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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS Um estudo sobre o espaço pelotense

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NEGROS, CHARQUEADAS

& OLARIAS Um estudo sobre o espaço

pelotense

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Ester J. B. Gutierrez

NEGROS, CHARQUEADAS

& OLARIAS Um estudo sobre o espaço

pelotense

2ª Edição

Pelotas Editora e Gráfica Universitária – UFPel

2001

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Obra publicada pela Universidade Federal de Pelotas

Reitora: Profa. Inguelore Scheunemann de Souza Vice-Reitor: Prof. Jorge Luiz Nedel Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Prof. Francisco Elifalete Xavier Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Leopoldo Mário Baldet Pró-Reitor de Graduação: Profa. Anne Marie Moor McCulloch Pró-Reitor Administrativo: Prof. Paulo Roberto Soares de Pinho Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Prof. Paulo Silveira Júnior Diretora da Faculdade de Arquitetura: Profa. Nirce Saffer Medvedovski

Layout e editoração eletrônica: Flávia Garcia Guidotti Capa: Ricardo Brod Méndez e Ester J. B. Gutierrez Revisoras: Alexandra Arduim, Cristina Wildte e Cristine Roseira Reeditoração dos mapas: Douglas Heidtmann Júnior

Impresso no Brasil Copyright 2001 – Ester J. B. Gutierrez Tiragem: 1.000 exemplares

Diretor: Eng. Agr. Ari Luís de Lamare Gerente Operacional: Manuel Antônio da Silva Tavares Impressão digital laser: Luiz Gonzaga de Souza Cruz e Rodrigo Marten Prestes Assessoria em Informática: Fernando Faria Corrêa Seção Gráfica - Chefe: Oscar Luís Rios Bohns - Equipe: Alexandre Farias Brião, Carlos Gilberto Costa da Silva, João Henrique

Bordin, João José Pinheiro Meireles, Leandro Schmidt Pereira, Marciano Serrat Ibeiro.

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Marlene Cravo Castillo, CRB 10/744)

Editora e Gráfica Universitária - UFPel R. Lobo da Costa, 447 - Pelotas, RS - CEP 96010-150 - Fone/FAX [0XX 53] 227.3677 e-mail: [email protected]

G983n Gutierrez, Ester J. B. Negros, charqueadas e olarias : um estudo

sobre o espaço pelotense / Ester J. B. Gutierrez. 2.ed. - Pelotas: Ed. Universitária/UFPEL, 2001.

250 p. il. , mapas 1. História-arquitetura. 2. História-Pelotas

3. Negros-história 4. Charqueadas-história 5. Olarias-história I – título.

CDD : 981.657

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Para meus pais, filhos, marido, sogra e cunhados pelo muito que lhes devo.

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SUMÁRIO

Apresentação - E O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE_____________________13

INTRODUÇÃO _____________________________________________________________15

Capítulo 1 - OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA___________________________________17

Capítulo 2 - CAMINHO DA PRAIA _____________________________________________27

Capítulo 3 - O ESPAÇO DA COMANDÂNCIA MILITAR DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO DO SUL_____________________________________________________35

Capítulo 4 - MIL SETECENTOS E CINQÜENTA __________________________________41

Capítulo 5 - ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ _______________________________47

Capítulo 6 - RAFAEL PINTO BANDEIRA________________________________________55

Capítulo 7 - SANTANA _______________________________________________________63

Capítulo 8 - SESMARIA DE PELOTAS __________________________________________71

Capítulo 9 - ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS ______________________________________________________77

Capítulo 10 - O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEDAS E OLARIAS ________________________________________________________________87

Capítulo 11 - SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL _________________________________________________________________93

Capítulo 12 - DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE ______________________________________________________________101

Capítulo 13 - AS DATAS LITORÂNEAS ________________________________________109

Capítulo 14 - COSTA ________________________________________________________117

Capítulo 15 - OS RODRIGUES BARCELLOS ____________________________________123

Capítulo 16 - ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES ___________________________129

Capítulo 17 - AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS ________________________137

Capítulo 18 - DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA __________________________________147

Capítulo 19 - PASSO DOS NEGROS ___________________________________________155

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Capítulo 20 - AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO________________ 163

Capítulo 21 - LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA ____________________________ 171

Capítulo 22 - DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO ______________________________________________________ 177

Capítulo 23 - O AMBIENTE CONSTRUÍDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX _____________________________________________________________ 185

Capítulo 24 - DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES ____________________ 193

Conclusão - O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE _______________________ 211

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 223

ÍNDICE REMISSIVO_______________________________________________________ 237

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Tratado de Tordesilhas [1494]__________________________________________18

Figura 2 – Localização: Assunção; Colônia do Sacramento; Montevidéu; Rio Grande; Laguna; São Francisco e Curitiba ________________________________________________19

Figura 3 – Bandeirantes e a preia de nativos________________________________________21

Figura 4 – Vacarias ___________________________________________________________23

Figura 5 – Caminhada de Domingos Figueira. 1703. Colônia/Laguna____________________28

Figura 6 – Rio Grande [1737]. Forte: Porto-Estreito-São Miguel. Guarnições: Chuí-Taim-Saco da Mangueira. Estâncias: Bojuru-Torotama____________________________________33

Figura 7 – Tratado e Madri [1750]. Tratado de Santo Idelfonso [1777]___________________43

Figura 8 – Rincão de Pelotas. Tomás Luís Osório [1758] _____________________________45

Figura 9 – Campos Neutrais ____________________________________________________49

Figura 10 – Cópia parcial de João Francisco Rócio, 1778. Biblioteca Nacional. Seção de Manuscrito, 5, 4, 35 __________________________________________________________53

Figura 11 – Cópia reduzida de um mapa do Serro Pelado. Acervo Profa. Helen Osório ______54

Figura 12 – Terras que formam os atuais municípios de Pelotas, Capão do Leão e Morro Redondo ___________________________________________________________________56

Figura 13 – Localização aproximada das terras que foram a Estância do Pavão de Rafael Pinto Bandeira_______________________________________________________________58

Figura 14 – Cópia parcial da carta cartográfica, 1777. Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas _____________________________________________________________________59

Figura 15 – Cópia parcial e reduzida do canal de São Gonçalo. Biblioteca Nacional, seção de mapas, 8, 4, 20 ____________________________________________________________60

Figura 16 – Localização aproximada das estâncias do Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara ____________________________________________________________________64

Figura 17 – Localização aproximada das charqueadas do Pavão e do Fragata______________65

Figura 18 – Localização aproximada das sesmarias do Monte Bonito, Pelotas e Real Feitoria do Linho Cânhamo ____________________________________________________68

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Figura 19 – Localização aproximada das estâncias Sá [patrimônio], Graça, Palma, Galatéia e Laranjal___________________________________________________________ 72

Figura 20 – Cópia parcial e ampliada de uma carta hidrográfica, Lopo Neto, Arquivo Nacional. Seção de Mapas, MVOP-CB [25]_______________________________________ 76

Figura 21 – Localização das Charqueadas da margem esquerda do arroio Pelotas e de seus respectivos passos _______________________________________________________ 78

Figura 22 – Cópia parcial das linhas de navegação entre os portos das lagoas, canais e da barra do Rio Grande. Arquivo Nacional. Seção de mapas, MVOP-CB [25] ______________ 94

Figura 23 – Mapa da situação geográfica da região do Serro Pelado ____________________ 95

Figura 24 – Mapa da estância do Monte Bonito ____________________________________ 97

Figura 25 – Mapa da divisão da estância do Monte Bonito ___________________________ 98

Figura 26 – Localização das datas de matos, arroio Quilombo, charqueadas, Passo dos Negros, cidade, tablada, logradouro público ______________________________________ 102

Figura 27 – Mapa da divisão de terras do retiro e do cotovelo. Base principal no RPTMP, do museu da BPP___________________________________________________________ 106

Figura 28 – Mapa da divisão de terras do Cascalho e da Boa Vista. Base principal no RPTMP, do Museu da BPP ___________________________________________________ 111

Figura 29 – Mapa das propriedades da família Rodrigues Barcellos, vizinhos e estradas. Base principal no RPTMP, no Museu da BPP ____________________________________ 124

Figura 30 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo, datas compradas pelo casal Luís Pereira da Silva e Maria Conceição ________________________________ 140

Figura 31 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Campo do segundo inventário. Base principal no RPTMP, do museu da BPP ____________________ 142

Figura 32 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Herdeiros de Luís Pereira da Silva. Base principal no RPTMP, do museu da BPP _______________________ 143

Figura 33 – Mapa de divisão das terras de Genova Pereira da Silva. Base principal no RPTMP, do museu da BPP ___________________________________________________ 144

Figura 34 – Cópia reduzida da planta do Passo dos Negros. Biblioteca Pública Pelotense, Museu, RPTMP, L. 93, p.147 _________________________________________________ 156

Figura 35 – Cópia parcial do mapa do Porto de S. Pedro do Sul e de parte do Rio São Gonçalo, 1854. Biblioteca Nacional. Seção de Iconografia, ARC - 8-1-39 ______________ 157

Figura 36 – Localização charqueadas e 1º loteamento. Base principal no RPTMP, do museu da BPP _____________________________________________________________ 164

Figura 37 – Cópia reduzida da primeiro loteamento de Pelotas. Biblioteca Pública Pelotense, Museu, RPTMP, L.92, p.9 ___________________________________________ 167

Figura 38 – Planta da cidade de Pelotas, 1835. Prefeitura Municipal de Pelotas. Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente ______________________________________ 169

Figura 39 – Planta da Tablada e do Logradouro Público. Base principal do RPTMP, do museu da BPP _____________________________________________________________ 173

Figura 40 – Sesmaria do Monte Bonito. Cerne do núcleo charqueador pelotense _________ 174

Figura 41 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Implantação do espaço da produção _______________________________________________________________ 195

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Figura 42 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 1 [canalete] ___195

Figura 43 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 2 [tanque]. Detalhe nº 3 [canalete] _______________________________________________________195

Figura 44 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 4 [tanque] ____196

Figura 45 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto - plantas] ___________________________________________________________________196

Figura 46 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto - cortes]. Detalhe nº 6 [canalete] _________________________________________________196

Figura 47 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto - corte] _____________________________________________________________________196

Figura 48 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Implantação geral_______198

Figura 49 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Planta baixa ___________199

Figura 50 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações leste/oeste ____200

Figura 51 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações norte/sul _____200

Figura 52 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Corte AB/CD __________201

Figura 53 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Implantação geral ____204

Figura 54 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 1º pavimento _________________________________________________________________205

Figura 55 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 2º pavimento _________________________________________________________________206

Figura 56 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação leste/corte EF _______________________________________________________________________207

Figura 57 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação norte/corte AB _______________________________________________________________________208

Figura 58 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação sul/corte CD_______________________________________________________________________209

Figura 59 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação oeste/corte GH_______________________________________________________________________210

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação de escravos da fazenda, Charqueada e Olaria do Pavão ______________ 62

Tabela 2 - Animais de diversas espécies que existiam no Continente do Rio Grande em 1787 69

Tabela 3 - Animais que povoavam as terras de Manuel Bento da Rocha, 1785 ____________ 73

Tabela 4 - Charqueadas da margem esquerda arroio Pelotas. Bens imóveis da área da produção do charque_______________________________________________________ 86

Tabela 5 - Profissões dos escravos das fazendas charqueadas _________________________ 88

Tabela 6 - Distribuição da ocupação espacial dos escravos das fazendas charqueadas ______ 88

Tabela 7 - Especialização dos cativos das estâncias charqueadas_______________________ 90

Tabela 8 - Distribuição percentual dos cativos no espaço da produção do charque _________ 91

Tabela 9 – Comparativo das listagens de donatários de datas da sesmaria do Monte Bonito__ 99

Tabela 10 - Dimensionamento dos terrenos da fábrica de Albana Rodrigues Barcellos_____ 127

Tabela 11 – Profissões dos escravos das charqueadas ______________________________ 178

Tabela 12 – Especialização dos escravos das charqueadas ___________________________ 180

Tabela 13 – População de Pelotas no ano de 1833 _________________________________ 182

Tabela 14 – População de Pelotas no ano de 1854 _________________________________ 182

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Apresentação

E O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE

A interdisciplinaridade é seguro caminho para o avanço do conhecimento. Sobretudo nas ciências sociais, esta verdade constitui um lugar-comum raramente posto em prática. A especialização das ciências, condição necessária para o avanço do conhecimento humano, encontra dificuldade em alcançar uma síntese superior que se aproxime, através da convergência de leituras essenciais, da unidade do mundo objetivo.

Pondo seus conhecimentos e sensibilidade profissionais ao serviço da investigação histórica, Ester J. B. Gutierrez, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, apresentou, como dissertação de mestrado – Negros, Charqueadas & Olarias. Um estudo sobre o espaço pelotense –, um trabalho que constitui consistente exemplo dos importantes resultados que a convergência disciplinar pode apontar à ciência. O trabalho, que tivemos o prazer de dirigir, foi desenvolvido e defendido, em 7 de maio de 1993, no Curso de Pós-Graduação em História da PUCRS. Na ocasião, a banca examinadora, composta pelos doutores arquiteto Günter Weimer [UFRGS] e arqueólogo Arno Kern [PUC], e por mim presidida, ressaltou, unânime, a excelência do trabalho e a imprescindibilidade de sua publicação. Neste sentido, não podemos deixar de parabenizar a Editora da UFPel e da Mundial pela presteza em pôr à disposição dos estudiosos o presente estudo.

Associando seu saber e sensibilidade profissionais ao método historiográfico, Ester J. B. Gutierrez contribuiu criativamente à ampliação do conhecimento histórico sobre a produção charqueadora escravista pelotense e, sobretudo, desbloqueou impasses nos quais se debatiam, infecundamente, há algum tempo, os historiadores que estudam o tema.

Ester Gutierrez trabalhou sobretudo com, mapas, plantas, medições, transmissões, inventários, registros prediais e territoriais, etc., dos séculos XVIII e XIX. Tal documentação já era conhecida e já fora visitada pelos historiadores. A especificidade profissional de Ester Gutierrez permitiu-lhe levantar, classificar, organizar, cotejar, etc., esta documentação, de tal forma, que dela surgiu a mais avançada leitura da formação histórica do núcleo charqueador pelotense, eixo fundamental da produção saladeiril gaúcha no século XIX, a mesma capacitação permitiu a autora brindar seus leitores com 40 preciso mapas integrados harmônica e necessariamente ao texto.

Apenas e leitura de Negros, Charqueadas & Olarias destacará a quantidade e a qualidade das informações e análises fornecidas. Entretanto, gostaríamos de ressaltar

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 14

algumas das importantes contribuições de trabalho para a historiografia da produção saladeiril escravista, em particular, e da escravidão colonial, em especial.

Já assinalamos que o Negro, Charqueadas & Olarias fornece a mais completa exata leitura do processo de formação histórica do núcleo saladeiril escravista pelotense. Neste sentido, contribui significativamente à melhor compreensão da história da formação da estrutura fundiária gaúcha. O detido arrolamento das charqueadas e dos charqueadores da região; a reconstituição e localização espacial do complexo saladeiril [charqueadas, tablada, logradouro público, passos, etc.] das margens do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo; a descrição da estrutura e do funcionamento interno das charqueadas, etc. Constituem importantes conquistas historiográficas e bases seguras para futuras investigações.

Negros, Charqueadas & Olarias contribuiu igualmente à elucidação de algumas importantes polêmicas sobre aspectos da produção charqueadora e escravista. Ester Gutierrez apresenta uma rica informação sobre a sociedade e a produção saladeiril: a sua alta concentração de trabalhadores escravizados; a sua elevada taxa de masculinidade; a inexistência tendencial da família escrava na atividade; a possível utilização sistemática dos planteis escravistas, na entre-safra, na produção oleira; a precocidade da introdução de alguns recursos tecnológicos, etc.

Negros, Charqueadas & Olarias constitui o trabalho de uma técnica e cientista exigente, meticulosa, precisa, inteligente. Talvez precisamente por isso, Ester Gutierrez se preocupa em jamais esconder, sob linguagem burocrática e falsamente imparcial do relatório técnico e acadêmico, o drama humano e social subjacente ao tema histórico em estudo. Em capítulos breves e num texto de leitura sempre amena, sem jamais se entregar a reflexões moralizadoras ou piegas, a autora assinala reiteradas vezes que – e como – a população e a riqueza charqueadora construíram-se sobre a destruição ininterrupta de animais e trabalhadores negros escravizados. Neste sentido, Ester Gutierrez finaliza seu brilhante estudo dando à conclusão o metafórico título “O Monte Bonito Cobriu-se de Sangue”.

Negros, Charqueadas & Olarias constitui mais do que um rito acadêmico de passagem. Constitui a prova tangível que Clio possui, entre nós, mais uma capacitada e devotada servidora.

Porto Alegre, segundo semestre de 1993

Mário Maestri∗

∗ Doutor em História pela Université Catholique de Louvain, Bélgica.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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INTRODUÇÃO

Contaremos um pouco da história do espaço que abrigou a produção escravista do charque em Pelotas. Dissertaremos sobre os acontecimentos econômico/sociais e políticos, e as conseqüentes transformações físico/espaciais ocorridas nesse lugar e no seu entorno. Com a ajuda de um tronco de cone imaginário, com várias lentes de longo alcance, que, consecutivamente, com o passar dos anos, foram aproximando o foco, passamos a detalhar uma área menor e a apresentar uma série de quadros ilustrados e descritivos.

Elaboramos mapas que sucederam-se através da diminuição da escala e do conseqüente aumento da superfície. Mostramos as modificações que o território platino sofreu com o povoamento de rebanhos de gado. Indicamos as condições materiais e os recursos naturais necessários ao desenvolvimento da pecuária, à fabricação da carne salgada e à definição de onde seriam localizados os estabelecimentos fabris. Iniciamos pelo mundo colonial dividido em duas partes, pelas coroas ibéricas, no Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, e terminamos com detalhes construtivos das edificações as áreas marginais da sesmaria do Monte Bonito.

Do maior ao menor, cronologicamente, vão sendo colocadas as imagens da região do Prata, da Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro do Sul e do distrito do Serro Pelado, até enfocarmos, particularmente, a sesmaria do Monte Bonito, local onde se situou o cerne do complexo charqueador pelotense. Continuadamente, relacionamos esses diversos territórios com a área onde se instalariam as fábricas de Pelotas. Reconstituímos as sucessivas divisões de terras, as vias terrestres e fluviais. Situamos cruzamentos, identificamos passos.

A partir de processos de concessões de terras, mapas antigos, inventários de charqueadores, medições judiciais, levantamentos fotográficos e físico/espaciais, registros de terras, aluguéis e compras e vendas, elaboramos plantas consecutivas, apresentando diversos níveis de desenvolvimento da área e traçados resultantes, desde as doações das datas litorâneas, no início do ano de 1781, até a consolidação do complexo fabril escravista, no final do século passado. A documentação trabalhada ultrapassa um pouco o ano da Abolição da Escravatura, em 1888, porque as construções dos estabelecimentos eram, na sua quase totalidade, do período em estudo. Anotamos que os registros das fontes detiveram-se mais sobre os bens móveis do que sobre os imóveis e foram mais fartos em relação aos senhores do que em relação aos escravos.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 16

A seguir, realizamos descrição dos estabelecimentos ribeirinhos e das áreas de apoio à produção saladeiril, como a Tablada e a cidade. Percorremos a periferia do Monte Bonito. Iniciamos descendo o Arroio Pelotas, seguindo os cursos das águas, indicando as benfeitorias, e, portanto, listando o programa de necessidades das fábricas de salgar e do complexo saladeiril. Falamos do povo, que ali habitava, definindo a distribuição físico/espacial dos trabalhadores cativos na área da produção e mostrando a moradia dos senhores.

As informações sobre concessões, heranças, negócios, processos e contratos matrimoniais ajudaram a desenhar o complexo charqueador, a apresentar as sucessivas divisões de terras, a dimensionar os terrenos, a zonificar os espaços, a demonstrar os fluxogramas da produção, a descrever as instalações, a indicar os equipamentos, a determinar as tipologias arquitetônicas adotadas e a expor as técnicas e os materiais de construção utilizados. A análise conjugada de todos os elementos apontou a produção dos estabelecimentos de olarias existentes nos saladeiros e a própria construção civil, como uma alternativa à mão-de-obra cativa, nos períodos da entressafra do charque.

A metodologia da pesquisa foi buscada dentro da história econômica e social, apoiando-se nos trabalhos desenvolvidos, principalmente, por historiadores como Jacob Gorender, Mário Maestri, Ciro Flamarion Cardoso e Berenice Corsetti.

Optamos por um tipo de investigação que procurou uma especificidade no modo de produção escravista colonial e na formação econômico-social luso-brasileira, em geral, e sulina em particular. Por um lado, a economia escravista sul-americana é compreendida como complementar do mercantilismo; por outro lado, a pesquisa afastou-se dos métodos tradicionais da história da arquitetura, porque o espaço estudado exigiu outros instrumentos para o alcance dos conhecimentos. Ao contrário dos espaços monumentais, da arquitetura erudita, o estudo dos locais de trabalho tem pouca tradição no pensamento acadêmico. Daí buscamos uma aliança onde os critérios de seleção e ordenação dos conteúdos foram de ordem físico/espacial e o método e as fontes usadas, fundamentalmente, históricas.

Com a metodologia empregada, hipoteticamente, reconstituímos o espaço da produção charqueadora pelotense. O ponto de vista adotado, para a observação desta área, literalmente, foi marginal, porque o lugar escolhido ficava à beira d’água, longe do conforto e dos prazeres gerados com a riqueza produzida, pelo trabalho servil, em seu interior. Diferentemente do lirismo cultural da vida urbana do conjunto charqueador, o ambiente saladeiril demonstrou as péssimas condições do ambiente construído, onde trabalhavam e tentavam sobreviver os escravos.

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Capítulo 1

OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA

O pólo charqueador escravista pelotense estava situado às margens do canal São Gonçalo e do arroio Pelotas. A implantação desse núcleo iniciou nas últimas duas décadas do século XVIII. Sua localização estava vinculada ao processo de disputa do território da bacia do rio da Prata. A contenda entre as duas potências ibéricas, fruto dos interesses mercantilistas nessa região, começou no século XV. Não se envolveram apenas Espanha e Portugal no processo de ocupação do território banhado pelo rio da Prata e seus afluentes. Entre outros, participaram ingleses, africanos, brasileiros, criollo, piratas, Papas, padres da Companhia de Jesus, charruas, guaranis, holandeses, franceses.

Acrescentem-se a esses grupos nacionais, ou não, as conveniências individuais, de categoria, de classe, étnicos, religiosos, comerciais, etc. Passaram-se 186 anos entre o tratado de Tordesilhas e a fundação da colônia portuguesa na margem direita do rio da Prata. Expedições marítimas e terrestres; levantamentos; negociações; tratados; comércio; contrabando; tráfico; captura de gado e de nativos; fundações de cidades; construções de fortes e, principalmente, luta com armas e dentes, foram configurando a posse desse território.

Em 1494, com a interferência do papa Alexandre VI, as coroas católicas de Portugal e da Espanha haviam assinado o tratado de Tordesilhas. O contrato estabeleceu uma divisão reta do pólo Norte ao pólo Sul, a qual deveria passar a 370 léguas ao poente das ilhas de Cabo Verde. Dividia-se o mundo, assim, entre as duas coroas ibéricas. Porém, o acordo não tratava da equivalência entre léguas e graus nem fixava o local do arquipélago de Cabo Verde por onde começaria a contagem.

Segundo a visão espanhola, o meridiano diplomático atravessaria as atuais cidades de Belém, à margem direita da foz do rio Amazonas, no Pará, e Laguna, em Santa Catarina. [CESAR, 1970: 47] No outro ponto de vista, a divisão recaía na outra margem do Amazonas e seguia até a Patagônia. Em ambas as maneiras de ver, o controle do Atlântico Sul e o domínio dos litorais da África e da América ficavam com Portugal. À Espanha cabia a navegação menos intensa, no oceano Pacífico. [FIG. 1]

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Figura 1 – Tratado de Tordesilhas [1494]

Nas três primeiras décadas do século XVI, os portugueses enviaram pelo menos seis expedições marítimas à região do Prata. Foram em 1501, 1503, 1506, 1513, 1521 e 1530. As espanholas, posteriores e em menor número, foram realizadas em 1520, 1525, 1526 e 1534. A primeira expedição foi comandada por André Gonçalves. Trazia o cosmógrafo Florentino Américo Vespúcio. [NOBRE, 1922: 14] Conseqüentemente, a primeira expedição marítima já tinha a finalidade de fazer levantamentos. Em 1512, o rio da Prata foi reconhecido pelos lusitanos. [NOBRE, 1922: 13] Os cartógrafos portugueses passaram a elaborar mapas do mundo que incluíam o rio da Prata dentro dos domínios coloniais lusos.

O rio Amazonas e o rio da Prata eram as únicas entradas fluviais ao continente sul-americano. [FIG. 1] O rio da Prata permitia o acesso à prata das minas de Potosi. Era o lugar onde portugueses, ingleses, comerciantes, contrabandistas de produtos

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OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA 19

manufaturados, traficantes de escravos e/ou bucaneiros rompiam o monopólio comercial espanhol. Em 1536, para se defenderem dessa situação, os espanhóis fundaram Buenos Aires, na margem direita da foz do rio da Prata. Em 1537, assentaram Assunção. [FIG. 2]

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Figura 2 – Localização: Assunção; Colônia do Sacramento; Montevidéu; Rio Grande; Laguna; São

Francisco e Curitiba.

A ocupação espanhola na região platina seguiu duas vias: “[...] a do norte, descendo da América Central pela costa do Pacífico e a outra, centrífuga, que, partindo de Buenos Aires, ascendeu pelas linhas do Paraná e Paraguai, ramificando-se pelo vale da bacia do Uruguai em várias derivações no rumo de leste.” [BARCELLOS, 1945: sp.] As entradas paulistas chocaram-se com as correntes espanholas. Em 1555, sete vacas e um touro foram confiados ao vaqueiro Gaeta que os transportou de S.

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Vicente a Assunção. [ABREU E SILVA, 1948: sp.] O acesso dos castelhanos a Buenos Aires não era fácil:

“[...] a mercadoria espanhola ou européia, que passava pela Espanha necessariamente chegava ao istmo de Panamá, a Cartagena ou ‘porto Bello’, cruzava o istmo em mula, era carregada na frota do Mar do Sul, desembarcava em ‘Calao’ [porto] para ser transportada para Lima, e de ali tomava caminho das caravanas, em lombo de mula, até chegar Buenos Aires. [...] Como resultado da intensa atividade de contrabando realizada na época, que não é exclusiva do Prata, mas sim é própria de um regime regulamentarista ao extremo como era o monopolista espanhol [...].” [WILLIAN & PONS, 1989: 93] [FIG. 2]

Domínio colonial

No período compreendido entre 1580 e 1640, houve a unificação das monarquias de Portugal e Espanha, o que apaziguou os litígios fronteiriços entre as duas nações. Mas, nesse espaço de tempo, aumentaram as investidas contra a população local.

Com vistas à penetração espanhola, os governadores platinos designaram três províncias: Ibiça, Tape e Uruguai. Ibiça corresponderia à região atual de Laguna até Viamão e seria habitada pela nação dos guainás ou ibirajaras. As províncias do Uruguai andavam juntas do sul da serra do Mar até as nascentes do rio Jacuí. [FIG. 3]

Daí, seguiam pelas cabeceiras do Uruguai-Pitã, rio Turvo até o Uruguai. A província do Tape ia do rio Jacuí à laguna dos Patos. No atual Uruguai, viviam os chanás [guenoas, chanás, mboanes, jarós, charruas e minuanos], tribos caroguaras e tabacanguaras. A província do Tape era ocupada pelas tribos dos arachanes e dos tapes. [CRUZ, 1984: 154]

No período do domínio espanhol, os holandeses ocuparam zonas açucareiras, no nordeste brasileiro e em zonas da África fornecedoras de mão-de-obra escrava. Mais tarde, o conhecimento dos aspectos técnicos e organizacionais da produção do açúcar, adquirido pelos holandeses, ajudou a implantação da indústria concorrente no Caribe. A falta de negros conduziu as bandeiras paulistas ao aprisionamento dos americanos. Iniciaram pelas aldeias mais próximas e, quando essas começaram a rarear, tomaram rumo sul, no encontro das reduções dos jesuítas. [FIG. 3]

Antes de os portugueses e espanhóis chegarem ao território definido pelos rios Paraguai, Paraná e Uruguai, o lugar era habitado pelos tupis-guaranis. Em primeiro lugar, os tupis ocuparam a região coberta de florestas tropicais da Amazônia, nordeste e centro do Brasil de hoje. Depois, os guaranis conquistaram a região dominada pelas matas subtropicais até o rio da Prata. Em pequenos grupos, lentamente, desceram os rios Paraná e Uruguai e alcançaram o estuário do Prata. Encontrando condições compatíveis com a sua cultura, expulsavam os antigos moradores. A superioridade guarani diante dos outros nativos pode ser explicada, em boa parte, pela sua condição de horticultores. [BROCHADO, 1974: 72]

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Figura 3 – Bandeirantes e a preia de nativos.

Uma outra classificação dos primeiros habitante do Rio Grande relacionou três grandes grupos. Foram eles os tupis-guaranis, os gês e os guaicurus.

“No primeiro desses grupos [Tupis-Guaranis] são incluídos os Tapes, Carijós, Caaguas, Guaianás e Arachanes; no segundo [Gês] estão reunidos os Botocudos, os Bugres, Caingangs e Coroados; constituindo o terceiro grupo [Guaicurus] os Jaros, Guenoas, Charruas e Minuanos.” [COSTA e SILVA, 1968: 13]

Segundo o critério geográfico, definiu-se uma terceira relação para os habitantes pré-colombianos:

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“Patos - na península e ao norte da lagoa que lhes tomou o nome; Charruas - em torno da lagoa Mirim até o golfão do rio da Prata; Minuanos - ao pente dos derradeiros. Tapes da lagoa dos Patos até o Uruguai; Guaicanãs - nos campos de vacaria, onde ainda aparecem às vezes.” [CESAR, 1970: 20]

Missões

Os guaranis foram objeto de escravização por parte dos bandeirantes paulistas e encomenderos espanhóis. Por um lado, reduzidos nas missões jesuítas, eram organizados e treinados para as atividades agropastoris, o que os tornou ainda mais desejados por esses grupos de poder. Por outro lado, encomenderos e bandeirantes não aceitavam que lhes tirassem do mercado em torno de 100 mil guaranis. Em 1612, pouco depois de instaladas as reduções, continuavam a organizar expedições para capturá-los e levá-los escravizados. Em 1632, mais de 60 mil foram escravizados e destruídos em São Paulo. [GUTIERREZ, 1987: 14] [FIG. 3]

Quatro anos depois, os mamelucos portugueses deram fim às reduções, localizadas na margem esquerda do rio Uruguai. Os sobreviventes migraram para as regiões dos rios Paraná e Uruguai, do outro lado do rio Uruguai. “A partir dessa data, os paulistas não mais desceram ao Rio Grande com intenções de prear índios, uma vez que, com o fim do domínio espanhol, os holandeses foram expulsos da África, restabelecendo-se a normalidade com o tráfico negreiro.” [PESAVENTO, 1980: 9]

As grandes perdas nas batalhas de Caaçapaguaçu, em 1639, e Mbororé, em 1641, e as notícias de riquezas a oeste, na atual região do Mato Grosso, também colaboraram na mudança de rumo dos bandeirantes. Enquanto isso, na margem esquerda do rio Uruguai, o gado abandonado pelos jesuítas e guaranis reproduziu-se, formando rebanhos enormes. Essas manadas deram origem a uma nova disputa entre as monarquias ibéricas. O gado definiu a vocação econômica da região platina, iniciando com um novo tipo de atividade, a preia do gado bravio, e com um novo tipo de trabalhador, sem terra e sem nação, misto de guerreiro, mercenário, e contrabandista: o gaúcho. Ele passou a ser um novo tipo de caçador na região platina.

“Para promover o crescimento célere da criação, impuseram os missionários de começo a proibição de matar as vacas e com o decorrer do tempo estabeleceram vacarias em determinados sítios [...] De sorte que, pelo espaço de cinqüenta anos, ficou o gado inteiramente livre, procriando-se e avançando paulatinamente para leste e para o sul. Expandindo-se a princípio pelos campos do vale do Jacuí e do seu principal afluente da margem direita, - Vacacaí, transporia depois o gado as coxilhas de Santana, Serrilhada e Aceguá e penetraria afinal em pleno território da atual república do Uruguai.” [ABREU E SILVA, 1848: sp.]

Os rebanhos avançaram até as margens da lagoa Mirim, chegaram a Maldonado e alcançaram o Mar del Plata. Estava formado o maior rebanho chimarrão conhecido na época. “[...] e daí a denominação de Vacaria do Mar [...]. À proporção que vão se esgotando os rebanhos, cresce ao nordeste do Rio Grande a Vacaria dos Pinhais.” [CESAR, 1970: 76]. Esta última foi formada em 1682, ainda como obra dos jesuítas, quando retornaram à margem esquerda do rio Uruguai. [FIG. 4]

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Figura 4 – Vacarias.

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Os grandes rebanhos, as vacarias, levaram à modificação do ambiente natural:

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“O diário de PERO LOPES, descrevendo, ao penetrar ele em dezembro de 1531 no rio Paraná, os campos adjacentes, aliás semelhantes aos do Uruguai e Rio Grande, assim se exprime: ‘Esta terra dos Caradins é alta ao longo do rio; e no sertão é toda chãa, coberta de feno, que cobre um homem.’ Com o decorrer, porém do tempo, o pisotear pesado dos bovinos e a estrumação contínua do solo alteraram as características físicas da região pampeana e das savanas do planalto. Passaram agora a predominar os ricos pastos, caracterizados pelo capim mimoso, o catinguero, o capim flexílha, o trevo e outras variedades de menor apreço.” [ABREU E SILVA, 1948: SP.]

A mudança de fluxo dos paulistas deu origem ao surgimento de Paranaguá, em 1648, São Francisco do Sul, em 1658, Curitiba dez anos depois e, em 1676, Laguna. “[...] é dessa povoação, de Laguna, que hão de sair, já no século XVIII, os primeiros moradores dos campos de Viamão, os criadores das estâncias sulinas, os pioneiros, enfim, da ocupação do Rio Grande de São Pedro.” [HOLANDA, 1965, T.I, v.1, L.5: 322] [FIG. 2]

A ocupação do território teve, portanto, dois caminhos. O primeiro, no litoral, foi decorrente do expansionismo colonial português. O segundo, no interior, resultou das investidas terrestres, vindas de São Paulo, interessadas, principalmente, no aprisionamento de nativos.

Colônia do Sacramento

Com a desvinculação dos dois reinos, o império português fez concessões à Inglaterra e à Holanda, o que resultou em danos no Oriente e na África; os comerciantes lusos perderam seus negócios na cidade portenha. Portugal redobrou suas atenções para com o sul da América. A presença portuguesa no rio da Prata facilitava também o acesso da Inglaterra a essa região. Era o contrabando que rompia com a política monopolista da Espanha. “[...] recolhendo a Prata de Potosi e oferecendo em troca artigos coloniais [açúcar e negros] e manufaturados ingleses.”[PESAVENTO, 1980: 10]

Era a captura dos rebanhos de gado, da banda oriental do rio Uruguai, na Vacaria do Mar. A fixação nessa área significava a recuperação parcial das vantagens perdidas na concorrência do açúcar com as colônias caribenhas. Portugal abandonava os domínios na Ásia, investia na América, ajudado pela mão-de-obra escravizada das colônias africanas. Em 1680, a fundação da Colônia do Sacramento, na frente de Buenos Aires, foi a consolidação dessas pretensões. [FIG. 2]

Antes da fundação de Sacramento, haviam sido feitas algumas investidas com o objetivo de ampliar o espaço colonial português. Em 1658, foi doada uma capitania hereditária a Salvador Correia de Sá, que ia de São Vicente ao Prata. Em 1677, a bula Romani Pontificis estipulou o mesmo rio como o limite da diocese do Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi realizada a expedição de Jorge Soares Macedo para fundar o povoado e o presídio de Sua Alteza no rio da Prata. Um naufrágio pôs a perder o empreendimento.

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OCUPAÇÃO IBÉRICA NO PRATA 25

Em 20 de setembro de 1680, dom Manuel Lobo atracou na praia. Como povoadores desembarcaram reclusos das cadeias. Instalou-se, não na ilha de São Gabriel, como anteriormente parecia decidido, mas no continente, em frente a Buenos Aires, na margem esquerda do delta do rio da Prata.[CESAR, 1970: 78] [FIG. 2] Em resposta dom José Garro, governador de Buenos Aires, fixou-se a pouca distância. Tinha um exército composto de espanhóis, criollos e guaranis missioneiros, com o objetivo de cortar as comunicações com o interior e impedir a obtenção de reses que alimentariam os portugueses. Esse cerco foi mantido de maio a agosto daquele ano, quando, antes que ocorresse algum socorro, os espanhóis atacaram e apoderaram-se de tudo, sendo os escravos vendidos em praça pública.

Um ano depois, no Tratado Provisional, de 1681, a Espanha cedeu à diplomacia lusa. A Espanha não estava refeita das lutas de três anos antes com a França. Ficou acordado que os problemas de limites seriam submetidos a uma comissão paritária de cosmógrafos. Caso não houvesse acordo, o Papa teria um ano para a decisão. A Colônia do Sacramento foi devolvida aos lusitanos com a restituição de armas e prisioneiros. Garro foi censurado pelas hostilidades cometidas.

Em contrapartida, Portugal se obrigava a não atacar as missões. Foi um acordo conveniente à coroa lusitana. Ficava com a Colônia do Sacramento e iria averiguar os excessos praticados pelos paulistas. Em 1683, Duarte Teixeira Chaves ergueu a nova colônia. Os espanhóis a sitiaram quatro vezes: em 1704-5 e 1735-37; em 1763; e, de 1772 a 1777. Ocuparam-na três vezes: de 1705 a 1715; em 1762 e 1777.[Holanda, 1965: T.I, v.1, 328] A Colônia do Sacramento foi a cidade mais meridional da América fundada pelos portugueses.

Nesses quase duzentos anos de ocupação, os lusitanos avançaram em direção ao sul em busca dos nativos, dos rebanhos e do comércio da prata em troca de seus produtos coloniais e das manufaturas inglesas. Atrás das manadas, veio a ocupação do território. Primeiro, a preia do gado xucro. Depois, o estabelecimento da povoação de animais, a estância com a doação das sesmarias de campo, a fixação da fronteira lusa. E, por fim, nas proximidades da Vacaria do Mar, a instalação dos estabelecimentos de salga das carnes.

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Capítulo 2

CAMINHO DA PRAIA

Entre a Colônia do Sacramento e Laguna, ficava uma terra ainda não explorada pelas potências ibéricas. No meio desse espaço, perto do oceano Atlântico, foi erguido, em 1737, pelos portugueses, o presídio Jesus-Maria-José, que veio dar origem à atual cidade de Rio Grande. O assentamento do presídio visava fornecer uma retaguarda militar à Colônia, fiscalizar e cobrar os impostos dos produtos que saíam de lá, fixar a povoação portuguesa. A primeira década de vida de Sacramento foi marcada por um desenfreado contrabando de tecidos, couros e, principalmente escravos, sob o envolvimento silencioso das autoridades portenhas.

“Sacramento foi um mercado distribuidor de escravos, não os fixou, em forma geral, à região; é, porém, interessante reter essa primeira introdução da mão-de-obra negra no Sul.” [MAESTRI, 1984: 43] Na década seguinte, a última do século XVII, a cidadela “passou a contar para mais de 1.000 habitantes.” A administração “promoveu a salga de carnes, criando uma verdadeira indústria e promovendo, com o maior êxito, o comércio do produto; localizou agricultores nas cercanias da praça [...].” [CESAR, 1970: 81] Quando entrou o século XVIII, a cidade e a conseqüente disputa com Buenos Aires continuavam a crescer.

“Era 1703. [...] é quando parte de Colônia Domingos Filguera, para estabelecer o roteiro que seria a ligação por terra com o Brasil, acabando com a perigosa dependência marítima ............................................................. ........................................................................................................................... percorre em quatro meses o caminho que ficou conhecido como o Caminho da Praia, da Colônia até Laguna. Faz as indicações essenciais para promover a ligação por terra e a região passaria a ser trilhada pelos tropeiros, primeiro levando o gado que alimentaria as Minas Gerais, fechando o ciclo produtivo e inserindo Colônia no processo de circulação e acumulação mundial, via Portugal, além de fixar os luso-brasileiros, primeiramente os lagunistas, nos caminhos do Sul.” [NETTO, sd.: 102]

A caminhada de Domingos Filguera foi descrita em um roteiro cheio de informações inéditas sobre os lugares que percorreu, e de sugestões aos futuros viajantes. Ao mesmo tempo em que propôs um guia gastronômico para as jornadas, deu conta da fauna da região. Da mesma forma, comunicou sobre a geografia do território e sugeriu a confecção de embarcações. Começou advertindo sobre o perigo das onças e, por isso, optando pelo caminho da praia. O itinerário atravessou a serra de Maldonado;

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 28

circundou a lagoa de Castilhos; avistou “um lago que vai costeando a costa e vai fazer barra no Rio Grande”.

Nesse lugar, construiu uma jangada para passar às águas. Sempre pela praia, cruzou o Taramandabum [Tramandaí] e o Iboipiu, com água pela cintura, o Araraga e o Ararangá [Araranguá] de jangada. Seguiu até uma lagoa e depois, andando pelos rastos de gado, avistou os morros de Santa Marta. Tomando a direção do interior, enxergou Laguna e os animais do Capitão Domingos de Brito, fundador da povoação. Definiu Castilhos como o lugar onde acabava o gado vacum e iniciava a caça abundante de porcos, cervos e veados. Observou que as margens das lagoas e do mar eram generosas em peixes e pássaros. [FIG. 5]

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CAMINHO DA PRAIA 29

Desde o início do século XVIII, tropeiros tomavam o rumo do sul em busca de gado. Alcançavam o interior do continente sul-americano atrás das mulas que abasteciam as minas de Potosi e as levavam para Minas Gerais. Essas empreitadas eram chamadas de ‘arreadas’ e não eram um trabalho individual. Normalmente, um bando agia sob as ordens de um chefe. Muitas vezes, esses tropeiros envolviam-se em brigas com os castelhanos, para aprisionar seus animais. Paralelamente a essas investidas, o império português acenava para o estabelecimento de população sedentária.

Atendendo a ordens do governador de São Paulo, o capitão-mor de Laguna, Brito Peixoto, deu a seu genro bastardo, João de Magalhães, a chefia da expedição que estabeleceu as primeiras invernadas e currais, que se localizaram no Estreito. Em 1732, Magalhães mudou-se para os campos de Viamão. Ao mesmo tempo, povoadores lagunenses e paulistas instalaram-se cerca dos rios Gravataí e dos Sinos. [FIG. 5]

Estrada do Planalto

A estrada do Planalto tinha a função de terminar de ligar a Colônia do Sacramento a São Paulo. O projeto foi de Cristóvão Pereira de Abreu. Em 1727, Francisco de Souza Faria iniciou a execução do caminho entre o Rio Grande de São Pedro e os campos gerais de Curitiba. No princípio do ano de 1728, próximo ao rio Araraguá [Araranguá], conseguiu abrir o primeiro rasgão na mata. Até esse ponto, o caminho era o da praia. Bem aí, a estrada subia a serra Geral em direção noroeste.

Em 1730, Souza Faria alcançou o planalto e os campos de Curitiba, precisamente o rio do Registro, o Iguassu. Um ano depois, Cristóvão Pereira realizou a primeira travessia com tropas de gado, verificando que a estrada não tinha segurança. A reparação do caminho levou mais de 13 meses; nesse tempo, Cristóvão Pereira construiu perto de trezentas pontes, o que permitiu que o percurso fosse feito em menos de um mês. [FORTES, 1938: 232] [FIG. 5]

Os caminhos históricos

As ligações do sul da América com o Brasil exportador significaram a entrada da região platina no contexto internacional. Por parte dos historiadores, esse envolvimento teve diferentes interpretações. Nos últimos 30 anos, destacaram-se pelo menos três tendências. A escola paulista, na década de 60, defendeu, através dos trabalhos de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, entre outros, a tese do capitalismo comercial: o Rio Grande, do período da colônia, dependente da Europa. A escola carioca, representada por historiadores como Ciro Flamarion Cardoso, Antônio de Barros Castro e o argentino Héctor Perez Brignolli, na década de 70, compreendeu o caráter complementar das economias americanas. Na década de 80, o historiador Jacob

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Gorender referiu-se textualmente à posição de Ciro Flamarion Cardoso e ao mesmo tempo definiu seu ponto de vista:

“Um passo sério e pioneiro em direção a tal problemática foi dado por Ciro Flamarion Cardoso, que ao invés da abstração de um ‘modo de produção colonial’, único e indefinido, ateve-se à proposição concreta do modo de produção escravista colonial. Por outra parte, sou da opinião que a proposição de Ciro Cardoso padece das limitações epistemológicas dos ‘modelos’, reduzindo-se a uma combinação de traços característicos. O de que se carece, a meu ver, é de uma teoria geral do escravismo colonial que proporcione a reconstrução sistemática do modo de produção como totalidade orgânica, como totalidade unificadora de categorias cujas conexões necessárias, decorrentes de determinações essenciais, sejam formuláveis em leis específicas.” [GORENDER, 1988: 8]

Na década passada, dois pesquisadores gaúchos, trabalhando sobre a economia regional, acolheram as duas últimas tendências. A dissertação de mestrado de Berenice Corsetti, intitulada Estudo da Charqueada Escravista Gaúcha no Século XIX, adotou o ponto de vista da orientação de Ciro Cardoso. A tese de doutorado de Mário Maestri Filho, O Escravo no Rio Grande do Sul. A charqueada e a gênese do escravismo gaúcho, compartilhou do mesmo ponto de vista de Jacob Gorender. Sobre a entrada do Rio Grande na economia mundial, a primeira concluiu:

“Ao findar o século XVII, um novo elemento virá somar-se ao conjunto, maximizando as potencialidades até então apresentadas pelo Rio Grande de São Pedro, ou seja, a descoberta de ouro em Minas Gerais, que se refletirá na abertura de um novo mercado para o gado gaúcho e na vinculação regional, de forma subsidiária, à economia de centro. [...] A partir de então, a história do Rio Grande do Sul - como fornecedora das regiões voltadas para o mercado internacional - vai se vincular ao mercado interno do Brasil.” [CORSETTI, 1983, 26]

O segundo autor constatou que a preia do gado xucro fazia parte do processo de produção “capitalista” e não era atividade espontânea de aventureiros românticos.

“Efetivamente, o espanhol pobre, o mestiço, o índio aculturado do meado do século XVIII, eram a principal mão-de-obra ocupada na caça ao couro, sebo e graxa. A ‘courama’ por mais heróica que possa aparecer a sua prática, não deve, porém, ser analisada como atos de aventureiros. Eram operações econômico-financeiras financiadas por ‘capitalistas’, envolvendo pedidos, licenças, impostos, acordos, e contratos. Essa atividade era regulada estritamente por lei, mas houve sempre uma violenta extração clandestina de couros.” [MAESTRI, 1984: 33]

As ligações terrestres entre São Paulo e o rio da Prata foram a base concreta para a inserção na economia mundial das atividades desenvolvidas nesta área. Entre outros fatores, o tipo de atividade predatória, a preia do gado, ao lado do regime de doações de terras, ajudaram a instalar provisoriamente as populações. Através dos tempos, manteve-se a precariedade das instalações. Guardadas as especificidades das épocas e dos lugares, a instabilidade dos alojamentos encontrou equivalências por toda a Ibero-américa. Mais de 100 anos depois, em 1801, Felix Azara, geógrafo, naturalista, historiador, oficial da marinha espanhola e chefe da comissão dos limites no Paraguai entre 1781 e 1801, observou sobre as habitações do pessoal que aqui se instalou:

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“Suas habitações se reduzem geralmente a ranchos ou choças cobertas de palha, com paredes de paus verticais fincados na terra e rejuntados com barro, sem caiação; e na maioria, sem portas nem janelas, se não quando muito, de couro. Os móveis são pelo comum um barril para água, uma guampa para bebê-la e um assador de pau. Quando muito acrescentam uma panela e um banquinho, sem toalhas, nem nada mais [...] e sua asquerosas habitações estão sempre rodeadas de montões de ossos e carne podre [...].” [AZARA, 1980: 57]

A má distribuição de terras foi denunciada, pelo menos, por três autores portugueses, que viveram o período de concessões de sesmarias no Rio Grande. Foram eles, com os respectivos textos: Francisco João Róscio, engenheiro militar e governador interino do Rio Grande de 1801 a 1803, que escreveu, em 1781, “Compêndio noticioso do Continente do Rio Grande de São Pedro”; Manuel Antônio Magalhães, que fixou residência na capitania, em fins do século XVIII, para exercer as funções de administrador do quinto e do dízimo, e ofereceu ao vice-rei do Brasil, dom Fernando José de Portugal, o texto “Almanack da vila de Porto Alegre”, publicado em 1808; e, por fim, o pecuarista, político e charqueador Antônio José Gonçalves Chaves, que escreveu, em 1817, a obra, publicada cinco anos mais tarde Memórias econômico-políticas sobre a administração pública do Brasil.

Hoje, no final do século XX, os problemas habitacionais e fundiários da Ibero-américa mantiveram as diretrizes esboçadas naqueles primeiros tempos de ocupação. A precariedade das condições habitacionais descrita por Azara continua nos tugurios da América espanhola ou nos ranchos do interior do Rio Grande. Nas áreas urbanas, essa situação multiplica-se contínua e aceleradamente.

Montevidéu

No período compreendido entre 1706 e 1715, os espanhóis viveram a Guerra da Sucessão Espanhola. Paralelamente, a Colônia do Sacramento esteve sob o domínio dos castelhanos. Através do tratado de Ultrech, de 1715, a Colônia voltou às mãos portuguesas. Com a finalidade de continuar com o monopólio no Prata, no ano seguinte, el REY de Portugal deu instruções para que se povoassem e fortificassem as regiões de Montevidéu e Maldonado. Em 1723, os espanhóis foram informados de que a coroa lusa preparava-se para fundar Montevidéu. No primeiros meses de 1724, Bruno Maurício de Zabala, governador de Buenos Aires, instalou o forte de São José. Naquele ano, os portugueses tomaram o forte e foram desalojados. Em janeiro de 1726, Zabala decretou a fundação da cidade e encarregou o engenheiro Domingo Pedrarca de delinear a sua planta. [WILLIMAN & PONS, 1989: 132] [FIG. 2 e 5]

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Rio Grande

As estradas por onde transitavam as tropas de gado poderiam servir de caminho para as tropas inimigas. A fundação de Montevidéu e a instalação das sete novas missões jesuíticas na margem sul do rio Uruguai ameaçavam a presença portuguesa nessas bandas. O brigadeiro José da Silva Pais pretendia fundar o presídio Jesus-Maria-José, expulsar os espanhóis de Montevidéu e terminar com o bloqueio à Colônia do Sacramento.

Só foi possível a fundação em fevereiro de 1737. Quando Silva Pais retornou do Prata, o contratador de couros Cristóvão Pereira de Abreu o aguardava, havia alguns meses. Nas cercanias do canal de Rio Grande, onde tinha instalado duas defesas, uma no passo da Mangueira e outra no Arroio, e reunido gado de corte e cavalos. Nessa empreitada, Cristóvão Pereira envolveu-se em lutas contra os tapes, como contou o cronista da época Simão Pereira de Sá.

“Os tapes mais escandalizados que temerosos entraram por vingança a afugentar e debandar o gado vacum, que cobria a fertilíssima campanha, [...] e com tanta fortuna que cabendo mais de cem tapes a cada português,... .......................................................................................................................... Abalizaram meia légua de terra a seu costume bárbaro para a escaramuça, e com todas as vantagens, brandindo as lanças, entraram na peleja, que não foi refutada dos nossos, por não perderem fugindo, o que haviam ganho pelejando. Depois de durar largas horas a batalha, perderam terreno e, feridos das nossa espadas, conheceram os perigos e se retiraram com tanto medo e confusão que nos deixaram com os mortos um importante despojo de cavalos, gado e bestas muares, o que tudo foi com muitos prisioneiros ao alojamento do Coronel, o qual honrou o valor com boas palavras e estimou a vitória por nos custar o excesso, e desigualdade, só sete feridos e um morto.” [PEREIRA DE SÁ, 1969: 101]

Através das incursões, os tapes eram capturados e escravizados. Trabalhavam nas diversas construções que se executavam no canal de Rio Grande e entorno. Entre 1738 e 1749, foram erguidos dois núcleos populacionais distintos, o do Porto e o do Estreito. [FIG. 6] A povoação do Porto deu origem à atual cidade de Rio Grande; nela situava-se o forte Jesus-Maria-José e algumas moradias. Aí era realizado o comércio, a fiscalização e o controle das embarcações, das mercadorias, da remessa dos quintos do couro e, na maré baixa, da passagem do gado pelo canal. Em 1739, explorado pela Fazenda Real, foi inaugurado o serviço de transporte de gado por embarcações. [QUEIROZ, 1987: 67]

A povoação de Estreito era o local onde João de Magalhães tinha se instalado, e que deu origem à cidade de São José do Norte. Nesse local, foram construídos: o forte do Estreito; a sede da Comandância Militar, com todo o seu programa de quartéis e casas de apoio e a igreja de Santa Ana. Os materiais de construção praticamente não existiam na área. Os edifícios foram executados de pau-a-pique e barro, cobertos de palha e, em casos especiais, forrados de couros. [Queiroz, 1987: 65] A instalação de Silva Pais compreendeu, ainda, no passo do arroio Chuí, no saco da Mangueira e no Taim, tropas permanentes.

No cerro de São Miguel, hoje território uruguaio, ergueu mais um forte. Naqueles primeiros anos, a alimentação restringia-se a carne e farinha. A má qualidade

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dos campos da área do canal levou à instalação das estâncias reais da Torotama e do Bojuru, com gado trazido de São Miguel. [FIG. 6] A existência de todas essas edificações garantia a posse do território até Santa Catarina, dava acesso ao sistema hidrográfico da laguna dos Patos, permitia o acesso aos rebanhos platinos, formava uma retaguarda à Colônia do Sacramento, ajudava no controle e fiscalização dos impostos, mercadorias, gado e ocupava efetivamente a terra. Essa posse foi o que mais pesou nas questões de limites entre as duas potências ibéricas.

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Figura 6 – Rio Grande [1737]. Forte: Porto-Estreito-São Miguel. Guarnições: Chuí-Taim-Saco da

Mangueira. Estâncias: Bojuru-Torotama.

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Capítulo 3

O ESPAÇO DA COMANDÂNCIA MILITAR DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO DO SUL

Nas décadas de 30 e 40 do setecentos, iniciaram os processos de doações de terras e a instalação da Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro; surgiram as primeiras notícias sobre estabelecimentos de salga de carnes. A soldadesca assentou-se na planície costeira, ocupando uma faixa comprida, estreita, plana, baixa, descampada, limitada e interceptada por águas. A leste, situava-se a praia, batida pelas ondas do Atlântico; a oeste, a laguna dos Patos, seguida pelas lagoas Mirim e Mangueira. Em cada uma das margens, existiam paisagens semelhantes, varridas pelos ventos carregados de areias. A costa oceânica, retilínea, não possuía reentrâncias, como enseadas, baías etc., que permitissem a ancoragem. Era formada de feixes de restinga, campos de dunas movediças e depósitos de areias claras, quartosas, finas e muito finas.

Tanto a paisagem lacustre como a marítima apresentavam coberturas eólicas, que se deslocavam ao sabor dos ventos. A orla das lagoas era formada de dunas e depósitos de areias finas e médias, quartosas, selecionadas, arredondadas ou síltico-argilosas, de cor creme. Ao contrário da costa marítima, as margens da laguna e das lagoas abriam-se em várias enseadas, pontas, etc. Muitas vezes, nessa nesga de terra, o terreno arenoso era recoberto de pastagens, com alguns bosques nativos, chamados capões. Ao longo do terreno, que quase sempre estava na altura do mar, afloravam uma série de banhados, lagoas e sangas.

Naqueles anos, o espaço ocupado militarmente estendia-se de Castela, cerro de São Miguel, no limite sul, até a guarda do arroio Tramandaí, no norte. Os fortes de São Miguel, Porto e Estreito, as guardas do Chuí, Taim, Albardão, Passo Novo, Arroio, saco da Mangueira, Viamão e Tramandaí e as estâncias de Bojuru e Torotama constituíam a defesa, o controle, a fiscalização e a posse do território. A implantação do porto no canal do Rio Grande permitia o acesso ao território banhado pelo regime das lagoas. Todo esse complexo de vigilância sucessiva estava ligado administrativamente ao Rio de Janeiro. [FIG. 6]

Provavelmente, militares e povoadores não se restringiam aos espaços ocupados pela administração colonial, nem por certo seria esta a intenção do poder central. É possível que o lugar onde se situou o pólo salgador pelotense, perto do canal do Porto do Rio Grande, precisamente no canal São Gonçalo, entre os arroios Santa Bárbara e Pelotas, tenha sido ocupado primeiramente por Luís Gonçalves Viana. Ele era proveniente da Colônia do Sacramento, membro do grupo dos primeiros povoadores,

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chefiado por João de Magalhães e administrador da fazenda do Bojuru. [FORTES, 1932: 8]

“Foi Luís Gonçalves Viana administrador da estância de Bojuru e é de se presumir que, tendo as suas percentagens sobre as criações dessa estância atingido a um número elevado, ele escolhesse o rincão de Pelotas para se instalar, definitivamente, povoando-o com suas criações.” [OSÓRIO, 1937: 59]

O povoamento das terras do rincão de Pelotas, lugar onde se localizaria o maior centro charqueador sulino da Colônia e do Império, iniciou logo após o estabelecimento da Comandância Militar do Rio Grande. É possível que, junto ao povoamento dos animais, Luís Gonçalves Viana tenha transferido também casais açorianos e refugiados da Colônia do Sacramento, anteriormente colocados na fazenda real do Bojuru, enquanto aguardavam a demarcação das terras.

Primeiras Sesmarias

Em 1732, antes da instalação da Comandância Militar do Rio Grande, as primeiras solicitações de terras começaram a ser feitas por tropeiros. No caminho entre o Prata e São Paulo, existiam áreas de pastagens para o gado. Eram lugares que permitiam o confinamento dos rebanhos por barreiras naturais, como matos, valos, serros, etc. Esses lugares foram sendo ocupados pelas pessoas que por ali viajavam, transportando animais: nessas paragens, homens e, principalmente, rebanhos se restabeleciam para seguir a jornada.

“Assim apareceram na documentação histórica referente a este período, a tapera do Magalhães, o rincão do Cristóvão Pereira, a estância de Souza Faria, o sítio do Paulista, o curral do frei Sebastião e outras designações atestando o solo no período das invernadas.” [FORTES, 1934: 78]

Paulatinamente, o solo rio-grandense foi sendo povoado por essa gente. Muitos lugares foram recebendo os nomes dos antigos tropeiros, invernadeiros, posseiros e, por fim, estancieiros. São exemplos disso a lagoa dos Barros, de Manuel Pereira Barros; o balneário Quintão; de João da Costa Quintão; a ponta do Dionísio, de Dionísio Rodrigues Mendes, etc.

Em 1732, o capitão-mor de Laguna, Francisco de Brito Peixoto, requereu sesmaria que ia do rio Tramandaí até o Rio Grande, mas, apenas em 1734, seus herdeiros receberam terras em Viamão. Também, em 1732, tinham sido doadas as primeiras sesmarias, na zona do Tramandaí, a Manuel Gonçalves Ribeiro e Francisco Xavier Ribeiro. No mesmo ano, o governador de São Paulo doou terras que abrangiam os arredores de Viamão, as margens do rio Guaíba, em Porto Alegre, Itapuã, Rio dos Sinos e Gravataí. Francisco Pinto Bandeira, pai de Rafael Pinto Bandeira, foi agraciado com duas sesmarias naquela zona. [OSÓRIO, 1990: 72]

Os soldados que desembarcaram no Rio Grande não receberam sesmarias. Grande parte dos sesmeiros eram oficiais superiores e pessoas que serviam à Coroa. Prioritariamente, vinham da Colônia do Sacramento e do Rio de Janeiro. Os tropeiros

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que passaram a estancieiros tinham títulos militares das Companhias de Ordenanças. Estas eram unidades auxiliares, permanentes, formadas e mantidas por homens ricos da terra, que não recebiam soldo, mas gozavam das regalias dos seus postos. [QUEIROZ, 1987: 75]

Fizeram parte dessa gente, por exemplo, o capitão João de Magalhães, genro do capitão-mor de Laguna, Brito Peixoto, com terras em Viamão, invernada nos campos de Tramandaí e fazenda, desde 1729, em Garopaba, em Santa Catarina. [FORTES, 1934: 83] Igualmente, o sargento-mor Francisco de Souza Faria, “o abridor do caminho para a cidade de São Paulo”, no rincão da Torotama, e o coronel Cristóvão Pereira de Abreu, que dizia ter chegado, em 1736, “com várias ordens de serviço de S. Majestade”. etc. [RÜDIGER, 1965: 17]

Pereira de Abreu ganhou terras na Serra de Viamão, entre os rios Tainhas e Camisas, na bacia do rio das Antas, perto do rio Araranguá, onde saiu, no planalto, a estrada idealizada pelo próprio Cristóvão Pereira e executada por Souza Faria. [FORTES, 1938: 240] O Rio Grande de São Pedro do Sul começava a ser repartido entre os oficiais das forças militares da Coroa lusitana e os chefes que armavam seus bandos às próprias custas.

Nesse momento, as terras da planície costeira foram ocupadas pelas forças militares do poder colonial. As terras por onde passava a estrada do planalto vieram a ser doadas, pelo governo de São Paulo, àqueles tropeiros que, em grupos, munidos de armas para enfrentar os nativos e os espanhóis, abriam caminhos e encontravam pastagens entre o Prata, São Paulo e Minas Gerais, aprisionando, roubando, transportando e comercializando animais.

Em 1738, já existia o registro das terras, simultaneamente ao registro da marca dos animais, porque a ação fiscal da Coroa recaía sobre a produção, gado e couros, e não sobre a terra, que era gratuita. Nesse mesmo ano, com a preocupação de preservar os rebanhos da Vacaria do Mar, André Ribeiro Coutinho, sucessor de Silva Pais na Comandância Militar de Rio Grande, tinha proibido a faina de couros naquele lugar. Um ano depois, deu instrução para que todo o gado fosse marcado. Nessa ocasião, a apropriação do gado prevalecia sobre a da terra.

A posse da terra foi uma questão de disciplina e de cobrança de impostos. “Ao mesmo tempo, é o interesse na apropriação dos rebanhos que determina o surgimento das primeiras estâncias e o início da construção desse novo espaço.” [OSÓRIO, 1990: 81] Diferentemente do resto do Brasil, as terras concedidas no Rio Grande não iam para os homens de posses, e sim para aqueles que, além de tudo, tinham liderança militar.

Segundo recenseamento realizado em 1741, existiam onze estâncias do Chuí à margem sul do canal.

“Seus proprietários eram povoadores do Rio e da Colônia, um oficial de carreira [ajudante João Gomes de Melo], um povoador de naturalidade espanhola [Francisco de Seixas] e outros procedentes da América espanhola [Miguel Moreira]. Na parte do norte as propriedades que estão voltadas para a Freguesia do Rio Grande, em 1741, são as de Manuel da Silva Vargas, o povoador procedente de Laguna, João da Silva de Souza, povoador precedente do Rio de Janeiro, e Cosme da Silveira.” [QUEIROZ, 1987: 76]

Naquele ano, foram arroladas 31 fazendas na parte norte, do Estreito a Viamão. Somando-se com as onze do sul, totalizavam 42. [OSÓRIO, 1990: 81] O processo de doação de sesmarias, nesse espaço, continuou até a metade do século XVIII, quando a

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expedição de demarcação dos limites, segundo o tratado de Madrid, ampliou as áreas de concessões rumo ao rio Jacuí, em sentido oeste.

