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NEOVANGUARDAS

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  • A b e r t u ra 22 de dezembro de 2007De 23 de dezembro de 2007 a 16 de maro de 2008

    Salo Nobre, Mezanino e Auditrio. Esta mostra integrou a programao comemorativado cinqentenrio do Museu de Arte da Pampulha.

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  • NDICE 12

    MUSEU DE ARTE DA PAMPULHA: 50 ANOS 5APRESENTAO CURADORIA 6

    TERRITRIOS 9DO CORPO TERRA | OBJETO E PARTICIPAO 26

    MANIFESTO DO CORPO TERRA 42 VANGUARDA BRASILEIRA 80

    TERESINHA SOARES (SALA ESPECIAL) 86PRODUO AUDIOVISUAL MINEIRA 98

    COLETIVA 106SALA TPICOS HISTRICOS 116

    SUPLEMENTO LITERRIO 118SEMANA NACIONAL DE POESIA DE VANGUARDA 120

    MAP E O SALO NACIONAL DE ARTE 124ACERVO E OBRAS EXPOSTAS 126

    VERSO PARA O INGLS 131

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  • 5H cinquenta anos Garrincha defendia o Botafogo e Pel j era rei. MarilynMonroe criava o mito da loura burra, linda e sexy que encantava o mundo comsua exacerbada feminilidade. Tom Jobim lanava a garota de Ipanema e fazia duocom Frank Sinatra mostrando a qualidade da msica brasileira. JuscelinoKubitscheck assumia o governo do pas e prometia 50 anos em 5.

    Comea a perseguio a um objetivo poltico e social frentico, e com a idia damudana da capital, estradas so abertas, fbricas de carros para circularem nasnovas estradas, e o bom trenzinho dos mineiros que os levava a sedutora praia deCopacabana vai diminuindo seu flego at sucumbir ao impacto dos novos meiosde transporte.

    As artes ca r re g a vam suas baterias e pre tendiam re a cender pro p o stas de inova o ,absorviam-se informaes e institucionalmente criavam-se estruturas de apoios artes. Surgem museus de arte moderna, bienais, cinemateca, a Vera Cruz seinstala como grande produtora de filmes nacionais, uma Holywood tupiniquim. Osjornais incluem suple m e n tos, as livrarias importam livros de arte, os sales oferecem prmios de viagem Europa e artistas estrangeiros vem visitar oBrasil. Os figurativos viram abstratos, os abstratos tornam-se concretos e estespretendiam expressar-se em novas e estranhas linguagens que deixam pat og rande pblico. a ante a comodao generalizada diante dos arroubos civilizatriosdo presidente.

    E, neste clima, Belo Horizonte, que tinha sido proibida de jogar num ca ssino, lembra-se da extraordinria concepo de arquitetura deste prdio e encontraum destino para ele, museu de arte. Comemoramos assim sua criao, le m b ra n d ocom saudades do grande arquiteto e intelectual Silvio Vasconcelos, o idealizadorda utilizao do prdio como museu para o prefeito Celso Melo Azevedo.

    Comemoramos os 50 anos do Museu de Arte da Pampulha com a exposioNEOVANGUARDAS, e, neste momento de celebrao, um novo espao se avizinhana proposta do atual prefeito de Belo Horizonte. Em breve teremos um novomuseu que multiplicar as aes do atual e assim teremos a continuao daspropostas de avano cultural exigido pelo nosso tempo.

    PRISCILA FREIRE Diretora Museu de Arte da Pampulha

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  • 6Organizada pelo Museu de Arte da Pampulha para marcar os seus 50 anos deatuao, a exposio NEOVANGUARDAS rene obras e registros documentais textuais e ico n o g r f i cos de um dos perodos mais frteis e tambm mais conturbados da cultura brasileira.

    Entre 1964 e 1975, a arte se manifestou sob a compresso da censura implantadap e lo regime militar, o que haveria de induzir a uma tomada de posio dos artista s ,tanto poltica como artisticamente. o momento da exploso da vanguarda, dar u p t u ra com os antigos padres est t i cos, da atualizao das linguagens em funode novas formas de comunicao. Cada vez mais distante do nihilismo da abstra-o, a arte, por um lado, re to m a va a figurao, no tom de um realismo crtico ex a cerbado e, por outro, introduzia novos ele m e n tos ex p re ss i vos e tra n s g re ss i vo s como os happenings, as intervenes no espao urbano, as criaes multidis-ciplinares e o uso de novos meios como a fotografia e o audiovisual. Quase todose sses aco n te c i m e n tos fo ram marcados por ele m e n tos de impacto, pela co n te sta oao status quo e violncia da represso e da censura, mas no desprezaram afora da imagem potica.

    O partido cura torial da exposio foi trazer ao re / co n h e c i m e n to do pblico criaes e eventos pontuais das Neovanguardas, com a sua diversidade de meiose de intenes, mas unificados pela posio crtica e dispostos ao trabalho criativosintonizado com os mais atualizados recursos expressivos. Pretendeu aindademonstrar como as criaes desse perodo continuam atuais, constituindomatriz de grande parcela da produo contempornea.

    Belo Horizonte foi cenrio de algumas das mais significativas manifestaes dan e ova n g u a rda, e o Museu da Pampulha, atra vs de seus sales de arte e de exposies, se afirmou como um espao irradiador de aes de va n g u a rda artstica de Minas.

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  • 7 sobre o binmio arte/sociedade que a exposio NEOVA N G U A R DAS se co n st r u i u ,rastreando as manifestaes mais significativas do perodo e tendo como eixo oprprio acervo do MAP, formado quase na sua totalidade por obras premiadas emseu Salo.

    A exposio privilegia, em sala especial, artistas mineiros que tiveram atuaosignificativa no perodo: Teresinha Soares, Jos Ronaldo Lima, Ltus Lobo, estatambm criadora, junto com Dilton Arajo e Luciano Gusmo, do trabalhoTerritrios, premiado no Salo do MAP e que, pela primeira vez, faz uma obrasair dos limites do Museu e ocupar seus jardins. A exposio tambm dedica umespao ao crtico mineiro Frederico Morais, radicado desde 66 no Rio, onde foire s p o n s vel pelo est m u lo de boa parcela das manife staes da va n g u a rda ca r i o ca .Frederico Morais (tambm premiado no Salo do MAP) est presente com seusaudiovisuais/obra, a sua nova crtica, e tambm por ter sido o curador de impor-tantes eventos realizados em Belo Horizonte: Vanguarda Brasileira (Reitoria daUFMG, 1966), Do Corpo Terra e Objeto e Participao (Parque Municipal ePalcio das Artes, abril de 1970).

    NEOVANGUARDAS traz tambm registros de outros eventos importantes como aI Exposio de Poesia de Vanguarda (Reitoria da UFMG, 1964) e registra a expres-siva participao do Suplemento Literrio do Minas Gerais, como um espaoaberto s manifestaes culturais e gerao de artistas ento emergente.

    MARCONI DRUMMOND CuradorMARCIO SAMPAIO | MARLIA ANDRS Co-Curadores

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  • 9Ao fazer a re formulao co n ceitual do seu Salo, o Museu de Arte ofe re ceu condies para a participao de artistas que lidavam com linguagens no co n-vencionais. O re g u l a m e n to previa a ampliao de seu espao ex p o s i t i vo, inte g ra n d oos jardins em volta como lugar propcio para as manifestaes da vanguardaemergente.

    Os mineiros Dilton Arajo, Ltus Lobo e Luciano Gusmo, p e rcebendo a nova dis-posio do Museu, inscreve ram para o I Salo Nacional de ArteC o n tempornea (1969) o trabalho Territrios, uma proposta de apropriaopotica do entorno do Museu, com uso de materiais diversos, como acrlico, fai-xas de plsticos, hastes de vergalho e cordes coloridos. A montagem d e ss e sm a teriais no co n vencionais inte r feriu nos jardins pro j e ta d o s por Burle Marx, detal forma a enfatizar as diversas maneiras como a natureza ali se manifestava,em constante rebeldia imposio do projeto paisagstico.

    Para os artistas, porm, no seria esta a questo fundamental de Territrios.Propunham que a interveno ensejasse a discusso sobre a prpria funo eresponsabilidade do Museu, que ele se tornasse efetivamente o lugar da expe-rincia, do pensamento de vanguarda. Mas Territrios tambm construiu ummomento de pura poesia, modificando os espaos, enfatizando detalhes da n a t u-reza em dilogo com o material sinttico, provo cando a participao do pbliconesse dilogo, como sua vivenciao do lugar assim modificado. Os traos resi-duais dessa instalao haveriam de ser visveis por algum tempo, e, assumindoseu carter efmero, diluiriam, deixando como testemunho os registros fotogr-ficos das aes e do tempo de existncia ou vigncia da obra. Encerrados emuma caixa, os elementos constitutivos da instalao viveriam um novo momento,t raduzindo em sua disfuncionalidade o sentido da relao tempo/matria/memria.

    LOTUS LOBO, LUCIANO GUSMO, DILTON ARAUJO TERRITRIOSBelo Horizonte, 1969, fotografias da ao coletiva realizada nos jardins do Museu de Arte da Pampulha

    durante o 1o Salo Nacional de Arte Contempornea, acervo Lotus Lobo.

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    CARTA LUCIANO GUSMO PARA MARCIO SAMPAIOoriginal datilografado, acervo Marcio Sampaio

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    CARTA DE FREDERICO MORAIS PARA LUCIANO GUSMORio de Janeiro, 4 de fevereiro de 1970, original datilografado, acervo Frederico Morais

    transcrever texto da carta ao lado

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  • CARTA DE LOTUS LOBO, LUCIANO GUSMO E DILTON ARAUJO para o diretor do Museu de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte.

    Belo Horizonte, 8 de fevereiro de 1970, original datilografado, acervo Arquivo Pblico Municipal de Belo Horizonte

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    Na histria da arte brasileira, referido apenas com o nome Do Corpo Terra.Mas, na realidade, foram dois eventos simultneos e integrados, a mostra Objetoe Participao, inaugurada no Palcio das Artes, em 17 de abril de 1970, e a mani-festao Do Corpo Terra, que se desenvolveu no Parque Municipal de BeloHorizonte, entre 17 e 21 de abril do mesmo ano, promovidos pela Hidrominas -empresa de turismo do Estado de Minas Gerais. A iniciativa foi de MariStellaTristo, diretora do setor de exposies do recm-criado Palcio das Artes e idea-lizadora, tambm, do Salo de Ouro Preto, que a cada ano se ocupava de umacategoria esttica. Pelo sistema de rodzio, em 1970 seria a vez da escultura.Convidado por MariStella a fazer a curadoria do Salo daquele ano, que seriarealizado excepcionalmente no Palcio das Artes, substitui a escultura peloObjeto, ao mesmo tempo que inclu como rea de atuao dos artistas o ParqueMunicipal.

