Nitiren_Daishonin

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    Um invernorigoroso

    Takashi Ishigami

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    Um inverno rigoroso

    Takashi Ishigami

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    Takashi IshigamiUm inverno rigoroso

    Todos os direitos reservados.Proibida a reproduo, comercializao e utilizao

    sem a autorizao expressa do autor

    So Paulojulho de 2007

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    Sumrio

    Prefcio 5Introduo 7

    Duras e ternas lembranas 9

    procura de um caminho 14Uma nova esperana 20Manifestando o carma 25Novos desafios 32Desafiando o impossvel 37Momento crucial 43Transformando o carma 50Incio da primavera 55A grande vitria 63Percepes 66

    A prova real 68Consistncia do incio ao fim 73Mais um grande obstculo 76Aos iniciantes 84

    Sobre o autor 88Minha vida profissional 92Carta de Satiko para Renato 106Dedicatria 107Posfcio I 109Posfcio II 112Ps-escrito 114Agradecimento 118

    Glossrio 120Bibliografia 121

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    Prefcio

    refaciar este livro uma grande honra, mas tambm uma enormeresponsabilidade por se tratar de um trabalho de grande

    repercusso junto aos integrantes da Associao Brasil SGI (BSGI)e do pblico em geral. Trata-se, sobretudo, de um fato indito naliteratura mdica atestado pelos eminentes mdicos daquela pocaque no s testemunharam, mas cuidaram do paciente RenatoIshigami, filho do casal Takashi e Satiko, meus amigos.

    Linfossarcoma o nome desse terrvel mal, incurvel pela cincia

    mdica, carma imutvel pela viso budistaFui testemunha desse dramtico acontecimento junto com minhaesposa. Marina, que me apoiou em todos os momentos. No stestemunhei como participei e compartilhei desse drama familiar.Lutei sinceramente para ajud-los a superar esse grande mal.

    Guardo at hoje, dezenas de cartas que meu amigo me enviou napoca, em decorrncia da intensa comunicao que tnhamos duranteos momentos mais desesperadores. Comprovamos inequivocamenteo grande poder original, inerente na nossa vida a Lei Mstica o

    Nam-myoho-rengue-kyo. Comprovamos tambm que somente nos

    momentos cruciais, o homem capaz de extrair o potencial inatoque cada ser humano possui estado de Buda revelado eincorporado por Nitiren Daishonin, mestre eterno da vida, no objetode devoo, Gohonzon, cujo poder capaz de redimir o carmaimutvel e, ou seja, o destino que cada ser humano possui e torn-lofeliz.

    P

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    Ora, se a prtica do Budismo de Nitiren Daishonin capaz demudar o destino de cada pessoa a sua propagao um imperativoe desejvel para criar uma era de paz e felicidade para toda ahumanidade. Esse o desejo de Nitiren Daishonin, o Budaoriginal, cuja tarefa est sendo cumprida pela BSGI, e ns,membros dessa organizao, fazemos dessa tarefa uma missode vida o Kossen-rufu.

    Meu abrao fraterno aos amigos Takashi e Satiko, a quem dedicouma amizade sincera e aprendi a respeitar cada vez mais pela fibra,

    tenacidade e determinao, que lhes conferem uma grande dignidade.Todos ns, esposa, filhos, amigos e membros da BSGI, nascemos

    nessa era deMappo, junto com o presidente Ikeda, nosso mestre,para realizarmos o Kossen-rufu como Bodhisattvas da Terra quesomos.

    Tadashi Takiguti

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    Introduo

    esde criana nunca tive muita motivao pela vida. Viviameus dias sem consistncia de algo maior.

    Passei momentos tranquilos em minha infncia. No tinha grandesambies ou procuras.

    Meus pais foram uns dos primeiros imigrantes a chegar ao Brasile, como todo os demais imigrantes, foram parar na lavoura. Meupai era um homem culto e na poca da Segunda Guerra Mundial,

    pelo fato de o Japo ser considerado um pas inimigo e o Brasil seraliado dos Estados Unidos, ele dava aulas de japons aos jovensescondido, num local chamado gua Limpa, perto de Araatuba.Em virtude da possibilidade de ser preso, meu pai abandonou a vidade professor e foi administrar uma grande fazenda.

    Meu pai se chamava Yaiti e minha me, Tameyo. Ele da provnciade Fukushima no Japo e ela, da provncia de Guifu.

    Tiveram sete filhos, cinco homens Issao, Takashi, Tuyoshi,Satoshi e Sadamu e duas mulheres, que faleceram ainda crianas.Meu irmo Issao faleceu recentemente, aos 78 anos de idade, emRecife, Pernambuco, onde, morava.

    Meus pais foram sempre pobres, mas, com grande esforo,conseguiram dar uma educao aos filhos. Sadamu e Satoshi soarquitetos, Tuyoshi engenheiro civil e eu, contador.

    Passaram-se os anos, me casei e cheguei a ter uma posio socialrelativamente boa. Em casa, nada nos faltava, havia harmonia e

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    vivamos na maior paz, sem problemas nem preocupaes. Meuconceito em relao vida, contudo no havia mudado. Apesar detudo eu no era totalmente feliz. Sentia que faltava algo em minhavida. Acordar, trabalhar, comer e dormir. Todos os dias repetindo amesma rotina o ano inteiro... Parecia que estava apenas vegetando.Talvez isso ocorresse porque no tinha objetivo algum em minhavida, a no ser criar os meus filhos.

    Foi ento que, em outubro de 1972, a rotina foi quebradabruscamente quando meu filho Renato foi acometido de grave

    doena, a mais temida das enfermidades, o cncer.

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    DURAS E TERNAS LEMBRANAS

    erto dia, ao chegar em casa, aps o trabalho percebique a fisionomia de Satiko estava pesada e

    preocupada. Ela no esperou que eu perguntasse o que tinhaacontecido. Chamou imediatamente o primognito, Renato, que napoca tinha 9 anos, e pediu que me mostrasse um ndulo que estavacrescendo em seu pescoo.

    Pedia a Satiko que se acalmasse, afinal no deveria de ser nada.Ela concordou e combinamos que observaramos com cuidado o

    que aconteceria.Infelizmente ela estava certa e suas preocupaes foramconfirmadas. Renato estava com febre, perdera o apetite e o nduloficava cada vez maior.

    Trs dias aps a descoberta, levamos Renato ao mdico para sereaminado. A espera dos exames fora interminvel. Olhava paraSatiko e para meu filho e sentia um grande pesar. Tive uma sensaode frustrao, um desconforto fsico que era quase uma angstia.

    Os resultados chegaram. O mdico explicou que os exames desangue acusaram uma alta taxa de glbulos brancos (leuccitos), o

    que indicava uma reao de defesa do organismo para combatergrave infeco.Realizamos ento, vrios exames para detectar que tipo de

    infeco era aquela, desde caxumba, tireide, toxoplasmose,linfadenite at de tuberculose, mas os mdicos no conseguiamencontrar a causa e no chegavam a nenhum diagnstico.

    C

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    Acreditvamos que era apenas uma doena infantil e que logo nossoquerido filho estaria bem. Duas semanas se passaram e Renato haviaperdido dois quilos.

    Sentia-me apreensivo, mas no demonstrava Satiko, para no apreocupar ainda mais.

    Aps inmeros exames, sem resultados, os mdicos acharam queo melhor era extrair o ndulo para que fosse analisado. Essa decisoprovocou um grande tumulto dentro de mim. Afundei-me em umasensao deprimida e um calafrio percorreu meu corpo, os msculos

    de meu abdmem se contraram involuntariamente e senti um medoprofundo.

    Fizeram uma bipsia e foi diagnosticado linfossarcoma,1 cncerno gnglios linfticos, trs vezes mais agressivo que a leucemia.

    Os mdico deram-lhe um curto prazo de vida, de trs a dozemeses, porque, de um modo geral, a evoluo da doena em criana rpida e fatal. Estatisticamente no existe no mundo casosconhecidos de sobreviventes dessa doena, afirmou o mdicocategoricamente.

    A angstia e o desespero tomaram conta de mim e os dias que se

    sucederam foram um verdadeiro inferno. Ah, como senti saudadesdaquele dias montonos de outrora!

    Telefonei para meu cunhado, que havia se formado em Medicina,e perguntei-lhe sobre a doena. Ele respondeu-me secamente: SalvarRenato mais difcil que acertar na Loteria Esportiva sozinho.

    Havia uma fora to devastadora em suas palavras que elasficaram ressoando em minha cabea. No pude dizer nada. Algunsinstantes se passaram.

    Por que voc est sendo to cruel comigo? Ser que no temum pingo de pena de um pai que est sofrendo uma dor como esta?,

    perguntei enraivecido.Como? disse ele. Esta a dura realidade. No o quero iludir

    I. Linfossarcoma ou linfoma uma doena de carter malgno que no tem cura. Acometeos linfonodos, ou gnglios, e se estende rapidamente atravs dos gnglios linfticos paraoutros rgos como bao, fgado, pulmes e rins levando o paciente rapidamente ao bito.

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    para que no sofra ainda mais. Pais desesperados, ao ouvir o verdictoda medicina, costumam apelar para charlates e curandeiros, queacabam extorquindo todo o seu dinheiro. E no desejo que issoacontea com vocs.

    Mesmo assim, orientou-me a procurar um dos mais conceituadoshematologistas do pas, Dr. M. J., professor de uma renomadauniversidade de So Paulo, que tambm no me deu esperanaalguma. Ele apenas confirmou o diagnstico dos exames quehavamos realizado e enfatizou que os possveis tratamentos que

    existiam s prolongariam um pouco mais a vida do meu filho.No dia seguinte, iniciamos o tratamento indicado pela equipe

    mdica, a radioterapia. Durante um ms fomos todas as tardes aohospital. A sala de espera, localizada logo na entrada do prdio demedicina nuclear, tinha aproximadamente 10x15m. Recebamos umasenha, que era entregue pela recepcionista que ficava direita dasala, e espervamos a vez de Renato. O ambiente era frio e norecebia luz natural pela ausncia de janelas. Havia cerca de cinqentacadeiras encostadas linearmente nas paredes do local. Normalmenteespervamos 45 minutos e, nesse tempo, meu filho conversava com

    outros pacientes que tambm aguardavam pela chamada.Ainda guardo a lembrana de um jovem casal de recm-casados,

    que estava l todos os dias. Magnum ficou muito amigo de Renato.Ele manifestara a doena logo aps o casamento. Eles conversavamo tempo todo e meu filho sentia-se feliz e no via os minutos quepassavam. A amizade deles crescia a cada encontro.Renato levavaalguns jogos para desafiar Magnun enquanto esperavam a vez deserem chamados.

    Um dia Magnun no apareceu. Renato perguntou-me o motivode sua ausncia. Sentei-me enquanto ele olhava para mim com a

    curiosidade de uma criana. Imediatamente respondi que ele estavacurado e que no precisava mais fazer o tratamento. Por dentro meucorao chorava. A enfermeira acabara de me dar a notcia de seufalecimento.

    A radiao durava cerca de 5 minutos e parecia ser algoinofensivo. Com o passar dos dias, vi o que estava acontecendo.

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    Meu filho sentia nuseas, no conseguia mastigar mais nada, seuscabelos comearam a cair e, aps a terceira semana de tratamento,seu pescoo estava envolto por uma casca como se estivesse serecuperando de uma grave queimadura.

    Os dias se passavam e no via melhora alguma no aspecto doRenato. Estava to absorto naquele cotidiano infeliz que esqueciade me alimentar.

