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No holodeck: Maximizando a fluência oral no ensino de Língua Inglesa com aplicativos
SnapChat e WhatsApp
Jessica Tomimitsu Rodrigues (PG – UNIOESTE)
Resumo: O presente trabalho propõe-se a analisar a influência do uso da tecnologia no
processo de aquisição de Língua Inglesa para Nativos Digitais (PRENSKY, 2001). Para tanto,
uma proposta de atividade, embasada no uso do aplicativo SnapChat, será analisada à luz de
teorias da Linguística Cognitiva, dos estudos de Aquisição de Segunda Língua e da Linguística
de Corpus. O envolvimento dos alunos com uma atividade facultativa, extraclasse, objetiva
desenvolver a fluência oral em um ambiente digital, fazendo alusão ao holodeck. Busca-se,
então, resgatar atividades que condizem com o universo tecnológico em que os alunos se
encontram inseridos, visando o dinamismo e a interatividade na relação professor-aluno no
processo de ensino de Língua Inglesa. O corpus que constitui a pesquisa foi levantado no ano
letivo de 2016, de faixa-etária de 11 a 15 anos de alunos, com nível A1 (CEFR) no Programa
de Ensino de Línguas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Assim,
subsidiado pela Linguísitca de Corpus, a coleta, e consequinte, criação da corpora correlaciona-
se com a necessidade de armazenamento e processamento de dados, ampliados pelas vastas
possibilidades criadas pela informática. A intrínseca relação entre a Linguística de Corpus e a
informática compõem-se interdependentes na contemporaneidade.
Palavras-chave: Ensino de Língua Inglesa. Aplicativo SnapChat. Aplicativo WhatsApp.
Oralidade.
Abstract: The following paper aims at analyzing the influence of using technology upon the
process of English Language Acquisition for the Digital Natives (PRENSKY, 2001). To do so,
an activity was proposed, based on the use of the SnapChat application, will be analyzed under
the theories of Cognitive Linguistics, studies in the Second Language Acquisition area and
Applied Linguistics. The engagement of the students on the optional activity, outside the
classroom, intending to develop the oral fluency in a digital environment, alluding to the
holodeck. There is stated the purpose, then, of recalling on activities that are in consonance
with the technological universe students are born in, pointing at the dynamism and the
interactivity of the teacher-student relationship in the process of English Teaching. The corpus
that constitutes the research was gathered in the school year of 2016, age group from 11 to 15
years old, with student with A1 level (CEFR) in the Language Teaching Program of the
Western State University of Parana – UNIOESTE. This way, based upon the
Keywords: English Language Teaching. SnapChat. WhatsApp. Speaking.
Introdução
O sistema educacional brasileiro, incoerente com os preceitos cunhados na pós-
modernidade e na era da informação, requere, há muito, uma reformulação, objetivando a
formação integral do indivíduo do século XXI. Prensky, 2001, define esse novo perfil de
estudantes como nativos digitais, defendendo que: “Our students have changed radically.
Today’s students are no longer the people our educational system was designed to teach1”
(PRENSKY, 2001, p. 1). Enquanto a incoerência entre o modelo positivista de educação
perdurar, os nativos digitais estarão fadados a não atingir a plenitude de seu desenvolvimento,
em diversas áreas de sua formação.
Cabe aos facilitadores do conhecimento, aos processadores do universo de informações
presentes na World Wide Web, os professores, debruçar-se em novos caminhos metodológicos,
tendo os próprios alunos como guias (PRENSKY, 2001). Há de se considerar, também, a
necessidade inerente da nova configuração moldurada pela globalização do domínio crítico e
integral da Língua Inglesa, pelo seu atual status de língua franca, haja vista que “there has never
been a language so widely spread or spoken by so many people as English2” (CRYSTAL, 1997,
p. 139). Não há como predizer até onde a influência da Língua Inglesa atingirá, o indubitável,
entretanto, está no domínio atual do idioma sobre negócios, lazer, porém, em mais alto nível,
na educação e no universo digital.
