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Nota do Director - alperce.com 37 p.pdf · 24 Uma Aplicação do Júri de Delphi – ISMT Alunos do 3º ano de Informática de Gestão 47 Investigação no ISMT Ana Beatriz Bento

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Este número tem como tema central o ensino superior e a investigação. Julgamosque o seu conteúdo, se devidamente lido, contribuirá para o esclarecimento dalgunsleitores quanto a aspectos fundamentais do seu futuro, designadamente quanto àspossibilidades que existem em obter apoio para ensino pós-graduado e projectosde investigação. Secundariamente, proporcionamos um mapa que cartografadetalhadamente o ensino superior público e privado, os seus desígnios e estadoactual, quanto aos níveis de qualidade e de investigação que patenteiam.

Contámos com as opiniões e visões desassombradas de académicos einvestigadores notáveis como António Coutinho, Abel Nascimento e José MiguelUrbano.

Estamos igualmente gratos pelo contributo de várias personalidades de prestígio:José Canavarro, Joaquim Pires Valentim, Maria Amélia Carlos, Carlos Sá Furtado ePaulo Gomes. As suas reflexões úteis e pertinentes em muito valorizaram estaedição.

Em plano não menos importante, mas a que já nos habituámos a contar,destacamos as contribuições relevantes de muitos docentes do Instituto SuperiorMiguel Torga.

Enquanto Director da TORGA, foi com orgulho e satisfação que passámos acontar com a colaboração permanente do Francisco Amaral, Inês Amaral, VandaLopes, Filipe Casaleiro, Bruno Cordeiro, André Pereira e Mariana Alves.

Henrique Amaral Dias

Nota do Director

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Editorial

Num contexto de profundas mudanças no ensino superior, julgamos ser curial que as universidades,institutos e politécnicos se adaptem de modo célere e eficaz às mesmas.

É hoje incontroverso que o Processo de Bolonha gerará alterações radicais ao nível daestruturação dos I e II Ciclos, obrigando as direcções dos estabelecimentos, professores e alunosa repensar métodos pedagógicos, programas e conteúdos, formas de assimilação de conhecimento,posicionamento face à concorrência, progressão nas carreiras e inserção no mercado de trabalho.

Os factores críticos de sucesso são deste modo os seguintes:1. Actuar estrategicamente face à concorrência, que deixou de estar quase exclusivamente

confinada às fronteiras nacionais, apostando em processos de fusão/concentração e emparcerias com instituições congéneres, nacionais ou internacionais, em projectos educativoscomuns, de I&D e de mobilidade de docentes e discentes;

2. Apostar decisivamente em captar recursos financeiros através de programas comunitários,mecenato, projectos empresariais em parceria e candidaturas ao IV Quadro Comunitáriode Apoio em articulação com o Plano Tecnológico proposto pelo actual governo;

3. Dotar a instituição dos meios materiais indispensáveis para a prossecução dos seusobjectivos;

4. Emprestar máxima qualidade e rigor quanto à selecção na entrada de alunos e professores;5. Acompanhar e avaliar criteriosamente a investigação desenvolvida e o ensino ministrado;6. Adoptar um Marketing Educativo que promova as vantagens competitivas e comparativas

que a instituição já possui ou está em vias de possuir.

A maioria destes propósitos já devia ter sido concretizada. Na verdade, Bolonha vem apenastornar incontornável a metamorfose: as instituições que alcançarem estes objectivos sobreviverão,as outras entrarão num processo de declínio irreversível e rapidamente desaparecerão.

Henrique Amaral Dias

FICHA TÉCNICA

DirectorHenrique Amaral Dias

EditoraAndrea Marques

CoordenaçãoAna Cristina AbreuFrancisco Amaral, Inês Amaral

RedacçãoAndré Pereira, Mariana Alves

ComposiçãoFrancisco Silva

FotografiaFilipe Casaleiro

AEISMTBruno Cordeiro

SecretáriaVanda Lopes

DesignID3A

ImpressãoFIG - Fotocomp. e Ind. Gráficas

Tiragem3000 exemplares

PropriedadeInstituto Superior Miguel TorgaCoimbra

ISSN 1646-2866Depósito Legal 232550/05

57 Nem tudo o que seensina se equivaleJoaquim Pires Valentim

58 Porventura demasiadointeligentesJorge Caiado Gomes

60 Alguns desafios paraas políticas educativasem Portugal: o caso doensino não superiorJosé Portocarrero Canavarro

63 O Ensino na UniãoEuropeia: um doslados do TriânguloMaria Carlos

Capa: Aristóteles contemplando o bustode Homero - Rembrandt

As opiniões expressas nos artigospublicados nesta revista são da inteiraresponsabilidade dos seus autores.

01 Nota do DirectorHenrique Amaral Dias

04 Aconteceu

24 Uma Aplicação do Júride Delphi – ISMTAlunos do 3º ano deInformática de Gestão

47 Investigação no ISMTAna Beatriz Bento

54 De BibliothecaAna Cristina Abreu

55 Um Testemunho euma PropostaCarlos Sá Furtado

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Sumário

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Ensino Superior eInvestigação emPortugalGrande Reportagem

37

António CoutinhoGrande Entrevista

20

“A gestão democráticaé inimiga do desen-volvimento daUniversidade”Entrevista a José MiguelUrbano

22

“A microcirurgia nãoé estimulada”Entrevista a Abel

Nascimento

70 O Ensino: umaquestão de afectosMaria Pinto

72 Aprender pelaexperiência – a Éticacomo disciplina noEnsino SuperiorMichael Knoch

75 De Bolonha ao PlanoTecnológicoPaulo Gomes

76 ¿OBJECTIVO: Queobjectivos?Entre Bolonha eCoimbraRegina Tralhão

80 Breve Apresentaçãoda Tecnologia Power LineHélder Silva, Joana Urbano

84 Na redeInês Amaral

85 Alma Nostra

86 PubliReportagemUma história de sucesso

88 Foreign AffairsHenrique Amaral Dias

89 Publicações

90 Mestrados

93 ViagemMinha Coimbra

94 “Os alunos queremnovas instalações”Entrevista a Bruno Cordeiro

95 AE - ISMTNotícias / Reportagens

98 Musica

99 Cinema

100 Página Literária

103 Agenda

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Em Abril, o ISMT realizou a primeirade uma série de sessões de esclareci-

mento sobre o Processo de Bolonha.Na abertura, o Director Carlos Amaral

Dias sublinhou a rapidez e qualidadecom que as actuais licenciaturas foram

adequadas às novas normas regula-mentares que passaram a reger o en-

sino superior, bem como o dinamismocrescente da instituição que se tradu-

ziu, entre outros factos, pela propostaao MCTES de 3 novas licenciaturas:

Comunicação Empresarial, Gestão eInformática.

José Henrique Dias secundou es-tas ideias e, na qualidade de Presiden-

te do Conselho Científico, afirmou quetudo faria em prol delas.

Apresentaram-se assim os novosciclos de estudos e seus objectivos,

os métodos de ensino e ECTS. Adici-

onalmente, discutiu-se o plano de tran-sição no âmbito do Processo de Bo-

lonha e informaram-se os presentesacerca do acesso ao ensino superior

dos candidatos maiores de 23 anos.Por último, analisaram-se as garanti-

as de qualidade e a acreditação dos Ie II Ciclos, e expuseram-se os diver-

sos programas de mobilidade que oGabinete de Relações Internacionais

tem vindo a desenvolver, tendo a ses-são terminado em diálogo fecundo

com os participantes.

Henrique Amaral Dias

SESSÃO DE ESCLARECIMENTOO PROCESSO DE BOLONHA NO ISMT

Da esquerda para a direita:Sónia Simões, Cristina Quintas, Carlos Amaral Dias, Jose Henriques, Henrique Amaral Dias e Alcina Martins

Fernando Teófilo

Aconteceu

torga

O “FALSO SELF”

No ano em que se comemoram os 150anos do nascimento de Freud, o Insti-

tuto Superior Miguel Torga organizouum Congresso de Psicanálise

intitulado: “O Falso Self”.A escolha deste tema para análise,

surgiu do desafio lançado por técni-cos especializados na área que subli-

nham o conceito do “falso self” comoum dos factores principais no adoecer

mental. Assim, R. D. Lang considera o“falso self“ (máscara, face ridificada do

Eu) como “...um sistema de protecçãodo indivíduo que tem medo do mundo,

(...)” de “se perder nas suas sensa-ções, devido à ausência de uma segu-

rança ontológica primária.” (Houzel eMoggio, 2004). Tratou-se de um even-

to de relevo e importância na área daPsicanálise, Psicologia e Psiquiatria,

onde estiveram presentes personali-dades de reconhecido mérito. Partici-

param como oradores: Carlos AmaralDias, Rui Aragão, Carlos Farate, Ma-

ria do Rosário Belo Gomes, AntónioMendonça, Doutora Cristina Fabião,

Jorge Caiado Gomes, Teresa NunesVicente, Mário Horta, José Henrique

Rodrigues Dias, José Carlos CoelhoRosa e Ana Bertão.

Rodrigo Lopes

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Aconteceu

torga

“Come Bem, Brinca Melhor” foi o lema

da “Marcha Contra a Obesidade Infan-til” que agitou as ruas da cidade de

Coimbra, em Maio. Cerca de duas cen-tenas de crianças desfilaram por esta

causa desde a Câmara Municipal deCoimbra até ao Parque Verde do

Mondego acompanhadas pelo Gover-nador Civil, jogadores da Académica

e educadoras.Este evento, promovido por um gru-

po de alunas finalistas da Licenciaturade Ciências da Informação do Instituto

Superior Miguel Torga, pretendeu sen-sibilizar crianças e sociedade civil para

o fenómeno da obesidade, que temvindo a aumentar significativamente

na população portuguesa.

Joana Moreira

Luís Carreira

Para comemorar os 150 anos sobre o

nascimento de Sigmund Freud (1856-1939), o Instituto Superior Miguel Torga

organizou, nos dias 7 e 8 de Abril, umaconferência dedicada ao fundador da

Psicanálise na Casa Municipal da Cul-tura em Coimbra.

Foram oradores José HenriqueDias, Carlos Alberto Afonso e Carlos

Farate, contando ainda com a partici-pação de Carlos Amaral Dias em me-

sas redondas.Tendo no seu leque de ensino uma

licenciatura em Psicologia, diversaspós-graduações e mestrados na área

da Psicoterapia, e sendo dirigido porCarlos Amaral Dias, psiquiatra e psi-

canalista, Presidente da Comissão deEnsino da Sociedade Portuguesa de

Psicanálise e autor de diversos obrassobre Sigmund Freud, a realização

deste evento assumiu um significadoe uma importância muito especial para

o Instituto Superior Miguel Torga.

Andrea Marques

Da esquerda para a direita: José Henrique Dias, Carlos Amaral Dias e Carlos Alberto Afonso

150 ANOS DO NASCIMENTO DE FREUD

MARCHA CONTRA A OBESIDADE INFANTIL

Filipe Casaleiro

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Aconteceu

torga

O projecto “Excluir a Homofobia” sur-giu no âmbito das disciplinas de Políti-

cas Sociais para Grupos de Risco e dePlaneamento e Gestão do Desenvol-

vimento, do 4º ano de Serviço Social,leccionadas por Regina Tralhão.

Este projecto está a ser desenvol-vido por dois grupos de trabalho: Gru-

po “Excluir a Homofobia” (CecíliaFreitas, Lil iana Borrego, Patrícia

Freitas e Tiago Farreca) e Grupo “Ho-mossexualidade e Exclusão Social

(Telma Duarte, Rita Quatorze e AnabelaDias) em parceria com o ISMT e com a

AEISMT, a quem também agrade-cemos desde já.

Optámos pela luta contra ahomofobia, uma vez que esta sempre

prejudicou e destruiu imensas vidas,na maior parte dos casos, tão silencio-

samente quanto o silêncio einvisibilidade a que sempre remeteu

as vivências homossexuais, tal comoacabámos de assistir na nossa modes-

ta representação.Assim torna-se claro que a

homofobia é um problema social

gravíssimo, sendo urgente tratá-la nassuas várias dimensões e contextos.

Neste sentido, decidimos iniciar o nos-so combate à homofobia com a orga-

nização desta sessão de escla-recimento. A data escolhida não foi por

acaso, deve-se ao facto do dia 17 deMaio ter sido proposto em 2005 como

o Dia Mundial Contra a Homofobia.O nosso projecto assume um ca-

rácter preventivo junto da populaçãoacadémica, sobretudo a do Instituto

Superior Miguel Torga. Pretendemosdemonstrar que a homofobia afecta

negativamente a todos, independen-temente da sua orientação sexual e

explicar que esta só terá fim com umatransformação social profunda.

Terminamos com a célebre frase deBoaventura Santos: “Temos o direito a

ser iguais sempre que a diferença nosinferioriza; temos o direito a ser dife-

rentes sempre que a igualdade nosdescaracteriza”.

17 DE MAIO – DIA MUNDIAL CONTRA A HOMOFOBIA Se estás farto de Preconceito,participa no blog…www.homossexualidade.blogspot.com

Somos um grupo de alunas do Instituto

Superior Miguel Torga, frequentamos o4.º ano do Curso de Serviço Social. No

âmbito da disciplina de Planeamento eGestão do Desenvolvimento leccionada

por Regina Tralhão, estamos a realizarum projecto que se intitula “Homosse-

xualidade e Exclusão Social”.Lembrámo-nos então de criar este blog

como forma de obter a participação detodos os interessados. Através deste

blog iremos abrir reflexões acerca daproblemática social: Homofobia.

Homofobia é o preconceito contraaqueles que amam pessoas do mesmo

sexo. É o preconceito contra pessoasque têm sentimentos, anseios, necessi-

dades e esperanças como qualqueroutro ser humano. O que há de errado

nisso? NADA! Não devem existir regraspara o amor... Ele deve seguir apenas o

Respeito e a Liberdade. NÃO precisasser um HOMOSSEXUAL para respeitar

um HOMOSSEXUAL!!!: Não pode exis-tir mais espaço para a Homofobia, para

o preconceito e para o desrespeito àsdiferenças neste mundo multi-identitário

em que vivemos. HOMOFOBIA NÃO!E porque o preconceito pode MATAR,

desde já, agradecemos a participaçãode todas as pessoas, aguardando pe-

las vossas opiniões e intervenções.

Anabela DiasRita Vieira

Telma Duarte

Luís Carreira

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Aconteceu

torga

A Escola de Comércio e Negócios é a

mais recente aposta do Instituto Supe-rior Miguel Torga no desenvolvimento

económico da região centro.Os objectivos são claros: criar

gestores e líderes eficazes; transmitirconhecimentos a empresários ou pro-

fissionais liberais, que não possuamformação nestas áreas; e dar forma-

ção intensiva, útil e de qualidade, lec-cionada por formadores com vasta ex-

periência profissional.As áreas em que a Escola de Co-

mércio e Negócios se propõe propor-cionar formação são: Gestão da Infor-

mação – Contabilidade, Finanças eFiscalidade; Gestão dos Recursos

Materiais; Gestão dos Recursos Huma-nos; Gestão do Processo Produtivo;

Marketing; Obtenção e Estruturaçãodos Recursos Financeiros; Recruta-

mento, Selecção e Afectação dos Re-cursos Humanos; Aquisição e

Alocação dos Recursos Materiais e

Equipamentos; Liderança e a

Envolvente Contextual da Organiza-ção.

A ECN surge porque as empresasportuguesas apresentam um défice

preocupante em capacidade de ges-tão e liderança. Este problema persis-

te desde há décadas. A economia por-tuguesa está inserida num mercado

global onde a competitividade e a ino-vação são factores decisivos para o

sucesso e, em última instância, para asobrevivência das organizações. Bens

e serviços, que até há pouco tempo seconsideravam como não expostos à

concorrência, i.e. não transaccioná-veis, estão hoje em competição direc-

ta com empresas multinacionais.O primeiro curso a ser leccionado

foi o de Contabilidade, Fiscalidade eGestão dirigido a Empresários e

Gestores que teve início no mês deMaio. Este surgiu perante a necessi-

dade de uma visão mais alargada do

comportamento da empresa quanto: à

utilização dos recursos financeiros; aorelacionamento com terceiros; à

comercialização das mercadorias, pro-dutos ou serviços; aos investimentos

em bens ao serviço da empresa; àobtenção de um resultado que satisfa-

ça os sócios ou accionistas e ao cum-primento atempado, tecnicamente cor-

recto e optimizado das obrigações ju-rídicas e fiscais.

Conduzido por Américo AlvesPetim, Gestor, Contabilista e Director

Científico da ECN, este curso tem du-ração de 9 semanas e decorre em ho-

rário pós-laboral das 20 às 23 horas.

Henrique Amaral Dias

ESCOLA DE COMÉRCIO E NEGÓCIOS, A NOVA APOSTA DO ISMT

Da esquerda para a direita: Américo Petim, Carlos Amaral Dias e Henrique Amaral Dias

Filipe Casaleiro

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Aconteceu

torga

ConferênciaAGOSTINHO DA SILVA -CIDADANIA E LIBERDADE

“Um professor da vida e um pensadorlivre”

Este colóquio decorreu na Casa Muni-

cipal da Cultura de Coimbra no passa-do mês Março, e contou com a partici-

pação dos docentes do ISMT JoséHenrique Dias, Maria Assunção Pinto e

Maria Manuela Serra.Maria Assunção Pinto começou por

falar dos “caminhos de um homemtransparente”, desenvolvendo ques-

tões como a trajectória biográfica docontroverso e enigmático pensador.

Não deixou de referir o essencial detodo o seu percurso, desde o nascimen-

to no Porto, à escolha de Barca d’Alvacomo “Terra Mãe”, a última terra portu-

guesa, entre a Beira e Alto Douro, an-tes da fronteira espanhola. Era uma ter-

ra de gente pobre, onde não havia es-cola nem luz eléctrica e só havia pão

uma vez por semana. Contudo, era oparaíso de vida para Agostinho da Sil-

va.O pensador, e também pedagogo,

terminou a licenciatura em FilologiaClássica, na primeira Faculdade da ci-

dade do Porto, com a média final de 20valores. Antes de começar a estudar, o

seu grande sonho era ser marinheiro,sonho esse que não conseguiu reali-

zar. Leonardo Coimbra, fundador daFaculdade de Letras do Porto, assumiu

o papel de professor de Filosofia Medi-eval de Agostinho. Porém, este não

nutria muita simpatia pela matéria, aca-bando, mesmo assim, por fazer a disci-

plina. Quando acabou a sua licenciatu-ra, afirma que: “A minha licenciatura não

foi em Filologia Clássica, foi em Liber-dade”.

Em 1942, publica um caderno quedesigna por “Cristianismo”. Este escri-

to chocou com as ideias do RegimeSalazarista, o que fez com que Agosti-

nho fosse acusado de perturbador, im-pedindo-o de fazer as suas conferênci-

as. Mais tarde, acabou por ser detidoem regime de isolamento total, durante

20 dias, por ter desrespeitado as regrasque lhe foram impostas. Esta sua força

fez dele um homem de movimento,pluridimensional e pluricultural.

Partiu para o Brasil, onde esperavaencontrar, do outro lado do Atlântico, a

oportunidade de realizar os seus so-

nhos e uma cultura que respeitasse omodo de pensar de cada um.

Em 1958, acaba por se naturalizarbrasileiro. Era um homem que afirma-

va não estar interessado em coisa al-guma, somente em viver. Regressa a

Portugal, em 1969, devido à ditaduraque tinha chegado ao Brasil e, em 1990,

transforma-se num líder de comunica-ção na RTP com o programa televisivo

“Conversas Vadias”. Posteriormente,retira-se, acabando por rejeitar a comu-

nicação social: “Cada vez gosto maisde menos gente”.

Já com 87 anos, este homem quefalava 12 línguas, admite que raramen-

te lia jornais, com excepção do “Públi-co”, por causa do “Calvin”. Quando foi

questionado em relação à morte, afir-mou: “Não penso nada, nunca morri,

depois, quando morrer, e se souber al-guma coisa, eu comunico”. Em 1994,

acaba por falecer de um acidentevascular cerebral.

A conferência terminou com aManuela Serra e José Henrique Dias,

que desenvolveram aspectos educacio-

nais da vida de Agostinho da Silva. Ascomemorações nacionais do centená-

rio do nascimento de Agostinho da Sil-va incluem colóquios, exposições e ain-

da o baptismo de um avião da TAP, como seu nome.

André PereiraMariana Alves

Da esquerda para adireita: José Henrique Dias, Carlos Amaral Dias, Manuela Serra e Maria Assunção Pinto

Filipe Casaleiro

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Aconteceu

torga

que “Os conteúdos são os mesmos

apesar do método ser diferente, mascom o passar do tempo conseguimo-

nos habituar”.Assim, mesmo com todas as con-

trariedades vividas, nunca sentiramvontade de desistir, considerando que

a cultura brasileira, diferente da portu-guesa, facilitou a sua integração, visto

que as pessoas eram mais abertas esimpáticas.

Esta experiência, segundo os dois,foi benéfica quer ao nível pessoal, por-

que lhes permitiu amadurecer e enca-rar novas formas de estar na vida, quer

ao nível profissional, pelo facto de tra-balharem com pessoas diferentes. En-

frentaram novos desa-fios e novas for-mas de resolver problemas, sendo tam-

bém potencialmente uma mais valiapara o seu currículo. Filipe Sá ressal-

vou que “Voltava a participar mas emvez de seis meses ficava lá um ano”.

Filipe Sá e João Venda, finalistas do

Curso de Licenciatura em Informática deGestão do Instituto Superior Miguel

Torga, realizaram em 2005, um períodode estudos na Pontifícia Universidade

Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Re-flectindo um pouco sobre uma nova ex-

periência académica, social e cultural,fizeram um balanço dos principais be-

nefícios obtidos, bem como das dificul-dades sentidas antes e durante o in-

tercâmbio.“Uma nova experiência, conhecer

uma nova cultura e enriquecer o (…)currículo”, foram os principais motivos

que levaram Filipe Sá a tomar a inicia-tiva de desenvolver um período de es-

tudos no Brasil com a duração de umsemestre.

Como o Gabinete de Relações In-ternacionais (GRI) do ISMT tinha sido

criado recentemente, os alunos queambicionassem participar numa expe-

riência deste âmbito sentiriam algumasadversidades a vários níveis. Como

nos relatou João Venda, “Não haviaGRI, como tal tivemos de ser nós a tra-

tar de tudo. Ao contrário dos colegasque lá estavam connosco, pagávamos

duas propinas, a da PUC que era bas-tante elevada e metade da propina do

ISMT”.Os alunos foram muito bem recebi-

dos na PUC. Puderam beneficiar deuma semana de inserção plena de

actividades através da qual conhece-ram a cidade, a Academia e os futuros

colegas. A Faculdade, embora muitogrande, com alunos provenientes de

diversos países, vivia um ambientebastante agradável, possivelmente re-

sultante da diversidade cultural.Inicialmente, sentiram algumas di-

ficuldades em adaptar-se à nova for-ma de ensino, referindo João Venda

À DESCOBERTA DO BRASIL

Em relação ao apoio prestado pelo

ISMT, não obstante as contrariedadesdo início, no cômputo geral a aprecia-

ção foi positiva, pois tiveram equiva-lência a todas as disciplinas que fre-

quentaram.A experiência foi bastante

enriquecedora e gratificante, os doisestudantes da Licenciatura em

Informática de Gestão do ISMT acon-selharam todos os seus colegas com

espírito empreendedor e motivação aefectuarem estes intercâmbios em

qualquer país em que julguem sentir-se bem.

José Manuel MoreiraLuís Manuel Ribeiro

Filipe Casaleiro

Filipe Sá e João Venda

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A qualificação alcançada pelo ServiçoSocial Português e a sua presença nodebate europeu constituem um impor-tante património a ser preservado edesenvolvido; a manutenção da forma-ção inicial do assistente social em 4anos torna-se condição imprescindí-vel para garantir uma formação ade-quada ao atendimento das demandascolocadas a esse profissional, pelasdiversas áreas do mercado de traba-lho.

O ISMT associou-se, a partir demeados dos anos 90, a um Programade Estudos Pós-Graduados em Ser-viço Social da Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo no Brasil. Noâmbito desta cooperação realizou-se,no Instituto Superior Miguel Torga, umareunião onde se discutiu o ServiçoSocial e o Processo de Bolonha.

Andrea Marques

SERVIÇO SOCIAL E PROCESSO DE BOLONHA

Dinis Alves deu uma aula intitulada “Foivocê que pediu um bom título?” no

passado dia 8 de Março na Casa Mu-nicipal da Cultura.

Apresentada por Sofia Figueiredo, aaula teve como público alvo os alunos

de Ciências da informação do InstitutoSuperior Miguel Torga, mas estiveram

também presentes alunos do ITAP.Dinis Alves começou por explicar

que no início da imprensa não haviatítulos nos artigos. Os jornais diários

não perdiam a actualidade facilmentee destinavam-se a ser lidos por com-

pleto sem grande urgência. Na verda-de, os jornais pretendiam rotular infor-

mações, não intitulá-las.Posteriormente, já com a existên-

cia de títulos, estes eram muito longos.

Aula Aberta

“FOI VOCÊ QUE PEDIU UM BOM TÍTULO?”

Filipe Casaleiro

Filipe Casaleiro

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Rui Avelar ex-Director da Agência LUSA

Aula AbertaJORNALISMO DE AGÊNCIA

No passado dia 15 de Março teve lugar,na Casa Municipal da Cultura, a

segunda Aula Aberta de Dinis Alvessobre “Jornalismo de Agência.”

A sessão teve como convidado RuiAvelar, jornalista com vasta expe-

riência e actualmente Director-Adjuntodo “Campeão das Províncias”.

Rui Avelar iniciou a sua apresen-tação referindo que, há uns anos atrás,

a difusão das notícias da agência aosseus clientes era feita através de telex,

uma máquina teleimpressora paracomunicação bilateral. A partir de

1992, começaram a ser transmitidaspor satélite.

O orador continuoudescrevendo um pouco o

Jornalismo de Agência.Para Rui Avelar a

objectividade, o rigor eimparcialidade são muito

importantes e o jornalistadeve ter em conta que as

fontes não são neutras. “Otrabalho de um jornalista de

agência é um trabalhoanónimo”. referiu o convi-

dado. Numa agência denotícias o género jornalís-

tico predominante é anotícia, podendo ocasio-

nalmente haver outrogénero, como por exemplo

uma entrevista.O Director-Adjunto do

“Campeão das Províncias”defendeu que o que se

valoriza nas notícias é o seuinteresse público. Para

escrever uma notícia há queter em conta a regra da

pirâmide invertida, ou seja,o mais importante deve estar

no início. Rui Avelar deu o

exemplo, “Se escrevermos uma notíciade 350 caracteres para um jornal e o

espaço disponível só der para 300 osúltimos 50 devem ser eliminados

porque serão os menos importantes”.O jornalista afirmou que não devem

usar-se muitas palavras no primeiroparágrafo, uma vez que a capacidade

de memorização imediata de um serhumano é de apenas 70 por cento e as

citações devem ser o mais curtaspossível. Há que ter em conta que os

adjectivos em jornalismo de agêncianão são bem aceites.

Ana Beatriz Bento

Filipe Casaleiro

“Só a concorrência entre jornais ea conquista do mercado publicitário fez

nascer uma indústria de títulos com afinalidade de vender jornais”, refere

Dinis Alves.Citando Eça de Queirós e Oliveira

Martins: “trata de fazer um bom jornale lembra-te de que a sensualidade

moderna, que é o fundo do gostomoderno, gosta sobretudo de forma e

de plástica”.O professor deixa um conselho no

que respeita à criação de títulos, elerefere que o ideal é redigir títulos com

curtas e poucas palavras, depreferência com uma, duas, três ou

quatro - incluindo artigos, conjunçõese preposições; pede-se ao título que

não revele tudo, mas desvende umpouco do texto.

Para Zorilla Barroso, o título temquatro condições essenciais, o de ser

um texto autónomo com significadopróprio, de carácter imprescindível, de

marcada elaboração colectiva uma vezque é o resultado da produção de

vários elementos do órgão, e porúltimo, de composição iconicamente

diferenciada para destacar grafi-camente do resto dos componentes do

texto jornalístico.Com esta aula o professor do

Instituto Superior Miguel Torga deuinício a uma série de aulas abertas ao

público em geral que acontecem àsQuartas-feiras na Casa Municipal da

Cultura.

Ana Beatriz Bento

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Aconteceu

torga

“Comportamentos de risco, estado desaúde e qualidade da vinculação em

crianças e adolescentes” é o título docolóquio que se realizou em Feverei-

ro, no auditório da Escola Superior deTecnologia da Saúde de Coimbra.

O encontro foi organizado na sequên-cia da concretização do projecto de

investigação “Repercussões do con-sumo do tabaco, do álcool e de outras

drogas na saúde das crianças e ado-lescentes – modalidades de interacção

e influência recíproca”.No seguimento de uma parceria

entre o Instituto Superior Miguel Torga,a Escola Superior de Tecnologia da

Saúde, o Departamento de Psicologiada Universidade do Minho e a Sub-

região de Saúde de Coimbra, surgiuum projecto de investigação pioneiro

na área da saúde pública. O objectivoé investigar o impacto que os compor-

tamentos de risco podem ter sobre oequilíbrio psicológico e o estado de

saúde dos jovens, que são utentes dasconsultas de clínica geral ou de saúde

juvenil dos centros de saúde depen-dentes da Sub-região de Saúde de

Coimbra. Este projecto está a ser le-vado a cabo sob os auspícios da Fun-

dação Calouste Gulbenkian.O projecto mostra que, na actuali-

dade, não há grandes diferenças en-tre o consumo dos jovens de um meio

rural e urbano, como existia há 10 anosatrás. Isto porque os jovens que vivem

na periferia têm um grande contactocom a cidade. O choque não será em

relação aos jovens, mas sim em rela-ção aos pais: um comportamento mais

antiquado pode provocar tensões nafamília.

Os resultados parecem ser um pou-co mais preocupantes no que diz res-

peito ao consumo de drogas, álcool etabaco. Verifica-se um nível de consu-

mo mais elevado por parte das rapari-

Filipe Casaleiro

gas. Contudo, este consumo acaba por

não se fixar, não passando simples-mente de um processo de rebeldia, de

emancipação. Por outro lado, nos ra-pazes, estes comportamentos acabam

por se fixar como forma de se destaca-rem.

Estiveram presentes no colóquiodo director do Serviço de Saúde e De-

senvolvimento Humano da FundaçãoCalouste Gulbenkian, Professor Dou-

tor Manuel Rodrigues Gomes; o direc-tor do ISMT, Professor Doutor Carlos

Amaral Dias; o presidente da Adminis-tração Regional de Saúde do Centro,

Fernando Regateiro; a coordenadorada Sub-região de Saúde de Coimbra,

Isabel Ventura; o director do departa-mento de Psicologia da Universidade

do Minho, Professor Doutor ArmandoMachado; a directora da Escola Supe-

rior de Tecnologia da Saúde de

Coimbra, Lúcia Simões Costa. A presi-

dir o colóquio, esteve o Professor Dou-tor Carlos Farate, docente do ISMT.

André PereiraMariana Alves

COMPORTAMENTOS DE RISCO

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Aconteceu

torga

A convite da Loja Liberdade, do GrandeOriente Lusitano, o Prof. Doutor Carlos

Amaral Dias realizou uma conferênciasubordinada ao tema Genoma e

Predestinação. A sessão integrava-senas comemorações do 110º aniversá-

rio daquela loja maçónica, sem “abatercolunas”, o que significa que nunca in-

terrompeu trabalhos mesmo quando da

ilegalização por decreto do salazarismo.A conferência, de grande importân-

cia científica, muito interessou os muitosmaçons e outros convidados presentes

(a sessão foi aberta) e suscitou um inte-ressante debate, em que o Prof. Amaral

Dias notificou a evolução histórica deconceitos e convocou a cientificidade

para explicação do significado do

genoma na construção da personalida-de e seus limites.

Tratou-se de uma reunião científicade particular importância, que uma vez

mais pôs em evidência a importânciacultural e científica do nosso Director.

José Henrique Dias

GENOMA E PREDESTINAÇÃO

Foi apresentado em Fevereiro, no au-ditório da Escola Superior de

Tecnologia da Saúde de Coimbra, omais recente livro de Carlos Amaral

Dias: “Freud para além de Freud”, vo-lume II.

Ao longo desta obra, o leitor teráacesso a um outro “olhar e ver simulta-

neamente amplo e profundo, quer so-bre Freud, quer sobre psicanálise e

comportamentos científicos actuais,quer sobre a humanidade”.

No primeiro livro, a obra baseia-seessencialmente em textos clássicos e

longos de Freud. Neste volume, há umasíntese da obra de Freud, caracteriza-

da como um romance familiar. São oitotextos inovadores que permitem uma

transformação na forma de ler Freud,de uma maneira actual e viva.

Neste livro encontramos um textosobre o recalcamento, algumas consi-

derações sobre a guerra e a morte, ter-minando com um texto sobre uma cri-

ança abatida – masoquismo na espé-cie humana. Está a ser ultimada a pu-

blicação de “Freud para além de Freud”volume II em espanhol e inglês.

O terceiro volume abordará aspec-tos inéditos da obra de Freud, não ex-

plorados nos volumes anteriores.

André PereiraMariana Alves

NOVO LIVRO DE CARLOS AMARAL DIAS

Carlos Farate e Carlos Amaral Dias

Filipe Casaleiro

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16 torga

Aconteceu

“Labimprensa” é o título do directório

de blogs dos alunos de Laboratório deImprensa da Licenciatura em Ciências

da Informação. Disponível em http://labimprensa.blogspot.com/, este espa-

ço é um índice dos weblogs (individu-ais ou colectivos) onde os alunos pu-

blicam trabalhos relacionados com adisciplina de Laboratório de Imprensa

do 4º ano de CI, leccionada por DinisAlves. O docente e os alunos Luís

Monteiro e Rogério Aguiar são os ad-ministradores deste “metablog”.

Este projecto esteve também asso-ciado à iniciativa “Cartas ao Pai Na-

tal”. No último Natal, o velhinho dasbarbas brancas decidiu acompanhar

as novas tecnologias, deixando paratrás os velhos trenós. Desta vez che-

gou pela Internet mas, em vez das ha-bituais renas, foram alguns alunos do

ISMT que o ajudaram nesta “fantásti-ca” viagem. Foi criado um blog (http://

painatal2005.blogspot.com/), ondecerca de centenas de crianças de todo

o país deixaram os seus pedidos, parao último Natal.

O desafio lançado pelos alunos do4º ano da licenciatura em Ciências da

Informação fez com que se deslocas-sem a várias escolas do país, em bus-

ca dos sonhos dos mais pequenos.Nunca garantindo a sua entrega, mas

não querendo deixar estas criançassem nenhum miminho, colocaram as

suas cartas e desenhos no blog, paraque o Pai Natal pudesse ver.

O blog foi um espaço criado paraque estas crianças pudessem deixar

aí todos os seus desejos, que não pas-saram só pelos carros e pelas bone-

cas, mas também por aqueles sonhosmais difíceis de concretizar: o fim das

guerras e da pobreza, e que a amiza-

de prevaleça por todo o Mundo. Uma

das mensagens mais comoventes foide uma menina que dirigiu esta men-

sagem ao Pai Natal: “Eu gosto muitode ti... acho que me portei bem… se

não me quiseres dar nenhuma prendaeu não me importo, mas caso queiras

dar, eu quero que a minha irmã e o meupai sejam amigos… por favor tenta”.

Segundo o coordenador do projecto,Dinis Alves, “o Pai Natal deve ser en-

tendido como um símbolo defraternidade, amizade ao próximo e

todos esses valores que já parecemesquecidos”.

Para evitar atrasos, estes meninospediram então as suas prendas atra-

vés da blogosfera. Quem não sabiaescrever não quis deixar de participar,

acabando por fazer alguns desenhos.O mesmo aconteceu com alguns me-

ninos deficientes. Esta actividade foimuito bem acolhida pelas crianças,

alvo principal desta iniciativa, mas tam-bém pelos pais e professores que

aplaudiram este especial “Netal”.Em balanço, Dinis Alves considera

que o projecto “Cartas ao Pai Natal”ultrapassou todas as expectativas. “Um

trabalho que foi, essencialmente, de-senvolvido a nível local, acabou por

se expandir de tal modo que ganhouproporções nacionais”, afirmou. O do-

cente já tem iniciativas futuras entremãos e, mais uma vez, a sua

concretização só irá ser possível coma colaboração dos alunos da licencia-

tura em Ciências da Informação, doInstituto Superior Miguel Torga.