Começando a salgar a carne

A abertura da estrada do Planalto permitiu a descoberta de imensos rebanhos na chapada catarinense e acelerou o ritmo do comércio dos animais de carga com os espanhóis. Interessado na introdução de muares na capitania de São Paulo, com o objetivo de transportá-los para Minas Gerais, Rodrigo César de Menezes, governador dos paulistas, fez ao capitão-mor de Laguna uma série de sugestões sobre o relacionamento com espanhóis e nativos:

“Também poderão ir à ilha de Santa Catarina comerciar com aqueles moradores levando os seus gados pelos campos daqueles distritos, porque assim se poderão fazer nas campanhas muitas carnes secas [grifo nosso] para se transportarem para todos os portos, do que se segue a utilidade da Real Fazenda, e bem comum, e como na dita ilha é a barra mais franca com mais facilidade se poderão carregar nas embarcações não só carnes, mas bestas muares e por meio deste comércio se conservará a amizade dos minuanos com os portugueses.” [FORTES, 1934: 80]

Desde que se começou o trabalho com o gado, mesmo quando o interesse comercial era somente o couro, a salga de carnes foi feita em alguns abates. Era a maneira como se preservava a carne para consumo próprio. É do final dos anos trinta, no século XVIII, a primeira referência sobre um estabelecimento destinado especificamente a essa tarefa, a charqueada.

“[...] um lugar situado hoje próximo a divisa dos municípios Osório-Mostardas [...] Ficamos então sabendo que ali ‘existiu, em época anterior a 1738, uma charqueada montada certamente por algum dos primitivos povoadores do Rio Grande’[...] pretendentes a posse daquelas terras ‘declararam que ali estivera estabelecido Cristóvão Pereira de Abreu, dando ao lugar o nome de Charqueada Velha’. [...] é suficiente para identifica-la com a Charqueada Velha que encontramos na ‘Planta sobre a viagem por terra entre a ilha de Santa Catarina até a Barra do Rio Grande de São Pedro [...]’ feita pelo marechal Diogo Funck em 1775 [...].” [Xavier, 1971: 6]

Existiu uma charqueada na ponta do Dionísio, nos campos de Belém Velho, às margens do rio Guaíba, também chamado de lagoa de Viamão. [MARQUES, 1987: 71] Ela pertenceu a Dionísio Rodrigues Mendes, desbravador de Belém e parente consangüíneo da mãe do capitão-mor Brito Peixoto. [FORTES, 1932: 9] Em 1732, seu nome ainda aparecia na Câmara de Laguna e, no recenseamento das terras de Viamão, realizado em 1784, se encontra a seguinte informação:

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“Dionísio Rodrigues - Possue um campo e sua fazenda em que está estabelecido a [sic] 50 anos por ser um dos primeiros povoadores de Viamão, cujo campo terá pouco mais ou menos duas léguas de extensão [13,2 km] e tem em sua companhia alguns filhos e genros agregados que todos vivem de lavouras e criação de animais.” [FORTES, 1934: 91]

A fixação das estâncias e da comandância Militar do Rio Grande ocorreu, aproximadamente, ao mesmo tempo em que, segundo se noticia, se criaram os primeiros estabelecimentos destinados, quase que exclusivamente, à salga de carnes. No segundo quartel do século XVIII, tropeiros, lideres de bandos armados, comerciantes de gado, viajavam do rio da Prata até Laguna, São Paulo e Minas Gerais. Estes homens construíram uma rede de transportes, invadiram a mata, abriram caminhos e se aquerenciaram em currais nativos desses pagos.

Defenderam as suas posses com o sangue de seus bandos. Essas pessoas serviriam também de mão-de-obra na criação extensiva dos rebanhos das suas fazendas. Mais tarde, nativos, das estâncias missioneiras ou não, iriam engrossar o “exército de reserva” desses senhores. A Comandância Militar do Rio Grande foi implantada poucos anos depois das primeiras doações de terras.

A Coroa lusitana tinha, por certo, o objetivo de assegurar a posse deste território e, principalmente, cobrar os impostos sobre o gado, os couros e o charque que se pretendia produzir, além de todo contrabando e demais negócios que poderia querer usufruir. A ocupação do solo rio-grandense deu-se de duas formas; em ambas, o critério de distribuição foi a retribuição de serviços militares prestados. Desde o início, esboçou-se a presença de dois espaços, de dois grupos dominantes, diferentes, mas não divergentes. E de um outro grupo, dominado e sem nenhum espaço.

“Mas o contrabando corrente na região austral, beneficiando terras de Portugal e Espanha, introduziu nessa área o fermento da desordem, da competição e das rivalidades sangrentas. Tudo isto, aliado aos abusos praticados pelas companhias de comércio, contribuiu não pouco para que os reis ibéricos assinassem o tratado de 1750. Pensou-se que, bem delimitada e demarcada, naquela região da América do Sul, a fronteira entre as duas nações o mal logo desapareceria. [...] a Colônia do Sacramento, em realidade se convertera numa das peças essenciais à evasão de rendas provocada pelo comércio ilícito.” [CESAR, 1978: 24]

O tipo de ocupação espacial, por parte dos espanhóis, não foi distinto. Simbolicamente, a Espanha cobrava pela terra; tanto no domínio de Castela, como no de Lisboa, além da posse econômica, o que mais valia era o prestígio militar. No ambiente platino daquela época, literalmente, o poder das armas de aço e de fogo mantinha a posse do território e dos rebanhos ali existentes.

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Capítulo 4

MIL SETECENTOS E CINQÜENTA

Na segunda metade do século XVIII, os acontecimentos tomaram um novo ritmo e uma outra direção na Península Ibérica e na região platina. Entre outros feitos, Portugal e Espanha abandonaram o absolutismo, adotaram o despotismo esclarecido e expulsaram os jesuítas de todos os seus domínios. O banimento ocorreu primeiro em Portugal, no ano de 1759, na Espanha, em 1767, e, um ano depois, em 1768, segundo parece, nas colônias americanas. Nesse período, começou a produção da carne salgada, com vistas à comercialização, e a conseqüente construção de estabelecimentos especiais para esse fim.

O núcleo saladeiril sulino foi implantado a partir de 1780. O período de permanência dos espanhóis em Rio Grande, durante os anos de 1763 a 1776, e o tratado de Santo Idelfonso, assinado em 1777, antecederam a instalação do pólo charqueador pelotense. Em 1758, foi doado o rincão de Pelotas, onde seriam implantadas sete charqueadas, seis na margem esquerda do arroio Pelotas e uma na laguna dos Patos, vinculadas, ou não, às fazendas que lhes deram origem.

No início da segunda metade do século, as monarquias ibéricas assinaram o tratado de 1750, acordando, principalmente, o que segue:

“Portugal cedia para sempre à coroa da Espanha a Colônia do Sacramento e o seu território adjacente, na margem setentrional do rio da Prata, e as praças, portos e estabelecimentos que se compreendessem na mesma margem. A navegação do rio da Prata ficaria também pertencendo, privativamente, à Espanha. Pelo artigo XIV, a Espanha cedia a Portugal tudo o que por parte dela se achava ocupado, desde o monte de Castilhos Grande até as cabeceiras do rio Ibicuí, compreendidas todas e quaisquer povoações situadas entre a margem setentrional do rio Ibicuí e a oriental do rio Uruguai. Esse artigo XIV declara, pois, que passaria ao domínio português todo o território das Missões Orientais do Uruguai, fundadas pelos jesuítas,[...] a forma de entrega foi feito no artigo XVI, [...] sairão os missionários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para os aldear em outras terras da Espanha [...]” [CESAR, 1970: 141] [FIG. 7]

O tratado de Limites atendia às idéias defendidas pelo realizador do contrato, o brasileiro Alexandre Gusmão. Entregava-se a Colônia do Sacramento, considerando que não se poderia manter a continuidade do território português até aquela cidadela, ao sul.

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Dificilmente Montevidéu seria tomada e conservada sob o domínio luso. Seria preferível continuar estendendo os domínios da coroa de Portugal no rumo oeste.

O comandante da expedição demarcadora do tratado de 1750, governador Gomes Freire de Andrade, do Rio de Janeiro, encontrou uma série de dificuldades. Os obstáculos eram de toda ordem: a morosidade em se reunir com a equipe espanhola; as longas e intermináveis discussões sobre os verdadeiros limites e, para pôr fim à definição das fronteiras, a guerra Guaranítica empreendida pelo povo missioneiro, que não queria abandonar o lugar.

Por um lado, os jesuítas representavam uma ameaça aos impérios ibéricos; a Companhia de Jesus constituía-se num “Estado dentro do Estado”. Os padres vinham tendo influência nos Estados católicos europeus. Os produtos das aldeias missioneiras guaranis eram exportados para o Velho Mundo, os tributos encaminhados diretamente à própria Companhia e, para completar a situação, no território platino, os padres assentaram as aldeias numa zona economicamente rica, e a povoaram com gado. [PESAVENTO, 1980: 12] Por outro lado, os guaranis e os jesuítas defenderam, para os espanhóis, esta região, dos portugueses.

“Entretanto, ao pretender para os indígenas guaranis um espaço de liberdade inserido no mundo colonial ibero-americano, as Missões se transformaram em uma utopia. A desintegração dessa experiência missioneira, em meio aos conflitos luso-espanhóis e às novas circunstâncias históricas do Século das Luzes, indica claramente que não havia mais espaço político para esta utopia política.” [KERN, 1982: 265]

A entrega da Colônia do Sacramento foi motivo de protestos por parte dos negociantes lusos que agiam através daquela praça portuguesa. Havia descontentamento entre os castelhanos, que viam desvantagem na troca da exígua praça de Colônia do Sacramento pelo extenso território missioneiro, coberto de rebanhos. Essa situação acentuou-se quando o marquês de Pombal assumiu a liderança do governo português.

A demarcação foi interrompida devido à guerra Guaranítica. Os conflitos existentes com o desenrolar da expedição demarcadora serviram para reforçar militarmente a área. O governo português utilizou-se dos estancieiros e de seus homens para a defesa do território. Em troca, outorgou-lhes poder e autoridade, distribuiu cargos entre os chefes e incrementou o processo de distribuição de sesmarias, aumentando a ocupação no interior.

Nas décadas de 50 e 60 do século XVIII, o governador Gomes Freire de Andrade procurou assegurar a retaguarda da “tranqueira”, no entorno do forte de Rio Pardo, distribuindo terras. [RÜDIGER, 1965: 26] “A crescente importância militar da zona proporcionou que, administrativamente, a região fosse elevada, em 1760, à condição de capitania – a ‘Capitania do Rio Grande de São Pedro’– desvinculada de Santa Catarina e subordinada ao Rio de Janeiro.” [PESAVENTO, 1980: 21]

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Figura 7 – Tratado de Madri [1750]. Tratado de Santo Idelfonso [1777].

Açorianos

Durante muito tempo, a colonização portuguesa, através de casais, foi utilizada por Portugal. A estratégia consistia em ocupar a terra para a sua defesa. Esse expediente tinha sido empregado nos povoamentos da Colônia do Sacramento e de Rio Grande. Em 1742, quando governador de Santa Catarina, o brigadeiro Silva Pais, solicitou a imigração de casais para o assentamento na ilha de Desterro, atual Florianópolis. Em

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1747, realizou-se o contrato com Feliciano Velho Oldemberg para o envio de casais açorianos em grande quantidade. [Fortes, 1978: 52]

A vinda dessas famílias não rompeu o processo de apropriação da terra que vinha sendo feito. Ao contrário, a mão-de-obra doméstica açoriana abasteceu de alimentos os exércitos e forneceu braços para as operações militares. A imigração serviria para a criação de povoados.

“Há orientações minuciosas sobre a escolha dos ‘sítios mais apropriados para fundar lugares’, com sessenta casais cada um. As ordens estabelecem também a extensão que devem ter os logradouros públicos, a praça, a igreja, e a dimensão das ruas. Outra determinação expressa era a de ‘logo levantar uma Companhia de Ordenanças’ nas quais ‘se alistarão todos os moradores, casados e solteiros, e dareis ordens para a sua disciplina’.” [OSORIO, 1990: 98]

O tamanho das datas de terras destinadas à agricultura e, conseqüentemente, aos casais colonizadores, era bem diferente do das sesmarias de campo destinadas às fazendas de gado. Quanto ao processo de concessão, a data era uma doação do governador militar de São Pedro e possuía mais ou menos 1500 braças, um quarto légua quadrada [272 hectares]. A sesmaria deveria ser concedida pelo vice-rei, governador do Rio de Janeiro e, posteriormente, ser confirmada, em Portugal, pelo conselho Ultramarino. Media aproximadamente três léguas de comprimento, por uma de largura ou uma e meia em quadro [de 13.000 a 10.000 hectares]. [FORTES, 1978: 80]

Um ano depois de assinado o contrato com Feliciano Velho Oldemberg, em 1748, em Santa Catarina, chegou a primeira leva de casais do contrato. Em 1752, a maior parte alcançou Rio Grande para dar andamento à ocupação da área definida pelo tratado de Madri. Foram enviados a Viamão, Santo Amaro e Rio Pardo, não atingindo a terra missioneira. O tratado fracassou, os espanhóis avançaram sobre Rio Grande e os açorianos passaram quase 20 anos sem receber a propriedade estipulada no edital.

O Rincão de Pelotas

Foi no contexto de lutas contra os guaranis, de 1754 a 1756, e mais tarde, contra os espanhóis, de 1763 a 1776, que apareceram os líderes das forças militares portuguesas e dos bandos de aventureiros, que seriam os donatários das sesmarias de campo. Uma das lutas travadas na guerra Guaranítica foi na fortaleza Jesus-Maria-José, em Rio Pardo, construída para cobrir e resguardar os armazéns e provisões.

“Apenas se começou a defender aquele passo com uma trincheira, guarnecida de sessenta aventureiros debaixo do comando do tenente de dragões Francisco Pinto Bandeira [pai de Rafael Pinto Bandeira], que uma partida de mil índios das missões a atacaram de madrugada, [...]. Com tal notícia destacou o general português o tenente coronel Tomás Luís Osório,[...]. [Grifo nosso] [PINHEIRO, 1982: 78]

Tomás Luís Osório reforçou o contigente de Rio Pardo. Nessa ocasião, dirigiu as obras de reforço e ampliação da fortaleza, desbaratou seus inimigos e prendeu o próprio chefe e seu filho. Também teve participação decisiva na luta onde tombou o

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líder guarani Sepé Tiarajú. [PINHEIRO, 1982: 81] É possível que esses feitos tenham contribuído para que o governador Gomes Freire de Andrade o presenteasse, em 18 de junho de 1758, com o rincão de Pelotas. O rincão possuía os seguintes limites naturais: laguna dos Patos; sangradouro da Mirim, atualmente chamado de canal São Gonçalo; arroios Pelotas e Correntes. [BPP, RPTMP, 93: 11] [FIG. 8] Nesse lugar, quando o tenente-coronel não era mais proprietário, chegaram a funcionar, como já assinalamos, sete charqueadas, unidas, ou não, às respectivas fazendas.

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Figura 8 – Rincão de Pelotas. Tomás Luís Osório [1758].

Em 1761, forças espanholas planejavam avançar rumo ao Rio Grande. Para organizar a defesa, Tomás Luís Osório foi enviado a Castilhos com a finalidade de orientar a construção de uma fortaleza. O engenheiro João Gomes de Melo desenhou a fortificação na forma de um pentágono. Apesar das dificuldade apresentadas pelo

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terreno e dos poucos materiais de construção disponíveis na região, a fortaleza de Santa Tereza estava parcialmente construída, em janeiro de 1763. [PINHEIRO, 1982: 89]

No primeiro dia de outubro de 1762, dom Pedro Ceballos, capitão-general e Governador das Províncias do Rio da Prata, tomou a Colônia do Sacramento. Em março de 1763, estava na serra de Maldonado. Na manhã do dia 19 de abril, recebeu, de Osório, o forte de Santa Tereza. “[...] chegando o coronel de dragões Tomás Luís Osório a deixar-se surpreender no passo junto a Castilho onde se achava postado com o seu Regimento e mais gente que se lhe agregara que fazia o número de novecentos homens sem a mais leve resistência [...].” [Monteiro, 1937: 7] Com a entrega de Santa Tereza, estava aberta a porta do Rio Grande para os de Castela.

Cinco dias depois da entrega da fortaleza de Santa Tereza, os espanhóis entraram em Rio Grande e encontraram poucas e miseráveis famílias dos Açores. A população civil e militar tinha desertado. Os refugiados tomaram rumo norte, na fazenda Real do Bojuru, e, no mesmo sentido, alcançaram os campos de Viamão. [RÜDIGER, 1965: 27] É provável que alguns tenham se refugiado no rincão de Pelotas e adjacências. Os castelhanos chegaram até Laguna, e, no Rio Grande, mantiveram-se durante 13 anos. Tomás Luís Osório foi executado em Lisboa. À viúva, restou a venda do rincão de Pelotas.

Treze Anos de Permanência Espanhola. 1763-1776

Esse período, marcado pelo contrabando e pelas investidas predatórias no campo adverso, foi mais violento do que os anteriores. Quanto mais víveres, cavalos, gado e armas as forças auxiliares arrebatassem, mais amedrontado e enfraquecido ficava o inimigo. Rafael Pinto Bandeira foi o cabo-de-guerra dessa luta, a quem coube o comando de uma tropa de segunda linha, composta de aventureiros. Nessa tática, foi quem mais reduziu o poder ofensivo dos castelhanos.

O exército do general Böhm, contratado pela coroa lusitana, atuava nos locais de resistência na Depressão Central e em São José do Norte, no litoral. Pinto Bandeira lutou com seus homens, ou seja, com as forças auxiliares, no interior, na área ocupada pelos platinos. Com o passar do século XVIII, a prática das arreadas institucionalizou-se; além de ser uma eficiente tática de guerrilha, tornara-se um bom negócio, permanecendo, por isso, mesmo depois da saída dos castelhanos. [CESAR, 1978: 45]

Quando os espanhóis se retiraram do Rio Grande, foi assinado o tratado de Santo Idelfonso. No Rio Grande de São Pedro, entre outros fatos e acontecimentos, o terceiro quartel do século XVIII foi marcado pelo tratado de Madri, a chegada dos açorianos, a saída dos jesuítas, a permanência dos castelhanos e as doações dos campos de sesmarias aos militares portugueses e líderes das forças aventureiras ou auxiliares. Dentro dessas concessões, constou o rincão de Pelotas, doado ao tenente-coronel português Tomás Luís Osório. Mais tarde, nesse local, seriam implantados sete estabelecimentos de salgação de carne.

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Capítulo 5

ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ

No último quartel do século XVIII, Portugal e Espanha assinaram o tratado de Santo Idelfonso. Foram concedidas as sesmarias de campo e as datas situadas na zona de fronteira, acordada pelo contrato de 1777. Instalou-se o pólo charqueador às margens do arroio Pelotas e as fábricas de salga na Banda Oriental do Uruguai. Por certo, a localização do núcleo rio-grandense estava vinculada ao que estabelecia o acordo, como também a instalação dos saladeiros do Uruguai estava ligada à política de Carlos III.

Nesse período, as reformas administrativa e comercial trazidas para a América espanhola, tinham os seguintes objetivos: lutar contra a desagregação da colônia, fortalecer o aparato político e militar, acabar com a sobreposição de competências e a corrupção e, por fim, colaborar com o progresso colonial, de forma a aumentar os lucros da coroa. As iniciativas lusa e espanhola progrediram, porque crescia o plantel de escravos, nas fazendas cafeicultoras do Brasil central e nas atividades açucareiras de Cuba, no Caribe, aumentando o consumo da carne salgada.

Em 1776, enquanto a colônia inglesa, da América do Norte, declarava a sua independência, o império colonial espanhol criava o vice-reinado do Rio da Prata, com sede em Buenos Aires. Era o Século das Luzes mostrando uma de suas facetas na América meridional. Em 1778, os portos de Montevidéu e Buenos Aires estavam habilitados para o comércio exterior, e uma quantidade de produtos ficou liberado do pagamento de direitos de entrada, nos portos da Península. A exportação de couros bovinos cresceu consideravelmente, além da ampliação da demanda exterior de diversos outros produtos ganaderos, como graxas, sebo, lãs, guampas, peles e charque. [MONTOYA, 1984: 111] Em 1778, o Regulamento de Livre Comércio, outra das medidas da coroa espanhola, impulsionou a fabricação saladeiril.

As bibliografias uruguaia e rio-grandense assinalaram a data de 1780 como o início das atividades charqueadoras, com vistas à comercialização. Na banda de cá, parece que o pioneiro foi o português, fabricante de carne seca, no Ceará, José Pinto Martins, que, fugindo das secas dos anos de 1777, 1778 e 1779, veio parar às margens do São Gonçalo ou do arroio Pelotas, onde estabeleceu a primeira fábrica de carne salgada. Na Banda Oriental, consta como precursor o espanhol Francisco Medina.

Entre os anos de 1774 e 1777, Medina tinha acordado com o governo prover de gêneros alimentícios as tropas alojadas nos fortes de Santa Teresa, São Miguel, Montevidéu, Real de São Carlos e o quartel de Rio Grande; as tripulações das embarcações do Rei, a Real Armada; e, os expedicionários enviados à costa do Brasil.

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[MONTOYA, 1984: 111] Entre outros negócios, Francisco Medina foi empresário da pesca da baleia, nas costas da Patagônia, e, nos anos de 1784 e 1786, forneceu sal às cidades de Montevidéu e Buenos Aires. Adquiriu uma grande estância, perto do arroio Colla, e colocou em marcha um enorme saladeiro, pelo sistema chamado irlandês, que conservava a carne em barricas de sal. [ASSUNÇÃO, 1978: 271]

Este último empreendimento contava com um porto na desembocadura do arroio Sauce com o rio da Prata e estava localizado numa área de sete léguas [46,2km] de frente ao rio da Prata, por três e meia [23,1km] de fundo, tendo a leste o rio Rosário e, a oeste, o arroio do Sauce. Em 1788, Medina recebeu 150.000 pesos de empréstimo da Real Fazenda, para melhorias naquele estabelecimento. No mesmo ano, veio a falecer. Na relação de bens da estância, o rebanho de gado somou 25.000 animais, o de cavalos, 3.000, e o de ovelhas, 300. Na charqueada, trabalhavam 11 escravos. A fábrica de salgar contava com 11 galpões, sendo três de tijolos e telhas de barro e o restante de pau-a-pique e cobertura de palha. Todos serviam a mais de uma função. Nos primeiros, localizavam-se os tanques de salga, fábrica de tonéis, dormitório para os toneleiros e depósitos. Os outros galpões serviam de armazéns para o charque, depósitos, alojamento da peonada, cozinha e olaria. A senzala compartilhava do mesmo galpão da graxeira, onde se produziam velas, sebo, etc. Para pendurar sebo e graxa, possuía enramadas a céu aberto. Contava com currais para gado e cavalos. [ASSUNÇÃO, 1978: 272]

Há quem afirme que o primeiro saladeiro que se instalou, na Banda Oriental, foi obra de dom Francisco Antônio Maciel, em Montevidéu. As fábricas de carne salgada foram se estabelecendo nas proximidades de Montevidéu, próximas à baía; nas imediações de Maldonado; nas margens dos rios Uruguai e Negro, “buscando sempre conciliar as facilidades de abastecimento de gado com a economia de transporte dos produtos elaborados”. [SEOANE, 1928: 94] Em Buenos Aires, a produção da carne salgada, com vistas à comercialização, iniciou mais tarde, mas, em troca, as medidas protecionistas tomadas pela Primeira Junta foram crescendo até 1815, permitindo o estabelecimento e o rapidíssimo desenvolvimento dos saladeiros.

“E aqui tudo se fará, fundamentalmente, ao redor de um nome, cuja influência, emanada precisamente nessas medidas protecionistas, em seu caráter, seu poder econômico, seu carisma popular [que lhe dava fama de muito ‘gaúcho’], e seus ‘contatos’ locais e externos, cada vez mais poderosos: Juan Manuel Rosas. A firma Rosas, Terrero y Cia, exerceu um verdadeiro monopólio sobre a indústria saladeiril e a exportação dos produtos desta, desde 1815 em diante.” [ASSUMÇÃO, 1978: 276]

1777. Tratado de Santo Idelfonso

O território colonial português ficou reduzido com o tratado de 1777. [FIG. 7] A área missioneira voltou aos domínios espanhóis, a Colônia do Sacramento ficou definitivamente com os castelhanos e Laguna, que estava nas mãos de Ceballos, retornou aos portugueses.

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ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ 49

“[...] a linha fronteiriça convencionada partia não mais da enseada de Castilhos Grande, mas do arroio Chuí, e a sua inflexão para noroeste seguia as cabeceiras dos rios que vão desaguar no Prata e no Uruguai. A navegação destes, até a desembocadura do Peri-Guaçu, ficou garantida à Espanha. [...] [FIG. 7] Uma das inovações do tratado constituiu no estabelecimento dos Campos Neutrais, que se explicam como segue. As línguas de terra compreendidas entre a lagoa da Mangueira e a Mirim e a costa marítima não poderiam ser ocupadas por nenhuma das nações contratantes: ‘de sorte que nem os portugueses passem o arroio Taim, linha reta ao mar até à parte meridional, nem os espanhóis o arroio Chuí e de São Miguel até à parte setentrional’.” [CESAR, 1970: 200] [FIG. 9]

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Os espanhóis pretendiam criar um cinturão deserto em torno do rio da Prata. O acordo não permitia nenhuma construção e/ou ocupação nos espaços chamados de neutros. Entendia ser uma forma de diminuir o contrabando. Ao contrário, essa “terra-de-ninguém” se transformaria na guarida de bandoleiros, vagabundos e contrabandistas. Por um lado, minuanos aliados aos portugueses, pelo outro, estancieiros de Rio Pardo percorriam incessantemente a fronteira, arrebanhando animais. [CESAR, 1978: 53]

Na época dos Campos Neutrais, Rafael Pinto Bandeira era o comandante dos piquetes encarregados da vigilância da fronteira. Nesse período, viveu amancebado, e teve uma filha, com a neta de um tal D. Miguel Ayala, de origem hispano-paraguaia, também chamado de Velho Zapata.

“Tinha ele como companheira uma índia minuana pura. Do casal nasceu um filho que herdou o nome do pai- D. Miguel Ayala. Este foi considerado o primeiro gaúcho de campo, aclamado rei dos minuanos. O seu reinado estendia-se entre as lagoas e o mar, tudo indicando, portanto, que os Campos Neutrais pertenceram, por algum tempo, ao rei dos minuanos.” [AMARAL, 1972: 55]

Os Campos Neutrais formavam uma grande invernada de tapumes naturais, coberta por gramíneas forrageiras e excelentes aguadas. Era uma enorme encerra de vastas proporções, adequada ao descanso das tropas que se dirigiam à Sorocaba, em São Paulo. Possuía 150 km de extensão. No limite sul, entre os arroios Chuí e São Miguel, existia uma entrada estratégica para o gado. [AMARAL, 1972: 41]

Ao norte, o gado era confinado pelo banhado do Albardão, que se confundia com o arroio Taím; este ligava as lagoas das Flores e Caiubá e despejava o excesso das águas na Mirim. A parte mais estreita limitava-se, a leste, pela lagoa Mirim e, a oeste, o Atlântico. No entorno dos Campos Neutrais, localizou-se o núcleo charqueador sulino da colônia portuguesa. Pinto Bandeira foi um dos grandes proprietário dessas terras.

Propostas para o Sangradouro da Mirim

No início do último quartel do século XVIII, o engenheiro militar Francisco João Roscio executou um levantamento físico/espacial do Rio Grande, que resultou em três mapas. Acrescentou às cartas uma descrição do território levantado onde relacionou as questões de segurança com os espanhóis e a economia. Chamou o texto de “Compêndio noticioso do Continente do Rio Grande de S. Pedro até o Distrito do Governo de Santa Catarina, extraído dos meus diários, observações, e notícias, que alcancei nas jornadas que fiz ao dito Continente nos anos de 1774, e 1775”. Quanto aos dos campos neutrais informou:

“Nas cabeceiras desse rio [Negro] se encontram também muita quantidade de vaca brava e errante que se avalia em mais de 50.000 cabeças. Cuido que são as sobras das fazendas de portugueses abandonadas na língua de terra entre a lagoa Mirim e a costa do mar por ocasião da guerra e entrada dos castelhanos em 1763.” [ROSCIO, 1980: 128]

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ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ 51

Em seguida, fez considerações sobre as vantagens da região da lagoa Mirim sobre a vila de Rio Grande, quanto à segurança e os recursos materiais.

“Toda esta segunda parte do terreno, de que tenho tratado ou campos dobrados é de boa terra e produtivo. Nele se acham diferentes qualidades de madeiras, barros e pedreiras, como costuma suceder em países de semelhante natureza. Os campos altos pela maior parte são limpos de mato: mas as bordaduras dos rios e regatos e alguns vales ou baixadas são emboscados e cobertos de arvoredo como também as faldas e encostas dos montes mais elevados e toda a serra ou cordilheira Geral como já disse.” [ROSCIO, 1980: 129]

O secretário da junta da Fazenda do Rio Grande do Sul de 1775, Sebastião Francisco Bettamio, fez considerações bastante aproximadas das de Roscio. No texto “Notícia particular do Continente do Rio Grande do Sul, segundo o que vi no mesmo Continente, e notícias, que nele alcancei com as Notas, do que parece necessário para o aumento do mesmo Continente, e utilidade da Real Fazenda” , entregue ao vice-rei Luís de Vasconcelos, em 1780, entre muitas observações, sugeriu a mudança para Pelotas, considerando o freqüente sepultamento dos edifícios de Rio Grande pelos combros de areia.

“Sendo a mudança para o campo chamado das Pelotas, onde o terreno é melhor, e tem pedra, há os descontos de ficar distante da barra mais de dez léguas [66km]; e não poder fortificar ou guardar pela parte do campo sem uma numerosa guarnição. É bem verdade que o continente nada o guardará se não for uma paz sólida e permanente [...].” [BETTAMIO, 1980: 152]

Sobre esta proposta, fez 29 observações. Entre elas, informou:

“[...] entrando-se pelo sangradouro da Mirim, três ou quatro léguas [19,8 a 26,4km], há muitas e admiráveis rochas de boa pedra, havendo portos de mar que dão lugar à entrada de embarcações grandes, e chegam quase ao pé dos cerros; que ali se transporte a pedra para a vila, [...] uma companhia de cento e cinqüenta ou duzentos índios trabalhadores, e que estes se empreguem de baixo da direção de pessoa inteligente em quebrar e arrancar pedras de toda a qualidade................................................................ ........................................................................................................................... 9ª.- No mesmo sítio em que se corta pedra, há barro para telha e tijolo, e como na aldeia há índios que sabem fazer estes dois materiais, ...................... ........................................................................................................................... No continente pode-se fazer cal de marisco, tanto em uma caieira que há no sítio de Mostardas, [...] mas bom será fazer-se exames, ou experiência com a pedra das margens do sangradouro, se será boa para cal, e também averiguar se há saibro, ou areia própria para a fábrica de edifícios.[...] 12ª.- Nas mesmas margens do sangradouro da Mirim em pequena distância, consta-me haverem excelentes madeiras, em cujo corte se podem empregar alguns índios, [...].” [BETTAMIO, 1980: 156]

Estavam relacionadas todas as condições materiais para o desenvolvimento da área. Sobre os campos chamados de S. Gonçalo, das Pelotas, ou do Serro Pelado, disse que só deveriam ser ocupados depois de estar concluída a linha divisória do Tratado de 1777: “[...] e tendo visto praticar pelo contrário, porque não só tem repartido, mas até se tem vendido de um particular a outro a posse por um título que não é, nem podia ser, e tal e qual foi adquirido ainda antes da invasão que os castelhanos fizeram no Rio Grande, em cujo tempo não pertencia à coroa de Portugal aquele terreno.”

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[BETTAMIO, 1980: 164] Era de parecer favorável à instalação das fazendas de gado, desde que as vivendas de seus donos se localizassem dentro do recinto da vila.

Em 1778, Moniz Barreto, em “Observações relativas à agricultura, comércio e navegação do continente do Rio Grande de São Pedro no Brasil”, propôs:

“[...] que as terras sejam repartidas de outro modo, diferente do que se havia praticado para que ‘em lugar de haver muitas fazendas grandes, haja muitas pequenas, segundo a força dos agricultores’; identifica ramos do comércio a serem incentivados, como ‘as carnes salgadas que devem ser exportadas a este reino em lugar das que vem da Irlanda’, e o cultivo do linho cânhamo, que dispensaria as importações da Rússia.” [OSÓRIO, 1990: 165]

Dois anos depois, em 1780, começou a distribuição formal das propriedades. Em relação ao distrito do Serro Pelado, verificou-se que houve coincidência entre as observações dos autores assinalados e as doações de terras, realizadas pela coroa portuguesa. Quanto à região platina, constatou-se que, tanto no caso da aparente gratuidade das concessões portuguesas, como no da venda espanhola, houve a monopolização das terras, por parte dos comerciantes, militares e abastecedores do exército.

Posses

O Edital de 1º de janeiro de 1780 veio regularizar as apropriações de fato, que ocorreram durante os 13 anos de guerra. Entre outras determinações, a ordenação informava da faculdade que o vice-rei tinha outorgado ao Governador para que este repartisse os campos das fronteiras definidas pelo último tratado de paz, e estipulava o tamanho máximo de uma légua [6.600m] de largura, por três léguas [19.800m] de comprimento, para cada concessão. As informações eram fornecidas pelos comandantes militares de cada zona. Na fronteira do Rio Grande, e no Serro Pelado, área contígua aos campos neutrais, o parecer era dado por Rafael Pinto Bandeira. [OSÓRIO, 1990: 148]

Serro Pelado

“Nas três léguas [19,8km] que distam entre o tronco do Piratini e a parte meridional desta cordilheira [serra dos Tapes] se acha em cerro elevado, mas todo rodeável e limpo de mato postado junto à margem setentrional do mesmo Piratini longe da embocadura sete léguas [46,2km] a que chamam Serro Pelado.” [ROSCIO, 1980: 127] [FIG. 10]

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ENQUANTO ISSO, NA BANDA DE LÁ 53

Figura 10 – Cópia parcial do mapa de João Francisco Roscio, 1778. Biblioteca Nacional. Seção de Manuscrito, 5, 4, 35.

O rio Piratini deságua mais ou menos no meio do canal que une a lagoa Mirim à laguna dos Patos. Nasce na serra do Passarinho e, até chegar o sangradouro, percorre quase 200km. Naquela época, era navegável por lanchões, até o passo do Ricardo, a 40km da foz. Pela margem direita recebia: o Piratini-chico, Piratinisinho, ou Piratini-do-meio; o Santa-Maria ou Piratini-da-orqueta, que descia a coxilha das Pedras Altas, e o arroio Herval. Eram afluentes da margem esquerda: o arroio Tamanduá; o Antunes; o Correntes; o Piratini-do-Saraiva, que nascia a ocidente de Cangussu; o arroinho da Maria-Gomes; o arroio das Pedras, que brotava na serra da Buena; e o arroio do Capão do Leão, que tinha origem nos serros das Almas. [VARELA, 1897: 330]

Entre o rio Piratini e a laguna, mais cinco arroios despejavam suas águas na margem norte do São Gonçalo: o arroio Pavão, que nascia na serra de mesmo nome e era navegável para pequenos barcos; o arroio do Padre-doutor, padre Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, que tinha origem na serra que lhe deu o nome; o arroio do Fragata ou do Moreira, que começava na serra da Buena; o arroio Santa Bárbara, que surgia no Monte Bonito e um dia chegou a banhar a cidade de Pelotas, e o seu afluente, o arroio Pepino; e, por fim, mais próximo da laguna, o arroio Pelotas, com 30km navegáveis, dos seus 40 de extensão, e dois afluentes, o João-padre, na margem direita e o Andradas, na esquerda. [VARELA, 1897: 330] [FIG. 11]

NORTE

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Figura 11 – Cópia reduzida de um mapa do Serro Pelado. Acervo Profa. Helen Osório.

A posse oficial dos terrenos do Serro Pelado iniciou em 1780. Em 1785, o capitão Antônio Ferreira dos Santos realizou um levantamento dos posseiros e proprietários desse lugar. [AHRGS, L.1198B: 198-205] Contou 40 pessoas. Dessas, 14 não tinham títulos de propriedade e eram, todas, militares. As propriedades foram concedidas pelos governadores José Marcelino de Figueredo e Sebastião Xavier, e pelo comandante militar da área, Pinto Bandeira. Vinte e dois proprietários, até aquela data, já tinham vendido o que lhes havia sido concedido.

Destacaram-se, para um melhor detalhamento da área, as propriedades localizadas entre o arroio do Pavão e o arroio Grande. Sete vieram a formar o município de Pelotas. Chamaram-se Feitoria, Pelotas, Monte Bonito, Santa Bárbara, São Tomé, Santana e Pavão. Com exceção da Feitoria, que se limitava pela laguna e os arroios Grande e Correntes, todas as outras tiveram os seguintes limites: ao sul, o sangradouro; ao norte, a serra dos Tapes; a leste e oeste, intercalavam-se os arroios Pavão, Padre-doutor ou Tomé, Fragata ou Moreira, Santa Bárbara e Pelotas.

Na estância do Monte Bonito, houve uma segunda divisão de terras, entre 19 pequenos proprietários. As estâncias deram origem a mais ou menos uma dúzia de charqueadas. Com a segunda divisão, de pequenos lotes de terrenos, foram implantadas perto de 30 estabelecimentos, destinados exclusivamente ao preparo da carne salgada e seus subprodutos. Mas, esta é uma outra história, e, por isso, deixada para contar mais tarde.

NORTE

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Capítulo 6

RAFAEL PINTO BANDEIRA

Do arroio Pavão, afluente do rio Piratini, até a laguna dos Patos, existiram seis estâncias interceptadas por cinco arroios, que chegavam à margem norte do sangradouro da Mirim. Somando-se a fazenda da Feitoria, localizada às margens da laguna, entre os arroios Grande e Correntes, teríamos as sete fazendas que vieram a formar o município de Pelotas, hoje subdividido nos municípios de Capão do Leão e Morro Redondo. No quadrilátero definido pelo arroio Pavão, ou do Contrabandista, e a laguna dos Patos; o arroio Grande e o sangradouro da Mirim, ou canal da Torotama, atualmente chamado de canal São Gonçalo, funcionaram mais de 40 charqueadas. Desses estabelecimentos, aproximadamente 30 localizaram-se na Sesmaria do Monte Bonito, destinando-se exclusivamente à salga de carnes e tendo, como alternativa, a produção de elementos cerâmicos. As charqueadas restantes, distribuídas pelas outras sesmarias, dedicavam-se também à criação. [FIG. 12]

Todas essas estâncias estavam afetas ao distrito do Serro Pelado, onde o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, como Comandante da Fronteira do Rio Grande, dava informações nos processos de concessão de terras. Rafael Pinto Bandeira foi o exemplo máximo do estancieiro-militar. Sua biografia confunde-se com a história do Rio Grande. Ele e seu bando contrabandearam gado, apropriaram-se de terras, trucidaram, aprisionaram e expulsaram nativos e castelhanos, amedrontaram seus companheiros, e, para a Coroa portuguesa, conquistaram e reconquistaram território.

O comandante da fronteira do Rio Grande fazia com que as autoridades instituídas pelo poder colonial ficassem impotentes diante dos seus atos e dependentes de suas ações. Por isso, o vice-rei, marquês de Lavradio, era favorável às arreadas que enfraqueciam os espanhóis, porque acreditava que não havia outro remédio senão permitir a Pinto Bandeira se fartar, ou seja, até que o brigadeiro se julgasse satisfeito. A maneira de agir de Pinto Bandeira deixava a diplomacia portuguesa embaraçada, como no caso da denúncia do comandante espanhol Juan Verniz, sobre o ataque que Pinto Bandeira fez à Guarda de São Martinho, onde, além de matar soldados espanhóis e fazer prisioneiros, pegou numerosa cavalhada, gado vacum e alguns índios; na estância de São Lourenço, chegou a desnudar as índias e apropriar-se de seus poucos bens. [OSÓRIO, 1990: 133]

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Figura 12 – Terras que formaram os atuais municípios de Pelotas, Capão do Leão e Morro Redondo.

Pinto Bandeira aproveitou-se do conhecimento que tinha para obter as melhores terras. Nos processos de concessões de sesmarias, ele próprio, como Comandante da Fronteira do Rio Grande, fornecia informações sobre a situação dos solicitantes. Na burocracia estatal, com vistas à obtenção de certidões de propriedade de terras, espalhava o medo. Para manter as aparências, conforme observou o vice-rei Luís de Vasconcelos, Pinto Bandeira, auxiliado por ‘contrabandistas da sua parcialidade’, perseguia os contrabandistas vinculados aos outros estancieiros. [OSÓRIO, 1990: 171]

O brigadeiro Rafael Pinto Bandeira nasceu em Rio Grande, em 16 de dezembro de 1740, e morreu na mesma cidade, em 9 de abril de 1795. Era filho do coronel de dragões Francisco Pinto Bandeira, nascido em Laguna, Santa Catarina, e de Clara Maria de Oliveira, da Colônia do Sacramento. Fez dois casamentos. No ano de 1773, em Rio Pardo, casou com Maria Madalena Pereira, da missão de São Lourenço, e, em 1788, em

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Rio Grande, contraiu segundas núpcias com Josefa Eulália de Azevedo. Com Bárbara Vitória, teve uma filha, Bibiana Maria Bandeira e, com a segunda esposa, ganhou outra filha, Rafaela Pinto Bandeira. Esta casou com o coronel baiano Vicente Ferrer da Silva Freire. De Rafaela, ganhou dois netos: Diogo da Silva Freire, assassinado juntamente com seu pai, em sua fazenda no rio dos Sinos, em 1836, e Maria Josefa da Silva Freire, casada com Israel Rodrigues da Silva, filho do comendador Boaventura Rodrigues Barcellos e de Cecília Rodrigues Barcellos. [RHEINGANTZ, 1979: 371] A família Rodrigues Barcellos foi a que teve maior número de charqueadas, todas localizadas na margem direita do Arroio Pelotas, na sesmaria de Monte Bonito.

Fazenda, Charqueada e Olaria do Pavão

Na estância do Pavão, uma das propriedades do brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, chegaram a funcionar uma charqueada e uma olaria. Conforme informação contida no levantamento realizado em 1785, pelo capitão Antônio Ferreira dos Anjos, a fazenda resultou num somatório de seis sesmarias contíguas, doadas em 1780, e que foram adquiridas pelo brigadeiro Rafael Pinto Bandeira. [AHRGS, L. 1198B: 198 a 205] No momento da compra, a área totalizava nove léguas quadradas [39.204ha].

Em 1807, nos autos da Medição mandada executar pela viúva do brigadeiro, Josefa Eulália de Azevedo, e por seu segundo marido, desembargador Luís Correa de Bragança, a área da propriedade somou 12 léguas e 855 braças superficiais [52.272ha e 4.138m²], sem contar as áreas alagadiças da margem do São Gonçalo e São Tomé, até o sítio da Estiva. [BBP, RPTMP, L. 93: 110] Os limites naturais da estância de Rafael Pinto Bandeira eram o canal São Gonçalo, os dois arroios Pavão, chamados, no início de seu curso, de Contrabandista e São Tomé, ou Padre-doutor, e, pelo interior, o Capão do Boquete, nas imediações do Serro da Buena. [CUNHA, 1928: sp.] [FIG. 13]

Dos seis campos que formaram a estância do Pavão, cinco foram concedidos pelo governador José Marcelino de Figueredo, no dia 1º de abril de 1780. O terreno restante foi doado pelo governador Sebastião da Veiga Cabral, em 28 de dezembro de 1780, a José Miranda de Oliveira. Esta sesmaria tinha uma légua em quadro [4.356ha] e estava situada entre o arroio Moreira e o Serro. [AHRGS, L.1198B: 199]

As cinco áreas concedidas em 1º de abril pertenceram aos seguintes proprietários: alferes Antônio V. Feijó, com uma légua [6.600m] de comprimento, por meia [3.300m] de largura, entre o passo das Pedras e o arroio que dividia a invernada do sargento-mor Roberto Roiz; [FIG. 14]; Francisco Antunes, com uma légua em quadro [4.356ha], entre o arroio da Estiva e o Pavão; cabo de dragões Manuel Joaquim de Barros, com uma légua [6.600m] de comprimento e meia [3.300m] de largura, situada à direita do passo do Pavão; capitão Joaquim José de Proena, com duas léguas [13.200m] de comprimento e uma [6.600m] de largura, nos fundos do serro Pelado; Leocádia Joaquina de Lima, com duas léguas [13.200m] de comprimento e meia [3.300m] de largura, entre a serra e o sangradouro da Mirim; tenente de dragões Joaquim de Souza Soares, com uma légua em quadro [4.356ha], entre as terras do major Roberto e do reverendo Pedro Pereira. [AHRGS, L.1198B: 198 e 199] [FIG. 13]

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Figura 13 – Localização aproximada das terras que formaram a Estância do Pavão de Rafael Pinto Bandeira.

No levantamento executado pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos, em 1785, na estância do Pavão, Pinto Bandeira possuía os seguintes animais: 6.000 reses; 100 bois; 300 cavalos; 2.000 éguas e 90 ovelhas. No inventário de João Nunes Batista, proprietário da fazenda, charqueada e olaria do Pavão, realizado em 1823, os campos estavam povoados com 8.000 reses de criar; 600 ditas leiteiras; 92 bois mansos; 178 cavalos mansos; 32 [ilegível]; 20 potros; 407 éguas e três mulas velhas.

Alberto Coelho da Cunha, filho do charqueador Barão de Correntes, republicano, abolicionista, funcionário municipal, historiador e pelotense, conhecido pelos pseudônimos de Vítor Valpírio e Jatyr, na Revista do Partenom Literário, escreveu no jornal A Opinião Pública, de 4 de agosto de 1929:

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“Entregue à Dona Josefa Eulália de Azevedo e às suas duas filhas, os quinhões que lhe vieram a caber, já ficou, por essa ocasião, a grande fazenda retalhada em três. Posteriormente, vendidas, das subdivisões desses quinhões hereditários, formaram-se diversas estâncias.”

Essa informação não coincide com as que constam no inventário do português João Nunes Batista, proprietário da charqueada e estância do Pavão. No documento, a área de estância era de dez léguas quadradas [43.560ha]. Foram seus herdeiros a viúva, Joaquina Maria da Silva, e seus oito filhos menores.

Figura 14 – Cópia parcial da carta cartográfica, 1777. Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas.

Em 1º de outubro de 1810, a viúva de Pinto Bandeira, Josefa Eulália de Azevedo, e seu segundo marido, Luís Correa de Bragança, fizeram doação a João Inácio de Azevedo, respectivamente seu irmão e cunhado, de uma área com 4443100 braças

NORTE

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quadradas [91.780ha]. Em 15 de junho de 1825, este vendeu a Joaquim Francisco Ilha. [BBP, RPTMP, L. 93: 134] Vinte seis anos mais tarde, quando do inventário de Joaquina Maria da Silva, a área estava reduzida a duas e meia léguas quadradas [10.890ha] de campo da estância do Pavão, incluindo alguns banhados transitáveis; um banhado ainda inacessível, que fazia parte da mesma estância, de aproximadamente meia légua quadrada [21.780ha]. Nos dois inventários, acrescentavam-se três das quatro partes da ilha denominada Pavão, junto à estância de mesmo nome, que tinha a extensão de mais ou menos meia légua [21.780ha]. Com a morte da rio-grandina Joaquina Mª da Silva, a estância foi dividida entre os oito herdeiros. [FIG. 15]

Figura 15 – Cópia parcial e reduzida do canal São Gonçalo. Biblioteca Nacional, seção de mapas, 8, 4, 20.

Programa de Necessidades. Função. Edificações. Equipamento

O programa de necessidades do saladeiro, estância e olaria do Colla, na Banda Oriental, e o da charqueada, fazenda e olaria do Pavão foram muito semelhantes, ou, dito de outra maneira, as listagens das instalações, atividades, prédios, equipamentos do

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RAFAEL PINTO BANDEIRA 61

Colla e do Pavão foram praticamente as mesmas. Idêntica semelhança, ocorreu entre os materiais e técnicas da construção e o sítio onde se implantaram as instalações.

A charqueada, a fazenda e a olaria iriam se repetir em quase todas as sesmarias interceptadas por águas navegáveis da região. Foi o que se verificou, no espaço compreendido entre o rio Piratini e a laguna dos Patos, e rio Camaquã e o canal São Gonçalo. Estava definido um dos tipos de estabelecimento charqueador, que iria, na sua essência, repetir-se, sucessivamente, por todo o território platino, durante os últimos 20 anos do século XVIII e o século XIX.

O programa de necessidade da estância do Pavão era o seguinte: uma morada de casas de vivenda e cozinha, coberta de telhas e paredes de tijolos, em que vivia o casal, em mau estado; junto a essa, uma outra casa pequena, velha, de tijolos e telhas; perto das casas, um pomar, cercado, com algum arvoredo; dois galpões cobertos de capim e dois potreiros limitados por valos, arrombados em algumas partes. No lugar chamado de Boa Vista, onde morava o co-herdeiro Francisco Gonçalves Vitorino, existiam: dois galpões cobertos de capim, uma mangueira de pedra e uma casa de paredes de pedras, e que na época do primeiro inventário estava coberta de capim, e, quando do segundo, era coberta com telhas de barro.

A charqueada e a olaria foram construídas no mesmo lugar, às margens do arroio do Pavão. Compreendiam um galpão grande coberto de capim; dois menores, também cobertos de capim; uma casa pequena, que servia de residência ao capataz; um forno e galpão de olaria, coberto de capim; uma cancha com duas mangueiras para encerrar o gado de pau-a-pique [mangueira de matança]; uma tafona [para moer sal] e duas mesas de salgar, um potreiro e uma graxeira com dois vapores.

A máquina a vapor foi inventariada no processo da viúva, realizado em 1849, o que não ocorreu no levantamento dos bens de João Nunes Batista, realizado no ano de 1823. Essa foi a grande diferença entre as instalações dos saladeiros do Colla, em 1788, e de João Nunes Batista, em relação à charqueada de Joaquina Maria da Silva.

Com base no que foi descrito nos estabelecimentos charqueadores, foi possível resumir, preliminarmente, um esboço sobre o programa de necessidades, materiais e técnicas de construção utilizados no espaço da produção do charque: a olaria fazia parte da área destinada à atividade charqueadora; os galpões abrigavam a maior parte das funções; desde o início, na charqueada do Pavão, o abate não era feito a campo aberto, mas, em local construído especialmente para esse fim, a mangueira de matança; os materiais e técnicas usadas nas primeiras construções foram a cobertura de capim e as paredes de pau-a-pique e, em menor número de vezes, a alvenaria de pedra; com o tempo, esses materiais foram sendo substituídos por elementos de barro.

Telhados e paredes de alvenaria de tijolos foram empregados nas construções importantes, como a residência do charqueador; a morada do proprietário estava localizada no mesmo terreno, mas, em um outro conjunto de construções, afastada do lugar da produção da carne salgada. Esse grupo era formado por um pomar e outros prédios de apoio, como moradia, galpões, potreiros, etc. A presença da máquina de vapor foi um salto na qualificação do processo de trabalho e, conseqüentemente, do produto.

Uma diferença substancial entre os 26 anos que separam os dois inventários da fazenda e charqueada do Pavão, foi o número de cativos. João Nunes Batista, quando morreu, deixou 66 escravos, Joaquina, 30. A diminuição significativa do número e da qualificação dos escravos exigiu um momento propício para essa explicação. Com esses dados, iniciaram-se as seguintes considerações: desde os primeiros tempos, os escravos eram qualificados nas diversas profissões; ao contrário, as escravas não tinham ofícios

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definidos. Dos cativos de João, 47% -carneadores, charqueadores e marinheiros- trabalhavam na produção e no transporte do charque, 23% ocupavam-se das lides campeiras. Provavelmente esse número seja alto, tendo em vista o número de vacas leiteiras; quase 20% não tinham profissão definida e, desses, praticamente todos eram do sexo feminino; 10% constituíam os chamados escravos de “ofício”.

Tabela 1 – Relação de escravos da fazenda, Charqueada e Olaria do Pavão.

PROFISSÕES JOÃO - 1823 JOAQUINA - 1849

55 eram homens 22 eram homens

15 14 13 04 02 02 01 01 01 -

- - 06 01 01 - - 01 - 01

Campeiro Charqueador Carneador Marinheiro Cozinheiro Sapateiro Falquejador Carpinteiro Pedreiro Alfaiate Sem informação 13 [11 eram mulheres] 20 [8 eram mulheres] Total 66 30 Fonte: APRGS, INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 6, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823 e INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849.

Sessenta e seis por cento dos cativos de Joaquina não possuíam informações sobre seus afazeres, possivelmente porque não eram qualificados e prestavam qualquer tipo de serviço; 26% do total eram mulheres. Apesar de o programa de necessidades destacar as instalações destinadas à olaria, nenhum escravo foi qualificado como oleiro. Por outro lado, apesar do número elevado de escravos, a senzala, na charqueada do Pavão, não constou de nenhum dos dois inventários. Certamente, a explicação dessa questão, assim como de outras já apontadas, ou não, necessita de uma amostragem maior de dados, que, no decorrer do trabalho, irão sendo apresentados.

Do exposto até aqui, foi possível identificar uma tipologia de charqueada, constituída de três atividades: criação de animais, produção de charque e de elementos cerâmicos. Essa solução pode ser encontrada na Banda Oriental e no Continente de Rio Grande, desde os últimos vinte anos do século XVIII, e no século XIX. A localização seguia dois critérios, a proximidade dos rebanhos de gado e a dos cursos de água navegáveis, com acesso ao Atlântico, favorecendo, conseqüentemente, a exportação.

Esses dois critérios, para a implantação dos empreendimentos saladeiris, fizeram com que o distrito de Serro Pelado fosse transformado no maior pólo sulino da Colônia e do Império. Para começar, o Serro Pelado era fronteiro aos Campos Neutrais, a “terra-de-ninguém”, povoada com imensos rebanhos de gado bravio. O canal São Gonçalo permitia o acesso à Banda Oriental, através da lagoa Mirim, e, pela laguna dos Patos, alcançava-se o porto de Rio Grande e o Atlântico. No sangradouro, desaguava uma série de arroios, que permitiam a navegação e serviam de limites naturais às doações de terras. A costa do arroio que propiciava o maior trecho navegável, o Pelotas, foi dividida em pequenas frações de terrenos, e ali se instalou o cerne do núcleo charqueador pelotense. Nesse espaço, foi identificada uma outra tipologia de charqueada, destinada especialmente à produção do charque, e, muitas vezes, acompanhada da produção de elementos cerâmicos.

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Capítulo 7

SANTANA

Existiram três estâncias - Santana, São Tomé e Santa Bárbara - entre a fazenda, a charqueada e a olaria do Pavão e o cerne do núcleo charqueador pelotense, na sesmaria do Monte Bonito, situada entre os arroios Santa Bárbara e o Pelotas. Elas ocupavam o espaço cortado pelo arroio de São Tomé, depois chamado de Padre-doutor, e do Pestana, Moreira, ou, como posteriormente foi chamado, Fragata, até encontrar o arroio Santa Bárbara, divisa das terras da estância do Monte Bonito. Pelo menos, nessa área, funcionaram duas charqueadas, localizadas às margens do arroio Fragata. Os estabelecimentos saladeiris pertenceram a Antônio Rafael dos Anjos e a Joaquim Manuel Teixeira, ambos da Colônia do Sacramento. [FIG. 16]

O dono da fazenda de Santana foi Felix da Costa Furtado de Mendonça, alferes de ordenanças das tropas da Colônia do Sacramento. Nascido em 1735, em Saquarema, Nossa Senhora de Nazaré, no Rio de Janeiro, morreu em 1819, em Pelotas. Seus pais chamavam-se Jorge Antônio da Costa Soares e Ana Maria Furtado de Mendonça. Em 1773, na Colônia do Sacramento, casou com Ana Josefa Pereira. Esta era filha de Vicente Pereira, português de São Pedro de Alfândega da Fé, Bragança, que havia casado na cidade do Porto, enquanto aguardava a partida de um navio para a América, com sua conterrânea Madalena Martins Pinta. Ana Josefa foi a décima e última filha do casal. Entre seus irmãos, havia dois padres, Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio Grande, e Antônio Pereira de Mesquita. Ana Josefa Pereira e o alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça tiveram três filhos homens, o doutor Hipólito José da Costa Pereira, nascido na Colônia; o padre Felício Joaquim da Costa Pereira, portenho, primeiro vigário de Pelotas, e o rio-grandino José Saturnino da Costa Pereira. [RHENGANTZ, 1979: 255]

Hipólito, Felício e Saturnino estudaram em Coimbra, como o tio, por isso chamado padre-doutor Pedro Pereira de Mesquita. O mais velho, Hipólito, formou-se em Leis e Filosofia. Jornalista, iniciou e manteve a publicação do Correio Brasiliense, até a Independência do Brasil. Recebeu o título de Patrono da Imprensa Brasileira. A mando do governo português, desempenhou diversas funções. Na América do Norte, estudou as culturas do linho e do cânhamo, por parecerem adequadas à capitania de São Pedro do Rio Grande. Entre 1801 e 1803, suspeito de ser ‘pedreiro livre’, permaneceu, por ordem do Santo Ofício, nos cárceres da Inquisição, de onde conseguiu fugir. [CUNHA, 23/08/1928: s.p.] [FIG. 16]

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Figura 16 – Localização aproximada das estâncias do Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara.

O filho mais moço, Saturnino, estudou Matemática e, como o pai, seguiu a carreira das armas, chegando a general. Foi deputado da Capitânia às Cortes de Lisboa, no início dos anos vinte dos oitocentos; primeiro presidente da província do Mato Grosso, no período compreendido entre 1825 e 1831; senador do Império e seu ministro da guerra. [CUNHA, 23/08/1928: s.p.] Os tios e padres Pedro Pereira e Antônio Pereira receberam terras no distrito de Serro Pelado. Pedro foi lindeiro de sua irmã Ana Josefa, na estância de Santana. O vigário de Rio Grande e seu irmão, o religioso Antônio, participaram da partilha das chamadas “sobras” de terras da sesmaria do Monte Bonito.

A sesmaria do alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça, e de sua esposa, Ana Josefa Pereira, situava-se no interior das terras, a uma das extremidades da fazenda do Pavão. Localizava-se junto às nascentes do arroio São Tomé, sobre as divisas de Alexandre Baldez, além da serrilhada que arrematava com os morros das Almas e

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SANTANA 65

Santana. Em 1807, media 8.712ha. Em 10 de março de 1794, o alferes a tinha recebido de dom José de Castro, conde de Rezende, como prêmio por serviços de guerra. [CUNHA, 4/08/1928: s.p.] No Registro de Terrenos, a doação possuía 1½ léguas [9.900m] de comprimento, por uma légua [6.600m] de largura, e a descrição dos limites era a seguinte:

“Campos no distrito da vila de Rio Grande, na parte setentrional do sangradouro da lagoa Mirim. Confrontam: ao norte com Alexandre da Silva Baldez e Antônio Teixeira Curisco; a oeste com Francisco da Rosa, servindo de divisa o arroio São Tomé; pelo sudoeste com o cume de uns serros que dividia dos campos do brigadeiro Pinto Bandeira, e ao les-nordeste [?] com o doutor Pedro Pereira de Mesquita.” [RAPRGS, /04/1921: 118] [FIG. 17]

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Figura 17 – Localização aproximada das charqueadas do Pavão e do Fragata.

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A estância do alferes era vizinha às terras de seu cunhado, o padre-doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita. O terreno do vigário de Rio Grande havia sido doado pelo mesmo conde, alguns meses mais tarde, mas, no mesmo ano de 1794. Media duas milhas de comprimento [3.219m], por uma [1.609m] de largura. A área estava assim demarcada:

“Terras no distrito da Vila de Rio Grande, na parte septentrional do sangradouro da lagoa Mirim, confrontando pelo nordeste com Alexandre da Silva Baldez, pelo arroio São Tomé; a oeste- sudoeste com Felix da Costa, e pelo sul e sudoeste com o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, servindo de divisa um arroio.” [RAPRGS, /04/1921: 131]

O Padre-doutor emprestou seu nome ao arroio São Tomé, que banhava as suas terras. De acordo com o levantamento realizado pelo capitão, Antônio Ferreira dos Santos, esse terreno tinha sido doado pelo governador José Marcelino, no dia 2 de abril de 1780, a José Inácio das Fontes; fora comprado pelo religioso. Em 1785, o padre-doutor possuía, na área 100 reses, seis cavalos e 50 éguas. [AHRGS, L.1198B: 205]

São Tomé

A estância São Tomé limitava-se com o arroio de mesmo nome e o Pestana, Moreira ou Fragata. Começava em rasas campinas, à margem do São Gonçalo, sobre terras que iam, em constante e crescente elevação, tomando o rumo da coxilha do Santo Amor. A estância de São Tomé pertenceu, inicialmente, a Antônio dos Santos Saloyo, que a negociou com Manuel Moreira de Carvalho e sua esposa, Maria da Encarnação. Manuel e Maria venderam metade do terreno a Alexandre da Silva Baldez, e a outra parte a Francisco Araújo Rosa. No dia 20 de abril de 1799, Antônio Francisco dos Anjos comprou a parcela de Rosa. [FIG. 17]

O lugar da última venda ficou conhecido como estância do Fragata. Possuía as seguintes confrontações: pelo sul, com dona Josefa, viúva do brigadeiro Rafael Pinto Bandeira; pela frente, com Manuel Inácio Gomes [sucessor de Baldez] e, de fundos, com o canal São Gonçalo. O espaço da fazenda e charqueada do Fragata foi descrito, ainda, desta forma: situada para leste da linha - passo dos Carros e passo do Capão do Leão, compreendida pelo curso inferior do arroio Moreira e São Tomé, e margem esquerda do São Gonçalo. [CUNHA: 04/08/1828, s.p.] [FIG. 17]

Lembrando os proprietários de suas margens, o arroio levou os nomes de Moreira e Fragata, sendo, o último nome, uma referência à embarcação do charqueador Antônio Francisco dos Anjos. Em um terreno da sesmaria do Monte Bonito, o padre Felício, da estância de Santana, e seu vizinho, Antônio dos Anjos, da charqueada do Fragata, deram início à construção do que veio a ser o primeiro loteamento da cidade de Pelotas. Sobre Antônio dos Anjos, e seu amigo, o padre Felício, ainda muito vai ser contado.

A parte da estância de São Tomé, que coube a Alexandre Baldez, estava situada no interior. O resumo da sinopse de sesmaria informou o que segue:

“Campos no Rio Grande, que principiam em um cotovelo que forma o arroio São Tomé, em demanda do passo que vai para a estância do

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confinante Rafael Pinto Bandeira; do dito passo em linha reta, por cima de uma coxilha que vai ao passo dos Carros, no arroio Pestana [Fragata ou Moreira], onde extrema com José da Silva e a serra que tapa os referidos campos.” [RAPRGS, /04/1921: 112]

Alexandre da Silva Baldez era originário da Colônia do Sacramento. Durante a ocupação espanhola, tinha se escondido por essas paragens. Quando o vice-rei Luís de Vasconcelos e Souza, em 1789, concedeu-lhe a posse das terras que ele ocupava, essas mediam duas léguas [13.200m] de comprimento e 3/4 de légua de largura.

