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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA NATHALIA CAROLINE LOPES FERREIRA SANTANDER PRINCIPAIS ANTICORPOS IRREGULARES EM POLITRANSFUNDIDOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA Natal -RN Junho/2019

NATHALIA CAROLINE LOPES FERREIRA SANTANDER PRINCIPAIS … · 2019. 7. 21. · desenvolverem reações transfusionais hemolíticas, agudas ou tardias, advindas da presença de aloanticorpos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

NATHALIA CAROLINE LOPES FERREIRA SANTANDER

PRINCIPAIS ANTICORPOS IRREGULARES EM POLITRANSFUNDIDOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Natal -RN

Junho/2019

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PRINCIPAIS ANTICORPOS IRREGULARES EM POLITRANSFUNDIDOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

por

Nathalia Caroline Lopes Ferreira Santander

Orientador: Prof° Msc Christiane Medeiros Bezerra

Natal

Junho/2019

Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

A Monografia “Principais Anticorpos Irregulares em Politransfundidos: Uma revisão de literatura”

elaborada por Nathalia Caroline Lopes Ferreira Santander

e aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à obtenção do título de

BACHAREL EM BIOMEDICINA

Natal, 03 de Junho de 2019

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Msc. Christiane Medeiros Bezerra (Orientador)

Departamento de Microbiologia e Parasitologia - UFRN

_________________________________________

Msc. Maria Cecília Farias dos Santos

Bióloga do Núcleo de Hematologia e Hemoterapia

_________________________________________

Prof. Dr. Thales Allyrio Araújo de Medeiros Fernandes

Departamento de Ciências Biomédicas - UERN

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à minha mãe que me apoia em absolutamente

todos os meus sonhos e que não mede esforços para me ajudar a concretizá-los.

Agradeço aos meus avós, Severino (in memorian) e Isabel por terem me

proporcionado uma educação de qualidade e acesso ilimitado ao saber. Agradeço

também ao meu irmão, companheiro de vida, que não tem ideia do quanto me ensina

no dia-a-dia.

Ao meu noivo Diogo, por estar ao meu lado em absolutamente todos os

momentos, ouvindo e apoiando meus anseios e acalmando pacientemente minhas

ansiedades. Obrigada por sonhar junto comigo.

Agradeço aos meus melhores amigos da vida: Leticia, Paula, Jamille, Raul e

Ingrid que estiveram comigo desde sempre. Obrigada por esses mais de 15 anos de

amizade, obrigada serem meu porto seguro.

Agradeço também às minhas amigas de graduação: Alexa, Graziele e Nadine,

juntas desde (quase) o começo compartilhando tantos momentos de estudos para

provas, seminários, trabalhos, projetos de extensão, apresentações, monitorias,

estágios. Eu definitivamente não teria conseguido chegar até aqui sem a ajuda e apoio

de vocês, obrigada pelo companheirismo e sororidade.

Agradeço também à minha orientadora Christiane pelos conselhos e paciência

não somente durante a elaboração deste trabalho mas desde as disciplinas de

Hemato e Imuno-hemato, passando pela monitoria e projetos de extensão. Obrigada

por me abrir as portas da hematologia.

Obrigada também a todos os docentes que fizeram parte da minha formação

acadêmica. E por fim, agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e aos

que fazem parte dessa instituição e lutam para que o ensino superior continue sendo

gratuito e de qualidade, resistimos.

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RESUMO

Os anticorpos anti-eritrocitários são produzidos contra epítopos presentes nas superfícies das hemácias e são classificados como irregulares, quando aparecem no plasma após sensibilização por gestação ou transfusão incompatíveis, também ditos

aloanticorpos, e como regulares, quando a sua presença não requer exposição prévia ao antígeno eritrocitário, como acontece com os anticorpos naturais do sistema ABO. A transfusão de sangue é uma medida terapêutica bastante utilizada na prática clínica, em especial nos pacientes com doença falciforme, talassemias, leucemias, dentre outras doenças hematológicas e visa melhorar a qualidade de vida dos indivíduos que dela necessitam, reduzindo a morbidade e mortalidade dessas doenças. Entretanto, assim como outras intervenções terapêuticas, pode levar a complicações como reações hemolíticas, aloimunização, risco de transmissão de agentes infecciosos, dentre outras. Nesse contexto, os pacientes que recebem hemocomponentes com frequência, também chamados politransfundidos, estão mais susceptíveis a desenvolverem reações transfusionais hemolíticas, agudas ou tardias, advindas da presença de aloanticorpos. Para a medicina transfusional os sistemas de grupos sanguíneos mais relevantes são: ABO, Rh, Kell, Duffy, Kidd, Lewis, MNS e Diego e a pesquisa e identificação de anticorpos irregulares visa garantir a segurança dos procedimentos hemoterápicos e reduzir o percentual das aloimunizações, além da possibilidade de identificar fenótipos raros. Todavia, a dificuldade nos estudos da área se baseia na quantidade de antígenos eritrocitários, que atualmente ultrapassam 300, na sua diversidade estrutural e principalmente pelo fato da aloimunização ser de caráter multifatorial, influenciada por fatores genéticos e ambientais.

PALAVRAS CHAVE: transfusão de sangue, aloanticorpos, reação transfusional

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ABSTRACT

Anti-erythrocyte antibodies are produced against epitopes present on the surfaces of red blood cells and are classified as unexpected when they appear after when they appear in plasma after incompatible gestation or transfusion, also known as alloantibodies. They are classified as regular, when their presence does not require previous exposure to the erythrocyte antigen, as with the natural antibodies of the ABO system. Blood transfusion is used as a therapeutic measure in clinical practice, especially in patients with sickle cell disease, thalassemias, leukemias and others hematological illness with the purpose of improving the quality of life of the individuals who need it, reducing the morbidity and mortality of these diseases. However, as with other therapeutic interventions, it can lead to complications such as hemolytic reactions, alloimmunization, risk of transmission of infectious agents, among others. In this context, patients receiving frequent blood transfusions, also called polytransfused, are more likely to develop acute or late hemolytic transfusion reactions from the presence of alloantibodies. For transfusion medicine the most relevant blood group systems are ABO, Rh, Kell, Duffy, Kidd, Lewis, MNS and Diego and the search for and identification of irregular antibodies is aimed at ensuring the safety of hemotherapy procedures and reducing the percentage of alloimmunizations, besides the possibility of identifying rare phenotypes. However, the difficulty studies in the area is based on the number of erythrocyte antigens, which currently exceed 300, in their structural diversity and mainly because the alloimmunization is multifactorial., influenced by genetic and environmental factors.

KEY WORDS: blood transfusion, alloantibodies, transfusion reaction.