    Nessa poca, trabalhava num hotel e soube pela gerncia queuma das maiores autoridades no tratamento de cncer, professor

    catedrtico da Universidade de Houston, Texas, se encontravahospedado l. Ele viera para um congresso em So Paulo e eraesperado pelos mdicos brasileiros que estavam ansiosos paraconhecer os novos avanos no tratamento contra este mal.

    Senti uma grande esperana. Pensava que ele poderia em ajudar,que no era por acaso que ele tinha escolhido justamente o hotelonde eu trabalhava para se hospedar. Sem titubear, pedi ajuda aogerente e, juntos, fomos conversar com ele.

    O conferencista foi muito atencioso e gentil. Aps me escutarpor quase uma hora, pediu-me os exames para serem analisados nos

    Estados Unidos. Estava disposto a levar meu filho a Houston, paraser tratado e curado com o que havia de mais moderno naquele setor.

    Quando estava me despedindo, numa voz abafada murmurou:O senhor tem mais filhos?

    Aquela pergunta foi uma rajada em meu peito. Deixei-me tomarpela raiva. Caminhei e percebi que no me restava mais nada, a noser chorar. E foi o que fiz.

    Estava de mal humor e mergulhando em minha tristeza, quando,aps duas semanas, recebi um envelope do Hospital M. D. Anderson,considerado um dos maiores centros de cncer do planeta, com cerca

    de seiscentos leitos. A resposta foi assustadora. A doena havia sidoconfirmada e de nada adiantaria lev-lo aos Estados Unidos, porquemesmo com a tecnologia mais avanada, em comparao aosrecursos de tratamento brasileiros, no havia nada que pudesse seraplicado doena que meu filho portava. Como se no bastasse, o

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    Laudo mdico

    de Renato

    (novembro de 1972)

    Diagnstico:

    Linfossarcoma

    Infiltrando

    gnglios linfticos.

    Fragmentos de glndula

    salivar com ectasia de

    ductos.

    relatrio informava que a radioterapia a que o Renato estava sendosubmetido s serviria para o prolongamento de sua vida; seriainevitvel o aparecimento de outros tumores, inclusive nas regiesonde a radiao estava sendo aplicada. Concluindo o diagnstico, orelatrio afirmava que se fosse hodgkin, doena semelhante nosistema linftico, ele responderia melhor radioterapia e quimioterapia.

    Com essa notcia percebi que a cincia, definitivamente, haviacruzado os braos diante daquela doena, mostrando-se totalmenteimpotente.

    A angstia, a aflio e o desespero me invadiram e os dias quesucederam foram terrveis.

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    procura de um caminho

    esse perodo senti de maneira profunda a necessidade ur-gente de um Deus, de algo que pudesse me ajudar, salvar meu

    filho, me tirar daquela escurido. Pensava: J que no h esperanaaqui na terra, quem sabe fora daqui. Mas ser que Ele existe?

    Desde a minha adolescncia eu questionava a existncia de Deus.Certa ocasio, acompanhei pela imprensa um incndio de grandespropores que ocorrera num circo no Rio de Janeiro. A lona em

    chamas veio abaixo e dezenas de crianas morreram carbonizadas.Pobres criaturas, puras e inocentes. Onde estava Deus naquelemomento, se onisciente, onipresente e onipotente questionavaindignado. A partir de ento, tornei-me uma pessoa ctica.

    Como muitos brasileiros, era catlico por tradio cultural.Em minha eterna busca por solues e respostas, comecei a

    freqentar uma famosa igreja na regio do Jabaquara, mas sentiaque nada mudava. Minha angstia s aumentava e quanto mais meaprofundava nos escritos cristos, mais percebia que no me adaptava sua filosofia.

    No pude continuar a freqentar aquele local. Embora minhaesposa prosseguisse cada dia mais firme em suas oraes, pouco apouco fui me afastando. Discutia quase sempre com Satiko, queacreditava que minha atitude era errada e que eu havia perdido a fem Deus.

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    Na tentativa de amenizar um pouco aquela situao de desarmonia,acompanhei minha esposa a uma missa. Aps a cerimnia, fui conversarcom o padre. Falei detalhadamente sobre o problema que minha famliaestava enfrentando. Ele me escutou pacientemente.

    Trocamos um olhar sombrio, interpretei como um desespero mudo.Meu filho, Deus sabe o que faz. Ele est chamando o seu filho numlugar maravilhoso, bem melhor do que aqui na terra, chamado Paraso.Por isso, seja feita a vontade de Deus e tenha muita f no Senhor,disse.

    Naquele instante decidi abandonar definitivamente aquelareligio. J que eu no poderia fazer nada, para que praticar umareligio, com o pensamento de que, no final seria feita a vontade deDeus?

    Conformismo e resignao so palavras que jamais existiram paramim. Havia decidido enfrentar aquela doena at no existir nenhumpingo de fora dentro de mim,

    Eu estava atordoado. Os fatos daquele dia me haviam arrasado.Procurei pensar que era mais uma opinio pessimista, noconseguindo renunciar idia de que ainda existia uma esperana

    para o meu filho.Assim, passei a procurar desesperadamente uma outra religio.

    No aceitava aquela situao, tinha de ser rpido, urgente, afinal oprazo era curtssimo e estava se esgotando.

    Comecei, ento, a pesquisar e analisar outras religies e filosofias.Comprava e lia muitos livros, visitava muitas entidades religiosas incluindo duas orientais e o espiritismo mas sentia que nenhumadelas possua fora para salvar meu filho da morte. Deus era soberanoe absoluto, responsvel pelo destino de toda a humanidade e noera esse Deus que eu procurava.

    Mesmo no aceitando ou no me adaptando, sempre respeitei erespeito todas as religies. Acho que cada uma tem seu valor, mas amim, naquele momento desesperador, com meu filho beira damorte, causava irritao ouvir que estava submisso a um ser supremoe que a vida de meu filho dependia unicamente dele.Egosmo? Blasfmia?

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    Na opinio da maioria, creio que sim.Sentia profundamente que bons pensamentos positivos, frases

    bonitas, promessas, meditaes e atos de humanidades perante Deusno iriam resolver o meu grave problema.

    No admitia ficar passivamente espera da deciso de um entetranscendental. Se meu filho se salvasse, diriam: Graas a Deus,Foi ddiva do Cu, Foi milagre. Se morresse, diriam,simplesmente: Foi destino, Deus quem quis. Eu questionava:que coerncia h nisso?

    Necessitava agir com urgncia porque o meu inimigo era forte,muito forte. Precisava, portanto, de algo mais forte ainda para poderdestru-lo. No futebol se diz que a melhor defesa o ataque. Se oadversrio marcasse trs gols eu tinha de fazer quatro e conquistar avitria. Tinha de ser uma religio viva, dinmica poderosa, queestivesse acima da doena. Meu propsito era inflexvel e estavadisposto a fazer o que fosse necessrio para salvar a vida de meufilho.

    As circunstncias de minha vida, naquele momento, eramarrasadoras. Sabia que no adiantava ficar ainda mais triste, ou

    mesmo, procurar justificativas para o que estava acontecendo. Sabiatambm que a lamentao s traria mais desordem ao meu mundo.

    Foi quando me lembrei que, em 1968, quatro anos antes de meufilho adoecer visitei Araatuba e na ocasio um grande amigocomentara que estava praticando uma religio em virtude da doenabronco-asmtica de seu filho mais velho. Vi seu rosto em minhamente, repleto de alegria ao me contar que, aps alguns mesespraticando a religio, seu filho havia se curado totalmente.

    Na poca no liguei. No queria seguir filosofia alguma, poisno acreditava em nada e tambm no sentia que precisava de algo.

    Por considerao nossa amizade escutei seu relato, agradeci oconvite, mas no senti vontade alguma de conhecer ou mesmofreqentar sua religio.

    Como o servio de telefonia naquela poca, 1972, era muitoprecria, a nica forma de comunicao era por carta. Naqueleinstante, lembrando das palavras dele e de sua convico ao falar-

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    me a respeito daquele ensino, levantei-me abruptamente, pegueipapel e caneta e comecei a escrever. Fiz um relato detalhado doproblema que estava enfrentando, desabafei minhas angstias esofrimento e pedi todas informaes sobre a religio. Ao finalizar acarta, tive a impresso de que estava realmente realizando meu ltimoato de esperana.

    Esperei dia aps dia uma resposta de meu amigo. Sentia um friomuito intenso quando passava os olhos para l e para c na caixa decarta que ficava na porta de minha casa. Todos os dias, repetia o

    mesmo ato, mas no havia nada, nenhuma resposta, eu comecei asentir um desgosto profundo.

    Prontamente, meu amigo, ao ler meu relato, havia decidido vir aSo Paulo para falar-me a respeito de sua religio. Os quaseseiscentos quilmetros tornaram-se nada, perto de sua vontade deme ajudar. Meu corao transbordou de alegria quando a campainhatocou e vi Tadashi e sua esposa Marina. Tornei a olhar e a imagemera real. Meus amigos estavam ali. Enxerguei uma luz intensa esenti uma tranqilidade indescritvel.

    Quando Tadashi comeou a falar a respeito do Budismo de Nitiren

    Daishonin, tudo que escutava ia ao encontro do que eu pensava. Viaque eram lgicos e coerentes os argumentos e perspectivas daquelafilosofia. Alm disso, tudo que gostaria de ouvir naquele momento,me era falado. Ele dizia:

    1) O Budismo de Nitiren Daishonin uma religio para a vidano para a morte;

    2) O cu e o inferno, ns o passamos aqui na terra e no aps amorte;

    3) Na nossa prtica da f, no h orao sem resposta;4) Recitar Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon torna o

    impossvel em possvel. No confunda isso com milagre. a nossacapacidade interior que se manifesta para o mundo exterior;5) O objetivo maior da organizao Soka Gakkai, cujo lder o

    nosso mestre, Daisaku Ikeda, promover a propagao do BudismoNitiren visando ao Kossen-rufu (Paz Mundial).

    Suas palavras eram um verdadeiro blsamo para os meus ouvidos.

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    O brilho de seus olhos e a sinceridade com que falava faziam-meum bem inacreditvel. Escutava atentamente tudo o que dizia.

    O Budismo de Nitiren Daishonin tem a sua prpria filosofia eafirma que a base para avaliar e julgar a validade e a profundidadede uma religio, so a prova documental, terica e a real.

    O que esta prova real, Tadashi?, indaguei.Recitando o Nam-myoho-rengue-kyo, com f, sinceridade e

    determinao, infalivelmente a pessoa obter a comprovao real,nesta existncia, esta a prova real.

    Ele ficou calado por uns instantes. Parecia estar esperando minhaprxima pergunta.

    Era difcil crer no que eu estava ouvindo. Comprovao real nestaexistncia significaria a cura do meu filho. Fiquei em completosilncio. Senti ter encontrado uma religio verdadeira, uma filosofiade vida verdadeira, e estava disposto a abra-la com todas as minhasforas e salvar o Renato.

    Sentia sinceridade em cada palavra transmitida pelo meu grandeamigo Tadashi. Sempre o admirei pelo seu carter, inteligncia eintegridade como pessoa . Sempre o considerei uma espcie de dolo

    que me influenciou positivamente durante toda a minha juventude.E agora ele estava ali, me ajudando e falando de algo que mudaraprofundamente a sua vida.

    Dentro da minha escurido, enxerguei, finalmente, um ponto deluz. A esperana que eu havia perdido completamente comeou abrotar dentro de mim.