Mariana Alves

INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA NABLOGOSFERA

Realizado em Coimbra, a 8 de Feve-reiro de 2006, o protocolo apresenta

como objectivo genérico o desenvol-vimento de relações de mútua coope-

ração científica, técnica, cultural e deprestação de serviços.

Os objectivos específicos do proto-colo definem-se pela instauração de

um sistema de colaboração entre asduas instituições relativo a estágios

curriculares dos cursos de Licenciatu-ra do ISMT, nomeadamente os cursos

de Licenciatura em Psicologia e Servi-ço Social e pela promoção da coope-

ração nas áreas da investigação gra-duada e pós-graduada, a nível da for-

mação e da prestação de serviços.

Ana Cristina Abreu

COOPERAÇÃO

CENTRO PSIQUIÁTRICO DE

RECUPERAÇÃO DE ARNES EINSTITUTO SUPERIOR MIGUEL

TORGA

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Aconteceu

torga

O NATAL COMONARCISISMO DE VIDA EMODELO PARA A FAMÍLIA

O Instituto Superior Miguel Torga or-ganizou, em Dezembro último, a con-

ferência “O Natal no Divã – O Natalcomo narcisismo de vida e modelo

para a família”. Num ambiente acolhe-dor, o Professor Doutor Carlos Amaral

Dias dirigiu uma amena conversa queteve como pontos principais o mito de

Narciso e as ideias de Freud, recor-rendo a dois dos seus textos.

Narciso era filho da ninfa Liriópis edo rio Cefiso, cujo primeiro nome era

Lethis, que deu origem à palavra “le-tal”. Era, portanto, o rio da morte. Este

seu nome veio mais tarde a dar ori-gem à palavra grega “alethea”, que

significa “verdade”. Isto significa quea verdade se inscreve num lugar onde

a morte é concebida mas pode ser ul-trapassada. É por saber que somos

mortais que podemos construir o“narcisismo de vida da espécie huma-

na”. Os gregos dividiam o mundo emmortais e imortais. A única forma de

ser imortal, segundo Platão, é de acre-ditar que “uma vida não reflectida não

vale o direito de ser vivida”. O maisextraordinário na vida de Narciso é a

sua transformação numa flor do rio.Segundo Amaral Dias, “a pior coisa

do narcisismo de morte é nós, em vezde nos inscrevermos no futuro,

inscrevermo-nos no passado”. Narci-so fica perplexo ao ver o seu reflexo

na água. Em grego, “reflexo” significa“olhar para trás”. Narciso, ao olhar

para trás, encontrou apenas o seu pas-sado. A pior coisa que pode acontecer

a um ser humano é não nascer comoera “pre-nascido”, ir-se embora, partir,

levantar voo. Neste caso, podemos fa-lar do caso português: a modernidade

começou connosco, que tivemos de

sair da nossa origem para dar novosmundos ao mundo. É esta a missão da

espécie. Um neurótico, sofrendo dereminiscências, permanecendo preso

ao passado, pode ficar, como na peçade Ovídio, transformado apenas na flor

de um rio. A memória de futuro é sair,partir e crescer. “Ousar lutar é ousar

vencer e há que não ter medo de sairdo espelho. Quem fica no espelho ape-

nas tem Eco (aquela que se apaixo-nou por Narciso e repetiu várias vezes

o seu nome como prova de amor), quetem de ser quebrado, para todos po-

demos ser outros, para podermos par-tir, para podermos crescer”, conclui

Carlos Amaral Dias.Por sua vez, Freud escreve um tex-

to em 1914, dedicado a este tema “In-trodução ao Narcisismo” onde afirma

que “a espécie humana está conde-nada a um universo de objectos

substituíveis”. Quem se condena aolhar para o rio chorando intermina-

velmente o amor perdido, pensandoque é amor, está enganado. De acor-

do com Amaral Dias, o sentimento aípresente é o “amódio, a mistura de

amor e ódio. O ódio à terra, a incapaci-dade de perceber o luto e de partir e

voltar a amar de novo”.Já em 1910, Freud havia escrito um

texto dedicado a Leonardo da Vinci, umdos maiores génios da Renascença,

no qual explica a coisa mais bonita quehá sobre o narcisismo humano. Leo-

nardo, para Freud, realizava um pro-blema complexo, enigmático, um pro-

blema a que chamou de “pulsãoepistemofílica”. Segundo o Professor

Amaral Dias, “para além das pulsõessexuais e agressivas, a Neuro-fisiologia

contemporânea veio demonstrar quenós nascemos com uma competência

sensorial específica para conhecer eperceber a realidade”.

Freud afirma que a maior parte dosseres humanos está condenada a so-

frer uma de duas coisas: passar poruma infância tormentosa e organizar

sintomas neuróticos; e tornar-se capazde passar por tudo aquilo que teve na

infância. “Hoje em dia, vivemos nummundo hipócrita em que se pensa em

coisas tão estúpidas como os pais se-rem iguais às mães. A palavra parte

do pai, mas o amor básico parte damãe”, afirmou Amaral Dias. Neste tex-

to, Freud afirma que “génios comoLeonardo não precisaram de produzir

sintomas mas passaram directamentede uma espécie de competência hu-

mana para o sumo máximo do desen-volvimento que era a genialidade”.

Amaral Dias fez uma com-paração di-zendo que “Leonardo era como os

bebés que chupam no dedo dentro dabarriga das mães: não precisaram de

encontrar um seio para o substituir pelopolegar. A genialidade está em saber

encontrar um polegar dentro do úterosem nunca ter percebido que há um

seio. Leonardo da Vinci faz parte des-se grupo de pessoas”.

Leonardo da Vinci foi capaz de olharo mundo daquela forma porque a sua

mãe o olhou assim. Aqui, surge outravisão do narcisismo. No primeiro tex-

to, Freud tem uma visão do narcisismoligada à capacidade de investir ou

desinvestir objectos porque se acredi-ta no amor-próprio. Neste segundo tex-

to, o narcisismo é visto da forma comonós observamos o mundo porque al-

guém olhou para nós dessa mesmamaneira. No fundo, todos nós gostarí-

amos que os nossos pais nos tives-sem olhado quando nascemos da

mesma forma que Leonardo foi olha-do pela sua mãe.

André Pereira

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Aconteceu

torga

TEORIA DE JOGOS

Realizou-se, em Abril, o Seminário deTeoria de Jogos leccionado por

Henrique Amaral Dias, com a contri-buição de Regina Tralhão e organiza-

do por Vicente Serrano.

Referiu-se que:

a) A Teoria de Jogos se tornou numadas mais importantes áreas de inves-

tigação científica, com implicaçõesdeterminantes na análise económica,

ciência política, biologia, direito, rela-ções internacionais, filosofia e mate-

mática.

b) Em todas as sociedades, os indiví-

duos interagem constantemente. Porvezes, essa interacção é cooperativa,

noutras é competitiva. Assim, num ex-tremo está a formação de uma família

ou de um projecto, no outro, empresasou trabalhadores rivais que se

digladiam.

c) A noção de interdependência está

sempre presente — o comportamentode alguém afecta o bem estar de ou-

trem, positiva ou negativamente. Situ-ações de interdependência são desig-

nadas por condicionamento estratégi-co, dado que um indivíduo ao decidir

da melhor forma, tem forçosamente deconsiderar como é que os restantes

jogadores irão actuar. Ora, a Teoria deJogos pretende explicar como é que

as pessoas se comportam, e aconse-lhar como se deveriam comportar.

d) A Teoria de Jogos não é mais então

do que um estudo sistemático deinteracções estratégicas, centrando-se

fundamentalmente na resolução deproblemas pertencentes a quatro clas-

ses de jogos: estáticos ou dinâmicoscom informação completa e estáticos

ou dinâmicos com informação incom-pleta. Um jogo tem informação incom-

pleta, se um dos jogadores desconhe-

ce o retorno de um outro qualquer, talcomo ocorre frequentemente num lei-

lão, em que um dos interessados nãosabe quanto é que o outro (ou outros)

está disposto a pagar. A estas classesde jogos estão subjacentes outras tan-

tas noções de equilíbrio: equilíbrio deNash, equilíbrio perfeito de Nash num

subjogo, equilíbrio de Nash Bayesianoe equilíbrio Bayesiano perfeito.

e) Centrou-se a atenção apenas noestudo de jogos estáticos com infor-

mação completa, pois o conceito (Equi-líbrio de Nash) que lhes está inerente é

imprescindível para prosseguir análisesmais sofisticadas, associa-das às outras

classes referidas, e estruturante para umpensamento lógico, aplicável a um vas-

to espectro de circunstâncias.A este respeito, Regina Tralhão in-

terveio amiúde, ilustrando de modo di-dáctico em que situações de âmbito so-

cial se podem utilizar estas ferramentasanalíticas, o que em muito enriqueceu

este evento.

Andrea MarquesHenrique Amaral Dias

Filipe Casaleiro

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Ensino & Investigação

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Optou por uma carreira científica em

Portugal. Em 1995 foi bolseiro daEuropean Science Foundation na Ecole

Polytéchnique em Paris. De Dezembrode 1998 a Julho de 1999 esteve em

Chicago, na Northwestern University,enquanto bolseiro da Fundação Luso-

Americana. Contactou com sistemasuniversitários e científicos que afirma

serem muito mais atraentes do que oportuguês. Quando regressou, já Dou-

torado, pensou que “era possível darum contributo sério para mudar o esta-

do das coisas. Mas, não foram precisosmuitos anos para perceber que isso era

uma autêntica ingenuidade. Não é pos-sível mudar as coisas dessa maneira.”

“O país está a começar a crescer nosentido certo mas eu diria que o sistema

Ensino & Investigação

torga

universitário português ainda é inimigo

do desenvolvimento científico. Nós vi-vemos com um estatuto da carreira do-

cente muito ultrapassado, vivemos comum sistema de governo da Universida-

de que, em certa medida, serve os inte-resses das pessoas que estão no siste-

ma, em particular dos professores e não

propriamente da ciência.” Para ultrapas-

sar este problema José Miguel Urbanoconsidera urgente mudar o estatuto da

carreira. “Isto significa: menos garanti-as no início da carreira relativamente ao

emprego, e aumento da competitividadeem relação à promoção.”

Sem a alteração do estatuto da car-

reira José Miguel Urbano não acreditaque as coisas mudem. Considera mes-

mo que este “se tornou totalmente per-verso porque dá uma série de garanti-

as desde muito cedo. O que acontecehoje em dia é que a entrada para a car-

reira é feita logo após a licenciatura,

sem que as pessoas prestem qualquer

tipo de provas enquanto cientistas… Apartir daqui, as promoções são todas

internas e isto gera fenómenos que to-dos conhecemos… Isto é completa-

mente contrário ao desenvolvimento dosistema científico.”

“A GESTÃO DEMOCRÁTICA É INIMIGA DO DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE”

“O sistema universitário tem que ser uma oligarquia meritocrática”

José Miguel Urbano tem 35 anos e um percurso invejável. Concluiu o ensino

secundário com média de 19 valores.Candidatou-se à Universidade com média final de 19.6 valores.

Licenciou-se em Matemática, Ramo Científico (Matemática Pura) com médiafinal de 19 valores.

Aos 29 anos concluiu o Doutoramento em Matemática (especialidade de Análi-se Matemática).

É Professor Associado com Agregação no Departamento de Matemática da Fa-culdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Filipe Casaleiro

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Ensino & Investigação

torga

Prémio José Anastácio daCunha (ex aequo com XiangDong Li e Pedro Resende) em2002. Este prémio destina-se agalardoar uma dissertação deDoutoramento em Matemática,escolhida por um júri de entre asque se apresentarem a concurso,e é concedido de 4 em 4 anos.Programa Gulbenkian deEstímulo à Investigação –Fundação Calouste Gulbenkian,1998Prémio João Farinha em 1992:atribuído ao estudante quetermina a Licenciatura emMatemática na Faculdade deCiências e Tecnologias daUniversidade de Coimbra com aclassificação mais elevada no anoem causa.Medalha de Ouro: OlimpíadasNacionais de Matemática em1988

A avaliação internacional é a medi-da que José Miguel Urbano considera

necessária para que um país pequenocomo Portugal possa fugir ao “esque-

ma” de serem sempre os mesmos aavaliar, em que os resultados das ava-

liações são todos muito bons para to-dos.

“Nós só conseguimos ir a algum ladose as pessoas perceberem que a Uni-

versidade não é um sistema Democrá-tico, não pode ser. A gestão democráti-

ca é inimiga do desenvolvimento daUniversidade. O sistema universitário

tem que ser uma oligarquiameritocrática, isto é, devem ser os me-

lhores a tomar as decisões. Todos oscientistas portugueses mais conhecidos

dizem isto há muito tempo. Todos achamque as coisas têm que mudar mas, as

coisas nunca mudam porque quemdetém o poder nas universidades não

quer que as coisas mudem, explicou oinvestigador.

“A matemática é uma disciplina que

não se consegue aprender semesforço”

Todos os anos é a disciplina com

piores resultados nos exames nacio-nais. A matemática é odiada por gran-

de parte dos alunos. José Miguel Urba-no explica porquê: “eu acho que tudoisto é consequência de uma mentali-dade que se foi desenvolvendo nos úl-timos anos que considera que o ensinodeve ser uma actividade relacionadacom o prazer. Penso que se perdeu anoção que estudar, como tudo aquiloque é verdadeiramente importante navida, custa, exige sacrifícios e exige tra-balho. A matemática é uma disciplina

que não se consegue aprender semesforço, sem trabalho. Isto não signifi-

ca que não se possa tirar prazer de es-tudar matemática, só que o prazer vem

depois do esforço.”Em Portugal criou-se a ideia de que

tudo é fácil e que nada exige esforço emuito trabalho. Quando questionado

sobre a origem dos maus resultados amatemática José Miguel Urbano é pe-remptório: “eu acho que o problemaestá em quem ensina e em quem toma

as decisões. Criou-se um sistema quenão funciona. Os nossos estudantesnão são melhores nem piores do queos outros. Muitos professores têm umapreparação científica deficiente, prefe-

rem refugiar-se em questões relaciona-das com a pedagogia sem saberem

exactamente aquilo que estão a ensi-nar. Portanto, sabem ensinar mas não

sabem aquilo que ensinam.”Mas, apesar dos maus resultados

e da insuficiente qualidade de ensinoda matemática, ainda há todos os anosum “grupo razoável” de estudantesque procuram a licenciatura em Mate-mática com médias altíssimas porquegostam muito da disciplina. No entan-to, “se calhar o país não precisa de

muitos mais matemáticos, de muitosmais profissionais da matemática. Pre-

cisa de matemáticos melhores”, afir-ma o investigador.

Andrea Marques

Filipe Casaleiro

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Originalmente derivada da palavra Gre-

ga plastikos que significa moldar ou al-terar a forma, a Cirurgia Plástica,

Reconstrutiva e Estética é uma especi-alidade que adapta princípios cirúrgi-

cos às necessidades específicas decada doente fazendo a remodelação e

a redistribuição dos tecidos.A Cirurgia Plástica e Reconstrutiva

teve o seu início numa época anterior aCristo, altura em que cirurgiões da Ín-

dia procediam à reconstrução do narizutilizando um retalho cutâneo proveni-

ente da região frontal.Trata-se de uma especialidade cirúr-

gica cujo desenvolvimento recente foiestimulado pelos desafios que surgiram

aquando das graves reconstruções nasvítimas das Guerras Mundiais.

Uma das áreas de intervenção des-tes cirurgiões é a cirurgia da mão, in-

cluindo o tratamento de lesões traumá-ticas agudas, correcção de deformida-

des ou ainda a reconstrução da mão. A

microcirurgia vascular, técnica que per-mite a sutura de vasos sanguíneos de

um milímetro ou menos de diâmetro, éuma competência hoje indispensável

em Cirurgia Plástica Reconstrutiva eEstética nomeadamente para a

reimplantação de partes amputadas damão, de outras áreas anatómicas ou

ainda para a transferência de grandesáreas tecidulares de uma parte do cor-

po para outra.Abel Nascimento, director do servi-

ço de Ortopedia, especialista emmicrocirurgia e responsável pela Uni-

dade de Cirurgia da Mão do Serviço deOrtopedia dos Hospitais da Universida-

de de Coimbra tem no currículo váriosmilhares de cirurgias (cerca de 13.000),

nos campos da microcirurgia recons-trutiva (reimplantações, transferências

de dedos do pé para a mão, retalhoslivres e pediculados, etc.), cirurgia ge-

ral da mão, cirurgia do plexo braquial e

nervos periféricos, cirurgia congénita,cirurgia reumatóide, cirurgia tumoral,

cirurgia linfática, cirurgia ortopédica ecirurgia plástica, entre outras.

O cirurgião iniciou a sua aprendi-zagem de Microcirurgia em 1979, foi

introdutor em Portugal e pioneiro euro-peu do método inovador Freehand

System, para recuperação funcional damão paralítica em doentes tetra-

plégicos, nos H.U.C. em 1997. “Integra-mos igualmente, desde 1999, um gru-

po de pesquisa a nível europeu paraimplantação de um sistema electrónico

de controlo de marcha em paraplégicos”,afirmou Abel Nascimento.

Em 1994 defendeu o Doutoramentoem Paris (França), com o trabalho

“Reconstruction plastique du membresupérieur – investigation anatomique et

application chirurgicale et Régénérationlymphatique en réimplantations et

“A MICROCIRURGIA NÃO É ESTIMULADA”

Abel Nascimento - especialista em microcirurgia e Director do Serviçode Ortopedia dos H.U.C.

Ensino & Investigação

Filipe Casaleiro

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lambeaux vascularisés dans lachirurgie expérimentale et clinique”

que consolidou e validou os procedi-mentos cirúrgicos da sua prática clíni-

ca. O modelo experimental animal es-colhido foi o cão, tendo sido efectuadas

131 amputações/reimplantações dosmembros posteriores para estudar a

regeneração dos tecidos, nomeada-mente a contribuição dos sistemas ve-

noso e linfático na resolução do edemae reorganização tecidular. Este estudo

permitiu recolher informações inéditaspreciosas para a prática médico-cirúr-

gica em diversos campos da cirurgiareconstrutiva, tendo-lhe sido atribuído o

grau de Doctor Communitatis Europeaee a medalha da Universidade René

Descartes.“Fomos convidados para integrar o

Projecto Europeu Leonardo da Vinci(Formation à la connaissance du

système lymphatique et à la prise encharge de ses pathologies). O convite

foi feito na sequência da nossa investi-gação profunda (animal e humana) no

campo da anatomia estrutural e funcio-nal, fisiopatologia e cirurgia linfática

(microcirurgia linfovenosa, linfonodular,linfolinfática, linfoveno-linfática e cirur-

gia plástica reconstrutiva de redução delinfedemas). Um dos grandes capítulos

da tese de doutoramento europeu ver-sa a regeneração linfática em cirurgia

experimental”, explicou o médico.Também foram realizados estudos

em cadáveres frescos em Paris, paraestandardizar a anatomia da rede lin-fática dos membros através da injec-ção de produtos específicos linfotró-pi-cos. “Estudámos, na clínica, a regene-ração linfática em doentes comreimplantações totais ou retalhos dosmembros através de diversos métodos

anatomofuncionais. Estes estudos per-mitiram obter conclusões importantes

para o aprofundamento de técnicas decirurgia linfática e plástica moderna”,

acrescentou.

“Presentemente a nossa actividadeestende-se, pela Ortopedia Geral, Ci-

rurgia Plástica Reconstrutiva do Apare-lho Locomotor, Cirurgia de Urgência

(Reimplantações, Cirurgia Vascular, Ci-rurgia Nervosa, Cirurgia da Mão, etc.),

Cirurgia da Mão Clássica, Cirurgia da

Mão Reumatóide, Cirurgia do PlexoBraquial e Nervos Periféricos, Cirurgiadas Malformações Congénitas, CirurgiaLinfática e Cirurgia dos TransplantesÓsseos Vascularizados em necroseasséptica da cabeça do fémur, CirurgiaTumoral e Cirurgia de PerdasOsteocutâneas. Para além desta cirur-gia efectuamos ainda Cirurgia dosTetraplégicos (clássica e recuperação

das mãos paralíticas pelo sistemaelectró-nico Free Hand System – tendo

sido dos primeiros países do mundo aaplicá-lo e introduzi-lo em Portugal). Foi

igualmente efectuada cirurgia de implan-tação para tetraplégicos do sistema

Brindley-Voccare, para o controleesfincteriano por aplicação directa de

sistema electrónico na medula, em co-laboração com os Serviços de Urologia

e Medicina Física e Reabilitação.”Questionado sobre as condições

existentes para fazer investigação emmicrocirurgia em Portugal Abel Nasci- Andrea Marques

Henrique Amaral Dias

PRÉMIOS CIENTÍFICOS

Menção Honrosa do Prémio Professor JorgeMineiro (SPOT) em 1984.1º Prémio Professor Jorge Mineiro (SPOT)em 1986.Melhor comunicação do CongressoEuropeu do G.E.L., Bruxelas, em 1994.Medalha de Mérito da Faculdade de MedicinaRené Descartes, Paris, em 1994.Melhor comunicação do 6th Congress ofthe International Federation of Societies forSurgery of the Hand, Helsinkia, Finlândia,1995.Galardoados na Grande Gala do Casinoda Figueira da Foz, na celebração do 5ºAniversário do Jornal “O Diário das Beiras”,1999.Distinção, na área da Medicina, no livrodos 75 anos do Jornal “Diário deCoimbra”, 2000.

mento afirma “é possível fazer mas co-meça a ser desmotivante. Começa a ser

um pouco difícil porque a microcirurgianão é estimulada.”

Para 2006 está prevista a aplicaçãoda nova versão do sistema electrónico

para tetraplégicos, na qual o Instituto de

Cirurgia Reconstrutiva está envolvido em

estreita colaboração com os E.U.A.

Ensino & Investigação

Filipe Casaleiro

Page 26: Nota do Director - alperce.com 37 p.pdf · 24 Uma Aplicação do Júri de Delphi – ISMT Alunos do 3º ano de Informática de Gestão 47 Investigação no ISMT Ana Beatriz Bento

26

Este trabalho, coordenado porHenrique Amaral Dias, foi desenvolvi-do por alunos de Informática de Ges-tão do 3º ano, no âmbito da disciplinaGestão Industrial.

Utilizou-se o Método de Delphi,pois permite chegar a resultados quenão geram dúvidas significativas nasua análise.

O Júri Delphi é uma das poucasmetodologias científicas que permiteinterpretar qualitativamente dados.Este método permite descortinar asopiniões de especialistas/personalida-des relevantes através do preenchi-mento de um único questionário, quese repete um determinado número devezes, variando este em função do ní-vel de consenso atingido.

Distingue-se essencialmente portrês características básicas: o anonima-to, a interacção com feedback controla-do e a revelação sucessiva de resulta-dos estatísticos gerais aos inquiridos.

Este processo realizou-se apenasduas vezes, visto que no final do se-gundo round obteve-se um amplo con-senso quanto às respostas dos parti-cipantes.

Este inquérito tem como escopodelimitar, com a maior clareza possí-vel, as linhas estratégicas a prosse-guir pela nossa instituição. Neste sen-tido, seleccionámos um grupo restritode indivíduos, que pelo seu conheci-mento do ISMT e as suas competênci-as, nos garantiam um resultadocredível.

Seguidamente serão apresentadasalgumas das questões realizadas noinquérito e as respectivas repostas.

UMA APLICAÇÃO DO JÚRI DE DELPHI – ISMT

É importante sublinhar que os resultados que de seguida descrevemos não são o produto de uma tendência de opinião docorpo docente, discente ou de funcionários do ISMT, mas tão somente traduzem aquilo que um conjunto de indivíduosdecisivos para o futuro da instituição pensa.

Perguntas Gerais

É importante a instituição agregar tudonum único edifício?

• 95% - Sim • 5% - Não

As actuais instalações estão bemlocalizadas?

• 80% - Sim • 20% - Não

A Biblioteca é:• 0% - Dimensão Adequada• 100% - Pequena• 72% - Confortável• 28% - Desconfortável• 58% - Bem apetrechada• 42% - Mal apetrechada

Era importante a escola ter a sua própriacantina ou bar?

• 95% - Sim • 5% - Não

Se Sim, o que acha do bar da associação?• 0% - Agradável• 61% - Razoável• 39% - Péssimo

Perguntas aos AlunosO que devia a AEISMT fornecer aos alunos?

• Computadores

• Bar com melhores condições

• Salas de Estar

• Mais convívios

O que pensa dos horários dos alunos eda afectação das salas aos mesmos?

• 0% - Muito Bons

• 22% - Bons

• 11% - Razoáveis

• 56% - Maus

• 11% - Muito Maus

O ISMT deveria ter uma sala decomputadores só para os alunosutilizarem?

• 89% - Sim, muito importante

• 11% - Sim

• 0% - Não necessariamente

• 0% - Não

Em relação aos serviços administrativos /Secretaria como avalia o serviço por estesprestado ao público?

• 11% - Muito Bom

• 56% - Bom

• 33% - Razoável

• 0% - Mau

• 0% - Muito Mau

Qual o horário que deveria ser praticadona secretaria?

• 11% - O actual está bem

• 22% - O actual está bem, só que

deveria estar aberto durante

a hora de almoço

• 67% - Alargar o horário

Se escolheu a última opção qual omelhor horário?

• 18% - Das 9h às 12h e das 14h às 18h• 83% -Das 9h às 18h

Perguntas Gerais

Como avalia o site do Instituto?• 78% - Claro• 22% - Confuso• 71% - Informativo• 29% - Sem conteúdo• 50% - Atractivo• 50% - Desinteressante• 57% - Visito com regularidade• 43% - Visito com irregularidade

Como avalia o atendimento na Biblioteca?• 11% Muito Bom• 58% Bom• 32% Razoável• 0% Mau• 0% Muito Mau

Perguntas aos AlunosDe modo geral, os professores sãocompetentes?

• 100% - Sim • 0% - Não

Como avalia a competência de um docente?• 89% - Pela exposição de aulas• 0% - Pelo atendimento dos alunos

fora de aulas• 0% - Pela simpatia com os alunos• 11% - Pelo conteúdo e utilidade da disciplina

Análise de Dados

torga

Ensino & Investigação

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27

Tendo em conta que está numa privada,os professores têm de dar mais atençãoaos os alunos?

• 78% - Sim • 22% - Não

Os professores deveriam ter um limite defaltas bem como os alunos?

• 56% - Sim • 33% - Não• 11% - Depende das circunstâncias

Os cursos do ISMT estão bemestruturados?

• 33% - Todos • 67% - Alguns

Se não respondeu todos, quais é que parasi não estão?

• Multimédia - Existe carência de material.Carga de disciplinas teóricas no 1º anoe a falta delas nos outros anos.

• Informática de Gestão - No 2º semestredo último ano tem excesso de disciplinas,porque decorre em simultâneo o estágio.

• Ciências de Informação - não há estágiocurricular.

Pergunta GeralEstá de acordo com a fusão do ISMT coma Bissaya Barreto?

• 33% - Sim • 67% - Não

Perguntas aos AlunosEstá de acordo com a propina que osalunos pagam actualmente?

• 33% - Sim • 67% - Não

Se Não, qual o valor mais justo a aplicar àspropinas mensais?

• 43% - Mais de 100€ e menos de 150€• 57% - Mais de 150€ e menos de 200€

Pergunta GeralQuais os aspectos a alterar com maiorurgência?

• 1 - Instalações

• 2 - Interface curso/mercado detrabalho

• 3 - Material de apoio (cadeiras/secretárias / meios de apoiopedagógicos e informáticos)

• 4 - Biblioteca

• 5 - Bar

• 6 - Utilidade dos conteúdos

• 7 - Qualidade dos Docentes

• 8 - Reprografia

• 9 - Funcionamento e horário datesouraria/secretaria

• 10 - Localização

Pergunta aos AlunosSe o Instituto alterar todos os itens queassinalou, então quanto estariadisposto(a) a pagar?

• 14% - Mais de 150€ e menos de 200€

• 86% - Mais de 200€ e menos de 250€

ConclusãoOs inquiridos mostram insatisfação relativaao Instituto, por este não funcionar num únicoedifício, mas em contrapartida a sualocalização é aceite por 80%. A opiniãonegativa dos restantes 20% deve-se ao ruído,dificuldades de estacionamento e trânsito.

Os 5% que acham que não é importanteagregar tudo num único edifício, melhorariamnos actuais:

• Isolamento do frio• Insonorização• Conforto• Dimensão das Salas• Meios de apoios pedagógicos• Acessibilidades

Em relação ao site do ISMT, as sugestões sãodiversas:

• As notas deveriam estar actualizadas;• A possibilidade dos alunos se

inscreverem para exames, frequênciase/ou matriculas - secretaria on-line;

• Foi respondido que o contacto dosprofessores era importante mas estejá existe, como também o horárioescolar e as informações de todos oscursos existentes.

• Outras sugestões foram a criação deuma intranet, ou seja, um (sub) sitepara cada curso, com apresentaçãode disciplinas e docentes;

• Informação das cadeiras e sumários(já existe, só para alguns cursos)

• Aulas de reposição ou extraordináriasque sejam marcadas;

• Uma secção dedicada ao emprego;• Trabalhos/acções de alunos; criação

de webjornal; webradio.

De acordo com as respostas relacionadascom a fusão do ISMT com o Instituto BissayaBarreto, os 33 % que responderam Sim àfusão, têm as seguintes opiniões:

• O ISMT faria parte de uma fundaçãomuito bem posicionada no mercado,com boas condições;

• Para a formação de umaUniversidade;

• Iria melhorar as condições dos alunos,para que tenham melhoraproveitamento a nível escolar.

Os 67 % que responderam Não àfusão, têm as seguintes opiniões:

• Redução de pessoal; normas maisrestritas; maior afastamento entre aDirecção e os Recursos Humanos;

• Uma instituição com mais de 65 anosnão deveria fundir-se com um Institutoque foi criado a partir de alunos queeram nossos;

• O ISMT corre o risco de perder a suaidentidade perante o seu público-alvoe a sociedade;

• O ISMT tem potencial e não precisade se unir a outra instituição paracrescer mais.

Foi uma agradável surpresa constatar que100% dos alunos consideram os seusprofessores competentes e que os avaliampela exposição das aulas e pelo conteúdo eutilidade da disciplina.

Os aspectos de maior urgência aalterar serão então a nível de:

• Instalações• Material de apoio (cadeiras/secretárias

/ meios de apoio pedagógicos einformáticos)

• Biblioteca• Bar

Andreia DiasÂngela MarquesDaniela Cerveira

João Miranda de SáJorge TeixeiraNuno Peixoto

Ricardo DelgadinhoSusana Pereira

Tânia Veloso

torga

Ensino & Investigação

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28 torga

Grande Reportagem

“A nossa experiência ocidental reco-

lheu do direito Romano a ideia de

universitas, neste domínio referindo-se

a uma associação com o fim de de-

senvolver e transmitir o saber.

Realmente as universidades são

instituições, no rigoroso sentido com

que Hauriou, Prélot e Renard organi-

zaram a teoria de instituição: uma ideia

de obra ou de empresa que se realiza

e dura num meio social. A Universida-

de é certamente uma das realidades

que mais claramente reconhece e

combina a convicção de que na vida

social existem duas referências funda-

mentais, os homens e as ideias, os pri-

meiros perpetuando-se pela reprodu-

ção, e as segundas pela tradição, isto

é, pela passagem de mão em mão, de

geração em geração”. Este é um

excerto do artigo de Adriano Moreira

intitulado A Universidade.

Por outro lado, num comunicado da

Comissão das Comunidades Euro-

peias onde se questiona o Papel das

Universidades na Europa do Conheci-

mento, pode ler-se “a UE necessita de

uma comunidade universitária sólida

e próspera. A Europa precisa de exce-

lência nas suas universidades, uma

vez que só assim poderá optimizar os

processos que estão na base da soci-

edade do conhecimento e concretizar

o objectivo fixado no Conselho Euro-

peu de Lisboa: tornar-se na economia

baseada no conhecimento mais dinâ-

mico e competitivo do mundo, capaz

de garantir um crescimento económi-

co sustentável, com mais e melhores

empregos, e com maior coesão soci-

al”.

Segundo o mesmo comunicado,

durante muitos anos as Universidades

Europeias definiram-se em função de

alguns grandes modelos, em particu-

lar o modelo ideal de universidade

concebido, há quase dois séculos por

Wilhelm von Humboldt na sua reforma

das universidades alemãs, e que faz

da investigação o cerne da actividade

universitária e a base do ensino.

Actualmente as universidades ten-

dem a distanciar-se desses modelos

em busca de uma maior diferenciação.

É imperativo adoptar uma série de

mutações que se podem classificar em

5 categorias:

· O crescimento da procura de forma-

ção superior;

· A internacionalização da educação

e da investigação;

· O estabelecimento de uma coope-

ração estreita e eficaz entre univer-

sidades e empresas;

· A multiplicação dos lugares de pro-

dução dos conhecimentos;

· A reorganização do conhecimento;

· O surgimento de novas expectati-

vas.

Pode dizer-se que a economia e a so-

ciedade do conhecimento surgem da

combinação de quatro elementos:

· A produção do conhecimento pela

investigação científica;

· A sua transmissão através da edu-

cação e formação;

· A sua divulgação com as TIC’s;

· A sua exploração através da inova-

ção tecnológica.

Em Portugal existem entidades

que apoiam a investigação científica e

os jovens que pretendem iniciar o seu

percurso, tanto em Portugal como no

estrangeiro.

A Torga fez um estudo sobre algu-

mas dessas instituições e apresenta

de seguida um breve resumo sobre

cada uma destas instituições: Fundação

para a Ciência e Tecnologia, Fundação

Luso-Americana, Fulbright e Fundação

Calouste Gulbenkian.

Ensino Superior e Investigação em Portugal

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29torga

Grande Reportagem

Fundação para a Ciência eTecnologia

A Fundação para a Ciência e

Tecnologia (FCT) iniciou actividadesem Agosto de 1997.

A promoção contínua do conheci-mento científico e tecnológico em Por-

tugal explorando as oportunidadesque se revelam em todos os domínios

é a principal missão da FCT. O seu prin-cipal objectivo é atingir os mais eleva-

dos padrões internacionais de criaçãodo conhecimento, estimular a sua di-

fusão e contribuição para a melhoriada educação, da saúde e do ambien-

te.A missão da FCT concretiza-se,

principalmente, através da atribuiçãode financiamentos na sequência de

avaliação de mérito de propostas de:instituições, equipas de investigação,

indivíduos apresentados em concursospúblicos, através de acordos de coo-

peração e outras formas de apoio emparceria com universidades e outras

instituições publicas e privadas.As principais funções da Funda-

ção para a Ciência e Tecnologia são:· Promover, financiar, acompanhar e

avaliar instituições de ciência etecnologia;

· Promover, financiar, acompanhar eavaliar programas e projectos de ci-

ência e tecnologia, formação e qua-lificação dos recursos humanos;

· Promover a criação e o reforço deinfra-estruturas de apoio à investi-

gação científica e ao desenvolvi-mento tecnológico;

· Promover a difusão e a divulgaçãoda cultura e do conhecimento cien-

tífico e tecnológico, do ensino da ci-ência e da tecnologia;

· Estimular a modernização, articu-lação, reforço e disponibilização

pública de fontes de informação ci-entífica e tecnológica.

É de salientar que a ciência etecnologia, atrás referidas, são consi-deradas num sentido amplo que en-globa as mais variadas áreas do sa-ber: as ciências exactas, naturais e dasaúde, a engenharia, as ciências so-ciais e as humanidades.

Como concorrer a uma bolsa

Para certos tipos de bolsas, osconcursos mantêm-se abertos perma-nentemente. É o caso de Bolsas dePós-Doutoramento e Bolsas de Licen-ça Sabática.

Os concursos para Bolsas deDoutoramento e Bolsas de Mestrado –Dissertação, são abertos através deeditais.