    Na segunda metade dos anos 1960, o Objeto estava na ordem do dia. J na apre-s e n tao da most ra Va n g u a rda Bra s i le i ra, que realizei na Reitoria daUniversidade Federal de Minas Gerais, em 1966, eu definia o Objeto como umasituao nova, que configura ou o veculo mais adequado para expressar asnovas realidades propostas pela arte ps-moderna . No ano seguinte, um movi-mento iniciado no Rio de Janeiro, contrrio realizao do Concurso de obras dearte em forma de caixa, resultou na mostra Nova Objetividade Brasileira, noMuseu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em abril de 1967. Curador do 4 Salode Arte Moderna do Distrito Federal (dezembro de 1967, em Braslia), inclu, pelaprimeira vez, num regulamento de um salo de arte brasileiro o Objeto comocategoria. Era uma contradio claramente assumida por mim, visto que, emnovo texto, publicado naquele mesmo ano, eu reafirmava meu ponto de vista, aodizer que o Objeto no pode ser rotulado em qualquer meio particular de expres-so. Ele corresponde a uma nova situao existencial do homem, a um novohumanismo. Minha inteno, no entanto, era ampliar o debate em torno do tema.Contudo, foi Hlio Oiticica quem radicalizou, em texto e obra, o conceito.Escrevendo sobre As instncias do problema Objeto, ele afirma: O Objeto visto como ao no ambiente, dentro do qual os objetos existem como sinais e nosimplesmente como obras. a nova fase do puro exerccio vital, onde o artista um propositor de atividades criadoras. O Objeto a descoberta do mundo a cadainstante, ele a criao do que queiramos que seja. Um som, um grito podem serum Objeto. E foi essa noo ampla de Objeto que fundamentou os dois eventosde Belo Horizonte.

    Por outro lado, o conceito de reas externas como extenso de museus e galeriasj fora desenvolvido por mim em pelo menos duas ocasies: no evento Arte noAterro - Um Ms de Arte Pblica, em 1968, e na correspondncia que mantive comLuciano Gusmo, a propsito da instalao Territrios, que realizou na reaexterna do Museu de Arte da Pampulha, em equipe com Dilton Arajo e LotusLobo. No primeiro caso, o Aterro do Flamengo foi considerado uma extenso doMuseu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No segundo caso, uma corda amarra-

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    da a uma pedra, localizada no interior do museu, estendia-se at o jardim, fun-cionando, pois, como uma espcie de cordo umbilical, o que considerei um beloachado, na carta que enviei a Luciano, datada de 4 de fevereiro de 1970. E acres-centava: Hoje, s tem vitalidade a arte que est inteiramente do lado de fora dosmuseus e galerias. Melhor que o Palcio das Artes o Parque Municipal emtorno. Melhor que a sala de exposies da Reitoria aquele vazio, em derredor.Melhor que o Museu da Pampulha, a montanha que est prxima.

    Foram vrios os aspectos inovadores em ambos os eventos, a saber: 1 - pela pri-meira vez, no Brasil, artistas eram convidados no para expor obras j conclu-das, mas para criar seus trabalhos diretamente no local e, para tanto, receberampassagem e hospedagem e, juntamente com os artistas mineiros, uma ajuda decusto; 2 - se no Palcio houve um vernissage com hora marcada, no Parque ostrabalhos se desenvolveram em locais e horrios diferentes, o que significa dizerque ningum, inclusive os artistas e o curador, presenciou a totalidade das mani-festaes individuais; 3 - os trabalhos realizados no Parque permaneceram l atsua destruio, acentuando o carter efmero das propostas; 4 - a divulgao foifeita por meio de volantes, distribudos nas ruas e avenidas de Belo Horizonte,bem como nos cinemas, teatros e estdios de futebol, tal como j ocorrera comArte no Aterro. Finalmente, tambm, pela primeira vez, um crtico de arte atuavas i m u l ta n e a m e n te como curador e artista. Desde a realizao da most raVanguarda Brasileira, eu j vinha questionando o carter exclusivamente judica-tivo da crtica de arte, dando-lhe uma dimenso criadora. A curadoria comoextenso da atividade crtica, o crtico como artista.

    No houve catlogo. guisa de apresentao conjunta dos dois eventos, escrevium texto que, mimeografado, circulou entre os participantes e o pblico, aomesmo tempo que era reproduzido, integral ou parcialmente, pela imprensamineira e carioca. Um pouco antes, em fevereiro de 1970, eu publicara na revistaVozes, do Rio de Janeiro, o ensaio Contra a arte afluente: o corpo o motor daobra, no qual analisava a produo recente da arte brasileira a partir do que cha-mei de guerrilha artstica Apesar do tom algo potico da narrativa, quase a defi-nir o texto crtico como um novo gnero literrio, a apresentao dos dois even-tos clarificava alguns conceitos e idias do ensaio acima referido. Devo reconhe-cer, no entanto, que em alguns momentos a apresentao resvalava para umaretrica afirmativamente dogmtica, a lembrar a linguagem de outros manifestosda vanguarda histrica, contudo, plenamente justificvel, tendo em vista a radica-lidade das propostas dos artistas envolvidos no projeto.

    Impossvel transcrever, aqui, a ntegra do manifesto, que, no entanto, encontra-se disponvel na exposio. Destaco, porm, como exemplo, este tpico: Da arte antiarte, do moderno ao ps-moderno, da arte de vanguarda contra-arte aa b e r t u ra sempre maior. O horizonte da arte, hoje, aberto, impre c i s o .Situaes, eventos, rituais ou celebraes - a arte no se distingue mais, nitida-mente, da vida e do cotidiano. (...) A vida que bate no seu corpo - eis a arte. O seu

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    ambiente - eis a arte. Os ritmos psicofsicos - eis a arte. A vida intra-uterina - eisa arte. A supra-sensorialidade - eis a arte. Imaginar - eis a arte. O pneuma - eisa arte. A apropriao de objetos e de reas - eis a arte. O puro gesto apropriativode situaes humanas ou vivncias poticas - eis a arte.

    Na entrevista que concedi a Francisco Bittencourt para a reportagem que elepublicou no Jornal do Brasil (A gerao tranca-ruas, de 9 de maio de 1970), car-reguei mais ainda nas palavras. Respondendo sua pergunta sobre se os acon-tecimentos de Belo Horizonte significavam uma nova Semana de Arte Moderna,respondi: Mrio de Andrade, em conferncia comemorativa dos 20 anos de rea-lizao da Semana de 22, afirma: Ns ramos os filhos finais de uma civilizaoque acabou. Ns somos mais pretensiosos: se a nossa civilizao est apodreci-da, voltemos barbrie. Somos os brbaros de uma nova raa. Os imperadoresda velha ordem que se guardem. (...) Trabalhamos com fogo, sangue, ossos, lama,terra ou lixo. O que fazemos so celebraes, ritos, rituais sacrificatrios. Nossoinstrumento o prprio corpo - contra os computadores. Usamos a cabea - con-tra o corao. E as vsceras, se necessrio. Nosso problema tico - contra oonanismo esttico. E acrescentei: Vanguarda no atualizao dos materiais,no arte tecnolgica. um comportamento, um modo de encarar as coisas, os

    TERESINHA SOARESELA ME DEU A BOLA, Palcio das Artes, 1970, fotografia, acervo Frederico Morais

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    homens e os materiais, uma atitude definida diante do mundo. o precriocomo norma, a luta como processo de vida. No estamos preocupados em con-cluir, em dar exemplos. Em fazer Histria - ismos.

    Em abril de 1970, ainda vigia o Ato Institucional n 5, baixado pela ditadura mili-tar, em 13 de dezembro de 1968, que colocara o Congresso Nacional em recesso,estabelecendo a censura dos meios de comunicao, suspendendo os direitosindividuais e oficializando a tortura. Na seqncia, como se viu, vieram a cassa-o de mandatos legislativos, a aposentadoria compulsria de artistas, professo-res e intelectuais, a priso, tortura e morte de lderes estudantis e militantes pol-ticos, a invaso de universidades, a censura s obras de arte, o xodo e o exlio. Areao s medidas de exceo veio na forma de assaltos a bancos, seqestro deembaixadores e boicote nacional e internacional Bienal de So Paulo. A respos-ta dos artistas assumiu a forma de uma guerrilha artstica, desarticulando osistema da arte vigente.

    Todos os artistas que participaram do evento Do Corpo Terra receberam umacarta assinada pelo presidente da Hidrominas, autorizando-os a realizar traba-lhos no Parque Municipal. Suprema ironia: esse apoio oficial iria estimular maisainda a radical idade dos trabalhos. Afinal, como lembrou Luiz Alphonsus, foiesta carta que permitiu aos artistas transgredir as regras. O que, como era deesperar, provocou diversos atritos com a policia e com funcionrios do parque.

    Para a abertura de meu audiovisual sobre Barrio (O Po e o Sangue de Cada Um,1970), escrevi o texto que, a seguir, transcrevo: O lixo da rainha igual ao de todomundo: se no for recolhido logo, comear a cheirar muito mal. Essa declara-o do chefe dos lixeiros do Palcio de Buckingham, justificando a greve de cincosemanas dos lixeiros de Londres, talvez nada tenha a ver com a arte, como deresto muitas das propostas dos artistas de hoje. Porque certas obras de arteatuais, se ficarem muito tempo expostas, comearo a feder e a incomodar osespectadores. Mesmo fedendo, o lixo tem, no museu, a proteo da cultura ofi-cial. Deslocar o objeto de seu meio para dentro do museu - o urinol de Duchamp- elev-lo condio de arte. Inversamente, situar o objeto de arte fora domuseu, questionando sua aura, subverter a linguagem - e a ordem. Fazer arte margem do sistema, invendvel e irrecupervel, pode ser considerado uma pro-vo cao. A re p re sso no ta rdar. Ela ter por perto, sempre, a polcia. Ou o lixe i ro .

    Foi o que aconteceu em Belo Horizonte. As trouxas ensangentadas que Barriolanou no Ribeiro do Arrudas, atraindo a ateno de um pblico enorme, cria-ram uma tenso insuportvel, o que acabou provocando a interveno do Corpode Bombeiros e, a seguir, da Polcia. O ritual de queima de galinhas vivas execu-tado por Cildo Meireles foi condenado por deputados, em discursos inflamados,

    LUCIANO GUSMOTRANSPIRAO, Do Corpo Terra, Parque Municipal, Belo Horizonte, 1970, ao com plstico sobre

    grama, fotografia, acervo Frederico Morais

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    durante o almoo que precedeu entrega de Medalhas da Inconfidncia, em OuroPreto, durante o qual, alis, se serviu frango ao molho pardo. Lotus Lobo preci-sou interromper sua plantao de milho, pressionada por policiais de uma radio-patrulha. As sementes no germinaram. Enquanto numa ponta Luciano Gusmoe Dilton Arajo cercavam, com cordonetes, uma rea do parque, na retaguardafuncionrios desfaziam o trabalho. E antes que as savas comeassem a devoraro acar lanado sobre uma trilha aberta na terra vermelha da Serra do Curral,no trabalho executado por Lee Jaffe a partir de uma idia de Hlio Oiticica, ela fo id e struda pelo tra tor de uma empresa minera d o ra .

    Metforas e mensagens polticas estavam presentes em vrios outros trabalhos,como nos carimbos de Thereza Simes co n tendo inscries como D i r t y ,Verbotten, Fragile e Act silently (uma afirmao de Malcom X), aplicados nasparedes, painis e vidraas do Palcio das Artes. Seus carimbos estabeleciam umparalelo com as palavras (Ver)melha e (Grama)tica, grafitadas na grama ou nasca l adas do Pa rque por Jos Ronaldo Lima, tendo ao lado jornais com manchete ssobre a revoluo cultural da China e a Guerra do Vietn. Os engradados demadeira pintada de Alfredo Jos Fontes, lembrando armadilhas para animais,fo ram definidos pelo artista como metfo ras de co m p o r ta m e n to poltico: esquerd a ,direita, volver. A proposta de demarcao de reas do parque e sua redefiniocomo espaos de represso ou liberdade, de alienao ou contemplao, desen-volvida em conjunto por Luciano Gusmo e Dilton Arajo, no era menos poltica.