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LISTA DE ABREVIATURAS

Ac Anticorpo

Ag Antígeno

AGH Anti-globulina humana

AHAI Anemia hemolítica autoimune

DHFRN Doença hemolítica do feto e do recém-nascido

GPA Glicoforina A

IgG Imunoglobulina G

IgM Imunoglobulina M

ISBT Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (International Society of Blood Transfusion)

LISS Solução de baixa força iônica

MNSGP MN-sialoglicoproteina

PAI Pesquisa de Anticorpos Irregulares

SNP Polimorfismos de Nucleotídeo Único

SUS Sistema Único de Saúde

TAI Teste da Antiglobulina Indireta

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Principais sistemas de grupos sanguíneos ................................................21

Tabela 2 Principais aloanticorpos encontrados em indivíduos politransfundidos ....................................................................................................................................33

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Natureza constitutiva de alguns antígenos eritrocitários ...........................16

Figura 2: Ano de descoberta dos antígenos dos primeiros 30 sistemas de grupos sanguíneos e natureza constitutiva dos mesmos .....................................................17

Figura 3: Representação de alguns antígenos eritrocitários de acordo com suas funções ......................................................................................................................18

Figura 4: Cariótipo masculino humano, mostrando a localização cromossômica do

grupo sanguíneo e genes associados........................................................................19

Figura 5: Fenotipagem ABO provas direta e reversa.................................................23

Figura 6: Modelo esquemático de potenciais gatilhos para aloimunização eritrocitária..................................................................................................................35

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ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................vii

LISTA DE TABELAS...................................................................................................viii

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................ix

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15

2.1 GERAL ............................................................................................................ 15

2.2 ESPECÍFICOS ................................................................................................. 15

3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 16

3.1 TIPO DE ESTUDO .......................................................................................... 16

3.2 OBTENÇÃO DOS DADOS .............................................................................. 16

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 17

4.1 ANTÍGENOS ERITROCITÁRIOS X BREVE HISTÓRICO ............................... 17

4.1.1 Antígenos de alta e baixa frequência. ....................................................... 19

4.2 SISTEMAS DE GRUPOS SANGUÍNEOS ....................................................... 20

4.2.1 Sistema ABO (ISBT 001) ........................................................................... 22

4.2.2 Sistema MNS (ISBT 002) .......................................................................... 24

4.2.3 Sistema Rh (ISBT 004) .............................................................................. 25

4.2.4 Sistema Kell (ISBT006) ............................................................................. 26

4.2.5 Sistema Lewis (ISBT 007) ......................................................................... 27

4.2.6 Sistema Duffy (ISBT 008) .......................................................................... 28

4.2.7 Sistema Kidd (ISBT 009) ........................................................................... 29

4.2.8 Sistema Diego (ISBT 010) ......................................................................... 31

4.3 IMPORTÂNCIA DA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA PARA PACIENTES HEMATOLÓGICOS

............................................................................................................................... 31

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4.4 SEGURANÇA TRANSFUSIONAL E A IDENTIFICAÇÃO DE ANTICORPOS

IRREGULARES ..................................................................................................... 32

4.4.1 Identificação de Anticorpos Irregulares ..................................................... 37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 41

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1 INTRODUÇÃO

Anticorpos (Ac) são proteínas plasmáticas que estimulam a imunidade humoral

após se ligarem aos antígenos (ABBAS et al., 2015). Os anticorpos anti-eritrocitários

são produzidos contra epítopos presentes nas superfícies das hemácias (CASTILHO,

2015) e podem ser classificados como regulares e irregulares. Os Ac regulares, são

também chamados de naturais, por não precisarem de uma exposição prévia ao

antígeno para serem formados e, por essa razão, já são esperados que estejam

presentes no plasma do indivíduo, como é o caso dos anticorpos do sistema ABO

(GIRELLO, KHUN, 2016). Os irregulares, são assim chamados por aparecerem após

uma prévia exposição do indivíduo a antígenos não-próprios normalmente

introduzidos através de transfusão sanguínea ou gestação (DANIELS, 2013).

No início do século XX, os grupos sanguíneos A, B e O foram descritos pelo

cientista austríaco Karl Landsteiner e em 1902, Decastello e Sturli descreveram o

grupo AB. Tal descoberta foi considerada um dos avanços mais importantes nas

pesquisas da área médica e desde então, foram descritos mais de 250 antígenos

eritrocitários, organizados em sistemas, séries e coleções (MARTINS et al., 2008).

Os antígenos eritrocitários são determinados ou por estruturas de carboidratos

ou por estruturas protéicas as quais exercem funções variadas de adesão, transporte

e de estrutura. No entanto, somente alguns desses antígenos são específicos das

hemácias (Rh, LandsteinerWiener, Kell e MNSs), a grande maioria está também

presente em células de outros tecidos do corpo humano (BAIN et al., 2017).

A importância clínica principal de um antígeno eritrocitário - e por consequência,

de um sistema de grupo sanguíneo - depende de sua imunogenicidade, ou seja,

capacidade de estimular a produção de anticorpos e esses causarem a destruição de

hemácias transfundidas ou de conseguirem atravessar a barreira placentária e originar

a doença hemolítica peri-natal (DHFRN) (BAIN et al., 2017).

Com origem no artigo 227 da Portaria 158/2016 que redefine o regulamento

técnico de procedimentos hemoterápicos no país, a Portaria de Consolidação das

normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde Nº 5,

publicada em 28 de setembro de 2017, determina a realização da pesquisa de

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anticorpos anti-eritrocitárioss irregulares em doadores e receptores de sangue, bem

como recomenda a utilização de métodos que confirmem a presença de anticorpos

clinicamente significativos (BRASIL, 2017). Com objetivo de auxiliar na identificação

de possíveis anticorpos irregulares, é recomendada a fenotipagem de antígenos

eritrocitários no sangue do receptor dos sistemas Rh (E, e, C, c), Kell (K), Duffy (Fya,

Fyb), Kidd (Jka, Jkb) e MNS (S, s), para pacientes aloimunizados ou aqueles que

estão ou poderão ingressar em esquema de múltiplas transfusões (BRASIL, 2017).

Durante o estágio supervisionado no Hemocentro Dalton Cunha – Hemonorte,

foi possível perceber a importância da realização de testes que garantam que o

processo de transfusão sanguínea seja seguro. Dentre esses testes estão a prova de

compatibilidade, o teste da antiglobulina humana (AGH), a pesquisa de anticorpos

irregulares (PAI) e a identificação de antígenos (fenotipagem eritrocitária), que

diminuem as chances de incompatibilidade entre os componentes sanguíneos que

irão ser transfundidos e o receptor. A quantidade de pacientes politransfundidos

dentro do estado do Rio Grande do Norte que utilizam os serviços do Hemonorte e

que necessitam de hemocomponentes fenotipados, bem como a experiência dentro

do setor de imunohematologia deste hemocentro motivaram a revisão bibliográfica

que será abordada neste Trabalho de Conclusão de Curso.

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2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão da literatura através de

bases de dados científicas sobre os principais anticorpos irregulares encontrados em

pacientes politransfundidos.

2.2 ESPECÍFICOS

Fazer um breve histórico dos sistemas de grupos sanguíneos e correlacionar

com o histórico da transfusão de sangue;

Comentar sobre os antígenos de baixa frequência;

Conceituar anticorpos irregulares;

Comentar a importância clínica da presença dos anticorpos anti-eritrocitários;

Abordar a transfusão de sangue como medida terapêutica para pacientes com

doenças hemolíticas

Correlacionar a importância da identificação dos anticorpos e segurança

transfusional;

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 TIPO DE ESTUDO

Este trabalho baseou-se em revisão de literatura científica acerca dos principais

anticorpos irregulares encontrados em pacientes politransfundidos.

