos de primeira e segunda geração, assim como a Declaração Universal}.

A competência da Corte pode tanto ser consultiva {funciona como órgão e a entrada nela depende da entrada na OEA}, como jurisdicional {funciona como Organização Internacional e depende de reconhecimento expresso de sua competência}. Portanto, isso faz com que alguns países façam efetivamente parte da OEA, mas não façam parte da competência jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

A sentença da Corte se divide em: pecuniária {indenizações através de precatório} e não-pecuniária {fazer e não fazer}. No caso do Brasil, a União é a executada em função de ser a representante da soberania do Estado Brasileiro. Mas existe a possibilidade de um litisconsórcio passivo facultativo entre a União e o Estado Federativo violador dos Direitos Humanos. Entretanto, cumpre ressaltar que o Brasil não cumpre as obrigações de fazer e não fazer justificando que não tem como fazer ou não fazer em função de ausência de previsão legal de como cumprir sentenças de cunho internacional {ele cumpre a parte pecuniária e não cumpre a parte não pecuniária}. Existem apenas dois Estados membros da OEA que possuem legislação própria para cumprimento de sentenças internacionais, quais sejam: Colombia e Peru.

I. Legitimidade na Corte:

A. Legitimidade passiva: somente Estados membros da Organização Internacional Corte Interamericana é que possuem legitimidade passiva nessa Corte e não membros da OEA somente.

B. Legitimidade ativa: sujeitos de Direito Internacional Público e Comissão Interamericana. Existe necessidade de alguém com capacidade postulatória — precisa ter as provas pré-constituídas, precisa provar os dois princípios compatibilizadores etc.

1. Estado Membro da Corte como Organização: um Estado membro pode sim entrar contra outro Estado membro da Corte Interamericana como Organização Internacional. Ou seja, os Estados Unidos não podem entrar com petição na Corte {seja no polo ativo, seja no polo passivo}.

2. As Organizações Internacionais, desde que façam parte da Corte Interamericana como Organização Internacional — mas hoje em dia não existe nenhuma que faça parte efetivamente.

3. Povos autodeterminados — comunidades tradicionais {quilombolas, indígenas, ribeirinhas}

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II. Características da sentença: sem necessidade de homologação {entra automaticamente}, porque deriva de uma Organização Internacional — jurisdição internacional e não “estrangeira”.

A. Definitiva;

B. Inapelável: não existe dupla análise por um órgão diferente. Não há reforma do mérito da sentença.

1. Somente cabe o “recurso” de interpretação no prazo de 90 dias — não pode alterar a decisão, apenas serve para sanar obscuridade, contradição e dúvida na sentença {é como Embargos de Declaração}.

III. Cumprimento de Sentença: prazo de 18 meses. Caso seja extrapolado o tempo concedido, a Corte pega a sentença e leva para a Assembléia Geral, que não pode condenar o Estado, mas pode suspender ou expulsar {não gera dupla responsabilidade internacional para o Estado, apenas efetiva a responsabilização}. Portanto, cabe salientar que, caso seja descomprida a sentença, o Estado será levado para a Assembléia Geral.

A. Dentro do Estado; B. Art. 68: cumprimento de sentença internacional serão próprias de Direito Interno,

seguindo as regras do CPC, visto que é um título executivo judicial.

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL {TPI} Accountability + Complementariedade

É um Tribunal que defende os Direitos Humanos e se difere dos tribunais ad hoc por ele possuir um caráter permanente e se difere das outras cortes em função de ele julgar indivíduos. Tem que ir atras de quem foi o indivíduo {pessoa física} que cometeu o crime considerado extremamente grave. Tem que ir atras dos mandantes. E, em função disso, cada vez mais o Brasil tem feito em sua legislação interna menção expressa aos crimes do TPI {como a nova lei de migração}.

Toda Corte Internacional é uma Organização Internacional, e o TPI não foge a essa regra, o que significa dizer que ele foi criado mediante um Tratado Constitutivo que, neste caso, é denominado de Estatuto de Roma.

O Estatuto de Roma abriu o seu Tratado para ratificações e adesões em 1998. Porém, no Estatuto havia a previsão de que este só entraria em vigência quando atingisse o mínimo de 28 ratificações, desta forma, a criação do TPI ocorreu propriamente em 2002, quando então entrou em vigência e funcionamento. Desta forma, no espaço de tempo entre 1998 e 2002, o TPI não tem competência para julgar crimes. Ou seja, apenas crimes cometidos a partir de 2002 é que poderão ser levados a esse Tribunal.