    Sem dvida alguma, foi este campo crtico que prevaleceu na maioria dos tra-balhos desenvolvidos no Parque Municipal. Mas a reao se deveu tambm inortodoxia da estrutura formal e dos materiais empregados pelos artistas, sub-vertendo radicalmente a linguagem das artes plsticas, como na exploso de gra-nadas de sinalizao militar, hoje banalizadas pelas to rcidas nos estdios def u te b o l , mas, naqueles anos de chumbo, de uso exclusivo do Exrcito. A incom-preenso, de um lado, e o autoritarismo vigente no pas, de outro, acrescentaramaos trabalhos um contedo poltico. Luiz Alphonsus disse que seu objetivo aoi n cendiar uma faixa de plst i co de 15 metros estendida sobre a grama era marca ro cho, deixar um rastro de arte no planeta. Lotus Lobo, mais modesta, queriaapenas ver o milho crescendo e florindo num lugar inusitado. Tempos difceisaqueles.

    Mas ao lado dessa dimenso poltica, um outro aspecto se evidenciou em inme-ros trabalhos, antecipando, de certa forma, uma das vertentes da arte atual - acartogrfica. Com efeito, os artistas escrutaram a enorme extenso do ParqueMunicipal, demarcando territrios, delimitando fronteiras, apropriando-se delocais, lugares ou reas, buscando para cada um desses espaos novas funese significados, procurando apreend-Ios de forma potica, imaginativa, conceitualou segundo parmetros sociourbansticos e antropolgicos. E sem que tivessehavido uma discusso prvia entre os artistas, esses trabalhos dialogaram entresi, estabelecendo, assim, novos elos de significado. A geografia de Luciano

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    Gusmo e Dilton Arajo incidindo sobre as apropriaes fotogrficas de minhasQuinze Lies sobre Arte e Histria da Arte - Apropriaes: Homenagens eEquaes, cuja primeira rebatia no trabalho de Dileny Campos, o qual, comoo b s e r vou Marlia Andrs Ribeiro, aponta va os aspectos desco n st r u t i vos da cidade,levando o transeunte a ver uma outra paisagem dentro da paisagem - a paisagemda arqueologia urbana.

    Uma terceira linha de trabalhos destacou-se ao lado das vertentes poltica e car-togrfica. Quase uma tendncia, anrquica e dessacralizadora, que, ora tangen-ciando o niilismo dos dadastas e fluxistas, ora aproximando-se do conceito deuma criatividade generalizada, questionava mitos e postulados da arte. Um certon m e ro de trabalhos re co lo ca va a questo da participao do especta d o r.Participao que ao mesmo tempo afirma e nega a obra de arte. George Heltestendeu, na entrada do Palcio das Artes, uma faixa de papel contendo suaspegadas impressas com tinta litogrfica, convidando os visitantes a caminhar porsobre ela. Terezinha Soares convidou literalmente os visitantes a deitarem sobreseu trabalho: trs camas com colches que tinham as cores de times de futebol,formas recortadas figurando jogadores e tcnicos e um ttulo trocadilhesco: ElaMe Deu a Bola. Eduardo ngelo empregou jornais velhos espalhados sobre agrama para estimular a livre criatividade dos freqentadores do Parque e JosRonaldo Lima realizou no Palcio das Artes trabalhos tteis-olfativos.

    Porm, foram Umberto Costa Barros e Dilton Arajo os dois artistas que melhorexpressaram essa postura antiartstica. Na maioria das vezes, o pblico nem sed conta da existncia dos trabalhos realizados por Umberto, ou os percebe, ini-cialmente, como alguma coisa errada, desarrumada, fora do lugar. No 2 Salode Vero, ele questionou o prprio sistema de exposies, desarrumando os pai-nis, e no Salo Nacional de Arte Moderna, ambos realizados no Rio de Janeiro,em 1970, deu novo arranjo s persianas do Museu de Arte Moderna. Em BeloHorizonte, escolheu uma sala no subsolo do Palcio das Artes, ainda em obras,onde empilhou e equilibrou, precariamente, tijolos, restos de painis e pedestais,escadas, barro e outros materiais de construo, recolhidos no prprio local, rea-lizando uma sutilssima instalao, na qual as estruturas oscilavam entre acasoe ordem, entre o desfeito e o refeito.

    To discre to e esquivo quanto seu co lega ca r i o ca, Dilton Arajo, alm dos tra b a l h o srealizados em conjunto com Luciano Gusmo, deixou sua marca em situaes eaes que foi improvisando naqueles dias, estimulado pelos prprios aconteci-mentos, como lanar pedras de cal no espao ou, sorrateiramente, colocar umacaixa de fsforo no recinto da mostra Objeto e Participao, ao lado da qual escre-veu: Uma possibilidade!, ou no texto provocativo com que encaminhou suas pro-postas de trabalho. Neste, pode-se ler uma inteligente teorizao sobre o panfle-to como obra de arte ou afirmaes como esta: Fazer arte ou chutar uma latavelha pela rua. No que eu menospreze a arte, mas eu dou mais importncia achutar uma lata velha pela rua.

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    IONE SALDANHARIPAS | Palcio das Artes, 1970, fotografia, acervo Frederico Morais.

    F i n a l m e n te, cabe observar que, no amplo leque de opes ofe recidas pelos eve n to ssimultneos e integrados de Belo Horizonte, houve espao para a participao deartistas de diferentes geraes, cujas obras dialogam com vrias tendncias daarte contempornea. Carlos Vergara recortou figuras em papelo corrugadocomo se fossem clones de seres humanos produzidos em massa, enquantoManoel Serpa e Manfredo de Souzanetto, em trabalho conjunto, arrancaram desua banalidade cotidiana dois pregadores de roupa, monumentalizando-os. Senas obras realizadas por esses trs ltimos artistas persistiam certos resduos dapop art norte - a m e r i cana, lone Saldanha e Franz We i ssmann re n ova vam a tra d i oconstrutiva, a primeira pela via sensvel da cor, tendo como suporte ripas e bam-bus, o segundo construindo um labirinto linear - pice de seu conceito da escul-tura como um desenho no espao, mas tambm a consagrao de outro conceitodo artista: a escultura habitvel.

    verdade, foram tempos difceis - de liberdade truncada, de censura e de repres-so. Mas nem por isso os artistas brasileiros deixaram de criar, opinar e questio-nar, defendendo, contra tudo e contra todos, sua liberdade criativa. Liberdadeque, como afirmou Mrio de Andrade, encerrando sua conferncia, antes referi-da, no um prmio, uma sano. Que h de vir.

    F R E D E R I CO MORAIS C r t i co e cura d o rTex to originalmente publicado no ca t logo da most ra Do Corpo Te r ra - Um Marco Radical na Arte Bra s i le i ra ,

    Ita Cultural Belo Horizonte, 2001.

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    IMAGEM MANUAL DE MUNIES QUMICASESCANEAR DOCUMENTO

    DCIO NOVIELLODo Corpo Terra, Parque Municipal, Belo Horizonte, abril de 1970, fotografia,

    ao com granadas de sinalizao militar, acervo Lili e Joo Avelar

    MANUAL TCNICO DE MUNIES QUMICASMinistrio da Guerra, 1955, utilizado na produo da ao com granadas de sinalizao militar

    realizada pelo artista Dcio Noviello na mostra Do Corpo Terra, Belo Horizonte, abril de 1970,acervo Frederico Morais

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    IA afirmao pode ser temerria. Mas tenho para mim que no existe idia deNao, sem que ela inclua automaticamente a idia de arte. A arte parte dequalquer pro j e to de Nao, inte g ra a conscincia nacional. Noutro sentido, pode-sedizer que a arte toca diretamente o problema da liberdade - a arte , na verdade,um exerccio experimental da liberdade. Claro, tambm que o exerccio criadorser tanto mais efetivo quanto maior for a liberdade.

    IINecessidade vital do homem, a arte por isso mesmo uma necessidade social. mais que um fa to co le t i vo - parte inte g ra n te da sociedade. Todo homem criador.O instinto ldico vital no homem e sua manifestao e expanso necessrias prpria vida social. Segundo Pareto, h uma adequao total da obra de arte aosfins da sociedade, sempre que a forma da pirmide sociocultural est em corre-lao suficientemente forte com o exerccio esttico. A represso ao instintol d i co do homem uma ameaa prpria vitalidade social. Cabe ao governo, portanto, criar condies efetivas para que o desejo esttico do corpo social serealize plenamente.

    IIIO poeta Maiakovski afirmava que a arte no para a massa desde o seu nasci-mento. Ela chega a isso no fim de uma soma de esforos. preciso saber orga-nizar a compreenso. Entendo que organizar a compreenso criar condiespara que todos possam exercitar sua liberdade criadora, treinar continuamentesua percepo. Pois a arte tem por objetivo ativar todos os sentidos do homem,criando-lhe condies para melhor captar e perceber o ambiente ou mesmoantecipar-se aos novos ambientes. Trata-se, portanto, de um problema bastantegeral. uma questo de mentalidade geral, de cada indivduo, de cada professor,crtico ou artista, das instituies culturais, de todo o governo.

    IVE tarefa deste Palcio das Artes (verdadeiramente um Museu de arte): mais queacervo, mais que prdio, o Museu de arte uma ao criadora - um propositor desituaes artsticas que se multiplicam no espao-tempo da cidade, extensonatural daquele. na rua, onde o meio formal mais ativo, que ocorrem asexperincias fundamentais do homem. Ou o museu leva rua suas atividadesmuseolgicas, integrando-se no quotidiano e considerando a cidade (o parque,a praa, os veculos de comunicao de massa) sua extenso, ou ser apenas umtrambolho. Expor unicamente tarefa esttica - se bem que ainda til quando set ra ta de most rar re t ro s p e c t i vas, most ra s - temas ou pro p o stas. Atuando sem limite sgeogrficos - a manifestao Arte no Parque certamente o esboo de umaao bem mais ampla - o objetivo do Museu tornar-se invisvel- pelo excesso desua presena. Plano-piloto da futura cidade ldica, o Museu deve ser cada vezmais um laboratrio de experincias, campo de provas visando ampliao dacapacidade perceptiva do homem, exerccio continuado de seu instinto ldico.

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    Esta sala e, em torno, o Parque Municipal - so hoje reas de liberdade - aqui avida se faz plenamente.

    VDa arte antiarte, do moderno ao ps-moderno, da arte de vanguarda contra-arte (proposies) a abertura sempre maior. O horizonte da arte, hoje, maisimpreciso, ambguo, provvel - porm necessrio. Situaes, eventos, rituais oucelebraes - individuais ou coletivas - a arte permanece. Contudo, no se distin-guindo mais nitidamente da vida e do quotidiano. O gelo que desfaz-se, a chamaprecria da vela, semear o campo o homem que caminha no Parque.