Está permanentemente aberto, naAgência de Inovação, o concurso para

Bolsas de Estágio em OrganizaçõesCientíficas e Tecnológicas internacio-

nais para formação de engenheiros noEuropean Organization for Nuclear

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30 torga

Grande Reportagem

Research (CERN), na European SpaceAgency (ESA) e no European Southern

Observatory (ESO).As instituições científicas atribuem

directamente bolsas de investigaçãocientífica, a maior parte com financia-

mento da FCT para projectos de I&Dou unidades. Os concursos públicos

são anunciados na página da FCT naInternet.

Tipos de Bolsas

· Bolsas de Pós-Doutoramento(BPD)

Estas bolsas destinam-se a doutora-dos que tenham obtido o grau, prefe-

rencialmente há menos de cinco anos,para realizarem trabalhos avançados

de investigação científica em universi-dades ou instituições científicas portu-

guesas ou estrangeiras de reconheci-da idoneidade.

· Bolsas de Doutoramento (BD)

Estas bolsas destinam-se a licencia-dos ou mestres para realizarem traba-lhos de doutoramento em universida-

des portuguesas ou estrangeiras, in-cluindo a frequência de programas

doutorais, quando for caso disso.

· Bolsas de Mestrado (BM) – Disser-tação

Estas bolsas destinam-se a licencia-dos para realizarem estudos de

mestrado em universidades portugue-sas ou estrangeiras, no período de

preparação da dissertação, após apro-vação na parte escolar do mestrado.

· Bolsas de Licença Sabática (BSab)Estas bolsas destinam-se a doutora-

dos em regime de licença sabáticapara realizarem actividades de inves-

tigação em instituições estrangeiras. Aduração destas bolsas varia entre o

mínimo de três meses e o máximo deum ano, não renovável, e refere-se

unicamente ao período de permanên-cia no estrangeiro.

· Bolsas de Desenvolvimento deCarreira Científica (Bdcc)

Destinam-se a investigadores que te-nham revelado mérito científico eleva-

do nas actividades realizadas duranteum período de Pós-Doutoramento, em

regra de quatro a cinco anos. Estasbolsas têm como objectivo apoiar o

desenvolvimento de aptidões de direc-ção e coordenação de projectos cien-

tíficos, pelo que, durante o período dabolsa, o bolseiro deve dirigir um pro-

jecto de investigação científica etecnológica. São apenas concedidas

no âmbito de projectos ou unidadesde investigação.

· Bolsas de Doutoramento em Em-presas (BDE)

Estas bolsas destinam-se a licencia-dos ou mestres para realizarem traba-

lhos de doutoramento no país em am-biente empresarial com temas de rele-

vância para a correspondente empre-sa. Devem ser solicitadas através da

Agência de Inovação.

· Bolsas de Estágio em Organiza-

ções Científicas e Tecnológicas In-ternacionais (BEst)

Estas bolsas destinam-se a facultaroportunidades de formação em orga-

nizações científicas e tecnológicas deque Portugal é membro, em condições

a acordar com essas organizações.

Avaliação das candidaturas

A FCT atribui bolsas na sequên-cia da submissão de candidaturas em

concursos públicos, seguidas de ava-liação por painéis constituídos para as

várias áreas científicas. Os painéis deavaliação envolvem cerca de 200 in-

vestigadores de várias universidadesde Portugal.

São atribuídas classificações de1 a 5, em função de três critérios: méri-

to do candidato, mérito do plano de tra-balho e mérito das condições de aco-

lhimento.Estas bolsas podem ser atribuídas

na sequência de concurso públicoaberto na respectiva instituição de aco-

lhimento, mas que exige o envio pré-vio do anuncio à FCT, com pelo menos

uma semana de antecedência em re-lação ao início do período de apresen-

tação de candidaturas.A selecção de bolseiros deve ser

efectuada por um júri de pelo menostrês doutorados, constituído por inicia-

tiva do Investigador Responsável doProjecto ou de unidade I&D. Devem ser

preparadas actas sucintas das reuni-ões do júri com indicação dos critérios

aplicados e das decisões tomadas, asquais deverão ser enviadas à FCT na

sequência das reuniões corres-pondentes.

Fundação Luso-Americanapara o Desenvolvimento

A Fundação Luso-Americana para

o Desenvolvimento, FLAD, assinalou 20anos em 2005.

Criada para contribuir para o de-senvolvimento económico, social e

cultural de Portugal, disponibilizaapoio financeiro e estratégico a pro-

jectos criativos e incentiva a coopera-ção entre a sociedade civil portugue-

sa e a americana.

Tem como principal actividade a

atribuição de bolsas de apoio a pro-

jectos institucionais e à promoção de

programas de formação e intercâmbio.

Organiza, também projectos próprios

que gere individualmente ou em par-

ceria com outras instituições.

A FLAD foi criada através de trans-

ferências monetárias do Estado portu-guês e proveniente do Acordo de Coo-

peração e Defesa entre Portugal e osEstados Unidos da América. O capital

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31torga

Grande Reportagem

inicial foi de 85 milhões de euros e des-

de 1992 que se sustenta exclusivamen-

te do rendimento do seu património.

Uma instituição ou pessoa a títuloindividual pode candidatar-se aos de-

signados “Projectos Institucionais” e às“Bolsas”.

As iniciativas caracterizadas comoProjectos Institucionais consideram-se

a organização de seminários e confe-rências em Portugal e nos EUA, finan-

ciamento de intercâmbios académicos,elaboração de estudos e investiga-

ções, programas de cooperação entreuniversidades portuguesas e estran-

geiras, criação de novas escolas oucentros de investigação, iniciativas de

promoção do sector privado e progra-mas que reforcem a capacidade de

acção das instituições não governa-mentais.

Os projectos devem apresentar-seinovadores, com objectivos definidos

e exequíveis dentro das áreas previs-

tas pela Fundação e que promovam o

desenvolvimento do país.

É dada prioridade a candidaturas

que estimulem a intervenção de entida-

des portuguesas e dos Estados Unidos.

As áreas de intervenção da Funda-ção situam-se ao nível da Cultura,

Educação, Ciência e Tecnologia, Am-biente, Funções de Estado, Socieda-

de Civil e Inovação.

Bolsas

As Bolsas de Doutoramento FLAD/

FULBRIGTH são atribuídas, preferen-cialmente, a candidatos com uma mé-

dia de licenciatura superior a 14 valo-res, e com bons conhecimentos de in-

glês. O candidato submete-se a umaapreciação curricular e apreciação dos

objectivos de estudo, a um teste deavaliação de conhecimentos de inglês

e a uma entrevista.O financiamento baliza-se até ao

máximo de 25.000 dólares para o pri-meiro ano de estudos, organização e

administração dos processos de can-didatura às universidades norte-ame-

ricanas, seguro de saúde e acidentes

durante o período da bolsa.As áreas de investigação prioritá-

rias englobam as Engenharias, Física,Química, Matemática, Biologia, Econo-

mia, Ciências Médicas e Ciências doAmbiente.

As não prioritárias são as CiênciasMusicais, Filosofia, História, Língua e

Literaturas, além de serem financiadasparcialmente.

São bolsas de longa duração, comperíodos superiores a três meses na

área da Cultura e superiores a seismeses nas restantes áreas.

Candidaturas

Para a candidatura a Bolsas paraAcções de Formação no Estrangeiro,

deverão apresentar-se declaraçõescomprovativas do interesse das insti-

tuições portuguesas em que os candi-datos trabalham, licenciatura concluí-

da, vínculo a Universidades, institui-ções de investigação ou empresas li-

gadas às áreas prioritárias e nãoprioritárias nos termos definidos ante-

riormente. A duração do es-tágio deve ser superior a um

mês e não superior a umano.

Relativamente ao Apoio àApresentação de Comunica-

ções em Congressos Interna-cionais, existe um limite de

financiamento por trimestre,uma vez que é objectivo da

Fundação acolher o maiornúmero de pedidos ao longo

do ano civil e a aprovação dedois projectos consecutivos

não será concedida.Além dos conferencistas,

também podem inscrever-se,pessoas que desempenhem

funções de moderadores.O processo de candida-

tura engloba o curriculumvitae, o programa do evento,

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32

Grande Reportagem

torga

o tema da comunicação e a prova deaceitação da mesma por parte da or-

ganização americana, indicação doscustos previstos, patrocínios coadju-

vantes e a carta de recomendação dainstituição à qual o candidato está vin-

culado entre outros documentos.

Fulbright

“Our future is not in the stars but in

our minds and hearts. Creativeleadership and liberal education, which

go together, are the first requirementfor a hopeful future of mankind”.

Este excerto constitui o discurso

proferido pelo ex-Senador do Arkan-sas J. William Fulbright, em 1946,

quando decidiu estabelecer um inter-câmbio cultural para estudantes e pro-

fessores. A legislação que originou oPrograma Fulbright foi assinada a 1 de

Agosto do mesmo ano pelo Presiden-te Henry Truman.

Fulbrigth nasceu em Samner,Missouri, a 9 de Abril de 1905. Viveu

desde pequeno em Fayetteville, noArkansas. Entrou na Universidade do

Arkansas com 15 anos, onde foi presi-dente da Associação de Estudantes.

Em 1925,após obter o seu primeiroBachelor’s Degree, recebeu uma Bol-sa Rhodes para a Universidade deOxford no Reino Unido. Com essa bol-sa estudou durante três anos e adqui-riu o segundo Bachelor’s Degree.

Voltou depois para os Estados Uni-

dos, para a Universidade de GeorgeWashington onde frequentou Direito e

alcançou o terceiro Bachelor’s Degree.Foi esta constante mobilidade cul-

tural e académica de Fulbrigth que olevou a concluir da importância dos in-

tercâmbios internacionais para o desen-volvimento intelectual do indivíduo.

O Programa Fulbright é administra-do pelo Departamento de Estado e

implementado sob a supervisão do J.William Fulbrigth Scholarship Board

(FSB).Em cada país o Institute of

International Education (IIE) assiste asComissões Fulbrigth e as Embaixadas

dos EUA na administração do Progra-ma Fulbrigth para Estudantes.

O Council for InternationalExchange of Scholars (CIES) afiliado

no IIE, assiste as Comissões Fulbrigthe as Embaixadas dos EUA na admi-

nistração do Programa Fulbrigth paraProfessores Universitários e Investiga-

dores.

Parceria Fulbright/FLAD

A Fulbright e a FLAD desenvolvem

em parceria três programas:1-Programa Rotating Chair Fulbright/

Fundação Luso-Americana paraDistinguished Lectures;

2-Bolsas de Investigação Fulbright/Fundação Luso-Americana;

3-Bolsas Fundação Luso-Americana/ Fulbright Para Doutoramentos.

O primeiro tem como objectivo oensino, a consultoria e investigaçãorealizada por Professores americanosem universidades portuguesas. Abran-ge a participação de três professoresamericanos por um período de trêsmeses cada, durante um ano lectivo.Exige-se uma elevada qualidadeacadémica dos bolseiros envolvidos.

Os projectos serão seleccionados

pelo Council For International Exchangeof Scholars (CIES), que abrirá concur-

so para professores do Estados Unidosda América. Posteriormente, a Comis-

são apresentará as candidaturas àsinstituições portuguesas para aprecia-

ção e escolha das propostas.As despesas de viagem e estadia

dos scholars americanos são susten-

tadas pela Comissão Fulbright e pelaFundação Luso-Americana. A univer-

sidade seleccionada terá a seu cargoas despesas do alojamento e uma par-

te do custo total do programa.As Bolsas de Investigação

Fulbright/FLAD centram os seus objec-tivos no apoio ao desenvolvimento de

projectos de investigação em univer-sidades ou instituições nos E.U.A. Os

projectos contemplam todas as áreasdo conhecimento tendo como requisi-

tos a média de licenciatura igual ousuperior a 14 valores, bons conheci-

mentos de Inglês e concordância como projecto por parte da instituição nor-

te-americana. O processo de selecçãopassa pela apreciação curricular e do

projecto, e por uma entrevista ao can-didato. Com a duração entre seis a

doze meses, o financiamento situa-seaté ao máximo de 10.000 dólares, se-

guro de saúde e acidentes durante operíodo de bolsa e a possibilidade de

acesso à linha de crédito Fulbright/Santander Totta. Nas condições de can-

didatura, ressalta a obrigatoriedadedos candidatos serem portugueses.

Bolsas

As Bolsas FLAD/Fulbright cobremtodas as áreas do conhecimento, re-

querendo a licenciatura com médiaigual ou superior a 14 valores e com

conhecimentos de Inglês e visam aexecução do Doutoramento nos Esta-

dos Unidos. Os candidatos devem ternacionalidade portuguesa e estão su-

jeitos a uma apreciação do seu currí-culo e dos objectivos de estudo, a uma

avaliação do nível de Inglês e a umaentrevista. A bolsa é financiada até ao

máximo de 25.000 dólares para o 1ºano de estudos. No 2º e 3º anos, o

bolseiro pode candidatar-se a um fi-nanciamento extraordinário adicional,

até ao montante total máximo de 12.000dólares. Os restantes benefícios são

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33torga

Grande Reportagem

iguais aos outros apresentados pelaparceria Fulbright/FLAD.

As bolsas financiadas apenas pelaFulbright abrangem as Bolsas Para

Professores e Investigadores comDoutoramento, Bolsas Para Instituições

Portuguesas de Ensino Superior e In-vestigação e Bolsas Senior Specialists.

Relativamente à Bolsa ParaDoutoramentos o objectivo é leccionar

e/ou realizar trabalhos de investiga-ção em universidades ou centros de

investigação dos Estados Unidos.Qualquer área é aceite e os requisitos

dos candidatos passam por serem pro-fessores universitários ou investigado-

res com doutoramento, terem bonsconhecimentos da língua inglesa e

obterem a aprovação do projecto porparte da instituição americana. Serão

seleccionados através da avaliaçãocurricular e do projecto, e por uma en-

trevista. A duração da bolsa pode situ-ar-se entre os três e doze meses e o

financiamento entre 5.000 e 10.000

dólares, dependendo da duração daestadia. Inclui seguro de saúde e aci-

dentes durante o período da bolsa ehá a possibilidade de acesso à linha

de crédito já indicada anteriormente.Anacionalidade deverá ser portuguesa.

Para as outras nacionalidades, dever--se-á contactar a Comissão Fulbright

do país em causa ou a embaixada.Bolsas Para Instituições Portugue-

sas de Ensino Superior e Investigaçãoestão vocacionadas para o ensino,

consultoria e investigação por parte deprofessores e/ou investigadores ame-

ricanos em instituições portuguesas deensino superior e centros de investi-

gação. A duração da bolsa é de trêsmeses e abrange todas as áreas. A

Comissão selecciona os projectos eenvia-os ao CIES, que procederá à

abertura do concurso. As candidatu-ras recebidas no CIES, depois de pré-

seleccionadas, são enviadas à Comis-são, que as apresentará às instituições

portuguesas, para apreciação e esco-

lha. Os encargos de viagem e estadiados professores são suportados pela

Comissão. Dá-se, no entanto, priorida-de aos projectos de instituições que

facultem apoios financeiros elogísticos.

As Bolsas Senior Specialists carac-terizam-se por projectos de curta du-

ração (tempo total de estadia entre 12e 42 dias, incluindo os dias de viagem,

com possibilidade de divisão do tem-po total em três partes), no âmbito do

ensino, consultoria e investigação,efectuados por especialistas norte-

americanos em instituições portugue-sas de ensino superior e de investiga-

ção que confiram grau. Algumas dasactividades possíveis dos projectos

situam-se na orientação de auditoriasespecializadas, estudos ou projectos

de investigação, participação em acti-vidades curriculares especiais e con-

ferências, consultoria no âmbito deprojectos de desenvolvimento curri-

cular do corpo docente, apresentaçãode palestras ao nível pré e pós-gradu-

ado, participação ou condução de se-minários ou workshops, consultoria no

âmbito de projectos de desenvolvi-mento dos curricula académicos ou

material de estudo. Nas áreas de estu-do possíveis apontam-se Serviço So-

cial, Comunicação e Jornalismo, Ad-ministração Pública, Antropologia, Ar-

queologia, Ciência Política, Ciênciasdo Ambiente, Ciências Documentais,

Direito, Economia, Educação, EstudosAmericanos, Estudos da Paz e Reso-

lução de Conflitos, Gestão, Planea-mento Urbano, Saúde Pública, Socio-

logia e Tecnologias da Informação. Ascandidaturas são submetidas a uma

pré-selecção feita pela Comissão e aaprovação final é estabelecida pelo

Bureau of Educational and CulturalAffairs (ECA). As aprovadas são enca-

minhadas para o CIES, que será res-ponsável pela selecção na sua base

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de dados (roster), de especialistasamericanos qualificados, com base nos

requisitos da instituição. Os encargosde deslocação e estadia dos especia-

listas norte-americanos serão partilha-dos pela ECA e pela instituição, su-

portando a ECA o pagamento das des-pesas de deslocação até ao território

nacional e das ajudas de custo e a ins-tituição as despesas de alojamento,

alimentação e deslocação dentro doterritório nacional. O processo de can-

didatura efectua-se on line emwww.bolsas fulbright.org, mas, neste

caso das bolsas para Senior Specia-lists, as instituições portuguesas inte-

ressadas deverão submeter as candi-daturas com pelo menos quatro me-

ses de antecedência em relação à datapretendida para a chegada do especi-

alista.

Protocolos

A Fulbright conjuga também três

protocolos com instituições de renome:Portugal Telecom, Instituto Camões e

California State University.

A Portugal Telecom estabelece com

a Fulbright o financiamento de ummestrado em telecomunicações nos

Estados Unidos com a duração de doisanos na área de engenharia de tele-

comunicações. Os candidatos pres-tam-se à avaliação do currículo, dos

objectivos de estudo, do nível da lín-gua inglesa e a uma entrevista. Deve-

rão apresentar como requisitos a licen-ciatura com média igual ou superior a

14 valores. São aceites somente can-didaturas de indivíduos de nacionali-

dade portuguesa, tendo as outras na-cionalidades de contactar a comissão

Fulbright do seu país de origem ou asua embaixada. No que diz respeito

aos benefícios, o 1º ano é financiadoaté ao máximo de 25.000 dólares com

viagem de ida e volta Portugal – Esta-

dos Unidos. No 2º ano, o beneficiomantem-se, após a comprovação do

bom aproveitamento no 1º ano. A or-ganização e administração do proces-

so de candidatura à universidade ame-ricana está a cargo da Comissão e

existe a possibilidade de acesso à li-nha de crédito Fulbright/ Santander

Totta.O Instituto Camões financia com a

Fulbright bolsas de estudo para pro-fessores e/ou investigadores com

doutoramento ou doutorandos de ins-tituições portuguesas de ensino supe-

rior. O objectivo da bolsa assenta naleccionação e/ou realização de traba-

lhos de investigação em universidadesou centros de investigação dos E.U.A.

A duração da bolsa situa-se entre ostrês e os doze meses. As áreas defini-

das para o efeito são Linguística, His-tória, Sociologia, Literatura, Ciência

Política, Relações Internacionais eFormação à Distância. Estas áreas

deverão estar circunscritas a temas delíngua e cultura portuguesas, sendo

dada igualmente prioridade a projec-tos de especial relevância para as re-

lações culturais luso-americanas. Oscandidatos devem apresentar bons

conhecimentos de Inglês e deverãoobter concordância com o projecto por

parte da instituição americana. Sãoseleccionados através de avaliação

curricular e do projecto de trabalho eatravés de uma entrevista. O financia-

mento estabelecido é de 10.000 dóla-res, dependendo da duração da esta-

dia. Existe seguro de saúde e aciden-tes durante o tempo da bolsa e o aces-

so à linha de crédito Santander Totta.Não são aceites outras nacionalidades

que não a portuguesa, pelo que osestrangeiros devem contactar as co-

missões dos outros países ou a suaembaixada.

Com a California State Uiniversityas bolsas destinam-se a professores

doutorados ou doutorandos e têmcomo objectivo a leccionação e/ou re-

alização de trabalhos de investigaçãonesta universidade durante quatro

meses consecutivos. As áreas de in-tervenção passam pela História de

Portugal, Gestão Internacional, Geo-grafia, Antropologia e Economia. Para

a selecção dos candidatos são neces-sários os mesmos meios de avaliação

das bolsas anteriores, incluindo a apro-vação do projecto pela CSU. A nacio-

nalidade é obrigatoriamente portugue-sa e os bolseiros usufruirão de um fi-

nanciamento de 8.000 dólares, comseguro de saúde e acidentes, e aces-

so à linha de crédito Santander Totta.

Grande Reportagem

torga

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Fundação Calouste Gulbenkian

A Fundação Calouste Gulbenkiané uma instituição portuguesa de direi-

to privado e utilidade pública, cujos finsestatutários são a Arte, a Beneficên-

cia, a Ciência e a Educação. Criadapor disposição testamentária de

Calouste Sarkis Gulbenkian, os seusestatutos foram aprovados pelo Esta-

do Português a 18 de Julho de 1956.A Fundação desenvolve uma vas-

ta actividade em Portugal e no estran-geiro, através de actividades directas,

subsídios e bolsas. Realiza exposi-ções individuais e colectivas de artis-

tas portugueses e estrangeiros; pro-move conferências internacionais, co-

lóquios e cursos; distribui subsídios econcede bolsas de estudo para espe-

cializações e doutoramentos em Por-tugal e no estrangeiro; apoia progra-

mas e projectos de natureza científica,educacional e artística; desenvolve

uma intensa actividade editorial, so-bretudo através do seu plano de edi-

ções de manuais universitários; pro-

move e estimula projectos de ajuda aodesenvolvimento com os países afri-

canos de língua portuguesa e Timor-Leste; promove a cultura portuguesa

no estrangeiro; desenvolve um progra-ma de preservação dos testemunhos

da presença portuguesa no mundo eapoia as comunidades da diáspora

arménia.Quer na música, na dança, edições

e mais recentemente na investigaçãocientífica, a Fundação Calouste

Gulbenkian constitui presença incon-tornável em Portugal.

Os fins “caritativos, artísticos,educativos e científicos” da Fundação

Calouste Gulbenkian estão reflectidosna sua organização interna e na sua

acção: além da caridade com o seuServiço de Saúde e Protecção Social,

esta Fundação tem a arte enaltecidano seu Museu, Centro de Arte Moder-

na, Serviços ACARTE, de Belas-Artes,de Música e nas Revistas Colóquio

(Artes, Letras, Ciências e Educação eSociedade).

O Serviço de Educação colaboraintensamente com o

Ministério da Educa-ção e directamente

com vários estabe-lecimentos de ensi-

no. Tem acções anível do ensino es-

pecial e apoia forte-mente a educação

pré-escolar, básicae secundária. Neste

âmbito é tambémmecenas de várias

instituições sem finslucrativos, entre elas

a Associação Juve-nil de Ciência. Mas

os investimentos daFundação têm hori-

zontes ainda maislongínquos. De for-

ma a promover a longo prazo uma cul-tura científica mais rica foram concedi-

das mais de 30000 bolsas e 5000 sub-sídios de deslocação a conferências e

cursos a estudantes portugueses.Através de vários serviços a Fun-

dação Calouste Gulbenkian põe à dis-posição dos interessados um leque de

bolsas destinadas à prossecução deestudos, actualização e aperfeiçoa-

mento nas suas áreas específicas.São atribuídas bolsas e subsídios

nas áreas de Arte, Beneficência, Ci-ência e Educação. As bolsas para pro-

fessores e investigadores residentesem Portugal dividem-se em bolsas de

curta e longa duração e destinam-se afinanciar actividades de investigação

e pós-graduação (doutoramento epós-doutoramento).

“Com o fim principal de estimular ainvestigação nos vários ramos do sa-

ber, a Fundação Calouste Gulbenkian,doravante designada Fundação, con-

cede bolsas para actividades de inves-tigação fora do País a indivíduos de

nacionalidade portuguesa ou residen-tes em Portugal, diplomados por um

estabelecimento de ensino superior,que não possam de outro modo levar a

cabo, em condições de eficiência, ostrabalhos que se propõem realizar” –

Artº. 1º do Regulamento de Bolsaspara Investigação.

Segundo o mesmo regulamento etendo em conta a composição das bol-

sas pode ler-se:Artº 12 - “1. A bolsa compreende

subsídios para manutenção, viagens,instalação e uma verba destinada ao

pagamento de despesas obrigatórias,cujo montante será fixado conforme os

casos.2. Nas bolsas de duração não inferi-

or a 10 meses, será pago ao bolseiro,no início da bolsa e por uma só vez, um

subsídio de instalação igual ao valor dosubsídio mensal de manutenção.

torga

Grande Reportagem

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3. Nos casos em que o bolseiro seencontre já no local do estágio não há

lugar ao pagamento da viagem de ida edo subsídio de instalação.

4. O candidato que não declare, pormotivo que lhe seja imputável, o valor

dos encargos com despesas obrigató-rias até ao momento da atribuição da

bolsa, pode perder o direito ao respec-tivo pagamento.”

Artº 13º - “1. O bolseiro tem direitoa um seguro que cobre os riscos de

doença, invalidez e morte, nas condi-ções especificadas no respectivo cer-

tificado, incluindo os inerentes às suas

actividades de investigação.2. A responsabilidade pelo cumpri-

mento do contrato do seguro cabe ex-clusivamente à respectiva companhia

seguradora com a qual o bolseiro devetratar directamente de todos os assun-

tos de seu interesse.3. Não haverá direito ao seguro pre-

visto no nº 1, sempre que o bolseiroseja abrangido, no país onde vai de-

correr o estágio, por disposições desegurança social obrigatória, ou em

virtude do facto da sua inscrição emestabelecimento de ensino, ou a qual-

quer outro título. Nestes casos, será feitoapenas um seguro de viagem.

4. O bolseiro pode, caso o expres-se, beneficiar do regime de segurança

social nos termos referidos no Artº 6ºdo Decreto-Lei 123/99, de 20 de Abril.”

Com o principal objectivo de esti-mular a investigação nos vários ramosdo saber, a Fundação CalousteGulbenkian concede bolsas para acti-vidades de investigação fora do país aindivíduos de nacionalidade portugue-sa ou residentes em Portugal,diplomados por um estabelecimento deensino superior.

A Fundação atribui, entre outros, osseguintes tipos de bolsas:

· Bolsas para Doutoramentos;· Bolsas de Pós-Doutoramento;· Bolsas de Aperfeiçoamento Cien-

tífico e Tecnológico.

São também concedidas bolsas deestudo de pós-graduação para projec-tos de doutoramento e pós-doutora-mento em centros estrangeiros de re-nome, com duração superior a trêsmeses.

As bolsas abrangem as várias áre-as do conhecimento e destinam-se àformação, actualização e aperfeiçoa-mento de profissionais qualificados.

As actividades neste domínio es-

tendem-se ainda aos estudantes ca-rentes do ensino secundário e superi-

or e a todos que pretendam deslocar-

se ao estrangeiro a fim de efectuarcomunicações em congressos ou rea-

lizar breves estágios.Também as bibliotecas itinerantes

e fixas espalhadas por todo o país per-mitem aos milhares de utentes reco-

nhecidos o acesso a mais de 7 500000 livros. Entre estes encontram-se

algumas centenas de títulos editadospela própria Fundação. O plano edito-

rial visa a publicação de obras de au-tores nacionais e estrangeiros nas áre-

as do “pensamento científico, tecno-lógico e humanístico”, apresentadas

ao público em geral a preços bastanteacessíveis.

Importante, e cada vez mais reco-nhecido mundialmente, o Instituto

Gulbenkian de Ciência alberga o Cen-tro de Biologia onde jovens gradua-

dos (também conhecidos como“Super-Doutores”) realizam os Progra-

mas Gulbenkian de Doutoramento emMedicina e Biologia. Várias publica-

ções são também editadas periodica-mente. Podemos afirmar que a Funda-

ção Calouste Gulbenkian melhorousubstancialmente o nível cultural do

nosso país. A genialidade de um ho-mem de negócios aliada à sua enor-

me generosidade e sentido estéticotrouxeram a Portugal a possibilidade

de potenciar os seus artistas, cientis-tas, escritores e educadores, permitin-

do a todos nós o acesso à excelênciae originalidade nas mais variadas for-

mas de expressão do conhecimento.

Ana Cristina AbreuAndrea Marques

Grande Reportagem

torga

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Filipe Casaleiro

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ANTÓNIO COUTINHOGRANDE ENTREVISTA

Autor de mais de 400 artigos científicos, António Coutinho tem mantido uma intensa

actividade internacional de conferencista e está associado a várias academias, re-vistas e conselhos científicos internacionais. Recebeu vários prestigiosos prémios:

Fernstromska Priset, Suécia (1981); FEBS Anniversary Prize (1982); PrémioGulbenkian de Ciência e Tecnologia (1987); Prix Behring-Metchnikoff, França (1990);

Prix Lacassagne du College de France (1995). É Grande Oficial da Ordem do InfanteD. Henrique (2003).

Em Janeiro de 2002 surge no ranking do “Science Citation Index” como um dos 100cientistas mais influentes no mundo ao longo dos últimos 20 anos.

Nomeado director dos Estudos Avançados de Oeiras do Instituto Gulbenkian deCiência, lançou e dirigiu o Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e

Medicina (1993-2000).

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“É preciso mais investimento na Ciência”

Grande Entrevista

torga

António Coutinho nasceu em Sever doVouga, a 6 de Outubro de 1946. Licen-

ciou-se em 1970 em Medicina, pelaUniversidade de Lisboa e em 1972 par-

tiu para a Suécia, de modo a evitar aGuerra Colonial. Doutorou-se em 1974

em Microbiologia Médica (Imunologia),no Instituto Karolisnka de Estocolmo.

A sua formação científica e actividadeprofissional desenrolou-se em diver-

sos institutos e universidades: Institu-to Karolinska (1974-1975), Instituto de

Imunologia de Basileia (1975-1979),Faculdade de Medicina de Umeå

(1979-1984), Universidade de Geneve(1982) e Universidade de Lund (1987).

Entre 1982 a 1998 foi director do Ser-viço de Imunobiologia do Instituto

Pasteur em Paris, até que decidiu re-gressar a Portugal.

Torga (T) - Tem uma carreira científi-

ca invejável. Já passou por váriasuniversidades e institutos internaci-

onais. Em 2002 surge no ranking doScience Citation Índex como um dos

100 cientistas mais influentes domundo, na sua área, ao longo dos úl-

timos 20 anos. Para além do traba-lho e enorme dedicação que estão

subjacentes a este ranking, quais sãoos outros “ingredientes” que com-

põem esta fórmula de sucesso?António Coutinho (AC) – Antes de mais

é preciso ter sorte. É preciso ter sorte

na escolha das pessoas com quem setrabalha e nas instituições onde se tra-

balha. Eu tive muita sorte porque quan-do escolhi a pessoa com quem fui tra-

balhar no Instituto Karolinska em Es-tocolmo não tinha ideia nenhuma de

nada. Fui à literatura, andei à procu-ra… Escrevi a três pessoas diferentes

para me receberem e, finalmente, porrazões mais pessoais do que outras,

acabei por ficar em Estocolmo. Podiater tido uma vida totalmente diferente,

provavelmente com menos sucesso doque a que tive do que se tivesse esco-

lhido outro caminho. Isto tem muito deimponderável. Não é imaterial é

imponderável. Haverá pessoas quecontrolam todos os parâmetros e que

podem fazer boas escolhas, escolherbons orientadores, eu não tive. Foi uma

escolha com feelings.Há duas maneiras de fazer investiga-

ção: uma que é mais confirmatória econsolidante do conhecimento já ad-

quirido, (não será o conhecimento pro-priamente dito mas o conhecimento de

hipóteses já avançadas e que é o queocupa a maior parte das pessoas) e

outra que é talvez mais arriscada, quepode dar para o torto, mas também

pode resultar muito bem, que é abrircaminho, fazer coisas novas, que ao

serem novas são, habitualmente, “re-volucionárias”, ou seja, vão contra os

conceitos anteriores. Há muitos indiví-

duos que, pela sua educação, perso-nalidade, e pela maneira como enca-

ram a vida, têm dificuldade em serempouco convencionais, portanto agar-

ram-se a hipóteses e modelos que jáestavam adquiridos, que já estavam no

contexto da ciência actual, que já sãoparadigmáticos. Estas pessoas têm

menos probabilidade de vir a ter umagrande influência porque vão continu-

ar a fazer a mesma coisa e a pensarda mesma maneira. Se a pessoa tem

mais coragem, mais condiçõescontextuais ou mais oportunidades

para fazer coisas que são muito arris-cadas e verdadeiramente inovadoras

tem mais possibilidade de ser influen-te. Provavelmente muitos tentam mais

vezes mas corre mal, ou seja, afinalaquele caminho que se abria não era

o bom caminho e portanto isso não vaiter influência nenhuma. Para resumir,

acho que é importante ter sorte e achoque é importante ser, não diria anti-

convencional mas, não se levar muitoem consideração a opinião dos outros.

Torga (T) - Arrojado?

António Coutinho (AC) – Exactamen-te. Arrojado é um bom termo.

Torga (T) - A par com António

Damásio e Carlos Duarte foi eleitocomo um dos 250 cientistas mais in-

fluentes no mundo da ciência. No

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Grande Entrevista

torga

entanto, entre os portugueses, é oúnico que está a fazer investigação e

ciência em Portugal. Há essa neces-sidade de sair de Portugal para fazer

investigação?António Coutinho (AC) – Havia. Anti-

gamente havia até há alguns anosatrás. Agora não há necessidade de

sair definitivamente de Portugal parafazer investigação, já há instituições

muito boas no país onde se pode fazeruma investigação competitiva, interna-

cionalmente competitiva. Por outrolado, é sempre necessário sair mes-

mo que seja por um curto espaço detempo. Seja para fazer doutoramento,

ou um pós-doutoramento. Aqueles quenão saem do país serão sempre pro-

vincianos na ciência. A ciência desco-briu a globalização muito antes dos

economistas. Desde que há ciência,desde a Renascença, que há globali-

zação da ciência. E por isso, é muitopositivo, mesmo no processo formativo

dos jovens que entram na ciência queeles conheçam outros ambientes, ou-

tras maneiras de pensar, que conhe-çam ambientes com mais possibilida-

des de trabalho, mais competitivos,mais rápidos do que os nossos. Tudo

isto é importante na formação, ou seja,é estritamente necessário, a meu ver,

que não haja nenhum cientista emPortugal que não tenha saído do país

pelo menos dois, três ou quatro anos.Mas, deixou de ser necessário que as

pessoas tivessem que emigrar defini-tivamente para o estrangeiro para fa-

zer boa ciência. É verdade que é maisdifícil ser competitivo ao nível dos cem

mais competitivos do mundo em Por-tugal do que lá fora. Isso é óbvio por-

que há menos dinheiro para a ciência,sobretudo porque a organização da

estrutura da comunidade científica emPortugal ainda tem lacunas: por exem-

plo, os financiamentos para a ciêncianão têm tido a regularidade que existe

noutros países, portanto é muito difícil“É preciso formar médicos com pensamento e espírito científico”

Filipe Casaleiro

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fazer política a médio prazo… Alémdisso, somos uma comunidade relati-

vamente pequena e portanto há me-nos vida intra-comunitária. Há uma

certa tendência para o provincianismo,portanto é mais difícil ser competitivo

aqui mas é possível. E, hoje em dia jáhá muitos cientistas em Portugal, nas

instituições portuguesas, que publi-cam nos melhores sítios do mundo.

Ainda na semana passada ou há 15dias duas publicações saíram do ITQB

(Instituto de Tecnologia Química e Bio-lógica) na mesma semana para dois

jornais de topo, uma para a Science eoutra para a Nature, portanto é perfei-

tamente possível fazer-se ciência com-petitiva no país. Nós começámos a fa-

zer ciência a sério há uma dúzia deanos, com muitas honrosas excepções

anteriores, mas de uma maneira mais“massificada” há pouco tempo en-

quanto que os outros países estão afazer ciência há séculos portanto é

natural que sejamos menos bons.

Torga (T) - João Lobo Antunes, numaentrevista publicada na Torga, afir-

mou que é necessário fabricar médi-cos em Portugal. Acha que também

é necessário fabricar cientistas emPortugal?

António Coutinho (AC) – Eu tenho acerteza absoluta. Estamos muito lon-

ge dos números mínimos aceitáveispara o número de cientistas no país.

