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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE
ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA
MESTRADO EM CINCIAS DO CUIDADO EM SADE
Vanessa Carine Gil de Alcantara
O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE NIBUS: ESTUDO DESCRITIVO
Niteri, RJ 2015
Vanessa Carine Gil de Alcantara
O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE NIBUS: ESTUDO DESCRITIVO
Dissertao apresentada ao Mestrado
Acadmico em Cincias do Cuidado em
Sade (MACCS), da Escola de
Enfermagem Aurora de Afonso Costa
(EEAAC), da Universidade Federal
Fluminense (UFF), como parte dos
requisitos necessrios obteno do
ttulo de mestre.
Orientadora Prof. Dr. Rose Mary Rosa Costa Andrade Silva
Niteri, RJ 2015
Vanessa Carine Gil de Alcantara
O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE NIBUS: ESTUDO DESCRITIVO
Dissertao apresentada ao Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade (MACCS), da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC), da Universidade Federal Fluminense (UFF), como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de mestre.
Aprovada em ___/___/___.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Rose Mary Rosa Costa Andrade Silva. (PRESIDENTE) Universidade Federal Fluminense
Prof PHD. Eliane Ramos Pereira ( 1 EXAMINADORA) Universidade Federal Fluminense
Prof Dr. Aline Miranda da Fonseca Martins (2 EXAMINADORA) Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof PHD. Enas Rangel Teixeira ( SUPLENTE)
Universidade Federal Fluminense
Prof Dr. Martha Sauthier (SUPLENTE) Universidade Federal do Rio de Janeiro
Niteri, RJ 2015
Dedico este trabalho aos meus pais cujo amor e cuidado sempre me inspiraram ao
crescimento e amor ao prximo.
AGRADECIMENTOS
Ao Deus de Abrao, Isaque e Jac, que em tudo me fortaleceu e me encheu de coragem para trilhar este caminho. Aos meus pais, Fernando e Madalena, pelo amor inafastvel e suporte incessante. Ao meu esposo, Azinio, pelo amor revigorante e pela compreenso constante. Aos profissionais do transporte coletivo que me ensinaram lies para toda a vida. minha doce e inafastvel orientadora Prof Dr Rose Mary Rosa por sua dedicao de sempre e por sua confiana e ousadia do Esprito Santo. minha (co) orientadora Prof Dr Eliane Ramos por suas contribuies ao longo deste processo. Aos professores que participaram da banca examinadora. Diretoria da empresa de transporte coletivo que autorizou a realizao da pesquisa pelo apoio e confiana. Gustavo por suas palavras de incentivo e fora. Sr Eduardo pelo olhar de apoio e carinho e Sr. Daniel pela motivao e considerao. administrao da empresa, na pessoa de Jociara Rodrigues, que acreditou na proposta deste trabalho. minha assistente, Priscilla Ramos, por sua responsabilidade e brilhante trabalho em minhas ausncias da empresa. minha assistente Mayara Rodrigues por tamanha dedicao e disposio sempre acolhedora queles que torceram e/ou contriburam para que este estudo acontecesse
RESUMO
O trabalho dos motoristas de nibus, apesar de indispensvel, necessita de valorizao, principalmente, no que tange qualidade de vida destes profissionais. Trata-se de um estudo que objetivou compreender as implicaes provocadas pelo trabalho na sade do sujeito que trabalha no transporte coletivo (nibus). Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem fenomenolgica luz do referencial terico-filosfico de Maurice Merleau-Ponty e da Psicanlise de Sigmund Freud. Aps a aprovao do Protocolo do Projeto de Dissertao pelo Comit de tica com Seres Humanos da instituio, sob o N 19593513.2.0000.5243, iniciou-se a entrevista fenomenolgica. Esta aconteceu nos meses de janeiro de 2014 a abril de 2014 encerrando-se quando se percebeu a suficincia de significados. O cenrio foi uma empresa privada de transporte coletivo no leste fluminense do Rio de Janeiro. Na entrevista, utilizaram-se as seguintes questes: comente livremente como a experincia de dirigir, comente livremente sua percepo sobre qualidade de vida, e que medidas poderiam melhorar o seu trabalho. Dirigir para os motoristas participantes da pesquisa satisfao indiscutivelmente esses profissionais acreditam que alm das intemperes do cotidiano, dirigir uma experiencia inserida na vida social. O equilbrio familiar est vinculado ao processo de trabalho do motorista de nibus afinal, sua ateno concentrada na direo e nos agentes externos depende da mente tranquila, estar em famlia qualidade de vida, as melhorias para o trabalho dos motoristas que participaram da pesquisa pautada no respeito dos clientes, condies positivas do nibus e melhor salrio. A mobilidade urbana tem foco na atual conjuntura vivida no pas, a Copa do Mundo e a iminncia dos Jogos Olmpicos de 2016. Valorizar os profissionais de transporte coletivo um passo importante para a garantia da boa imagem diante do mundo quanto ao transporte coletivo brasileiro.
Descritores: Corpo; Mobilidade; Percepo; Sujeito; Trabalho.
RESUMN
El trabajo de los conductores de autobs, aunque indispensable, requiere de una apreciacin, especialmente con respecto a la calidad de vida de estos profesionales. Este es un estudio que pretende entender las consecuencias causadas por trabajaren en la salud del sujeto que trabaja en el transporte pblico (autobs). Con este fin, desarroll un enfoque fenomenolgico de investigacin cualitativa a la luz el terico-filosfico de Maurice Merleau-Ponty y el psicoanlisis de Sigmund Freud. Despus de la adopcin del protocolo del proyecto de tesis por el Comit de tica de la institucin con los seres humanos, en el apartado 19593513.2.0000.5243, comenz la entrevista fenomenolgica. Esto sucedi en los meses de enero a abril 2014 2014 final cuando fue realizada la suficiencia de los significados. El escenario era un transporte privada en el Oriente fluminense de Ro de Janeiro. En la entrevista, se utilizaron las siguientes preguntas: comentar libremente como es la experiencia de conduccin, comentar libremente su percepcin sobre la calidad de vida, y qu medidas podran mejorar su trabajo. En coche a los conductores de la encuesta es la satisfaccin podra decirse que estos profesionales creen que adems de la intemperes de la vida cotidiana, conducir es un experimento en la vida social.. El equilibrio familiar est vinculado al conductor del autobs, despus de que toda su atencin se centr en la direccin y agentes externos depende de la mente tranquila, en calidad de vida de la familia, las mejoras a la labor de los pilotos que participaron en la encuesta se basa en el respeto de los clientes, condiciones positivas del autobs y mejores salarios. Movilidad urbana tiene el foco en el actual clima econmico experimentado en el pas, la Copa del mundo y los Juegos Olmpicos de 2016 que se avecina. Mejorar el transporte masivo profesionales es un paso importante para garantizar la buena imagen ante el mundo en relacin con el transporte colectivo brasileo.
Palabras clave: Cuerpo; Movilidad; Percepcin; Tema; Trabajo.
ABSTRACT
The work of bus drivers, although indispensable, requires appreciation,
especially regarding the quality of life of these professionals. This is a study that
aimed to understand the implications caused by work on the health of the
subject who works at the public transportation (bus). To this end, developed a
qualitative research phenomenological approach in the light of the theoretical-
philosophical of Maurice Merleau-Ponty and psychoanalysis of Sigmund Freud.
After the adoption of the Protocol of the Dissertation project by the Ethics
Committee of the institution with human beings, under paragraph
19593513.2.0000.5243, began the phenomenological interview. This happened
in the months of January to April 2014 2014 ending when it was realized the
sufficiency of meanings. The scenario was a privately held transportation in the
East Fluminense of Rio de Janeiro. In the interview, the following questions
were used: comment freely as is the experience of driving, comment freely their
perception about quality of life, and what measures could improve their work.
Drive to survey drivers is satisfaction arguably these professionals believe that
in addition to the untempers of everyday life, driving is an experiment in social
life. The family balance is linked to the bus driver, after all his attention focused
on direction and external agents depends on the quiet mind, be in family's
quality of life, the improvements to the work of the drivers who participated in
the survey is based on respect for customers, positive conditions of the bus and
better wages. Urban mobility has focus in the current economic climate
experienced in the country, the World Cup and the 2016 Olympic Games
looming. Enhance mass transit professionals are an important step towards
guaranteeing the good image before the world regarding the Brazilian collective
transportation.
Key Words: Body; Mobility; Perception; Subject; Job.