    O ponto faz-se linha, plano, chegou a espao. E desfez-se no tempo. Como movi-mento Virtual, de incio. Acstico, em seguida. Uma realidade contnua: espao -tempo. No ex i ste mais separao entre a realidade ex terna e a realidade do quadro. O que deixou de existir foi a estrutura da representao. A tela rompecom a moldura, o suporte vira espao e ampliando-se serpenteia pela parede, atdespencar-se no cho, espao real, como um animal ou inseto. Coisa orgnica. o vo de pssaro do objeto. Acabou-se a metfora. A arte vive seu prprio tempo.No havendo mais um muro a separar duas realidades antagnicas, o espao daarte confunde-se com o espao da vida, e o espectador que preenche, agora, oquadrado branco. A moldura o prprio espectador, que s tem diante de si, enela caminha, a ausncia. No h limites. A escultura de Brancusi, da mesmaforma, transforma-se em coluna infinita - o pedestal como mdulo de uma pro-gramao espacial. Para o alto e para baixo a escultura perdeu sucessivamentevolume, peso, vazando-se, confundindo-se com o cho, at que, area e livre, bro to udo prprio cu movendo-se como as folhas de uma rvore ou no vento. De to levefez-se brisa, murmrio, pura imagem co lorida na sala escura, um grito no espao ,g o ta dgua, grama cre s cendo, um bocejo ou re s p i rao. Da esttua arte cintica ,a desmaterializao sempre crescente.

    A vida que bate no seu corpo - eis a arte. O seu ambiente - eis a arte. Os ritmosp s i co f s i cos - eis a arte. Sua vida intra - u terina - eis a arte. A supra - s e n s o r i a l i d a d e- eis a arte. Imaginar (ou conceber - faa-se a luz) - eis a arte. O pneuma - eis aarte. A simples apropriao de objetos, de reas urbanas e suburbanas, geogr-ficas ou continentais eis a arte. O puro gesto apropriativo de situaes humanasou vivncias poticas - eis a arte.

    VIMas o homem, como a vida, no uno. Desigual e mltiplo movimenta-se simul-taneamente em vrias perspectivas. Cruzadas e contrapostas, como a prpriaarte.

    No basta o sopro anmico ou o ritual mental. preciso recuperar ou retomar ocorpo. E a terra. Entre ambos vive o objeto. A pop a reificao dos objetoscomuns, fetichizao do bvio e do quotidiano. Nostalgia do objeto - cuja repre-

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    sentao desaparecera da arte. Com a pop acabou-se o faz- de- conta. E o reinodo objeto, que apresentado e no representado. Objeto modificado, seriado,transformado, acumulado, prensado, acrescentado, aterrorizado, mumificado,destrudo, comprimido, reaproveitado, somado, dividido, multiplicado. Objetoe n i g m t i co. A entranha e o sangue do objeto - abjeto, objectum, objectar, co n te sta r ,contrariar. Colocando-se defronte do homem, obrigando-o a iniciativas. Objetoampliado at os limites do gigantismo - por isso mesmo situado de fora doMuseu. O objeto encontrado. O objeto ldico - pea de um brinquedo, ritual oujogo. Seria possvel acompanhar a vida de um objeto - at a morte e a destruiofinal? O ser como um objeto, coisa abjeta. O homem como mercadoria na socie-dade mercantil. O objeto a ca s ca, sua imagem, a embalagem. A caixa de papelo,o homem de papelo. Lixo industrial - e da sobra que vivem os pases perifrico s ,como do resto, freqentemente, o artista.

    VII

    IMPRESSOVolante Do Corpo Terra, Parque Municipal, Belo Horizonte, 17 a 20 de abril, acervo Frederico Morais

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    Objetivo, objetividade. Objeto-situao e no objeto-categoria. Como afirmava em66: a arte vive, no momento, uma situao nova: a do objeto, que configura ou o veculo mais adequado para expressar as novas realidades, as novas idiasdeste estgio ps-moderno da arte. O objeto no pode ser rotulado em qualquermeio particular de expresso - pintura ou escultura. Trata-se, agora, de umabusca de expressividade em si mesma, de uma linguagem objetiva. Mais do queisso: o objeto corresponde a uma nova situao existencial do homem, a um novohumanismo. A arte perdeu a aura mtica e aristocrtica e no exige mais doe s p e c tador x tase co n te m p l a t i vo, passividade. Prope uma relao de dependnciana qual o seu desenvolvimento, desabrochar ou crescimento depende da escolhaou vontade do espectador. O objeto, que hoje defino como contra-arte, din-mico, aberto, orgnico.

    FALTA ESCANEAR DOCUMENTO

    IMPRESSOConvite de abertura do VII Festival de Arte de Ouro Preto, Belo Horizonte, 17 de abril de 1970

    Acervo Frederico Morais

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  • FALTA ESCANEAR DOCUMENTOFAZER PATH

    FREDERICO MORAISAPRESENTAO PARA AS EXPOSIES OBJETO E PARTICIPAO E DO CORPO TERRA,

    abril de 1970, original datilografado, acervo Frederico Morais

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    VIIIPollock, com gestos amplos e expressivos, praticamente esgotou o processo dapintura. Num corpo-a-corpo violento colocou-se literalmente dentro da tela. Seuprocesso de gotejar a tinta era o mesmo que ejacular sobre a tela, deitada nocho, os espasmos da intensidade da vida moderna. Sua pintura abriu caminhopara a pop, e para a arte atual no que ela tem de corporal, de fisiolgico.

    A arte de hoje reflete uma nostalgia do corpo. O corpo e sua ecumenidade, suarelao com os ritmos fundamentais da prpria vida. Ritmos naturais e orgnicos.O corpo como um pulmo da existncia. Sstole e distole - respirar e transpirar.O sangue como elemento de comunicao de todos os homens. Como o suor. Ocorpo cabea, tronco e membros. Todos os sentidos e no apenas a viso. Umcdigo ttil-olfativo. Uma gramtica gustativa. Uma linguagem acstica. Osdemais sentidos determinam espaos circulares, por isso mesmo dinmicos. Amo que apalpa, o corpo que anda, olfato - imaginar.

    E participar.

    IXA terra. O corpo envolvido e envolvendo-se com os elementos naturais, com oestrutural bsico da vida. O corpo reaprendendo tudo, como instrumento de umanova cartilha. Aqui o ar-liberdade, aqui o fogo, precrio e eterno, aqui a gua quecomo a terra fecunda e procria. Um pensamento escorre dos dedos quando a moapalpa e sente a te r ra fria ou spera e outras sensaes tteis ou hpticas ca p a z e sde transmitir sutilmente um mundo subjetivo e lrico. At que se transforme emuma nova geografia e uma nova histria. Roteiro do novo homem - simples bomespontneo despojado e criador. O homem pacfico. Livre. A arte deve ser um i n st r u m e n to de pacificao dos espritos. A arte mais que um smbolo hermticoda liberdade. A arte a prpria experincia da liberdade. Mant-Ia e ampli-Ia ata re fa de todos, ta re fa do gove r n o .

    Belo Horizonte, 18 de abril de 1970

    Publicado em: TRIST O, MariStella. Da Semana de Vanguarda (1). Estado de Minas, Belo Horizonte,28 de abril de 1970, p. 5.

    : TRIST O, MariStella. Da Semana de Vanguarda (2). Estado de Minas, Belo Horizonte, 5 de maio de1970, p. 5.

    pgina 46 FREDERICO MORAISAPRESENTAO PARA AS EXPOSIES OBJETO E PARTICIPAO E DO CORPO TERRA,

    abril de 1970, original datilografado, acervo Frederico Morais

    pgina 48 JOS RONALDO LIMARelatrio dos trabalhos Objeto e Participao e Do Corpo Terra, Belo Horizonte, 17 a 20 de abril

    de 1970, documento datilografado, acervo Frederico Morais

    pginas 49, 50 e 51 JOS RONALDO LIMA(GRAMA)TICA AMARELA e (VER)MELHA

    Do Corpo Terra, Parque Municipal, Belo Horizonte, 1970, fotografia da interveno realizada nalateral direita da quadra de tnis composta de 80 jornais velhos e palavras com color-jet luminoso.

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    FALTA ESCANEAR DOCUMENTOFAZER PATHJOS RONALDO LIMA

    Relatrio dos trabalhos Objeto e Participao e Do Corpo Terra, Belo Horizonte, 17 a 20 de abrilde 1970, documento datilografado, acervo Frederico Morais

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    JOS RONALDO LIMA(GRAMA)TICA AMARELA e (VER)MELHADo Corpo Terra, Parque Municipal, Belo Horizonte, 1970, fotografia da interveno realizada nalateral direita da quadra de tnis composta de 80 jornais velhos e palavras com color-jet luminoso.

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    THEREZA SIMESCARIMBOS

    Palcio das Artes, 1970, borracha, madeira, metal, acervo Frederico Morais

    HISTRIA DAS ARTES PLSTICAS: CARIMBO NMERO 1 E CARIMBO NMERO 217 de abril de 1970, desenho esquemtico, caneta sobre papel, acervo Frederico Morais

    ESCANEAR DOCUMENTOFAZER PATH

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    FREDERICO MORAISQuinze Lies sobre Arte e Histria da Arte - Apropriaes, Homenagens e Equaes,

    fotografia, acervo Frederico Morais

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    ARTUR BARRIOSITUAES T/T.1abril de 1970, Do Corpo Terra, Parque Municipal de Belo Horizonte, Ribeiro Arrudas, 46 pranchasmanuscrito e fotografia sobre papel, acervo Regina e Delcir da Costa

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    pgina 62 ARTUR BARRIOTROUXA ENSANGUENTADA, 1969, tcnica mista, acervo Lili e Joo Avelar

    TROUXA ENSANGUENTADA, 1970, tcnica mista, acervo Regina e Delcir da Costa

    deixar esta rea em branco

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    JOS RONALDO LIMACAIXAS OLFATIVAS

    Palcio das Artes, 1970, instalao de caixas de madeira de diversos tamanhos com diversos odoresfotografia, acervo Jos Ronaldo Lima

    JOS RONALDO LIMARELATRIO DOS TRABALHOS OBJETO E PARTICIPAO E DO CORPO TERRA,

    Belo Horizonte, 17 a 20 de abril de 1970, documento datilografado, acervo Frederico Morais

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    HLIO OITICICA E LEE JAFFETRILHA DE AUCAR

    1970, Serra do Curral, quilmetro 3,margem esquerda da rodovia BR-3fotografia, acervo Frederico Morais

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  • CILDO MEIRELESTIRADENTES: TOTEM-MONUMENTO AO PRESO POLTICO

    Do Corpo Terra, rea externa do Palcio das Artes, Belo Horizonte, 1970, fotografia da instalao,acervo Frederico Morais

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  • EDUARDO NGELODo Corpo Terra, Parque Municipal , Belo Horizonte, 1970, fotografia da ao com

    jornais velhos sobre grama, acervo Frederico Morais

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    UMBERTO COSTA BARROSPalcio das Artes, 1970, fotografia da instalao com sobras de material de construo, acervo Frederico Morais

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    FRANZ WEISSMANN O LABIRINTO LINEARObjeto e Participao, Palcio das Artes, 1970, fotografias, acervo Frederico Morais

    ALFREDO JOS FONTES OPO III OU VOLVERDo Corpo Terra, 1970, fotografia da instalao: madeira policromada, acervo Frederico Morais

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    pgina 76 GEORGE HELT VAMOS CAMINHARPalcio das Artes, 1970, faixa de papel com pegadas do artista impressas com tinta litogrfica,

    acervo Frederico Morais

    pgina 77 JOS RONALDO LIMA HOMENAGEM AO ARTISTA JOS NARCISO SOARESPalcio das Artes, 1970, fotografia,

    acervo Jos Ronaldo Lima

    pgina 78 CARLOS VERGARAPalcio das Artes, 1970, caixas de papelo corrugado e figuras recortadas, fotografia,

    acervo Frederico Morais

    pgina 78 DILTON ARAJOParque Municipal, 1970, fotografia da ao com pedras de cal lanadas no Parque Municipal,

    acervo Frederico Morais

    pgina 79 LUCIANO GUSMO REFLEXESDo Corpo Terra, Parque Municipal, Belo Horizonte, 1970, ao com espelhos , fotografia,

    acervo Frederico Morais

    pgina 79 DILENY CAMPOS PAISAGEM E SUBPAISAGEMPalcio das Artes, 1970, fotografia da instalao: duas setas de madeira colocadas sobre caladas do

    Palcio das Artes, acervo Frederico Morais

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    Organizada por Frederico Morais, a exposio Vanguarda Brasileira, apresenta-da na Reitoria da UFMG, em 1966, reuniu artistas do Rio que, naquele momento,defendiam uma nova posio crtico-criativa, engajada politicamente e disposta aassumir os riscos de uma radical ruptura com o sistema convencional da arte.

