89
1 DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Área: Manejo e Reprodução de bovinocultura Leiteira. Acadêmico: Néliton das Neves Spíndola Júnior. Orientador: Prof. Dr. Hélio Blume. Supervisores: Vet. Valter Roriz de Queiroz. Vet. Aeromilson Silva Junior. Brasília – DF. Novembro, 2005.

Neliton Das Neves Spindola

  • Upload
    dennia

  • View
    1.163

  • Download
    58

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Neliton Das Neves Spindola

1

DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Área: Manejo e Reprodução de bovinocultura Leiteira. Acadêmico: Néliton das Neves Spíndola Júnior. Orientador: Prof. Dr. Hélio Blume. Supervisores: Vet. Valter Roriz de Queiroz. Vet. Aeromilson Silva Junior.

Brasília – DF. Novembro, 2005.

Page 2: Neliton Das Neves Spindola

2

AGRADECIMENTOS.

Primeiramente a Deus, a Nossa Senhora e ao Espírito Santo que sempre me

ajudaram nos momentos mais difíceis da minha vida, nunca me deixando na dificuldade

e podendo sair desta sempre acreditando em uma vida melhor.

Aos meus pais Néliton das Neves Spíndola e Marlúcia Aparecida Ribeiro

Spíndola, juntamente com os meus irmãos Marcus Vinícius Ribeiro Spíndola e Maria

Natália Ribeiro Spíndola, que sempre me apoiaram em tudo que fiz, me presenteando

com muito amor, carinho, dedicação e atenção, além de me ensinarem e darem

exemplos na vida.

A todos os familiares que me incentivaram e acreditaram em mim e na minha

capacidade como pessoa e profissional em mais essa etapa da vida.

A todos os amigos, colegas e conhecidos que acreditaram e me ajudaram a

cumprir com mais uma etapa na vida, me dando atenção e incentivo nos momentos

difíceis.

A todos do transporte escolar que sempre estiveram comigo nas horas boas e

difíceis, ao motorista Sr. Dede, por sempre ter nos transportado com bastante cuidado e

segurança.

A todos os professores e funcionários da UPIS que contribuíram com a minha

formação profissional, sempre acreditando na minha capacidade.

Ao meu Professor e Orientador Hélio Blume que sempre foi atencioso e

prestativo durante o curso, o estagio e nesta etapa final.

Ao amigo e ex – professor Luis Fernando Fiori Castilho por sempre ter me

apoiado e colaborado para o meu aprendizado, além da confiança depositada em mim

durante o curso, ressaltando a importância de a Medicina Veterinária atuar na área de

Reprodução Animal.

Page 3: Neliton Das Neves Spindola

3

A professora Roselene Eco, que me fez compreender que para ser um bom

profissional é preciso ter responsabilidade e muita dedicação.

Aos meus supervisores de estágio que sempre foram dedicados, sempre

buscando saber informações e me fazer estudar e dedicar à prática e a teoria das

principais afecções dos bovinos tanto na parte clínica como na parte de reprodução

animal.

E a todos aqueles que acreditaram em mim e colaboraram para o cumprimento

de mais uma etapa na vida, sendo de uma maneira direta ou indireta, o meu muito

OBRIGADO.

Page 4: Neliton Das Neves Spindola

4

Sumário Lista de Tabelas...........................................................................................................I

Lista de Figuras..........................................................................................................II

Atividades Desenvolvidas.......................................................................................01

1. Cistos Ovarianos..................................................................................................03

1.1 – INTRODUÇÃO..........................................................................................03

1.2 - CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS CISTOS OVARIANOS,

SEGUNDO A ORIGEM, MORFOLOGIA , OCORRÊNCIA E PATOGENIA............04

1.3 – CISTO FOLICULAR.................................................................................05

1.3.1. Incidência e importância econômica............................................06

1.3.2. Etiopatogenia................................................................................07

1.3.3. Fatores predisponentes.................................................................09

1.3.4. Aspectos clínicos..........................................................................11

1.3.5. Aspectos anatomopatológicos........................................................12

1.3.6. Diagnóstico....................................................................................13

1.3.7. Tratamento de cisto folicular.........................................................13

1.4 – CISTO LUTEÍNICOS................................................................................13

1.5 – DEGENERAÇÃO MICROCÍSTICA DOS OVÁRIOS.............................16

1.6 – CISTOS DE INCLUSÃO EPITELIAL......................................................17

1.7 – CISTO DO TUBO OVARIANO................................................................18

Page 5: Neliton Das Neves Spindola

5

2. Produção in vitro de embriões (PIV).............................................................19 2.1 – INTRODUÇÃO..........................................................................................19

2.2 – COLHEITA, PUNÇÃO OU ASPIRAÇÃO FOLICULAR........................20

2.2.1 – Punção de oócitos in vitro............................................................20

2.2.2 – Princípios básicos da maturação in vitro de oócitos....................21

2.2.3 – Punção folicular in vivo guiada por ultra - sonografia.................23

3. Podologia dos bovinos........................................................................................25

3.1 – INTRODUÇÃO..........................................................................................25

3.2 – ANATOMIA DOS PÉS DOS BOVINOS..................................................26

3.3 – FATORES DE RISCO PARA AS DOENÇAS PODAIS..........................30

3.3.1 – Genéticos.....................................................................................31

3.3.2 - Condições ambientais (ambiência)...............................................32 3.3.3 – Nutrição.......................................................................................33

3.3.4 – Fatores relacionados ao individuo – Estresse.............................34

3.4 – DERMATITE DIGITAL PAPILOMATOSA............................................36

3.4.1. Diagnóstico....................................................................................38

3.4.2. Tratamento....................................................................................38

3.4.3. Medidas de controle......................................................................40

3.5 – DERMATITE INTERDIGITAL...............................................................42

3.6 – EROSÃO DOS TALÕES..........................................................................43

3.6.1. Tratamento e controle...................................................................44

3.7 – FLEGMÃO INTERDIGITAL...................................................................45

3.7.1. Tratamento....................................................................................46

3.7.2. Controle e Prevenção.....................................................................47

3.8 – ARTRITE INTERFALANGEANA DISTAL SÉPTICA..........................48

3.8.1. Tratamento....................................................................................49

3.9 – LAMINITE BOVINA................................................................................52

3.9.1 – Fatores de risco............................................................................52

3.9.2 – Relação entre nutrição e acidose ruminal....................................53

3.9.3 – Diagnóstico de acidose ruminal (subclínica)...............................54

3.9.4 – Etiopatogenia...............................................................................55

3.9.5 – Relação entre Acidose Ruminal e Laminite................................57

3.9.6 – Condições Ambientais (Confinamento)......................................58

Page 6: Neliton Das Neves Spindola

6

3.9.7 – Fatores Individuais......................................................................58

3.9.8 – Fatores Associados A Doenças Sistêmicas (Infecção)...............58

3.9.9 – Formas de apresentação clínica da Laminite Bovina..................58

3.9.10 – Tratamento................................................................................60

3.10 – SOLA DUPLA.........................................................................................60

3.11 – HEMORRAGIA DE SOLA.....................................................................61

3.12 – RACHADURAS DO CASCO.................................................................61

3.13 – PODODERMATITE CIRCUNSCRITA (ULCERA DE SOLA)............63

3.13.1. Etiopatogenia...............................................................................63

3.13.2. Tratamento...................................................................................64

3.14 – DOENÇA DA LINHA BRANCA............................................................66

3.15 – HIPERPLASIA DA PELE INTERDIGITAL (TILOMA, GABARRO)..67

3.15.1 – Causas.........................................................................................67

3.15.2 – Sinais clínicos............................................................................68

3.15.3 – Tratamento................................................................................68

3.16 – CASQUEAMENTO.................................................................................69

3.16.1 – Materiais para Casqueamento....................................................72

4 – Conclusão.............................................................................................................73

5 – Referências Bibliográficas..............................................................................74

Page 7: Neliton Das Neves Spindola

7

Lista de Tabelas.

Tabela A – Demonstração de atividades realizadas na BIO biotecnologia em

Brasília – DF, em Julho de 2005.....................................................................................01

Tabela B – Demonstração das atividades realizadas na fazenda Sabarú em

Luziânia – GO, em agosto e setembro de 2005...............................................................02

Tabela 1.1 - Variação do tamanho dos folículos ovarianos maturos normais dos

animais mamíferos domésticos com valores em mm, associados ao tamanho

comparativo, como recomenda a Escola Superior de Veterinária de Hannover-

Alemanha.........................................................................................................................03

Tabela 1.2. – Classificação e características dos cistos ovarianos, segundo a

origem, morfologia , ocorrência e patogenia...................................................................04

Tabela 1.3 – Diagnóstico clinico diferencial entre cisto folicular e cisto folicular

luteínico do ovário, nos bovinos......................................................................................15

Tabela 3.1 – Parâmetros a serem considerados na decisão entre a amputação

radical e a preservação do dígito.....................................................................................51

Page 8: Neliton Das Neves Spindola

8

Lista de Figuras.

Figura 1.1 – Doença ovariana cística (cisto folicular) na vaca. Estrutura cística

semelhante ao folículo pré-ovulatório.

Figura 1.2 – Cisto folicular Grande.

Figura 1.3 – Animal (fêmea) com inclinação da cauda (ninfomania).

Figura 1.4 – Corte longitudinal evidenciando as cavidades do cisto.

Figura 1.5 – Corte longitudinal de cisto luteínico.

Figura 1.6 – Ovário com degeneração microcística.

Figura 3.1 – Face dorsal do pé. Parede (a), Borda coronária (b), Parede axial (c),

Parede abaxial (d), Pinça (e). Comissura interdigital (f).

Figura 3.2 – Regiões da superfície solear dos dígitos. Sola (a), linha branca (b),

Bulbos do talão (c e c'), Talão (d), Sulco axial (e).

Figura 3.3 – Parede abaxial do dígito vista lateralmente. As mensurações podem

ser utilizadas para análise objetiva da conformação digital.

Figura 3.4 – Pele interdigital (a) e Espaço interdigital ou interungular (b).

Figura 3-5 – Estruturas internas do dígito. Vista dorsopalmar ou dorsoplantar.

Figura 3.6 – Confinamento em sistema "tie-stall". Observar a posição dos

membros posteriores (seta), com os talões apoiados no limite da canaleta de coleta de

dejetos causando grande instabilidade no equilíbrio e desconforto ao animal.

Figura 3.7 – A permanente umidade dos pisos nos currais, mais crítica no verão

chuvoso, amolece os cascos e macera a pele interdigital, enfraquecendo a barreira

natural desses tecidos e criando condições favoráveis para os agentes infecciosos

presentes no ambiente e que têm afinidade com os pés.

Figura 3.8 – Dermatite Digital. Extensa lesão proliferativa afetando o paradígito

ou "sobre unha". Observa-se também lesão na comissura interdigital e erosão dos talões.

Figuras 3.9 e 3.10 - Dermatite Digital na forma ulcerativa ou erosiva. A lesão

encontra-se deslocada para um dos dígitos (esquerda), infiltrando-se em direção ao talão

Page 9: Neliton Das Neves Spindola

9

correspondente. Na figura a direita, a lesão erosiva bastante avançada comprometeu

ambos os talões.

Figura 3.11 – Dermatite Digital. Lesão proliferativa ou granulomatosa. Nesta

fase, o tratamento passa a ser cirúrgico, porém a ferida requer cuidados pós-

operatórios.

Figuras 3.12 e 3.13 – Uso tópico de cloridrato de oxitetraciclina pó 5 a 10 g (1

ou 2 colheres de chá) na lesão localizada na face plantar da comissura interdigital,

colocando se a seguir um protetor.

Figura 3.14 – Dermatite Interdigital.

Figuras 3.15 – Erosões dos talões.

Figuras 3.16 – Flegmão interdigital vista palmar (esquerda) e vista dorsal

(direita).

Figura 3.17 – Vista dorsopalmar ou dorsoplantar de um corte sagital do pé

bovino. As setas ilustram as vias mais comuns de infecção da articulação

interfalangeana distal (a.i.d.).

Figura 3.18 – Osteólise articular (seta menor) e osteoperiostite periarticular

estendendo-se ao longo das falanges média e proximal (seta maior).

Figura 3.19 – Proliferação óssea articular e periarticular (seta branca) e início de

anquilose (seta preta). Observa-se entesiófito projetando-se na face axial da falange

proximal do dígito não comprometido (seta preta à direita).

Figura 3.20 – Sola dupla. Existe uma sobreposição da sola antiga (seta preta) à

sola nova (seta branca).

Figura 3.21 – Múltiplos focos de hemorragia de sola.

Figura 3.22 – Vaca com Laminite Crônica. Dorso arqueado e hiperemia da pele

na região coronária.

Figura 3.23 – Pododermatite Circunscrita Perfurada.

Figura 3.24 – Pododermatite Circunscrita Hemorrágica (Hemorragia de Sola).

Figuras 3.25 – Quando a lesão na sola é muito extensa e as condições higiênicas

desfavoráveis, deve-se proteger a ferida com bandagem, renovada cada 2 ou 3 dias.

Figura 3.26 – Doença da Linha Branca (seta branca). A mancha escura na sola

oposta (seta preta) é uma pigmentação normal. Observa-se uma enorme diferença de

tamanho entre os dígitos.

Figura 3.27 – Hiperplasia da Pele Interdigital ou Tiloma.

Page 10: Neliton Das Neves Spindola

10

Figura 3.28 – Linhas imaginárias utilizadas para aferir se os talões estão na

mesma altura. A altura ideal do talão (d) deve variar entre 3,5 e 3,8 cm.

Figura 3.29 – Materiais de casqueamento.

Figura 3. 30 – Tronco de contensão.

Page 11: Neliton Das Neves Spindola

11

Atividades Desenvolvidas

Tabela A – Demonstração de atividades realizadas na BIO biotecnologia em Brasília –

DF, em Julho de 2005.

Atividades Desenvolvidas

Numero de animais Porcentagem (%)

Punção Folicular Ovariana

in vivo. 274 88,10

Classificação dos Oócitos

puncionados 32 10,29

Tratamentos Clínicos

diversos 5 1,61

Total 311 100

Page 12: Neliton Das Neves Spindola

12

Tabela B – Demonstração das atividades realizadas na fazenda Sabarú em Luziânia –

GO, em agosto e setembro de 2005.

Atividades Desenvolvidas

Numero de animais Porcentagem (%)

Acompanhamento da ordenha 81 13,71

Cirurgia em cascos dos bovinos 32 5,5

Revisão das cirurgias dos cascos dos bovinos 64 11

Diagnóstico de gestação por palpação retal 31 5,32

Teste de brucelose (AAT) 110 19,8 Manejo de bezerros 34 6,12

Tratamento para deficiência de Vit. B 1 1 0,17

Necropsia 1 0,17 Inseminação artificial

(IA) 13 2,23

Transferência de embriões (TE) 2 0,34

Inovulação de embriões 8 1,37 Aplicação de ADE 10 1,7

Implante de CIDR® 10 1,7 Problema obstétrico 1 0,17

Vacinação de bezerras contra brucelose 15 2,57

Vacinação dos bezerros contra clostridioses 34 5,84

Sutura de animal machucado 1 0,17

Tratamento de hipocalcemia 2 0,34

Tratamento contra bócio 1 0,17 Antibioticoterapia 32 5,5

Diagnostico de mastite 28 4,81 Tratamento carrapaticida

POR – ON. 81 13,71

Total 592 100

Page 13: Neliton Das Neves Spindola

13

1. Cistos ovariano

1.1 - INTRODUÇÃO:

Os cistos ovarianos são descritos em mamíferas domestica de todas as espécies

animais, onde se incluem as estruturas ovarianas que podem ser consideradas como

formação cística, com significado clínico evidente ou sem manifestações, que

repercutam sobre a fertilidade. São classificados em: cisto folicular; cisto luteinizados;

degeneração microcística ovariana e cistos de inclusão epitelial (McENTEE, 1990).

Segundo VALE et all, (2005) são formações circunscritas, de tamanhos variáveis,

repletas de líquido de aspecto seroso com localização intra, peri ou para-ovariana,

podendo ser grandes ou pequenos e uni ou pluriloculados.

Tabela 1.1 - Variação do tamanho dos folículos ovarianos maturos normais dos animais mamíferos domésticos com valores em mm, associados ao tamanho comparativo, como recomenda a Escola Superior de Veterinária de Hannover-Alemanha (VALE W. et al, 2005).

ANIMAL PESO DO OVARIO (g)

TAMANHO DO OVARIO

(mm*)

DIÂMETRO DO

FOLICULO (mm)

TAMANHO COMPARATIVO

DO OVARIO

Vaca 5 a 15 35x25 15 a 25 Azeitona-noz Búfala 4 a 13 20x14 8 a 12 Feijão branco-

azeitona Cabra e Ovelha 3 a 4 15x12 6 a 10 Feijão branco-

azeitona Égua 40 a 80 60x80 - Ovo de galinha-

gansa Porca 3 a 10 20x25 8 a 10 Noz- ovo de

galinha em forma de cacho

Cadela** 2 a 3 8x14 6 a 10 - Gata - - 2 a 3 -

* Comprimento x Largura.

Page 14: Neliton Das Neves Spindola

14

** Cadela de porte medio. 1.2 - CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS CISTOS OVARIANOS,

SEGUNDO A ORIGEM, MORFOLOGIA , OCORRÊNCIA E PATOGENIA.

Tabela 1.2. – Classificação e características dos cistos ovarianos, segundo a origem, morfologia , ocorrência e patogenia (VALE W. et al, 2005).

Localização Origem do cisto Tipo e

característica do cisto

Animal/Freqüên-cia e significado

clinico. Ovarianos Zona granulosa

Folículos*. Folículos atrésicos*. Folículos anovulatórios, degeneração das células da granulosa, teca e oócito. Folículos anovulatórios, luteinização com formação de camadas de células luteinizadas. Corpo lúteo, oclusão precoce do local da ovulação.

Folículo de Graaf – vesícula. Cisto folicular > 2.5 cm na vaca e na búfala, único ou múltiplo, uni ou multilobulado. Cisto luteinizado, pequeno teor de LH. Cisto do corpo lúteo.

Fisiológico. Fisiológico. Bovinos, bubalinos e suínos - Esterilidade. Bovinos, bubalinos, suínos e caninos. Bovinos (taurinos), prevalência de ate 25%

Intraovarianos Plexo ovariano “Rete ovaril” – anastomoses

Cisto do plexo ovariano, de camada simples e células epiteliais cúbicas, sem musculatura lisa.

Caninos e felinos, freqüentes. Significado clinico irrelevante.

Zona medular Células da granulosa

Tumor (neoplasia) das células da granulosa do ovário – transformação e destruição das células.

Cistos grandes e múltiplos, formado de tumores das células da granulosa.

Ocorre em bovinos, eqüinos e caninos. Grande significado clinico.

Superfície ovariana Epitélio de revestimento

Serosa modificada – inclusão do tecido epitelial de células cúbicas (serosa modificada) peri – ovariana através da fossa de ovulação.

Cisto de inclusão epitelial – múltiplos e grandes.

Eqüinos, embora raro pode impedir a ovulação, tendo significado clinico nesta espécie.

Subepitelial (serosa modificada).

Epitelial – “Surface Epithelial Structure” – SES.

Cisto subepitelial. Canino, sem significado clinico.

Page 15: Neliton Das Neves Spindola

15

A evolução da Clinica Ginecológica e da Endocrinologia Médico-Veterinária

coloca os docentes e especialistas em uma embaraçosa situação para se decidirem pela

forma de conceituar e/ou classificar os cistos ovarianos. Por isso é fundamental que o

Médico Veterinário ginecologista tenha conhecimento do exato tamanho dos folículos

de Graaf, maturos e em condições fisiológicas (VALE W. et al, 2005).