Santa Bárbara

Essa estância foi medida em 5 de agosto de 1818. Possuía 10.642ha. Os autos da medição das terras de Manoel Alves de Morais, e de sua sogra, Rosália Maria Angélica, informaram o seguinte:

“23 de junho de 1817. O marquez de Alegrete fez mercê a Rosalia Maria Angélica de uma sesmaria de terras com uma légua [6.600m] de frente e três léguas [19.800m] de fundo, sita no arroio Moreira e Santa Bárbara, com frente a serra dos Tapes e fundos ao Sangradouro da Mirim, rio São Gonçalo, a qual houve por compra que ela fez de seu marido Teodoro Pereira Jacome, que a havia arrematado em praça pública.” [BBP, RPTMP, 93: 18]

Mudança de Rumo

Além das quatro estâncias, Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara, mais três, Monte Bonito, Pelotas e Feitoria formaram o município de Pelotas, atualmente subdividido entre os municípios de Capão do Leão e Morro Redondo. Para apresentar os dados referentes à implantação do pólo charqueador pelotense, esta descrição levou em conta dois critérios. O primeiro, de ordem geográfica, vinha, ao longo deste trabalho, seguindo o sentido sul-norte, Pavão, Santana, São Tomé e Santa Bárbara.

O segundo critério de apresentação deixou para expor, no fim, as sesmarias onde funcionavam maior quantidade de charqueadas. Ou seja, começar com o entorno e terminar no cerne do núcleo saladeiril. Por isso, o rumo foi invertido. As estâncias de Pelotas e Monte Bonito, divididas pelo arroio Pelotas, foram deixadas por último. Na estância de Pelotas, na margem esquerda do arroio, funcionaram sete estabelecimentos; na direita, na sesmaria do Monte Bonito, trabalhavam 23 fábricas de salga de carnes. No Monte Bonito, somavam-se, ainda, mais ou menos dez saladeiros, localizados às margens do canal São Gonçalo.

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Estância da Real Feitoria do Linho Cânhamo

Fundada em 1783, por iniciativa do vice-rei Luís de Vasconcelos, a Real Feitoria do Linho Cânhamo tinha a finalidade de cultivar e industrializar o linho, para abastecer de velas e cabos a Armada Portuguesa. A fim de trabalhar na Feitoria, foram transferidos da Real Fazenda de Santa Cruz, do Rio de Janeiro, vinte famílias de escravos. Para dirigir o estabelecimento, foi enviado o padre Francisco Roiz Xavier Prates. O religioso faleceu um ano depois. A estância da Real não chegou a funcionar satisfatoriamente. Por isso, numas das suas interinidades, como governador, Rafael Pinto Bandeira transferiu as atividades para onde atualmente é a cidade de São Leopoldo, às margens do Rio dos Sinos. “Nos anos de maior prosperidade, a Feitoria chegou a produzir cerca de 40 quintais [2.320kg] de linho.” [CESAR, 1970: 209] [FIG. 18]

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Figura 18 – Localização aproximada das sesmarias do Monte Bonito, Pelotas e Real Feitoria do Linho Cânhamo.

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SANTANA 69

Precariamente, pelo pouco tempo de atividade, os estabelecimentos reais poderiam estar instalados no interior do continente, no rincão de Canguçu, posteriormente, conhecido por estância da Feitoria. Sobre a esta estância, Alberto Coelho da Cunha informou o que segue:

“Fundada por Paulo Xavier Prates. Fazia frente à lagoa dos Patos e atingia pelos fundos partes indeterminadas da serra dos Tapes. Corria-lhe o arroio Grande ao norte; era fechada ao sul pelo arroio Correntes. Tendo falecido Paulo Prates, entre seus herdeiros ela foi partilhada. Tendo comprado quinhões de herdeiros, Domingos de Castro Antiqueira.[...] achou-lhe uma área correspondente a 18.793ha.” [CUNHA, 03/08/1828: s.p.] [FIG. 18]

Da área compreendida pelas estâncias do Pavão, Santana, São Tomé, Santa Bárbara e Feitoria, formou-se o entorno do núcleo charqueador pelotense. Foram donos dessas terras, principalmente, militares-estancieiros da maior influência na história do Rio Grande, como o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, ou Felix da Costa Furtado de Mendonça e seus parentes, entre os quais tiveram destaque o Padre-doutor e o padre Felício. Duas instalações charqueadoras salientaram-se: a do Pavão, de João Nunes Batista e Joaquina Maria da Silva; e, a do Fragata, de Antônio Francisco dos Anjos.

Em 1787, onze anos depois da expulsão dos espanhóis de Rio Grande, o distrito do Serro Pelado possuía um rebanho invejável, em comparação aos outros distritos do Continente do Rio Grande. Em Rio Pardo, concentrava-se o maior número de animais; em Rio Grande, o Serro Pelado liderava as estatísticas. Essas terras propiciavam, cada vez mais, o desenvolvimento da indústria da carne salgada, tendo em vista a proximidade dos cursos d’água navegáveis e a existência do gado que podia ser alçado nas vizinhanças dos campos neutrais.

Tabela 2 - Animais de diversas espécies que existiam no Continente do Rio Grande em 1787.

Rio grande Bois Mansos Vacum

Gado Cavalares

Animais Muares

Animais Burras

Burros Ovelhas Total

Distrito da vila de S. Pedro Distrito do Povo Novo Distrito do Serro Pelado Distrito do Estreito Distrito de Mostardas

946 784 746

1611 2014

19710 7765

59200 21209 57866

6351 3451

14899 5880 6551

47 19

475 89

726

8 10 31 85 74

200 108

3385 462 507

26902 12117 78736 29729 67738

Soma 61O1 165750 37132 1356 138 4662 215222 Fonte: SANTOS, 1983: 82.

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Capítulo 8

SESMARIA DE PELOTAS

A sesmaria de Pelotas estava assentada na área de Planície Costeira, a uma altitude de 5 a 8m, o terreno botava águas pelos arroios Pelotas, Contagem, Correntes, canal e lagoas. As margens dos arroios constituíam uma zona de aluviões. As praias lacustres, das lagoas Pequena e dos Patos, eram acompanhadas de uma zona de areias finas e médias. “No geral, seus solos são de imperfeitamente a mal drenados, argilosos, com alta e regular fertilidade química e condições físicas de más a regulares [...] sendo que a cobertura de pastos é de regular e boa qualidade.” [ROSA, 1985: 80]

Ao longo do século XIX, a sesmaria de Pelotas resultou em cinco estâncias e sete charqueadas. As fazendas chamaram-se: Patrimônio ou Sá; Graça; Palma; Galatéia e Laranjal, ou Nossa Senhora dos Prazeres. [FIG. 19] Um dos saladeiros situava-se no Laranjal, num lugar chamado Picada Real. Os outros seis, localizaram-se na margem esquerda do arroio Pelotas, nos seguintes lugares: na Graça; no Moreira; na Costa; no Fontoura; no Castro e na Palma. Até hoje, parte das terras permanecem nas mãos da família de Isabel Francisca da Silveira, mulher de seu segundo proprietário.

Houve vendas, negócios, transações, loteamentos. Os descendentes mantêm-se como os grandes proprietários dessa área. Conservam estâncias, possuem granjas de arroz e loteamentos urbanos, nas margens do arroio Pelotas, e nas praias do Laranjal, na laguna dos Patos. Na sesmaria de Pelotas, os saladeiros apresentavam dois ou mais terrenos: o terreno da charqueada, propriamente dito, tinha as instalações destinadas à fabricação da carne salgada e à produção de tijolos e telhas, além do conjunto reservado à residência do charqueador, com prédios de apoio e um pomar; os outros terrenos serviam à criação de gado. Configurava-se, mais uma vez, a tipologia do complexo saladeiril, composto por um trinômio que compreendia, principalmente, as funções de criação, de produção de charque e de elementos cerâmicos.

Voltando ao processo de doação da sesmaria de Pelotas: em 18 de julho de 1758, o conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, governador do Rio de Janeiro e capitão geral das capitanias do Sul, doou ao coronel de dragões, Tomás Luís Osório, um rincão chamado Pelotas. “Extremando no sangradouro da Mirim [canal São Gonçalo] e arroio Pelotas até topar com o arroio Correntes, e este a lagoa dos Patos e o lugar de Canguçu.” [BPP, RPTMP, 93: 11] O rincão foi outorgado por serviços prestados nas guarnições do continente de São Pedro. Tomás Luís Osório conduziu a construção da fortaleza de Santa Teresa, entregou-a aos espanhóis, e foi processado. [DEVASSA, 1937: 7,8]

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 72

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Figura 19 – Localização aproximada das estâncias Sá [Patrimônio], Graça, Palma, Galatéia e Laranjal.

Devassa

Em 22 de novembro de 1763, em carta que instaurava a presidência do inquérito de devassa sobre a invasão espanhola, Tomás Luís Osório foi acusado pelo vice-rei, Conde da Cunha, nos seguintes termos: “[...] Tomás Luís Osório a deixar-se surpreender no passo junto a Castilhos onde se achava postado com o seu regimento e mais gente se lhe agregara que fazia o número de novecentos homens sem a mais leve resistência [...] e se lhe fará seqüestros de bens [...].” [MONTEIRO, 1937: 7,8] Além

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SESMARIA DE PELOTAS 73

dessa acusação, Tomás Luís Osório foi denunciado por proteger um jesuíta. Acabou enforcado em Portugal. [NASCIMENTO, 1989: 12]

Manuel Bento da Rocha

Em 4 de junho de 1799, a viúva, Francisca Joaquina de Almeida Castelo Branco, e seus filhos, venderam o rincão, por um conto e duzentos mil réis, ao capitão-mor Manuel Bento da Rocha. [RPTMP, 93: 11] Fornecedor de alimentos às forças militares e dono de várias sesmarias extensas. No segundo distrito de Rio Grande, na ilha de Torotama, situada na laguna dos Patos, ele doou datas de terras, de que era possuidor, a casais procedentes de Maldonado e da Colônia do Sacramento. No terceiro distrito de Rio Grande, ou Serro Pelado, possuiu quatro estâncias. Duas dessas ultrapassavam a área total permitida pelos ordenamentos filipinos, ainda utilizados, de 3300m x 19800m. Chegavam a alcançar 3.300m x 33.000m. [QUEIROZ, 1987: 140] Em 1812, a sesmaria de Pelotas foi medida. Constaram 524.501.352m². [BPP, RPTMP, 93: 11]

Em 1785, no levantamento de Serro Pelado, feito pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos, Manuel Bento da Rocha apareceu como proprietário de três sesmarias: a de Pelotas, com uma légua [6.600m], por cinco léguas [33.000m], o rincão de Correntes, com a mesma dimensão da estância de Pelotas, e a de São Lourenço, com uma légua [6.600m] por quatro léguas [26.400m]. No rincão de Correntes, havia os casais de Maldonado, que foram transferidos para a ilha de Torotama. Eram agregados, naquele rincão, os padres Francisco Inácio da Silveira e Francisco dos Chagas. Por ter servido ao capitão, por um período de 16 anos, o capataz Manuel de Jesus recebeu uma porção do terreno da estância de Correntes. A sesmaria de São Lourenço tinha sido doada por Rafael Pinto Bandeira, com a promessa de lhe dar carta de sesmaria do terreno, o que não foi feito. [AHRGS, L.1198B: 198-205]

Tabela 3 - Animais que povoavam as terras de Manuel Bento da Rocha, 1785.

Serro pelado Potros Reses Bois Cavalos Éguas Burros Burras Ovelhas Total

Pelotas Agregados Correntes Agregados S. Lourenço Agregados

190 -

404 33

170 -

5500 128 885 561

2686 -

230 10 12 8

30 -

224 10 47 32

207 -

470 184 302 199 125

1258

8 -

29 16

- 428

22 - - - -

110

900 -

482 47

- 418

7.544 332

2.161 896

3.218 2.214

Soma 797 9760 290 520 2538 481 132 1847 16.365

Fonte: ASRGS, L. 1198B: 198-205.

Comparando-se, na TAB. 3, o número de gado vacum existente em 1787, no distrito do Serro Pelado - 59.200 -, com o número de reses que pertenciam a Bento da Rocha e seus agregados - 9.760 -, pode ser afirmado que o capitão detinha mais de 16% do rebanho de abate daquele distrito. Sobre a estância de Pelotas, tem-se dito que, além da criação, dedicava-se à agricultura:

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 74

“Desde os tempos do capitão-mor, ali se cultivavam extensas lavouras, vinhedos, pomares e funcionavam diversas fábricas [de salga de carne?] e se pastoreavam cinco mil e quinhentas reses, mais de oitocentos animais cavalares, muitos outros animais e, ainda, os que pertenciam aos agregados, em número de mais de seiscentos.” [NASCIMENTO, 1989: 15]

A plantação de trigo teve destaque na estância do Laranjal, e o cultivo de arroz foi registrado na fazenda da Galatéia:

“Sobretudo da gente ilhoa, agricultora, dada ao cultivo do trigo era habitado o Laranjal, que foi o empório deste grão, pela era de 1800. Trabalhavam perto de 40 arados lavrando terras e em curto período saíram 280 carregamentos orçando em 55 mil toneladas de trigo, transportados até a costa da lagoa dos Patos, saco do Laranjal e embarcados em navios de barra-fora. Pode-se dizer que movimentava-se o rincão do Laranjal, de fins do século dezoito às duas primeiras décadas do dezenove, constituído o empório dos trigos. Em começos da referida era de 1800 fez-se o cultivo do arroz na Galatéia [estância Machado] [...].” [OSÓRIO, 1962: 31]

No final do século XVIII, e nas duas primeiras décadas do XIX, o Rio Grande do Sul exportou trigo. No início dos anos vinte, a agricultura rio-grandense já era decadente. Em 1822, a viúva do capitão-mor Manuel Bento da Rocha, Isabel Francisca da Silveira, faleceu, passando parte das terras para suas sobrinhas-netas. Provavelmente, a dedicação ao processo de produção do charque, com vistas a uma maior comercialização e exportação, na estância de Pelotas, deve ter acontecido quando Isabel Francisca da Silveira passou a propriedade a seus parentes, o que resultou na divisão da estância em fazendas, e suas respectivas, ou não, charqueadas.

As razões apontadas pelos historiadores para o declínio da triticultura foram de toda ordem: a “ferrugem”, uma praga que atacava as plantações e mascarava a existência de outras dificuldades; a precariedade das técnicas de cultivo e a carência do métodos defensivos; a requisição, por parte do governo, de grãos e de braços, cujo não pagamento teria levado ao desestímulo; a proibição da entrada do trigo gaúcho em Portugal, a partir de 1793; a competitividade com exportadores, como os Estados Unidos, França e Prússia, que, com as baixas tarifas alfandegárias, concorriam no próprio mercado interno; a falta de apoio governamental, que via o Rio Grande como uma zona militar e de defesa do império português. [CARDOSO, 1977: 57-59; CHAVES, 1978: 192-193; MAESTRI, 1984: 46; SILVA, 1979: 61]

“Observamos, porém, que o crescimento da produção rio-grandense de trigo se deu no exato momento de crise na produção de cereais na Europa. No início do século XIX, os países europeus buscaram soluções para o problema através de uma restruturação de produção nas próprias metrópoles e, muitos deles, em suas colônias. O mercado para a produção tritícula gaúcha estava-se fechando, conseqüentemente, ocorreu uma desorganização na produção porque o sistema produtivo do Rio Grande não podia fazer frente a um modo de produção mais desenvolvido e efetivamente ligado ao sistema capitalista mundial.” [SILVA, 1979: 61]

Entre os historiadores, há discordância sobre a questão da mão-de-obra no cultivo do trigo, naqueles anos, no Rio Grande. Por um lado, afirmam que nas freguesias nas quais se registrou maior concentração de escravos, houve a produção de trigo. [CARDOSO, 1977: 52] Por outro lado, concluem o contrário, quando comparam o mapa da produção de trigo, de 1787, com o senso da população de 1780:

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SESMARIA DE PELOTAS 75

“[...] veremos que a zona de Rio Grande [além da vila, Povo Novo, Cerro Pelado, Estreito e Mostardas] produz 52,47% do trigo do Continente e possui apenas 22,37% da população escrava, enquanto que as zonas de Rio Pardo e Porto Alegre, juntas, produzem apenas 47,54% do trigo e possuem 77,62% dos escravos. São, pois, os lavradores em suas pequenas parcelas, os responsáveis pela maior parte da produção do trigo, que até 1790 terá praticamente o mesmo valor exportado do charque.” [OSÓRIO: 1990, 189]

Grandes e pequenos produtores trocaram a agricultura pela pecuária. Além da superação da crise na Europa, e da existência de todos os problemas listados, os próprios rebanhos de gado encarregaram-se de pisotear e terminar com as plantações. A pecuária e seus derivados foram produzidos e mandados para o centro do Brasil. O processo de produção da carne salgada exigiu uma quantidade maior de trabalhadores do que o pastoreio. Na sociedade escravista brasileira, a solução encontrada foi a que vinha sendo utilizada na colônia portuguesa, a importação da mão-de-obra cativa africana. Com a instalação do pólo charqueador, aumentou consideravelmente a população escrava no Rio Grande de São Pedro e, em particular, no distrito de Serro Pelado.

Sucessão da Estância de Pelotas

Manuel Bento da Rocha era casado com Isabel Francisca da Silveira. Esta veio da ilha de Faial, nos Açores, com seus pais, o alferes Antônio Furtado de Mendonça e Isabel da Silveira. [NASCIMENTO, 1989: 10] Ou, era filha de Mateus Inácio da Silveira. Essa família já estaria em Viamão, muito antes dos casais de número, ou seja, do contrato de Velho Oldemberg, que chegaram em Rio Grande em 1748. Provavelmente esses Silveiras tenham passado por São Paulo, e vindo para o sul, na mesma época de Jerônimo Dorneles e Dionísio Rodrigues. [FORTES, 1978: 57]

Isabel Francisca tinha quatro irmãs: Mariana Eufrásia; Maria Antônia; Joana Margarida e Ana Inácia; dois irmãos: Antônio e José Inácio. Suas irmãs e sobrinhas casaram-se com militares e foram proprietárias das terras da sesmaria de Monte Bonito. Com a morte do capitão-mor, Manuel Bento da Rocha, Isabel Francisca herdou e administrou a estância de Pelotas, até a sua morte, no ano da independência do Brasil. O casal não teve filhos.

Por testamento, destinou parcialmente a estância de Pelotas a duas sobrinhas-netas e afilhadas, as irmãs Maria Regina da Fontoura e Isabel Dorotéia da Fontoura, netas de sua irmã Maria Antônia, casada com Maurício Inácio da Silveira, e filhas de Dorotéia Isabel da Silveira e do capitão de dragões José Carneiro da Fontoura. Maria Regina da Fontoura casou-se com João Duarte Machado; eles foram pais de José Maria Bento da Fontoura, Manuel Bento da Fontoura e Maria Augusta da Fontoura, casada com Joaquim José Assumpção.

A outra herdeira, Isabel Dorotéia da Fontoura, casou com João Simões Lopes. Dessa sucessão foi possível identificar, na sesmaria de Pelotas, sete charqueadas. A mais distante, da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo, estância da Graça,

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 76

pertenceu a João Simões Lopes, que a passou a seu filho de mesmo nome, também conhecido como visconde da Graça.

Descendo o arroio Pelotas, em direção ao canal São Gonçalo, encontravam-se na margem esquerda, as seguintes charqueadas: na estância da Graça, de João Simões Lopes; no Moreira, de José Antônio Moreira, barão de Butui; na Costa, de Joaquim José Assumpção, no Fontoura, dos irmãos, José Maria Bento da Fontoura e Manuel Bento da Fontoura; no Castro, de Antônio José de Oliveira Castro; e, a do barão de Azevedo Machado, Antônio José de Azevedo Machado. Anotou-se, ainda, um estabelecimento saladeiril na laguna dos Patos, no Laranjal. [FIG. 20]

Figura 20 – Cópia parcial e ampliada de uma carta hidrográfica, Lopo Neto, Arquivo Nacional. Seção de

Mapas, MVOP-CB [25].

No início da segunda metade do século VIII, foi doado o rincão de Pelotas. No fim do século, seu segundo proprietário, o capitão-mor Manuel Bento da Rocha, sua esposa Isabel Francisca da Silveira, parentes, agregados e companheiros de armas, instalaram-se nas terras da sesmaria e nas estâncias vizinhas de São Lourenço e Correntes. Dedicaram-se à criação de animais e ao cultivo do trigo. Na segunda década do século XIX, com a morte de Isabel, a sesmaria foi dividida em cinco estâncias, onde funcionaram sete charqueadas. Provavelmente, neste período, tenha sido incrementada a atividade charqueadora e aumentado consideravelmente a mão-de-obra escrava africana.

NORTE

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Capítulo 9

ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS

“De começos até quase fins do século passado - e desde a foz até pouco além do Cotovelo, onde na Graça se situara a última charqueada - pelas suas margens, e sobretudo pela direita, se escalavam esses estabelecimentos com as suas respectivas olarias.” [Grifo nosso] [CUNHA, 1939: 40]

Em menor número, mas, da mesma forma, as charqueadas da margem esquerda do Pelotas seguiam subindo a costa do arroio, com as suas respectivas olarias e campos de criação. Todas essas terras pertenceram preliminarmente a fazenda de Pelotas. A primeira, mais distante da foz, a charqueada da Graça, vinculada à estância de mesmo nome, pertenceu ao visconde da Graça, João Simões Lopes. Descendo o arroio, no Moreira, o segundo estabelecimento foi do barão de Butui, José Antônio Moreira, dono da fazenda da Palma. Em seguida, estaria a fábrica do barão de Azevedo Machado, Antônio José de Azevedo Machado, proprietário da fazenda da Galatéia. No lugar chamado Costa, situou-se o estabelecimento de um outro barão, o do Jarau, possuidor da fazenda do Laranjal. Continuando a descer o arroio, no Passo Real, encontrava-se o estabelecimento dos irmãos José Maria e Manuel Bento da Fontoura, que também foram senhores da estância do Laranjal. Em sexto e último lugar, próxima à foz, no passo do Castro, ficava a charqueada de Antônio José de Oliveira Castro, sogro do barão de Butui. [FIG. 21]

Parte das terras da estância de Pelotas foram negociadas, como as duas vendas realizadas por Isabel Francisca da Silveira, viúva do segundo proprietário, o capitão Manuel Bento da Rocha:

“15 de maio de 1819. Dona Isabel Francisca da Silveira fez venda a Inácio Bernardes de um terreno, ou potreiro, que principia no arroio de Pelotas, no lugar onde algum tempo existiu a olaria de João Duarte Machado [marido da herdeira, Maria Regina da Fontoura, pai de José Maria Bento da Fontoura e Manuel Bento da Fontoura], seguindo arroio acima até a Volta das Éguas, no lugar onde o mesmo João tirava barro, e, deste ponto, a rumo nordeste, até o pantano, que divide a chácara de Ana Nóia, e daqui seguindo o mesmo banhado e pantano a rumo sudeste, digo, o pantano até encontrar o rumo sudeste lançado no lugar onde existiu a casa do dito Duarte. 6 de novembro de 1819. Dona Isabel Francisca da Silveira fez venda a José Pinto Martins [o português, que veio do Ceará, e, em 1780, segundo parece,

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instalou, na margem direita do Arroio Pelotas, a primeira fábrica de salga de carnes] e Companhia de um terreno que principia no arroio de Pelotas, no lugar onde acaba o vendido a José Inácio Bernardes, e, seguindo pelo arroio acima, até o Cascaes, em seguida, até o banhado, o pantano que se acha ao pé da lomba, e, seguindo pelo dito banhado, até a roça velha, onde morava Ana Nóia.” [Grifo nosso] [BBP, RPTMP, 93: 29]

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Figura 21 – Localização das charqueadas da margem esquerda do arroio Pelotas e de seus respectivos passos.

Até 1822, a estância de Pelotas permaneceu nas mãos de Isabel Francisca da Silveira. Isabel fez de suas sobrinhas-netas, as irmãs Maria Regina da Fontoura e Isabel Dorotéia da Fontoura, as maiores herdeiras da fazenda de Pelotas. Os proprietários das cinco estâncias - Sá, ou Patrimônio, Graça, Palma, Galatéia, e Laranjal, ou Nossa Senhora dos Prazeres - e das respectivas charqueadas, entrelaçavam-se por laços matrimoniais,

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ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 79

principalmente, entre as descendentes de três mulheres de sobrenome Silveira: Isabel Francisca; sua irmã, Mariana Eufrásia da Silveira; a filha desta, Maurícia Inácia da Silveira, ambas as maiores herdeiras da sesmaria do Monte Bonito. Essa sesmaria, que ficava do outro lado do arroio Pelotas, abrigou três dezenas de fábricas de salga de carnes contíguas à Tablada, local onde se comercializava o gado, e à cidade.

Os Bens Urbanos, Algumas Considerações

Além do patrimônio rural, foram muitas as propriedades urbanas dos charqueadores da sesmaria de Pelotas. Coincidentemente, ou não, o número de escravos desses senhores revelou-se significativo. Em 1848, José de Oliveira Castro, viúvo de Francisca Alexandrina de Castro, filha de Maurícia Inácia da Silveira e do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado, donos da sesmaria de Monte Bonito, herdou, na cidade de Pelotas: 10 terrenos; quatro sobrados, sendo dois de moradia e dois de comércio; 12 lances de casas térreas, uma vivenda com 10 portas, outra casa, com cinco portas, duas residências, com quatro aberturas, quatro moradias, com três acessos e quatro casas, com duas portas. Recebeu, como herança de sua mulher, um plantel de 159 trabalhadores cativos. [APRGS, INVENTÁRIO de Francisca Alexandrina de Castro. Pelotas, nº 239, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1848]

Também foi expressivo o número de propriedades urbanas do barão e da baronesa de Butui, charqueadores, donos da estância da Palma, e, respectivamente, genro e filha de Francisca Alexandrina e de José de Oliveira Castro. Esses nobres senhores, de uma centena e meia de escravos, deixaram na cidade os seguintes bens imóveis: 14 terrenos; oito sobrados, sendo quatro de três portas, três de cinco e um de seis portas. Somavam-se mais 12 lances de casas térreas, dessas cinco tinham quatro portas; duas, cinco; uma, três e quatro, duas. Possuíam, ainda, dois armazéns, um com três e o outro com quatro portas. [APRGS, INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877]

Ao colocarmos em relação o caráter sazonal da salgação de carnes; a grande quantidade de propriedades urbanas; a presença quase constante de olarias nas charqueadas e o significativo plantel de escravos, surge como hipótese mais do que plausível a construção de prédios urbanos como uma atividade alternativa à charqueadora. O processo de produção e organização do espaço se teria verificado desde a fabricação de tijolos e telhas, até o erguimento e manutenção das edificações. Por suposto, esse trabalho, ao mesmo tempo que ocupou os cativos, no período de entressafra da charquia, produziu a cidade. Não só os palacetes que serviam de residência urbana aos charqueadores, como uma série de casas de aluguel, destinadas à moradia, ao comércio e aos serviços. Essas edificações abrigavam a população, que crescia, na cidade, e as pessoas que ali chegavam, para os negócios da carne salgada, e em busca de tudo o que um centro produtivo oferecia.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 80

Os Passos

Entre a charqueada da Graça e a foz do arroio Pelotas, existiram, pelo menos, cinco passos, por onde eram atravessadas as tropas de gado. À margem direita do arroio, na frente de seus saladeiros, o Barão de Butui, o do Jarau, e Antônio José de Oliveira Castro, possuíam, respectivamente, três terrenos, pelos quais o gado cruzava as águas do Pelotas. O terreno de José Antônio Moreira tinha 11 braças [24,20m] de frente, dividia com os estabelecimentos de José Bento e Campos e de Boaventura Rodrigues Barcellos. Nesse terreno, estava construído um pequeno galpão. [APRGS, INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877]

O segundo terreno, da família Assumpção, ficava na frente da charqueada da Costa, entre as fábricas de Boaventura Rodrigues Barcellos e de Antônio José Gonçalves Chaves. Igualmente, nesse local, existia um rancho de paredes de tijolos e cobertura de telhas, que servia de cocheira. [APRGS, INVENTÁRIO de Maria Augusta da Fontoura. Rio Grande, nº 514, M. 22, E. 12, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1845]

No passo do Castro, na frente da charqueada de mesmo nome, à margem direita, o terceiro terreno foi vendido, por Domingos José de Almeida, a Antônio José de Oliveira Castro. [APRGS, INVENTÁRIO de Francisca Alexandrina de Castro. Pelotas, nº 239, M. 21, E. 26, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1848]

Situado à frente da charqueada da Graça, o passo do Retiro servia às tropas que se dirigiam àquele saladeiro. E, na frente da charqueada dos Fontouras, existia o passo de mesmo nome. O passo do Fontoura era o ponto mais estreito do Arroio Pelotas, por onde atravessavam as conhecidas pelotas, embarcações revestidas de couro, que deram o nome ao arroio e à cidade. Os terrenos à margem direita, e todos esses passos, indicam que, independentemente da criação dos rebanhos de gado, feita à margem esquerda do arroio, a travessia das tropas era intensa naquele local.

Graça

A estância da Graça permanece até hoje nas mãos da família Simões Lopes, descendente da herdeira Isabel Dorotéia da Fontoura, casada com o português João Simões Lopes. Isabel Dorotéia, sobrinha de Isabel Francisca da Silveira, era filha de Isabel Dorotéia da Silveira e do português José Carneiro da Fontoura, capitão de dragões, que lutou em Rio Pardo contra os correntinos, sob as ordens de Rafael Pinto Bandeira. Isabel Dorotéia e João Simões Lopes foram pais do visconde da Graça, também chamado João, de Idelfonso e de Clara, baronesa do Jarau, dona da charqueada da Costa e da fazenda do Laranjal.

O visconde da Graça teve 22 filhos de dois casamentos, entre eles, Idelfonso foi ministro da agricultura e deputado federal em sete legislatura; Augusto foi deputado constituinte e senador da república. O membro mais ilustre da família foi o neto do nobre casal, o escritor João Simões Lopes Neto, filho de Catão Bonifácio, administrador

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ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 81

da Estância São Sebastião. Na sesmaria do Monte Bonito, na margem norte do canal São Gonçalo, a família Simões Lopes ainda mantém parte das terras, onde estava localizada uma outra fábrica de salga de carnes.

Isabel Dorotéia e João Simões Lopes casaram em 1815, na igrejinha de Nossa Senhora dos Prazeres, que existia na sede da estância de Pelotas. Em 1853, foi feito o inventário de João Simões Lopes. Dizia que a fazenda da Graça dava frente ao arroio Pelotas, e fundos ao arroio Contagem; a leste, era vizinha, em terras de banhado, dos herdeiros do finado Antônio José Rodrigues, e, a oeste, de Inácio Barbosa de Lourenço Ribeiro. Falava em casas de moradia, estabelecimento de charqueada, duas olarias, quintas e demais benfeitorias. [APRGS, INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº 366, M. 26, E. 23. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853]

Em 1853, na fazenda da Graça, havia 1.820 reses xucras de criar, 121 novilhos, 115 reses de criar, 40 bois mansos, 275 éguas xucras, 74 cavalos, 74 mulas. João Simões Lopes era dono de 5.000 reses xucras e mansas, 400 novilhos de corte, 30 bois mansos e 150 cavalos na fazenda, que possuía no estado Oriental. Dispunha de imóveis em Rio Grande e Pelotas; de diversas ações e dívidas passivas; de dois iates para o transporte do charque até Rio Grande. Em 1857, o inventário de Eufrásia Gonçalves Lopes, esposa do herdeiro João Simões Lopes Filho, detalhava mais um pouco a fazenda da Graça; dizia ter dois quinhões de terras, um com estabelecimento de uma charqueada, olaria e uma quinta; animais; escravos; etc.

Um dos quinhões de campo foi comprado de seu irmão, Idelfonso e o outro, onde existia a charqueada e olaria, recebeu de seu pai. O terreno legado limitava-se, pelo sul, com o arroio Pelotas; pelo norte, com o arroio Contagem; a leste, com Antônio José de Azevedo Machado, fazenda da Galatéia, e, a oeste, com o terreno que fora de seu irmão. Esse, com as mesmas confrontações, confinava, a oeste, com Vicentina Maria da Fontoura. Constavam do inventário 1.628 reses de criar, 142 reses mansas, 84 éguas xucras, 46 cavalos mansos, 11 mulas tafoneiras mansas e 38 bois mansos.

No terreno herdado, fabricava-se o charque, tijolos e telhas, e plantavam-se diferentes árvores frutíferas. A charqueada era constituída de uma casa, que servia de vivenda, galpões, armazéns, varais, currais e demais benfeitorias. A olaria compunha-se de três galpões, cobertos de palha. Eufrásia Gonçalves Lopes era proprietária de dois iates, três terrenos na cidade, móveis, prata, etc. [INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M.29, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857]

Moreira

José Antônio Moreira e Leonídia Gonçalves Moreira, barão e baronesa de Butui, eram vizinhos dos Simões Lopes. O barão e seu filho foram proprietários da fazenda da Palma. Hoje, transformada em granja de arroz, é seu dono Sérgio Santana. Leonídia era sobrinha-bisneta de Isabel Francisca, dona da sesmaria de Pelotas, e bisneta de Mariana Eufrásia, proprietária do segundo loteamento da cidade de Pelotas. Neta de Maurícia Inácia da Silveira e do terceiro possuidor da sesmaria do Monte Bonito, alferes Inácio Antônio da Silveira. Leonídia era filha de Francisca Alexandrina

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e Antônio José de Oliveira Castro. Em 1867, o inventário da baronesa e do barão descreveu o saladeiro da seguinte forma:

“um estabelecimento de charqueada na margem esquerda do Arroio Pelotas, com casa de moradia, armazém, galpões, barraca, graxeira e todos os mais utensílios pronto para trabalhar. E o terreno que se acha edificado, que se divide pelo sul com terrenos pertencentes a Antônio José de Oliveira Castro, pelo norte com os de Malaquias de Borba e pelos fundos com os de José Maria da Fontoura e de seu irmão Manuel.” [AHRGS, INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M.41, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria,1867]

Serviam à charqueada as seguintes embarcações: a barca Pombinha, o patacho Moreira e os iates São Jerônimo e Santa Rita. Os barões possuíam, ainda, parte no patacho Cassio e um quinto do reboque a vapor de Rio Grande. Somava-se à estância da Palma: um rincão em Monte Bonito; uma porção de terras em comum com Antônio José de Oliveira Castro; um campo, em Jaguarão, que receberam de herança dos pais de José Antônio Moreira, Francisco José Gonçalves e Maria Joana Gonçalves Braga, e incontáveis animais distribuídos por todas essas propriedades.

Costa

O sobrado e a área onde estava implantada a charqueada da Costa permanecem nas mãos da família Assumpção. Atualmente é a casa de moradia dos três filhos de Joaquim C. Assumpção Rheingantz, falecido em maio de 1992. O primeiro proprietário da charqueada da Costa, Quincas Patrão, chamava-se Joaquim José Assumpção e era natural de Lisboa.

Casou-se com Maria Augusta da Fontoura, filha de Maria Regina da Fontoura e do lisboeta João Duarte Machado, sobrinha-neta e herdeira de Isabel Francisca da Silveira. O segundo proprietário, filho do primeiro, tinha o mesmo nome do pai, Joaquim José de Assumpção, barão do Jarau. O barão casou com Clara, sua vizinha, filha de sua tia-avó, Isabel Dorotéia da Fontoura, dona da estância, charqueada e olaria da Graça.

Em 1898, no inventário do barão do Jarau, foram relacionados dois terrenos dedicados à criação, no entorno da área da charqueada e olaria:

“Um terreno situado no mesmo segundo distrito de Santo Antônio da Boa Vista, no lugar denominado ‘Boca do Arroio’ [também conhecido como potreiro da praia], à margem esquerda do arroio Pelotas e esquerda do rio São Gonçalo; delimitando com o terreno do conselheiro Francisco Antunes Maciel [comprador da charqueada do Castro] e a estância de José e Manoel Bento da Fontoura. Mil braças de légua, ou sejam, 14.520.000m² na estância dos Prazeres [Laranjal] situada nesse município, segundo distrito da Boa Vista; dividindo-se essas 1.000 braças de campos, ao norte e nordeste, com os herdeiros do barão de Azevedo Machado [dono da fazenda da Galatéia], ao sul e sudeste, com a estância dos Prazeres e lagoa dos Patos.” [APRGS, INVENTÁRIO do barão do Jarau. Joaquim José Assumpção. Pelotas, nº 228, M.6, E. 33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1898]

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ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 83

Em 1845, o terreno da charqueada e olaria da Costa foi descrito no inventário de Maria Augusta da Fontoura, mãe do barão do Jarau, onde destacamos:

“Haverá um terreno onde se acha o estabelecimento de charqueada e olaria, dividindo a frente deste terreno no valo do dito estabelecimento que divide com herdeiros de Inácio José Bernardes, já falecido, até encontrar com a esquina da graxeira da banda oeste, pela parte da terra a rumo sudeste a encontrar com o dito estabelecimento da mesma charqueada, na margem do passo Real, e que divide o referido valo com terrenos de Antônio José de Oliveira Castro.”

Entre as construções ali existentes, foram arroladas uma casa nova de sobrado e uma térrea. Destinadas ao preparo do charque, foram listadas as seguintes construções: “Haverá vários estabelecimentos da charqueada arruinados como [ilegível], armazéns, galpão, guindaste, graxeira com cinco caldeiras, e dois galpões pequenos de olaria com seu forno antigo [...].” Maria Augusta possuiu três iates e tinha a metade em dois patachos. [INVENTÁRIO de Maria Augusta da Fontoura. Rio Grande, nº 514, M. 22, E. 12, 1º Cartórios de Órfãos e Provedoria, 1845] [Destaque e grifo nosso]

Avanço Técnico na Charqueada Escravista

A presença de caldeiras, em 1845, foi muito significativa. As últimas pesquisas sobre o emprego da máquina a vapor têm apontado a década de 1850 como o início da utilização dessa tecnologia, nas charqueadas rio-grandenses.

“[...] desde a década de 1850, é possível perceber o emprego da máquina a vapor num estabelecimento charqueador do Rio Grande do Sul. Entretanto, não temos condições de saber se trata-se de um caso isolado ou não. Mesmo assim, cremos que podemos considerar o fato como indicador de uma tendência a um certo avanço das forças produtivas e do aperfeiçoamento técnico, sob a vigência do sistema escravista, na província gaúcha.” [CORSETTI, 1983: 167]

Foi possível detectar a presença da máquina a vapor na charqueada da Costa, em 1845; no saladeiro de Pavão, em 1849 e na fábrica de carnes de Albana Rodrigues Barcellos, em 1857. Portanto, a utilização de uma tecnologia avançada, no processo escravista de produção do charque gaúcho, não foi um ato isolado. Essa afirmação vem colocando em dúvida, cada vez mais, a hipótese de que o regime servil impedia o avanço técnico, levantada, preliminarmente, pelo charqueador Antônio José Gonçalves Chaves, em 1817. A charqueada escravista gaúcha progrediu tecnicamente. Por certo, o regime servil atravancava tendencialmente a melhoria, mas, não, não a evitava. Nos saladeiros escravistas pelotenses, junto as máquinas a vapor verificou-se a presença de trabalhadores assalariados e, conseqüentemente, reduzido número de cativos graxeiros. O progresso tecnológico, somado ao aproveitamento da mão-de-obra cativa na construção civil, no período de entressafra da atividade saladeiril, possivelmente, colaborou, na manutenção da mão-de-obra escrava.

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Fontoura

Os irmãos José Maria e Manuel Bento da Fontoura foram os proprietários da charqueada de mesmo nome. Quando faleceram, respectivamente, em 1902 e 1896, a abolição já havia sido proclamada e o estabelecimento saladeiril não estava mais em funcionamento. Eram filhos de João Duarte Machado e Maria Regina da Fontoura, sobrinha-neta e herdeira de Isabel Francisca da Silveira. Ambos faleceram solteiros. Hoje, o local pertence ao clube de Caça e Pesca.

“Em tempos, suas terras haviam sido parte da fazenda de Pelotas, vendidas a Antônio José Rodrigues. Posteriormente, herdadas por José Bento e sua mulher D. Rosa Angélica Bento, filha do visconde de Jaguari. O casal vendeu-as à firma de José Maria da Fontoura & Irmão pela quantia de seis contos de réis, em escritura passada na cidade de Rio Grande, em 31 de janeiro de 1856.” [NASCIMENTO, 1989: 21]

José Maria faleceu na casa da charqueada. Naquele lugar, à margem esquerda do arroio Pelotas, possuía as seguintes propriedades:

“Casa de moradia, chácara, curral e outras benfeitorias [...]. Casa de moradia, galpão e outras benfeitorias edificadas no terreno na margem esquerda do arroio Pelotas, onde foi o antigo estabelecimento de charqueada [...]. Estância denominada Prazeres e também conhecida por Laranjal [...].” [APRGS, INVENTÁRIO de José Maria Bento da Fontoura. Pelotas, nº 1465, M. 80, E.26, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902]

Castro

“Em 15 de maio de 1819, dona Isabel Francisca da Silveira fez doação a seu capelão, o reverendo padre Francisco José Macedo de quatrocentas braças [880m²] de terreno em quadro, compreendendo dentro do mesmo lugar o passo Real.” [BPP, RPTMP, L.92: 83]

No dia 25 de maio de 1824 Antônio José de Oliveira Castro comprou a terra do capelão. Este passou-a a herdeiros, vindo a pertencer, depois, ao conselheiro Francisco Antunes Maciel. Sobre as suas atividades desenvolvidas no local, João Simões Lopes Neto escreveu: “Nesta houve também um estaleiro, que além de barcos pequenos construiu um de - barra-fora -, o brigue “São Bartolomeu da Esperança.” [LOPES NETO: 1911, 114]

O patrimônio do comendador Antônio José Oliveira Castro incluía dois saladeiros, localizados cada um em uma das margens do arroio Pelotas. Sobre o estabelecimento da margem esquerda, foi registrado no inventário de sua mulher, Francisca Alexandrina de Castro, em 1848:

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ESTÂNCIAS, CHARQUEADAS E OLARIAS DA MARGEM ESQUERDA DO ARROIO PELOTAS 85

“Um estabelecimento de charqueada com seus respectivos armazéns, galpão, graxeira e, finalmente, todos os utensílios de seu custeio; edificado em um terreno de 400 braças em quadro [880m²], sito na margem esquerda do arroio Pelotas [...]. Uma casa de sobrado de moradia do viúvo cabeça do casal, com uma quinta inventariada, tudo sito no terreno acima [...]. Um terreno com um pequeno contrafeito, imediato de 400 braças [880m²] e que divide com terrenos de Joaquim José Assumpção, e com a charqueada que foi de José Inácio Bernardes da Costa [...]. Um estabelecimento na charqueada e olaria com todos os seus pertences sito à margem esquerda do arroio Pelotas [...].” [Grifo nosso]

Além das propriedades rurais e dos imóveis urbanos em Pelotas e Rio Grande, o comendador herdou de sua mulher uma frota de embarcações, composta de: três iates, Santa Bárbara, São Jerônimo e Santos Fortes; uma lancha para iate; um saveiro; um caiaque; duas canoas; a barca Comércio; dois brigues, Castro e Pombinha.

O Espaço da Produção do Charque nos Estabelecimentos que Procederam da Estância de Pelotas

As charqueadas que procederam da estância de Pelotas faziam parte da tipologia já identificada. As informações contidas nos inventários dos charqueadores da margem esquerda do arroio Pelotas, repetiram as referentes aos donos do saladeiro, estância e olaria do Colla, na Banda Oriental, e da charqueada, estância e olaria do Pavão, situada no arroio de mesmo nome. Eram constituídas, quase sempre, de duas áreas: o campo, destinado aos rebanhos de gado, e o terreno onde funcionava a salgação das carnes, couros, elaboração de sebo, graxas, compartilhado, na maioria das vezes, com aquelas instalações em que se elaboravam produtos de barro. Segundo parece, essa segunda atividade seria alternativa à primeira. No mesmo terreno, mas, um pouco distante, situava-se a residência do charqueador, muitas vezes assobradada, e um pomar. Os prédios eram implantados nas costas do arroio e, pelo menos, três estabelecimentos ampliavam seus domínios através de terrenos na margem direita, com a finalidade de facilitar o cruzamento das tropas de gado. O galpão, tipo de edifício que mais se fazia presente, abrigava as diversas funções. Provavelmente, as centenas de escravos se acomodavam junto aos diversos galpões da produção. A existência de caldeiras a vapor, constatadas na charqueada da Costa, em 1845, veio reafirmar o avanço tecnológico no sistema escravista da produção do charque.

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Tabela 4 - Charqueadas da margem esquerda arroio Pelotas. Procedem da Estância de Pelotas. Bens imóveis da área da produção do charque.

CHARQUEADA GRAÇA MOREIRA COSTA CASTRO FONTOURA

Fazenda Graça Palma Laranjal [Prazeres] Laranjal [Prazeres]

Proprietário João Simões Lopes Br. e Bra. de Butui Maria Augusta Fontoura Fª Alexandrina de Castro

José Maria Bento Fontoura

Ano 1853 1867/1877 1845 1848 1902 [já não funcionava]

Escravos 79 153 115 159

Terrenos o quinhão de campo de charqueada e olaria

o terreno da charqueada sul – Antº de Oliª Norte Malaquias Bor. fundos – José Mª da Fontoura e seu irmão Manoel

o terreno da charqueada e olaria frente – no valo que divide herdeiros Inácio José Bernardes Oeste – graxeira sudeste – na margem do passo Real, que divide com Aº José Oliª Castro

o terreno da charqueada

o terreno da charqueada

um terreno na margem direita do Arroio Pelotas com 24,20m de frente que divide com José Bento e Campos e herdeiros e Boaventura Rodrigues Barcellos

um terreno na margem direita do Arroio Pelotas que divide com Boaventura Rodrigues Barcellos e Aº José Gonçalves Chaves

um terreno em frente ao estabelecimento por onde passa o gado comprado de Domingos José de Almeida

Olarias duas olarias [três galpões cobertos de palha]

olaria, dois galpões pequenos e um forno antigo

consta

Casas casas de moradia casas de moradia casa nova de sobrado e casa térrea

casa de sobrado casa de moradia

Pomar um quinta com arvoredo frutífero

quinta

Mangueira de matança, guindaste, canchas, armazéns, depósitos, galpões, graxeiras, varais, curais, etc.

armazéns, galpões, graxeiras, varais, currais e demais utensílios

armazéns, galpões, barracas [couros] e demais utensílios

guindastes, armazéns, galpão, graxeira com cinco caldeiras

armazéns, galpão, graxeiras e demais utensílios

galpão, curral e demais benfeitorias

Fonte: APRGS - INVENTÁRIO de João Simões Lopes Neto. Pelotas, nº 366, M. 26, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e Barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/ 1877; INVENTÁRIO de Maria Augusta da Fontoura. Rio Grande, nº 514, M. 22, E. 12, 1845; INVENTÁRIO de Francisca Alexandrina de Castro. Pelotas, nº 239, M. 21, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1848; INVENTÁRIO de José Maria Bento da Fontoura. Pelotas, nº 1465, M. 80, E. 26. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902.

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Capítulo 10

O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEDAS E OLARIAS

As fábricas de salga de carnes, localizadas na margem esquerda do arroio Pelotas, dedicavam-se à criação de gado. Tinham maior número de escravos do que as situadas no lado direito. No entanto, a densidade da população servil, na orla direita, era maior, porque ali funcionavam 30 estabelecimentos contíguos. Em frente, na costa esquerda do arroio, a das estâncias e charqueadas, operavam sete estabelecimentos, intercalados pelos campos de pecuária de cinco estâncias.

Constatou-se a falta de notícias sobre senzalas. Impossível deixar ao relento centenas de cativos, principalmente, porque a temperatura chegava a registrar zero grau centígrado; ventos, que podiam alcançar até 100 km por hora, vinham do nordeste, em todas as épocas do ano, varrendo o Atlântico e a laguna dos Patos, e, do sudoeste, proveniente da Patagônia, soprava o Minuano, principalmente, nos meses de inverno. As fábricas implantavam-se em lugares ribeirinhos, alagadiços, numa região onde a média da umidade do ar era de 80%. Por tudo isso, a sensação térmica de frio parecia superior à dos termômetros. [TAB. 3]

Possivelmente, uma pequena parcela de escravos, a de ofício e a de domésticos, ficasse acomodada no pavimento térreo das residências de dois pisos. A população servil, que trabalhava diretamente no processo de produção do charque, deveria ocupar algum galpão junto aos outros, destinados às diversas tarefas da elaboração da carne salgada, conforme indicado no inventário de Francisco Medina, proprietário do saladeiro do Colla, na Banda Oriental do Uruguai. [Assumpção, 1978: 72] O mesmo tipo de solução habitacional deveria ocorrer com os escravos campeiros e tropeiros.

Com a finalidade de generalizar as análises sobre o plantel de escravos das charqueadas que se ocupavam da criação, foi traçado um paralelo com as informações do estabelecimento do Pavão. Com esses dados, uma tendência se delineou, a diminuição de cativos. O dono da fazenda, charqueada e olaria do Pavão, localizada no arroio de mesmo nome, João Nunes Batista, ao falecer, em 1823, deixou de herança, para a mulher e os filhos, 66 escravos. Vinte e seis anos depois, em 1849, quando Joaquina Maria, sua viúva morreu, os escravos estavam reduzidos a menos da metade. Os filhos herdaram 30 cativos. A mesma constatação pode ser feita em relação à fazenda, charqueada e olaria da Graça. Em 1853, no inventário de João Simões Lopes, constaram 79 escravos. Em 1857, sua nora, Eufrásia Gonçalves Lopes, passou para seus

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herdeiros um total de 61 cativos, ou seja, uma redução de quase 23% no número de trabalhadores servis. [TAB. 4 e 5]

Tabela 5 - Profissões dos escravos das fazendas charqueadas.

ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO Proprietário João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Joaquina Ano 1853 1857 1867/1877 1845 1823/1849 Charqueador 14 Carneador 22 26 22 13 06 Salgador 01 12 Graxeiro 01 06 Descarneador 01 02 03 Servente 24 08 05 36 Chimango 15 17 Marinheiro 07 07 07 16 04 01 Escrava [11] [10] 11 17 11 08 Tropeiro 01 Campeiro 04 11 07 04 15 Cozinheiro 02 03 02 01 Alfaiate 01 01 01 01 Carpinteiro 02 01 04 01 01 Marceneiro 01 Taipeiro 01 Pedreiro 01 01 01 Costureira 02 Lavadeiro 01 Boleeiro 01 Sapateiro 01 02 Falquejador 01 Escravos de ofício 09 Sem informação 11 40 02 12 Crianças 03 04 07 Em outro local 11 03 TOTAL 79 61 150 115 66 30

Fonte: APRGS. Inventário de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849.

Tabela 6 - Distribuição da ocupação espacial dos escravos das fazendas charqueadas.

ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO Média Charqueador[a] João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Mª Joaquina Ano 1853/1857 1867/1877 1845 1823/1849 % % % % % % % No charque 71 70 43 65 47 23 53 No campo 06 18 05 03 23 09 Domicílio/ofício 09 07 08 08 10 10 09 Mulheres [14]* [16]* 07 15 17 27 16 Crianças 05 03 06 Sem informação 14 27 03 40 Outro local 07 03 TOTAL 100 100 100 100 100 100

* As escravas da fazenda, charqueada e olaria da Graça foram qualificadas. Fonte: APRGS. INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849.

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O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEADAS E OLARIAS 89

Crianças Escravas. Faixa Etária da População Servil. Reprodução

Os casamentos não eram freqüentes, entre os escravos. Nos casos analisados, duas escravas casaram, uma com três, e, outra, com quatro “crias”. Pertenceram a Maria Augusta da Fontoura. Em conseqüência, a possuidora da charqueada da Costa teve um número maior de crianças cativas do que as outras duas senhoras, respectivamente, Eufrásia Gonçalves Lopes e Leonídia Gonçalves Moreira, junto às quais foi possível identificar pequenos escravos. [TAB. 4]

Conforme dados constantes nos documentos, o número de crianças, de 3 meses a 9 anos, era próximo do inexistente. Variava de 0 a 6% do total de escravos adultos, o que correspondia a uma média de 2% de pequenos cativos por charqueador. Era mais conveniente comprar novos escravos do que investir na reprodução. Os dados referentes à faixa etária dos trabalhadores servis, das fábricas de salgar carnes de Pelotas, veio reafirmar essa conclusão:

“Usando como referencial a idade, a escravaria apresenta, na primeira parte do estudo [1780, início da atividade charqueadora, a 1830, lei da Proibição do Tráfico, formal], 71,1% com menos de 40 anos; na segunda [1830 a 1850, lei Eusébio de Queirós, proibição política de acabar com o tráfico], 57% e na terceira [1850 a 1888, Abolição], 45,9%. Podemos concluir que houve um envelhecimento progressivo do escravo. Tal fato se deu graças às leis citadas anteriormente, principalmente a Eusébio de Queirós, que forçou o aproveitamento do homem servil até as últimas conseqüências.” [ASSUMPÇÃO, 1991: 39]

Escravas

Praticamente, as mulheres não eram qualificadas; somavam-se ao grupo do “sem informação” e, quando eram, como no caso da charqueada da Graça, participavam das atividades “domésticas” ou de “ofício”. Em relação aos homens, a quantidade de mulheres mostrava-se pequena, variando entre 8 e 17 escravas, para cada proprietário. Havia uma média de 16% de mulheres, nas fazendas, charqueadas e olarias de Pelotas. [TAB. 4 e 5] Esse número decaiu para 13,5%, no levantamento que atingiu um número maior de charqueadores pelotenses. [ASSUMPÇÃO, 1991: 42]

Especialização

Os inventários analisados comprovaram a especialização da mão-de-obra cativa. Tinham ocupação definida 73,5%; nos 26,5% restantes, incluíam-se a maior

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 90

parte das mulheres, as crianças e aqueles sobre os quais a documentação nada informou, e que, por isso, presume-se que não tivessem qualificação. [TAB. 6]

Eram especializados nos trabalhos do campo, em serviços de tropeiros e campeiros, de 0 a 23% do plantel de cativos, ou seja, uma média de 9% dedicava-se aos rebanhos de gado. Na estância, saladeiro e olaria do Pavão, ocorreram os dois extremos. Antes da morte de seu proprietário, em 1823, existiam 15 escravos campeiros, que representavam 23% da população servil do estabelecimento. Em 1849, no inventário da esposa e herdeira, nenhum cativo dedicava-se à pecuária. [TAB. 4 e 5]

Os escravos de ofício e domésticos, aqueles que prestavam serviços à escravaria e aos senhores, perfaziam um média de 9% da população servil de cada charqueador. Esse número foi quase uma constante. Os cativos que se ocupavam da cozinha, da costura, ou só da construção civil, variavam num espectro de 7 a 10%. [TAB. 5]

Os escravos especializados na fabricação do charque eram os mais numerosos, correspondendo a uma média de 53% do total de cada charqueador. A quantidade, por estabelecimento, variava de 23 a 71%, ou, em números reais, de 75 a 7 escravos qualificados nos trabalhos da salgação da carne e de seus derivados. Esses eram, porém, os trabalhadores especializados; por isso, supõe-se que o número de homens servis dedicados à salgação tenha sido maior. Por certo, o trabalho não especializado, na fabricação da carne salgada, couro, sebo e graxas, ocupava muitos cativos. Em alguns inventários, o número de serventes chegou quase à metade do total daqueles que se ocupavam das atividades qualificadas. [TAB. 5 e 7]

Os serventes, assim como os trabalhadores não especializados, desempenhavam inúmeras tarefas, como: empurrar o vagonete, que continha o boi, da mangueira de matança até a cancha; transportar as peças de carne daí para o galpão; lavar as canchas e galpões, imergir os couros em tanques de salmoura; formar e desfazer as pilhas de charque e couros; colocar e recolher as mantas nos varais; carregar os iates; acender e manter o fogo das caldeiras ou caldeirões; moer o sal, etc. Eram considerados escravos especializados, no trabalho dos saladeiros, aqueles que se dedicavam, quase que exclusivamente, e de forma direta à produção e ao transporte da carne salgada e de seus subprodutos, exercendo as funções de carneador, salgador, graxeiro, descarneador, chimango, servente e marinheiro.

Tabela 7 - Especialização dos cativos das estâncias charqueadas.

ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO MÉDIA Charqueador[a] João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Mª Joaquina Ano 1853/1857 1867/1877 1845 1823/1849 % % % % % % % Especializados 86 100 63 79 80 33 73,5 Sem informação 14 37 21 20 67 26,5 TOTAL 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: APRGS. INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849.

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O ESPAÇO DA ESCRAVATURA NAS FAZENDAS, CHARQUEADAS E OLARIAS 91

Distribuição dos Escravos no Espaço da Produção do Charque

Dentro do universo daqueles cativos que se ocupavam das tarefas referentes à produção da carne salgada e de seus subprodutos, 14% dedicavam-se ao transporte entre Pelotas e o porto de Rio Grande. Os escravos marinheiros nunca faltavam no plantel dos charqueadores. Alcançavam uma média de sete marujos por senhor. Os charqueadores, especializados em cortar a carne em mantas, só fizeram parte do estabelecimento de João Nunes Batista. Os mais numerosos, os carneadores, podiam assumir a tarefa de charquear, além de abater, esfolar e esquartejar. Atingiam 44% de toda a escravaria que trabalhava na indústria da carne, ou seja, 15 trabalhadores por estabelecimento. Possivelmente, poderiam ser substituídos pelos chimangos. Salvo engano, os chimangos, que tomaram o nome da a ave de rapina, retiravam dos ossos o resto das carnes. Os serventes, que lidavam diretamente com o charque constituíam 20% desse grupo de cativos. [TAB. 7]

Entre os estabelecimentos analisados, compostos de estância, saladeiro e olaria, o número de escravos oscilava entre 30 e 150, o que correspondia a uma média de 84 cativos por proprietário. Mais da metade eram especializados diretamente no processo de produção e no transporte da carne salgada e de seus subprodutos; uma média de 46 homens servis operavam no espaço fabril. Esses distribuíam-se da seguinte forma: desnucadores, carneadores, chimangos dividiam-se pela mangueira de matança, cancha e galpões; os salgadores, em média de três, trabalhavam nos galpões; os graxeiros, mais ou menos dois, ocupavam-se da graxeira. No início, ferviam as gorduras nos tachos de ferro; depois, em meados do século passado, cuidavam das caldeiras de vapor.

A continuidade dessa análise, ao somar-se às informações relativas às charqueadas do lado direito do arroio Pelotas, permitiu um maior rigor nas observações referentes à divisão do trabalho, no espaço da produção do charque. O estudo da distribuição das tarefas e das áreas, nos estabelecimentos que possuíam o campo de criação de animais, possibilitou uma série de delineamentos.

Tabela 8 - Distribuição percentual dos cativos no espaço da produção do charque.

ESTABELECIMENTO GRAÇA MOREIRA COSTA PAVÃO Média Charqueador[a] João/Eufrásia Leonídia Mª Augusta João/Mª Joaquina Ano 1853/1857 1867/1877 1845 1823/1849 % nº % nº % nº % nº % nº % nº % nº Charqueador 45 14 07 02 Carneador 39 22 60 26 34 22 42 13 86 06 44 15 Salgador 02 01 19 12 04 03 Graxeiro 02 01 08 06 02 02 Descarneador 02 01 05 02 05 03 01 01 Chimango 23 15 23 17 08 05 Servente 43 24 19 08 08 05 48 36 20 12 Marinheiro 12 07 16 07 11 07 21 16 13 04 14 01 14 07 TOTAL 276 100 56 100 43 100 64 100 75 100 31 100 07 100 47

Fonte: APRGS. INVENTÁRIO de João Simões Lopes. Pelotas, nº366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853; INVENTÁRIO de Eufrásia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M. 29, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857; Leonídia Gonçalves Moreira. Baronesa e barão de Butui. Pelotas, nº 647, M. 41, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877; INVENTÁRIO de João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M. 06, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823; INVENTÁRIO de Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M. 21, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849.

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Esse primeiro esboço, resumidamente, concluiu: campeiros e tropeiros cativos não chegavam a atingir dez porcento do total da escravaria de cada proprietário; mais da metade do plantel trabalhava nas instalações fabris, o que dava cerca de meia centena por estabelecimento; quase três quartos de toda a população servil era especializada em alguma tarefa; as mulheres representavam 16% e engrossavam o grupo dos trabalhadores que não recebiam qualificação; as crianças escravas constituíam dois porcento do total; daí, a renovação da mão-de-obra dava-se através da compra de novas “peças”, e não se apostava na reprodução dos cativos. O estudo anotou o registro da especialização do trabalho escravo. Por um lado, a presença de um único tropeiro mostra que, dificilmente, os cativos atravessavam campos, propriedades, transportando animais. Pelo outro lado, todos os senhores possuíam marinheiros, o que possibilitava a presença de homens servis fora de seus domínios territórios, mas, no interior de suas embarcações. Navegavam nas vias fluviais e lacustres. Levavam os produtos das charqueadas até o porto marítimo de Rio Grande. Nos documentos, continuou-se apontando a presença de olarias, mas, em nenhum dos casos, apareceram oleiros. Salvo engano, cada vez mais as olarias desenvolveram-se, como uma alternativa de trabalho à mão-de-obra servil.

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Capítulo 11

SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

Da sesmaria do Monte Bonito, resultou o cerne do núcleo saladeiril pelotense e, conseqüentemente, a cidade. A localização e o processo de concessões de terras, entre outros fatores, ocasionaram em uma tipologia de ocupação espacial e um programa de necessidades específicos. Instalou-se um complexo de aproximadamente 30 indústrias de salga contíguas, apoiadas por toda uma série de instalações, infra-estrutura, comércio, transportes e demais serviços. Nas charqueadas do Monte Bonito, não se criava o gado. O que definia uma maior divisão do trabalho. A estância situava-se em outro lugar. Ali, os animais eram somente transformados em produto, como charque, couro, sebo, graxa, etc. Além disso, a maior parte desses estabelecimentos possuía olarias em seus programas de necessidades.

O conjunto dessas charqueadas foi criado a partir da segunda divisão de terras, das “sobras”. Formava um retângulo, que começava na margem esquerda do canal São Gonçalo. Ia serpenteando pela margem direita do arroio Pelotas, que corre no sentido norte-sul, e incluía o espaço do chamado “cotovelo”, onde o curso da água toma o sentido leste-oeste. Dois terços dos estabelecimentos estavam no arroio, o restante no canal. A sesmaria do Monte Bonito tinha os seguintes limites naturais: três cursos de água, canal São Gonçalo, arroios Pelotas e Santa Bárbara e a serra dos Tapes. Os arroios desaguavam no canal e este dava acesso à lagoa Mirim e Banda Oriental e à laguna dos Patos e oceano Atlântico. As vias navegáveis garantiam a exportação dos produtos, bem como a importação de mão-de-obra escrava e do sal, servindo de esgoto. A vizinhança com o Prata e com os campos neutrais, a “terra de ninguém”, povoada de gado, propiciava o abastecimento de animais. [FIG. 22]

A Terra

A sesmaria do Monte Bonito, em escala reduzida, apresenta a mesma formação geomorfológica do município de Pelotas. Corresponde a duas paisagens. Uma inclui a ramificação mais meridional da serra do Mar, a serra dos Tapes. É uma zona ondulada,

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de 100 a 300m, chegando no máximo a 400m de altura. A outra faz parte da Planície Costeira gaúcha. A transição entre os morros cristalinos e a planície sedimentar é feita de maneira gradual, através de pequenos patamares que se estendem em direção do canal São Gonçalo e da laguna dos Patos. [FIG. 23] Na serra, localizavam-se a sesmaria e as datas de matos. Na planície, as charqueadas situavam-se nos aluviões das margens do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo; e a cidade, numa área terminal das encostas. A sesmaria fazia parte da primeira divisão de terras; os saladeiros, o núcleo urbano, as datas de matos e o logradouro público, da segunda.

Figura 22 – Cópia parcial das linhas de navegação entre os portos das lagoas, canais e da barra do Rio

Grande. Arquivo Nacional. Seção de mapas, MVOP-CB [25].