    A exposio anunciou a afirmao do objeto como modo operativo, capaz de con-centrar diferentes expresses sem perder o senso de oportunidade, isto , a con-dio de explicitar toda a gama de questes existenciais, subjetivas, tcnicas ecrticas.

    Na exposio da Reitoria da UFMG, o curador colocou em evidncia o que veio aser a nova objetividade, articulando-a com expresses menos radicais na tcni-ca mas ainda assim representativas do que se desejava como atualizao das lin-guagens.

    Os objetos de papelo de Vergara, as pinturas de Escosteguy; as caixas demorar de Gerchmann, figuras recortadas em relevo e pintadas, aludindo ao coti-diano suburbano do Rio, e os relevos viscerais de Antnio Dias, envolvidos por umtom intimista e evocativo da infncia; a pintura seqencial, como fotogramas deum filme, de Dileny Campos, junto com a monumentalizao de retratos sobre-postos de Roberto Carlos, criados por Maria do Carmo Secco; a desconstruo doBatman, por ngelo Aquino, um comentrio sobre a produo da imagem mticados super-heris aliengenas que povoam o imaginrio do brasileiro.

    E na sucesso de menes mais ou menos explcitas ao universo popular cario-ca, ressaltaram-se os blides de Hlio Oiticica, que explicitavam a radicalidade doconceito de arte integrada vida. Suas caixas cheias de terra, pedras, carvo, pigmentos de cores fortes, ou objetos retirados diretamente dos depsitos demateriais de construo, e ainda cestas de arame tranado cheias de ovos com-pletaram o panorama. Naquele momento, se anunciava uma radical mudana docomportamento artstico, explicitada pela batalha de ovos e tintas, no happeninginduzido pelos artistas, que finalizou o vernissage.

    pgina 80, 84 e 85 (detalhe verso) CARTAZPARE Vanguarda Brasileira

    Projeto grfico Rubens Gerchman, Belo Horizonte, 25 de julho de 1966, acervo Marcio Sampaio

    pgina 82 EXEMPLAR DE JORNALArtistas expem e debatem a vanguarda brasileira, Jornal Estado de Minas, Suplemento Dominical,

    Belo Horizonte, 24 de julho de 1966, acervo Frederico Morais

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    FAZER PATH RETIRAR PRESSILHAS

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    ampliar fundo at a margem inferior

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    Teresinha Soares irrompe no cenrio das artes plsticas em 1967, com umaexplosiva exposio de objetos erticos apresentada em Belo Horizonte, naGaleria Guignard. Formada em Letras, freqentou cursos de histria da arte egravura, fez teatro e conviveu com artistas de vanguarda do Rio. Essa formaoecltica constituiu o lastro que lhe permitiu conduzir sua atividade artstica nocampo experimental, traduzindo uma personalidade inquieta e vivamente crtica.

    Trabalha inicialmente com os elementos da pop-art, aclimatada ao modo brasi-leiro. Constri caixas com recortes de madeira em relevo e pintadas com coresfortes, incorporando objetos do cotidiano, nas quais prevalece o teor ertico.Provocativa, ironiza a sociedade, a elite fechada e reprimida de Minas, conspirapela liberdade de ex p re sso, ce le b ra a sexualidade. Publica um lbum de gra v u ra se poemas sintomaticamente intitulado Eurtica.

    Depurando essas construes, constri relevos brancos, nos quais ressalta, comelegncia, formas orgnicas e ainda alusivas ao universo ertico. Ampliando-as,cria instalaes, convocando o pblico para a celebrao, numa proposta multi-disciplinar e interativa. Suas performances, sempre surpreendentes, exaltam oamor e ritualizam a morte.

    TERESINHA SOARESpgina 85 CAIXA DE FAZER AMOR

    1967, madeira, tinta plst i ca, metal, plst i co e tecido, ace r vo Te resinha Soare s

    pgina 88 CORPO A CORPO IN CORPUS MEUS1970, fo to g rafia, ace r vo A rq u i vo Pblico da Cidade de Belo Horizonte

    pgina 90 e 92 CORPO A CORPO IN CORPUS MEUS, 1970, madeira re co r tada e pintada, 24 m2, o b ra re co n struda em 2007, acervo Teresinha Soares

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    Teresinha Soares irrompe no cenrio das artes plsticas em 1967, com umaexplosiva exposio de objetos erticos apresentada em Belo Horizonte, naGaleria Guignard. Formada em Letras, freqentou cursos de histria da arte egravura, fez teatro e conviveu com artistas de vanguarda do Rio. Essa formaoecltica constituiu o lastro que lhe permitiu conduzir sua atividade artstica nocampo experimental, traduzindo uma personalidade inquieta e vivamente crtica.

    Trabalha inicialmente com os elementos da pop-art, aclimatada ao modo brasi-leiro. Constri caixas com recortes de madeira em relevo e pintadas com coresfortes, incorporando objetos do cotidiano, nas quais prevalece o teor ertico.Provocativa, ironiza a sociedade, a elite fechada e reprimida de Minas, conspirapela liberdade de expresso, celebra a sexualidade. Publica um lbum de gravu-ras e poemas sintomaticamente intitulado Eurtica.

    Depurando essas construes, constri relevos brancos, nos quais ressalta, comelegncia, formas orgnicas e ainda alusivas ao universo ertico. Ampliando-as,cria instalaes, convocando o pblico para a celebrao, numa proposta multi-disciplinar e interativa. Suas performances, sempre surpreendentes, exaltam oamor e ritualizam a morte.

    TEXTO PERFORMANCE JOTA DANGELOSOLICITAR TERESINHA SOARES FITA OU CD

    JOTA DNGELOTexto integrante da performance Corpo a Corpo In Corpus Meus, Teresinha Soares.

    TERESINHA SOARESCORPO A CORPO IN CORPUS MEUS

    Registro de performance realizada na abertura da exposio Neovanguardas, dia 22 de dezembro de 2007, Museu de Arte da Pampulha, ca r taz impre sso, audiovisual e 3 p e r f o r m e r s .

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    TERESINHA SOARESGUERRA GUERRA VAMOS SAMBARSrie Vietn, 1968, tcnica mista,acervo Museu de Arte da Pampulha

    MORREM TANTOS HOMENS E EU AQUI TO SSrie Vietn, 1968, tcnica mista,acervo Conservatrio de Msica da UFMG

    MORRA USANDO AS LEGTIMAS ALPARGATASSrie Vietn, 1968, tcnica mista,acervo Teresinha Soares

    FAZER PATH

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    FAZER PATH

    FAZER PATH

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    Apoiado nas experimentaes e conceitos das vanguardas do incio do sculo XX,o artista dos anos 60/70 ampliou seu repertrio tcnico e material, o que possibi-l i tou a dive rs i f i cao do quadro das poticas visuais co n te m p o r n e a s .Assimilando as novas tcnicas de produo de imagem, utilizadas sob diferentesformas, abriu um vasto campo de possibilidades criativas, dentre as quais ainveno do audiovisual.

    Associando imagem (fotografia em forma de slides), som (msica e/ou textos) eritmo prprio, o audiovisual era produzido com um cdigo particular, que consi-derava, inclusive, as caractersticas de sua exibio projetores, dissolver,seqenciamento, alternncia, sobreposio, o ritmo modulado tecnicamente(bip).

    Introduzido pelo crtico Frederico Morais, com sua obra Carta de Minas e AgnusDei (premiados no Salo do Museu de Arte da Pampulha), o audiovisual/obraganhou caractersticas singulares, como linguagem e tcnica, no quadro da artemineira.

    Beatriz Dantas e Paulo Emlio Lemos (participantes da Bienal de So Paulo e deParis); Maurcio Andrs, Carlos Alberto Sartori, Hilmar Toscano Rios, GeorgeHelt, Murilo Antunes, Moacyr Laterza, Maria do Carmo Arantes foram alguns dosmais atuantes produtores de audiovisual em Belo Horizonte.

    Poticos, lricos, crticos, polticos, os audiovisualistas mineiros estabeleceramum padro criativo especfico, marcado pela singularidade, bem afeito persona-lidade reflexiva do esprito de Minas.

    O audiovisual mineiro dos anos 60/70 influencia o surgimento, nos anos 90, devideoartistas, que tm hoje reconhecimento internacional.

    MAURCIO ANDRSLAMA, 1975, audiovisual, 90 slides, acervo Maurcio Andrs

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    BEATRIZ DANTAS E PAULO EMLIO LEMOSMATADOURO, 1971, a u d i ovisual, 73 slides, acervo Museu de Arte da Pampulha

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  • GEORGE HELTJ OO DO POSTE, 1975, audiovisual, 25 slides, acervo George Helt

    calar preto

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    FREDERICO MORAIS A NOVA CRTICA / AGNUS DEI, 1970, audiovisual, 42 slides, acervo Museu de Arte da Pampulha

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    PAULO ROBERTO LEALARMAGEM, 1970, papel craft, acervo Museu de Arte da Pampulha

    fazer path

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    MARIA DO CARMO VIVACQUA MARTINS (Madu)EU DISSE, ERA MORTE CERTA, 1969, tinta sobre vidro, acervo Museu de Arte da Pampulha

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    JOS RONALDO LIMASEM TTULO, 1967, nanquim e ecoline sobre papel, acervo Museu de Arte da Pampulha

    fazer path

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    DCIO NOVIELLOE S TADOS SUCESS I VOS, DATA, S R I E I, II e III, s e r i g rafia sobre papel, ace r vo Museu de Arte da Pa m p u l h a

    fazer path

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    MARCIO SAMPAIOCONSTELAO, 1967, letras de macarro sobre mesa

    Acervo Marcio Sampaio

    LOTUS LOBOsem ttulo, da srie Estamparia Litogrfica, 1969 | litografia sobre vinil, trptico

    Acervo Museu de Arte da Pampulha

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    Criado em 1966 pelo escritor Murilo Rubio, com a participao de Las Corra deArajo e Ayres da Mata Machado Filho, durante o governo de Israel Pinheiro, oS u p le m e n to Literrio do Minas Gerais foi, desde o incio, um ve c u lo importa n tepara a divulgao da literatura e da arte de vanguarda, dinamizando a circulaoe estimulando o dilogo entre artistas e escritores de Minas e de outros estadose pases.