1.3 - CISTO FOLICULAR:

A doença ovariana cística (DOC), cisto folicular ou cisto do folículo de Graaf,

descrita pela primeira vez em 1831 por Gurit, é uma das mais importantes alterações do

ovário das espécies domésticas, particularmente da vaca e da porca. Esta condição leva

a infertilidade e perdas econômicas. Na vaca, a DOC caracteriza-se pela persistência de

estrutura folicular anovulatória maior que 2,5cm de diâmetro (Figura 1.1), por período

superior a dez dias, na ausência de corpo lúteo e com interrupção de ciclos estrais

normais (Kesler & Garverick, 1982; Roberts, 1986; Refsal et al., 1987).

Figura 1.1 – Doença ovariana cística

(cisto folicular) na vaca. Estrutura

cística semelhante ao folículo pré-

ovulatório.

Dentre os vários tipos de cistos que podem se desenvolver nos ovários, cisto

folicular é o mais comum e, devido a sua atividade endócrina, induz comportamento

sexual anormal, que pode se manifestar em situações de anestro, ninfomania,

irregularidades do ciclo estral e infertilidade (Nascimento & Santos, 2002).

Mecanismos endócrinos, parácrinos e autócrinos estão envolvidos na regulação

da função ovariana. O crescimento folicular, até a fase de antro, faz-se por estímulo

intraovariano (foliculogênese basal). Após a formação do antro, o crescimento e

maturação dependem de estímulos de gonodotrofinas hipofisárias (FSH e LH) liberadas

em resposta ao GnRH hipofisário, esta fase é chamada de foliculogênese tônica

(Kennedy & Miller, 1993). Na foliculogênese tônica, o crescimento folicular é regulado

Page 16: Neliton Das Neves Spindola

16

pelo eixo hipotalâmico-hipofisário. O hipotálamo produz e libera o hormônio liberador

de gonadotropinas (GnRH), de forma pulsátil, diretamente no suprimento sanguíneo da

hipófise, estimulando a liberação do FSH e do LH pela adenohipófise. Estes hormônios

se ligam aos seus receptores específicos nas células da granulosa e células da teca.

Durante o ciclo estral nas uníparas, muitos folículos se desenvolvem, mas somente um é

selecionado para maturar e ovocitar, no caso da vaca esta atividade de crescimento

folicular se dá em ondas de crescimento folicular (Santos, 1997). Os demais sofrem

atresia. Algumas espécies apresentam anestro estacional, como a égua e a ovelha, mas,

mesmo assim, apresentam crescimento e atresia folicular nesse período. Algumas éguas

desenvolvem múltiplos folículos proemientes e anovulatórios durante o anestro

estacional, que regridem espontaneamente e não são capazes de interferir na atividade

ovariana cíclica normal na estação de monta. Também o desenvolvimento de folículos

anovulatórios é normal em algumas espécies durante a gestação, sem comprometê-la.

Os folículos terciários jovens, ou seja, aqueles que iniciam a formação do antro,

expressam receptores para FSH, mas apresentam ausência completa ou poucos

receptores para LH (Eyestone & Ax, 1984). Por isso, sob ação do FSH, as células da

granulosa dos folículos em crescimento, têm capacidade de aromatizar os andrógenos

produzidos pelas células da teca interna, convertendo-os em estrógeno, pela ação da

enzima aromatase. O estrógeno, por sua vez, estimula a expressão de receptores de LH

nas células da teca interna. Além disso, o estrógeno estimula a liberação de GnRH pelo

hipotálamo e conseqüente liberação do LH pela adenohipófise. Portanto, a atividade

ovariana normal depende da integridade do chamado eixo hipotalâmico-

hipofisáriogonadal, sendo que qualquer desequilíbrio nesse eixo pode resultar no

desenvolvimento do cisto folicular.

1.3.1 Incidência e importância econômica.

O cisto folicular é mais comum em gado leiteiro, principalmente animais de alta

produção, acometendo vacas de 5 a 6 anos de idade. A maior ocorrência de DOC na

vaca se dá entre 30 e 60 dias após o parto e neste período exerce impacto negativo sobre

a eficiência reprodutiva, devido à interrupção da atividade ovariana normal e,

conseqüentemente, maior intervalo entre partos. Na vaca, causa aumento de 6 a 10 dias

no intervalo entre partos e primeira inseminação e aumento de 20 a 30 dias no período

entre parto e concepção (Fourichon et al., 2000; Hooijer et al., 2001).

Page 17: Neliton Das Neves Spindola

17

Clinicamente, a freqüência de DOC em vacas leiteiras varia de 10 a 30%

(Eyestone & Ax, 1984; Yongquist, 1986). Contudo, a ocorrência real pode ser de até

60%, uma vez que vacas com cisto folicular no início do período pós-parto se

recuperam espontaneamente, com restabelecimento da função cíclica ovariana (Kesler

& Garverick, 1982; McEntee, 1990; Lopez-Diaz & Bosu, 1992). Cabe salientar que

70% dos casos de DOC se desenvolvem nos primeiros 45 dias pós-parto (Kesler &

Garverick, 1982). Durante os primeiros dias do período pós-parto, o eixo hipotalâmico-

hipofisário não responde satisfatoriamente ao estradiol e, por isso, há um bloqueio dos

ciclos ovarianos, sendo que a função normal do feedback positivo é restaurada em torno

de duas semanas pós-parto nas vacas leiteiras. O desenvolvimento da DOC pode ocorrer

antes ou após a primeira ovulação pós-parto e o restabelecimento dos ciclos ovarianos

pode se dar espontaneamente. (Kennedy & Miller, 1993).

1.3.2. Etiopatogenia.

A causa primária da DOC não está claramente estabelecida, o que se deve, pelo

menos em parte, à variabilidade dos componentes histológicos do cisto, aos vários

padrões hormonais anormais e às diferentes respostas terapêuticas. Os modelos

experimentais utilizados para o estudo da DOC têm sido úteis para determinação das

conseqüências desta alteração, mas não de sua etiologia (Lopez-Diaz & Bosu, 1992). O

que é consensual entre a maioria dos autores é que a DOC é resultado de desequilíbrio

neuroendócrino envolvendo o eixo hipotalâmico-hiposifário-gonadal, embora o

mecanismo pelo qual tal desequilíbrio se desenvolve não é conhecido (Kesler &

Garverich, 1982; Eyestone & Ax, 1984; Youngquist, 1986; Roberts, 1986; Nanda et al.,

1988; McEntee, 1990; Lopez-Diaz & Bosu 1992; Kennedy & Miller, 1993).

Não se sabe muito sobre o perfil de liberação do hormônio liberador de

gonadotrofinas (GnRH), devido as dificuldades técnicas para a dosagem deste

hormônio. A maioria dos pesquisadores assume que a secreção de LH seria um índice

indireto de liberação do GnRH. Embora, Clarke & Cumminins (1982, 1985)

demonstraram que nem todos os pulsos de GnRH foram seguidos por pulsos

subseqüentes de LH e que o aumento da freqüência de pulsos de GnRH levou à

diminuição na amplitude do pulso de LH. Portanto, a estimativa indireta da secreção de

GnRH com base nos pulsos de LH tem limitações óbvias que impedem conclusões

definitivas.

Page 18: Neliton Das Neves Spindola

18

A ausência ou liberação anormal do LH pré-ovulatório aparentemente é a razão

da não ovulação do folículo maduro e conseqüente formação cística. Cook et al. (1991)

observaram que a concentração de GnRH no homogeneizado hipotalâmico

supraquiasmático foi significativamente menor nas vacas com DOC do que nas

normais, enquanto no homogeneizado da eminência média, a concentração de GnRH foi

mais elevada nas vacas afetadas. Aparentemente, estes resultados indicam que nas vacas

com DOC ocorre maior liberação de LH durante a fase folicular e ausência de liberação

pré-ovulatória de LH, o que é devido à diminuição de GnRH hipotalâmico próximo ao

momento da ovulação.

Excesso de FSH também foi inicialmente incriminado como possível causa de

DOC. Contudo, trabalhos mais recentes, em que foram estudadas vacas com DOC

induzida por esteróides, indicaram que a concentração sérica de FSH é semelhante em

vacas com DOC e vacas com ciclo estral normal (Cook et al, 1991). Embora, a liberação

de FSH após tratamento com GnRH foi menor em vacas com DOC do que em vacas

consideradas normais (Braun et al., 1988).

O estradiol produzido pelas células da granulosa, sob influência do FSH, é o

responsável pela maturação dos receptores de LH na teca interna e pela liberação da

onda pré-ovulatória de LH (Richards et al., 1976). Nos casos de DOC, ocorre

comprometimento do funcionamento normal do feedback do estradiol sobre o eixo

hipotalâmico-hipofisário-gonadal, o que pode envolver a atividade da inibina, hormônio

produzido pelos folículos em crescimento, que têm atividade inibitória sobre o

hipotálamo e hipófise (Kesler &Garverick, 1982; Eyestone & Ax, 1984; Silva &

Reeves,1988). Vacas com DOC apresentam aumento da taxa de inibina o que pode

alterar a secreção hipofisária de FSH, diminuindo os receptores de FSH e de LH e a

esteroidogênese (Roberge et al., 1993). Qualquer alteração na resposta hipotalâmica ao

feedback positivo dos estrógenos ou na resposta da hipófise ao GnRH acarreta liberação

anormal de LH e, conseqüentemente, pode provocar falha na ovulação e

desenvolvimento de DOC (Eyestone & Ax, 1984). Vacas com DOC também têm menor

concentração de receptores de esteróides no ovário (Vesanem, 1993). Recentemente,

tem sido proposto que concentrações intermediárias de progesterona poderia prevenir a

ovulação, induzindo a formação de cistos (Silvia et al., 2002).

Einspanier et al. (1993) estudaram o IGF1 e 2, a oxitocina, a progesterona, o

estradiol e a ubiquitina em vacas com cisto folicular luteinizado e no fluido folicular de

Page 19: Neliton Das Neves Spindola

19

folículos normais. Este estudo demonstrou que a oxitocina e o estradiol aumentaram

consideravelmente no folículo pré-ovulatório e no cístico, e que a ubiquitina caiu

significativamente no cisto folicular, quando comparado com os folículos em

crescimento e pré-ovulatórios.

Um dos eventos determinantes do processo de atresia folicular é a ocorrência de

apoptose (ou morte celular programada) das células da granulosa. Ao contrário, no

folículo dominante, as células da granulosa se mantêm viáveis e são refratárias à

apoptose. Portanto, é possível que falha nos mecanismos mediadores da apoptose das

células da granulosa poderiam retardar o processo de atresia favorecendo o

desenvolvimento do cisto folicular. Recentemente foi observado que embora as células

da granulosa de cistos foliculares sofram apoptose da mesma forma que folículos

atrésicos, a apoptose das células da teca interna é diminuídos em folículos que originam

cistos foliculares, o que pode ser responsável pelo atraso da regressão folicular nestes

casos. A apoptose tardia destas células poderia explicar o fato da regressão espontânea

de cistos foliculares na vaca (Isobe & Yoshimura, 2000). Por outro lado, a proliferação

de células da granulosa e da teca também foi investigada. Células da granulosa e da teca

dos cistos tem menor taxa de proliferação quando comparadas a células de folículos

normais (Isobe & Yoshimura, 2000).

Figura 1.2 – Cisto folicular Grande

Fonte: VALE W. et al, 2005.

1.3.3. Fatores predisponentes:

Os fatores predisponentes mais importantes a ocorrência de DOC em vacas estão

detalhados a seguir:

a) Infecções uterinas pós-parto e estresse: Vacas com infecção uterina

causadas por Escherichia coli no pós-parto, têm altas concentrações plasmáticas de

endotoxina, cortisol e metabólitos de prostaglandina. A endotoxemia nestes casos

estimula a liberação do cortisol pela adrenal, que pode inibir a liberação do LH pré-

ovulatório (Bosu & Peter, 1987). Estes resultados foram confirmados posteriormente

Page 20: Neliton Das Neves Spindola

20

por Peter et al. (1990), que induziram cistos foliculares em novilhas, pela administração

intra-uterina de endotoxina de E. coli durante a fase folicular, o que induziu

concentrações elevadas de cortisol, prostaglandina F2α (PGF2α) e supressão da onda

pré-ovulatória de LH.

O estresse é fator limitante da eficiência reprodutiva nos animais domésticos

(Stoebel & Moberg, 1982; Minton & Blecha, 1990). Os hormônios liberados pela

adrenal podem atuar no hipotálamo, alterando a secreção de gonadotrofinas, uma vez

que o hormônio liberador de corticotropina (ACTH) e os glicocorticóides inibem a

secreção de GnRH (Morberg, 1987). Aparentemente o cortisol está envolvido na

patogênese da DOC, inibindo a liberação do GnRH hipotalâmico (Refsal et al., 1987).

Vacas com DOC apresentam hiper-função das células secretoras de ACTH e hipo-

função das células secretoras de LH na hipófise, o que reforça o papel importante do

estresse na patogênese deste processo (Busato et al., 1995). Além disso, a indução

experimental de DOC em vacas pela administração de ACTH esta associada à

diminuição da freqüência de pulsos de LH (Ribadu et al., 2000).

b) Produção de leite: Vacas leiteiras de alta produção são predispostas ao

desenvolvimento de DOC (Garm, 1949; Kesler &Garverich, 1982; Dohoo & Martim,

1984; Barlett et al., 1986). Vacas de alta produção, no início da lactação, são

estimuladas a atingir o pico de produção em torno de 60 dias pós-parto, tempo onde

estão mobilizando as reservas de gordura corporal e estão sob estresse metabólico e

balanço energético negativo, mesmo quando a nutrição é adequada, o que predispõe

estes animais a alterações endócrinas. Vacas supercondicionadas no período pré-parto

têm maiores probabilidades de desenvolver DOC no pós-parto (Gearhart et al., 1990).

c) Nutrição: Grunnert & Berchtold (1988) citam como fatores predisponentes a

DOC o fornecimento excessivo de concentrado, deficiência de minerais e vitaminas e

mudanças bruscas de alimentação. Vacas submetidas a elevado plano nutricional têm

maior incidência de DOC (Dowson, 1957). Aparentemente, deficiência de beta caroteno

predispõe a DOC, uma vez que vacas alimentadas somente com feno e concentrado,

sem forragem verde, apresentam maior incidência de DOC, o que está associado a

baixos níveis de beta caroteno (Inaba et al., 1986). Este achado pode explicar a

interação entre estação do ano e nutrição com ocorrência DOC (Lopez-Diaz & Bosu,

1992).

d) Hereditariedade: Certamente existem fatores hereditários que predispõem a

DOC. Bezerra (1981) estudou a incidência de DOC em um rebanho Gir no qual 60%

Page 21: Neliton Das Neves Spindola

21

das vacas tinham cisto folicular e todas eram filhas de um único touro. Outros autores

também relataram a condição hereditária da DOC (Garm, 1949; Casida & Charpman,

1951; Dowson, 1957; Cole et al., 1986). Além disso, a predisposição genética a DOC

correlaciona-se com características de produção em gado leiteiro, de tal forma que a

seleção para melhoria da produção determina maior risco para o desenvolvimento de

DOC (Loeffler et al., 1999).

e) Idade e fase da lactação: Maior ocorrência de DOC é observada em vacas na

terceira lactação e durante os primeiros 60 dias pós-parto (Bosu & Peter, 1987; Refsal et

al., 1987; Nanda et al, 1988; McEntee, 1990; Kenedy & Muller, 1993).

f) Outros fatores: Retenção de placenta, hipocalcemia e ingestão de plantas

fitoestrogênicas são outros fatores importantes que predispõem a DOC (Correa et al.,

1990).

1.3.4. Aspectos clínicos:

Clinicamente, a DOC se manifesta como ninfomania, ciclos estrais curtos e

irregulares, anestro ou virilismo. Embora a ninfomania seja clinicamente mais evidente,

a manifestação clínica mais comum é o anestro. Casos de DOC que se manifestam com

ninfomania, geralmente estão associados com edema de vulva, hipertrofia de clitóris,

hipertrofia do canal cervical, hiperplasia cística de glândulas endometriais associada ou

não a mucometra, elevação da cauda, cistos dos ductos de Gartner e das glândulas de

Bartholin (Roberts, 1986; McEntee, 1990; Kennedy & Muller, 1993). Bezerra (1981)

observou, além dos sinais clínicos mencionados acima, desenvolvimento da glândula

mamária e secreção de leite em vacas císticas ninfomaníacas, inclusive em nulíparas.

Segundo Yongquist (1986), a primeira mudança no comportamento sexual de

vacas com DOC é a ninfomania e, em seguida, 80% entram em anestro e somente 20%

mantêm a condição de ninfomania. Este autor menciona que podem ser observados

sinais de masculinização do animal, como engrossamento do pescoço, mugido de touro

e hábito de montar em outras fêmeas.

Figura 1.3 – Animal (fêmea) com inclinação lateral da cauda (ninfomania).

Page 22: Neliton Das Neves Spindola

22

Fonte: VALE W. et al, 2005.

1.3.5. Aspectos anatomopatológicos.

Os cistos foliculares podem ser simples ou múltiplos, uni ou bilaterias. O

tamanho varia do diâmetro de um folículo maduro normal (igual ou menor a 1,9 cm) até

vários centímetros de diâmetro. Apresentam-se como estruturas arredondadas, lisas,

consistência moderadamente firme, que ressaltam na superfície do ovário (Bamberg et

al. 1981; McEntee, 1990 e Kennedy & Miller, 1993).

Segundo Bamberg et al. (1981) os cistos foliculares podem ser classificados

histologicamente em (i) tipo I, nos quais as camadas de células da granulosa e da teca

interna estão presentes; (ii) tipo II, nos quais a camada de células da teca está presente,

porém células da granulosa são escassas ou ausentes e (iii) tipo III, que têm somente

células da teca luteinizadas. Os autores acrescentam, ainda, que os cistos cujas células

da granulosa estão intactas, têm altas concentrações da enzima aromatase e do hormônio

17β-estradiol. Nos cistos cujas células da granulosa estão ausentes não existe a enzima

aromatase e há elevadas concentrações de progesterona. Portanto, os cistos do tipo I

seriam do tipo estrogênico, devido à elevada atividade aromatase e os do tipo III seriam

do tipo progesterônico devido à atividade 3β-hidroxiesteróide desidrogenase.

Considerando-se o exposto acima, a composição morfológica da parede do cisto

influencia diretamente sua atividade endócrina, o que por sua vez é determinante da

manifestação clínica ou do comportamento sexual do animal.

Segundo Kesler & Garverck (1982) os cistos foliculares se apresentam

histologicamente com ou sem luteinização na parede, sendo classificados como cisto

folicular e cisto folicular com áreas de luteinização ou, simplesmente, cisto luteinizado.

Figura 1.4 – Corte longitudinal evidenciando as cavidades do cisto.

Fonte: VALE W. et al, 2005.

Page 23: Neliton Das Neves Spindola

23

1.3.6. Diagnóstico

O diagnóstico de DOC se baseia na história clínica, particularmente no

comportamento sexual anormal caracterizado por ninfomania, ciclos curtos e

irregulares, anestro ou virilismo, e em exame clínico detalhado com palpação retal e, se

possível, ultra-sonografia para detecção de alterações ovarianas, além de verificação das

alterações extra ovarianas mencionadas anteriormente. Segundo Farin et al. (1990), a

sensibilidade e especificidade da palpação retal para o diagnóstico de DOC variam entre

40 a 60%, enquanto que pelo ultra-som estes parâmetros são superiores a 80%.

A dosagem de progesterona é um método auxiliar a palpação retal no

diagnóstico de cistos ovarianos (Blowey, 1992). Tal procedimento permite caracterizar

se o cisto tem ou não luteinização (Douthwaite & Dobson, 2000).