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Em 1998, tanto Israel quanto EUA ratificaram o Estatuto de Roma, porém, não “botavam fé” que iria vingar, assim, quando em 2002 passou a ter vigência, o Estatuto foi denunciado pelos Estados. Desta forma, pelo Pacta Sunt Servanda, haverá uma irresponsabilidade por parte destes Estados, do ponto de vista internacional, o que significa dizer que os EUA e Israel poderão ser condenados na Corte Internacional de Justiça, porque a reconhecem, mas não os seus indivíduos, em função de não terem reconhecido o TPI {ausência de ratificação}. Ademais, tendo em vista agora existir o TPI, figura com o papel de julgar os indivíduos, não se pode, nunca mais, existir a criação de tribunais ad hocs. O tribunal ad hoc da Síria não é legitimado pelo direito internacional, lá será arbitrário, porque não se considera a sua constituição como correta.

O TPI, por ser uma Organização Internacional, é independente. Além disso, diferentemente da CIJ, não faz parte da ONU, porém, ambas as figuras se confundem tão somente por estarem localizadas no mesmo local, a saber, em Haia, na Holanda:

O TPI é importante para o Brasil em razão do art. 7º do ADCT:

Art. 7º ADCT. O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos.

Desta forma, o Brasil participou diretamente na formação desse TPI, internalizando, inclusive, o Estatuto de Roma pelo Decreto Presidencial 4388/2002. Tendo em vista o tratamento sobre direitos humanos, o referido decreto fez com que o Estatuto entrasse com caráter supralegal, pois internalizado antes da EC nº45/2004. O Estatuto sofreu, ainda, controle de convencionalidade com o Código Penal e do Código de Processo Penal.

I. Estrutura:

A. Composição:

1. 18 juízes, eleitos uma única vez para um mandato de 9 anos, sem reeleição.

CIJ TPI

É uma organização internacional independente, sendo que mesmo quem

não faz parte da ONU pode entrar. Porém, a CIJ faz parte da ONU.

É uma organização internacional independente, porém, o TPI não

faz parte da ONU.

Julga Estados e O.I. Julga Indivíduos

Tem poder de coerção, mas não coação. Não há uma prisão.

Tem poder de coerção e coação. Precisa de uma prisão.

Localizados em Haia, na Holanda

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a) No caso brasileiro, são pessoas que tenham capacidade para ser ministros do STF, podendo não necessariamente ser juízes, mas bons advogados e/ou promotores também.

2. 3 promotores, que são os que fazem a denúncia, quando chega um caso específico de supostas violações a um dos crimes previstos no Estatuto de Roma, designa-se a figura de um promotor para o caso.

a) O promotor, antes de fazer a petição inicial para se ter o julgamento pela composição de juízes, irá abrir uma instância probatória, realizada dentro do Estado (desde que este faça parte do TPI e do Estatuto de Roma). Para o promotor entrar dentro desse Estado, via de regra, ele precisará de uma autorização. Porém, prescinde de autorização se neste pedido houver indícios de que poderia haver a destruição de provas, ou ainda, se o que estiver descrito na petição inicial possuir claro indício de tipicidade.

B. A atuação será feita por ordem de distribuição, porém, cada juiz e promotor não poderá atuar nas hipóteses de indivíduos do seu país de origem.

Princípio do Accountability

A tradução literal seria “responsabilidade”, para o direito, significa que haverá responsabilidade penal internacional do indivíduo, ou seja, em relação aos crimes previstos no Estatuto de Roma, pela sua gravidade, não bastaria condenar apenas o sujeito de DIP, mas o indivíduo que de fato os praticou, que incorrerá nas condenações próprias dentro do sistema internacional. Porém, o fato de ter sido condenado não faz com que o indivíduo se torne sujeito de DIP, isso se dá para que se possa condenar de maneira específica aquele cometeu o crime. Nestes crimes, há inclusive, violação dos valores do jus cogens, de forma que, havendo condenação apenas dos Estados, isso acabaria por muitas vezes em não afetar o indivíduo responsável, que em tese poderia continuar a perpetuar os crimes contra a humanidade.

*Princípio da complementariedade* {devido processo legal}

A subsidiariedade precisa existir em conjunto com o prévio esgotamento dos recursos internos e esses dois requisitos podem ser colocados em conjunto com a inexistência de recursos internos ou com o princípio do ne bis in idem.

A jurisdição nacional não é desconsiderada, pois é feito um sopesamento embasado em princípios compatibilizadores de valores, quais sejam, a segurança jurídica interna e a segurança da humanidade em si. É feito um sopesamento entre a jurisdição nacional e a jurisdição internacional. São utilizados princípios compatibilizadores para flexibilizar a jurisdição nacional com a internacional.