    Em sua fase pioneira e mais claramente afeita a acolher a produo dos novos,co n stituiu-se um eficiente espao aberto s experincias, criao de va n g u a rd a ,com publicao regular de seus trabalhos. Ofereceu tambm espao para o tra-balho de ilustradores de diversas tendncias, ensejando um relacionamento cria-tivo das artes plsticas com a literatura. Mais ainda, tornou-se frum de debatese divulgao, publicando artigos assinados pelos mais importantes crticos brasi-leiros.

    O SLMG circulava inicialmente como encarte do Dirio Oficial em todo o estado deMinas, em programa de interiorizao da cultura, sendo ainda distribudo noBrasil e no exterior. Com 40 anos de existncia, assumiu, nos ltimos anos, umaorientao de vanguarda mais acentuada, mantendo-se como uma das maisimportantes publicaes culturais do pas.

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    SUPLEMENTO LITERRIOEdies: 11 fevereiro 1967 (Ano II- no 24); 6 junho 1970 (Ano V-no 197); 27 junho 1970 (Ano V- no 200);

    22 agosto 1970 (Ano V-no 208); 28 julho 1973 (Ano III-no 361); 14 outubro 1972 (Ano VII-no 320), 6 abril 1968 (Ano III-no 84), acervo Marcio Sampaio.

    ESCANEAR 1 SUPLEMENTOFAZER PATH

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    A dcada de 60 se abre anunciando um tempo de crise, que comprometer aestrutura social e cultural do pas. A euforia desenvolvimentista dos anos 50cedera espao para uma nova atitude criativa, abandonando em parte os forma-lismos co n st r u t i vos, para re sta b e le cer, em novo diapaso, a inveno participante ,engajada.

    A I Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, realizada em Belo Horizonte pelaReitoria da UFMG, reuniu, em agosto de 63, alguns dos mais destacados crticose poetas de vanguarda de Minas, So Paulo, Rio e de outros estados.

    O fo co mais visvel da Semana, a exposio de ca r tazes/poemas, co lo cou o pblicofrente a um processo revolucionrio de comunicao da poesia, em que o ele-mento visual desempenha papel preponderante. (...) a poesia no s para osl i v ros, mas para os ca r tazes, os murais, a te leviso a poesia que deseja re s p o n d e rs solicitaes de uma civilizao coletivista.

    Paralelamente exposio, foi realizado um ciclo de palestras e debates sobre apotica de vanguarda (Fbio Lucas, Dcio Pignatari, Roberto Pontual, Haroldo deCampos, Luiz Costa Lima, Jos Guilherme Merquior) e, ao final, um comunicadoassinado pelos participantes constata que o que o poeta diz adquire relevnciacomo parte do processo de descoberta, de reformulao da realidade, mas acontribuio do poeta para a transformao da realidade tem de basear-se nomodo de ser especfico da poesia como ato criador. neste momento que omovimento de poesia concreta d o seu salto participante.

    Estiveram presentes na mostra os poetas ligados ao grupo de Poesia Concreta deSo Paulo: Augusto de Campos, Dcio Pignatari, Haroldo de Campos, Jos LinoGrnewald, Jos Paulo Paes, Edgard Braga, Ronaldo Azeredo, Pedro Xisto, Flixde Athayde, Vlademir Dias Pino.

    De Minas, participaram Affonso vila, Las Correa de Arajo, Affonso Romano deSantAnna (do Grupo Tendncia); Mrcio Sampaio (Grupo Ptyx); Henry Corra deArajo, Librio Neves, Clio Csar Paduani, Elmo Abreu, Ubirasu Carneiro,(Grupo Veredas). Tambm foram apresentados na exposio poemas de OsmarDillon e C. Vinholes, este responsvel pela traduo de poesia de vanguarda japo-nesa, incorporada mostra.

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    L I V R E TOSemana Nacional de Poesia de Vanguarda, Reitoria da UFMG,

    B e lo Horizonte, 14 a 20 de agosto de 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    P R O G R A M ASemana Nacional de Poesia de Vanguarda, Reitoria da UFMG,

    B e lo Horizonte, 14 a 20 de agosto de 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    pgina 122 CA R TA ZSemana Nacional de Poesia de Vanguarda, Reitoria da UFMG,

    B e lo Horizonte, 14 a 20 de agosto de 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    pgina 123 EXEMPLAR DE JORNALEstado de Minas, Suplemento Dominical, Belo Horizonte, domingo, 25 de agosto de 1963,

    acervo Marcio Sampaio.

    ESCANEAR DOCUMENTOS: LIVRETO E

    PROGRAMA

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    ESCANEAR OU FOTOGRAFAR CARTAZFAZER PATH

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    ESCANEAR OU FOTOGRAFAR JORNALFAZER PATH

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    A histria dos Sales de Arte em Belo Horizonte pontuada de polmicas, o queno diminui seus mritos como instrumento cultural propulsor da mobilizao deartistas no ambiente da capital mineira.

    O primeiro impulso modernizador dos Sales, representado pelo Salo do BarBrasil (1936), ensejou a acolhida institucional do evento pela Prefeitura de BeloHorizonte, que, a partir de ento, assume sua realizao anual, com a denomina-o de Salo Municipal de Belas Artes.

    Nos anos 50, j sob a responsabilidade do Museu de Arte da Pampulha, torna-sefrum de discusses sobre os novos caminhos da arte, com a participao deartistas em mbito nacional. Na dcada de 60, amplia-se mais ainda sua ao,colocando em confronto as mais diversas tendncias, instigando o debate comoreflexo dos acontecimentos polticos e sociais que marcaram a vida do pas. Foium eficiente canal de comunicao entre artistas e a sociedade, naquelesmomentos sombrios da ditadura, demonstrando a funo da arte como instru-m e n to de produo de conscincia; em 1968, o XXIII Salo seria fechado pela censura.

    No ano seguinte, a necessidade de renovao levou a uma mudana radical nasre g ras do Salo, quando foi tra n s formado em Salo Nacional de ArteContempornea de Belo Horizonte, cujo regulamento o tornaria apto a receber asnovas propostas dos artistas de vanguarda.

    Se os Sales constituram-se em territrio da expresso livre, laboratrio deexperimentaes, painel didtico sobre a arte, foram tambm o instrumento queo Museu pde utilizar na constituio de seu acervo, atravs dos prmios de car-ter aquisitivo.

    Esse acervo, formado com as obras premiadas, representa hoje um expressivoconjunto que, alm do valor artstico individual, proporciona uma leitura bastanterica dos caminhos trilhados pela arte brasileira e mineira, nos ltimos 50 anos.Como vemos nesta mostra, o acervo do MAP possibilita uma viso bastante signi-ficativa do processo de desenvolvimento da nossa arte: demonstra a sucesso detendncias e testemunha as diversas formas como a arte, em diferentes momen-tos, se relaciona com a realidade, enfrenta as vicissitudes conjunturais e reafir-ma sua capacidade de se integrar vida.

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    ESCANEAR 4 CATALOGOS

    EXEMPLARES DE CAT LO G OCatlogos Salo Nacional de Arte, acervo Centro de Documentao

    e Biblioteca doMuseu de Arte da Pampulha

    .

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    TERRITRIOS

    LOTUS LOBO, LUCIANOGUSMO, DILTON ARAUJOTERRITRIOS, Belo Horizonte,1969, srie de fotografias, acervo Lotus Lobo.

    CARTA DE LOTUS LOBO,LUCIANO GUSMO E DILTONARAUJO para o diretor doMuseu de Arte da Prefeitura deBelo Horizonte, Belo Horizonte,8 de fevereiro de 1970, originaldatilografado, acervo ArquivoPblico Municipal de Belo Horizonte.

    CARTA DE FREDERICO MORAIS PARA LUCIANO GUSMORio de Janeiro, 4 de fevereiro de1970, original datilografado,acervo Frederico Morais.

    FALTA CARTA MARCIO SAMPAIO

    DO CORPO TERRAOBJETO E PARTICIPAO

    FREDERICO MORAISLIO 1 A 12 E 14 A 15Da srie Quinze Lies sobreArte e Histria da Arte -Apropriaes, Homenagens e Equaes, impresso digital,acervo Frederico Morais.

    FREDERICO MORAISLIO 13Da Srie Quinze Lies sobreArte e Histria da Arte -Apropriaes, Homenagens e Equaes, 1970, fotografiap&b sobre eucatex, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    LOTUS LOBOREFLEXESDo Corpo Terra, ParqueMunicipal, Belo Horizonte, 1970;Ao: plantao de milhoFotografia, acervo Lotus Lobo.

    FREDERICO MORAISA p re s e n tao para as exposies Objeto e Participao e DoCorpo Terra, abril de 1970,original datilografado, acervoFrederico Morais

    LUCIANO GUSMOTRANSPIRAODo Corpo Terra, ParqueMunicipal, Belo Horizonte, 1970ao com plstico sobre gramafotografia, acervo FredericoMorais.

    LUCIANO GUSMOREFLEXESDo Corpo Terra, ParqueMunicipal, Belo Horizonte, 1970ao com espelhos, fotografia,acervo Frederico Morais.

    FREDERICO MORAISVII Festival de Ouro Preto: a arte na rua15 Lies Sobre Arte e Histriada Arte, Estado de Minas Caderno Turismo, pag.4, 17 deabril de 1970, acervo FredericoMorais.

    EXEMPLAR DE JORNALAs Galinhas Morrem Queimadasna Arte de Va n g u a rd a , Dirio daTarde, Belo Horizonte, 27 deabril de 1970, acervo FredericoMorais.

    EXEMPLAR DE JORNALA Gerao Tranca-ruas,reportagem de FranciscoBittencourt, Jornal do BrasilRio de Janeiro, 9 de maio de1970, Acervo Frederico Morais.

    JOS RONALDO LIMAPalcio das Artes, 1970,Homenagem ao artista JosNarciso Soares, fotografia,Acervo Frederico Morais.

    JOS RONALDO LIMA Palcio das Artes, 1970,Homenagem ao artista JosNarciso Soares, fotografiaacervo Jos Ronaldo Lima.

    TERESINHA SOARESELA ME DEU A BOLA, Pa l c i odas Artes, 1970, fotografia, acervo Frederico Morais.

    THEREZA SIMESHistria das Artes Plsticas:Carimbo nmero 1 e carimbonmero 2, 17 de abril de 1970,Desenho esquemtico, anetasobre papel, acervo FredericoMorais.

    THEREZA SIMESCARIMBOSPalcio das Artes, 1970, borracha, madeira, metal,acervo Frederico Morais.

    IONE SALDANHAR I PA, 1977, madeira policro m a d a ,Acervo Museu de Arte daPampulha.

    IONE SALDANHARIPAS, Palcio das Artes, 1970, fotografia, acervo FredericoMorais.

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    UMBERTO COSTA BARROSPalcio das Artes, 1970Fotografia da instalao comsobras de material de construo, acervo FredericoMorais.

    EDUARDO NGELODo Corpo Terra, ParqueMunicipal, Belo Horizonte, 1970,fotografia da ao com jornaisvelhos sobre grama,acervoFrederico Morais.

    GEORGE HELTVAMOS CAMINHAR, Palcio dasArtes, 1970, faixa de papel compegadas do artista impressascom tinta litogrfica,acervoFrederico Morais.

    JOS RONALDO LIMARELATRIO DOS TRABALHOSOBJETO E PARTICIPAO EDO CORPO TERRA, BeloHorizonte, 17 a 20 de abril de1970, documento datilografado,acervo Frederico Morais.