1.3.7. Tratamento de cisto folicular:

Considerando-se que a gênese da DOC envolve falha na exposição do folículo à

ação do LH, conforme discutido acima, o tratamento da DOC visa a exposição do cisto

à ação do LH. Como o LH não está disponível para fins terapêuticos, outros agentes são

utilizados com a finalidade de obter estimulação de LH sobre o cisto. Inicialmente, a

HCG (gonadotropina coriônica humana) foi largamente utilizada (Wright & Malmo,

1992). Recentemente, análogos do GnRH têm sido utilizados com maior freqüência

(Hooijer et al., 1999 e 2001). Este tratamento geralmente resulta na luteinização da

parede do cisto e, portanto, tratamento subseqüente com PGF2α, ou seus análogos,

provocam luteólise que geralmente resulta na retomada da atividade ovariana cíclica

(Wright & Malmo, 1992). Embora a associação de GnRH e PGF2α, seja largamente

utilizada e, na maioria dos trabalhos seja apontada como alternativa terapêutica

eficiente, há relatos indicando a ineficiência deste protocolo em alguns casos (Jou et al.,

1999).

A ruptura manual do cisto deve ser evitada (VALE W. et al, 2005).

Page 24: Neliton Das Neves Spindola

24

1.4 – CISTO LUTEÍNICOS:

O cisto luteínico é também conhecido como cisto luteinizado, resultante de um

folículo de Graaf anovulatório, com mais de 2 cm de diâmetro, que fica persistente em

um mesmo local, por um longo período de tempo, com luteinização das células da

camada da teca interna (VALE W. et al, 2005).

Os cistos luteínicos são muitos freqüentes em animais taurinos de raças leiteiras,

com alta produção, porem também pode ser encontrado esse tipo de cisto em animais

zebuínos e em bubalinos, cerca de 30% de cisto luteínicos são diagnosticados nos

bovinos (ZEMJANIS, 1970).

As causas e a origem dos cistos podem estar associadas à falta de liberação dos

hormônios GnRH e LH, como nos cistos foliculares do ovário, mantendo o LH

suficiente para determinar a luteinização das células da teca interna do folículo, ou seja,

com níveis insuficientes para a liberação do ovócito. O cisto luteinizado pode ser

encontrado no mesmo ovário junto com cisto folicular, mas ocorre com maior

freqüência isoladamente.

Tabela 1.3 – Diagnóstico clinico diferencial entre cisto folicular e cisto folicular

luteínico do ovário, nos bovinos (VALE W. et al 2005).

Parâmetros. Cisto folicular do ovário. Cisto folicular luteínico.

Etiologia Deficiência de LH; não ocorre ovulação.

Deficiência de LH; não ocorre ovulação, mas há LH em quantidade suficiente para promover a luteinização da teca.

Sintomas 1: Quadro geral.

Cios irregulares, freqüentes, contínuos; alternância com anestro. Ninfomania. Fatores predisponentes e suscetibilidade hereditária.

Ciclos estrais anovulatórios; virilismo.

Sintomas 2: Avaliação por palpação retal.

Podem ser: simples ou múltiplos; uni ou bilateral; parede delgada, tensa e flutuante; superfície convexa e lisa; tamanho variável; conteúdo fluido de cor amarelo clara cristalina.

Geralmente simples e unilateral; parede mais espessa e com maior tensão e menor flutuação; superfície convexa e lisa; tamanho variável, maior que 2,5 cm; fluído de cor âmbar.

Sintomas 3: Avaliação Paredes delgadas. Paredes mais espessas.

Page 25: Neliton Das Neves Spindola

25

por ultra – sonografia. Sintomas 4: Perfil hormonal.

Predomínio do estrógeno. Predomínio da progesterona.

Tratamento. Aplicação IM de GnRH; hCG.

Aplicação IM de PGF2α; hCG.

Nos bovinos é pouco provável a persistência de tecido luteínico no ovário, sem

a concomitância da gestação, de alteração grave do endométrio ou presença de conteúdo

patológico no útero. Então, presupõe-se que os cistos luteinizados involuem conforme o

desenvolvimento do ciclo estral e a sua regressão ocorreriam sem necessidade de

tratamento (VALE W. et al 2005).

Figura 1.5 – Corte longitudinal de cisto luteínico.

Fonte: VALE W. et al, 2005.

A infertilidade juntamente com a presença de cistos luteínicos não se caracteriza

por anestro, mas pela não ovulação do folículo dominante. É dada pouca importância a

esses tipos de cistos, porque é difícil estabelecer um diagnóstico final para esse tipo de

cisto, o exame dos ovários através de palpação retal não da à certeza, já que os cistos

luteínicos são muitos parecidos com os cistos foliculares neste exame físico, geralmente

o diagnostico é dado apenas no exame pos - morte dos animais. O liquido existente

dentro da cavidade do cisto luteinizado é de coloração amarela, contendo progesterona,

a produção desse hormônio é diretamente proporcional ao diâmetro e à espessura da

parede do cisto, também a intensidade da cor amarela do conteúdo do liquido da

cavidade. A técnica de exame dos ovários através de palpação retal com auxilio de

ultra – sonografia tem permitido a evidenciação e diferenciação dos cistos foliculares e

luteinizados (VALE W. et al 2005).

Page 26: Neliton Das Neves Spindola

26

Outros exames subsidiários podem contribuir para o diagnóstico final e

diferencial, como o exame de peritonoscopia pelo flanco direito e determinação dos

teores de hormônios, no plasma sangüíneo (VALE W. et al 2005).

O exame dos ovários por palpação retal demonstra que os cistos luteínicos têm

forma arredondada, sendo a consistência menos flutuante e com maior tensão na

superfície da formação do que o cisto folicular (VALE W. et al 2005).

O prognóstico geralmente para os cistos luteínicos são bons, porque há grande

possibilidade de recuperação espontânea plena destes distúrbios ovarianos. As resposta

aos tratamentos instituídos são boas (VALE W. et al 2005).

Existem varias terapias possíveis de serem recomendadas para o tratamento dos

cistos luteínicos do ovário, todos eles com bons resultados, principalmente com a

aplicação de prostaglandina F – 2α (VALE W. et al, 2005).

1.5 – DEGENERAÇÃO MICROCÍSTICA DOS OVÁRIOS:

A degeneração microcística dos ovários dos bovinos constitui-se num distúrbio

especial de disfunção ovariana, oriundo da proliferação simultânea de vários folículos

terciários sem a formação de um folículo de graaf e que se mantêm como estruturas

permanentes nos ovários (VALE W. et al 2005).O diâmetro desses microcistos são de

aproximadamente 0,5 cm e assemelham – se a um pequeno cacho de uvas, deixando a

superfície do ovário lobulada e rugosa onde pode – se sentir no exame de palpação retal

(VALE W. et al 2005).

A degeneração microcística ovariana, com causa por pequenos e múltiplos cistos

é muito difícil de ocorrer, mas é freqüente esta degeneração ser causada por cistos

foliculares isolados ou múltiplos (VALE W. et al 2005). Na maioria das vezes que

ocorre esta enfermidade ela acomete novilhas de grande porte e gordas, mas também

acomete vacas velhas (VALE W. et al 2005).

A etiologia desta disfunção ovariana não tem um devido esclarecimento, mas

admite-se um distúrbio nutricional, tanto na carência nutricional grave como no excesso

alimentar, pelo fato de que na maioria dos diagnósticos de degeneração microcística

ovariana os animais estejam obesos. A etiologia desta enfermidade pode ser atribuída a

uma predisposição hereditária (VALE W. et al 2005).

Page 27: Neliton Das Neves Spindola

27

A sintomatologia da degeneração microcística ovariana caracteriza-se,

principalmente, por um longo período da vaca em anestro constante, além de alterações

detectadas na palpação retal: lobulações na superfície dos ovários, conseqüentes as

projeções dos folículos terciários (VALE W. et al 2005).

O prognóstico da degeneração microcística ovariana é ruim, pois há o

envolvimento hereditário na etiologia desta patologia e também há uma impossibilidade

de recuperação dos animais afetados (VALE W. et al 2005).

O tratamento com a aplicação, IM de 5.000 UI de hCG e GnRH,

respectivamente, da degeneração microcística ovariana é muito duvidoso, por não ter

bons resultados. Não se deve recomendar nenhum tipo de tratamento para as vacas com

essa endocrinopatologia, pois trata – se de um distúrbio relacionado à

hereditariedade(VALE W. et al 2005).

Figura 1.6 – Ovário com degeneração microcística.

Fonte: VALE W. et al, 2005.

1.6 – CISTOS DE INCLUSÃO EPITELIAL.

Os cistos de inclusão epitelial originam-se pela invaginação das estruturas

superficiais de revestimento dos ovários, ou seja, de um tecido epitelial de células

cúbicas (VALE W. et al 2005). E a inversão na zona cortical dos ovários ocorreria após

a ovulação (VALE W. et al 2005).

Nos bovinos, espécie no qual é rara a ocorrência de tipo de cisto, a formação

deste pode ocorrer após lesões causadas por enucleação de corpo lúteo, ruptura dos

folículos ou outras manipulações traumáticas sobre os ovários (VALE W. et al 2005).

Esses cistos são pequenos e geralmente múltiplos, não apresentando qualquer

característica e significado clinico para a espécie bovina e outros animais domésticos,

com exceção dos eqüinos (PICKETT, 1966; O’ SHEA, 1968).

Page 28: Neliton Das Neves Spindola

28

1.7 – CISTO DO TUBO OVARIANO.

Os cistos tubos ovarianos devem ser considerados de origem secundaria, sendo

resultantes de uma completa fusão entre as fimbrias do oviduto e o ovário, essa

aderência é conseqüência de um processo inflamatório (VALE W. et al 2005).

A ocorrência do cisto do tubo ovariano é muito importante na espécie bovina e

bubalina, por determinar grandes problemas clínicos e reprodutivos relacionados com

fertilidade das fêmeas, já em outras espécies é raro acontecer essa formação cística (

McENTEE, 1990; VALE, OHASHI, 1994).

A formação do cisto tubo – ovariano é conseqüente de um processo inflamatório

de origem infecciosa, que ascendem do útero aos ovidutos ou originam – se diretamente

de salpinges e perioforites assintomáticas (VALE W. et al 2005).

Na sintomatologia, inicialmente, devem ser considerados aqueles relacionados

às infecções de órgãos do trato genital como: vaginites, catarro vaginal, salpingite ou

ooforite. A esses sintomas, posteriormente, associam – se a distúrbios ovarianos

caracterizados pela infertilidade, com repetições freqüentes de cio (VALE W. et al

2005).

O diagnóstico baseia-se na anamnese, ressaltando do histórico de repetição de

cios e no transcurso do exame clínico, pois a palpação retal dos órgãos do trato genital

revelam aderência da extremidade proximal do útero ao ovário, destacando-se, aí, na

região periovariana, a presença de uma estrutura anormal, tensa porém flutuante, ou

seja, de uma formação cística (VALE W. et al 2005).

A avaliação da evolução dos casos clínicos desta patologia, depende do grau de

comprometimento dos ovários e do oviduto, se for unilateral o animal é subfertil, e se

for bilateral o animal pode ser estéril. Nas duas circunstâncias o prognóstico para cisto

tubo – ovariano é mau, as fêmeas acometidas por essa patologia devem ser descartadas

da reprodução e do rebanho (VALE W. et al 2005).

Existem varias possibilidades para tratamento de cisto tubo – ovariano,

principalmente quando unilateral pela realização de cirurgia ovariectomia, mas é contra

indicado qualquer tipo de tratamento pois há necessidade do controle da enfermidade

infecciosa presente e por produzir animais subferteis (VALE W. et al 2005).

Page 29: Neliton Das Neves Spindola

29

2. Produção in vitro de embriões (PIV)

2.1 – INTRODUÇÃO:

A produção in vitro de embriões (PIV) envolve as etapas de colheita, maturação

(MIV) e fecundação (FIV) de oócitos, bem como cultivo de zigotos e estruturas

embrionárias (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J.

2002). É uma biotecnologia aplicada, alternativamente, para acelerar a produção de

animais geneticamente superiores e impedir, pela aspiração in vivo de folículos guiada

por ultra – sonografia, especialmente em bovinos, o descarte precoce de fêmeas

geneticamente privilegiadas portadoras de alterações adquiridas que impedem que a

reprodução ocorra de forma natural ou mesmo pela transferência de embriões (TE)

(BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

As técnicas de PIV têm sido utilizadas nos diferentes seguimentos da reprodução

assistida das áreas humanas e animal (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.;

FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002). Inicialmente, as técnicas para a produção in vitro

de embriões foram empregadas unicamente em pesquisa fundamental como instrumento

para estudar fenômenos fisiológicos relacionados aos gametas masculinos e femininos.

Os estudos permitiam um melhor entendimento dos fenômenos de crescimento,

maturação e fecundação de oócitos, da capacidade espermática, bem como do

Page 30: Neliton Das Neves Spindola

30

desenvolvimento embrionário precoce e de seus mecanismos de regulação (BAYARD

P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Existem limitações quanto a aplicação das técnicas de PIV, mesmo com um

grande número de trabalhos científicos e comerciais que ajudam a esclarecer duvidas de

profissionais da área, principalmente por pouco conhecimento de regulação dos

fenômenos fisiológicos, especialmente no âmbito molecular.

Além de estar associada a pesquisas cientificas, a PIV é utilizada em situações

especiais de infertilidade em animais e humanos com enfoques bastante diferenciados

(BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002). Na

produção animal, particularmente nos bovinos, a utilização da PIV ainda é limitada em

função da inconsistência dos resultados referentes as taxas e qualidade de mórulas e

blastócitos, do custo inicial para a construção da infra estrutura e do tempo consumido

para executar a rotina de produção de embriões que vai desde a punção (colheita ou

aspiração) folicular in vivo ate o desenvolvimento in vitro de embriões (BAYARD P. D.

G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

2.2 – COLHEITA, PUNÇÃO OU ASPIRAÇÃO FOLICULAR.

Os oócitos de bovinos podem ser obtidos in vitro a partir de punção folicular ou

dissecção folicular, quando o número de ovários são reduzidos, em ovários provenientes

de abatedouro ou, in vivo, por laparotomia ou laparoscopia via flanco e ainda por

laparoscopia ou ultra – sonografia via transvaginal (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO

J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

2.2.1 – Punção de oócitos in vitro.

A colheita in vitro de oócitos provenientes de abatedouros é geralmente,

efetuada por meio punção folicular com agulha acoplada a uma seringa ou bomba de

vácuo e, in vivo, através de uma agulha acoplada a uma bomba de vácuo, guiada por

ultra – sonografia transvaginal (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.;

FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002). Quando os ovários são provenientes de

abatedouros, normalmente são transportados em solução salina 0, 9 % de NaCl aquecida

à 30 – 35°C (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J.

Page 31: Neliton Das Neves Spindola

31

2002). O tempo transcorrido entre a obtenção dos ovários e o inicio da colheita variam,

mas parece não afetar a viabilidade dos oócitos quando realizado no período de ate 3

horas (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

No laboratório os ovários são lavados com nova solução salina, aquecida na mesma

temperatura de transporte e contendo antibiótico, 100 UI de penicilina e 50 µg de

estreptomicina/ml, (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS

V. J. 2002). Existem laboratórios que os ovários são desinfetados com álcool 70°GL.

Com agulha de calibre 18 G, os folículos, medindo 2 e 8 mm de diâmetro, são aspirados

com bomba de vácuo, ajustada para aspirar um volume de 10 ml de liquido por minuto,

pressão que não compromete a quantidade, qualidade e posterior viabilidade dos oócitos

(BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

2.2.2 – Princípios básicos da maturação in vitro de oócitos.

O oócito, no interior do folículo, esta envolto por células da granulosa, formando

o complexo cumulus – oócito (CCO). O conjunto de células próxima da zona pelúcida,

que estão em intimo contato com o oócito por junções intercomunicantes é denominado

de corona radiada. Essas células do cumulus têm função diferenciada das presentes na

mural do folículo em conseqüência do seu intimo contato com o oócito (BAYARD P.

D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Substâncias reguladoras produzidas pelo oócito têm função importante na

atividade das células do cumulus e da mesma maneira, componentes dessas células

somáticas têm participação ativa no mecanismo de crescimento e maturação dos

oócitos. Apesar das células do cumulus não serem essenciais para a maturação dos

oócitos, melhores resultados de maturação, fecundação e de desenvolvimento

embrionário são alcançados na presença desse tipo celular, fato que evidencia a

importância das células do cumulus na maturação do oócito in vitro (BAYARD P. D.

G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Características macroscópicas do folículo são importantes para determinar o

potencial de maturação nuclear e citoplasmática do oócito. Oócitos presentes em

folículos menores que 2 mm de diâmetro, geralmente não possuem componentes para

reiniciarem a meiose, enquanto que folículos maiores de 8 mm já estão em processo de

atresia ou apresentam oócitos em processo de maturação, ressaltando – se que em

ambos os casos, a viabilidade dos oócitos aspirados encontram – se comprometidos

Page 32: Neliton Das Neves Spindola

32

para a PIV (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J.

2002).

A diferença entre folículos dominantes e subordinados parece refletir sobre a

capacidade do oócito em progredir ate a clivagem e sustentar o desenvolvimento

embrionário. Oócitos aspirados de folículos um pouco antes do pico ovulatório do

hormônio luteinizante (LH) têm maior capacidade de desenvolvimento ate blastocisto

do que aqueles com diâmetro entre 2 e 6 mm (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.;

FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Provavelmente, a permanência do oócito no folículo desde a divergência

folicular ate a ovulação é importante para completar o fenômeno denominado de

capacitação do oócito. Os folículos entre 2 a 8 mm têm sido utilizados para maturação

in vitro em decorrência do número disponível no ovário e da dificuldade de determinar

os oócitos que estão capacitados antes da fecundação (BAYARD P. D. G.;

FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

O oócito pode ter o seu potencial de maturação, fecundação e capacidade de

desenvolvimento embrionário estimado pela aparência do CCO. Morfologicamente, os

oócitos com maior potencial de viabilidade devem apresentar ooplasma homogêneo

com granulações finas, de coloração marrom e completamente envolvidos por varias

camadas de células do cumulus dispostas de forma compacta. Entretanto, há grandes

variações quanto aos padrões morfológicos de qualidade de oócitos entre as espécies.

Oócitos viáveis de camundongo apresentam o ooplasma claro, quase sem granulação,

enquanto que em eqüinos, suínos e cães, observa – se ooplasma escuro e as granulações

podem apresentarem – se de forma heterogênea (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J.

R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Existem várias classificações morfológicas para selecionar os oócitos de bovinos

na tentativa de identificar os de maior viabilidade, há uma adaptação feita por

BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. (2002) da

proposição de Leibfried & First (1979), classificação com escala de 1 a 4, considerando

características do cumulus (cobertura do oócito) e do citoplasma do oócito (ooplasma):

Qualidade 1: cumulus compacto presente, contendo mais de três camadas de

células. Ooplasma com granulações finas e homogêneas, preenchendo o interior da zona

pelúcida e de coloração marrom.

Qualidade 2: cumulus compacto parcialmente presente em volta do oócito ou

rodeando completamente o oócito, com menos de 3 camadas celulares. Ooplasma, com

Page 33: Neliton Das Neves Spindola

33

granulações distribuídas heterogeneamente, podendo estar mais concentradas no centro

e mais claras na periferia ou condensadas em um só local aparentando uma mancha

escura. O ooplasma preenche o espaço do interior da zona pelúcida.