No que tange a realidade brasileira, os dados do EF – English Proficiency Index (EF
EPI) de 2015 apresentam o Brasil na 41ª posição num ranking que considera 70 países no que
se refere a “saber inglês”. Fica expresso na pesquisa levantada a deficiência no domínio oral
do idioma, tendo o título de fluência baixa no panorama geral. O Paraná está entre os 10 estados
brasileiros de melhor fluência, com o 6º lugar, porém, ainda com o título de fluência moderada.
A partir desse panorama, e da urgência na proposta de novas metodologias de ensino
coerentes com o perfil dos nativos digitais, com a alta no uso de aplicativos para smartphones
e o acesso indiscriminado de estudantes na faixa etária de 11 a 16 anos, o presente trabalho
propõe-se a integrar o uso do WhatsApp e do Snapchat para potencializar a interação na Língua
Inglesa entre professor-aluno, configurando-se em um uso significativo do idioma.
Aplicativo Whatsapp e Snapchat
O uso da internet como ferramenta para aprimorar a fluência da Língua Inglesa
transcende a sala de aula tradicional, devido ao fato de que ambos, o inglês e a navegação
1 “Nossos alunos mudaram radicalmente. Os alunos de atualmente não são as mesmas pessoas para a qual o
sistema educacional foi moldado para ensinar” (PRENSKY, 2001, p. 1). Todas as traduções são de
responsabilidade do autor. 2 “Nunca antes houve uma língua tão amplamente difundida ou falada por tantas pessoas como o inglês”
(CRYSTAL, 1997, p. 139).
online, estão substancialmente presentes na vida de milhões de brasileiros. Com a guinada
tecnológica do século XXI, e o aprimoramento das tecnologias digitais juntamente com a
acessibilidade dos aparelhos de telefonia móvel, configura-se “em termos de smartphones, o
país tem a quinta maior base de aparelhos em uso no mundo, com 89,5 milhões de unidades,
atrás da China, Estados Unidos, Índia e Indonésia” (BORIFOUSE, 2015). Delineia-se,
portanto, no estado-da-arte da educação e dos nativos digitais, a necessidade da integração
entre internet, celulares e Ensino de Língua Inglesa.
O aplicativo desenvolvido para troca de mensagens de texto, áudio e vídeo gratuitas,
WhatsApp, criado em 2009 por Jan Koum, foi comprado em 2014 pelo presidente-executivo e
cofundador da rede social mais famosa no Brasil, Facebook, devido a visão de que “O
WhatsApp está no caminho para conectar 1 bilhão de pessoas" (ZUCKERBERG3, 2014, s/p).
De fato, os dados demonstram que o aplicativo conta com 450 milhões de usuários brasileiros,
dos quais 72% usam o aplicativo todos os dias apesar da ausência do aplicativo para
investimentos de divulgação/marketing:
Considerando pesquisa recente pela provedora de inteligência de mercado,
Nielsen, o WhatsApp é o aplicativo de smartphone mais popular no Brasil e
está presente em aproximadamente 70% dos smartphones no país. Conforme
sua popularidade cresce, o WhatsApp funciona como uma plataforma de
comunicação rápida e de amplo alcance para os brasileiros, por muitas vezes
atuando como um substituto para funções de outros serviços de mensagens
como o e-mail, SMS e redes sociais. (TEIXEIRA, s/p, 2015).
O aplicativo de mensagens textos para dispositivos móveis possibilitou, ainda, a
gravação e o envio de mensagens de áudio e de vídeos. Em pesquisa realizada no Brasil pela
Ericsson, dona de redes de telecomunicações, com o monitoramento do tráfego de dados,
concluiu que “o uso dele [WhatsApp] é maior ainda entre os mais jovens”, (RHODE4, 2015,
s/p). Nesse sentido, a proposta para maximizar a fluência oral dos alunos direcionada para a
gravação de vídeo e envio via WhatsApp.
3 Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/02/criado-em-2009-whatsapp-cresceu-mais-
rapido-que-facebook-em-4-anos.html>. Acesso em: 15 de Agosto de 2016. 4 Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/02/whatsapp-e-o-4-maior-aplicativo-da-internet-
movel-do-brasil.html>. Acesso em: 15 de Outubro de 2016.