3.2 OBTENÇÃO DOS DADOS

Foram realizadas pesquisas nas bases de dados científicas: Pubmed, Google

acadêmico e Scientific Electronic Library Online (Scielo), entre os meses de fevereiro

e maio de 2019, fazendo a utilização de palavras-chave em português e em inglês.

Na busca em português foram utilizados termos como: determinação de

anticorpos irregulares, politransfundidos, reação transfusional. As palavras-chave

mais utilizadas para a pesquisa em inglês foram: Unexpected AND antibodies,

erythrocyte AND alloimmunization, red AND blood AND cell AND alloimmunization,

hemolytic AND transfusion AND reactions.

Para o levantamento bibliográfico foram selecionadas as publicações

realizadas entre 2008 e 2019 priorizando as mais recentes com intuito de manter as

informações mais atualizadas. Além disso, foram utilizados livros de referência na

área de imunologia, hematologia e imunohematologia cujos conteúdos foram

correlacionados com as informações mais relevantes dos artigos, além de consultas

ao site do International Society of Blood Transfusion (ISBT) e às Portarias de

Consolidação que regulamentam os procedimentos hematológicos e as ações e

serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).

Foram excluídos os artigos cujo foco principal era a identificação de anticorpos

irregulares em casos de Doença Hemolítica do Feto e do Recém-Nascido.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total foram filtrados 31 artigos em português, inglês e francês que possuíam

como abordagem principal a identificação dos anticorpos irregulares em pacientes

politransfundidos para fundamentar a revisão bibliográfica deste trabalho.

4.1 ANTÍGENOS ERITROCITÁRIOS X BREVE HISTÓRICO

Qualquer substância que o organismo reconhece como “não própria” e que

pode ser ligada a um anticorpo ou receptor de célula T é definida como antígeno

(GIRELLO, KHUN, 2016). Os antígenos eritrocitários são estruturas

macromoleculares localizados na superfície da membrana das hemácias e se dividem,

quanto a sua natureza constitutiva, em dois tipos principais: de natureza carboidrato

(glicoproteínas ou glicolipídeos) ou de natureza proteica (Figura 1) (BONIFÁCIO,

NOVARETTI, 2009).

Figura 1. Natureza constitutiva de alguns antígenos eritrocitários

(FONTE: HARMENING, 2015. Adaptado)

A descoberta dos primeiros antígenos de grupos sanguíneos no início do século

XX se deu através de experimentação, quando Landsteiner notou que as hemácias

de alguns indivíduos aglutinavam ao entrarem em contato com o plasma de outras

pessoas. Os próximos antígenos encontrados (MN, P1, LW) foram achados após

pesquisas direcionadas e a grande maioria dos demais foram descritos através da

presença de aloanticorpos em consequência de situações clínicas. Por exemplo,

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anticorpos anti-c, anti-e e anti-Fya foram achados após reações transfusionais;

enquanto anti-D, anti-K e anti-Jka foram encontrados por causarem a DHFRN (Figura

2) (DANIELS, REID, 2010).

A maioria dos grupos sanguíneos foi encontrada após a introdução do teste

indireto de antiglobulina (TAI) na prática laboratorial., descrito por Coombs e

colaboradores em 1945. Esse teste é também conhecido como pesquisa de

anticorpos irregulares (PAI) ou coombs indireto e até os dias de hoje exerce papel

fundamental na detecção da maioria dos anticorpos eritrocitários da classe IgG (Figura

2) (DANIELS, REID, 2010).

Figura 2. Ano de descoberta dos antígenos dos primeiros 30 sistemas de grupos sanguíneos e natureza constitutiva dos mesmos.

(Fonte: adaptado de DANIELS, REID, 2010).

Atualmente, já é possível determinar as funções desempenhadas pelos

antígenos eritrocitários, que podem exercer mais de uma, e que são essencialmente:

proteínas estruturais (grupo Gerbich), de transporte (Diego, Kidd e Colton),

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receptores/moléculas de adesão (Duffy e MNS), função enzimática (Kell e Dombrock),

de complemento (sistemas Chido/Rodgers e Knops), proteínas regulatórias dentre

outras (Figura 3) (ANSTEE, 2011; BAPTISTA et al., 2011).

Todavia, o grande número e a diversidade estrutural dos antígenos de grupos

sanguíneos dificultam os estudos de aloimunização eritrocitária (HENDRICKSON,

TORMEY, 2016).

Figura 3. Representação de alguns antígenos eritrocitários de acordo com suas funções.

(Fonte: BONIFÁCIO, NOVARETTI, 2009).

4.1.1 Antígenos de baixa frequência.

Antígenos de baixa frequência são aqueles que estão expressos em poucos

indivíduos, isso quer dizer que é mais facilitado o desenvolvimento de anticorpos

contra esses os antígenos. O exemplo mais comum para ilustrar essa particularidade

é através dos antígenos do sistema Kell, no qual o antígeno k é de alta frequência e o

antígeno K é de baixa frequência, dessa forma o desenvolvimento de anticorpos anti-

K é mais comum (GIRELLO, KHUN, 2011). Anticorpos para os antígenos de Kell de

baixa frequência são raros porque são poucas pessoas que são expostas a esses

antígenos. Como os eritrócitos de detecção de anticorpos de rotina não carregam

antígenos de baixa frequência, os anticorpos são detectados com mais frequência

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através de incompatibilidades inesperadas ou casos de DHFRN (HARMENING,

2015).

4.2 SISTEMAS DE GRUPOS SANGUÍNEOS

Com o avanço dos estudos moleculares nos últimos anos, a Sociedade

Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT) reconhece atualmente 36 sistemas de

grupos sanguíneos. Segundo a ISBT, para um antígeno formar um novo sistema de

grupo sanguíneo ele precisa seguir alguns critérios que são: ser definido por um

aloanticorpo humano; ser de natureza hereditária; o gene que codifica deve ter sido

identificado e sequenciado; a localização no cromossomo precisa ser conhecida; o

gene deve ser diferente, e não homólogo, de todos os outros genes já existentes que

codificam antígenos de sistemas de grupos sanguíneos (ISBT, 2019).

Figura 4. Cariótipo masculino humano, mostrando a localização cromossômica do grupo sanguíneo e genes associados

(FONTE: DANIELS, 2013)

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Os sistemas de grupos sanguíneos, em sua maioria, contêm fenótipos nulos

nos quais nenhum dos antígenos do sistema é expresso nas hemácias. Estes

fenótipos surgem frequentemente em decorrência de homozigose de mutações

inativadoras que impedem a produção de qualquer transcrição viável ou do produto

proteico. Essas mutações em genes que afetam outras proteínas são raras e

geralmente não são detectadas, a menos que sejam patogênicas. Todavia, a ausência

da proteína de superfície nas hemácias pode levar à produção de anticorpos que

podem ser identificados e a partir de então fornecerem informações sobre as funções

do grupo sanguíneo e de proteínas relacionadas (DANIELS, 2010).

A maioria dos polimorfismos do grupo sanguíneo resulta de polimorfismos de

nucleotídeo único (SNPs) que codificam as substituições de aminoácidos em um

domínio glicosiltransferase ou extracelular de uma proteína da membrana de células

vermelhas (DANIELS, 2010).