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A lógica do TPI é de que sempre tem de haver a subsidiariedade, porém, ela poderá ser combinada com um de três princípios, dentro da complementariedade, para que haja um processo. Desta forma, a complementariedade é gênero, que possui espécies:

I. Subsidiariedade {sempre será necessária}

II. Prévio esgotamento dos recursos internos {transito em julgado que não reverta a situação ou então uma demora infundada};

III. Inexistência de recursos internos {Rainha Elizabeth II é irresponsável perante as Cortes — impossibilidade de a pessoa ser processada em seu país}

IV. Ne bis in idem: um fato gerador não pode influenciar duas hipóteses de incidência, ou seja, um crime tipificado no Estatuto de Roma não pode gerar duas condenações passíveis de reversibilidade {recurso} em duas instancias diferentes {nacional e internacional}. Vale tanto para coisa julgada formal, quanto material.

A. Parece que apenas ditadores africanos e ditadores do leste europeu é que aparentemente são julgados no TPI porque eles podem até ter sido condenados na instancia interna, mas a penas são ínfimas.

Competencia material do TPI

São os crimes mais graves de todo o contexto da humanidade. São aqueles crimes que não podem de maneira alguma ficar impunes. Não adianta condenar apenas a Bósnia, apenas a Iugoslávia. Hão de ser condenados os agentes/ indivíduos responsáveis por tais crimes.

Os crimes no TPI são imprescritíveis para os fatos ocorridos após à sua criação — 2002. Portanto, há de se atentar ao fato de que o TPI não pode julgar crimes de tortura, por exemplo, realizados na década de 70 durante a Ditadura Militar no Brasil {por mais que o crime de tortura seja imprescritível, ele só poderá ser julgado se for cometido após o ano de 2002}.

Crime conta a humanidade é um gênero que comporta uma espécie chamada Genocídio. Tudo que é genocídio configura-se como crime contra a humanidade, mas nem todo o crime contra a humanidade será considerado genocídio.

Matar indiscriminadamente é um crime conta a humanidade, pois não é determinado o “foco”.

I. Crime de genocídio: há de existir uma motivação específica “quero matar porque…”.

A. Conceito: crime contra um povo de UMA determinada:

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1. Raça 2. Crença 3. Lingua 4. Nacionalidade {povo} 5. Nacionalismo {vinculo cultural} 6. Cultura

B. Exemplos:

1. Homicídio {não importa o numero de pessoas, podem ser 2} 2. Ofensas graves à integridade física ou psíquica 3. Submissão a condições desumanas e degradantes de sobrevivência {ex. Mandar

um grupo especifico de pessoas no Mianmar para regiões comprovadamente afetadas pela dengue, por febre amarela}

4. Escravatura sexual 5. Transferencia forçada de menores de um grupo para outro grupo {crianças

soldados}

II. Crimes contra a humanidade:

A. Conceito: ataque sistemático e generalizado a qualquer grupo de pessoa, sem delimitação a credo, raça, nacionalidade…

B. Exemplos: rol exemplificativo

1. Tortura 2. Genocídio 3. Perseguição violenta 4. Violencia sexual 5. Apartheid {com violência institucionalizada pelo Estado — Africa do Sul — ou

até mesmo sem violência — EUA}

III. Crime de guerra: a tipificação existe no Estatuto de Roma, mas é feita uma remissão às quatro convenções de Genebra {direito humanitário — a guerra não é tratada como algo de Estado, mas como algo internacional}.

A. Crime de agressão:

1. Previsão: encontra-se previsto no Estatuto do TPI.

2. Conceito: é um conceito aberto, ele será preenchido a partir do caso concreto {de uma concreção}. A natureza jurídica desse Tribunal é permanente {primeiro vem a previsão e depois vem o fato}. Para que não se torne um tribunal de exceção, foi deixada uma previsão em aberto, para que possa ser abrangida a

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sua competência material {isso foi previsto a longo prazo, pois não se sabe quais seriam os possíveis crimes daqui 200 anos}.

APARENTES CONFLITOS {ANTINOMIAS} ENTRE O ESTATUTO DE ROMA E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O Estatuto de Roma versa sobre Direitos Humanos, portanto, esse tipo de tratado pode entrar no ordenamento jurídico brasileiro de duas maneiras, dependendo da data em que entrou em vigor. Como ele é de 2002, ou seja anterior à EC 45/04, ele entrou no nosso ordenamento jurídico com status supralegal {se tivesse entrado depois de 2004, ele teria entrado como Emenda Constitucional}. Constituição Federal Estatuto de Roma {Supralegal} Leis

Quando um tratado é internalizado, ele será passível de sofrer controle de constitucionalidade, seja intrínseca, seja extrínseca. A inconstitucionalidade intrínseca remete à matéria dos Tratados enquanto a inconstitucionalidade extrínseca remete a todo o processo de feitura dos tratados {se tiver algum vício de forma nesse sentido, o STF pode levantar a inconstitucionalidade desse Tratado}.