O aplicativo Snapchat, criado em 2011, está, atualmente, entre os mais usados e
baixados no Brasil5, constatando-se que seu uso concentrado na faixa etária de 13 a 25 anos6,
dado que foi resgatado na pesquisa por meio de um questionário entregue em sala aos alunos.
A ideologia de criação do aplicativo que tem como mote fotos e vídeos que ficam
disponíveis por, no máximo, 10 segundos, segundo seu fundador e presidente-executivo Evan
Spiegel, é:
When we start communicating through media we light up. It’s fun. […]
Snapchat sets expectations around conversation that mirror the expectations
we have when we’re talking in-person. That’s what Snapchat is all about.
Talking through content not around it. With friends, not strangers. Identity
tied to now, today. Room for growth, emotional risk, expression, mistakes,
room for YOU. Snapchat focuses on the experience of conversation – not the
transfer of information7. (SPIEGEL, s/p, 2014).
Há, assim, uma tentativa de proposta que busca uma sintonia com os nativos digitais e
a ideologia de criação do aplicativo: a comunicação. O ambiente promovido pelo aplicativo
está com consonância com a ideia de que “on the internet, students of English have an authentic
context in which to share their lives through expressive narrative and eye-catching imagery on
social media organizers.8” (CHINNERY, 2004, p. 2). As relações sociais estabelecidas no
ambiente digital também é tema de breve análise neste trabalho, haja vista que o
relacionamento professor-aluno é fator interferente no envolvimento dos alunos na participação
da atividade. A mediação do docente é fundamental para que “their successes will come that
much sooner if their administrators support them9” (PRENSKY, 2001, p. 6). Dessa forma,
5 Segundo dados divulgados pelo jornal Gazeta do Povo online. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/tecnologia/popular-entre-jovens-snapchat-cresce-no-brasil-
b00ruo2obeskbhlr4wqr8i98u> Acesso em: 17 de maio em 2016. 6 Segundo dados divulgados pela UOL. Disponível em:
<http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/nacional/noticia/2015/11/11/conheca-o-snapchat-a-rede-social-
queridinha-dos-jovens-207417.php> Acesso em: 17 Maio de 2016. 7 Quando começamos a nos comunicar por meio da media, nós nos tornamos vivos. É divertido [...] Snapchat cria
expectativas em conversas que são espelhos das expectativas que temos quando conversamos pessoalmente.
SnapChat é sobre isso. Conversar com conteúdo, não fora isso. Com amigos, não com estranhos. Identidades estão
firmadas no agora, no hoje. Espaço para crescimento, risco emocional, expressão, erros, espaço para VOCÊ.
Snapchat foca na experiência de conversar – não na transferência de informações. (SPIEGEL, s/p, 2014). 8 “na internet, os alunos de Inglês possuem um contexto autentico em que é possível compartilhar suas vidas por
meio de uma narrativa expressiva e um imagético cativantes aos olhos nos organizadores de media social”
(CHINNERY, 2004, p. 2) 9 “seu sucesso virá muito mais cedo caso os administradores os ajudarem.” (PRENSKY, 2001, p. 6).
administrando a gama de possibilidades disponibilizadas pelo ambiente digital, idealizar-se-á
a alocação dos alunos da sala de aula convencional para o holodeck.
Proposta de Atividade
Na era da tecnologia, do acesso massivo à informação e da interligação entre as diversas
culturas da aldeia global, há duas habilidades imprescindíveis ao indivíduo do século XXI: o
domínio fluente, crítico e integral da Língua Inglesa e da literacia digital. O primeiro advém
do status de língua franca, atualmente ocupado pelo inglês; o segundo, da chamada sociedade
em rede (CASTELLS, 2005), onde tudo se compartilha e se constrói em colaboração dentro da
World Wide Web.
O aluno, consciente de todas essas transformações, é inserido em um modelo
educacional que não condiz com o estado-da-arte da revolução tecnológica e seus profundos
reflexos no indivíduo. Segundo Prensky (2010), o novo perfil de aluno, também denominado
nativo digital, anseia: “to be respected, trusted, and to have their opinions valued and count.