Por causa da frequência de seus antígenos na população e por sua alta

imunogenicidade, além da probabilidade de seus respectivos anticorpos ocasionarem

hemólise, para a medicina transfusional os sistemas de grupos sanguíneos mais

relevantes são: ABO, Rh, Kell, Duffy, Kidd, Lewis, MNS e Diego (MATTOS, 2005;

KOURY;TRAINA, 2018).

Tendo origem na Portaria 158/2016, a Portaria de Consolidação das normas

sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde Nº 5/2017 em seu

artigo 177 § 18 determina a realização da fenotipagem para os antígenos eritrocitários

no sangue do receptor para os sistemas Rh (E, e, C e c), Kell (K), Duffy (Fya e Fyb),

Kidd (Jka e Jkb) e MNS (S e s), para pacientes aloimunizados contra antígenos

eritrocitários, que poderão entrar em esquema de transfusão crônica, com o objetivo

de auxiliar a identificação de possíveis anticorpos anti-eritrocitárioss irregulares, assim

como de realizar transfusão fenótipo compatível, quando possível (BRASIL, 2017).

A seguir serão apresentados alguns sistemas mais importantes na medicina

transfusional, dentre os 36 atualmente existentes.

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Tabela 1 Principais sistemas de grupos sanguíneos

Numero Nome Símbolo Nome do Gene ISBT

(HGNC)

Localização no

cromossomo

Número de

antígenos

001 ABO ABO ABO (ABO) 9q34.2 4

002 MNS MNS MNS

(GYPA,GYPB,GYPE)

4q31.21 46

004 Rh RH RH (RHD, RHCE) 1p36.11 52

006 Kell KEL KEL (KEL) 7q33 32

007 Lewis LE LE (FUT3) 19p13,3 6

008 Duffy FY FY (DARC) 1q 21-q22 6

009 Kidd JK JK (SLC14A1) 18q 11-q12 3

010 Diego DI DI (SLC4A1) 17q 21.31 22

(FONTE: HARMENING, 2015 adaptado)

4.2.1 Sistema ABO (ISBT 001)

Os antígenos do sistema ABO (A, B, AB e A1) estão presentes não somente

nas membranas das hemácias como também em tecidos e fluidos orgânicos e em

outros tipos celulares como linfócitos, plaquetas e células da mucosa gástrica, por

exemplo. Por essa razão o sistema é considerado o mais importante na prática

transfusional e seus antígenos também são antígenos de histocompatibilidade

(GIRELLO, KHUN, 2011).

A estrutura bioquímica destes antígenos é composta de carboidratos que fazem

parte do glicocálice celular e possuem a função de proteção da célula. Os genes ABO

não codificam diretamente os antígenos do sistema, e sim, enzimas que adicionam

carboidratos à uma substância precursora presente nos eritrócitos. A expressão dos

antígenos é controlada por três locus gênicos separados: o ABO localizado no

cromossomo 9 e FUT1 (H) e FUT2 (Se), ambos localizados no cromossomo 19, os

quais são herdados em codominância (HARMENING, 2015).

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4.2.1.1 Anticorpos ABO

Os anticorpos ABO são ditos como naturais por estarem presentes no plasma

sem a necessidade de uma prévia sensibilização por transfusão ou gestação

incompatíveis. A teoria mais aceita e descrita na literatura é a de que os mesmos são

formados através de estímulos passivos, principalmente através da microbiota

intestinal., mas também de outros estímulos externos como poeira e alimentos, pois

os açucares presentes nas membranas destas células se assemelham aos açucares

dominantes dos antígenos A e/ou B e por essa razão, os anticorpos anti-A e/ou Anti-

B são também classificados de “regulares” já que são esperados que estejam

presentes no plasma dos indivíduos que não apresentam o antígeno correspondente

(GIRELLO, KHUN, 2011).

Pelo fato dos anticorpos do sistema ABO não serem considerados irregulares,

sempre que houver a necessidade de uma transfusão sanguínea ou um transplante

de órgão, é de extrema importância levar em consideração a prévia existência desses

anticorpos no plasma. Se feita de modo incompatível, as hemácias do doador serão

destruídas quase que imediatamente, em uma velocidade de aproximadamente 1 ml

de hemácias por minuto (SILVA, 2016; HARMENING, 2015). Dessa maneira, a reação

transfusional é muito grave ou até mesmo fatal ao paciente. A rejeição imediata do

órgão transplantado é uma possibilidade considerável quando há incompatibilidade

ABO (HARMENING, 2015).

Segundo o Artigo 176 da Portaria de Consolidação Nº 5/2017 (Com origem na

Portaria 158/2016, Artigo 177) são obrigatórios os testes pré-transfusionais que

incluem entre outros a tipagem ABO (direta e reversa) (Figura 5). A determinação

correta da tipagem ABO é fundamental para a prática transfusional (GIRELLO, KHUN,

2011).

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Figura 5 Fenotipagem ABO provas direta e reversa (FONTE: HARMENING, 2015. Adaptado.)

4.2.2 Sistema MNS (ISBT 002)

Os antígenos M e N foram descobertos em 1927 por Landesteiner e o antígeno

S só foi descrito 20 anos depois. Tem uma diversidade antigênica vasta (GIRELLO,

KHUN, 2011).

Os antígenos M e N estão associados à uma glicoproteína chamada MN-

sialoglicoproteina (MNSGP) ou glicoforina A (GPA) (VIZZONI, 2013). Se diferenciam

entre si em apenas dois aminoácidos (GIRELLO, KHUN, 2011). São detectados na 9a

semana de gestação e estão bem desenvolvidos ao nascimento (SILVA,2016). Os

antígenos U, S e s estão localizados na glicoforina; os Ags S e s se diferem numa

substituição de aminoácidos (S – metionina e s – treonina. (GIRELLO, KHUN, 2011).

Segundo Bonifácio e colaboradores, células que não expressam GPA são mais

resistentes à invasão pelo Plasmodium falciparum do que células normais

(BONIFÁCIO et al., 2009).

4.2.2.1 Anticorpos do sistema MNS

O anti-M é um anticorpo relativamente comum e em grande maioria é do tipo

IgM. São raros os exemplos reativos a 37° C e são os que podem ocasionar reações

hemolíticas transfusionais (BAIN et al.,2017). Geralmente não fixa complemento e são

raros os casos de DHFRN ocasionados pelo anti-M (GIRELLO, KHUN, 2011).

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O anti-N é incomum e não tem significado clínico. Anti-S e anti-s são geralmente

IgG; ambos têm, raramente, sido implicados em reações transfusionais hemolíticas e

DHFRN (BAIN et al., 2017).

Pacientes que possuem fenótipo S-s-U- ou S-s-U+var, quando expostos a

eritrócitos que possuem Ags U (U+), podem produzir aloanticorpo anti-U, o qual pode

ocasionar reações transfusionais graves (FARIA et al., 2012).