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1: Circularidade do mundo da vida dos motoristas de nibus..........114
Figura 2: Mosaico do Rodovirio................................................................ 121
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
LILACS......................................................................................................... 23
Quadro 2: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
SCIELO..........................................................................................................27
Quadro 3: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
PEPSIC..........................................................................................................29
Quadro 4: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
BVS.................................................................................................................30
Quadro 5: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
BDENF............................................................................................................31
Quadro 6: Categorizao da tese encontrada na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte..............................................................................................32
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1: Quanto ao tempo de profisso.......................................................88
Grfico 2: Quanto a tratamento de sade........................................................89
Grfico 3: Quanto ao sexo.................................................................................89
Grfico 4: Quanto idade................................................................................. 90
Grfico 5: Quanto ao estado civil.......................................................................91
Grfico 6: Quanto ao estado marital..................................................................92
Grfico 7: Quanto religio........................................................................... ... 92
Grfico 8: Quanto escolaridade .....................................................................93
DETRO: Departamento de Transportes Rodovirios
DRH: Departamento de Recursos Humanos
FETRANSPOR: Federao das Empresas de Transportes de Passageiros do
Estado do Rio de Janeiro
RH: Recursos Humanos
SGSPD: Saindo da Garagem sem perder a direo
SENAT: Servio Nacional de Aprendizagem do Transporte
SEST: Servio Social de Transporte
SETRERJ: Sindicato das Empresas de Transportes Rodovirios do Estado do
Rio de Janeiro
PTC: Profissional do transporte coletivo
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
SUMRIO
1 CONSIDERAES INICIAIS.........................................................................16
2 ESTADO DA ARTE........................................................................................22 3 FUNDAMENTAO TERICA................................................................................ 36 3.1 O corpo perceptvel em Ponty....................................................................36
3.2 O mundo perceptvel conhecido pelo corpo............................................ 39
3.3 O corpo em Freud expresso do inconsciente....................................... 42
3.4 A linguagem em Freud: modo de interpretao do corpo.......................... 43
4 REFERENCIAL TEORICO ........................................................................... 46 4.1 Fenmenos sensveis e o olhar................................................................ 46
4.2 O Sujeito Rodovirio e os seus desafios................................................... 48
4.2.1 As condies conflitantes de trabalho.................................................... 51
4.2.2 A identidade profissional........................................................................ 53
4.2.3 Treinamento Saindo da Garagem sem perder a direo: Desafio vencido............................................................................................................54
4.2.4 O sujeito motorista que diante da psicloga fala silenciando.......................................................................................................46
4.2.5 O apelo capitalista e o motorista frente ao consumismo..........................55 4.2.6 O gnero feminino e o transporte coletivo..............................................62
4.3 O transporte coletivo e a mobilidade urbana............................................. 63
5 TRAJETRIA METODOLGICA .................................................................82
5.1 O cenrio da pesquisa............................................................................... 83 5.2 A entrevista fenomenolgica e sua peculiaridade ..................................... 84 5.3 Percepes da pesquisadora na entrevista fenomenolgica..................84
5.4 Anlises dos dados......................................................................................85
5.5 Aspectos ticos...........................................................................................86
6. RESULTADOS LUZ DO REFERENCIAL.............................................................87
6.1 Anlise dos dados.................................................................................. 87
6.2 Categorizao dos dados demogrficos.......................................... 87
7 DISCUSSO DE DADOS...............................................................................94
7.1 Dirigir o nibus: Uma direo para a valorizao externa ao prazer
interno de conduzir..................................................................................................94
7.2 Qualidade de vida estar em famlia e satisfeito com a atividade..98
7.3 Melhorias para o motorista de nibus sinnimo de boas condies
de trabalho...................................................................................................... 104
7.3.1 O respeito da sociedade ao condutor uma reinvindicao dos
motoristas de nibus........................................................................................105
7.3.2 O salrio alm do capital forma de valorizao pelo bom servio
prestado..........................................................................................................107
7.3.3 As condies de trabalho medida pelo estado do nibus:
escritrio do motorista.....................................................................................110
7.3.4 Propostas diretas dos motoristas para melhoria da atividade
representada em um ciclo contnuo do mundo da vida dos profissionais:
implicaes ....................................................................................................114
8 O MUNDO PERCEBIDO NO CONTATO COM O MUNDO DA VIDA DO
MOTORISTA DE NIBUS EM VIAS DE CONCLUSO................................115
9 IMPACTO SOCIAL: O RETORNO DA DISSERTAO NA PRTICA......119
9.1 Mosaico Rodovirio................................................................................. 121
REFERENCIAS........................................................................................................122
ANEXOS....................................................................................................................130
APENDICE ...............................................................................................................134
16
1 CONSIDERAES INICIAIS
Diariamente, mais de 88 mil pessoas se deslocam dos mais variados
lugares na cidade de So Gonalo1. O interesse pelo presente estudo parte
do meu cotidiano como psicloga de uma empresa de nibus, recrutando e
selecionando candidatos, treinando, atendendo as demandas psicolgicas dos
funcionrios e, em grande escala, os motoristas. Trata-se de lugar em que me
deparo com algumas dificuldades, como: controle dos ndices de rotatividade,
excesso de motoristas em medidas disciplinares, medo de envolvimento em
acidentes de trnsito, estresse gerado pela carga horria de trabalho.
A concepo de mundo, em Maurice Merleau Ponty, filsofo francs, diz
respeito experincia de estar em contato, ao mesmo tempo, consigo e com o
outro. O mundo no aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou
aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas no o possuo,
pois ele inesgotvel. (PONTY, 1994, pg. 17). Na relao com o passageiro,
o motorista de nibus convocado a sentir uma gama de sensaes, desde a
satisfao de executar o trabalho de conduzir pessoas ao destino desejado at
mesmo desconfortos gerados por falhas na comunicao, alm de desrespeito
ao lugar do outro, fazendo com que o corpo senta os percalos do
relacionamento interpessoal. o motorista de nibus condutor da mquina que
dirige na viso organizacional. Considerando os processos psicolgicos em
questo nessas relaes, o mundo da vida do motorista de nibus insere uma
terceira responsabilidade: consigo.
O interesse latente em minha prtica como psicloga e em conformidade
com o projeto j em andamento2 promover sade aos trabalhadores que
sustentam dia-a-dia empresa. A resposta para as implicaes profissionais
que me moveram a pensar neste plano est no segundo princpio fundamental
descrito no Cdigo de tica do psiclogo, de agosto de 2005, que assim afirma:
1 Programao interna da empresa F de transporte coletivo 2 Saindo da garagem sem perder a direo que ser abordado posteriormente
17
O psiclogo trabalhar visando promover a sade e a
qualidade de vida das pessoas e das coletividades e
contribuir para a eliminao de quaisquer formas de
negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e
opresso. (pg. 07).
Em 2012, foi sancionada a Lei da Mobilidade Urbana objetiva a
integrao dos transportes e a maior acessibilidade populao que depende
do servio. A referida lei apresenta os objetivos da Poltica Nacional de
Mobilidade Urbana, direciona a regulamentao do servio, garante os direitos
dos usurios, apresenta as atribuies das esferas do governo, direciona o
planejamento e gesto dos sistemas de mobilidade e apresenta instrumentos
de apoio mobilidade, porm no contm nenhum indicativo de promoo de
qualidade de vida para este profissional.
A qualidade de vida (QV) multifatorial e pode ser definida como o grau
de prazer e realizao pessoal na vida de um indivduo. Para um elevado nvel
de QV, devem ser atendidas, minimamente, as necessidades bsicas de uma
pessoa, as condies laborativas e o estilo de vida, estes contribuindo
sobremaneira para a promoo ou no da QV, influenciando no bem estar
fsico e emocional dos indivduos. O trabalho que no oferece ao sujeito a
liberdade necessria para que ele use suas habilidades no exerccio de sua
atividade resulta em sofrimento. Para Christopher Dejours apud (Rodrigues,
lvaro e Rondina 2006, p.09) tal sofrimento um modo de defesa construda.
Lanar mo da sade e distorcer a percepo do trabalho so
ferramentas psquicas que se instauram para tentar dar conta do insuportvel,
dos efeitos que o trabalho causa, da falta operante ao psiquismo muitas vezes
pobre de sentido. Diante de tantos limites impostos pela sociedade
contempornea e pelo sofrimento no trabalho, o resgate do trabalhador
imprescindvel, no apenas o motivando, mas tambm lhe dando condies de
realizar seu trabalho de forma plena. Estudos sobre seu estilo de vida e os
fatores psicossociais aos quais esto submetidos se fazem necessrios para
uma compreenso macro dos modos como este profissional reage s
intempries da psicodinmica do trabalho.
18
A psicodinmica do trabalho estressante e esse fator no muda, pois o
trabalho demanda responsabilidades, presso; toda atividade requer um
investimento psquico por parte do trabalhador e a atividade se torna mais
pesada e fonte de insatisfao.
Dejours considera que a significao e o resultado do sofrimento como
dimenso essencial no entendimento da relao sade-trabalho revela a
importncia da escuta dos trabalhadores, para melhor compreender e dar
visibilidade a eles, para dar sentido ao que acontece nas relaes de trabalho.
(MILANI, 2007, p.03). Sendo assim, a proposta de desenvolvimento deste
trabalho leva em considerao a proposta transdisciplinar importante para o
pensamento contemporneo e contribuinte para a renovao do pensamento
acadmico sobre o trabalho em si.
A pesquisa disciplinar diz respeito, no mximo a um nico e
mesmo nvel de Realidade; alis, na maioria dos casos, ela s
diz respeito a fragmentos de um nico e mesmo nvel de
Realidade. Por outro lado, a Transdisciplinaridade se interessa
pela dinmica gerada pela ao de vrios nveis de Realidade
ao mesmo tempo. A descoberta desta dinmica passa
necessariamente pelo conhecimento disciplinar. Embora a
Transdisciplinaridade no seja uma nova disciplina, nem 23
uma nova hiperdisciplina, alimenta-se da pesquisa disciplinar
que, por sua vez, iluminada de maneira nova e fecunda pelo
conhecimento transdisciplinar. Neste sentido, as pesquisas
disciplinares e transdisciplinares no so antagonistas, mas
complementares. (NICOLESCU, 1999).
As exigncias capitalistas, sociais, culturais, levaram o trabalhador da
fora pensante fora bruta. A massificao e a coisificao do homem
fizeram dele vtima de seu prprio corpo; se este falha, tambm o faz a funo
atroz de produo. Os tempos modernos trouxeram desenvolvimento, mas tal
evoluo no salvou o prazer pelo labor, no se trabalha para viver e sim se
vive para trabalhar. A voracidade da poltica capitalista, o ter para ser leva o
homem a consumir e a ser consumido. (TEIXEIRA e COUTO, 2010, p. 583).
Quando o trabalho deixa de ser um lugar de satisfao e um ambiente
de valorizao do profissional, a probabilidade de ele adoecer grande, j que
19
o sofrimento para o trabalhador pode ser considerado como uma fuga.
Dependendo do clima no ambiente, a carga psquica acumulada, devido ao
estresse vivido pelo trabalhador, poder articular via inconsciente, um sintoma
no corpo do sujeito.