They want to follow their own interests and passions. They want to create, using the tools of
their time. […]. They want an education that is not just relevant, but real10.” (PRENSKY, 2010,
p. 3 - 4). É neste panorama que, nas atuais salas de aulas ao redor do mundo, há um desejo por
compartilhar opiniões, construir, navegar.
Os docentes da atualidade dispõem-se de uma vasta, quase infinita, rede de recursos
disponíveis a um clique. E ninguém melhor do que os próprios nativos para mostrar o caminho,
delineando, não apenas projetos, mas sendo responsáveis pela construção de seu próprio
conhecimento. Retira-se, portanto, o professor positivista da frente da plateia, para realocá-lo
ao lado do seu aluno, mediando-o, instigando-o, encorajando-o.
Nesse sentido, este trabalho propõe-se, antes de tudo, a fomentar uma mudança onde
realmente pode haver uma: no professor. O mundo digital é tangível, o único requisito é:
autorizar a entrada dos alunos no holodeck, visando uma educação integral, emancipadora e
criativa.
10 “para serem respeitados, confiados, e ter suas opiniões valorizadas e acreditadas. Eles querem seguir seus
próprios interesses e paixões. Querem criar utilizando as ferramentas do seu tempo. […]. Eles querem tomar
deciões e compartilhar o controle. Eles querem que sua educação não seja apenas relevante, mas real.”
(PRENSKY, 2010, p. 3 - 4).
Contexto de Aplicação: Programa de Ensino de Línguas (PEL)
O Programa de Ensino de Línguas configurou-se no contexto de aplicação da proposta.
Trata-se de uma atividade institucional vinculada à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná. Segundo a própria caracterização do programa: “O objetivo maior
do Programa de Ensino de Línguas (PEL) é apoiar às atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão
e promover a interação da universidade com a sociedade, através da oferta de cursos de línguas
à comunidade interna e externa11”. Os alunos do Programa são, portanto, em sua maioria da
comunidade interna (graduandos de diversas áreas, agentes universitários e docentes), e da
comunidade externa (não possui vínculo com a universidade) quando há vagas remanescentes.
Os profissionais empregados da instituição são, em sua grande maioria, qualificados e
graduados pela universidade.
O planejamento de ensino é anual, com a proposta de uso dos materiais didáticos da
Editora Pearson. O programa contempla conselhos de classe, reuniões pedagógicas com
professores e pais, assim como um ambiente educacional de ensino regular. O espaço físico
utilizado é cedido pela universidade, em sua própria edificação, e conta com cinco salas de
aulas e secretaria integrada com sala dos professores e sala de reuniões. O programa conta
atualmente com aproximadamente 63 turmas, 21 professores, 2 funcionários e, em média, 20
alunos por turma.
A opção pelo programa justifica-se pelo ambiente profícuo de aprendizado e pela
heterogeneidade dos alunos adolescentes, que, em sua maioria, de diversos backgrounds, optam
por um curso de idiomas a um valor acessível quando comparado às escolas de idiomas da
cidade, em contra turno escolar, quando em crianças e adolescentes, para aprimorar e reforçar
o ensino do idioma da escola regular. A regência da turma pesquisada no período letivo de
2016 proporcionou a pesquisadora e docente um mapeamento mais acurado dos dados
levantados, priorizando a identificação dos conteúdos estudados em sala.
11 Disponível em:
<http://www.cascavel.unioeste.br/index.php?option=com_content&view=article&id=24&Itemid=151>. Acesso
em: 31 de maio de 2016.
Levantamento e Análise de Dados
A análise da produção do aluno proporciona delinear o quanto e como o estudante
realmente apreendeu da Língua Alvo. Nesse sentido, um mapeamento se faz necessário:
A better approach might be to find out what learners actually do, as opposed
to what they think they do, when they try to learn an L2. One way of doing
this is by collecting samples of learner language – the language that learners
produce when they are called to use an L2 in speech or writing – and analyse
them carefully12 (ELLIS, p. 4, 1997).