4.2.3 Sistema Rh (ISBT 004)

Composto por mais de 50 diferentes antígenos, o sistema Rh é o mais

polimórfico dentre todos os demais sistemas. O locus RH é composto por 2 genes

homólogos, RHD e RHCE, que codificam, respectivamente, o antígeno D e os

antígenos CE em diversas combinações (ce, cE, Ce, ou CE). Herdados como

haplótipos, o RHD e RHCE são expressos exclusivamente nos eritrócitos. A

diversidade genética do locus RH foi revelada na última década, com o RHCE tendo

80 alelos e o RHD possuindo mais de 200, os quais codificam potencialmente

antígenos variantes ou alterados devido a alterações de aminoácidos nas proteínas

Rh (CHOU et al., 2013).

Três categorias variantes de D foram distinguidas em estudos sorológicos: D

fraco, D parcial e DEL1 do tipo selvagem ou convencional. Os alelos RHD são

categorizados por mutações que levam a mudanças qualitativas e/ou quantitativas em

expressão do antígeno D (SANDLER et al., 2015). O fenótipo D fraco antigamente era

designado como Dᵘ e definiam as hemácias que aglutinavam somente em fase da

antiglobulina humana. Atualmente, é definido quando há uma reação de aglutinação

fraca ou até mesmo negativa com o soro anti-D (≤ 2+), mas aglutinando moderada ou

fortemente com a técnica de Coombs Indireto (também conhecida como pesquisa de D

fraco) (SANDLER et al., 2015; GIRELLO, KHUN, 2011). Fenótipos D parciais estão

associados a substituições de aminoácidos na proteína RhD na superfície de eritrócitos

e não possuem todos os epítopos D (SANDLER et al., 2015).

1 O fenótipo DEL é uma variação do fenótipo RhD fraco, possui baixa expressão quantitativa do antígeno.

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4.2.3.1 Anticorpos anti-Rh (anti-D)

O sistema Rh é considerado o segundo mais importante depois do ABO, em

decorrência da imunogenicidade de seus principais antígenos (D, C, c, E, e) que são

capazes de estimular a produção de anticorpos de classe IgG, que podem ultrapassar

a barreira placentária e ocasionar a DHFRN, além da ocorrência de seus anticorpos

poder ocasionar reações hemolíticas imediatas devido à destruição extravascular dos

glóbulos vermelhos, em indivíduos politransfundidos que tenham se sensibilizado

previamente (NARDOZZA et al., 2010).

4.2.4 Sistema Kell (ISBT006)

O sistema de grupo sanguíneo Kell foi o primeiro descoberto após a introdução

do teste da antiglobulina. O gene KEL está localizado no cromossomo 7q e os

polimorfismos existentes nesse sistema estão associados a mutações de ponto que

substituem aminoácidos na proteína (GIRELLO, KHUN, 2011).

É considerado o 3º sistema mais potente após ABO e Rh, pela imunogenicidade

e por seus antígenos já serem bem desenvolvidos em recém-nascidos. O antígeno K,

por exemplo, pode ser detectado em hemácias fetais em até 10 semanas e já é bem

desenvolvido ao nascimento (HARMENING, 2015).

Descrito em 1949, o antígeno k (também chamado de cellano), é o antitético de

alta prevalência para K, já tendo sido detectado em hemácias de fetos com 7 semanas

(HARMENING, 2015). Juntos, K e k eram conhecidos como antígenos Kell/Cellano,

que agora são denominados K / k ou KEL1 / KEL2. Até hoje, a referência ao antígeno

K frequentemente é confundida pelo uso do termo “Kell”, porque é também o nome do

sistema de grupo sanguíneo (DENOMME, 2015).

Um total de 36 antígenos já foram identificados (K1-K36) (ISBT, 2019), mas três

conjuntos de alelos intimamente ligados são os mais clinicamente importantes: K

(KEL1) k (KEL2); Kpa (KEL3), Kpb (KEL4) e Kpc (KEL21); e Jsa (KEL6) e Jsb (KEL7).

Esses antígenos são codificados por alelos no loci KEL no cromossomo 7, mas sua

produção também depende de genes no locus XK no cromossomo X (BAIN, 2017).

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4.2.4.1 Anticorpos do sistema Kell

O anti-K foi identificado após a ocorrência de DHFRN em 1946, na qual

constatou-se que o anticorpo presente no soro da mãe reagia com os eritrócitos de

seu recém-nascido. Após outros testes viu-se que ele também reagia em contato com

hemácias de sua filha mais velha, de seu marido e com 7% de uma população

aleatória (HARMENING, 2015). Os anticorpos do sistema Kell reagem em fase AGH

e podem ocasionar, além da DHFRN, reações hemolíticas graves agudas ou tardias

(GIRELLO, KHUN, 2011).

Assim como os demais anticorpos do sistema Kell, o anti-K é comumente IgG

e estatisticamente, é o mais frequentemente encontrado excetuando-se aqueles

pertencentes aos sistemas ABO e Rh (DANIELS, 2013). Outros anticorpos imunes

dirigidos contra antígenos de Kell são menos comuns e a presença de alguns desses

anticorpos, como anti-k, anti-Kpᵇ e anti-Jsᵇ, pode aumentar consideravelmente a

seleção de bolsas que sejam unidades antígeno-negativas para transfusão (BAIN et

al., 2017; DANIELS, 2013).

O anti-K frequentemente reage mal em soluções de baixa força iônica (LISS) e

menos moléculas de anti-K se ligam aos eritrócitos na LISS do que na solução salina

de força normal. Problemas na detecção de anti-K também foram encontrados em

sistemas automatizados (DANIELS, 2013).

4.2.5 Sistema Lewis (ISBT 007)

O sistema de grupo sanguíneo Lewis é único porque seus antígenos não são

intrínsecos aos eritrócitos, mas estão nos glicoesfingolipídeos do tipo 1 que são

adsorvidos passivamente na membrana das hemácias a partir do plasma

(HARMENING, 2015).

Para que haja a expressão fenotípica de antígenos Le, o gene Lewis (FUT3),

localizado no cromossomo 19p-13.3 e o gene homólogo secretor (FUT2) produzem

duas enzimas que agem sob a mesma substância e produzem os antígenos Leª e H;

a interação desses últimos produz a especificidade do antígeno Leᵇ. Por essa razão,

os sistemas ABO, H e LE são considerados associados (GIRELLO, KHUN, 2011).

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4.2.5.1 Anticorpos Lewis

Os anticorpos Lewis anti-Leª e anti-Leᵇ raramente podem vir a causar hemólise

in vivo. Por serem de classe IgM e em hemácias fetais e neonatais a expressão dos

antígenos ser mínima, os anticorpos também não são causadores de DHFRN (IRANI

et al., 2015).

4.2.6 Sistema Duffy (ISBT 008)

O sistema Duffy é composto por 5 antígenos: Fyᵃ, Fyᵇ, Fy3, Fy5, Fy6, estando

o gene FY localizado no cromossomo 1q (ISBT, 2019). Os antígenos Fyᵃ e Fyᵇ estão

presentes em células fetais de 6 a 7 semanas e não são exclusivos dos eritrócitos,

estando presentes também em células epiteliais, endoteliais, células de órgãos como

rins, cérebro, fígado, pâncreas e coração (GIRELLO, KHUN,2011).