O Estatuto não sofreu inconstitucionalidade extrínseca, entretanto, foi levantada a inconstitucionalidade intrínseca aparente do Estatuto de Roma no que tange a questão da entrega de nacional, a questão da coisa julgada, a questão da pena perpetua e a do nullum crimen nulla poena sine lege.

Inconstitucionalidade aparente significa que ela parece ser inconstitucional, mas isso não não vai levar à declaração de inconstitucionalidade. Se tiver 99 interpretações que levam à inconstitucionalidade e 1 interpretação pela constitucionalidade, a norma não vai ser declarada inconstitucional — vai prevalecer, pelo método dialógico, a interpretação pela constitucionalidade. Esse método dialógico defende que a lei vai “conversar” com a CF — prevê todas as leis possíveis e escolhe a que melhor conversa com a CF, constituição da lei a partir das metanormas. Isso remete à mutação constitucional, que se baseia em alterar a interpretação da Constituição sem a alteração do seu texto. Pode ser declarado algo inconstitucional dando interpretação diferente para as leis, visto que até a própria Constituição pode sofrer alteração de sua interpretação.

A questão da entrega de brasileiros natos

I. Entrega {surrender} x Extradição: não se extradita brasileiro nato, só que, tendo em vista o Estatuto de Roma, os brasileiros natos poderão ser entregues ao TPI. A extradição ocorre quando um estrangeiro ou brasileiro naturalizado vai para uma

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jurisdição estrangeira na qual ele não participou da formação do ordenamento jurídico. Como o TPI é uma jurisdição internacional, os brasileiros participaram de sua formação {porque o Brasil participou das negociações do Estatuto de Roma} e, do ponto de vista de garantias, o TPI é a jurisdição mais garantista possível, e portanto, a mais justa. A entrega sempre terá prioridade do pedido perante a extradição, visto que ela se destina ao TPI que é jurisdição internacional.

A. Surrender: jurisdição internacional {art. 7º ADCT} — possui preferencia.

B. Extradição: jurisdição estrangeira.

II. Deportação: regulada pela nova lei de Migração

III. Expulsão: regulada pela nova lei de Migração

IV. Extradição: prevista na Constituição. É a entrega de brasileiro naturalizado ou estrangeiro se ele estiver sofrendo processo em jurisdição estrangeira {de outro país} ou então tiver que cumprir pena o estrangeiro. Quem dá o aval para a extradição é o Presidente da República, com seu poder discricionário. A extradição é uma discricionariedade do país.

V. Estrangeiro: via de regra, quem pode ser extraditado é o estrangeiro {a qualquer momento};

VI. Brasileiro naturalizado: de maneira excepcional.

A. Se o crime cometido onde ele tem que ser processado ou onde ele tem que cumprir pena tiver ocorrido antes de ele ter se naturalizado;

B. A qualquer tempo, seja entes ou depois da naturalização se o seu crime for de tráfico de entorpecentes {podendo ser aberto para o tráfico de pessoas e para o tráfico de armas}.

VII.A não extradição de brasileiro nato é um direito absoluto, ou seja, ele nunca poderá ser extraditado. Os brasileiros não são extraditados porque eles participaram da formação do ordenamento jurídico brasileiro {através do poder constituinte originaria}, mas não dos outros ordenamentos jurídicos ao redor do mundo. A partir o momento que o brasileiro nato não participou da construção do ordenamento jurídico ele não esta a par do que pode ser aplicado a ele, visto que podem ocorrer injustiças. Entretanto, no que tange a extradição de seus nacionais natos, os EUA extradita sim.

VIII.Entrega {surrender}: através de Decreto Presidencial 4.388/02 {para o Tribunal Penal Internacional} pode ser de brasileiros natos.

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A questão da pena de prisão perpétua

O Estatuto de Roma prevê que pode existir prisão perpetua quando se vislumbrar elevado grau de ilicitude do acusado mais condições pessoais assim justificarem a imposição da pena da prisão perpétua.

A vedação a pena de prisão perpétua é um comando limitador ao Poder Legislativo {não pode prisão perpétua dentro do Brasil} e não aos cidadãos brasileiros. E, além disso, é uma limitação dentro do Brasil, significando que, dentro do Brasil e pelo Poder Legislativo, não pode ter prisão perpétua. Ou seja, o brasileiro pode ser apenado por prisão perpétua, desde que não seja aplicado dentro do Brasil. Não é um direito do brasileiro não ser apenado por prisão perpétua no sentido amplo, é apenas um direito de não ser apenado por prisão perpétua no solo brasileiro. Isso se difere da questão da entrega, na qual, sendo um brasileiro nato, não pode ser entregue a jurisdição estrangeira.

