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Nísia floresta e os direitos das mulheres

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Page 1: Nísia floresta e os direitos das mulheres

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Faculdade de Educação

Daruzi Felippe

Nísia Floresta e os direitos das mulheres

“Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de

nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós somos próprias se não

para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e

aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens... Entretanto, eu não posso considerar

esse raciocínio senão como grandes palavras, expressões ridículas e empoladas, que é

mais fácil dizer do que provar” (FLORESTA, 1989, p. 35).

Nísia Floresta Brasileira Augusta é o pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto,

uma das pioneiras do feminismo brasileiro. Nísia sempre fora uma mulher à frente de

seu tempo, com atitudes que seriam polêmicas até hoje, como quando abandonou o

primeiro casamento, realizado quando tinha 13 anos, depois de poucos meses.

Nascida em 1810, em Papari, no Rio Grande do Norte, cidade que hoje recebe

seu nome, Nísia fora criada em uma sociedade patriarcal que silenciava a voz e o direto

das mulheres cujas figuras eram associadas às atividades mais fúteis e destinadas a

terem uma postura submissa, enquanto era destinado aos homens os assuntos de maior

relevância que acreditava-se estar distantes da capacidade feminina.

Às crianças da época era negado o direito da infância, principalmente se fossem

meninas, brincar e ter acesso aos livros era raro, pois elas deveriam ser preparadas para

logo casarem e assumirem as responsabilidades domésticas.

Pertecente a uma família tradicinal, Nísia recebera instrução em um internato

religioso em Goiana, para onde sua família fugira após manifestações antilusitanas em

sua cidade natal. Através da biblioteca do Convento das Carmelitas, Nísia teve contato

com a cultura européia.

Em 1831 ela inicia suas atividades na área das letras, publicando em um jornal

pernambucano séries de artigos sobre a condição feminina. Em 1832 publica seu

primeiro livro intitulado “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”. Por volta de

1833 Nísia parte para o Rio Grande do Sul, onde fizera amizade com Anita e Giuseppe

Garibaldi, também chegou a fundar um colégio para meninas. Seus planos em solo

gaúcho foram interrompidos pela Guerra dos Farrapos, que obrigou-a a se mudar com a

família para o Rio de Janeiro onde funda e dirige o Colégio Augusto em 1838.

Na visão da sociedade da época, não haveria motivos para fornecer uma

educação às mulheres semelhante a que os homens recebiam, se as mulheres

recebessem a instrução de como serem boas esposas, mães e dama da sociedade, seria

suficiente, pois eram esses os papéis ocupados pela mulher na época e não se objetivava

conquistas sociais. Nos poucos colégios existentes na época, como o colégio Pedro II,

era proibido o ingresso de meninas.

Nísia refletiu sobre isso: Por que a ciência nos é inútil? Porque somos excluídas

dos cargos públicos; e porque somos excluídas dos cargos públicos? Porque não temos

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ciência [...] Eu digo mais, não há ciência, nem cargo público no Estado, que as

mulheres não sejam naturalmente próprias a preenchê-los tanto quanto os homens

(FLORESTA, 1989, p. 52; 73)

Sessenta dias depois da fundação do colégio Pedro II, Nísia funda, também no

Rio de Janeiro, o Colégio Augusto, destinado à meninas e apesar de não propor uma

mudança imediata nos costumes, era fornecido no colégio uma proposta pedagógica

inovadora que permitia o aprendizado de ciências, línguas estrangeiras, história,

geografia e educação física, além disso, o número de alunas por turma era limitado a

fim de proporcionar melhor aprendizado.

Para a sociedade, o que era ensinado no Colégio Augusto para as meninas era

considerado inutilidades, já que esses conhecimentos não seriam úteis ao papel que a

mulher desempenhava na época, acreditava-se que só a alfabetização somado a

trabalhos manuais, já seriam suficientes. Além desse obstáculo, outras questões

dificultavam a educação feminina, como a obrigação de serem professoras mulheres a

darem aulas para meninas, tendo salários inferiores à dos professores homens e também

a baixa quantidade de colégios que permitiam o acesso feminino e a baixa qualidade de

ensino às meninas nesses outros colégios. Sendo assim, é possível dizer que o Colégio

Augusto era pioneiro em educação igualitária.

Em 1849 é publicado o livro A lágrima de um Caeté. A produção literária de

Nísia sempre fora deixada de lado pela história da literatura que aprendemos no colégio,

porém, pesquisadores recentes já afirmam que ela também seria uma pioneira do

romantismo brasileiro, pois traz elementos como o índio em suas obras literárias. No

mesmo ano Nísia parte para a Europa onde passa a ter maior contato com as idéias

novas e revolucionárias que contribuem para a elaboração de uma de suas principais

obras: o Opúsculo humanitário onde a autora condena a formação educacional da

mulher, não só no Brasil como em diversos países. Nos períodos em que viveu na

Europa conheceu e foi amiga de Auguste Comte sendo, inclusive, uma das quatro

mulheres que acompanhou o cortejo fúnebre ao Père Lachaise.

Sua segunda temporada na Europa fora definitiva, pois após uma breve volta ao

Brasil, a partir de 1856 viveu lá até sua morte em 1885 e em 1954 seus restos mortais

foram trazidos de volta ao Brasil para sua terra natal que passou a receber seu

pseudônimo como nome oficial.

Em suma, Nísia fora uma figura importantíssima na conquista dos direitos

femininos que caminharam em passos lentos e ainda precisam ser reforçados e

ampliados, ela tivera em sua época atitudes, comportamentos e idéias que até para os

dias de hoje são revolucionárias, sendo um modelo atual de mulher, pensadora e

educadora.