Os polimorfismos do sistema Duffy são utilizados para avaliação do impacto da

seleção natural em diferentes regiões geográficas, uma vez que a mutação no gene

FY confere proteção contra infecção por Plasmodium vivax (HӦHER et al., 2018). Em

1975, Miller e seus colaboradores mostraram que a proteína do grupo sanguíneo Duffy

desempenhava um papel importante na invasão das hemácias pelo parasita da

malária P. vivax (DANIELS, REID, 2010).

Enquanto o Plasmodium falciparum usa uma série de receptores da superfície

eritrocitária para efetivar sua invasão, sabe-se que Plasmodium vivax e Plasmodium

knowlesi dependem de uma interação com o antígeno Duffy, o que significa que

hemácias que não possuem o antígeno não são invadidas por esses merozoítas, por

serem inacessíveis a eles (HӦHER et al., 2018). Dessa maneira, indivíduos com o

fenótipo conhecido como Fy (a-b-), comum na África, mas raro em outras populações,

são naturalmente resistentes à malária por P. vivax (DANIELS, REID, 2010).

O fenótipo Fy (a-b-) é resultado da homozigose que gera um SNP em um fator

de transcrição específico do eritrócito, que se liga à região promotora do gene Duffy.

O efeito dessa mutação é específico das hemácias, assim esses indivíduos com

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hemácias Fy (a-b-), possuem a glicoproteína Duffy normalmente nos demais tecidos

(HӦHER et al., 2018).

4.2.6.1 Anticorpos Duffy

Os anticorpos do sistema Duffy são geralmente IgG e são clinicamente

significantes, podendo fixar complemento (GIRELLO, KHUN, 2011). Os anticorpos

para os antígenos do sistema são bem documentados em vários estudos e relatos de

casos, sendo responsáveis por reações transfusionais imediatas e tardias bem como

DHFRN. Embora os casos de DHFRN causados por anticorpos Duffy serem

relativamente leves, as reações transfusionais causadas por esses anticorpos são

frequentemente graves (HӦHER et al., 2018).

O anticorpo anti-Fyᵃ é encontrado principalmente após transfusão e, menos

frequentemente, como resultado de gravidez incompatível; quase nunca ocorre

naturalmente. O anti-Fyᵇ é cerca de 20 vezes menos comum que o anti-Fyᵃ e

geralmente está presente no soro em combinação com outros anticorpos (HӦHER et

al., 2018).

4.2.7 Sistema Kidd (ISBT 009)

Os três antígenos do sistema (Jka, Jkb e Jk3) foram descritos entre os anos de

1951 e 1953, possuem sua expressão controlada pelo gene SLC14A1 (GIRELLO,

KHUN, 2011) o qual é herdado como característica autossômica codominante e esses

Ags são comumente encontrados nos glóbulos vermelhos da maioria dos grupos

populacionais, apresentando, contudo, frequências variadas entre as diferentes

populações (HAMILTON, 2015).

Os antígenos Jkᵃ (JK1) e Jkᵇ (JK2) são produtos de alelos e são polimórficos

em todas as populações testadas (DANIELS, 2013). A glicoproteína codificada pelo

gene possui função de transporte de ureia, que preserva a estabilidade osmótica e

deformabilidade das hemácias (GIRELLO, KHUN, 2011). O transporte de ureia

através da glicoproteína Kidd nas hemácias é feito de maneira rápida intra e extra-

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celular para prevenção da desidratação quando os eritrócitos atravessam altas

concentrações de uréia na medula renal (BONIFÁCIO, NOVARETTI, 2009).

Os antígenos do sistema Kidd não são exclusivamente eritrocitários, podem ser

encontrados em células endoteliais renais (GIRELLO, KHUN, 2011), além de já terem

sido encontrados em outros tecidos de órgãos como: cólon, , cérebro, próstata, fígado,

pâncreas, bexiga e outros. O propósito exato do transportador de ureia em células

não-eritróides e não-renais ainda continua desconhecido (HAMILTON, 2015).

4.2.7.1 Anticorpos Kidd

Anti-Jkᵃ e -Jkᵇ são bem conhecidos por sua queda rápida e significativa na

titulação para níveis tão baixos que são difíceis de serem detectados pelos métodos

sorológicos de rotina (HAMILTON, 2015). Isso ocorre devido ao que se chama de

efeito de dose que acontece principalmente nos sistemas Rh,MNS, Kidd e Duffy. A

maioria dos antígenos eritrocitários são herdados de maneira codominante (GIRELLO,

KHUN, 2011). Um indivíduo que é heterozigoto para determinado sistema, no caso do

sistema Kidd (Jka + e Jkb +), dessa maneira, ele possui dose única para ambos os

antígenos; um indivíduo homozigoto para Jkb (Jka- Jkb+) possui dose dupla de Jkb.

O efeito de dose acontece quando um anticorpo reage mais fracamente ou então não

reage com eritrócitos que apresentam dose única de um determinado antígeno. Dessa

maneira, o indivíduo com anti-Jk, por exemplo, pode apresentar PAI negativo e provas

de compatibilidade compatíveis se as hemácias testadas tiverem apenas expressão

de Jkb (hemácias Jka- Jkb+) ou tiverem dose única de Jka (Jk a+b+). Nesses casos,

a genotipagem garante a segurança transfusional e evita uma possível reação

hemolítica tardia. (CHAFFIN, 2019).

Portanto, é importante fazer um histórico prévio de anticorpos, para evitar uma

reação hemolítica pós-transfusional que pode acontecer devido a um anticorpo que

estava abaixo do nível de detecção antes da transfusão (BAIN et al., 2017).

Silva (2016) chama atenção para a associação de casos de AHAI e o

aparecimento de autoanticorpos com especificidade para Kidd (Jka, Jkb e Jk3)

relacionados ao uso de medicamentos, como a alfametildopa e a clorpropamida. Esse

anticorpo faz reação cruzada com outros três medicamentos, todos contendo um

grupo ureia: acetoexamida, tolbutamida e tolazamida (SILVA, 2016).

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4.2.8 Sistema Diego (ISBT 010)

O sistema Diego é composto por 22 antígenos, sendo antígenos de baixa ou

alta frequência. Os mais conhecidos são Diᵃ/Diᵇ e Wrᵃ/Wrᵇ. O gene SLC4A1 controla

a expressão dos antígenos (GIRELLO, KHUN, 2011) é composto por 20 exons e está

localizado no cromossomo 17q21-q22 (HARMENING, 2015).

O antígeno Di (b +) é altamente prevalente em diferentes populações, dessa

maneira o anti-Diᵃ é mais frequentemente encontrado do que o anti-Diᵇ entre gestantes

e pacientes politransfundidos (NATHLANG et al., 2016).

4.2.8.1 Anticorpos do sistema Diego

Os anticorpos do sistema Diego são geralmente IgG, e reagem no teste da

antiglobulina indireta. Tanto anticorpos anti-Diᵃ quanto o anti-Diᵇ podem causar

reações hemolíticas transfusionais quanto DHFRN (HARMENING, 2015). O anti-Diᵃ

pode ocorrer sem que haja uma prévia sensibilização, porém há relatos de sua

produção após gestação (GIRELLO,KHUN, 2011). O Anti-Wrᵃ é um anticorpo

relativamente comum em doadores e pacientes, a maioria precisa do TAI para que

seja detectado, embora sejam relatados casos de aglutinação na fase salina. O Anti-

Wrᵃ já causou reações transfusionais graves (HARMENING, 2015).