Isto tem consequências importantespara a estrutura sócio-económica e

cultural do país, antes de mais cultu-ral, ou seja, Portugal ainda é um país

que tem um peso muito grande deirracionalidade na sociedade. A nos-

sa cultura tem uma base essencial-mente irracional e religiosa. Isto não

se coaduna com aquilo que queremosde uma sociedade culta e livre. Quan-

to mais ciência houver mais marca-damente se vincará o valor da

racionalidade na sociedade. O valor

que a ciência medeia para a racio-nalidade não são só as descobertas e

a tecnologia, é antes de mais os valo-res que a ciência medeia que é a

racionalidade. Isto em Portugal sente-se muito. Em todos os jornais e revis-

tas há sempre uma secção de horós-copo. Na minha caixa de correio tenho

quase todos os dias anúncios de vi-dentes e adivinhadores. Eu, por exem-

plo, sei de muita gente que se diz raci-onal e educada que faz promessas ao

Santo António para o filho passar noexame do 7º ano. Não há volta a dar.

Temos uma sociedade que é profun-damente irracional e isso só poderá

ser corrigido com o progresso do pen-samento racional, com o progresso da

ciência. Precisamos de mais cientis-tas. Hoje em dia já não se inventa nada

sem saber muito, ou seja toda atecnologia é de base científica e por-

tanto precisamos de mais ciência parapoder tirar de lá mais aplicações da

ciência: tecnologia, inovação, cresci-mento económico. O Prof. Lobo

Antunes tem razão quando diz que pre-cisamos de mais médicos mas também

precisamos de mais médicos/cientis-tas. A medicina está a atravessar uma

revolução extraordinária desde hámeia dúzia de anos para cá está-se a

tornar numa tecnologia de base cien-tífica. A medicina resistiu talvez mais

do que outras tecnologias. Nós médi-cos somos uma espécie de engenhei-

ros do corpo e digo isto porque o nos-so objectivo é utilizar aquilo que sabe-

mos da lei natural ao serviço do doen-te e da sociedade. O médico não está

tão interessado em conhecer asprofundezas do conhecimento sobre

o funcionamento do pâncreas, estámais interessado em tratar o doente

com diabetes. É esse o objectivo pri-mário da medicina. Até aqui tratava-

se com tecnologias que tínhamos de-senvolvido com base empírica, por

exemplo, dávamos um medicamento

à doença “x” porque sabíamos quefuncionava, mas não sabíamos porque

é que funcionava. Andámos a receitarAspirinas às pessoas durante cem

anos, antes de descobrir como é quefunciona a Aspirina. Ou seja, era um

bocadinho melhor do que a medicinachinesa só porque tinha ensaios con-

trolados e a medicina chinesa prova-velmente não tem. De resto era da mes-

ma natureza empírica. Nos últimosanos, com o progresso da biologia

muito do que se faz em medicina co-meça a ser debate científico, ou seja,

nós sabemos porque é que fazemos eo que é que estamos a fazer. E para

isso é preciso formar médicos compensamento e espírito científico. É pre-

ciso trazer mais ciência aos médicos eo reverso também é verdade, ou seja,

é preciso trazer mais médicos para aciência porque os médicos contribu-

em para a investigação científica. Umacoisa que a maior parte dos investi-

gadores científicos não tem é uma pre-ocupação com o organismo inteiro no

seu contexto social e isso os médicostêm. Por exemplo, o cientista que estu-

da as asas das moscas ou os genes dorato não tem essa preocupação, está

preocupado com o gene e não com oorganismo inteiro no seu contexto soci-

al. E por isso é bom o lema que o Prof.Lobo Antunes, e eu próprio, temos de-

fendido há alguns anos se concretize,é um lema de mais ciência para os

médicos e mais médicos na ciência.

Torga (T) - Não é um pouco contradi-tório: um país que precisa de médi-

cos e que precisa de médicos/cien-tistas depois não lhes dá condições,

ou seja, muitos cientistas queixam-se que querem fazer investigação

mas, ou andam toda a vida a tentarser bolseiros ou então não têm con-

dições, o país não lhes dá condiçõespara fazer investigação…

Grande Entrevista

torga

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António Coutinho (AC) – Dá e não dá.

Evidentemente que, se eu me sentaraqui numa cadeira e esperar que me

saia a sorte grande, o mais certo é quenão me saia porque eu não comprei

sequer o bilhete. Por um lado os cien-tistas e os investigadores têm toda a

razão, ou seja, é preciso que haja ummaior investimento na ciência, isso

sem dúvida. Se estamos todos conven-cidos que a educação e a ciência são

o nosso futuro então, não faz sentidonenhum que na Europa se gaste 40%

do orçamento com a agricultura que éuma coisa do passado e se gaste me-

nos de 5% com a ciência, não faz sen-tido nenhum. Isso é verdade, não só o

país mas a Europa não faz investimentosuficiente em ciência. Mas também é

verdade que, com o investimento queexiste, já há muita gente a fazer muito

bem, ou seja se houvesse mais inves-timento haveria mais gente a fazer

muito bem. Deixou de ser desculpa que“eu não tenho condições”. Se a pes-

soa quer mesmo, faz. Eu para fazer oque fiz tive que sair do país muito cedo

e fiquei algum tempo sem poder vol-tar. Sai para não ir fazer a guerra colo-

nial e para fazer outra coisa, que erafazer ciência, neste caso. Evidente-

mente que só menos de 1% dos meuscolegas desse período recusaram a

guerra, 99% fizeram-na. E depois nãose venham queixar que estavam con-

tra a guerra colonial… estavam masfizeram-na. Tudo isto é muito bonito:

“não tenho condições por isso nãofaço”… e colocar sempre a culpa para

cima de outras pessoas. Eu estou deacordo que é preciso mais investimen-

to, melhor investimento, melhor utili-

zado, mas, já é possível fazer. As pes-soas que dizem que não fazem ciên-

cia porque não têm condições estão amentir.

Torga (T) - Nos anos 90 decidiu re-

gressar a Portugal para abraçar esteprojecto do Instituto Gulbenkian de

Ciência. Porque é que tomou essadecisão? Estava na altura de regres-

sar? Tinha condições para regressar?António Coutinho (AC) – Não. Condi-

ções só discutimos depois, mais tar-de. Eu regressei essencialmente por-

que em 91/92 a Fundação Gulbenkianpediu-me para me ocupar do progra-

ma de formação pós-graduada aqui doInstituto porque a pessoa que estava

encarregue disso e que tinha lançadoa formação pós-graduada em Portu-

gal, que era o Prof. Van Uden tinha

Grande Entrevista

torga

“Com o investimento que existe (na ciência) já há muita gente a fazer muito bem”Filipe Casaleiro

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morrido. A Fundação sugeriu que eume ocupasse da formação pós-gradua-

da, eu estava em Paris nessa altura.Depois, em 93 lançámos com o apoio

da Fundação Gulbenkian obviamentemas também da Secretaria de Estado

do Ensino Superior, da Fundação paraa Ciência e Tecnologia e da FLAD o pri-

meiro programa de Doutoramento nes-ta área, o Doutoramento em Biologia e

Medicina que eu próprio conduzi com aajuda do Prof. Quintanilha do Porto e do

Dr. Paulo Vieira que estava aqui. Duran-te sete anos fomos formando muita gen-

te, fomos descobrindo muita gente mui-to boa. Os nossos jovens não são mais

inteligentes nem mais burros do que osoutros… E, os melhores ainda continu-

am a querer vir para a ciência, que éuma coisa muito boa. Noutros países

querem fazer dinheiro muito cedo eportanto não vão para a ciência. A ci-

ência não dá dinheiro a ninguém. Ha-via muita gente a vir para a ciência que

estava imbuída de um sentido de pro-jecto. Alguns deles estavam na perfeita

disposição de voltar apesar de terempropostas muito boas dos sítios onde

estavam. Começou a ser atraente a pos-sibilidade de me esquecer do que esta-

va a fazer nessa altura, de esquecer aminha própria investigação e passar al-

guns anos a procurar ajudar a criar ascondições que permitam aos mais jo-

vens fazer a sua investigação. Eu achoque cada um de nós, naturalmente, faz

coisas melhor em momentos diferentesda sua vida. Quando eu era mais jovem

tinha mais entusiasmo, tinha mais força,mais excitação era menos crítico com

as minhas próprias ideias e com as idei-as dos outros, provavelmente, era mais

criativo. Quando se é jovem é-se muitomais criativo e portanto faz-se melhor

ciência. À medida que fui envelhecen-do fui evidentemente tratando mais de

administrar a ciência que os outros fazi-am à minha volta e pareceu-me que tam-

bém era a altura de me esquecer defini-

tivamente da minha ciência e fazer sóadministração. Possibilitar que os outros

fizessem alguma coisa, que tivessem asoportunidades que eu não tive de fazer

ciência aqui neste país. Não foi umadecisão muito difícil de tomar porque

havia tanta gente boa à volta a quererfazer e querer ajudar que eu acho que

foi uma decisão muito simples de tomar.Uma pessoa fica menos criativa e com a

noção que já fez o que tinha a fazer, apartir de uma certa idade. Não precisa

de estar a ocupar o lugar dos mais no-vos. Nós temos a obrigação de lhes cri-

ar as condições para eles poderem fa-zer.

Torga (T) - A reforma do Instituto

Gulbenkian de Ciência chegou a serdiscutida no Parlamento, um deputado

do PSD interpelou o então MinistroMariano Gago dizendo que a Fundação

Gulbenkian estava a matar a ciênciaem Portugal. Qual foi a estratégia que

o IGC adoptou para conseguir mudaresta mentalidade, ou seja, conseguir

mostrar que o Instituto é um marco naciência em Portugal e é muito

importante para a investigaçãocientifica?

António Coutinho (AC) – A estratégiaque tivemos desde o início foi procurar

fazer o melhor que podíamos, não só eumas toda a gente que abraçou o projecto,

e que tem feito o projecto. Fazer o melhorque podemos e fazer de maneira

generosa, ou seja, acho que nenhumde nós está aqui de uma maneira

egocêntrica à procura das suas própriasvantagens. Estamos por gosto e penso

que isso é evidente. Como já disse, todosos cientistas que vieram para aqui tinham

propostas excelentes noutros sítios evieram apesar de não lhes darmos uma

posição, um salário, não lhes demosnada, a não ser boas condições de

trabalho. Mas apesar disso vêm. Vêmquase passar fome porque não lhes

damos contratos, não lhes damos

salários. Eu acho que a estratégia foi sóessa, fazer o melhor que sabemos,

fazer de maneira generosa e irfazendo.

Havia uma animosidade desde quecomeçámos com o programa de

Doutoramento feito fora das Universi-dades. As Universidades portuguesas

nessa altura, e ainda hoje, estão mui-to ciosas de alguma exclusividade na

formação dos Doutores, algumas Uni-versidades pelo menos… e estas coi-

sas levam muitos anos a mudar. Asuniversidades são supostamente eter-

nas, uma vez fundadas ficam para sem-pre. E, como são eternas são como os

diamantes… são para sempre e, pas-sam por vezes por períodos de hiber-

nação, ou seja, que não estão vivasporque se estivessem vivas morriam.

Tudo o que é vivo tem que morrer e eupenso que há aqui algum problema

dessa natureza, ou seja, as universi-dades portuguesas não viram o que

estava a chegar e que está, não só dareforma universitária europeia mas

também da competitividade entre asuniversidades que está a chegar à

medida que os alunos vão minguan-do. Há universidades a mais em Por-

tugal não há duvida nenhuma. Não háuniversidades de investigação, não há

nenhuma em Portugal. Por definiçãouma research university é uma univer-

sidade que tem tantos alunos dedoutoramento como alunos de licenci-

atura. As universidades portuguesastêm que sofrer uma evolução muito sig-

nificativa. Umas vão ter que desapa-recer, outras vão ter que se dedicar a

formar só licenciaturas e outras, umaou duas, não há espaço para mais, vão

ter que ser universidades de investi-gação competitivas internacionalmen-

te porque senão também desaparece-rão. Levou muito tempo para que as

pessoas adquirissem essa noção e vi-ram mal que uma instituição como a

Fundação Gulbenkian tomasse inici-

Grande Entrevista

torga

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ativas de fazer doutoramentos. Nósnão damos graus a ninguém, as pes-

soas vão buscar os graus às universi-dades onde querem mas a responsa-

bilidade da sua formação é nossa. OsDoutoramentos fazem-se trabalhando

ao lado do orientador. Portanto, preci-samos de orientadores que estão a

tempo inteiro, que não têm mais nadaque fazer, que inclusivamente, a mai-

or parte deles nem sequer dão aulas,não têm outros biscates… Precisamos

de outro tipo de orientadores e por issomesmo, desde que existam esses

orientadores, e essas condições de tra-balho os doutoramentos podem-se fa-

zer em qualquer sítio. Só as universi-dades é que dão os graus, mas tam-

bém não têm exclusividade, qualqueruniversidade pode dar um grau desta

natureza. Penso que houve essa re-acção inicial porque pensavam que

nós tínhamos uma atitude, de que “nósé que fazemos bem”. Não é verdade,

nós sabemos que há muita coisa boaa ser feita nas universidades portugue-

sas. Fazemos à nossa maneira eestamos muito contentes que se façam

de outras maneiras. Esse foi o primei-ro sinal de alguma instabilidade na es-

trutura académica. As estruturasacadémicas nas universidades nome-

adamente são extraordinariamenteestáveis e portanto qualquer sinal de

instabilidade provoca estas reacçõesde autodefesa que é perfeitamente

normal.

Torga (T) - Aposta muito nos jovenscientistas entre os 25-35 anos?

António Coutinho (AC) – Sim. Eu achoque todos apostamos. O futuro está

neles, não está nas pessoas da minhaidade. O pico da criatividade também

vai por aí. Chega aos 40-45 e começaa desaparecer mas, aprendemos a fa-

zer outras coisas.Torga (T) - Não será esse o grande pro-

blema das universidades portugue-

Grande Entrevista

torga

“Há um certo conservadorismo na estrutura universitária que não facilita aaposta definitiva nos mais jovens”

Filipe Casaleiro

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sas, não apostar tanto nos jovens emanter as pessoas que já estão na

estrutura há muito tempo?António Coutinho (AC) – É certamente

um dos problemas, mas tem descul-pas. Continua a ser muito difícil, pen-

so eu, saber o que se deve fazer cominvestigadores que chegam a um pon-

to da carreira que deixam de ser criati-vos. O que é que um investigador sabe

fazer para além daquilo que tem esta-do a fazer? É essencialmente um pro-

blema que nos preocupa, há muitosanos, quando tentamos pensar estra-

tégias da política científica internacio-nal. No caso das universidades é mais

fácil porque um professor quanto maisvelho for, como eu, mais aulas poderá

dar porque sabe mais. Uma das coi-sas que me parece, na minha modes-

ta opinião, que está errado em Portu-gal é a distribuição das cargas horári-

as nas universidades, está ao contrá-rio. Os que sabem menos são os que

dão mais aulas, são os mais jovens.Os catedráticos são os que, por defini-

ção, sabem mais, têm mais experiên-cia, são mais velhos têm mais saber

no contacto com os alunos, são os quedão menos aulas. Isto parece-me pro-

fundamente errado. Além disso, osmais jovens são os mais criativos, são

mais entusiastas para fazer investiga-ção e são os que têm menos tempo

porque estão ocupados a dar aulas.Acho que há um certo conservado-

rismo na estrutura universitária quenão facilita a aposta definitiva nos mais

jovens. Há uma carreira hierarquizadae muito ritualizada que muitas vezes

previne que isso se faça e, quando seaposta, não lhes é dada autonomia to-

tal, ou seja, em áreas de racionalidadee de criatividade intelectual ou a auto-

nomia é total ou não é autonomia.

Torga (T) – É comum a crítica às Uni-versidades por manterem nos mais

altos cargos pessoas que nunca fi-zeram investigação científica e que,

portanto, não reconhecem as neces-sidades dos investigadores. Concor-

da?António Coutinho (AC) – Eu acho que

as pessoas nos cargos mais altos nãopodem fazer as duas coisas bem ao

mesmo tempo. Não podem fazer inves-tigação e ao mesmo tempo estar num

alto cargo da estrutura universitária. Oque me parece é que será muito grave

ter à frente de uma instituição univer-sitária pessoas que nunca fizeram in-

vestigação, que nunca foram grandesinvestigadores, isso é catastrófico. Es-

tou de acordo. Porque são pessoasque nunca irão perceber as necessi-

dades dos investigadores e a impor-tância de fazer investigação. Obvia-

mente que é a escolha errada. Mas, seeu bem percebo, os cargos de respon-

sabilidade universitária são adquiridospor eleição e as pessoas são eleitas

pelos seus pares, pelos estudantes epelos funcionários. É muito provável

que os estudantes ainda não tenhama noção da importância da investiga-

ção, não sei se os funcionários terão,certamente que muitos dos pares tam-

bém nunca a tiveram. Não é de estra-nhar que reitores eleitos, de vez em

quando, nunca tenham feito investiga-ção porque os eleitores também não

sabem a importância disso.

Torga (T) - Disse numa entrevista queo IGC pretende ser um “hall de entra-

da” para investigadores em Portugale não uma “sala de estar”. Há muitos

cientistas estrangeiros a procurar oIGC para fazer investigação?

António Coutinho (AC) – Nós temoscerca de 30% de chefes de grupo es-

trangeiros. E isso continua a aconte-cer, felizmente para a ciência portugue-

sa e para o Instituto. Temos muitaspessoas interessadas em vir para cá,

estrangeiros. Evidentemente que mui-tos deles conhecem o IGC, ou já cá

estiveram algum tempo, já cá passa-ram a dar aulas ou a fazer colabora-

ções ou conhecem pessoas que já cáestiveram e portanto sabem as condi-

ções de trabalho e interessam-se tam-bém por isso. Habitualmente nestas

coisas nada acontece por acaso, aspessoas conhecem-se, a comunidade

respeita instituições portanto isso énatural que aconteça. Também não

nos interessa, e isso é uma discussãoque temos algumas vezes entre nós e

também com a administração da Fun-dação Gulbenkian. Não nos interessa

ter estrangeiros demais porque a mai-or parte deles quando chega ao fim do

seu período aqui vai-se embora outravez. O que nos interessa é que as pes-

soas quando chegam ao final dos seuscinco anos aqui vão para outras uni-

versidades ou instituições de investi-gação portuguesas. Assim, de alguma

maneira podemos, de facto, desempe-nhar a nossa missão de contribuir para

produzir novas competências e novoslíderes para a comunidade científica

portuguesa. Interessa-nos ter estran-geiros sem dúvida, pela diversidade,

pela internacionalização pelamulticulturalidade mas, não nos inte-

ressa ter muitos porque senão nãoestamos a cumprir a nossa missão

perante a comunidade cientifica por-tuguesa que é uma missão de “hall de

entrada” mas sobretudo associada auma espécie de incubadora de novos

lideres.

Torga (T) - Um jovem cientista quequeira ingressar no IGC e que preci-

se de ser bolseiro o que é que temque fazer? Como é que isso se pro-

cessa?António Coutinho (AC) – Depende. Se

é um jovem cientista que tem um currí-culo muito bom, apesar de muito jo-

Grande Entrevista

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vem e que tem coragem para o fazerpode pretender ser chefe de um grupo

totalmente autónomo, e ter o seu pró-prio grupo. Nesse caso, antes de mais

tem que passar o crivo do nosso con-selho científico do IGC, um conselho

científico muito bom e muito pesadodo ponto de vista da qualidade mas

também muito bom no sentido de tra-balho, que olha e estuda os dossiers.

Eles vêm cá uma vez por ano ver aspessoas e ouvi-las apresentar os se-

minários e depois decidem quem pode

entrar como responsável científico equem pode ter autonomia. Os que con-

seguem, a partir daí, nós negociamoscom eles a sua instalação e eles de-

pois procuram onde vão buscar o di-nheiro. Alguns concorrem a posições

de laboratórios associados do Minis-tério da Ciência Tecnologia e Ensino

Superior, outros concorrem a posiçõesuniversitárias vão dar aulas mas, po-

dem fazer a sua investigação aqui. Hátambém quem concorra a bolsas naci-

onais, algumas na FCT, ou bolsas in-ternacionais da European Molecular

Biology Organization (EMBO), doHuman Frontier Science Program, de

organizações internacionais que atri-buem bolsas a jovens cientistas. Eles

podem concorrer e depois vir instalar-se aqui com essas bolsas. Como o

período que contactamos com eles éde cinco anos, para eles terem tempo

de formar o seu grupo e mostrar o que

valem, mostrar que são competitivos abuscar dinheiro, a alimentar o seu pró-

prio grupo. Para ser cientista hoje emdia é necessário ser uma espécie de

micro empresário porque tem não sóque procurar a sua bolsa ou o seu sa-

lário, mas também procurar o saláriodos seus colaboradores, tem que pro-

curar o dinheiro para trabalhar. É nes-se sentido que quando se fala das pes-

soas que se sentam à espera e depoisse queixam que não há condições,

para esses já não há paciência. Por-que não querem ser micro empresári-

os. Evidentemente que estes jovensque se estabelecem aqui e que têm

que procurar tudo isto, o que o Institu-to lhes proporciona é um bom ambien-

te de trabalho, todas as tecnologias,todos os equipamentos, os serviços,

os técnicos que servem essastecnologias e um ambiente intelectual

muito intenso, temos muitos cursos,

muitos workshops, muitas conferênci-as, muitos seminários. Eles só preci-

sam de se preocupar em fazer a suainvestigação e ir buscar dinheiro para

a financiar.

Torga (T) - O IGC neste momento, àparte das universidades, é o único

centro de investigação em Portugalonde se faz investigação científica.

Grande Entrevista

torga

“As universidades portuguesas têm que sofrer uma evolução muito significativa”

Filipe Casaleiro

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O Instituto consegue competir comoutros centros de investigação a ní-

vel mundial?António Coutinho (AC) – Sim. Temos

que competir senão desaparecería-mos. Também nos sentiríamos mal mo-

ralmente de estar aqui a aceitar estu-dantes ou jovens investigadores ao

saber que não somos tão bons comoos outros. Nas áreas onde estamos

inseridos, acho que somos competiti-vos. Como lhe disse, podemos ser mais

competitivos do que aquilo que somos.Não somos tão competitivos como os

grandes grupos que estão nas gran-des instituições mas somos competiti-

vos de outra maneira. Por exemplo,uma coisa que não custa dinheiro é

pensar. Nalgumas instituições estran-geiras há tanto dinheiro e tantas coi-

sas, as pessoas estão demasiado ocu-padas a produzir resultados e têm pou-

co tempo para pensar. É melhor fazermenos e melhor, fazer menos mas mais

inovador. A Biologia unificou-se por-que amadureceu, é uma ciência

unificada. Deixou de fazer sentido terespecialidades e distinguir os grupos

que fazem microbiologia dos que fa-zem virologia ou fisiologia, é tudo a

mesma coisa. E por isso, é possível teruma instituição com uma grande

transversalidade em que as pessoasfalam todas umas com as outras e sa-

bem o que é que os outros estão a fa-zer, compreendem o que é que os ou-

tros estão a fazer. Esta transver-salidade cria uma coisa que é muito

bonita nos sistemas complexos que é;a partir da corporatividade dos seus

componentes criar novos níveis de or-ganização superiores. A instituição

passa a valer mais do que a soma doscomponentes, do que a soma das pes-

soas que cá estão. Isto porque há umasérie de interacções que ultrapassam

as pessoas. Toda a origem da novida-de vem da corporatividade. Ao manter

a instituição suficientemente pequenapara que toda a gente se conheça, com

grupos suficientemente diversos por-que são todos muito pequenos que

possam interagir, aí teremos algumavantagem competitiva e a experiência

que temos tido até agora, é que a te-mos exactamente aí.

Torga (T) - Já falámos aqui que há

muita gente boa a fazer coisas muitoboas em Portugal, mas, é-lhes dado

esse devido valor? Os portuguesesnormalmente não dão muita impor-

tância ao que têm e dão importânciaàquilo que os outros têm…

António Coutinho (AC) – Tem toda arazão. Ainda se ouve muitas vezes di-

zer “nós temos grandes cabeças masestão todas fora”, não estão nada. Há

muita gente boa cá. Isso é verdade.Há agora uma associação que se cha-

ma Associação Viver a Ciência quecomeçou com algumas pessoas daqui,

mas que agora está no país todo e queé uma associação que procura promo-

ver alguns jovens cientistas portugue-ses, alguns estão fora, outros estão cá.

É verdade que na maior parte dos ca-sos… nem todos os jornais e revistas

são sérios. É verdade que a voz des-tes jovens cientistas pouco se faz ou-

vir. E, o futuro da racionalidade está alicom eles…

Torga (T) - Essa é também uma críti-

ca aos meios de comunicação soci-al? À forma como actuam?

António Coutinho (AC) – Isso é um pro-blema muito mais complicado. Os me-

dia vendem o que o público quer com-prar… Eu acho que se venderia mais

as histórias destes jovens. Vendiam-se tão bem ou melhor do que as histó-

rias dos Big Brother porque são histó-rias interessantes. O que eu acho que

há neste caso é falta de discernimentosobre o que o mercado pretende da

parte dos próprios media que não ven-dem estas histórias. Ao contrário da

sua revista…Torga (T) - Quais são os projectos

mais estruturantes que o IGC está aconduzir neste momento?

António Coutinho (AC) – O maisestruturante para a comunidade por-

tuguesa é um projecto que começá-mos no ano passado de Doutoramento

em Biologia Computacional.

Torga (T) - Que é único no mundo?António Coutinho (AC) – É um dos ra-

ros no mundo. Entretanto também apa-receram outras coisas nesta área mas

é certamente um programa inovadorno sentido do que se pretende fazer

porque não se pretende formar pesso-as só num determinado aspecto da

Biologia Computacional. Estamos tam-bém a formar pessoas nas áreas das

Neurociências Computacionais eBioinformática e a dar-lhes interesse

pela investigação, pela aplicação des-sa investigação. Também me parece

de alguma maneira estruturante pro-jectos que estão em curso no instituto

e que têm a ver com a interface com aMedicina, mais de base científica, no-

meadamente alguns projectos queestão a ser feitos em genética de do-

enças complexas como diabetes,autismo, lúpus, etc. que são doenças

que até há relativamente pouco temponem sequer se tinha a certeza absolu-

ta que eram doenças genéticas por-que convencionalmente as únicas que

estavam identificadas eram doençashereditárias.

Comparando a frequência de incidên-cia dessas doenças na população em

geral ou entre irmãos e irmãs, pesso-as da família ou gémeos verdadeiros

que são clones pode-se estimar qualé o peso da genética e o peso do am-

biente, das influencias ambientais. Namaior parte destas doenças andam

Grande Entrevista

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equilibradas, ou seja, metade do pesoé genética e portanto começa a ser

possível não só estudar quais são osgenes implicados na susceptibilidade

dessa doença no sentido de podermosperceber como é que a doença come-

ça, como é que ela se desenvolve ecomo é que ela se manifesta. Mas tam-

bém encontrar terapêuticas novas,mais biológicas, menos farmacológica

mas repor níveis de componentes nor-mais do organismo que estão baixos

ou que estão em excesso e tambémperceber como é que os genes funcio-

nam para aumentar a resposta patoló-gica a determinados estímulos do am-

biente. Portanto poder prevenir a do-ença prevenindo a exposição a este

estímulo. O antigo paradigma da Me-dicina era diagnosticar e tratar. O

paradigma novo é prever e prevenir.Pela genética hoje em dia já se pode

estimar para a maior parte destas do-enças, qual é o risco específico de vir

a ter uma destas doenças. Esse traba-lho parece-me que é muito estrutu-

rante, relativamente à formação dosmédicos. Mas também há outras áre-

as que me parecem muito importantespara o pensamento biológico moder-

no, nomeadamente a biologiaevolutiva. Temos aqui vários grupos a

trabalhar, mas é uma área da biologiae da ciência, que se vende mal, que

não cura, que não inventa nada masque é a base de tudo o que fazemos.

Grande Entrevista

torga

Mas, como vende mal há pouca aten-ção a isso e nós fizemos um esforço

significativo para ter aqui a biologiaevolutiva e também a biologia do de-

senvolvimento, obviamente que asduas estão muito ligadas e acho que é

talvez das partes mais estruturantesque se está a fazer aqui.

Torga (T) - Qual é o futuro do Instituto

Gulbenkian de Ciência?António Coutinho (AC) – Eu espero

que seja um futuro bom, um futuro bri-lhante mas sobretudo que seja um fu-

turo que continue a ser de serviço aopaís. Acho que o instituto nunca pode-

rá estar aqui, sobretudo sendo umainstituição privada de interesse públi-

“Uma coisa que não custa dinheiro é pensar”

Filipe Casaleiro

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Grande Entrevista

torga

co para se divertir a si mesmo, para sevangloriar a si mesmo, para se fazer

uma instituição reputada para nada.Tem que estar aqui ao serviço dos

mais jovens, ao serviço desta comuni-dade científica do país. Enquanto esti-

ver assim acho que vale a pena conti-nuar. Eu já estou aqui há sete anos e

já estou com muita vontade de dar olugar a alguém porque as pessoas têm

que mudar aquilo que estão a fazersenão começam a fazer as coisas por

rotina e isso é mau. Mas espero bemque, como de resto tem sido anuncia-

do pelos seus presidentes, que a ci-ência continua a ser e cada vez mais,

uma das prioridades principais da Fun-dação Gulbenkian. Há cada vez mais

sinais de que a ciência vende bem nonosso país. Enquanto o instituto esti-

ver a desempenhar bem a sua funçãode serviço ao país e às outras institui-

ções nacionais e continuar um sítioatractivo para os jovens e activo do

ponto de vista intelectual e mesmo cul-tural acho que não temos que temer

sobre o que vai acontecer ao instituto.

Torga (T) - Acabou de dizer que estána altura de dar o seu lugar a outra

pessoa. Tem algum projecto que querconcretizar depois do IGC?

António Coutinho (AC) – Não, não te-nho projectos na manga. Isto de ter

responsabilidade por outras pessoasé pesado. Quando nós começamos a

investigação, só temos responsabili-dade por nós próprios, depois acaba-

se o Doutoramento e começa-se por terum técnico, um estudante, dois estu-

dantes e de repente, já temos um gru-po de cinco ou seis pessoas. Infeliz ou

felizmente para mim, comecei muitocedo, ainda era muito jovem quando

me fizeram catedrático na Faculdadede Medicina na Suécia e me deram

um departamento para montar. Só ha-via paredes… foi preciso recrutar o

pessoal inteiro, comprar tudo. Isto em1979, eu era muito novo, aprendi mui-

to desde essa altura. Mas também des-de essa altura que me tenho que preo-

cupar com a vida de muita gente. Istofica muito pesado. E eu acho que já

dei para isso e acho que agora já te-nho direito de não ter esse tipo de pre-

ocupação e de responsabilidades egostaria muito de passar algum tempo

da minha vida a escrever. É isso queme apetece. É o que eu tenho na man-

ga. Já comecei pelo menos três livrosdiferentes e nunca os consigo acabar.

O que escrevi há sete ou oito anosatrás vou ler agora e já está

desactualizado porque só consigo es-crever coisas que me parecem interes-

santes e que estão a acontecer agora.Preciso mesmo de ter tempo para mim

para fazer isso. Eu acho que uma dascoisas mais nobres que se pode fazer

hoje em dia, para nós cientistas, é con-tribuir para trazer mais ciência e mais

racionalidade ao dia-a-dia das pesso-as. Para mim, uma das maneiras de

contribuir agora seria essa, escrever.

Andrea Marques

“Temos uma sociedade que é profundamente irracional”

Filipe Casaleiro

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Investigação no ISMT

torga

Docentes do ISMT em Doutoramento

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Investigação no ISMT

torga

O Instituto Superior Miguel Torga está a

desenvolver um projecto de investiga-ção sobre as repercussões somáticas,

somato-psíquicas e relacionais doscomportamentos de risco para a saúde

de crianças e adolescentes.Esta investigação resulta de uma

parceria entre o Instituto SuperiorMiguel Torga, a Escola Superior de

Tecnologias da Saúde de Coimbra, oDepartamento de Psicologia da Uni-

versidade do Minho e a Sub-região deSaúde de Coimbra, financiada pelo

Serviço de Saúde e DesenvolvimentoHumano da Fundação Calouste

Gulbenkian, e tem por objectivo pri-mordial o estudo da interacção entre

os antecedentes somáticos, somato-funcionais e comportamentais da in-

fância e início da adolescência e aadopção de comportamentos de risco

para a saúde, nomeadamente o con-sumo de substâncias psicoactivas,

durante a adolescência.De facto, o estudo por inquérito

epidemiológico, conduzido junto dapopulação infanto-juvenil de um locus

comunitário bem definido, permite nãosó escrutinar o grau de penetração

local das medidas de promoção dasaúde (logística dos cuidados de saú-

de primários, tempo, modo e circuns-tâncias do recurso a esses cuidados,

articulação entre cuidados primáriose serviços especializados), mas tam-

bém avaliar o estado de saúde actualdos jovens, contribuindo para escla-

recer de que forma é que as estratégi-as de prevenção primária contribuem

quer para a redução da incidência dos

comportamentos de risco para a saú-de quer para a alteração das variá-

veis psicossociais que influenciamestes comportamentos.

O projecto de investigação desen-volvido por esta equipa, coordenada

por Carlos Farate do ISMT, foi condu-zido junto de uma população de cri-

anças e adolescentes utentes dos ser-viços de cuidados de saúde primários

dependentes da Sub-região da Saú-de de Coimbra.

São duas as hipóteses de basedeste projecto: 1) os antecedentes de

doenças somáticas, sobretudo se fo-rem precoces, graves (exigindo, por

exemplo, internamento hospitalar su-perior a uma semana) ou evoluírem

de modo prolongado podem contribuirpara aumentar o risco da adopção de

comportamentos de risco para a saú-de incluindo, no caso dos adolescen-

tes, o consumo de tabaco, álcool, me-dicamentos psicotrópicos ou outras

substâncias psicoactivas; 2) a quali-dade da vinculação exerce uma fun-

ção mediadora na interacção entreantecedentes somáticos/doença

somática actual e os comportamentosde risco para a saúde entre os jovens

da população em estudo.Foi constituída uma amostra em

painel, com uma dimensão global de1500 crianças e adolescentes, repar-

tidos por 3 subgrupos de escalõesetários diferentes, sendo, cada um de-

les, composto por 500 sujeitos de am-bos os sexos:

O impacto do consumo do tabaco, do álcool e de outras drogas na saúde das crianças eadolescentes.

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54

Investigação no ISMT

torga

· E1 crianças entre os 6 e os 8 anosde idade

· E2 adolescentes entre os 11 e os14 anos

· E3 adolescentes entre os 15 e os18 anos de idade

O protocolo de investigação desteinquérito epidemiológico é composto

por inventário médico (versão para ospais de crianças e adolescentes), auto-

questionário psicossocial para adoles-centes (adaptado a partir de Choquet

et al.), ficha clínica resumida, PCV-M(escala de vinculação para crianças

em idade escolar, versão para pais),IPPA (escala de vinculação para ado-

lescentes) e QAPCVIA (questionário deavaliação da percepção do comporta-

mento de vinculação de crianças eadolescentes, versão para pais).

O trabalho de campo da investiga-ção decorreu entre Janeiro e Julho de

2005, tendo-se registado uma taxa departicipação de 37% relativamente à

amostra inicialmente estimada (i.e.,uma população de 537 sujeitos dos

1500 inicialmente previstos, repartidaproporcionalmente pelos 3 sub-grupos

da amostra em estudo).A partir da análise estatística preli-

minar aos resultados obtidos para ogrupo E1 é possível concluir que, ape-

sar de 96,4% da amostra ter beneficia-do de uma gravidez medicamente as-

sistida, cerca de 43% das mães refe-rem ter tido um qualquer problema

obstétrico (principalmente vómitos no1º trimestre e ameaça de parto prema-

turo) e que uma em cada dez mulhe-res indica mais do que um problema

durante a gravidez desse filho. Poroutro lado, cerca de ¼ das mães in-

quiridas (25,2%) refere a ocorrênciade situações de carácter traumático

potencial durante este período. Relati-vamente ao parto e período neo-natal,

verifica-se uma proximidade estatísti-ca entre a percentagem de partos pre-

maturos (16,6%) e de partos distócicospor cesariana (18%). Apenas 66% des-

tas mães referem ter tido um parto nor-mal e 11,3% das crianças desta amos-

tra foram submetidas a tratamento nes-ta fase da vida (37% para procedimen-

tos de reanimação e 29,2% colocadosem incubadora).

