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NORMA PENAL EM BRANCO Segundo Rogério Greco, ob. cit. p. 24-26 - Normas penais em branco são aquelas em que há uma necessidade de complementação para que se possa compreender o âmbito da aplicação de seu preceito primário. Isso significar que, embora haja uma discrição da conduta proibida, essa descrição requer, obrigatoriamente, um complemento extraído de um outro diploma - leis, decretos, regulamentos etc - para que possam, efetivamente, ser entendidos os limites da proibição ou imposição feitos pela lei penal, uma vez que, sem esse complemento, torna-se impossível a sua aplicação. Suponhamos que João, armado com um revólver, atire em Pedro, desejando matá-lo, vindo a alcançar o resultado por ele pretendido. Analisando o art. 121, caput, do Código Penal, verificamos que em seu preceito primário está descrita a seguinte conduta: "matar alguém". O comportamento de João, como se percebe, amolda-se perfeitamente àquele descrito no art. 121, não havendo necessidade de recorrer a qualquer outro diploma legal para compreendê-lo e aplicar, por conseguinte, a sanção prevista para o crime por ele cometido. Agora, imaginemos que Augusto esteja trazendo consigo certa quantidade de maconha, para seu uso, quando é surpreendido e preso por policiais. O art. 28, da Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006 possui a seguinte redação: "Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:" No caso de Augusto, como podemos concluir que ele praticou a conduta descrita no art. 28 da Lei n° 11.343/2006 se não está expressamente escrito em seu texto quais são as substâncias consideradas entorpecentes ou aquelas que causem dependência física ou psíquica que são de uso proibido. O álcool e o cigarro, como se sabe, causam dependência física ou psíquica. Será que se fumarmos um cigarro ou ingerirmos certa quantidade de bebida alcoólica estaremos cometendo a infração prevista no art. 28 da Lei Antitóxicos? A partir do momento em que tivermos de nos fazer essa pergunta, ou seja, a partir do instante que necessitarmos buscar um complemento em outro diploma para que possamos saber o exato alcance daquela norma que almejamos interpretar, estaremos diante de uma norma penal em branco. Diz-se em branco a norma penal porque seu preceito primário não é completo. Para que se consiga compreender o âmbito de sua aplicação é preciso que ele seja complementado por um outro diploma, ou, na definição de Assis Toledo, normas penais em branco "são aquelas que estabelecem a cominação penal, ou seja, a sanção penal, mas remetem a complementação da descrição da conduta proibida para outras normas legais, regulamentares ou administrativas. No caso do art. 28 a Lei de Entorpecentes, somente após a leitura da Portaria expedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), autarquia sob regime especial vinculada ao Ministério da

Norma Penal Em Branco

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Direito penal

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  • NORMA PENAL EM BRANCO Segundo Rogrio Greco, ob. cit. p. 24-26 - Normas penais em branco so aquelas em que h uma necessidade de complementao para que se possa compreender o mbito da aplicao de seu preceito primrio. Isso significar que, embora haja uma discrio da conduta proibida, essa descrio requer, obrigatoriamente, um complemento extrado de um outro diploma - leis, decretos, regulamentos etc - para que possam, efetivamente, ser entendidos os limites da proibio ou imposio feitos pela lei penal, uma vez que, sem esse complemento, torna-se impossvel a sua aplicao. Suponhamos que Joo, armado com um revlver, atire em Pedro, desejando mat-lo, vindo a alcanar o resultado por ele pretendido. Analisando o art. 121, caput, do Cdigo Penal, verificamos que em seu preceito primrio est descrita a seguinte conduta: "matar algum". O comportamento de Joo, como se percebe, amolda-se perfeitamente quele descrito no art. 121, no havendo necessidade de recorrer a qualquer outro diploma legal para compreend-lo e aplicar, por conseguinte, a sano prevista para o crime por ele cometido. Agora, imaginemos que Augusto esteja trazendo consigo certa quantidade de maconha, para seu uso, quando surpreendido e preso por policiais. O art. 28, da Lei n 11.343, de 23 de agosto de 2006 possui a seguinte redao: "Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depsito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar ser submetido s seguintes penas:" No caso de Augusto, como podemos concluir que ele praticou a conduta descrita no art. 28 da Lei n 11.343/2006 se no est expressamente escrito em seu texto quais so as substncias consideradas entorpecentes ou aquelas que causem dependncia fsica ou psquica que so de uso proibido. O lcool e o cigarro, como se sabe, causam dependncia fsica ou psquica. Ser que se fumarmos um cigarro ou ingerirmos certa quantidade de bebida alcolica estaremos cometendo a infrao prevista no art. 28 da Lei Antitxicos? A partir do momento em que tivermos de nos fazer essa pergunta, ou seja, a partir do instante que necessitarmos buscar um complemento em outro diploma para que possamos saber o exato alcance daquela norma que almejamos interpretar, estaremos diante de uma norma penal em branco. Diz-se em branco a norma penal porque seu preceito primrio no completo. Para que se consiga compreender o mbito de sua aplicao preciso que ele seja complementado por um outro diploma, ou, na definio de Assis Toledo, normas penais em branco "so aquelas que estabelecem a cominao penal, ou seja, a sano penal, mas remetem a complementao da descrio da conduta proibida para outras normas legais, regulamentares ou administrativas. No caso do art. 28 a Lei de Entorpecentes, somente aps a leitura da Portaria expedida pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), autarquia sob regime especial vinculada ao Ministrio da