O trabalho que no oferece ao sujeito a liberdade necessria para que
ele use suas habilidades no exerccio de sua atividade resulta no sofrimento.
Os conflitos interpessoais so uma das consequncias do sofrimento psquico.
A defesa diante dos colegas de equipe reforada por medo de ser
prejudicado, ainda que esse temor seja inconsciente. O trabalho como um lugar
de construo de sentido deve levar o sujeito realizao e libertao, uma
vez que nossas escolhas profissionais tm a ver com nossas inclinaes
psquicas satisfao o desejo mediador entre nossa habilidade e o ser de
fato.
A transdisciplinaridade no invasora, no um saber dualista e de
excluso, mas constitui se uma viso que considera o saber alm das
disciplinas. Se pudermos entender a transdisciplinaridade como um mtodo de
descentralizao do conhecimento, e considerarmos que o trabalhador, alm
de estar doente, ou estressado, um corpo bio-psico-social-espiritual, e no se
reduz ao seu sintoma (mas fala atravs dele), e que sua matria est ligada a
emoes, pensamentos, qumica e subjetivamente, o sintoma deve ser
compreendido a partir de um texto escrito com vrias consideraes, visando
sempre ao aparecimento do sujeito.
Quanto transdisciplinaridade, podemos ainda afirmar que ela no
exclui os escritos freudianos, ou as consideraes feitas por Merleau Ponty
sobre o corpo, mas, quando o profissional se permite olhar o horizonte depois
de seu prprio estudo e saber sobre ele, quem ganha o cuidado.
A apreenso das significaes se faz pelo corpo: aprender a
ver as coisas adquirir um certo estilo de viso, um novo uso
do corpo prprio, enriquecer e reorganizar o esquema
corporal" (PONTY, 2006, p. 212).
20
No excluindo a importncia de Descartes para a filosofia e as cincias,
mas considerando o conhecimento descentralizado a fim de responder
demanda do sculo XXI, entende-se acima de tudo que o conhecimento no se
esgota em si mesmo, que o corpo complexo e impassvel de explicao por
uma interpretao objetiva. O trabalho em sade complexo, envolve mais do
que conhecimentos tericos ou tcnicos, transcende teoria. Este trabalho exige
um envolvimento com a questo do Outro a alteridade essencial. O Outro
no objeto de estudo, no um portador de doena; o Outro um
participante, algum que possui o mundo da vida em si.
O motorista de nibus tem papel fundamental na manuteno do
transporte coletivo na sociedade ps-contempornea. Fatores, como o trnsito,
relacionamento interpessoal dentro e fora da empresa onde o motorista est
vinculado e questes familiares, devem ser considerados ao falamos em
mundo da vida do sujeito rodovirio. O mapeamento de trabalhos atravs do
estado da arte ratificou a importncia do presente trabalho, j que as pesquisas
consultadas no aproximavam os temas qualidade de vida e opinio do
profissional de transporte coletivo.
Percebemos que trabalhos sobre o estilo de vida e os fatores
psicossociais aos quais os motoristas de nibus esto submetidos so
necessrios para uma compreenso mais profunda dos modos como este
profissional reage s intempries da psicodinmica do trabalho. O ineditismo
do tema justifica a iniciativa pela busca de reflexes sobre o mundo da vida do
motorista de nibus no ambiente organizacional onde atuo como psicloga,
recrutando e selecionando candidatos, treinando, atendendo as demandas
psicolgicas dos funcionrios e, em grande escala, os motoristas. O setor
rodovirio carente de prticas e estudos que interpretem os sintomas dos
sujeitos envolvidos neste setor fato, portanto, que justifica a relevncia deste
estudo. Delimita se, assim, como:
Objeto de estudo: o mundo da vida dos sujeitos rodovirios.
Questes norteadoras: Quais as implicaes provocadas pelo
cotidiano do trabalho na sade do sujeito? O que o motorista de nibus
considera como qualidade de vida, em relao sua rotina? Quais medidas
21
resgatariam a qualidade de vida do sujeito rodovirio a partir da sua prpria
perspectiva?
Objetivo geral: Compreender as implicaes provocadas pelo trabalho
na sade do sujeito que trabalha no transporte coletivo (nibus).
Objetivos especficos: Discutir a partir da percepo do motorista de
nibus o significado de qualidade de vida, propor estratgias de melhorias que
resgatem a qualidade de vida.
Relevncia: Entende-se que este estudo colaborar com as empresas
de transporte interessadas em melhorar as condies de trabalho para o
profissional de transporte coletivo, tendo elementos para o desenvolvimento de
medidas que possam garantir a qualidade de vida no trabalho e
consequentemente para o mundo da vida do motorista de nibus, bem como
para os estudos e pesquisas realizadas no mbito da Linha de Pesquisa
relacionada ao Cuidado em Sade e Enfermagem, do Curso Mestrado da
Universidade Federal Fluminense.
22
2 ESTADO DA ARTE
Para mapeamento do conhecimento produzido acerca da temtica,
realizou-se reviso da literatura em bases de dados da Biblioteca Virtual de
Sade (BVS), quais sejam: Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Cincias da Sade (LILACS) e Base de Dados ndex em Psicologia e BDENF.
Como termos de busca, foi utilizada a palavra chave motorista. posteriormente
foi utilizada motorista de nibus. Incluram-se na reviso apenas os artigos
nacionais publicados em peridicos da rea da sade. Foram excludos os
artigos que no abordavam sobre a temtica deste estudo que estivessem em
lngua estrangeira e os que no estavam disponveis na ntegra, em meio
eletrnico. A busca foi realizada entre Setembro e Novembro de 2013
A busca das publicaes na LILACS se deu, inicialmente, por meio do
uso da palavra motorista. nessa etapa, retornaram sessenta e duas
publicaes. Foram selecionados doze artigos desta base, pois atendiam
proposta deste trabalho. um artigo completo relacionando a micropoltica da
atividade, um trabalho completo relacionando sade mental e ao afastamento
do trabalho, um artigo completo sobre associao entre presso arterial e
estresse, um artigo completo acerca da viso de trabalho para o motorista e o
cobrador, um tese sobre a mulher no volante, um artigo completo sobre o ofcio
de motorista de nibus. foi encontrado tambm um artigo completo sobre o
motorista agressivo, trs artigos completos sobre sintomas em motorista de
nibus. Na base Scielo, foram encontrados vinte e nove artigos que tinham
descritor motorista, porm foram utilizadas cinco publicaes que eram
especficas de motorista de nibus.
Na base de dados ndex Psi, retornaram seis publicaes, porm foram
selecionados apenas dois trabalhos: um artigo completo relacionando a
condies de trabalho do motorista de nibus, um artigo acerca da ergonomia
do motorista do nibus. Na base BDENF, resultou sete, utilizou-se um artigo
que correspondia com a temtica deste trabalho. As demais publicaes,
apesar de terem o descritor motorista, foram excludas, pois tratavam de outra
categoria de motorista. Ao realizar o corte temporal de 2002 a 2013, devido
relevncia desses trabalhos quanto aos assuntos abordados, retornaram 98
23
publicaes, porm, destas, apenas vinte e trs publicaes falavam de fato do
motorista de nibus. Foram lidas trs teses na ntegra e vinte artigos
relacionados com o tema e analisados luz da proposta deste estudo.
QUADRO 1: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados LILACS
Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo, resultados,
autores, tipo de estudo, peridico, ano e grau de relevncia.
Ttulo Resultados Autores Tipo do
estudo
Peridico Ano Grau
de
relevn
cia
Associao entre
presso arterial e
estresse
percebido em
motoristas de
nibus
Os resultados apresentados
mostram que 18, dos 46 motoristas
de nibus, encontram-se hipertensos
e que 100% se percebem
estressados, comparando-se com a
tabela normativa, tanto norte-
americana, quanto sul-brasileira.
Assim, fazem-se necessrias novas
pesquisas para averiguar qual fator
est relacionado hipertenso
arterial, para que se possa ter um
controle maior sobre eles.
SILVA,
A.M.B,
KELLER, B
COELHO,
R.W
Quantitativo Rev.Inst.Cienc
.Sade
2013 B3
Acessibilidade
em transporte
coletivo urbano
na perspectiva
dos motoristas e
cobradores
Os resultados apontam que a frota
de nibus coletivos em circulao na
cidade, na empresa pesquisada, de
acordo com as consideraes dos
respondentes, apresenta
equipamentos inadequados, o que
repercute em uma acessibilidade
restrita devido a diversos fatores,
como falta de manuteno
preventiva e peridica, dificuldade de
acesso por parte de usurios
especficos e falta de instalao dos
dispositivos de acessibilidade nos
veculos, dentre outros.
CAVALCAN
TI, A,
ALVES, A.L,
VIEIRA,
A.F.R, et al.
Quantitativo Psic.estu.
Universidade
Estadual de
Maring
2013 A2
Micropoltica da
atividade
Sendo a dimenso subjetiva
presente na prescrio tambm,
preciso question-la. Desde outro
ponto de vista, em que a
subjetividade no seja to somente
elemento a considerar na
reformulao racional dos meios.
Passa-se a questionar os prprios
ZAMBONI,
J, DE
BARROS,
M.E. B
Qualitativo Barbari-
Biblioteca
Central
2012 B2
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-67781724
objetivos da organizao do
trabalho, em funo da atividade dos
sujeitos. A produo desejante
coletiva irrompe na organizao do
trabalho, excedendo a mera
considerao das condies
estabelecidas de trabalho, pelos
seus processos de
institucionalizao como
irracionalizao das razoabilidades
assentadas, dando margem
produo de outras razes para
trabalhar, ou melhor, outros sentidos
e modos de produzir.