Qualidade 3: cumulus presente, mas expandido. Ooplasma contraído, com

espaço entre a membrana celular e a zona pelúcida, preenchendo irregularmente o

espaço perivitelino, degenerado, vacuolizado ou fragmentado.

Qualidade 4: oócito desnudo sem cumulus (“pelado”).

2.2.3 – Punção folicular in vivo guiada por ultra– sonografia.

Em 1988 foi descrita pela primeira vez a técnica de punção folicular para a

colheita de oócitos bovinos, por via transvaginal, guiada por ultra–sonografia

(PIETERSE & KAPPEN, 1988).

Tanto para fins científicos, quantos comerciais, vários grupos vêm utilizando-se

de punção folicular ovariana in vivo guiada por ultra - som para obtenções de oócitos

viáveis.

Na multiplicação de fêmeas de elevado valor genético e zootécnico, essa

biotécnica pode atingir produção media de 25 produtos de uma única fêmea no período

de um ano, fato que supera significamente os índices de TE (BAYARD P. D. G.;

FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002). A punção folicular pode ser

realizada em duas seções semanais por alguns meses sem prejudicar o futuro

desempenho reprodutivo do animal (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.;

FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Essa biotécnica permite um índice de recuperação embrionário de,

aproximadamente, 60% dos folículos puncionados, obtendo – se, de cada vaca, a media

de 14 oócitos, 2 embriões e 1 gestação por semana (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO

J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Para a realização da punção folicular utiliza – se uma sonda ultra – sonográfica,

via transvaginal, de maneira a obter imagem do ovário e dos folículos. Os oócitos são

aspirados pela punção dos folículos com uma agulha de lúmem simples conectada ao

tubo ou filtro de colheita por um tubo de teflon ou silicone. O sistema de punção pode

ser usado com agulha longa de lúmem duplo, sendo que, nesse caso, a lavagem do

folículo aspirado é realizada empregando a bomba de vácuo (BAYARD P. D. G.;

FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Page 34: Neliton Das Neves Spindola

34

Os oócitos são avaliados e submetidos à maturação, fecundação e cultivo

embrionário ate o estagio de blastocisto (7 a 9 dias após a inseminação in vitro), estágio

de desenvolvimento mais adequado para que os embriões sejam transferidos para as

receptoras ou submetidos à congelação (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.;

FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

O emprego da punção folicular para PIV requer algumas exigências, como

equipe de trabalho altamente especializada, equipamentos de elevado custo e com

tempo necessário para o desenvolvimento da técnica, limitando sua ampla difusão para

trabalhos a campo. Fatores, como baixo índice de produção in vitro de embriões, baixa

qualidade e congelabilidade dessas estruturas decorrentes da PIV, anormalidades fetais

com conseqüentes problemas de distocia também têm colaborado para limitações de

uma maior utilização dessa biotécnica (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.;

FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Em alguns paises da Europa e Estados Unidos, existem centros de PIV para o

recebimento de oócitos de punção folicular de locais distantes. Esse tipo de

procedimento é uma ótima opção para distribuição de benefícios dessa tecnologia,

entretanto, o tempo restrito de transporte, durante o qual o oócito permanece viável

desde a punção folicular ate o local da PIV, tem se apresentado como outro fator

limitante de expansão de punção folicular ovariana (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO

J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. 2002).

Atualmente é possível realizar o transporte dos oócitos por um período de

aproximadamente 10 a 12 horas, porém, o desenvolvimento de uma técnica viável de

preservação de oócitos imaturos, com todas as vantagens intrínsecas, permitirá maior

difusão dessa biotecnologia (BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO

FREITAS V. J. 2002).

Garrafas térmicas são utilizadas com reguladores de temperatura (espécie de

banho-maria) para proteger e aumentar o tempo de viabilidade dos oócitos puncionados,

proporcionando eficiência no transporte até a central para a realização da PIV. Dentro

da garrafa os oócitos vão separados em tubos marcados com o número do animal

puncionado e número de oócitos viáveis (qualidade 1 e 2). O meio de transporte

utilizado tem na sua composição soro, PBS, entre outros, sendo que a temperatura deve

ficar entre 38° a 40°C.

Page 35: Neliton Das Neves Spindola

35

3. Podologia dos bovinos

3.1 – INTRODUÇÃO.

Segundo Nicoletti (2004) as c1audicações representam uma das principais

causas de dor e desconforto para os bovinos, além de perdas econômicas, que podem

influenciar a viabilidade econômica da pecuária leiteira.

As lesões podais são responsáveis por aproximadamente 90% das claudicações

nesta espécie e os prejuízos econômicos se traduzem por queda na produção, custo do

tratamento (serviços profissionais e medicamentos), leite descartado por resíduos de

antibióticos, perda do escore corporal, problemas reprodutivos como ausência de cio,

maior número de serviços/prenhez, maior intervalo entre partos, pior qualidade do

sêmen, descarte precoce do animal com perda total ou parcial da carcaça, custo de

reposição e maior suscetibilidade a outras doenças, como, por exemplo, a mastite

(NICOLETTI 2004).

As características locomotoras dos bovinos, movendo-se mais lentamente que

os eqüinos, e as diferenças na natureza de suas funções fazem com que muitas das

afecções podais naquela espécie evoluam cronicamente, o que toma a recuperação lenta

e onerosa (NICOLETTI 2004).

As fazendas podem melhorar consideravelmente a sua produtividade

aperfeiçoando o manejo, entretanto o aumento do rebanho e a intensificação da

Page 36: Neliton Das Neves Spindola

36

produção de leite em sistemas de confinamento permanente, quando não conduzidos

adequadamente, tendem a aumentar os problemas locomotores das vacas leiteiras, o

que de certa forma confirma a expressão "ser eficiente não significa ser grande"

(Thomas Fuhrmann) (NICOLETTI 2004).

Rebanhos maiores exigem dos profissionais maior ênfase à prática de medicina

veterinária preventiva em rebanho, respeitando-se, evidentemente, os casos individuais

(NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) embora se considere de aproximadamente 7 a 10%

um número aceitável de vacas com claudicação em um rebanho/ano, verifica-se que

esse índice é superado em muito nas condições brasileiras, pois, assim como em

qualquer, outro país, a incidência de problemas locomotores varia de uma região para

outra, embora as perdas decorrentes em geral não sejam quantificadas pelos produtores.

Por outro lado, observa-se falta de padronização na terminologia que

caracteriza as diferentes doenças podais, o que pode causar divergência e muitas vezes

dificultar a comunicação entre os profissionais, ou seja, lesões semelhantes são

descritas empregando-se nomenclaturas diferentes, muitas das quais consagradas

regionalmente (NICOLETTI 2004).

No Brasil, esse expressivo problema ainda é tratado como algo sem importância

e pouca coisa se conhece sobre as diferentes afecções nos cascos, seus respectivos

tratamentos, bem como a melhor maneira de preveni – las e controlá – las (SOUZA

DIAS; MARQUEZ JR 1997).

3.2 – ANATOMIA DOS PÉS DOS BOVINOS.

O pé do bovino é constituído de dois dígitos completamente desenvolvidos e

funcionais, o III ou medial e o IV ou lateral, e dois dígitos rudimentares e afuncionais, o

II e o V, denominados paradígitos ou "sobre-unhas", localizados na face palmar ou

plantar da articulação metacarpo ou metatarsofalangeana (boleto). Cada dígito

funcional é constituído de três falanges e três sesamóides (dois proximais e um distal).

O dígito bovino é composto de três tecidos: uma epiderme queratinizada, uma derme

denominada corium ou cório, altamente vascularizada e responsável pela nutrição do

casco, e subcutâneo formado pelo coxim ou almofada digital (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) a epiderme é dividida em estrato basal, que é a junção

Page 37: Neliton Das Neves Spindola

37

entre a epiderme e a derme, estrato germinativo, responsável pelo crescimento do

casco, estrato córneo, ou seja, o estojo córneo de revestimento, o qual denominamos de

casco propriamente dito. O estrato córneo, por sua vez, é dividido em estrato externo,

estrato médio e estrato interno ou lamelar. O estrato lamelar da epiderme interdigita

com o estrato lamelar da derme.

Segundo Nicoletti (2004) a epiderme queratinizada tem sua origem na camada

germinativa, que recebe suprimento sanguíneo e conseqüentemente nutrição para a

divisão celular através do cório (corium) ou derme situada na borda coronária, uma

região, portanto, altamente vascularizada, ativa metabolicamente e rica em anastomoses

arteriovenosas. Existe uma íntima relação entre a camada germinativa e o cório, ou

seja, uma lesão em uma estrutura prejudica a outra.

O casco é composto de aminoácidos (metionina, histidina, lisina e arginina),

água, macro e microelementos minerais (cálcio, fósforo, cobre, zinco, enxofre, cobalto,

molibdênio) e pequena quantidade de gordura (NICOLETTI 2004).

A qualidade do casco resulta de uma associação de fatores ambientais e

estacionais (umidade, temperatura, sistemas de confinamento ou a pasto), nutrição e

genética (NICOLETTI 2004).

A taxa média de crescimento dos cascos nos bovinos é bastante variável em

função desses fatores, tendo uma média de crescimento de 5 a 6 mm/mês, com

variações entre 3 e 9 mm (NICOLETTI 2004).

Como o dígito lateral do membro posterior está submetido a forças

biomecânicas maiores que o dígito medial, ocorre nele um estímulo à camada

queratogênica para maior produção de tecido córneo, ou seja, há hipertrofia do corium

e hiperplasia da camada germinativa, e o resultado é que muitas vezes encontramos um

dígito lateral de dimensões maiores que o dígito medial (TOUSSAINT RAVEN, 1985).

Comprimento da parede dorsal do casco (linha a). Deve ser de

aproximadamente 7,5 cm, tomando-se como base a raça holandesa preta e branca. Não

existe um padrão definido dessa medida na maioria das raças tanto de leite quanto de

corte (NICOLETTI 2004).

Page 38: Neliton Das Neves Spindola

38

Figura 3-1. Face dorsal do pé. Parede (a), Borda coronária (b), Parede axial (c),

Parede abaxial (d), Pinça (e). Comissura interdigital (f) (NICOLETTI 2004).

Região bulbar

Pré-bulbar

Subapical

Apical

Figura 3-2. Regiões da superfície solear dos dígitos. Sola (a), linha branca (b),

Bulbos do talão (c e c'), Talão (d), Sulco axial (e) (NICOLETTI 2004).

Altura do talão (linha b). A altura ideal aproximada deve ser entre 3,5 e 3,8 cm,

com variações de 2,4 até 4,4 cm (NICOLETTI 2004).

Ângulo dorsal do casco (linha c). Esse ângulo é bastante variável entre as

diferentes raças de leite e corte, e mesmo entre indivíduos de uma mesma raça, com

valores médios em tomo de 50° nos dígitos anteriores e 45° nos dígitos posteriores

(NICOLETTI 2004).

Page 39: Neliton Das Neves Spindola

39

Figura 3-3. Parede abaxial do dígito vista lateralmente. As mensurações podem ser

utilizadas para análise objetiva da conformação digital (NICOLETTI 2004).

Figura 3-4. Pele interdigital (a) e Espaço interdigital ou

interungular (b) (NICOLETTI 2004).

Comprimento diagonal do casco (linha d). Altura da pinça (linha e). A relação

pinça/talão, ou seja, a altura da pinça (linha e) e a altura do talão (linha b), deve manter

uma proporção aproximadamente de 2:1 (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) na prática, o critério de seleção quanto à qualidade dos

cascos é feito subjetivamente pelo exame visual.

O tamanho do dígito pode ser utilizado como critério objetivo de seleção, porém

as mensurações, no caso de fêmeas, devem ser obtidas antes ou logo após o primeiro

Page 40: Neliton Das Neves Spindola

40

parto, porque a forma do dígito pode se modificar com o avanço da idade do animal ou

como resultado de doenças, como, por exemplo, a laminite. Por outro lado, a seleção de

touros baseada em mensurações dos cascos aumenta a longevidade de suas filhas e

reduz a prevalência de distúrbios digitais (NICOLETTI 2004).

Entretanto, a falta de dados sobre os valores médios padrões dessas medidas na

maioria das raças bovinas torna difícil a sua utilização, como critério de seleção

(NICOLETTI 2004).

Figura 3-5. Estruturas internas do dígito. Vista dorsopalmar ou dorsoplantar

(NICOLETTI 2004).

1. Articulação metacarpofalangeana

2. Articulação interfalangeana proximal

3. Articulação interfalangeana distal

Fp = Falange proximal

Fm = Falange média

Fd = Falange distal

Mt = Metacarpiano

3.3 – FATORES DE RISCO PARA AS DOENÇAS PODAIS.

As doenças podais em bovinos têm origem multifatorial e estão relacio-

nadas aos sistemas de produção. Tradicionalmente, os profissionais são treinados para

o diagnóstico e tratamento das doenças quando estas se manifestam. Entretanto, é

Page 41: Neliton Das Neves Spindola

41

fundamental observar os princípios epidemiológicos básicos necessários para a

implantação de um programa de prevenção e a identificação dos fatores de risco ou

predisponentes mais comumente envolvidos nas doenças do aparelho locomotor, em

particular das vacas leiteiras (NICOLETTI 2004).

3.3.1 - Genéticos:

Segundo Nicoletti (2004) a seleção genética para aumento da produção leiteira

não tem tido a correspondente seleção para qualidade dos cascos e membros, a fim de

os animais suportarem maior peso corporal e as condições ambientais desfavoráveis

dos confinamentos. O casco está em um estado de contínua modificação e as taxas de

produção e desgaste, além das variações na sua qualidade, se tornam fatores

importantes em animais confinados.

Em condições normais, a produção e o desgaste do casco ocorrem em

proporções aproximadamente iguais, porém a taxa de crescimento do casco é maior em

animais em confinamento do que a pasto. Sabe-se que as maiores taxas de crescimento

do casco ocorrem em vacas confinadas e alimentadas com rações que apresentam altos

níveis de proteína (NICOLETTI 2004).

Existe um consenso geral de que muitas das lesões digitais são resultado de má

qualidade dos cascos. Um casco de boa qualidade é importante não apenas para

proteção mecânica, como também contra a ação constante de agentes químicos e

bactérias do ambiente, sobretudo nas condições de confinamento permanente

(NICOLETTI 2004).

Além dos fatores que determinam à taxa de produção/desgaste e dureza ou

resistência dos cascos, outra característica estrutural que estabelece a sua qualidade é a

conformação dos dígitos (NICOLETTI 2004).

Sabe-se, por exemplo, que a seleção para aumentar o ângulo da parede dorsal

do casco e talões diminui a freqüência de lesões que ocorrem na laminite, contusão da

sola e erosão dos talões (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) é desejável que os animais tenham um espaço

interdigital, ou seja, a separação ou abertura entre as unhas, suficiente para evitar que

dejetos (barro e fezes) se acumulem entre os dígitos, podendo ser considerado normal

Page 42: Neliton Das Neves Spindola

42

ou satisfatório o espaço entre os dígitos que permite a inserção do dedo indicador. De

modo contrário, quando existe um afastamento muito grande dos dígitos, muita tensão

é colocada nos ligamentos cruzados situados entre as falanges, além de expor a região

interdigital a ferimentos traumáticos.

Com relação à conformação dos membros, uma condição hereditária

caracterizada por jarrete muito reto, ou seja, próximo ou acima de 175°, predispõe os

animais a artrites, tanto no tarso e joelho quanto na articulação coxofemoral. A

angulação ideal da articulação tarsiana em novilhas holandesas gira em torno de 165°.

Em touros deve ser igual ou inferior a 170° (NICOLETTI 2004).

Ângulo do casco abaixo de 45° e jarretes fechados foram associados com

aumento do índice de claudicação, sendo as vacas pesadas mais predispostas a

desenvolverem problemas locomotores (NICOLETTI 2004).

A pigmentação do casco é também uma característica racial e, embora não

exista comprovação científica, diversos autores relatam que os cascos claros ou não

pigmentados têm menor resistência que os cascos escuros ou pigmentados, e seriam,

portanto, mais suscetíveis a lesões (NICOLETTI 2004).

3.3.2 - Condições ambientais (ambiência).

O casco, formado primariamente pelo processo de queratinização das células

epidérmicas, tem função não apenas de proteção mecânica, mas atua também contra a

permanente ação de fatores ambientais como umidade, agentes químicos presentes na

urina e fezes, além de bactérias, particularmente nas condições de confinamento

(NICOLETTI 2004).

As vacas em condições de pasto têm os cascos mais secos que as vacas mantidas

confinadas. Existe uma relação inversa entre a resistência ou dureza do casco e o seu

conteúdo em água, isto é, um aumento do conteúdo de água leva a uma menor

resistência do casco e, conseqüentemente, a uma maior taxa de desgaste (NICOLETTI

2004).

Segundo Nicoletti (2004) a permanente exposição dos cascos à umidade dos

currais de confinamento podendo permitir que pequenos objetos pontiagudos, como os

pedregulhos e cascalhos tanto dos corredores de passagem dos animais quanto da

própria deterioração do piso de concreto, penetrem com maior facilidade nas estruturas

profundas dos dígitos, predispondo a infecções secundárias.

Page 43: Neliton Das Neves Spindola

43

Esses problemas são agravados quando as vacas permanecem a maior parte do

tempo em pé, quando os currais de confinamento não dispõem de local confortável

(tamanho dos cubículos e qualidade da cama) para os animais deitarem (NICOLETTI

2004).

Considera-se que as vacas estão em condições confortáveis nos confinamentos

quando 50 a 60% delas estão deitadas e ruminando entre 2 e 4 horas, após a

alimentação. As vacas leiteiras necessitam deitar entre 12 e 14 horas/dia (NICOLETTI

2004).

As más condições de higiene e superlotação dos currais favorecem a instalação

de infecções podais específicas, como Flegmão Interdigital (Footrot), Dermatite

Interdigital e Dermatite Digital Papilomatosa (NICOLETTI 2004). Além disso, doenças

infecto-contagiosas sistêmicas, principalmente virais, como a febre aftosa, devem ser

investigadas em casos de surtos agudos de claudicação em bovinos (NICOLETTI 2004).

3.3.3 – Nutrição.

Para aumentar a produção, busca-se o maior consumo de alimento possível pelos

animais. Assim sendo, as rações para bovinos confinados em geral são formuladas com

altos teores energéticos e muitas vezes com baixa quantidade ou qualidade de fibras

(NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) a ração para vacas de alta produção leiteira necessita

um equilíbrio entre os carboidratos chamados estruturais (provenientes de fibra vegetal)

e os não estruturais (provenientes de grãos), uma vez que os grãos contêm mais

açúcares e amido que as forragens e têm alta capacidade de fermentação no rúmen.

A laminite é responsável por 60 a 70% dos problemas dos cascos das vacas

leiteiras em confinamento, e as duas principais causas são: animais pesados

permanecendo muito tempo em pé no piso de concreto e acidose ruminal provocada

por fatores diretamente relacionados à nutrição (NICOLETTI 2004).

Além disso, o tamanho das partículas dos alimentos (silagem e grãos muito

moídos) também induz a menor ruminação e, conseqüentemente, a menor salivação e,

portanto, menos bicarbonato para tamponamento do conteúdo ruminal. Recomenda-se

que pelo menos 25% da silagem de milho, que é o alimento básico da vaca leiteira,

tenha fibras maiores de 5 cm (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) as forragens devem corresponder a pelo menos 40%

Page 44: Neliton Das Neves Spindola

44

da matéria seca das rações para vacas em lactação e o nível de concentrado não deve

exceder 60% (normalmente são fornecidas quantidades bem superiores, podendo ul-

trapassar 85%).