    Olhei pela janela. Via o sol descendo para o oeste e nuvensformando-se rapidamente no cu. Voltei meus pensamentos parao meu filho. Prometi a mim mesmo que faria tudo que fossenecessrio, por mais difceis que fossem as tarefas. Sentia

    verdadeira estabilidade interior, porque naquele momento percebique o meu filho no morreria. Mas a batalha agora era minha. Suavida, como havia desejado, dali em diante, estava em minhas mos.

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    Devemos nos conscientizar de que a nossa misso extrair o sofrimento e transmitir esperana e felicidades pessoas. (Jossei Toda, segundo presidente da SokaGakkai.)

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    Uma nova esperana

    partir daquele momento, iniciei a prtica budista. No sabiacomo faria, mas estava disposto a enfrentar todos os obstculos

    que surgissem para salvar meu filho. Pedi ao meu amigo que meensinasse a pronunciar oNam-myoho-rengue-kyo. No incio, acheimuito difcil recitar aquelas palavras. Alm disso, meu amigoenfatizou que deveria recitar o Sutra.

    As premissas de Tadashi me atraram, mas achava tudo muito

    difcil e pensava freqentemente que jamais conseguiria. Mesmoassim, estava disposto a desafiar.

    Era tudo muito estranho e diferente para mim. Ele havia meorientado que deveria me sentar num lugar tranqilo e recitar o Nam-myoho-rengue-kyo, o Daimoku, e o Sutra, o Gongyo. Demorava cercade uma hora para recitar o Gongyo, pois na poca consistia em cincooraes de manh e trs noite, mas fazia todos os dias nos doisperodos.

    Antes de retornar para Araatuba, Tadashi entrou em contato coma organizao. Apresentou-me alguns praticantes do Budismo que

    moravam perto da minha casa, salientando que eles estariam ao meulado, me orientando e apoiando.Fiquei muito feliz com a recepo de todos, com a disponibilidade

    e apoio oferecido. No podia compreender como pessoas que jamaishaviam me visto, poderiam se preocupar tanto comigo, com meu

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    sofrimento, e, o mais desafiador, como poderiam ser to otimistas econvictas de minha vitria.

    Tornei-me membro provisrio da Comunidade e do DistritoAclimao. L conheci as senhoras Sebastiana, Lourdes, MadalenaDora e Luzia, que eram respectivamente, responsveis de unidade,bloco, comunidade e distrito na poca. Ao nos encontrarmos todas,sem exceo, me recebiam com palavras calorosas e cheias deconvico. Eu queria saber mais a respeito do Budismo de NitirenDaishonin e da prtica; elas me orientavam a ler os impressos

    publicados pela Soka Gakkai, o jornal Brasil Seikyo e a revistaTerceira Civilizao, o que fiz imediatamente.

    Estava ansioso por respostas, por idias, por orientaes. Queriaconhecer profundamente a filosofia. Portanto, lia tudo o que podiae no faltava a nenhuma palestra para a qual era convidado.

    Comecei a me sentir diferente, reparava em coisas que antes nodava importncia, observava cada ato de minha vida e, com o tempo,fui percebendo que em alguns momentos manifestava estados deperfeita harmonia interna.

    Queria que Satiko sentisse o mesmo. Desejava para ela o que

    estava sentindo. Mas minha esposa mostrava-se indiferente minhaprtica, s minhas palavras, e continuava a pedir que Deus salvasseo Renato.

    No tnhamos idia do que estvamos fazendo. Satiko ia igrejae levava o Renato, eu ia s reunies budistas e levava o Renato. Noparvamos para perguntar o que nosso filho pensava diante daquelaconfuso de deuses e crenas. Evidentemente, eu no conseguiaexprimir Satiko o que sentia. Cada vez que eu protestava, estavasimplesmente expressando a frustrao insuportvel de estar numasituao insustentvel. Pela primeira vez caminhvamos sozinhos e

    no lado a lado, como havamos feito desde o incio do nossocasamento.Para vencer essa difcil batalha e salvar seu filho primordial

    que haja unio em sua famlia. fundamental que todos pratiqueme dediquem-se harmoniosamente ao Budismo de Nitiren Daishonin.Se no for assim, dificilmente sero vitoriosos, enfatizou o senhor

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    Carlos Uno, na poca diretor da BSGI, quando lhe pedi orientao.As palavras do senhor Uno ressoavam em minha mente.

    Imaginava inmeras situaes para conversar com Satiko e expor oque estava acontecendo. Esforcei-me ao mximo para dialogarfrancamente com ela.

    Resolvemos que falaramos com o nosso filho. Afinal a suaopinio era o que mais importava. Havamos decidido que eleescolheria a religio que praticaramos. No dava para continuarpraticando duas filosofias. Colocamos a questo cautelosamente.

    Nosso filho, de apenas dez anos, decidiria algo muito importantepara a nossa famlia.

    Quero praticar a religio do papai, disse Renato sem hesitar.Toda vez que fao oNam-myoho-rengue-kyo, sinto uma grandealegria, sinto coragem. No sinto isso quando fao oraes com amame. Gostei tanto quando papai me levou naquele lugar. Acheitudo to engraado e bonito. Aquele monte de gente falando a mesmafrase... parecia que estavam cantando, falou sorrindo.

    No precisava olhar para Satiko para saber que estava receosaquanto escolha de Renato. Eu, ao contrrio, sentia-me totalmente

    feliz. Foi uma verdadeira vitria escutar a deciso de meu filho.Um grande momento estava chegando. Havia sido aprovado na

    entrevista para receber o Objeto de Devoo Budista, o Gohonzon.Era fim de janeiro de 1973 e, nessa poca, meu filho j haviaterminado com as aplicaes de radioterapia. Seu estado de sadeestava melhor, pelo menos, aparentemente.

    Fui com Satiko comprar um oratrio para consagrar o Gohonzon.Queria o melhor, o mais bonito, que expressasse minha gratidopela oportunidade mpar que estava tendo de salvar a vida de Renato.

    Quero o mais belo, porque vamos consagrar o Gohonzon e salvar

    o nosso filho, afirmei para Satiko. Internamente sentia uma alegriaintensa, pois estava comprando um lindo oratrio e no um fnebrecaixo.

    No dia 4 de fevereiro daquele ano, com muito orgulhoconsagramos o Gohonzon em nossa casa.

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    No precisava orar olhando para a parede vazia. Senti uma grandediferena ao fazer o Gongyo e oDaimoku diante do Gohonzon, emtodos os sentidos, principalmente, em relao concentrao, fatormuito importante na prtica da f.

    No incio consagramos o Gohonzon em um pequeno quarto. Noera o que eu queria, desejava que fosse instalado na sala de entradade minha casa, mas, para no contrariar Satiko, concordei que ficassenaquele local. Vivamos um momento delicado e sentia que deveriaser flexvel e respeitar sua opinio, mesmo a contragosto.

    Satiko havia iniciado sua prtica, realizava comigo as oraesbudistas, o Gongyo e o Daimoku, mas estava estampado em seurosto o seu descontentamento. Ela, definitivamente, no estava feliz.Aquela situao era algo que me preocupava, mas no falvamossobre o assunto.

    Um dia percebi que ela estava fazendo suas antigas oraes quasenum sussurro. Sabia que ela ainda no acreditava no poder doGohonzon.

    Passaram-se dias e sua atitude no se alterava. Eu no tinha idiaalguma quanto ao momento em que ela mudaria sua convico.

    Apenas aceitava e continuava minha prtica. Sabia que sua atitudetornava minha sonhada vitria cada vez mais distante. Teramos deunir nossas foras, mas no sabia como aconteceria.

    Continuamos levando o Renato s atividades budistas comigo esempre que amos embora conversava com os rapazes que faziamplanto voluntrio para o atendimento dos membros quefreqentavam o local.

    Certa vez, no templo que existia antigamente junto ao CentroCultural da BSGI, na Rua Tamandar, conheci um jovem rapaz.Sua aparncia era simples, mas dele emanava uma alegria fora do

    comum. Seus olhos eram vibrantes e alegres, sua voz era forte econvicta. Quando falava a respeito do budismo, notava-se queconhecia profundamente a filosofia.

    Ogata tinha um jeito peculiar de dialogar, dava exemplos da vidacotidiana inserindo os ensinos budistas. Foi a que tive uma idia.

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    Pedi que fosse at minha casa conversar com Satiko.No pensei, quando fiz aquele convite, que sua visita seria

    fundamental para que Satiko entendesse como era importante suaatuao e f para que nosso objetivo fosse alcanado.

    Imagine seu filho sozinho puxando uma carroa de duas rodas,com um fardo muito pesado para descarregar num lugar bem distante.Acontece que s uma roda da carroa funciona; a outra est travada.Nesta histria, a roda que ajuda seu filho, representada por seumarido. Para que seu filho chegue ao seu destino final ele precisa

    que a acarroa funcione totalmente. E a roda que est travada, semandar, voc, exemplificou o jovem.

    Satiko escutava Ogata atentamente. Percebi que ele estavaatingindo seu corao. Falava naturalmente sobre o budismo eapresentava exemplos muito claros. Com muito tato, criandometforas dos princpios budistas, elucidava todas as questes quese apresentavam.

    Quando o jovem se foi, pela expresso de minha esposa, percebique no restavam mais dvidas em sua mente.

    Agradeci-lhe imensamente. Era como se faltasse aquela visita

    para que Satiko decidisse praticar verdadeiramente aquele ensino.

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    MANIFESTANDO O CARMA

    incio de maro de 1973 foi marcado por muita dor. Conformeas previses mdicas, cinco novos tumores apareceram na

    regio do pescoo de Renato. Estvamos muito tristes. Os mdicosenfatizaram que no poderiam extra-los. Explicaram que aquelaregio jamais cicatrizaria, pois seu pescoo estava muito sensvelpor causa das aplicaes de radioterapia. Alm disso,enfrentaramos novamente as sesses de radioterapia, por um

    perodo de quarenta dias.Samos do hospital desorientados. Caminhamos em silncio ato carro e fomos para casa sem pronunciarmos uma palavra. Amudana de nossas expresses, a tristeza em nossos rostos era tontida que parecamos zumbis. Aquela alegria que antes havamossentido se fora.

    Rompi aquele profundo silncio e disse a Satiko que manteria aserenidade. Como que podemos desistir?, perguntei a ela. avida do Renato. o nosso filho. Nossa famlia. No vamosdesanimar. Satiko caiu em prantos.

    Fiquei olhando para ela, sem dizer uma palavra. Ento, repareique eu no estava sofrendo tanto, porque ainda tinha esperana.O senhor precisa fazer uma grande quantidade deDaimoku para

    cortar o mau carma de Renato e da sua famlia, o mais rpidopossvel. Somente com intensa recitao de Nam-myoho-rengue-kyo, ao Gohonzon ser possvel tal proeza, falou-me Luzia.

    O

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    Levei um tremendo susto quando ela me disse que precisaramosorar 24 horas deDaimoku por dia. Aparentemente, era impossvelpermanecer orando por 24 horas, para mim, seria uma proeza, algoimpossvel. Como farei 24 horas deDaimoku por dia?

    Estava sentindo um grande desconforto, mas disse a ela que antesde iniciar as 24 horas deDaimoku, desejava conhecer algum quetivesse se curado de cncer, por meio da recitao doNam-myoho-rengue-kyo.

    No existe nenhum caso no Brasil ainda. Mas no Japo, sim.