  • Sade, que poderemos saber se esta ou aquela substncia tida como entorpecentes, para fins de aplicao do mencionado artigo. Muitas vezes, esse complemento de que necessita a norma penal , geralmente, fornecido por outra lei, ou, como vimos acima, no caso do art. 28 da mencionada lei, por algum outro diploma que no uma lei em sentido estrito. Por essa razo, a doutrina divide as normas penais em branco em dois grupos: a) normas penais em branco homogneas (em sentido amplo), quando o seu complemento oriundo da mesma fonte legislativa que editou a norma que necessita desse complemento. Assim, no art. 237 do Cdigo Penal, temos a seguinte redao: "Art. 237. Contrair casamento, conhecendo a existncia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - deteno, de 3(trs) meses a 1(um) ano." Para respondermos pela prtica do aludido delito, preciso saber quais so os impedimentos quelevam decretao de nulidade absoluta do casamento. E quais so eles? O art. 237 no esclarece. Temos, portanto, que nos valer do art. 1.521, incisos I a VII, do Cdigo Civil para que a referida norma penal venha a ser complementada e, somente aps isso, conclumos se a conduta praticada pelo agente tpica ou no.

    b) normas penais em branco heterognea, ou em sentido estrito, quando o seu complemento oriundo de fonte diversa daquela que a editou. No caso do art. 28 da Lei de Entorpecentes, por exemplo, estamos diante de uma norma penal em branco heterognea, uma vez que o complemento necessrio ao referido artigo foi produzido por uma autarquia (ANVISA) veiculada ao Ministrio da Sade (Poder Executivo) e a Lei 11.343/2006, foi editada pelo Congresso Nacional (Poder Legislativo). Assim, para que possamos saber se uma norma penal em branco considerada homognea ou heterognea preciso que conheamos sempre, sua fonte de produo. Se for a mesma, ser ela considerada homognea; se diversa, ser reconhecida como heterognea.

  • CONFLITO APARENTE DE NORMAS

    O que o Conflito aparente de normas? Ocorre quando temos duas ou mais normas que "parecem" enquadrar perfeitamente a um mesmo caso (crime).

    O que preciso para se ter um Conflito Aparente de Normas?

    necessrio:

    Unidade do fato (um fato a ser analisado)

    Pluralidade de Normas ( vrias normas "concorrendo" para reger o fato)

    "Aparente" aplicao de todas as normas (pois somente uma poder reger o fato)

    efetividade da aplicao de apenas uma norma.

    O conflito aparente por no ser possvel vrias normas regerem um mesmo caso, da aplica-se 4 (quatro) princpios para resoluo da dvida do Conflito:

    Subsidiariedade Especialidade Consuno Alternatividade

    "SECA" Obs: No necessrio o uso de todos os princpios, a aplicao de apenas um o suficiente para a resoluo do Conflito.

  • 1- Princpio da Subsidiariedade

    Usada quando se percebe que a norma primria abrange "todo" o fato, quanto que a subsidiria descreve apenas uma parte do fato, por isso ela ser absorvida pela primria.

    Ex.: O agente efetua disparos de arma de fogo com inteno de matar (dolo) a vtima, mas no consegue atingi-la. Neste exemplo, trs normas, aparentemente, so aplicveis - art.132: expor a vida ou a saude de outra ao perigo (ao efetuar o disparo contra a vtima) - art. 15: disparo da arma de fogo (por efetuar o disparo) - art. 14, II, C.P.: tentativa de homicdio (no consegue mata-la) Percebemos que as normas do art. 132 e art. 15 so apenas partes do que ocorreu, vista da anlise do fato. Elas so subsidirias. Elas cabem no art. 14. pois este artigo abrange todo o fato descrito. (norma primria) Existem dois tipos de subsidiariedade: 1.1 subsidiariedade expressa ou explcita:

    Em seu texto, a norma reconhece o seu carter subsidirio

    Neste caso, se no for caracterizado ao fato uma maior gravidade, ela poder incidir sobre ele. Ex.: art. 132, C.P Expor a vida ou a sade de outrem, a perigo direto e eminente

    Pena: deteno de 3 meses a 1 ano, se o fato no constituir crime mais grave.