Sentidos do
trabalho e do
afastamento por
problemas de
sade mental
para motoristas
de transporte
coletivo urbano:
um estudo de
caso
Os sentimentos do afastamento
so vividos de forma intensa,
indicando a importncia de aes
organizacionais que procurem
auxiliar o trabalhador no
desenvolvimento de estratgias de
proteo, visando a uma melhor
adaptao/sade. Assim, a proposta
de criao de um ambulatrio que
tenha um olhar menos clnico e mais
voltado para a promoo de sade
pode ser uma interveno frtil no
ambiente das organizaes. Um
ambiente acolhedor, de escuta para
esses trabalhadores, parte da ideia
de Carreteiro (2003), citado por
Ramos et al. (2008), que define o
acolhimento como as condies de
suporte, presentes no contexto do
trabalho, que funcionam como apoio.
GONCALVE
S, J;
BUAES, C.
S.
Quanti-quali Cad.psicol.soc
.trab
2011 B2
Quem d mais,
cobra mais!":
Uma anlise das
normas
antecedentes do
ofcio de
motorista de
nibus em um
contexto
especfico
O que est, entretanto, por trs
desse ser leo, suas implicaes e
impactos sobre a sade, incluindo a
a possibilidade de estar presente
certa ideologia defensiva criada por
esses trabalhadores para suportar o
cotidiano, so questes que
merecem ser pensadas. Resta
investigar, no real do trabalho, que
ajustes so realizados por esses
trabalhadores, como estes podem
revelar tanto as estratgias de
defesa quanto a legtima
criatividade, alm do savoir-faire e
inteligncia que atuam no trabalho
real.
PRANGE, A.
P
Qualitativo Estud.e
pesquisa em
psicologia
2011 B1
Mulheres ao
volante: uma
anlise de
gnero, sade e
trabalho em
As diferentes repercusses do
trabalho na sade de mulheres e de
homens que desempenham a
mesma funo devem considerar a
atribuio da realizao dos
trabalhos domsticos por elas. No
VELLOZO,
D. P.M.
Qualitativo Biblioteca de
sade pblica
2010 A2
25
mulheres
motoristas de
nibus na cidade
do Rio de Janeiro
entanto, no podemos afirmar que o
mesmo ocorre com os homens no
que concerne ao biscate. Assim,
convm a realizao de novos
estudos que abordem o trabalho
masculino, de forma a correlacion-
lo com equivalentes acoplagem
dos trabalhos domsticos, como o
biscate.
A gesto da
atividade do
motorista de
nibus: um olhar
ergolgico
Fica evidente que os valores
dimensionados e no-
dimensionados, como diz Schwartz,
esto presentes nos constantes usos
de si, tanto com relao ao prprio
motorista quanto na relao entre
ele e os outros. Temos a uma
dramtica incontornvel do trabalho
humano frente s adversidades do
meio.
PINTO, FM,
NEVES, MY
Qualitativo Estud.e
pesquisa em
psicologia
2009 B1
Cenrios da
agresso no
trnsito: a
percepo que
as pessoas tm
de um motorista
agressivo
A populao geral ainda hesita em
confiar no trabalho do psiclogo,
perito, examinador de trnsito
(Gouveia et al., 2002), talvez por no
perceber que sua avaliao tenha
conexo com os fatos em situao
real de trnsito. Neste sentido,
parece evidente que cada dia mais
os psiclogos devam ter a premissa
na escolha dos testes, cabendo-lhes
fundamentar sua necessidade.
igualmente preciso repensar o
processo de avaliao.
GOUVEIA,
Valdiney V.
et al .
Quantitativo Cad.Ter.Ocup.
UFSCAR
2008 B3
Sintomas de
distrbios
ostemomuscular
es em motorista
e cobradores de
nibus
A prevalncia de sintomas de
distrbios osteomusculares mostrou-
se acentuada nos motoristas e
cobradores e estes no
apresentaram associao com
jornada de trabalho, nvel de
atividade fsica e estado nutricional.
Estes resultados indicam a
necessidade de novos estudos
longitudinais e prospectivos e com
amostra representativa. A fim de
obter melhorias no ambiente de
trabalho, preservar a sade do
trabalhador e aprimorar a qualidade
dos servios prestados, programas
educacionais e de carter preventivo
podem ser institudos.
CARNEIRO
L.V, A. V.;
BARBOSA
Quantitativo Rer.bras.ciean
tropom.
desempenho
hum
2007 B2
Promoo e
divulgao de
medidas
educativas em
circulao
Como procuramos desenvolver
nesse trabalho, constatamos que a
problemtica do trnsito tambm
est globalizada. Do 37 Congresso
de Psicologia do Trnsito, realizada
recentemente pelas Associaes e
ALMEIDA,
N.D.V
Qualitativo Psicol.argum. 2006 B2
26
QUADRO 2: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
SCIELO. Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo,
resultados, autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.
humana: em
questo o
fenmeno
trnsito
Federaes de Psiclogas e
Psiclogos de Trnsito da
Alemanha, ustria e Sua, podemos
destacar alguns pontos, comuns
com a realidade brasileira, que foram
amplamente discutidas e debatidas
sobre a interveno do psiclogo do
trnsito na promoo e divulgao
de medidas educativas de
segurana no trnsito para a
sociedade (Rozestraten, 2000b).
Assim sendo, para Arajo (2003),
faz-se necessrio um amplo trabalho
sobre o comportamento no contexto
virio, somado a um trabalho
educativo, preventivo, interventivo e
normativo eficaz, que atinja
principalmente os futuros condutores
e os jovens condutores com o
objetivo de desenvolver atitudes
compatveis com a almejada
segurana no trnsito.
Acidentes e
doenas do
trabalho de
profissionais do
setor transporte:
anlise dos
motoristas no
Estado de So
Paulo, 1997 a
1999
Por todos esses motivos, pode-se
responder ao porqu de estudar os
acidentes do trabalho e buscar, na
transdisciplinaridade, caminhos para
a elaborao de propostas que
possibilitem Sade Pblica, aos
Governos, s Ongs buscarem
medidas efetivas e de qualidade
para diminuir a ocorrncia dos
acidentes do trabalho e contribuir
para a melhoria da sade do
trabalhador.
TEIXEIRA,
M.L.P
Quantitativo Faculdade de
sade pblica-
USP
2005 No se
aplica
27
Ttulo Resultados Autores Tipo do
estudo
Peridico Ano Grau de
relevncia
Indicadores
psicossociais
relacionados a
acidentes de
trnsito
envolvendo
motoristas de
nibus
No que diz respeito aos
indicadores relativos a situaes
potencialmente preocupantes,
verificou-se que dirigir atrasado,
preocupaes com o sono e
problemas familiares foram as
situaes que mais se destacaram
em relao ao envolvimento dos
motoristas participantes deste
estudo em acidentes de trnsito.
Sugere-se s empresas do setor
de transporte pblico de
passageiros uma reavaliao das
polticas, de forma a reduzir o
nmero de horas extra,
respeitando a jornada
estabelecida no acordo coletivo da
categoria, e estimular o gozo
integral das frias dos condutores
como uma maneira de aliviar o
estresse e aumentar a qualidade
do trabalho e de vida.
OLIVEIRA, A.
C.F, PINHEIRO,
J.Q.
Qualitativo Psic.estu.
Universidade
Estadual de
Maring
2007 A2
Condies de
trabalho e sade de
motoristas de
transporte coletivo
urbano
Quanto ao desgaste fsico, que
acaba por influenciar nos nveis de
fadiga e estresse, a educao
pode ser voltada a aspectos
especficos da profisso de
motorista, como o fato de trabalhar
sentado e forar constantemente
os membros inferiores (na
acelerao e frenagem).
Programas educacionais e de
conscientizao que levem at
esse profissional o ensino de
tcnicas de alongamento e auto-
correo postural, por exemplo,
podem tornar-se alternativas que
possibilitem a reduo de danos
ao sistema msculo-esqueltico,
possibilitando ao motorista realizar
essas tcnicas durante sua
jornada diria de trabalho..
BATTISTON, M.
CRUZ, R. M,
HOFFMANN, M.
H
Quanti-
quali
Estud.psicol.
( Natal)
2006 A2
As relaes de
gnero e as
percepes
dos/das motoristas
Pretende-se dar continuidade
investigao realizada, explorando
novas perspectivas dos dados
aqui obtidos, tendo presente,
tambm, que o tema no se
esgota, nem essa a nossa
ALMEIDA, N.
D.V. et al
Qualitativo Psicol.Cienc.
Profisso.
Conselho
Federal de
2005 A2
28
no mbito do
sistema de trnsito.
pretenso; pelo contrrio, o tema
abre possibilidades de novas
leituras, o que nos incita a
curiosidade e o desejo de,
posteriormente, desenvolver
novas reflexes em que o tempo
presente exige considerar o objeto
da Psicologia inserido
historicamente na interface entre o
espao pblico (em especial no
trnsito) e o privado para a
construo do bem-estar e da
qualidade de vida de homens e
mulheres.
Psicologia
Estudo sobre a
exposio
combinada entre
rudo e vibrao de
corpo inteiro e os
efeitos na audio
de trabalhadores
Efeitos sade produzidos por
exposies combinadas entre VCI
e rudo tm sido investigadas
sobretudo em estudos
experimentais, cujo efeito
analisado tem sido a mudana
temporria de limiar. A presente
pesquisa, ao contrrio, teve a
peculiaridade de ser observacional
e analisar, como efeito, a
mudana permanente de limiar,
representada pela PAIR.
SILVA, L.F. e
MENDES, R.
Quantitativ
o
Rev. De
sade
pblica
2005 B2
Contemporaneidad
e X trnsito
reflexo
psicossocial do
trabalho dos
motoristas de
coletivo urbano.
Queixas relatadas pelos
motoristas com relao a conforto
e higiene so condies mnimas
s quais todo (a) trabalhador(a)
tem direito. Torna-se urgente a
instalao de sanitrios e o
fornecimento de gua potvel nos
pontos finais, ao mesmo tempo,
nesses locais deveria haver um
espao onde o motorista se
isolasse do pblico. considerado
essencial populao. O Estado,
por meio de polticas de
transportes pblicos, tem um
papel importante nesse processo,
sendo corresponsvel pelas
melhorias.
ALMEIDA, N.D.
V
Qualitativo Psicol.Cienc.
Profisso.
Conselho
Federal de
Psicologia
2002 A2
29
QUADRO 3: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados
PEPSIC. Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo,
resultados, autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.
Ttulo Resultados Autores Tipo do
estudo
Peridic
o
Ano Grau de
relevncia
Tecnologia e
trabalho: sentidos
produzidos no
cotidiano do
transporte coletivo
Ao analisarmos as vivncias e as
relaes estabelecidas no
cotidiano de trabalho dos
cobradores a partir da introduo
das diversas ferramentas que
compem o SIT, em especial, a
catraca eletrnica, foi possvel
observar a emergncia de prticas
discursivas contraditrias
associadas a esse contexto.
ALMASO,
S. A. R,
COUTINH
O, M. C
Qualitativo Arq.bras.
psicol.
2010 A2
Violncia no
trabalho: possveis
relaes entre
assaltos e TEPT em
rodovirios de uma
empresa de
transporte coletivo
Considerando o carter essencial
dos servios de transporte coletivo
no atendimento a uma das
necessidades bsicas da maioria
da populao que ocupa os
centros urbanos, acreditamos que
o impacto dos assaltos na sade
mental dos rodovirios merece a
ateno de atores sociais
envolvidos na prestao desse
servio de utilidade pblica.
ALVES,
C.R.S, DE
PAULA,
P.P.
Qualitativo Cad.psic
ol.soc.tra
b.
2009 B2
Sade mental e
trabalho:
estratgias dos
motoristas de
nibus frente
insegurana
Esta pesquisa pretendeu contribuir
para as questes de sade no
trabalho e tentou dar visibilidade a
situaes geradoras de
sentimentos de insegurana e
sofrimento psquico e que possam
vir a ser modificadas no s da
sade de quem trabalha, mas
tambm da qualidade do trabalho
prestado populao.
ARAUJO,
M. S.C.
Qualitativo Tese
apresnta
da a
Universid
ade
Federal
da
Paraba
2008 No se
aplica
30
QUADRO 4: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados BVS.
Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo, resultados,
autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.
Ttulo Resultados Autores Tipo do
estudo
Peridico Ano Grau de
relevncia
Avaliao dos
fatores de risco
laborais e fsicos
para doenas
cardiovasculares
em motoristas de
transporte urbano
de nibus em
Montes Claros
(MG)
No presente estudo, a prevalncia
para doena cardiovascular
mostrou-se baixa, sendo que os
principais fatores de risco para
doenas cardiovasculares foram:
sedentarismo, histria familiar
positiva e aumento da
circunferncia abdominal. Os
principais indicadores para
doenas cardiovasculares obtidos
atravs dos exames laboratoriais
demostraram hipertrigliceridemia e
hipercolesterolemia. Contudo, os
nveis de HDL estavam
satisfatrios, bem como o LDL
apresentou nvel normal e
desejvel em mais da metade da
amostra.
ALQUIMIM
, A.F et al
Quantitativo Cinc.sade
coletiva
2012 B1
Doenas do sono
associadas a
acidentes com
veculos
automotores:
reviso das leis e
regulamentaes
para motoristas.
Nesse momento, importante
frisar que a adoo dessas
normas e de outras baseadas na
legislao de outros pases deve
ser mais breve possvel, pois
sabemos que a preveno, mais
que a represso, a sada para
diminuir os ndices assustadores
de violncia no trfego. Esse um
desafio que, sem dvida, estimula
e agua o mdico. Ao saber quo
dolorosos eles se apresentam aos
indivduos e sociedade,
tornamo-nos peas fundamentais
na discusso e adequao desse
verdadeiro flagelo social que so
os acidentes de trnsito.
WEBER,
S.A.T,
MONTOVA
NI J. C.
Qualitativo Rev. Bras.
Otorrinolaringo
logia SBROL
2002 B4
31
QUADRO 5: Categorizao do artigo encontrado na base de dados BDENF. O
artigo fora organizado pelo protocolo contendo o ttulo, resultados, autores, tipo
do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.
Ttulo Resultados Autores Tipo do
estudo
Peridico Ano Grau
de
relevn
cia
Fatores de risco
para hipertenso
arterial:
investigao em
motoristas e
cobradores de
nibus
A extenso da influncia dos
fatores de risco para alteraes
cardiovasculares ainda objeto de
investigaes, principalmente com
relao a determinadas atividades
ocupacionais, sobretudo em
pases em desenvolvimento,
resultando em grande
desvantagem em relao aos
pases desenvolvidos. Acredita-se
que o enfermeiro possa
desempenhar um papel
imprescindvel para a modificao
efetiva do cenrio encontrado,
dando ateno especial aos
ndices de sobrepeso e obesidade,
em contraposio ao grande
nmero de sedentrios, incluindo
os cuidados na manuteno de
uma alimentao adequada com
frutas e verduras.
CHAVES,
DBR.
COSTA,
AGS.
OLIVEIRA,
ARS
Quantitativo Rev.
Enferm.UERJ
2008 B1
http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-1513732
QUADRO 6: Categorizao da tese encontrada na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. O trabalho foi organizado pelo protocolo contendo o ttulo,
resultados, autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.
notria a preocupao com os rodovirios das mais variadas reas de
conhecimento. cada uma em sua especificidade debrua-se sobre os sujeitos
que trabalham no trnsito das grandes cidades dia a dia estressante. A
pluralidade de cincias envolvidas na discusso, apresentao, descrio da
realidade desses trabalhadores contribui para aproximar o setor rodovirio de
uma realidade de trabalho mais preocupada com o bem estar daqueles que
fazem a mobilidade urbana acontecer. Ao percorrer as obras citadas,
destacamos que o olhar para o motorista de nibus indispensvel a fim de
garantir a eficincia dos servios prestados populao.
Observamos que a responsabilidade das empresas de nibus grande
diante de tantos desafios impostos pelo governo do pas, pelos clientes que
usufruem do nibus e tambm pelos motoristas, porm compreendemos que
as melhorias de condies de trabalho para os trabalhadores interferem
diretamente na qualidade do servio e no rendimento positivo das empresas. O
Ttulo Resultados Autores Tipo do
estudo
Peridico Ano Grau de
relevncia
As fontes de
desgaste fsico e
emocional e a
Sndrome de
Burnout no setor
de transporte
coletivo urbano de
Natal
Considerando que a sndrome de
burnout j reconhecida no Brasil,
pelo Ministrio do Trabalho, como
doena ocupacional, como
referido anteriormente, a mesma
deve passar a ser uma
preocupao das organizaes,
inclusive, para evitar sofrerem
penalidades trabalhistas. Os
resultados deste trabalho
apontaram a importncia de
variveis do ambiente de trabalho
para a predio dos fatores de
burnout. Recomenda-se que as
estratgias de combate
sndrome sejam desenvolvidas em
mbito organizacional e de
polticas pblicas.
GIANASI,
L.B.D.S
Quantitativ
o
Tese
apresentad
a a UFRN
2004 No se aplica
33
primeiro trabalho apresentou um panorama quantitativo acerca do estresse dos
motoristas que participaram da pesquisa, os nmeros resultantes
encaminharam os pesquisadores para uma nova pesquisa quantitativa. os
pesquisadores evitaram as subjetividades dos trabalhadores, como afirmaram
na concluso deste trabalho. Contextualizando este resultado, notamos que a
avaliao da subjetividade do motorista de nibus permitiria uma concluso
para alm do sintoma que ele apresenta.
O objetivo do trabalho de CAVALCANTI, A, ALVES, A.L, VIEIRA, A.F.R,
et al, 2013, foi mostrar a viso dos motoristas e cobradores sobre a
acessibilidade em transporte coletivo. o exposto neste trabalho leva-nos
concluso de que os trabalhadores respondem pela empresa ao longo da
jornada de trabalho. As satisfaes e insatisfaes dos usurios so
testemunhadas pelos motoristas e cobradores, que expuseram na pesquisa a
necessidade de manuteno dos equipamentos e a adequao dos
equipamentos da acessibilidade para as necessidades dos usurios. Quando a
manuteno preventiva falha, a influncia negativa sobre o servio prestado
transforma-se em hostilidade por parte dos clientes.
Doze trabalhos consultados: SILVA, A.M. B, KELLER, B COELHO, R.W,
2013, ALQUIMIM, A.F et al, 2012, GONCALVES, J; BUAES, C. S. 2011,
ARAUJO, M. S.C 2008, VALDINEY V. et al 2008, CHAVES, DBR. COSTA,
AGS. OLIVEIRA, ARS, 2008, CARNEIRO L.V. BARBOSA 2007, BATTISTON,
M. CRUZ, R. M, HOFFMANN, M. H 2006, SILVA, L.F MENDES, R 2005,
GIANASI, L.B.D. S, 2004, WEBER, S.A. T, MONTOVANI J. C, 2002, ALMEIDA,
N.D. V, 2002 abordaram problemticas no mbito da sade do trabalhador,
sintomas, muitas vezes, gerados pelo prprio trabalho. eles so relevantes
para este estudo, j que a qualidade de vida est diretamente ligada s
condies de sade do profissional. o desgaste corporal, a exposio a fatores
de risco devem ser preocupaes das organizaes para contribuir com
polticas de segurana a integridade fsica dos trabalhadores.
Interessante destacar que em um trabalho quantitativo realizado para
relacionar problemas cardiovasculares e funo de motorista, o resultado da
pesquisa refutou o objetivo do estudo. As doenas cardiovasculares naquele
34
grupo foram geradas pela juno de histrico familiar e alimentao
inadequada. Aspectos psicolgicos foi tema de trs artigos estudados
GONCALVES, J; BUAES, C. S., 2011, ALVES, C.R. S, DE PAULA, P.P 2009,
GOUVEIA, V. et al 2008) sugeriram maiores estmulos a programas de
promoo de sade ao trabalhador a fim de prevenir que o profissional adoea.
Importante destacar questes psicolgicas que aparecem como recurso para o
sujeito olhar para si, no af de cumprir a jornada de trabalho sob as
dificuldades variadas do ramo, o motorista de nibus sofre e compromete sua
sade, em destaque o artigo 09 que estudou a questo do assalto a coletivo e
sua consequncia na sade mental do profissional.
O trnsito foi tema base dos trabalhos de ALMEIDA, N.D. V et al, 2005 e
2006, ambos trabalhados abordam a temtica como aspecto para ateno do
governo, politicas educativas salvaguarda a paz no trnsito, a segurana para
os prprios trabalhadores e usurios.
Os artigos de ZAMBONI, J. DE BARROS, M.E. B, 2012 e PINTO, F.M. e
NEVES, M.Y, 2009 abordam a questo ergonmica no transporte. O estudo se
refere s necessidades da organizao quanto ao trabalho do motorista de
nibus. Ainda que este profissional trabalhe em uma posio ergonomicamente
confortvel, este trabalhador um ser desejante. Importante destacar que os
interesses das organizaes no deveriam ir contramo das condies
satisfatrias de trabalho para o motorista de nibus.
Infelizmente, acidentes envolvendo coletivos, apesar de evitveis,
acontecem. Os trabalhos de OLIVEIRA, A.C. F, PINHEIRO, J.Q, 2007 e
TEIXEIRA, M.L. P, 2005 abordam o assunto, considerando como consequncia
pelo no cumprimento de aspectos bsicos, como: tempo de descanso, frias
integrais, as principais causas de avarias.
Em mobilidade urbana, aspectos tecnolgicos promovem segurana ao
trabalhador, mas a representao delas para os trabalhadores
responsabilidade da organizao, a fim de ter efetivamente as tecnologias
funcionando e sendo utilizadas no cotidiano do transporte. (ALMASO, S.A. R,
COUTINHO, M.C, 2009).
35
As representaes da identidade profissional foram abordadas nos
artigos 06 e 07, o trabalho real no transporte coletivo foi conhecido a partir de
opinio e relato dos prprios motoristas, apontando para novos estudos que
valorizem o trabalho em transporte coletivo para a manuteno da mobilidade
urbana.
36
3 FUNDAMENTAO TERICA
A fenomenologia o estudo das essncias, e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essncias: a essncia da percepo, a essncia da conscincia, por exemplo. (PONTY, 1999, p.05).
O ponto de partida para a interpretao fenomenolgica acerca do
conhecimento romper com o pragmatismo das cincias positivistas que tm,
na experincia, recursos para medir, quantificar, determinar um objeto. Tal
movimento nem sempre fcil, pois o ensino acadmico influenciado pela
objetividade da experincia, da universalidade dos fatos. Precisamos
esclarecer que esta colocao no uma crtica ao pensamento biomdico;
tais colocaes so necessrias para compreender a interpretao da
Fenomenologia de Maurice Merleau Ponty, como uma vertente de pensamento
diferenciada no superior nem inferior s demais cincias.
Faz-se necessrio para o entendimento das interpretaes que este
trabalho tem por base, citar o que Ponty assesta sobre o sujeito, em sua obra
Fenomenologia da Percepo, (1999, p. 07):
Eu no sou o resultado ou o entrecruzamento de mltiplas causalidades que determinam meu corpo ou meu "psiquismo", eu no posso pensar-me como uma parte do mundo, como o simples objeto da biologia, da psicologia e da sociologia, nem fechar sobre mim o universo da cincia.
Destacamos tambm o pensamento freudiano para lanarmos mo do
processo de interpretao de conceitos, como corpo, sintoma, adoecimento,
linguagem, entre outros.
3.1 O corpo perceptvel em Ponty
A Fenomenologia pode ser definida como a filosofia vivenciada. Em
Ponty, a percepo no est afastada do corpo, mas sim a concebe como
acolhimento do ser no mundo.
37
Na viso clssica do empirismo e do intelectualismo o juzo
que, aliado sensao, forma a percepo. Porm, Merleau-
Ponty segue na crtica a esse legado clssico ao dizer que se a
percepo interpreta, ela s o faz a partir do mundo, com
sentido sensvel, anterior a qualquer juzo. (REIS, 2008, p.03)
Por ser uma linha terica filosfica prope-se a compreender os
significados dos fenmenos, os quais podem considerar como significaes a
partir de nossa compreenso acerca de acontecimentos, expresses. Esta
teoria filosfica no comporta qualquer pr-julgamento ou preconceito por parte
do agente da pesquisa. Por exemplo, a escrita de Merleau-Ponty repleta de
sentido subjetivo. A leitura que o mesmo faz sobre os juzos clssicos parte
sempre do princpio da experincia, no razo pura da experincia, a
singular, a compreenso una de si consigo e de sua relao com o mundo
atravs da percepo do sujeito acerca do fenmeno que compreenderemos o
mundo da vida do sujeito, neste trabalho: o sujeito rodovirio.
O que habita o mundo o corpo, a parte material de ns mesmos. Esse
corpo capaz de sentir e, sentindo, capaz de relacionar se. Merleau-Ponty
Ponty quer dizer que o corpo est junto ao mundo. Esse corpo consciente,
suas mos tateiam as coisas e reconhecem o espao. Para a teoria pontyana,
o corpo s corpo em relao com o mundo, e esse corpo no o que
conhecemos dissecado, exaustivamente estudado, no o corpo
cientificamente construdo. O corpo que habita o espao corpo fenomenal e
se insere existencialmente no espao. (REIS, 2011, p.07). A inovao do
pensamento pontyano para a poca e a posteridade foi justamente o
rompimento com o corpo da conscincia separado do corpo biolgico, o retorno
ao significado. O estudo da essncia dita quase erudita posiciona o objeto de forma
subjetiva e reflexiva, colocando o conhecimento fisiolgico luz do existencialismo.
Tal filosofia transcendental proposta por Merleau-Ponty supera
o sujeito transcendental kantiano, pois neste no h o
problema do outro, uma vez que conhece a si mesmo atravs
de uma constituio inteiramente subjetiva. (REIS, 2008, p. 06).
38
Podemos afirmar que a concepo de corpo rompe com as ideias
anteriores, uma vez que a questo norteadora do pensamento fenomenolgico
quanto ao corpo no reside na definio de duas instncias divididas,
exercendo funes antagnicas. O corpo em fenomenologia aparece em uma
espcie de zona hbrida entre o subjetivo e o objetivo, no se reduzindo nem a
uma soma de processos em terceira pessoa nem ao invlucro de uma
conscincia. (MOURA, p. 56, 2006). O marco epistemolgico de Ponty a
retirada da conscincia, a responsabilidade de responder significao de que
o corpo no ato puro do sujeito, mas existente no mundo. O corpo, portanto,
o lugar de resposta para essa significao.
Meu corpo no alguma coisa que eu tenho; eu sou meu corpo. Ao estabelecer o contato com outra pessoa, eu me revelo pelos gestos, atitudes, mmica, olhar. (A. M. Luijpen apud Moura, p. 275).
o corpo para Ponty que d sentido ao mundo em si para ns. A
situao do corpo no mundo dialtica, sendo esta a tenso de uma existncia
a outra e no a unio de uma terceira nesta relao, como a dialtica
hegeliana. (REIS, 2011, p.09). Isto significa que, ao mesmo tempo em que o
corpo percebido pelo mundo, este me dado pelo corpo. A percepo est
nos processos corporais, est posta no mundo e este mundo para o filosofo
instncia tambm psquica, no apenas um espao fsico onde habitamos. O
homem est no mundo e no mundo que se conhece (Ponty, p.09, 1999).
Podemos afirmar que Ponty teoriza a percepo livre do criticismo da cincia,
mas parte dela para instaurar uma nova forma de pensar conceitos
previamente tomados com rigor indivisvel. Corpo mundo, carne,
fenmeno, conscincia. Ponty une esses conceitos brilhantemente,
considerando a percepo de um objeto pelo sujeito como sendo algo em
harmonia com sua forma, partindo da conscincia, sendo, mais ainda, a
conscincia caminho para o objeto tomar forma de um fenmeno a partir do
significado que o sujeito lhe deu.
O corpo (...) este lugar da natureza em que, pela primeira vez
os acontecimentos em lugar de impelirem se uns aos outros no
ser, projetam em torno de presente um duplo horizonte de
passado e de futuro e recebem uma orientao histrica. Aqui
39
existe uma invocao, mas no a experincia de um naturante
eterno. Meu corpo toma posse do tempo ele faz um passado e
um futuro existirem para um presente, ele no uma coisa, ele
faz o tempo em lugar de padece lo. (Ponty, 1999, p. 321).