Com relação à primeira infância(entre o nascimento e os 2 anos de

idade) para cerca de 9 em cada 10mães o filho/ a filha cresceu bem. As-

sim, apenas 14% das mães admitemter consultado o seu médico de família

ou pediatra frequentemente nesta faseda vida do seu filho.

Numa fase posterior, entre os 3 eos 5 anos de idade, é de destacar que

existe um mesmo padrão, relativamen-te ao período anterior, no que diz res-

peito à atribuição pelas mães de umcrescimento saudável aos seus filhos.

Refira-se, contudo, que 13% das cri-anças sofreram acidentes durante esta

fase da vida.Analisemos agora os dados preli-

minares relativos aos grupos E2 e E3.Os dados destes grupos dizem res-

peito a 357 adolescentes com idadescompreendidas entre os 11 e os 18

anos de idade, cuja idade média é de13,5 anos.

Quanto à preocupação com a ima-gem corporal, 6 em cada 10 jovens

classificam o seu corpo como normal,enquanto que 1 em cada 10 adoles-

centes se consideram “gordos”, sen-do extremamente baixa a percentagem

de jovens que se consideram “muitomagros” (3,1%).

No que diz respeito às queixassomato-funcionais dos adolescentes

da amostra, é particularmente relevan-te a referência às alterações de sono,

às queixas álgicas (dores de cabeça,de barriga, dores musculares) e aos

sentimentos ânsio-depressivos (ner-vosismo, aborrecimento, tristeza, falta

de esperança.)Relativamente aos comportamen-

tos alimentares, 59,6% dos rapazes(contra 47,2% das raparigas) referem

ter prazer em comer muito.De facto, parecem ser as raparigas

que têm uma relação mais problemáti-ca com a alimentação.

Assim, o prazer em comer muitosuscita o medo de não parar a 1 em

cada 10 raparigas (e, apenas, a 2,6%do rapazes); o mesmo comportamen-

to alimentar faz sentir vergonha a 10%das raparigas inquiridas (contra 4,5%

dos rapazes), enquanto que a umapercentagem similar de raparigas e

rapazes, respectivamente, provocasentimentos depressivos.

No que diz respeito ao consumo debebidas alcoólicas, a cerveja é a bebi-

da mais utilizada pelos jovens da amos-tra (de facto, 30% dos rapazes e 17,6%

das raparigas referem que bebem cer-veja ocasional ou regularmente).

Já quanto à utilização do tabaco,verifica-se uma inversão no rácio ra-

pazes/raparigas, já que 1/3 das rapa-rigas (32,5%), contra ¼ dos rapazes

(25%) refere a utilização ocasional ouregular de tabaco.

Os investigadores concluíram, poroutro lado, que o consumo de outras

drogas é um comportamento raro en-tre os jovens da amostra. Assim, o uso

de haxixe é referido por 4,5% das ra-parigas e 2,7% dos rapazes.

Finalmente, a idade de iniciação aoconsumo do álcool ou de outras dro-

gas, tem vindo a decrescer, situando-se em média, actualmente, nos 12/13

anos de idade (dados confirmados,pela análise preliminar dos resultados

do presente estudo).

Ana Beatriz Bento

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56

Opinião

torga

É a partir do berço que uma criança

recebe as primeiras aulas de linguísti-ca e de socialização. A mãe é o seu

primeiro centro de recursos e os sonsdas palavras vão permitir o contacto

precoce com a pesquisa do seu pe-queno mundo.

Ao fim de alguns meses, este pe-queno investigador ultrapassa a fase

oral da procura e sai em busca de maisinformação, passando definitivamen-

te para a biblioteca.As cores, as formas, o material im-

presso em papel, plástico ou tecido,convidam-no à descoberta, contudo, é

imprescindível manter a comunicaçãooral entre os vários elementos da fa-

mília e a criança.O gosto pela leitura revela-se mais

tarde depois de ter tido o prazer do to-que dos livros e das texturas e ter-se

deslumbrado com as cores.Quando o indivíduo atinge os estu-

dos superiores terá sido de extremaimportância que, além do gosto pela

leitura adquirido em pequeno, tenhapassado por experiências de pesqui-

sa de informação, de elaboração detrabalhos na escola. Esse “saber da

experiência feito” na investigação deforma sistemática, utilizando os catá-

logos tradicionais ou informáticos, ofe-rece-lhe os conhecimentos básicos na

procura e organização bibliográfica.A colecção, isto é, o fundo docu-

mental reflecte obrigatoriamente, as

áreas de estudo dos cursos

leccionados ao nível da bibliografiaprincipal e da bibliografia ancilar. Res-

ponde às necessidades de investiga-ção por parte dos docentes, investiga-

dores e discentes fornecendo docu-mentação de referência completa:

anuários, dicionários linguísticos, re-sumos estatísticos, enciclopédias. Pro-

porciona também, informação geralincluindo calendários universitários,

listas de trabalhos de investigação emcurso, listas de entidades de investi-

gação, anuários de sociedades erudi-tas.

A pesquisa em bases de dados re-motas fazem cada vez mais parte de

uma realidade da qual a bibliotecauniversitária não pode excluir-se. For-

necer documentação pertinente de for-ma célere, é o objectivo dos serviços

de biblioteca.As revistas electrónicas que facul-

tam o conteúdo integral, bases de da-dos de referência bibliográfica,

abstracts, constituem serviços dispo-níveis na maior parte das bibliotecas

universitárias actuais.A abrangência na recolha e trans-

missão de conhecimentos é um dadoadquirido. O recurso à B-On (Bibliote-

ca do Conhecimento On Line),PsycInfo ou Isi-Web of Knowledge, por

exemplo, é inevitável pelo manancialde informação extensa, exaustiva e de

qualidade que oferecem.

Com o Ensino Superior na mira do

Processo de Bolonha, cabe às biblio-tecas o ousado papel de actualização

dos seus serviços quer ao nível dosnovos perfis dos bibliotecários, assu-

mindo uma função mais activa comoagentes educativos, apoiando as pes-

quisas da docência e dos alunos, querao nível da gestão integrada da infor-

mação e da tecnologia através das jácitadas bases de dados e bibliotecas

digitais, quer ao nível das relaçõesinterbibliotecas, por exemplo uma

acentuada cooperação dos serviços. O Processo de Bolonha estabele-

ce um novo quadro educacional inse-rindo a investigação e o ensino na

construção do conhecimento e da ci-dadania.

A aprendizagem ao longo da vida(formação não formal e competências

pela experiência) é um dos meios deavaliação dos alunos. A biblioteca

passa a acompanhar os alunos nodesenvolvimento das suas aptidões e

competências na pesquisa bibli-ográfica.

A relação professor-aluno baseia-se num momento de contacto recípro-

co de transmissão e descoberta e oprofissional de informação estará pre-

sente para responder às solicitaçõesde ambos, passando ele próprio a in-

tegrar o desafio na adaptação ao es-paço de ensino europeu.

De BibliothecaAna Cristina Abreu

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Para corresponder ao amável convite

da Torga, perguntei-me qual o tema aescolher, por ser mais significante e,

porventura, com um toque de implicân-cia. A minha opção caíu no que tem

sido a minha percepção quanto aossaberes dos muitos alunos de que, na

última década, fui professor. Na gene-ralidade, em percentagem muito ele-

vada, pensavam bastante insuficien-temente, não sabiam expor as suas

respostas, tinham falta de concentra-ção, eram incapazes de manter a aten-

ção, tinham falta de conhecimentosessenciais. Falando com muitos cole-

gas, dentro e fora da minha Escola,tantas vezes no âmbito de comissões

de avaliação externa do CNAVES, oseu entendimento era semelhante. O

que não quer dizer que também nãohouvesse e haja colegas com ponto

de vista contrário.Explicitarei o meu pensamento no

que concerne às referidas insuficiên-cias, que, em boa verdade, se tradu-

zem em ameaça para a independên-cia e afirmação de Portugal. O pensa-

rem mal significa que não mostramcapacidade bastante para organizar e

articular raciocínios complexos, departir de premissas, de dados conhe-

cidos de um problema, e, por passossucessivos convenientemente enca-

deados, chegarem a uma conclusão.Acertam apenas com a resposta a um

enunciado tipo, igual a outro já treina-

do, em que apenas os valores das va-

riáveis iniciais é diferente. Reduz-setudo a seguir um roteiro, um guião, uma

receita previamente decorada. Muitosdos alunos não conhecem com rigor os

conceitos fundamentais, têm impres-sões, vaguidades comuns com que têm

vindo a viver. Também não têm o espíri-to moldado para a necessidade, a exi-

gência incontornável das leis físicas.Tudo ou quase tudo é questão de opi-

nião. O que não está bem; pois paratodos, a liberdade pressupõe o conhe-

cimento exigente da necessidade.O não saberem expor as suas res-

postas está incluído na ausência, aque me acabei de referir, dessa heran-

ça grega fantástica que é o acto depensar e que, a meu ver, se encontra

ameaçado. A falta de hábitos mentaissólidos é simultaneamente reflexo e

causa de não dominarem adequada-mente a língua materna, o Português.

Não falo apenas de ortografia e deconstrução de frases, o que já de si é

coisa de monta e importa corrigir, maso que é muito mais preocupante trata-

se da organização do texto, enfim, daboa retórica. Desenvolver um discurso

com princípio, meio e fim. Para chegara uma determinada conclusão, há que

fazer uma introdução onde se definema situação, as condicionantes, o

enquadramento do tema entre mãos,depois desenvolver a argumentação

de forma inteligente, consistente e co-

Um Testemunho e uma PropostaCarlos Sá FurtadoProfessor Catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e deComputadores

erente para, finalmente, concluir com

limpidez e clareza. Os jovens, em gran-de percentagem, disso não sabem,

não cuidam e nem chegam a entenderque isto é importante, imprescindível.

Obviamente que, chegados que sãoaos vinte anos, após um percurso es-

colar de 13, 14 anos, a culpa não lhespode ser assacada.

Quanto à falta de concentração, aminha maior evidência está na inca-

pacidade de muitos alunos seguirematentamente uma aula por mais que

10-15 minutos. Falam uns com os ou-tros, distraiem-se. Não é por mal, por

falta de respeito. Não, não é por isso;é porque lhes é impossível estarem

atentos a seguir uma exposição queexige esforço para ser compreendida.

A razão, assim o julgo, está em nãoterem sido educados para isso.

Quanto à falta de conhecimentosbásicos é assunto recorrentemente fa-

lado. No tocante a aspectos de puraerudição, como, por exemplo, saber

rios ou batalhas, não me parece peca-do mortal. Já assim não é no que toca

às essências, aos fundamentos daárea científica própria. Não saber o que

é a aceleração de um móvel, o que éforça, não é tolerável para quem entra

em Engenharia na Universidade. Ecerto é que desconhecem a sua for-

mulação rigorosa, têm ideias e impres-sões vulgares, difusas, apenas luga-

res comuns.

Opinião

torga

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Se me alonguei na explicitação dasmazelas do que julgo serem as maio-

res deficiências e incapacidades queafectam os nossos jovens, é porque

penso dever-se ser claro no que é opior dos défices portugueses, origem

de todos os outros, que nos vai cortaro passo ao desenvolvimento colectivo

com vista ao alcance de patamaresmais elevados de organização social

e económica, afectando negativamen-te a prática da cidadania e da nossa

afirmação como Povo. A descriçãoalgo alongada que esbocei pretende

caracterizar e identificar os males mai-ores que afligem o nosso sistema

educativo. Socorro-me aqui, em apoio,dos estudos internacionais TIMMS e

PISA, que tão mal nos classificaramentre os países analisados e a que,

por misteriosas razões, deixámos denos submeter. No mesmo sentido vão,

por exemplo, os recentes exames na-cionais de Matemática do 9º ano – e

convinha ver qual a extensão e exi-gência dos conhecimentos testados –

em que a média nacional não foi alémde 2.2, na escala de 1 a 5. Convinha

averiguar as razões deste descalabrocrescente. Mas nunca se quis fazer -

vá-se lá saber por quê –, antes se fo-ram reduzindo as exigências do siste-

ma oferecendo, por exemplo, currícu-los alternativos, ou reduzindo os con-

teúdos.Que fazer? Praticar ou deixar prati-

car outra pedagogia. A incidência dasaprendizagens deverá centrar-se nos

conteúdos científicos e processoscognitivos devidamente organizados

em currículos coerentes. Assim se con-tribuirá para uma escola inclusiva, en-

tendida como aquela que, mais tarde,propiciará aos estudantes, indepen-

dentemente da sua origem social, umamelhor integração na vida profissional

e na afirmação cidadã. A escola exi-gente em conhecimentos, em discipli-

na e hábitos de trabalho é a escolademocrática, porque, sem discrimi-na-

ções, de acordo com as capacidadesde cada um, integrará os jovens na

actividade profissional e na consciên-cia social e de cidadania, indispensá-

veis à construção continuada e manu-tenção do Estado democrático e à feli-

cidade pessoal.Há que privilegiar o conhecimento

estruturado, fomentando e criando acapacidade de abstracção. Sem abs-

tracção não há educação dos espíri-tos, somente um treino para execução

repetitiva de tarefas. Sem generaliza-ção, conceptualização, abstracção, os

problemas que a vida nos vai propon-do em contextos e situações diversi-

ficadas não podem ser encarados comsucesso. É do conhecimento corrente

que não é possível raciocinar critica-mente sobre qualquer tema, sem pre-

viamente bem o conhecer. Só sepode criticar e escolher consciente-

mente o que se conhece.É para mim ponto assente que tal

como um pianista tem de fazer esca-las, o maratonista tem de correr quiló-

metros todos os dias, o xadrezista temde ter muitas horas de tabuleiro, as-

sim o estudante tem de estudar eaprender o que é necessário ao longo

do seu percurso académico, a fim dealcançar conhecimento. Só se pode

amar o que se conhece e o prazer está,antes de mais, no que se alcança, na

dificuldade superada. Esta é a Escolaem que acredito e que pode criar men-

tes bem pensantes e críticas, sensibi-lidades conscientes, cidadãos capa-

zes de optar entre a multitude de op-ções que a complexidade social, cul-

tural e técnica do Mundo actualmentepropõe.

Alguns chamarão de negativista,pessimista, radical o que escrevi, e, de

caminho, dirão que a “escola nova” éincompreendida e atacada por aben-

cerragens em extinção, que negam osbenefícios, a libertação dos espíritos e

da criatividade, entretanto operadas.Julgo que, entre os que pensam na li-

nha crítica aqui exposta e noconsequente modelo dela emergente,

e aqueloutros que são seguidores eadmiradores da “escola nova”, seja

díficil, mesmo impossível haver acor-do. Assim sendo, parece-me sábio e

aconselhável não se perder tempo emquerelas inconse-quentes e admitir

nos Ensinos Básico e Secundário es-colas que seguissem os modelos da

“escola nova” e outras em que a práti-ca pedagógica se baseasse funda-

mentalmente em currículos científicosestruturados incluindo os fundamen-

tos das matérias em causa, na avalia-ção externa com exames cíclicos de

periodicidade não superior a três anos,na ênfase no conhecimento sabido e

raciocinado, na disciplina e no esfor-ço individuais. As famílias escolherão.

O desempenho profissional dos alu-nos formados num modelo ou no outro

dará seguramente indicações claras einsofismáveis sobre a sua diferencia-

da adequação à correcta inserção so-cial e profissional.

Opinião

torga

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É um dado banal: a escola massificou-

se e é confrontada com uma profundatransformação nos papéis que lhe são

atribuídos. Numa época em que amulticulturalidade – uma questão de fac-

to em termos históricos e sociais – dassociedades contemporâneas está na

ordem do dia nas agendas dos váriosactores políticos e sociais, não admira

que um dos temas dominantes nos dis-cursos sobre a instituição escolar seja o

da diversidade. A ideia de uma escoladetentora do monopólio da cultura e do

saber tem vindo a ceder terreno face àrelativização da cultura escolar, à ideia

de que ela é “uma cultura entre outras”.A instituição escolar é, cada vez mais,

confrontada com a necessidade e comas exigências de dar resposta às ques-

tões das diferenças culturais, dapluralidade de formas de transmissão

de saberes, da multiplicidade de conhe-cimentos, de práticas educativas e

comunicacionais que caracterizam hojeo universo escolar. Questões que ga-

nham uma acuidade particular dada amultiplicidade de espaços educativos e

de diferentes lógicas sociais em que opensamento se constrói e os saberes

se transmitem nas sociedades contem-porâneas.

O contraste com o modelo de igual-dade homogeneizante, que caracterizou

o processo de generalização da culturaescolar, dificilmente podia ser maior. De

facto, a consideração, pela positiva, das

Nem tudo o que se ensina se equivaleJoaquim Pires ValentimProfessor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências daEducação da Universidade de Coimbra

singularidades individuais e das cultu-

ras estranhas à escola marca uma trans-formação de profundas consequências

(em boa parte ainda por elucidar) faceàs concepções em que a escola detin-

ha o exclusivo do saber válido e em queas realizações escolares dos indivídu-

os apareciam como uma tradução di-recta – ou revelação – das suas capaci-

dades intelectuais. Não admira por issoque o insucesso escolar tivesse sido atri-

buído sistematicamente a carências oufaltas dos indivíduos que, uma vez na

escola, não progrediam na aquisição deconhecimentos escolares. Primeiro, de-

vido à falta de dons ou de talentos, maistarde, devido à falta de estimulação cul-

tural, sendo, neste último caso, missãoda escola fornecer um suplemento des-

sa alimentação cultural de que os alu-nos se mostravam deficitários.

Durante os anos setenta do séculopassado, estas concepções foram am-

plamente criticadas por sociólogos, psi-cólogos, linguistas e até biólogos que

mostraram como esse diagnóstico po-dia resultar apenas da aceitação da cul-

tura escolar como uma norma de refe-rência neutra, tomada como medida-

padrão para as capacidades de todosos indivíduos e grupos. Assim, em lugar

de carências ou de realizações inferio-res, estaríamos perante diferentes for-

mas de expressão das capacidades dosindivíduos. Diferenças essas que só se

tornariam défices quando comparadas

com as normas da cultura escolar, que,

por razões histórico-sociais, represen-tam os critérios de êxito dos indivíduos.

Acontece que as transformaçõespolíticas, sociais e ideológicas, entretan-

to ocorridas, vulgarizaram de tal modoestas ideias que, hoje, talvez seja de

colocar a tónica no oposto que essa evi-dência oculta: esses saberes não são

equivalentes nas sociedades moder-nas, designadamente do ponto de vista

social e performativo. Assim sendo, qualdeverá ser o papel do que se ensina na

escola? Simplificando muito (talvez de-masiado), diria que, a este respeito, boa

parte da resposta está na aquisição desaberes cuja validade não seja mera-

mente local, isto é, que não se confineapenas aos limites de comunidades

particulares. Dito de outro modo, trata-se de procurar assegurar a todos os in-

divíduos a transmissão escolar de “sa-beres universais” tendo em conta a

multiplicidade de “saberes particulares”.O simples reconhecimento das

especificidades culturais e do valor in-trínseco de outros saberes nada garan-

te. Pode até conduzir facilmente a umatal centração nessas especificidades,

que acaba por reforçar os mecanismospelos quais as diferenças se transfor-

mam em desigualdades. O papel daqui-lo que é ensinado na escola não se com-

padece com defesas mais ou menosromânticas de um relativismo naif que,

rapidamente, se transforma em deriva

Opinião

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Há cerca de dois anos fui a Itália de automóvel. Só ainda

lá tinha estado na região dos lagos e tinha ficado extasiadoA Toscana não é coisa para viajantes de avião. Queria

conhecer as colinas, os ciprestes esparsos, os vinhos, ocasario, as gentes de lá onde está a qualidade de vida. O

drama de quem é português é que sempre que quer irpara o centro tem de atravessar toda a periferia. E lá fui eu,

Espaaanha, Fraaança, auto-estraaada costeira do Oeste– paragem obrigatória em Santa Margarida e Portofino –,

direitinho àquela que tanto me tinham recomendado: Flo-rença, “a deusa”.

A viagem teve, como é óbvio, os seus momentos altos,mas hoje estou aqui para dizer mal. Em primeiro lugar, as

“aires” (tinha vindo de França) eram completamente des-providas de zonas de descanso e recreio (leia-se piqueni-

que para poupar): lá tinhamos que comprar uma piza,autênticas sovas.

Chegado a Florença, uma espécie de teste da realida-de veio-me mais uma vez confirmar que a forma mais ab-

soluta de estupidez é a idealização: os arredores de Flo-rença são deprimentes, ordinariamente banais, mesmo

poeirentos e esburacados, as casas poderiam perfeita-mente ser as dos arredores de Atenas. Como é óbvio,

depois de quase três mil quilómetros tive de fazer umcíngulo maníaco e insultei-me considerando que me tinha

perdido nalguma cintura industrial, e que a maravilha iaaparecer a qualquer momento. Aparecida, perdi-me qua-

tro ou cinco vezes, não por não compreender a evidênciadas placas, mas por não acreditar que o centro histórico

era só daquele tamanho (de tanto me perder tinha cir-cunscrito mentalmente a área).

Em Florença, como porventura em tantas cidades itali-anas, o trânsito é caótico, o estacionamento é caótico, as

pessoas são caóticas, tudo cheira a cafeína. Limitei-meapenas a pensar, como qualquer português que se preze,

que afinal os Italianos são mesmo parecidos connosco,

Porventura demasiado inteligentesJorge Caiado GomesProf. Associado do ISMT

identitária e comunitarista. Com a agra-vante de que, ao fazê-lo, contribuiria,

segura-mente, para acentuar as desi-gual-dades sociais.

A diferença entre os jogos de salãoe a Matemática, entre a letra de uma

canção pimba e os versos da Odisseianão se dilui em nenhum relativismo. As

aprendizagens escolares têm uma es-pécie de imperativo, isto é, têm a obriga-

ção de possibilitar, senão mesmo garan-tir, aos indivíduos os meios, o passapor-

te e a rota para uma “migração cultural ecognitiva”. Ou seja, o que se ensina na

escola pode – e deve – permitir a cadaum ir muito para além dos muros da sua

aldeia ou do seu gueto, por mais cos-mopolita que seja a rua onde cada um

mora. Daí a importância política da ade-quada definição do que é necessário

ensinar num determinado momento his-tórico – designadamente, a definição do

que se deve ensinar, quer enquantoaprendizagens básicas, quer enquanto

aprendizagens obrigatórias –, mas tam-bém a importância do trabalho pedagó-

gico que garanta que aquilo que é paraaprender, se aprende mesmo.

Não pretendo com isto retomar asilusões das crenças iluministas sobre as

virtudes da escola. Sabemos hoje que aescola não pode garantir tanta coisa.

Mas, por muito desencantado que sejao nosso olhar sobre o mundo, convém

não esquecer que sem a difusão da es-cola as coisas seriam, sem dúvida, pio-

res que aquilo que são.Parece-me óbvio que o investimen-

to e o esforço político, económico, soci-al, pedagógico e pessoal que qualquer

“aposta na educação” exige só fazemsentido se reconhecermos que, de fac-

to, quando se trata do ensino escolar,nem todos os saberes são equivalen-

tes.

Opinião

torga

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são tão desorganizados como nós:

estava em casa.Mas à medida que fui querendo

estacionar, que fui querendo beber umcafezinho (quatro euros, na altura), que

fui querendo descansar após as inter-mináveis bichas de japoneses, perce-

bi o quão estava equivocado: os itali-anos não são nada desorganizados,

eles apenas são porventura demasia-do inteligentes. Tudo estava – descon-

tando a minha veiazinha paranóide –milimetricamente pensado para sacar os

tostõezinhos todos ao incauto turista.Só em jeito de desabafo, e assu-

mindo o meu jeito ignorante obscuro,confesso-vos que prometi a mim mes-

mo nunca mais lá voltar, a não ser nacondição de trabalho, para ver se re-

cuperava algum do dinheirinho perdi-do.

Mas se vos estou aqui a falar deFlorença por uma razão bem distante

(se bem que Bolonha, se não erro, ficaa cerca de oitenta quilómetros de Flo-

rença):Estive, há uns meses atrás e em

representação do curso de Psicologiado I.S.M.T., na reunião que juntou os

directores dos cursos do ensino priva-do e cooperativo para discutir a apli-

cação do Processo de Bolonha. A reu-nião foi promovida pela Professora

Luiza Morgado, da Universidade deCoimbra, mandatada pela então minis-

tra da educação. Como eu conhecia

Opinião

torga

de excelente memória a Professora, foi

sem surpresa que assisti à formacordata, eficaz e firme como conduziu

a reunião. Tendo sido obtido um acor-do surpreendentemente rápido a nível

nacional, tenho a certeza que umaenorme fatia do mérito lhe deve ser

outorgada: «queira aceitar, senhora, aexpressão dos meus mais distintos

cumprimentos».Relativamente à reunião e pela mi-

nha parte, visto que não aprecio espe-cialmente jogos de palavras e má po-

esia, as coisas eram de uma simplici-dade desarmante: a maioria dos cur-

sos de Psicologia das universidadeseuropeias tinha um formato 3+2+1 (o

último ano é um estágio profissional);existe uma recomendação da Associ-

ação Europeia de Psicólogos que re-comenda a adopção do modelo

3+2+1; e a maior parte dos cursos dePsicologia já instalados em Portugal

tinha implícito o formato 3+2+1. A po-sição a adoptar, e que de resto foi do-

minante, é que o modelo a seguir nonosso país deveria ser o de 3+2+1.

Como o Instituto Miguel Torga, a parcom mais duas ou três instituições, ti-

nha tentado antecipar o Processo deBolonha adoptando o modelo 4+1, por

pura diligência, restava-me tentar ga-rantir que não fossemos prejudicados

no processo de reestruturação.Mas era aqui que a «porca torcia o

rabo»: penso ter ouvido conside-

randos sobre uma possível manobra

para obrigar os cursos de quatro anos,actualmente conducentes a uma licen-

ciatura, a ficarem cingidos a ministrarum bacharelato/licenciatura (coisa

que, como se sabe, no caso da psico-logia, serve para muito pouco). Depois

havia a questão da nomenclatura: seo primeiro ciclo de três anos se cha-

masse licenciatura, como se passarãoa chamar os actuais licenciados com

cinco anos de formação; e os actuaismestres com sete anos de formação

universitária?No caso da Psicologia, alguns des-

tes problemas foram ultrapassados porum consenso raramente observado.

Mas o panorama geral, olhando à po-lémica que este assunto tem suscita-

do nos jornais, é de suspeição, mano-bra, habilidade, jogo de cintura, exci-

tação cafeínica...Tudo, penso eu, problemas muito sim-

ples de resolver, não fossemos nós tam-bém, por ventura ou desventura, exces-

sivamente inteligentes.

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62

Opinião

torga

É com muita satisfação que me asso-cio à Torga neste número dedicado à

Educação e ao Ensino.Agradeço a possibilidade de parti-

lhar com os leitores algumas preocu-pações e dúvidas, sobre políticas

educativas dirigidas à Educação nãosuperior. Fá-lo-ei em tom coloquial,

sem preocupações académicas mascom rigor.

Um dos grandes problemas actu-ais da Educação no nosso país passa

por equilibrar a prestação dum servi-ço de qualidade, pois é essa a exigên-

cia da sociedade, com uma boa ges-tão do dinheiro público, sendo que esta

última é igualmente uma exigência dasociedade, confrontados que estamos

todos com a “finitude” dos recursospúblicos, mormente os financeiros.

Assegurada a qualidade, o equilí-brio no investimento e na despesa pú-

blica em educação não superior rele-vará, ainda que de forma diferida, a

Alguns desafios para as políticas educativas em Portugal: o caso doensino não superiorJosé Manuel Portocarrero CanavarroProfessor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação daUniversidade de Coimbra

partir de dois grandes eixos de actua-ção:

1. Uma melhor gestão da EscolaPública;

2. Uma maior abertura, eventual-mente subsidiada directa ou indirec-

tamente, à iniciativa privada no senti-do de reforçar a possibilidade de es-

colha da escola por parte das famíli-as;

Sem prejuízo de medidas pontuais,que optimizem os recursos humanos

e materiais de que o Estado dispõepara provir o serviço de Educação aos

cidadãos.

1. Uma melhor gestão da Escola Pú-blica

São pouco desejáveis medidas denatureza administrativa e que ignorem

as componentes de motivação, deresponsabilização, de desburocrati-

zação, de definição e prossecução deobjectivos que devem nortear o traba-

lho de quadros com formação superi-or, como são os professores. Serão

igualmente dispensáveis medidas queretirem autonomia às Escolas e que

nada contribuam para que se desen-volva uma gestão “localizada” moder-

na, responsável, orientada para objec-tivos e partilhada.

O modelo da organização apren-dente, que todos sabem subjacente ao

paradigma da sociedade de informa-ção, não pode ficar distante da escola

pública, muito mais quando a domi-nante política passa pelo Plano

Tecnológico, nas suas diferentes ver-tentes.

Há urgência na redefinição do mo-delo de gestão das escolas públicas,

consagrando princípios de autonomiaalargada com a profissionalização e

responsabilização dos seus gestores.Entende-se deste modo que uma ges-

tão profissional das escolas será ca-minho para maior eficiência conjugada

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com maior motivação dos colaborado-res, conseguindo-se sinergias finan-

ceiras relevantes e consequentementeuma melhor prestação de serviço.

A gestão da escola pública nãodeve obedecer meramente a emana-

ções centralizadoras nem fazer-se ape-nas pela via administrativa. Deverá,

porém, reforçar-se todo um contexto deparceria local e de aproveitamento de

redes instituídas de suporte socialprotago-nizadas por entidades públi-

cas e privadas, de entre as quais sedestacam: as autarquias; as associa-

ções de Pais; as IPSS; e as Misericór-dias

Urge uma reforma do quadro legalde autonomia e de gestão das escolas

públicas, uma reforma capaz de criareficiência e assim potenciar a presta-

ção dum melhor serviço aos alunos eàs famílias, sem desperdício financei-

ro por via da responsabilização que,contingencialmente, acompanhará a

autonomia. A autonomia não é verda-deira se não contemplar a vertente fi-

nanceira e esta merece ponderação,que trataremos num próximo escrito.

2. A possibilidade de escolha da es-

cola por parte das famílias…O sistema democrático tem que

permitir aos pais, em maior ou menorgrau, a escolha duma escola para os

seus filhos que não apenas a ofereci-da pelo Estado. Está consagrado na

Declaração Universal de Direitos Hu-manos (1948) que os pais têm o direi-

to de escolher o tipo de educação paraos seus filhos. Também na Convenção

Internacional dos Direitos Económicos,Sociais e Culturais (1966) se faz a res-

salva de respeitar a liberdade dos paispara escolher as escolas dos seus fi-

lhos. A mesma leitura é legítima a par-tir da Constituição da nossa Republica.

Convirá relembrar que um dos pri-meiros direitos reclamados após a

queda dos regimes totalitários da Eu-ropa Central e Oriental foi a existência

e o funcionamento de escolas não es-tatais.

Dado que o direito a escolher outraescola, que não a oferecida pelo Esta-

do, não está directamente ao alcancede todos devido aos custos que pode

implicar, muitos países adoptam políti-cas que permitem subsidiar parte ou a

totalidade dessas despesas.Muito recentemente, em Inglaterra,

o governo trabalhista liderado por TonyBlair fez aprovar o Livro Branco da

Educação no qual se consagram me-canismos concretos facilitadores da

escolha livre da Escola pelos Pais eque vão desde informação actualiza-

da e independente sobre o funciona-mento das escolas, a transporte gra-

tuito para que os pais com menos pos-ses possam enviar os seus filhos para

escola que distem até 10 km de casa(se essa for a sua vontade), entre ou-

tros mecanismos. Sustenta-se que aescolha livre por parte dos Pais pode-

rá ser um impulsionador da qualidadee referem-se vários exemplos de paí-

ses, como a Suécia e os EUA (algunsestados deste país), nos quais a adop-

ção de mecanismos que permitem aescolha livre da Escola conduziram a

melhorias no sistema de educação.Em sentido inverso, mas com reac-

ções conhecidas, Zapatero pretendeuintroduzir mudanças na LOE (equiva-

lente à nossa Lei de Bases do SistemaEducativo) que reduzem a liberdade

de escolha e que acentuam a prima-zia da estatização da Educação em

Espanha. As reacções contrárias sãoconhecidas. Centenas de milhares de

pessoas em protesto nas ruas e umapetição com perto de três milhões de

assinaturas a pedir pela não alteraçãoda LOE.

As razões que movem os pais noprocesso de escolha da escola julgada

como a mais adequada para os seusfilhos são muito diversas e contextua-

lizadas:- A qualidade da educação, o pres-

tígio da escola e factores relacionadoscom o ambiente e com a segurança;

- A responsabilidade nos cuidadosprestados aos filhos; a conveniência

pessoal; a oferta de actividadesdesportivas e extra-curriculares – a di-

versidade de serviços oferecidos pelaEscola;

- A qualidade dos professores;- A proximidade do local de resi-

dência, designadamente nos Ciclos deEstudos iniciais; boas acessibilidades

viárias e de transporte, critério que seacentua nos ciclos subsequentes.

Poder escolher, ter liberdade totalde escolha da Escola é um passo im-

portante mas que politicamente, nonosso país, merece um tratamento

faseado. A possibilidade do “chequeensino” ou do “voucher escolar”, pro-

vavelmente demasiado liberal para onosso contexto social, poderá ser subs-

tituída por outras políticas, como porexemplo:

- O investimento na qualidade daEscola Pública – tornando-a mais

atractiva, mais segura, com oferta perie pós-escolar diversa (trilho que se

está a percorrer actualmente mas semconsiderar a autonomia das escolas e

com o sacrifício do bem estar dos pro-fissionais);

- A melhoria da definição da redeeducativa, com consagração do prin-

cipio de rede integrada público-priva-do – evitando investimento do Estado

“em obra”, quando o serviço Educa-ção pode ser provido pelo sector pri-

vado, sempre em condições “regula-das” e mesmo por concessão. Tal po-

derá suceder com regras a definir, evi-tando-se o investimento público sem-

pre que possa haver interesse privadoe prevendo-se a possibilidade, em

Opinião

torga

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sede de Estatuto de Carreira Docente,de figuras de mobilidade ou de per-

muta entre profissionais dos sectorespúblico-privado, ouvidos os parceiros

sociais e sempre em sede de negocia-ção colectiva;

- O reforço dos mecanismos deacompanhamento dos contratos de

associação Estado-Escolas Privadas,com contratualização definida de for-

ma plurianual mas com cumprimentode objectivos anuais rigorosamente

explicitados;- O estabelecimento de contratos

de autonomia com Escolas Públicas ePrivadas, nomeadamente para refor-

ço e definição de projectos inovado-res de educação-formação.

Uma das possibilidades poderápassar por integrar na oferta das Es-

colas os actuais 3º Ciclo do EnsinoBásico, o Secundário e o Pós-Secun-

dário, diversificando a oferta educa-tivo-formativa, para além da regular-

mente oferecida, e incluindo nesta osCursos de Educação-Formação (nível

II), Ensino Profissional (nível III), Siste-ma de Aprendizagem (níveis III e IV) e

Cursos de Especialização Tecnológica(CET’s) – e assim reforçar a compo-

nente profissionalizante do Ensino e aformação de futuros quadros intermé-

dios, tão necessárias a Portugal.Importará definir para estas Esco-

las, quando Públicas, uma gestão comautonomia reforçada, estruturada a

partir de contratos de gestão em fun-ção de objectivos, com maior margem

de autonomia no desenho doscurricula e dos conteúdos, que pode-

rão ser concebidos a partir duma iden-tificação de clusters de actividade eco-

nómica e empresarial consideradoslocalmente estratégicos e/ou emer-

gentes.Em resumo, a liberdade de esco-

lha poderá passar indirectamente porum investimento melhor direccionado

na Escola Pública (ênfase nos servi-ços complementares e na diversidade

da oferta educativa), num equilíbrio eabertura da rede público-privada (con-

siderando a rede como una), na esta-bilidade e avaliação dos mecanismos

de financiamento do Estado à iniciati-va privada, prevendo-se a possibilida-

de de regimes de concessão, nomea-damente em alguns novos investimen-

tos, e na possibilidade da consagra-ção de contratos de autonomia com

Escolas Públicas, também em regimede parceria público-privado e, mesmo,

quando se justifique, com Escolas Pri-vadas.