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SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 95

Primeira Divisão de Terras

Nos primeiros dias do ano de 1779, o governador do Continente de São Pedro, brigadeiro José Marcelino de Figueredo, concedeu um rincão ao tenente de dragões Manuel Carvalho de Souza. O tenente de dragões comprometera-se a cultivar e a povoar a terra. Um ano e três meses depois, vendeu-a ao vigário da freguesia de Viamão, Pedro Pires da Silveira. Esse religioso agiu da mesma forma que o primeiro proprietário. No dia 2 de abril de 1781, cedeu e traspassou todo o direito que tinha nas terras da escritura ao alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. O rincão limitava-se: “[...] pela parte norte com o rio [arroio] de Pelotas, pela parte do sul com o arroio Santa Bárbara e um esteiral que o forma, pela de leste com o sangradouro da Mirim [canal São Gonçalo] e pela de oeste com a serra Águas Vertentes [serra dos Tapes].” [BBP, RPTMP, 93: 15] [FIG. 23]

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Antes do pedido de concessão, feito por Manuel Carvalho de Souza, fugitivos de Rio Grande e da Colônia do Sacramento se aproveitariam dos terrenos alagados, nas margens do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo, e da serra dos Tapes, para viverem escondidos nesses lugares. Durante os 13 anos de permanência espanhola em Rio Grande, de 1763 a 1776, esses fugitivos seriam o elo de uma série de ligações entre os sitiados em Rio Grande e a Coroa Portuguesa. O Tratado de Santo Idelfonso, assinado em 1777, atribuiu o arroio Chuí aos portugueses; a Colônia do Sacramento e as Missões, aos espanhóis. Instituiu uma língua de terra, localizada entre a lagoa Mirim e o oceano Atlântico, como “terra de ninguém”. A partir dessa data, convinha alargar o critério de ordem militar utilizado na partilha e doação de terras.

Os retirantes da Colônia do Sacramento, a existência de moradores antes da concessão das terras e a conseqüente pressão para possuí-las; a saída dos espanhóis de Rio Grande; a mudança dos governadores, José Marcelino por Sebastião Xavier, entre outros fatores, levaram a fazenda do Monte Bonito a uma história específica. De janeiro a fevereiro de 1781, antes mesmo da compra por seu terceiro proprietário, começou a partilha e doação das “sobras” de Monte Bonito, nas margens do arroio e do canal, empurrando a sesmaria em direção à serra. As datas doadas eram faixas de mais ou menos [770x4.136m]. Davam frente ao arroio Pelotas, ou canal São Gonçalo, e fundos à estância do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. [RÜDIGER, 1965: 62 e CUNHA, 14/08/1828: sp.] [FIG. 24]

A sesmaria restringia-se a uma parte na serra dos Tapes. A área, coberta por uma vegetação pujante, de flora característica, continha algumas espécies da serra do Mar, mas de menor porte.

“Cedros, em pelotões cerrados, pelas encostas dos morros subiam, em vigorosa escalada; seculares gangeronas que haviam, impunes, desafiando a fúria dos vendavais, enchiam vales inteiros; tarumãs, nascidas em profundas grotas viam em sossego, o passar dos anos, no enrijar de cernes; goiabeiras, uvas, coronilhas, cocões, batingas, capororócas, caneleiras, coentrilhos, aroeiras, catiguás, camboatás, enchiam a selva e confundidos em porfilia, à conquista dos jorros do sol, que alargava as altas copas.” [CUNHA, 18/08/1928: s.p.]

A serra dos Tapes mostrava uma vegetação rica em madeiras; por toda a parte, o solo apresentava os mais diversos materiais de construção, como pedras, areias e argilas.

“Assim, na área do Escudo Cristalino, são explorados tanto os granitos como os magmatitos, sob a forma de pedreira, nas quais é produzido tanto material para calçamento, paralelepípedos, como pedra amarroada e brita, de vários diâmetros para uso variado. O saibro e as lateritas, oriundas da meteorização dos granitos e migmatitos, são de ótima qualidade para uso de aterros e revestimento primário de pavimentos. Em alguns locais ocorrem veios pegmáticos, com feldspatos totalmente decompostos em argila de boa qualidade cerâmica.” [ROSA,1986: 39]

Em 1785, quando do levantamento realizado pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos, Inácio Antônio da Silveira Cazado possuía 2.300 reses; 80 bois; 85 cavalos; 1.300 éguas; 23 burros e 30 burras. Os campos de Monte Bonito estavam povoados, com mais 600 reses; 39 bois; 40 cavalos e 400 éguas, que pertenciam ao agregado, irmão, e, ao mesmo tempo, sogro, o sargento-mor Francisco Pires da Silveira Cazado, esposo de Mariana Eufrásia de Silveira. [AHRGS, L. 1198B: 203]

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Figura 24 – Mapa da estância do Monte Bonito.

Mariana Eufrásia teve suas terras concedidas em 1813. Nessa área, fez o segundo loteamento, que deu origem à zona de comércio central, da cidade de Pelotas. O terreno configurava uma extensão das “sobras” da sesmaria de Monte Bonito. Mariana era irmã de Isabel Francisca da Silveira, dona da sesmaria de Pelotas, mãe de Maurícia Inácia, esposa do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado.

Em 1825, a sesmaria de Monte Bonito foi dividida entre nove herdeiros. No Registro de Prédios e Terrenos do Município de Pelotas, foram legatários do alferes: Alexandre Igº Pires [1.719,9ha]; Inácio Antônio Pires [257,5ha]; Mariana Angélica do Carmo [1.243,4ha]; Antônio José de Oliveira Castro, casado com Francisca Alexandrina, [2.265,4ha]; Fermino Antônio da Silveira [1.117,1ha]; Cândida Maria da Silveira [1.338,4ha]; Francisco Antônio da Cruz Guimarães [1.258,2ha]; João Inácio da Silveira [1.053,3ha]; Joaquina Fermina da Silveira [1.113,2ha]; totalizando [10.368,2ha]. [BPP, RPTMP, L. 93: 15] [FIG. 25]

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Figura 25 – Mapa da divisão da estância do Monte Bonito.

A Segunda Divisão de Terras. As “Sobras”

As listagens dos proprietários da segunda distribuição de terras não são coincidentes. Alberto Coelho da Cunha, no jornal Opinião Pública, de 4 de agosto de 1928, listou 11 concessionários. Seis dias após, no mesmo jornal, deu uma relação de nove pessoas. Euclides Franco de Castro, em outubro de 1951, em um texto da revista Princesa do Sul, O Rincão de Pelotas, apontou 19 donatários. Selbat Rüdiger, em 1965, no livro Colonização e Propriedade de Terras no Rio Grande do Sul. Século XVIII, arrolou 21 possuidores. Por fim, Eduardo Arriada, em 1991, na sua dissertação- O

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SESMARIA DO MONTE BONITO. CONCESSÕES X ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 99

Processo de Urbanização Pelotense, de acordo com Euclides Franco de Castro, catalogou 19 proprietários. As datas medidas pelo capitão Antônio Inácio Roiz Córdoba, foram doadas nos dois primeiros meses de 1781. Passaram por continuadas repartições e negócios. Formaram a maior parte das charqueadas e da cidade.

Em 1785, o levantamento realizado pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos, comunicava que, por ordem do governador, foram tiradas duas léguas [13.200m] e um terço [2.200m] de terreno do alferes Inácio Antônio da Silveira, onde se acomodaram 19 pessoas. Relacionando todas as listagens com o informe do levantamento, foi possível elaborar o seguinte quadro comparativo:

Tabela 9 – Comparativo das listagens de donatários de datas da sesmaria do Monte Bonito. Somatório das listagens dos proprietários

hectares Levantamento do capitão Antônio Ferreira dos Santos

metros

Inácio Xavier de Oliveira [770x3.960m=305ha] Inácio Xavier de Oliveira [3.960m] João Francisco de Souza [770x4.125m=318ha] João Francisco de Souza [4.125m] Martinho José da Costa [770x4.136m=318ha] Martinho José da Costa [4.136m] Manuel Francisco [770x3.960m=305ha] Manuel Francisco [3.960m] Francisco Oliveira [770x3.960m=305ha] Francisco de Oliveira [3.960m] José de Freitas [770x3.960m=305ha] José de Freitas [3.960m] Padre João de Almeida [770x4.136m=318ha] João de Almeida [Pereira] [4.136m] Severino Antônio [770x3.960m=318ha] Severino Antônio [3.960m] Baltazar José da Costa [770x3.300m=254ha] Baltazar José da Costa [3.300m] José Rodrigues [770x3.542m=273ha] José Roiz [3.542m] João Duarte [770x3.960m=305ha] João Duarte [3.960m] José Antônio de Lima [770x4.136m=318ha] José Antônio de Lima [4.136m] Jorge da Terra [770x4.136m=318ha] Jorge da Terra [4.136m] Manuel Luís de Mesquita [770x4.136m=318ha] Manuel Luís [de Mesquita] [4.136m] Tomás Luís [770x3.960m=305ha] Tomás Luís Padre Pedro Pereira [770x3.916m=305ha] Pedro Pereira [F. de Mesquita] [3.916m] Antônio Inácio da Silveira [770x4.136m=318ha] Antônio Inácio da Silveira [4.136m] Antônio José da Silva José Antônio de Souza João Francisco da Costa Mariana Eufrásia da Silveira Joaquim Silvério Francisco Pereira e Souza Antônio José de Oliveira Castro

Em 1825, ainda em “sobras” da sesmaria, foi estabelecido o Logradouro Público, um lugar descampado, onde o gado, que vinha das estâncias, era comercializado e seguia para as fábricas de salga. A Tablada, como era conhecido esse espaço, representou um avanço na produção do charque, favoreceu os charqueadores e imprimiu um desenvolvimento urbano a Pelotas. Estancieiros, peões, tropeiros, que vinham vender os rebanhos, compravam toda uma série de produtos, que, provavelmente, os abasteciam até a próxima safra, no outro ano. Buscavam os ofícios e os divertimentos, que a cidade pudesse oferecer.

Os rebanhos de gado existentes no entorno da Sesmaria de Monte Bonito; as vias de transporte navegáveis que atingiam o espaço meridional da América do Sul, alcançando a África e o Velho Mundo; a concentração das indústrias, em um pólo charqueador; a Tablada e a cidade, formaram um todo complexo, mais amplo que o ato de salgar. A produção saladeiril foi determinando, em várias atividades alternativas ou decorrentes do comércio, de serviços e da construção, todos os espaços que abrigariam essas funções. Até hoje, no centro urbano, resiste um casco histórico, que representa a vida econômica, social e cultural dos senhores daqueles tempos. Ao contrário, nas

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faixas ribeirinhas, quase nada restou das construções que abrigavam a mão-de-obra escrava da charquia.

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Capítulo 12

DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE

As datas de matos na serra dos Tapes, o arroio “Quilombo”, as charqueadas, o Passo dos Negros, a cidade e a Tablada, apoiadas por todo um sistema de vias de comunicação terrestre, fluvial, lacustre e marítimo, formavam o cerne do núcleo saladeiril pelotense. Segundo parece, a sesmaria do Monte Bonito, dividida nessas funções, resultou no lugar de maior densidade de escravos do Rio Grande do Sul.

Em 1911, um dos descendentes dos proprietários da fazenda e charqueada da Graça, o escritor, João Simões Lopes Neto, arrolou 23 fábricas, na margem direita do arroio Pelotas, e oito, na orla norte do canal São Gonçalo. [LOPES NETO, 1952: 113] A esta listagem foi acrescida documentação relativa a medições, contratos de compra e venda, aluguéis, inventários e mapas da época. A análise dos dados permitiu delinear o parque saladeiril escravista pelotense.

A descrição dessa área fabril, iniciou na serra dos Tapes e passou pelas datas de matos, alcançando o arroio “Quilombo” e a sesmaria propriamente dita. Desceu o Pelotas, em direção ao oriente, cruzou o Retiro e, acompanhando a dobra que fazem as águas do arroio, o Cotovelo. No mesmo sentido, atingiu o Cascalho, a Boa Vista, a Costa, o Areal e o Atoladouro, e, por fim, na Boca do Arroio, avançou pelo canal São Gonçalo, tomando o rumo do interior; chegou ao Passo dos Negros, à cidade e à Tablada. Ao longo da travessia, localizaram-se as charqueadas e os locais de apoio da produção. Especificaram-se os programas, os materiais e as técnicas de construção. Ao mesmo tempo, relataram-se fatos, acontecimentos e atos das pessoas que viviam, exploravam, produziam e organizavam esses lugares. Destacaram-se alguns proprietários e a população servil de cada estabelecimento. Possivelmente, esboçou-se o que tenha sido o palco da escravidão no Rio Grande. [FIG. 26]

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Figura 26 – Localização das datas de matos, arroio Quilombo, charqueadas, Passo dos Negros, cidade,

tablada, logradouro público.

As Datas de Matos na Serra dos Tapes

Em 1800, o governador Sebastião da Silva Xavier começou a distribuição de matos na serra dos Tapes, através da abertura de uma íngreme picada na região do Capão do Leão, da Coxilha do Santo Amor e do Passo do Valdez até a capela de Nossa Senhora da Conceição.

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DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE 103

“Fazendo concorrência aos modestos agricultores, estancieiros e abastados charqueadores, se consideravam em dever de também possuírem datas de matos na serra. Raros foram os sucessores dos antigos concessionários de campos, que não se apresassem a requerer aos governadores mercês de datas ou confirmações de problemáticas posses, [...]. O período que se estendeu de 1799 a 1824, assistiu a uma partilha de 460.116.437m² de terras da serra por 60 donatários. [...] A mais extensa cultura de então, faziam-na os charqueadores, quase todos proprietários de datas, que, no intervalo das safras, para continuarem a tirar proveito do capital, punham a negrada a derrubar matos e a plantar milho e feijão.” [CUNHA, 23/81923: s.p.] [Grifo nosso]

A análise dos inventários dos charqueadores mostrou que, pelo menos, cada fabricante possuía uma data de matos na serra dos Tapes. Além dos trabalhos nas roças, os escravos, nos períodos da entressafra, derrubavam as árvores, para, nos saladeiros, junto com os ossos, abastecerem os caldeirões ou caldeiras à lenha; neles eram fabricados as graxas e os sebos. Observou-se a existência de carpintarias, em algumas propriedades serranas, como a da família de Gonçalves Chaves, que serviriam para o beneficiamento das madeiras destinadas à construção. A serra dos Tapes, que era coberta por uma grande e densa mata, paulatinamente foi sendo cortada; sobraram apenas alguns resíduos, despojados de suas melhores madeiras, nos locais mais íngremes. Mais tarde, nesse final da serra do Mar, foram assentados colonos imigrantes de origem alemã.

“Quilombo”

Começamos a relacionar os espaços por aqueles que serviram de refúgio à população servil. O arroio Quilombo era o último e o mais ao norte dos tributários de algum vulto do arroio Pelotas.

“Este, em todo o seu vale médio, que se vai sofregamente desnudando, recebe o concurso de numerosas nascentes, sem nome: estas brotam das encostas de serros que o acompanham e como minúsculos regatos surtem dos capões emoldurantes dos rincões que sobre o seu leito avançam.” [CUNHA, 1939: 45]

Segundo parece, esta região era o espaço adequado a abrigar os escravos fugitivos das charqueadas, que acompanhavam a descida serpenteante do arroio Pelotas e tomavam o rumo do ocidente, ou, do oriente, através do canal São Gonçalo, ou, ainda, ao contrário subiam o Pelotas, em direção a serra dos Tapes, atingindo o arroio Quilombo e poderiam entrar nos matos, nos montes. Desde 1832, quando procederam-se as primeiras seções, as atas da Câmara Municipal de Pelotas informavam sobre a presença de quilombolas, nesta área. Em 1835, um pouco antes de iniciar a Revolução Farroupilha, os vereadores deram destaque à apreensão de Manuel Padeiro. Consta da ata de 9 de julho de 1935:

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 104

“[...] que a dita quantia não satisfaz ao que a mesma Câmara ter prometido aos que apreendessem, e destruírem os dez quilombolas considerados motores dos roubos, incêndios, em assassinatos perpretados no Município, por quanto tem prometido quatrocentos mil réis pelo chefe preto Manuel Padeiro e duzentos mil réis por cada um dos nove companheiros do referido Padeiro [...].”

Entre os anos de 1832 e 1849, “um escravo preto de nação mina” era vendido por 200 mil réis. Esse preço equivalia a um terreno na rua do Açougue [Barão de Santa Tecla], de seis braças [13,2m de frente], ou seja, o preço pago por cada quilombola daria para a compra de um escravo ou de um terreno. [SIMÃO, 1990: 312]

Quatrocentos mil réis era o salário, de um ano, que o arquiteto, Eduardo Krestckmar, ganhou, em 1834, por realizar os alinhamentos da cidade. Essa comparação demonstra o alto custo dos escravos e, conseqüentemente, dos prêmios pagos pela captura ou morte dos fugitivos.

Durante os dez anos que durou a Revolução Farroupilha, tanto os revolucionários como os dirigentes dos exércitos do império prometiam liberdade aos cativos que lutassem por suas causas. Possivelmente, uma parcela dos escravos continuassem procurando os seus próprios refúgios, alheios às desavenças de seus senhores. Durante o período revolucionário, a documentação é confusa. “Efetivamente, nos anos posteriores à pacificação, teremos notícias de diversas expedições contra quilombos, possivelmente formados durante o decênio revolucionário.” [MAESTRI, 1984:136]

Edis, Charqueadores e Revolucionários

No dia 15 de outubro de 1835, a Câmara de vereadores de Pelotas, manifestou-se, em relação às forças revolucionárias que começavam a atuar, com as seguintes palavras: “[...] não tendo forças para opor-se a Câmara reconhece, e se obriga a obedecer as ordens do Excelentíssimo [...].” Quase um mês depois, no dia 11, houve arrependimento, mandaram retirar da ata a expressão “não tendo forças para opor-se”. Apesar dos dissabores sofridos pelo poder central, a maioria desses senhores eram, veladamente, ou não, favoráveis ao Império. Por certo, o saldeirista, vereador e líder revolucionário Domingos José de Almeida foi a mais expressiva das exceções.

Charqueada no Monte Bonito

Na margem direita, a charqueada mais distante do canal, era a de Antônio José de Oliveira Castro, que também possuía um estabelecimento do outro lado do arroio, na sesmaria de Pelotas. A fábrica da margem direita, não estava localizada nas chamadas “sobras”; fazia parte da sesmaria do Monte Bonito. Passou para as mãos de Castro,

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DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE 105

provavelmente, porque ele era casado com Francisca Alexandrina, filha e herdeira do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado e de Maurícia Inácia da Silveira. [FIG. 25] Simões Lopes afirmou que o estabelecimento, pertenceu a Antônio José de Oliveira Castro e José Gonçalo, tendo sido construído em terras de frei Marcelino, que o doou às sobrinhas Dorotéia Cândida Paiva e Mariana Eufrásia da Silveira; o escritor disse, ainda, que a charqueada pertenceu depois a Alfredo Augusto Paiva. [LOPES NETO: 1952: 113]

Retiro

No Retiro, localizava-se outra das charqueadas. A terra pertencia a Manuel Ravelo Paiva, casado com Rosália Francisca Pires, filha de Mariana Eufrásia da Silveira e de Francisco Pires Cazado. Em 14 de setembro de 1825, Manuel e Rosalia realizaram duas vendas. Um dos compradores foi Manuel da Silveira Avila. A área adquirida tinha as seguintes confrontações: noroeste, dividia com o vendedor por um barranco de uma sanga que passava pela olaria; nordeste, o arroio Pelotas; sudeste, fundos, com terras de Francisco de Paula Ferreira; e, pela frente, principiando com uma volta que tem o arroio na graxeira de Francisco de Paula, seguia até a divisa, na lomba onde foi o forno do falecido José de Souza Pacheco. [BPP. RPTMP, 93: 55] [grigo nosso]

A descrição do terreno indicou a presença de instalações saladeiris e de olaria. Além disso, a outra venda do casal foi realizada por Francisco de Paula Ferreira e proporcionou o entrelaçamento de sociedades, negócios e instalações. Em 17 de fevereiro de 1831, mais uma transação foi efetuada:

“José Joaquim Gonçalves comprou de Francisco de Paula Ferreira, e sua mulher Maria Manuela Meireles, um terreno, o qual tinha charqueada em sociedade com o mesmo José Joaquim Gonçalves, o qual houveram por compra feitas a José de Souza Pacheco e Manuel Ravelo Paiva, cujo terreno acima, se acha na costa do arroio Pelotas e se divide pelo cercado da Chácara que foi do vendedor, José de Souza Pacheco, rumo nordeste ao dito arroio 900 braças [1.980m] e de aquele cercado aos marcos de Ravelo, hoje, de Silveira, as braças que houver.”[BPP, RPTMP, 93: 168] [FIG. 27] [Grifo nosso]

Cotovelo

O Cotovelo é o lugar onde o arroio Pelotas faz uma curva de quase 90 graus. Até esse local, as águas descem a serra dos Tapes, procurando o oriente. Bem aí, onde as águas tomam o sentido norte-nordeste, existiam duas charqueadas, que ficavam a 12km do São Gonçalo. Sobre essa área, Alberto Coelho da Cunha escreveu:

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 106

“Em conseqüência das necessidades que essa indústria [a charqueadora] criava, as águas do arroio eram sulcadas por uma flotilha de iates e lanchões, que o subiam até a volta do Cotovelo, onde por longos anos existiu a charqueada fundada por Jerônimo José Coelho.” [CUNHA, 1939: 45]

O primeiro proprietário da charqueada do Cotovelo foi Jerônimo de Freitas Ramos, que a passou a seu filho, Francisco Jerônimo Coelho, casado com Maria Silveira de Avila. Entre os herdeiros, estava o genro, Custódio Gonçalves Belchior, “cabeça de sua mulher”, Silvana Claudina Belchior. Em 1851, houve medição judicial da propriedade; em 1870, quando do inventário de Silvana Claudina, o saladeiro constituía-se de três terrenos contíguos, com fundos para o arroio Pelotas e frente para a estrada. Os dois primeiros mediam 220m de largura e 880m de comprimento; um deles fazia divisa com a charqueada de Felisberto José Gonçalves Braga, e o terceiro terreno era uma chácara. [FIG. 27]

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DESCRIÇÃO ESPACIAL DO CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE 107

A propriedade compreendia, ainda, galpões, barracas de couros, graxeira, armazéns, mangueiras, varais, casas de moradia e pomar. Silvana Claudina possuía um iate, denominado Palma; uma sesmaria de matos na serra dos Tapes; cinco terrenos, e quatro casas na cidade; animais; objetos de prata; móveis; dívida ativa e 30 escravos. [APRGS, INVENTÁRIO de Silvana Claudina Belchior. Pelotas, nº 727, M. 44, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870]

Em 1877, no inventário de Silvana Belchior da Cunha, o patrimônio da família tinha aumentado consideravelmente. Somavam-se 84 escravos. As benfeitorias da charqueada permaneciam as mesmas, mas a área foi acrescida com a compra de um terreno, com 220m de frente sul, e, de fundos, até encontrar o arroio Pelotas, com 1.320m; dividia, a leste, com a charqueada e, oeste, com o potreiro de Felisberto Gonçalves Braga. Foram arroladas mais três léguas, ou seja, uma légua, 6.600m de campo, na estância da Palma, outra, na estância de Sá, e, ainda, mais uma entre as estâncias de Sá e dos Prazeres, e mais 3.930m, na estância do Paraíso.

Ao contrário do que aconteceu nas fazendas/charqueadas do Pavão e nas localizadas na estância de Pelotas, aumentou o número de escravos, na fábrica de salgar carnes dos Belchior. Em sete anos, a quantidade de cativos passou de 33 para 84; ao mesmo tempo, somaram-se áreas de criação com 17 escravos campeiros. A partir de 1850, o tráfico negreiro deixava de existir. Em 1884, houve a emancipação dos escravos de Pelotas, o que quer dizer, que a “libertação” era feita com cláusulas de trabalho obrigatório por alguns anos.

Na segunda metade do século passado, seria lógico que houvesse a diminuição do plantel de escravos. Porém, esta não foi uma questão onde a lógica tenha predominado. Ao longo do trabalho, foi-se tentando dar as explicações caso a caso, sem descuidar das relações gerais. Na listagem dos estabelecimentos, realizada por João Simões Lopes Neto, a quarta charqueada, da margem direita do Pelotas, localizava-se no Cotovelo. Nas palavras do autor, pertenceu a Vicente Lopes dos Santos, que a passou ao filho Lúcio Lopes dos Santos, e este ao irmão Evaristo Lopes dos Santos. Terminou nas mãos do coronel Pedro Osório.

A partir do Cotovelo, o arroio Pelotas toma o rumo norte-nordeste. A densidade de estabelecimentos e, conseqüentemente, da população servil, aumenta na medida em que alcança o canal São Gonçalo, na boca do arroio Pelotas. As fábricas de salgar carnes da margem direita do arroio, e as do norte do canal, formavam um todo que implicava um complexo maior que os limites dos estabelecimentos, englobando todas as funções existentes na sesmaria do Monte Bonito e entorno. Ao longo da descrição, verificaremos, continuamente, a repetição dos estabelecimentos. Essa sucessão repisada de fábricas definiu uma tipologia de ocupação espacial para os saladeiros. Os conjuntos charqueadores, foram encontrados, em outros lugares, como no entorno do Serro, na baía de Montevidéu. Diferentemente, o núcleo saladeiril pelotense gerou a cidade; as charqueadas se instalaram e desenvolveram nas chamadas “sobras” da sesmaria do Monte Bonito.

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Capítulo 13

AS DATAS LITORÂNEAS

Independentemente do número de doações das datas litorâneas, o estudo das sucessivas vendas, partilhas, heranças, etc. permitiu constatar a presença de mais ou menos três dezenas de saladeiros nesse lugar. Muitos foram os fatores que propiciaram a instalação e o desenvolvimento do pólo charqueador pelotense. O tipo de zoneamento e divisão das chamadas “sobras” da sesmaria do Monte Bonito dirigiu, de maneira organizada, o estabelecimento do complexo fabril charqueador, em questão. Os donatários praticamente se limitaram a continuados negócios de compra, venda e troca de terras. Ao longo desse processo, introduziram-se as fábricas de carne salgada e a infra-estrutura necessária à produção e exportação do charque, comercialização do gado, importação de escravos, etc.

Os estabelecimentos saladeiris fixaram-se nas várzeas alagadiças, áreas marginais do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo. Superfícies planas constituídas de aluviões mal drenados, eram ricas em argila e matéria orgânica, apresentando condições físicas e fertilidade química variáveis. “Muitas partes são cobertas por floresta natural baixa e vegetação de banhados.” [ROSA, 1986: 81]

Avançavam sobre os terrenos de Graxaim da Planície Costeira, onde abundavam materiais argilosos, areia de granulometria variada e cascalho. Os materiais de construção, propiciariam a produção de elementos cerâmicos, junto às indústrias de charque.

Tipologia Fabril

Praticamente, os níveis mais baixos, até as várzeas alagadiças, correspondiam às chamadas sobras da sesmaria do Monte Bonito. As divisões, partilhas e negócios, referentes a esses quinhões de terras, deram-se no sentido longitudinal, mantendo as margens ribeirinhas e o limite com as terras destinadas ao Logradouro Público, onde o gado era comercializado. Transversalmente, os lotes eram cortados por uma ou duas estradas, que davam origem a dois ou três terrenos. Daí, foi fácil a definição de uma tipologia para as charqueadas.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 110

Na vizinhança do logradouro, em uma cota de 15m de altura, situavam-se os potreiros, o do fundo e o do meio, lugar onde o gado aguardava o abate. Normalmente, o pomar ocupava parte do segundo terreno. Quase sempre, as olarias participavam do espaço da produção do charque. As instalações fabris e as senzalas formavam um só conjunto de construções. Um pouco mais afastada, mas, na mesma área marginal, em um nível de aproximadamente dois a três metros, assentava-se a residência senhorial.

Os rebanhos eram trazidos das estâncias, até o Logradouro Público, para os negócios com o gado. De potreiro em potreiro, os animais alcançavam a mangueira de matança. A produção do charque, couros, sebos, graxas desenvolvia-se nos diversos galpões, implantados num só grupo de edificações, mas, seguia dois fluxos: o da salga das carnes e o de seus subprodutos. Na beira da água, existia um porto, com trapiche de embarque. Numa ponta, localizava-se o espaço destinado à comercialização; na outra, nas zonas ribeirinhas, a produção e, por fim, nas águas, eram lançados os dejetos e transportados os produtos.

Cascalho

No Cascalho, existiram três estabelecimentos. O primeiro pertenceu a Domingos de Castro Antiqueira, visconde de Jaguari, que o passou a seu filho; depois, foi de Leonídio Antero da Silveira, e no fim, do coronel Pedro Osório. O segundo, era propriedade do Dr. João Batista de Figueiredo Mascarenhas e José Luís de Lima, que passaram a Antônio Teixeira Magalhães; este último, transferiu o estabelecimento ao coronel Pedro Osório. A terceira charqueada foi sucessivamente passando pelas mãos de Manuel Antônio da Cruz, Manuel Bernardino Soares, Evaristo Ferreira Nunes, Gonçalves & Silva, comendador Possidônio da Cunha e Tomás T. Brasil. [LOPES NETO, 1952: 114]

Sobre a fábrica de Antiqueira, foi observado o seguinte:

“Essa charqueada se tornou notável por ter sido a primeira em que se fabricou charque pelo sistema platino. Também foi onde o francês João Batista empregou, exclusivamente, trabalhadores livres em vez de escravos, em pleno regime escravagista, mandando vir operários bascos franceses, além de uruguaios e argentinos. Muitos desses bascos deram origem a famílias tradicionais do Rio Grande do Sul, como Tamboridengui, Idiart, Bordaberri, Etchepari, Etchegarai, Etcheverri, etc. Roux fundou mais tarde, uma barraca de couros, em 1852, a primeira da cidade de Pelotas. Foi vice-cônsul francês, em 1860. Faleceu em 1886. Apareceu em Jaguarão, com a família, em 1846, no fim da Revolução Farroupilha. Depois foi para o Rio Grande. Associando-se a seu patrício Eugénes Salgues, transferiu-se para Pelotas, onde arrendou a charqueada fundada por Domingos de Castro Antiqueira, no Cascalho, constituindo a firma Salgues & Roux.” [MARQUES, 1987: 97] [FIG. 28]

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AS DATAS LITORÂNEAS 111

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Figura 28 – Mapa da divisão de terras do Cascalho e da Boa Vista. Base principal no RPTMP, do Museu

da BPP.

A primeira mulher do visconde de Jaguari chamava-se Joana Maria Bernadina e era filha de seu vizinho Manuel Domingues. Em 1810, quando do seu inventário, possuía 47 escravos. [APRGS, INVENTÁRIO de Joana Maria Bernardina. Pelotas, nº 16, M. 01, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1810]. Em 1852, o visconde faleceu e, na relação de seus bens, arrolaram 31 cativos. [APRRGS, INVENTÁRIO de Visconde de Jaguari. Domingos José Antiqueira. Pelotas, nº358, M. 26, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1852] Desses, apenas, constaram um charqueador e um salgador, o que comprovou o aluguel do estabelecimento saladeiril.

Na descrição da charqueada, realizada no documento de 1810, constou o seguinte: uma data na costa do arroio Pelotas, que confronta, pelo norte, com terras de Manuel Domingues; pelo sul, com Boaventura Roiz Barcellos; pelo leste, com o mesmo

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 112

Arroio Pelotas e, pelo oeste, com o capitão Inácio Antônio da Silveira; por compra que fez de Antônio, com cercas, currais e varais. Portanto, naqueles primeiros dez anos do século passado, o Logradouro Público não tinha sido regularizado. As terras de Inácio Antônio da Silveira encostavam nos limites dos terrenos fabris.

A Residência

Joana vivia numa morada de casas com 14,08m de frente, construídas de paredes de pau-a-pique, com pilares, forro e assoalho de madeira, cobertas de telhas, com senzala e cozinha. E, com caminho, que chegava na vila. Nesse primeiro quartel de produção charqueadora, configurava-se uma das tipologias das casas senhoriais, a edificação em forma de fita, com várias portas e respectivos espaços independentes, que tinham a função de abrigar os proprietários, agregados, trabalhadores livres e escravos. Provavelmente, a casa do senhor protegesse apenas os cativos domésticos e de ofício. Quarenta e dois anos depois, no início da segunda metade do século XIX, a morada senhorial do estabelecimento era bem diferente e expressava uma outra tipologia residencial.

Foi inventariada como uma propriedade de casas de sobrado, tão somente na frente, e mais benfeitorias, edificadas dentro de um terreno de 105,60m de frente leste à estrada pública da Costa do Pelotas, e fundos, oeste, até 220m, alcançando a propriedade que pertencera a Leão Prospero C.

Portanto, as casas de sobrado foram outra das soluções encontradas para as vivendas dos patrões. As expressões “morada de casas de vivenda” e “casas de sobrado” deram o sentido plural. Em ambos os casos, nas edificações térreas, em forma de fita, ou, nas residências assobradadas, parece permanecer, a compartimentação dos espaços, que resultava em áreas independentes e tinha a finalidade de abrigar os diversos tipos de moradores. Possivelmente, no segundo caso, no sobrado, o pavimento térreo acolheria animais e escravos domésticos.

O Espaço Fabril

No levantamento realizado em 1810, existiam cinco prédios destinados à produção: um armazém construído de tijolos, coberto de telhas, assoalhado, nas margens do Pelotas; dois galpões de charquear, cobertos de capim, com sua tafona, de moer sal; uma casa de madeira, coberta de capim, onde se guardava o sebo e outra velha. Faziam parte do inventário dois tachos grandes, de cobre, destinados a fazer graxa. Cento e cinqüenta toneladas de carne estavam guardadas em propriedades vizinhas; o maior volume concentrava-se nos armazéns de Manuel Domingues, pai da proprietária, e o resto dividia-se entre as charqueadas de Boaventura Rodrigues Barcellos e de Custódio dos Santos Moreira. Nove toneladas de sal, 12,5 toneladas de

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AS DATAS LITORÂNEAS 113

sebo e 3.200 couros estavam estocados no seu estabelecimento. Duas canoas, uma denominada Princesa do Brasil e, outra, menor, Flor do Arroio, somavam-se aos bens de Joana Maria Bernardina. Constavam do inventário, ainda: dívidas ativas e passivas, dinheiro, ouro, prata, pedras, móveis, louças e roupas.

A Matéria Prima

Domingos José de Castro Antiqueira foi precursor da nobreza, no charque. Recebeu o título de visconde, pela ajuda substancial dada às tropas do acampamento de Santana, que lutava sob as ordens do general das armas da Província do Rio Grande do Sul, na Guerra da Cisplatina, 1825-1828. [MOREIRA, 1988: 99] Nesse período a Banda Oriental, atual Uruguai, permaneceu sob o domínio do império do Brasil, com o nome de Cisplatina. Pelo menos, desde 1812, Domingos José, e, provavelmente, muitos de seus companheiros saladeiristas, charqueavam os rebanhos que vinham da Banda Oriental.

O requerimento de gado, feito por Antiqueira, explicitou, de certa maneira, essas transações:

“[...] estabelecido com negócio de charqueada na margem do rio Pelotas [...] que para poder continuar no dito gênero de negócio se lhe faz necessário a introdução de gado de fora. Naquela ocasião, solicitou 6.000 reses, que deveriam entrar pelas guardas de Serrito e São Sebastião, conduzidas pelo capataz Manuel Joaquim. No dia 2 de dezembro de 1812, foram concedidas 3.000 cabeças.” [AHM, M. 5, 1812]

Outros Bens do Visconde

O patrimônio de Domingos José de Antiquera foi maior do que o da sua primeira esposa. Depois da morte da mulher, o visconde adquiriu, de Feliciano Rodrigues Prates, um quinhão de terras da fazenda da Feitoria. Compunha, significativamente, o inventário, uma estância, localizada entre o rio Piratini, o arroio e a ilha do Pavão. E, mais, o gado que povoava esses campos. Dinheiro, ouro, prata, 10 apólices do Mercado Público e um camarote do teatro 7 de Abril, somavam no rol das riquezas do nobre senhor. Os bens imóveis urbanos formaram a outra parcela expressiva de seus haveres. Era um conjunto de propriedades, organizadas da seguinte forma: um sobrado, em um terreno de esquina, desmembrado dos demais. Na continuidade, quatro propriedades de casas térreas contíguas, com quatro ou seis portas, com suas casinhas, despensa e pátio. Um terreno e uma chácara, denominada São Francisco, na margem do arroio Santa Bárbara, junto à cidade.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 114

Os Escravos de Jaguari

O quadro profissional dos escravos do visconde diferia do dos outros charqueadores, porque estes últimos não trabalhavam na fábrica de carnes. Por isso, 37%, eram roceiros ou campeiros; 20%, carpinteiros ou pedreiros; 10%, domésticos; 5%, marinheiros; 5%, salgadores ou charqueadores; 17%, sem informação. As mulheres constituíam 19,4%. Possuía ao todo 40 escravos. Nove eram forros, com cláusula de prestação de serviços; desses, três eram carpinteiros, um, pedreiro e, os outros, não tinham profissão definida. Os dez escravos roceiros viviam na estância, num galpão, de guardar as carretas, coberto de capim, que ficava junto ao porto. Os trabalhos especializados de campo e da construção civil ocupavam a maior parcela dos cativos de Antiqueira.

Boaventura Inácio Barcellos

Do Cascalho à Boca do Arroio Pelotas, a família Rodrigues Barcellos possuiu oito datas litorâneas. As “sobras” continuavam sendo concedidas até o início do século passado. Em 9 de janeiro de 1818, o alferes Joaquim Silvério e Souza e Mariana Inácia tiveram concedidas, pelo marques do Alegrete, as “sobras” das datas de Pedro Teixeira e João Francisco Teixeira. Em 28 de novembro de 1827, Boaventura Inácio Barcellos as comprou. Tinham frente ao arroio Pelotas, dividia-se por um lado, com Antônio Pereira da Cruz e, pelo outro, com o comprador.

Em 3 de maio de 1820, Boaventura Inácio Barcellos comprou parte das terras que Pedro Teixeira tinha deixado para seu filho, Carlos José Teixeira. Eram 132m de frente ao arroio Pelotas e 4.136m de fundos. Ao nordeste, dividia com a data de Agostinho Moreira Machado e, a sudoeste, com o vendedor, Carlos José Teixeira. Em 2 de maio de 1820, João Silvério e Souza vendeu um pedaço de campo, que havia herdado de seu pai, alferes João Silvério e Souza, a Boaventura Inácio Barcellos. [BPP, RPTMP, 93: 44]

Boa Vista

Na Boa Vista, ficava uma charqueada que foi passando pelos seguintes proprietários: José Inácio Bernardes; Antônio da Cruz Seco; Quirino Candiota & Irmão; Anibal Antunes Maciel e o barão de Arroio Grande, Francisco Antônio Gomes da Costa. [LOPES NETO: 1952: 114] Maria do Carmo Soares, que havia nascido na metade do século XVIII, na Colônia do Sacramento, era casada com o português Joaquim José da Cruz Secco, charqueador. Tiveram uma filha, que recebeu o nome da

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AS DATAS LITORÂNEAS 115

mãe, e que casou com outro português, Antônio José Gonçalves Chaves. [RHEINGANTZ, 1979: 359]

Esse último, é reconhecido não só pela sua fortuna, como, também, pelo pioneirismo de idéias e feitos. Em 1817, defendia a abolição da escravatura e, em 1832, introduziu a navegação à vapor entre Pelotas e Rio Grande. Gonçalves Chaves tinha uma charqueada, na Costa, do mesmo lado direito do arroio Pelotas, a poucos metros da de seu sogro. Entre eles existiram quatro fábricas, de que tratamos a seguir. Com pequenas variações físico/espaciais, os estabelecimentos multiplicaram-se nas margens ribeirinhas das datas litorâneas, até a sede da cidade, junto ao arroio Santa Bárbara.

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Capítulo 14

COSTA

A maior densidade de charqueadas e, conseqüentemente, de escravos, estava localizada entre a Boa Vista e o canal São Gonçalo: em torno de 15 estabelecimentos saladeiris, no arroio Pelotas, e, oito no chamado sangradouro da Mirim. Continuando a descer o arroio Pelotas, no primeiro pedaço da Costa, situavam-se cinco estabelecimentos, as fábricas fundadas, respectivamente por João Guerino Vinhas; José Pinto Martins, considerado o precursor de todo o núcleo charqueador pelotense; Boaventura Rodrigues Barcellos, que instalou dois estabelecimentos contíguos, e Antônio José Gonçalvez Chaves.

Vinhas

Foram freqüentes os casamentos entre proprietários vizinhos e entre charqueadores, bem como os negócios e as brigas familiares. A família Vinhas, não fugiu à regra. No testamento, João Guerino Vinhas tomou muitas precauções. João, seu filho e herdeiro, tinha passado o terreno da charqueada para seu nome, antes da sua morte. A área do saladeiro e olaria fora comprada do falecido João Antônio da Silva S. e de José Inácio Bernardes da Costa. Media 198m, com frente ao arroio Pelotas e fundos até encontrar o Logradouro Público. Por um lado, limitava com terras do tenente coronel Anibal Antunes Maciel; pelo outro, com as de José Bento e Campos, ou com as de seu sogro, Francisco Teixeira Guimarães. [APRGS, INVENTÁRIO de João Guerino Vinhas. Pelotas, nº 383, M. 26, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1854] [FIG. 28]

A charqueada passou a sua mulher, Matilde da Silva, filha de Mariana Joaquina da Silva e de Tomás José da Silva, proprietários de terras nas margens do São Gonçalo e estancieiros em Bagé. Depois, o estabelecimento foi do filho João, e, depois da morte desse, do outro filho, Pedro Lobo Vinhas. No início desse século, passou para as mãos de José Bento e Campos Júnior, que a transmitiu a sua família.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 118

Bens de raiz

João Guerino nasceu em Faro do Algarve, em Portugal. Além da propriedade na Costa do Pelotas, era dono, no estado Oriental do Uruguai, de um outro saladeiro, com casas de vivenda e chácara, nas imediações do Serro de Montevidéu, com fundos ao arroio Pantanoso. A sucessão dessa propriedade foi contestada, no inventário de Matilde da Silva Vinhas, mulher de João Guerino, por José Joaquim Duarte de Souza, genro do casal. [APRGS, INVENTÁRIO de Matilde da Silva Vinhas. Pelotas, nº 557, M. 36, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1862] Completavam o rol dos imóveis de João Guerino dois outros terrenos: um, com 170m de frente, na mesma margem do Pelotas, fora comprado de Joaquim José Guimarães e Manuel Antônio de Freitas; o outro, uma área no lugar denominado Terras Altas, que medira judicialmente, 3.620m de frente e 660m de fundos, tendo sido comprada de João Batista de Oliveira.

Moradia e área da produção

Em 1854, no terreno das charqueadas, estava construída uma casa de moradia, e demais benfeitorias, compreendendo: graxeira; barraca de couros; galpão; senzalas; quartos dos peões; escritório; armazém, para sal, tafona; olaria, coberta de telha e forno; brete construído de tijolo; cancha; currais; varais e uma casa velha sem portas, forro e assoalho. Acrescentavam-se aos haveres do casal Vinhas dois iates, denominados Ventura e Cinco de Março.

Neste caso, a solução para a moradia, definiu um espaço único para os senhores. A área residencial dos trabalhadores livres e escravos foi localizada junto à área da produção; construíram-se quartos, para os peões, e, senzalas, para os cativos. Essa divisão espacial, de maneira tênua, sugeriu a divisão do trabalho: a fabricação do charque coube aos cativos; as lides campeiras, aos peões, trabalhadores livres.

Mais imóveis

Juntos, João Guerino e Matilde e da Silva Vinhas não chegaram a possuir nem propriedades urbanas, nem grandes propriedades rurais. A diferença que existiu entre a listagem dos inventários dos bens imóveis de João Guerino e de sua esposa, Matilde da Silva Vinhas, concerniu a parte de uma chácara em Bagé, que, em viúva, herdara de seus pais.

A desigualdade foi grande em relação aos bens do filho João. Somou-se ao patrimônio uma data de matos, na serra dos Tapes, denominada Quilombo; na cidade, um lance de casas e um conjunto urbano, formado por dois lances de casas e um terreno. [APRGS, INVENTÁRIO de João Vinhas. Pelotas, nº 642, M. 41, E. 25. 1º Cartório de

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COSTA 119

Órfãos e Provedoria, 1867] Em 1883, foi realizado o inventário de Matilde Vinhas Lopes, neta do casal João Guerino e Matilde, filha de João e casada com Manuel Jacinto Lopes. No inventário da neta, foi acrescentada mais uma data de matos na serra dos Tapes, que tinha o nome de Invernada, e propriedades urbanas, em Santa Isabel.

Escravaria

No inventário de Matilde Vinhas Lopes, os escravos da fábrica de salgar fizeram parte de seus bens, porém, a charqueada, não contou no seu patrimônio. A filha menor, Carolina Matilde, ficou, com dois aluguéis, o de uma das casas e o de 14 escravos, mais juros de oito anos, quatro meses e 17 dias. [INVENTÁRIO de Matilde Vinhas Lopes. Pelotas, nº 775, M. 46, E. 25. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1883] A partir da segunda metade do século passado, o plantel de escravos da família Vinhas, apresentou-se com altos e baixos, até 1883, quando estava com o número reduzido para menos da metade.

O quadro apresentou-se da seguinte forma: em 1854, João Guerino, tinha 71 escravos; em 1862, Matilde da Silva, 45; em 1867, João, 60; em 1883, Matilde Vinhas Lopes, 31. Coube à filha menor, a menina Carolina Matilde, o aluguel de 14 cativos. Um ano depois, em 1884, a população servil pelotense emancipou-se. Alforriaram-se os cativos com cláusulas que determinavam anos de serviços obrigatórios, como fora previsto, quando da divisão da herança, em 1883.

José Pinto Martins

Freqüentemente, o lisboeta, José Pinto Martins foi apontado como fabricante de carne seca no Ceará e pioneiro da produção charqueadora em Pelotas. Entre as justificativas mencionadas para a instalação do empreendimento rio-grandense, destacaram-se as secas, que assolaram o sertão, no final da década de setenta do século XVIII. Além dessas considerações, configurava-se a diminuição e o emagrecimento do gado nordestino, ao lado dos fartos e generosos “rebanhos de ninguém”, que povoavam os Campos Neutrais, no entorno da sesmaria do Monte Bonito.

José Pinto Martins morreu solteiro, em sua casa na Costa do arroio Pelotas. No outono de 1824, sentindo-se doente, mas, em seu perfeito juízo, realizou seu testamento. Declarando ser católico romano, determinou o pagamento de diversas missas e esmolas para os pobres.

Destinou dinheiro para: Antônio Pinto Martins, irmão que vivia em sua residência; Liberato Pinto Martins, nascido em sua casa, que andava embarcado; Daniel Pinto Martins, que morava na mesma Costa do Pelotas, junto a sua mãe, Francisca, crioula forra, que fora escrava de João Duarte Machado, marido de uma das herdeiras da Fazenda de Pelotas. Dos remanescentes de todos os seus bens, depois de satisfeitas

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 120

todas as suas disposições, escolheu como herdeiro João Pinto Martins; este residia em sua companhia e era filho da parda Antônia, que, como Francisca, tinha sido cativa na Fazenda de Pelotas. [APRGS, INVENTÁRIO de José Pinto Martins. Pelotas, nº 114, M. 10, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1827]

Cativos

Dez anos antes da morte de Pinto Martins, o charqueador Antônio José Gonçalves Chaves escreveu sobre a extinção do sistema escravista. Um dos argumentos utilizados, referia-se ao comportamento dos senhores de escravas, dizia:

“[...] vem de Portugal muitos homens e suposto que algum deles escapem à praça e queiram casar, devem não achar com quem celebrar núpcias, pois dado que o caso com brancos em tão pequeno número tenham a sua população em igual quantidade nos dois sexos, não restam mulheres para os que vem de fora e daqui se seguem celibatários escandalosos pelas misturas com a gente de cor; e em prejuízo desta resulta uma população a mais desprezível e uma desmoralização universal.” [GONÇALVES CHAVES, 1978: 62]

Distintamente, dos outros senhores, ao dividir seus pertences, José Pinto Martins deixou transparecer algum vínculo entre os filhos das escravas forras que viviam em sua companhia. Mais de um quarto dos cativos de Pinto Martins era composto de mulheres com “crias”. Vinte e cinco por cento de escravas era um número alto, em relação ao plantel dos outros proprietários. Somavam oito mulheres e 23 homens servis; desses, dois eram salgadores; dois, sebeiros; um, graxeiro; nove, carneadores e nove, campeiros.

Utensílios

A enumeração dos utensílios e das edificações existentes na charqueada de Pinto Martins, bem como, o estudo dos primeiros estabelecimentos inventariados, permitiram conhecer preliminarmente a tecnologia empregada no início do núcleo salgador pelotense. Foram arrolados os seguintes objetos: uma carreta; uma outra, velha; dois gavetões, um grande e um pequeno; uma balança com dois pesos de quatro arrobas, 58,8 kg; quatro caldeiras de ferro; um tacho de cobre; um, menor; oito medidas de água de meio alqueire, 6,9 litros; uma corrente de ferro; um tronco de pão; oito enxadas velhas; três machados; uma escumadeira da graxeira; um garfo; duas foices; três facões; dois barris; duas tinas e um pilar de socar sebo.

Em 1791, trinta e seis anos antes do levantamento dos pertences de Pinto Martins, houve o pedido de José Roiz Pereira de Almeida, solicitando importação de instrumentos de trabalho, para serem usados, no Continente do Rio Grande, pelos

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COSTA 121

irlandeses João Seechy, Diogo Sheehy e Pedro O’Donnell, respectivamente, mestre curtidor, salgador, e, especialista em fazer manteiga e velas. Na solicitação constou:

“Para o mestre salgador: 12 cutelos de ferro; oito dúzias de facas de ferro; seis luvas de couro com pregos; um barril de salitre; 12 regadores de folha; uma balança grande com seus componentes. Para o mestre curtidor: 18 raspadores de ferro; 12 ganchos de ferros, para tirar os couros do curtume; quatro escumadeiras de ditas; seis rebolos para amolar os ferros; dois barris de pó de sapato; uma pedra para pisar a caixa. Para o mestre de velas de sebo e manteiga: dois engenhos para fazer manteiga; dois arados de nossa invenção, para uso da lavoura; um parafuso de ferro, para a prensa; três caldeiras de ferro, de maior a menor; uma dita pequena de cobre; 12 panelas pequenas de dito; 60 dúzias de formas de estanho para velas; três arrobas [44,1 kg] de fio para pavios; 100 arcos de ferro para as tinas. [AHU, RGS, Cx. 21, nº 96, sd.]

Ao comparar os utensílios utilizados pelos escravos de Pinto Martins, e os que foram usados pelos irlandeses, percebeu-se uma desvantagem para os primeiros.

Benfeitorias

O levantamento das benfeitorias da charqueada do português, José Pinto Martins contou com uma casa de vivenda; um armazém construído de tijolos e coberto de telhas; uma casa de graxeira, da mesma construção; uma outra, de tafona, com forno de secar sal; uma senzala de tijolos, coberta de telhas; um galpão coberto de capim; um guindaste, também coberto de capim; um curral e mangueira; uma morada de casas com paredes de tijolos, cobertas de telhas, forradas e assoalhadas, na beira da estrada; um pomar de árvores de espinho; uma mangueira de receber gado grande e um varal.

Com pequenas variações, esse programa de necessidades manteve-se por quase vinte anos, até a instalação das caldeiras a vapor, empregadas na fabricação de graxas e sebos. Ao contrário, na fabricação do charque, a presença do guindaste, coberto de capim com curral e mangueira, atestou que, desde o início, as fábricas pelotenses trabalhavam em espaços construídos e equipados para o abate, não acontecendo a matança em currais nativos.

Além dos estabelecimentos de João Vinhas e de Pinto Martins, a primeira parte da Costa do Pelotas contou com duas fábricas consecutivas, a de Boaventura Rodrigues Barcellos e a de Antônio José Gonçalves Chaves. A família Rodrigues Barcellos deteve o maior número de saladeiros, todos localizados no final da descida do Pelotas, entre a Costa e a Boca do Arroio.

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Capítulo 15

OS RODRIGUES BARCELLOS

No arroio Pelotas, foram proprietários das charqueadas os seguintes Rodrigues Barcellos: Boaventura, com dois estabelecimentos, juntos, tendo passado um deles para seu filho de mesmo nome; Ignácio, que tinha como herdeiros seus filhos Eleutério, Boaventura e Luís; Cipriano, com dois saladeiros, que legou a seu filho Cipriano Joaquim, e Bernardino, com duas fábricas, uma das quais deixou para seu filho João. [FIG. 29]

Não fez parte dessa relação a ala feminina da família, que, casando-se com charqueadores e/ou vizinhos, consolidava os negócios da família. Em 1824, Domingos José da Almeida, ministro da Fazenda da República do Piratini, casou com sua vizinha, Bernardina Barcellos Lima, filha de Bernardino. João Maria Chaves, filho de Antônio José Gonçalves Chaves, contraiu matrimônio com Maria Luíza Barcellos, filha de seus confinantes, Boaventura Rodrigues Barcellos e, sua segunda mulher, Eulália de Azevedo e Souza.

A localização dos estabelecimentos da família Rodrigues Barcellos teve a seguinte ordem: nos dois terrenos iniciais da Costa, os empreendimentos de Boaventura Rodrigues Barcellos; na primeira parte do Areal, o saladeiro de Inácio e uma das fábricas de Cipriano Rodrigues Barcellos; nos Coqueiros, uma das charqueadas de Bernardino; na segunda parte do Areal, a outra propriedade do mesmo Bernardino; e, no Atoladouro, próximo ao Canal São Gonçalo, o segundo saladeiro de Cipriano. [FIG. 29]

Boaventura Rodrigues Barcellos

O comendador Boaventura Rodrigues Barcellos casou-se, em primeiras núpcias, com Cecília Rodrigues da Silva. Tiveram seis filhos, três homens e três mulheres. Desses, Boaventura da Silva Barcellos, casado com Albana dos Santos Barcellos, herdou a charqueada. Israel Rodrigues Barcellos contraiu matrimônio com Maria Josefa da Silva Freire, filha de Rafaela Pinto Bandeira, neta do conhecido brigadeiro Rafael Pinto Bandeira. Maria Andréia e Clara casaram com os vizinhos e

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 124

irmãos Luís e José de Azevedo e Souza. O próprio, comendador Boaventura contraiu segundas núpcias, com sua vizinha Eulália de Azevedo e Souza.

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Figura 29 – Mapa das propriedades da família Rodrigues Barcellos, vizinhos e estradas. Base principal no

RPTMP, no Museu da BPP.

A venda do terreno, contíguo à fábrica de José Pinto Martins realizou-se em 24 de março de 1814. Boaventura Rodrigues Barcellos fez compra de meia data de terras, que Domingos Afonso Pinheiro deixou de herança a sua filha Gertrudes Pinheiro de Araújo e a seu marido Manuel Viera de Araújo. Estes a venderam a Boaventura Rodrigues Barcellos, conforme descrito:

“[...] uma porção de terras que confronta para frente com o arroio Pelotas, com 4.136m de fundos até encontrar com terrenos do capitão Inácio Antônio da Silveira, dividindo pelo lado leste com terras de Custódio José dos Santos Moreira e pelo outro com José Pinto [Martins] e de ele vendedor.” [BPP, RPTMP, 93: 61]

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OS RODRIGUES BARCELLOS 125

Até chegar às mãos de Boaventura, outra fatia de terras passou por vários proprietários. Situava-se entre as terras do visconde de Jaguari, Antônio Pereira da Cruz, o Logradouro Público e o arroio Pelotas. Em 27 de junho de 1798, João Francisco Viera Braga comprou 385m de terreno de Antônio Rosa, pela quantia de 140$800 réis. Quatro anos e dois meses depois, em 27 de agosto de 1802, João Francisco Viera Braga vendeu a mesma área ao alferes José Cardozo de Gusmão. “[...] 15 de setembro de 1808 José Cardoso de Gusmão fez venda a Boaventura Rodrigues Barcellos.” [BPP, RPTMP, 93: 178]

Em 1814, os Rodrigues Barcellos realizaram um negócio no seio da própria família, o qual resultou em três charqueadas.

“20 de setembro de 1814. Luís Rodrigues Barcellos fez venda a seus três irmãos Cipriano Rodrigues Barcellos, Bernardino Rodrigues Barcellos e Inácio Rodrigues Barcellos, de um terreno na Costa do arroio Pelotas que se divide pelo sul com pouco mais ou menos parte eles com terrenos do padre Antônio Pereira por pé da margem do arroio e outra parte pelo dito rumo com terras de Luís Pereira, pelo lado do norte pouco mais ou menos se divide com terrenos hoje Boaventura Rodrigues Barcellos, sendo os fundos do mencionado terreno de 3.960m. O qual vendedor houve por compra que ele fez a Custódio José dos Santos Moreira.” [BPP, RPTMP, 93: 33]

Essas terras deram origem ao segundo saladeiro de Boaventura Rodrigues Barcellos e às fábricas de Antônio José Gonçalves Chaves e de Inácio Rodrigues Barcellos. Havia grandes confusões nas medições das terras. Os limites eram naturais; a serra, os arroios e o canal não mantinham as medidas constantes das transações fundiárias. Parece que as “sobras” eram um tanto elásticas, puxava-se de um lado, faltava do outro. Existia também a posse dos antigos moradores e a cautela de alguns, que requeriam títulos de sesmarias. Outros avançavam sobre as propriedades vizinhas.

As desavenças entre a família apareceram um ano depois. Em 1815, Boaventura Rodrigues Barcellos solicitou medição de suas terras; foi notificado seu irmão Inácio Rodrigues Barcellos.

“Diz Boaventura Rodrigues Barcellos que ele é senhor e possuidor de uma porção de terras sitas na costa do rio [arroio] Pelotas com 407m de frente ao rio [arroio], e 4.136m de fundo até as terras do capitão Inácio Antônio da Silveira, que as houve por compra a Custódio Manuel Viera e sua mulher [...]. Confinantes, Inácio Rodrigues Barcellos, Cipriano Rodrigues Barcellos, Bernardino Rodrigues Barcellos, Luís Rodrigues Barcellos e suas mulheres, Custódio Manuel Viera e sua mulher, José Pinto Martins e dona Maurícia Inácia da Silveira, por si, e seu marido ausente, o capitão Inácio Antônio da Silveira.” [APRGS, MEDIÇÃO de Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 568, M. 14, E. 33. 2º Cartório do Cível e do Crime, 1815]

Cecília Rodrigues da Silva

O primeiro estabelecimento de Boaventura Rodrigues Barcellos foi passado a José Gonçalves Lopes. O segundo, herdou Boaventura da Silva Barcellos; este deu a

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 126

charqueada em pagamento de dívida a Joaquim Guilherme da Costa, que a passou a seu filho Domingos G. da Costa. A fábrica pertenceu depois a Artur Gomes da Costa, a George Lavison e, no fim, a Numes & Irmão. Quando da morte da primeira mulher, do comendador, Cecília, em 1824, o terreno, que sobrara, tinha 660m de frente ao arroio Pelotas. Nessa área, havia as seguintes construções: uma casa de vivenda, com cozinha; uma casa de sobrado, imediata à outra; um galpão de charquia, todos cobertos de telhas; e, mais, um armazém, uma casa de carretas e uma casa de graxeira. Na charqueada, viviam 127 escravos. [INVENTÁRIO de Cecília Rodrigues da Silva. Pelotas, nº 83, M. 07, E.25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1824] Apesar do número expressivo de cativos, na listagem das edificações inventariadas não apareceu nenhum prédio específico para a residência da população servil.

Em 1856, quando do levantamento dos bens de Boaventura, tinham sido construídas, no terreno da charqueada, mais uma ferraria e uma estrebaria. O comendador deixou sete terrenos. Dois compunham a charqueada e situavam-se sobre a margem direita do Pelotas.

Um desses, pelo norte, dividia com terrenos de José Antônio Moreira, e, pelo sul, com as terras do filho, Boaventura da Silva Barcellos; e, o outro, pelo norte, dividia com o mesmo co-herdeiro, e, pelo sul, com as terras do genro Luís de Azevedo e Souza. Os imóveis restantes eram os seguintes: um terreno, denominado Sotreirinho, limitava-se, ao norte, com José Bento e Campos e, pelo sul, com o co-herdeiro, Boaventura da Silva Barcellos; um outro, próximo ao antecedente, ao norte, era vizinho do co-herdeiro Boaventura e, ao sul, do co-herdeiro Luís de Azevedo e Souza; um terreno, na Boa Vista, contendo 88m de frente e 440m de fundos; uma chácara de 7,4ha, que se dividia, a leste, com o co-herdeiro Luís de Azevedo e Souza; uma data de matos na serra dos Tapes, às margens do arroio Pelotas e do arroio Quilombo; um terreno no Monte Bonito e dois terrenos na cidade. O número de escravos tinha diminuído, em relação ao plantel de sua primeira mulher, contava 70 cativos. [INVENTÁRIO de Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 409, M. 28, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856]

Albana Rodrigues Barcellos

No mesmo ano de 1856, foi feito o inventário dos bens de Albana Rodrigues Barcellos, esposa de Boaventura da Silva Barcellos, nora do comendador. De maneira mais detalhada, o levantamento do patrimônio de Albana informou sobre a presença de uma máquina a vapor, bem como, sobre a moradia de escravos. Na listagem dos prédios que compunham a charqueada, pôde ser observado: uma propriedade de casas de sobrado que servia de moradia; uma outra casa, utilizada como graxeira, com cilindros, três tinas, uma das quais servia para derreter o sebo, e duas para ossos, duas caldeiras grandes, para apurar graxa, e todos os demais utensílios da mesma graxeira; um galpão de charquear, com tafona e dois armazéns, para sal; um outro galpão grande, que compreendia, senzala, armazém, cocheira, estrebaria e diversos quartos; uma casa grande, destinada a salgar couros, e, uma mangueira, com seu brete e cancha. [INVENTÁRIO de Albana Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 406, M.28, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856]

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OS RODRIGUES BARCELLOS 127

Fluxograma

A sucessiva descrição das charqueadas comprovou a utilização de caldeiras a vapor, por quase meio século do último período da escravidão no Brasil. Certamente, o uso dessa tecnologia deu um maior e melhor aproveitamento ao gado, qualificou os produtos e os cativos que a operavam. Apesar dos graxeiros não serem, necessariamente, trabalhadores servis, constatamos a existência desta especialização entre os escravos. Ao mesmo tempo, a disposição dos terrenos da charqueada configurava um fluxograma definido. A matéria-prima, o gado, ia do Logradouro Público ao curso d’água. Depois de comercializados, os animais seguiam para o potreiro de fora, dali para o potreiro do meio. Nesses locais, os rebanhos aguardavam o abate. No último terreno, às margens de um curso de água, as reses eram transformadas em carne salgada e em seus subprodutos.

No terreno da charqueada, próxima ao potreiro do meio e afastada d’água, a primeira instalação era a mangueira de matança, composta de um brete e uma cancha. Daí, a divisão em duas linhas de produção: uma, a dos derivados, seguia para as casas que serviam de graxeira e de salgação dos couros; a outra, a do charque, ia para os galpões de charquear e salgar. Os quartos, destinados aos trabalhadores livres, e a senzala, compartilhavam um grande galpão, que também utilizado como armazém, cocheira e estrebaria. A residência dos senhores ficava próxima a beira d’água, mas, afastada do espaço da produção. Sem nenhuma variação, a fábrica de Albana representou um exemplo dessa tipologia de distribuição físico/espacial. Em 1856, o estabelecimento tinha um terreno com 106,6ha, sendo 20,8ha na charqueada, 32,5ha no potreiro do meio e, no potreiro de fora, com fundos ao Logradouro Público, 53,3ha. O terreno da charqueada limitava-se: ao sul, com o cunhado, Luís de Azevedo e Souza; ao norte, com herdeiros de seu falecido sogro, até a estrada do Passo Fundo e o terreno dos potreiros que confinava com o Logradouro Público. Esse dividia, a leste, com o referido cunhado; ao norte, com José Bento e Campos e Matilde da Silva Vinhas; ao sul, com Antônio José Gonçalves Chaves e os herdeiros do falecido Inácio Rodrigues Barcellos, e, a oeste, com o Logradouro Público. A TAB. 9 dimensionou os terrenos da charqueada de Albana Rodrigues Barcellos, arredondando a largura do terreno em 200m, tendo em vista que o resultado do auto da medição dos dois terrenos de seu sogro mediu 407m, para os dois terrenos.