4.3 IMPORTÂNCIA DA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA PARA PACIENTES HEMATOLÓGICOS

As transfusões de concentrados de hemácias são essenciais para o tratamento

de indivíduos portadores de doenças hematológicas como talassemia, doença

falciforme e outras doenças sanguíneas graves (CHOU, LIEM, THOMPSON, 2012) e

objetivam melhorar a capacidade de transporte de oxigênio e o fluxo de sangue na

microcirculação de modo a contribuir para a prevenção de eventos vaso-oclusivos

(como por exemplo acidente vascular encefálico) bem como também prevenindo o

desenvolvimento de anemia hemolítica crônica desses pacientes (VIZZONI,

MOREIRA, 2017).

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Pacientes com esses distúrbios hematológicos, normalmente estão em

protocolo de transfusões crônicas prolongadas, fato que aumenta o risco de reações

transfusionais hemolíticas tardias, aloimunização, reações transfusionais agudas,

doenças infecciosas transmitidas por transfusão, além da possibilidade de haver a

sobrecarga de ferro induzida pela transfusão (CHOU, LIEM, THOMPSON, 2012).

4.4 SEGURANÇA TRANSFUSIONAL E A IDENTIFICAÇÃO DE ANTICORPOS IRREGULARES

Os anticorpos dos grupos sanguíneos que possuem a capacidade de iniciar a

hemólise dos glóbulos vermelhos podem causar reações transfusionais hemolíticas.

Esses eventos podem ser imediatos e intravasculares, imediatos e extravasculares,

ou tardios e extravasculares (DANIELS, REID, 2010).

Os anticorpos ABO são de classe IgM e são extremamente importantes nas

provas de compatibilidade realizadas nos hemocentros. Por possuírem estrutura

pentamérica são capazes de aglutinar as hemácias em meio salino e por essa razão

também são chamados de completos. São chamados de naturais ou regulares por já

serem esperados que estejam presentes no plasma dos indivíduos sem a

necessidade de uma prévia sensibilização (GIRELLO, KHUN, 2011). Apesar da

incompatibilidade ABO ser extremamente perigosa por causar reações hemolíticas

agudas, os anticorpos desse sistema não são o foco desse estudo justamente por não

se tratarem de anticorpos irregulares.

Os anticorpos irregulares são assim chamados porque não se espera que eles

estejam presentes no plasma do indivíduo. Eles aparecem normalmente após

transfusão sanguínea ou gestação cujos antígenos eritrocitários não-próprios são

expostos ao sistema imune (DANIELS, 2013). Por não estarem presentes nas

hemácias do paciente, os antígenos presentes nas hemácias do doador são

considerados estranhos ao organismo e essa sensibilização estimula a produção de

anticorpos direcionados contra esses antígenos (VIZZONI, MOREIRA, 2017). A

presença de anticorpos irregulares em pacientes politransfundidos dificulta a obtenção

de concentrado de hemácias compatíveis e pode acarretar em reações transfusionais

imediatas (agudas) ou tardias. Para prevenção da ocorrência de reações

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transfusionais, a fenotipagem eritrocitária em pacientes politransfundidos é de suma

importância (PINTO, BRAGA, SANTOS, 2011).

Os anticorpos irregulares encontrados com maior frequência nos estudos

direcionados são aqueles pertencentes aos sistemas Rh e Kell justamente por se

tratarem dos dois sistemas mais imunogênicos (Tabela 2). Outros anticorpos que

também aparecem nesses estudos são os dos sistemas Duffy, MNS, Lewis e Kidd

(MARTINS et al.,2008; BAPTISTA et al., 2011; ALVES et al., 2012; CHOU et al., 2013;

CAMPBELL-LEE et al., 2014). Baptista et al. (2011) chamam a atenção para a

frequência do sistema Diego possuir grandes variações no Brasil devido à

miscigenação e por isso depende da população estudada.

Segundo Hendrickson e Tormey (2016), o fato da expressão de alguns

antígenos eritrocitários não se restringir às hemácias, mas também serem expressos

em outros órgãos torna a identificação de anticorpos irregulares relevante não

somente em casos de transfusão sanguínea ou gestação, como também em casos de

transplante de órgãos. Por exemplo, já foi descrito que a presença de aloanticorpos

anti-Jk interferiram nos resultados de rins transplantados de doadores Jk-positivos.

Tabela 2 Principais aloanticorpos encontrados em indivíduos politransfundidos

Autor (es)/Ano Público Alvo

aloimunizado

Acs mais frequentes

Martins et al. (2008) 173 Politransfundidos

Uberaba/MG - BR

Anti-D (24,28%)

Anti-E (18,5%)

Anti-K (13,87%)

Baptista et al. (2011) 21 pacientes de um

Hospital Infantil

Curitiba/PR - BR

Anti-K (14,3%)

Anti-Diᵃ (9,5%)

Anti-M (9,5%)

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Cruz et al. (2011) 227 politransfundidos em

São Paulo/SP - BR

Anti-E (20%)

Anti-D (12%)

Anti-K (11%)

Helman et al. (2011) 57 pacientes com doença

falciforme em um centro

de São Paulo/SP

Anti-K (26,6%)

Anti-C (20%)

Anti-Diego (20%)

Fasano et al. (2014) 52 pacientes com anemia

falciforme de um Hospital

Infantil Washington/DC -

EUA

Anti-E (30,4%)

Anti-C (25,3%)

Anti-K (16,5%)

Datta et al. (2015) 28 pacientes talassemicos

de um Hospital em

Kolkata-Índia

Anti-c (28,57%)

Anti-E (21,42%)

Anti-Jkᵇ (7,14%)

Pessoni et al. (2018) 28 pacientes em um

hospital de Goiânia/GO-

BR

Anti-E (29,4%)

Anti-K (29,4%)

Anti-D (17,6%)

Valle-Neto et al. (2018) 24 pacientes

politransfundidos no

Hemocentro de

Uberaba/MG-BR

Anti-E (21,87%)

Anti-K (21,87%)

Anti-C (12,50%)

BR: Brasil; MG: Minas Gerais; PR: Paraná; GO: Goiás; SP: São Paulo; EUA: Estados Unidos

Dessa forma, a aloimunização acarreta implicações negativas aos receptores

politransfundidos além do aumento do risco de reação transfusional hemolítica, há

também a possibilidade de ocorrência do aparecimento de anemia hemolítica

autoimune, DHFRN e danos a tecidos transplantados (SILVA, 2016). Indivíduos que

já fizeram mais de uma transfusão sanguínea têm alta probabilidade de formar

aloanticorpos eritrocitários isolados ou em combinação, autoanticorpos, e anticorpos

contra antígenos de baixa frequência (CRUZ et al. 2011). Além desse fato, sabe-se

que o surgimento de anticorpos irregulares está relacionado também à idade do

paciente, ao número de transfusões recebidas e às diferenças antigênicas entre

pacientes e doadores (HELMAN, CANÇATO, OLIVATTO, 2011).