3. Notas Finais

Os mecanismos motivadores da li-berdade de escolha da Escola deve-

rão ser acompanhados duma maiorautonomia e profissionalismo nos exer-

cícios de gestão da Escola Pública eduma maior abertura à iniciativa pri-

vada na Educação, abertura esta queimplicará forçosamente regulação.

A redução da despesa pública, dadespesa do Estado em Educação, far-

se-á, não só por ganhos de eficiênciaque uma gestão profissionalizada con-

sagra, mas também pela possibilida-de de integrar a oferta privada na rede

escolar, do estabelecimento de meca-nismos de concessão que reduzam o

investimento público e ainda da pos-sibilidade de mobilidade ou de permuta

de docentes entre os sistemas públicoe privado.

Algumas das preocupações que sesobrelevam e das sugestões que se

enunciam carecem de mudanças le-gais, mormente na carta magna que é

a Lei de Bases do Sistema Educativo eque este ano completa vinte anos de

existência.Trata-se dum caminho que se po-

derá percorrer sempre salvaguardan-do a qualidade das aprendizagens e

nunca as sacrificando. Trata-se dumequilíbrio que só se justifica sem a hi-

poteca da qualidade das aprendiza-gens e merecerá apenas percorrê-lo

com esse ponto de partida e de che-gada.

De outra forma, seria um caminhosem retorno.

Opinião

torga

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1. Introdução

Embora, nos últimos anos, tenham sido

lançadas muitas iniciativas, a nívelnacional e comunitário, no intuito de

reforçar o valor do ensino, bem comoas ligações deste com a investigação

e inovação, resta ainda muito por fa-zer. A capacidade da Europa para

transformar os resultados do ensinoem oportunidades comerciais, e im-

plantar novos modelos organiza-cionais adaptados às necessidades de

hoje fica ainda aquém do necessário.Melhorar as relações entre o ensi-

no e a inovação – atendendo em parti-cular, à sua contribuição para o cresci-

mento económico, emprego e coesãosocial é fundamental para reforçar a

competitividade da União. É do conhe-cimento geral que, actualmente na

Europa, estas relações não se estabe-lecem tão bem quanto possível, e essa

O Ensino na União Europeia: um dos lados do TriânguloMaria CarlosJurista, [email protected]

percepção levou já a ComissãoEuropeia a propor a criação de um “Ins-tituto Europeu de Tecnologia” que fun-cionará como pólo de atracção paraos melhores cérebros de todo o mundo.

Em Outubro do ano passado, oConselho Europeu, na reunião infor-mal de Hampton Court, solicitou aadopção de medidas urgentes paraconferir ao ensino excelência de nível

mundial.No seguimento de uma ampla con-

sulta pública no final do ano passado,na qual participaram as universidades,os centros de investigação, as empre-sas e as organizações de inovação in-dustrial mais importantes, em conjuntocom numerosos inquiridos de cada umdestes sectores, 2006 foi recebido comoum tempo novo para reforçar a qualida-

de dos sistemas de ensino europeus eassim preservar a competitividade

europeia à escala global.

2. Assegurar o êxito do triângulo doconhecimento – vantagens de uma

iniciativa nova

De acordo com a opinião geral, o

principal desafio que a União enfrentano domínio do ensino é a sua incapa-

cidade para explorar e partilhar os re-sultados de I&D e, consequentemente,para traduzir esses resultados em va-lores económicos e sociais. A Europanecessita não apenas de desenvolveros três lados do seu “triângulo do co-nhecimento” (ensino, investigação einovação), mas também de reforçar aspontes entre eles.

Este diagnóstico comum deixa en-

trever uma vasta gama de causas. Noque diz respeito à oferta de ensino,

tanto a qualidade como a facilidade deutilização dos resultados do conheci-

mento são criticadas. Em particular,continua a ser importante a diferença

Opinião

torga

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entre resultados de investigação e asua aplicação. Estas duas questões

não podem ser consideradas em se-parado. Embora o seu nível geral de

desempenho universitário seja bom, aEuropa necessita de mais pólos de

excelência1, devido à importância doseu impacto social e económico. A ex-

celência favorece a circulação de in-teligência, atrai o investimento priva-

do em I&D e fomenta a descoberta deideias susceptíveis de produzir efeitos

colaterais alargados em termos deensino. Contudo, para que se possam

desenvolver excelências, é necessá-rio que a selecção e a carreira dos in-

vestigadores assentem na concorrên-cia, que o pagamento pela obtenção

de resultados não seja um tabu e quea participação numa empresa seja vis-

ta positivamente, enquanto oportuni-dade de aprendizagem importante

para o currículo de um investigador.Para tal, terão também de se desen-

volver novas formas de trabalhar emconjunto.

É necessária uma concentraçãocrítica de recursos humanos, finan-

ceiros e físicos para criar um círculovirtuoso no qual faculdades, investiga-

dores e estudantes talentosos se atrai-am mutuamente, chamando a si o fi-

nanciamento competitivo dos sectorespúblico e privado. Actualmente, as uni-

versidades europeias têm ambiçõesmuito semelhantes, mas os seus es-

forços são demasiado dispersos. Háquase 2 000 universidades na União

Europeia que aspiram a desempenharum papel activo na investigação. Em-

bora as situações não sejam inteira-mente comparáveis, menos de 10%

das instituições de ensino superior nosEUA conferem diplomas de

pósgraduação, sendo ainda menos asque afirmam ser universidades com

forte actividade de investigação2. Ten-do em conta que, em comparação com

os EUA, a Europa gasta menos emensino e I&D3, são mais neste conti-

nente os actores a querer uma fatia deum bolo menor. O sistema existente

nos EUA produz uma concentração derecursos e pessoas que atinge a mas-

sa crítica no número limitado de insti-tuições em causa4, permitindolhes

ocupar um lugar entre as melhores domundo. Não é por acaso que as des-

pesas das empresas de I&D comunitá-rias e a fuga de cérebros da União têm

como meta os EUA e outros concor-rentes internacionais5, e que poucas

universidades comunitárias são men-cionadas nas classificações internaci-

onais de universidades, que são maiscitadas a nível mundial.

Ao mesmo tempo, não existe pro-cura suficiente de resultados de ensi-

no e investigação na Europa. Mesmoque estivessem disponíveis mais pro-

dutos ou capacidades de investigaçãoexcelentes, é pouco provável que o

seu valor comercial fosse explorado.Uma das razões que explicam esta fra-

queza é o fosso cultural e intelectualentre estudantes investigadores e em-

presários6. Para inovar, é necessáriauma aprendizagem mútua, baseada

na confiança e não apenas uma trans-ferência de conhecimento no final de

um processo de investigação. A esterespeito, os empresários, especial-

mente no caso das PME, terão de ad-quirir uma cultura de investigação/ino-

vação e de ser incentivados a correrriscos; e os universitários e investiga-

dores precisam de compreender e de-senvolver competências em empre-

endedorismo. Uma cooperação maisintensa pode compensar a falta de

massa crítica nas PME e despoletar opotencial positivo das PME em termos

de flexibilidade e criatividade. Os sec-tores do ensino público e privado têm

um papel a desempenhar: as aquisi-ções em matéria de investigação ino-

vadora podem, estimular uma relaçãomais eficaz e produtiva entre ensino e

empresas.Nos últimos anos, foi lançada uma

série de iniciativas europeias destina-das a reforçar as capacidades dos sec-

tores da investigação, do ensino e dainovação. Programas de mobilidade,

como o programa Erasmus, têm permi-tido que estudantes e profissionais co-

nhecessem diversos contextos deaprendizagem e formação, expondoos

à riqueza e à diversidade de conheci-mentos que caracteriza a paisagem

europeia. Os programas-quadro de in-vestigação comunitários prestaram um

contributo importante através de inicia-tivas como as Acções Marie Curie, os

Projectos Integrados, as Redes de Ex-celência e a promoção das Plataformas

Tecnológicas Europeias. E no futuroespera-se que o Conselho Europeu de

Investigação apoie a investigação deponta ao mais alto nível, sob iniciativa

dos próprios investigadores. Todos es-tes esforços ajudam a criar um contex-

to em que as universidades comunitá-rias, os centros de investigação, as

empresas e os actores públicos e pri-vados podem colaborar mais facilmen-

te em prol de um ensino de qualidade.No entanto, há ainda muito poten-

cial por explorar e a Europa devia re-forçar a sua posição nos domínios mais

estratégicos. Esta situação poderia serultrapassada através da conjunção e

da concentração de recursos: tal exi-ge um contexto institucional dinâmico

e flexível, aberto à mudança e aos no-vos actores, capaz de desenvolver tra-

balho interdisciplinar e transdisciplinar,bem com uma sinergia produtiva entre

ensino, investigação e inovação.Este tipo de mudança ocorrerá cer-

tamente nas organizações existentes,mas terá de enfrentar a inércia e de-

morará muito tempo. É necessário re-flectir novamente sobre uma forma de

Opinião

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colmatar o fosso entre ensino e socie-dade que funcione como modelo de

referência capaz de inspirar e orien-tar a mudança a longo prazo. Neste

sentido, somos a favor de uma institui-ção única (o que não significa um sítio

único) e manifestamos a nossa preo-cupação relativamente ao facto de uma

rede fixa de universidades não ofere-cer nem a flexibilidade e abertura

exigidas, nem um nível de integraçãosuficiente. Além disso, também não

reflecte o facto de a excelência se en-contrar frequentemente em determina-

dos departamentos ou equipas e nãonas universidades, na sua totalidade.

Neste sentido entendemos que omodelo para o IET deve responder à

seguinte preocupação: permitir a for-mação das melhores equipas em do-

mínios estratégicos, de acordo commodalidades que beneficiem tanto as

equipas como as suas instituições deorigem. Deste modo estamos em crer,

o Instituto constituirá um valor acres-centado, em particular no que diz res-

peito a três pontos:· Proporcionará ao sector privado

uma relação nova com o ensino e ainvestigação, criando novas oportuni-

dades para a comercialização da in-vestigação, e uma intensificação dos

intercâmbios nos dois sentidos. Aintegração de universidades, institutos

superiores, centros de investigação eempresas constituirá uma vantagem

relativamente às universidades tradi-cionais. Criará igualmente oportunida-

des de atrair financiamento privadopara o IET.

· Concentrar-se-á na conjugaçãodos três lados do triângulo do conhe-

cimento ensino, investigação e inova-ção ficando estes indissociavelmente

ligados graças à natureza do IET e àconjugação dos seus parceiros. As

suas actividades de ensino e investi-gação orientarseão em direcções no-

vas e produtivas do ponto de vista in-dustrial.

· Representará uma concentraçãode recursos, que lhe permitirá igualar

os mais exigentes padrões atingidospor outras instituições. Não terá a obri-

gação de adoptar medidas que nãorespeitem o critério de excelência.

3. Como funcionaria o IET?

Em nossa opinião, o IET ocupariauma posição única. O seu papel seria

diferente do de qualquer outra iniciati-va comunitária em vigor. Tornarseia

num centro de excelência global deelevada visibilidade, capaz de atrair

estudantes e investigadores de gran-de valor, promover a inovação de pon-

ta e a investigação interdisciplinar etransdisciplinar, e mobilizar financia-

mento competitivo dos sectores públi-co e privado em todo o mundo.

Para alcançar este objectivo, o IETdeverá ter uma identidade forte deven-

do tornarse numa marca europeia cla-ra e visível e ser reconhecido como

parceiro de pleno direito no cenárioglobal. O IET terá igualmente de ser

autónomo: em termos de gestão, daprimazia atribuída à excelência no

âmbito dos seus processos de selec-ção, controlo e avaliação, e do seu fi-

nanciamento.Neste sentido entendemos que a

missão do IET seria:· Desenvolver estudos de pósgra-

duação, investigação e inovação emdomínios interdisciplinares e transdis-

ciplinares emergentes;· Desenvolver competências de

gestão da investigação e da inovação;· Atrair os melhores investigadores

e estudantes em todo o mundo;· Disseminar novos modelos orga-

nizacionais e de gestão e· Apor na paisagem do ensino uma

identidade europeia nova.

3.1. Papel e missões do IETEm nossa opinião, as actividades

do EIT incluiriam os três lados do tri-ângulo do conhecimento:

· ensino: o modelo de educaçãodistintivo do EIT atrairia mestrandos e

candidatos a doutoramentos, permitin-do prestarlhes um ensino compatível

com os padrões internacionais maiselevados;

· investigação: o IET realizaria ac-tividades de investigação, desde a in-

vestigação básica à aplicada, prestan-do particular atenção à indústria e

concentrandose nos domíniosinterdisciplinares ou transdisciplinares

com forte potencial inovador;· inovação: o IET desenvolveria,

desde o início, ligações estreitas coma comunidade empresarial, a fim de

garantir a adequação do seu trabalhoàs necessidades do mercado e facili-

tar a orientação das suas actividadesde investigação e educação em direc-

ções úteis para a economia e a socie-dade.

Em todos estes domínios, o IET ti-raria partido da excelência já existen-

te e estamos em crer, encorajaria o seudesenvolvimento onde ela não exis-

tisse.Os diferentes actores no IET de-

sempenhariam, todos eles, um papelneste contexto.

· Actualmente, são muito poucasas universidades na Europa que se-

jam excelentes em todas as áreas. Noentanto, muitos departamentos ou

equipas são reconhecidos, a título in-dividual, pela sua excelência nos res-

pectivos domínios. Ao reunir estes de-partamentos e equipas, o IET liberta-

ria o seu potencial. A participação noIET processarseia, por conseguinte, a

nível departamental e não universitá-rio.

· No que diz respeito ao pes-soal, a excelência dos resultados não

Opinião

torga

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é, frequentemente, o factor decisivoque determina as perspectivas de re-

muneração ou promoção das pessoasque trabalham nas universidades ou

nos centros de investigação. O IETdeverá criar um contexto em que a ex-

celência seja realmente a força motriz,em que os incentivos correspondam

aos objectivos, a remuneração se ba-seie no desempenho, constituindo as-

sim um parceiro mais eficaz para in-dústria e um modelo de evolução.

· Em muitas empresas, particular-mente nas PME, não existe uma cola-

boração organizada com as universi-dades e a investigação, pelo que em-

presários e investigadores não parti-lham da mesma cultura. Em nossa opi-

nião, o IET deverá criar um contextoque permita a aproximação e o desen-

volvimento da compreensão entreambos.

Esta tónica na excelência exigeuma abordagem nova do financiamen-

to. Hoje em dia, muitas universidadesna Europa são, essencialmente, servi-

ços públicos; financiados sobretudopelos contribuintes, envolvem, em ge-

ral, um investimento financeiro limita-do de outros intervenientes. Apesar de

estas universidades terem feito provado seu valor e continuarem a desem-

penhar o seu papel, estamos em crerque o IET deveria ser claramente dife-

rente: desde o seu início, deveria serconcebido para receber financiamen-

to tanto do sector público como do sec-tor privado.

Essa base de apoio será determi-nante para os dois factores que irão

condicionar o êxito do IET. Em primei-ro lugar, a sua capacidade para con-

vencer o sector privado de que é capazde produzir resultados comercialmente

importantes. Em segundo lugar, o graude adesão das universidades e dos

decisores políticos ao modelo do IET

enquanto nova estrutura organizacionalde êxito para as universidades.

3.2. Estrutura do IETO coração científico do IET seria

constituído pelo seu trabalho nos do-mínios do ensino, da investigação e

da inovação, e pela sua capacidadepara integrar contribuições de parcei-

ros diferentes numa estrutura única,maior que a soma das suas partes.

Para tal, constituiria uma série de par-cerias integradas com universidades

existentes, centros de investigação ouempresas (“organizações parceiras”),

criando “comunidades de ensino”seleccionadas pelo conselho directivo

do IET que responderiam perante ele.Uma diferença fundamental entre as

“redes” normais e estas comunidadesde ensino é que, enquanto no caso das

primeiras, os parceiros acordam ape-nas numa cooperação, nas comunida-

des de ensino do IET, os parceiros afec-tariam recursos infraestrutura, pesso-

al e equipamento ao IET. Do ponto devista jurídico, somos da opinião que

as comunidades de ensino deveriamfazer parte do IET.

3.2.1. O conselho directivo e nú-cleo central do IET

Neste sentido entendemos que oIET deve ser gerido com uma mão si-

multaneamente suave e segura. Oconselho directivo será responsável

pela “marca” IET – garantindo que asescolhas efectuadas (por exemplo, re-

lativamente aos domínios de trabalho)correspondem à melhor perspectiva

disponível sobre a ciência e as empre-sas; que as selecções são baseadas

na qualidade; e que o seu programacientífico e empresarial é amplamente

aceite. O conselho directivo deverá serdo mais alto nível e os seus membros

deverão ser seleccionados entre osactores mencionados na secção 3.1.

supra.

O seu objectivo não deverá ser re-presentar as instituições europeias

existentes. Antes deverá estar organi-zado de modo a garantir um equilíbrio

em termos das experiências represen-tadas e a ser operacional em termos

de funcionamento. Entendemos con-cretamente que poderia ser directa-

mente responsável por:– fixar as prioridades estratégicas

do IET;– gerir o orçamento central e afec-

tar recursos às comunidades de ensi-no;

– assegurar a excelência no IET e– organizar a selecção, o controlo

e a avaliação das comunidades deensino;

3.2.2. As comunidades de ensinoAs comunidades de ensino deve-

rão ser compostas por departamentosou equipas de universidades, de insti-

tutos, de centros de investigação ouempresas reunidas numa parceria in-

tegrada a fim de realizarem em con-junto estudos de pósgraduação (ou

seja, apenas mestrados e douto-ramentos), investigação e inovação.

Reunirão recursos de diferentes tipos:pessoal e infraestrutura afectados às

comunidades de conhecimento pelasorganizações parceiras, e recursos fi-

nanceiros provenientes de fontes pú-blicas e privadas. Utilizarão esses re-

cursos para criar uma massa crítica denível elevado e reunir casos de exce-

lência em ensino, investigação e ino-vação nos seus domínios respectivos.

Os recursos físicos continuariam geo-graficamente dispersos, mas a comu-

nidade de conhecimento funcionariacomo um todo integrado.

As comunidades de conhecimentoespecializar-se-iam em domínios

transdisciplinares, como a mecatrónicaou a bioinformática, ou em domínios

interdisciplinares como a energia eco-lógica, as alterações climáticas, a ino-

Opinião

torga

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69

vação ecológica ou o envelhecimentoda população. Estes domínios revelam

o maior potencial de inovação e de-senvolvimento (em ensino e investiga-

ção) e, além disso, afastam-se da es-trutura e dos currículos tradicionais

normalmente propostos pelas univer-sidades na Europa.

Somos da opinião que as comuni-dades de conhecimento seriam selec-

cionadas pelo conselho directivo doIET, no seguimento de um processo

competitivo baseado numa avaliaçãopelos pares, destinada a identificar o

potencial de cada parceria propostapara produzir resultados no seu domí-

nio, a médio prazo (10 a 15 anos). Umavez seleccionada, cada comunidade

de conhecimento acordaria com o con-selho directivo objectivos e parâmetros

precisos relativamente aos três ladosdo triângulo do conhecimento no seu

domínio; um controlo e uma avaliaçãoregulares assegurariam que estes es-

tavam a ser respeitados.Ao longo da sua existência, a co-

munidade de ensino poderá desen-volverse de diversas formas: o siste-

ma terá de ser flexível. A comunidadepoderá necessitar de capacidades

adicionais, talvez devido ao facto deos domínios de trabalho terem de evo-

luir e a entrada de parceiros novos tra-zer uma excelência adicional, ou tal-

vez porque o número de estudantestenha aumentado para além dos seus

recursos. A comunidade de ensinopoderá igualmente diversificar as suas

actividades, devido ao facto de a evo-lução dos trabalhos ter tomado um

rumo inesperado. As comunidades deensino deverão permanecer dinâmi-

cas e o IET deveria poder responder àevolução científica nos moldes que

entender mais apropriados, nomeada-mente permitindo mudanças de par-

ceria, ajustando disposições financei-ras ou afectando fundos adicionais

quando tal for determinado pela suaprocura de excelência.

Em todas as fases, o conselhodirectivo supervisionaria o controlo e

a avaliação das comunidades de en-sino de acordo com parâmetros de re-

ferência precisos.

3.3. Questões jurídicasA criação do IET exigirá em nossa

opinião, a adopção de um instrumentojurídico, que a Comissão Europeia terá

que propor no final deste ano. Acredi-tamos que esse instrumento jurídico

criará o IET, estabelecerá os seus ob-jectivos e definirá as disposições

operacionais necessárias.

3.4. OrçamentoAs despesas principais do IET es-

tarão relacionadas com as suas comu-nidades de ensino. O financiamento

necessário para o conselho directivoe núcleo central seria relativamente

reduzido, já que a sua estrutura per-maneceria ligeira. Embora, inicialmen-

te, seja necessário um financiamentopúblico substancial de base, à medida

que as comunidades de ensino se de-senvolverem, entendemos que o IET

deveria obter fundos provenientes deoutras fontes de financiamento comu-

nitárias e nacionais competitivas, bemcomo de empresas, fundações, hono-

rários, etc.. Atrair financiamento adici-onal seria um objectivo, assinalado

com parâmetros, em todos os acordosentre o IET e as parcerias de ensino

comunitárias.O IET poderia atrair fundos priva-

dos de três formas. Em primeiro lugar,as empresas privadas que fazem par-

te das comunidades de ensino afecta-riam recursos ao IET desde o início,

como os demais parceiros. Em segun-do lugar, as comunidades de ensino

que se distinguissem pela sua exce-lência obteriam contratos, por exem-

plo de formação ou investigação, comempresas privadas. Por último, o IET

poderia criar uma fundação privadaque recolhesse fundos junto de patro-

cinadores ou outras fundações.Sabemos que o instrumento jurídi-

co que cria o IET deve ser adoptado, omais tardar, em 2008. Mais tarde, será

designado um conselho directivo, jun-tamente com os primeiros membros do

pessoal. A primeira identificação dascomunidades de conhecimento deve-

rá ocorrer em seguida, até 2009, paraque as grandes despesas iniciais se

realizem até 2010. Seria convenienteportanto começar, inicialmente, com

um pequeno número de comunidadesde ensino.

O calendário supra sugere que ofinanciamento necessário ao IET se

concentrará no final das próximas pers-pectivas financeiras, e que este será

limitado. Pelo que, quando submetera sua proposta jurídica, a Comissão

Europeia apresentará um anexo finan-ceiro pormenorizado expondo o volu-

me, a natureza e as origens do finan-ciamento total necessário, incluindo o

financiamento proveniente de fontesnacionais ou privadas da União.

4. Que vantagens aufeririam os

parceiros da sua participação noIET?

É razoável indagar se os incenti-vos à participação serão suficientes.

O objectivo é que os parceiros poten-ciais afectem as suas melhores equi-

pas e os seus melhores departamen-tos ao IET: quais serão as suas vanta-

gens e o que obterão eles em com-pensação?

As vantagens deste “investimento”serão diferentes consoante os parcei-

ros e as pessoas envolvidos. No casodos investigadores e pedagogos, a

experiência mostra que os melhoresinvestigadores e pedagogos são atra-

Opinião

torga

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ídos pela independência que caracte-riza a investigação, por perspectivas

de carreira promissoras, salários ele-vados e condições de trabalho interes-

santes. Assim, as vantagens poderi-am ser financeiras, decorrer da ausên-

cia de burocracia ou da excelente qua-lidade das instalações de trabalho. In-

cluiriam ainda a possibilidade de seassociarem aos melhores investigado-

res e empresas no respectivo domínio,na Europa, e o consequente aumento

de visibilidade académica.No caso das organizações parcei-

ras na investigação e no ensino, pen-samos que existem diversas vanta-

gens potenciais:– visibilidade e imagem: o fac-

to de contribuir com uma equipa parao IET será um sinal de excelência que

facilitará o recrutamento de outros uni-versitários, cientistas e estudantes e

constituirá um elemento de valoriza-ção perante as empresas;

– relação privilegiada com osmelhores trabalhos desenvolvidos na

Europa num determinado domínio eacesso dos estudantes e investigado-

res às mentes mais brilhantes, ao me-lhor ensino, à melhor formação e à

melhor investigação – bem como àsrecompensas adicionais que o seu

desempenho no IET poderá proporci-onar;

– efeitos colaterais no ensino, tan-to directos (impacto em trabalhos

conexos que permanecerão na orga-nização parceira) como indirectos

(através do acesso ao conhecimentomais avançado no domínio);

– incentivos financeiros: o IET po-derá investir no desenvolvimento da

capacidade das organizações parcei-ras, a fim de as auxiliar a reconstituir

os recursos afectados ao IET (assim,uma universidade parceira não só

manteria os seus antigos departamen-to ou equipa fisicamente presentes e

aptos a contribuir, embora de formamenos directa, para o trabalho

académico, como teria também recur-sos adicionais que poderiam ser

reafectados ou utilizados para desen-volver capacidades);

– dinâmica de mudança, uma vezque o IET mostrará aos parceiros no-

vas formas de trabalhar;– benefícios locais, uma vez que os

intervenientes locais (administraçõesregionais e empresas) considerarão

prestigiosa a participação no IET en-quanto oportunidade para promover os

programas locais em matéria de co-nhecimento e incentivar uma coope-

ração mais estreita com a universida-de ou empresa em questão.

Quanto ao sector privado, existe apossibilidade de influenciar a orienta-

ção da investigação de ponta e da ino-vação para daí obter vantagens comer-

ciais – beneficiando de uma posiçãoinicial privilegiada, com a garantia de

poder explorar os resultados mais tar-de. Além disso, a relação permanente

com o IET, nomeadamente com as suascomunidades de ensino permitiria o

acesso directo a um centro de exce-lência único, bem como ao prestígio e

ao potencial de recrutamento daí de-correntes.

5. Relação com outras actividades

comunitárias de ensino, investigaçãoe inovação

A União Europeia organiza diver-sas actividades nos domínios do ensi-

no, da investigação e da inovação maso IET ocupará em nossa opinião um

espaço completamente diferente. Emprimeiro lugar, o perfil de excelência

europeia desenvolvido pelo IET en-quanto organismo permanente será

único. Acresce que a combinação en-tre ensino, investigação e inovação, e

a ligação privilegiada com a comuni-dade empresarial assegurarão a sua

singularidade relativamente a todas asdemais iniciativas comunitárias. En-

quanto os programas existentes seconcentram em cada um dos lados do

triângulo do conhecimento (o progra-ma Erasmus, na educação; os progra-

mas-quadro, na investigação; e o pro-grama de inovação comunitário, nas

actividades relacionadas com a inova-ção), o IET adoptará uma abordagem

prática que conjugará estes três ele-mentos, criando sinergias entre eles.

Acreditamos que o IET será umoperador do conhecimento e não uma

agência de financiamento. Realizaráactividades com incidência nos três

lados do triângulo do conhecimentoensinará, investigará e tentará aplicar

os resultados dessa investigação a finscomerciais ou sociais. Neste ponto re-

side a verdadeira diferença relativa-mente às actividades realizadas no

âmbito dos programas nos domíniosdo ensino, investigação ou inovação,

em que a Comissão distribui essenci-almente fundos destinados às várias

actividades previstas.Assim, o IET virá complementar

estas actividades de financiamento.Poderá desenvolver sinergias, em par-

ticular com o Conselho Europeu deInvestigação. O CEI é um mecanismo

de financiamento que não realizaráinvestigação. Financiará projectos de

investigação de ponta realizados pe-las diversas equipas; estará aberto a

todos os domínios científicos, utilizan-do essencialmente uma abordagem

ascendente. O IET, enquanto institui-ção que desenvolve a sua actividade

nos domínios do ensino, investigaçãoe inovação numa base interdisciplinar

e transdisciplinar, concedendo espe-cial atenção aos resultados econó-

micos e sociais, presta uma contribui-ção de carácter operacional, que está

ausente no CEI. O IET em nossa opi-nião poderia até apresentar um pedi-

Opinião

torga

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do de financiamento ao CEI (e a todosos outros regimes de financiamento).

Existe igualmente uma diferençafundamental entre as comunidades de

ensino e as demais redes na Europa,criadas com o apoio comunitário como

as redes de excelência, ao abrigo do6.º Programa Quadro. Enquanto as

redes de excelência implicam aintegração das capacidades de inves-

tigação de um certo número de univer-sidades, institutos e outras instituições

de investigação, o IET exige um nívelde integração muito mais aprofundado,

quer em termos de capacidade de in-vestigação quer em termos da capaci-

dade de ensino. No caso do IET, asinstituições e empresas envolvidas

nas comunidades de ensino terão deafectar recursos ao IET: esses recur-

sos deixarão de pertencer à sua orga-nização de origem e tornarseão, do

ponto de vista jurídico, parte do IET. Opessoal de uma comunidade de ensi-

no estará sujeito a uma gestão comume a um processo de avaliação sob a

direcção do IET baseado no desem-penho.

6. Conclusão

O programa para a modernização

do ensino, enquanto realidadeindissociável da investigação e da ino-

vação no âmbito das universidades,institutos e centros de investigação

europeus tem hoje boa aceitação. Noentanto, é necessário impulsionar ini-

ciativas para acelerar o progresso. Aestratégia integral de reforço da

competitividade da Europa no que dizrespeito ao triângulo do conhecimen-

to não se poderá reduzir ao ensino iso-ladamente; mas o seu papel pode ser

importante. Pode constituir um mode-lo de excelência de elevado nível, res-

pondendo à diversidade própria daEuropa; pode contribuir para aperfei-

çoar as capacidades de gestão da ci-ência e da investigação, dessa forma

melhorando o processo de integraçãoeuropeu. Pode representar um desa-

fio para os melhores licenciados e dou-torandos europeus e não europeus,

tornando a União num pólo de atrac-ção de inteligências.

Pensamos que o ensino na Euro-pa não irá adquirir credibilidade nos

domínios universitários e da investiga-ção de um dia para o outro. Terá de

ganhar essa credibilidade; tudo de-penderá da qualidade da sua gestão,

do seu pessoal científico e docente edas suas realizações e resultados, as-

sim como da sua capacidade para ob-ter apoio fora do mundo universitário.

Acreditamos por isso que um sistemaestruturado de acordo com o exposto

no presente artigo de opinião poderárepresentar um valor acrescentado

importante, no âmbito dos esforçosdesenvolvidos para reforçar e fomen-

tar o ensino no espaço europeu.

1 A Europa precisa de reforçar a suapresença no nível mais elevado deexcelência científica. Por exemplo,de acordo com a ShanghaiAcademic Ranking, umaclassificação mundial dasuniversidades, embora 205 das500 melhores universidades a nívelmundial se encontrem na Europa(em comparação com 198 nosEUA), apenas 2 fazem parte dalista das 20 primeiras (contra 17nos EUA).

2 Em cerca de 3 300 organismos queconferem diplomas nos EUA, cercade 215 concedem diplomas depós- graduação. Existem menos de100 universidades reconhecidascomo universidades com forteactividade de investigação geralnos EUA.

3 Em 2005, a intensidade de I&Dcomunitária era 1,90% (despesaem I&D/PIB), muito abaixo dosEUA (2004: 2,59%) e do Japão(2004: 3,15%).

4 Nos EUA, 95% do financiamentofederal afectado à investigaçãouniversitária são gastos em quase200 universidades num total de 3300 (“S&E Indicators”, NationalScience Foundation, 2005).

5 A Europa tira menos benefícios dacrescente globalização de I&Dque os seus concorrentesprincipais. Entre 1997 e 2002, asdespesas das empresas da Uniãoem I&D nos EUA aumentaram emtermos reais muito maisrapidamente que as despesas dasempresas dos EUA em I&D naUnião (+ 54% contra + 38%). Ospaíses emergentes como a Índia ea China são os que maisbeneficiam dos fluxos de saída deI&D dos EUA.

6 Esse fosso é visível na diferença entreo número de investigadoresempregados no sector privado daUE e noutros locais do mundo. NosEUA, quatro em cada cincoinvestigadores trabalham nossectores empresariais; no Japão,essa relação é de dois em cadatrês investigadores. Na UE, apenasmenos de metade de todos osinvestigadores trabalha nossectores empresariais.

Opinião

torga

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Muitos são os pensamentos que me vão

surgindo sempre que reflicto sobre opercurso da minha vida profissional.

Quando menos espero, vejo-memergulhada no passado. No meu pas-

sado como aluna. Com o objectivo decompreender melhor o meu presente

como educadora.Esta viagem no tempo leva-me aos

bancos da escola primária, no iníciodos anos setenta, já na fase final da

ditadura.Recordo com toda a nitidez a mi-

nha sala de aula. Um conjunto de car-teiras alinhadas e aparafusadas ao

chão. Num plano mais elevado, porcima de um estrado, a secretária da

professora. Sobre a secretária, a ré-gua, a cana, as orelhas de burro. A

luminosidade não é grande, mas per-mite realçar, na parede, as figuras de

Marcelo Caetano e de Américo Tomás,ladeando um crucifixo.

Não me lembro das aulas. Não melembro do exacto momento em que

aprendi a ler e a escrever. Mas vem-me, com frequência, à memória, um

emaranhado de sensações: a angús-tia de ir para a escola, a rigidez dos

métodos de ensino e a grande desi-gualdade no que respeita ao tratamen-

to dos alunos. Sem dúvida que a esco-la do Estado Novo se pautava pelo

autoritarismo e por um tipo de relaçãohumana profundamente hierar-

quizado. O ambiente que se vivia era

O Ensino: uma questão de afectosMaria PintoDocente do ISMT

de total obediência, de ordem, de um

silêncio ensurdecedor.Como se sabe, o ensino é – e sem-

pre será – um espelho do aparelhopolítico vigente. Existe uma estreita

relação entre ensino, política, e socie-dade. Durante o Estado Novo, a esco-

la foi deliberadamente utilizada paraveicular os objectivos do poder. Exal-

tava-se o ultra-patriotismo, assim comoos ideais de pobreza e ruralidade.

Considerava-se que o cumprimento daescolaridade mínima seria mais do que

suficiente. Tudo isto era uma forma deabafar as vozes discordantes e de cri-

ar uma alma nacional, submissa aopoder estabelecido.

As ideias de “cultura” e “alfabeti-zação” eram consideradas altamente

perigosas, como se demonstra no arti-go “Educar e Instruir” publicado no jor-

nal “A Voz”, em 1927, da autoria doescritor Alfredo Pimenta:

“Foi o querer saber que fez

o homem pecar… Insisto:não preconizo o analfabe-

tismo sistemático; digoque a Instrução é um ins-

trumento perigoso quenão pode andar em todas

as mãos. Como um explo-sivo. Como um veneno. Só

num carácter são, ela éútil, ou pelo menos, ino-

fensiva…”

Era, pois, importante, ensinar as cri-

anças a não pensar, a não ter vontadeprópria. A aprender, desde cedo, a

obedecer…sem perceber. A engrossar asfileiras de uma cidadania passiva, apáti-

ca, alheada dos valores e da importân-cia da vontade humana individual.

Por outro lado, todo o sistema es-colar era profundamente discrimina-

tório, segundo “as divisões naturais”da sociedade. A co-educação deixou

de existir. Rapazes e raparigas erameducados em escolas diferentes para

virem a ocupar, no futuro, funções eespaços também diferentes.

No contexto do Estado Novo, a har-monia social só era conseguida “colo-

cando cada um no seu lugar”. Seguin-do esta linha de raciocínio, há que re-

ferir que grande parte das criançasnão tinha hipótese de prosseguir os

seus estudos. Era o próprio Estado queas rotulava de “ineducáveis” e de “nor-

mais estúpidas”, não carecendo, porisso, de estudos complementares.

Para essas crianças bastavam os cha-mados postos de ensino, autênticos

casebres de madeira, sem quaisquercondições, tutelados por regentes ab-

solutamente desqualificados, com umaenorme dose de severidade e, muitas

vezes, de brutalidade.Perante este ambiente de total va-

zio emocional, apetece perguntar:“Professor, porque me castigas? Por-

que não me ensinas?”