3.2 O mundo perceptvel conhecido pelo corpo
Um importante passo para a construo deste trabalho compreender e
dissertar sobre o mundo, conhec-lo atravs do seu significado na
Fenomenologia pontyana. O mundo no o lugar apenas de ser ou estar, no
esttico, como o mapa. O mundo no apenas o discurso do outro,
espacialidade de acontecimentos. Ele parte do que somos e est em ns,
no pelo vis da conscincia, mas da prpria interao. O espao no o
ambiente (real ou lgico) em que as coisas se dispem, mas o meio pelo qual a
posio das coisas se torna possvel. (p.327)
Os sentidos e instncias de percepo do corpo em Merleau Ponty so
fortes, j que o autor dedica seu discurso s sensaes na obra
Fenomenologia da percepo. Essa interao dos sentidos (corpo-mundo-
linguagem) exaustivamente descrita nesta obra basal para esse trabalho e
nos possibilitar compreender um novo eu. A partir desse significado,
possvel decifrar o discurso do motorista de nibus, participantes deste trabalho
que fonte de sentido. O sentir desses profissionais acerca de fenmenos
cotidianos, em sua prtica, desvelar o conhecimento da essncia do
pensamento de melhorias a partir do prisma de significados desses
profissionais, sem a rigidez de preconceitos e saberes pr-concebidos, como o
prprio Ponty ensinou:
Se acreditarmos em um passado do mundo, no mundo fsico,
nos "estmulos", no organismo tal como nossos livros o
representam, primeiramente porque temos um campo
perceptivo presente e atual, uma superfcie de contato com o
mundo ou perpetuamente enraizada nele, porque sem cessar
ele vem assaltar e investir a subjetividade, assim como as
ondas envolve um destroo na praia. (PONTY, 2006, p. 278)
40
Para o filsofo, conceber o mundo fora da percepo um retrocesso,
afinal o mundo objetivamente considerado como espao impossibilita o curso
da entrada da subjetividade do pensamento filosfico e da sua prpria
validao como parte do processo de conhecer e tambm de entender.
exatamente essa viso fenomenolgica que est na base
das ideias ps-modernas que questionam as certezas e
hegemonias tericas e metodolgicas. Justamente o que
contrasta com a objetividade e a autoridade do pensamento
positivista da modernidade. (CREMASCO, 2009. p. 05).
Sabemos que, em Ponty, o mundo percebido fonte inesgotvel de
sentidos. Ao olhar para uma rvore, nossa percepo sobre ela est ligada s
emoes que nos causam a conscincia dela em ns. Isso produz sentido de
significado. O que a cincia fabrica e a tecnologia se utiliza so
superficialidades de interao. As coisas so objetos e, no conscientes,
somos levados a resumir nossa prpria existncia no ter. Diversamente, o
mundo percebido pontyano faz-nos compreender que o retorno essncia do
fenmeno foi um caminho de libertao para a questo do homem, do corpo,
do modo de se perceber, pois:
O sujeito perceptivo o lugar dessas coisas, e o filsofo
descreve as sensaes e seu substrato como se descreve a
fauna de um pas distante sem perceber que ele mesmo
percebe que ele sujeito perceptivo e que a percepo, tal
como ele a vive, desmente tudo o que ele diz da percepo em
geral. (Ponty, 1999, p.277).
O mundo percebido funda o corpo, mas no unidade de objeto, de ser
manipulvel; corpo em esquema de corpo e no corpo objetivamente. No
podemos, porm, retirar a importncia dos pensamentos acerca do corpo ao
longo da linha do tempo. Para conhecer, foi necessrio abrir, observar,
dissecar o corpo do homem. Para aprender seus mecanismos, processos e
defesas, usufrumos do conhecimento micro e do macro organismos. Dividir
41
para saber teve seu preo para a cincia. O pensamento cartesiano, por
exemplo, retirou do corpo seu status sensvel: alma e corpo separados por
suas diferenas funcionais, mundo como um conceito externo ao homem. A
partir do pensamento existencialista, essa diviso foi questionada. A retomada
desta questo proporcionou inovao que utilizada no campo da sade, na
forma de cuidar e entender processos. Como exemplo, sade e doena, o
corpo, retirando-se do mundo objetivo, arrastar os fios intencionais que o
ligam ao seu entorno e finalmente revelar o sujeito que percebe como o
mundo percebido. (Ponty, 1999, p.86).
Importante destacar a formao de psiclogo do autor. Em seu tempo,
os laboratrios experimentais retiravam o ser sujeito do homem, e ao estudar
para tentar compreend-lo, separava reaes do corpo. Talvez habitasse
nessa influncia o retorno s essncias, o que abre a possibilidade da
Psicologia existir o seu territrio basal na Filosofia. A psicologia da
conscincia o estudo da alma sem alma; os estudos das reaes excluram
durante muito tempo cronologicamente histrico a dinmica viva do ser.
O corpo e o mundo se entrelaam como Ponty concebe, a grandeza e a
forma do objeto como leis e as determinaes numricas da cincia repassam
sobre o pontilhado de uma constituio do mundo j feita antes delas (Ponty,
1999, p. 348). A influncia da psicologia moderna fez o prprio Ponty percorrer
um caminho novo, um caminho em que o comportamento no se reduz ao-
reao, a uma cincia que justifica a objetividade como verdade.
O sujeito no feixe de vrias reaes qumicas, o mundo percebido
aquele que faz parte do tato, do olhar, da linguagem, o mundo percebido
ilimitvel a experincia do viver, corpo, forma, fenmeno, experincia.
Meu corpo a textura comum de todos os objetos e ele , ao menos em vista
do mundo percebido, o instrumento geral da minha "compreenso" (Ponty,
1999, p. 271-272).
Outra maneira pontyana de pensar essa relao intrincada, entre mundo
e corpo, o conceito de ser para si e ser no mundo. Ambos os conceitos falam
do lugar de interao: nenhum destes fenmenos esttico, o ser para si
envolve outros seres. Quanto ao sujeito que fala, preciso que o ato de
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expresso tambm lhe permita ultrapassar aquilo que anteriormente ele
pensava. (Ponty, 1994, p.515). Ser para si parte constitutiva do ser para o
mundo.
3.3 O corpo em Freud expresso do inconsciente
O corpo para Freud contedo para a apario instncias psquicas. A
mais imperativa o inconsciente, estrutura que ele tira da escurido cerebral e
vivifica. Ele descreve-o como parte viva do ser humano. Seu modo de
funcionamento determina as caractersticas de comportamento dos sujeitos.
Interessa-nos enfatizar que o corpo marcado pela ao do Inconsciente.
palco para as representaes mais ntimas e desconhecidas do ser humano,
inclusive do analista que conhece o potencial deste conceito inaugurado por
Freud, mas que no prev suas aes, nem capaz de domin-las; apenas
interpret-las, a fim de dar um novo significado ao sujeito que,
conscientemente, no reconhece as consequncias do inconsciente. O corpo
no existe sem investimento psquico, sem foras pulsionais que o mantm
vivo, e tambm sem os primeiros cuidados logo aps o nascimento. O meio
externo influencia o funcionamento do corpo biolgico e psquico. Como ser de
razo que trabalha e como ser tico que compartilha e se comunica, como ser
afetivo que experimenta e gera prazer, como ser biolgico que se abriga e se
alimenta e se reproduz, com um corpo que, alm de ser determinado pelo
universalismo do biolgico, antes uma realidade simblica.
O inconsciente na Psicanlise o corte inaugurado por Freud na
teorizao centrada na conscincia da psicologia moderna. O inconsciente
rege imperativamente a vida do sujeito, articulando sensaes, sentimentos,
lembranas, sonhos e tambm sintomas. Sabemos que as doenas so signos
para lembrar-nos de nossa finitude como humanos, porm o inconsciente
articula sensaes que se assemelham a dores fsicas dinamicamente, para
exprimir alguma represso social, algum conflito interno, por exemplo.
O adjetivo inconsciente por vezes usado para exprimir o
conjunto dos contedos no presentes no campo efetivo da
conscincia, isto num sentido descritivo e no tpico quer
dizer, sem fazer discriminao entre os contedos dos
sistemas pr-consciente e inconsciente. (LAPLANCHE E
PONTALIS, 2004).
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O Inconsciente como lugar- o lugar onde se desenvolve a
Outra cena est constitudo por contedos recalcados que no
tem acesso ao sistema Pr-consciente-consciente a no ser
retornando de uma forma deformada. Estes contedos so as
inscries psquicas de representaes. Estas representaes
no so imagens seno traos com sentido para o sujeito. So
representaes-coisa, os seus traos.
O princpio que governa este sistema o Princpio do Prazer,
a partir do qual se define que o acmulo de energia psquica
que circula livremente produzir desprazer, e o prazer ser a
descarga produzida pelo sistema, (VIVIANI, A.L s/d).
3.4 A linguagem em Freud: modo de interpretao do corpo
A cincia moderna ainda no produziu um medicamento tranquilizador
to eficaz como o so umas poucas palavras bondosas. Esta declarao
freudiana confirma o que sempre visto nos tratamentos clnicos de doenas.
A fora das palavras levanta ou sucumbe o sujeito. Freud sabia o que estava
afirmando, afinal, no incio de sua carreira como neurologista, ele se ocupara
das afeces nervosas e o caminho da hipnose colocara esse aficionado para
falar. Posteriormente, Freud descobriu que a fantasia era a articuladora de
alteraes nervosas, causando sintomas e desconfortos. Atravs da
linguagem, o sujeito pe em palavras tudo o que lhe incomoda, exceto alguns
materiais que o prprio sujeito ainda no tem acesso. A a funo do analista
ser crucial, para que tais materiais tomem a conscincia e, por sua vez, a
linguagem.
A fim de tratar qualquer afeco, necessria uma investigao
diagnstica. Se no sculo XVIII a noo de diagnstico era concebida a partir
dos sinais emitidos pelo corpo atravs de marcas visveis, com os avanos
tecnolgicos foi possvel descobrir alteraes do corpo no vistas a olho nu.
Como em toda clnica nem sempre possvel afirmar com veemncia do que o
sujeito sofre, porm o cuidado com o corpo pelo prprio sujeito est ligado
tambm ao reinado consumista contemporneo.