O levantamento do corpus contemplou, portanto, a coleta de partes de fala dos alunos,
considerando-se a aplicação de um questionário em sala de aula e, a posteriori, o
encaminhamento da atividade de fala por meio do próprio ambiente digital, através de um vídeo
com o seguinte direcionamento: “Tell me about yourself”. Com o objetivo de produção do
maior número funções por parte dos alunos, previstas no aprendizado dos alunos no primeiro
e segundo bimestre dentro do programa de Ensino de Línguas da Unioeste – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, o direcionamento da atividade era amplo, subjetivo e
significativo, ao considerar-se que cada aluno falava sobre si mesmo.
Dentre os objetivos elencados para a análise dos dados coletados estão o envolvimento
dos nativos digitais com o ambiente digital para aprendizado de Língua Inglesa, o papel do
professor como motivador e facilitador do processo e a adesão dos alunos na proposta
apresentada. Tem-se, portanto, delineado que: “One of the goals of SLA, then, is the description
of L2 acquisition. Another is explanation; identifying the external and internal factors that
account for why learners acquire an L2 in the way they do13” (ELLIS, p. 4, 1997), sendo
adotado o viés explicativo, haja vista a impossibilidade de transcrição dos vídeos apresentados
na pesquisa, que dentro das limitações do aplicativo, possibilitam apenas 10 segundos de acesso
para cada vídeo e apenas 1 reprodução dos vídeos recebidos por dia.
12 Uma abordagem melhor pode ser encontrar o que os aprendizes podem de fato produzir, em oposição ao que
pensam que podem, quando tentam aprender a L2. Uma das formas de fazer isso é coletando amostras da
linguagem do aluno - a linguagem que eles produzem quando são direcionados a usar a L2 na fala ou na escrita
– e analisar cuidadosamente com eles. (ELLIS, p. 4, 1997). 13 Um dos objetivos da SLA, então, é a descrição da aquisição de L2. Outra é a explicação: identificar os fatores
externos e internos que são responsáveis para que os alunos apreendam a L2 da maneira como eles o fazem.
(ELLIS, p. 4, 1997).
O questionário entregue em uma turma de mesmo nível A1 (CEFR) do programa de
Ensino de Línguas da Unioeste, buscou elencar os aplicativos mais explorados entre os
adolescentes que possuem um SmartPhone, conforme ilustra Tabela 1:
Tabela 1
Fonte: Elaborado pelo autor
A opção pelo uso dos aplicativos WhatsApp e SnapChat,, conforme mostra a tabela 1,
se deu por maior adesão de usuários por parte dos alunos, em concomitância com a
representatividade de ambientes digitais que possibilitam explorar a produção oral dos alunos,
extraclasse.
Foi possível constatar com a pesquisa, a adesão de 15 alunos, 10 através do WhatsApp
e 5 através do aplicativo SnapChat. Do total de 25 alunos na sala pesquisada, o não engajamento
dos demais alunos na atividade, pode ser explicado pela dificuldade na motivação da faixa-
etária trabalhada, como aponta Ur, 2009: “Their learning potential is greater than that of young
children [...], but they may be considerably more difficult to motivate and manage, and it takes
longer to build up trusting relationships14”. (UR, 2009, p. 290). Eis instaurado o maio desafio
da pesquisa, a construção de relacionamento e de motivação aos alunos adolescentes para a
adesão na atividade proposta.
14 “Seu potencial de aprendizado é muito maior do que de crianças mais jovens [...], mas eles podem ser
consideravelmente mais difíceis de motivar e administrar, e leva mais tempo para construir relacionamentos.”
(UR, 2009, p. 290).
Uso de Aplicativos
Facebook SnapChat WhatsApp Instagram
A partir da transcrição dos dados levantados, o software Wordsmith Tools foi utilizado
como ferramenta para o levantamento de dados. Segundo Berber Sardinha (2009), o
Wordsmith Tools é uma referência para a exploração de corpus para quem utiliza o sistema
operacional Windows.