  • 1.2 subsidiariedade tcita ou implcita:

    ao contrrio da anterior. A norma no trs consigo, no texto, se subsidiaria, mas ao analisar o caso concreto, verifica-se implicitamente, sua subsidiariedade. Ex.: com uso da violncia, a vtima constrangida a entregar seu pertence ao agente.

    O constrangimento ilegal do art.146, CP, ocorre na situao do exemplo, no entanto, norma subsidiria implcita, pois s a percebemos na anlise do caso concreto. O art. 157 do CP melhor se encaixa no caso por descrever o roubo (norma primria). Art. 157 - Subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaa ou violncia a pessoa, ou depois de hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia: Pena - recluso, de quatro a dez anos, e multa.

    2- da Especialidade

    Lei especial prevalece sobre a lei geral Obs.: A lei especial contm todos os elementos que a norma geral prev, no entanto, tambm, possui os elementos especializantes, os quais melhor tipificam o crime. Ex.: Matar algum art. 121, CP (homicdio) Matar o prprio filho (homicdio) sob influencia do estado puerperal, durante ou logo aps o parto (elementos especializantes) art. 123, CP (infanticdio) Art. 123 - Matar, sob a influncia do estado puerperal, o prprio filho, durante o parto ou logo aps: Pena - deteno, de dois a seis anos. 3 - Principio da Consuno ou absoro

    Um crime com lei mais ampla abrange a lei mais restritiva. Ocorre que o fato maior (mais amplo), absorve, consome os demais, os

    quais atuam como etapa para a consumao do fato maior ou mais gravoso.

  • Ex.: um elemento dirige um automvel em alta velocidade e acaba por atropelar uma pessoa, a mesma vem a morrer no acidente. O delito menor (direo perigosa) atua como etapa, ou causa, para o homicdio culposo, que o delito maior. O principio da Consuno ocorre nos seguintes casos 3.3.1 Crime progressivo

    O dolo inicial do agente atingir um delito especfico, e por meio de inmeros atos sucessivos (crime menos grave), produz um resultado mais grave, que era o dolo inicial

    Elementos para se alcanar o crime progressivo 1 unidade de elemento subjetivo 2 unidade de fato 3 pluralidade de atos 4 progressividade na leso ao bem jurdico

    Com o crime progressivo, o agente responder apenas pelo resultado final, aps atos lesivos sucessivos. Ex.: A inteno do agente matar a vtima, para isso, desfere sobre ela sucessivos socos e pauladas (leso corporal crime usado para alcanar dolo inicial), a vtima, com isso, vem a falecer no local. (homicdio crime mais grave dolo concretizado).

    3.3.2 Progresso Criminosa O dolo inicial do agente diferente do resultado. Aps atingir o dolo inicial, cria-se no agente, a vontade de cometer outro

    delito, na mesma vtima, delito este maior que o que ele pretendia cometer (o primeiro crime). Elementos caracterizantes da progresso criminosa 1 pluralidade de vontade (dolo) o agente deseja inicialmente, a prtica de um crime, ao alcanar o objetivo, resolve cometer outro, de maior gravidade, ou seja, ele possui mais de uma vontade ao decorrer do crime. 2 - pluralidade de fatos h mais de um crime. 3 - progressividade na leso ao bem jurdico o primeiro crime provocava leso menos grave do que o ultimo e por isso aquele ser absorvido pelo ultimo.

    O agente responder pelo delito de gravidade maior (ltimo dolo)

    3.3.3 Antefactum impunvel

  • Fatos anteriores no punveis so aqueles delitos praticados antes do crime em si.

    So delitos cometidos especialmente como meio para se alcanar o crime principal e mais grave. Ex.: para furtar objetos de dentro da casa de algum necessrio invadi-la (crime de invaso de domicilio). No entanto, o meliante responder apenas por furto.

    3.3.4 post factum impunvel So fatos posteriores no puneis aqueles ocorridos aps realizao do

    delito, agindo sobre o mesmo bem jurdico, afim de usufruir do primeiro crime. Obs.: para aplicao do principio da consuno, os crimes so cometidos no mesmo contexto, sendo que o menos grave absorvido pelo mais grave. 4 - Princpio da Alternatividade

    Usado quando a norma descreve vrias formas de se praticar o mesmo crime.

    O tipo penal possui diversos ncleos A realizao de uma ou de todas as formas de se praticar o crime em

    questo no faz com que o agente acumule crimes. Ex. art. 33 da lei 11, 343 (lei de drogas)

    Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor venda, oferecer, ter em depsito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar: Pena - recluso de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Mesmo que o agente produza, exporte, venda, sempre configurar em um s crime.

  • DIFERENAS ENTRE OS PRINCPIOS UTILIZADOS: