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DIVISÃO DE CONTROLE DO TABAGISMO – SESA/PR NORMAS PARA O TRATAMENTO DO TABAGISMO Grupos Específicos Crianças Mulheres Gestantes Idosos Fonte: Diretrizes Para a Cessação do Tabagismo Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia Reichert J, Araújo AJ, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM, Sales MPU, Santos SRRA et al -Diretrizes para a cessação do Tabagismo - 2008 - Abordagem de grupos específicos -J Bras Pneumologia. v.34, número 10, p. 859 - 869 - Outubro 2008 www.sbpt.org.br/diretrizes/tabagismo Dr. Jonatas Reichert Pneumologista (TE – 1988) Junho - 2011 1

Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

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Page 1: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

DIVISÃO DE CONTROLE DO TABAGISMO – SESA/PR

NORMAS PARA O TRATAMENTO DO TABAGISMO

Grupos Específicos

Crianças Mulheres Gestantes Idosos

Fonte:Diretrizes Para a Cessação do TabagismoSociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia Reichert J, Araújo AJ, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM, Sales MPU, Santos SRRA et al -Diretrizes para a cessação do Tabagismo - 2008 - Abordagem de grupos específicos -J Bras Pneumologia. v.34, número 10, p. 859 - 869 - Outubro 2008www.sbpt.org.br/diretrizes/tabagismo

Dr. Jonatas ReichertPneumologista (TE – 1988)Junho - 2011

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Page 2: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Indice

3 - Avaliação do Grau de Dependência Nicotínica.7 - Avaliação do fumante para o tratamento 7 - Avaliação clínica 9 - Avaliação do Perfil Genético14- Abordagem de Grupos Específicos 13 - Crianças e Adolescentes 15 - Mulher Tabagista 23 - Gestante 26 - Mulher Tabagista Passiva32 - Tratamento do Tabagismo na Vigência de Comorbidades

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Page 3: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO E ABORDAGEM DE GRUPOS ESPECÍFICOS NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA NICOTÍNICA

AVALIAÇÃO – GRAU DE DEPENDÊNCIA

Grau de dependência nicotínica

Embora não apenas a nicotina seja responsável pela dependência do

tabaco, sem duvida é este o principal agente responsável pela adicção

presente no fumo. O grau de dependência nicotínica irá influenciar na maior ou

menor facilidade do indivíduo abandonar o uso de produtos de tabaco. Um dos

primeiros instrumentos desenvolvidos para avaliar a dependência a nicotina foi

o Questionário de Tolerância de Fagerström (FTQ), um levantamento

constituído por 8 questões, desenvolvido especificamente para avaliar a

nicotino-dependência em pacientes de clínicas de cessação de tabagismo (1).

Um estudo posterior utilizou duas medidas simples referidas pelos pacientes

(número de cigarros fumados por dia e o tempo levado para consumir o

primeiro cigarro do dia) e marcadores bioquímicos para avaliar o quão “pesado”

o tabagismo do paciente era. Usando análise de regressão, os autores

sugeriram um escore de 4 categorias tanto para o tempo levado para consumir

o primeiro cigarro do dia quanto para o consumo médio diário de cigarros.

Essas duas medidas foram combinadas em um índice, chamado Heaviness of

Smoking Index (HSI) (2).

Essa categorização HSI foi usada em uma revisão do FTQ para tornar

este último mais adequado do ponto de vista psicométrico. Nasceu assim uma

versão de 6 perguntas, o teste de Fagerström para a Dependência à Nicotina

(Fagerström Test for Nicotine Dependence -FTND) (3), o qual se tornou um

instrumento de avaliação da dependência à nicotina muito usado, seja em

estudos epidemiológicos, estudos clínicos randomizados (‘trials”) ou em

estudos de laboratório. O mesmo é apresentado no quadro 1. Alguns estudos

concluíram que o FTND era unidimensional (3,4), mas outros relataram uma

estrutura de dois fatores, compreendendo o tabagismo matinal e os fatores do

tabagismo que ocorrem durante o dia (5,6,7,8,9,10,11). Uma soma acima de

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Page 4: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

seis pontos indica que provavelmente o paciente terá desconforto significativo

(síndrome de abstinência) ao deixar de fumar (12).

QUADRO 1 - Teste de Fagerström para a Dependência à Nicotina

Outro instrumento comumente empregado para avaliação da nicotino-

dependência é a definição do diagnóstico de dependência à nicotina

estabelecido pelo Manual Estatístico e Diagnóstico das Desordens Mentais,

nas suas 3ª edição revisada e 4ª edição (Diagnostic and Statistical Manual for

Mental Disorders, 3rd edition Revised and 4th edition -DSM-III-R e DSM-IV)

(13,14). Com a exceção dos sintomas de abstinência específicos da nicotina

descritos no DSM-IV, os critérios de dependência foram desenvolvidos de

forma a serem aplicáveis a uma ampla gama de substâncias psicoativas (15).

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Page 5: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Desta forma, uma vantagem do FTQ em relação aos critérios diagnósticos da

Associação de Psiquiatria Americana é que o FTQ foi desenvolvido

especificamente para avaliar a dependência FISICA da nicotina. As correlações

entre o FTQ/FTND e o diagnóstico de dependência à nicotina pelo DSM-IV são

baixas a moderadas (16,17,18), sugerindo então que estes instrumentos

capturam dimensões diferentes da adicção à nicotina. Os critérios do DSM-IV

são apresentados abaixo.

QUADRO 2 – Critérios Diagnósticos do DSM-IV para a Nicotino-

Dependência

Os itens de uso geral de substâncias psicoativas compreendem os

critérios do DSM-IV para nicotino-dependência, os quais incluem: 1) tolerância,

2) abstinência após interrupção do uso da droga, 3) uso em quantidades

maiores ou tempo maior que o pretendido, 4) Desejo persistente de parar de

fumar ou tentativas frustradas em reduzir o consumo, 5) Longo tempo gasto no

consumo ou obtenção da droga, 6) abrir mão de atividades importantes ou

reduzir a freqüência de sua realização para uso do fumo, e 7) persistência no

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Page 6: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

uso apesar de ter problemas de saúde físicos ou psicológicos persistentes ou

recorrentes causados ou exacerbados pelo uso da substância. Assim, para a

dependência à nicotina definida pelo DSM-IV, o próprio indivíduo percebe que

o comportamento de uso da nicotina já se tornou um problema que afeta a sua

vida de alguma forma. Já no FTND os itens são mais objetivos.

Devemos ter em mente a multidimensionalidade da dependência da

nicotina e que ainda estão sendo desenvolvidos instrumentos que consigam

captar as suas várias dimensões. Atualmente ainda não se dispõe de medidas

da nicotino- dependência que incorporem medidas dos processos

neuropatológicos subjacentes e nem existem medidas que determinem a

“severidade” da adicção à nicotina.

Referências Bibliográficas

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Page 7: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Questionnaire (FTQ) with the Fagerstrom Test for Nicotine Dependence (FTND) in a clinical sample. Addict Behav 1994;19:307–17.11. Huang CL, Lin HH, Wang HH. The psychometric properties of the Chinese version of the Fagerstrom Test for Nicotine Dependence. Addict Behav 2006;31:2324–7. 12. Ministério da Saúde e Instituto Nacional do Câncer: Ajudando seu paciente a deixar de fumar. INCA, 1997; 2113. American Psychiatric Association (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. Washington, DC: American Psychiatric Association; 1987. 14. American Psychiatric Association (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. Washington, DC: American Psychiatric Association; 1994.15. Cottler LB, Schuckit MA, Helzer JE, Crowley T, Woody G, Nathan P, et al. The DSM-IV field trial for substance use disorders: major results. Drug Alcohol Depend 1995;38:59–6916. Moolchan ET, Radzius A, Epstein DH, Uhl G, Gorelick DA, Cadet JL, et al. The Fagerstrom Test for Nicotine Dependence and the Diagnostic Interview Schedule: do they diagnose the same smokers? Addict Behav 2002;27:101–1317. Hughes JR, Oliveto AH, Riggs R, Kenny M, Liguori A, Pillitteri JL, et al. Concordance of different measures of nicotine dependence: two pilot studies. Addict Behav 2004;29:1527–39. 18. Gelernter J, Yu Y, Weiss R, Brady K, Panhuysen C, Yang BZ, et al. Haplotype spanning TTC12 and ANKK1, flanked by the DRD2 and NCAM1 loci, is strongly associated to nicotine dependence in two distinct American populations. Hum Mol Genet 2006;15:3498–507.

Avaliações do fumante para o tratamento

Avaliação clínica

O fumante deve ser submetido à avaliação clínica no momento da

admissão no programa de cessação do tabagismo. O objetivo é identificar

alterações funcionais pulmonares, a existência de doenças relacionadas ao

tabagismo e a possibilidade de existência de contra-indicações e interações

medicamentosas durante o tratamento farmacológico da dependência. É neste

momento que avalia-se também o perfil do fumante, seu grau de dependência

à nicotina e a motivação para deixar de fumar. A avaliação (Quadro 1) deve

incluir história clínica minuciosa, exame físico completo, e alguns exames

complementares, na dependência da disponibilidade dos recursos diagnósticos

locais.

A radiografia de tórax é obrigatória durante a duração do tratamento. A

boa relação médico-paciente, a sensibilidade e a capacidade de observação

do profissional apontarão a hora mais adequada. Algumas pessoas têm

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Page 8: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

receio do que pode ser encontrado, por vezes se afastando do atendimento

para não enfrentar a situação. Pode-se receber pacientes “saudáveis”, que

procuram apoio apenas para deixar de fumar, ou pessoas apresentando

sinais e sintomas de doenças tabaco-relacionadas ou outras co-morbidades,

incluindo alguns gravemente enfermos, buscando reconquistar saúde e/ou

qualidade de vida. A avaliação clínica inicial é semelhante em todos os

grupos. A forma de abordagem é que deve ser diferenciada e será discutida

adiante, neste documento.

Os exames complementares podem ser úteis para auxiliar na motivação

do paciente para a cessação de tabagismo. Quando normais, tranqüilizar e

indicar que esta é a melhor hora para deixar de fumar, pois ainda não

apresenta as doenças relacionadas ao tabaco. Se alterados, podem servir

de alerta: é melhor parar, impedindo novos danos, e tentar reconquistar a

saúde. Evidências sobre o impacto de medidas como esta, e outras, na

condução dos casos, serão discutidas também em outros capítulos.

Quadro 1 – Avaliação clínica do fumante

História tabagísticaIdade de início, número de cigarros fumados por dia, tentativas de cessação, tratamentos anteriores com ou sem sucesso, recaídas e prováveis causas, sintomas de abstinência, exposição passiva ao fumo, formas de convivência com outros fumantes (casa/trabalho) e fatores associados (café, após refeições, falar ao telefone, bebida alcoólica, ansiedade e outros).

Grau de dependênciaTeste de Fagerström para dependência à nicotina (FTND).

Grau de motivaçãoModelo transteórico comportamental de Prochaska e DiClemente. Atividade física habitual e oscilações do peso corporal.

SintomasTosse, expectoração, chiado, dispnéia, dor torácica, palpitações, claudicação intermitente, tontura e desmaios.

Investigação de co-morbidadesDoenças passadas ou atuais que possam interferir no curso ou no manejo do tratamento: lesões orais, úlcera péptica, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, cardiopatias, transtornos mentais, uso de álcool ou outras drogas, doenças respiratórias, epilepsia, acidente vascular encefálico, doenças dermatológicas, câncer, doença renal ou hepática, anorexia nervosa, bulimia, história de convulsão, entre outras.

Medicamentos em usoLevantamento dos medicamentos que possam interferir no manejo do tratamento, como antidepressivos, inibidores da MAO, carbamazepina, cimetidina, barbitúricos, fenitoina, antipsicóticos, teofilina, corticosteróides sistêmicos, pseudo-efedrina, hipoglicemiante oral

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Page 9: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

e insulina, entre outros.

Alergias De qualquer etiologia, como cutâneas, respiratórias e a medicamentos.

Situações que demandam cautela Principalmente às relacionadas ao uso de apoio medicamentoso, como gravidez, amamentação, IAM ou AVE recentes, arritmias graves, uso de medicamentos psiquiátricos e outras situações. Cautela também com adolescentes e idosos.

Antecedentes familiaresAvaliar problemas de saúde familiares, principalmente se relacionados a tabagismo.

Exame físicoSempre completo, buscando sinais que possam indicar existência de doenças atuais ou limitações ao tratamento medicamentoso a ser proposto.

Exames complementaresRadiografia de tórax, espirometria pré e pós-brondilatador, ECG. No sangue: hemograma completo e bioquímica. Medidas do monóxido de carbono no ar expirado e da cotinina (urinária, sérica ou salivar) são úteis na avaliação e acompanhamento do fumante e devem ser utilizadas, quando disponíveis.

Avaliação: Perfil genético

Estudos genéticos progressivamente indicam que a iniciação do

tabagismo, idade de início, grau de dependência, dificuldade de cessação e

manutenção da abstinência são substancialmente determinadas por um tipo de

herança dita complexa, com o envolvimento de múltiplos polimorfismos

genéticos(1). Estima-se que fatores genéticos possam ser responsáveis por até

60% do risco de início e 70% da manutenção da dependência.(2;3)

A genética do tabagismo envolve basicamente a identificação dos alelos

que interferem nos neurotransmissores liberados após inalação da nicotina.

Isso pode ocorrer por alterações nos receptores nicotínicos, no próprio

metabolismo da nicotina ou na rota metabólica destes neurotransmissores(1;4).

Vários polimorfismos já foram identificados, mas alguns estão mais

amplamente estudados, especialmente pela consistência dos achados em

diferentes aspectos do tabagismo. Os genes mais promissores são -5, -3 e

-3 do receptor nicotínico, neurexina 1, VPS13A, KCNJ6 e o do receptor

GABAA4. Alguns destes genes estão relacionados à intercomunicação celular,

outros à adesão celular e matriz extracelular, sendo comuns a várias adições e

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Page 10: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

consistentes com a idéia de que a neuroplasticidade e as rotas de aprendizado

são fundamentais nas diferenças que tentam explicar a vulnerabilidade para a

nicotina(5).

Os mecanismos que envolvem a liberação ou o transporte de dopamina

são os mais estudados, pois este transmissor está relacionado aos efeitos de

recompensa que ocorrem não só após indução pela nicotina, mas também com

outras drogas aditivas(2). Entre os cinco receptores de dopamina já

identificados, o DRD2 vem sido especialmente investigado, pois possui relação

já estabelecida com outros comportamentos aditivos (uso de drogas,

obesidade, jogo compulsivo)(6,7). Alguns polimorfismos específicos nos alelos

DRD2 são mais comuns em fumantes e estão relacionados à resposta

inadequada na liberação de dopamina após o estímulo externo da nicotina.

Com isso, a sensação de bem estar e prazer pode não ser plena; fumantes

portadores desses polimorfismos fumam mais precocemente, em maior

quantidade e apresentam maior dificuldade de abandono do tabagismo do que

os demais fumantes (5;8).

O polimorfismo no gene SLC6A3 é responsável pela codificação da

proteína transportadora de dopamina tem sido associado com menor

predisposição ao fumo, menor consumo de cigarros e maior facilidade de

abandono.(9)

O circuito serotonérgico também está em investigação: a falta de

nicotina em dependentes ocasiona redução dos níveis desse neurotransmissor,

levando às mudanças de humor (como depressão e ansiedade), características

da abstinência nicotínica. O polimorfismo do gene 5HT2A, relacionado ao

receptor de serotonina, parece estar envolvido com a taxa de manutenção do

tabagismo(10). Foram também identificadas alterações na proteína

responsável pelo transporte da serotonina, através de polimorfismos do gene

SERT, que parecem influenciar a iniciação do tabagismo(11).

Polimorfismos nos genes que regulam a monoaminoxidase (MAO-A e

MAO-B) parecem estar relacionados com número de cigarros fumados; esse

envolvimento, não associado à nicotina, mas ao uso de tabaco em si, pode ter

algum impacto no tratamento adjuvante do abandono ao tabagismo, através do

uso de inibidores da MAO.(12)

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Page 11: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

O polimorfismo no gene CYP2A6, responsável pela regulação hepática

da transformação de nicotina em cotinina, ocasiona metabolismo mais lento da

nicotina, com conseqüente efeito mais intenso e prolongado da droga no início

do consumo do cigarro, diminuindo a propensão para iniciar a fumar; em

indivíduos que permanecem fumando mesmo com efeitos adversos iniciais,

ocorre efeito prazeroso mais prolongado através das doses habituais de

nicotina, favorecendo consumo menor de cigarros(13). Há evidências de que

até 50% do clearance de nicotina seja relacionado à herança genética via

CYP2A6. Entretanto, como estes achados não explicam todas as alterações

encontradas na farmacocinética da nicotina, acredita-se que outros genes,

ainda não identificados, sejam reguladores da atividade do CYP2A6(4).

Considerando que há amplas variações individuais entre os fumantes,

estudos de farmacogenética têm buscado avaliar a contribuição genética para

o sucesso ou fracasso do tratamento para tabagismo(4;14). O objetivo principal

é o de tentar identificar medicamentos e doses que melhor se adequam às

características de cada fumante de modo que sua probabilidade de sucesso

seja maior.(4;15)

Apesar de todo esse crescente conhecimento, atualmente ainda existe

dificuldade em esclarecer-se definitivamente o papel da hereditariedade no

tabagismo. O principal motivo para isso é que ainda existe a necessidade de

melhor definição dos padrões fenotípicos dos tabagistas, possibilitando melhor

comparação dos resultados encontrados. Também existe a interação dos

vários genes com o próprio ambiente e as experiências individualizadas de

cada fumante (1;16), além da ampla sobreposição da nicotina com a de outras

substâncias aditivas, lícitas e ilícitas. Assim, o real impacto destes

conhecimentos na prática diária para avaliação e tratamento dos tabagistas

ainda necessita ser melhor esclarecido(17).

Referências

(1) Chatkin JM. A influência da genética na dependência tabágica e o papel da farmacogenética no tratamento do tabagismo. J Bras Pneumol 2006; 32(6):573-9.

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Page 12: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

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Page 13: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

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ABORDAGEM DE GRUPOS ESPECÍFICOS

CRIANÇA e ADOLESCENTES

A abordagem da criança e adolescente apresenta dois fatores

importantes e por vezes negligenciados, em primeiro lugar o trabalho de alertar

os jovens e seus pais, além dos médicos, residentes e alunos sobre o

problema do tabaco tem que ser persistente. Percebemos que é muito mais

preocupante para os pais saberem que a bronquite ou a falta de ar de seus

filhos pode ter como uma das causas desencadeantes a fumaça do cigarro dos

pais. Dói muito mais uma doença e problemas nos filhos do que a possibilidade

de câncer e enfisema quando forem adultos já idosos. Dessa forma fica mais

fácil encaminhar os pais fumantes para um grupo ambulatorial anti-tabágico,

pois o filho pequeno numa tenda de acrílico recebendo aflitivamente oxigênio

dói mais. E dói muito mais. Por outro lado de 15 anos em diante, 30 a 35% dos

jovens estarão fumando. A idade em que se começa a fumar está na faixa

etária de atuação do pediatra por isso as consultas pediátricas, é um momento

oportuno para abordagem, já dizia o Dr José Rosemberg que o Tabagismo é

uma Doença Pediátrica. Com a guerra anti-tabágica, o fumo passivo entrou em

cena. Vinte por cento a mais de câncer de pulmão em esposas não fumantes

de maridos fumantes comparado com esposas não fumantes de maridos

também não fumantes é de se preocupar, mas a introdução precoce do

tabagismo em nossos jovens é mais assustador ainda.

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Page 14: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Em uma escola de classe alta em São Paulo, foram entrevistadas 1.000

crianças através de um questionário, chegando-se a seguinte constatação:

Na idade de 7 a 10 anos, uma em cada cem crianças já havia fumado

um cigarro inteiro e na idade de 11 a 14 anos 5 em cada cem já havia

fumado um cigarro inteiro.

98% das crianças não gostavam que as pessoas fumassem, mas 2,5% delas acham que vão fumar no futuro.

Fatores preditores do tabagismo na criança-adolescentePais fumantesFácil acesso ao cigarroFalta de rigidez na educaçãoDesprezo da possibilidade de doenças futuras

Abordagem

O pediatra deve se envolver na luta antitabágica, fazendo a profilaxia do

tabagismo em crianças, orientando a higiene ambiental e ajudando literalmente

os pais de seus pacientes a pararem de fumar. Falar a eles que precisam parar

de fumar é fácil. Dizer como devem fazê-lo é mais difícil.

Inicialmente devem pensar no próximo cigarro e não fumá-los

automaticamente. A maioria dos cigarros não são fumados por prazer, mas por

dependência. Pensar antes de acender é fundamental. A partir da diminuição

espontânea do número de cigarros, devemos marcar o dia D e cessar ou

diminuir mais drasticamente o número de cigarros, podendo iniciar o uso de

reposição de nicotina através de adesivos ou goma de mascar. Os primeiros

devem ser colocados pela manhã em superfície limpa da pele e retirados a

noite. Suas dosagens são 21, 14 e 7 mg. A goma de mascar de 2 e 4 mg deve

ser utilizada no lugar de um cigarro que esteja difícil de ser eliminado, uma

goma bem mascada.. Os pacientes mais ansiosos podem utilizar

antidepressivos como a bupropiona. Já há drogas outras que podem ser

usadas para diminuir a vontade de fumar, como a vareniclina, que ocupa sitius

14

Page 15: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

cerebrais vazios de nicotina. Vinte por cento dos pacientes param de fumar

rapidamente (são os fracos dependentes); 50 % param com alguma dificuldade

(médios dependentes) e 30% tem mais dificuldades (fortes dependentes da

nicotina) e podem precisar de ajuda psiquiátrica para tratar as depressões e

ansiedades que podem acompanhar sua dependência de nicotina. Lembre-se

de que não há droga milagrosa, e sim tratamento cognitivo comportamental

com acompanhamento de uma equipe multiprofissional.

MULHER TABAGISTA

A abordagem do tema: Mulher Tabagista é muito oportuna, pois várias

situações peculiares à mulher estão sendo observadas principalmente nos

últimos 30 anos.

Fatos relacionados ao metabolismo, ações e consequências da nicotina no

organismo feminino merecem destaque.

A mulher incorporou hábitos antes exclusivos do homem pagando tributo com

doenças até então pouco conhecidas entre elas. A frase que expressa estes

resultados: “mulher que fuma como homem morre como homem” bem poderia

ser modificada para ”mulher que fuma como homem morre mais que homem”.

Existem evidências que as mulheres sofrem maiores consequências que o

homem para uma mesma quantidade de tabaco consumida.

A prevalência baixa antes justificada pela possível proteção hormonal feminina

para contrair o câncer pulmonar não foi comprovada.

Fato concreto: as mulheres estão fumando cada vez mais.

Fato curioso: uma mulher foi presa na 5ª Avenida de N. Y. por estar fumando

em público. Na segunda metade do século XX, após a II Grande Guerra

Mundial as mulheres passaram a fumar mais e esta tendência permanece

enquanto se observa um declínio no sexo masculino. Nos últimos 30 anos a

alta prevalência atingiu importância epidemiológica com aumento significativo

das doenças tabaco-relacionadas, sobretudo o câncer de pulmão que

aumentou significativamente mais no sexo feminino que o masculino.

15

Page 16: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Epidemiologia:

Considerando :

- índices de morbimortalidade das doenças tabaco-relacionadas

- aumento da prevalência feminina (> nos países em desenvolvimento)

Pode-se afirmar. As mulheres são a “2ª. onda na epidemia do tabagismo”.

* Mundo:

Mortalidade atribuída ao tabaco (2006): 5 milhões de fumantes.

1 milhão foram entre mulheres.

12% das mulheres de todas as idades no mundo são fumantes (230

milhões).

Prevalência estimada para 2025 em países desenvolvidos:

20% do total de mulheres (532 milhões).

Estágios da epidemia tabágica no mundo (Lopes,1994)

- América Latina- situa no estágio III (Anos 50 a 80): caracterizado pela

redução da prevalência entre homens após atingir 60% ou mais,

reduzindo a 40% no final do período, fase em que se observa o

início da redução entre mulheres seguida de estabilização que pode

ter.

uma duração mais longa que a ocorrida no sexo masculino.

- 40 a 50%: mulheres jovens são fumantes refulares.

- 10% ou menos: são mulheres fumantes regulares acima de 55 a 60

Anos..

- Estagio III: Aumento da mortalidade atribuída ao fumo entre homens

(de 10% para 25 a 30%). Entre mulheres ainda é baixo (5%) porém

Revelando tendência ao aumento (25 a 30/100.000 habitantes)..

* Brasil:

Situa-se na transição do estágio III para IV da curva epidêmica de Lopez

Na qual situa a América Latina como um todo.

1/3 da população adulta fuma: 16,7 milhões (H) / 11,2 milhões (M).

1990 para 2005: redução da prevalência do fumo entre adultos, maior para

16

Page 17: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

o sexo masculino..

Tabagismo entre adolescentes; aumento da prevalência de 1980 para

1990,

Com posterior redução até 2005 (Redução no sexo M: 40% F: 10%).

Prevalência no país ainda muito altas..

Redução menor do tabagismo no grupo de mulheres, especialmente

adolescentes femininos.

Mortalidade: 200 mil óbitos / ano.

1989- Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN):

- 13% mulheres acima de 15 anos de idade são fumantes.

2002 e 2003 - Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbi-

lidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis

entre pessoas acima de 15 anos de idade residentes em

15 capitais + DF.

- Prevalência feminina variou de 10% (Aracajú) a 22,9% (Porto Alegre).

Maiores índices de cessação tabágica no sexo feminino (regiões

Norte,Nordeste e Centro Oeste.

Vigescola – 12 capitais

- Prevalência entre adolescentes- (9 e 27%) Idade média de iniciação

precoce: maior: mulheres.

- Meninas fumam mais que os menino.

Projeto PLATINO (2002): 5 centros da América Latina com adultos acima de

40 anos de idade:

São Paulo (área metropolitana):

- Prevalência geral acima de 40 anos: 24% (30,2% -H / 19% - M).

- Entre mulheres: tendência importante de redução da idade de início:

Antes -1930: média de idade de início – 30 anos.

Depois -1960: média de 16 anos.

* EUA:

1955 (1ª.pesquisa):

- 39% de todos os adultos fumavam.

- 53% homens para 24% mulheres

1965:

17

Page 18: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

- 34% aumento entre mulheres

1965 e 1987 – taxa declínio do tabagismo diferente entre os sexos:

- (-) 0,21% / ano.

- (-) 0,84% (redução 4 x >).

1980 – final da década: Ca-P superou o Câncer de Mama como a principal

causa de morte na população feminina naquele país.

2003 (National Health Interview Survey – NHIS):

- 19,2% mulheres para 24,1% nos homens

Estimativa atual: 178.000 mortes / anual / mulheres devido a doenças taba-

co-relacionadas.

PROBLEMAS PECULIARES À MULHER

1. Mulher fumando cada vez mais.2. Mulher como alvo da propaganda.3. Nicotina: metabolismo e ações no organismo feminino.4. Doenças respiratórias tabaco-relacionadas:___________________

1. Mulher fumando cada vez mais:

A antiga suspeita de proteção hormonal contra doenças respiratórias tabaco-

relacionadas verificadas na mulher não encontram respaldo científico na

atualidade, principalmente no que se refere ao Cãncer de Pulmão .

O aumento progressivo nas taxas de morbiletalidade são acompanhadas de

Crescente consumo do tabaco entre as mulheres e mais significativo entre as

adolescentes.

2. Mulher como alvo da propaganda:

O gênero feminino é o alvo principal da propaganda:

- explora os múltiplos espaços sociais.

- as características próprias da dependência da mulher

- os padrões de comportamento próprios no enfrentamento crises, demandas

sociais e biológicas.

18

Page 19: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

- distúrbios de humor (depressão e ansiedade) mais comuns nas mulheres

tendo a nicotina como recurso de auto-medicação.

- facilidade em captar os modismos, crenças e conquistas sociais de gênero,

principalmente entre aquelas de classe econômica menos favorecidas.

- expectativas estéticas ligadas ao peso.

3. Nicotina: Metabolismo e Ações no Organismo Feminino

Liberação: Frações: fase particulada / fase gasosa (absorção mais fácil).

Nicotina presa (ligada a sais diversos) e outra livre (rápida

absorção e maior impacto no SNC)

Amônia: aditivado ao tabaco; libera mais nicotina com maior

impacto cerebral.

Absorção- mucosa oral (fumo alcalino) e alveolar (fumo ácido).

Nicotina marcada com C14 mostra:

- Fumantes que não tragam: absorvem 22 a 42% da

Nicotina

mantida na cavidade oral.

- Fumantes que tragam: absorvem 70 a 90% do total e se

expiram rapidamente é de 40 a 50%.

Meia Vida: curta: cerca de 2 horas.

- Fumantes regulares consomem 10 a 61 mg de nicotina/dia.

Metabolismo – Fígado: pelo sistema citocromo P-450

Pulmões – pequena proporção.

Eliminação: metabólito principal: Cotinina (sangue /

urina / saliva) e Óxido-N-Nicotina.

- outros:fluído da glândula mamária, muco -cervical (colo

de útero)

-gestante que fuma: líquido amniótico, cordão

umbilical e sangue fetal.

19

Page 20: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Grau de metabolismo: gene CYP2A6 (diversidade)

. Homozigótico (2 alelos ativos): 60 a 80%

. Heterozigotos: reduz até 50%.

fenótipos de metabolização conforme enzimas codificadoras –

variantes mais comuns; CYP2A6, CYP2A6-1, CYP2A6-2, CYP2A6-

3, CYP2B6, CYP268, CYP2C9, CYP2F1, CYP4B1

Poliformismo genético atuando no citocromo P-450: metabolismo da

nicotina varia de 5 a 80%.

- Ação no SNC – dependência

- Tabagismo: uma doença.

- A nicotina é uma substância psicoativa.

. Fumante inala a fumaça e a Nicotina chega ao cérebro: 9 a 17’ e

Atua nos receptores nicotínicos no sistema mesolímbico (Área

Ventral Tegmentar e Núcleo Acumbens).

. Receptores acetilcolinérgicos tipo nicotínico (nAChRs) – 10 tipos

identificados. O alfa4beta2 é o mais importante.

. Nicotina: une-se a estes receptores com liberação de Dopamina. em

centração maior que a fisiológica.

. feito da Dopamina: Bem Estar e Prazer.

. O fumante “aprende” que cada vez que fumar, a sensação se repetirá

e a isto se chama Reforço Positivo.

. Desiquilíbrio de Dopamina: ocorrem alterações no circuito de recom-

pensa (aumenta o número de receptores nicotínicos e a Dopamina).

. As alterações determinam vias distintas de funcionamento nos fuman-

tes crônicos quando comparados aos não fumantes.

. Neuro-adaptação aos efeitos nocivos da nicotina – up-regulation

(densidade = número)..

. Cessação tabágica: resposta do SNC mediada pela produção de

Noradrenalina na região Lócus coeruleus resultando em sintomas

desagradáveis (síndrome de abstinência).

Repercussões no organismo feminino:

20

Page 21: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

. metabolismo da nicotina mais lento na mulher.

. predomínio do gene CYP2D6 na mulher, responsável por isto

- as mulheres têm bases genéticas diferentes às dos homens em

Relação às respostas dos centros nervosos à nicotina.

- abstinência de 24h, homens e mulheres têm respostas diferentes ao

receberem 5 a 10 mcg de nicotina.

. Síndrome de abstinência: mais forte em mulheres (15 dos 18 principais

sintomas relacionados ocorrem em maior proporção e intensidade nas

mulheres.

- Fatores dificultadores no tratamento do tabagismo em mulheres:

- as mulheres consomem cigarros com menores teores de nicotina.

- compensam os baixos teores consumindo mais cigarros e tragando

mais profundamente.

- metabolismo mais lento nas mulheres.

- menores níveis de cotinina mesmo ajustado a números maiores.

- são menos sensíveis que os homens à terapia da reposição da

nicotina.

- utilizam-se do cigarro para controlar o peso

- são mais propensas à recaídas.

- o tabagismo é menos reforçado pela ação química da nicotina do que

Por outros fatores: estímulos sensoriais, fatores psicológicos e

condicionamentos sociais.

- tem maior dificuldade de abstinência na fase lútea do ciclo menstrual,

com tendência a alterações do humor, problemas cognitivos e com-

portamentais.

- apresentam com freqüência distúrbios do humor (ansiedade e/ou

depressão).

4. Doenças Respiratórias Tabaco-Relacionadas

Câncer de Pulmão DPOC D. Intersticiais Pulmonares (Pneumonia Descamativa, DPI asso- ciada à Bronquiolite, Hstiocitose Pulmonar de Células de Langerhans, Fibrose Pulmonar Idiopática)

21

Page 22: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

- Câncer de Pulmão: aumento significativo entre as mulheres fumantes.

A mortalidade por Ca-P já ultrapassa o CA de mama como principal

causa por neoplasias nos EUA a partir dos anos 90.

Tabagismo - 90% Ca – P (H) e 70% (M)

As mulheres podem ser mais susceptíveis às propriedade carcinogênicas

da fumaça do cigarro.

Nos EUA as taxas de Ca-P entre mulheres subiram 600% de 1930 a 1997.

ABORDAGEM DE GRUPOS ESPECÍFICOS

MULHER

No mundo há 250 milhões de mulheres fumantes, com preocupantes

estimativas que apontam para uma duplicação deste número em 2.020. (i)

Destas, 200 milhões morrerão prematuramente. Além disso, dados cumulativos

sugerem que o risco para desenvolver câncer, DPOC e doença isquêmica

coronariana (DIC) seja maior entre as mulheres e que esta maior

susceptibilidade estaria associada a alterações genéticas e hormonais. (ii)

A progressiva elevação da prevalência de DPOC na mulher tem modificado

o estereótipo de que esta doença estaria ligada ao homem idoso; no sexo

feminino a doença se desenvolve com menor exposição tabagística, sendo

mais precoce, mais grave, e com crescente projeção da taxa de mortalidade. (iii)

Nos EUA, a prevalência do câncer apresentou rápida elevação nas mulheres e,

mais recentemente, apresenta tendência à estabilidade.

As mulheres que desenvolvem o câncer de pulmão têm menor faixa etária,

fumam menor número de cigarros, inalam menos profundamente do que os

homens. (iv) Já foi demonstrado risco aumentado de câncer de pulmão em

mulheres japonesas não fumantes, cujos maridos fumavam. (v)

O risco de IAM, osteoporose e de fratura está aumentado nas mulheres

com idade inferior a 45 anos e que fumam um maior número de cigarros. (109)

22

Page 23: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

O uso da imagem feminina como alvo da publicidade de cigarros tem sido

um fator decisivo para o aumento global da prevalência de tabagismo entre as

mulheres. As peças publicitárias exploram valores e aspectos característicos

do universo feminino: padrões de comportamento, distúrbios de humor,

modismos, crenças, expectativas sobre o peso, conquistas sociais etc. (109)

Outras questões que interferem na abordagem do tabagismo nas mulheres:

o metabolismo da nicotina é mais lento, as bases genéticas de resposta à

nicotina nos centros nervosos são diferentes e os principais sintomas da

síndrome de abstinência são mais freqüentes nas mulheres. (vi)

As mulheres fumam mais cigarros com menores teores de nicotina,

recebem mais aconselhamento médico e acreditam mais no fato do tabagismo

causar câncer.

Entre os motivos para fumar, referem maior sensação de prazer e

relaxamento, e como obstáculos à cessação, citam o medo de ganho ponderal

e a dificuldade para lidar com o estresse sem o cigarro. (109)

Deve-se considerar, portanto, durante a abordagem da mulher fumante, as

recomendações específicas a esta população (vii, viii, ix):

Monitorar os sintomas referidos (depressão e ansiedade),

Reforçar medidas (reorientação alimentar, exercícios) para evitar ganho

de peso além do esperado,

Considerar estratégias específicas na abordagem comportamental

visando aumentar a motivação e o desenvolvimento de habilidades,

Personalizar (individualizar) a abordagem medicamentosa,

Monitorar o uso de anticoncepcional oral,

Avaliar a presença de fatores de risco cardiovascular,

Considerar o impacto da cessação na fertilidade, aspectos físicos

(aceleração do envelhecimento), menopausa e osteoporose precoces,

Alertar para os riscos maternos e fetais ao planejar a gravidez.

GESTANTE

A exposição do feto ao fumo materno é o exemplo mais grave de tabagismo

passivo. Cerca de 60 estudos envolvendo 500 mil mulheres grávidas

23

Page 24: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

mostraram com fortes evidências que os neonatos de gestantes fumantes têm

peso inferior ao das gestantes que não fumam (redução média de 200g) e a

chance dobrada de prematuridade. (x)

Existem evidências de que a exposição de gestantes não fumantes à

poluição tabagística ambiental também pode reduzir o peso ao nascimento

(média 33g). (xi) Dentre outros desfechos indesejáveis da gestação em fumantes

estão o risco aumentado para placenta prévia, gravidez tubária, aborto

espontâneo e para a síndrome da morte súbita na infância. (118)

A redução da função pulmonar em neonatos de gestantes fumantes pode

contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de asma durante a vida

destas crianças, maior susceptibilidade a hiper-reatividade brônquica e

predisposição à DPOC na vida adulta. (3) O tabagismo é uma das poucas

causas evitáveis destes desfechos.

As intervenções durante a gestação são de elevada relação custo-

efetividade na preservação da vida e na redução de danos à saúde. Os

maiores índices de cessação tabagística em mulheres ocorrem durante a

gravidez, porém apenas 1/3 continua abstinente após um ano, fato que mostra

a importância de intervenções para prevenção da recaída. (37,xii,xiii)

Metanálise envolvendo 64 estudos com 20 mil gestantes mostrou

significativa redução do tabagismo durante a gravidez no grupo que recebeu

intervenção precoce para deixar de fumar (RR: 0,94; IC95%, 0,93-0,95). (120)

Os 16 ensaios que continham informações perinatais revelaram que a

cessação tabágica promoveu redução do baixo peso ao nascer (RR: 0,81;

CI95%, 0,70-0,94), da prematuridade (RR: 0,84; CI95%, 0,72-0,98) e aumento

do peso ao nascer (11-55g). Porém, os resultados da intervenção na recaída

não mostraram significância estatística (RR: 0,80; CI95%, 0,63-1,03) (120)

Na abordagem deste grupo especial de pacientes devem ser consideradas

as seguintes recomendações:

Aconselhamento breve para cessação e treinamento de habilidades

para prevenir a recaída, como parte da rotina do pré-natal (A). As gestantes

devem ser orientadas a parar sem medicação, sempre que possível. (37, 120, 121)

24

Page 25: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Fornecer informações de forma clara, exata e específica, o mais

precocemente possível, sobre os riscos para o feto e para a gestante, com

orientações para deixar de fumar (A). (37, 120, 121)

Preferir as intervenções intensivas com especialistas treinados,

sempre que possível (A). (120)

Farmacoterapia: o uso da TRN durante a gravidez depende da

avaliação de cada caso. Deve-se sempre considerar os riscos da droga

(potencial toxicidade para o SNC do feto) em relação aos possíveis benefícios

obtidos com a cessação. Preferir as formas de liberação rápida, como a goma

de nicotina (C). Deve-se alertar fortemente para a suspensão da TRN se a

gestante voltar a fumar. (121) Segundo diretrizes internacionais, há benefícios

para mãe e feto, se a TRN levar à cessação do tabagismo (C). (37, 121) De

acordo com evidências atuais disponíveis, bupropiona e vareniclina não são

recomendadas para o tratamento do tabagismo na gestante. (120)

As intervenções devem ser oferecidas em todo o curso da gestação,

em razão dos benefícios que podem advir com a abstinência, para o binômio

gestante-feto, em qualquer fase da gestação (B). (37, 120, 121) Estima-se que 40%

das gestantes param de fumar espontaneamente, decidindo fazê-lo,

primariamente, pela saúde do rebento e, secundariamente, por si própria.

As intervenções estão indicadas para aquelas que continuam fumando, pois,

geralmente estas apresentam maior nível de problemas psicossociais e maior

grau de dependência nicotínica. (37, 120, 121) A escolha entre aconselhamento

individual ou em grupo deve ser feita pela gestante. Materiais escritos

especificamente para as gestantes reforçam estas informações.

Algumas considerações relevantes na abordagem à mulher fumante: (120,121)

A intervenção mais eficaz no tabagismo materno é a prevenção da

iniciação e o estímulo à cessação nas jovens antes de engravidar, através de

ações de proibição do fumo em todo ambiente público, aumento do preço do

cigarro, estímulo à prática de esportes e programas de cessação tabagística,

inclusive nos locais de trabalho.

A gestação deve ser aproveitada como um “momento” para intervenções

visando à saúde da gestante e do feto, mas também uma oportunidade de

25

Page 26: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

cessação para o restante da vida destas mulheres.

São necessários mais estudos para definição da segurança e eficácia da

farmacoterapia durante a gestação, incluindo a relação risco/benefício em

função do grau de dependência nicotínica e do medicamento.

i.Reichert VC, Seltzer V, Efferen LS, et al. Women and tobacco dependence. Med Clin North Am. 2004;88:1467-1481.

ii. World Health Organization. Gender, Health and Tobacco – Tobacco Free Initiative. University Melbourne. Australia; 2003.

iii. Rivera MP, Stover DE. Gender and lung cancer. Clin Chest Med. 25 (2004):

391-400.

iv. Hirayama T. Non-smoking wives of heavy smokers have a higher risk of lung cancer: a study from Japan. Br Med J, 1981:17:183-5.

v. Croft P, Hannafor PC. Risk factors for acute myocardial infarction in women: evidence from the Royal College of General Practitioners' oral contraception study. BMJ. 1989;298(6667): 165–168.

vi. Perkins KA. Smoking cessation in women: special considerations. CNS Drugs 2001;15(5):391-411.

vii.WHO Collaborative Study of Cardiovascular Disease and Steroid Hormone Contraception. Ischaemic stroke and combined oral contraceptives: results of an international multicentre, case-control study. Lancet 1996;348:498-505.

viii. Women and smoking: A Report of the Surgeon General. US Department of Health and Human Services, Public Health Service; 2001.

ix. Araujo AJ, Caldas N, Borges MTT, Ortolan F, Cassabian L, Zoucas MA. Abordagem de populações especiais: tabagismo e mulher – razões para abordagem específica de gênero. In: Atualização no Tratamento do Tabagismo, Gigliotti A. & Pressman S. (Orgs.), abc Saúde, Rio de Janeiro, 2006, p. 107-128.

x. US Department of Health and Human services. The health benefits of smoking cessation. Rockville, MD: Office on Smoking and Health,1990 (DHHS,1990 Publication No (CDC) 90-8416.

xi. US Department of Health and Human services. The health benefits of smoking cessation. Rockville, MD: Office on Smoking and Health,1990 (DHHS,1990 Publication No (CDC) 90-8416.

xii. Lumley J, Oliver SS, Chamberlain C, Oakley L. Interventions for promoting smoking cessation during pregnancy. Cochrane Database Syst Rev 2004;4:CD001055.

xiii. West R, McNeill A, Raw M. Smoking cessation guidelines for health: an update. Thorax 2000;55:987-999.

26

Page 27: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

MULHERES FUMANTES PASSIVAS:

- Probabilidade maior de exposição ambiental que o homem.

- Mortalidade entre não fumantes relacionadas ao Ca-P quase 3

vezes maior nas mulheres (União Européia).

- Mulheres desenvolvem Ca-P com níveis mais baixos de fumaça

do tabaco.

- Mulheres tem maior risco de desenvolver o agressivo câncer do

Tipo pequenas células.

Centro Controle de Doenças (CDC – EUA): relatorio 2001 – - risco anual de morte( 45 – 74 anos) 2 vezes ou mais entre as fuman-

tes regulares quando comparado a mulheres que nunca fumaram.

- Risco de contrair câncer de pulmão: aumenta com a quantidade e

duração do tabagismo.

- Risco de morte por Ca-P: 20 vezes mais freqüente entre mulheres que

fumam 40 ou mais cigarros/ dia comparado às que não fumam.

- Fumar é uma das principais causas de câncer de orofaringe e bexiga

nas mulheres.

- Aumenta o risco de sofrer câncer do laringe, esôfago, fígado, cólon,

pâncreas e rins.

- aumenta o risco de DPOC conforme a intensidade e duração do

hábito.

Nos EUA 90% das morte por DPOC nas mulheres são atribuídas ao

uso do tabaco. - Distúrbios na função pulmonar; adolescentes que fumam apresentam

redução do índice de crescimento pulmonar e as adultas experimentam

distúrbios precoces da função pulmonar.

A seguir, as patologias respiratórias descritas são frequentes em tabagista,

com poucas diferenças entre homens e mulheres e estão comumente

associadas a intensidade e ao tempo de exposição ao tabaco. A DPI

associada à bronquiolite respiratória incide praticamente apenas no homem

exposto à fumaça do tabaco.

27

Page 28: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

- Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC):

O risco aumenta em função da intensidade e duração do hábito.

EUA: 90% das mortes por DPOC são tabaco-relacionadas.

Manisfestações clínicas ocorrem apartir dos 40 anos de idade.

Obstrução crônica ao fluxo aéreo não totalmente reversível.

Quadro progressivo resultado de resposta inflamatória a agentes nocivos

Relação direta com a ação da fumaça do tabaco.

15% dos tabagistas desenvolvem DPOC.

Critério diagnóstico = espirometria após Bd razão fixa VEF1/CVF <70%

Mecanismo:

Fumaça do cigarro + oxidantes promovem resposta inflamatória normal.

Epitélio alveolar sintetiza vários mediadores inflamatórios:

Interleucina – 1 beta (IL-1β)

Interleucina - 6 (IL-6)

Interleucina - 8 (IL-8)

Fator de necrose tumoral – alfa (TNF-α)

Fator de crescimento de granulócitos e macrófagos (GM-CSF)

Molécula de adesão ICAM-1

Radicais livres derivados do O2 (da fumaça ou produzidos da interação

dela com o líquido epitelial) peroxidases e peroxinitritos).

Oxidantes interferem no equilíbrio protease/antiprotease =

Inativação das antiproteases (α1 – antitripsina) + ativação protease.

Atividade proteolítica = Destruição da arquitetura pulmonar + inflamação.

Pode evoluir até mesmo com a cessação tabágica (3,5 anos Li CD4 e

CD8 nas biópsias de mucosa brônquica)

- Doenças Intersticiais: Pneumonia Descamativa – caracteriza-se pelo número elevado de macrófa-

gos dispersos uniformemente nos espaços alveolares. Predomina no sexo

28

Page 29: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

masculino com idade média entorno dos 40 anos. Sintomas insidiosos; dis-

pnéia e tosse. Crepitações finas (60%), baqueteamenteo digital (50%). 90%

dos casos são fumantes ou ex-fumantes. Função pulmonar: restritivo.

Doença Pulmonar Intersticial associada a Bronquiolite Respiratória - forma específica e doença de pequenas vias aéreas. Não descrita em mu-

lheres.

Histiocitose Pulmonar de Células de Langerhans –

caracterizado pela proliferação de macrófagos ou de células dentríticas, que

inclui as células de Langerhans Histiocitose X). Ocorre em ambos os sexos,

com 30 anos de idade.

Fibrose pulmonar Idiopática – em 41 a 83% dos tabagistas, leve predomi-nância em homens, incide na meia

idade e idosos.

- Asma

As prevalências de tabagismo e asma são altas.

A dependência de nicotina em asmáticos é comum.

Asmáticos que fumam descompensam e internam mais.

Tabagismo e asma: efeito aditivo na perda da função pulmonar.

Independente do sexo:perda de função pulmonar foi maior nos tabagistas.

O declínio da função pulmonar foi menor naqueles que pararam de fumar

quando comparados aos que continuaram fumando.

- Rinossinusite Crônica

Tabagismo é fator predisponente.

Transporte muco-ciliar comprometido com o tabagismo.

IDOSOS

A prevalência média do tabagismo em idosos é de 26% (homens 40% e

mulheres 12%). (xiv, xv) Diversos fatores já foram citados como facilitadores do

29

Page 30: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

tabagismo nesta população: convivência com outro fumante no domicílio, estar

desempregado ou procurando emprego, alcoolismo, depressão, baixa

participação em atividades religiosas, maior risco de baixo grau de satisfação

nos relacionamentos sociais e outros achados negativos relacionados à

qualidade de vida. (135, xvi, xvii) O quadro 8 mostra os fatores dificultadores da

cessação e preditores de sucesso do tratamento nesta população. (136, xviii, xix, xx,

xxi, xxii)

Quadro 8 – Fatores dificultadores e preditores de sucesso no tratamento do idoso

Fatores Dificultadores Depressão

Insegurança quanto à auto-eficácia

Oportunidades reduzidas

Convivência rotineira com jovens fumantes

Redução da importância dada aos benefícios da cessação

Superação do balanço decisório

Síndrome de abstinência à nicotina

Menor requisição social e médica para deixar de fumar

Menor procura por serviços de saúde médicos e odontológicos

Maior risco de interações medicamentosas

Maior grau de dependência

Preditores do sucesso Presença de companheiro (a) não-fumante

Internação hospitalar por doença relacionada ao tabaco recente

Alto grau inicial de motivação para deixar de fumar

Entre os benefícios obtidos com a cessação em idosos, destacam-se:

redução do risco de adoecer, melhor controle da evolução de doença pré-

existente, melhora na qualidade de vida e aumento na expectativa de vida. (xxiii, xxiv, xxv) As taxas de sucesso do tratamento em idosos não diferem de outras

faixas etárias, oscilando entre 23-32%, após um ano de cessação. (144)

30

Page 31: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

A abordagem terapêutica deve ser adaptada às características desta

população, p. ex., os idosos costumam ter maior auto-estima (ao contrário do

que acredita a maioria dos profissionais de saúde) e menor exigência social

(expectativas baixas do círculo de convivência).

Embora os idosos se considerem mais aptos que os jovens, falta-lhes “a

entrega” aos novos desafios: têm grande dificuldade de romper barreiras e

promover mudanças, portanto, reforço da auto-eficácia é um recurso da

intervenção comportamental que deve ser usado à exaustão. Além disso, o

aprendizado é mais lento, o que requer reforço e detalhamento das

intervenções e treinamento de habilidades, em conjunto. (144, 145, 146)

Os idosos costumam ter menos laços sociais: por isso, deve-se preferir a

abordagem em grupo, amplificando a rede de relacionamentos, vínculos

afetivos e relações de interdependência.

Não há evidência que os grupos compostos exclusivamente com idosos

apresentem benefícios. Deve-se apoiar a participação de outras faixas etárias,

favorecendo a dinâmica e enriquecendo o repertório temático. (144, 146)

Com relação ao tratamento medicamentoso, o uso de TRN através de

adesivos transdérmicos não aumenta incidência de efeitos adversos,

tampouco o risco de complicações cardíacas, mesmo em portadores de

doença coronariana crônica. (145, 146) O rodízio do local de aplicação de adesivos

deve ser reforçado, pelo relato mais comum de lesões cutâneas (pele

ressecada e inelástica). Para uso de gomas, lembrar que as próteses dentárias

podem dificultar o uso e aderência à proposta terapêutica. (135, 144)

A farmacodinâmica da nicotina não difere nos idosos saudáveis, porém, a

eliminação está prejudicada nos doentes com insuficiência renal; nestes,

considerar ajuste de dose. O mesmo é recomendado para bupropiona,

podendo ser reduzida a 150mg/dia. No caso da Vareniclina, insuficiência renal

grave contra-indica prescrição. Nortriptilina e clonidina têm efeitos indesejáveis

mais freqüentes em idosos. (144)

Deve-se lembrar que a motivação do idoso fumante para deixar de fumar

pode reforçar a conscientização da sociedade contemporânea sobre a

importância do seu papel saudável na família, como reservatório de sabedoria

31

Page 32: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

e refúgio afetivo para crianças e jovens, assumindo, assim, a função de

modelo de conduta para futuros adultos.

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TRATAMENTO DO TAGAGISMO NA VIGÊNCIA DE COMORBIDADES

32

Page 33: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

O tabagismo é considerado fator de risco prevenível para o

desenvolvimento de doenças cardiovasculares, pulmonares, gastrointestinais,

endocrinológicas e diversos tipos de câncer. Por ser comum a presença de co-

morbidades nos tabagistas que procuram o tratamento de cessação ao

tabagismo, abordaremos neste capítulo, algumas dessas co-morbidades.

Doença Cardiovascular

Doença cardiovascular é a principal causa de morte em países

desenvolvidos como a Inglaterra e EUA, e é responsável por cerca de um terço

de todas as mortes relacionadas ao tabaco. Por outro lado, o tabagismo está

associado a diversas enfermidades cardiovasculares, cujas mais freqüentes

são doença arterial coronariana (DAC), acidente vascular encefálico, doença

vascular periférica, aneurisma de aorta abdominal, e aterosclerose.

Salientamos que esta associação pode ser encontrada também em pessoas

expostas de forma passiva à fumaça do tabaco. Em média, o fumante tem

aproximadamente o dobro de risco de desenvolver doença cardíaca,

comparado com alguém que nunca fumou. O risco de desenvolver enfermidade

cardiovascular ocorre mesmo em fumantes leves, diferentemente do câncer de

pulmão cujo risco é diretamente proporcional à quantidade total de exposição

fumaça do cigarro (1).

Na patogênese dos eventos cardiovasculares associados ao tabagismo

podem ser encontradas disfunção endotelial, aumento da trombogenicidade

hematológica, inflamação, estresse oxidativo e redução da biosíntese do óxido

nítrico (2).

A disfunção endotelial pode ser explicada pelo fato de os fumantes

terem níveis circulantes, de atividade do fator tecidual, significativamente

maiores, em relação aos não fumantes, o que favorece a formação de placas

ateroscleróticas e trombose. Além disso, a função dilatadora vascular fluxo

dependente, está comprometida nos fumantes (3). Desta forma, fumar aumenta

o risco de desenvolvimento e morte por DAC. Este risco ainda é maior se o

33

Page 34: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

fumante for hipertenso e/ou apresentar hipercolesterolemia. O risco dos

fumantes apresentarem angina é proporcional à intensidade do tabagismo e a

chance de terem IAM não fatal é três vezes maior, quando comparados a não

fumantes (4,5).

Quanto à doença vascular periférica (DVP), se sabe que ela afeta

aproximadamente 20% dos adultos com mais de 55 anos de idade, dos quais,

cerca da metade são pacientes assintomáticos, sendo que os sintomáticos

apresentam maior risco para desenvolverem outras doenças cardiovasculares.

Os fumantes têm risco aumentado em até três vezes, comparados com não

fumantes, de desenvolverem DVP assintomática, bem como claudicação

intermitente (6). Ainda mais, fumar é o fator de risco mais importante para a

progressão de DVP que leva a amputação, cujos sintomas ocorrem cerca de

10 anos mais cedo em fumantes que têm índice de amputação duas vezes

maior que não fumantes (7). No que se refere à avaliação sobre mortalidade

após cirurgia vascular eletiva, se encontrou que idade, diabetes, baixa fração

de ejeção, assim como o tabagismo, foram fatores de risco independentes para

seu aumento (8).

A associação entre tabagismo e aneurisma da aorta abdominal é

substancialmente mais forte que sua associação com DAC ou AVE. A

associação é proporcional ao número de cigarros fumados, de tal forma que

quem fuma mais de 25 cigarros por dia, tem aumentado em quase seis vezes o

risco de adoecer, comparados aos não fumantes (9,10). Relativo ao acidente

vascular encefálico (AVE) sabe-se que o tabagismo aumenta seu risco por ter

efeito sobre a formação de trombos e expandir o espectro da doença

aterosclerótica, além de contribuir com 12-14% de todas as mortes por AVE, e

de potencializar os efeitos dos demais fatores de risco para esta enfermidade

(11). Também se sabe que o tabagismo aumenta o risco de AVE fatal e não

fatal em mulheres (12), e que a exposição à fumaça do cigarro, de forma ativa

ou passiva, está associada com aumento da progressão de aterosclerose

carotídea (13). Quanto ao AVE hemorrágico, um maior risco de ocorrência bem

como sua mortalidade, são proporcionais à intensidade do tabagismo (14,15).

Como conclusão podemos dizer que parar de fumar traz inúmeros

benefícios cardiovasculares tais como redução da síntese e concentração do

fibrinogênio (16), melhora o perfil lipídico (17), os parâmetros hemodinâmicos

34

Page 35: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

(18) e a agregação plaquetária (19). Assim, a cassação do tabagismo reduz o

risco de infarto agudo do miocárdio (20), reduz a progressão de doença

vascular periférica (21), bem como o risco de acidente vascular encefálico (22).

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35

Page 36: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

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DOENÇAS DO TRATO DIGESTIVO

Úlcera Péptica

A patogênese da úlcera péptica é considerada multifatorial e decorrente

ao desequilíbrio entre os fatores de proteção e agressão. Além do tabagismo

36

Page 37: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

ser fator de risco para a doença, a presença de Helicobacter pylori, ácido

gástrico, alteração da motilidade gastroduodenal e outros fatores também estão

associados na fisiopatologia da úlcera péptica(1-3). O tabagismo apresenta

associação com o desenvolvimento, perpetuação e recidiva da úlcera gástrica

(Evidência A).

O efeito do tabagismo na formação da úlcera ainda não está totalmente

esclarecido. No entanto, há evidências que é capaz de aumentar a liberação de

ácido e secreção de pepsinogêneo na mucosa, aumentar a liberação de

vasopressina pelo hipotálamo (considerado hormônio de estresse) e aumentar

o refluxo de bile. Ainda afeta os mecanismos de proteção da mucosa com a

redução da produção de muco gástrico, redução do fluxo sanguíneo da mucosa

gástrica, diminuição da proteção da superfície ativa de fosfolipídeos e redução

da produção de prostaglandinas E2(3). Outros agentes agressores externos

associados ao tabagismo também podem aumentar o risco de desenvolvimento

da úlcera, como a presença de álcool, da infecção pelo H.pylori e ainti-

inflamatório não hormonal(3, 4).

Recomenda-se a cessação do tabagismo como tratamento para o

controle e desenvolvimento da doença.

Doença de Crohn

A doença de Crohn é considerada complexa e heterogênea, podendo

afetar adultos em sua maioria na faixa de 20 a 40 anos. A lesão pode aparecer

em qualquer porção do trato digestivo, desde a cavidade oral até o ânus, sendo

mais frequentemente o acometimento do íleo e o cólon. A apresentação da

doença pode ser classificada pela idade do paciente no período de diagnóstico,

localização da lesão e comportamento da doença (inflamatória, estenosante e

penetrante). Estudos mostram que o tabagismo é fator de risco para a doença,

aumentando a susceptibilidade e gravidade da doença (Evidência A) (5-8).

Tabagistas com doença de Crohn apresentam menor resposta ao tratamento

(6, 9) com necessidade de imunossupressores para o controle da doença,

recorrência da enfermidade após intervenção cirúrgica e aumento do risco de

mortalidade (7). Assim é que, estudos prospectivos mostram que a cessação

do tabagismo é benéfica para estes pacientes, com redução das exacerbações

37

Page 38: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

e após um ano de cessação do tabagismo, a gravidade da doença se torna

similar aos pacientes que nunca fumaram (6).

A cessação do tabagismo nestes pacientes deve ser incluída no

tratamento inicial, com o PAAPA associado à elucidação dos riscos da piora da

doença em decorrência do tabagismo (6).

Doença Hepática

Alguns estudos mostram que o tabagismo está associado com

desenvolvimento de doenças hepáticas como a cirrose biliar primária

(Evidência B)(10, 11). Além disso, há dados na literatura que mostram a

influencia do tabagismo na evolução clínica da fibrose hepática(12, 13)

(Evidência B). O mecanismo de ação do tabagismo ainda não é conhecido,

acredita-se que possa ter ação dos mediadores inflamatórios sistêmicos e do

stress oxidativo na fibrogênese do fígado; e também, está associado a

aceleração da progressão da fibrose hepática em pacientes com hepatite C,

assim como na diminuição da resposta ao tratamento (12-14).

Recomenda-se a cessação do tabagismo para melhor controle da

doença, incluindo os pacientes de transplante hepático (15, 16).

Doenças endocrinológicas

Diabetes Mellitus

O tabagismo aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes

(Evidência B) e os pacientes portadores de diabetes têm o risco aumentado de

complicações micro e macroangiopática (17-20). Fumantes portadores de

diabetes tipo II apresentam maior risco de mortalidade por doença

cardiovascular (21). Alguns dados da literatura mostram que o risco de

desenvolvimento de diabetes é reduzido pela cessação do tabagismo precoce

(22, 23).

Doenças da Tiróide

38

Page 39: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

O tabagismo é capaz de reduzir os níveis de TSH e aumentar os níveis

de hormônios da tiróide, com aumento do risco para o desenvolvimento da

Doença de Graves, no entanto, ainda são poucos estudos que mostrem essa

associação justificando o nível de evidência B (24-26). Outros estudos mostram

que o risco do desenvolvimento da doença é reduzido pela cessação do

tabagismo (25).

Osteosporose

O tabagismo é considerado fator de risco independente como a idade,

sexo, peso e menopausa, para a perda de massa óssea e fraturas, já foi

i

ii

iii

iv

v

vi

vii

viii

ix

x

xi

xii

xiii

xiv

xv

xvi

xvii

xviii

xix

xx

xxi

xxii

xxiii

xxiv

xxv

39

Page 40: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

descrito em vários estudos mostrando o nível de evidência A. A perda é

acentuada principalmente na fase pós menopausa em mulheres, com aumento

do risco de fraturas (27-29). O mecanismo do tabagismo na osteosporose

ainda não é totalmente conhecido (28), há hipóteses da ação tóxica do

tabagismo na célula óssea, diminuição da absorção do cálcio e pelo

hipecortisolismo. Acredita-se ainda que a osteosporose seja dependente do

tempo do tabagismo e não se sabe se é totalmente reversível após a sua

cessação (28)

Síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA)

Nos pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) em

tratamento está crescendo a mortalidade por doenças relacionadas ao cigarro.

Portadores do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) e pacientes SIDA em

tratamento com antiretrovirais, principalmente inibidores da protease,

apresentam aumento do risco de desenvolver doença coronariana (30).

Portanto, torna-se necessário a intervenção terapêutica precoce para evitar tais

efeitos. Entretanto, estes pacientes podem apresentar outras comorbidades ou

dependências que dificultam o tratamento. Em um estudo realizado na França,

foi demonstrado que 23% dos pacientes com SIDA e tabagistas apresentavam

co-dependência à cannabis e 12% ao álcool. (31) Além do mais, depressão e

ansiedade eram altamente prevalentes neste grupo de doentes. Apenas 14%

destes pacientes estavam motivados a parar de fumar, não tinham depressão e

não tinham co-dependência química. Portanto, para se ter sucesso no

tratamento do tabagismo destes pacientes, é necessário um programa

estruturado, com intensa abordagem psicológica e terapêutica específica para

depressão.(31)

Em um estudo espanhol com 21 pacientes com SIDA e tabagistas, foi

prescrito bupropiona com taxa de sucesso em um ano de 38%.(32) Porém, o

estudo foi realizado sem randomização e não foi duplo-cego. Portanto, não se

pode tirar conclusões efetivas de seu tratamento. Todavia, estes pacientes

estavam em uso de antiretrovirais e não apresentaram efeitos colaterais

significativos.

40

Page 41: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

Doenças Respiratórias

O tabagismo é um fator etiológico muito importante para o

desenvolvimento de doenças do sistema respiratório como a doença pulmonar

obstrutiva crônica (DPOC) e o câncer de pulmão. Além do mais, já foi

demonstrado a influência do tabagismo sobre doenças pulmonares intersticiais

e seu papel negativo no controle da asma.

DPOCA DPOC é uma doença respiratória caracterizada por obstrução do fluxo

aéreo que não é totalmente reversível. A DPOC é, geralmente, progressiva e

associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de

partículas e gases nocivos.(33) A progressão da DPOC está associada a maior

taxa de declínio da função pulmonar em relação o indivíduo que não é portador

de DPOC. Além do mais, a DPOC apresenta manifestações e respostas

sistêmicas, principalmente no sistema muscular e cardiovascular.(33, 34) Para

o desenvolvimento da DPOC é necessário a associação entre predisposição

individual e exposição aos fatores agressores.(33) Dentre os fatores etiológicos

relacionados a DPOC, o principal é o tabagismo, que está presente em 85 a

90% dos portadores de DPOC.(33-36) A DPOC é uma doença muito prevalente

e, de acordo com dados do Estudo PLATINO, tem prevalência de 15,8% nos

indivíduos com 40 anos ou mais. (35, 36) A influência do tabagismo na taxa de

declínio da função pulmonar é um fenômeno conhecido há vários anos. (37)

Porém, ao cessar o tabagismo, há redução desta taxa de declínio da função

pulmonar. Portanto, a cessação de tabagismo é a medida não farmacológica

mais importante, pois modifica o desenvolvimento e a progressão da DPOC

(Evidência A)(33). Todavia, baseado nos resultados do Estudo PLATINO,

apenas 57,3% dos portadores de DPOC já haviam sido orientados a parar de

fumar, um número muito inferior ao ideal. (38)

A abordagem do portador de DPOC para cessação do tabagismo deve

ser semelhantes aos demais indivíduos. Ao abordar os portadores de DPOC é

necessário esclarecer sobre os malefícios do tabagismo, especificamente

sobre como ele age para desenvolver os sintomas e sinais da DPOC, e quais

as vantagens que ele virá a ter deixando de fumar.

41

Page 42: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

A realização de espirometria em programa de cessação de tabagismo é

capaz de diagnosticar precocemente portadores de DPOC (39) sendo possível

a intervenção precoce e minimizar os efeitos deletérios do tabagismo sobre a

progressão da DPOC. Além disso, foi demonstrado em diversos estudos que

aqueles indivíduos que têm limitação do fluxo aéreo avaliados pela

espirometria em um programa de cessação de tabagismo, apresentam maior

taxa de sucesso na cessação do tabagismo.(40-42) Portanto, a espirometria

pode ser uma ferramenta utilizada na cessação do tabagismo, mas sem

obrigatoriedade (Evidência C)

Apesar de a cessação do tabagismo ser a terapia mais importante para o

tratamento da DPOC, poucos estudos avaliaram a efetividade das diferentes

terapias neste grupo de pacientes. Baseado em uma revisão sistemática, foi

demonstrado que a combinação de intervenções comportamental e

farmacológica (TRN) em portadores de DPOC apresenta resultado superior na

taxa de cessação do tabagismo em relação ao não tratamento ou intervenção

comportamental isolada (Evidência A). (43) Resultados do Lung Health Study

(44) demonstraram que os indivíduos que apresentavam obstrução do fluxo

aéreo moderado e que receberam tratamento com broncodilatador associado a

cessação do tabagismo, a taxa de declínio do VEF1 e a mortalidade foram

menor que naquele grupo que recebeu apenas broncodilatador. O tratamento

medicamentoso do grupo de cessação do tabagismo foi realizado com terapia

de reposição de nicotina. Apesar do grande número de participante, o estudo

não foi randomizado e duplo-cego, o que dificulta a comparação de efetividade

dos dois grupos de pacientes. Entretanto, reforça a importância deste

tratamento na evolução da doença e a baixa incidência de efeitos colaterais

neste grupo de pacientes.

A efetividade clínica da bupropiona na população fumante geral já está

bem demonstrada, porém há poucos estudos que utilizaram bupropiona nos

portadores de DPOC. Em um estudo foi demonstrado que a taxa de cessação

de tabagismo em portadores de DPOC foi maior no grupo que recebeu

bupropiona em relação ao grupo placebo (prevalência pontual em 6 meses de

23%versus 16%, p< 0,05) (45). Estes valores são inferiores ao da população

geral, podendo indicar uma maior dificuldade neste grupo de pacientes em

42

Page 43: Normas para o Tratamento do Tabagismo para Grupos Específicos

cessar o tabagismo. Além do mais, nenhum efeito colateral ou interação

medicamentosa foi presenciado nestes pacientes (45).

Apesar dos resultados ensaios clínicos com vareniclina terem sido

publicados, não há estudos que avaliem especificamente a efetividade da

vareniclina na cessação do tabagismo em portadores de DPOC. Porém,

baseado no mecanismo de ação da vareniclina e pelas medicações para o

tratamento da DPOC serem administradas por via inalatória, a possibilidade de

interação medicamentosa é baixa (Evidência C)

Doenças intersticiais pulmonaresAs doenças intersticiais pulmonares representam um grupo heterogêneo

de doenças pulmonares que cursam com tosse seca, dispnéia, distúrbio

ventilatório restritivo nas provas de função pulmonar e infiltrados pulmonares

difusos. Diversas doenças intersticiais pulmonares estão associadas ao

tabagismo, tais como bronquiolite respiratória (pneumonia intersticial

descamativa, fibrose pulmonar idiopática e doená das células de Langerhans

(Histiocitose X). (46)

O tabagismo tem papel importante na etiologia de algumas doenças

pulmonares intersticiais císticas como a Histiocitose X (47). O indivíduo deve

ter uma predisposição individual associado ao aumento da resposta das células

de Langerhans à exposição à fumaça de cigarro, evoluindo com múltiplos

cistos pulmonares e, em alguns casos, manifestação sistêmica. Mais de 90%

dos casos estão associados ao tabagismo. A cessação do tabagismo é

fundamental para o tratamento, com estabilização do processo inflamatório e

melhora dos sintomas respiratórios. (47, 48)

Apesar de não estar bem conhecido a etiopatogenia do tabagismo no

desenvolvimento da fibrose pulmonar idiopática, ele representa um fenômeno

mantenedor do processo inflamatório no parênquima pulmonar, devendo ser

tratado em todos os pacientes. Porém, não evidências científicas específicas

para este grupo de pacientes.

Referências

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