    E fizeram 24 horas deDaimoku por dia?Sim, li um relato de uma pessoa que estava com cncer e que,

    por muito tempo, o oratrio de sua casa permaneceu constantementeaberto para que todos os membros da famlia recitassem oDaimoku,revezando-se entre si durante as 24 horas do dia.

    Mas sou s eu e Satiko! Como vamos fazer para recitarmostantas horas deDaimoku?

    Sua famlia tem uma grande misso: mostrar a prova real emsua vida e evidenciar a primeira cura de cncer aqui no Brasil. Almdisso, essa comprovao incentivar muitas pessoas prtica budista.

    Imagine o bem que ir proporcionar, disse ela.Ensinar as pessoas significa lubrificar as rodas para queas mesmas possam girar; ou fazer flutuar um navio paraque este possa ser movimentado facilmente. (Escrito deNitiren Daishonin Resposta ao Lorde Matsuno)

    Farei trs milhes de Daimoku 1 .No sei o que pensei. Sei que senti que seria capaz. Havia

    prometido aquela vitria ao meu filho, minha famlia, e nosucumbiria diante do primeiro obstculo. Manteria meu pacto, por

    mais exaustivo que fosse. Estava empenhado naquela batalha.Conversei com Satiko e com Renato. Juntos estabelecemos umameta: faramos todos os dias 12 horas deDaimoku, para que no fim

    I. Uma hora corresponde recitao aproximadamente de trs mil Nam-myoho-rengue-kyo. Um milho equivale, portanto, a 365 horas.

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    de trs meses tivssemos cumprido os trs milhes deDaimoku.Por dia eu recitaria quatro horas deDaimoku, Satiko seis e Renato

    duas horas. Como? No sabamos. Meus filhos mais novos no foramincludos em nosso objetivo; eram muito novinhos, 6 e 4 anos, paratal faanha. O que me surpreendia mesmo era a disposio de Renato.

    Lembrava da orientao de Daisaku Ikeda que afirmava quepara conquistar a felicidade preciso ter problemas e sofrimentos.Por meio da recitao do Nam-myoho-rengue-kyo , devemosdesafiar estes problemas e sofrimentos para sentirmos alegria e

    felicidade de ser vitoriosos, porque no existe vitria sem desafio.E quanto maior o sofrimento, maior ser a felicidade com a vitriaconquistada.

    Mudamos drasticamente nossa rotina. Amigos e parentes, quedesde o incio da descoberta da doena vinham nos visitaracreditando que seria a ltima vez que veriam Renato, no iam maisem casa. Havamos pedido gentilmente que no fossem, pois noteramos tempo para recebe-los e, ainda, recitar 12 horas deDaimokudirias.

    Lembro que no dia seguinte despertei com o canto dos pssaros.

    Olhei para o lado procurando Satiko, mas ela j estava em frente aoGohonzon recitandoNam-myoho-rengue-kyo. Levantei-me. Meucorpo doa. Estava muito cansado. Lavei meu rosto rapidamente eme uni Satiko. No acreditava no que estava vendo. Ela enfim,estava determinada a concluir o nosso objetivo e, para isso, tnhamosnoventa dias.

    Todos os membros de nossa comunidade nos apoiavam. Iam nossa casa aos sbados, recitavam Daimoku conosco e nosincentivavam para que no desistssemos. Luzia, Dora, Lourdes,Madalena e Hase como entes da minha famlia -, passaram a

    compartilhar os desafios desta grandiosa luta para salvar nosso filho.O carma deve ser dividido em duas categorias: determinadoe indeterminado. Como at mesmo o carmadeterminado pode ser erradicado por meio do completoe genuno arrependimento, desnecessrio dizer

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    que o carma indeterminado pode tambm sertotalmente transformado. (Escrito de Nitiren Daishonin A transformao do carmadeterminado)

    Nesse perodo o Sr. Izumi, vice-presidente da Soka Gakkai,encontrava-se no Brasil. Ele estava visitando a sede brasileira. Penseiem encontra-lo para contar-lhe o que estava passando e como estavalidando com aquela situao. Quando manifestei meu desejo, fuirapidamente atendido pelo Sr. Izumi, que me recebeu prontamentena sede da BSGI.

    Jamais vou esquecer aquele primeiro encontro. Entramos na salaonde se encontrava eu, Renato e Satiko e, antes que pudssemosfalar alguma palavra, ele nos olhou e disse:

    Vocs pensam que trouxeram o Renato para escutar meusincentivos, mas na verdade vocs esto aqui porque Renato os trouxepor meio de sua doena.

    Expliquei-lhe como se tornara difcil nossa realidade. Relateitodos os detalhes de nossa luta desde o dia que samos do hospitalpela primeira vez.

    No se preocupem, replicou com um leve sorriso. Este omelhor momento de suas vidas. Devem realizar uma forte oraoao Gohonzon, com o objetivo de anular as causas negativas quecometeram nesta e em outras existncias. Mesmo que no selembrem, o que vivem nesse exato momento so efeitos de causascometidas por vocs mesmos.

    Compreender aquilo me era impossvel. O que eu teria feito?Perguntava-me cabisbaixo.

    Devem objetivar com toda sinceridade a cura do Renato. Arecitao doDaimoku deve ser feita com esprito de gratido. Devem

    agradecer esta maravilhosa oportunidade de transformao. A cadamelhora devem redobrar sua determinao e no esquecer jamaisde agradecer.

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    Famlia Ishigami. Takashi, Satiko e os filhos, Renato, Ricardo e Suely(1973) Foto que foi enviada ao presidente Ikeda a pedido do Sr. Izumi.

    Sabia que no poderia questionar o que o Sr. Izumi dizia; afinal,

    ele era um veterano na prtica budista.Por favor, no deixem de orar para que o Renato viva da melhor

    forma e que assim possa ser um grande valor para o kossen-rufu,tornando-se um exemplo vivo de veracidade do Budismo de NitirenDaishonin. A doena do seu filho um verdadeiro tesouro na vidade sua famlia. Por favor, acreditem em minhas palavras.

    A princpio, no entendi o significado de suas orientaes. Notive a menor dificuldade em compreend-lo, apesar de falar em japons,mas o que me disse s pude entender, verdadeiramente, muitos anosdepois. S quando, finalmente, percebi que naquele dia o Sr. Izumi me

    mostrara a grandiosidade de Renato e de sua doena. Afinal, sem aquelesofrimento, jamais teramos a oportunidade de realizar a transformaode nossa vida e do carma de nossa famlia.

    Despedimo-nos do senhor Izumi recebendo dele a seguinte orientao:Sete diretrizes para mudar o mau destino de uma pessoa:

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    1) Prtica sincera deGongyo eDaimoku.2) Prtica constante de chakubuku.3) Desenvolvimento contnuo por intermdio da f.4) Esprito de procura.5) Jamais ser vencido pelos obstculos.6) Lutar pelo Kossen-rufu com unio.7) Convico absoluta no Gohonzon.Samos de l completamente determinados a prosseguir com nossa

    meta. As advertncias dele agiram sobre ns como um encantamento.

    Recitamos horas deDaimoku, sem interrupo, ao voltarmos para casa.Como havia pedido ao senhor Izumi, no dia seguinte levei uma

    foto de nossa famlia (veja foto na pgina anterior), pois ele levariaao Japo para mostrar para o senhor Daisaku Ikeda, relatar nossadeterminao e pedir seu apoio para a nossa luta por meio de suasoraes.

    Renato no se surpreendia com nada. Estava sempre sorrindo eno deixava de recitar duas horas deDaimoku dirias. Suas atitudeseram maduras e a vontade de viver que emanava de seu ser contagiavaa todos.

    Meu filho queria recitar tambm o Gongyo conosco, mas era tonovinho e estava abatido. Pedi que a responsvel da comunidadeexplicasse a ele que no era necessrio, que j estava fazendo bastantepara uma criana de apenas 10 anos. Ele no deu ouvidos quelasenhora. No aceitou o que ela disse e aprendeu rapidamente a recitartambm o Sutra. Todos os dias sentava-se comigo e com Satiko erealizava o Gongyo da manh e da noite, alm das duas horas de

    Daimoku.Papai, tenho que fazer tudo o que posso para dar certo. Sou

    como voc, alegava ele.

    Filho, no complica. Est esforando-se demais. No inventa,no.Senti as lgrimas brotarem em meus olhos, mas permaneci forte,

    sem desmontar minha aflio, ao lado daquela criana que meensinava tanto.

    Ao concretizarmos a recitao de um milho deDaimoku Renato j

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    lia o Sutra completo, o que nos surpreendia e, ao mesmo tempo, nosenchia de alegria.

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    NOVOS DESAFIOS

    stava em casa. Aps realizar quatro horas de Daimoku demeu objetivo dirio, sentei-me no sof e comecei a ler o jornal

    Brasil Seikyo. O silncio era profundo. Estava to sensvel aps ashoras de recitao de Daimoku, que as palavras que lia mexiamprofundamente comigo. Aquele texto havia sido escrito por DaisakuIkeda e parecia direcionado para mim. Cada palavra ressoava comoum grande incentivo em meu corao.

    Inicialmente o texto citava uma cena na qual Charles Chaplin,desempenhando o papel de Calvero em Luzes da Ribalta, encorajauma jovem bailarina de nome Terry que havia perdido todas asesperanas pois suas pernas estavam paralisadas.

    A vida bela, algo magnfico. O problema que voc no luta.Voc desistiu, vivendo continuamente na doena e na morte. Mash algo to inevitvel quanto a morte que a vida! Vida! Vida!,dizia Calvero para a jovem, naquela cena.

    Pense na fora que existe no Universo fazendo mover a Terra ecrescer as rvores. Essa a mesma fora que existe em voc.

    Utilizando esse exemplo e compartilhando do mesmo pensamentode Chaplin, Daisaku Ikeda falava do poder existente no universo ena natureza, afirmando que o mesmo poder existe dentro de cadaser humano, s que adormecido. Alm disso, dizia que manifestaresse poder era o desafio de todos e que, por meio da recitao do

    E

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    Nam-myoho-rengue-kyo, tal proeza era possvel. Acrescentava aindaque o ato de abrir a porta do oratrio para fazermos oDaimoku eracomo se estivssemos abrindo a porta do universo. Eu pensava: isso mesmo! Vou acreditar neste potencial e faz-lo desabrochar.Sou capaz!

    A prpria vida o mais alto e o mais precioso de todosos tesouros do universo e nem mesmo os tesouros douniverso inteiro poderiam ser igualados ao valor de umanica vida humana. (Escrito de Nitiren Daishonin)

    Estava recitando o Daimoku ao lado de meu filho e notei umsutil sorriso em seu rosto. Seus olhos brilhavam intensamente eestavam fixos no Gohonzon. Sua voz era aguda e forte. Percebi quealgo diferente acontecia.

    Filho, o que foi?, perguntei suavemente para ele.Sem desviar seu olhar, resolutamente ele pediu que eu

    permanecesse em silncio.Respeitei seu pedido e continuei a recitao do Nam-myoho-

    rengue-kyo. Olhei em volta, escutei o som de nossas oraes e percebi

    que estvamos em ritmo perfeito.Eu no quis perguntar logo que terminamos o Daimoku quais

    eram as sensaes de Renato. Mas, conhecendo-o, estava certo deque algo tinha acontecido.

    Estava batendo um papo com o Gohonzon, falou-meespontaneamente.

    Como?, indaguei incrdulo e calmamente. Ento, ele comeoua me esclarecer o que tinha acontecido.