Tabela 10 - Dimensionamento dos terrenos da fábrica de Albana Rodrigues Barcellos.

Terrenos Braças superficiais

Hectares m² Largura m Profundidade m

Charqueada 43.018 20,8 208.207 200 1.041 Potreiro do meio 67.139 32,5 324.953 200 1.625 Potreiro do fundo 110.157 53,3 533.160 200 2.666 Total 220.314 106,6 1.066.320 200 5.332

Fonte: [INVENTÁRIO de Albana Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 406, M.28, E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856.

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Joaquim Guilherme da Costa

Boaventura deu a charqueada em pagamento de dívida ao português Joaquim Guilherme da Costa, casado com Tereza Francisca. Em 1865, no levantamento dos bens do proprietário, a charqueada teve quase a mesma descrição da constante no inventário de Albana Rodrigues Barcellos.

Porém, acrescentava um estabelecimento de olaria, uma chácara, de arvoredo frutífero diverso, e um pequeno rancho, edificado no potreiro de fora. Ainda, constituíam seus bens: dois iates, denominados Diamantino e Estudante e um plantel de 78 escravos. A presença do pomar e da olaria concluía o programa de necessidades do saladeiro. Alternando a disposição de grande parte dos estabelecimentos, essas funções não se situavam no terreno da charqueada, à beira da água; instalaram-se perto das terras do Logradouro Público. [APRGS, INVENTÁRIO de Joaquim Guilherme da Costa. Pelotas, nº 599, M. 38, E. 25. 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856]

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Capítulo 16

ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES

Em 1781, nasceu em Portugal, em São Tiago d’Ouro, comarca de Chaves, Antônio Gonçalves Chaves, filho de Manuel José de Morais e de Isabel Maria Gonçalves. Faleceu em 29 de julho de 1837, no Uruguai, na baía de Montevidéu, quando vinha da charqueada, que possuía naquela localidade, para o centro da cidade. Seu bote virou e ele morreu afogado, com todos aqueles que o acompanhavam. Mudara-se de Pelotas para o Uruguai, dois anos antes, no começo da Revolução Farroupilha. Tinha chegado ao porto de Rio Grande em 1805, estabelecendo-se em Pelotas e começando a vida como caixeiro. Conseguiu ser charqueador, estancieiro, proprietário urbano e senhor de escravos. No natal de 1811, casou com Maria do Carmo Secco, nascida no Povo Novo, filha de Maria do Carmo Soares, da Colônia do Sacramento e do português Joaquim José da Cruz Secco, fabricante da carne salgada e vizinho de Chaves. [RHEINGANTZ, 1979: 359]

Em 1828, Gonçalves Chaves participou, como membro natural, do primeiro Conselho da Província; em 1832, foi eleito vereador, ao instalar-se a primeira Câmara Municipal de Pelotas; e, em 1835, um pouco antes da sua transferência para Montevidéu, elegeu-se à Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Com outros sócios, entre eles Domingos José de Almeida, iniciou na província, a navegação a vapor, importando, dos Estados Unidos da América do Norte, o motor de uma barca que chamaram de Liberal; exploraram o transporte entre Pelotas e Rio Grande. [FRANCO, 1978: 17] Era uma figura ímpar entre seus pares. Principalmente, pelo pioneirismo de seus escritos, tanto no que se refere à data da publicação, 1822, como também, pelas críticas e idéias que divulgava. Defendia o fim do regime escravista, apostava nos princípios do liberalismo econômico, censurava as elites locais e a os representantes da coroa lusa.

Impostos. Entre a Colônia e o Império

Gonçalves Chaves era contrário às restrições de caráter fiscal, impostas pelo governo português à matéria-prima usada no fabrico do charque, ao gado, ao sal; e, ao

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próprio produto, a carne salgada. No Rio Grande, no início dos anos vinte, do século passado, por um lado, o gado era confiscado para abastecer as forças militares que investiam na ocupação da Banda Oriental; por outro lado, nas chamadas califórnias, invasões àqueles territórios, as reses eram roubadas e contrabandeadas. Com o nome de Província da Cisplatina, anexou-se a Banda Oriental; a fronteira estendeu-se sobre o território que ficava ao leste do rio Uruguai. Nesses anos, o fluxo dos rebanhos, sobretudo para as charqueadas, tornou-se uma constante.

No decorrer de 1821 a 1822, o sal teve uma política atribulada. O Decreto de 29 de abril de 1821 eliminou a cobrança de direitos sobre o sal, nas províncias centrais do reino do Brasil. Em 11 de maio do mesmo ano, outro decreto estendeu essa isenção aos portos das províncias periféricas, mas, impôs taxa de 80 réis por alqueire [13,8 litros]. Com essas medidas, o Rio Grande continuava em desvantagem em relação às províncias centrais e os cofres lusitanos sofriam diminuição, no total de recursos arrastados. No primeiro semestre de 1822, a isenção atingiu apenas o produto nacional, transportado em navios nacionais. Em meados, do ano, voltaram as mesmas regras determinadas pela carta régia de 1805, com exceção do produto inglês, que pagaria 15%. [CORSETTI, 1983: 108-119]

O decreto de abril de 1821 tornou norma a cobrança nas importações. Os saladeiristas obrigavam-se a pagar pela carne salgada 600 réis em navios estrangeiros e 200 em portugueses. Constantemente, estancieiros, charqueadores e comerciantes do Rio Grande viam-se subjugados ao poder colonial português, associado às forças hegemônicas do centro e do nordeste do Brasil. Deste quadro, podem-se extrair as justificativas para a adoção dos princípios liberais, por Antônio José Gonçalves Chaves. Sua postura, à primeira vista, parece contradizer sua condição sócio-econômica. Com atenção, percebemos a situação específica das necessidades econômico-sociais da produção saladeiril e escravista gaúcha. Daí, a aposta no liberalismo econômico, que, aqui, representava uma maneira de escapar dos tributos cobrados pela coroa.

Pensamento

Em 1817, escreveu a favor da abolição da escravatura, constituindo-se, esse trabalho, na terceira memória. Em 1821, elaborou a primeira memória e a encaminhou aos deputados brasileiros junto às Cortes de Lisboa, que viviam a Revolução Liberal. Nesse texto, criticava o autoritarismo, o arbítrio, e a corrupção da administração colonial portuguesa, particularmente os capitães generais, e defendia a imediata supressão desse cargo. As publicações de Gonçalves Chaves foram cinco Memórias Ecônomo-Políticas sobre a Administração Pública do Brasil, publicadas entre os três primeiros anos de 1820, exatamente, no período em que o Brasil passava de reino unido para império.

A segunda memória, que complementou a primeira, foi realizada no mesmo ano desta e publicada no seguinte. Constituiu-se num desabafo diante da opressão do período colonial. Aos liberais portugueses, interessava resgatar os privilégios do antigo regime. A segunda memória apresentava um projeto de constituição, que não refletia a totalidade de seu pensamento. Expôs o que lhe pareceu possível ou viável. Tratou da má

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e corrompida administração colonial lusa e da necessidade de seguir um sistema liberal. Queria a república, mas indicou a monarquia constitucional ou temperada como a forma de governo mais própria para a nossa união, como se fosse uma tábua de salvação. Sugeria o estudo das constituições modernas, com base nas cartas dos Estados Unidos e de Cadiz, da Espanha.

O quarto texto levantou as injustiças sociais e as dificuldades econômicas que decorreram da estrutura fundiária da campanha rio-grandense. Criticou o sistema de distribuição de grandes sesmarias e propôs uma distribuição mais equilibrada das terras, acabando com o favoritismo e o nepotismo. No último trabalho elaborou e registrou dados estatísticos do Rio Grande do Sul. O pensamento de Antônio José Gonçalves Chaves não pode ser apenas vinculado às tendências do pensamento moderno, ele é sobretudo atual.

Escravidão x Desperdício

“Chaves volta-se contra o escravismo tomando este como ‘modo de produção’. Não quer reformar os abusos, melhorar a sorte dos escravos, pregar o paternalismo. Quer extirpar o trabalho negro, acabá-lo como organização social do trabalho. Sua critica não é ‘moral’, ‘humanitária’, é uma fria e aguda análise econômico-social. Surge ele como um homem que apesar de isolado do ‘mundo das idéias’ de então, soube apartar-se dos seus interesses imediatos e analisar as limitações estruturais a que o escravismo levava a economia brasileira e, em especial, a indústria do charque.” [MAESTRI, 1984: 79]

Antônio José Gonçalves Chaves parece ter sido, dos primeiros, nesta terra, a analisar criticamente o regime escravista. Divulgando, através de seus textos, idéias como a seguinte citação:

“O escravo - diz um economista - consome mais do que pode e trabalha menos do que pode. É essa uma verdade que não precisa ser demonstrada: o escravo, que por modo algum pode esperar prêmio do seu trabalho, interessa-se em consumir e em não trabalhar.” [GONÇALVES CHAVES, 1978: 60]

Explicava, ainda, sobre a necessidade de um corpo de controle, composto de capitães-de-mato, feitores, forças militares, Guarda Nacional, etc., que não produziam, mas, exatamente, permaneciam para manter, vigiar, controlar os cativos, ou inimigos domésticos. Já em 1817, escreveu o que Louis Couty, em 1880, e Fernando Henrique Cardoso, em 1960, iriam dizer sobre a economia do desperdício. O trabalho escravo impossibilitaria o florescimento do capitalismo.

Em síntese, a economia escravista foi definida como uma economia do desperdício, porque, primeiramente, implicava a reversão de um capital fixo na compra de escravos; os trabalhadores servis, independentemente da sazonalidade da produção saladeiril e das necessidades de mercado, tinham de continuar sendo, de certa forma, alimentados, vestidos, alojados. Portanto, apresentava pouca flexibilidade. Era economia do desperdício, também, porque introduzia um corpo de trabalho parasitário,

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responsável pelo controle, manutenção da disciplina, continuação do próprio trabalho servil, e, conseqüentemente, do sistema escravista. O prosseguimento do trabalho dava-se pela violência e não pelo incentivo, o que resultava numa resistência passiva dos escravos. Os cativos consumiam muito [sic.] e produziam pouco. A própria condição servil impedia a especialização técnica. Não se permitia a ociosidade. As condições de trabalho, o baixo preço pago para a aquisição de novas “peças”, impediam a reprodução natural da mão-de-obra necessária.

Gonçalves Chaves queria a abolição, propôs o fim do tráfico, porque entendia como a única proposta para a situação histórica daquele momento. Sabia que o fim do tráfico, que ocorreria em 1850, era a única bala certeira para a derrubada do regime escravista. Em 1871, seu filho de mesmo nome, Antônio José Gonçalves Chaves, deixava de herança 53 escravos. Em 1887, seu outro filho João Maria Chaves deixava 11 contratados. Houve uma defazagem de 71 anos entre a elaboração do texto que defendia o fim do regime servil, escrito em 1817, e a abolição da escravatura no Brasil, em 1888. No âmbito doméstico, da mesma forma, verificou-se a distância entre o discurso e a prática. Na fábrica que pertenceu a Gonçalves Chaves e a seus filhos constatou-se a exploração da mão-de-obra cativa inclusive depois da emancipação dos escravos em Pelotas, em 1884.

Sobre a ocorrência entre os saladeiristas capitalistas platinos e os charqueadores escravistas pelotenses o historiador Jacob Gorender considera que não podemos pretender que o charqueador se comportasse como um empresário capitalista:

“O charqueador poderia ser acusado de historicamente irracional por insistir em continuar escravista, num momento em que o escravismo se precipitava para o fim. Mas, enquanto escravista, seria absurdo pretender que agisse de maneira diferente na gestão de seus negócios. Sua conduta, enquanto escravista, permanecia racional, na média comum dos agentes econômicos, em que se excluem os erros individuais de cálculos.” [GORENDER, 1988:233]

O Capital dos Charqueadores

O estudo da charqueada escravista gaúcha no século XIX, elaborado por Berenice Corsetti, realizou uma análise sobre a questão do crédito e do capital. Utilizando os dados de 31 inventários, distribuídos entre os anos de 1824 e 1911, constatou serem expressivos os índices relativos às dívidas que os saladeiristas tinham a receber ou a pagar. Em alguns casos, mais da metade da fortuna do charqueador estava representada por dinheiro emprestado a juros, o que evidenciava que, além de charqueadores, esses senhores, integravam o setor comercial e financeiro. O endividamento e a falência de diversos charqueadores, bem como a maneira como se organizou e evoluiu o setor creditício no Rio Grande, colaboraram para a desintegração do regime escravista. [CORSETTI, 1983: 192-3]

Sobre os chamados “bens de raiz”, a autora, concluiu que havia predominância de imóveis rurais sobre os urbanos, inclusive imóveis situados no Estado Oriental, onde os charqueadores pelotenses aproveitavam as condições muitas vezes favoráveis

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oferecidas pelo Uruguai; na década de 1880, passou a evidenciar-se um investimento maior em propriedades urbanas, o que se junta às características de desarticulação da charqueada enquanto empresa escravista. A elevação dos percentuais, no setor de apólices e ações, e no de imóveis, a partir da década de setenta, parece estar relacionada com a liberação de capitais, antes investidos na aquisição de escravos. A compra de cativos predominou até o início da década de sessenta, quando passou a decair, após três décadas do fim do tráfico negreiro, apresentando tendência decrescente. [Id., Ib., 187 a 191]

O aumento dos valores em imóveis pode ter sido conseqüência, também, do emprego da mão-de-obra servil, durante os períodos das entressafras. Um século duraram as empresas escravistas em Pelotas, de 1780 a 1888. O período de matança concentrava-se de novembro a maio; nos outros seis meses, durante 100 anos, os cativos poderiam ter trabalhado nas olarias e na construção civil. Não é a melhor época para essas atividades, mas, ao longo do tempo, possibilitava o crescimento do capital. Corsetti completou a análise anotando que a presença de móveis e de objetos de ouro e prata, era altamente significativa na fortuna desses senhores. Metade dos saladeiristas possuíam iates; consequentemente, a outra metade pagava o transporte. Utensílios e construções, em geral, estavam incluídos nas benfeitorias das charqueadas; a presença pouco expressiva de animais, entre os bens dos proprietários de charqueadas, evidenciava a falta de suficiência do setor produtivo em relação a esta matéria-prima, fundamental à produção da mercadoria.” [Id., Ib.: 192]

O Capital dos Chaves

Os filhos de Antônio José Gonçalves Chaves, os irmãos Antônio José e João Maria Gonçalves Chaves, compartilharam das propriedades que foram de seu pai. Em 13 de julho de 1862, quando Antônio José realizou uma viagem ao Rio de Janeiro, fez um cálculo de seus bens e de sua fortuna:

“154 ações do Banco do Brasil ____________________________ 35.880#000 Saldo na mão de [ilegível] até janeiro _______________________ 15.290#000 [Ilegível] _____________________________________________ 15.290#000 Apólices da Câmara Municipal 5500 cap. e rendimento de um ano _ 6.160#000 Chácara da Boa Vista e terreno adjacente ____________________ 2.500#000 Escravos Artur e José ____________________________________ 4.000#000 ½ Do que toca de capital circulante ________________________ 50.000#000 ½ da charqueada, terrenos, iate, e mais propriedades___________ 25.000#000 ½ do valor de escravos em sociedade _______________________ 35.000#000 Total ______________________________________________ 188.000#000” [INVENTÁRIO de Antônio José Gonçalves Chaves. Pelotas, nº 1791. M. 45. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872]

Nesse total, faltaram muitas coisas. Em 1872, quando do inventário, foram registrados, entre os imóveis: ½ estância no Piratini; dois sobrados e três terrenos urbanos; três terrenos na estrada do Retiro e a data de matos na serra dos Tapes, com estabelecimento de carpintaria. Os inventários de Antônio José e de sua cunhada, Maria Luíza Chaves, realizados no mesmo ano de 1872, e o de seu irmão João Maria, feito em

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1887, não apresentaram mudanças significativas. Este caso demonstrou a transferência de imóveis, por herança.

Charqueada São João

Provavelmente, denominaram a charqueada de São João em homenagem a João Maria Chaves. O estabelecimento passou ao genro de João Maria, Jacinto Antônio Lopes Filho, casado com Maria Salomé Chaves. Esse também foi proprietário de outra fábrica, na mesma margem direita do Pelotas, no lugar conhecido como Atoladouro, e que tinha sido de Cipriano Rodrigues Barcellos. No início do século, a propriedade pertenceu a João Tamboridengui e, hoje, a casa é a residência de uma filha de charqueador, Nóris Moreira Mazza. No espaço que serviu à produção, executa-se um loteamento. Antônio José Gonçalves Chaves, o filho, era casado com sua sobrinha Marcolina Barcellos Chaves, filha de Joaquim Antônio Barcellos e de Marcolina Amália Chaves. João Maria Chaves desposou Maria Luíza Chaves, filha de seu confinante Boaventura.

A área e as benfeitorias da fábrica seguiam a mesma programação existente nas propriedades vizinhas. Resumiam-se no seguinte: “Um estabelecimento de charqueada na Costa do arroio Pelotas, com terrenos ao Logradouro Público, casa de moradia, galpão, olaria, casa na chácara e outra casa pequena em um potreiro e mais benfeitorias, carretas, carroças, e mais utensílios.” [INVENTÁRIO de Maria Luíza Chaves. Pelotas, nº 770. M. 46. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872] [Grifo nosso] [FIG. 29]

As Impressões de Saint-Hilaire

De seis a vinte de setembro de 1820, Saint-Hilaire, o viajante naturalista, foi hóspede de Antônio José Gonçalves Chaves, em sua charqueada. O francês definiu seu anfitrião com as seguintes palavras: “O senhor Chaves é um homem culto, sabendo o latim, o francês, com leituras de história natural, conversando muito bem. Pertence à classe dos charqueadores ou fabricantes de carne seca.” [SAINT-HILAIRE, 1974: 67]

Sobre o tratamento dos cativos na charqueada, explicou:

“Nas charqueadas os negros são tratados com rudez. O senhor Chaves, tido como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos com exagerada severidade, no que é imitado por sua mulher; os escravos parecem tremer diante de seus donos. Há sempre na sala um pequeno negro de dez a doze anos, cuja função é ir chamar outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança [...]. Afirmei que nesta capitania os negros são tratados com bondade [...].

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Referia-me aos escravos da estâncias que são sempre em pequeno número; nas charqueadas a coisa muda de figura porque sendo os negros em grande número e cheios de vícios, trazidos da capital, torna-se necessário tratá-los com mais energia.” [Id., Ib.: 73]

Disse ainda ter ficado hospedado num quarto mal iluminado, que dava para uma sala de refeições, e que se localizava no canto norte/leste. Sobre a casa, disse ser de um só pavimento, grande, coberta de telhas e um pouco elevada do solo. Situava-se junto ao arroio, o que favorecia a proximidade de iates. O espaço da produção foi pouco descrito por Saint-Hilaire. Destacou os varais existentes num belo gramado, diante da residência, e mencionou que, ao lado desses secadores, existia o edifício onde se salgava a carne e onde construíram um reservatório, denominado tanque. O pomar foi o ponto alto dos elogios do cientista:

“Para além do secadouro tem o senhor Chaves um pomar circundado de vales e de mimosas espinhosas atualmente destituídas de folhagens. É o maior pomar que já vi no Brasil, se exceptuar algumas quintas dos arredores de São Paulo. Compõe-se de algumas aléias, oblíquas, de pessegueiros entremeados de laranjeiras. Essas aléias terminam em um centro comum. Entre elas estão canteiros de hortaliças tais como - couves, favas, alface, ervilhas. Vi também neste pomar: macieiras, pereiras, ameixeiras, cerejeiras e parreiras bem desenvolvidas. O senhor Chaves lamenta sejam todas as espécies frutíferas, introduzidas no País, de qualidade inferior. O pomar do senhor Chaves é novo: admirei pessegueiros de menos de três anos e laranjeiras de quatro anos com 12 a 15 pés [3,66 a 4,57m] de altura.” [Id, Ib.: 68]

A descrição do pomar levou à percepção de que este espaço teve a sua importância, no complexo saladeiril. Estar classificado como um dos maiores do Brasil, pelo reconhecido naturalista, demonstra a excepcionalidade do empreendimento analisado.

Constatamos que os pomares, quase que invariavelmente, integravam as benfeitorias das fábricas de salgar carnes, e que portanto, estavam incluídos nos programas desses estabelecimentos. A charqueada pelotense de Chaves foi semelhante às demais. Paulatinamente, a descrição das fábricas de salga permitiu ir consolidando a tipologia de distribuição físico/espacial, bem como os tipos de solução encontrados nas diversas construções destinadas ao fabrico do charque e à residência dos senhores.

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Capítulo 17

AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS

Na primeira parte do Areal, localizaram-se duas charqueadas. Ambas pertenceram à família Rodrigues Barcellos. Vizinha à fábrica dos Chaves, ficava a de Inácio Rodrigues Barcellos; a outra pertenceu a Cipriano Rodrigues Barcellos. Inácio nasceu em Viamão, no ano de 1771, filho de Antônio Rodrigues Barcellos e de Rosa Perpétua de Lima. Inácio casou com Emerenciana Manuela Teixeira, de Rio Grande, filha de Micaela Emerenciana Lamas e do ajudante da Colônia do Sacramento, Joaquim Manuel Teixeira. Inácio passou o empreendimento a três filhos: Eleutério; Boaventura e Luís Teixeira Barcellos.

Em 1803, batizaram Eleutério Rodrigues Barcellos, na estância de São José do Piratini; vinte e seis anos depois, ele casou com sua prima-irmã, Rita Teixeira Barcellos, nascida no ano de 1806, em Rio Grande, filha de Albino Teixeira Carneiro e Joana Maria Lamas. Em 1808, Luís Teixeira Barcellos nasceu, em Amparo do Piratini; em 1837, casou com Dorotéia Clara da Fontoura, filha de Antônio Carneiro da Fontoura e de Ana Clara Joaquina da Silva. Luíza da Fontoura Barcellos, filha de Luís e Dorotéia, contraiu matrimônio com seu primo Inácio Teixeira Barcellos, filho de Eleutério e de sua prima Rita. O outro filho de Inácio Rodrigues Barcellos, Boaventura Teixeira Barcellos, casou com Floristela Salgado Barcellos.

Durante a segunda metade do século passado, a charqueada não sofreu melhorias. Nos inventários realizados, de Inácio Rodrigues Barcellos, em 1863, contaram-se 30 escravos; de Luís Teixeira Barcellos, em 1871, 23 cativos; em 1880, no de Rita Teixeira Barcellos, 28 trabalhadores servis, e, finalmente, em 1886, no de Eleutério, havia nove com contrato de trabalho obrigatório, variando entre quatro, cinco, seis e sete anos. O plantel de escravos manteve-se sem variações, até a década de oitenta. Em 1884, a emancipação da população servil, em Pelotas, modificou essa situação.

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Os Terrenos da Fábrica

Ao todo, somavam sete áreas contíguas, e uma na serra dos Tapes, no lugar denominado Três Serros, onde existia uma casa de moradia, construída de material. As propriedades contínuas eram as que seguem: a da charqueada, que se situava na margem direita do arroio Pelotas, dividia com o estabelecimento do dr. Antônio José Gonçalves Chaves e irmãos e a fábrica de Boaventura Teixeira Barcellos e Companhia; um cercado, que limitava com o dr. Chaves e irmão; o potreiro pequeno; o potreiro pequeno; um terreno no Areal, com frente à estrada, dividindo-se com Cipriano e dando fundos à mesma charqueada, com quarenta e nove mil e tantos metros de área; um terreno, que dividia com o outro canto da chácara do mesmo Cipriano e a estrada, com espaço suficiente para o trânsito público; uma chácara, com arvoredo de espinho, limitando com Cipriano, a estrada do Areal e terrenos de Boaventura Teixeira; um potreiro grande, com frente à estrada do Passo Fundo e fundos ao Logradouro Público, dividindo com Cipriano e com os Chaves. [APRGS, INVENTÁRIO de Inácio Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 55. M. 36. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1863]

Em 1874, Dorotéia da Fontoura Barcellos, viúva de Luís Teixeira Barcellos, em seu nome e de seus cunhados, solicitou medição judicial dessas terras. Mediram 10,3ha. O vizinho, João Maria Chaves, foi notificado. [APRGS. MEDIÇÃO. Dorotéia da Fontoura Barcellos. Pelotas, nº 642. M. 16. E. 33, 2º Cartório Civil, 1874] Observaram-se conflitos com os vizinhos, e do pai com os filhos. No tempo de Inácio, a charqueada tinha duas casas de moradia, uma, onde ele vivia, com cozinha, despensa e pátio de tijolos, e outra, que ficava na ponta do galpão, com quatro quartos, sala, pátio e cozinha, coberta de telhas e com paredes de tijolos. A senzala, com cobertura de capim, localizava-se junto à graxeira dos Chaves.

Quando do levantamento dos bens de Luís, apareceram indicadas três casas, que serviam de residência aos respectivos filhos, e o que lhe cabia nesses imóveis: “a casa que reside Eleutério Teixeira Barcellos; a metade da casa que reside Boaventura Teixeira Barcellos e a casa que reside a inventariante [Dorotéia da Fontoura Barcellos]” [Luís Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 777. M. 46. E. 25, 1º Cartório de Órfãos Provedoria, 1871]

As instalações permaneceram quase as mesmas, durante o período em que pertenceu a Inácio e seus filhos; os prédios, mantiveram-se em mau estado de conservação. Entre os anos de 1863, quando deixou de pertencer ao pai, Inácio, até 1886, quando morreu o último filho, Eleutério, os inventariantes foram anotando a deteriorização que a fábrica vinha sofrendo. O programa de necessidades do saladeiro consistia em um armazém para o sal; duas casas, uma de tafona e outra, para guardar carretas; duas barracas, uma de salgar, contígua a uma de couros; graxeira; cancha; brete e contrabrete; mangueira de matança. Os utensílios da charqueada, arrolados em 1880, quando do levantamento dos bens de Rita, consistiram em uma balança decimal; uma outra, americana; 20 tábuas velhas; 18 carrinhos de mão; 1.000 forquilhas de varal e 300 varas. [INVENTÁRIO de Rita Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 937. M. 54. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1880]

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AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 139

Areal. Coqueiros. Areal. Costa. Atoladouro. Boca do Arroio [FIG. 29]

Do estabelecimento de Cipriano, na margem direita do arroio Pelotas, até o Passo dos Negros, no canal São Gonçalo, estendiam-se as terras de Luís Pereira da Silva, sogro de Cipriano Rodrigues Barcellos. Nesta área Cipriano possuiu dois estabelecimentos. O terreno vizinho à fábrica de Inácio, o teve por compra; o outro terreno, localizado no Atoladouro, recebeu como herança dos pais de sua mulher, Rita Pereira da Silva. As terras de Luís Pereira da Silva começavam exatamente no limite da propriedade de Inácio Rodrigues Barcellos e iam até o Passo dos Negros, no canal São Gonçalo.

Situavam-se na boca do arroio, na margem norte do canal e leste do arroio. Nessa área, foi possível constatar, a partir do Passo, as charqueadas pertencentes a Manuel Soares da Silva; João Jacinto Mendonça, com dois estabelecimentos contíguos; Antônio José da Silva Maia; João Antônio Lopes; Cipriano Rodrigues Barcellos; José Gonçalves Lopes; Wenceslau José Gomes; Domingos José de Almeida; Bernardino Rodrigues Barcellos, com dois saladeiros vizinhos, e outro, de Cipriano Rodrigues Barcellos. Essas terras resultaram das compras de quatro datas, das chamadas “sobras” de terras da sesmaria do Monte Bonito, ou seja, da segunda divisão de terras. [FIG. 30]

Na Boca do Arroio Pelotas com o Canal São Gonçalo

No canal São Gonçalo, três padres fizeram parte da relação de donatários das datas para casais, na freguesia de Nossa Senhora da Conceição. Foram eles: Antônio Pereira; doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio Grande, e Anselmo de Souza. Antônio e Pedro eram irmãos de Ana Josefa, esposa do alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça, dono da Estância de Santana, localizada nas nascentes do arroio São Tomé. O Padre-doutor possuía, ainda, terras vizinhas às de sua irmã. O outro religioso da família Pereira, primeiro vigário de Pelotas, filho de Ana Josefa, chamava-se Felício. Esse último padre, junto com Antônio Francisco dos Anjos, implantou o primeiro loteamento urbano de Pelotas.

Os terrenos situados na boca do arroio Pelotas tinham 660m de frente para o São Gonçalo e mais ou menos 4.136m de fundos, sendo retangulares. O registro de terras do padre Anselmo de Souza diz o seguinte:

“Terra ao pé do rincão Bravo, que pelo sul parte com o proprietário [desta data] Antônio Mendes, pelo norte com o terreno do padre João de Almeida, fazendo fundos para o sangradouro da Mirim. Esta terra foi concedida a Antônio Mendes Borges, o qual trocou a dita terra com o sobredito Anselmo, por outra terra que o dito Anselmo possuía, a qual é ao pé da Roça Velha que parte do sul com o tenente Fernando Gonçalves, pelo norte com Antônio Freitas e fundos para o dito sangradouro da Mirim.” [AHRGS, RTRS, M.45, L.291]

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Figura 30 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo, datas compradas pelo casal Luís

Pereira da Silva e Maria da Conceição.

As Compras de Luís Pereira da Silva e Maria da Conceição

As transações comerciais chegavam a iniciar no próprio processo de doação. As negociações dessas terras puderam ser observadas nas compras efetuadas por Luís Pereira da Silva e sua mulher Eugênia da Conceição:

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AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 141

“6 de março de 1786. O padre doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita vendeu a Luís Pereira da Silva uma data de terras de 660m de frente e 4.136m de fundo para o sangradouro da Mirim, a qual a houve por concessão do governador do continente em 4 de fevereiro de 1781.” [BPP, RPTMP, L. 93: 104]

A partir dessa data, o casal Pereira da Silva começou a comprar as terras no entorno da primeira:

“10 de junho de 1786. O padre João de Almeida Pereira vendeu a Luis Pereira da Silva 1.650m de frente e fundos até o sangradouro da Mirim. A qual houve por troca a João Francisco da Costa, a quem foi concedida pelo mesmo governador uma data de 660m de frente ao sangradouro da Mirim e 4.136m de fundo, em 31 de janeiro de 1781.” [BPP, RPTMP, L. 93: 104]

Outro terreno foi comprado. A aquisição contemplou o Passo dos Negros, lugar de comércio, cobrança de impostos, etc., localizado estrategicamente no encontro do canal São Gonçalo com o arroio Pelotas. A data de terras que foi doada, em 5 de fevereiro de 1781, a Severino Antônio, foi transpassada a Francisco Pereira e Souza e a sua mulher Joana Leite. Em 20 de julho de 1788, Luís Pereira da Silva comprou-a. Tinha 660m de frente para o canal São Gonçalo e 4.136m de fundos, até encontrar a estância do alferes Inácio Antônio da Silveira; limitava-se a oeste com Antônio José da Silva e a leste com suas próprias terras. [BPP, RPTMP, L. 93: 104]

“21 de fevereiro de 1791. José Gonçalves e sua mulher Maria da Encarnação venderam a Luís Pereira da Silva uma data de terras de 4.136m de fundo e 660m de frente, confinando pelo leste com terras do comprador, pelo oeste com Antônio José da Silva com frente à estância do alferes Inácio Antônio da Silveira e fundos para o sangradouro da Mirim. O qual houve por compra que fez em 15 de novembro de 1788 a João Bicudo e sua mulher. Estes a tinham comprado em 14 de janeiro de 1786 de Antônio José da Silva e sua mulher Quitéria Maria. Com as confrontações seguintes: em o arroio Pelotas e Passo dos Negros, de um lado com Francisco Pereira do outro com o vendedor e do outro com Inácio Antônio.” [BPP, RPTMP, L. 93: 104]

A Sucessão na Boca do Arroio Pelotas

As datas compradas por Luís Pereira da Silva localizavam-se exatamente na boca do arroio. [FIG. 31] Foram herdeiros:

“a viúva [Eugênia da Conceição], 520,6ha; Bernardo, Matias, Luís, Rita [casada com Cipriano Rodrigues Barcellos], Brás, Elias, José Pereira, todos com 104,6ha e Manuel 104,5ha. Com o falecimento da mãe tocou a Genoveva 96,8ha; Rita, 127,7ha; Brás, 29,0ha; Elias, 24,2ha; José Pereira, 95,2ha.” [BPP, RPTMP, 92: 77] [FIG. 32]

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Figura 31 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Campo do segundo inventário.

Base principal no RPTMP, do museu da BPP.

A sucessão não foi fácil. No Registro de Prédios e Terrenos de Pelotas, foram encontradas duas solicitações de revisão das medições. A primeira, efetuada em janeiro de 1829, foi solicitada por Cipriano Rodrigues Barcellos, por “cabeça de sua mulher”, Rita Pereira da Silva, e a outra, por José Pereira da Silva Brites, realizando-se em julho de 1832. [BPP, RPTMP, 92: 37 e 77; 93: 26] As terras do casal Pereira da Silva resultaram, ao longo dos anos, em pelo menos 11 charqueadas. Dificilmente seria possível fixar o número exato de estabelecimentos. Nem todos foram contemporâneos. Houve a associação de determinadas instalações, etc. [FIG. 33]

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Figura 32 – Mapa da boca do arroio Pelotas com o canal São Gonçalo. Herdeiros de Luís Pereira da Silva.

Base principal no RPTMP, do museu da BPP.

Cipriano Rodrigues Barcellos

Em 5 de julho de 1845, Cipriano Rodrigues Barcellos comprou um estabelecimento de charqueada do padre José Joaquim da Silva Monteiro, que, em 1831, o tinha adquirido dos herdeiros do padre José Rodrigues de Assumpção. “[...] que por um lado se divide com terras pertencentes a Bernardino Rodrigues Barcellos, pelo outro com terras que pertencem a Inácio Rodrigues Barcellos, pela frente com o arroio

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 144

Pelotas e pelos fundos com as terras que sobraram da fazenda do finado Inácio Antônio.” [BPP, RPTMP, 92: 75]

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Figura 33 – Mapa de divisão das terras de Genoveva Pereira da Silva. Base principal no RPTMP, do

museu da BPP.

Em 1870, quando do inventário de Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos, herdeiro da charqueada, filho de Cipriano Rodrigues Barcellos e de Rita Pereira da Silva, havia 26 escravos e o estabelecimento saladeiril encontrava-se hipotecado a outro charqueador, Domingos Soares Barbosa. A hipoteca incluía potreiro, chácara, olaria e charqueada, descritos dessa forma:

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AREAL. INÁCIO RODRIGUES BARCELLOS 145

“Um estabelecimento de charqueada com todas as benfeitorias sito na margem do arroio de Pelotas, dividindo-se pelo leste, com o mesmo arroio, pelo norte, com terrenos que foram do falecido Inácio Rodrigues Barcellos, pelo oeste com a estrada do Areal, e, pelo sul, com terrenos que foram do falecido Bernardino Rodrigues Barcellos, por quarenta e cinco contos de réis..................................................................................................45.000#000 Uma chácara com frente à estrada do Areal, compreendendo casa de moradias, mais benfeitorias e pomar, fazendo fundos à estrada do Passo Fundo, por doze contos de réis ......................................................12.000#000 Um estabelecimento de olaria com frente à estrada do Areal e fundos à estrada do Passo Fundo, por quatorze contos de réis ...................14.000#000 Um podreiro, no fundo da chácara, dividindo-se pela frente com a estrada do Passo Fundo, e, pelos, fundos, com o Logradouro Público por cinco contos de réis....................................................................................5.000#000 [INVENTÁRIO de Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 02. M. 01, E. 28, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870.] [grifo nosso]

Mais uma vez, a disposição dos terrenos e do programa da charqueada de Cipriano Joaquim explicitou a tipologia de distribuição espacial da charqueada. O valor alcançado mostrou que tanto a chácara, como a olaria, eram valorizadas. A olaria representava quase um terço do preço do estabelecimento de charqueada.

Areal. Bernardino Rodrigues Barcellos

Bernardino, nascido em 31 de março de 1776, em Viamão, casou com Maria Francisca da Conceição. Quando, em 1857, foi repartida a fábrica de Bernardino, dos 38 escravos que possuía, só 11 permaneciam com ele; os restantes estavam com os herdeiros. Muitos dos prédios encontravam-se em mau estado de conservação. Em 1829, a propriedade foi medida judicialmente. Dividia, ao norte, com Cipriano Rodrigues Barcellos; ao sudoeste, com seu genro Domingos José de Almeida; a sudeste, com o arroio Pelotas, e, a noroeste, com campos das sobras da fazenda do Monte Bonito. [APRGS, MEDIÇÃO de Bernardino Roiz Barcellos. Pelotas, nº 560. M. 13. E. 30, 1º Cartório Civil e Crime, 1829.]

Nesse terreno, existiam as seguintes construções: uma propriedade de casas de sobrado, com frente ao arroio Pelotas, em mau estado; uma casa térrea, que servia de vivenda para a viúva, com suas benfeitorias; um galpão de sobrado, com casa de moradia; um outro galpão, arruinado, com meia-água, onde era guardado sebo; uma casa destinada à graxeira; um galpão, que servia de barraca de couros; uma cancha, e mais benfeitorias, pertencentes ao estabelecimento de charqueada; um potreiro, que ficava nos fundos do terreno da charqueada e entre a estrada que dividia com terrenos de Almeida; uma porção de terreno cercado, com olaria, em mau estado; um outro terreno cercado, com casa de sotéia arruinada; um potreiro cercado, que se limitava, por um lado, com terrenos de Cipriano Barcellos, e, pelo outro, com o de Domingos José de Almeida; um outro terreno, que ficava dividindo com o terreno do potreiro e com terrenos dos Cipriano e de Almeida, com os do Logradouro Público. [INVENTÁRIO de

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 146

Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 430. M. 29. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857] [Grifo nosso]

Uma porção de terras de matos, que formavam duas datas na serra dos Tapes, também confinava com terras de Cipriano Joaquim Barcellos, com as do comendador Cipriano Rodrigues Barcellos e com as de Almeida. Nessa porção de terras, existia uma casa de pau-a-pique, coberta de palha. Na serra do Faxinal, distrito da Buena, o proprietário possuía mais uma data de matos e uma casa, com frente norte, na rua do Padeiro, hoje Cassiano do Nascimento. [INVENTÁRIO de Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 430. M. 29. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857.]

A tipologia de distribuição espacial da charqueada, nesse trecho da margem direita do arroio Pelotas, compunha-se de, no mínimo três áreas, entrecortadas por duas estradas. A charqueada ficava entre o curso das águas e um dos acessos. A chácara e a olaria situavam-se entre os dois caminhos, e o potreiro localizava-se na outra ponta, junto aos terrenos do Logradouro Público

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Capítulo 18

DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA

Domingos José de Almeida, ministro da Fazenda da República Rio-Grandense, nasceu no dia 9 de julho de 1797, na freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Serro Frio, arraial da Tijuca, atual Diamantina, Minas Gerais. Recebeu o mesmo nome do pai, que era de Braga, Portugal. Como ele, a mãe, Escolástica Maria de Abreu havia nascido em Minas Gerais. Em 1819, com 22 anos, veio para São Francisco de Paula, Pelotas, para comprar uma tropa de muares.

“[...] resolveu permanecer, iniciando suas atividades comerciais com o estabelecimento de uma loja de fazendas, na citada vila. Diversificou posteriormente ali seus empreendimentos, com olaria, fábrica de sabão e velas de sebo, navegação fluvial, criação de gado e uma charqueada, onde introduziu o novo processo de destilação de graxa a vapor. Junto ao estabelecimento saladeiril em franco progresso, às margens do arroio Pelotas, construiu um solar para residência de sua família, construído em 1824.” [NEVES, 1987: 16] [Grifo nosso]

O escritor João Simões Lopes Neto, que descreveu o processo que Almeida inventou, disse ter sido criticado e depois imitado. Citou as tinas de madeira, digeridores, nos quais se cozinhava a ossamenta pela ação do vapor d’água, produzido em um grande gerador, cilíndrico, que por tubos o comunicava para elas. [LOPES NETO, 1952: 114]

Com mais três sócios, os charqueadores Antônio José Gonçalves Chaves, José Vieira Vianna e Bernardino José Marques Canarim, que não era saladeirista, importaram da fábrica Stean Engine, de Nova York, um motor e caldeira, efetivando a construção da primeira barca a vapor na Província. Como já assinalamos, esta barca recebeu o nome de “Liberal” e iniciou as atividades de transporte de carga e de passageiros, entre São Francisco de Paula e Rio Grande, no dia 7 de outubro de 1832. Em 1836, em plena Revolução Farroupilha, a barca “Liberal” foi aprisionada pelas forças imperiais, serviu para o transporte das tropas e como navio de guerra das forças reais, inimigas dos revolucionários sulinos. [NEVES, 1987: 16]

De 1835 a 1845, a República Rio-Grandense enfrentou o império brasileiro, porque se sentia explorada economicamente pelo centro.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 148

“No tocante aos impostos, enquanto o charque sulino era onerado com altas taxas de importação sobre o sal, os pecuaristas eram obrigados a pagar altas taxas sobre a légua de terra. Por outro lado, o charque platino, concorrente do gaúcho, pagava baixo imposto nas alfândegas brasileiras. Por trás deste tratamento preferencial ao produto estrangeiro, que forçava a baixa do preço do artigo rio-grandense, manifestavam-se os interesses do centro e norte do país, que queriam comprar o alimento para seus escravos a baixo custo.” [PESAVENTO, 1980: 27]

Em duas oportunidades, em 1824 e 1849, Domingos José de Almeida esclareceu sobre suas atividades comerciais e industriais. Encaminhada ao Corregedor do Civil, na Corte, a primeira correspondência consistia numa justificativa de serviços prestados à Província. Além de ser fazendeiro, disse ser negociante estabelecido com comércio de grosso trato, tanto na terra, como no alto mar, por ter embarcações nas mais diferentes praças. No segundo expediente dirigido ao Ministério da Fazenda, solicitou isenção de divisas, referentes às matérias-primas de que necessitava para a manutenção da fábrica de velas, sebo e sabão de sua propriedade. [NEVES, 1987: 16]

Família. Negócios e Política

Dois dias antes de começar a primavera de 1824, ano em que acabou de construir o solar, contraiu matrimônio com sua vizinha, Bernardina Barcellos Lima, nascida em Rio Grande 18 anos antes. Tiveram 13 filhos. Uma das meninas, Abrilina Decimanona Caçapavana de Almeida, nascida em 19 de março de 1839, em Caçapava, teve como padrinho o líder da Revolução Farroupilha, Bento Gonçalves. Bernardina foi uma das mulheres que acompanhou a República das Carretas; faleceu em Pelotas, um ano depois da assinatura, em 28 de fevereiro de 1845, da “Paz de Ponche Verde”, que pôs fim à República do Piratini. No inventário de seu pai, Bernardino Rodrigues Barcellos, realizado em 1857, participaram os oito filhos que havia conseguido criar.

Junius Brutus Cassio de Almeida foi o filho que se ocupou das atividades saladeiris, no estabelecimento vizinho à propriedade de seu pai, sendo, também, fazendeiro em Uruguaiana. Casou com Maria Joaquina Lopes, filha do charqueador João Simões Lopes, visconde da Graça. Em 1843, durante a passagem do Ministério da Fazenda da República Rio-Grandense, por Alegrete, Domingos José de Almeida fundou a Capela de Santa Ana do Uruguai, atual cidade de Uruguaiana. Quando acabou a Revolução, Domingos de Almeida mudou seus negócios para Montevidéu.

Contudo, até o ano de 1864, permaneceu na Câmara de Vereadores de Pelotas. Em 1832, antes da Revolução, havia sido vereador, na mesma cidade. Em 1835, fora eleito para a Assembléia Provincial. Durante a República do Piratini trabalhou como ministro da Fazenda. Faleceu em 6 de maio de 1871. Não deixou testamento. O processo de divisão de seus bens foi terminado 90 anos depois.

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DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA 149

Os Terrenos da Charqueada

Em 1961, na charqueada, foram registradas três áreas: um lote de terras com a área de 258.635m², situado no lugar denominado Dunas, limitando, ao norte, com a rua das Traíras, ao sul, com o Corredor das Tropas, a leste, com a estrada do Passo dos Negros e a herança de Eva da Conceição, e, a oeste, com a estrada Domingos José de Almeida, com Cristóvão José dos Santos e Pedro Irume; um lote de terras com área superficial de 368.680m², localizado também no Dunas, limitando-se ao norte, com a rua das Traíras, a Intendência Municipal e Luís de Almeida, ao sul, com a estrada das Tropas, a leste, com José Folha, José Cardoso da Costa e a herança de Vidart, e, a oeste, com Fernando Braga e o Cel. Pedro Osório; um lote com área superficial de 80.905m², situado no lugar denominado Areal, limitando ao norte, com cel. Pedro Osório, ao sul, com a herança, a leste, com Luís Felipe de Almeida, e, a oeste, com Cel. Pedro Osório. [FP, INVENTÁRIO de Domingos José de Almeida. Pelotas, nº 279, 3º Vara, 1961] [FIG. 29 a 33]

As Compras de Domingos José de Almeida

Após o inventário de Luís Pereira da Silva, Domingos José de Almeida comprou, em 7 de julho de 1828, as terras do herdeiro Bernardo Pereira da Silva, conforme consta:

“[...] frente ao arroio Pelotas com os competentes fundos de 4.136m [...] divide com Bernardino Rodrigues Barcellos e minha irmã Genoveva Pereira da Silva. 4 de fevereiro de 1829. Genoveva Pereira da Silva fez venda a Domingos José de Almeida de um terreno com 66m de frente com todo o fundo que a pertencer. As quais foram dadas pelos herdeiros de seus irmãos Manuel Pereira da Silva, Elias Pereira da Silva e José Pereira da Silva Brites.” [BPP, RPTMP, 93: 28]

Segunda Parte da Costa

João Simões Lopes Neto arrolou três estabelecimentos, na margem direita da Costa, na sua última porção.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 150

“Na Costa. Wenceslau José Gomes que passou a Junius Brutus Cassio de Almeida [filho de Domingos José de Almeida] e deste, à Cia Pastoril, Industrial Sul do Brasil. Mais tarde foi de cel. Pedro Osório & Cia. Em 1905 foi era de João M. Moreira. Na Costa. O estabelecimento de Neves & Irmão, que passou a Domingos Soares Barbosa, e deste a Antenor S. Barbosa. Também foi do cel. Antero Cunha e de outros. Foi demolida no princípio deste século. Na Costa. O saladeiro de José Gonçalves Lopes, que passou a herdeiros.” [LOPES NETO, 1952: 114]

Domingos Soares Barbosa

Domingos Soares Barbosa era credor de Cipriano Joaquim Barcellos. Sua propriedade era cortada por duas estradas que a repartiam em três partes. Dividia, pelo sudeste, com o arroio Pelotas; pelo noroeste, com a Estrada de Cima, hoje avenida Domingos José de Almeida, que, desta cidade, seguia para a costa do Pelotas; pelo sudoeste, com terras que pertenceram à herança de Manuel Portugal Guimarães. E mais, um terreno lindeiro a este, com 110m de frente norte, pela mesma Estrada de Cima, e que pertencera à herança de Manuel Pinto de Morais. O levantamento dos bens de Barbosa apresentou um plantel de 83 escravos. Quatro cativos encontravam-se foragidos. Os outros desempenhavam as seguintes profissões: salgador, três; carneador, 28; marinheiro, três; cozinheiro, seis; chimango, 14; serrador, dois; tanoeiro, dois; campeiro, sete; engomador, dois; carpinteiro, três; graxeiro, três; mucama, duas, sendo uma forra; roceiro, um; pedreiro, um; lavadeiro, um; descarneador, quatro; sem profissão, um, que possuía sete anos. [INVENTÁRIO de Domingos Soares Barbosa. Pelotas, nº 943. M. 54. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1881]

O número de cativos de Domingos Soares Barbosa demonstrou o fôlego que mantinham os charqueadores pelotenses, ainda na década de oitenta, quando se aproximava a emancipação da população servil em Pelotas, e a própria, abolição da escravatura no Brasil. O espaço da charqueada, de Barbosa, repetia o que, sucessivamente, apresentavam as charqueadas do Monte Bonito. Consolidava-se continuadamente a tipologia de distribuição físico/espacial das fábricas pelotenses.

Atoladouro

No Atoladouro, encontrava-se a segunda charqueada de Cipriano Rodrigues Barcellos. Ele recebeu as terras de seus sogros, Luís Pereira da Silva e Eugênia da Conceição, como “cabeça de sua mulher”, Rita. Quando da morte de Luís, a viúva recebeu cinco datas na margem direita do Pelotas, [FIG. 31] determinando o campo do segundo inventário. Em 15 de janeiro de 1829, para separação dos quinhões, Cipriano solicitou a revisão dos autos da medição de exame. Nessa ocasião, definiram-se 91,3ha.

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DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA 151

A charqueada passou ao genro de Cipriano, Domingos Pinto de Figueiredo Mascarenhas. Depois, sucessivamente, pertenceu a Vicente José da Mota, José da Costa Bezerra, Jacinto Antônio Lopes e Manuel Rafael Viera da Cunha. Em 1907, passou a Alberto R. Rosa, que foi sócio do cel. Pedro Osório, na fundação da charqueada Tupanciretan. [MARQUES, 1987: 99]

Um dos donos da charqueada do Atoladouro, Jacinto Antônio Lopes, tivera onze filhos. O que recebeu o nome do pai era casado com Maria Salomé Chaves, filha de João Maria Chaves e neta de Antônio José Gonçalves Chaves. Por isso, Jacinto Antônio Lopes Filho foi herdeiro da charqueada São João, que ficava a poucos metros do estabelecimento de seu pai e que, primeiramente havia pertencido a Antônio José Gonçalves Chaves.

A charqueada do Atoladouro compreendia: casa de sobrado, para moradia; galpão; graxeira; todos os terrenos adjacentes, que confrontavam, a leste, com o arroio Pelotas; junto à estrada do Passo dos Negros, com Manuel Batista Teixeira; ao sul, com herdeiros de José da Silva Maia, e, ao norte, com João Gonçalves Lopes. [FIG. 32 e 33] Em 1885, um ano depois da emancipação dos escravos, Jacinto Antônio Lopes contava com o serviço obrigatório, por mais cinco anos, de 12 trabalhadores. O inventário constatou a locação de 31 ex-escravos. [INVENTÁRIO de Jacinto Antônio Lopes. Pelotas, nº 1028. M. 58. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1885]

Boca do Arroio. Manuel Soares da Silva

Na Boca do Arroio, o estabelecimento pertencia a Manuel Soares da Silva, que o passou a seu genro Antônio José da Silva Maia, e, este, a seu filho Bernardino Maia.

“Foi depois de Felix A. Gonçalves, que a deixou a Jacinto Guedes, que a vendeu à Cia. das Obras da Barra Geral, para instalação do serviço de embarque de pedras, destinadas às suas construções. A charqueada foi demolida.” [MARQUES, 1987: 99]

O tenente-coronel Manuel Soares da Silva, nascido no Estreito, em 1771, era filho do coronel Simão Soares da Silva, natural de Rio Grande, e da rio-grandina Joaquina Rosa do Nascimento. Eram seus avós paternos Páscoa [Maria] do Espírito Santo, da Colônia do Sacramento, e Manuel Soares de Braga, de Portugal; e seus avós maternos, o guarda-mor João Antunes Porciúncula e Josefa Maria Barbosa. Em 1798, o tenente-coronel casou com Clara Barbosa de Menezes, que havia sido batizada em Triunfo, no ano de 1778.

Era filha do tenente José de Sampaio e de Cristina Barbosa de Menezes. No ano de 1813, em Pelotas, Clara Barbosa de Menezes deu a luz a Bernardina Soares da Silva, que, aos 19 anos, casou com o português Antônio José da Silva Maia, nascido em 1802, na cidade do Porto, filho de Custódio Domingues e de Tereza Maria de Jesus. Bernardina e Antônio José tiveram 17 filhos. O décimo segundo, Cristóvão da Silva Maia, contraiu matrimônio com Ana Prudência Barcellos, filha de Ana Correia e do conhecido charqueador das redondezas, Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos. O tenente-coronel Manuel Soares da Silva e sua mulher, Clara Barbosa de Menezes, foram

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pais também de Clara, casada com Antônio de Castro Antiquera. [RHEINGANTZ, 1979: 331, 336 e 337]

Manuel Soares da Silva deixou poucos escravos, eram nove mulheres e quatro homens. No ano de 1850, quando realizaram o seu inventário, a charqueada não estava em atividade. As propriedades do tenente-coronel eram as seguintes: um terreno, abrangendo a propriedade de casas térreas, onde existia o estabelecimento de charqueada que pertenceu ao casal, de 506m de frente norte, pelo arroio de Pelotas, contados do lugar onde o arroio faz barra, e 777m de fundo sul, que correm pela margem do São Gonçalo, até encontrar um valo; uma propriedade de casas térreas com seis portas de frente, edificadas no terreno acima referido, com senzala e cozinha. [INVENTÁRIO de Manuel Soares da Silva. Pelotas, nº 318, M. 22. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1850]

Faziam parte, ainda, da fábrica: um terreno de 563m, frente norte, pelo arroio Pelotas; um terreno de 141m, a leste, pela margem do São Gonçalo, no lugar denominado Passo dos Negros, com fundos de 44m, até a estrada junto à propriedade que foi dada à herdeira Clara Antiqueira; o terreno litigiado com João Jacinto Mendonça, contendo 191m de fundos. Também possuía meia data de matos, situada na Serra dos Tapes, no lugar denominado Santo Antônio, com frente à picada que seguia para Canguçu, e com fundos aos terrenos do comendador Cipriano Rodrigues Barcellos. Seus bens imóveis na cidade, igualmente, limitavam com o comendador, constituindo-se em uma propriedade de casas térreas, com quatro portas de frente, edificadas em terrenos foreiros. [Id., Ib., s.p.]

Antônio José da Silva Maia

Antonio José da Silva Maia quando faleceu era proprietário de uma fábrica que ficava na Boca do Arroio. Ao longo de sua vida, tivera um outro estabelecimento charqueador, no São Gonçalo. Em 1884, ano da emancipação dos escravos em Pelotas, realizou-se o seu inventário. Na descrição do saladeiro, os avaliadores anotaram os serviços obrigatórios da população servil, escrevendo: “Um estabelecimento de charqueada, na margem do arroio Pelotas e rio [canal] São Gonçalo, com casa de moradia, potreiros e todos os escravos contratados, digo, e os serviços dos seus escravos [...].” [INVENTÁRIO de Antônio José da Silva Maia. Pelotas, nº 995. M. 57. E. 25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1884]

O plantel de Antônio José estava dividido: alforriados, cinco, todos com mais de 48 anos; 61, com prestação de serviços, desses duas eram do sexo feminino, e uma mulher, com cláusula de seis anos de trabalho obrigatório. A fortuna dos Maia repousava naqueles bens chamados de raiz e no dinheiro que emprestava a juros. Contaram 43 casas entre prédios térreos e sobrados; oito terrenos urbanos; duas chácaras; um terreno no Capão do Leão; outro, na estrada do Fragata; uma casa, na rua do Imperador, atual Felix da Cunha, onde estava montada uma fábrica de sabão e velas, e, para completar a listagem dos imóveis, um terreno na estrada das Três Vendas, onde existia um estabelecimento de olaria. Os bens móveis, ou semoventes, como eram

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DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA 153

denominados, compunha-se de um iate, de nome Conceição Feliz e ações de três companhias de seguros a Pelotense, a Confiança e a Fidelidade.

Antônio José da Silva Maia e a relação de seus bens representaram a situação econômica dos charqueadores, bem sucedidos, dos anos oitenta do século passado. Ao mesmo tempo, esses homens participavam da fábrica do charque, do comércio e de operações financeiras. Diversificavam suas atividades. Nas últimas décadas do século passado, parece ter aumentado o interesse nos negócios imobiliários urbanos e, certamente, diminuído as compras de escravos.

Margem Norte do São Gonçalo

Na margem norte do canal instalaram-se em torno de uma dúzia de charqueadas; as duas primeiras, a contar da Boca do Arroio Pelotas, pertenceram a João Jacinto de Mendonça, localizando-se em terras que foram de Luís Pereira da Silva. As charqueadas tiveram a seguinte sucessão:

“No Mendonça. Uma das charqueadas de João Jacinto Mendonça, que passou à viúva, dona Florinda, esta ao seu genro Manuel Moreira, e este ao conde Sebastião de Pinho. No começo do século pertencia aos filhos do Barão Alves da Conceição. No Mendonça. Outra charqueada de João Jacinto Mendonça, que coube a seu filho; foi vendida a Honório Luís da Silva; deste passou a Porfírio da Silva, e, depois, a Atalipa Borges. No início deste século era do Dr. Joaquim A. da Assumpção.” [MARQUES, 1987: 100] [FIG. 32 e 33]

Em 1795, o capitão João Jacinto de Mendonça nasceu na Ilha Terceira dos Açores, filho de André Mendonça e de Maria da Anunciada. No ano de 1816, casou com Florinda Luíza da Silva, nascida em Rio Grande 23 anos antes, filha do sargento-mor das ordenanças daquela cidade, José Tomás da Silva, e de Eulália Maria da Cunha, da Colônia do Sacramento. [RHEINGANTZ, 1979: 210.] O sargento-mor tinha uma charqueada, na mesma margem do São Gonçalo, em terras de Mariana Eufrásia da Silveira. [AHRGS, L. 41: 33.] João Jacinto e Florinda Luíza tiveram 14 filhos, que, por sua vez, armaram uma rede intrincada de casamentos com os filhos dos charqueadores do lugar.

O herdeiro mais velho do casal, que nasceu um ano depois do casamento e recebeu o nome do pai, foi proprietário da segunda charqueada, senador e avô de Florinda Luíza de Mendonça França, chamada de Francinha, que, em 1863, contraiu matrimônio com Antônio José de Azevedo Machado, filho do barão de Azevedo Machado, dono da charqueada da Palma, da margem esquerda do Pelotas. Aos 53 anos, o filho do nobre senhor contraiu segundas núpcias, com a prima de sua primeira mulher, Clara de Azevedo Mendonça, de 31 anos, conhecida pelo nome de Mendoncinha, filha de Alexandre Jacinto Mendonça e de Clara Maria de Azevedo e neta do comendador Heleodoro de Azevedo e Souza, que tinha uma fábrica de salgar carne, no São Gonçalo. [Id., Ib., 1979: 211 e 213]

Maria da Conceição Jacinto de Mendonça, a sexta filha de João Jacinto de Mendonça e de Florinda Luíza da Silva, contraiu matrimônio com o jaguarense Manuel

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Francisco Moreira; herdaram a charqueada mais próxima do arroio Pelotas. O décimo primeiro filho, Francisco de Paula Jacinto de Mendonça, desposou sua prima-irmã, Maria Antônia da Cunha; que como seu avô, tiveram 14 filhos. [Id., Ib., 1979: 211]

Entre as filhas, três contrataram casamento com herdeiros de fabricantes da carne salgada: Maria Francisca de Mendonça, casada, em 1880, com Joaquim Augusto de Assumpção, filho do barão do Jarau, dono da charqueada da Costa, à margem esquerda do arroio Pelotas, e proprietários, também, do segundo saladeiro de João Jacinto de Mendonça; Joana Jacinto de Mendonça, que contraiu segundas núpcias com o viúvo Miguel Rodrigues Barcellos, barão de Itapitocai, filho de Silvana Eulália de Azevedo e de Boaventura Rodrigues Barcellos, reconhecido fabricante de carne salgada, na margem direita do arroio Pelotas; Maria da Glória Jacinto de Mendonça, a mais jovem de toda a prole, que desposou seu primo irmão, Heliodoro de Azevedo e Souza Filho, cujo pai era dono do estabelecimento de salgar carnes, que ficava a poucos metros das fábricas de Jacinto de Mendonça.

Contrato de Casamento e Propriedades

E, assim, sucessivamente, os enlaces formaram uma malha intrincada, sobreposta, de propriedades e casamentos. Os matrimônios fortaleciam a classe dos charqueadores, acumulavam riquezas e mantinham as propriedades. Os estabelecimentos saladeiris, as datas de matos na Serra dos Tapes e os imóveis urbanos permaneceram nas mãos de determinadas famílias, senhores de escravos. Na sua maioria, os primeiros proprietários das terras foram militares, ou descenderam destes. Grande parte passou pela Colônia do Sacramento. Eram soldados da Coroa, das companhias de ordenanças, das forças locais. Alguns casaram suas filhas e sobrinhas com portugueses, que, segundo parece, vinham fazer a vida no Brasil. Essa segunda geração começou a receber título de nobreza; esses títulos eram atribuídos principalmente, aos que possuíam, além do estabelecimento charqueador, extensas sesmarias de terras. Aos simples fabricantes da carne salgada, restava a comenda, como no caso das duas primeiras gerações brasileiras da família Rodrigues Barcellos.

Na margem norte do canal São Gonçalo e da sesmaria do Monte Bonito, entre os arroios Pelotas e Santa Bárbara, instalaram-se perto de uma dúzia de fábricas de charque, o Passo dos Negros e a cidade. Entre a Boca do Arroio Pelotas e aquele Passo, situavam-se os estabelecimentos de Manuel Soares e de João Jacinto Mendonça. Bem aí, iniciava a Estrada das Tropas, atual avenida São Francisco de Paula. Do outro lado da Estrada das Tropas, ficava o saladeiro de Manuel Batista Teixeira. Do Passo dos Negros até a cidade, nas margens do arroio Santa Bárbara, fixaram-se no mínimo nove fábricas de salga.

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Capítulo 19

PASSO DOS NEGROS

O Passo dos Negros foi descrito por Alberto Coelho da Cunha da seguinte forma:

“As barreiras que o São Gonçalo, sob a denominação de sangradouro da Mirim, opusera às primeiras expedições de exploração, haviam já desde anos caído: ele fora seguido em todo o seu percurso, examinadas e perscrutadas as suas margens, e nelas descobertas e investigados os pontos de mais fácil vedação e que melhor se apresentassem a um serviço de canoas. Antes de atingir-se o local em que, sobre ele, se abre a boca do Pelotas, foi criado o passo conhecido por Passo dos Negros e que fora aberto e se tornara popular sob a denominação de Passo Rico. Nele se substituíra, desde logo, em favor da Coroa, o imposto de pedágio.[...] Descoberta que foi esta porta, que dava a entrada à região desconhecida que, com as datas da serra, se ia confundir e sumir para o interior da ainda mal devassada Capitania, junto ao passo se formou o primeiro arraial do distrito.” [CUNHA, 13/08/1928: s.p.] [FIG. 34]

O Lado Oriental do Passo dos Negros

As terras de Luís Pereira da Silva alcançavam até o Passo dos Negros. No espaço compreendido entre a Boca do Arroio Pelotas e o Passo dos Negros, na margem norte do canal São Gonçalo, instalaram-se as charqueadas de João Jacinto de Mendonça e Manuel Soares. Em 1820, um plano do terreno do Passo foi apresentado pelo major Manuel Soares. Era uma proposta de alinhamento de seis quarteirões. Ia até a divisa com o capitão João José Teixeira Guimarães. O texto que acompanhava a planta da povoação dizia o seguinte: “Plano do terreno pertencente ao sr. major Manuel Soares no ‘Passo Rico’, da divisa com o capitão João José Teixeira Guimarães, até onde na verdade lhe pertencer.” [BPP, RPTMP, 93: 147] [FIG. 35]

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Figura 34 – Cópia reduzida da planta do Passo dos Negros. Biblioteca Pública Pelotense, Museu,

RPTMP, L. 93, p.147.

O Passo dos Negros foi uma das alternativas de implantação da cidade de Pelotas. Em 1812, o primeiro loteamento urbano, em terras de Francisco Antônio dos Anjos, fora reconhecido pelo príncipe regente dom João. Segundo parece, o mau cheiro reinante, ocasionado pelos dejetos da produção saladeiril, a falta de segurança, decorrente da proximidade com grande número de escravos, e a força política, resultado da união do padre Felício com o charqueador Antônio Francisco dos Anjos, não permitiram a implantação da cidade, no encontro do arroio com o canal.