A inadequada adaptação ruminal à mudança da ração de manutenção para

produção se deve a dois importantes componentes das condições ruminais: a população

microbiana, que converte os hidratos de carbono em ácidos graxos voláteis (a

adaptação da flora ruminal demora cerca de 2 semanas), e as papilas ruminais, que

transportam os ácidos graxos voláteis produzidos pelas bactérias para o sangue (o

alongamento das papilas demora 6 a 8 semanas) (NICOLETTI 2004).

Em relação aos microelementos minerais, destacamos o cobre e o zinco, que,

além de atuarem como componentes essenciais de vários sistemas enzimáticos, são

elementos fundamentais na síntese de queratina para produção e manutenção da

integridade dos cascos (NICOLETTI 2004).

Os níveis de cobre podem variar em função das estações do ano, de um ano para

outro ou mesmo de um pasto para outro, numa mesma fazenda. Sabe – se que a

disponibilidade e a utilização do cobre são reduzidas diante de excesso de molibdênio,

ferro ou sulfato (NICOLETTI 2004).

O estresse e as infecções podais reduzem a quantidade de zinco nos tecidos,

como acontece com o cobre. Além disso, altos níveis de cobre e ferro antagonizam a

absorção de zinco e altos níveis de cálcio na dieta aumentam a demanda por zinco

(NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) a suplementação com os compostos zinco-metionina

(5 g/animal/dia) e zinco-lisina, bem como o sulfato de zinco (5 g/animal/dia), reduz a

prevalência e severidade das doenças digitais nos bovinos.

As vitaminas A, E e biotina, além de outros elementos como enxofre,

cobalto,molibdênio, manganês e selênio, também devem fazer parte da composição dos

suplementos utilizados para uma boa qualidade dos cascos (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004), a suplementação com 10 g de biotina/animal/dia

previne a ocorrência de rachaduras no casco, além de diminuir o índice de c1audicação

em novilhas após o seu primeiro parto.

3.3.4 – Fatores relacionados ao individuo – Estresse.

Segundo Nicoletti (2004) quanto maior a idade e mais lactações, maior o risco

Page 45: Neliton Das Neves Spindola

45

de as vacas desenvolverem lesões podais. Por exemplo, uma vaca de 10 anos tem

quatro vezes mais risco de desenvolver problema loco motor que uma de 3 anos.

Estresse do parto, confronto de novilhas recém-paridas com vacas dominadoras

nos confinamentos e mudança brusca na alimentação são fatores importantes. A maior

prevalência de problemas ocorre nos primeiros 2 a 3 meses pós-parto. Além disso,

novilhas parindo muito cedo também fazem parte do grupo de risco (NICOLETTI

2004).

O tamanho do rebanho (quanto maior a concentração de animais/área física,

maior o risco) e a experiência do proprietário, administrador e funcionários no manejo

com os animais são fatores que também devem ser considerados (NICOLETTI 2004).

O diagnóstico das causas específicas de claudicação em vacas leiteiras implica

a investigação dos fatores de risco descritos, observando-se principalmente as seguintes

etapas (BARGAI, 2000):

1º Etapa: Exame dos cascos de todas as vacas que estão mancando;

2º Etapa: Exame dos pés de uma amostra representativa de animais do rebanho

(5 a 10%) que não estão mancando. Essa amostra é constituída de novilhas de

primeira parição (entre 1 e 2 meses pós-parto), vacas adultas (entre 1 e 2 meses

pós-parto) e vacas adultas paridas (entre 4 e 8 meses);

3º Etapa: Exame das condições ambientais, como qualidade do piso dos

confinamentos, sala de ordenha, corredores e passagens, cama dos cubículos e

outros locais de concentração de animais (cochos e bebedouros);

4º Etapa: Exame dos alimentos, como silagem, ração total misturada, feno ou

silagem de feno, concentrado comercial ou preparado e misturado na fazenda,

suplementos minerais etc.

Page 46: Neliton Das Neves Spindola

46

Figura 3.6 – Confinamento em sistema "tie-stall". Observar a posição dos

membros posteriores (seta), com os talões apoiados no limite da canaleta de coleta de

dejetos causando grande instabilidade no equilíbrio e desconforto ao animal

(NICOLETTI 2004).

Figura 3.7 – A permanente umidade dos pisos nos currais, associados à estações

climáticas criticas, favorece a um amolecimento os cascos e macera a pele interdigital,

enfraquecendo a barreira natural desses tecidos e criando condições favoráveis para os

agentes infecciosos presentes no ambiente e que têm afinidade com a região dos cascos

(NICOLETTI 2004).

Page 47: Neliton Das Neves Spindola

47

3.4 – DERMATITE DIGITAL PAPILOMATOSA.

A dermatite digital papilomatosa trata-se de uma infecção da pele digital

localizada com freqüência na face plantar próxima à margem coronária, na comissura

entre os bulbos dos talões, envolvendo predominantemente a camada epidérmica e em

menor extensão a derme. Em geral os membros posteriores são mais afetados, podendo

acometer animais de diferentes faixas etárias; entretanto, é mais predominante em

novilhas e vacas jovens (NICOLETTI 2004).

As lesões típicas, em sua forma erosiva ou u1cerativa, são planas, circulares (1

a 4 cm de diâmetro), circunscritas por um bordo epitelial esbranquiçado de fundo

avermelhado e com pontos claros constituídos por inúmeras pequenas papilas córneas

brancas, que dão à ferida um aspecto semelhante ao morango (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) nessa fase, a lesão é bastante sensível, sangra com

facilidade quando manipulada e em casos avançados pode expandir-se em todas as

direções e atingir os talões, onde produz erosões profundas e intensa claudicação. É

bastante freqüente a associação da Dermatite Digital com a Erosão dos Talões.

Na forma proliferativa, a lesão apresenta característica papilomatosa ou

verrucosa, podendo atingir uma área considerável, embora nessa fase possa não haver

claudicação. A lesão proliferativa pode ser uma evolução da lesão u1ceratival erosiva.

É importante destacar que em suas fases iniciais a lesão da Dermatite Digital pode ter

um aspecto semelhante à da Dermatite Interdigital (NICOLETTI 2004).

A rápida disseminação da doença sugere a presença de um agente infeccioso

altamente contagioso, provavelmente de origem bacteriana, já que ate o momento não

foi possível o isolamento de um suposto agente viral (papiloma vírus) (NICOLETTI

2004).

O agente mais freqüentemente isolado das lesões é uma bactéria do grupo das

Spirochaetas, que são bastonetes espiralados gram-negativos encontrados em vida livre

no lodo, água doce ou salgada, esgoto e água suja. Essas bactérias produzem uma

toxina queratolítica que tem predileção por células queratinizadas (NICOLETTI 2004).

As Spirochaetas algumas vezes encontram-se associadas a outra bactéria

denominada Dichelobacter nodosus, agente que também é encontrado na Dermatite

Interdigital. Acredita-se numa relação entre essas duas doenças (NICOLETTI 2004).

Além disso, não se sabe se as bactérias têm um papel primário na etiologia da

Page 48: Neliton Das Neves Spindola

48

doença ou apenas oportunista, embora, pelo fato de que as lesões freqüentemente

involuem ou desaparecem com o uso de antibióticos, façam crer na primeira

possibilidade (NICOLETTI 2004).

Os fatores de risco para a Dermatite Digital Papilomatosa são:

• Introdução de animais infectados no rebanho (o principal fator de risco);

• Tamanho do rebanho (quanto maior a concentração de animais/área, maior o

risco);

• Más condições higiênicas do estábulo (excessiva umidade, barro e fezes);

• Transmissão direta por casqueadores provenientes de fazendas contaminadas;

• Presença da Dermatite Interdigital (causada por Dichelobacter nodosus +

Fusobacterium necrophorum) em alta incidência no rebanho. Esse tipo de

pododermatite tem sido considerado uma importante causa predisponente ao

desenvolvimento da Dermatite Digital. Como já foi citado, existe uma

provável associação e similaridades entre essas duas formas de dermatite, bem

como já foram isoladas Spirochaetas morfo e antigenicamente idênticas em

ambas. Algumas vezes, dependendo da fase de evolução das duas doenças, as

lesões se confundem.

3.4.1. Diagnóstico.

A suspeita diagnóstica da Dermatite Digital é baseada na história de um surto

de animais com c1audicação no rebanho e no encontro das lesões características dessa

afecção. Embora a doença produza c1audicação moderada a intensa, alguns animais

afetados podem não mostrar c1audicação, o que significa que todos os animais devem

ser inspecionados (NICOLETTI 2004).

Os pés devem ser examinados após a limpeza com água e sabão. Já foi citado

que algumas lesões da Dermatite Digital podem ser confundidas com as da Dermatite

Interdigital, embora esta última doença geralmente não cause c1audicação

(NICOLETTI 2004).

3.4.2. Tratamento.

Page 49: Neliton Das Neves Spindola

49

Para se instituir o tratamento dos animais acometidos e estabelecer medidas de

controle da doença, é necessário inicialmente determinar a magnitude do problema na

fazenda. Se for confirmada a presença da doença no rebanho, pode-se deparar com:

• Fazenda com baixo número de animais afetados (< 10%) e com pouca

repercussão econômica, o que é uma situação incomum;

• Fazenda convivendo cronicamente com o problema e a doença encontra

se controlada e a produção, estabilizada;

• Fazenda com surto explosivo e alta incidência de lesões, com muitos

animais mancando e queda de produção.

Considerando-se que cada fazenda tem características próprias de manejo e que

a dimensão dos problemas causados pela doença difere de uma para outra, é importante

que o tratamento e controle da Dermatite Digital Papilomatosa seja adaptado para cada

situação (NICOLETTI 2004).

Dois procedimentos terapêuticos podem ser estabelecidos (após casqueamento e

remoção dos tecidos córneos comprometidos) no tratamento dessa enfermidade:

1. Depositar Cloridrato de Oxitetraciclina pó - Terramicina Pó Solúvel

diretamente sobre a lesão e proteger a ferida com bandagem. As lesões

iniciais evoluem rapidamente para cura após 3-4 curativos, embora

possam recidivar.

2. Diluição de Cloridrato de Oxitetraciclina pó na proporção de 25 a

100mg/ml ou 25 a 100 g/litro de água e fazer uma pulverização diária

desta solução (por exemplo, com pulverizador costal) diretamente nas

lesões podais durante 5 dias consecutivos, usando um volume aproximado

de 20 ml/pé. Interromper o tratamento por 2 dias e então repetir mais 3

aplicações em dias alternados ate completar um total de 8 aplicações. O

esquema pode ser repetido em intervalos de 30 dias.

É importante a limpeza dos pés antes da medicação, o que pode ser feito em

pedilúvios, lava-pés ou bomba lava-jato. Logo após a medicação, os animais devem

permanecer em local limpo e seco (NICOLETTI 2004).

Em caso de surto e com número elevado de animais afetados, o uso de

pedilúvios pode ser feito na diluição de 8 a 10 g de Cloridrato de Oxitetraciclina

pó/litro de água, obedecendo a uma das seguintes opções de esquemas:

Page 50: Neliton Das Neves Spindola

50

• passagem diária dos animais durante 5 dias consecutivos; interromper por 2 dias

e repetir na semana seguinte.

• passagem dos animais 2 vezes/dia na primeira semana, 2 vezes/scmana na

segunda e terceira semanas e 1 vez/semana na quarta semana.

O pedilúvio com antibiótico para o tratamento da Dermatite Digital, é bastante

caro e ineficiente, quando realizado tardiamente ou devido a inativação do produto com

material orgânico. Os melhores resultados são obtidos nas fases iniciais ou

intermediárias de evolução da doença, quando se trata de rebanho pequeno, e os pés dos

animais podem ser lavados antes do tratamento (NICOLETTI 2004).

Com tudo, mal manejado, o pedilúvio pode contribuir para aumentar a

disseminação da Dermatite Digital no rebanho (NICOLETTI 2004).

Lesões crônicas e intensamente proliferativas não respondem ao tratamento

tópico, podendo ser excisadas cirurgicamente, requerendo, entretanto, cuidados pós-

operatórios (NICOLETTI 2004).

Pode-se proceder ao uso parenteral de antibiótico em casos refratários e quando

existe intensa claudicação: Oxitetraciclina longa ação (10 a 20 mg/ kg), Penicilina G

Procaína.(22.000 UI/kg 2 vezes/dia/3 dias) ou Ceftiofur Sódico (2 mg/kg/dia/3 dias)

(NICOLETTI 2004).

O uso de produtos não antibióticos como sulfato de cobre (10% ), sulfato de

zinco (20%), formalina (3% a 5%), (sulfato de cobre 2% + formalina 3%),

tradicionalmente utilizado em pedilúvios para controle de outras afecções podais, têm

sido empregados no tratamento da Dermatite Digital com resultados variáveis. O

pedilúvio com sulfato de cobre pode contribuir, no controle da Dermatite Interdigital

(NICOLETTI 2004).

Uma característica da Dermatite Digital Papilomatosa é a alta taxa de

recorrência, que chega a atingir 50%, sugerindo que a infecção natural não confere

imunidade ao animal, o que pode dificultar o desenvolvimento de uma vacina eficiente;

além disso, o agente causal, ou eventual associação de agentes, ainda não está

completamente esclarecido (NICOLETTI 2004).

3.4.3. Medidas de controle.

• Controlar o trânsito de animais infectados;

Page 51: Neliton Das Neves Spindola

51

• Aplicar quarentena em animais a serem introduzidos no rebanho;

• Isolar os animais acometidos;

• Melhorar as condições higiênicas do estábulo;

• Examinar regularmente os pés dos animais.

É importante lembrar que os materiais utilizados para casqueamento podem ser

uma via de contaminação.

Figura 3.8. Dermatite Digital. Extensa lesão proliferativa afetando o paradígito

ou "sobre unha". Observa-se também lesão na comissura interdigital e erosão dos

talões (NICOLETTI 2004).

Figuras 3.9 e 3.10 - Dermatite Digital na forma ulcerativa ou erosiva. A lesão

encontra-se deslocada para um dos dígitos (esquerda), infiltrando-se em direção ao

talão correspondente. Na figura a direita, a lesão erosiva bastante avançada

comprometeu ambos os talões (NICOLETTI 2004).

Page 52: Neliton Das Neves Spindola

52

Figura 3.11. Dermatite Digital. Lesão proliferativa ou granulomatosa. Nesta

fase, o tratamento passa a ser cirúrgico, porém a ferida requer cuidados pós-

operatórios (NICOLETTI 2004).

Figuras 3.12 e 3.13. Uso tópico de cloridrato de oxitetraciclina pó 5 a 10 g (1 ou 2

colheres de chá) na lesão localizada na face plantar da comissura interdigital, colocando

se a seguir um protetor (NICOLETTI 2004).

3.5 – DERMATITE INTERDIGITAL

Segundo Nicoletti (2004) a dermatite interdigital é uma inflamação superficial

da epiderme interdigital causada por uma bactéria específica, anaeróbica gram-negativa,

denominada Dichelobacter nodosus (Bacteróides nodosus). A lesão ocorre tipicamente

na região da comissura interdigital, tanto na face dorsal quanto na face palmar ou

plantar (mais comum), entre os bulbos dos talões.

Dependendo da fase de evolução da doença, as lesões da Dermatite Interdigital

podem ser confundidas com aquelas observadas na Dermatite Digital Papilomatosa,

inclusive com isolamento de Spirochaetas morfológica e histologicamente semelhantes

em ambas as doenças (NICOLETTI 2004).

Page 53: Neliton Das Neves Spindola

53

Tem prevalência elevada em locais de alta concentração de animais onde as

condições ambientais de excessiva umidade, calor, acúmulo de urina c fezes

enfraquecem a pele interdigital e favorecem a penetração da bactéria na camada

epidérmica, muitas vezes em sinergismo com Fusobacterium necrophorum

(NICOLETTI 2004).

Em geral, não causa claudicação e encontra-se intensamente difundida nos

rebanhos leiteiros em sistema intensivo de produção (NICOLETTI 2004).

Considerando-se que os rebanhos que têm alta incidência de Dermatitc

Interdigital têm também alta incidência de Dermatite Digital, assim como o isolamento

de bactérias comuns em ambas, especula-se a possibilidade de tratarse de uma mesma

doença em fases distintas de evolução (NICOLETTI 2004).

Na fase inicial da doença (estágio I), a lesão da pele na região interdigital

apresenta-se como uma inflamação e ulceração na epiderme, cuja evolução leva a uma

destruição progressiva na produção de queratina no nível do bulbo do casco

(NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) nos casos avançados, a infecção bacteriana secundária

invade os talões, onde causa erosões, rachaduras ou fissuras (estágio II). Além disso, na

fase crônica a hiperqueratose pode tomar as lesões semelhantes àquelas que ocorrem na

Dermatite Digital.

O tratamento consiste no uso tópico de sulfa em pó (sulfametazina) + sulfato de

cobre em partes iguais. Pode também ser usado o Cloridrato de Oxitetraciclina pó

(NICOLETTI 2004).

Pedilúvios regulares com sulfato de cobre 10% ajudam a controlar a infecção

quando na fase inicial da doença, antes que ocorram complicações secundárias, como

as erosões dos talões. Antibiótico sistêmico tem pouco efeito (NICOLETTI 2004).

Como os microrganismos que causam a Dermatite Interdigital permanecem nas

fissuras e erosões que acometem os talões, é indispensável a toalete local para remoção

dos tecidos degenerados dessas áreas, a fim de que as soluções dos pedilúvios possam

agir sobre os tecidos afetados (NICOLETTI 2004).

Page 54: Neliton Das Neves Spindola

54

Figura 3.14. Dermatite Interdigital (NICOLETTI 2004).

3.6 – EROSÃO DOS TALÕES.

É um problema bastante comum em vacas leiteiras, mais idosas (acima de 5

anos e várias lactações), mantidas confinadas em más condições higiênicas. Consiste na

destruição da epiderme bulbar (corneificada) no nível dos talões, causando sulcos ou

fissuras verticais nessa região dos dígitos (NICOLETTI 2004).

Quando as lesões se tomam bastante extensas e profundas, a destruição dos

talões leva a um apoio defeituoso, causando claudicação. A perda do tecido córneo dos

talões altera o equilíbrio natural do pé e remove uma parte essencial do mecanismo

anticoncussão do dígito (NICOLETTI 2004).

O principal agente bacteriano envolvido na Erosão dos Talões é o

Dichelobacter nodosus, o mesmo da Dermatite Interdigital, embora outras bactérias

secundárias, como Fusobacterium necrophorum, possam ser também isoladas. Essa

doença tem sido considerada como um estágio avançado da Dermatite Interdigital

(denominado estágio II) (NICOLETTI 2004).

A alta concentração de animais e a exposição prolongada em umidade, agentes

químicos (urina e fezes) e físicos (abrasividade do piso) são fatores que aumentam a

incidência dessa afecção. A Erosão dos Talões pode também estar associada à Laminite

subclínica (NICOLETTI 2004).

As lesões são características e variáveis quanto à profundidade, com as maiores

lesões ocorrendo geralmente na face axial dos talões, sendo os dígitos posteriores mais

freqüentemente afetados, sobretudo os laterais (NICOLETTI 2004).

3.6.1. Tratamento e controle.

Page 55: Neliton Das Neves Spindola

55

Consiste no casqueamento com remoção dos tecidos córneos comprometidos do

talão e aplicação local de adstringente - sulfato de cobre + sulfa em pó, na proporção de

1:1. Quando as lesões erosivas no talão são muito extensas e estão associadas à

Dermatite Digital ou Dermatite Interdigital, deve se usar antibiótico topicamente

aplicar Cloridrato de Oxitetraciclina pó e colocar bandagem (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) a doença pode ser controlada adotando-se medidas

higiênicas de limpeza dos currais; casqueamento regular; pedilúvio semanal com

formalina 3% a 5% ou sulfato de cobre 10%; polvilhamento de cal nos cubículos. O

tamanho dos cubículos deve ser compatível com o porte dos animais.

A permanência dos animais por tempo mais prolongado nos pastos auxilia na

recuperação dos talões (NICOLETTI 2004).

Individualmente, as vacas que apresentam talão baixo e pinça longa têm maior

predisposição a desenvolver Erosão dos Talões (NICOLETTI 2004).

A Erosão dos Talões com freqüência encontra-se associada a Dermatite Digital e

Interdigital (NICOLETTI 2004).

Page 56: Neliton Das Neves Spindola

56

Figuras 3.15–Erosões dos talões (NICOLETTI 2004).

3.7 – FLEGMÃO INTERDIGITAL.

Flegmão Interdigital é uma infecção necrótica aguda ou subaguda que acomete

a pele do espaço interdigital, causando intensa claudicação e queda brusca na produção.

A doença tem uma distribuição cosmopolita, podendo ocorrer esporadicamente ou de

forma endêmica em rebanhos de leite e de corte (NICOLETTI 2004).

A bactéria anaeróbica gram-negativa Fusobacterium necrophorum, habitante

normal do rúmen e intestinos de bovinos e ovino e hospedeiro oportunista dos cascos

de ambos, é o agente mais comumente isolado no Flegmão Interdigital. Essa bactéria

secreta uma potente exotoxina com propriedades hemolíticas, causando celulite

necrótica na pele interdigital (NICOLETTI 2004).

Existe provavelmente um sinergismo dessa bactéria com outras como

Bacteróides melaninogenicus e Dichelobacter nodosus no desenvolvimento da doença.

Outras bactérias também podem ser isoladas, como Actinomyces pyogenes,

Staphylococcus, Streptococcus, Escherichia coli. Ocasionalmente são isoladas

Spirochaetas (NICOLETTI 2004).

Os principais fatores de risco são as lesões traumáticas na pele do espaço

interdigital e o amolecimento desta pela água, fezes e urina provenientes de más

condições higiênicas ambientais (NICOLETTI 2004).

Outros fatores são as ulcerações secundárias a infecções virais sistêmicas que

causam celulite ou vesículas na pele interdigital, como a febre aftosa, enfermidade das

mucosas, diarréia a vírus e calo interdigital infeccionado (NICOLETTI 2004).

A infecção pode acometer tanto os dígitos anteriores quanto os posteriores,

Page 57: Neliton Das Neves Spindola

57

sendo estes mais freqüentes, afetando um ou mais membros, podendo ocorrer em caso

esporádico ou em vários animais ao mesmo tempo (NICOLETTI 2004).

Os sinais agudos iniciais presentes nas primeiras 12 horas são dores, eritemas,

calores e tumefação da pele interdigital (causando afastamento ou separação das

pinças), bulbo do casco e borda coronária (NICOLETTI 2004).

Após 24 a 36 horas, a infecção se torna mais profunda, podendo se estender até

o boleto, intensificando a dor e a c1audicação, com o animal evitando o apoio no solo.

O animal levanta o pé e sacode-o como querendo se livrar de alguma coisa contida

entre os seus dígitos. Pode haver alterações sistêmicas, como elevação da temperatura

corporal, anorexia e queda brusca da produção (NICOLETTI 2004).

Após 48 a 72 horas, com a evolução do processo, aparecem fissuras e extensas

áreas de necrose na pele interdigital, que podem se estender por todo o espaço

interdigital, com presença de exsudato fétido, característico na lesão (NICOLETTI

2004).

O quadro se complica quando a infecção atinge as estruturas profundas do

dígito, como a articulação interfalangeana distal, causando artrite supurativa (a

principal seqüela) ou abscesso retroarticular, o sesamóide distal e a bainha do tendão

flexor digital profundo, produzindo tenossinovite séptica, além de deformação e

destruição do estojo córneo, com exposição e necrose da pododerme. A presença

constante de miíase provoca destruição adicional dos tecidos e caracteriza a

Pododermatite Necrótica Crônica (NICOLETTI 2004).

3.7.1. Tratamento.

Fusobacterium necrophorum e a maioria das demais bactérias geralmente

isoladas no Flegmão Interdigital são sensíveis a vários antibióticos e sulfonamidas,

entretanto é fundamental que o tratamento seja iniciado logo que o problema é

observado, preferencialmente nas primeiras 48 horas, para obter os melhores

resultados e evitar complicações secundárias (NICOLETTI 2004).

Uma alternativa terapêutica, pode ser o uso sistêmico de Penicilina G Procaína

- 22.000 UI/kg 2 vezes/dia IM durante 3 a 4 dias; Oxitetraciclina de longa ação - 10-20

mg/kg IM, repetir após 3 a 5 dias caso necessário; Ceftiofur - 2,2 mg/kg/dia IM ou SC

durante 3 a 5 dias; Tilosina - 20 a 30 mg/kg cada 8 ou 12 horas; Sulfadimetoxina 55

mg/kg IV como dose inicial e a seguir 27,5 mg/kg IV/dia; Sulfadoxina ou Sulfadiazina

Page 58: Neliton Das Neves Spindola

58

+ Trimetoprim IV ou IM - 25 a 44 mg/kg 2 vezes/dia. O tratamento deve se prolongar

por 2 ou 3 dias após a remissão dos sintomas (NICOLETTI 2004).

Quando não há uma resposta satisfatória ao tratamento, reavaliar investigar

possíveis complicações nas estruturas profundas do dígito, principalmente infecção da

articulação podal. Existe na Inglaterra e EUA uma forma mais grave de Flegmão

Interdigital denominada "Super Foul" ou "Super Footrot", que não responde ao

tratamento convencional (NICOLETTI 2004).

Nos casos avançados, devem ser feitas a limpeza do pé e a remoção de todo o

tecido necrosado da região interdigital ou eventual proliferação de tecido, seguidas da

aplicação tópica de adstringente - sulfato de cobre + sulfa pó em partes iguais ou

sulfato de cobre (1 parte) + ácido bórico (2 partes) + Butoflin (2 partes) ou anti-séptico

(Furacin) - sob penso protetor, e os curativos devem ser renovados freqüentemente. A

bandagem, quando aplicada, não deve ser constritiva, pois pode aumentar o risco de a

infecção disseminar-se e atingir a articulação interfalangeana distal (NICOLETTI

2004).

Quando o Flegmão Interdigital é acompanhado de complicações como infecção

da articulação interfalangeana distal, abscesso retroarticular, tenossinovite do flexor

digital profundo ou osteíte da falange distal, geralmente associada a infecção

secundária por outras bactérias, como Actinomyces pyogenes, Escherichia coli e

Staphylococcus sp, indica-se a drenagem do foco infeccioso ou amputação do dígito

comprometido. Abscesso retroarticular pode, às vezes, supurar espontaneamente

próximo à borda coronária. Quando a infecção atingir a articulação metacarpo ou

metatarsofalangeana, o prognóstico se torna bastante ruim. A principal seqüela do

Flegmão Interdigital é a Artrite Interfalangeana Distal Séptica (NICOLETTI 2004).

3.7.2. Controle e Prevenção.

1. Drenagem adequada de áreas onde ocorre concentração de animais

(bebedouros, cochos, corredores de passagem, estábulos etc.).

2. Isolar o(s) animal(ais) acometido(s) e mantê-lo(s) em local limpo e seco.

3. Pedilúvio:

• Sulfato de cobre (5% a 10%) ou sulfato de zinco (10%);

• Formalina (3%, passagem diária, ou 5%, passagem 2 vezes/semana);

• 5% de sulfato de cobre + 2% de formalina;

Page 59: Neliton Das Neves Spindola

59

• Sulfato de cobre (1 parte) + cal (20 partes);

• 5 litros de formalina + 10 kg de sulfato de cobre + 2 litros de creolina em 100

litros de água.

Segundo Nicoletti (2004) a formalina utilizada em lesões abertas da pele pode

causar lesões adicionais nos tecidos moles, principalmente em concentrações

acima de 5% ou se for usada por tempo prolongado. O uso de aditivos (sulfato

de cobre) com antibióticos (Aureomicina ou Clortetracic1ina) e iodo no sal

como medida preventiva é contraditório.

Figuras 3.16 – Flegmão interdigital vista palmar (esquerda) e vista dorsal (direita)

(NICOLETTI 2004).

3.8 – ARTRITE INTERFALANGEANA DISTAL SÉPTICA.

Segundo Nicoletti (2004) essa infecção articular pode ter origem exógena, como

úlcera de sola, abscesso subsolear, infecção interdigital, Doença da Linha Branca e

rachadura na parede do casco, ou origem endógena, como mastite, metrite, endocardite,

enterite, abscesso hepático ou pneumonia.

Os agentes bacterianos mais freqüentemente isolados são Actinomyces

pyogenes, Escherichia coli, Staphylococcus sp, Salmonella sp, Mycoplasma,

Fusobacterium necrophorum (NICOLETTI 2004).

Os sinais clínicos iniciais são de manqueira intensa e o animal evita apoiar o

membro ou permanece deitado. O teste de flexão digital exacerba a dor. Na fase aguda,

observa-se localmente aumento de volume sensível e quente na região coronária,

quartela e bulbo do casco do dígito correspondente (NICOLETTI 2004).

Page 60: Neliton Das Neves Spindola

60

Com a progressão da doença podem ocorrer drenagem espontânea de material

purulento através de uma fístula na borda coronária (Figura 7-2) ou interdigital e o

surgimento de sinais de complicações secundárias, como infecção e ruptura do tendão

flexor digital profundo (caracterizado por desvio dorsal da pinça quando o animal

apóia o membro), osteíte e periostite das falanges distal e média ou ainda fratura ou

luxação patológica desses ossos. Freqüentemente encontramos a Artrite Podal Séptica

associada ao Flegmão Interdigital (NICOLETTI 2004).

Para a confirmação diagnóstica, é fundamental o exame radiográfico da

articulação interfalangeana distal em posição dorsopalmar/plantar (NICOLETTI

2004).

Os sinais radiográficos freqüentemente encontrados na Artrite Interfalangeana

Distal Séptica são osteólise e osteoperiostite, com maior afastamento entre as

superfícies articulares das falanges média e distal e irregularidades na superfície óssea

articular com proliferação óssea subcondral, osteófitos periarticulares e entesiófitos

(NICOLETTI 2004).

Em geral, as alterações radiográficas tornam-se evidentes a partir de 10 a 15

dias do início da infecção(NICOLETTI 2004).

3.8.1. Tratamento.

Na decisão terapêutica em casos de Artrite Interfalangeana Distal Séptica deve-

se considerar o valor do animal, idade, intenção de mantê-lo ou não no rebanho por

tempo prolongado, potencial genético como reprodutor ou doadora de embriões,

manejo a campo ou em confinamento, disponibilidade de gasto e de cuidados pós-

operatórios (NICOLETTI 2004).

Para o tratamento médico nas fases iniciais da doença deve-se usar antibiótico

ou associação de antibióticos sistêmicos, como: Penicilina G Procaína (40.000 UI/kg 2

vezes/dia ou Penicilina G Benzatina cada 2 dias + Gentamicina (2,2 mg/kg 2-3

vezes/dia); Sulfa + trimetoprim (20 a 30 mg/kg/ dia); Oxitetraciclina L.A. (20

mg/kg/dia cada 3-5 dias); Ceftiofur (2 mg/kg/dia); Florfenicol (20 mg/kg cada 2 dias)

(NICOLETTI 2004).

A injeção ou perfusão regional intravenosa de antibiótico, também denominada

antibiose, é um procedimento semelhante ao realizado para anestesia regional

intravenosa ou Bier. Tem a vantagem de se obter alta concentração do antibiótico na

Page 61: Neliton Das Neves Spindola

61

região digital e em doses menores das que seriam normalmente necessárias via

sistêmica. Pode-se usar de 5 a 10 milhões UI de Penicilina cristalina sódica ou

potássica na veia digital dorsal ou abaxial palmar/plantar, repetindo-se uma ou duas

vezes com intervalo de 24 horas. A Tetraciclina (500mg a 1 g), assim como outros

antibióticos que tenham indicação para uso intravenoso, também pode ser utilizada,

desde que não tenha veículo oleoso (NICOLETTI 2004).

Associar antiinflamatórios não esteróides como Fenilbutazona (4,4 a 9 mg/kg

cada 2 dias), Flunixin Meglumine (0,5 a 1,0 mg/kg 2 a 3 vezes/dia). Ácido

Acetilsalisílico (15 a 100 mg/kg). Irrigar eventual trajeto fistuloso com soluções anti-

sépticas (Iodopovidine) (NICOLETTI 2004).

Uma vez que o tratamento médico apresenta resultado muitas vezes

insatisfatório, devem ser consideradas as opções cirúrgicas, quais sejam: drenagem

articular e estímulo à artrodese ou amputação radical do dígito, sendo que estas opções

dependem do valor econômico do animal (NICOLETTI 2004).

O abate imediato ou aguardar evolução natural da osteoartrite para anquilose,

"esperar para ver", requer tempo prolongado para uma eventual recuperação e há risco

de infecção generalizada, seriam as alternativas mais simples (NICOLETTI 2004).

Rachadura no

Estrato cómeo.

Doença da Linha Branca Perfuração da sola

Figura 3.17. Vista dorsopalmar ou dorsoplantar de um corte sagital do pé

bovino. As setas ilustram as vias mais comuns de infecção da articulação

interfalangeana distal (a.i.d.) (NICOLETTI 2004).

Page 62: Neliton Das Neves Spindola

62

Tabela 3-1. Parâmetros a serem considerados na decisão entre a amputação radical e a

preservação do dígito (NICOLETTI 2004).

Figura 3.18 – Osteólise articular (seta menor) e osteoperiostite periarticular estendendo-

se ao longo das falanges média e proximal (seta maior) (NICOLETTI 2004).

Amputação digital Preservação do dígito

Remoção imediata de toda a infecção A infecção pode persistir

Rápido alívio da dor Dor por tempo prolongado

Rápido retomo à produção Lento retomo à produção

Requer poucos cuidados Requer cuidados persistentes

Menor custo de tratamento Maior custo de tratamento

Menor longevidade Maior longevidade

Plano de descarte breve do animal Plano de manter o animal no rebanho

Reduz o valor comercial Preserva o valor comercial

Mais indicada para animais maduros Mais indicada para animais jovens

Pior prognóstico em animais pesados Animais pesados e mantidos a pasto

Page 63: Neliton Das Neves Spindola

63

Figura 3.19 – Proliferação óssea articular e periarticular (seta branca) e início de

anquilose (seta preta). Observa-se entesiófito projetando-se na face axial da falange

proximal do dígito não comprometido (seta preta à direita) (NICOLETTI 2004).

3.9 – LAMINITE BOVINA.

Laminite é um distúrbio na microcirculação digital que resulta em isquemia e

degeneração das lâminas dérmicas. As manifestações podais podem vir

acompanhadas de manifestações sistêmicas, a exemplo do que ocorre na espécie

eqüina, na qual a doença tem sido estudada mais profundamente (NICOLETTI

2004).

A etiologia é multifatorial e advém de uma combinação de fatores, chamados

fatores de risco, sobretudo de origem nutricional (NICOLETTI 2004).

É considerada atualmente uma das mais importantes causas de c1audicação

na espécie bovina, pois estima-se que mais de 60% das lesões podais em bovinos

podem estar a ela associadas (NICOLETTI 2004).

3.9.1 – Fatores de risco.

a) Nutrição: As situações mais comuns relacionadas à nutrição e que

constituem importante fator de risco para o desencadeamento da Laminite são:

1. O consumo irrestrito de alimentos concentrados (mais de 4% do peso vivo),

com altos níveis de hidratos de carbono, silagem de milho, cevada e proteína (acima de

Page 64: Neliton Das Neves Spindola

64

60% da matéria seca), farelo de soja, algodão, especialmente em animais não adaptados

à ração, a mudança brusca da ração de manutenção para ração de produção e a falta de

adaptação das novilhas recém-paridas à ração de produção podem levar a uma queda

brusca no pH ruminal, e esse estado de acidose ruminal resulta em alteração da

microflora ruminal, com lise de bactérias gram-negativas e proliferação de bactérias

gram-positivas produtoras de ácido láctico. Os grãos contêm mais açúcares e amido

que as forragens e são altamente fermentáveis no rúmen (NICOLETTI 2004).

A população microbiana do rúmen converte os hidratos de carbono em AGV

(10 a 14 dias necessários para adaptação), enquanto as papilas ruminais absorvem e

transportam os AGV produzidos pelas bactérias para o sangue (6 a 8 semanas para as

papilas ruminais se alongarem a fim de aumentar a superfície de absorção)

(NICOLETTI 2004).

2. O processamento dos grãos que compõem a ração, ou seja, grãos muito

moídos, e o pequeno tamanho das partículas da fibra bruta vegetal (tamanho de corte da

silagem menor que 2,5 cm) reduzem a ruminação e, em conseqüência, a produção de

saliva, que é um importante tamponante do conteúdo ruminal (NICOLETTI 2004).

3. Baixo fornecimento de alimento volumoso e de qualidade em relação ao

concentrado ( aumenta o concentrado e diminui o volumoso) (NICOLETTI 2004).

4. Presença de micotoxinas na ração (NICOLETTI 2004).

3.9.2 – Relação entre nutrição, acidose ruminal e laminite.

As vacas de alta produção leiteira, que consomem grande quantidade diária

de hidratos de carbonos (70% a 80% da ração diária da vaca leiteira é constituída de

hidratos de carbonos, provenientes da silagem de milho, cevada e proteína,

proveniente do farelo de soja, algodão) e baixa quantidade de forragem, portanto

uma ração potencialmente ácida tende a ter um pH ruminal mais baixo e podem

desenvolver acidose (quando o valor do pH ruminal igual ou inferior a 5,5)

(NICOLETTI 2004).

Além disso, o aumento de substrato ruminal originado dos hidratos de carbono

favorece uma maior produção de ácido láctico pelos lactobacilos e Streptococcus bovis

(NICOLETTI 2004).

A acidose ruminal ocorre quando a produção de ácido lático pelos lactobacilos e

Streptococcus bovis exceder a sua utilização, absorção e tamponamento pela saliva e

Page 65: Neliton Das Neves Spindola

65

tamponantes fornecidos na ração (NICOLETTI 2004).

As conseqüências da acidose ruminal aguda podem ser anorexia, atonia

ruminal, abscesso hepático, deslocamento do abomaso e, nos casos mais graves,

morte do animal por acidemia (NICOLETTI 2004).

Quando tem evolução crônica e persistente, a conseqüência da acidose ruminal é

a Laminite Subc1ínica, devida a produção e absorção de toxinas bacterianas e outras

substâncias vasoativas que, agindo na microcirculação podal, causam isquemia nas

lâminas dérmicas dos dígitos (NICOLETTI 2004).

3.9.3 – Diagnóstico de acidose ruminal (subclínica).

Embora redução no tempo de ruminação, falta de consistência das fezes e

diminuição na porcentagem de gordura no leite sejam sinais sugestivos de acidose

ruminal subc1ínica, a forma mais precisa de determinar a acidose ruminal é por meio

da ruminocentese (NICOLETTI 2004).

Em animais que recebem a ração concentrada separadamente, a coleta deve ser

realizada entre 2 e 4 horas após a alimentação, e, em animais que recebem ração total

misturada ou ração completa (RTM), entre 4 e 8 horas após a alimentação

(NICOLETTI 2004).

Interpretações (NICOLETTI 2004):

1. Se mais de 1/3 das vacas apresenta pH ruminal menor ou igual a 5,5, pode-se

dizer que existe acidose ruminal.

2. Se mais de 1/3 das vacas tem acidose ruminal no início da lactação

(primeiros 30 dias), provavelmente está havendo problema na ração de adaptação

(ração intermediária entre manutenção e produção).

3. Se mais de 1/3 da acidose ruminal ocorre durante o terço médio da lactação

(2 a 5 meses), o problema está na formulação da ração (RTM).

Qualquer fator que reduz a produção diária de saliva aumenta o risco de acidose

ruminal. Partículas muito pequenas (grãos muito moídos e tamanho da fibra vegetal) na

ração levam a menor estímulo para mastigação e, conseqüentemente, a menor produção

de saliva e menor tamponamento dos ácidos ruminais, portanto aumenta a possibilidade

de desenvolver acidose ruminal (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) a silagem de milho deve ter pelo menos 25%

das partículas maiores que 5 cm. A suplementação com tamponantes, como o

Page 66: Neliton Das Neves Spindola

66

bicarbonato de sódio no início da lactação, pode reduzir o risco de acidose

ruminal. A dose recomendada é de 0,75 a 1 % da RTM, podendo esse valor ser

dobrado em vacas submetidas a estresse térmico.

3.9.4 – Etiopatogenia.

Como acontece nos casos de laminite na espécie eqüina, na Laminite Bovina

ocorrem várias alterações na circulação vascular periférica afetando o corium laminar,

quais sejam: vasoconstrição, abertura permanente das anastomoses ("shunts")

arteriovenosas, alterações na permeabilidade capilar, agregação plaquetária e formação

de microtrombos (NICOLETTI 2004).

O resultado dessas alterações vasculares é uma redução da perfusão capilar nas

lâminas dérmicas do casco. A isquemia e a hipóxia nas células da camada

queratogênica causam uma inibição da síntese normal do casco, resultando em

degeneração laminar (NICOLETTI 2004).

Os fenômenos vasculares na Laminite são desencadeados pela liberação na

circulação de mediadores inflamatórios, destacando-se os derivados do ácido

aracdônico (prostaglandinas e leucotrienos), fator de necrose tumoral e

tromboplastinas, além de aminas vasoativas como a epinefrina e norepinefrina,

histamina, serotonina, bradicinina e outras (NICOLETTI 2004).

Esses mediadores, por sua vez, são ativados principalmente pela presença na

circulação de endotoxinas decorrentes da bacteriólise de bactérias gram-negativas, estas

originadas, sobretudo em condições de acidose ruminal (NICOLETTI 2004).

Em condições normais de alimentação ocorre fermentação ruminal normal

Produção de ácidos graxos voláteis (AGV): acético, propiônico e butírico

Absorção dos AGV (sangue)

Page 67: Neliton Das Neves Spindola

67

Principal fonte de nutrientes

Em condições de:

Excessivo fornecimento de carboidratos (ração > em grãos e < em fibra)

Fermentação ruminal excessiva.

Excessiva produção de AGV (excedendo a capacidade de absorção e

tamponamento)

Queda do pH ruminal (abaixo de 5.5)

Proliferação de lactobacilos e Streptococcus bovis

ACIDOSE LACTICA RUMINAL.

Page 68: Neliton Das Neves Spindola

68

3.9.5 – Relação entre Acidose Ruminal e Laminite.

ACIDOSE LÁCTICA RUMINAL

Bacteriólise de bactérias gram-negativas com produção de endotoxinas

Liberação de mediadores inflamatórios (derivados do ácido aracdônico

prostaglandinas + leucotrienos; fator de necrose tumoral; epinefrina,

norepinefrina, histamina, serotonina, bradicinina)

Vasoconstrição, anastomoses ("shunts") arteriovenosas, microtrombos

e alteração da permeabilidade capilar

Redução da perfusão capilar nas lâminas dérmicas

Isquemia e hipóxia nas células queratógenas

Inibição na síntese normal do casco

DEGENERAÇÃO LAMINAR

Page 69: Neliton Das Neves Spindola

69

Dependendo do grau de acidose ruminal, complicações sistêmicas associadas,

como anorexia, parada da ruminação, deslocamento do abomaso, abscesso hepático e

acidemia, podem resultar na morte do animal (NICOLETTI 2004).

3.9.6 – Condições Ambientais (Confinamento)

Os sistemas modernos de estabulação da vaca leiteira em confinamento tipo

"free-stall" ou "tie-stall" em piso de concreto, principalmente se for abrasivo ou

deteriorado, falta de exercício, tamanho do cubículo para a vaca se deitar (ideal 2,10 a

2,40 x 1,40m ou 3,5 a 4m2/vaca), pouca ou falta completa de cama, falta de condições

higiênicas (umidade/barro/fezes) e temperatura ambiente elevada (quando acima de

24°C, ocorre queda no consumo de alimento e, acima de 27°C, estresse térmico) são

condições que causam grande desconforto, resultando em estresse nas vacas leiteiras

(NICOLETTI 2004).

3.9.7 – Fatores Individuais

Conformação (genética): dígitos pequenos em relação ao peso corporal do

animal, pouca angulação do casco e novilhas pesadas (NICOLETTI 2004).

Parto: existe maior ocorrência de problemas podais, inclusive Laminite, nos

três primeiros meses pós-parto, causados por alteração de manejo e alimentação,

confinamento e presença de vacas dominadoras, situações que resultam em estresse

principalmente em novilhas (NICOLETTI 2004).

3.9.8 – Fatores Associados A Doenças Sistêmicas (Infecção)

Em processos inflamatórios de origem infecciosa, como mastite, metrite com

retenção de placenta, pneumonia, peritonite, abomasite e enterocolite, pode ser

produzida grande quantidade de toxinas bacterianas que podem causar graves

alterações cardiocirculatórias bem como na microcirculação podal, como ocorre na

Laminite (NICOLETTI 2004).

Page 70: Neliton Das Neves Spindola

70

3.9.9 – Formas de apresentação clínica da Laminite Bovina

A forma aguda de Laminite não é tão comum em bovinos quanto em eqüinos. É

observada mais freqüentemente em touros ou garrotes em confinamento, alimentados

com dietas altamente energéticas, e vem associada a profundas alterações sistêmicas

relacionadas a endotoxemia de origem digestiva, como acidose ruminal, abomasite ou

deslocamento do abomaso (NICOLETTI 2004).

Nesses casos, geralmente os animais têm anorexia, permanecem a maior parte

do tempo em decúbito e apresentam alterações hemodinâmicas e no equilíbrio ácido-

básico (NICOLETTI 2004).

Quando em estação, adquirem postura e locomoção anormais, ou seja, os

membros posteriores são deslocados para frente, sob o corpo, mantendo o dorso

arqueado (xifose), e apresentam pulso digital e hiperemia na borda coronária. A rotação

da falange distal pode ocorrer, embora mais raramente em relação aos eqüinos

(NICOLETTI 2004).

Em vacas leiteiras submetidas à exploração intensiva em sistema de

confinamento permanente, prevalece a forma subclínica de Laminite, de evolução

lenta e, portanto, insidiosa (NICOLETTI 2004).

Os sinais não são evidentes desde o início, e os produtores e técnicos só se dão

conta da doença após vários meses (aproximadamente 6 meses) de exposição dos

animais aos fatores de risco, quando começam a se manifestar lesões podais

secundárias associadas à degeneração laminar (NICOLETTI 2004).

Lesões podais associadas à Laminite Subclínica e Crônica (NICOLETTI 2004):

1. Hemorragia de sola.

2. Úlcera de Sola.

3. Sola dupla.

4. Erosão dos Talões.

5. Doença da Linha Branca.

6. Fissuras ou rachaduras verticais ou horizontais.

7. Deformações no estojo córneo.

Segundo Greenough & Weaver (1997), deve-se suspeitar de Laminite

subclínica quando:

• Mais de 10% das vacas adultas mostram claudicação no período de um

Page 71: Neliton Das Neves Spindola

71

ano por causas que não sejam Flegmão Interdigital ou Dermatite Digital

Papilomatosa;

• Mais de 50% de todos os casos de c1audicação ocorrem nos primeiros 60

dias pós-parto;

• Mais de 5% das vacas apresentam Úlcera de Sola;

• Mais de 25% das vacas em lactação têm hemorragia de sola;

• Ocorre no rebanho alta prevalência de Erosão dos Talões/sola dupla/

rachaduras no estojo córneo.

Se for confirmada a presença de Laminite Subc1ínica no rebanho, investigar os

fatores de risco (NICOLETTI 2004).

3.9.10 – Tratamento.

Na forma aguda da Laminite, considerada uma emergência, é fundamental

tratar o distúrbio digestivo, combater a toxemia, manter a hidratação e corrigir o

desequilíbrio ácido-básico (NICOLETTI 2004).

O controle da dor deve ser feito à base de analgésico e antiinflamatório não

esteróide: Acido Acetilsalicílico - Aspirina, Agespirin (15 a 100 mg/ kg oral 2

vezes/dia); Flunixin Meglumine - Banamine (1,1 a 2,2 mg/kg/dia IV durante 3 dias);

Fenilbutazona - Butazolidina (4,5 a 9,0 mg/kg IV ou IM cada 48 horas ou 10 mg/kg

oral cada 48 horas; repetir 2 ou 3 vezes); Antihistamínico - Prometazina, Fenergan (1,1

mg/kg IV ou IM nas primeiras 48 horas) (NICOLETTI 2004).

Deve – se ter precaução com uso prolongado com antiinflamatórios não

esteróides pode causar irritação, ulceração, hemorragia ou perfuração do abomaso em

ruminantes. Em bovino, por exemplo, a meia vida média da Fenilbutazona é de 36 a 72

horas; portanto, nessa espécie, a droga não deve ser repetida em intervalo menor que

36 a 48 horas e não mais que 2 ou 3 aplicações (NICOLETTI 2004).

O tratamento da Laminite Subclínica consiste no casqueamento e tratamento

específico das lesões podais associadas, procurando-se corrigir as causas

principalmente relacionadas à nutrição (NICOLETTI 2004).

Na Laminite Crônica, assim como acontece nos eqüinos, a recuperação do

animal é bastante demorada e incerta (NICOLETTI 2004).

Page 72: Neliton Das Neves Spindola

72

3.10 – SOLA DUPLA.

A origem da sola dupla geralmente está relacionada com a substituição brusca

da ração de manutenção pela ração de produção (NICOLETTI 2004).

A interrupção do fluxo sangüíneo para as lâminas sensitivas e o acúmulo de

fluido serossanguinolento sob a falange distal que ocorre na Laminite causam uma

separação da junção derme-epiderme, resultando, no decorrer de vários meses, na

formação de sola dupla. Podem ocorrer múltiplas camadas de sola no dígito

(NICOLETTI 2004).

A remoção total da sola antiga durante o casqueamento expõe a nova sola, que,

sendo mais delgada e ainda não completamente queratinizada, fica predisposta a

contusão, que pode resultar em claudicação. A nova sola estará corneificada em 2 ou 3

dias, dependendo das condições ambientais (NICOLETTI 2004).

A tintura de iodo 5% a 10% ajuda no endurecimento da sola (NICOLETTI

2004).

Durante o casqueamento de um animal com sola dupla, após a remoção total ou

parcial da sola antiga, é comum encontrar uma úlcera na sola nova (profunda)

(NICOLETTI 2004).

3.11 – HEMORRAGIA DE SOLA.

Em novilhas, a hemorragia de sola pode estar relacionada ao rápido ganho de

peso, mudança brusca para ração de produção, estresse do parto e confronto com vacas

dominantes nos confinamentos em piso de concreto (NICOLETTI 2004).

É importante destacar que as áreas de coloração avermelhada ou amarelada da

sola atingem a superfície vários meses após o evento hemorrágico (NICOLETTI 2004).

Deformações no estojo córneo – Laminite Crônica.

Em conseqüência de alterações metabólicas e degeneração laminar relacionadas

à Laminite Crônica, ocorrem deformações nos dígitos caracterizadas por crescimento

anormal do casco, amolecimento da sola, convexidade da sola, cruzamento das pinças e

desenvolvimento de anéis irregulares na parede do casco (NICOLETTI 2004).

3.12 – RACHADURAS DO CASCO.

Page 73: Neliton Das Neves Spindola

73

Além dos casos individuais e esporádicos de origem traumática, bem como os

casos originados de Laminite Subclínica e Crônica, as rachaduras podem ser também

ocasionadas por fatores ambientais que resultam na desidratação do casco, como

acontece em condições de clima seco e solo arenoso (NICOLETTI 2004).

Fatores nutricionais relacionados à deficiência de proteínas, vitaminas biotina,

A, D, E e/ou desequilíbrios de macro e microelementos como cálcio, fósforo, zinco,

cobre, enxofre, selênio e molibdênio devem também ser considerados quando existem

muitos animais acometidos por rachaduras de casco (NICOLETTI 2004).

A suplementação com biotina, vitamina que atua provavelmente na biossíntese

protéica das células epidérmicas, tem sido estudada mais intensamente nas espécies

suína e eqüina (NICOLETTI 2004).

Em bovinos, a demanda pela biotina aumenta durante os períodos de estresse e

níveis mais baixos de biotina são encontrados em animais que estão mancando em

relação às vacas normais (NICOLETTI 2004).

A adição de biotina na ração auxilia na produção de cascos normais, porém os

resultados são de longo prazo (a partir de 6 meses) e mais significativos em animais que

tiveram períodos de deficiências alimentares (NICOLETTI 2004).

Em pastagens onde ocorrem muitos casos de vacas com rachaduras de cascos,

muitas vezes são encontrados níveis baixos de cobre ou zinco e/ou níveis altos de ferro

ou sulfato (na água) (NICOLETTI 2004).

Avaliar dados de disponibilidade de microelementos nas pastagens, bem como

verificar a relação do problema com adubação e fertilização das pastagens ou de

lavouras que precederam a formação dos pastos (NICOLETTI 2004).

Qualquer alteração na composição da mistura mineral deve ser baseada em

análise das fontes de alimentos e elementos minerais disponíveis (NICOLETTI 2004).

Figura 3.20 – Sola dupla. Existe uma sobreposição da sola antiga (seta preta) à

sola nova (seta branca) (NICOLETTI 2004).

Page 74: Neliton Das Neves Spindola

74

Figura 3.21 – Múltiplos focos de hemorragia de sola (NICOLETTI 2004).

Figura 3.22 – Vaca com Laminite Crônica. Dorso arqueado e hiperemia da pele

na região coronária (NICOLETTI 2004).

3.13 – PODODERMATITE CIRCUNSCRITA (ULCERA DE SOLA).

É uma lesão específica da sola bastante comum em vacas leiteiras pesadas

mantidas em regime de confinamento em piso de concreto úmido e alimentadas com

altos níveis de concentrado e proteína, sendo considerada uma das seqüelas da

Laminite. A lesão típica na sola se desenvolve na altura da junção com o bulbo do

casco, mais próxima da margem axial que abaxial, afetando geralmente os dígitos

laterais dos membros posteriores (NICOLETTI 2004).

3.13.1. Etiopatogenia.

Uma das possibilidades mais aceitas é que a Úlcera de Sola está associada à

Laminite Subc1ínica, ou seja, a degeneração da pododerme solear ou corium da sola

Page 75: Neliton Das Neves Spindola

75

(tecido vascularizado que produz a sola córnea) favorece o aparecimento da lesão

(NICOLETTI 2004).

Essa situação é exacerbada pela permanência prolongada do animal em piso de

concreto úmido e áspero nos confinamentos (NICOLETTI 2004).

O fato de a lesão ter localização específica, ou seja, na junção da sola com o

bulbo do casco, deslocada em direção à margem axial e comumente nos dígitos laterais

dos membros posteriores, indica que fatores biomecânicos também influenciam o

aparecimento da lesão, especialmente nos animais mais pesados. Assim sendo, nem

todos os casos de Úlcera de Sola estão relacionados à Laminite (NICOLETTI 2004).

Por outro lado, vacas que têm sola plana, causada por erro de casqueamento ou

desgaste pelo piso de concreto, são mais suscetíveis a lesões circulatórias caracterizadas

por hemorragia subsolear naquela região (NICOLETTI 2004).

Do ponto de vista clínico, há três formas de lesões, segundo Brizzi et ai. (1998):

• A lesão é encontrada durante o casqueamento de rotina e aparação da sola,

manifestando-se como uma lesão hemorrágica caracterizada pela presença de

uma mancha vermelho-escura na sola, porém ainda coberta de tecido córneo,

lesão esta denominada Pododermatite Circunscrita Hemorrágica ou Hemorragia

de Sola;

• A sola está ulcerada, caracterizando a Pododermatite Circunscrita Perfurada, ou

Úlcera de Sola, muitas vezes com granulação e protrusão da pododerme através

da ulceração;

• A lesão ulcerada da sola apresenta-se com complicações secundárias

envolvendo o tendão flexor digital profundo (causando tenossinovite ou ruptura

do tendão), bursa navicular e articulação interfalangeana distal (causando

artrite), complicações estas que caracterizam a Podermatite Circunscrita

Complicada.

3.13.2. Tratamento.

O tratamento da úlcera de sola consiste no casqueamento da unha

comprometida, procurando expor e debridar os tecidos desvitalizados, na remoção do

excesso de tecido de granulação e/ou na cauterização da úlcera (por exemplo, com

ácido metacresolsulfônico/metanol 36% - Albocresil Solução) (NICOLETTI 2004).

É fundamental, durante o tratamento, evitar o apoio com o digito comprometido

Page 76: Neliton Das Neves Spindola

76

colocando-se um taco de madeira fixado à sola do digito saudável (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004) o taco de madeira deve ser deixado por 2 a 4 semanas.

Período mais prolongado pode comprometer o equilíbrio entre os dígitos e

sobrecarregar tendões e ligamento.

Figura 3.23 – Pododermatite Circunscrita Perfurada (Úlcera de Sola)

(NICOLETTI 2004).

Figura 3.24 – Pododermatite Circunscrita Hemorrágica (Hemorragia de Sola)

(NICOLETTI 2004).

Figuras 3.25 – Quando a lesão na sola é muito extensa e as condições higiênicas

desfavoráveis, deve-se proteger a ferida com bandagem, renovada cada 2 ou 3 dias

(NICOLETTI 2004).

Page 77: Neliton Das Neves Spindola

77

3.14 – DOENÇA DA LINHA BRANCA.

A linha branca é composta de tecido córneo, de consistência mole, que delimita

a sola da parede do casco. Essa área de justaposição da parede e sola sofre forte

desgaste natural e absorve o primeiro impacto durante a locomoção, duas forças

mecânicas que forçam uma separação natural da linha branca (NICOLETTI 2004).

A degeneração da união fibrosa que existe entre a sola e a parede do casco

permite a penetração de matéria orgânica (dejetos) ou corpos estranhos (em geral

pequenas pedras provenientes do piso de concreto), sobretudo na face abaxial da linha

branca próximo ao bulbo do talão. Além disso, outros fatores, como a umidade dos

estábulos, deformações do casco e principalmente a Laminite Subc1ínica, estão

relacionados dentre as causas de lesão da linha branca (NICOLETTI 2004).

O local mais comum de lesão na Doença da Linha Branca é na parede abaxial

na altura da junção da sola com o talão, enquanto as lesões mais graves são aquelas que

ocorrem na região apical da sola (parede/pinça) (NICOLETTI 2004).

A doença acomete mais os dígitos laterais dos membros posteriores e pode

manter-se assintomática até que surjam complicações secundárias. A lesão na linha

branca, por mais evidente que seja, deve ser cuidadosamente explorada quanto à sua

profundidade (NICOLETTI 2004).

A penetração de corpo estranho ou qualquer outro material contaminante através

da linha branca pode potencialmente atingir a lâmina sensitiva e causar um abscesso

localizado ou Laminite Séptica Difusa (NICOLETTI 2004).