Os processos fisiolgicos do corpo humano desde a Antiguidade vm
sendo estudados numa busca constante de compreenso, visando sempre ao
tratamento de possveis disfunes. Por Freud, a doena tomou outro
44
significado e, desde ento, um novo prisma institudo pela fenomenologia
pontyana: o cuidador faz parte do cuidado, e o fenmeno sintoma no
considerado apenas como doena. Hoje, no sculo XXI, o mtodo
transdisciplinar renova o cuidado com o corpo e o caminho tambm aberto por
Nightingale embasa nossas consideraes sobre o cuidado que transcende a
tcnica e rompe os limites entre o sujeito cuidado e o cuidador. O trabalho do
motorista de nibus exige equilbrio entre o corpo e o psiquismo. So
necessrias intervenes, garantindo o cuidado deste sujeito.
O corpo humano referncia de estudos e fonte de conhecimentos para
as diversas cincias. Animado ou sem vida, o homem estuda-o, disseca-o,
descreve-o, debrua-se sobre o tema desde os primrdios da histria. As
culturas o definem de acordo com seus prprios valores e tradies. A
complexidade de compreender o corpo transcende a clnica mdica, pela
antropologia, psicologia, educao fsica, fisioterapia, enfermagem, filosofia. O
rompimento epistemolgico da psicanlise ocorre quando o pai da teoria rejeita
o status de cincia para seus artigos e relatos a rigidez do positivismo
criticada por Freud. A cincia no comporta o status do mundo percebido nem
do inconsciente, pois a lgica biomdica dotada de objetividade.
A ideia de inconsciente permite-nos conceber que o material disponvel
na conscincia muito pequeno diante dos contedos que a maior parte do
tempo fica em latncia, estando psiquicamente no inconsciente. A teoria
freudiana legitima que os processos mentais so inconscientes em si e que so
percebidos por meio da conscincia percepo do meio externo atravs dos
rgos sensoriais. Uma ideia inconsciente sempre encontrar censura no
caminho de passagem conscincia, pois h um movimento de resistncia
que tenta impedir que os materiais mais obscuros do nosso eu aparecem
conscincia.
A concepo de Inconsciente faz a Psicanlise se distanciar da
Psicologia da Conscincia, j que no defende um lugar fsico (anatmico) no
corpo, mas Freud em suas obras fala de mecanismos mentais independentes
de sua situao no corpo.
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O Inconsciente possui algumas caractersticas. Seu ncleo, por
exemplo, tem impulsos carregados de desejo, e, quando dois impulsos cheios
de desejo apresentam finalidades incompatveis, tornam-se ativos ambos
formam um meio-termo. No Inconsciente, no h negao, dvidas. Nele, h
materiais catexizados3 com mais ou menos fora. Os processos Inconscientes
so intemporais, no se modificam com a passagem do tempo, apenas a
Conscincia vincula-se ao tempo.
O Inconsciente est submetido ao Principio do Prazer:
(...) a atividade psquica no seu conjunto tem por objetivo
evitar o desprazer e proporcionar o prazer. um princpio
econmico na medida em que o desprazer est ligado ao
aumento das quantidades de excitao e o prazer reduo
(...) (LAPLANCHE & PONTALIS, 2004).
Atravs da neurose e dos sonhos, os processos inconscientes so
conhecidos. O sistema inconsciente sofre contestao do sistema pr-
consciente. este segundo sistema que faz a comunicao entre os distintos
contedos ideacionais, de modo que possam se influenciar mutuamente.
3 Energias psquicas ligadas a alguma representao
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4 REFERENCIAL TERICO FILOSOFICO
Este estudo utilizou a Fenomenologia pontyana como referencial, e a
Psicanalise freudiana como suporte para interpretaes especificas.
4.1 Fenmenos sensveis e o olhar
Maurice Merleau- Ponty filsofo, francs existencialista e psiclogo,
nasceu no dia 14 de maro de 1908. Conheceu o horror da I Guerra Mundial
ainda pequeno, perdeu seu pai, morto durante uma batalha, e cresceu com
uma irm e um irmo, amparado pelo zelo de sua me. No ano de 1926, ele vai
para Escola Normal Superior. Com 18 anos, estuda com Paul Sartre, Simone
de Beauvoir, Claude Lvi-Strauss. Esses alunos questionam a filosofia
lecionada na universidade, em razo da sua superficialidade defendiam uma
filosofia implicada com a existncia humana, em consonncia com a atualidade
da poca, mudanas no campo das artes, tenso pr II Guerra, lutas de
classes, causando grande impacto para a sociedade francesa, que no estava
acostumada a ser contrariada. Ponty sofreu uma grande perda emocional: a
morte precoce de sua namorada Zaz. A famlia da moa no aceitava o
relacionamento e chantageou o jovem Ponty a terminar o namoro, em funo
da reputao de sua me, que namorava um professor universitrio. Aps
alguns anos, Ponty casa-se e tem uma filha. Era definido por Simone de
Beauvoir como um homem de palavras comedidas e racionais.
No perodo da Segunda Guerra Mundial, publicou duas principais obras:
A Estrutura do comportamento e Fenomenologia da Percepo, que abordam a
questo da conscincia e o corpo. Torna-se professor de Pedagogia e
Psicologia na Sorbonne.
Ponty se aproxima das questes polticas da poca e escreve artigos
juntamente com Sartre para a revista Les Temps Moderns. Sua tese de
Doutoramento, nomeada Fenomenologia da Percepo, no foi
compreendida por sua banca, j que o tema era revolucionrio e discursava
sobre uma nova concepo de conscincia de si. se antes, por meio de
Descartes, a conscincia era separada do biolgico; em Ponty, a conscincia
e est no biolgico.
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O olhar a porta de entrada para sensaes, emoes, interpretaes e
tambm para o dilogo. Sabemos que o olhar no isolado, precisamos
decodificar o que observamos, logo lanamos mo da percepo como forma
de apreenso do objeto e interpretamos o que vemos a partir de nossa
conscincia das coisas:
Um campo visual no feito de vises locais. Mas o objeto visto feito de fragmentos de matria e os pontos do espao so exteriores uns aos outros. Um dado perceptivo isolado inconcebvel, se ao menos fazemos a experincia mental de perceb-lo. (Ponty, 1999, p. 27-28).
Se o olhar fosse focal, as leses cerebrais limitariam a interpretao dos
sentidos. Pelo contrrio, Ponty retorna no sentido para desfazer o determinismo
das cincias. O que ele prope : somos convidados a retornar s prprias
experincias que elas designam para defini-las novamente. (1999, p.35).
Entendemos que o olhar em Ponty no acessvel apenas com os olhos, mas
com as mos, com a boca que fala. Ponty considerou a totalidade do corpo em
sua multiplicidade de processos interligados. Talvez por esta razo, a
dificuldade dos intelectuais da sua poca em alcanar tamanha complexidade
que, ao mesmo tempo, se torna de fcil compreenso quando o entendimento
se abre ao fenmeno visto.
Essa converso do olhar, que inverte as relaes entre o claro e o obscuro, devem ser efetuados por cada um e em seguida que ela se justifica pela abundncia dos fenmenos que permite compreender Mas antes dela eles eram inacessveis, e descrio que deles se faz o empirismo sempre pode objetar que ele no compreende. (Ponty, 1999, p. 52).
Este olhar indispensvel para nossas reflexes vindouras, j que este
trabalho se prope a conhecer qualidade de vida a partir do olhar do sujeito
rodovirio.
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4.2 O Sujeito Rodovirio e os seus desafios
A eleio da palavra sujeito no ttulo neste tpico proposital. Com o
uso do termo, no se tem a pretenso de definir ou classificar o motorista de
nibus. A pessoa que trabalha no transporte coletivo transcende a uma
nomenclatura. Faz-se necessrio um pronome de tratamento, de modo que
sujeito se adqua com a proposta da presente pesquisa, parte do lugar de
divisvel, de reconstruir e sujeito para a Psicanlise palavra que se
aproxima da pluralidade do homem, se sujeita vida, s angstias, aos
desejos sempre limitados pelo inconsciente. Em fenomenologia, o sujeito est
no ser para si, no espao interno que se abre ao fenmeno, que se abre para
significar o que lhe caro, suas opinies, crenas, valores.
Nomear o motorista como indivduo seria reduzi-lo indivisibilidade. Toda a
temtica deste trabalho estaria comprometida pelo indivisvel.
Considera-se motorista profissional aquele cujo ofcio remunerado
conduzir veculo automotor, autonomamente ou mediante vnculo empregatcio.
(Lei n. 12.619, de 30 de abril de 2012).
O motorista de transporte coletivo um profissional que no trabalha em
local fixo, seu cotidiano tem uma rotina pr-determinada: o itinerrio a ser
realizado. Esse percurso possui uma intensa rotatividade de pessoas, ele
convocado a lidar com os clientes de maneira polida e exercer sua funo de
modo seguro, evitando m operao do veculo, como freadas bruscas e at
mesmo acidentes. Este trabalho pode ser considerado estressante, pois no
um trabalho individual. O trnsito o ambiente de convvio misto. Isto quer
dizer que h pessoas circulando e os mais variados transportes. A maneira de
conduo individual determina o estilo da mobilidade urbana. Zamboni afirma:
[...] podemos ver nesse trabalhador um primeiro passageiro, um protagonista na constituio do transporte coletivo urbano, aquele que assume dianteira, uma essencialidade na produo do transporte. Essencial porque no dispensvel. Do contrrio, o transporte no segue. Protagonismo porque o motorista o passageiro que assumiu o volante, que tomou para si o processo de construo do transporte coletivo urbano como trabalho a empreender. [...] (2012, p. 05).
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O excesso de trabalho, a m conservao dos nibus a inconvenincia de horrio, o baixo grau de controle sobre a tarefa, a baixa remunerao, o mau planejamento das vias urbanas, a precariedade da sinalizao e da infraestrutura das vias urbanas, a violncia