    JOS RONALDO LIMACAIXAS OLFATIVAS, Palcio dasArtes, 1970, instalao de caixasde madeira de diversos tamanhos com diversos odores,acervo Museu de Arte daPampulha.JOS RONALDO LIMACAIXAS OLFATIVAS, 1969, caixasde madeira e essncias, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    JOS RONALDO LIMA(GRAMA)TICA AMARELA e(VER)MELHA, Do Corpo Terra, Parque Municipal, BeloHorizonte, 1970, fotografia dainterveno realizada na lateral

    direita da quadra de tnis composta de 80 jornais velhos ep a l a v ras com co lor-jet luminoso,acervo Jos Ronaldo Lima.

    DILENY CAMPOSPAISAGEM E SUBPAISAGEMPalcio das Artes, 1970, fo to g ra f i ada Instalao: duas setas demadeira colocadas sobrecaladas do Palcio das Artes,acervo Frederico Morais.

    MANUAL TCNICO DEMUNIES QUMICASMinistrio da Guerra, 1955, utilizado na produo da aocom granadas de sinalizaomilitar realizada pelo artistaDcio Noviello na mostra DoCorpo Terra, Belo Horizonte,abril de 1970, acervo FredericoMorais.

    ALFREDO JOS FONTESOPO III OU VOLVERDo Corpo Terra, 1970, fotografias da instalao:madeira policromada, acervoFrederico Morais.

    CILDO MEIRELESTIRADENTES: TOTEM-MONUMENTO AO PRESOPOLTICO, Do Corpo Terra,rea externa do Palcio dasArtes, Belo Horizonte, 1970,fotografia da instalao: postede madeira, tecido branco, termmetro clnico e galinhavivas, acervo Frederico Morais.

    FREDERICO MORAISD e s c r i t i vo da most ra Va n g u a rd aB ra s i le i ra, 1. Do Corpo Te r ra (Parque Municipal), 2. Objeto eParticipao (Palcio das Arte s ) ,

    d o c u m e n to datilo g ra fa d o ,1970, acervo Frederico Morais.

    CARTASolicitao do Presidente daHidrominas ao Diretor Executivodo MAM/RJ: empr stimo deo b ra s da artista Lygia Clark paraa exposio Vanguarda noPalcio das Artes como parte doVII Festival de Arte de OuroPreto, Belo Horizonte, 9 de abrilde 1970, ace r vo Fre d e r i co Mora i s .

    IMPRESSOConvite de abertura do VIIFestival de Arte de Ouro Preto.Belo Horizonte, 17 de abril de1970, acervo Frederico Morais.

    IMPRESSOVolante Do Corpo Terra,Parque Municipal, BeloHorizonte, 17 a 20 de abril, acervo Frederico Morais.

    CILDO MEIRELESTIRADENTES: TOTEM-MONUMENTO AO PRESOPOLTICO, Objeto eParticipao, Palcio das ArtesBelo Horizonte, 1970, fotografiada Instalao: poste de madeira ,tecido branco, termmetroclnico e galinha vivas, acervoFrederico Morais.

    DCIO NOVIELLODo Corpo Terra, ParqueMunicipal de Belo Horizonte,abril de 1970, fotografia da aocom granadas de sinalizaomilitar, acervo Lili e Joo Avelar.

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    DCIO NOVIELLOSem ttulo, Parque Municipal deBelo Horizonte, abril de 1970,filme super-8 transposto paraDVD, acervo Lili e Joo Avelar.

    ARTUR BARRIOTROUXA ENSANGUENTADA,1970, tcnica mista, acervoRegina e Delcir da Costa.

    ARTUR BARRIOTROUXA ENSANGUENTADA,1970, tcnica mista, acervo Lili e Joo Avelar.

    ARTUR BARRIOSITUAES T/T.1, abril de 1970Do Corpo Terra, ParqueMunicipal de Belo Horizonte,Ribeiro Arrudas, 46 pranchasmanuscrito e fotografia sobrepapel. acervo Regina e Delcir da Costa.

    HLIO OITICICA E LEE JAFFETRILHA DE AUCAR, 1970,Serra do Curral, quilmetro 3,margem esquerda da rodoviaBR-3, fotografia, acervoFrederico Morais.

    SEMANA NACIONAL DE POESIADE VANGUARDA

    CA R TAZ Semana Nacional de Poesia deVanguarda, Reitoria da UFMG,B e lo Horizonte, 14 a 20 de agostode 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    L I V R E TOSemana Nacional de Poesia deVanguarda, Reitoria da UFMG,B e lo Horizonte, 14 a 20 de agostode 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    P R O G R A M ASemana Nacional de Poesia deVanguarda, Reitoria da UFMG,B e lo Horizonte, 14 a 20 de agostode 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    FO L H E TOSemana Nacional de Poesia deVanguarda, Reitoria da UFMG,B e lo Horizonte, 14 a 20 de agostode 1963, ace r vo Marcio Sampaio.

    EXEMPLAR DE JORNALEstado de Minas, SuplementoDominical, Belo Horizonte,domingo, 25 de agosto de 1963,acervo Marcio Sampaio.

    SUPLEMENTO LITERRIO

    EXEMPLARES DE JORNALEdies: 11 fevereiro 1967 (Ano II- no 24);6 junho 1970 (Ano V-no 197); 27 junho 1970 (Ano V- no 200); 22 agosto 1970 (Ano V-no 208);28 julho 1973 (Ano III-no 361); 14 outubro 1972 (Ano VII-no 320),6 abril 1968 (Ano III-no 84), acervo Marcio Sampaio.

    COLETIVA

    MANOEL SERPAHOMENAGEM A ANA BELLA II1970, colagem, ecoline e nanquim sobre papel, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    JOS AVELINO DE PAULASEM TTULO, 1972, namquimsobre papel, acervo Museu deArte da Pampulha.

    PAULO ROBERTO LEALARMAGEM, 1970, papel craft,acervo Museu de Arte daPampulha.

    SARA VILAUMA DAS ALTERNATIVAS, 1967,aguada sobre papel, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    SARA VILAUMA DAS ALTERNATIVAS, 1967,aguada sobre papel, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    SARA VILAUMA DAS ALTERNATIVAS, 1967,aguada sobre papel, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    MARCOS COELHO BENJAMIMAGENTE DISNEY, 1975,namquim e ecoline sobre papel,acervo Museu de Arte daPampulha.

    EDUARDO DE PAULACARTAZ, 1966, tinta plsticasobre eucatex, acervo Museu deArte da Pampulha.

    SEBASTIO NUNESFINIS OPERIS, Impresso sobrepapel, sem data, acervoMarcio Sampaio.

    NGELO DE AQUINOOUTONO-INVERNO, 1967leo sobre tela, acervo Museude Arte da Pampulha.

    RAYMUNDO COLARESGIBI 1, 1969, livro-objeto, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    RAYMUNDO COLARESGIBI 2, 1969, livro-objeto, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    RAYMUNDO COLARESGIBI 3, 1969, livro-objeto, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    HUMBERTO ESPNDOLABOVINOCULTURA E/OUCIRCUNSTNCIA I, II e III, 1969,leo sobre tela acervo Museu deArte da Pampulha.

    DCIO NOVIELLOESTADOS SUCESSIVOSsrie I, II e IIIserigrafia sobre papel, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    LOTUS LOBOSem ttulo, da srie Estamparialitogrfica, 1969,litografia sobre vinil, trptico,acervo Museu de Arte daPampulha.

    MARCIO SAMPAIOCONSTELAO I, 1967, objeto,letras de macarro sobre mesaAcervo Marcio Sampaio.

    ANAMLIA LOPES DE OLIVEIRAO REI E O BUFO, 1970, xilo g ra f i asobre papel, acervo Museu deArte da Pampulha.

    ANAMLIA LOPES DE OLIVEIRALEDA E O CISNE, 1970, xilo g ra f i asobre papel, acervo Museu deArte da Pampulha.

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    ANAMLIA LOPES DE OLIVEIRAO CORINGA, 1970, xilo g ra f i asobre papel, acervo Museu deArte da Pampulha.

    MARIA DO CARMO VIVACQUAMartins (Madu)EU DISSE, ERA MORTE CERTA,1969, tinta sobre vidro, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    ANTNIO HENRIQUE AMARALBR-MG3, 1970, leo sobre tela,acervo Museu de Arte daPampulha.

    IVAN SERPASEM TTULO, 1964, leo sobretela, acervo Museu de Arte daPampulha.

    JARBAS JUAREZCOMPOSIO EM PRETO N 11964, papelo, papel, cordo etinta esmalte sobre tela, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    DILENY CAMPOSCERNE I, 1968, escultura emmadeira e pedra, acervo Museude Arte da Pampulha.

    MANOEL SERPAE JOS DE ARIMATHAAMOR, 1971, fotografia sobreeucatex, acervo Museu de Arteda Pampulha.

    JOS RONALDO LIMASEM TTULO, 1967, nanquim eecoline sobre papel, acervoMuseu de Arte da Pampulha.

    MARIA DO CARMO SECCORETRATO DE UM LBUM DECASAMENTO, 1967, esmaltesobre eucatex, acervo Museu deArte da Pampulha.

    JOS ALBERTO NEMER PROIBIDO AMAR EM TEMPOSDE GUERRA, 1969, tcnicamista, acervo Museu de Arte daPampulha.

    SALA ESPECIALTERESINHA SOARES

    TERESINHA SOARESF I L M E - D O C U M E N TRIO, re g i st ro de obras, performancese happenings, acervo TeresinhaSoares.

    TERESINHA SOARESCORPO A CORPO IN CORPUSMEUS, 1970, madeira recortadae pintada, 24 m2, acervoTeresinha Soares.

    TERESINHA SOARESPROCISSO DO ENCONTRO1970, tinta acrlica sobre m a d e i ra, trptico, ace r voTe resinha Soares.

    TERESINHA SOARESMORREM TANTOS HOMENS EEU AQUI TO S, srie Vietn,1968, tcnica mista, acervoConservatrio de Msica daUFMG.

    TERESINHA SOARESGUERRA GUERRA VAMOSSAMBAR, 1968, srie Vietn,tcnica mista, acervo Museu deArte da Pampulha.

    TERESINHA SOARESMORRA USANDO AS LEGTIMASA L PA R GATAS, srie Vietn, 1968,tcnica mista, acervo TeresinhaSoares.

    TERESINHA SOARESCAIXA DE FAZER AMOR, 1967,madeira, tinta plstica, metal,plstico e tecido, acervoTeresinha Soares.

    VANGUARDA BRASILEIRA

    EXEMPLAR DE JORNALArtistas expem e debatem avanguarda brasileira, JornalEstado de Minas, SuplementoDominical, Belo Horizonte, 24de julho de 1966, acervoFrederico Morais.

    CARTAZPARE Vanguarda Brasileira,Belo Horizonte, 25 de julho de1966, acervo Marcio Sampaio.

    SALA AUDIOVISUAL

    MAURCIO ANDRSLAMA, audiovisual, 90 slides,1975, acervo Maurcio Andrs.

    GEORGE HELTJ OO DO POSTE, 1975, a u d i ovisual, 25 slides, acervoGeorge Helt.

    BEATRIZ DANTAS E PAULO EMLIO LEMOSMATADOURO, 1971, a u d i ov i s u a l ,73 slides, acervo Museu de Arteda Pampulha.