Opinião

torga

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Opinião

torga

Voltando à minha infância, e à mi-nha escola, terei de salientar que ape-

sar de tudo, fui uma criança bafejadapela sorte. A cana e a régua quase

nunca me tocaram. No entanto, desdemuito cedo que os métodos de ensino

autoritários, arbitrários e violentos mecausaram uma profunda revolta. Des-

de pequena que sentia a falta daquelemagnetismo, daquela relação quase

mágica que se pode e deve estabele-cer entre professor e aluno. É algo por

vezes invisível. Mas que existe. Até nossilêncios.

Foi preciso chegar à 4ª classe,meses antes da Revolução de Abril,

para que o Sol despontasse. A portada sala de aula abriu-se e entrou a

nova professora, recém-colocada naescola. A professora Lídia. Ao mesmo

tempo que a porta se abria, abria-setambém o seu sorriso. Um sorriso

contagiante. Hoje, pensando nela, seique o que a diferenciava era precisa-

mente o afecto, a doçura com que nostratava. As suas aulas, recordá-las-ei

para sempre! Era uma professora exi-gente, ensinando-nos que estudar re-

quer esforço. E era também um poçode afectos e de sensibilidade. Por ve-

zes, olhando para ela durante a aula,pensava que era assim que eu quere-

ria ser um dia, se viesse a ser profes-sora.

E de facto, volvidos alguns anos,iniciei-me na difícil arte de ensinar. Mas

com a possibilidade de exercer a mi-nha profissão em liberdade. A experi-

ência que fui adquirindo ao longo dosanos, permitiu-me retirar algumas con-

clusões acerca dos métodos de ensi-no. Permitiu-me aliar a tradição à ino-

vação. Tradição que, segundo penso,deve funcionar como suporte, como

base de sustentação dos métodosmais inovadores. Sempre pensando

no exemplo da professora Lídia, fui to-mando consciência do papel funda-

mental do professor em todo o proces-so de ensino/aprendizagem.

Quem aceita a missão de ensinardeve, antes de mais, ajudar a formar

caracteres e consciencializar-se deque cada ser humano que passa por

uma sala de aula levará consigo, parasempre, a imagem do seu professor.

Os profissionais do ensino são, es-sencialmente, agentes construtores de

saberes e de afectos. Como dizia ogrande mestre Agostinho da Silva,

“professor é o que sabe e o que ama”.O professor necessita de conhecer

as necessidades dos seus alunos, queras do domínio cognitivo, quer as do

foro afectivo. É óbvio que esta tarefanão se afigura fácil num sistema de

educação massivo como se apresen-ta o nosso, hoje em dia. Mas é preciso

estarmos atentos às fragilidades, àsfortalezas e também aos sonhos dos

nossos educandos.Por falar em sonhos, não posso

deixar passar em claro uma experiên-cia que, no passado ano lectivo, me

marcou profundamente. Numa das dis-ciplinas que lecciono (História Con-

temporânea), entre outros conteúdosprogramáticos, abordo a temática das

ditaduras fascistas, dando particularrealce à barbaridade do regime nazi.

À medida que as aulas foram decor-rendo, apercebi-me do interesse que

este tema suscitava nos alunos emgeral e, em particular, no André. Este

aluno sorvia os saberes que lhe eramministrados. Emocionava-se com as

imagens que eram projectadas. Qua-se no final do ano, ao terminar uma

aula, o André acercou-se de mim e dis-se: “Professora, tenho um sonho! Gos-

taria imenso de visitar o Campo deConcentração de Auschwitz! Pressin-

to que me iria emocionar… e apren-der!”

Na altura, eu disse-lhe que haviavisitas guiadas a este local e que esse

sonho certamente se iria tornar reali-dade.

Passados alguns dias, este alunotrouxe para a aula um roteiro turístico

de visita a Auschwitz. Lembro-me quelhe dei força para prosseguir em di-

recção ao seu sonho.A conversa passou. O ano lectivo

terminou. Chegou o período de férias.Em Outubro, reencontrei o André,

que me ofereceu um envelope. Quan-do o abri, vi que o seu conteúdo in-

cluía uma série de fotografias deAuschwitz (tiradas pelo seu primo

Nuno, ex-aluno do ISMT), acompanha-das de um texto. Texto que considerei

de uma enorme beleza. Dele ressalta-vam as emoções sentidas naquele lo-

cal de horror, onde, nesse “final de tar-de, nem a chuva se dignara a cair, ape-

sar do triste olhar do céu”. Onde sómais tarde, perante os vestígios dei-

xados por anos seguidos de tortura,“finalmente começou a chover. Mas a

água não caía lá fora… Era salgada epercorria o rosto de muitos visitantes”.

Depois de ler este texto, imbuídode uma sensibilidade rara, também eu

me senti profundamente motivada arumar em direcção a Auschwitz.

Para mim, o ensino é uma troca,uma partilha de vivências entre alunos

e professores. É, no fundo, um proces-so de aprendizagens e de empatias.

Um processo muitas vezes penoso eque comporta inúmeras insatisfações.

Mas a vida é assim mesmo! Vaisendo construída através de avanços

e recuos. De momentos de plenitude ede momentos de frustração.

O André concretizou um dos seussonhos. E eu senti-me recompensa-

da. Fui presenteada. Fiquei em paz.

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Aprender pela experiência – a Ética comodisciplina no Ensino SuperiorMichael KnochDocente do ISMT

O ensino de uma disciplina como aÉtica coloca ao professor, e igualmen-te aos estudantes, desafios de váriaordem. Os estudantes, de início, têmfrequentemente a expectativa de rece-ber umas “dicas”: regras, normas econselhos para a conduta profissionale também para a sua vida. Por um lado,querem saber o que devem fazer, mas,por outro lado, sentem, não raramen-te, um mal-estar suspeitando o pesodo moralismo inerente à disciplina.Dizem: “Conselhos morais já ouvimosmuitos”, mas já se sabe que na vidareal o proceder é outro. Aí, cada um,luta pelo seu lugar como pode.

Por isso o ensino perderia o seusentido, se fosse uma mera transmis-são de “matéria” sem ligação com avida dos que estão aprender. Até quepodemos colocar a questão de Platãose uma Ética é algo que é “ensinável”!A bondade parece impossível de serensinada, por exemplo, apesar de seristo que os adultos requerem dos jo-vens! No entanto, quando pergunta-mos a eles a sua ética pessoal – par-tindo da suposição que cada um denós é um Ser moral - costumam relatara sua vida, onde está inscrita um com-portamento e uma postura moralexigida que declararam lhes ser incu-tido pela “educação”, seja esta maisbranda ou autoritária. O que a socie-dade exige, e onde pune as transgres-sões, é o “Certo” e o “Errado”. Assimfalam sobre a ética de um modo dis-tanciado; a ética parece-lhes uma im-

posição, seja dos pais ou das outrasfiguras mercantes da infância, sejaparticularmente desta sociedade, quenos impõe as suas regras, punindo aquem não as cumpre, pelo menos aquem não mantém as aparências.

Immanuel Kant, o fundador da Éti-ca moderna, forjou para esta prática otermo heteronomia: Uma moral alheiaao Homem, que parte de valores su-periores e que pesam sobre ele, cons-tituindo uma certa herança de submis-são à autoridade, mas de umdistanciamento interno. Às vezes pa-rece que o indivíduo não se empenha,mas se desenvencilha, procurando asua sobrevivência pessoal, em vez doempenho social e institucional. Evi-dentemente, autoritarismo e dogma-tismo não deixam espaço para o diá-logo. Será a Ética assim?

Ao contrário disso, a Ética moder-na, desde o século XVI, tem como fun-da-mento a liberdade – e esta liberda-de necessita de se ensinada a quemnão a conceptualiza ou viveu. O ensi-no da Ética como ensino da liberdadeou como ensino da obediência – eis aquestão!

Tentarei explicar:A Ética é uma disciplina de refle-

xão e não de memorização! E aí, asreacções são opostas: umas vezes“pensar dói”, como afirmou o psicana-lista Bion, e outras vezes “pensar é oprazer mais barato”, como disse comcerta ironia o dramaturgo Brecht. Eudiria que pensar pode provocar uma

Opinião

torga

certa perturbação, especialmente natradição de um ensino magistral e fron-tal, onde o professor “sabe” e o alunodecora, onde não há muita possibili-dade para eles aprenderem a questio-nar.

A Ética é uma disciplina transver-sal às disciplinas científicas e técnicas.A questão se a Ética é uma ciência écontroversa. Pessoalmente, afirmo quenão. Não estou interessado numa “ci-ência da moral” ou numa ética descri-tiva, onde a moral não costuma sermais do que um “mix” de costumes,tradição, normatividade social e acei-tação, as vezes, cega de leis e ordens.Não, a Ética é uma disciplina que noseu centro, debruça-se sobre o agirhumano e se reflecte sobre as deci-sões que estamos a tomar em cadamomento, sejam estas individuais,institucionais ou sociais. A nossa for-ma de viver moralmente, podemosdefinir como atitude fundamental +racionalidade (ciência) + agir”. Sob oprimado da acção, o sujeito da Éticaencontra-se, ao contrário das ciênci-as, puramente no futuro. No entanto, ofuturo, apesar de todo o planeamento,é uma vertente vivida, aberta e contin-gente. Não o controlamos, embora ovivamos e criemos a todo o momento.Isto quer dizer, uma Ética moderna nãopode partir de uma estabilidade eter-na social ou institucional, por maisdesejáveis que fossem. Abrange di-mensões como o conflito, a discussãocontroversa, o empenho pessoal, a di-

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mensão crítica e autocrítica, que re-querem um exame de consciênciamais do que a atribuição de culpas aosque falharem. Por isso, a Ética, nãopode ser dogmática, mas será umabusca racional e intercomunicável dequem tem que agir num campo aberto.Então também o ensino dela tem ine-rente uma estrutura dialogante.

Escrevi uma vez, num texto sobredeontologia, que a Ética deve ser ca-paz de nos dar critérios, quando nostemos de opor à lei ou a uma regra –evidentemente, não para usufruirmosde uma vantagem, mas para a subsis-tência do nosso cliente. Falo da deso-bediência civil (John Rawls) e cívica.Ou seja, a Ética requer coragem – egostava de estimular nos alunos a co-ragem de tomarem as suas própriasdecisões, mesmo se estas forem incó-modas. Uma atitude que Kant chamaautonomia1.

Como fazer então do campo da Éti-ca um ensino estruturado? Vejo trêsdimensões pedagógicas e educativas:Não haverá ensino da Ética sem umadimensão pessoal, eminentemente li-gada à vida, transformando vivênciasem experiência, quando somos capazde agir e reagir através de uma apren-dizagem existencial e racional. Usan-do o título do célebre livro de Bion,“Aprender pela experiência”, refiro-meao “olhar para dentro” da Ética. Con-vido os alunos de elaborar um texto “Aminha ética” que evidentemente nãoé possível de avaliação. O insight pes-soal dos alunos revelou-se na práticado ensino, a meu ver, muito mais fácildo que imaginei – os alunos são aber-tos e têm todos uma vida a contar. Aimpressão é errada que são mais osprofessores que se escondem comopessoas, atrás do conhecimento e damatéria?Mas isto exige três coisas :

a) a presença do aluno na aula,porque não é fácil incluir a experiên-cia viva sem um processo de diálogo

oral. Tenho consciência que isto podecriar dificuldades aos estudantes tra-balhadores, mas por outro lado, naminha experiência, são eles, quandoestão presentes, que intervêm mais,porque já viveram e sofreram mais!Talvez valha a pena esclarecer que a“liberdade académica” não é a liber-dade do aluno de faltar às aulas quan-do quiser, mas a liberdade do profes-sor para escolher a matéria, respon-sável sobre o conteúdo da disciplinameramente de acordo com a sua cons-ciência;

b) admitir que a Ética modernacomeça com um momento de «não-saber», um «momento socrático » quan-do saímos das certezas até aqui supe-riores e inquestionáveis para entrarnuma reflexão racional. Não é que aracionalidade seja o fundamento daÉtica, o agir depende da boa vontade(Kant), de uma dimensão pessoal,onde a própria pessoa é a sua Ética,identificando-se com ela. Mas aracionalidade é o único instrumentoque temos, senão ficamos presos apreconceitos;

c) o ensino de uma dimensão dointerior humano: criar esta dimensãonão é fácil para ninguém, porque exi-ge uma certa atitude reflexiva até uminsight especulativo ou criativo que,lamentavelmente, não faz muito parteda formação escolar.

No entanto, a Ética moderna nãopode simplesmente impor regras e leisde cima para baixo. Quer preparar oaluno para a participação na constru-ção racional das mesmas, não tantopor decreto ou (micro) poder, mas pelonosso agir. Chamamos a isso, hoje,responsabilidade. Falo da uma res-ponsabilidade de uma pessoa adultaque é capaz de dar sem procurar logoa vantagem própria. É uma responsa-bilidade longe da inveja ou do espíritodo castigo, mas gosta dos outros, e nãosente a “sociedade” ou a totalidade da

vida como ameaçadora ou simples-mente “má”.2 Kant quis dizer isso,quando desenvolveu os conceitos deautonomia (que é diferente da autocra-cia e da independência dos outros) edo imperativo categórico (que não pre-tende ser um mandamento rígido im-posto, mas uma invocação radical doaltruísmo). Este imperativo kantiano sóinclui a humanidade e a universalida-de, por isso tem que ser abstracto, semreceita do que fazer em tal e tal situa-ção concreta. Assim, o ensino da éticakantiana é quer tirar as pessoas dadependência geral, onde se sentemlaçados por todo o lado.

Evidentemente, isto não é fácil,nem para quem aprende, nem paraquem ensina. O momento de fazer luz,de ter um insight sobre si próprio, nofundo, é algo de não-dito em tantaspalavras do ensino. Tanto maior é ale-gria, quando acontece! E acontecemuito, mesmo que tenha vivenciadorecentemente também a experiênciada resistência contra o aprender pelaexperiência.

Claro que, num ensino do séculoXXI, estas concepções de 200 anosnecessitam de ser transformadas eactualizadas para a cosmovisão bas-tante mais complexa em que vivemoshoje. Enquanto Kant perguntou: O queé que devo fazer? Perguntamos hoje:Como me oriento num mundo não sómais complexo, mas também mais con-traditório? (W. Schmid, 1998). Ou seja:Temos que iniciar no ensino uma pro-cura do savoir vivre. Assim, não defen-demos uma mera recitação do pensa-mento de um autor clássico. Sabemos,porém, que não é fácil assumir umaresponsabilidade que não guiada porqualquer autoridade. Confesso que atépode ser um choque para alunos quecresceram num sistema escolar quefunciona ainda muito na repetiçãoexacta dos conceitos e até das pala-vras do professor, para “não falhar naperfeição” ou “na nitidez dos concei-

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1 Ver também os meusartigos: “A deontologiadas Assistentes Sociais”,em INTERVENCÃOSOCIAL Nº 27; Lisboa,2003 e “A necessidadeda ética no ensinosuperior” emINTERACCÕES, Nº 7,Coimbra, 2004.

2 Refiro-me aqui a umarepresentação socialque encontrei combastante frequencia nosalunos: a “boa” família ea “má” sociedade!

tos científicos” (são citações de alu-nos e dos meus professores!). Comoutras palavras: Não haverá ensino daÉtica sem a célebre definição de Kant: “Ousa servir-te da tua própria razão!”

Ainda junto uma mensagem impor-tante: Apesar de a Ética, a partir decerta compreensão se poder tornar fá-cil e algo de evidente, não há estudo,nem da Ética, nem de uma disciplinacientífica sem leitura. Melhor dito, sema capacidade de leitura. E refiro-me àleitura de livros, não de cadernos quecontém o discurso oral do professor.

O que exige a leitura de um livro oude um artigo científico?

Em primeiro lugar, uma capacida-de de estar só e de abstracção dassuas próprias preocupações e angús-tias, da inquietação subjacente, quecaracteriza quase a maioria dos nos-sos alunos.

Segundo, não há leitura sem curio-sidade quase visceral de aprender,descobrir, imaginar, inventar, em sumainvestigar algo que nunca tínhamospensado. Quem já sabe tudo, ou pior,já ouviu falar de tudo, já não se inte-ressa por mais nada. Tudo já está di-gerido a partir das sebentas, para asdesbobinar num exame – processo quetransforma, emocionalmente, o conhe-cimento de algo de interessante emameaça e chatice que “se deve estu-dar”! Assim não dá gozo nem insight!Penso que a perfeição que procuramos melhores alunos, torna-se um enor-me obstáculo a uma aprendizagemaberta (sem saber já a solução do po-licial!), à leitura de um livro onde não éoferecido o resultado dos problemasem poucas palavras, mas onde seimerge num discurso, em que não sevislumbra logo a luz no fundo do túnel.Os nossos alunos, no 5º ano, parecemsaber tudo: conhecem Kant, MaxWeber, Bourdieu, Durkheim, aFenomenologia, Freud, a TeoriaSistémica, a Planificação Experimen-tal etc, mas não se confrontaram pes-

soalmente com estes ou outros auto-res, ou trabalharam nestes modelos.Recordo-me de um exame oral de alu-nos candidatos a uma nota de 18, quesabiam de Erving Goffman por váriascadeiras, mas ler um texto dele? Issonão foi requerido! Queria lembrar oprovérbio: Menos teria sido mais! Equeria perguntar: Quanto vale um pen-samento próprio, mesmo se não forortodoxo?

Last but not least: Penso que tam-bém o ensino não seja possível sem achamada comunidade de professorese estudantes, um ideal que não sejasó a da minha juventude. A proximida-de entre professores e alunos nãodeve provocar a angústia que os alu-nos perderem o respeito pelos profes-sores, tal como às vezes o perdem paracom os caloiros inexperientes. Refiro-me à Praxe – costume que choca, con-tendo uma forte componente sádica ede humilhação, concretamente dosque mereciam protecção! Ao ouvir avoz da Ética, podíamos perceber quea racionalidade vale mais do que a tra-dição, mesmo quando é a assim cha-mada tradição académica! Em vez dis-so ser comunidade universitária signi-fica que haja um diálogo também foradas aulas e fora da matéria. Por exem-plo, recordo-me de relatos de estudan-tes-trabalhadores sobre questões davida e do trabalho deles e das suasfamílias. Não sabia que há pais quecontraem um empréstimo para finan-ciar o curso da filha e quando ela chum-bar no exame pode acarretar uma cri-se familiar! Nestes diálogos os alunosabriram-me os olhos para a dura reali-dade social, mas comecei a compre-ender também o que significa para elesestudar.

Em suma: O ensino, e particular-mente o ensino da Ética, não se de-senrola num espaço estanque. Já dis-se que a Ética não é meramente indi-vidual. Quando começa a transformar-se numa reflexão, aproxima-se da Éti-

ca social e da Ética das instituições.Não pode ser uma admoestação detipo: “Porta-te bem!”, mas uma atitudeestruturada minha, relacionada comum Tu e com uma sociedade que seránossa. Falo do compromisso pessoalmútuo por acordo racional.

Uma clarificação no fim: É a Éticaque faz funcionar as instituições e nãoo Direito. O relacionamento entre Éti-ca e Direito é um tema interessantíssi-mo, que implica temas “quentes” comopor exemplo culpa e punição, a proibi-ção e o protesto, mas também a Bio-Ética ou Ética Económica. Gostava deabordar este assunto numa outra opor-tunidade.

Digo só aqui: Enquanto o Direitoreage post-factum, a Ética visa o futu-ro. O Direito e a punição não são nemum meio de educação, nem fazem fun-cionar os serviços, só são capazes dedelimitar uma margem, enquanto nonúcleo e centro das actividades huma-nas e da sociedade não se manda,mas se confia a estes que sabem vo-luntariamente assumir responsabilida-des que também cumprem face à suaconsciência. Quem constitui a vida so-cial, são homens e mulheres que vi-vem e também sofrem, mas nisto deci-dem e actuam.

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Bolonha está aí e as modificações

exigidas às instituições de ensino su-perior constituem um desafio difícil mas

interessante, que promete marcar o fu-turo do Ensino Superior Português. Mas

será que todos os agentes envolvidosnesta mudança estão prontos? Esta é

uma das grandes questões que se co-locam ao ensino Universitário e

Politécnico em Portugal. Para que esta(r)evolução tenha sucesso todos os

agentes envolvidos: alunos, docentes,instituições de ensino e órgãos gover-

namentais, têm que estar motivados, oque para já, parece-me não estar a

acontecer.

Existem vários pontos de vista so-bre o processo de Bolonha, desde os

que consideram que é o passo em fren-te para o abismo, até aos mais optimis-

tas que o vêem como um passo na di-recção certa. Eu confesso que estou do

lado optimista, Bolonha pode vir a seruma lufada de ar fresco no nosso mo-

delo de ensino, que está a esgotar-se.Por outro lado, pode ser o fim de várias

instituições de ensino, em especialaquelas que não consigam mostrar di-

nâmica e competitividade suficientes.Com a crescente falta de candidatos ao

ensino superior, juntamente com a mo-bilidade que Bolonha vai trazer (ou diz

que vai trazer), as instituições menoscompetitivas não vão ser capazes de

manter a actual dimensão, podendo

De Bolonha ao Plano TecnológicoPaulo GomesEngenheiro Informático, Departamento deEngenharia Informática da Universidade de Coimbra

implementação de novas pedagogias,

novos métodos de ensino mais ade-quados a cada uma das matérias

leccionadas. Mas para haver sucessoé necessário que alunos e professores

estejam motivados para estas novasmetodologias de ensino, sendo o pon-

to fulcral para este sucesso uma mu-dança de mentalidades. Tanto de pro-

fessores, através do repensar dasmetodologias de ensino para cadeiras

que leccionam e de novas dinâmicasdentro das aulas. Como dos alunos que

precisam de ganhar consciência quefazer um curso não é só fazer cadeiras,

é aprender, ganhar competências emmatérias e valorizar-se a nível pessoal

e profissional.

É neste ambiente de mudança quea investigação das universidades e

politécnicos tem um papel importante adesempenhar. Uma das mais valias da

investigação feita nas instituições deensino superior é poder servir de liga-

ção entre o ensino e o meio profissio-nal. A inserção de alunos em activida-

des de investigação e desenvolvimen-to é uma das formas de motivação para

a aprendizagem. Para além de come-çarem a ganhar os chamados “soft

skills” que as empresas cada vez maisprocuram nos recém licenciados. Em

relação a esta questão, experiênciaspiloto como a realizada na Universida-

de de Aalborg (Dinamarca, http://

mesmo estar em causa a sua sobrevi-

vência.

O actual modelo de ensino muitobaseado em aulas expositivas de gran-

de audiência (as chamadas teóricas)não responde aos novos desafios, em

especial ao desafio exigido aos profes-sores, de captarem o interesse e moti-

vação dos alunos. Os estímulos exter-nos a que os alunos estão sujeitos, des-

de as ferramentas de comunicação daInternet até aos jogos electrónicos, con-

somem-lhes cada vez mais tempo in-dispensável para o estudo. É preciso

encontrar novas formas de motivar osalunos para a aprendizagem. Mais uma

vez Bolonha pode ser uma solução,pois uma das ideias chave é que a

contabilização das horas de um cursodeve ter em conta o esforço dos alunos

e não apenas as horas de aulas, cha-madas de horas de contacto (com o

Professor). Um dos objectivos destamudança de paradigma é o de respon-

sabilizar o aluno pela sua aprendiza-gem. Responsabilizar no sentido de

consciencializar o aluno para a neces-sidade deste controlar o seu percurso

educativo, visto ser ele o maior interes-sado em todo o processo. Mas esta

mudança necessita de novos para-digmas pedagógicos de forma a moti-

var para a aprendizagem os alunos.Esta mudança de Bolonha pode ser

bastante positiva, permitindo a

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Pensamento crítico e Educação

Tenho vindo a participar em várias reuniões a propósito dareestruturação curricular que as direcções dos diferentes Cursos têm

vindo a dinamizar no sentido de «adequar» a formação de modo a«compatibilizá-la» com outras do género, a nível internacional, sobretu-

do, a nível europeu, concretizando o Processo de Bolonha1.Não podemos, é certo, passar acríticos pelo referido documento,

todavia, o que me prende aqui são, no momento, outras questões, dasmesmas… diga-se!

Se por um lado, me tem sido gratificante participar nessas discus-sões enquanto espaços privilegiados de aprendizagens várias, por outro

lado, e na sequência exacta de qualquer «trabalho de casa» que deve-mos (sempre) fazer, as mesmas, têm-me feito reflectir sobre a importância

de alguns «pequenos» pontos que gostaria de, aqui e agora, partilharcom a comunidade educativa do ISMT, da qual faço parte e, no seio da

qual tenho procurado, também, desenvolver e promover uma «nova»Cultura Académica2. Um Instituto diferente, que marque efectivamente

uma posição social, cultural e política de relevo, no espaço societal, so-bretudo, através dos profissionais que vai formando.

Encontram-nos num período importante ao nível da definição doque se pretende para a formação de estudantes e profissionais. Pensar

a questão dos objectivos da formação torna-se, para mim, uma questãocentral e, pensar esta questão a partir do pensamento crítico, torna-se,

para mim, uma questão crucial.No cerne do que é designado por pensamento crítico existem duas

suposições importantes: a do relacionamento entre teoria e factos e, ado relacionamento entre factos e valores.

A relação entre teoria e factos levanta questões fundamentais acercada natureza (frágil?) do conhecimento. O pensamento crítico é aqui en-

tendido como capacidade de tornar problemático tudo o que tem sidotratado como um dado adquirido; de trazer à reflexão tudo o que tem sido

usado sem a devida problematização; e, de analisar criticamente a expe-riência da vida quotidiana. O conhecimento, assim considerado, exige

procura, invenção e reinvenção constantes porque, ao partir da noção desistema de referência e, do seu uso como instrumento interpretativo teó-

rico-conceptual, conduz, necessariamente, ao conhecimento entendido

¿OBJECTIVO: Que objectivos?Entre Bolonha e Coimbra: Para umaconsciência crítica de um caminho… de umprocessoRegina TralhãoAssistente do ISMT

auaw2.aua.auc.dk/fak-tekn/aalborg/engelsk/index.html) podem indicar-nos

novos caminhos, pelo menos no ensi-no das engenharias.

Com o papel tão importante da in-

vestigação no ensino, é inevitável falarno Plano Tecnológico. Neste aspecto é

fundamental que a investigação sejauma aposta forte em Portugal, e aqui o

Governo tem que dar o exemplo. A re-cente bandeira do Plano Tecnológico

vem de encontro a esta necessidade,mas até agora está a trabalhar-se pou-

co no que é mais importante: as basesda investigação, sendo estas constituí-

da pelos centros de investigação e de-senvolvimento das Universidade e Ins-

titutos Politécnicos. Estes são financia-dos pela Fundação para a Ciência e

Tecnologia (FCT), tutelada pelo Minis-tério da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior. Para que a base da investi-gação trabalhe bem é preciso que a

FCT funcione eficaz e eficientemente,respondendo em tempo útil aos proces-

sos de projectos e bolsas, e que tenhauma estratégia de médio e longo prazo

para a Investigação em Portugal. Coma constante mudança de Governos e

consequente mudança de direcções daFCT, a estratégia a médio e longo pra-

zo mudam constantemente, pelo que,se há área onde esta estratégia tem que

ser estável e consistente é na Investi-gação. Em relação ao Plano Te-

cnológico, não me admira que noticiasvindas recentemente a público, sobre

uma sondagem junto de empresáriosportugueses tenha mostrado que o dito

Plano não vai ter influência na vida dasempresas. Tal como a experiência nos

mostra (a todos nós Portugueses) sóvendo para crer, mas espero sincera-

mente e para bem deste nosso canti-nho à beira mar plantado que o Plano

Tecnológico seja um sucesso.

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como objecto de problematização e,

deste modo, como objecto de investiga-ção.

A relação teoria e factos, transportaconsigo a outra componente fundamen-

tal do pensamento crítico: a relação en-tre factos e valores e entre o sujeito que

conhece e o objecto que é conhecido. Omodo através do qual a informação é

seleccionada e codificada no sentido deconstruir um quadro da realidade con-

temporânea e histórica, mais do queuma operação cognitiva é, também, um

processo intimamente ligado às crençase valores que orientam as experiências

quotidianas. Implícitas, então, na orga-nização do conhecimento estão as su-

posições ideológicas acerca de comovemos o mundo - suposições que cons-

tituem a distinção entre o essencial e onão essencial, o importante e o não im-

portante. Assim, qualquer conceito desistema de referência tem que represen-

tar mais do que uma estruturaepistemológica de forma a incluir tam-

bém uma dimensão axiomática: sepa-rar factos e valores é correr o risco de

considerarmos os meios, independen-temente da questão dos seus fins.

Relacionado, ainda, com as duasanteriores suposições temos aquilo a

que poderemos designar de (re)contex-tualização da informação. Precisamos

aprender a ser capazes de sair do nos-so sistema de referências, de forma a

podermos questionar a legitimidade de

um determinado facto, conceito ou ques-

tão. Precisamos aprender a perceber aprópria essência daquilo que estamos

a analisar situando-o criticamente numsistema de relacionamento que lhe con-

fira significado.Além da (re)contextualização da in-

formação, a forma e o conteúdo dasrelações sociais académicas devem ser

consideradas: ignorar a dinâmica des-te tipo de relações sociais é, também,

correr o risco de desenvolvermos umaprática pedagógica mistificadora e in-

completa. O conhecimento deve, assim,ser visto como uma mediação entre o

indivíduo e a realidade social maisampla. Tornamo-nos sujeitos no acto de

aprender, no acto de analisar o conteú-do e as estruturas dos relacionamentos

que fornecem os limites da nossa pró-pria aprendizagem.

É no contexto destas suposições queoutras tantas poderão ser desenvolvi-

das e, no interior do qual poderá ser tam-bém desenvolvida uma abordagem que

nos provoque a pensar criticamente.Abordagem crítica aos Objectivos

em EducaçãoO conjunto destas preocupações

foram, então, por mim organizadas emtorno na noção de objectivos e, por difi-

culdade em encontrar outra designa-ção, acabei por definir e distinguir en-

tre: objectivos de longo alcance e ob-jectivos de curto e médio alcance.

Os objectivos de longo alcance for-

necem e organizam os elementos teó-

ricos da construção que permitirão es-tabelecer as relações entre os métodos,

conteúdo, a estrutura de um determi-nado Curso e a sua importância para a

realidade social mais ampla. Com efei-to, o que estes conceitos fazem é actu-

ar como conceitos mediadores entre asexperiências académicas de cunho

cognitivo, afectivo, relacional e a vidafora do contexto universitário. A utiliza-

ção destes conceitos deverá tornar ca-paz a análise do conteúdo, valores e

normas dos Cursos, em relação aos finsque eles pretendem ou poderiam ser-

vir. Ou seja, os objectivos de longo al-cance incluem o seguinte: diferenciar

o conhecimento técnico-científico doconhecimento crítico-reflexivo, explicitar

o currículum oculto e contribuir para odesenvolvimento de sujeitos com cons-

ciência crítica e política.Os objectivos de curto e médio al-

cance, geralmente representam os ob-jectivos facilmente identificados e mui-

tas vezes já conhecidos dos Cursos,isto é, consistem naquelas concepções

‘impostas’ que constituem o núcleo deuma dada Área Científica ou ‘Unidade

Curricular’3 e definem o sentido da suainvestigação. Em combinações varia-

das, a maior parte dos Cursos incluemmuitos dos seguintes objectivos de curto

e médio alcance: aquisição de conhe-cimento seleccionado e codificado, o

desenvolvimento de competências de

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aprendizagem especializadas e o de-senvolvimento de competências de in-

vestigação específicas. A análise dospontos fortes e fracos destes objectivos

parece mostrar que o que está em ques-tão, não é tanto a validade dos mes-

mos, mas sim o seu relacionamento en-quanto conjunto de objectivos limitados,

com um conjunto mais amplo de objec-tivos - os objectivos de longo alcance.

A importância do relacionamento entreos dois tipos de objectivos provém da

necessidade de se tornar claro quaisas relações entre os objectivos dos

Cursos e as normas, valores e relaçõesestruturais enraizadas na dinâmica da

sociedade estabelecida.Mereceu-me particular atenção os

objectivos de longo alcance. Dei espe-cial atenção a três deles.

Um dos objectivos de longo alcancecentra-se na diferenciação entre as no-

ções de conhecimento técnico-científi-co e de conhecimento crítico-reflexivo.

O conhecimento técnico-científicoestá principalmente preocupado com os

meios; a aplicação deste tipo de conhe-cimento resulta na reprodução de bens

e serviços materiais e, de determinadotipo de relações (hierárquicas) e de com-

petências (de tipo mecanicista), destemodo está preocupado com a inovação

dos métodos tecnológicos e científicoscom vista a uma maior eficácia competi-

tiva. Assenta num modelo deracionalidade cujo interesse dominante

reside nos modelos que promovemcerteza(s) e controlo técnico, sugerindo

uma ênfase na eficiência e nas técnicasdo «como fazer» que ignoram, regra ge-

ral, a importante questão dos fins.O conhecimento crítico-reflexivo é

um modo de investigação destinado aresponder a questões que não são e,

não têm sido, respondidas pelo conhe-cimento técnico-científico; preocupa-se

com as questões da natureza das rela-ções entre meios e fins. O conhecimen-

to crítico-reflexivo é, de certa forma, ummodo filosófico de investigação no qual

se questiona o propósito do que se en-sina e aprende. É um conhecimento que

questiona, por exemplo, o modo comoe, o fim para o qual, o conhecimento

técnico-científco deve (ou não) ser usa-do. O conhecimento crítico-reflexivo for-

mula as questões mais importantespara o aperfeiçoamento da qualidade

de vida e da vida porque pergunta:«para que fim?»

Esta perspectiva aplica-se não so-mente ao conteúdo dos Cursos, mas

também à sua dimensão metodológicae à sua estrutura. Nesta perspectiva, o

conhecimento deverá proporcionar,uma unidade, uma lógica e um sentido

de direcção que permitam considerartodas as implicações do seu conteúdo,

dentro e fora do espaço académico,partindo do reconhecimento de que

todo o conhecimento e qualquer formade saber cumpre uma função social que

vai além da meta de dominar determi-nados saberes científicos. Como resul-

tado, o inter-relacionamento entre co-nhecimento e acção social torna-se

possível no seu todo.Um segundo objectivo de longo al-

cance centra-se no tornar explícito ocurriculum oculto tradicional. O

curriculum oculto aqui refere-se às nor-mas, valores e crenças não declaradas

que são transmitidas através da estru-tura subjacente de uma determinada

comunidade universitária. Além disso,o curriculum oculto muita vezes actua

em oposição às metas declaradas docurriculum formal, e, em vez de promo-

ver uma aprendizagem efectiva, enfra-quece a mesma. Em tais condições, a

subordinação e a conformidade substi-tuem o desenvolvimento do pensamen-

to crítico e a natureza dinâmica econflitual das relações sociais, como ca-

racterísticas básicas da experiênciaacadémica. Embora o curriculum ocul-

to não possa ser completamente elimi-nado, as suas propriedades estruturais

podem ser identificadas e modificadasno sentido de criarem condições

facilitadoras para o desenvolvimento demétodos e conteúdos pedagógicos que

permitam a formação de sujeitos éticose políticos, autónomos e solidários,

participativos e integradores, de diálo-go e de compromisso.

Um terceiro objectivo de longo al-cance centra-se no desenvolvimento de

uma consciência crítica e política. Esteobjectivo não significa enfatizar o con-

teúdo político no sentido mais literal dotermo, mas sugere que se desenvolva

uma metodologia que permita um olharpara além do quotidiano das experiên-

cias, de modo a permitir uma compre-ensão das bases políticas, sociais e

económicas da sociedade no seu todo.Política, neste sentido, significa possuir

os instrumentos cognitivos e intelectu-ais que permitam uma participação pre-

sente e actuante, em sociedade.No centro deste objectivo está o sig-

nificado e a importância da noção desistema de referência. Ao estarmos

conscientes de que todos temos um sis-tema de referência, operando consci-

ente ou inconscientemente, todos tere-mos a oportunidade de desenvolver

uma estruturação conceptual na qualpossamos ordenar e (re)significar as

nossas experiências e reconhecer abase social das nossas percepções.