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Além das discrepâncias entre doador e receptor, outros fatores de risco para a

ocorrência da aloimunização estão associados aos fatores genéticos de um subgrupo

de indivíduos caracterizados como “good responders”, dessa forma fica impossível

prever como os pacientes irão reagir antes de suas primeiras transfusões (THONIER,

2019).

Outro fato que afeta diretamente a aloimunização eritrocitária é o estado

patológico dos receptores. Fasano e colaboradores (2015) apresentaram evidências

clínicas em pacientes com anemia falciforme que estavam com quadros pré-

inflamatórios no momento da transfusão, principalmente a síndrome torácica aguda,

que estes possuíam maiores chances de desenvolverem anticorpos irregulares.

Somados a esses fatores ainda existem outras variáveis que podem servir

como gatilhos para a aloimunização (Figura 6). Fatores intrínsecos aos próprios

antígenos eritrocitários são pontos chaves no desenvolvimento de aloanticorpos. Os

antígenos RhD, por exemplo, por possuírem tamanho e exposição maiores na

membrana das hemácias que os antígenos do sistema Kell e Duffy, têm maior

capacidade de desencadear anticorpos irregulares, por exemplo (HENDRICKSON,

TORMEY, 2016).

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Figura 6 Modelo esquemático de potenciais fatores como gatilhos para aloimunização eritrocitária.

(FONTE: HENDRICKSON,TORMEY, 2016. Adaptado)

O artigo 178 § 3º da Portaria de Consolidação das normas sobre as ações e os

serviços de saúde do Sistema Único de Saúde Nº 5, publicada em 28 de setembro de

2017 recomenda a identificação da especificidade do(s) anticorpo(s) quando forem

positivos os resultados da pesquisa de anticorpos anti-eritrocitários irregulares

(BRASIL, 2017).

O conhecimento das frequências fenotípicas dos antígenos de glóbulos

vermelhos em uma população é útil para criar um banco de dados de doadores e

ajudar na busca de sangue compatível com o antígeno-negativo com mais rapidez

além de prevenir a ocorrência da aloimunização (ROMPHRUK et al., 2019).

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4.4.1 Identificação de Anticorpos Irregulares

Quando um anticorpo é detectado na triagem de anticorpos, sua especificidade

deve ser determinada, e sua provável significância clínica deve ser avaliada antes que

o sangue seja selecionado para transfusão (BAIN et al., 2017). O teste de antiglobulina

indireta (TAI/Coombs Indireto) é considerado um método confiável e eficaz para

detectar anticorpos irregulares clinicamente significativos (ENKO et al., 2014).

Embora a fenotipagem seja essencial para a confirmação da presença de

aloanticorpos e também para a detecção de antígenos do grupo sanguíneo, a

fenotipagem sofre de certas limitações técnicas porque é um teste subjetivo e muitos

antígenos não estão comercialmente disponíveis (HӦHER et al., 2018).

A fenotipagem de pacientes com AHAI que foram recentemente transfundidos,

que possuem glóbulos vermelhos revestidos com IgG, podem dificultar a diferenciação

de um aloanticorpo de um autoanticorpo em pessoas que apresentam algum antígeno

positivo. Nestas situações, a genotipagem do grupo sanguíneo provou ser uma

excelente alternativa à fenotipagem (HӦHER et al., 2018).

Martins et al. (2009) corroboram com esta afirmativa ao elucidarem dois casos

de discrepâncias apresentadas na fenotipagem para o sistema Rh, os quais

apresentavam anticorpos anti-e apesar de terem sido fenotipados como e+. Através

da genotipagem somada às positividades de ambos TAD e da especificidade anti-e

na eluição das hemácias, chegou-se à conclusão de que se tratavam de

autoanticorpos.

Embora os métodos moleculares sejam considerados mais sensíveis e

específicos, é importante levar em consideração que a presença de um determinado

gene não garante sua expressão na hemácia, ou seja, pacientes com fenótipos nulos

podem ser fenotipados como positivos para um determinado antígeno (QUIRINO et

al., 2018).

Balbuena-Merle e Hendrickson (2019) sugerem que se triagens de anticorpos

fossem realizadas em pacientes politransfundidos em intervalos definidos após a

transfusão, mais aloanticorpos eritrocitários seriam detectados do que o método que

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é realizado atualmente de triagem aleatória (antes da próxima transfusão). Além disso,

Sloan (2016) evidencia a importância de se manter um histórico de anticorpos para

cada paciente, já que existe a possibilidade de anticorpos irregulares se tornarem

indetectáveis com o passar do tempo, como é o caso dos Acs do sistema Kidd. Com

esse histórico, pode-se evitar que sejam transfundidas hemácias que possuem

antígenos para os quais o paciente já tenha produzido anticorpos (SLOAN et al.,

2016).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a intenção de realizar uma revisão bibliográfica acerca dos principais

anticorpos irregulares em politransfundidos, demonstrando não somente a

importância da pesquisa da presença desses anticorpos como principalmente a

identificação dos mesmos na prática da transfusão sanguínea,os objetivos propostos

para esse trabalho foram, de maneira geral., alcançados, constatando-se que:

O breve histórico dos principais sistemas de grupos sanguíneos foi

apresentado evidenciando não somente seus antígenos como também os

anticorpos de maior importância para a medicina transfusional.

Os antígenos de baixa frequência foram abordados dando ênfase ao fato de

que por serem de baixa frequência é mais comum que sejam desenvolvidos

anticorpos contra eles.

O conceito de anticorpos irregulares foi introduzido evidenciando-se também

seu significado clínico.

A importância clínica da identificação da presença de aloanticorpos foi

abordada explicando-se que não há como prever quais pacientes irão de fato

produzir aloanticorpos e desenvolver reações hemolíticas. Desse modo, para

reduzir a ocorrência da aloimunização, preconiza-se a realização da pesquisa

de anticorpos irregulares tanto em doadores quanto em receptores de sangue.

A transfusão de sangue foi abordada evidenciando-se que pacientes com

doenças hematológicas utilizam-se dessa medida terapêutica para reduzir a

morbidade e mortalidade de suas enfermidades.

Demonstrou-se que a identificação da presença de anticorpos irregulares no

plasma de indivíduos politransfundidos é de extrema importância na prática

transfusional e o uso de hemocomponentes com fenotipagem dos sistemas Rh

(D, C, c, E, e), Kell (K), Duffy (Fya, Fyb), Kidd (Jka, Jkb) e MNS (S, s), reduz os

casos de aloimunização e de reações transfusionais hemolíticas nesses

pacientes.

Em conclusão, a aloimunização eritrocitária além de ser originada por uma série

de fatores intrínsecos tanto do doador quanto do receptor, também sofre influências

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ambientais, como por exemplo algum processo inflamatório que corrobora para maior

susceptibilidade do aparecimento de anticorpos irregulares. Por essa razão é

imprescindível que sejam realizadas provas de compatibilidade a cada unidade de

concentrado de hemácias a ser doada mesmo que já exista a compatibilidade

fenotípica. A contínua investigação dos fatores que influenciam a formação desses

aloanticorpos, assim como os fatores associados às reações transfusionais

hemolíticas agudas e tardias são necessários para aumentar e garantir a segurança

das transfusões.

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