    No sei explicar, mas tive um sentimento maravilhoso. A cadeiraem que eu estava sentado desapareceu e senti que flutuava no ar.

    Tudo o que estava nossa volta sumiu, at voc. S enxergava oGohonzon iluminado e, ento, comecei a conversar com ele, comofazia com meus amiguinhos quando estava na escola.

    Com muita delicadeza, disse para ele que aquilo que me contavaera praticamente impossvel de ter ocorrido.

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    Ele no deu importncia para as minhas observaes. Saiu da salaem seguida, revigorado e feliz. Eu, ao contrrio, tive um medo repentinopensando que sua cabea tambm fora atingida pela doena e que, almdos tumores, agora ele tambm teria alucinaes.

    No comentei nada a ningum. S que no conseguia esquecer oque havia acontecido. Lembrava do sorriso sincero do meu filho edo brilho em seus olhos. Aquilo que vira era totalmente inexplicvelpara mim. Eu sentia que seu relato era verdadeiro, pois sua atitudeera de uma alegria inefvel. Mas como? No deixava de pensar

    naquilo nem por um instante.Ento, aps uma reunio, compartilhei o fato com a responsvel

    de distrito, Luiza, que pacientemente me falou.Fixe o relato de Renato em sua memria e jamais o esquea.

    Seu filho evidenciou o princpio budista Kyoti myogo. Talvez issono faa sentido para voc agora. No entanto, deixe que o tempopasse e entender quo extraordinria e rara foi a experincia queele vivenciou ao seu lado.

    Suas palavras eram indescritivelmente agradveis.Por alguns segundos, Renato entregou-se totalmente recitao

    e realizou a faanha mais incrvel para um ser humano. Ele fundiusua vida vida do universo, Lei Mstica, aoNam-myoho-rengue-kyo, falou-me convicta.

    Eu estava feliz, meus olhos marejaram. Uma exuberantetranqilidade me envolvia. Tornei a sentir um profundo bem-estare, estranhamente, minha apreenso sumiu. A noite iluminou-se.

    Trs dias depois, recebemos a visita de Silvia Saito, responsvelpela Diviso Feminina na poca, uma pessoa muito experiente queveio conversar especificamente com Satiko. Mesmo assim, dei um

    jeito de escut-la tambm. Minha curiosidade respeito da filosofia

    budista era enorme e no queria perder aquela oportunidade.Sua percepo foi impecvel e logo percebeu que o olhar de minhaesposa revelava uma grande confuso. Com cuidado e rigorosidadeconversou com Satiko.

    Se continuar confundindo a filosofia budista com a sua antigareligio, jamais obter os benefcios da prtica da f. Suas atitudes

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    no correspondem aos princpios budistas. Choramingar e lamentar-se pedindo que o Gohonzon salve, por favor, o seu filho, no resultarem benefcio. No adianta pedir ao Gohonzon desta forma. Nobudismo, no oramos para algum nos salvar. No budismo, oramospara desenvolvermos o nosso potencial de vitria e de sabedoriaque se encontra intrnseco em nosso ser. Esse potencial chama- seestado de Buda e sua manifestao possibilita-nos transformar ascircunstncias mais adversas de nossa vida.

    At agora a senhora ainda no se convenceu do poder do

    Gohonzon. A dificuldade sua, que a mesma de todos ns, a de seconvencer. Precisa acreditar que esse poder existe e que podemanifest-lo em sua vida e atingir a vida de seu filho.

    Calou-se por um momento. Sua fisionomia adquiriu umaexpresso suave.

    Satiko pediu que ela explicasse o que queria dizer quando falavade mudar a atitude.

    A senhora deve olhar fixamente para o Gohonzon e determinarfirmemente a cura de seu filho. Tem de sentir em seu corao que capaz e afirmar para si que comprovar o poder do Gohonzon em

    sua vida. Jamais deve chorar ou mesmo se lamentar.Agradeci, com toda a sinceridade, aquela orientao. Havia

    atingido, no s o corao de Satiko, como o meu tambm.

    Nunca procure o Gohonzonem outro lugar. Ele somentepode habitar o corao das pessoas comuns que abraamo Sutra de Ltus e recitam o Nam-myoho-regue-kyo.(Escrito de Nitiren Daishonin Resposta DamaNitinyo)

    Era sbado. O dia amanheceu chuvoso. rvores e arbustos em

    flor balanavam com o vento brando, e uma leve brisa tocava o meurosto tristonho.Fomos a um shopping para espairecer a cabea. Comemos

    hambrguer e tomamos sorvete.Ao ver pais passeando com seusfilhos sadios, fiquei com inveja, mas ao mesmo tempo desejei quenunca acontecesse com eles o que estava enfrentando, e pensei:

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    Gostaria de ser um pai que no amasse tanto o filho, pois sofreria menos.Renato no queria ir ao shopping por causa de seu cabelo, que tinha

    cado quase todo em conseqncia da radioterapia, mas foi bom termosido, assim pde distrair-se tambm.

    Quando estvamos completando dois milhes de Daimoku, oSansho Shima (Trs obstculos e quatro maldades) manifestou-seem nossa vida tentando interromper o prosseguimento de nossoobjetivo de recitar trs milhes deDaimoku.

    Um parente, sentindo pena de Renato por v-lo o dia todo em

    casa rezando juntamente conosco feito louco, imaginando o poucotempo de vida que ele tinha, ofereceu-lhe uma viagem Disneylndia, em Los Angeles, acompanhado de um dos pais.

    Agradeci sua gentileza, mas recusei o convite. Afinal, eu noqueria que o Renato viajasse para a Disneylndia como se fosse sualtima viagem da vida. Ento, pensei:Um dia o meu filho vaiconhecer a Disneylndia com sade. Tenho plena certeza disso. OGohonzon vai proporcionar-lhe essa viagem.

    Se professar o verdadeiro budismo, os Sansho Shimasurgiro em sucesso. Por esse motivo, jamais deverser influenciado ou amedrontado pro eles.(Escrito de Nitiren Daishonin Cartas aos irmos.)

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    DESAFIANDO O IMPOSSVEL

    enato estava muito debilitado. Havamos chegado ao fim dasegunda etapa de aplicaes de radioterapia e sua imunidade

    estava baixa. Ele quase no comia e estava emagrecendo cada vezmais. Minha esposa chorava ao v-lo tomando banho. Era dolorosover o seu estado fsico esqueltico, que lembrava uma crianasubnutrida. O Renato fazia exames de sangue (hemograma completo)periodicamente, de dez em dez dias. Os ltimos exames revelavam

    resultados desastrosos, motivo pelo qual a equipe mdica decidiusubmeter meu filho a aplicao de quimioterapia e solicitou um novoexame de sangue. No meu ntimo no desejava que fosse realizadatal aplicao porque o Renato sofreria ainda mais e sabia do seuefeito, completamente intil.

    Eu estava exausto. Tinha vivido um dos dias mais difceis deminha vida. Estava sentado, quieto, no queria falar com ningum.

    Samos de casa bem cedo. Havia uma nvoa cinza pairando noar; alis, para mim era tudo cinza e sem cor. Retirei o resultado dohemograma e levei meu filho e Satiko ao hospital. No percurso, no

    trocamos uma nica palavra. Concentrei minha ateno no caminhoe, em dez minutos, chegamos ao local. O medo aguilhoava o meuntimo. No tinha nenhum pensamento na cabea, sentia apenas umimenso desconforto.

    Entreguei o envelope ao oncologista, que imediatamente o abriue iniciou uma leitura detalhada. Ele olhava fixamente para o papel

    R

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    e, sem dizer uma palavra, levantou-se abruptamente e dirigiu-se sala da chefia do departamento.

    Decidimos adiar momentaneamente o incio do tratamento coma quimioterapia. O resultado do hemograma est excelente, comose o Renato nunca estivesse com cncer, disse o mdico, assim queretornou sala.

    Achei aquilo fora do comum. Como poderia ser? Aquele resultadorepentino e inesperado deixou-me agitado e feliz. Eu queria tercerteza de que era verdade, mas no tive fora alguma para questionar

    a deciso do mdico. Estava contente demais para isso.O inverno havia chegado fortemente. Os dias eram frios e

    cinzentos. Nunca senti um inverno to frio em minha vida quecastigava at a alma.

    Estvamos na reta final de nosso grande objetivo. Faltavam apenasoito dias para terminarmos os trs milhes deDaimoku.

    Depois de uma noite tranqila de descanso, levantamo-nos.Renato tossia muito e, ofegante, no conseguia respirar normalmente.Em menos de cinco minutos, ele estava transformado.

    Fiquei desorientado e confuso. Pensei que deveria ser uma

    gripe, pois sua imunidade estava muito baixa.Para ajud-l o a dormir e melhorar seu mal-estar, colocamos quatro

    travesseiros,- debaixo de sua cabea, no intuito de apaziguar a faltade ar que sentia. Ele no comia nada slido e sentia dificuldade atna ingesto de lquidos.

    Levei-o ao mdico para que fosse examinado. Assim que exa-minou Renato sua expresso se alterou, o que me causou apreenso.Ele pediu que narrasse detalhadamente os sintomas que Renatoapresentara nos ltimos dias. Ao terminar meu relato, encaminhouRenato imediatamente ao Raio-X.

    Aquela foi a espera mais longa de minha vida e os resultadosdaquele exame, desanimadores.Os dois pulmes do seu filho esto tomados pela metstase. A

    constante tosse e a falta de ar so decorrentes do comprometimentopulmonar do seu filho. O cncer se alastrou, tomou 100% do pulmodireito e 25% do pulmo esquerdo. O estado do seu filho critico,

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    muito provavelmente outros rgos vitais tambm esto comprometidos.No temos mais o que fazer. Sinto muito, ele no viver por muito maistempo. Acredito que sua vida esteja destinada a durar mais uma ou duassemanas.

    o fim, pensei.Havia chegado ao deserto de minha vida. No tinha mais foras

    para lutar e encontrava-me envolto em uma tristeza profunda.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o mdico me pediu

    que fosse forte e que prestasse muita ateno a suas explicaes.

    O melhor que podemos fazer nesse momento intern-lo. Pre-cisamos sed-lo para que no sinta mais dor. Daqui para frente eleno conseguir mais respirar e sentir dores violentas por todo ocorpo. No agentar. Seu corpo est fraco demais. Vou expedir aguia de internao e o senhor traga-o amanh para o hospital.

    Eu estava tonto. Mesmo que fechasse os olhos, continuava a vera imagem do mdico. Segurei minha cabea entre as mos e tenteino chorar. No quis olhar para os lados, porque aquele lugarincomodava meus olhos e fazia estremecer meu esprito. Comodeixaria Renato ali, sedado, pronto para a morte?

    Tudo o que eu havia feito teria sido em vo? Todo aquele proces-so pelo qual passava com minha famlia no teria adiantado nada?Como contaria aquilo para Satiko? Como ela reagiria? E Renato?Como contaria a deciso dos mdicos para todos?, perguntava-me.

    Um profundo desgosto tomou conta do meu ser. Estava acabado, semenergia. No sabia onde era a porta de sada do hospital. No a queriaenxergar, pois sabia que abriria a porta de um abismo ao sair dali.

    As palavras do oncologista me deixaram num estado de espritotruculento. Eu no conseguia aceitar o que ele me dissera.

    Fui para casa. Estava deprimido, meus ouvidos zuniam, estava

    sentindo calor, a cabea perturbada, sentia-me encabulado e, supo-nho, corado. Fui at Satiko e contei-lhe o parecer dos mdicos.Para minha surpresa, em vez de se abalar como era de se esperar,

    Satiko mostrou-se muito forte. No entendi sua reao. Acreditavaque ela desabaria emocionalmente. Mas ela estava mais forte doque nunca. Pediu-me que a levasse ao hospital para falar com a

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    equipe mdica que havia dado o diagnstico fatal.No pude contrariar seu pedido. Reuni as foras que ainda res-

    tavam em meu ser e levei-a ao hospital. Chegando l, Satiko pediu-me que no entrasse na sala. Explicou-me que queria conversarsozinha com os mdicos. Estava to desmotivado que no tive outrareao a no ser aceitar.

    Fumava um cigarro atrs do outro e aguardava minha esposaansiosamente. Cerca de uma hora depois, ela veio ao meu encontro.Olhou-me nos olhos e resolutamente comunicou-me:

    No internaremos nosso filho. No permitirei que seja sedadopara morrer. Disse aos mdicos que meu filho vai terminar seuobjetivo de realizar duas horas deDaimoku por dia, at que o nossoobjetivo seja atingido. Se concordarmos com essa soluo, ele fica-r sem conscincia e no ser capaz de cumprir sua meta. Ele umacriana forte e cumprir o seu objetivo, nem que seja o ltimo desua vida!, exclamou e dirigiu-se sada do hospital.

    No caminho para casa contou-me que uma mdica da equipeameaou-a dizendo que a iria processar por negar auxlio mdico aofilho; por no acatar a resoluo da junta mdica que estava

    acompanhando o caso do Renato. Gritou com ela chamando-a deme sem alma, sem amor, por no permitir ao filho uma morteserena, tranqila e sem dor.

    Eu no posso admitir essa soluo. No posso conceber a idiade deixar meu filho aqui. No vou intern-lo justamente por am-lodemais. Um dia vou traz-lo curado e com muita sade para visit-la. Pratico uma religio poderosa que curar meu filho. Estouconvicta disso e no vou desistir, contou-me Satiko, o que falara doutora Karina.

    Voc acredita em milagres? Voc acredita que algo cair do cu

    para reverter o quadro do seu filho? Esse milagre que voc procurano existe, pois se realmente fosse verdade no presenciaramostanto sofrimento vendo as pessoas perdendo seus entes queridos,respondeu friamente a mdica.

    A atitude de Satiko foi recebida com espanto por todos; atpor mim, que no acreditava em sua coragem.

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    Satiko confidenciou-me, dias depois, que ela mesma havia sesurpreendido com sua atitude e com o desafio que havia feito quelamdica.

    Senti um impulso incontrolvel naquele momento e no sucumbiao medo, concluiu com lgrimas nos olhos.

    Naquele instante, senti sua f. Enxerguei a fora de Satiko, queenfrentou sozinha aquela difcil situao. Se no fosse ela, por uminstante, eu teria fraquejado e me entregado.

    Na tentativa de me animar, alguns colegas de trabalho sugeriram

    que eu levasse meu filho para ser examinado por um mdico espritaque clinicava na cidade de Taubat, interior de So Paulo. Segundoeles, o mdico estava curando muitas pessoas do cncer.

    Fiquei com aquela idia na cabea e fui sede da BSGI paraconversar com o senhor Carlos Uno.

    Enquanto o senhor pensar que uma outra coisa vai curar a doenado seu filho, que no seja o Gohonzon, ele jamais se curar , falou-me rigorosamente.

    Tudo isso que est acontecendo a voc e sua famlia, deve serenfrentado. E voc continuar a lutar at que seja totalmente vito-

    rioso. Essa deve ser sua determinao. Com o esprito forte e comuma f inabalvel, deve acreditar no poder do Gohonzon.

    No disse mais nenhuma palavra para ele e despedi-me. Saindoda sede da BSGI encontrei um jovem, filho de imigrantes japonesespraticantes do budismo. O rapaz havia chegado do Japo naquelasemana. Ele falava portugus com muita dificuldade, mas tentoume consolar. Mais que isso, resoluto, disse-me que estava fazendotudo certo, mas teria de fazer algo a mais, se quisesse salvar o Renato.

    Alm do intensoDaimoku que est realizando, necessrio quepropague o budismo. Deve desejar extrair o sofrimento das pessoas,

    por meio da propagao do budismo, com a mesma intensidade quetenta encontrar a cura para a doena do seu filho. A concretizaode novos membros (Chakubuku) essencial para que o senhor possacortar definitivamente esse mal carma.

    Como mostrar que aquele ensino era real com meu filho beirada morte? Falaria com quem a respeito do budismo? Quem acre-

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    ditaria em mim? Responder quelas questes eram o meu maior desafio.Mesmo assim foi a poca em que fiz muito Chakubuku com a ajuda deRenato, comeando pelos meus pais e depois os meus sogros.

    Entre todas as aes, a ao de cuidar dos pais a maisimportante. Ainda mais, cuidar dos pais por meio da fna Lei Mstica, to perfeito como colocar gua lmpidanum vasilhame de ouro. (Escritos de Nitiren DaishoninResposta Dama Kubo-Ama)

    S meus pais e meus sogros tinham permisso para visitar o Renatono perodo em que realizvamos nosso grande objetivo de recitao detrs milhes deDaimoku.O mais surpreendente que, durante as visitas,eles nunca conseguiam falar com o neto, porque o Renato no paravaum minuto sequer de recitar oDaimoku. Parecia que era proposital,pois todas as vezes que os avs apareciam em casa ele estava orandoao Gohonzon.

    Certo dia, aps aguardar por uma hora sentado no sof da salaesperando que o neto encerrasse suas oraes, meu pai no agen-tou e, levantando-se, disse: Vou ajudar meu neto.

    Sentou-se ao lado de Renato e iniciou a recitao doDaimoku.De repente, meu sogro que acompanhava atentamente aquela cenatambm levantou-se e, sem pronunciar uma palavra, fez o mesmo,unindo-se aos dois.

    Quando olhei novamente, estavam minha me e minha sogra recitandoDaimoku com eles.

    Conseguira vencer mais um desafio. A partir daquele momento,no era apenas eu, Satiko e Renato enfrentando aquela batalha. Agoratnhamos ao nosso lado nossos pais, que haviam sido tocados pornossa f.

    ODaimoku que Nitiren recita agora, nos ltimos Diasda Lei diferente das eras anteriores. ONam-myoho-rengue-kyo a prtica para si e para os outros.(Escritos de Nitiren Daishonin Os Trs GrandesEnsinos Fundamentais )

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    Momento crucial

    ia que Renato piorava a cada dia desde o episdio do hospital.Seu corpo estava dominado pela doena e sua fora estava se

    esgotando. Estava magro demais e sua cabea sobressaa. Seus olhosestavam sem vida e arregalados, sua pele era apagada e sem cor.Sentia o fim muito prximo.

    Num dia chuvoso, levantei-me mais cedo e sa sem dizer umapalavra a Satiko. Antes de ir ao trabalho, passei no cemitrio doMorumbi e comprei um jazigo.

    Papai, no se preocupe, um dia eu irei enterrar o senhor, falou-me Renato assim que retornei para casa no incio da noite. Seusolhos fitavam-me firmemente.

    Tomei um tremendo susto. Senti um calafrio percorrer meu corpotodo. Aquelas palavras me deixaram arrasado. Ser que ele haviame seguido? Como ele sabia? No era possvel. Eu no tinhacomentado o que fizera a ningum.

    Examinei seu rostinho com ateno e cheguei concluso quemeu filho era mesmo uma pessoa muito especial. Por algum moti-vo, fiquei absorto olhando-o. Sentia-me encabulado e no consegui

    falar nada a respeito do que havia me dito. Seu comportamento era,realmente, inacreditvel.Quando uma pessoa atinge o estado de Buda, ela tem uma

    percepo muito afinada das pessoas e do ambiente que a cerca,observou Luzia, quando lhe contei o que havia ocorrido.

    V

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    Foi ento que entendi o que acontecera ao meu filho, que haviaadivinhado meus pensamentos. E no era s o Renato que tinhaesse dom. A dona Luzia teve uma grande percepo ao levar, na-quela mesma semana, minha casa, o ento vice-presidente da BSGI,o senhor Eduardo Taguchi, para me incentivar.

    Aprendi que no Budismo de Nitiren Daishonin vitria ouderrota. Sinto que minha derrota est bem prxima, porque meufilho vai morrer. Mesmo assim, quero transformar essa derrota emuma vitria, falei para ele, assim que comeamos a dialogar.

    Ele olhou para mim com um ar assustado. O que quer dizer comisso?, perguntou-me.

    Gosto tanto do meu filho que no suportaria a idia de viversem ele. Ento, depois que ele morrer, farei um objetivo to grandedeDaimoku que o trarei de volta tendo um outro filho com minhaesposa, num corpo perfeito e sadio. E, ento, essa ser a minhavitria, disse-lhe.

    Isto uma iluso, retrucou ele. Quem o senhor pensa que para decidir sobre a vida do seu filho? Enquanto existir vida hesperana. Portanto, ore com todas as suas foras para salvar o seu

    filho e no o enterre vivo, como o senhor est fazendo e determi-nando por meio de suas palavras.

    Fiquei perplexo e envergonhado. Acreditava que havia encon-trado a sada para o meu sofrimento e, pelo contrrio, estava sendoseveramente orientado de que aquilo era um grande absurdo.

    O senhor precisa confiar mais no Gohonzon. Busque, nasprofundezas da sua vida, uma f inabalvel, alm do seu limite, omximo que puder, como se extrasse gua do deserto ou acendessefogo numa lenha molhada, disse ele convicto.

    Aquelas palavras rigorosas abalaram o meu ser. Quis interferir,

    falar alguma coisa, mas me era impossvel. Como doeu em minhaalma imaginar o que eu estava fazendo.Conforme seu plano, quem pode garantir que vai ser mesmo a

    vida do seu filho que retornar ao seu convvio?, indagou-me.Senti uma profunda dor no peito, meu corpo todo se contraiu,

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    meucorao ficou apertado e eu tinha vontade de sumir dali. A nicacoisa que consegui fazer foi apertar sua mo e olh-lo nos olhos,arrependido.

    A partir daquele momento fortaleci e renovei minha deciso.

    O Budismo vitria ou derrota. Sendo assim, no impor-

    tando qual seja a adversidade pela qual estivermos

    passando, devemos triunfar sem falta. Ser vitoriosos em

    nossas batalhas uma prova de que estamos vivendo o

    caminho de mestre e discpulo corretamente, esse o

    verdadeiro caminho da f. (Daisaku Ikeda, presidente

    da SGl)

    As palavras do senhor Taguchi no saam da minha cabea eressoavam em meu corao. Estava to desnorteado que sa andandopelas ruas para refletir o que estava acontecendo em minha vida.

    Um amigo emprestou-me seu apartamento na Praia Grande eviajei com a famlia num final de semana prolongado. Acordei cedo,antes de o sol nascer e, sozinho, fui at a praia apreciar o mar, a

    natureza.Comeou a clarear, o horizonte ficou todo tingido de vermelho-

    alaranjado. Gaivotas riscavam o cu colorido. Os pescadoresarrumavam seus barcos. Era um cenrio maravilhoso, mas no es-tava completo. Minha alma estava triste, sentia-me infeliz. Viajarapara nos distrair, mas meu objetivo principal era que Renato to-masse sol, pois sua tez estava cada vez mais plida e esbranquiada.Era insuportvel v-lo assim. Confortava-me um pouco s o fato dever Renato corado, queimado de sol, dando-me a iluso de que estavabem.