O programa Wordsmith Tools disponibiliza ferramentas como extrator de frequência
de palavras (Wordlist), elencadas por ordem alfabética ou de frequência; comparador de
frequências (KeyWords), computando estatisticamente a diferença entre frequências; e uma
ferramenta para mapear a concordância das palavras no texto (Concord), e, oferecendo,
também, uma ferramenta que torna possível apontar e contabilizar blocos lexicais no texto
(Clusters). A partir da ferramenta Wordlist, disponibilizada pelo programa WordSmith Tools,
foi possível fazer o levantamento da frequência das palavras a partir da transcrição dos vídeos:
Tabela 2:
Fonte: Elaborado pelo autor
Com o uso do software em sua versão demonstrativa foi possível fazer o mapeamento
das 25 palavras mais frequentes na fala dos alunos. Com uma atividade que valoriza a fala,
prima-se, prioritariamente, por sua individualidade na construção de conceitos e no processo
de descobertas em concomitância com a aquisição de língua inglesa, fato explícito na
frequência de uso do léxico “my”, “name”, “favorite” e “teacher”. Trata-se, sob a perspectiva
da linguística cognitiva. da construção de “significado como resultado de relações intra e
extralinguísticas – engloba aspectos textuais, cognitivos, interativos e sociais” (MOTTER,
2013, p. 97), por meio da experiência do aluno na língua-alvo.
A acomodação dos conteúdos (vocabulário, estrutura e mesmo pronúcia) trabalhados
até o mês de julho, aparecem em grande esfera nas falas dos alunos, destacando que: “given
the same amount of exposure to a foreign language, there is some evidence that the older the
child the more effectively he or she learns [...], probably teenagers are overall the best
learners15.” (UR, 2009, p. 286). Subsidiado pelos dados, foi possível identificar o uso adequado
da exposição do nome (“My name’s”) e também de preferências (“favorite kind of music/
movie/ color...”). Ressalta-se o uso da conjunção “and” que faz a ligação entre as frases,
adicionando informações.
Das palavras de menos frequência, como “birthday”, “blue” e “cat”, pode-se considerar
que são parte do conteúdo mais recentemente trabalhado, indicando que poucos alunos se
sentem confiantes para instrumentalizar tais conhecimentos na fala. Nesse sentido, há a
necessidade de proporcionar em sala de aula maior contato e uso das estruturas possíveis, para
internalização e aquisição da linguagem, como aponta Johnson (1995):
Second language students enter classrooms with an accumulation of prior
experiences and knowledge through which they interpret the world around
them. Embedded in this knowledge is their use of language, the medium
through which they represent their experiences to themselves and to others.
When students are forced to operate in a second language, they must acquire
new means of encoding and representing their experiences. This involves
much more than grammatical competence in the linguistic structures of
language16 (JOHNSON, 1995, p. 13).
A relação entre professor-aluno foi fator crucial no desenvolvimento e participação das
atividades extraclasse, com o uso frequente do vocativo “teacher”. Ressalta-se, assim, o
relacionamento de confiança estabelecido no processo de ensino-aprendizagem, subsidiado
15 “dado o mesmo período de tempo de exposição a uma língua estrangeira, há algumas evidências que quanto
mais velha a criança mais efetivamente ela aprenderá [...], adolescentes provavelmente são, em geral, os melhores
aprendizes.” (UR, 2009, p. 286) 16 Alunos de Segundo idioma entram nas salas de aula com um acúmulo de experiências anteriores e conhecimento
pelo qual interpretam o mundo ao seu redor. Ligados a esse conhecimento está o uso da linguagem, por meio do
qual eles representam suas experiências para si e aos outros. Quando esses alunos são forçados a operar na segunda
língua, eles devem adquirir novos meios de codificar e representar suas experiências. Isso envolve muito mais do
que competência gramatical nas estruturas linguísticas da língua. (JOHNSON, 1995, p. 13).
pela perspectiva da língua como interação social, ou seja, “as a means of interaction with
people, language is a social phenomenon. It enables us to give public expression to private
experience and so to communicate and commune with others, to arrive at agreed meanings and
to regulate relationships17” (WIDDOWSON 1996, p. 20). Como um fenômeno social, através
dos aplicativos, há uma interação significativa na língua-alvo, além de partir da esfera pessoal
e usar-se da oportunidade de existir na língua inglesa, trata-se de uma mensagem destinada a
um receptor conhecido.