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PASSO DOS NEGROS 157

Figura 35 – Cópia parcial e ampliada do mapa do Porto de S. Pedro do Sul e de parte do Rio São

Gonçalo, 1854. Biblioteca Nacional. Seção de Iconografia, ARC - 8-1-39.

O Lado Ocidental do Passo dos Negros

O terreno do capitão João José Guimarães deu origem à charqueada de Manuel Batista Teixeira, fronteira ao Passo dos Negros, e a um estabelecimento contíguo a esse, que pertenceu ao comendador Xavier Faria. Na margem norte do canal São Gonçalo, a contar do Passo dos Negros, em direção oeste, até alcançar as margens do arroio Santa Bárbara, fixaram-se em torno de dez charqueadas. Foram fundadores os seguintes proprietários: João José Teixeira Guimarães, que deu origem aos saladeiros de Manuel Batista Teixeira e do comendador Xavier de Faria; João Alves de Bittencourt; José Gonçalves da Silveira Calheca; Manuel José Valadares; Manuel Francisco Moreira; Heliodoro de Azevedo e Souza; Domingues Rodrigues e José Tomás da Silva. [FIG. 34]

Essa listagem difere da apresentada por João Simões Lopes Neto. O pioneirismo na fabricação do charque, por parte do capitão João José Teixeira Guimarães, pôde ser constatado quando das vendas da propriedade, assim como, nos negócios de terras de Mariana Eufrásia da Silveira, apareceram os empreendimentos saladeiris de Domingos Rodrigues e José Tomás da Silva e Companhia.

Em 22 de janeiro de 1835, os irmãos Tito José Teixeira de Araújo Guimarães, Perpétua Teixeira Guimarães e Rosalia Clementina de Araújo, herdeiros de Antônia

NORTE

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 158

Margarida, viúva do capitão João José Guimarães, venderam a Manuel Batista Teixeira um estabelecimento, sito no Passo dos Negros, com suas benfeitorias.

O terreno dividia, ao norte, com Damácio Vergara e a povoação do Passo dos Negros. Limitava, pelo sul, com terrenos da viúva de José Inácio Xavier; pelo leste, com o São Gonçalo e, pelo oeste, com Manuel Pinto de Morais. No registro, textualmente, eram essas as dimensões: “[...] tendo a linha 171,6m até o alinhamento da rua denominada Campo e seguindo o alinhamento [...] rumo nordeste [...] tem por este rumo 204,6m [...].” [BPP, RPTMP, 93: 124 e 146]

Quase vinte anos antes, em 20 de agosto de 1815, o capitão João José Teixeira Guimarães e sua mulher, Antônia Margarida Teixeira de Araújo, tinham vendido parte da propriedade a João Nunes Batista e a Joaquina Maria da Silva, donos da estância, charqueada e olaria do Pavão. Em 12 de março de 1821, o comendador Francisco Xavier comprou as terras de João e Joaquina, e, na véspera do Natal do ano de 1833, o comendador, sua mulher, sua mãe e irmãos maiores arrendaram a Tomás José de Campos o saladeiro, com terrenos, casas de moradia, armazéns e demais utensílios. No contrato, dizia:

“[...] sita na margem do São Gonçalo, entre os estabelecimentos dos herdeiros do falecido Barbosa Lopes de Jesus, cujos terrenos pertencem à própria charqueada fazendo fundos até as chácaras de Manuel Pinto de Morais, João dos Martírio Torres e das irmãs dele outorgante arrendador de baixo das seguintes condições: um conto e seiscentos mil réis a mais pago no fim de cada ano; seis anos de contrato; [...]; que o potreiro pequeno, que divide com os terrenos do falecido Barbosa Lopes de Jesus e um quarto que serve de cocheira fica desanexado deste arrendamento [...].” [APRGS, NOTAS e TRANSMISSÕES, L.1: 165]

Em 1842, o comendador Francisco Xavier, acompanhado da esposa, Gertudes Xavier Faria, da mãe, Genoveva Maria de Jesus, e das irmãs, Maria Leopoldina Xavier, Bernardina Inácia Xavier e Dorotéia Leopoldina, vendeu a Tomás José de Campos o estabelecimento. A sudeste, limitava com o São Gonçalo; a nordeste, dividia com João Martírio ou Manuel Batista Teixeira e, a noroeste, fazia divisa com Francisco Xavier Faria e os herdeiros de Manuel Pinto de Morais. O terreno de Tomás José de Campos possuía uma área de 81,7ha e tinha de largura um total de 572m; destes, 242m foram comprados de Francisco Xavier Faria de João Nunes Batista; 300m, herdou de José Inácio Xavier. [BBP, RPTMP, 93: 162]

Manuel Batista Teixeira

Na margem esquerda do São Gonçalo, a charqueada contava com casa de moradia, galpão, dois armazéns, graxeira, com seus utensílios, e senzala, com uma quinta ao lado. [INVENTÁRIO de Manuel Batista Teixeira. Pelotas, nº 579. M. 37. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1864] Na listagem dos bens de Manuel, apareceu uma alternativa de implantação da senzala, junto ao pomar. Dois terrenos compunham a fábrica. A casa de moradia, os prédios destinados à produção, a senzala e a quinta compartilhavam do mesmo terreno.

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PASSO DOS NEGROS 159

Essa área dividia, pelo norte, com terras dos herdeiros do finado Antônio de Morais Figueredo Vizeu; pelo sul, com as do coronel Tomás José de Campos; pelo leste, com o São Gonçalo e, a oeste, com a estrada que seguia para as outras charqueadas. A outra área era o potreiro em frente ao mesmo estabelecimento, que se limitava, ao norte, com a Estrada das Tropas, ao sul, com a Estrada da Costa, e, a oeste, com a Estrada de Baixo, que segue para a Costa do arroio Pelotas. Na serra da Buena, possuía um terreno, com 1.650m de frente, e outros tantos de fundos, que, a leste, era fronteiro à estrada de Canguçu; e, na cidade, tinha uma morada de casas. Deixou dois iates, poucos animais, muitas dívidas e 31 escravos. Em 1871, quando da relação dos bens de Carlota Batista Teixeira, o plantel de cativos estava reduzido a 21 trabalhadores servis. [INVENTÁRIO de Carlota Batista Teixeira. Pelotas, nº 733. M. 44. E. 25. Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871]

Virgínia Souza Campos

A segunda charqueada, a contar do Passo dos Negros, ou a quarta, a partir do arroio Pelotas, pertenceu ao comendador Xavier Faria. O comendador passou a alugá-la e, depois, acabou vendendo-a ao coronel Tomás José de Campos. Mais tarde, a fábrica coube, sucessivamente, a Joaquim Rodrigues da Silva e a Antônio José da Silva Maia, o mesmo que possuiu a charqueada da Boca do Arroio, que, primeiramente, era de Manuel Soares da Silva. A relação dos bens de Virgínia, mulher de Tomás José de Campos, deu conta também de uma fábrica de cola no estabelecimento, que foi descrito com as seguintes palavras:

“Um terreno situado sobre a margem do rio [canal] São Gonçalo, com 572m [o que confere com o processo de medição da propriedade] de frente ao mesmo rio, e fundos, até encontrar a estrada que desta cidade segue para a Costa, junto a lomba em que estão edificadas as propriedades e estabelecimentos de charqueada que abaixo segue: uma propriedade de casas de sobrado com cozinha e cocheira; uma outra propriedade de casas térreas, com paredes de tijolos; os e coberta de telhas. Estabelecimento de charqueada: um galpão que serve de salgar couros, e outros utensílios, onde está colocada a graxeira a vapor; um outro galpão que serve de depósito, onde está colocada a fábrica de fazer cola; uma máquina de apurar graxa por vapor contendo um cilindro, duas tinas, e todos os utensílios com que está a trabalhar; os utensílios completos de uma fábrica de cola; uma estrada de ferro que nasce da margem e acaba junto aos galpões, que serve para conduzir os gêneros ao embarque e a vivenda.” [INVENTÁRIO de Virgínia Souza Campos. Pelotas, nº 331. M. 23. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1851]

Completavam o rol dos imóveis mais um campo, situado na margem direita do São Gonçalo, que foi parte da fazenda denominada O Rincão Bravo, com duas casas pequenas cobertas de capim; uma data de matos situada na serra dos Tapes, no lugar chamado arroio Pimenta, e um terreno no Monte Bonito.

Elaborada em 1851, a relação dos bens de Virgínia reforçou a presença da máquina a vapor. Cada vez mais, a enumeração dos inventários comprova a utilização

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 160

desta tecnologia, pelo menos, desde o final da primeira metade do século passado. A presença da fábrica de fazer cola representou uma sofisticação dos subprodutos do gado, um aperfeiçoamento da técnica e da mão-de-obra. Porém, entre os 65 trabalhadores servis, nenhum tinha a profissão de graxeiro. O plantel distribuía-se entre as seguintes profissões: campeiros, três; carneadores, 15; salgadores, três; serventes, 19; cozinheiros, dois; marinheiros, 13; carpinteiros, dois; pedreiros, dois. Somavam-se a esses, seis cativos sem profissão.

Este último grupo era composto por quatro mulheres, uma criança e um cego. Certamente, era um conjunto de pessoas que ficava marginalizado nas tarefas que compunham o processo de produção do charque e de seus derivados.

A estrada de ferro garantia uma melhora nas condições de trabalho, possibilitando o embarque dos produtos. Essa facilidade deveria existir, para transportar os grandes pedaços de carne, da cancha, local onde os animais eram esfolados e esquartejados, para os galpões, lugar da desossa, retalhamento e salgação. Segundo parece, o número elevado, de marinheiros, em relação ao plantel dos outros charqueadores, justificava-se pela presença, nos bens da senhora Virgínia Campos, de uma escuna, de nome Primavera, de 41,1t, e um iate, já muito velho, denominado Dois Irmãos, de 20,6t.

Posteriormente, a charqueada pertenceu a Joaquim Rodrigues da Silva e a Antônio da Silva Maia. Em 1884, quando ocorreu a emancipação dos escravos em Pelotas, Maia teve seus bens inventariados. Esse estabelecimento não estava mais em suas mãos, tendo permanecido com a charqueada da Boca do arroio Pelotas, que herdara de seu sogro, Manuel Soares. Significativo foi o número de imóveis urbanos deixados por esse charqueador: 44 prédios, entre térreos e sobrados. Paralelamente, na contagem, os trabalhadores estavam assim distribuídos: alforriados, 5, todos com mais de 48 anos; 60, com prestação de quatro anos de serviço, sendo dois do sexo feminino, e mais uma mulher, com cláusula de seis anos. [INVENTÁRIO de Antônio José da Silva Maia. Pelotas, nº 995. M. 57. E. 25, Cartório de Órfãos e Provedoria. 1884]

Vizinha a essa fábrica, ficava a que pertenceu a João Alves de Bittencourt, barão de Serro Alegre e ao filho deste, barão de Santa Tecla, que se chamava Joaquim da Silva Tavares. Depois, vinha o estabelecimento de José Gonçalves da Silveira Calheca. Na parte interior dessas terras, quando propriedade de Francisco Antônio dos Anjos, foi realizado o primeiro loteamento da cidade de Pelotas.

Da Cidade ao Arroio Santa Bárbara

Na margem, entre a fábrica de Calheca e a margem esquerda do arroio Santa Bárbara, onde terminava a sesmaria do Monte Bonito, João Simões Lopes Neto arrolou mais três estabelecimentos. A esses acrescentamos mais dois, em terras de Mariana Eufrásia da Silveira. O autor listou as fábricas que seguem:

“Manuel Rodrigues Valadares, passou ao filho de igual nome; aos herdeiros deste; pertence a Intendência Municipal. Manuel Francisco Moreira, passou a Felisberto José Gonçalves Braga, deste ao visconde da Graça, deste ao genro Alfredo A. Braga.

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PASSO DOS NEGROS 161

Heliodoro de Azevedo e Souza; passou ao sindicato Moreira & Cia; é hoje área urbana loteada.” [LOPES NETO, s.d.: 155]

Junto à margem direita do arroio Santa Bárbara, anotou a charqueada de José Vieira Vianna, com estabelecimento de olaria e fábrica de sabão. Os saladeiros localizados no Sangradouro da Mirim, seguiam a mesma tipologia de distribuição espacial dos situados na margem direita do arroio Pelotas. Portanto, na sesmaria do Monte Bonito, configurou-se uma única tipologia, com toda a infra-estrutura de apoio que lhe era necessária.

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Capítulo 20

AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO

A propriedade de José Gonçalves da Silveira Calheca deu origem a uma parte da cidade e a uma charqueada. Iniciou com a venda de meia data de terras, que correspondia a 330m de frente por 4.136m de fundos. Como a data não tinha o fundo competente, ficou com 446,6m de frente. Esse foi o resultado da venda realizada em 14 de janeiro de 1790, entre José Antônio de Souza e sua mulher Quitéria Maria e o comprador Antônio José de Souza. Fazia fundo com o banhado do Arroio Santo André, Santa Bárbara, e frente com o sangradouro da Mirim, canal São Gonçalo. Em 16 de novembro de 1798, Miguel José Lara arrematou em praça este terreno. Em 4 de fevereiro de 1799, Miguel José Lara fez venda a José Gonçalves da Silveira Calheca. [BPP, RPTMP, 93: 144] [FIG. 36]

Pelo menos quatro transações de terras foram efetuadas na propriedade de Calheca e seu entorno. Em 3 de junho de 1828, Antônio Ferreira Vianna, casado com Senhorinha da Silveira Vianna, filha de Calheca, comprou de Serafim José Rodrigues de Araújo, que tinha herdado de seu pai, Antônio José Rodrigues de Araújo, um terreno com 55m de frente ao canal e com 1760m de fundos. Dividia ao sudeste com o comprador, pelo nordeste com a irmã Eulália do Nascimento. [BPP, RPTMP, 93: 122]

Em 12 de janeiro de 1843, Antônio Ferreira Vianna vendeu a Alexandre Viera da Cunha e José Inácio da Cunha um terreno de 184,8m de frente ao canal e fundos até a rua das Fontes, hoje, alm. Barroso, sendo 129,8m que herdou de seu sogro Calheca e 55m que comprou de Serafim Rodrigues de Araújo. “Em 10 de junho de 1844 Alexandre Viera da Cunha e sua mulher Maria Leopoldina da Silva fizeram venda a José Inácio da Cunha da metade de uma fábrica de charqueada com todos os edifícios mais terras próprias e utensílios.” [BPP, RPTMP, 93: 122]

Calheca, era natural do Estreito. Em primeiras núpcias, casou com Florência Maria do Pillar, também do Estreito. Depois, casou com Felícia Maria da Conceição. Quando de sua morte houve disputa com as herdeiras do matrimônio, respectivamente Maria de Santana da Silveira Calheca, casada com o português Manuel Rodrigues Valadares e Senhorinha da Silveira Calheca, esposa de outro lusitano, João Ferreira Vianna, nascido em São Martinho, termo de Valadares.

No inventário de Calheca, realizado em 1820, a propriedade onde estava localizada a charqueada tinha 475,2m de frente ao canal São Gonçalo. Dividia pelo leste, com o arroio; pelo sudeste e oeste com os herdeiros do capitão Inácio Antônio da Silveira, pelo noroeste, com o capitão Antônio Francisco dos Anjos, pelo nordeste, com

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 164

a viúva Bárbara Lopes de Jesus, cujo lado media 1.861m. No terreno estava construída uma morada de casas, de paredes de tijolo e coberta de telha com sua cozinha e um armazém de colher trigos. Com cobertura de capim, existia uma casa velha, com sua tafona e seus pertences; um galpão de charqueada; dois ranchos; dois galpões de olaria, com seu forno, nas margens do São Gonçalo. E, para completar a listagem das benfeitorias, um curral velho de madeira. Além da charqueada Calheca possuía três datas de matos, na estrada de Canguçu, quatro léguas de campo divididas em diferentes lugares. Ao todo, era senhor de 30 escravos. [APRGS, INVENTÁRIO de José Gonçalves da Silveira Calheca. Pelotas, nº 56. M. 5. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1820]

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AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO 165

com o estabelecimento da viúva e herdeiros do falecido Manuel José Rodrigues Valadares, por leste, com Maria Joaquina Rodrigues. Nessa época, trabalhavam na charqueada 109 escravos. Possuía uma porção de campo, no Estado Oriental, Departamento de Taquarenbó, que fazia parte da estância de Jaguari; cinco imóveis urbanos, em Pelotas; três terrenos rurais em Canguçu, um outro, no distrito da Buena e uma data de matos na frente da de Cipriano Rodrigues Barcellos. Antes de morrer, já tinha distribuído, entre seus herdeiros, dinheiro, escravos, terras. [APRGS, INVENTÁRIO de José Inácio da Cunha. Pelotas, nº 60. M. 38. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1865]

A Cidade

Parte da sede do atual município de Pelotas resultou de uma fração das terras de José Gonçalves da Silveira Calheca. Em 10 de outubro de 1806, José Aguiar Peixoto e sua mulher, Ana Leocárdia da Cunha, venderam um terreno, que tinham comprado de Calheca, a Antônio Francisco dos Anjos. Dividia ao sudoeste com terras que foram do falecido Francisco Pires Cazado, ao nordeste com João José Teixeira Guimarães, ao sudeste com um capão que servia de fundos à Orta e, ao noroeste, com a estrada que ia para o Monte Bonito, onde existia um banhado de inverno. Os vendedores reservaram para si o campo que ficava entre esse banhado e as divisas do falecido João Antônio Pereira Lemos. [BPP, RPTMP: 92: 9]

Chamaram a freguesia de São Francisco de Paula, em homenagem ao santo do dia da expulsão dos espanhóis, 2 de abril de 1766. A freguesia foi formalizada através de dois procedimentos: Resolução de Consulta da Mesa de Consciência e Ordens, de 31 de janeiro de 1812, e o alvará do príncipe regente dom João, de 7 de julho do mesmo ano. [MOREIRA, 1988: 53]

Três correntes de opiniões se levantaram sobre a localização da sede de São Francisco de Paula. Uma delas indicava o lugar hoje conhecido como Laranjal, nas terras de Isabel Francisca da Silveira [irmã de Mariana Eufrásia]: fora defendida por Antônio Soares de Paiva e Domingos de Castro Antiquera. A outra tendência estava representada pelos seguintes interessados: sargento-mor José Tomás da Silva, capitão Domingos Rodrigues, João Pereira Vianna e José Gonçalves da Silveira Calheca, auxiliado por seus genros Manuel Rodrigues Valadares e José Antônio Ferreira Vianna.

Estes davam preferência ao declive da lomba fronteira à várzea, que vai ao encontro do São Gonçalo. E Boaventura Rodrigues Barcellos apoiava o capitão-mor Antônio Francisco dos Anjos. Discutia-se sobre os locais menos inundáveis ou a possibilidade de implantação de um porto. O padre Felício Joaquim da Costa foi escolhido por seu tio, padre doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio Grande, para advogar, junto à Corte do Rio de Janeiro, as pretensões dos moradores da margem norte do São Gonçalo.

A localização da cidade era defendida conforme essas pessoas estivessem vinculadas à posse da terra. Interessava que a sede da cidade estivesse implantada dentro ou no entorno de suas propriedades ou concessões. Em fevereiro de 1813, o capitão-mor Antônio dos Anjos e o vigário Felício entraram num acordo e começaram

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 166

as construções da casa do vigário e da igreja no lugar onde hoje se localiza a catedral. Naquele mesmo ano, a igreja era inaugurada, marcando a povoação que ali iria se desenvolver. [CUNHA, 28/08/1928: s.p.]

Antônio Francisco dos Anjos era detentor de uma carta de don João, por graças de Deus, senhor do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, com o seguinte teor:

“Faço saber aos que esta previsão virem, que o capitão-mor Antônio Francisco dos Anjos, me apresentou, que, possuindo no distrito de Pelotas na capitania de São Pedro do Sul, um terreno de 578,6m de frente, deu de ele o necessário para a edificação da igreja da nova freguesia de São Francisco de Paula, átrio e casas do vigário, arrecadou e aforou em terno para se edificarem casas, algumas a razão de 320 réis a braça [2,20m] por ano a várias pessoas que para isto o rogaram e porque alguns de estes arrendatários nem querem reduzir o escrito naquele contrato, nem pagar-lhe o arrendamento ou foro, me pedia que, para evitar pleitos, lhe fizesse a graça de autorizar de pretérito e de futuro estes contratos, reduzindo-se eles o escrito e podendo sem disputa original receber suas pensões do ajuste e visto seu requerimento e informações que sobre ele mandei tomar pelo ouvidor da comarca com audiência com os suplicados e o que sobre tudo respondeu o desembargador procurador da minha real coroa e fazenda e não merecendo atenção alguma as [ilegível] dos suplicados, nem as imputações e recriminações que objetam contra o suplicante, sou servido conceder-lhe o que pede, para que possa aforar o sobredito terreno [...].” [BPP, RPTMP, 93: 9] [FIG. 37]

Antônio Francisco dos Anjos, padre Felício Pereira e o tio deste, padre-doutor Pedro Pereira de Mesquita, eram vizinhos, amigos e originários da Colônia do Sacramento. Na sua charqueada, no arroio Moreira, ou Fragata, Antônio dos Anjos acolheu o padre doutor no fim da sua vida, sendo testemunha de seu testamento. Com Felício acordou construir a igreja e a morada do religioso. “Porém, a doação apôs uma condição: que lhe fosse permitido aforar os terrenos em volta, nos quais começaria a crescer o casario da nova freguesia.” [NASCIMENTO, 1989: 37] A medição e o loteamento xadrez foram realizados pelo piloto Maurício Inácio da Silveira. O primeiro loteamento da cidade possuía 52,8ha. [BPP, RPTMP, 92: 10] [FIG. 37] “Mais tarde quando o engenheiro Eduardo Krestckmar traçou a planta da cidade, nada mais fez do que seguir o plano que delineou a freguesia, como tem acontecido até hoje.” [MOREIRA, 1988: 71] [FIG. 38]

As concessões continuavam. Em 2 de julho de 1813, o governador da capitania de São Pedro do Sul, don Diogo de Souza, fez mercê a Mariana Eufrasia da Silveira de um terreno que se dividia, ao sudeste, com o São Gonçalo, pelo noroeste, e sudoeste com o Santa Bárbara, pelo nordeste com José da Silveira Calheca e José Aguiar Peixoto, fazendo a figura de um triângulo oblíquo. “[...] cujo terreno tem na sua maior largura 1.848m e no seu maior comprimento 2.948m.” [BPP, RPTMP, 93: 1]

Mariana Eufrásia da Silveira era sogra, cunhada e agregada do terceiro proprietário da sesmaria do Monte Bonito, o alferes Ignácio Antônio da Silveira Cazado. Um mês e dois dias depois da doação, a 6 de agosto de 1813, Mariana solicitou ao governador licença para vender terrenos das charqueadas. Explicava que o finado seu marido, capitão-mor das ordenanças Francisco Pires da Silveira, tinha concedido licença para Tomás José da Silva e companhia e o capitão Domingos Rodrigues levantarem uma charqueada. Alegava não poder pagar as benfeitorias, lembrava o recolhimento do

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AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO 167

Real Imposto da Décima e a conveniência da manutenção dos estabelecimentos naquele lugar. [AHRGS, L. 41: 3]

Em 1818, Luzia Ferminiana do Pillar inventariou os bens do seu marido, Domingos Rodrigues. Nessa ocasião, a charqueada componha-se de um terreno situada na margem do São Gonçalo, de 600m X 600m.

Nesse local, estavam construídos uma morada de casas térreas, coberta de telhas, paredes de tijolos, forradas e assoalhadas; um armazém de despejo, também, de paredes de tijolos e coberto de telhas, mas, ladrilhado; um galpão, do estabelecimento de charqueada, com todos os seus pertences, coberto de palha; currais; varais; mais oficinas. Nesse espaço, cinqüenta escravos trabalhavam na fábrica capitão. [APRGS, INVENTÁRIO de Domingos Rodrigues. Pelotas, nº 32. M. 02. E. 25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria. 1818]

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RPTMP, L.92, p.9.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 168

Segundo Loteamento

A doação estava condicionada à obrigação de ceder terrenos necessários ao serviço público. As terras de Mariana Eufrásia deram origem ao segundo loteamento da cidade. Em 7 de novembro de 1827, Inácio Antônio Pires inventariante dos terrenos do casal Capitão Francisco Pires Cazado e Mariana Eufrásia da Silveira, procedeu à entrega dos terrenos doados para servidão do povo de Pelotas, a saber:

“[...] os terrenos doados para a nova igreja, junto a praça de uma quadra [entre os becos conde de Piratini e Ismael Soares]; os terrenos doados para praça da povoação, de 176m em quadro [praça da Regeneração, atual, praça coronel Pedro Osório]; 44m de frente por 44m de fundo doadas a nação para quartel e hospital [Prefeitura Municipal, Biblioteca Pública Pelotense e Escola de Agronomia Eliseu Maciel, hoje, Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas]; 44m de frente, com 44m de fundo [hospital Santa Casa] [...] e a estrada dos gados [rua barão de Santa Tecla].” [BPP, RPTMP, 93: 3]

A cidade implantou-se em um terreno plano, de mata pantanosa e linhas de areia. “Provam isto a areia fina e solta nas ruas e nos caminhos, as moitas e cercas desordenadas de bromelia, ananás [...] o tapete baixo e pisado das ciperácias da areia e as pequenas poças, que representam uma espécie de banhado [...]”. [LINDMAN, 1974: 66] Foram herdeiros de Mariana Eufrásia da Silveira:

“Rosália Francisca Pires casada com Manuel Ravelo Paiva; Manuel Marcelino Pires Cazado; Francisca Joaquina da Silveira; Joaquina Francisca da Silveira; Isabel Francisca da Silveira; Maria Eufrásia; alferes Antônio Inácio Pires; Maurícia Inácia da Silveira casada com o capitão Inácio Antônio, já falecidos; Joana Margarida casada com Baltazar Gomes Vianna.” [BPP, RPTMP, 93: 6]

Os da Silveira foram os grandes proprietários de terras na sesmaria do Monte Bonito e no rincão de Pelotas. Os patriarcas da família, poderiam ter chegado como imigrantes paupérrimos e tido o seguinte percurso:

“[...] um rei de Portugal fizera do fidalgo flamengo Joz de Utra, donatário da ilha do Faial. Acompanho-o o compatriota Guilherme van der Haagen, de sobrenome logo simplificado para da Silveira e casado com a ilhoa Margarida Azambuja. Com larga descendência no arquipélago, foram eles o tronco dos Silveiras que vieram colonizar o Rio Grande do Sul.” [NASCIMENTO, 1989: 9]

O alferes Antônio Furtado de Mendonça e sua mulher Isabel da Silveira vieram da Ilha do Faial com a primeira leva de casais, ou, possivelmente, a história desses Silveiras tenha sido outra. Descendem de Mateus Inácio Silveira, passaram por São Paulo e fixaram-se no sul, muito antes que os casais açorianos. [Fortes, 1978: 57] Chegaram com cinco filhas e dois filhos: Maria Antônia, Mariana Eufrasia, Isabel Francisca, Joana Margarida, Ana Inácia, Antônio e José Inácio. Realizaram bons casamentos. Isabel Francisca contraiu matrimônio com o grande posseiro capitão-mor Bento Manuel da Rocha. Entre suas propriedades constava a sesmaria de Pelotas. Mariana Eufrasia casou sua filha Maurícia Inácia da Silveira com seu cunhado e proprietário da sesmaria do Monte Bonito, o alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado.

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AS CHARQUEADAS E O PRIMEIRO LOTEAMENTO 169

Ela própria, Mariana, recebeu mais ou menos 315ha. Na sesmaria do Monte Bonito, os da Silveira possuíram terras urbanas e rurais. Os Rodrigues Barcellos foram os grandes proprietários dos terrenos marginais de charqueada.

Figura 38 – Planta da cidade de Pelotas, 1835. Prefeitura Municipal de Pelotas. Secretaria Municipal de

Urbanismo e Meio Ambiente.

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Capítulo 21

LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA

“As últimas sobras, as que ainda sobejam, em 19 de agosto de 1825, foram pelo Conselho Administrativo da Província, adjudicadas à freguesia de São Francisco de Paula para Logradouro Público da povoação.” [CUNHA, 14/09/1928: sp.]

A Tablada, como foi chamado o lugar para onde o gado era trazido para ser comercializado, representou uma melhoria no processo de produção da carne salgada. O charqueador não precisava mais arriscar-se em viagens para comprar o gado, podia escolher, pechinchar, etc. Todo esse comércio de gado impulsionou o crescimento do núcleo urbano que se formava. Fazendeiros, depois de realizarem suas vendas, peões, após receberem por seu trabalho, iam para a cidade. Provavelmente retornassem só no próximo ano. Era preciso fazer as compras necessárias, procurar os serviços de que careciam e buscar algum divertimento. Exportava-se charque, couro, graxa, etc. Importavam-se além do sal e escravos todos os produtos que atendessem a esse comércio e ao gosto rebuscado dos charqueadores locais. O Logradouro Público, a Tablada foi estabelecido em 1825. Só teve a sua medição realizada em 1851. Deveria limitar-se com o leste da fazenda do Monte Bonito e os terrenos das charqueadas do São Gonçalo e arroio Pelotas.

Em 5 de dezembro de 1827 Mariana Angélica do Carmo fez venda de um terreno, que recebeu de herança de seus falecidos pais, da fazenda do Monte Bonito. A terra estendia-se por quase toda o comprimento do Logradouro. Metade negociou com Antônio José Gonçalves Chaves e, a outra, vendeu a Boaventura Rodrigues Barcellos. O terreno limitava na parte oeste, pela estrada do Retiro, no sul e no leste, com a sesmaria de seu pai, Inácio Antônio da Silveira, e, no norte, com seu irmão, Alexandre Inácio Pires. [BPP, RPTMP, 98: 142 E. 186]

Proprietários de terrenos avançaram sobre o Logradouro Público. Este estava situado no centro da planície que separa os arroios Santa Bárbara e Pelotas. Por um desnível imperceptível, drenava as águas para os dois arroios. Não tinha matos, arroios e lagoas e criava abundante e bom capim. “Seu maior comprimento são 8.659,2m e sua maior largura 1.980m e 1.430m a menor. Superfície é 1.428,8ha.” [APRGS, MEDIÇÃO. Logradouro Público. Pelotas, nº 609. M.15. E.33. 2º Cartório do Civil e do Crime. 1825]

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 172

O extrato da medição, realizada em abril de 1852, dizia o seguinte:

“Principia no marco que existe na estrada para o Monte Bonito e que divide as chácaras de José Vieira Vianna e Maria de Sá e corre 8.718,6m a 21º nordeste [rumo magnético do ano de 1827]. Dividindo com a fazenda do Monte Bonito que hoje pertence a José Alves Candal, Eliseu Antunes Maciel, Henrique Francisco, herdeiros de Antônio José Gonçalves Chaves, Manuel Marques de Souza, Boaventura Rodrigues Barcellos e Manuel da Silveira Avila. De este ponto segue na extensão de 1.540m rumo sudeste magnético proximamente pelos fundos dos terrenos de Manuel Ravelo Paiva, Manuel Manuel da Silveira Avila e Serafim de Souza Pacheco. [...] De aí segue a sudoeste em ziguezague pelos fundos dos terrenos de José Domingos, João Alano Domingos de Castro Antiquera, José Rodrigues Barcellos, Vladistas Correia, herdeiros de Boaventura Inácio Barcellos, herdeiros de José Teixeira, herdeiros de João Francisco de Souza, José Rodrigues Candiota, João Vinhas, Luís de Azevedo e Souza, Boaventura Rodrigues Barcellos, Inácio Rodrigues Barcellos, Cipriano Joaquim Barcellos, Bernardino Rodrigues Barcellos, Domingos José de Almeida, Antônio Antunes Porciúncula, Manuel Portugal Guimarães, Joaquim Riveiro Lopez da Silva, Dr. Maia, Domingos Mascarenhas, José Galdino da Fontoura, Felipa Francisca de Sá M. Basques, João Coelho e Cipriano Rodrigues Barcellos, até um marco perto da casa de moradia de Exequiel Soares. Logo continua ao rumo de 56º noroeste por um valo de José Teixeira Pinto Ribeiro até a estrada do Monte Bonito. Na frente da casa de Maria de Sá, rumo magnético 15º noroeste [402,6m] até o ponto de partida.” [APRGS, MEDIÇÃO. Logradouro Público. Pelotas, nº 609. M.12. E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1825] [FIG. 39]

Após a comercialização, o gado seguia direto para os potreiros das charqueadas. De potreiro em potreiro, os animais chegavam à mangueira de matança, para o abate. O logradouro público integrava o próprio espaço da produção da carne salgada. Para os estabelecimentos que não eram contíguos à Tablada, existia uma estrada, por mandato da Câmara, na parte central do lado leste, ensaibrada na sua maior parte, que dava saída ao gado para os saladeiros do São Gonçalo e Pelotas.

Também por ordem da Câmara, outra estrada cortava Tablada, na parte central do lado oeste, para dar entrada às tropas de gado rumo à praça do logradouro. Ao sul, o logradouro público aproximava-se a 440m da última rua norte da planta da cidade e passava pela estrada do Monte Bonito, do matadouro público e do passo de Retiro.

“É um campo aberto, pois até hoje só aparecem fechados os valos na parte que se aproxima a cidade, as testadas de José Teixeira Pinto Ribeiro, dona Maria de Sá, José Alves Candal, Eliseu Antunes Maciel, Enrique Francisco, Manuel Marques de Souza, e do lado oposto, desde Domingos José de Almeida até Luís de Azevedo e Souza, as quais fazem a soma de 3.520m. Sua extrema ao sul 440m a última rua norte da planta da cidade, e passam pela mesma extrema a estrada do Monte Bonito e a do matadouro público; pelo extremo norte passa a estrada para o passo do Retiro.” [APRGS, MEDIÇÃO. Logradouro Público. Pelotas, nº 609. M.12. E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1825]

“Uma das mais características e ao mesmo tempo mais selvagens e interessantes vistas de Pelotas é a Tablada.” Escreveu o naturalista norte-americano Herbert Smith, em 1882.

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LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA 173

“Chama-se assim um descampado extenso e quase liso, onde de dezembro a maio se vendem as manadas que chegam. Algumas trazem quinze dias de viagem. Pode haver aqui ao mesmo tempo uma vinte datas, cada uma de centenas de cabeças; rudes gaúchos, vestidos com a habitual camisa de chita, ceroulas fofas ou bombachas e ponchos riscados, galopam em todas as direções, conservando os animais nos lugares e impedindo que se misturem as tropas; o gado, cansado de longo caminho e espantado da cena estranha, conserva-se junto, movendo os chifres e urrando em tom de queixume. Os donos das charqueadas movem-se rapidamente aqui e ali em belos cavalos, examinando as várias tropas, calculando-lhe o valor com rapidez e precisão admiráveis e fechando os negócios as pressas com estancieiros e peões. O mercado é sempre ativo, porque a concorrência é muito forte entre os vinte ou trinta charqueadores; em geral as boiadas inteiras estão vendidas em pouco tempo depois de chegadas.” [SMITH, 1922: 137 e 138]

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Figura 39 – Planta da Tablada e do Logradouro Público. Base principal do RPTMP, do museu da BPP.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 174

E Daí?

O processo de doação das “sobras” da sesmaria do Monte Bonito resultou no complexo saladeiril pelotense, constituído inicialmente por um conjunto de estabelecimentos contíguos, e composto basicamente por um local de cobrança de impostos e comercialização de escravos e produtos, chamado Passo dos Negros, pela cidade, pela Tablada e pelas vias de comunicação. [FIG. 40]

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Figura 40 – Sesmaria do Monte Bonito. Cerne do núcleo charqueador pelotense.

O que diferenciou a sesmaria do Monte Bonito das demais foi o número aproximado de 30 estabelecimentos charqueadores contíguos e vizinhos ao núcleo urbano e ao Logradouro Público. Essas áreas estavam interligadas entre si, de maneira

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LOGRADOURO PÚBLICO. TABLADA 175

que uma influenciava as demais. Os negócios efetuados na Tablada, por exemplo, impulsionariam as atividades charqueadoras e urbanas. A construção civil era uma produção de apoio à produção charqueadora e uma alternativa para os períodos de entressafra, retração do mercado consumidor ou de adversidades meteorológicas de tempos de vacas magras.

A freguesia que deu origem à cidade foi criada para atender à indústria da carne salgada. Desde o começo, caracterizou-se por ser um centro comercial e de serviços de apoio ao processo de produção do charque, às atividades que dele decorressem, à população que abrigava na sua sede e no seu entorno, etc. Requereu-se toda uma série de casas de moradia, aluguel, hospedagem, divertimento, comércio, consertos, manufaturas, saúde, educação, cultura, etc. Era preciso atender aos charqueadores, estancieiros peões e à população urbana que se formava.

Construía-se também a infra-estrutura, os equipamentos urbanos, as estradas, os portos, e realizavam-se obras de desobstrução das vias navegáveis. Mantinham-se os edifícios, a infra-estrutura urbana, as vias terrestres e fluviais, lacustres e marítimas. O estudo sobre a Arquitetura da Charqueada implica fundamentalmente uma reflexão que leve em conta a sociedade que produziu e organizou esse espaço complexo, onde a construção civil foi uma alternativa à produção charqueadora. Não se restringe ao somatório de exames de estabelecimentos individuais; sua escala atinge aos estudos regionais.

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Capítulo 22

DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO

O cerne do núcleo charqueador pelotense, constituído ao longo do século XIX, estruturou-se em mais de trinta fábricas contíguas situadas nas margens direita do arroio Pelotas e norte do canal São Gonçalo. Esses estabelecimentos contavam com um, dois ou três terrenos, faixas compridas e estreitas, intercalados por estradas. O terreno da charqueada, propriamente dito, localizava-se junto à beira da água, os potreiros do meio e de fora ou de fundos, ficavam junto ao Logradouro Público, onde os rebanhos de gado vinham das fazendas para serem comercializados. Esse conjunto de atividades impulsionou o desenvolvimento urbano de Pelotas.

A população servil das fábricas distribuía-se nestes espaços. Parece que parte dos senhores mantinham um número fixo de escravos nas fábricas, outros, provavelmente, ocupavam seus cativos nas diversas propriedades, como casas na cidade, datas de matos na serra dos Tapes e estâncias. As fazendas, quase que invariavelmente ficavam ao sul do cerne do núcleo saladeiril. Algumas delas avançavam até o estado oriental, hoje Uruguai. Os cativos que trabalhavam diretamente na produção do charque ocupavam o terreno ribeirinho da fábrica de salgar carnes. Possivelmente, no período das entressafras, a população cativa trabalhasse na construção civil, produzindo matéria-prima, elementos cerâmicos, nas olarias existentes em um dos terrenos dos saladeiros; erguendo, ampliando, conservando toda sorte de prédios urbanos, que o desenvolvimento fabril charqueador impulsionava, e mantendo as instalações rurais os charqueadores possuíam nos distritos situados ao sul da área fabril.

A constatação de olarias e ao mesmo tempo a verificação que nenhum escravo possuía a profissão de oleiro, reforçou a probabilidade da construção civil como uma atividade alternativa à produção da carne salgada. A inexistência de oleiros e a presença de olarias instaladas na metade das fábricas de salga possibilitaria o aproveitamento ininterrupto da mão-de-obra cativa da fabricação sazonal do charque e, como conseqüência, alargaria o tempo de permanência da escravidão, por ser um regime rentável.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 178

Tabela 11 – Profissões dos escravos das charqueadas.

Anos a partir dos oitocentos

Profissões 18

10

1818

1820

1824

1827

1851

1852

1854

1854

1856

1857

1862

1863

1865

1865

1865

1865

1867

1870

1871

1871

1871

1872

1875

1877

1880

1881

1883

1884

1885

1886

1887

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Carneador 02 09 15 17 12 07 06 29 08 30 06 05 16 15 11 05 28 09 17 14 Servente 19 11 11 07 03 06 26 07 32 16 22 20 12 15 Salgador 02 03 01 01 04 13 02 05 02 03 10 Descarneador 03 02 03 01 04 01 06 Graxeiro 01 04 01 03 04 Sebeiro 02 01 02 Chimango 14 04 02 Charqueador 01 01 02 Aprendiz 10 01 Tripeiro 02 01 Marinheiro 01 13 02 05 04 01 03 04 05 05 03 02 05 03 01 15 04 Cozinheiro 01 02 01 03 01 02 04 02 02 03 06 03 12 03 Carpinteiro 01 02 02 01 01 01 01 01 01 01 03 04 07 03 02 15 02 Pedreiros 02 02 03 03 02 02 01 01 02 04 01 01 01 13 02 Tanoeiro 01 02 02 01 02 01 06 Lavadeiro[a] 02 01 01 01 04 01 06 Sapateiro 02 02 [01] 01 01 05 Alfaiate 01 02 02 [01] 01 04 Boleeiro 01 03 01 01 01 04 Carreteiro 01 01 02 Carroceiro 02 01 02 Ferreiro 03 01 02 Barbeiro 01 01 Padeiro 01 01 Peixeiro 01 01 Lustrador 01 01 Serrador 02 01 Engomador 01 01 Corroeiro 01 01 Campeiro 01 09 03 05 01 01 02 01 01 14 01 01 05 17 07 02 [16 04 07] Roceiro 10 01 01 03 Costureira 02 02 03 03 01 05 Mucama 01 01 02 Escravas 05 04 17 04 08 04 06 09 13 [03] 02 [04 13] 04 [04] 09 [08] [17 07 13] Crianças 07 crias 01 01 02 01 05 Doente, inválido, pouco serviço 01 01 01 02 04 Forros, com cláusula de serviço 09 61 12 09 11 Em outro local, estância, cidade 05 47 02 Sem informação 42 42 91 26 02 56 18 53 38 05 24 03 05 60 26 14 10 88 02 TOTAL 47 46 127 30 31 65 40 71 55 83 38 45 30 31 109 31 78 60 26 21 23 48 54 104 84 28 82 28 28 54 100

FONTE: APRGS, 1º e 2º Cartório Órfãos de Pelotas. Período 1810-1887.

Para pré-dimensionar o número de escravos nas fábricas de salgar carnes, existentes na sesmaria do Monte Bonito, foram tomados aleatoriamente 32 inventários de charqueadores, realizados antes do ano da Abolição da Escravatura, 1888. A TAB. 10 resultou da organização das informações existentes nesses documentos. A diminuição da população servil, a partir da emancipação dos escravos, em 1884, em Pelotas, confirmou-se apesar do fôlego apresentado, através dos contratos de serviços obrigatórios pelo período de quatro a dez anos.

Os totais de escravos constantes na TAB. 10 permitiu calcular as seguintes médias para o plantel das fábricas de salgar carne: até os anos de 1850, 56; na década de 50, 59; de 60, 55; de 70, 34; até a emancipação da população servil, em Pelotas, no ano de 1884, 65; e a média total de todo o período 54. O resultado parcial não permitiu verificar a diminuição de cativos, a partir da extinção do tráfico em 1850. Nas análises individuais do plantel dos estabelecimentos constatou-se a partir de 1850 a diminuição de escravos somente nas fazendas que possuíam estabelecimentos de charqueadas, nas fábricas situadas na sesmaria do Monte Bonito não pode ser caracterizada essa tendência.

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DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO 179

Alguns inventários não especificaram as profissões da população servil, outros, qualificaram parte do plantel levantado. Essa situação podia ter diversas razões, entre elas, a falta de profissionalização dos escravos arrolados. Por isso, as médias parciais da TAB. 10, foram realizadas através das freqüência maiores de dez. Os resultados aproximados, serviram para pré-dimensionar a população servil, manchar um zoneamento das funções desempenhadas pelos escravos. Todos os cálculos apresentados foram tomados como dados preliminares, supondo-se que para uma quantificação exata seria necessário um número maior de informações.

A população servil oscilava entre 21 e 127 pessoas em cada empresa. Durante o período da safra, provavelmente, este era o quadro de distribuição dos escravos nos terrenos da charqueada. Os cativos dedicados às funções de ofício ou domésticas apoiavam à produção charqueadora e atendiam à algumas das necessidades básicas dos homens servis e da família do senhor. Auxiliavam à fabricação campeiros, carroceiros, tanoeiros, ferreiros, etc. Os cozinheiros apareceram em grande número de estabelecimentos, alcançando uma média de três por fábrica, deveriam atender aos que trabalhavam diretamente na salgação das carnes e dos couros e na elaboração das graxas. Os sapateiros, mucamas, por exemplo, ao contrário, serviriam a casa do senhor.

Em todos os documentos que especificaram a profissão do plantel, apareceram os escravos campeiros, que se ocupavam das organização dos rebanhos, nos potreiros, localizados entre as instalações fabris e o local de comércio com os gados. Igualmente, um pouco mais da metade dos saladeiristas possuíam cativos marinheiros. Portanto, os trabalhadores servis ocupavam-se da produção desde o momento em que o gado era comprado até o transporte dos produtos, pelo menos, até o porto de Rio Grande.

O Quadro

A disposição das profissões na TAB. 10, levou em conta a freqüência e a distribuição espacial das especializações dos cativos. As primeiras profissões apresentadas correspondem aos escravos que trabalham diretamente na produção e no transporte da carne salgada e de seus subprodutos e que eram a maioria. Seguem-se a esses, aqueles que davam apoio a atividade charqueadora, iniciando pelos cozinheiros e o pessoal responsável pela manutenção da área fabril, os carpinteiros e pedreiros.

Depois, acompanham toda uma série de ofícios; desde aqueles que produziam para a própria charqueada, como os tanoeiros, fabricante de tonéis para as salmouras e graxas, como os que trabalhavam, em especial, para os senhores, como os engomadores. De imediato colocamos os das lidas campeiras que labutavam nos potreiros. A seguir as profissões essencialmente femininas e, por fim, as crianças, os inválidos e os não qualificados. A especialização atingia a, pelo menos, uma média geral a 53% de todos os escravos que trabalharam ao longo do século XIX. Ao observar a TAB. 10, parece que até os primeiros vinte anos do século passado, não havia interesse em especificar, ou, não estavam definidas as tarefas dos escravos.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 180

Tabela 12 – Especialização dos escravos das charqueadas.

Profissões

AN

OS

1810

1818

1824

1820

1827

1851

1852

1854

1854

1856

1857

1862

1863

1865

1865

1864

1865

1867

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Freq

üênc

ia

Méd

ia

Tot

al

%

Crianças 07 crias 01 01 02 01 05 12 Doente, inválido, pouco serviço 01 01 01 02 04 05 Especializados 23 59 38 09 28 17 40 28 30 85 24 73 07 13 47 50 16 84 28 81 26 21 805 53 Sem informação 47 46 120 30 08 04 02 62 27 66 38 05 02 24 07 05 60 26 14 10 88 02 22 693 46 TOTAL 47 46 127 30 31 65 40 71 55 83 38 45 30 31 109 31 78 60 26 21 23 48 54 104 84 28 82 28 28 54 1515 100

FONTE: APRGS, 1º e 2º Cartório Órfãos de Pelotas. Período 1810-1887.

Na Área da Produção

Os trabalhadores mais freqüentes na produção do charque eram os carneadores, seguidos pelos serventes e salgadores. Depois, na ordem, apareciam descarneadores, graxeiros, sebeiros, chimangos, charqueadores, aprendizes e tripeiros. O número de carneadores ficava entre 30 e 2, o que dava uma média de 14 por saladeiro. A mesma média encontrada nos estabelecimentos que funcionavam junto às estâncias. Dependendo do tipo de plantel, estes trabalhadores poderiam estar abatendo na mangueira de matança; esfolando e esquartejando, nas canchas; charqueando e etc., nos galpões.

A grande divisão do trabalho na charqueada dava-se entre carneadores e serventes. Os serventes faziam todo o tipo de trabalho nas diversas instalações das fábricas, seu número variava entre 22 e 3, e sua média alcançava a 15 serventes. Os salgadores apareceram em um pouco menos da metade dos inventários, trabalhavam entre um ou quatro homens, nos galpões. Sua tarefa consistia em preencher com sal os sulcos das peças, pontos lonqueados, bem como toda a superfície das mantas de carne. Em comparação com os carneadores e serventes foi pequeno o número de cativos especializados na elaboração das graxas e dos sebos, estes últimos foram especificados em quatro estabelecimentos analisados.

Assim como os salgadores, os graxeiros alternavam-se entre um a quatro trabalhadores. Além desses profissionais, nos galpões ocupavam-se os descarneadores, charqueadores. Aprendizes e tripeiros eram raros, presentes em apenas um estabelecimento cada. Mais da metade dos charqueadores possuía marinheiros. A média, entre esses, era de quatro marujos por saladeiro. Apoiavam a produção, o transporte do charque e os senhores mais de vinte atividades desenvolvidas pelos escravos de ofício e domésticos. Desses, os cozinheiros alcançavam uma média de três por estabelecimento. Os trabalhadores da construção civil, carpinteiros, três por senhor, pedreiros, dois, aparecerem, pelo menos, na metade das propriedades.

No mínimo, em um quinto das fábricas existia a presença de tanoeiros. Parece, que o charque fabricado em Pelotas não restringia-se às mantas da carne salgada. Os tonéis serviriam para o charque conservado em salmoura, como o do tipo irlandês, ou esse recipiente, poderia servir para os produtos provenientes das gorduras, graxas ou sebos. Os campeiros estavam presentes, em pelo menos, metade das empresas. Deveriam trabalhar nos potreiros selecionando o gado que dirigiam à mangueira de matança. Entre esses, perfaziam uma média de quatro por saladeiro. Os tropeiros,

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DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO 181

aqueles que conduziam as reses nas viagens, não fizeram parte do elenco de cativos das fábricas de carne salgada. Apesar da presença de horta e pomares nos estabelecimentos foram poucos os roceiros. Verifica-se, igualmente, a presença de olarias e a total ausência de oleiros.

Mulheres e Crianças Escravas

Praticamente, as mulheres cativas não receberam qualificação. Elas alcançavam uma média de sete por estabelecimento, ou seja, em torno 13% do total. As únicas profissões essencialmente feminina eram as de costureira e de mucama. Uma ou duas lavadeiras dividiam, com os homens, a mesma tarefa. Provavelmente, esse serviço dizia respeito não somente a lavagem das roupas, mas, também, a limpeza do espaço da produção saladeiril, que seria um trabalho masculino. Na TAB. 10, pode-se observar que as mulheres receberam pouca, ou quase nenhuma especialização. As crianças escravas, em número reduzidíssimo, estavam presentes em cinco fábricas.

A exceção ficou por conta de Cecíla Rodrigues da Silva, primeira esposa do comendador Boaventura Rodrigues Barcellos. Ela tinha a propriedade sete crianças cativas, que era 8% do total de seus 127 escravos. A maioria dos senhores não possuíam crianças. Quando isso acontecia, somavam no máximo dois pequenos prisioneiros. Essa observação continua reforçando a hipótese de que os senhores preferiam investir na compra de novas “peças” do que na reprodução da mão-de-obra africana. Da mesma forma, a total ausência de contrato de casamento entre os subjugados dos saladeiros, o número restrito de mulheres e a quase inexistência de filhos entre estes foram sinais que vieram a afastar a possibilidade da família escrava constituir-se com freqüência nas fábricas de salgar da sesmaria do Monte Bonito.

Estâncias Charqueadas X Charqueadas

Comparando o elenco de escravos das estâncias que possuíam estabelecimento de charqueada com o das fábricas, propriamente ditas, localizadas na sesmaria do Monte Bonito verificamos: médias de 84 e 54 escravos; espectros que variavam entre 30 - 150 e 21 - 127; 16% e 13% pertencia as sexo feminino, sendo que em ambos os casos quase nunca as mulheres estavam qualificadas e o número de crianças prisioneiras era inexpressivo. É possível, que as mulheres trabalhassem nas hortas e pomares dos estabelecimentos, considerando-se a pouca referência existente de trabalhadores dedicados à agricultura.

Nas primeiras, a média de cativos especializados era de 73,5%; nas segundas, 53%; desses, respectivamente, 09% e 07% eram campeiros e 14% e 7% eram marinheiros. Três entre cinco charqueadas/estâncias possuíam instalações destinadas ao fabrico de elementos cerâmicos e a metade das fábricas do Monte Bonito também

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 182

fabricavam tijolos e telhas, o que permitiria a ocupação constante do plantel. Nos dois os casos carneadores e serventes eram os que alcançavam o maior número de homens por estabelecimento, estimou-se uma média de 15 homens em cada uma dessas duas especialidades. Portanto em torno de 30 escravos trabalhavam exclusivamente no charque e nos subprodutos. [TAB. 6, 7, 8, 9, 10 e 11]

População

Com base na média geral de 54 escravos por estabelecimento e imaginando que no espaço compreendido entre o canal São Gonçalo e o Cotovelo, lugar onde o arroio Pelotas faz uma curva de quase 90 graus para desaguar no canal e o Logradouro Público, funcionava ao mesmo tempo, 30 fábricas, teríamos o correspondente a em torno de 1.620 escravos trabalhando ao mesmo tempo. A maior concentração de cativos dava-se nas áreas, ribeirinhas, diminuindo nos terrenos interiores destinado aos potreiros, e, provavelmente, escasseando no Logradouro Público, considerando-se a quase inexistência de tropeiros entre os escravos das charqueadas e estâncias.

Tabela 13 – População de Pelotas no ano de 1833. População Escrava Branca Liberta Indígena Total 5623 3933 1131 174 10874 51,7% 36% 10,4% 1,6% 100%

Fonte: AHRGS, BBP, câmara Municipal de Pelotas, Mapa da População da Vila de São Francisco de Paula [Pelotas]. Dezembro de 1833.

Pelos números constantes no censo de 1833, o percentual de homens e mulheres escravas em todos os distritos da vila seria respectivamente 71% e 29%. No terceiro distrito, correspondente a área das charqueadas, o número de escravos seria 941. [ARRIADA, 1991: 186]

Para o ano de 1854, o recenseamento organizado pela Fundação de Economia e Estatística acusou o seguinte:

Tabela 14 – População de Pelotas no ano de 1854. População Escrava Livre Liberta Total 1º Distrito 2.213 3.977 154 6.344 2º Distrito 1.333 1.319 59 2.711 3º Distrito 576 1.060 66 1.072 4º Distrito 666 1.407 63 2.136 Total parcial 4.788 7.763 342 12.863

A comparação entre os dados dos dois censos mostrou uma diminuição na população servil, não observada no plantel das fábricas e revelou respectivamente 941 e 576 escravos para o espaço da produção do charque, quando a média inventariada permitiu encontrar para a área fabril em torno de 1.620 cativos.

O estudo da distribuição espacial dos escravos que trabalhavam nas fábricas de salgar carnes do núcleo charqueador pelotense pode comprovar que os cativos assumiam todas as tarefas desde o recebimento das tropas de gado, a produção da carne

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DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS E OLARIAS DO MONTE BONITO 183

salgada e seus derivados como as graxas, até o transporte do produto ao porto marítimo de Rio Grande. Os campeiros ocupava os terrenos correspondentes aos potreiros de fora ou de fundos e do meio. Os marinheiros iam e vinham através do arroio Pelotas, do canal São Gonçalo e da laguna dos Patos. Carneadores e serventes distribuíam-se na mangueira da matança e nesta ordem colocavam-se nas canchas, galpões, barraca de couros e varais.

Os escravos de ofício dividiam-se pelos galpões da produção e obviamente os domésticos atendiam a casa do senhor, que como as instalações fabris situavam-se no terreno ribeirinho. Constatamos a especialização em mais da metade da população servil das fábricas de salgar carnes. Por um lado, as péssimas condições de vida dos escravos impediam a reprodução natural desses trabalhadores. Por outro lado, concluímos que a baixa percentagem de mulheres e a quase inexistência de crianças afastou a probabilidade de constituição de família cativa nos saladeiros, revelando o drama da sobrevivência da população servil charqueadora.

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Capítulo 23

O AMBIENTE CONSTRUÍDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX

Pouco tem sido escrito sobre o a área onde era fabricada a carne salgada. Porém, as descrições dos diversos viajantes estrangeiros que passaram por Pelotas, durante o século XIX, permitiu esboçar um programa de necessidades, ou seja, sugerir uma lista das diversas funções executadas nas fábricas, e delinear um quadro evolutivo do espaço da produção do charque, no século passado. Foram selecionados textos que trataram do entorno dos estabelecimentos, das construções e das atividades nelas desenvolvidas. Com base em alguns dados fornecidos por estes estrangeiros, podemos calcular as condições ambientais em que trabalhava, e tentava sobreviver, a população servil charqueadora.

Entorno

Foram quatro os viajantes destacados para no informar sobre o entorno construído dos saladeiros pelotenses: John Luccock; Nicolau Dreys, Ave-Lallemant e Herbert Smith. John Luccock, comerciante inglês, veio para o Brasil no mesmo ano da “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, em 1808. Sobre uma charqueada escreveu:

“[...] em um só ano, um indivíduo chamado José Antônio dos Anjos abateu cinqüenta e quatro mil cabeças, charqueando-lhes a carne. As pilhas e os ossos que faziam em sua propriedade ultrapassavam tudo quanto me era dado imaginar e havia milhares de urubus, o abutre americano, adejando em volta e comendo os retalhos. Durante a época de matança, não é raro aparecerem grandes bandos de cães, que auxiliam os abutres a descarnar os ossos, e diz-se que também as onças fazem o mesmo. Os ossos, uma vez assim limpos, são geralmente transformados em cal.” [LUCOOCK, sd.: 142]

Nicolau Dryes chegou ao Rio Grande em 1817. Envolveu-se em ações militares e foi comerciante. Em 1839, teve publicada no Rio de Janeiro sua obra Notícia

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 186

[...] editada pela tipografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve. Seu relato foi dos mais completos. Sobre o entorno construído, escreveu:

“O viajante, passageiro a bordo das embarcações que navegam nesses rios, esbarra-se às vezes com ilhas movediças formadas de agregação fortuita de uma porção de aqueles molhes detrimentos que vem surgir à superfície das águas quando a fermentação entra a desenvolver os gases que contém. [...] O estrangeiro que chega a primeira vez as charqueadas avista com admiração paredes extensas tão brancas como alabastro; meio século mais tarde, se o destino o levasse ao mesmo lugar, havia de achar as paredes com a mesma alvura; é uma matéria que o tempo põe sem a sujar; são os ossos entrelaçados com arte e solidez, a formarem cerca contínua capaz de apor-se mais eficazmente que qualquer outra aos esforços do gado recolhido no currais que circunscrevem.” [DREYS, 1927:138 e 142]

Em 1858, o alemão Ave-Lallemant fez observações significativas quanto à definição da paisagem dos saladeiros:

“Cada vez mais se aproximava a margem do rio apareciam bonitos grupos de casas e a embocadura de um pequeno rio vindo do norte, o rio Pelotas, a cujas margens se estendem estabelecimentos, de carácter verdadeiramente romântico, a certos respeitos, mas por outro lado, realmente repugnantes. Em toda a região há um horrível cheiro de carniça! Couros, chifres, cascos, ossos, tendões, tripas e nauseantes massas de sangue em putrefação e, além disso, campos inteiros com carnes dependurada, formam um verdadeiro monturo [...]. Uma multidão de abutres sobrevoa a região ou ceva-se em sangue putrefato! Por mais aprazível que seja o porto de Pelotas, por mais largas, retas e em parte bonitas ruas que tenham a cidade que fica a um quarto de milha acima - nesse matadouro extingue-se qualquer impressão de graça e limpeza; em toda parte cheira mal.” [AVE-LALLEMANT, 1980: 409]

Os registros das viagens, dos primeiros sessenta anos do século XIX, dizem respeito principalmente ao impacto dos dejetos da produção no meio ambiente. O relato desses estrangeiros nos levou a desenhar uma paisagem bastante macabra para o meio ambiente da charqueada. Nesse local, imperavam imundícies, excrementos, sangues, vísceras, ossos, mau cheiro e animais pestilentos.

Sobre o meio ambiente dos saladeiros, as descrições dos viajantes das últimas décadas do século XIX não foram tão numerosas como dos primeiros anos. Em compensação, os trabalhos elaborados por Louis Couty, e Herbert Smith, no início da década de 80 do século passado, foram bastante coincidentes e precisos sobre o fabrico do charque e de seus subprodutos. Certamente a fabricação dos derivados diminuiu substancialmente a quantidade de despejos.

Em 1880, no Rio de Janeiro, a tipografia Nacional publicou, o relatório do técnico francês Louis Couty denominado, Le Mete et Conseves de Viande, rapport à som excellence Mouseier le Ministre de l’Agriculture et du Comerce sur sa Mission dans les Provinces du Paraná, Rio Grande et les Estats du Sul. Em 1882, o trabalho do geólogo norte-americano Herbert Smith, descreveu a Tablada. Como já assinalamos, a Tablada era um local descampado, extenso e quase liso, para onde o gado de estâncias de vários lugares era trazido, a fim de ser comercializado com os charqueadores.

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O AMBIENTE CONSTRUIDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX 187

O Espaço Interno da Produção do Charque

O programa de necessidades sobre as atividades, a organização espacial e as construções no interior da charqueada foram selecionados dois relatos, o do Nicolau Dryes, publicada em 1839 e o de Couty, de 1880. Através dessas duas descrições, podemos observar as transformações ocorridas na produção do charque e as conseqüentes alterações do espaço edificado.

Abater

O próprio Dreys fez referências a três modalidades de abate, sobre a primeira diz o seguinte:

“[...] os peões montam a cavalo, um deles estimula o animal recolhido num curral aberto agitando ante os olhos o ponche colorado, e quando o novilho exasperado lança-se afinal sobre o agressor e entra a persegui-lo, outro peão, armado de uma lança comprida cujo ferro tem o feitio de uma meia-lua, corre atras do boi e corta-lhe o janete [...].” [DREYS, 1927: 139]

Na segunda modalidade de abate houve uma variação, a tourada foi trocada por um laço. Na terceira houve uma equivalência com a descrição de Couty. Ambas informaram sobre um curral menor, especial para o abate, a mangueira de matança. A descrição dos bens de Pinto Martins permitiu verificar, que as fábricas do arroio Pelotas abatiam, desde os primórdios, em espaços construídos e equipados para esse fim.

Mangueira de Matança

A mangueira de matança foi analisada por Dryes e por Couty como um curral menor, que poderia comportar até 60 cabeças de gado. Possuía as seguintes características: paredes altas e resistentes; piso inclinado e escorregadio, de tijolos ou pranchas; forma - dois troncos de pirâmide unidos por uma base maior; circulação - uma das extremidades dava acesso para as outras mangueiras através de um curral ou brete; a outra extremidade, a mais importante, era aonde o gado seria abatido; plataforma - exterior - com uma altura que permitisse que um homem ficasse mais alto que um animal; equipamentos - uma vagonete sobre trilhos; um guincho ou polía.

Um cativo, na plataforma, laçava o boi que aparecia no brete. A outra ponta do laço estava fora do recinto, presa a um guincho que era acionada por duas bestas de cargas, boi ou cavalo. O boi era arrastado. O animal qualquer que fosse a sua resistência, vinha a bater com a cabeça e ficava fixado contra o guincho. Um segundo cativo, ou o mesmo, matador ou desnucador que também estava colocado na plataforma, enfiava uma faca, longa e resistente, no músculo da nuca. Toda a manobra

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 188

durava de um a dois minutos. Era possível matar até 1.200 bois em menos de 18 horas. A média das matanças variava, conforme as charqueadas, entre 200 a 1.000 bois. Logo após a facada, o boi caía sobre o vagonete. A porta vertical que fechava a abertura da mangueira era elevada. O vagonete com o boi, que ainda urrava, e apresentava contrações, era puxado por dois escravos, que os conduziam sobre trilhos até a cancha.