    Certa ocasio, encontrei o jovem Ogata e contei-lhe que o estadode sade de Renato piorara e que, aps a descoberta da metstase dopulmo, sua vida estava chegando ao fim.

    No se preocupe, assim mesmo. RecitarDaimoku como abriruma torneira fechada h muito tempo. Ento, natural que, ao

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    abrirmos, saiam sujeiras e lodo em abundncia, acumulados no cano aolongo dos anos. E qual a nossa atitude ao ver aquela gua suja? deixara gua escorrer abundantemente at que se torne cristalina e lmpida. O

    Nam-myoho-rengue-kyo funciona assim em nossa vida, limpando-a dedentro para fora, retirando todas as nossas impurezas, disse ele,tranqilizando-me. Continue sua prtica e no desista.

    A situao era realmente desoladora. Nos sentamos rfos porquehavamos nos desligado da medicina convencional ao negarmos ainternao de nosso filho e estvamos totalmente mergulhados em

    nosso sofrimento.O que vamos fazer? E agora?, perguntei a Satiko.Conversamos muito e decidimos, por nossa conta, dar algumas

    vitaminas ao Renato, com o intuito de melhorar um pouco mais suaresistncia. Ele estava to fraco que, apesar de no afirmamosclaramente, tnhamos receio de que ele, talvez, fosse incapaz determinar seu objetivo deDaimoku.

    O farmacutico que trabalhava na drogaria que ficava na esquinada rua onde morvamos ia nossa casa todos os dias aplicar asinjees de vitaminas. Quando as dores ficavam muito fortes e

    intensas, ns mesmo ministrvamos alguns analgsicos. Vamosnosso filho definhar e no podamos fazer quase nada. Nossa deci-so j tinha sido tomada e continuaramos lutando at o fim.

    Nossa nica estratgia era permanecer firmes. Lembrando da-quele dias, penso que, sem a recitao do Daimoku, teramos su-cumbido.

    O sofrimento no infelicidade. Infelicidade ser der-

    rotado pelos sofrimentos. (Daisaku Ikeda)

    A nica coisa que o Renato conseguia ingerir era o caldo de carneque a Satiko preparava com todo o carinho de me e, delicadamenteoferecia-lhe a fim de fortific-lo.

    Hesitvamos, s vezes, mas Renato, nunca. Ele nos incentivavadizendo que estvamos na reta final e que seramos vitoriosos.

    Naquela terrvel semana, nosso filho teve uma forte crise. As

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    dores eram insuportveis e ele sofria muito. Os analgsicos j no faziammais efeito, mesmo ministrados em alta dosagem. Ele rolava na cama deum lado para o outro e gritava de dor. Estava todo suado e molhado.

    Deixei a Satiko com ele e corri at o Gohonzon. ReciteiDaimokucom todo o meu ser para que meu filho parasse de sofrer. Pouco apouco as dores foram diminuindo e alguns minutos depois nossofilho melhorou.

    Me, voc est sofrendo muito, eu sei. No chora, mame. OGohonzon est empilhando um monto de benefcios, que esto para

    desabar, a qualquer momento, sobre ns, acredite. Hoje a mametalvez seja a mulher mais infeliz do mundo. A hora certa e o momentoexato esto para chegar. Tenho a certeza de que, um dia, ser a memais feliz do mundo. Por isso, no perca a sua f no Gohonzon, porfavor, falou Renato para Satiko, assim que as dores foram cedendo.

    Jamais nosso filho falhou em seu objetivo de Daimoku. Mesmoquando estava com a sade terrivelmente precria, ele no falhava.Dividia a sua parte em vrias etapas por dia e no deixava de realiz-Ia.

    Certa vez olhou para mim e disse-me que, quando entrava emsintonia com o Gohonzon, suas dores cessavam e ele sentia a cora-

    gem de um leo.O engraado que eu tinha certeza que ele diria que sentia a

    coragem do seu heri favorito, o Nacional Kid, um super-heri desua poca, mas no. Ele afirmava, categoricamente, que sentia acoragem de um leo.

    ONam-myoho-rengue-kyo como o rugido de umleo. Que doena, portanto, pode ser um obstculo.(Escritos de Nitiren Daishonin Resposta a Kyo o)

    Oito dias se passaram - os mais longos de nossa vida. Terminamos onosso objetivo de trs milhes de Daimoku. Eu, Satiko e Renatotnhamos vencido as dificuldades e todos os obstculos que tentaramnos impedir. Mesmo sem nenhuma melhora aparente no estado de sadedo meu filho, sentimo-nos pela primeira vez depois daquele perodoobscuro, felizes.

    Orgulhosos, um sentimento de vitria arrebatou nossos coraes,

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    permeando aquele momento de nossa vida. Vamos um centmetro cbicode oportunidade aparecer. Estvamos atentos e ajustados a fim deaproveitar as oportunidades que apareceriam. Sabamos que algo teriade acontecer.

    Est bem!, falei para Satiko. Se no Budismo de Nitiren Dai-shonin no existem milagres, o que poder acontecer a partir deagora?

    Satiko olhou-me com ar de indagao. Sabia que ela no poderiaresponder quela pergunta, mesmo assim a havia feito.

    Se, como aprendemos no budismo, a vida um contnuo edinmico processo de mudanas, por que, ento, nossa vida seriauma exceo? Se estamos totalmente conectados ao ritmo da vida, lei de causa e efeito e aoNam-myoho-rengue-kyo, o que queremosser evidenciado, respondeu-me, para minha total surpresa.

    ***Araatuba, 20 de julho de 1973.

    Caro Tadashi e Satiko.

    Acabo de receber sua carta na qual voc relata o estado de sade de

    Renato.

    Trecho da cartaoriginal enviada

    por Tadashi(1973).

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    Imagino quo grande seja a sua dor e a de Satiko. No posso deixar

    de sentir profunda simpatia e solidariedade nesta hora de sofrimento.

    Apenas no concordo com uma coisa que voc mencionou na sua carta:

    Encorajado pela turma da minha comunidade budista, lutarei at o fim .

    Na frase acima, no teria voc admitido a derrota? Parece-me que

    voc inconscientemente admitiu a palavra do mdico como veredicto final.

    Creio na cincia mdica como uma das maiores conquistas humanas.

    Ela trouxe ao homem benefcios incalculveis e creio que continuar

    beneficiando-nos cada vez mais. Mesmo Nitiren Daishonin no dispensavaos cuidados de Shijo Kingo, que era um de seus discpulos admirveis e,

    alm disso, era um excelente mdico. O Gohonzon nos mostrou assim a

    validade e a importncia da cincia.

    Alis, a filosofia de vida do Budismo de Nitiren Daishonin a nica

    filosofia que prega a inseparabilidade da matria e esprito - Shiki-shin funi,

    revelada h 700 anos e que o mundo ainda ignora.

    Quando voc diz: Lutarei at o fim, no posso deixar de entender

    que voc determinou o fim antecipadamente. Estou certo de que voc chegou

    a um ponto importante na jornada da f. Um ponto ao qual eu prprio

    ainda no cheguei e que todos devero enfrentar para testar a f, mastenho certeza de que vocs vencero dando a comprovao real dos

    benefcios do Gohonzon.

    O exerccio budista sempre conseguir a comprovao real e, atravs

    dela adquirir uma convico inabalvel. Essa luta corajosa e constante

    acabar por mudar o prprio destino da sua famlia (carma).

    Takashi, estejam certos de que vocs no esto sozinhos nesta luta

    pela salvao do Renato, pois Marina, Haroldo, Anglica, Ceclia e eu

    estaremos enviando muito Daimoku para vocs.

    (Trecho de uma carta enviada por Tadashi em 20/7/1973.)***

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    Transformando o carma

    esmo aps o trmino de nosso objetivo, continuamos a re-citar intensoDaimku. Meu filho no saa mais da cama. Es-

    tava pesando treze quilos e no tinha foras para ficar em p.Nada do que eu jamais passara, nada do que eu fizera ou imagi-

    nara podia sequer comparar-se angstia e solido daqueles dias.Sabia que no podia evitar a dor e a tristeza, mas tentava no meentregar. Eu no suportava mais ver meu filho naquele estado; eume recusava a me despedir. No o fazia nem em pensamento.

    Satiko avisou-me que sairia para comprar velas. Quando retornoupara casa estava eufrica. Contou-me que no caminho decidiu recitarDaimoku na Sede, e que tinha feito contato com o Gohonzon, igualaos contatos que nosso filho realizava.

    A partir daquele instante, tive a certeza absoluta de que nossofi1ho no morrer!, exclamou ela.

    Aquela afirmao de Satiko me intrigara.Nesta casa o nico que no desenvolveu a f fui eu, disse a ela

    irritado.No dia seguinte, fomos uma reunio de budismo realizada pela

    comunidade que freqentvamos desde que iniciamos nossa prtica.Um companheiro da comunidade de nome Srgio, que conhecianossa histria e sabia do sofrimento que passvamos, veio conversarconosco.

    Tenho uma sobrinha que est praticamente curada do cncer.Ela iniciou h pouco tempo um tratamento alternativo, com um

    M

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    cientista bioqumico, e sua melhora notvel. Por que vocs no tentamesse tratamento?, disse entusiasmado.

    O sol j se punha no horizonte e um colorido laranja-claro re-fletia no local. Aquelas palavras fizeram com que meu estado deesprito mudasse subitamente. Senti uma alegria imensa e meus olhosbrilharam diante daquela nova possibilidade de cura.

    No dia seguinte, fui com Satiko, Renato e algumas amigas dacomunidade conhecer o bioqumico que curava portadores de cncer.

    Assim que chegamos, no gostei do que vi: o cientista tinha

    tiques nervosos, suas mos eram trmulas, sua barba estava malcortada e, ainda, fumava sem parar um cigarro atrs do outro.

    Lembrei das palavras de meu cunhado que, meses antes, afirmara quepais desesperados apelam para tudo na tentativa de salvar um filho doente.

    No mesmo instante, percebi que estava sendo pessimista demaisem meus pensamentos, afinal, eu nunca vira um cientista e, derepente, todos poderiam ser assim, meio esquisitos.

    No decorrer da consulta, ficou claro para ns que ele no era mdicoe tambm no estvamos convencidos de que era, realmente, cientista.

    Garanto a recuperao do seu filho com uma margem de 80%

    de certeza, disse ele, aps examinar o Renato, por quase quarentaminutos.

    Pena que se submetera radioterapia. S pegarei o caso porqueele no fez nenhuma sesso de quimioterapia, pois, se tivesse feito,comprometeria totalmente o tratamento e sua recuperao, afirmouolhando para mim com um ar de superioridade.

    Ao escutar suas palavras, agradeci ao Gohonzon o grande bene-fcio de o mdico, misticamente, ter cancelado as aplicaes dequimioterapia. Senti que os primeiros efeitos de nossas oraescomeavam a surgir.

    Quando ele comeou a explicar o tipo de tratamento que meufilho teria de enfrentar, no acreditei. Renato precisaria tomar, apro-ximadamente cento e quarenta medicamentos, comprimidos e l-quidos, divididos em trs intervalos dirios - manh, tarde e noite.O que mais me chamou a ateno foi que os medicamentos que eleprescrevera no eram fabricados ou vendidos por ele, mas sim

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    encontrados em farmcias. Alm disso, teramos que aplicar trintaampolas de injees, com medicamentos diversos, em uma seringade 20 ml, trs vezes ao dia. Segundo o cientista o tratamento durariacerca de seis meses e, dependendo da evoluo do Renato, osremdios, orais e injetveis diminuiriam gradativamente.