Considerações Finais
A necessidade do aprendizado de língua inglesa na sociedade globalizada reflete,
sobretudo, nas relações estabelecidas em sala de aula. Questões que envolvem a aquisição de
segunda língua, a compilação de materiais didáticos, a relação entre língua e cultura são cada
vez mais discutidas e analisadas de modo a promover uma integração entre Linguística
Aplicada e Ensino, tendo em vista que:
Language is a lived experience intimately involved with people’s sense of
worth and identity. It does not lead itself to easy or simple answers. […]
language also has aspects […] that can be enriched by institutionalized
reflection and academic research. The task of applied linguistics is to mediate
between these two very different perspectives18. (COOK, 2003, p. 20).
A mediação entre as pesquisas linguísticas e seus reflexos na sala de aula, sob essa
perspectiva, só é possível no campo da Linguística Aplicada. A partir da aplicação da proposta
pedagógica subsidiada pelo levantamento teórico do perfil do aluno na sociedade digital, em
concomitância com o papel da língua inglesa, demonstrou que os alunos se engajaram na
proposta online por ser atrativa e coerente com a realidade digital deles.
É assim que a Linguística Aplicada corrobora com a relação entre o conhecimento e a
tomada de decisões na sala de aula, por um profissional que, atento às teorias linguísticas,
17 “Como um dos meios de interação entre pessoas, a língua é um fenômeno social. Ela nos possibilita expressar
publicamente expressões particulares e comunicar e comungar com outros, para chegar a acordos de significados
e regularizar relacionamentos.” (WIDDOWSON 1996, p. 20). 18 A língua é uma experiência viva, intimamente ligada com o sentimento de valor e identidade das pessoas. Ela
não leva a respostas fáceis ou simples. [...] A língua possui vários aspectos [...] que podem ser enriquecidos por
reflexões institucionalizadas e pesquisas acadêmicas. A tarefa da linguística Aplicada é medias essas duas
perspectivas diferentes. (COOK, 2003, p. 20).
métodos e abordagens, opta por um trabalho que frutifique à medida que dialoga com seus
alunos.
O questionário realizado em sala reforçou a ideia de que os alunos, com o progresso das
tecnologias de informação e de comunicação, a cada ano, chegam à escola mais preparados
para lidarem com os aparatos tecnológicos disponíveis, e cada vez mais diversificados, no
mercado. Nesse contexto digital, a escola, em concomitância com o contexto, deve assumir a
vasta quantia de possibilidades que o ambiente digital produz, principalmente no que tange ao
ensino de idiomas.
Deve-se, também, superar os métodos escolásticos da visão positivista de ensino, da
centralização na figura do professor detentor de todo o conhecimento e também da escola como
uma instituição que, especificamente, ensina apenas gramática e tradução, como também a
quebra de paradigma, proveniente tantos das classes elitizadas detentoras de poder político e
econômico como também dos responsáveis envolvidos na educação, ao partir do pressuposto
de que o ensino de inglês das escolas públicas não funciona.
Há de se considerar que tal proposta só pode avançar para a sala de aula com o auxílio
de um profissional da área da educação ativo, pesquisador em sua sala de aula, que:
encoraje os alunos tanto a estabelecerem relações entre conteúdos quanto a se
tornarem mais ativos, criativos, autônomos e responsáveis pela sua
aprendizagem têm o potencial de incentivar não só a construção do
conhecimento aqui e agora, mas também de contribuir com a formação de
cidadãos que procurem aprender a aprender por si mesmo, que sejam
inquisitivos e que busquem novos caminhos e soluções durante suas vidas
pessoais e profissionais (TORRES, MARRIOT; 2008, p. 224).
Um professor engajado com o processo de ensino que une o desafio de estender a
possibilidade de um segundo idioma, de status como a língua inglesa, concomitantemente à
consciência crítica de um indivíduo que existe, com proficiência, na língua inglesa que
atualmente, “caminha” por veredas tecnológicas.
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