Cancha. Esfolar, Sangrar e Esquartejar

A cancha, nas especificações de Dreys e Couty, era composta por um piso de tijolos inclinados e quase sempre coberta por telhados. Canchas dispostas de um lado ou dos dois lados dos trilhos e ficavam contíguas à mangueira de matança. Cada cancha comportava de 20 a 40 animais. O boi era derrubado do vagonete por dois cativos ou puxado por uma corda fixada a uma das patas dianteiras e então arrastadas por um escravo a cavalo. O boi passava a ser despojado do couro, esfolado.

Era sangrado, com uma faca no coração. A sangria era indispensável, porque terminava de matar e porque, sem a sangria, a carne cheirava mal e ficava com a cor feia. Essa sangria dava pouco sangue, cerca de 12 a 13kg por animal. Poucos minutos durava a extração do couro. As reses apresentavam, às vezes, reflexos muitos marcados, irregulares, outras vezes, emitiam gritos afônicos durante a hemorragia. Esfolados ainda vivos, sentiam a faca e não podiam reagir. Mugiam e não conseguiam se fazer ouvir, tentavam levantar-se, executavam sacudidelas desordenadas. Os trabalhadores servis ficavam cobertos de sangue.

A partir desse momento, Couty começa a apresentar diferenças entre os saladeiros platinos e as charqueadas rio-grandenses. A depostação, esquartejamento ou corte, no caso dos primeiros, resultava em oito pedaços; nas segundas, obtinham-se 11 pedaços. Eram: 1 - lombo; 2 e 3 - duas mantas; 4 - colchão; 5 e 6 - os músculos anteriores do membro posterior; 7- tatu; 8 e 9 - os músculos posteriores do mesmos membro; 10 e 11 - a paleta de fora e a paleta de dentro. Os músculos intercostais junto as costelas iam alimentar os escravos. A cabeça, o tronco e as vísceras ficavam jogadas ao redor das canchas. A depostação durava de quatro a cinco minutos. Os pedaços eram transportados para uma sala vizinha, o galpão.

Galpões. Desossar, Charquear, Lonquear, Salgar e Empilhar

As ações de desossar, charquear, lonquear, salgar e empilhar eram realizadas em um ou mais galpões. Os pedaços que eram transportados da cancha ficavam suspensos em suportes especiais chamados tendidas, onde era feita a desossa. No charquio, o boi era reduzido a retalhos de 1,5cm de espessura, irregulares, em Pelotas e de 3cm de espessura por 1,50m de largura no rio da Prata. Nos saladeiros, esse trabalho

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O AMBIENTE CONSTRUIDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX 189

era feito por um operário sobre uma mesa. Em Pelotas, era realizado por dois escravos, colocados de cada lado, diante da carne estendida sobre uma barra de madeira. Após o charqueio, era executado a loncagem. A loncagem constava de incisões paralelas de cinco a quatorze centímetros de comprimento, bastante profundas, que aumentavam a superfície exposta ao ar e à salga.

No rio da Prata, diz ainda Couty, a salga era feita em tanque de salmoura. Em Pelotas, todos os pedaços charqueados eram colocados em mesas côncavas cheias de sal. Os salgadores esfregavam principalmente os pontos lonqueados. Gastavam-se, por animal de 10 a 12kg de sal moído. A carne era disposta em pilhas compostas de camadas sucessivas de sal, para estender as carnes no sentido do seu comprimento, de modo que não ficassem amontoados ou dobrados, recorria-se a mais ou menos cinco cativos que de pé em cima das pilhas, com as mão ou com ganchos de ferro, conseguiam o resultado desejado. A duração de uma pilha dependia de condições meteorológicas, usualmente de um a dois dias; com um pouco mais de sal, as pilhas duravam até 40 dias. Uma pilha formada pelas carnes de 200 bois media aproximadamente 5m de comprimento e de largura, 0,80cm de altura nas pontas e 1,30m no centro.

Tanque

O sangue e o sal que escorriam das pilhas eram conduzidos a um reservatório inferior. Segundo as observações de Dreys, de 1839, nesses tanques eram jogadas costelas, línguas e outras partes que se queriam conservar na salmoura. Nas informações de Couty, em 1880, nesses tanque de salmoura eram também banhados por 24 horas os couros.

Secar, Varais

Couty apontou diferenças entre o processo de secagem das charqueadas e dos saladeiros. Continuam, entretanto, aparecendo coincidências entre as informações de Dreys e Couty a respeito desse processo em Pelotas. Das pilhas, a carne era levada para os varais ou secadores. Tratava-se, simplesmente, de barras de madeira longas e estendidas transversalmente, a 1,50m do solo, de disposição variada. Normalmente, eram orientadas no sentido leste e oeste, ficando a carne no sentido norte/sul. Em Pelotas, quando o tempo era favorável, as carnes ficavam secando durante cinco ou seis dias, no inverno até 15 dias. No fim da tarde, a carne era amontoada em vários pontos dos varais. No dia seguinte, estendia-se outra vez. Produzia-se duas qualidades de charque. Dreys acrescentou algumas atividades:

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“[...] quando se receia alguma chuva repentina, o toque de uma campainha chama para os varais todos os negros da charqueada, e cousa curiosa é ver como num instante a carne amontoada por porções nos mesmos varais se acha escondido debaixo de couros que não permitem o menor acesso às águas do céu. Estando a carne perfeitamente seca, é disposta em forma de grandes cubos ablongos assentados num chão artificial levantado de três a quatro palmos, para dar passagem ao ar; nesse estado, cobrem ainda de couros para esperar o embarque.” [DREYS, 1927: 139]

Todo esse processo durava de 15 dias a dois meses. A carne era vendida aos consumidores de seis a doze meses após o abate.

Subprodutos. Graxa. Sebo. Couro e etc.

Ao longo do século XIX, a produção da graxa e do sebo sofreu transformações. No depoimento de Dreys, observamos o seguinte:

“Os ossos, a cabeça e as extremidades são metidos numa caldeira fervendo, para servirem, com os miolos e o tutano, a preparação da graxa que se encerra depois em uma bexiga e nos grossos intestinos para serem entregues ao comércio. O peritônio, o efilon e outras partes sebácias, são socados para comporem uns pães de sebo grosseiro que se vendem nesse estado.” [Id., loc. cit.]

Quarenta e três anos depois, Couty descreveu um processo mais complexo para a elaboração da graxa e do sebo em Pelotas. A graxa era feita em cubas - algumas chegavam a atingir quatro a cinco metros de altura - nas quais eram lançados os ossos, cabeças, encéfalos, estômagos, corações e certas vísceras de 150 a 200 animais. O cozimento era feito a vapor de pressão, durante um período que variava de 36 a 50 horas. As cubas eram dispostas dos dois lados da caldeira.

Entravam na elaboração do sebo os intestinos e as membranas envolventes do peritônio. Era feito em cubas menores, de madeira grossa, reforçadas com aros de ferro, as quais tinham uma abertura lateral na parte de baixo, por condutos especiais, o sebo escorria. O período de cozimento do sebo era menor que o da graxa. As caldeiras eram alimentadas por ossos. As cinzas, ou os restos calcinados resultavam em adubo, que era vendido para a Europa. A graxa e o couro representavam para o charqueador a metade do preço do animal. Colaborava para a comercialização desses produtos a facilidade de transporte e conservação.

Couros

Como nos processos de produção da graxa e do sebo, igualmente, o do couro sofreu alterações. Na primeira metade do século passado estacava-se o couro no chão para secar, dando-lhe o competente declívio para deixar correr as águas.

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O AMBIENTE CONSTRUIDO NA VISÃO DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX 191

Barraca de Couros

O tratamento do couro, no último quartel do século XIX, era equivalente ao do rio da Prata. Couty falou dos banhos em tanques de salmoura, já referidos anteriormente. Ao sair da fossa, os couros eram amplamente polvilhados de sal e dobrado em dois, de maneira que os pelos ficassem para o lado de fora. Eram dispostos, um ao lado dos outros, em camadas de couros alternadas por camadas espessas de sal. Instalavam-se num edifício especial ou barraca, em pilhas muito grandes, retangulares ou quadrangulares, geralmente pouco elevadas, contendo de dez a 15 camadas expostas umas sobre as outras. Uma vez salgado e empilhado, o couro conservava-se por longo tempo.

Porto

Na análise realizada por Couty, existia um equilíbrio entre o tamanho das charqueadas, o que não ocorria com os saladeros. Apesar do autor ter dito que não existia um modelo para as charqueadas, acreditamos que este expressou uma tipologia para a distribuição espacial. Indicou os elementos cerâmicos, pisos e paredes de tijolos e telheiros, como o material de construção mais utilizado. Definiu um programa mínimo de necessidades e um fluxograma. Explicitou que a mangueira de matança, a cancha e os galpões formavam um único segmento, nas mais diversas formas e volumes. Ao contrário, a graxeira e a barraca dos couros ficavam relativamente afastadas. Anotou, dentro do programa de necessidades a presença de um porto.

Essa situação favorecia o transporte das mercadorias, mas as águas serviam, também, para lançar sangue, vísceras, pulmões, rins, fígados, excrementos, etc. de 600 bois/dia por charqueada, média entre 200 a 1.000 bois, ou 6,5 toneladas diárias de sangue por charqueada, 600 bois/dia X 11 litros de sangue. Esses valores podem vir a ser multiplicados por 30, que foi o número calculado de fábricas em funcionamento, quando do levantamento do técnico francês. Dreys, no fim de seu texto concluiu que uma charqueada bem administrada é um estabelecimento penitenciário. Além de toda a rudeza do trabalho e do tratamento dado à população servil, do mau cheiro continuadamente reinante, nos períodos de safras, da sujeira e da presença de feras e animais peçonhentos e pestilentos, o espaço interno da produção do charque acompanhava o quadro macabro, tétrico, fétido e pestífero que dominava o seu meio ambiente.

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Capítulo 24

DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES

CHAVES∗∗∗∗

A escolha desta charqueada, como objeto de levantamento arquitetônico e de prospecção arqueológica, deu-se por vários razões: a figura polêmica de seu primeiro proprietário; as observações de Saint-Hilaire; o alto número de charqueadas onde está inserida, em torno de 67% dos saladeiros pelotenses encontravam-se nas margens do arroio Pelotas; etc. Os critérios seletivos foram outros dois: apresentar um maior número de construções aparentes, entre os estabelecimentos saladeiris pelotenses e estar na iminência de desaparecer.

O espaço da produção dessa charqueada faz parte de um loteamento residencial. No início do verão de 1991, época dos levantamentos estava na fase de terraplanagem. Daí, a necessidade de agir com urgência e rapidez. Também, foram tomadas as iniciativas de comunicar esse fato aos órgãos competentes, em nível federal e municipal. Ao longo da execução dos trabalhos de levantamento, as máquinas foram soterrando e destruindo parte das estruturas. Acrescente-se a isso a retirada contínua do material de construção do local.

Foram realizados levantamentos planimétricos, evidentemente, destinados a fornecer medidas do terreno que é quase plano. Através do processo de triangulação cobriu-se o terreno estudado por uma rede de cordões que formaram triângulos e tomamos como base a medida do lado do triângulo inicial. O trabalho arqueológico fixou-se em três tanques para salga, um esgoto e duas canaletas. As estruturas aparentes encontradas foram: áreas e circulações pavimentadas; chaminé; bases para caldeiras; caixa d’água; tanques; muro; etc. As áreas e circulações estão distribuídas por todo o terreno e são de pedras e ou tijolos. O elemento cerâmico, com a exceção da caixa d’água e de alguns pisos, era o material mais utilizado nas construções. A chaminé tem a base quadrada e apresenta, na face oeste, junto ao chão, uma abertura em forma de

∗ O trabalho de campo no sítio arqueológico do espaço da produção da charqueada São João e os levantamemtos arquitetônico da residência senhorial deste saladeiro e do sobrado do estabelecimento do barão do Jarau foram realizados com recursos da FAPERGS. A prospecção seguiu sob os cuidados do Grupo de Arqueologia do CEPA/PUC-RS e teve coordenação do prof. mestrando Roberto dos Santos e do prof. mestre José Otávio C. de Souza. O levantamento arquitetônico teve a coordenação do prof. Rogério Gutierrez Filho da FAUrb/UFPel e dos arquitetos Ana Paula Farias N. de Faria e Ricardo Brod Mendez, egressos desta universidade.

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arco, que foi fechada recentemente. Possui um acabamento decorativo de tijolos, na parte superior. Três anéis metálicos fazem a sua amarração. Encontram-se três bases retangulares de dimensões variáveis, duas a oeste e uma a leste da chaminé. Essas bases possuem pinos metálicos com rosca chumbados na face superior.

Próximo a este conjunto, localiza-se uma caixa d’água metálica, apoiada em uma base circular. As canaletas situam-se aproximadamente no eixo noroeste/sudeste e são paralelas entre si. Correm em direção ao arroio, aproveitando a declividade do terreno. As canaletas de revestimento e fechamento de acordo com a sua utilização. Os tanques acompanham os eixos definidos pelas canaletas e contam com um acabamento especial, distinto dos revestimentos internos das demais construções, provavelmente com a função de suportar o sal. Foi encontrada quantidade de cacos de telhas cerâmicas, possivelmente utilizadas nos acabamentos das canaletas e, principalmente, denunciando a existência de extensas áreas cobertas. Esse resumido trabalho de campo permitiu confirmar os recursos técnicos e materiais utilizados no espaço da produção do charque indicados pelas fontes primárias como os inventários e as observações de viajantes.

Descrição do Levantamento Arquitetônico de Duas Residências de Charqueadores, Antônio José Gonçalves Chaves e Barão do Jarau

Os critérios de seleção das duas moradias acompanham os definidos para a escolha do espaço da produção. As residências compartilhavam do mesmo terreno da elaboração da carne salgada, guardadas as suas especificidades. A casa de Gonçalves Chaves localiza-se na margem direita do Pelotas, no cerne do núcleo saladeiril pelotense, na sesmaria do Monte Bonito; a vivenda do barão, situa-se na orla esquerda do mesmo arroio, junto a estância do Laranjal, na sesmaria de Pelotas. A primeira possui um pavimento, a segunda dois. A São João vem servindo de moradia a diversos donos; a outra, à família Assumpção. Ambas apresentam marca de fases sucessivas modificações, aumentos da edificação e implantação destacada das outras construções, a poucos metros do curso d’água, em cota não alagadiça. Igualmente, as duas casas foram localizadas mais perto da nascente do arroio, de maneira que os dejetos da própria fabricação não viesse a interferir nas suas funções.

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Figura 41 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Implantação do espaço da produção.

Figura 42 – Levantamento arqueológico da

charqueada São João. Detalhe nº 1 [canalete].

Figura 43 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 2 [tanque]. Detalhe nº 3 [canalete].

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Figura 44 – Levantamento arqueológico da charqueada São

João. Detalhe nº 4 [tanque].

Figura 45 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -

plantas].

Figura 46 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto -

cortes]. Detalhe nº 6 [canalete].

Figura 47 – Levantamento arqueológico da charqueada São João. Detalhe nº 5 [esgoto - corte].

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A Moradia de Gonçalves Chaves

O partido arquitetônico, o tipo de solução físico-espacial, que resultou com o passar dos anos, configura-se de maneira a conservar um pátio fechado no centro, em um único pavimento. As alterações, exceto os vitrais não chegam a interferir significativamente na unidade formal das partes entre si e isoladamente. Nas fachadas, a relação entre cheios e vazios, harmonia, equilíbrio, ritmo, etc., bem como o tratamento dos linhais, seguem os princípios das edificações do período colonial. Os pilares possuem a finalidade de sustentar a estrutura do telhado. São tijolos assentados com barro, dispostos lado a lado em duas fitas na direção leste/oeste. Os da primeira fase da construção aparecem embutidos na parede. Delgados pilares metálicos foram colocados para sustentação da varanda do pátio central.

Além da utilização de grandes vãos, a característica mais destacável da estrutura da cobertura é a originalidade da técnica de utilização dos materiais. Sobre as tesouras de toras demadeira falquejadas, desbastadas manualmente até formarem seções retangulares, estendem-se as terças de eucalipto, que se sobpõe aos caibros para que não vergem. E, sobre estes, ripas feitas de lascas do mesmo material. Em cima do madeiramento, a cobertura é embasada com telhas de barro tipo capa/canal. Nas pontas dos espigões, existe uma telha recortada na forma de uma lança que aponta para cima. Recentemente, nas extremidades das cumeeiras, foram colocadas pinhas de cerâmicas. A cobertura de duas águas se pouco projeta no espaço externo e acompanha a forma do partido arquitetônico.

As paredes internas têm funções estruturais ou servem para dividir os compartimentos. Apresenta, espessuras diferentes. O tijolo da primeira etapa, de 13X32cm, resultou em paredes internas rebocadas de 17 a 18cm e de 35 a 40cm se forem ou tiverem sido externas. Em uma outra técnica, construíram-se paredes de 10cm de espessura, executadas em estuque, cuja trama de madeira é coberta por fina camada de reboco. Pela divisão interna da residência e pelo tipo e/ou falta de acabamento e forro foram distinguidas as áreas de serviço.

A distância entre o piso e o forro, medida conhecida como pé direito, dos compartimentos mede em torno de 3,30m. Os forros são de diversos tipos, seja pelo fato de terem sido executados em períodos deferentes, seja devido à finalidade de hierarquizar a função exercida em cada peça. Essa diferença é dada pela presença e tratamento da tabeira. Dos pisos originais, pouco restou. São encontrados alguns de madeira, em mau estado de conservação, apodrecidos e atacados pelo cupim. O conjunto de aberturas apresenta vários tipos de esquadrias: vitrais foram colocados nos últimos tempos; as janelas são de dois tipos - guilhotina e de abrir com duas folhas. São fechadas interiormente com postigos, ou com venezianas no exterior. Em todos os casos, foram reformadas. As portas internas possuem bandeira fixa. Existem portas de diversas épocas. Mais de um tipo de fechadura é encontrado em uma só porta, o que mostra a permanência e a evolução do uso.

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Figura 48 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Implantação geral.

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Figura 49 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Planta baixa.

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Figura 50 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações leste/oeste.

Figura 51 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Elevações norte/sul.

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Figura 52 – Levantamento arquitetônico da charqueada São João. Corte AB/CD.

O Sobrado do Barão do Jarau

O sobrado foi construído para o barão do Jarau quando este tinha cinco anos, em 1834. Foi levantado junto à casa térrea existente. Vários aumentos e modificações ocorreram durante esse tempo. Exceto os últimos herdeiros, que atualmente lá residem, segundo parece, os demais usaram o sobrado como casa de veraneio. No período que funcionava a charqueada a família ali permanecia durante a safra. O prédio mais antigo sofreu desabamento parcial da cobertura. Os reparos modificaram os caimentos de telhado e alteraram o perímetro da residência. A unidade formal do conjunto das edificações foi fragmentada em uma de suas parcelas. Entretanto, continuam legíveis as procupações formais das fachadas como, simetria, ritmo, a relação entre cheios e vazios, tratamento dos cunhais, etc.

Posteriormente, houve aplicação de adornos de massa sobre as vergas de todas as aberturas das fachadas leste e norte. Esta última localiza-se em frente ao arroio Pelotas. Por ter sido o curso d’água a via de acesso, a fachada norte era considerada a principal. Recebeu um medalhão com a data da construção do sobrado sobre a bandeira do império do Brasil. Provavelmente, a maioria das esquadrias mantém as dimensões originais. Não foi possível detectar as janelas originais. Existem janelas de guilhotina e de abrir de duas folhas, que possuem postigos internos ou venezianas externas. Independente da época em que foram colocadas, assumem esta ou aquela solução. Da mesma forma aparecem ou não elementos de ferro na parte superior das janelas.

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As fachadas sul e oeste localizam-se junto ao pátio. Possuem janelas tipo guilhotina, que foram alteradas; a parte superior em forma de arco, apresenta, hoje, a verga reta, e, portanto, o desenho das aberturas apresenta a forma retangular. As portas internas, com raras exceções, permanecem as primitivas, com a parte superior, bandeira fixa, em madeira maciça ou em vidro. No pavimento superior existem paredes divisórias de estuque, construídas com uma técnica diferente da comumente encontrada. Ao contrário da malha usual, as paredes de estuque são estruturas com tábuas de madeira fixadas nos barrotes, lado a lado, nas duas faces, ficando um vazio no seu interior. Provavelmente, sobre estas tenham sido pregadas ripas de madeira chanfradas, com a função de reter a argamassa do reboco.

As paredes de sustentação, internas e externas, foram construídas em alvenaria de tijolos e, as mais antigas, argamassadas com barro. Um número maior de tijolos medem 13X32cm. As paredes externas, no primeiro pavimento, chegam a ter 80cm de espessura, no segundo piso, 60cm. Posteriormente, para reforço da estrutura, foram colocados tirantes nas paredes da parte mais recente do sobrado. Hoje, a estrutura do prédio de dois pavimentos, na área onde está localizada a cozinha, apresenta riscos de desabamento. Devido à dimensão do vão, para reforço das estruturas, onde atualmente se localiza a sala do sobrado, foi colocado um esbelto pilar metálico.

Até onde pudemos verificar, a estrutura das fundações é de tijolos. O que não desfaz a possibilidade de se encontrar outros materiais em camadas mais profundas, como evidencia o uso de pedras de granito na ruína próxima à residência. A estrutura da cobertura do prédio mais antigo, devido ao desabamento, é recente. Houve aproveitamento das telhas e mudança no madeiramento. Na estrutura do telhado do sobrado, permanecem as tesouras e as terças de madeira falquejadas. Os caibros e eucalipto apresentam contrafeitos, mudança do caimento da parte inferior da cobertura. O telhado de valadio, de telhas soltas, sem rejunte, necessita também de reparos.

A planta resultante do conjunto de prédios tem a forma aproximada de um “L”. Um pátio murado fecha a lateral do conjunto. No interior das edificações, acabamentos, forros, materiais de revestimento de paredes, pisos, etc. foram escolhidos de acordo com o uso e a hierarquia dos ambientes. Os forros possuem ou não tabeira. Dentre os revestimentos de paredes, destacam-se a escaiola, uma mistura de gesso e cola que imita pedra, de um dos banheiros, e o afresco junto a tabeira de um dos compartimentos. Muitos pisos foram trocados, outros revestidos de vinil. Também não é bom o estado de conservação dos pisos originais.

Os pátios encontrados nas duas residências se justificaria pela necessidade de proteção e refúgio da família do charqueador, bem como a segurança no convívio com os escravos. Permitiria o isolamento em relação a animais bravios ou pestíferos e um certo afastamento do mau cheiro reinante naqueles ambientes. Ao contrário, numa outra alternativa de ocupação, os pátios serviriam de área destinada a clausura dos escravos domésticos e de ofícios. Ao atentar para esta última proposta, observamos que as paredes que encerram este ambiente tem a mesma espessura das paredes externas, evidenciando os problemas tanto a nível da segurança externa como interna. O perigo tanto poderia vir de fora como do interior da própria moradia.

Somente o estudo sistemático das poucas residências restantes poderia definir suas soluções tipológicas. Porém, a partir das descrições realizadas, podemos levantar algumas hipóteses e tecer algumas tendências que, pelas simples observações as residências remanescentes, não podem ser generalizadas. Em um ou dois pavimentos, através de aumentos sucessivos, o partido arquitetônico ia configurando um pátio. A

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tipologia formal correspondia às mesmas soluções encontradas no resto do país. Em poucos e determinados detalhes técnico-construtivos, podemos observar soluções singulares. Os aspectos referentes ao conforto ambiental, instalações, móveis precisam ser observadas, etc. Destacamos uma uniformização no que diz respeito a critérios de implantação da residência, paredes de tijolos de 13X32cm argamassados com barro, coberturas de telhas cerâmicas.

Quanto às construções destinadas à produção da carne salgada e moradia dos escravos, somente em poucos locais acham-se hoje alguns vestígios das construções. Uma chaminé, uma caldeira, o piso de uma cancha são encontrados aqui ou ali, ao longo do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo. O trabalho de levantamento das estruturas remanescentes confirmaram as informações contidas nas fontes primárias. Destacaram os elementos cerâmicos como os materiais da construção mais utilizados tanto nas instalações fabris como nas casas de moradia dos senhores.

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Figura 53 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Implantação geral.

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Figura 54 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 1º pavimento.

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Figura 55 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Planta baixa 2º pavimento.

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Figura 56 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação leste/corte EF.

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Figura 57 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação norte/corte AB.

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DESCRIÇÃO PARCIAL DO ESPAÇO DA PRODUÇÃO DA CHARQUEADA DE ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES CHAVES 209

Figura 58 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação sul/corte CD.

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Figura 59 – Levantamento arquitetônico. Sobrado do barão de Jarau. Elevação oeste/corte GH.

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Conclusão

O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE

A sesmaria do Monte Bonito, que se localizava no final da serra do Mar, conhecido como serra dos Tapes, entre os arroios Santa Bárbara e Pelotas, na margem norte do canal São Gonçalo, ligação natural entre a laguna dos Patos e a lagoa Mirim, no sul do continente americano, teve um desenvolvimento diferente das demais terras, situadas na região. Nessa área, os portugueses assentaram o cerne de sua produção charqueadora escravista meridional.

No Monte Bonito, nos dois primeiros meses de 1781, doaram-se 19 datas de terras ribeirinhas. Os terrenos começaram a ser subdivididos, no seu sentido longitudinal, e transformados num conjunto de 30 fábricas de salgar carnes contíguas. Fundamentalmente, o núcleo charqueador pelotense constituiu-se dos estabelecimentos saladeiris, do Logradouro Público, da Tablada, da cidade, do passo dos Negros, das datas de matos, na serra dos Tapes, das vias hidrográficas, com seus sistemas de portos e trapiches e das vias terrestres com suas pontes e passos.

No Rio Grande de São Pedro do Sul, os terrenos marginais da sesmaria serviram como um dos abrigos do sistema escravista. O espaço da produção do charque apresentava um quadro macabro, fétido e pestilento. Nesse lugar, imperavam vísceras, sangue, excrementos, ossos e animais pestíferos e ferozes. Reinava o mau cheiro. Ilhas de imundícies, proliferavam nos terrenos encharcados da fabricação da carne salgada e de seu subprodutos. A população cativa vivia nessas condições ambientais, sob um regime carcerário e num ritmo de produção fabril. De novembro a maio, quando o gado estava mais robusto e os dias eram os mais quentes do ano, trabalhavam da meia noite ao meio dia. Nos outros meses, possivelmente, produziriam nas olarias existentes nas charqueadas ou impulsionariam a construção de prédios na cidade.

A implantação, situação, localização e organização espacial do núcleo charqueador pelotense foram determinadas por inúmeras questões. Entre estas últimas, destacamos: as expansões desenvolvidas pelas coroas ibéricas; o regime de doações de terras na sesmaria do Monte Bonito; as especificidades da escravidão nas charqueadas. Por isso, a análise dessa área fabril extrapolou o estudo individual dos estabelecimentos saladeiris.

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Ocupação Ibérica

Quando os europeus chegaram ao território do atual Rio Grande do Sul encontraram, por uma das suas classificações, três grupos de habitantes nativos: os tupis-guaranis; os gês e os guaicurus. A ocupação espanhola na área do Prata seguiu dois caminhos: um, pelo norte, descendo a América Central, margeando a costa do Pacífico, e o outro, que partia de Buenos Aires, tomava o rumo do Paraná e do Paraguai e, no vale da bacia do Uruguai, ia em direção ao ocidente, chocando-se com as correntes portuguesas. Primeiro, o expasionismo da coroa lusa levou à realização de várias expedições marítimas, que navegavam no sentido do litoral banhado pelo Atlântico.

Depois, as investidas terrestres ficaram por conta dos bandeirantes paulistas, que, como os encomenderos espanhóis e os padres da Companhia de Jesus, vinham à procura dos nativos. Apesar do tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, este pedaço de terra continuou na disputa entre as monarquias ibéricas, quase sempre mediadas pelas conveniências dos papas, interesses da França, da Inglaterra, da Holanda, entre outras potências, e de toda uma população que não pertencia a nenhuma coroa, como bucaneiros, mercenários, bandos tropeiros, escravos africanos e nativos.

De 1580 a 1640, houve a unificação das coroas ibéricas. Quarenta anos mais tarde, em 1680, os portugueses fundaram a Colônia do Sacramento, no rio da Prata, na frente de Buenos Aires. Depois do rio Amazonas, o Mar del Plata era a segunda e última entrada para o interior do continente sul-americano. O nome do rio representava o acesso aos produtos das minas de prata andinas e a todos os negócios, tráficos, contrabandos que navegavam naquele rico mar interior.

Vacarias

Em 1636, os sucessivos ataques mamelucos portugueses determinaram fim às reduções jesuíticas, localizadas na margem esquerda do rio Uruguai. No último ataque, foram vencidos, o gado, abandonado pelos padres e guaranis, reproduziram-se, formou rebanhos enormes, avançou até as margens da lagoa Mirim, alcançou o rio da Prata e originou a vacaria do Mar. Levando alguns animais, os missioneiros migraram para as regiões dos rios Paraná e Uruguai, dando origem à vacaria de Cima da Serra ou dos Pinhais, consolidando um tipo de desenvolvimento econômico para a área platina.

Estradas

Em 1703, Domingos Filguera realizou a primeira caminhada conhecida entre a Colônia do Sacramento e Laguna, inaugurando o que seria chamado de Caminho da Praia, na costa do Atlântico. Dependendo da posse do território, a estrada que

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O MONTE BONITO COBRIU-SE DE SANGUE 213

acompanhava o mar servia mais aos portugueses, ou, mais aos espanhóis. Nos dois casos, no Caminho da Praia circulavam tropeiros, mercenários, marginais, contrabandistas, etc. Ao norte, no interior, a estrada do Planalto seria consolidada em 1730, permitindo que o transcurso entre Laguna e Curitiba fosse realizado em menos de um mês, pelas tropas de gado. Em 1727, Bruno Maurício de Zabala, governador de Buenos Aires, adiantou-se às intenções dos portugueses e fundou Montevidéu, entre Colônia e Laguna.

O Espaço da Comandância Militar do Rio Grande

A retaguarda portuguesa, instalada em 1737, pelo brigadeiro José da Silva Pais, chamou-se presídio Jesus-Maria-José. A povoação do Porto, onde se localizava o presídio, deu origem à atual cidade de Rio Grande. Estabeleceu-se uma região ocupada militarmente. Estendia-se do serro de São Miguel, no limite sul, até a guarda do arroio Tramandaí, no norte. Os fortes de São Miguel, Porto e Estreito; as guardas do Chuí, Taim, Albardão, Passo Novo, Arroio, saco da Mangueira, Viamão e Tramandaí e as estâncias de Bojuru e Torotoma formavam o espaço da Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro do Sul. Essas edificações, construídas com o trabalho servil dos tapes, e, em menor número, por negros escravizados, representaram a defesa, o controle, a fiscalização, a cobrança de impostos, o alcance dos rebanhos platinos, a posse do território, o acesso às vias hidrográficas da bacia da laguna dos Patos e da lagoa Mirim.

No mesmo período da instalação da Comandância Militar, iniciaram as doações de sesmarias, com a conseqüente fixação de estâncias, e registraram-se as primeiras notícias sobre charqueadas artesanais no Rio Grande. As terras da planície costeira foram ocupadas pelas forças militares do poder colonial português. As áreas por onde passava a estrada do Planalto vieram a ser doadas, pelo governo de São Paulo, àqueles tropeiros que, em grupos, munidos de armas, enfrentaram os espanhóis, escravizaram nativos, transportaram animais, abriram caminho entre o rio da Prata, São Paulo, Minas Gerais e asseguraram o domínio luso.

Permanência Espanhola em Rio Grande. Tratado de Santo Idelfonso

Entre 1763 e 1776, dom Pedro Ceballos, capitão-general e Governador das Províncias do Rio da Prata, permaneceu em Rio Grande. Em 1777, foi firmado o tratado de Santo Idelfonso. Até o arroio Piratini, asseguravam os portugueses, a terra pertenceria aos lusitanos. Vizinha a essa área, ficavam os Campos Neutrais, determinados pelo acordo. Configuravam um curral nativo, repleto de rebanhos de gado e grupos de homens armados, que vagavam por aquela língua de terra, banhada, longitudinalmente, pela lagoa Mirim e pelo oceano Atlântico.

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Nas andanças entre as terras espanholas, que ficavam ao sul do arroio Chuí, e a área portuguesa, ao norte do arroio Taim, aprisionavam, transportavam, coureavam os rebanhos e faziam contrabandos. A terra de “ninguém”, instituída pelo tratado, que deveria ser uma área desocupada e de proteção às duas colônias, era, ao contrário, povoada de gado e de bandos de homens que viviam circulando por esse território.

Propostas de Ocupação

Três propostas de ocupação, para a área contígua aos Campos Neutrais, puderam ser verificadas nos textos de Francisco João Róscio, engenheiro militar, escrito entre 1774 e 1775; Sebastião Francisco Bettamio, secretário da junta da Fazenda do Rio Grande do Sul, encaminhado ao vice-rei, em 1780, e as observações realizadas por Moniz Barreto, em 1778. No primeiro documento, Roscio avaliava em 50.000 cabeças as vacas errantes, nas cabeceiras do rio Negro, e atentava para os rebanhos existentes na faixa de terra entre a Mirim e a costa do mar. Em seguida, fez considerações sobre as vantagens da região da lagoa Mirim sobre a vila de Rio Grande, quanto à segurança e aos recursos locais. Falou da qualidade da terra e da abundância dos materiais de construção, como madeiras, barros e pedras.

O trabalho do secretário da junta da Fazenda do Rio Grande, contendo as mesmas observações do engenheiro, indicou os nativos para trabalharem no corte da madeira, na elaboração de tijolos e telhas de barro e na extração e quebra da pedra. Quanto à localização, foi explícito: determinou um campo chamado das Pelotas.

Chamou a atenção para o freqüente sepultamento dos edifícios de Rio Grande pelos combros de areia. Enquanto isso, Moniz Barreto já tinha proposto que as carnes salgadas fossem exportadas e, ao contrário do que se vinha fazendo, que as terras fossem repartidas em muitas pequenas fazendas. Coincidentemente, ou não, com esses autores, na sesmaria do Monte Bonito, entre janeiro e fevereiro de 1781, começou a distribuição formal de 19 terrenos marginais.

Serro Pelado

O distrito do Serro Pelado, através do São Gonçalo e da Mirim, tinha acesso fluvial à Banda Oriental do Uruguai; pelo canal e laguna dos Patos, possuía o alcance lacustre ao porto marítimo de Rio Grande. Encerrava quantidade de madeira, pedra e argila, necessárias à construção. Continha habitantes foragidos do período de permanência espanhola e situava-se nas proximidades dos Campos Neutrais. A margem norte do sangradouro da Mirim, a área compreendida entre a laguna dos Patos e o arroio Pavão, ou do Contrabandista, afluente do Piratini, era intercalada pelos arroios de Pelotas, Santa Bárbara, Fragata, Padre-Doutor ou São Tomé e Pavão.

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As terras doadas levaram em conta os limites naturais, os cursos d’água, e limitaram, respectivamente, as estâncias de Pelotas, Monte Bonito, Santa Bárbara, São Tomé, Santana e Pavão. As sesmarias no distrito do Serro Pelado estavam afetas ao brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, dono da fazenda do Pavão, que, como Comandante da Fronteira do Rio Grande, era quem dava informações no processo de doações de terras. A posse oficial das sesmarias iniciou em 1780. Neste espaço, puderam ser contadas em torno de 40 charqueadas, sendo sete na sesmaria de Pelotas, 30 na do Monte Bonito, uma na de Santa Bárbara, uma na do Fragata e mais uma na do Pavão.

Estância, Charqueada e Olaria

Com exceção da sesmaria do Monte Bonito, as charqueadas situadas no Serro Pelado estavam dispersas, localizadas junto aos espaços dedicados à criação de animais. Em todas as situações, instalavam-se nas margens de um dos arroios. As águas serviam de vias hidrográficas e, ao mesmo tempo, de esgoto. O espaço desses complexos pecuários era constituído, quase sempre, de duas áreas: o campo, destinado aos rebanhos de gado, e o terreno onde funcionava a salgação das carnes e de seus subprodutos, compartilhado, na maioria das vezes, por olarias. Parece que essa segunda atividade, a produção de elementos cerâmicos, seria alternativa à primeira.

A Escravaria das Estâncias, Charqueadas e Olarias

As unidades compostas de estância, charqueada e olaria tinham de 30 a 150 escravos; mais da metade do plantel trabalhava no espaço fabril. Quase dez por cento do total de cativos dedicavam-se às lides campeiras, e outros, quase dez por cento, trabalhavam como domésticos. Mais de 70% desse trabalhadores eram especializados. As mulheres, as menos qualificadas para o trabalho, representavam 16%, as crianças ficavam em 2% dos escravos.

Os dados referentes à população servil desses empreendimentos, reforçam a hipótese de que os senhores preferiam investir em novas “peças” a apostar na reprodução dos cativos; afastam a possibilidade de o casamento ser usual entre os escravos e questionam o discurso da dificuldade de qualificação da mão-de-obra servil. Observou-se, na segunda metade do século passado, através da análise de dois ou três inventários de uma mesma propriedade, a redução de escravos. Tal tendência não pôde ser verificada nas fábricas do Monte Bonito.

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Sesmaria de Pelotas

O rincão de Pelotas havia sido doado, em 1758, ao tenente-coronel português Tomás Luís Osório, por heroísmo na guerra contra os guaranis das missões jesuíticas. Três anos depois, ele foi encarregado de orientar a construção da fortaleza de Santa Tereza e de defender o território de Castilhos. Sem reagir, entregou o forte aos espanhóis.

Julgado e executado em Portugal, coube à viúva e aos filhos, em 1799, vender o rincão ao capitão-mor Manuel Bento da Rocha, fornecedor do exército e militar das forças de Rafael Pinto Bandeira. Além, da fazenda de Pelotas, no distrito do Serro Pelado, dispunha das estâncias de Correntes e de São Lourenço. Junto com os seus agregados, possuía em torno de 16% do rebanho do lugar.

A sesmaria de Pelotas, ao longo do século XIX, resultou em cinco fazendas e sete charqueadas. As fazendas chamavam-se: Patrimônio ou Sá; Graça; Palma; Galatéia; Laranjal ou Nossa Senhora dos Prazeres. Uma das charqueadas localizava-se no Laranjal. As outras seis, na margem esquerda do arroio Pelotas, nos seguintes locais: na Graça; no Moreira; na Costa; no Fontoura; no Castro e na Palma. Manuel Bento da Rocha era casado com Isabel Francisca da Silveira. A mulher do capitão-mor, suas irmãs, sobrinhas, sobrinhas-netas e bisnetas criaram uma rede intrincada de contratos de casamentos e propriedades na região.

Isabel e Manuel Bento não tiveram filhos. Depois do falecimento do capitão-mor, a viúva administrou a estância até a sua morte, no ano da independência do Brasil. Por testamento, destinou parcialmente a fazenda de Pelotas a duas sobrinhas-netas e afilhadas, as irmãs Maria Regina da Fontoura e Isabel Dorotéia da Fontoura, netas de sua mana, Maria Antônia, casada com Maurício Inácio da Silveira, e filhas de Dorotéia Isabel da Silveira e do capitão de dragões José Carneiro da Fontoura.

Maria Regina da Fontoura casou-se com o lisboeta João Duarte Machado. Eles foram pais de José Maria e de Manuel Bento, donos da charqueada do Fontoura, e de Maria Augusta da Fontoura, casada com outro português, Joaquim José Assumpção, e proprietários do saladeiro da Costa e da fazenda do Laranjal, sendo, esses últimos, pais do barão do Jarau. A outra herdeira, Isabel Dorotéia da Fontoura, casou com João Simões Lopes, outro lusitano. Eles foram pais do visconde da Graça, avós do conhecido escritor João Simões Lopes Neto e senhores da estância, charqueada e olaria da Graça. Sucessivamente, foi sendo constatado o parentesco entre as famílias proprietárias. Percebeu-se que as terras eram doadas a militares e a padres. Esses homens casaram suas filhas, sobrinhas, afilhadas, netas com portugueses, recém chegados à colônia. Os filhos desses casamentos constituíram a nobreza do charque.

Sesmaria do Monte Bonito

Nos primeiros dias de 1779, o tenente de dragões Manuel Carvalho de Souza recebeu a sesmaria do Monte Bonito. Um ano e três meses depois, vendeu-a ao vigário de Viamão, Pedro Pires da Silveira. Em 2 de abril de 1781, o vigário passou a

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propriedade ao alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. O alferes era casado com Maurícia Inácia da Silveira, sobrinha de Isabel Francisca da Silveira, dona da estância de Pelotas e filha de Mariana Eufrásia da Silveira e do sargento-mor Francisco Pires da Silveira Cazado, agregado e irmão de seu marido. Mariana recebeu seus terrenos em 1813. Na área concedida, funcionaram duas charqueadas e realizou-se o segundo loteamento da cidade.

Antes que o vigário vendesse a propriedade, no início do ano de 1781, foram doadas 19 datas de terras localizadas na margem norte do canal São Gonçalo e direita do arroio Pelotas. Eram faixas de mais ou menos 770X4.136m. Davam frente ao arroio Pelotas ou ao canal São Gonçalo, e fundos à estância do alferes Inácio Antônio da Silveira Cazado. Ao observarmos o mapa da sesmaria do Monte Bonito, consolidado ao longo do século XIX, anotamos um complexo fabril composto por mais ou menos 30 charqueadas contíguas, estabelecidas nos terrenos ribeirinhos doados; pela cidade; pelo Logradouro Publico, pelo passo dos Negros e pelas datas de matos, na serra dos Tapes.

Os Rodrigues Barcellos

A família Rodrigues Barcellos deteve o maior número de fábricas na sesmaria do Monte Bonito. Descendo o arroio Pelotas em direção ao canal, na margem direita, encontramos as propriedades dos seguintes Rodrigues Barcellos: Boaventura, com dois estabelecimentos; Inácio, com um; Bernardino, com dois, e Cipriano, também com dois. Não fez parte dessa relação a ala feminina da família que, casando-se com charqueadores e/ou vizinhos, consolidava os negócios da família, como os casamentos entre os confinantes Maria Luíza, filha de Boaventura, com João Maria, filho de Antônio José Gonçalves Chaves, e Bernardina, filha de Bernardino, com o tropeiro que veio de Minas Gerais, Domingos José de Almeida, e se tornou ministro da Fazenda da República do Piratini.

Enlaces

Quando os terrenos ribeirinhos, da sesmaria do Monte Bonito, transformaram-se em fábricas, seus proprietários eram lusitanos, ou procedentes de outras províncias, dos demais distritos do Rio Grande ou, então, da Colônia do Sacramento. Alguns possuíam estâncias e até mesmo saladeiros na Banda Oriental do Uruguai. Casavam suas filhas com portugueses, ou descendentes desses, recém-chegados ao Rio Grande, ou com vizinhos, como no caso do casamento do português Antônio José Gonçalves Chaves, com Maria do Carmo Secco, nascida no Povo Novo, filha do lusitano e conhecido charqueador, confinante de Chaves, Joaquim José da Cruz Secco. Os contratos matrimoniais criaram uma rede de parentesco entre os empresários dos estabelecimentos marginais da sesmaria do Monte Bonito. Diferentemente dos nobres

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senhores criadores e charqueadores, o título recebido pelos simples fabricantes da carne salgada restringiu-se à Comenda.

Complexo Fabril

A distribuição dos espaços acompanhava a topografia, a vegetação, a geografia e a geomorfologia e adequava-se aos interesses econômicos, sociais e políticos. Enfim, os limites eram naturais e, portanto, não muito precisos. As medidas variavam com os caprichos da natureza e o sabor dos poderes.

A estância do alferes Antônio Inácio da Silveira Cazado foi empurrada para a serra. Os charqueadores concorreram com modestos agricultores e receberam terras na serra. O Logradouro Público estava situado no centro da planície descampada, que separava os arroios Santa Bárbara e Pelotas. A cidade implantou-se em um terreno plano, de mata pantanosa e linhas de areias. As fábricas fixaram-se nas várzeas alagadiças, superfícies constituídas de aluviões mal drenados, ricas em argila e matéria orgânica, áreas marginais do arroio Pelotas e do canal São Gonçalo.

Passo dos Negros

O passo dos Negros, localizado no São Gonçalo, próximo da boca do arroio Pelotas, era o local de passagem do gado que vinha dos Campos Neutrais, de fiscalização, cobrança de impostos e de comercialização de escravos. Inicialmente chamado de passo Rico, chegou a ter um projeto de povoação, com seis quarteirões.

Datas de Matos na Serra dos Tapes

As datas de matos na serra dos Tapes foram concedidas aos charqueadores em 1800. Ali, mais que a agricultura, extraía-se todo o tipo de madeira, que ia para as fábricas, para alimentarem as caldeiras e fornalhas a vapor, utilizadas na fabricação de graxa e sebo. Parte da madeira seguia para a construção civil, na cidade.

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A Cidade

Três correntes disputaram a localização da sede de São Francisco de Paula, atual Pelotas. A implantação da cidade era defendida conforme o vínculo que os grupos tivessem com a posse da terra. Em 1813, Antônio Francisco dos Anjos, dono da charqueada e estância do Fragata, e o padre Felício fizeram um acordo e começaram a construção da casa do vigário e da igreja, em terras do capitão-mor Antônio dos Anjos, que, originariamente, eram continuação da charqueada que pertenceu a José Gonçalves da Silveira Calheca. Antônio Francisco dos Anjos, padre Felício, filho do alferes de ordenanças da Colônia do Sacramento Felix da Costa Furtado de Mendonça, dono da estância de Santana, e o tio do padre, cunhado alferes, vigário de Rio Grande, padre-doutor Pedro Pereira de Mesquita, proprietário de terras lindeiras à estância de Santana e à charqueada do Fragata, eram vizinhos, amigos e originários da Colônia do Sacramento.

Por isso, parece ter sido fácil fechar o acerto que permitia a Antônio dos Anjos aforar os terrenos na volta da casa do padre e da igreja, onde iniciou a crescer o casario da nova freguesia. Naquele ano, a medição e o desenho reticulado foram realizados pelo piloto Maurício Inácio da Silveira, que levou em conta, em seu traçado, as divisões dos terrenos fabris. Em 7 de novembro de 1827, o inventariante das terras do casal capitão Francisco Pires Cazado e Mariana Eufrásia, entregou os terrenos doados para servidão do povo de Pelotas, obrigatórios para a instalação do segundo loteamento. As construções urbanas cresciam em direção ao canal de São Gonçalo.

Logradouro Público. Tablada

As “sobras” destinadas ao Logradouro Público, facilitaram o comércio do gado. Ficavam por conta dos estancieiros e de seus peões as desvantagens do transporte dos rebanhos. Depois da viagem, das dificuldades, das perdas, do emagrecimento do gado, e ao lado de muita oferta, ficava difícil aumentar o preço do boi. Com o dinheiro conseguido pelas vendas nas mãos, compravam o que lhes abastecesse até o próximo ano, procuravam determinados serviços e escolhiam algum tipo de divertimento. Essas atividades impulsionaram o desenvolvimento urbano. Os navios que levavam o charque traziam mercadorias. Comerciantes, artesãos, profissionais de todos os tipos se estabeleciam.

Em 19 de agosto de 1825, foi instalado o Logradouro Público da povoação de São Francisco de Paula. Em 1851, foi medido judicialmente. A câmara municipal de Pelotas havia denunciado os charqueadores que avançaram com seus terrenos sobre o Logradouro Público. No sentido longitudinal, alcançava quase os 9.000m; no transversal, na parte mais larga, 1.500m e, na mais estreita, 400m. Daí, fechava-se um triângulo, que determinava a Tablada. Definia-se como um espaço central, limitado a leste pela fazenda do Monte Bonito e pelas charqueadas do São Gonçalo e do Pelotas.

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Charqueadas e Olarias do Monte Bonito

As charqueadas eram compostas de dois ou três terrenos intercalados por estradas. Junto ao Logradouro Público, localizava-se o potreiro dos fundos, depois o potreiro do meio e, por fim, o terreno da charqueada. O gado ia da comercialização de potreiro em potreiro até alcançar a mangueira de matança, onde era abatido. Daí, ia para a cancha, onde terminava de ser morto, era esfolado e esquartejado.

Nos galpões, realizava-se a desossa, o chaqueio, a salgação e as pilhas de carne e sal que aguardavam para serem colocadas nos varais. A linha de produção dos subprodutos do charque era composta pela graxeira, pelos tanques e pelas barracas para os couros. As charqueadas possuíam portos e os charqueadores, iates para o transporte dos produtos até o porto de Rio Grande, onde trocavam de embarcação para atingirem o mar.

No mesmo terreno da produção do charque, em algum galpão, junto à graxeira, à tafona, ou a qualquer outra das benfeitorias, localizava-se a senzala. Um pouco mais afastada, estava a casa do senhor; um pomar de espinhos, ou chácara, ficava próximo à morada, ou no potreiro do meio. Mais um estabelecimento de olaria completava o programa de necessidades das fábricas.

As primeiras construções eram de pau-a-pique e tinham cobertura de capim. Os galpões das olarias eram construídos com esses materiais. Com a produção desses estabelecimentos, pisos, caminhos, circulações, tanques, canaletas de esgotos, paredes e coberturas passaram a ser feitos de elementos cerâmicos. O galpão de paredes de tijolos e cobertura em duas águas, de telhas de barro, foi o tipo de construção mais utilizado. É possível que a fabricação nas olarias e a construção civil tivessem sido uma produção alternativa à mão-de-obra escrava, nos períodos da entressafra do charque.

Qualificação da Mão-de-Obra Cativa e o Espaço da Produção do Charque

Desde os primeiros estabelecimentos do núcleo pelotense, o gado era abatido em espaço construído e equipado para esse fim, as mangueiras de matança. Até 1845, as graxas e sebos eram produzidos em caldeirões de ferro. Após essa data, foram adotadas as máquinas a vapor, o que demonstrou certo desenvolvimento na complexidade do processo produtivo, qualificação na mão-de-obra e melhoria dos produtos. A disposição dos terrenos definia um fluxograma. O gado ia desde a sua comercialização, na Tablada, até a exportação do produto, no porto de Rio Grande, nas mãos dos cativos.

Mais da metade da população servil das fábricas era especializada. Os campeiros, na mesma porcentagem que nos estabelecimentos que possuíam estância, ocupavam os potreiros, vizinhos ao Logradouro Público. Os carneadores e serventes distribuíam-se na mangueira de matança, cancha, galpões, varais e pilhas de embarque. O transporte no arroio Pelotas, no canal São Gonçalo, na laguna dos Patos e no porto de Rio Grande era realizado por escravos marinheiros.

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Metade dos senhores possuía em seu plantel marujos cativos. A outra metade, possivelmente, contrataria os serviços dos primeiros. A produção e o transporte do charque eram apoiados pela mão-de-obra de escravos de ofício e domésticos, que ajudavam na manutenção do próprio plantel de cativos, como os cozinheiros; das instalações, como os carpinteiros e os pedreiros; dos senhores e de suas famílias, como os engomadores, etc.

Escravaria nas Charqueadas e Olarias

Uma média de 54 escravos trabalhavam nas fábricas de charque; desses, 13% eram do sexo feminino. Por um lado, nenhuma menção a casamento entre os cativos foi encontrada; por outro lado, constatou-se um número reduzidíssimo de crianças escravas. Portanto, como nos empreendimentos que possuíam a criação e a matança, reafirmou-se a preferência dos empresários do charque pela compra de novas “peças”, em vez do investimento na reprodução dos trabalhadores servis.

Os carneadores e os serventes de charqueada eram os mais numerosos, com a mesma média de 15 homens em cada uma dessas especialidades. As mulheres escravas continuavam sendo as menos qualificadas para o trabalho. A quase total ausência de trabalhadores especializados no trabalho agrícola, e a presença de pomares de espinhos, chácaras ou hortas nos saladeiros, pode fazer supor que as escravas se dedicariam aos cuidados da agricultura.

Da mesma forma, a total ausência de oleiros, ao lado da presença de olarias, mais uma vez reforçou a possibilidade de a produção de elementos cerâmicos ser uma das alternativas, bem como a construção de prédios urbanos, para o período da entressafra do charque, apesar de os meses de inverno não serem os mais adequados a essas atividades. Esses indicativos podem ser constatados no investimento imobiliário urbano realizado pelos saladeiristas pelotenses.

Ambiente Construído

O entorno construído e o interior dos estabelecimentos, na visão dos viajantes do século XIX, constituiu-se num espaço macabro, fétido e pestilento. As águas serviam para despejar os dejetos, exportar os produtos, importar o sal e a mão-de-obra escrava. A localização do núcleo charqueador pelotense estava vinculada à proximidade com as vacarias e os campos neutrais; aos sistemas de vias terrestres, compostos basicamente pelo caminho da Praia e estrada do Planalto e às vias hidrográficas da lagoa Mirim e dos Patos, que pertenciam à bacia do rio da Prata.

Por toda a região platina, espalharam-se e concentraram-se saladeiros. Na sesmaria do Monte Bonito, instalou-se o cerne do núcleo charqueador da colônia portuguesa do Brasil meridional. A zonificação, distribuição das áreas por onde o fluxo

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da matéria-prima e da mão-de-obra se distribuía, bem como, a composição física dos espaços charqueadores foram decorrentes do tipo de ocupação determinada pelos interesses econômicos escravistas da coroa lusa, condicionada ao meio ambiente natural. Bandos de tropeiros traziam os rebanhos de gado para serem abatidos, charqueados, salgados e transportados pelos cativos.

A população servil, junto com os seus senhores, habitava os terrenos ribeirinhos e circulava pelo arroio Pelotas, pelo canal São Gonçalo e pela laguna dos Patos, transportando a carne salgada. O espaço da produção charqueadora pelotense foi um dos locais de consolidação do sistema escravista do Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que foi um lugar onde verificou-se a exploração violenta do trabalho cativo. O espaço fabril foi descrito como um ambiente mórbido, insalubre, que chegava a alcançar o macabro. Os vapores emanados das águas e detritos parados, dissipavam pelos ares os cheiros nauseabundos dos sangues putrefatos, dos excrementos apodrecidos, das vísceras decompostas pelo forte calor do sol, nos dias de safra. E as nuvens de fumaças, que saíam das fornalhas, exalavam o cheiro das gorduras fervidas e dos ossos carbonizados. Os urros dos animais abatidos e esfolados vivos e o som do ritmo do trabalho imposto pelos feitores nos escravos terminavam por compor o tétrico meio ambiente da produção charqueadora pelotense.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

I - Fontes

A) Mapas e Plantas 1 Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional

1.1 Seção de Iconografia

Planta da cidade de Pelotas, PEDRO GARCIA DA CUNHA, 1830. ARC - 8 - 4 - 20.

Carta das lagoas Mirim e dos Patos, NICOLAU BUJOL, 1909. ARC - 22 - 15 - 43.

Cidade de Pelotas, 1880. ARC - 3 - 9 - 7.

Cidade de Pelotas, 1880. ARC - 21 - 11- 10.

Planta da Cidade de Pelotas, 1913. ARC - 13 - 7 - 22.

Mapa da província do Rio Grande do Sul, demonstrativo do valor estratégico da cidade de Pelotas e de um novo plano geral de defesa da província, OTACÍLIO CAMARÁ,W 1887. ARC - 20 -13 - 8.

Carta hidrográfica do litoral entre a barra do Rio Grande, Lagoa dos Patos, porto de Rio Grande e Pelotas, 1878. ARC - 28 - 15 - 18 e 19.

Sudbrasilien, KART VON, 1898. ARC - 8 - 6 - 44.

Planta do rio São Gonçalo na província do Rio Grande do Sul, 1836. ARC - 8 - 4 - 20.

Planta do porto da província de São Pedro do Sul e de parte do rio São Gonçalo, levantada pela Comissão de Demarcação de Limites, 1854. ARC - 8- 1- 39.

1.2 Seção de Manuscritos

Mapas particulares extraídos da carta da capitania do Rio Grande de São Pedro e suas

circunvizinhanças até o Rio da Prata, JOÃO RÓSCIO, 1774-1778. SECÇ de MSS 5, 4, 35.

Mapa do Rio Grande de São Pedro, suas freguesias, e moradores de ambos os sexos, com declaração das diferentes condições, cidades em que se achão em 7 de outubro de 1780. 9, 4, 9, nº 134.

Mapa geográfico que da barra e entrada do Rio Grande de São Pedro discorre até o forte de Santa Tereza. 9, 2, 3, nº 3.

Planta do Rio Grande de São Pedro e seus moradores em que se mostra a entrada, bancos, lagamar e barra na forma que era no ano de 1774. 9, 2, 3, nº 2.

Planta da lagoa Mirim situada ao sudoeste do Rio Grande de São Pedro. 9, 2, 3 nº 4.

2 Rio de Janeiro. Arquivo Nacional

2.1 Seção de Mapas

Mapa dos trabalhos executados pela Comissão de Terras do Município de Pelotas. José Francisco Brito. MVOP-EB (48).

Carta indicando a linha de navegação entre a a barra do Rio Grande do Sul e Porto Alegre, 1885. MVOP-BC (10).

Planta e sondagem do Sangradouro, 1875. MVOP-BC (17).

Mapa de uma parte da América meridional. PEDRO CREMEMBBERG, 1827. MVOP-A (22)

Carta das lagoas dos Patos, Mirim e dos canais que ligam a barra do Rio Grande do Sul, LOPO NETO, 1882. MVOP-BC (136).

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Carta hidrográfica, LOPO NETO, 1878. MVOP-CB (25).

3 Rio Grande. Biblioteca Rio-Grandense

3.1 Seção de Mapas

Planta Perspectiva da barra do Rio Grande do Sul, 1775. M - C, G - 1, m - 673.

Pelotas e seus arrabaldes, 1826. M - C, G - 4, m - 1201.

Mapa do Município de Pelotas, 1828. M - C, G - 2, m - 824.

Carta esferica del Rio de la Plata, 1789. M -D, G - 3, m - 1345.

Quadro comparativo da posição e profundidade da barra do Rio Grande do Sul em diferentes épocas. 1775 - 1883. M - G, G- 9, m - 1934.

Carta demonstrativa do valor estratégico de Pelotas, do plano de defesa do Rio Grande do Sul, da seção meridional de um novo traçado para a Estrada de Ferro Recife - Valparaiso. OTACÍLIO CAMARÁ. M - B, G- 8, m - 584.

Mapa do município de Pelotas, EDMUNDO DE CASTRO LOPES, 1911. M - C, G - 2, M- 820.

Mapa particular del Rio de la Plata y sus contornos, con las situaciones de los puertos de mar de aquelas costas. M - D, G - 3, m - 1345.

4 PELOTAS. Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas

Carta cartográfica, MANUEL H. COUTO Y REYES, 1777.

5 PELOTAS. Biblioteca Pública Pelotense

5.1 Museu. Livros de Registros de Prédios e Terrenos do Município de Pelotas. Plantas dos terrenos de:

Antônio Francisco dos Anjos, arroios Moreira, São Tome e canal São Gonçalo, 1799, 1814, 1821. L. 93, p. 25.

Antônio Francisco dos Anjos, Povo de Pelotas, s.d. L. 92, p.10.

Alexandre Inácio Pires, quinhão da fazenda do Monte Bonito, 1827. L. 93, p. 175.

Alexandre da Silva Baldes, arroio Moreira, 1787. L. 93, p. 23.

Antônio José Gonçalves Chaves, estrada do Retiro, 1827. L. p. 187.

Antônio José de Oliveira Castro, arroio Santa Bárbara, 1821/1826/1842/1846. L. 93, 187.

Antônio José de Oliveira Castro e sua mulher Francisca Alexandrina da Silveira, procede da fazenda do Monte Bonito, s.d. L. 93, p. 119.

Antônio José de Oliveira Castro, arroio Pelotas, 1819/1824. L. 92, p. 84.

Padre Antônio Pereira, arroio Pelotas, 1814. L. 93, p. 65.

Boaventura, Cipriano e Inácio Rodrigues Barcellos, arroio Pelotas, 1814/1826/1827. L. 93, p. 35.

Boaventura Inácio Barcellos, arroio Pelotas, 181/1820/1827/1833. L. 93, p. 46.

Boaventura Rodrigues Barcellos, arroio Pelotas, 1814. L. 92, p. 61.

Boaventura Rodrigues Barcellos, estrada do Retiro, 1827. L. 93, p. 143.

Cipriano Rodrigues Barcellos e Cipriano Joaquim Barcellos, 1829. L. 92, p. 78.

Cipriano Rodrigues Barcellos, Logradouro Público, 1822. L. 92, p. 38.

Domingos José de Almeida, Arroio Pelotas, 1828. L. 93, p. 29.

Domingos de Castro Antiquera, arroios Correntes e Grande, 1823. L. 93, P. 35.

Eleodoro de Azevedo Souza, arroio Pelotas, s.d. L. 92, p. 88.

Francisco Antônio da Cruz Guimarães, quinhão da fazenda do Monte Bonito, 1827. L. 93, p. 167.

Francisco Pereira de Souza, arroio Pelotas, 1827. L. 93, p. 49.

Genoveva Pereira da Silva, estrada da Costa, procede das terras de Luís Pereira da Silva e Eugênia da Conceição, s.d. L. 93, p. 131.

Guilherme Rodrigues de Andrade, procede da fazenda de Pelotas, rincão do Andrade, 1821/1835. L. 92, p. 133.

Inácio Antônio Pires, arroio Santa Bárbara, 1827. L. 93, p.121.

Inácio Antônio da Silveira Cazado, fazenda do Monte Bonito, 1774/1780. L. 93, p.17.

Inácio Gonçalves Rego, procede da fazenda do Monte Bonito, 1832. L. 92, p. 4.

Inácio José Bernardes e José Pinto Martins, arroio Pelotas, 1819/1821. L. 92, p. 30.

Isabel Francisca da Silveira, arroios Pelotas, Correntes e laguna dos Patos, 1779/1812. L. 93, p. 15.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 225

Barão de Jaguari, arroio Correntes, 1831. L. 93, p. 117.

João Inácio da Silveira, quinhão do Monte Bonito, 1827. L. 93, p. 107

Joaquim Francisco Ilha, procede da estância do Pavão, 1810/1825. L. 98, p. 135.

Joaquina Fermina da Silveira, quinhão da fazenda do Monte Bonito, Santa Bárbara, 1827. L. 93, p. 55.

José Barbosa de Meneses, procede da fazenda do Pavão, 1816. L. 93, p. 43.

José Gonçalves da Silveira Calheca, São Gonçalo, 1790/1799/1815. L. 93, p. 145.

José Inácio da Cunha, arroios Moreira e São Tome, 1829. L. 93, p. 40.

José Joaquim Gonçalves, arroio Pelotas, procede da fazenda do Monte Bonito, 1825/1832. L. 93, p. 169.

José Pereira da Silva Brites, arroio Pelotas, 1832. L. 93, p. 27.

José Rodrigues Barcellos, arroio Pelotas, 1802/1808/1815. L. 93, p. 179.

Luis Pereira da Silva e Eugênia da Conceição, arroio Pelotas e canal São Gonçalo, 1778/17786/1806. L. 93, p. 105.

Luís de Azevedo e Souza, João Vinhas e José Rodrigues Candiota, arroio Pelotas, s.d. L. 92, p. 2.

Manuel Alves de Morais e sua sogra Maria Angélica, arroios Moreira e Santa Bárbara e canal São Gonçalo, 1817/1818. L. 93, p. 21.

Manuel Mendes de Oliveira, procede da fazenda do Pavão, s.d. L. 92, s. p.

Manuel Silveira de Avila, arroio Pelotas, 1825. L. 93, p. 57.

Manuel Soares, São Gonçalo, Povo do Passo dos Negros, 1820. L. 93, p. 147.

Herdeiros de Manuel Soares da Silva e João Jacinto de Mendonça, arroio Pelotas e canal São Gonçalo, s.d. L. 92, p. 58.

Manuel Ravelo Paiva, arroio Pelotas, s. d. L. 93, p. 114.

Mariana Angélica do Carmo. Quinhão da fazenda do Monte Bonito, 1827. L. 93, p. 173.

Herdeiros de Mariana Eufrázia da Silveira, São Gonçalo, 1813/1829. L. 93, p. 8.

Tomás José de Campos, São Gonçalo, 1830 - 1842. L. 93, p. 163.

TOMÁS José de Campos, quinhão da fazenda do Monte Bonito, 1822/1823/1827/1845. L. 93, p. 109.

6 Prefeitura Municipal de Pelotas

6.1 Acervo não organizado da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente.

Planta da cidade de Pelotas, escala: 300 braças/ 1 polegada, 1835.

Planta da cidade de Pelotas, escala: 1/5.000, 1909.

Planta da cidade de Pelotas, escala: 1/10.000, 1922.

Planta da cidade e seus arrabaldes, escala: 1/5.000, 1924.

Pelotas e seus arrabaldes, escala 1/25.000, 1926.

Planta da cidade de Pelotas e seus arrabaldes, escala: 1/10.000, 1949.

Planta da cidade, escala: 1/25.000, 1967.

Planta cadastral, reconstituição aerofotogramétrica, escala 1/2.000, 1972.

Evolução urbana, 1815-1966, escala: 1/40.000, 1978.

Planta da cidade, escala: 1/20.000, 1980.

Mapa das estradas de rodagem do município, escala: 1/100.000, 1989.

Planta da zona suburbana da cidade de Pelotas, escala 1/100.000, s.d.

7 Outros mapas e plantas

7.1 Porto Alegre. Acervo Helen Osório. Mapa do caminho novo, que vai do passo de Turitama ao de S. Antônio, s.e., s.d.

7.2 Pelotas. Acervo herdeiros de Joaquim Assumpção Rheingantz. Planta de um trecho do arroio Pelotas, escala: 1/2.500, 1902.

7.3 Ministério do Exército. Departamento de Engenharia e Comunicações. Diretoria do Serviço Geográfico.

Região sul do Brasil, escala: 1/250.000, 1981.

Região sul do Brasil, escala 1/50.000, 1981.

7.4 Secretaria da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. Departamento de Comandos Mecanizados. Divisão de Geografia e Cartografia.

Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Sul, escala: 1/1.000.000 e parte do Escudo Sul-Riograndense, escala 1/600.000, 1989.

7.5 Mapas

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 226

Brasil, escala: 1/6.000 1967. Integra o exemplar da Georama nº 13. Buenos Aires: Codex.

América do Sul, escala:1/20.000.000, 1967. Integra o exemplar da Georama nº 28. Buenos Aires: Codex.

Norte da Argentina e Chile, Paraguai, escala: 1/5.000.000, 1967. Integra o exemplar da Georama nº 35. Buenos Aires: Codex.

Uruguai, Rio da Prata, Andes Centrais Chilenos, escala: 1/2.500.000, 1967. Integra o exemplar da Georama nº 36. Buenos Aires: Codex.

Argentina e Chile meridionais, escala: 1/5.000.000, 1967. Integra o exemplar da Georama nº 37. Buenos Aires: Codex.

B) Manuscritos 1. Porto Alegre. Arquivo Público do Estado do Rio

Grande do Sul.

Processos de Inventário

Joana Maria Bernardina. Pelotas, nº 16, M.01, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1810.

Domingos Rodrigues. Pelotas, nº 32, M.02, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1818.

José Gonçalves da Silveira Calheca. Pelotas, nº 56, M.05, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1820.

João Nunes Batista. Pelotas, nº 75, M.06, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1823.

Cecília Rodrigues da Silva. Pelotas, nº 83, M.07, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

José Pinto Martins. Pelotas, nº 114, M.10, E.25. Cartório de Órfãos e provedoria, 1827.

José Pinto Martins. Rio Grande, nº 354, M.15, E.12, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1832.

Francisca Alexandrina de Castro. Pelotas, nº 239, M.21, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

Maria Augusta da Fontoura. Rio Grande., nº 514, M.22, E.12, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1845.

Joaquina Maria da Silva. Pelotas, nº 304, M.21, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1849.

Manuel Soares da Silva. Pelotas, nº 318, M.22, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1850.

José Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 15, M. 1, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1850.

Virgínia de Souza Campos. Pelotas, nº 7335 M.23, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1851.

Visconde de Jaguari. Pelotas, nº 348, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1852.

João Simões Lopes. Pelotas, nº 366, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1853.

João Guerino Vinhas. Pelotas, nº 383, M.26, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1854.

José Gomes de Vasconcelos Jardim. Porto Alegre, nº 99, M.7, E.2, 2º Cartório de Órfãos e Ausentes, 1854.

José Vieira Vianna. Pelotas, nº 383, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1854.

Albana dos Santos Barcellos. Pelotas, nº 406, M.28, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856.

Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 409, M.28, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1856.

Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 430, M.29, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857.

Euphazia Gonçalves Lopes. Pelotas, nº 432, M.29, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1857.

Mathilde da Silva Vinhas. Pelotas, nº 567, M. 36, E. 25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1862.

Inácio Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 55, M.36, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1863.

Manuel Batista Teixeira. Pelotas, nº 579, M.37, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1864.

Joaquim Guilherme da Costa. Pelotas, nº 599, M.38, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1865.

José Inácio da Cunha. Pelotas, nº 60, M.38, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1865.

Maria Antônia Coelho da Cunha. Pelotas, nº 603, M.39, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1865.

João Vinhas. Pelotas, nº 642, M.41, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867.

Baronesa e do barão do Butuy. Pelotas, nº 647, M.41, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1867/1877.

Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 02, M.01, E.28, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870.

Silvana Claudina Belchior. Pelotas, nº 727, M.44, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1870.

Carlota Baptista Teixeira. Pelotas, nº 733, M.44, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

Antônio José Gonçalves Chaves, nº 754, M.45, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

Luís Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 777, M.46, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 227

Maria Luíza Chaves. Pelotas, nº 770, M.46, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872.

Anibal Antunes Maciel. Pelotas, nº 815, M.48, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1872.

Mathilde Vinhas Lopes. Pelotas, nº 775, M.46, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1873.

José Anibal Antunes Maciel. Pelotas, nº 85, M.03, E.30, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

Francisco Anibal Antunes Maciel e Maria Augusta Antunes Maciel. Pelotas, nº 3063, M.180, E.26, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1877.

Silvana Belchior. Pelotas, nº 870, M.50, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1877.

Honório Luís da Silva. Pelotas, nº 111, M.06, E.28, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1880.

Rita Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 937, M.54, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1880.

Domingos Soares Barbosa. Pelotas, nº 943, M.54, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1881.

Mathilde Vinhas Lopes. Pelotas, nº 775, M.46, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1883.

Antônio da Silva Maia e Bernardina Soares Maia, nº 995, M.57, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1884/1885.

Jacinto Antônio Lopes. Pelotas, nº 1028, M.58, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1885.

Eleutério Rodrigues Barcellos. Pelotas, nº 1046, M.59, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1886.

João Maria Chaves. Pelotas, nº 1082, M.61, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1887.

Boaventura Teixeira Barcellos. Pelotas, nº 157, M.05, E.33, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1890.

João Simões Lopes Neto. Pelotas, nº 1254, M.69, E.26, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1893.

Barão de Corrientes. Pelotas, nº 217, M.06, E.33, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1897.

Barão do Jarau. Pelotas, nº 228, M.06, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1898.

Barão de S. Tecla. Pelotas, nº 1465, M.80, E.26, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902.

José Maria Bento da Fontoura. Pelotas, nº 1465, M.26, E.25, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, 1902.

Baronesa de Santa Tecla. Pelotas, nº 308, M.09, E.30, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1906.

José Bento de Campos Filho. Pelotas, nº 733, M.44, E.25, Cartório de Órfãos e Provedoria, 1871.

Medições

Alexandre Viera da Cunha. Pelotas-Santa Bárbara, nº 612, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1853.

Antônio Francisco dos Anjos. Pelotas-Rincão, nº 525, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1813.

Antônio Pereira [padre]. Pelotas-Costa, nº 533, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1821.

Bárbara Lopes de Jesus. Pelotas-São Gonçalo, nº 567, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1815.

Bento Francisco da Cruz. Pelotas-Santa Bárbara, nº 590, M.14, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1847.

Bernardino Rodrigues Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº 560, M.13, E.3o, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1829.

Boaventura Inácio Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº 575, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1834.

Boaventura Rodrigues Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº 568, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1815.

Câmara Municipal. Pelotas-Logradouro, nº 608, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1851.

Câmara Municipal. Pelotas-Logradouro Público, nº 609, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1852.

Câmara Municipal. Pelotas-Santa Bárbara, nº 621, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1856.

Cipriano Rodrigues Barcellos. Pelotas-Pelotas, nº 579, M.14, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1835.

Dorotéia da Fontoura Barcellos. Pelotas-Costa, nº 642, M.16, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1874.

Eugênia Ferreira da Conceição. Pelotas, nº 564, M.14. E.33. 2º Cartório Civil e Crime, 1806.

Francisco Jerônimo Coelho. Pelotas-Pelotas, nº 608, M.14, E.3o, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1854.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 228

Francisco Rodrigues da Silva. Pelotas-Boca do Sangradouro, nº 521, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1804.

Guilherme Rodrigues de Carvalho. Pelotas-Banhado do São Gonçalo, nº 627, M.16, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1864.

Isabel Francisca da Silveira. Pelotas-Rincão, nº 561, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1795.

Ismael Soares da Silva. Pelotas-Pelotas, nº 578, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1845.

Jaime Mendes Ferão. Pelotas-Santa Bárbara, nº 532, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1820.

João Bento. Pelotas-Pelotas, nº 618, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1865.

João Nunes Batista. Pelotas-Pavão, nº 611, M.15, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1852.

João Nunes Batista. Pelotas, nº 622, M.15, E.30, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1861.

João Mendes de Azevedo. Pelotas, nº 628, M.16, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1864.

Joaquim José Cruz Secco. Pelotas-Costa, nº 578, M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1834.

José Joaquim Gonçalves. Pelotas-Costa, nº 575, M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1832.

José Gonçalves da Silveira Calheca. Pelotas-Rincão, nº 569, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1815.

José Pereira da Silva Brites. Pelotas-Pelotas, nº 574, M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1833.

José da Silva Candiota. Pelotas-Costa, nº 590, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1846.

José de Souza Silva. Pelotas-Santa Bárbara, nº 581, M.14, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1844.

Luzia Firmina do Pilar. Pelotas-São Gonçalo, nº 540, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1840.

Manuel José Barreiros. Pelotas-Santa Bárbara, nº 597, M.14, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1847.

Manuel Lopes de Carvalho. Pelotas-São Gonçalo, nº 524, M.12, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1807.

Manuel Lopes Correa, Pelotas-Santa Bárbara, nº 625, M.15, E.33, 2º Cartório do Civil e do Crime, 1856.

Manuel Marques Lobo. Pelotas-Santa Bárbara, nº 630, M.16, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1865.

Manuel Nunes Batista. Pelotas-Palma, nº650, M.17, E.33, 2º Cartório Civil e Crime, 1885.

Manuel Santos Campello. Pelotas-Pelotas, nº 604, M.14, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1850.

Manuel Silveira de Ávilla. Pelotas-Pelotas, nº 556, M.13, E.30, 1º Cartório do Civil e do Crime, 1827.

Maria da Conceição Xavier, Pelotas-Santa Bárbara-Fragata, nº 631, M.16, E.33, 2º Cartório Civil e Crime, 1863.

Roberto Barher, Pelotas-Pelotas, nº 605, M.14, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1850.

_____, Pelotas, nº 628, M. 15, E. 33, 2º Cartório Civil e Crime, 1862.

Silvana Eulália de Azevedo Barcellos, Pelotas, nº 622, M.15, E.33, 2º Cartório Civil e Crime, 1856.

Vigéssimo José da Silva. Pelotas-Cascalho, nº 633, M. 16, E. 30. 1º Cartório Civil e Crime, 1868.

Visconde da Graça, Pelotas- São Gonçalo, nº 645, M.16, E.30, 1º Cartório Civil e Crime, 1881.

Transmissões

1 Livro de Notas Nº 1. 1º Tabelionato de Pelotas

Boaventura Inácio Barcellos, costa do Pelotas, 1833, p. 111.

Domingos José de ALmeida, costa do Pelotas, 1833, p.127.

José Rodrigues Barcellos, 1834, p. 211-212.

2 Pelotas. Foro de Pelotas

Processo de Inventário

Domingos José de Almeida. Pelotas, nº 279, 3ª Vara, 1961.

3 Porto Alegre, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.

Cadastro de Sesmarias (Relação de moradores que tem campo e animais nesse Continente) Livros nº 1198 A a D.

Registro de terras e terrenos concedidos nos diferentes distritos e municípios do RS. Livro de datas de terras 1755-1831. M. 45, Lª. 291.

Livro de registro de sesmarias de terras. Rio Grande 1813-1814. Nº 41.

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João Francisco de Souza, Arroio Pelotas, 1781-1791, L.93, p.32.

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ÍNDICE REMISSIVO

A Abreu, Cristóvão Pereira de__________________________________________________________ 29, 32, 36, 37, 38 Abreu, Pereira. Ver Abreu, Cristóvão Pereira. Abreu, Escolástica Maria de _____________________________________________________________________147 Albana. Ver Barcellos, Albana Rodrigues. Alegrete _______________________________________________________________________________67,114,148 Alexandre VI __________________________________________________________________________________17 Almeida. Ver Almeida, Domingos José de. Almeida, Abrilina Decimanona Caçapavana de ______________________________________________________148 Almeida, Domingos de. Ver Almeida, Domingos José de. Almeida, Domingos José de __________________________ 80, 86, 104, 129, 139, 145, 147, 148, 149, 150, 172, 217 Almeida, José de. Ver Almeida, Domingos José de. Almeida, João de. Ver Pereira, João de Almeida. Almeida, José Roiz Pereira de____________________________________________________________________120 Almeida, Junius Brutus Cássio de_____________________________________________________________148, 150 Almeida, Luís de. Ver Almeida, Luís Felipe de. Almeida, Luís Felipe de_________________________________________________________________________149 Alves da Conceição ____________________________________________________________________________153 Ana Inácia ________________________________________________________________________________ 75,168 Ana Josefa. Ver Pereira, Ana Josefa. Andrade, Gomes Freire ____________________________________________________________________42, 45, 71 Anjos, Antônio dos. Ver Anjos, Antônio Francisco dos. Anjos, Antônio Francisco dos _________________________________________ 66, 69, 139, 159, 163, 165, 166, 219 Anjos, Antônio Rafael dos________________________________________________________________________63 Anjos, José Antônio dos ________________________________________________________________________185 Anselmo. Ver Souza, Anselmo. Antiqueira. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro. Antiqueira, Antônio de Castro____________________________________________________________________152 Antiqueira, Castro. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro. Antiqueira, Clara ______________________________________________________________________________152 Antiqueira, Domingos José. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro. Antiqueira, Domingos de Castro. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro Antiqueira, Domingos José de Castro ______________________________________________ 69, 110, 111, 113, 165 Antiqueira, João Alano Domingos de Castro ________________________________________________________172 Antônia______________________________________________________________________________________120 Antônia Margarida. Ver Araújo, Antônia Margarida Teixeira. Antônio___________________________________________________________________________________75, 168 Antônio. Ver Cazado, Inácio Antônio da Silveira. Antônio. Ver Pereira, Antônio. Antônio José. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves. Antônio José. Ver Maia, Antônio José da Silva. Antônia Margarida. Ver Araújo, Antônia Margarida Teixeira. Antunes, Francisco______________________________________________________________________________57 Araújo, Antônia Margarida Teixeira de ____________________________________________________________158

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 238

Araújo, Antônio José Rodrigues de _______________________________________________________________ 163 Araújo, Gertrudes Pinheiro de ___________________________________________________________________ 124 Araújo, Manuel Viera de _______________________________________________________________________ 124 Araújo, Rosália Clementina de___________________________________________________________________ 157 Araújo, Serafim Rodrigues de ___________________________________________________________________ 163 Arriada, Eduardo ______________________________________________________________________________ 98 Arroio Grande. Ver Costa, Francisco Antônio Gomes da Assumpção ____________________________________________________________________________ 80, 82, 194 Assumpção, Joaquim A de. Ver Assumpção, Joaquim Augusto de Assumpção, Joaquim Augusto de ____________________________________________________________ 153, 154 Assumpção, Joaquim José _____________________________________________________________ 75, 82, 85, 216 Assumpção, Joaquim José [filho]_________________________________________________ 7, 80, 82, 194, 202, 216 Assumpção, José Rodrigues de __________________________________________________________________ 143 Augusto______________________________________________________________________________________ 80 Ave-Lallemant. Ver Ave-Lallemant, Robert. Ave-Lallemant, Robert_____________________________________________________________________ 185, 186 Ávila, Manuel da Silveira___________________________________________________________________ 105, 172 Ávila, Maria Silveira de ________________________________________________________________________ 106 Ayala, Miguel _________________________________________________________________________________ 50 Ayala, Miguel [filho] ___________________________________________________________________________ 50 Azambuja, Margarida __________________________________________________________________________ 168 Azara. Ver Azara, Felix Azara, Felix________________________________________________________________________________ 30, 31 Azevedo, Clara Maria de _______________________________________________________________________ 153 Azevedo, João Inácio de_________________________________________________________________________ 59 Azevedo, Josefa Eulália de_________________________________________________________________ 57, 59, 66 Azevedo Machado. Ver Machado, Antônio José de Azevedo. Azevedo, Silvana Eulália de. Ver Souza, Silvana Eulália de Azevedo e

B Baldez. Ver Baldez, Alexandre da Silva. Baldez, Alexandre. Ver Baldez, Alexandre da Silva. Baldez, Alexandre da Silva _____________________________________________________________ 64, 65, 66, 67 Bandeira, Bibiana Maria_________________________________________________________________________ 57 Bandeira, Francisco Pinto__________________________________________________________________ 36, 44, 56 Bandeira, Pinto. Ver Bandeira, Rafael Pinto. Bandeira, Rafael Pinto ____________________36, 44, 46, 50, 52, 55, 56, 57, 58, 66, 67, 68, 69, 73, 80, 123, 215, 216 Bandeira, Rafaela Pinto _____________________________________________________________________ 57, 123 Bárbara Vitória ________________________________________________________________________________ 57 Barbosa. Ver Barbosa, Domingos Soares. Barbosa, Antenor S. ___________________________________________________________________________ 150 Barbosa, Domingos Soares__________________________________________________________________ 144, 150 Barbosa, Josefa Maria _________________________________________________________________________ 151 Barcellos, Albana Rodrigues _________________________________________________________ 83, 126, 127, 128 Barcellos, Ana Prudência _______________________________________________________________________ 151 Barcellos, Antônio Rodrigues ___________________________________________________________________ 137 Barcellos, Bernardino Rodrigues _____________________________ 125, 123, 139, 143, 145, 146, 148, 149, 172, 217 Barcellos Boaventura Inácio ________________________________________________________________ 114, 172 Barcellos Boaventura Rodrigues ____________57, 86, 80, 112, 117, 121, 123, 124, 125, 126, 154, 165, 171, 172, 181 Barcellos, Boaventura Roiz. Ver Barcellos, Boaventura Rodrigues. Barcellos, Boaventura da Silva __________________________________________________________ 123, 125, 126 Barcellos, Boaventura Texeira _______________________________________________________________ 137, 138 Barcellos, Cipriano. Ver Barcellos, Cipriano Rodrigues. Barcellos, Cipriano Joaquim. Ver Barcellos, Cipriano Joaquim Rodrigues. Barcellos, Cipriano Joaquim Rodrigues____________________________________ 123, 144, 145, 146, 150, 151, 172 Barcellos, Cipriano Rodrigues __________ 123, 125, 134, 137, 139, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 150, 152, 165, 172 Barcellos, Dorotéia da Fontoura______________________________________________________________ 137, 138 Barcellos, Eleutério Rodrigues_______________________________________________________________ 123, 137 Barcellos, Eleutério Teixeira ____________________________________________________________________ 138 Barcellos, Flristela Salgado _____________________________________________________________________ 137 Barcellos, Inácio Rodrigues _________________________________________ 125, 127, 137, 138, 139, 143, 145, 172 Barcellos, Inácio Teixeira_______________________________________________________________________ 137 Barcellos, Israel Rodrigues___________________________________________________________________ 57, 123

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ÍNDICE REMISSIVO 239

Barcellos, Joaquim Antônio _____________________________________________________________________134 Barcellos, José Rodrigues _______________________________________________________________________172 Barcellos, Luís Rodrigues _______________________________________________________________________125 Barcellos, Luís Teixeira_________________________________________________________________123, 137, 138 Barcellos, Luíza da Fontoura_____________________________________________________________________137 Barcellos, Miguel Rodrigues _____________________________________________________________________154 Barcellos, Rita Teixeira _____________________________________________________________________137, 138 Barreto, Moniz _____________________________________________________________________________52, 214 Barros, Manuel Joaquim de_______________________________________________________________________57 Barros, Manuel Pereira __________________________________________________________________________36 Basques, Felipa Francisca de Sá M. _______________________________________________________________172 Batista, João Nunes ___________________________________________________ 58, 59, 61, 62, 69, 88, 90, 91, 158 Belchior _____________________________________________________________________________________107 Belchior, Custódio Gonçalves ____________________________________________________________________106 Belchior, Silvana Claudina __________________________________________________________________106, 107 Bento, José ____________________________________________________________________________________84 Bento, Rosa Angélica ___________________________________________________________________________84 Bernardes, Inácio. Ver Costa, José Inácio Bernardes. Bernardes, José Inácio. Ver Costa, José Inácio Bernardes. Bernardina. Ver Lima, Bernardina Barcellos. Bernardina. Ver Silva, Bernardina Soares da. Bernardino. Ver Barcellos, Bernardino Rodrigues. Bernardo. Ver Silva, Bernardo Pereira da. Bettamio, Sebastião Francisco_________________________________________________________________51, 214 Bezerra, José da Costa __________________________________________________________________________151 Bicudo, João__________________________________________________________________________________141 Bittencourt, João Alves de___________________________________________________________________157, 160 Boaventura. Ver Barcellos, Boaventura Rodrigues. Boaventura. Ver Barcellos, Boaventura Teixeira. Bobadela. Ver Andrade, Gomes Freire. Böhm ________________________________________________________________________________________46 Borba, Malaquias de _________________________________________________________________________82, 86 Bordaberri ___________________________________________________________________________________110 Borges, Atalipa _______________________________________________________________________________153 Borges, Antônio Mendes ________________________________________________________________________139 Braga, Alfredo A.______________________________________________________________________________161 Braga, Felisberto José Gonçalves _________________________________________________________106, 107, 161 Braga, Felisberto Gonçalves. Ver Braga, Felisberto José Gonçalves Braga, Fernando_______________________________________________________________________________149 Braga, João Francisco Vieira_____________________________________________________________________125 Braga, Manuel Soares de ________________________________________________________________________151 Braga, Maria Gonçalves _________________________________________________________________________82 Bragança, Luís Correa de _____________________________________________________________________57, 59 Branco, Francisca Joaquina de Almeida Castelo ______________________________________________________73 Brás. Ver Silva, Brás Pereira da. Brasil, Tomás T._______________________________________________________________________________110 Brignolli, Héctor Perez __________________________________________________________________________29 Brites, José Pereira da Silva _____________________________________________________________141, 142, 149 Brito. Domingos de. Ver Peixoto, Francisco Domingos. Butui. Ver Moreira, José Antônio e Moreira, Leonídia Gonçalves

C Cabral, Sebastião da Veiga _______________________________________________________________________57 Calheca. Ver Calheca, José Gonçalves da Silveira. Calheca, José Gonçalves. Ver Calheca, José Gonçalves da Silveira. Calheca, José Gonçalves da Silveira ______________________________________ 157, 160, 163, 164, 165, 166, 219 Calheca, José da Silveira. Ver Calheca, José Gonçalves da Silveira. Calheca, Maria de Santana da Silveira _____________________________________________________________163 Calheca, Senhorinha da Silveira __________________________________________________________________163 Campos, José Bento e ___________________________________________________________ 80, 86, 117, 126, 127 Campos, Tomás José de_____________________________________________________________________158, 159 Campos Júnior, José Bento e_____________________________________________________________________117 Campos, Virgínia. Ver Campos Virgínia de Souza.

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 240

Campos Virgínia de Souza __________________________________________________________________ 159, 160 Candal, José Alves ____________________________________________________________________________ 172 Candiota, José Rodrigues _______________________________________________________________________ 172 Cardoso, Ciro Flamarion _____________________________________________________________________ 16, 30 Cardoso, Fernando Henrique _________________________________________________________________ 29, 131 Carlos III_____________________________________________________________________________________ 47 Carneiro, Albino Teixeira_______________________________________________________________________ 137 Carolina Matilde______________________________________________________________________________ 119 Carvalho, Manuel Moreira de ____________________________________________________________________ 66 Castro. Ver Castro, Antônio José de Oliveira. Castro, Antônio de Barros _______________________________________________________________________ 29 Castro, Antônio José de Oliveira _____________________________________ 76, 77, 80, 82, 83, 84, 97, 99, 104, 105 Castro, Euclides Franco de____________________________________________________________________ 98, 99 Castro, Francisca Alexandrina de_________________________________________________________ 79, 80, 84, 86 Castro, José de ________________________________________________________________________________ 65 Castro, José de Oliveira. Ver Castro, Antônio José de Oliveira. Catão Bonifácio _______________________________________________________________________________ 80 Cazado, Inácio Antônio da Silveira ___________________79, 81, 95, 96, 105, 112, 124, 125, 141, 163, 168, 171, 217 Cazado, Francisco Pires. Ver Cazado, Francisco Pires da Silveira. Cazado, Francisco Pires da Silveira ________________________________________ 96, 105, 165, 166, 168, 217, 219 Cazado, Manuel Marcelino Pires _________________________________________________________________ 168 Ceballos, Pedro_________________________________________________________________________ 45, 48, 213 Ceballos. Ver Ceballos, Pedro. Cecília. Ver Silva, Cecília Rodrigues. Chagas, Francisco dos __________________________________________________________________________ 73 Chaves. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves. Chaves. Ver Chaves, João Maria. Chaves, Antônio Gonçalves. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves [filho]. Chaves, Antônio José. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves. Chaves, Antônio José Gonçalves _______________________ 31, 80, 83, 103, 115, 120, 121, 123, 125, 127, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 138, 147, 151, 171, 172, 193, 194, 198, 217 Chaves, Antônio José Gonçalves [filho] ____________________________________________ 86, 132, 133, 134, 139 Chaves, Duarte Teixeira _________________________________________________________________________ 25 Chaves, Gonçalves. Ver Chaves, Antônio José Gonçalves. Chaves, João Maria ___________________________________________________________ 123, 132, 134, 138, 151 Chaves, Marcolina Amália ______________________________________________________________________ 134 Chaves, Marcolina Barcellos ____________________________________________________________________ 134 Chaves, Maria Luíza___________________________________________________________________ 133, 134, 217 Chaves, Maria Salomé _____________________________________________________________________ 134, 151 Cipriano. Ver Barcellos, Cipriano Rodrigues. Cipriano Joaquim. Ver Barcellos, Cipriano Joaquim Rodrigues. Clara _____________________________________________________________________________________ 80, 82 Clara _______________________________________________________________________________________ 123 Clara. Ver Antiqueira, Clara. Coelho, Francisco Jerônimo_____________________________________________________________________ 106 Coelho, Jerônimo José _________________________________________________________________________ 106 Coelho, João _________________________________________________________________________________ 172 Cabarim, Bernardino osé Merques________________________________________________________________ 147 Conceição. Ver Eugênia da Conceição. Conceição, Eva da ____________________________________________________________________________ 149 Conceição, Felícia Maria da_____________________________________________________________________ 163 Conceição, Maria Francisca da __________________________________________________________________ 145 Córdoba, Antônio Inácio Roiz ____________________________________________________________________ 99 Correia, Ana _________________________________________________________________________________ 151 Correia, Vladistas _____________________________________________________________________________ 172 Correntes_____________________________________________________________________________________ 58 Corsetti. Ver Corsetti, Berenice. Corsetti, Berenice ____________________________________________________________ 16, 30, 83, 130, 132, 133 Costa, Artur Gomes da _________________________________________________________________________ 126 Costa, Baltazar José da__________________________________________________________________________ 99 Costa, Domingos G. da_________________________________________________________________________ 126 Costa, Felício Joaquim da. Ver Pereira, Felício Joaquim da Costa. Costa, Felix. Ver Mendonça, Felix da Costa Furtado de. Costa, Francisco Antônio Gomes da ______________________________________________________________ 114

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ÍNDICE REMISSIVO 241

Costa, João Francisco da _____________________________________________________________________99, 141 Costa, Joaquim Guilherme da ________________________________________________________________126, 128 Costa, José Cardoso da _________________________________________________________________________149 Costa, José Inácio Bernardes da ____________________________________________________ 77, 78, 85, 114, 117 Costa, Martinho José da__________________________________________________________________________99 Coutinho, André Ribeiro _________________________________________________________________________37 Couty. Ver Couty, Louis. Couty, Louis_________________________________________________________ 131, 186, 187, 188, 189, 190, 191 Cruz, Antônio Pereira da ____________________________________________________________________114, 125 Cruz, Manuel Antônio da _______________________________________________________________________110 Cunha ________________________________________________________________________________________72 Cunha, Alberto COelho da ________________________________________________________ 58, 69, 98, 105, 155 Cunha, Alexandre Viera da ______________________________________________________________________163 Cunha, Ana Leocárdia da _______________________________________________________________________165 Cunha, Antero ________________________________________________________________________________150 Cunha, Eulália Maria da ________________________________________________________________________153 Cunha, José Inácio da __________________________________________________________________163, 164, 165 Cunha, Manuel Rafael Viera da __________________________________________________________________151 Cunha, Maria Antônia da________________________________________________________________________154 Cunha, Possidônio da___________________________________________________________________________110 Cunha, Silvana Berchior da______________________________________________________________________107 Curisco, Antônio Teixeira ________________________________________________________________________65

D Domingos José. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro. Domingos, José _______________________________________________________________________________172 Domingues, Manuel________________________________________________________________________111, 112 Domingues, Custódio __________________________________________________________________________151 Dorneles, Jerônimo _____________________________________________________________________________75 Dorotéia. Ver Fontoura, Dorotéia Clara. Doreotéia Leopoldina __________________________________________________________________________158 Dreys. Ver Dreys, Nicolau. Dreys, Nicolau _______________________________________________________ 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191 Duarte, João ___________________________________________________________________________________99 Duarte. Ver Machado, João Duarte.

E Eleutério. Ver Barcellos, Eleutério Rodrigues. Elias. Ver Silva, Elias Pereira. Espírito Santo, Páscoa [Maria] do_________________________________________________________________151 Eufrásia. Ver Lopes, Eufrásia Gonçalves. Eugênia da Conceição __________________________________________________________________140, 141, 150 Etchegarai ___________________________________________________________________________________110 Etchepari ____________________________________________________________________________________110 Etcheverri____________________________________________________________________________________110

F Faria, Francisco Xavier _________________________________________________________________157, 158, 159 Faria, Francisco de Souza __________________________________________________________________29, 36, 37 Faria, Gertrudes Xavier _________________________________________________________________________158 Faria, Souza. Ver Faria, Francisco de Souza. Felício. Ver Pereira, Felício Joaquim de Souza. Feijó, Antônio V. _______________________________________________________________________________57 Fernandes, Florestam____________________________________________________________________________29 Ferreira, Francisco de Paula _____________________________________________________________________105 Figueredo, José Marcelino de ________________________________________________________ 54, 57, 66, 95, 96 Filguera, Domingos _________________________________________________________________________27, 212 Florinda. Ver Silva, Florinda Luíza da. Florinda Luíza. Ver Silva, Folorinda Luíza. Folha, José ___________________________________________________________________________________149

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 242

Fontes, José Inácio das __________________________________________________________________________ 66 Fontoura, Antônio Carneiro da___________________________________________________________________ 137 Fontoura, Dorotéia Clara. Ver Barcellos, Dorotéia da Fontoura. Fontoura, Isabel Dorotéia da ________________________________________________________ 75, 78, 80, 82, 216 Fontoura, José Carneiro da________________________________________________________________ 75, 80, 216 Fontoura, José Galdino da ______________________________________________________________________ 172 Fontoura, José Maria. Ver Fontoura, José Maria Bento. Fontoura, José Maria Bento da_____________________________________________________ 75, 76, 77, 82, 84, 86 Fontoura, Manuel Bento da __________________________________________________________ 75, 76, 77, 82, 84 Fontoura, Maria Augusta da___________________________________________________ 75, 80, 82, 83, 86, 89, 216 Fontoura, Maria Regina da_______________________________________________________ 75, 77, 78, 82, 84, 216 Fontoura, Vicentina Maria da_____________________________________________________________________ 81 França, Florinda Luíza de Mendonça______________________________________________________________ 153 Francinha. Ver França, Florinda Luíza de Mendonça. Francisca ____________________________________________________________________________________ 119 Francisca Alexandrina. Ver Castro, Francisca Alexandrina. Francisco, Henrique ___________________________________________________________________________ 172 Freire, Diogo da Silva___________________________________________________________________________ 57 Freire, Maria Josefa da Silva _________________________________________________________________ 57, 123 Freire, Vicente Ferrer da Silva ____________________________________________________________________ 57 Freitas, Antônio ______________________________________________________________________________ 139 Freitas, José de ________________________________________________________________________________ 99 Freitas, Manuel Antônio de _____________________________________________________________________ 118 Funck, Diogo _________________________________________________________________________________ 38

G Garro. Ver Garro, José. Garro, José ___________________________________________________________________________________ 25 Gaeta ________________________________________________________________________________________ 19 Genoveva. Ver Silva, Genoveva Pereira. Gomes, Manuel Inácio __________________________________________________________________________ 66 Gomes, Wenceslau José ____________________________________________________________________ 139, 150 Gonçalo, José ________________________________________________________________________________ 105 Gonçalves, André ______________________________________________________________________________ 18 Gonçalves, Bento _____________________________________________________________________________ 148 Gonçalves, Felix A. ___________________________________________________________________________ 151 Gonçalves, Fernando __________________________________________________________________________ 139 Gonçalves, Francisco José _______________________________________________________________________ 82 Gonçalves, Isabel Maria ________________________________________________________________________ 129 Gonçalves, José ______________________________________________________________________________ 141 Gonçalves, José Joaquim _______________________________________________________________________ 105 Gorender, Jacob _____________________________________________________________________ 16, 29, 30, 132 Graça. Ver Lopes, João Simões [filho]. Guedes, Jacinto_______________________________________________________________________________ 151 Guerino, João. Ver Vinhas, João Guerino. Guimarães, Francisco Antônio da Cruz _____________________________________________________________ 97 Guimarães, Francisco Teixeira___________________________________________________________________ 117 Guimarães, João José. Ver Guimarães, João José Teixeira. Guimarães, João José Teixeira _______________________________________________________ 155, 157, 158, 165 Guimarães, Joaquim José _______________________________________________________________________ 118 Guimarães, Manuel Portugal ________________________________________________________________ 150, 172 Guimarães, Perpétua Teixeira ___________________________________________________________________ 157 Guimarães, Tito José Teixeira de Araújo___________________________________________________________ 157 Gusmão, Alexandre ____________________________________________________________________________ 41 Gusmão, José Cardoso de_______________________________________________________________________ 125

H Haagen, Guilherme van der _____________________________________________________________________ 168 Hipólito. Ver Pereira, Hipólito José da Costa.

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ÍNDICE REMISSIVO 243

I Idiart ________________________________________________________________________________________110 Ildefonso [Lopes, Simões – tio]_________________________________________________________________80, 81 Ildefonso [Lopes, Simões – sobrinho]____________________________________________________________80, 81 Ilha, Joaquim Francisco__________________________________________________________________________60 Inácio. Ver Barcellos, Inácio Rodrigues. Inácio Antônio. Ver Cazado, Inácio Antônio da Silveira. Irume, Pedro__________________________________________________________________________________149 Isabel. Ver Silveira, Isabel Francisca da. Isabel Dorotéia. Ver Fontoura Isabel Dorotéia. Isabel Francisca. Ver Silveira, Isabel Francisca Itapocaí. Ver Barcellos, Miguel Rodrigues.

J Jacinto Antônio. Ver Lopes, Jacinto Antônio. Jacome, Teodoro Pereira _________________________________________________________________________67 Jaguari. Ver Antiqueira, Domingos José de Castro. Jarau. Ver Assumpção, Joaquim José e Clara. Jatayr. Ver Cunha, Alberto Coelho da Jesus, Bárbara Lopes de_________________________________________________________________________164 Jesus, Barbosa Lopes de ________________________________________________________________________158 Jesus, Genoveva Maria de _______________________________________________________________________158 Jesus, Manuel de _______________________________________________________________________________73 Jesus, Tereza Maria de__________________________________________________________________________151 Joana. Ver Joana Maria Bernardina. Joana Margarida____________________________________________________________________________ 75,168 Joana Margarida_______________________________________________________________________________168 Joana Maria Bernardina_____________________________________________________________________111, 113 João ________________________________________________________________________________________123 João [dom] _______________________________________________________________________________156, 165 João. Ver Batista, João Nunes. João. Ver Lopes, João Simões. João. Ver Machado, João Duarte. João. Ver Vinhas, João. João Batista. Ver Roux, João Batista. João Jacinto. Ver Mendonça, João Jacinto. João Maria. Ver Chaves, João Maria. Joaquina. Ver Silva, Joaquina Maria da. Joaquina Maria. Ver Silva, Joaquina Maria. José. Ver Fontoura, José Maria Bento da. José Inácio ________________________________________________________________________________75, 168 José Marcelino. Ver, Figueredo, José Marcelino. José Maria. ver Fontoura, José Maria bento. Josefa. Ver Azevedo, Josefa Eulália de.

K Krestckmar_______________________________________________________________________________104, 166

L Lamas, Joana Maria ____________________________________________________________________________137 Lamas, Micaela Emerenciana ____________________________________________________________________137 Lara, Miguel José______________________________________________________________________________163 Lavradio ______________________________________________________________________________________55 Lavison, George_______________________________________________________________________________126 Leão, Próspero C.______________________________________________________________________________112 Leite, Joana __________________________________________________________________________________141 Lemos, João Antônio Pereira_____________________________________________________________________166 Leonídia. Ver Moreira, Leonídia Gonçalves. Lima, Bernardina Barcellos______________________________________________________________123, 148, 217

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 244

Lima, José Antônio de __________________________________________________________________________ 99 Lima, José Luís de ____________________________________________________________________________ 110 Lima, Leocárdia Joaquina de _____________________________________________________________________ 57 Lima, Rosa Perpétua de ________________________________________________________________________ 137 Lobo, Manuel _________________________________________________________________________________ 25 Lopes, Eufrásia Gonçalves ___________________________________________________________ 81, 88, 89, 90, 91 Lopes Filho, Jacinto Antônio ________________________________________________________________ 134, 151 Lopes, Jacinto Antônio_________________________________________________________________________ 151 Lopes, João Antônio___________________________________________________________________________ 139 Lopes, João Gonçalves _________________________________________________________________________ 151 Lopes, João Simões ________________________________________________ 75, 76, 80, 81, 86, 87, 88, 90, 91, 216 Lopes, João Simões [filho]__________________________________________________ 76, 77, 80, 81, 148, 161, 216 Lopes, José Gonçalves _________________________________________________________________ 125, 139, 150 Lopes, Manuel Jacinto _________________________________________________________________________ 119 Lopes, Maria Joaquina _________________________________________________________________________ 148 Lopes, Matilde Vinhas _________________________________________________________________________ 119 Lopes, Pero ___________________________________________________________________________________ 24 Lopes, Simões Lopes. Ver Lopes, João Simões. Lopes, Simões. Ver Lopes Neto, João Simões. Lopes Neto, João Simões ______________________________________ 80, 84, 86, 101, 107, 147, 149, 157, 160, 216 Luccock, John________________________________________________________________________________ 185 Luís ________________________________________________________________________________________ 141 Luís. Ver Barcellos, Luís Teixeira. Luís. Ver Silva, Luís Pereira da. Luís. Ver Souza, Luís de Azevedo e.

M Macedo, Francisco José _________________________________________________________________________ 84 Macedo, Jorge Soares___________________________________________________________________________ 24 Machado, Agostinho Moreira____________________________________________________________________ 114 Machado, Antônio José de Azevedo __________________________________________________ 76, 77, 81, 82, 153 Machado, Azevedo, Ver Machado, Antônio José de Azevedo. Machado, João Duarte _________________________________________________________ 75, 77, 82, 84, 119, 216 Maciel, Anibal Antunes ____________________________________________________________________ 114, 117 Maciel, Eliseu Antunes_________________________________________________________________________ 172 Maciel, Francisco Antônio _______________________________________________________________________ 48 Maciel, Francisco Antunes ____________________________________________________________________ 82, 84 Maestri, Mário __________________________________________________________________________ 14, 16, 30 Magalhães. Ver Magalhães, João de. Magalhães, Antônio Teixeira ____________________________________________________________________ 110 Magalhães, João de____________________________________________________________________ 29, 32, 36, 37 Magalhães, Manuel Antônio _____________________________________________________________________ 31 Maia. Ver Maia, Antônio José da Silva. Maia, Antônio José da Silva_________________________________________________ 139, 151, 152, 153, 159, 160 Maia, Antônio da Silva. Ver Maia, Antônio José da Silva. Maia, Bernardino _____________________________________________________________________________ 151 Maia, Cristovão da Silva _______________________________________________________________________ 151 Maia, José da Silva. Ver Maia, Antônio José da Silva. Malaquias de Borba ____________________________________________________________________________ 82 Manuel. Ver Silva, Manuel Pereira da. Manuel. Ver Carvalho, Manuel Moreira de. Manuel. Ver Fontoura, Manuel Bento da. Manuel. Ver Paiva, Manuel Ravelo. Manuel. Ver Silva, Manuel Pereira da. Manuel. Ver Teixeira, Manuel Batista. Manuel Bento. Ver Fontoura, Manuel Bento da. Manuel Bento. Ver Rocha, Manuel Bento da. Manuel Francisco ______________________________________________________________________________ 99 Manuel Luís. Ver Mesquita, Manuel Luís. Manuel Padeiro___________________________________________________________________________ 103, 104 Manuel Joaquim ______________________________________________________________________________ 113 Marcelino ___________________________________________________________________________________ 105 Maria. Ver Maria da Encarnação.

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ÍNDICE REMISSIVO 245

Maria Andréia ________________________________________________________________________________123 Maria Antônia _________________________________________________________________________75, 168, 216 Maria da Anunciada____________________________________________________________________________153 Maria Augusta. Ver Fontoura, Maria Augusta. Maria da Encarnação ____________________________________________________________________________66 Maria da Encarnação ___________________________________________________________________________141 Maria Eufrásia _____________________________________________________________________________88, 168 Maria Joaquina. Ver Silva, Maria Joaquina da. Maria Luíza. Ver Chaves, Maria Luíza Barcellos. Mariana. Ver Silveira, Mariana Eufrásia da. Mariana Angélica do Carmo __________________________________________________________________97, 171 Mariana Eufrásia. Ver Silveira, Maria Eufrásia da. Mariana Inácia ________________________________________________________________________________114 Martins, Antônio Pinto _________________________________________________________________________119 Martins, Daniel Pinto___________________________________________________________________________119 Martins, João Pinto ____________________________________________________________________________120 Martins, José Pinto__________________________________________________ 47, 78, 117, 119, 120, 121, 124, 125 Martins, Liberato Pinto _________________________________________________________________________119 Martins, Pinto. Ver Martins, José Pinto. Martírio, João. Ver Torres, João do Martírio. Mascarenhas, Domingos ________________________________________________________________________172 Mascarenhas, Domingos Pinto de Figueiredo________________________________________________________151 Mascarenhas, João Batista de Figueiredo ___________________________________________________________110 Matias_______________________________________________________________________________________141 Maurícia Inácia. Ver Silveira, Maurícia Inácia. Mazza, Nóris Moreira __________________________________________________________________________134 Medina, Ver Medina, José Francisco. Medina, Francisco. Ver Medina, José Francisco. Medina, Francisco José ____________________________________________________________________47, 48, 87 Meireles, Maria Manuela________________________________________________________________________105 Melo, João Gomes de ___________________________________________________________________________37 Melo, João Gomes de ___________________________________________________________________________45 Mendes, Antônio ______________________________________________________________________________139 Mendes, Dionísio Rodrigues _____________________________________________________________36, 38, 39, 75 Mendonça, Alexandre Jacinto ____________________________________________________________________153 Mendonça, Ana Maria Furtado de__________________________________________________________________63 Mendonça, André______________________________________________________________________________153 Mendonça, Antônio Furtado de________________________________________________________________75, 168 Mendonça, Clara de Azevedo ____________________________________________________________________153 Mendonça, Felix da Costa Furtado de________________________________________________ 63, 64, 69, 139, 219 Mendonça, Francisco de Paula Jacinto de___________________________________________________________154 Mendonça, Joana Jacinto de _____________________________________________________________________154 Mendonça, Jacinto de. Ver Mendonça, João Jacinto de. Mendonça, João Jacinto de _________________________________________________________ 151, 153, 154, 155 Mendonça, Maria da Conceição Jacinto de__________________________________________________________153 Mendonça, Maria Francisca de ___________________________________________________________________154 Mendonça, Maria da Glória Jacinto de _____________________________________________________________154 Mendoncinha. Ver Mendonça, Clara de Azevedo. Menezes, Clara Barbosa de ______________________________________________________________________151 Menezes, Cristina Barbosa de ____________________________________________________________________151 Menezes, Rodrigues César de _____________________________________________________________________38 Mesquita, Antônio Pereira________________________________________________________________________63 Mesquita, Manuel Luís de ________________________________________________________________________99 Mesquita, Pedro Pereira. Ver Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de. Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de _________________________ 53, 63, 65, 66, 69, 139, 141, 165, 166, 214, 219 Monteiro, José Joaquim da Silva__________________________________________________________________143 Morais, Manuel Alves de_________________________________________________________________________67 Morais, Manuel José de _________________________________________________________________________129 Morais, Manuel Pinto de ____________________________________________________________________150, 158 Moreira, Custódio José dos Santos ________________________________________________________112, 124, 125 Moreira, Custódio dos Santos. Ver Moreira, Custódio José dos Santos. Moreira, João M. ______________________________________________________________________________150 Moreira, José Antônio __________________________________________________________ 76, 77, 80, 81, 82, 126 Moreira, Leonídia Gonçalves ____________________________________________ 79, 80, 81, 82, 86, 88, 89, 90, 91

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 246

Moreira, Manuel ______________________________________________________________________________ 153 Moreira, Manuel Francisco _____________________________________________________________ 154, 157, 161 Moreira, Miguel _______________________________________________________________________________ 37 Mota, Vicente José da__________________________________________________________________________ 151

N Nascimento, Eulália do_________________________________________________________________________ 163 Nascimento, Joaquina Rosa do___________________________________________________________________ 151 Nóia, Ana _________________________________________________________________________________ 77, 78 Nunes, Evaristo Ferreira________________________________________________________________________ 110

O O’Donnell, Pedro _____________________________________________________________________________ 121 Oldemberg, Feliciano Velho __________________________________________________________________ 44, 75 Oldemberg, Velho. Ver Oldemberg, Feliciano Velho. Oliveira, Clara Maria de_________________________________________________________________________ 56 Oliveira, Francisco _____________________________________________________________________________ 99 Oliveira, Inácio Xavier de _______________________________________________________________________ 99 Oliveira, João Batista de________________________________________________________________________ 118 Oliveira, José Miranda de________________________________________________________________________ 57 Osório, Pedro ____________________________________________________________ 107, 110, 149, 150, 151, 168 Osório, Tomás Luís _________________________________________________________ 44, 45, 46, 71, 72, 73, 216

P Pacheco, José de Souza ________________________________________________________________________ 105 Pacheco, Serafim de Souza _____________________________________________________________________ 172 Padeiro. Ver Manuel Padeiro. Padre-Doutor. Ver Mesquita. Pedro Pereira Fernandes de. Pais, José da Silva____________________________________________________________________ 32, 37, 43, 213 Pais, Silva. Ver Pais, José da Silva. Paiva, Antônio Soares de _______________________________________________________________________ 167 Paiva, Alfredo Augusto ________________________________________________________________________ 105 Paiva, Dorotéia Cândida________________________________________________________________________ 105 Paiva, Manuel Ravelo__________________________________________________________________ 105, 168, 172 Paula, Francisco de. Ver Ferreira, Francisco de Paula. Pedrarca, Domingo _____________________________________________________________________________ 31 Pedro. Ver Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de. Peixoto, Brito. Ver Peixoto, Francisco Domingos de Brito. Peixoto, Francisco Domingos de Brito ____________________________________________________ 29, 36, 37, 38 Peixoto, José Aguiar_______________________________________________________________________ 165, 166 Pereira ______________________________________________________________________________________ 139 Pereira, Ana Josefa ______________________________________________________________________ 63, 64, 139 Pereira, Antônio _______________________________________________________________________ 64, 125, 139 Pereira, Cristóvão. Ver Abreu, Cristóvão Pereira. Pereira, Felício. Ver Pereira, Felício Joaquim da Costa. Pereira, Felício Joaquim da Costa _______________________________________ 63, 66, 69, 139, 156, 165, 166, 219 Pereira, Francisco _____________________________________________________________________________ 141 Pereira, Hipólito José da Costa ___________________________________________________________________ 63 Pereira, João de Almeida ________________________________________________________________ 99, 139, 141 Pereira, José. Ver Brites, José Pereira da Silva. Pereira, José Saturnino da Costa _______________________________________________________________ 63, 64 Pereira, Luís. Ver Silva, Luís, Luís Pereira da. Pereira, Maria Madalena ________________________________________________________________________ 56 Pereira, Pedro. Ver Mesquita, Pedro Pereira Fernandes de. Pereira da Silva___________________________________________________________________________ 141, 142 Pereira, Vicente _______________________________________________________________________________ 63 Pillar, Florência Maria do_______________________________________________________________________ 163 Pillar, Luzia Ferminiana do _____________________________________________________________________ 167 Pinheiro, Domingos Afonso_____________________________________________________________________ 124 Pinho, Sebastião de____________________________________________________________________________ 153

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ÍNDICE REMISSIVO 247

Pinto, José. Ver Martins, José Pinto. Pinta, Madalena Martins _________________________________________________________________________63 Pires, Alexandre Inácio _________________________________________________________________________171 Pires, Antônio Inácio ________________________________________________________________________97, 168 Pires, Inácio Antônio ________________________________________________________________________97, 168 Pires, Rosália Francisca_____________________________________________________________________105, 168 Porciúncula, Antônio Antunes____________________________________________________________________172 Porciúncula, João Antunes ______________________________________________________________________172 Pombal _______________________________________________________________________________________43 Portugal, Fernando José de _______________________________________________________________________31 Prates, Feliciano Rodrigues ______________________________________________________________________113 Prates, Francisco Roiz Xavier _____________________________________________________________________68 Prates, Paulo. Ver Prates, Paulo Xavier. Prates, Paulo Xavier_____________________________________________________________________________69 Proena, Joaquim José de _________________________________________________________________________57

Q Quincas Patrão. Ver Assumpção, Joaquim José. Quintão, João da Costa __________________________________________________________________________36 Quitéria Maria ________________________________________________________________________________141 Quitéria Maria ________________________________________________________________________________163

R Rafaela. Ver Bandeira, Rafaela Pinto. Ramos, Jerônimo de Freitas______________________________________________________________________106 Ravelo. Ver Paiva, Manuel Ravelo. Rheingantz, Joaquim C. Assumpção________________________________________________________________82 Rezende. Ver Castro, José de _____________________________________________________________________65 Ribeiro, Francisco Xavier ________________________________________________________________________36 Ribeiro, Ignácio Barbosa de Lourenço ______________________________________________________________81 Ribeiro, José Teixeira Pinto______________________________________________________________________172 Ribeiro, Manuel Gonçalves _______________________________________________________________________36 Rita. Ver Barcellos, Rita Teixeira. Rita. Ver Silva, Rita Pereira. Roberto_______________________________________________________________________________________57 Rocha, Bento. Ver Rocha, Manuel Bento da. Rocha, Manuel Bento da ________________________________________________________ 73, 74, 75, 76, 77, 216 Rodrigues, Antônio José ______________________________________________________________________81, 84 Rodrigues Barcellos________________________________________ 57, 114, 121, 123, 124, 125, 137, 154, 169, 217 Rodrigues, Dionísio. Ver Mendes, Dionísio Rodrigues. Rodrigues, Domingos _____________________________________________________________ 157, 165, 166, 167 Rodrigues, Maria Joaquina ______________________________________________________________________165 Rodrigues, José ________________________________________________________________________________99 Roiz, José. Ver Rodrigues, José. Roiz, Roberto __________________________________________________________________________________57 Rosa, Alberto R._______________________________________________________________________________151 Rosa, Antônio ________________________________________________________________________________125 Rosa, Francisco da ______________________________________________________________________________65 Rosa, Francisco Araújo __________________________________________________________________________66 Rosália. Ver Pires, Rosália Francisca. Rosália Maria Angélica __________________________________________________________________________67 Rosas, Juan Manuel _____________________________________________________________________________48 Róscio, Francisco João ___________________________________________________________________31, 50, 214 Roux. Ver Roux, João Batista. Roux, João Batista _____________________________________________________________________________110 Rüdiger, Selbat____________________________________________________________________ 37, 43, 46, 96, 98

S S., João Antônio da Silva________________________________________________________________________117 Sá, Salvador Correia de __________________________________________________________________________24

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 248

Sá, Maria de _________________________________________________________________________________ 172 Sá, Simão Pereira de____________________________________________________________________________ 32 Saint-Hilaire. Ver Saint-Hilaire, Auguste. Saint-Hilaire, Auguste _________________________________________________________________ 134, 135, 193 Salgues, Eugénes _____________________________________________________________________________ 110 Saloyo, Antônio dos Santos ______________________________________________________________________ 66 Sampaio, José de______________________________________________________________________________ 151 Santa Tecla. Ver Tavares, Joaquim da Silva. Santana, Sérgio ________________________________________________________________________________ 81 Santos, Antônio Ferreira dos ______________________________________________________ 54, 58, 66, 73, 96, 99 Santos, Cristóvão José dos ______________________________________________________________________ 149 Santos, Evaristo Lopes dos______________________________________________________________________ 107 Santos, Lúcio Lopes dos________________________________________________________________________ 107 Santos, Vicente Lopes dos ______________________________________________________________________ 107 Saturnino. Ver Pereira, José Saturnino da Costa. Secco, Antônio da Cruz ________________________________________________________________________ 114 Secco, Joaquim José da Cruz ____________________________________________________________ 114, 129, 217 Secco, Maria do Carmo ____________________________________________________________________ 129, 217 Seechy, Diogo________________________________________________________________________________ 121 Seechy, João _________________________________________________________________________________ 121 Seixas, Francisco de ____________________________________________________________________________ 37 Serro Alegre. Ver Bittencourt, João Alves de. Severino Antônio __________________________________________________________________________ 99, 141 Silva, Ana Clara Joaquina da ____________________________________________________________________ 137 Silva, Antônio José da ______________________________________________________________________ 99, 141 Silva, Bernardina Soares de _____________________________________________________________________ 151 Silva, Bernardo Pereira da __________________________________________________________________ 141, 149 Silva, Brás Pereira da __________________________________________________________________________ 141 Silva, Cecília Rodrigues da __________________________________________________________ 57, 123, 125, 126 Silva, Elias Pereira da______________________________________________________________________ 141, 149 Silva, Florinda Luíza da ________________________________________________________________________ 153 Silva, Genoveva Pereira da _________________________________________________________________ 141, 149 Silva, Honório Luís da _________________________________________________________________________ 153 Silva, Joaquim Rodrigues da ________________________________________________________________ 159, 160 Silva, Joaquim Riveiro Lopez da _________________________________________________________________ 172 Silva, Joaquina Maria da _______________________________________________ 59, 60, 61, 62, 69, 88, 90, 91, 158 Silva, José da _________________________________________________________________________________ 67 Silva, José Tomás da __________________________________________________________________ 153, 157, 165 Silva, Luís Pereira da __________________________________________ 125, 139, 140, 141, 143, 149, 150, 153, 155 Silva, Manuel Pereira da____________________________________________________________________ 141, 149 Silva, Manuel Soares da ____________________________________________________________ 139, 151, 152, 159 Silva, Maria Leopoldina da _____________________________________________________________________ 163 Silva, Mariana Joaquina da _____________________________________________________________________ 117 Silva, Matilde da. Ver Vinhas, Matilde da Silva. Silva, Porfírio da______________________________________________________________________________ 153 Silva, Rita Pereira da __________________________________________________________________ 139, 142, 144 Silva, Simão Soares da _________________________________________________________________________ 151 Silva, Tomás José da ______________________________________________________________________ 117, 166 Silvana Claudina. Ver Belchior, Silvana Claudina. Silveira. Ver Ávila, Manuel Silveira. Silveira _______________________________________________________________________________ 75, 79, 168 Silveira, Antônio Inácio da______________________________________________________________________ 218 Silveira, Cândida Maria da_______________________________________________________________________ 97 Silveira, Cosme da _____________________________________________________________________________ 37 Silveira, Dorotéia Isabel da __________________________________________________________________ 75, 216 Silveira, Fermino Antônio da _____________________________________________________________________ 97 Silveira, Francisca Joaquina da __________________________________________________________________ 168 Silveira, Francisco Inácio da _____________________________________________________________________ 73 Silveira, Francisco Pires da. Ver Cazado, Francisco Pires da Silveira. Silveira, Inácio Antônio da. Ver Cazado, Inácio Antônio da Silveira. Silveira, Isabel da __________________________________________________________________________ 75, 168 Silveira, Isabel Francisca da_______________________________71, 74, 75, 76, 77, 78, 80, 82, 84, 97, 165, 216, 217 Silveira, Isabel Francisca da_____________________________________________________________________ 168 Silveira, Leonídio Antero da ____________________________________________________________________ 110

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ÍNDICE REMISSIVO 249

Silveira, João Inácio da __________________________________________________________________________97 Silveira, Joaquina Fermina da _____________________________________________________________________97 Silveira, Joaquina Francisca da ___________________________________________________________________168 Silveira, Mariana Eufrásia da _________________ 75, 79, 81, 96, 97, 99, 105, 153, 157, 160, 165, 166, 168, 217, 219 Silveira, Mateus Inácio da ____________________________________________________________________75, 168 Silveira, Maurícia Inácia da________________________________________________ 79, 81, 97, 105, 125, 168, 217 Silveira, Maurício Inácio da ______________________________________________________________75, 216, 219 Silveira, Maurício Inácio da _____________________________________________________________________166 Silveira, Pedro Pires_________________________________________________________________________95, 216 Silveiras. Ver Silveira. Silvério, Joaquim _______________________________________________________________________________99 Simões Lopes_______________________________________________________________________________80, 81 Smith, Herbert ___________________________________________________________________ 172, 173, 185, 186 Soares, Domingos. Ver Barbosa, Domingos Soares. Soares, Exequiel_______________________________________________________________________________172 Soares, Joaquim de Souza ________________________________________________________________________57 Soares, Jorge Antônio da Costa____________________________________________________________________63 Soares, Manuel. Ver Silva, Manuel Soares da. Soares, Manuel Bernardino ______________________________________________________________________110 Soares, Maria do Carmo ____________________________________________________________________114, 129 Souza, Anselmo de ____________________________________________________________________________139 Souza, Antônio José de _________________________________________________________________________163 Souza, Diogo de_______________________________________________________________________________166 Souza, Eulália de Azevedo e. Ver Souza, Silvana Eulália de Azevedo e. Souza, Francisco Pereira e____________________________________________________________________99, 141 Souza, Heliodoro de Azevedo e ______________________________________________________________157, 161 Souza, Joaquim Silvério e _______________________________________________________________________114 Souza, João Francisco de_____________________________________________________________________99, 172 Souza, João da Silva de __________________________________________________________________________37 Souza, João Silvério e __________________________________________________________________________114 Souza, João Silvério e [filho] ____________________________________________________________________114 Souza, João Francisco de_____________________________________________________________________99, 172 Souza, José Antônio de ______________________________________________________________________99, 163 Souza, José de Azevedo e _______________________________________________________________________124 Souza, José Joaquim Duarte de ___________________________________________________________________118 Souza, Luís de Azevedo e _______________________________________________________________126, 127, 172 Souza, Luís de Vasconcelos _____________________________________________________________51, 56, 67, 68 Souza, Manuel Carvalho de________________________________________________________________95, 96, 216 Souza, Manuel Marques ________________________________________________________________________172 Souza, Silvana Eulália de Azevedo e ______________________________________________________123, 124, 154 Souza Filho, Heliodoro de Azevedo e______________________________________________________________154

T Tamboridengui________________________________________________________________________________110 Tamboridengui, João ___________________________________________________________________________134 Tavares, Joaquim da Silva _______________________________________________________________________160 Teixeira, Boaventura. Ver Barcellos, Boaventura Teixeira. Teixeira, Carlos José ___________________________________________________________________________114 Teixeira, Carlota Batista ________________________________________________________________________159 Teixeira, Emerenciana Manuela __________________________________________________________________137 Teixeira, Joaquim Manuel ____________________________________________________________________63, 137 Teixeira, João Francisco ________________________________________________________________________114 Teixeira, José _________________________________________________________________________________172 Teixeira, Manuel Batista ___________________________________________________________ 151, 154, 157, 158 Teixeira, Pedro________________________________________________________________________________114 Terra, Jorge da _________________________________________________________________________________99 Tiarajú, Sepé __________________________________________________________________________________45 Tomás Luís____________________________________________________________________________________99 Torres, João do Martírio ________________________________________________________________________158

U Ultra, Joz de __________________________________________________________________________________168

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NEGROS, CHARQUEADAS & OLARIAS 250

V Valadares, Manuel José. Ver Valadares, Manuel José Rodrigues. Valadares, Manuel Rodrigues. Ver Valadares, Manuel José Rodrigues. Valadares, Manuel José Rodrigues ___________________________________________________ 157, 161, 163, 165 Valpírio, Vítor. Ver Cunha, Alberto Coelho. Vasconcelos, Luís de. Ver Souza, Luís de Vasconcelos. Vargas, Manuel da Silva ________________________________________________________________________ 37 Velho Zapata. Ver Ayala, Miguel. Vergara, Damácio_____________________________________________________________________________ 158 Verniz, Juan __________________________________________________________________________________ 55 Vespúcio, Américo _____________________________________________________________________________ 18 Viana, Luís Gonçalves _______________________________________________________________________ 35, 36 Vianna, Antônio Ferreira _______________________________________________________________________ 163 Vianna, Baltazar Gomes________________________________________________________________________ 168 Vianna, João Ferreira __________________________________________________________________________ 163 Viana, João Pereira____________________________________________________________________________ 165 Vianna, José Antônio Ferreira ___________________________________________________________________ 165 Vianna, José Vieira____________________________________________________________________ 147, 161, 172 Vianna, Senhorinha da Silveira __________________________________________________________________ 163 Viera, Custódio Manuel ________________________________________________________________________ 125 Vidart ______________________________________________________________________________________ 149 Vinhas ______________________________________________________________________________ 117, 118, 119 Vinhas, João _________________________________________________________________________ 118, 121, 172 Vinhas, João Guerino __________________________________________________________________ 117, 118, 119 Vinhas, Matilde da Silva ___________________________________________________________ 117, 118, 119, 127 Vinhas, Pedro Lobo ___________________________________________________________________________ 117 Virgínia. Ver Campos, Virgínia de Souza. Vitorino, Francisco Gonçalves____________________________________________________________________ 61 Vizeu, Antônio de Morais Figueredo______________________________________________________________ 159

X Xavier, Bernardina Inácia_______________________________________________________________________ 158 Xavier, Francisco. Ver Faria, Francisco Xavier. Xavier, José Inácio ____________________________________________________________________________ 158 Xavier, Maria Leopoldina ______________________________________________________________________ 158 Xavier, Sebastião. Ver Xavier, Sebastião da Silva. Xavier, Sebastião da Silva ________________________________________________________________ 54, 96, 102 Xavier Faria. Ver Faria, Francisco Xavier.

Z Zabala. Ver Zabala, Bruno Maurício Zabala, Bruno Maurício _____________________________________________________________________ 31, 213

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