    Agradecemos a consulta e samos de l rapidamente. Sentia meludibriado e levado quele lugar em vo; jamais imaginara que aqueletipo de coisa pudesse existir. Fomos embora e expressei minhasimpresses a todos. Sentia uma grande angstia, um aperto na

    garganta, quando Satiko interrompeu o silncio que havia seestabelecido aps minhas palavras.

    Renato, voc suportaria fazer um tratamento to violento eassustador?, indagou.

    Com a prtica doDaimoku, embora fisicamente parea muitomal, estou totalmente fortalecido e com uma energia vital incalcu-lvel, capaz de enfrentar o que for necessrio. No reclamarei eresistirei ao tratamento por mais dificil que seja. Minha resposta sim, quero fazer. Vamos tentar. Esquisito ou no, falso ou no, essecientista ser apenas um instrumento do Gohonzon. A hora certa e o

    momento exato chegaram. No temos mais tempo a perder.

    O Gohonzon incorpora a vida do universo em sua formamais poderosa e concentrada. Como ns estamosintimamente ligados ao Gohonzon, nossa fora vitaltambm fica fortalecida ao mximo. (Daisaku Ikeda)

    O conhecimento adquirido de fora para dentro, e asabedoria, de dentro para fora. (Tsunessaburo Makiguti,fundador e primeiro presidente da SokaGakkai)

    Meu filho nem parecia uma criana de dez anos. Sua opinio me

    fez refletir e no tive dvidas; decidi que iniciaramos aqueletratamento imediatamente.Tive um momento chocante de compreenso. Lembrei-me do

    princpio budistaHendoku Yaku, que significa transformar o vene-no, em remdio.

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    Percebi que no tem importncia se ele for um mdico ou cientistafalso. Acompanhado de muitoDaimoku, podemos transform-lo ouinspir-lo para que o tratamento seja um total sucesso. Transformareitoda incerteza em uma grande comprovao, declarei enfaticamente.

    Quero deixar claro que estas palavras soaram em meu pensamentonum momento de incertezas e indecises. evidente que precisamosprocurar um timo mdico quando ficamos doentes. que, no meucaso, naquele momento, no havia mais nada que pudesse solucionar omeu grande problema - ele foi a nica e derradeira tbua de salvao.

    No tenho dvidas de que foi a comprovao do princpio deHendoku Yaku (Transformao do veneno em remdio). Em meu poucoconhecimento sobre o budismo, essa foi a explicao que encontrei.

    De manh fui a uma grande farmcia localizada na Praa da S, emSo Paulo, comprar os remdios prescritos pelo cientista. Quando estavasaindo do local, perguntaram-me onde era a minha farmcia. Isto porqueeu havia levado apenas os remdios para a primeira semana detratamento.

    Exame de sangue

    Os exames sempre deramresultados absurdos com

    leuccitos (glbulosbrancos) passando a casa

    dos 20 mil Eritrcitos(glbulos vermelhos)

    baixssimos. Estranhamente,

    neste exame feito em 3 demaio de 1973, deu tudonormal, e o oncologista

    suspendeu a quimioterapiaque estava prevista.

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    Ao saber que estvamos iniciando aquele tratamento, meu cunhadodespejou uma poro de perguntas sobre ns.

    Isso um verdadeiro absurdo. Esse tratamento muito forte, nenhumser humano suportaria tomar essa quantidade de remdios, disseimpetuosamente. Alm disso, quero o nome dele completo, paradenunci-lo ao Conselho de Medicina, continuou.

    Explicamos cuidadosamente para ele os motivos que noslevaram quela deciso.

    Pedimos que acreditasse que era a nossa nica e ltima

    alternativa e, assim, nos respeitasse, pois no tnhamos perdido arazo.

    Logo depois, conhecemos a sobrinha do senhor Srgio, quetambm estava fazendo aquele tratamento. Ela estava praticamentecurada. Irradiava alegria e sade. Ficamos muito animados e ima-ginamos nosso filho totalmente curado.

    Combinamos como seria nossa rotina: os enfermeiros do cien-tista viriam em nossa casa aplicar as injees no Renato trs vezesao dia; Satiko ministraria os remdios orais, obedecendo a rigorosaordem e os horrios estabelecidos.

    Na vspera do incio do tratamento, minha esposa teve uma fortecrise emocional. Ela chorava muito e rangia os dentes ininter-ruptamente. Parecia estar tendo verdadeiros espasmos de dor, co-briu o rosto e deitou-se enquanto seu corpo se sacudia. Ela sentiu opeso das palavras do meu cunhado, que afirmara que nenhum serhumano agentaria ingerir aquela quantidade de remdios.

    Acalmei-a, dizendo que tudo daria certo porque contaramossempre com a proteo do Gohonzon, do incio ao fim.

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    Incio da primavera

    niciamos o tratamento. Com a coragem que j havia demonstra-do, Renato aceitou tomar todos os medicamentos e, passou, penso,

    pela pior fase de sua doena.Desde o primeiro dia, colocava coisas muito estranhas para fora

    de seu corpo, vomitando e evacuando substncias esquisitas.Utilizvamos diversos tipos de produtos de limpeza, apelamos

    para tudo - incensos, gua perfumada, desinfetante - na tentativa demelhorar aquele cheiro horrvel, mas de nada adiantava.

    Lembrava das palavras do jovem Ogata: Deixe que a impurezasaia em profuso. No sabia o que estava acontecendo, mas tinhauma certeza: o organismo do meu fi1ho estava expelindo toda adoena, de uma maneira ou de outra.

    Alm dos medicamentos, pela manh Renato tomava um copode suco de cenoura, no almoo tomava agrio com beterraba e, no

    jantar, espinafre com rabanete. Os sucos s podiam ser feitos nacentrfuga e necessariamente deveriam ser puros, ou seja, os legumesno podiam ser misturados com gua. Para fazermos um copo de350 m1 de suco eram necessrias uma mdia de oito cenouras, doze

    rabanetes, quatro maos de espinafre ou mais.Aquilo tudo me parecia loucura, mas havia concordado em,cumprir os detalhes daquele tratamento e estava disposto a ir at ofim. Loucura ou no era nossa ltima chance.

    Naquela semana, participei de uma reunio de palestra onde fora

    I

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    abordado sobre a lei de causa e efeito, que um dos princpios maisimportantes no Budismo de Nitiren Daishonin.

    Nunca esquecerei as palavras do palestrante, que afirmara que avida eterna explicando o ciclo interminvel de nascimento e morte.Lembro-me nitidamente quando aquele senhor comparou o ciclo devida e morte com o dormir e o despertar de uma pessoa.

    Acordaremos descansados, naturalmente, aps um bom repou-so, uma boa noite de sono. No entanto, se algum for dormir comdvidas, acordar na manh seguinte com as mesmas dvidas. Ou

    seja, se no transformarmos nosso carma nesta vida, manifestare-mos essa mesma condio na prxima. Portanto, se sofremos nomomento presente porque fizemos causas nesta vida ou em vidasanteriores que justificam nossos sofrimentos. Mesmo que no noslembremos, todas as causas que realizamos em nossas existnciasesto gravadas e registradas nas profundezas de nossa vida. Essascausas ficam depositadas em nossa oitava conscincia, chamadatambm de conscincia ayala. Os efeitos dessas causas, cedo outarde, se manifestaro. Basta que a situao seja favorvel para queeles se manifestem. Entender o motivo de nossos sofrimentos e

    compreender que a vida vai alm do que vivenciamos diariamente,que a vida eterna e que no existe apenas o agora, nosso desafio,falou diligentemente.

    Compreendi que o Budismo de Nitiren Daishonin rigoroso eimplacvel, mas tambm justo e benevolente, por no existir pe-cado imperdovel, mas sim, causa e efeito. Percebi que a intensarecitao doNam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon capaz de trans-formar as causas negativas que cometemos no passado e, ento,aprofundei minha f e devoo.

    Se deseja saber as causas do passado, olhe para os

    resultados no presente. Se quiser saber o resultado no

    futuro, analise as causas no presente. (Sutra Shinjikan)

    A Lei da causalidade no reside em nenhum outro lu-

    gar, seno em nossa prpria vida. (Jossei Toda)

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    Os dias se passavam. Os remdios que havia adquirido para umasemana acabaram, felizmente. Digo felizmente pois haviam sepassado trs dias do prazo de vida dado pela medicina convencio-na1. Ao mesmo tempo, significava que Renato estava suportando agrande dosagem de remdios que ingeria.

    As explicaes j no me eram necessrias. O que importavanaquele momento era um dia de vida a mais para o Renato. Percebique eu havia modificado drasticamente minha personalidade eminhas atitudes no decorrer da doena de meu filho.

    Voltei drogaria e comprei remdios suficientes para duas se-manas de tratamento, pois sabia que meu filho sobreviveria; mes-mo estando to debilitado e passando muito mal, sabia que seriavitorioso.

    Aps completar vinte dias de tratamento, o cientista mandoudar ao Renato de manh nove gemas de ovos, diariamente.

    Tudo que receitava era exagerado. Eu no saa mais da farmciana Praa da S.

    Quando tudo isso vai acabar? At quando iremos sofrer?, eramperguntas que permaneciam em minha cabea.

    Aqueles que crem no Sutra de Ltus so como o in-

    verno; o inverno nunca falha em se tornar primavera.

    (Escritos de Nitiren Daishonin Carta a Myoti-Ama)

    Soube que seria realizado o Exame de Budismo para iniciantes.Mesmo muito atarefado, fiz um grande esforo e comecei afreqentar as reunies preparatrias onde eram explanados os temase ensinos que cairiam na prova. Lembro que na primeira aula a

    palestrante fez uma explicao minuciosa sobre o budismo. Quebudismo o nome que se d aos ensinos do Buda, que Buda signi-fica o iluminado entre outros pontos.

    A histria do budismo teve incio h aproximadamente dois mile quinhentos anos com o nascimento de Sidarta Gautama, umprncipe de um pequeno cl chamado Sakya, localizado prximo

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    fronteira da ndia, ao sul de Nepal central. Ainda jovem, contrarian-do o pai, renunciou vida palaciana e partiu em busca da verdadesobre os quatro sofrimentos da vida - nascimento, envelhecimen-to, doena e morte. No se sabe se foi com trinta ou trinta e cincoanos que ele conseguiu, aps privaes e sofrimentos, atingir ailuminao, sentado sob a rvore Bodhi em Bodhigaya, e assimdesvendou os mistrios da vida. Desse momento em diante, passoua ser chamado de Sakyamuni, o Iluminado. Acredita-se queSakyamuni tenha vivido at os oitenta anos e, antes de falecer,

    profetizado que aps aproximadamente dois mil anos de sua mor-te surgiria um Buda que completaria os seus ensinos, o Sutra deLtus: Conforme sua profecia, em 1222, nasce no Japo o BudaOriginal, Nitiren Daishonin, que estabeleceu o Verdadeiro Budis-mo deNam-myoho-rengue-kyo, a eterna Lei da Vida oculta nasprofundezas do Sutra de Ltus.

    Ao final da palestra, pedi que me explicasse, mesmo resumidamente,o significado doNam-myoho-rengue-kyo.

    Se colocarmos todas