O conteúdo purulento, dependendo de sua extensão e localização, pode supurar

na forma de uma fístula na borda coronária, drenar na região do bulbo do casco e

atingir a articulação interfalangeana distal, causando Artrite Séptica e Tendão Flexor

Digital Profundo, produzindo tenossinovite ou mesmo a ruptura do tendão

(NICOLETTI 2004).

O tratamento consiste na retirada do material necrótico e eventuais corpos

estranhos na linha branca. Abscessos subsoleares devem ser drenados e uma remoção

elíptica da parede abaxial do casco pode ser necessária na altura da lesão na linha

Page 78: Neliton Das Neves Spindola

78

branca para facilitar a drenagem (NICOLETTI 2004).

O corium exposto deve ser afastado do solo aplicando-se um bloco de madeira

no dígito sadio. Recomenda-se a colocação de penso protetor durante os primeiros dias,

quando as lesões são muito extensas (NICOLETTI 2004).

Em rebanho, são importantes as medidas preventivas gerais, como higiene dos

estábulos, casqueamento e medidas adotadas para Laminite (nutrição) (NICOLETTI

2004).

Figura 3.26 – Doença da Linha Branca (seta branca). A mancha escura na sola

oposta (seta preta) é uma pigmentação normal. Observa-se uma enorme diferença de

tamanho entre os dígitos (NICOLETTI 2004).

3.15 – HIPERPLASIA DA PELE INTERDIGITAL (TILOMA, GABARRO).

Hiperplasia Interdigital é uma reação proliferativa da pele e subcutâneo da

região interdigital, com a neoformação de um tecido de consistência firme que ocupa

parte ou toda a extensão do espaço interdigital. Pode ser uni ou bilateral e é mais

comum no membro posterior que no anterior, sobretudo animais adultos e pesados.

Histologicamente as lesões mostram características de inflamação subaguda ou

crônica com hiperqueratose, sendo que a pele (epiderme e derme) pode estar com um

espessamento de até quatro vezes (16 mm) o normal (4 mm).

3.15.1 – Causas.

• A causa mais comum é irritação crônica provocada por inflamação na

região interdigital ou crescimento excessivo da parede axial do dígito;

• Conformação anormal (unhas muito aberta);

Page 79: Neliton Das Neves Spindola

79

• Acúmulo excessivo de gordura subcutânea no espaço interdigital;

• Quando observada em animais com menos de 2 anos de idade e na forma

bilateral ou quadripedal, pode-se suspeitar como sendo de origem

genética, comum em animais de raças de corte;

• Quando está situada exatamente no centro do espaço interdigital e

acomete toda a sua extensão, a origem pode ser considerada genética, e

quando atinge apenas uma parte da pele interdigital e em contato maior

com a face axial de uma das unhas, a origem é secundária à irritação

crônica no local, decorrente, por exemplo, de Dermatite ou Flegmão

Interdigital.

3.15.2 – Sinais clínicos

A claudicação é eventual e depende do tamanho da lesão ou da presença de

infecção secundária associada à compressão aplicada aos dígitos afetados. Pequenas

lesões não produzem interferência mecânica nem causam claudicação (NICOLETTI

2004).

As lesões extensas podem interferir no movimento das unhas e, quando

acompanhadas de infecção, ulceração e necrose, produzem um exsudato fétido

característico (NICOLETTI 2004).

Além disso, a umidade local permanente favorece a presença constante de

miíase, que pode contribuir para destruir a face axial do estrato córneo, com exposição

e granulação da derme ungueal (NICOLETTI 2004).

O crescimento excessivo das pinças sobrecarrega os talões, causando lesões

adicionais e agravamento da claudicação (NICOLETTI 2004).

3.15.3 – Tratamento. Os casos simples em geral não necessitam tratamento e o problema é

exclusivamente estético. As lesões extensas que se mostram sensíveis à palpação ou

estão infeccionadas dificultando a locomoção e geralmente produzindo claudicação,

devem ser removidas cirurgicamente (NICOLETTI 2004).

Page 80: Neliton Das Neves Spindola

80

Figura 3.27 – Hiperplasia da Pele Interdigital ou Tiloma (NICOLETTI 2004).

3.16 – CASQUEAMENTO.

O casqueamento rotineiro em bovinos, denominado casqueamento funcional,

visa restabelecer a forma e proporções normais dos dígitos, restaurando a posição dos

membros e favorecendo uma distribuição equilibrada do peso do animal (NICOLETTI

2004).

O casqueamento funcional deve fazer parte do programa anual de medicina

preventiva nos rebanhos bovinos, especialmente os leiteiros; entretanto na maioria das

vezes, é realizado apenas quando existem lesões podais visíveis e o animal apresenta

claudicação (NICOLETTI 2004).

Isso se deve, em parte, à dificuldade de convencimento do proprietário sobre as

vantagens do casqueamento preventivo e, conseqüentemente, a sua relutância em

investir em troncos necessários para a contenção adequada dos animais e em serviço

profissional, além da monotonia do procedimento e esforço físico do casqueador,

especialmente quando se trata de numero elevado de animais a serem manuseados

(NICOLETTI 2004).

A prevalência de lesões podais causadoras de claudicação pode ser reduzida

com o casqueamento funcional pelo menos uma vez ao ano, particularmente nas

criações intensivas em que o confinamento permanente dos animais e os programas

nutricionais estimulam o crescimento dos cascos e reduzem seu desgaste natural,

diferentemente do que ocorre nas condições de pasto (NICOLETTI 2004).

O dígito lateral do membro anterior e o medial do membro posterior costumam

ter uma conformação mais próxima do normal por serem geralmente menos

sobrecarregados e podem servir como base ou padrão para casqueamento do dígito

Page 81: Neliton Das Neves Spindola

81

adjacente (NICOLETTI 2004).

Deve-se, portanto, iniciar o casqueamento preferencialmente pelo dígito medial

do membro posterior ou dígito lateral do membro anterior, após a limpeza geral do

casco com água, sabão e rinetas, procurando remover todos os resíduos de material

orgânico ou tecido córneo em excesso e explorar qualquer área de destruição da

queratina da parede axial, sola, talão e linha branca (NICOLETTI 2004).

Segundo Nicoletti (2004), o aprendizado de uma técnica baseado simplesmente

em um texto é insuficiente, portanto a experiência prática é indispensável. Respeitadas

as preferências individuais, os princípios teóricos básicos a serem observados no

casqueamento funcional de bovinos são:

1. Aparar (encurtar) a pinça e abaixar a parede abaxial do casco.

O crescimento excessivo dos cascos (popularmente denominado

"achinelamento") ocorre quando sua taxa de produção supera o desgaste natural, sendo

um defeito bastante comum em vacas leiteiras em confinamento, com nutrição

altamente energética, associado à falta de exercício e de casqueamento.

A pinça longa resulta na concentração do peso sobre os bulbos do talão,

causando maior desgaste destes. Além disso, essa conformação predispõe a fissuras e

erosões dos talões.

O objetivo da aparação da pinça e parede abaxial é transferir o peso do bulbo

para os talões e metade posterior da parede abaxial. Essas são as superfícies naturais de

apoio e, portanto, devem ter maior contato com o solo.

A pinça e a parede abaxial crescem mais rápido e desgastam menos que o talão

e a parede axial. Isso resulta numa distribuição desigual do peso, concentração de

pressão e produção de casco deformado, tomando-se, dessa forma, um ciclo vicioso.

Inicialmente, com uma rineta comum ou do tipo Suíça, inicia-se a aparação da

sola.

Alternar a aparação da sola com rineta e remoção da parede abaxial com a

torquês até que a pinça esteja encurtada no comprimento desejado. É importante

lembrar que a espessura normal da sola varia de 5 a 7 mm e não deve, portanto, ser

deixada muito fina.

O comprimento da pinça é medido na parede dorso abaxial do dígito desde a

borda coronária até a sua extremidade distal. Não existe um padrão definido de

comprimento da pinça, sendo bastante variável entre as diferentes raças de leite e

Page 82: Neliton Das Neves Spindola

82

corte.

2. Igualar a altura dos talões de ambos os dígitos.

Os talões devem ser preservados tanto quanto possível e em proporção

adequada à altura da pinça. A relação entre a altura da pinça e a do talão é 2:1.

Uma linha vertical imaginária (a) traçada ao longo do eixo

metacarpiano/metatarsiano deve ser perpendicular a uma linha horizontal (b) traçada

nos talões. As linhas b e c devem ser paralelas.

Figura 3.28 – Linhas imaginárias utilizadas para aferir se os talões estão na

mesma altura. A altura ideal do talão (d) deve variar entre 3,5 e 3,8 cm (NICOLETTI

2004).

3. Proceder ao acabamento ou polimento final.

O emprego da lixadeira ou esmerilhadeira elétrica no casqueamento de bovinos

reduz o esforço físico e facilita bastante o polimento da sola e contorno da parede do

casco, abreviando bastante o tempo que seria despendido com o uso da grosa para tais

finalidades.

Esses equipamentos, entretanto, não devem substituir as rinetas (facas de casco)

nos procedimentos para toalete do casco, ou seja, limpeza e exploração de áreas

lesadas.

Embora se saiba que o casco é mau condutor de calor, deve-se ficar atento aos

efeitos de um eventual superaquecimento da sola pelo atrito prolongado da lixadeira, o

que poderia causar necrose térmica da sola.

Page 83: Neliton Das Neves Spindola

83

Além disso, deve-se tomar precauções no manuseio dessas ferramentas, para

não causar acidentes tanto ao operador quanto ao dígito do animal.

3.16.1 – Materiais para Casqueamento.

Figura 3.29 – Grosa (1), Torquês (2), Lixadeira ou Esmerilhadeira

elétrica de alta rotação (11.000 rpm) Makita® com adaptação de disco lixa

Metalite® 16 (3), Rineta comum (faca de casco) de duas faces (4), Rineta oval

(5), Rineta Suíça para aparação da sola (6) (NICOLETTI 2004).

Figura 3. 30 – Contenção em tronco tombador-hidráuheo, Modelo

Fregonezzi (NICOLETTI 2004).

Page 84: Neliton Das Neves Spindola

84

4 – Conclusão.

Este trabalho de conclusão do curso de Medicina Veterinária foi elaborado para

poder descrever o que foi feito durante o estágio supervisionado na área de

biotecnologia e manejo e reprodução de bovinocultura leiteira.

O estágio foi realizado em duas etapas a primeira em julho de 2005 na BIO

biotecnologia animal e a segunda em agosto e setembro de 2005 na fazenda Sabarú.

Na BIO, ao longo do estágio, pude acompanhar varias punções foliculares

ovarianas in vivo, onde pude realmente perceber a importância que a biotecnologia traz

para a produção animal.

Na fazenda Sabarú, pude acompanhar durante o período de estágio vários casos

clínicos que acontecem em bovinocultura leiteira, vivenciei o manejo de toda a

propriedade desde o nascimento de bezerros na fase de cria e recria, manejo com vacas

em lactação e manejo de animais solteiros. Também pude acompanhar a rotina de um

laticínio, já que na fazenda também existe um laticínio. Pude acompanhar direto o

trabalho dos peões, onde aprendi que é muito importante ter a prática com os animais, o

conhecimento de todo o rebanho. Também pude ver as diferentes condutas adotadas

pelos profissionais em diversos casos clínicos, desde o diagnóstico ate o tratamento.

Acompanhei o trabalho que existe para convencer os proprietários a investirem

na propriedade, onde percebi que a maioria dos casos é que o proprietário desconhece a

importância de ter um veterinário acompanhando a rotina da fazenda. É como dizem os

peões da fazenda Sabarú “a vida na fazenda, a gente sofre é muito”.

Page 85: Neliton Das Neves Spindola

85

Os estágios foram bastante valiosos, pois acompanhei de perto tudo aquilo que

já tinha acompanhado na teoria, em sala de aula, nos livros e apostilas, sendo aplicado

na prática, foi muito bom toda essa etapa de conclusão do curso, onde constatei a

importância do Médico Veterinário na sociedade.

5. Referências Bibliográficas.

BAMBERG, E., CHOI, H.S., MOSTI, E., KLARING, W.J., STOKI, W.

Steroidhormon gehalt und aromatasen aktivitat in ovarialzysten des rindes.

Zentralblatt fur Veterinarmedizin,. V.28, n.5, p.366-372, 1981.

BARLETT, P.C., NGATEGIZE, P.K., KANEENE, J.B., KIRK, J.H., ANDERSON,

S.M., MATHER, E.C. Cystic follicular disease in Michigan Holstein-Friesian cattle:

incidence, descriptive epidemiology and economic impact. Preventive Veterinary

Medicine, v.4, n.1, p.15-33, 1986.

BAYARD P. D. G.; FIGUEIREDO J. R.; FIGUEIRÊDO FREITAS V. J. Biotécnica

aplicadas a reprodução animal. 1 ed. São Paulo: Livraria Varela, 2002. p.195 – 225.

BEZERRA, C.A.X. Aspectos clínicos, histopatológicos e hereditários dos cistos

foliculares em um rebanho Gir. Belo Horizonte, 1981. Tese - Escola de Veterinária da

UFMG.

Page 86: Neliton Das Neves Spindola

86

BLOWEY, R.W. Milk progesterone profiles in untreated cystic ovarian disease.

Veterinary Record, v.30,n.19, p.429, 1992.

BUSATO, A., ROMAGNOLI, S., KÜPFER, U., ROSSI, G.L., BESTETTI, G.E. LH,

FSH, PRL and ACTH cells in pituitary glands of cows with ovarian cysts.

Theriogenology, v.44, n.2, p.233-246, 1995.

COOK, D.L., PARFET, J.R., SMITH, C.A., MOSS, G.E., YONGQUIST, R.S.,

GARVERICK, H.A. Secretory patterns of LH and FSH during development and

hypothalamic and hypophisial characteristics following development of steroid-

induced ovarian follicular cysts in dairy cattle. Journal of Reproduction and Fertility,

v.91, n.1, p.19-28, 1991.

CORREA, M.T., CURTIS, C.R., ERB, H.N., SCARLETT, J.M., SMITH, R.D. An

ecological analysis of risk factors for postpartum disorders of Holstein-Friesian

cows from thirty-two New York farms. Journal of Dairy Science, v.73, n.6, p.1515-

1524, 1990.

DIAS, R.O.S., MARQUES Jr., A.P. Casqueamento preventivo de vacas leiteiras em

período seco, no controle de afecções podais. Veterinária noticias, v. 7, n. 1,

Uberlândia – MG 2001, p. 33 – 38.

DIAS, R.O.S MARQUES Jr.A.P. Atlas Casco em Bovinos. São Paulo, Lemos

Editorial, 64 p, 2001.

DOUTHWAITE R., DOBSON H. Comparison of different methods of diagnosis of

cystic ovarian disease in cattle and an assessment of its treatment with a

progesteronereleasing intravaginal device. Veterinary Record, v.147, n.13, p.355-

359, 2000.

FERNANDES C.A.C., OBA E., VIANA J.H.M., FERREIRA A.M. Alternativas para

tratamento de cistos ovarianos em vacas leiteiras. A Hora Veterinária, ano 23, n138,

p.11-15, março/abril 2004.

Page 87: Neliton Das Neves Spindola

87

FOURICHON, C., SEEGERS, H., MALHER, X. Effect of disease on reproduction in

the dairy cow: a metaanalysis. Theriogenology, v.53, p.1729-1759, 2000.

HOOIJER, G.A., FRANKENA, K., VALKS, M.M., SCHURING, M. Treatment of

cystic ovarian disease in dairy cows with gonadotrophin-releasing hormone: a field

study. Veterinary Quarterly, v.21, n.1, p.33-37, 1999.

HOOIJER, G.A., VAN OIJEN, M.A., FRANKENA, K., VALKS, M.M. Fertility

parameters of dairy cows with cystic ovarian disease after treatment with

gonadotrophin-releasing hormone. Veterinary Record, v.149, n.13, p.383-386, 2001.

ISOBE, N., YOSHIMURA, Y. Localization of apoptotic cells in the cystic ovarian

follicles of cows: a DNA end labeling histochemical study. Theriogenology, v.53,

n.4, p.897-904, 2000.

ISOBE, N., YOSHIMURA, Y. Immunocytochemical study of cell proliferation in

the cystic ovarian follicles in cows. Theriogenology, v.54, n.7, p.1159-1169, 2000.

JOU, P., BUCKRELL, B.C., LIPTRAP, R.M., SUMMERLEE, A.J.S., JOHNSON,

W.H. Evaluation of the effect of GnRH on follicular ovarian cysts in dairy cows

using trans-rectal ultrasonography. Theriogenology, v.52, p.923-937, 1999.

KENNEDY, P.C., MILLER, R.B. The female genital system. In: JUBB, K.V.E.,

KENNEDY, P.C., PALMER, N. Pathology of domestic animal. 4.ed. New York:

Academic Press, 1993, v.3, p.349-470.

LOEFFLER S.H., DE VRIES M.J., SCHUKKEN Y.H. The effects of time of disease

occurrence, milk yield, and body condition on fertility of dairy cows. Journal of

Dairy Science, v.82, n.12, p.2589-604, 1999.

LOPEZ-DIAZ, M.C., BOSU, T.K. A review and update of cystic ovarian

degeneration in ruminants. Theriogenology, v.37, n.6,p.1163-1182,1992.

McENTEE, K. Reproductive pathology. 3.ed. Ithaca: New York State College of

Veterinary Medicine, 1990.

Page 88: Neliton Das Neves Spindola

88

MINTON, J.E., BLECHA, F. Effect of acute stressors on endocrinological and

immunological functions. Journal of Animal Science, v.68, p.3145-3151, 1990.

NASCIMENTO, E.F., SANTOS, R.L. Patologia da reprodução dos animais

domésticos. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p.22-29.

NASCIMENTO, E.F., SANTOS, R.L., REIS, B.P., Doença ovariana cística. Revista

CFMV – Brasília - DF, ano VIII, n.27, setembro/outubro/novembro/dezembro 2002.

NICOLETTI, J.L.M. Manual de Podologia Bovina. 1 ed. Barueri, SP: Ed. Manole,

2004. 126 p.

PETER, A.T., BOSU, W.T.K., GILBERT, O.R. Absorption of Escherichia coli

endotoxin (lipopolysaccharide) from the uteri of postpartum dairy cows.

Theriogenology, v.33,n.5, p.1011-1014, 1990.

RIBADU, A.Y., NAKADA, K., MORIYOSHI, M., ZHANG, W.C., TANAKAY.,

NAKAO, T. The role of LH pulse frequency in ACTH-induced ovarian follicular

cysts in heifers. Animal Reproduction Science, v.64, n.1-2, p.21-31, 2000.

SANTOS, R. L. Dinâmica ovariana e crescimento folicular. Veterinária Notícias, v.3,

n.1, p.159-167, 1997.

SILVA, M., REEVES, J.J. Hipothalamic pituitary function in chronically cystic and

regularly cycling dairy cows. Biology of Reproduction, v.38, n.2, p.264-269, 1988.

SILVIA, W.J., HATLER, T.B., NUGENT, A.M., LARANJA DA FONSECA, L.F.

Ovarian follicular cysts in dairy cows: an abnormality in the folliculogenesis.

Domestic. Animal Endocrinology, v.2 3, p.167-177, 2002.

VALE, W., Distúrbios da Reprodução dos Animais Mamíferos Domésticos. n.1, p

313-347, 2005.

Page 89: Neliton Das Neves Spindola

89

WRIGHT PJ, MALMO J. Pharmacologic manipulation of fertility. Veterinary

Clinics of North America, Food Animal Practice, v.8, n.1, p.57-89, 1992.

YONGQUIST, R.S. Cystic follicular degeneration in the cow. In: MORROW, D.A.

Current therapy in theriogenology. Philadelphia: W.B. Saunders, 1986, p.243-246.