O entendimento do STF é o seguinte: se um brasileiro é condenado pelo TPI, quem vai proceder à execução da sentença é o próprio Brasil, eis que o TPI, por não ser um Estado e não possuir território, não terá meios de cumprir sua própria sentença. Nesse sentido, o país é quem fará a execução da pena. Entretanto, se algum brasileiro for especificamente apenado com a pena de prisão perpétua {ou uma pena que exceda 30 anos}, quem fará a execução da pena é o TPI em Haia, na Holanda. Visto que, no Brasil, não terá como ser cumprida essa pena.

Em consequência, se é possibilitada a entrega de um brasileiro nato ou naturalizado para cumprir prisão perpétua ou maior de 30 anos no TPI, pode ser feita a extradição de brasileiros naturalizados para jurisdições estrangeiras que permitam pena perpetua e maior de 30 anos {sendo esse brasileiro conduzido a cumprir a pena nesse país}. Isso decorre do entendimento do STF no sentido de que o brasileiro não poderá cumprir essas penas no território brasileiro, mas poderá cumprir nos outros países {em decorrência da jurisdição estrangeira e internacional}.

• E a pena de morte? O entendimento anterior do STF era de que não cabe extradição para países com pena de morte, mas hoje em dia o entendimento não está consolidado.

• Condições pessoais do acusado: devem justificar a imposição da imposição.

A questão das imunidades e o foro por prerrogativa de função

No Brasil, quem tem a imunidade em conjunto com o foro por prerrogativa de função são os Congressistas. Essa imunidade pode ser formal e material. A imunidade material é em função de ideias, palavras e voto dentro ou fora do desempenho de sua função. A imunidade material dentro do Congresso é absoluta, entretanto, é limitado pelos valores de jus cogens; enquanto a imunidade material fora do Congresso depende da conexão com sua função.

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Já a imunidade formal possui relação com o principio da processualidade {o STF não precisa pedir autorização da Casa do parlamentar, precisa apensa informar, mas a Casa pode sustar o processo quando existe perseguição política a esse parlamentar}.

Essas imunidades, quando tem um congressista brasileiro, subsistem no TPI? Teoricamente, a Casa pode sustar o processo no STF, quem tem imunidade não é o individuo, mas o cargo — imunidade é ao congressista e não ao individuo como pessoa. A pessoa não É congressista, ela ESTÁ congressista. Quando ela vai ser julgada pelo TPI, não vai ser julgado o cargo, mas a pessoa. Sendo assim, a partir do momento em que alguém é submetido a jurisdição internacional, ele será despido de suas imunidades.

O foro por prerrogativa de função está atrelado à jurisdição nacional e o TPI é uma jurisdição internacional e, portanto, não é um foro recursal, visto que é uma jurisdição compatível com a jurisdição nacional. Nesse sentido, como a prerrogativa é uma questão interna, ela não será levada ao âmbito internacional.

*A questão do respeito à coisa julgada*

A coisa julgada pode ser formal e material. A coisa julgada material diz respeito às partes, à competência, ao devido processo legal. Enquanto a coisa julgada material diz respeito à matéria {que pode ser quebrado por ação rescisória no prazo de dois anos}. Por trás da coisa julgada esta o princípio da segurança jurídica. Entretanto, existem outros princípios que podem quebrar a coisa julgada, quando se vislumbra um sopesamento. O princípio do ne bis in idem garante uma segurança jurídica à pessoa — o processo tem que se dar em consonância com os valores do direito.

A ADI sobre o Estatuto de Roma foi levantada em função da coisa julgada material. O TPI só reconhece a coisa julgada quando o processo em âmbito nacional respeitou os valores do direito. Ou seja, vislumbram-se três exceções:

1) Nítida opção do Poder Judiciário em subtrair o acusado à responsabilidade;

2) Processo não independente ou processo parcial {suspeição ou impedimento que não foi levantado} {muito aplicado nas ditaduras africanas};

3) Processo incompatível com uma ação justa {quando o juiz poderia ter feito algo dentro do processo para tornar a ação mais justa, porém não o fez — por exemplo é o caso de um país que não aceita em seu ordenamento jurídico a possibilidade de instruir o processo com FOTOS, mas esta ocorrendo um genocídio que foi amplamente fotografado e não possuem muitas testemunhas ou as testemunhas certas, nesse caso, o juiz deveria permitir as fotos, caso ele não permita, não será feita coisa julgada material esse processo}.

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A EXECUÇÃO DAS DECISÕES DO TPI NO BRASIL

A sentença proferida no TPI é internacional, visto que ele é uma Organização Internacional. Nesse sentido, não será feito homologação pelo STJ, pois essa sentença internacional vai entrar automaticamente no Brasil. Quem tem a competência constitucional {art. 127 CF} para abrir/ instaurar a execução é o Ministério Público na Justiça Federal {art. 109, II CF} de primeiro grau no foro do domicílio do réu.

NACIONALIDADE

Nacionalismo x Nacionalidade

A constituição protege a ideia de nacionalismo em seu art. 4º, ao proteger a ideia de autodeterminação dos povos. Nesse sentido, o direito defende o nacionalismo. Ou seja, o nacionalismo é relacionado à cultura dos povos.

Já a nacionalidade esta atrelada ao elemento constitutivo do estado “povo” e, se existe apenas um Estado, existe apenas um povo — por isso que dentro do Brasil existe apenas a figura do brasileiro {nacional} e do estrangeiro. A nacionalidade é o vinculo jurídico-politico de uma pessoa para com seu Estado, o que a transforma em cidadã de direitos e de deveres.

Hipóteses de vínculo da pessoa com o Estado

I. Jus Soli: próprio dos países colonizados.

II. Jus Sanguinis: próprio dos países colonizadores.

O Brasil adota o jus soli, entretanto, utiliza-se, excepcionalmente o jus sanguinis em três casos.

Espécies de nacionalidade

I. Originária {nata}: a pessoa tem desde que nasce o vinculo político e está prevista na Constituição.

II. Naturalização: adquire posteriormente e está prevista em lei infraconstitucional. O Estado não está obrigado a conceder a naturalização em função de sua soberania.

A nacionalidade possui uma proteção maior do que a naturalização, eis que o brasileiro nato representa o povo brasileiro por um direito adquirido, a fim de consolidar

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a segurança nacional. A nacionalidade nata é um direito humano de primeira geração e só pode estar prevista na Constituição em seu artigo 12. As hipóteses de nacionalidade nata são quatro, sendo uma delas a regra e outras três são exceção {pode ser aumentado através de EC, mas como é direito fundamental, é clausula pétrea e não podem ser retiradas}:

I. Regra:

A. Jus soli: nascer no Brasil {regra - não precisa combinar outro critério}

1. Exceção: ser filho de pai ou mãe estrangeiros e um dele estar no Brasil a serviço do Estado {governo} respectivo {sem necessidade de registro na repartição competente para que seja adquirida a nacionalidade}.

II. Exceção: {pessoa que nasce no estrangeiro}

A. Jus sanguinis + pai ou mãe a serviço do governo brasileiro {sem necessidade de registro na repartição competente para que seja adquirida a nacionalidade};

B. Jus sanguinis + registro em repartição competente — Consulado {pai ou mãe sem estar a serviço do governo brasileiro}.

C. Jus sanguinis + residência a qualquer tempo + opção confirmativa depois de atingida a maioridade {quando a criança não é registrada no Consulado, porque senão seria a hipótese B}. O Ministério da Justiça das um informe ao outro país afirmando que o individuo perderá a antiga nacionalidade.

NOVA LEI DE MIGRAÇÃO - Lei 13.445/17

Veio substituir o Estatuto do Estrangeiro, o qual surgiu em um momento de Ditadura, que via o estrangeiro como alguém nocivo ao Brasil — foram, portanto, retirados os direitos dos estrangeiros a fim de proteger os interesses e a segurança nacionais. Sendo assim, houve dificultação da presença do estrangeiro no Brasil, dificultando a questão do visto, assim como o exercício de direitos e inclusive a nacionalidade.

Entretanto, o estrangeiro precisa ser embasado por questões de Direitos Humanos e, em consequência, ele passa a ser visto com bons olhos, ou seja, uma figura positiva, abrindo-se possibilidades de novas hipóteses de aquisição de nacionalidade brasileira {como derivada}.

As hipóteses de naturalização são quatro e estão nos artigos 64 a 75. As hipóteses previstas no artigo 12 da Constituição são vinculativas, ou seja o Brasil DEVE conceder a nacionalidade originária. Entretanto, o Brasil não é obrigado a conceder a naturalização, mesmo que preenchidos os requisitos da Lei 13.445/17, em função de sua soberania — com exceção de uma hipótese de naturalização, que é vinculativa

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sim: é o caso da naturalização extraordinária {estar no Brasil ha mais de 15 anos em residência ininterrupta e não ter condenação penal}.

Nesse interim, o Brasil passou a considerar o casamento e a união estável como hipóteses de naturalização para o estrangeiro {ademais, ela não diferencia o casamento da união estável}.