    BEATRIZ DANTASTERRA, 1971, audiovisual, 84 slides, acervo Museu de Arteda Pampulha.

    FREDERICO MORAISA NOVA CRTICA / AGNUS DEI,1970, audiovisual, 42 slides,acervo Museu de Arte daPampulha.

    FREDERICO MORAISO PO E O SANGUE DE CADAUM, 1970, audiovisual, 83 slides,acervo Museu de Arte daPampulha.

    FREDERICO MORAISQUINZE LIES SOBRE ARTE EHISTRIA DA ARTE -HOMENAGENS E EQUAES,1970, audiovisual, 30 slides,acervo Museu de Arte daPampulha.

    SALO NACIONALLISTAR CATLOGOS

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    FIM DOS CADERNOS EM COUCHE FOSCO 150 G

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    APRESENTAOH cinquenta anos Garrincha defendia o Botafogo e Pel j era rei. MarilynMonroe criava o mito da loura burra, linda e sexy que encantava o mundo comsua exacerbada feminilidade. Tom Jobim lanava a garota de Ipanema e fazia duocom Frank Sinatra mostrando a qualidade da msica brasileira. JuscelinoKubitscheck assumia o governo do pas e prometia 50 anos em 5.

    Comea a perseguio a um objetivo poltico e social frentico, e com a idia damudana da capital, estradas so abertas, fbricas de carros para circularem nasnovas estradas, e o bom trenzinho dos mineiros que os levava a sedutora praia deCopacabana vai diminuindo seu flego at sucumbir ao impacto dos novos meiosde transporte.

    As artes ca r re g a vam suas baterias e pre tendiam re a cender pro p o stas de inova o ,absorviam-se informaes e institucionalmente criavam-se estruturas de apoios artes. Surgem museus de arte moderna, bienais, cinemateca, a Vera Cruz seinstala como grande produtora de filmes nacionais, uma Holywood tupiniquim. Osjornais incluem suple m e n tos, as livrarias importam livros de arte, os sales oferecem prmios de viagem Europa e artistas estrangeiros vem visitar oBrasil. Os figurativos viram abstratos, os abstratos tornam-se concretos e estespretendiam expressar-se em novas e estranhas linguagens que deixam pat og rande pblico. a ante a comodao generalizada diante dos arroubos civilizatriosdo presidente.

    E, neste clima, Belo Horizonte, que tinha sido proibida de jogar num ca ssino, lembra-se da extraordinria concepo de arquitetura deste prdio e encontraum destino para ele, museu de arte. Comemoramos assim sua criao, le m b ra n d ocom saudades do grande arquiteto e intelectual Silvio Vasconcelos, o idealizadorda utilizao do prdio como museu para o prefeito Celso Melo Azevedo.

    Comemoramos os 50 anos do Museu de Arte da Pampulha com a exposioNeovanguardas, e, neste momento de celebrao, um novo espao se avizinha naproposta do atual prefeito de Belo Horizonte. Em breve teremos um novo museuque multiplicar as aes do atual e assim teremos a continuao das propostasde avano cultural exigido pelo nosso tempo.

    PRISCILA FREIRE Diretora Museu de Arte da Pampulha

    INICIO DOS CADERNOS EM CHAMOIS 120 G

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    CURADORIA MARCONI DRUMMOND Curador | MARCIO SAMPAIO | MARLIA ANDRS Co-Curadores

    Organizada pelo Museu de Arte da Pampulha para marcar os seus 50 anos deatuao, a exposio NEOVANGUARDAS rene obras e registros documentais textuais e ico n o g r f i cos de um dos perodos mais frteis e tambm mais conturbados da cultura brasileira.

    Entre 1964 e 1975, a arte se manifestou sob a compresso da censura implantadap e lo regime militar, o que haveria de induzir a uma tomada de posio dos artista s ,tanto poltica como artisticamente. o momento da exploso da vanguarda, dar u p t u ra com os antigos padres est t i cos, da atualizao das linguagens em funode novas formas de comunicao. Cada vez mais distante do nihilismo da abstra-o, a arte, por um lado, re to m a va a figurao, no tom de um realismo crtico ex a cerbado e, por outro, introduzia novos ele m e n tos ex p re ss i vos e tra n s g re ss i vo s como os happenings, as intervenes no espao urbano, as criaes multidis-ciplinares e o uso de novos meios como a fotografia e o audiovisual. Quase todose sses aco n te c i m e n tos fo ram marcados por ele m e n tos de impacto, pela co n te sta oao status quo e violncia da represso e da censura, mas no desprezaram afora da imagem potica.

    O partido cura torial da exposio foi trazer ao re / co n h e c i m e n to do pblico criaes e eventos pontuais das Neovanguardas, com a sua diversidade de meiose de intenes, mas unificados pela posio crtica e dispostos ao trabalho criativosintonizado com os mais atualizados recursos expressivos. Pretendeu aindademonstrar como as criaes desse perodo continuam atuais, constituindomatriz de grande parcela da produo contempornea.

    Belo Horizonte foi cenrio de algumas das mais significativas manifestaes dan e ova n g u a rda, e o Museu da Pampulha, atra vs de seus sales de arte e de exposies, se afirmou como um espao irradiador de aes de va n g u a rda artstica de Minas.

    sobre o binmio arte/sociedade que a exposio NEOVA N G U A R DAS se co n st r u i u ,rastreando as manifestaes mais significativas do perodo e tendo como eixo oprprio acervo do MAP, formado quase na sua totalidade por obras premiadas emseu Salo.

    A exposio privilegia, em sala especial, artistas mineiros que tiveram atuaosignificativa no perodo: Teresinha Soares, Jos Ronaldo Lima, Ltus Lobo, estatambm criadora, junto com Dilton Arajo e Luciano Gusmo, do trabalhoTerritrios, premiado no Salo do MAP e que, pela primeira vez, faz uma obrasair dos limites do Museu e ocupar seus jardins. A exposio tambm dedica umespao ao crtico mineiro Frederico Morais, radicado desde 66 no Rio, onde foi

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    re s p o n s vel pelo est m u lo de boa parcela das manife staes da va n g u a rda ca r i o ca .Frederico Morais (tambm premiado no Salo do MAP) est presente com seusaudiovisuais/obra, a sua nova crtica, e tambm por ter sido o curador de impor-tantes eventos realizados em Belo Horizonte: Vanguarda Brasileira (Reitoria daUFMG, 1966), Do Corpo Terra e Objeto e Participao (Parque Municipal ePalcio das Artes, abril de 1970).

    NEOVANGUARDAS traz tambm registros de outros eventos importantes como aI Exposio de Poesia de Vanguarda (Reitoria da UFMG, 1964) e registra a expres-siva participao do Suplemento Literrio do Minas Gerais, como um espaoaberto s manifestaes culturais e gerao de artistas ento emergente.

    TERRITRIOS Ao fazer a re formulao co n ceitual do seu Salo, o Museu de Arte ofe re ceu condies para a participao de artistas que lidavam com linguagens no co n-vencionais. O re g u l a m e n to previa a ampliao de seu espao ex p o s i t i vo, inte g ra n d oos jardins em volta como lugar propcio para as manifestaes da vanguardaemergente.

    Os mineiros Dilton Arajo, Ltus Lobo e Luciano Gusmo, p e rcebendo a nova dis-posio do Museu, inscreve ram para o I Salo Nacional de ArteC o n tempornea (1969) o trabalho Territrios, uma proposta de apropriaopotica do entorno do Museu, com uso de materiais diversos, como acrlico, fai-xas de plsticos, hastes de vergalho e cordes coloridos. A montagem d e ss e sm a teriais no co n vencionais inte r feriu nos jardins pro j e ta d o s por Burle Marx, detal forma a enfatizar as diversas maneiras como a natureza ali se manifestava,em constante rebeldia imposio do projeto paisagstico.

    Para os artistas, porm, no seria esta a questo fundamental de Territrios.Propunham que a interveno ensejasse a discusso sobre a prpria funo eresponsabilidade do Museu, que ele se tornasse efetivamente o lugar da expe-rincia, do pensamento de vanguarda. Mas Territrios tambm construiu ummomento de pura poesia, modificando os espaos, enfatizando detalhes da n a t u-reza em dilogo com o material sinttico, provo cando a participao do pbliconesse dilogo, como sua vivenciao do lugar assim modificado. Os traos resi-duais dessa instalao haveriam de ser visveis por algum tempo, e, assumindoseu carter efmero, diluiriam, deixando como testemunho os registros fotogr-ficos das aes e do tempo de existncia ou vigncia da obra. Encerrados emuma caixa, os elementos constitutivos da instalao viveriam um novo momento,t raduzindo em sua disfuncionalidade o sentido da relao te m p o / m a t r i a / m e m r i a .

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    DO CORPO TERRA Frederico MoraisNa histria da arte brasileira, referido apenas com o nome Do Corpo Terra.Mas, na realidade, foram dois eventos simultneos e integrados, a mostra Objetoe Participao, inaugurada no Palcio das Artes, em 17 de abril de 1970, e a mani-festao Do Corpo Terra, que se desenvolveu no Parque Municipal de BeloHorizonte, entre 17 e 21 de abril do mesmo ano, promovidos pela Hidrominas -empresa de turismo do Estado de Minas Gerais. A iniciativa foi de MariStellaTristo, diretora do setor de exposies do recm-criado Palcio das Artes e idea-lizadora, tambm, do Salo de Ouro Preto, que a cada ano se ocupava de umacategoria esttica. Pelo sistema de rodzio, em 1970 seria a vez da escultura.Convidado por MariStella a fazer a curadoria do Salo daquele ano, que seriarealizado excepcionalmente no Palcio das Artes, substitui a escultura peloObjeto, ao mesmo tempo que inclu como rea de atuao dos artistas o ParqueMunicipal.

    Na segunda metade dos anos 1960, o Objeto estava na ordem do dia. J na apre-s e n tao da most ra Va n g u a rda Bra s i le i ra, que realizei na Reitoria daUniversidade Federal de Minas Gerais, em 1966, eu definia o Objeto como umasituao nova, que configura ou o veculo mais adequado para expressar asnovas realidades propostas pela arte ps-moderna . No ano seguinte, um movi-mento iniciado no Rio de Janeiro, contrrio realizao do Concurso de obras dearte em forma de caixa, resultou na mostra Nova Objetividade Brasileira, noMuseu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em abril de 1967. Curador do 4 Salode Arte Moderna do Distrito Federal (dezembro de 1967, em Braslia), inclu, pelaprimeira vez, num regulamento de um salo de arte brasileiro o Objeto comocategoria. Era uma contradio claramente assumida por mim, visto que, emnovo texto, publicado naquele mesmo ano, eu reafirmava meu ponto de vista, aodizer que o Objeto no pode ser rotulado em qualquer meio particular de expres-so. Ele corresponde a uma nova situao existencial do homem, a um novohumanismo. Minha inteno, no entanto, era ampliar o debate em torno do tema.Contudo, foi Hlio Oiticica quem radicalizou, em texto e obra, o conceito.Escrevendo sobre As instncias do problema Objeto, ele afirma: O Objeto visto como ao no ambiente, dentro do qual os objetos existem como sinais e nosimplesmente como obras. a nova fase do puro exerccio vital, onde o artista um propositor de atividades criadoras. O Objeto a descoberta do mundo a cadainstante, ele a criao do que queiramos que seja. Um som, um grito podem serum Objeto. E foi essa noo ampla de Obje