I. Naturalização ordinária {4 + 1}: é o meio normal e mais simples de conseguir uma naturalização. O Brasil não é obrigado a conceder essa naturalização, mesmo que a pessoa cumpra os requisitos:

A. Capacidade civil: a própria pessoa tem que requerer, não pode existir representação, ou seja, a pessoa tem que ser maior de 18 anos;

B. Sem condenação penal ou reabilitado: pode ter tido problemas penais, desde que reabilitado;

C. Domínio da língua portuguesa: o indivíduo terá que fazer uma prova;

D. Residencia fixa e ininterrupta por, no mínimo, 4 anos.

O procedimento de naturalização envolve um ato complexo, com os três poderes. O Legislativo estabelece os requisitos para a concessão, enquanto no Executivo, através do Ministério da Justiça {processo administrativo}, que serão analisados esses requisitos, podendo ou não aprovar o pedido. E tal procedimento será levado para o Judiciário expedir o certificado de naturalização, porque quem tem competência de conceder o certificado de naturalização é o Judiciário.

A. Exceções: cai de 4 anos para 1.

1. Casamento ou união estável reconhecidos no Brasil com um brasileiro. Ao invés de 4 anos de moradia ininterrupta, o requisito é de 1 ano;

2. Filho brasileiro {jus soli} sob sua guarda ou com dependência econômica sobre o estrangeiro, o requisito é de 1 ano;

3. Se o estrangeiro estiver no Brasil desempenhando atividade relevante; 4. Capacidade profissional, científica ou desportiva de destaque.

II. Naturalização especial {5}: a pessoa não precisa ter pisado no Brasil.

A. Requisitos:

1. Ter cônjuge ou companheiro brasileiro que esteja a serviço do Brasil no estrangeiro {missão diplomática};

2. Casamento ou união estável com reconhecimento no Brasil {quem faz esse reconhecimento é o consulado};

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3. Casamento ou união estável com, no mínimo, 5 anos.

III. *Naturalização provisória*: ocorre quando o estrangeiro não possui capacidade civil para pedir a naturalização ordinária por ser menor de idade. Quem pode pedir em nome desse estrangeiro menor são os representantes legais.

A. Requisitos: 1. Não ter capacidade 2. Residencia ininterrupta no Brasil há, no mínimo, 4 anos. 3. Ter entrado no Brasil para morar com menos de 10 anos.

B. Validade: quando a pessoa atingir 18 anos. Ao completar 18 anos, ela vai voltar a ser estrangeira. Entretanto, cumpre informar que a pessoa, ao completar 18 anos, terá DOIS anos para decidir se quer ou não fazer o requerimento de naturalização ordinária. Ela, portanto, “perderá” a naturalização provisória e terá requerer a naturalização ordinária ou permanecer com a sua naturalização originária.

IV. Naturalização extraordinária {CF}: cumpridos os requisitos, o Estado será obrigado à naturalização.

A. Residencia ininterrupta no Brasil há mais de 15 anos; B. Sem condenação penal alguma — não significa ser reabilitado.

NACIONALIDADES PREVISTAS EM TRATADOS

I. Curso superior:

A. Requisitos:

1. Ter entrado no Brasil com menos de 18 anos; 2. Ter cursado ensino superior em instituição de ensino nacional {publica ou

privada}; 3. Prazo: a pessoa pode pedir a naturalização até 2 anos após a colação de grau.

II. Originários de países de Língua Portuguesa:

A. Requisitos:

1. Residencia fixa no Brasil há, no mínimo, 1 ano; 2. Sem condenação penal ou então reabilitado; 3. Ser originário de país de Língua Portuguesa.

III. Portugueses: quase nacionalidade.

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A. Requisitos:

1. Residência fixa → nesse caso, ele não vai pedir naturalização, mas vai ter seus exercícios de direitos de brasileiro tal qual um brasileiro naturalizado. Ele pode se inscrever na Justiça Eleitoral, poderá ter passaporte brasileiro…

TIPOS DE NACIONALIDADE

I. Prevista na Constituição:

A. Naturalização extraordinária.

II. Prevista na Lei 13.445/17:

A. Naturalização ordinária; B. Naturalização especial; C. Naturalização provisória.

III.Prevista em Tratado:

A. Curso superior; B. Originários de países de Língua Portuguesa; C. Portugueses.

DIFERENCIAÇÃO ENTRE BRASILEIRO NATO E BRASILEIRO NATURALIZADO

Por conta do princípio da isonomia, a diferenciação entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados somente podem ser as previstas na Constituição. Não pode lei infraconstitucional prever diferenciação. As diferenciações, na prática, são as que seguem:

• Somente brasileiros natos poderão compor a linha sucessória do Presidente da República {Vice Presidente, Presidente da Câmara, Presidente do Senado, Presidente d STF}, assim como serem Ministro da Defesa e Comandantes das Forças Armadas;

• Seis assentos do Conselho da República;

• Brasileiro nato detentor dos meios de comunicação {só pode brasileiros natos ou então naturalizados há mais de 15 anos}. Se for sociedade de capita aberto, 75% do capital votante deve ser de brasileiros natos;

• Extradição {para jurisdição estrangeira} {quem pode ser extraditado são os brasileiros naturalizados ou os estrangeiros}

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RETIRADA DO BRASILEIRO NATURALIZADO

Somente para brasileiro naturalizado, é um ação que corre no Judiciário e acontece quando esse estrangeiro realiza atividade que venha a ferir o interesse nacional, enquanto a sentença.

E será aplicado em casos que o estrangeiro ferir o interesse nacional ou então quando ele for condenado por crime tipificado no TPI. {A Nova Lei de Migrações traz menção expressa ao Estatuto de Roma}.

RETIRADA COMPULSÓRIA DO ESTRANGEIRO

I. Deportação {arts. 50 a 53}: é um ato de soberania em aeroportos, fronteiras terrestres {se dá no momento da entrada}, ou então depende de um procedimento legal quando as pessoas já estão no Brasil, porém irregularmente. É o meio mais brando de retirar um estrangeiro do território nacional e ocorre quando ele está em uma situação migratória irregular. Ele poderá ser deportado do país de onde ele veio, seu país de nacionalidade ou qualquer país que aceite recebê-lo. O estrangeiro deportado poderá retornar ao Brasil, desde que ele acerte a sua situação irregular.

A. Procedimento: se dá no Ministério da Justiça.

1. Ampla defesa e contraditório no prazo de 60 dias {que pode ser postergado por mais 60 dias}. Em 120 dias, tem que ser dado uma resposta. E não cabe recurso.

2. Notificação da DPU que é revéu e não fala nada, mas o processo não será nulo.

II. Expulsão {arts. 54 a 62}: é uma medida mais seria para retirar o estrangeiro do território nacional. E será aplicado em casos que o estrangeiro ferir o interesse nacional ou então quando ele for condenado por crime tipificado no TPI. Como a Lei 13.445/17 não revogou o Estatuto do Estrangeiro, para saber quais seriam as hipóteses de interesse nacional violado, teremos que nos recorrer a esse Estatuto. No caso de estrangeiro expulso, ele pode voltar ao território nacional, desde que ele receba perdão judicial.

A. Procedimento: é exatamente igual ao procedimento da deportação, com dois detalhes: a decisão final do MJ desse processo administrativo é ratificada pelo Presidente e cabe um recurso de reconsideração no prazo de 10 dias.

ASILO POLÍTICO E REFÚGIO

I. Asilo Político:

A. Territorial: quando a pessoa perseguida sai do Estado onde está sofrendo a perseguição e entra no Estado no qual vai pedir asilo político.

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B. Diplomático: quando a pessoa perseguida encontra-se dentro da embaixada do país no qual ela quer ser asilada política. É um meio para se atingir um fim, que é o asilo territorial. Não sai dos limites geográficos do Estado onde está ocorrendo a perseguição e vai se adentrar em um membro diplomático {embaixada, porque é uma questão de Estado}. Para sair do asilo diplomático e chegar no asilo territorial, há de ser requerido o salvo conduto {o Estado que concedeu o asilo político requererá ao Estado perseguidor}.

II. Refúgio:

A. Ambiental: por enquanto não é reconhecido nem pela Europa, nem pela Africa, nem pelo Brasil nem pelo ACNUR, mas é reconhecido pela Oceania.

B. Processo administrativo: na pendência do processo de refúgio:

1. A pessoa solicitante do refúgio pode receber uma CTPS, assim como um CPF; 2. A pessoa solicitante não poderá ser extraditada; 3. Extensão aos seus familiares.

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ASILO POLÍTICO REFÚGIO

MOTIVOPERSEGUIÇÃO

-Política - Ideológica

PERSEGUIÇÃO -Raça -Etnia

-Linguistica -Regiliosa -Cultura -Penúria

ORIGEM DIREITO COSTUMEIRO NA AMÉRICA LATINA

CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

BRASIL PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL art. 4º CF Lei 9474/97

POSTURA DO ESTADO

DISCRICIONÁRIO {medida política}

VINCULADO {tem que conceder por causa do regime do Sistema Universal}

PROCESSO NO BRASIL

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA +

PRESIDENTE DA REPÚBLICACONARE

PRAZO DO BENEFÍCIO RENOVÁVEL DE 2 EM 2 ANOS PRAZO INDETERMINADO