A importância da tomada de consci-ência do sistema de referência próprio

de cada um assume um significado adi-cional quando este sistema de referên-

cia é informado por um modo deracionalidade que nos auxilia a articu-

lar o pessoal e o social, por outras pa-lavras, uma epistemologia que nos aju-

da a reconhecer a natureza cultural esocial, portanto, política do pensar e do

agir. Por de trás desta posição está asuposição de que o todo conhecimen-

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to é um fenómeno político-social e cul-tural que pode ser mais significativa-

mente apreendido se analisarmos arede de relações no qual esta inserido,

isto é, a rede de relações que lhe con-fere sentido e significado.

Para o desenvolvimento de umaconsciência política deve ficar claro que

a universidade é um espaço e um pro-cesso político e politizado, não apenas

porque contêm uma mensagem políti-ca ou trata de temas políticos mas, tam-

bém, porque é produzida e situada numcomplexo de relações políticas e soci-

ais das quais não pode ser abstraída.Os objectivos de longo alcance ofe-

recem, pois, um sistema de classifica-ção destinados a ir além das noções

de aprendizagem limitada pelosparâmetros de uma determinada Área

Científica, Curso ou Unidade CurricularAcadémica. Mais importante ainda, a

distinção entre os dois tipos de objecti-vos permite o uso de outros objectivos

diversos afim de explorar o relaciona-mento entre experiência académica e

as forças sócio-políticas que moldam ecaracterizam a cultura dominante.

Em jeito de apelo para uma educa-

ção crítica e reflexiva …Para mim, a flexibilidade desta abor-

dagem não apenas torna mais fácilavaliar a efectividade dos diferentes ti-

pos de objectivos educacionais, comotambém assegurar que qualquer orga-

nização de cursos assente numa abor-dagem crítica que ligue diferentes for-

mas de aprendizagem com as normas evalores socialmente construídos.

Devemos, pois, procurar definir edesenvolver, para os diferentes Cursos

ministrados no ISMT, objectivos destina-dos a fomentar as experiências educaci-

onais e educativas que permitirãoelucidar a riqueza política e a complexi-

dade social da interacção entre o que éapre(e)ndido e partilhado neste Instituto

1 Ver Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24de Março – Regime jurídico sobre osgraus académicos e diplomas doensino superior.

2 É meu dever deixar, também aqui,expressa e registada, a formaimplicada, dinâmica, partilhada eassertiva com que a Área Científicade Serviço Social – na qual estoudirectamente implicada – temrevelado em todo este processo.

3 Nova concepção para o que aindadesignamos por ‘disciplina’, previstano novo Decreto-Lei, suprareferenciado.

e a riqueza das experiências da vida quo-tidiana dos agentes que nela intervêm.

Ora, tudo isto requer tempos, espa-ços e formas de relacionamento espe-

cíficas. Pensar, então, a formação a par-tir dos seus objectivos, sobretudo, a par-

tir dos seus objectivos de longo alcancee da sua relação com os objectivos es-

pecíficos de cada Curso, constituirá, ne-cessariamente, um aspecto importante

para a discussão, de grandes aprendi-zagens, que mostrará, naturalmente, a

«fórmula» mais adequada para o tipo deformação que desejamos.

Cabe-nos pensar se queremos for-mar ‘técnicos’ ou sujeitos, profissionais,

com consciência crítica capazes de umaefectiva acção de transformação social

que reconheça a participação, o diálogocrítico, a responsabilidade, a partilha da

autoridade e o compromisso, como prin-cípios estruturantes e estruturadores de

qualquer forma de pensar e agir social.Continuarei lá, nos espaços onde a

discussão se faz, procurando cumprir apromessa de tornar possível qualquer

processo e forma de Encontro!

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82 torga

A evolução do Homem ao longo dos

tempos ficou a dever-se, essencialmen-te, à comunicação. Foi a comunicação

que, traduzida numa conjugação deesforços, permitiu a sobrevivência do

grupo e levou à construção da socie-dade tal como a conhecemos hoje; “A

palavra comunicação deriva do latimcommunicare, que significa “tornar

comum”, “partilhar”, “conferenciar”… Écomunicando … que uma pessoa ad-

quire consciência de si e dos outros einterioriza os comportamentos, os valo-res, as normas, os conhecimentos (…)

e os seus significados na sociedade ena cultura em que se insere” (1).

É, no entanto, na sociedade actualque a comunicação surge como uma

necessidade mais premente. É na nos-sa “Sociedade da Informação” que os

conceitos de “Aldeia Global” e “O Meioé a Mensagem” de Marshall McLuhan

ganham mais destaque, devido aosmeios tecnológicos ao dispor do Ho-

mem. Em 1967, quando MarshallMcLuhan publicou as suas obras, ain-

da não existia a Internet; há, no entan-to, como que uma premonição e é

impensável, nos nossos dias, falar deComunicação Global sem referir a

Internet e a WWW (World Wide Web).Assim como, nos dias de hoje, não

se pode falar da Internet sem se referiro seu acesso, hoje tendencialmente

em banda larga, para utilizadores do-mésticos, mas também como solução

empresarial. Destes, refira-se a tendên-

cia actual para o acesso por DSL (Digi-tal Subscriber Line) e por cabo TV. No

entanto, outras tecnologias emergemno sentido de entrar neste mercado e,

entre elas, podemos referir as redesde telecomunicações sem fios (redes

WIMAX e FWA) e ainda as redes PLC(Power Line Communications), que uti-

lizam a rede eléctrica para a transmis-são de voz e dados.

Neste último caso, assiste-se aoressurgimento do interesse nas comu-nicações de dados através da rede

eléctrica, devido ao enorme potencialde penetração de um serviço baseado

nesta tecnologia que permitirá eleva-dos débitos de dados, sem a necessi-

dade de qualquer infra-estrutura desuporte para além da vastíssima rede

eléctrica já existente.Neste artigo, é feita uma breve apre-

sentação da tecnologia PLC, tanto nasua vertente de tecnologia de acesso,

quanto na sua vertente SOHO (smalloffice, home Office), através da utiliza-

ção da cablagem eléctrica dos edifíci-os para a construção de pequenas re-

des de voz e dados domésticas ou deescritório.

Um Pouco de HistóriaComo foi já referido, a PLC, ou sim-

plesmente PL (Power Line) é umatecnologia que permite a transmissão

de dados e de voz através da rede eléc-trica.

A utilização da rede eléctrica para

transmissão de dados não é uma no-vidade. De facto, desde a década de

50 que empresas de distribuição deenergia, tais como a EDP, utilizam a

rede eléctrica para transmissão dedados de controlo. Falamos do méto-

do “Ripple Control”, caracterizado pelautilização de baixas frequências (en-

tre 100 e 900 Hz), que permite o enviounidireccional de dados simples de

monitorização, controlo e carga darede. A partir de 1991, a NorWebCommunication, consórcio formado

pela Nortel Telecom – multinacional naárea das telecomunicações – e a

United Utilities – empresa Britânica dedistribuição de energia eléctrica –, le-

vou a cabo estudos de implementaçãode uma tecnologia que permitisse a

transferência bidireccional de dadosatravés da rede eléctrica de baixa ten-

são, permitindo ligações de 24 horasem 24 horas e velocidades de 1 Mbps,

com uma tecnologia a que chamaramDigital Power Line (DPL). A fase de tes-

tes foi levada a cabo em Manchester,Inglaterra, e o projecto foi abandona-

do em 1999, por ser considerado eco-nomicamente inviável, devido às

condicionantes tecnológicas que im-plicavam a sua realização.

No entanto, o interesse natecnologia ressurgiu recentemente, com

várias empresas de telecomunicaçõese desenvolvimento de equipamentos

Breve Apresentação da Tecnologia Power LineHélder Silva, Joana Urbano{[email protected], [email protected]}Instituto Superior Miguel Torga

Tecnologia

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Tecnologia

torga

(por exemplo, Cisco Systems, Compac, Mitsubishi Electric Co.,Philips, Intellon, Alcatel e Ascom) a posicionarem-se na corri-

da para a sua exploração, e com a constituição da HomePlugPowerline Alliance, um grupo sem fins lucrativos, constituído

por cerca de 80 organizações, que trabalha activamente naelaboração de normas para produtos PL.

Transmissão de Dados na Rede Eléctrica

A rede de transporte de energia eléctrica divide-se emtrês níveis de tensão, alta (220 a 400 KV), média (10 a 132

KV) e baixa tensão (220 e 380V), destinados ao transportede energia em longas, médias e pequenas distâncias, res-

pectivamente. Os cabos de transporte são ligados a transfor-madores, projectados de modo a reduzir ao mínimo as per-

das de frequência da rede, que são de 50 Hz no caso daEuropa (Figura 1).

No entanto, se estes transformadores são eficientes do

ponto de vista do transporte de energia, eles actuam comoum filtro no que concerne à transferência de dados, e aqui

reside o principal problema do transporte de dados exclusi-vamente através de cabos de energia eléctrica. Na verdade,

a tecnologia actual ainda não permite a constituição de ver-dadeiras redes PL de backbone, sendo actualmente restrin-

gidas ao lacete local (“last mile”), ou seja, ao troço que liga arede ao utilizador final.

Também a nível de utilização doméstica, já em baixa ten-são, surgem obstáculos à transmissão de dados na rede eléc-

trica, resultantes, entre outros, da variação da impedância coma instalação de equipamentos eléctricos, como por exemplo,

electrodomésticos. Voltaremos a este assunto mais tarde, nasecção “Power line na Constituição de Redes Domésticas”.

Utilização do Power Line

Embora a tecnologia PowerLine prometa um sem núme-ro de aplicações em várias áreas das tecnologias de infor-

mação, vamos caracterizá-la nas duas vertentes actualmen-te mais significativas: o acesso à Internet e a constituição de

redes domésticas de voz e dados.

Power Line como Tecnologia de Acesso

A Figura 2 esquematiza a rede PL no troço final. Comopode ser visto, a injecção dos dados na rede eléctrica é feita

nos postos de transformação; estes possuem um equipa-mento denominado headend que faz a ponte entre o

backbone de dados e a rede eléctrica. No caso europeu,cada posto de transformação poderá servir cerca de 200

agregados familiares.

Tecnologia

torga

Figura 1Infra-estrutura do transporte de energia (figura retiradade http://oni.pt).

Figura 2Esquema de ligação PowerLine (retirado de http://oni.pt”).

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Do lado dos subscritores, cada edi-fício onde se pretende o acesso à

Internet por Power Line deverá ter umrepetidor (coupling unit) acoplado ao

contador de energia do subscritor; esteelemento é responsável por separar

os dados da rede eléctrica e de ostransferir para o subscritor.

Dentro de cada residência aderente,deverá existir ainda um módulo de co-

municação que liga o equipamento doutilizador.

Como pode ser verificado, a infra-estrutura dos acessos por PowerLine

permite aos operadores de comunica-ções uma flexibilidade ímpar na

implementação da tecnologia de aces-so em áreas metropolitanas, uma vez

que a instalação dos headend é feita àmedida da adesão dos subscritores,

sem que tal traga encargos significati-vos para o operador, ao contrário do

que sucede com outras tecnologias deacesso. Tal é tanto mais evidente se

pensarmos no caso de edifícios anti-gos e zonas remotas, onde, devido a

factores meramente económicos, nãoexiste qualquer cobertura por fornece-

dores de outras tecnologias de aces-so.

Power Line na Constituição de Re-des Domésticas

Vimos já como a tecnologia PLpode ser usada no acesso à Internet.

No entanto, as características datecnologia Power Line fazem com que

esta seja, igualmente, bastante interes-sante na constituição de redes de co-

municação domésticas, uma vez quenão implicam cablagens ou sistemas

adicionais, bastando, apenas, usar astomadas eléctricas existentes em casa.

Neste sector, existem já algumassoluções no mercado (por exemplo, o

PowerPacket da Intellon) que apresen-tam características interessantes em

termos de rapidez, fiabilidade e isen-ção de ruídos.1 Num prisma menos

positivo, realce-se que estas soluçõesnão estão ainda preparadas para to-

dos os sistemas operativos. A Intellon,por exemplo, apresenta soluções para

os sistemas Windows da Microsoft epara alguns sistemas Mac OS, mas ain-

da não oferece resposta para sistemasUnix. Por fim, existem ainda problemas

técnicos a resolver, e a regulamenta-ção existente é escassa e nem sem-

pre adequada (ver “Regulamentação”,mais à frente neste artigo).

Problemas à parte, o PL é já muitousado na interligação e partilha de

equipamento informático (ex., acessoWeb, impressoras, discos) a nível do-

méstico. Nos Estados Unidos, porexemplo, esta tecnologia é muito utili-

zada na domótica, em utilizações comocontrolo de alarmes e de climatização.

Em Portugal, e apesar desta tecnologiaestar ainda pouco divulgada, assiste-

se a um lento mas gradual interessedos util izadores no uso desta

tecnologia para a constituição de pe-quenas redes domésticas, com parti-

lha segura do acesso Web em todasas tomadas da casa, existindo já no

mercado diversos produtos baseadosno PLC, tais como bridges Ethernet,

conversores USB powerline, adapta-dores de parede e routers com supor-

te PowerLine, a custos razoáveis.

O futuro próximo desta tecnologiana sua vertente doméstica promete

soluções plug and play com débitos naordem das dezenas de MB, com su-

porte de voz, dados, vigilância e segu-rança através de web-cam, encrip-

tação de dados e VLAN, tudo isto, maisuma vez, sem qualquer instalação de

nova cablagem e cem por cento com-patível com os acessos tradicionais por

modem ou cabo.

RegulamentaçãoDuas das principais dificuldades

associadas à implantação datecnologia PLC são, por um lado, os

problemas técnicos ligados à invasãodo espectro da banda reservada a co-

municação por rádio2 e, por outro lado,a falta de normalização e regulamen-

tação legislativa, o que faz com que amaior parte dos testes da tecnologia

caiam, normalmente, num vazio legal.No entanto, alguns factos levam a

crer que estas dificuldades sejam su-peradas num futuro próximo. Por um

lado, a União Europeia (UE) assumiujá o desenvolvimento da tecnologia

PLC como sendo vital para acompetitividade da UE e recomendou

a remoção de obstáculos injustificadosa nível da regulamentação, que impe-

çam esse desenvolvimento. Tambémo CENELEC (Comité Europeu de Nor-

malização Electrotécnica) e o ETSI(Instituto Europeu de Normalização nas

Telecomunicações) foram manda-tados pela UE para formar uma comis-

são técnica, com o objectivo de elabo-rar standards que permitam a coexis-

tência, sem interferência, da transmis-são PLC e das restantes redes de tele-

comunicações.3 Finalmente, foi inicia-do em 2004 o projecto OPERA (Open

PLC European Alliance), patrocinadopela UE e adjudicado à Iberdrola, pro-

jecto este que pretende desenvolver atecnologia de transmissão de dados

em banda larga através da rede eléc-trica, uniformizando tecnologias e re-

gulamentações.

Implementação do PowerLineA implementação de projectos PLC

está, como seria de esperar, associa-do a empresas ligadas à distribuição

de energia, tais como a EDP/Oni, aEndesa e a Iberdrola, no mercado ibé-

rico. Existem pelo mundo fora diver-

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sos projectos PL, uns em fase de de-senvolvimento ou teste, outros já em

fase de comercialização. Um mapa in-teressante dos projectos PLC no mun-

do pode ser observado em (2).

Implantação do Power Line no Mer-

cado Ibérico

A primeira empresa a aventurar-se

no acesso PowerLine em Portugal foia EDP, juntamente com a sua partici-

pada Oni; em 2002, realizaram um tes-te piloto com cerca de 300 utilizadores

na área de Lisboa, divididos entreTelheiras e o Parque das Nações. Nes-

te teste piloto, denominado E-Power,foi testado o fornecimento de serviços

VoIP (Voice over IP) e acesso à Internetem Banda Larga. Actualmente, e des-

de Julho de 2005, o serviço, entretan-to com o nome Oni220Powerline, está

já disponível sob forma de teste comer-cial em algumas zonas de Lisboa, in-

cluindo as referidas acima,disponibilizando dois tarifários, de 2/

1Mbps (download/upload) e de 5/2Mbps, com mensalidades de €34,90

e €44,90, respectivamente.Em Espanha, a Endesa iniciou em

2000 um conjunto de testes de VoIP eacesso em banda larga sobre linhas

de média e baixa tensão, nas áreasmetropolitanas de Sevilha e Barcelo-

na. Estes testes envolveram, em cadaum dos casos, 25 utilizadores finais e

duraram, respectivamente, 18 e 12meses. Em Barcelona foi utilizado

equipamento da Ascom, tendo sidoatingidos débitos de 2 a 3 Mbps. Em

Sevilha, o equipamento utilizado foi daempresa espanhola DS2 e a transmis-

são alcançou valores de 6 a 12 Mbps.A partir de Setembro de 2001, o teste

estendeu-se à área metropolitana deSaragoça, envolvendo 2100 utiliza-

dores finais. Tendo concluído pela via-

Tecnologia

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Tecnologia

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Referências(1) Comunicação. In Infopédia. Porto: PortoEditora, 2003-2005.

(2) Sítio oficial da Teleco, http://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialplc/pagina_6.asp

1

Como já foi referido, a rede eléctrica não foipensada para a transmissão de dados, oque levanta alguns problemas relativos àatenuação do sinal, que aumenta com adistância, e à impedância, que variaconsoante os equipamentos eléctricos quesão ligados à rede eléctrica, principalmentemotores de electrodomésticos (ruídocontínuo), arrancadores de lâmpadasfluorescentes e “dimmers“ (ruído periódico).Este ruído na linha dificulta a transmissão dedados e obriga a uma constante adaptaçãodos parâmetros da transmissão. De modo aminimizar estes problemas, uma das técnicasde modulação mais utilizadas nos modemsPL actuais é a Orthogonal Frequency DivisionMultiplexing (OFDM) com correcção deerros, semelhante à tecnologia presente nosmodems DSL. Esta tecnologia divide a gamade frequências da rede eléctrica em mais de80 canais, permitindo o transporte de pacotesde voz e dados em vários destes canais, oque aumenta a velocidade e a fiabilidadedos dados transmitidos.2

Na verdade, as empresas com actividadeno Power Line enfrentam uma guerra abertacom os “macanudos” que, sinal dos tempos,têm fóruns de debate na Internet!3

Esta comissão trabalha em estreitacolaboração com a IEC CISPR 22

(International Electrotechnical Commission)e com o PLC Fórum, associação internacionalque representa empresas e organismos cominteresses comuns no campo das tecnologiasPLC, da qual faz parte a Portuguesa Oni(www.oni.pt).

bilidade técnica e económica do pro-jecto, a Endesa iniciou a exploração

comercial de serviços de telecomuni-cações e acesso à Internet em Banda

Larga em Saragoça (Novembro de2003) e em Barcelona (Janeiro de

2004). Por seu lado, a Iberdrola inicioua comercialização de serviços de tele-

comunicações e acesso à Internet embanda larga a partir de Outubro de

2003, servindo inicialmente 30.000habitantes em dois bairros de Madrid,

com velocidades de acesso simétricode 100 e 640 Kb, utilizando equipa-

mento da empresa Alcatel.

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A Microsoft lançou um motor de buscaespecializado para investigadores quepermite o acesso a conteúdos acadé-micos. O Windows Live AcademicSearch (http://academic.live.com/) éuma ferramenta útil para investigadores,docentes, estudantes e todos os quepesquisam na rede informação sobreassuntos específicos em várias áreas deinvestigação.

Ainda numa versão beta, o WindowsLive Academic Search permite pesquisarartigos, publicações académicas e apre-sentações em áreas temáticas comoInformática, Engenharia Eléctrica e a Fí-sica.

A utilização do serviço obriga a umasubscrição. O Windows Live AcademicSearch concorre directamente com omotor de busca do Google dedicado àpesquisa académica. O Google Scholar(http://scholar.google.com) é um servi-ço também recente e gratuito. E, actual-mente, a sua pesquisa abrange maisáreas temáticas do que o Windows LiveAcademic Search.

60 Minutes no Yahoo

O programa “60 Minutes” (http://www.cbsnews.com/sections/60minutes/main3415.shtml) da CBS (http://www.cbsnews.com/), que está no ar des-de 1968, estar também disponível narede. Uma parceria entre a estaçãotelevisiva norte-americana e o Yahoo(http://www.yahoo.com/) vai permitirdisponibilizar online reportagens emiti-das na televisão e conteúdos exclusi-vos para a Internet.

O objectivo da CBS é promover ojornalismo de investigação de excelên-cia do “60 Minutes” e captar novos pú-blicos, com o recurso à interactividadeem conteúdos produzidos única e ex-clusivamente para serem veiculadosonline. O Yahoo, que tinha feito recente-mente uma forte aposta na produçãoprópria de conteúdos informáticos, rea-firma com esta parceria que o jornalis-mo vai voltar a ser um dos pontos impor-tantes do portal.

Tecnologia

torga

Na rede

Pesquisa científica na rede

Os números do negócio não são co-nhecidos, mas os das audiências sãoimpressionantes: o Yahoo tem uma mé-dia de 126 milhões de visitantes por mês,o “60 Minutes” reúne a preferência se-manal de 14 milhões de telespectado-res. A partir do início do Outono, o Yahoovai disponibilizar um “microsite” com asreportagens do programa semanal econteúdo exclusivo para a Internet.

Inês Amaral

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Alma Nostra

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Porque foi Sábado a emissão de 11 deMarço coincidiu com a passagem dosdois anos sobre o atentado bombistaem Madrid.

Toda a conversa se desenrolou àvolta da temática do Terrorismo Mun-dial.

“Será que começámos a esque-cer?” questionou Carlos Magno.

Carlos Amaral Dias respondeu que“o terrorismo é o fenómeno político maisimportante do século XXI e que a ten-dência da mente humana é desmentira realidade da ameaça e apagar damemória a realidade que foiconsubstanciada na fatalidade de 11de Março. Não se deve e não se podeesquecer o que aconteceu e sobretudonão podemos esquecer o que isso querdizer.”

“O terrorismo não é previsível, é nãoter rosto e não saber quando é que ata-ca”, declarou Magno. Ao que AmaralDias replicou que “o terrorismo tem oproblema de ser essa posição omnisci-ente daquilo que só os outros sabem; éisso que nos torna a todos tão indefe-sos”.

“Como é que uma sociedade esque-ce, como é que uma sociedade repri-me?”

“Ela não reprime, o que ela faz é umdesmentido daquilo que ela tem de maisradical. A situação vivida em Madridevidentemente que convoca a pior das

ALMA NOSTRA

Carlos Magno – JornalistaCarlos Amaral Dias - Psicanalista

Antena 1Sábados

11 horas

patologias que um ser humano podeter, que é a patologia do desamparo”,declarou o psicanalista.

O jornalista comentou a visãoegocêntrica que os norte-americanostêm do mundo, uma visão limitada: elesconsideram-se o centro do mundo. Umexemplo disso é o discurso deSamantha, personagem da sérietelevisiva “O Sexo e a Cidade”, quan-do pergunta às suas amigas a certa al-tura num episódio: “Quando as pesso-as saem de Nova Iorque para onde éque vão?”, como se não existisse maisnada além de Nova Iorque.

Há inquéritos que foram feitos aosnorte-americanos, e mais de 70 porcento não tinha ideia da data da Guer-ra da Secessão, nem as razões que amotivaram.

Outra questão apresentada era:“Depois do Iraque qual o país que achaque devíamos invadir?”, ao que respon-diam com exemplos de países como aFrança e a Espanha, e outros a Austrá-lia, não fazendo ideia da sua localiza-ção geográfica.

Os intervenientes do programa justi-ficaram esta posição dos americanosdizendo que a história dos E.U.A. é umalonguíssima história de guerra, funda-ram-se com a guerra e não deixaram deestar em guerra até hoje, sendo capa-zes de realçar a sua intervenção políticana resolução de alguns conflitos justos.

Também se nota cada vez mais, aopercorrer alguns países europeus, umdesconhecimento dos factos históricos,qual a noção do Globo e do próprio país,nomeadamente, entre as elites portu-guesas, concordaram.

Magno questionou se no segundoano sobre a tragédia de 11 de Março:“È possível construir um mundo ondeas pessoas possam viver em paz?”Carlos Amaral Dias respondeu que nósgostaríamos que a paz fosse possível.Freud disse que a única forma que osseres humanos têm de se defenderemda guerra é através da cultura. Dissetambém que a guerra é o mais primitivodos primitivos do tribalismo, explican-do a teoria da encruzilhada, quandoduas tribos se encontram, matam-se unsaos outros, ou seja, quem não faz parteda minha tribo não existe.

No final da emissão, concluíram queo programa terminou com um tom pes-simista, mas que, dadas as circunstân-cias mundiais e contextuais, devíamosfalar, e que falar também ajudaria a re-flectir sobre o que se passa no nossopaís, dentro da nossa casa e dentro danossa Alma. “O que arde, cura” foi oprovérbio usado por Amaral Dias parasimbolizar o que fora dito.

Ana Cristina Abreu

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O Hotel Tryp pertence à cadeia dos

hotéis Solmeliá. Este grupo que teveinício, em 1956, com a abertura de umprimeiro hotel em Palma de Maiorca -o Altair Hotel, está actualmente espa-lhado por todo o mundo. “Hoje emdia, a cadeia divide-se em hotéis quesão propriedade de Gabriel Escarrer

e outros hotéis que são explorados

em business management pela soci-edade Solmeliá”, refere Vasco Mexia

Santos, administrador do Hotel. O shotéis Tryp são os mais urbanos da

cadeia. Com cerca de 2 anos, os ho-téis Hard Rock são um conceito de

hotel mais moderno para um públicoespecífico que resulta de uma junção

do Hard Rock Café com a cadeiaSolmeliá.

O grupo é composto por vários

segmentos: “O Tryp é o hotel de cida-de, de negócios, o Meliá é de 5 estre-

las e o GrandMeliá que é gama alta,chamam-lhe hotel de luxo. O Sol para

praia e o Solparadisus que existe emtudo o que é paraíso turístico – expli-

ca Vasco Mexia Santos. Os Boutique

Hotel são hotéis de charme, edifíciosantigos transformados com conforto e

virados para o lazer.Em Portugal, o primeiro hotel da

cadeia apareceu em Lisboa em 1993.Em Coimbra surgiu um ano mais tar-

de, em 1994. Localizado num pontoda cidade que dá fácil acesso aos

Hospitais da Universidade deCoimbra e à Universidade, o Hotel

Tryp Coimbra é mais vocacionadopara negócios, facilitando a quem o

procura salas de reunião de várias di-mensões: há as salas executivas com

capacidade até 15 pessoas e salasmaiores como a Sala Buçaco até 60

pessoas ou a sala Lousã para aco-lher até 180 pessoas. Todas estas

salas dispõem de infra-estruturas detelecomunicações que permitem umafácil ligação em video-conferência. Épossível ainda dentro do hotel o aces-so wireless à Internet por qualquer in-divíduo que tenha um computador:“há dias em que o nosso hall parecequase uma sala empresarial” afirmaa directora do Hotel Tryp, Ana MariaAntunes. Não descurando o lado doconvívio, o hotel tem inúmeros servi-ços disponíveis à população em ge-ral, como, por exemplo, o restaurante

“O Magistrado”, o bar ou o hall do hotelonde, todas as Sextas-feiras e Sába-

dos, há espectáculos de música aovivo ou recital de piano a partir das 21

horas. “Temos um outro segmento depessoas que podem tomar um chá à

tarde, às 17 horas - o Chá das Cinco -

“UMA HISTÓRIA DE SUCESSO”

PubliReportagem

torga

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Ana Beatriz Bento

PubliReportagem

torga

nós temos uma panóplia de chás, àvolta de cinquenta chás diferentes

que as pessoas podem vir experimen-tar. Isto é como uma pequena sala de

visitas onde as pessoas se encontrame conversam” explica Vasco Mexia

Santos.Os 120 quartos e 13 suites júnior

do Tryp estão todos equipados comTV satélite, mini bar, cofre, ar-condici-

onado e telefone directo.

“Devia apostar-se mais no turismo

cultural”

O administrador lamenta a falta deoferta cultural na cidade de Coimbra,

explicando que os grandes espectá-culos que podiam aqui ter lugar mui-

tas vezes não acontecem por falta deum espaço que os possa acolher:

“Acho que se devia apostar mais noturismo cultural. É uma cidade rica ar-

quitectonicamente e em história eaproveita-se muito pouco”. Conside-

ra urgente a construção de um centrocultural e de congressos, o qual po-

deria até ter o apoio de muitos em-presários da região. Nota que os tu-

ristas que procuram Coimbra quandoabandonam a cidade vão desiludidos

porque a oferta cultural é pouca e oslugares dignos de visita não têm um

horário de abertura alargado.Resumindo a história do Hotel o

administrador, Vasco Mexia Santos,afirma “é uma história de sucesso. Foi

bom acreditar. Nesta cidade, inicial-mente as pessoas não acreditam nas

coisas, depois elas acontecem, dãocerto e isso é gratificante.” Por sua

vez, a directora conclui “com trabalhotudo se consegue e esta ideia aplica-

se muito bem aqui ao hotel.”

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A questão iraniana tem dominado as atenções nos últimos meses, mas, na realidade, há muito quepreocupa os políticos, os analistas e os interesses económicos.

Pareceu-nos por isso útil escolher um artigo que analisasse a dinâmica recente das relações bilateraisentre os EUA e o Irão, não deixando de observar as consequências da mesma sobre o posicionamento

geo-estratégico da União Europeia, neste conflito que se tem vindo a agudizar.

Editorial du “Monde”

Bush et l’Iran

Par le truchement de l’Agence internationale de l’énergie atomique (AIEA), les grandes puissances,apparemment unies, cherchent à empêcher l’Iran de poursuivre un programme nucléaire qui pourrait

lui permettre d’acquérir un jour la bombe. Les réunions se multiplient, les diplomates s’activent, lespressions s’accroissent. La pièce qui se joue sur le devant de la scène a pour thème le transfert du

dossier iranien au Conseil de sécurité des Nations unies.Mais ce n’est peut-être qu’un rideau de fumée masquant une autre bataille. Le représentant américain

à l’ONU, John Bolton, trahit les véritables préoccupations de George W. Bush en qualifiant l’Iran de“menace globale”. Il ne fait pas seulement allusion aux ambitions nucléaires de Téhéran, qui ne sont

qu’une circonstance aggravante. Il évoque les philippiques du président Ahmadinejad contre Israël, lesoutien à des organisations placées sur la liste des groupes terroristes comme le Hezbollah libanais et

le Hamas palestinien, le rôle ambigu de l’Iran dans les affrontements qui déchirent l’Irak... Bref, il metimplicitement en cause le régime des mollahs issu de la révolution khomeiniste, dans lequel il décèle

la source de tout le mal.

Dans cette logique, la solution de la question iranienne ne peut pas être seulement partielle. Il ne

suffit pas d’envoyer quelques inspecteurs de l’AIEA sur le terrain ni même d’édicter quelques sanctionsau Conseil de sécurité. Ce n’est pas un hasard si les Etats-Unis n’ont jamais participé directement aux

négociations sur le programme nucléaire iranien. Ils ont laissé les Européens en première ligne. Si cesderniers avaient réussi, tout le monde aurait engrangé le bénéfice. Toutefois, Washington ne croyait

guère à leur succès et, surtout, avait d’autres priorités.

George W. Bush et ses amis ont un objectif en Iran : le changement de régime. Ils ont commencé àdégager des fonds - 85 millions de dollars - à cet effet. Ce n’est sans doute qu’un début. Pour arriver à

leurs fins, ils utiliseront tous les moyens à leur disposition. Les sanctions qu’ils réclament de la part duConseil de sécurité de l’ONU ne visent pas seulement à arrêter, ni même à retarder, le programme

nucléaire de Téhéran. Elles ont avant tout pour fonction de déstabiliser le régime et de contribuer à sachute. L’hypothèse parfois évoquée de frappes sur les installations iraniennes doit être envisagée dans

ce contexte.

Il est plus facile de parler d’un changement de régime que de le mener à bien, surtout après le fiascosanglant enregistré en Irak. Il n’en reste pas moins que les Américains dévoilent peu à peu leurs

véritables intentions. Au-delà de la gravité du dossier nucléaire, les Européens auraient tort d’occulterl’autre enjeu de ce bras de fer. Sauf à se retrouver en porte à faux.

Foreign Affairs

torga

Henrique Amaral Dias

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Publicações

torga

Ana Cristina Abreu

“ Este livro interessa a todos os alunos que queiram iniciar o estudo da Gestão dasOrganizações. O leitor ficará familiarizado com o contributo dos principais autores,neste domínio, e terá a oportunidade de aprender os conceitos fundamentais quesão ensinados nas escolas superiores. O leitor toma ainda conhecimento dasquestões, por vezes polémicas, da gestão da actualidade.”

“ Este livro encontra-se estruturado em três partes distintas e complementares. Estaestruturação proporciona aos leitores uma sequência lógica dos procedimentos aadoptar na elaboração de uma base de dados, desde a sua estruturação inicial dosdados, passando pelas funcionalidades do Microsoft Access XP, até aosprocedimentos mais avançados suportados pela programação em Visual Basic(VBA). É feita a utilização de um “exercício guiado” uniforme em todo o livro e queserá a base para o desenvolvimento dos procedimentos associados à elaboraçãode uma base de Dados.”

“ Strategic Planning for Information Systems explora o impacto que os sistemas deinformação e a tecnologia de informação têm no desempenho empresarial e acontribuição que dão para as opções estratégicas das organizações. Descreveferramentas, técnicas e programas de gestão para sintonizar as estratégias dossistemas de informação e da tecnologia de informação com a estratégia empresarial,bem como para procurar novas oportunidades através de um inovador usotecnológico.”

FIRMINO, ManuelBrazinhaGestão dasOrganizações:conceitos etendências actuaisEscolar Editora, 2002

AZEVEDO, AnaABREU, AntónioCARVALHO, Vidal deDesenho eImplementação deBases de Dados comMicrosoft Access XPCentro Atlântico, 2002

WARD, JohnPEPPARD, JoeStrategic Planning forInformation SystemsWiley, 2004

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Mestrados

CONCLUÍDOS

torga

FAMÍLIAS MULTIPROBLEMÁTICAS:UMA PERSPECTIVA SISTÉMICASOBRE O SEU FUNCIONAMENTO FA-MILIAREm 1 de Fevereiro de 2006, Dulce ManuelVasconcelos Martins concluiu oMestrado em Família e Sistemas Sociais.O Júri, constituído pelos ProfessoresDoutores Marina Cunha Pinto Gouveia(ISMT), Wilma Cardoso (FEQ Lorena) eJorge Caiado Gomes (ISMT), classificoua prova com Muito Bom.

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊN-CIAS SOCIAIS: CONTRIBUTO DOMÉTODO PEDAGÓGICO UTILIZADONO DESENVOLVIMENTO DE COMPE-TÊNCIAS SOCIAIS, NOMEADAMENTERESPONSABILIDADE E AUTONOMIAEm 20 de Janeiro de 2006, Ana PaulaLoureiro Serra concluiu o Mestrado emFamília e Sistemas Sociais. O Júri,constituído pelos Professores DoutoresCarlos Farate (ISMT), José Henrique Dias(ISMT) e Manuel Canaveira (UNL),classificou a prova com Bom.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LUTONO RETORNO DOS PORTUGUESESDAS EX-COLÓNIAS AFRICANAS, NOJORNAL O RETORNADOEm 4 de Janeiro de 2006, Ana SimõesSotto-Mayor de Almeida concluiu oMestrado em Família e Sistemas Sociais.O Júri, constituído pelos ProfessoresDoutores Susana Vicente Ramos (ISMT),Carlos Amaral Dias (ISMT) e Maria JoãoPereira (ISCE), classificou a prova comMuito Bom.

VÍNCULO E PERCEPÇÃO NARELAÇÃO PRECOCE: UM ESTUDOTRANSCULTURALEm 7 de Setembro de 2005, Sandra MaraDemoliner Campesatto concluiu oMestrado em Família e Sistemas Sociais.O Júri, constituído pelos ProfessoresDoutores René Tápia Ormazabal (ISMT),Carlos Amaral Dias (ISMT) e AníbalCustódio dos Santos (ESEAF), classificoua prova com Muito Bom.

PERCEPÇÃO E ATITUDES DASENFERMEIRAS DO BLOCO OPERA-TÓRIO FACE AOS RISCOS PRO-

FISSIONAISEm 8 de Fevereiro de 2006, PatríciaMaria Menezes Pinto concluiu oMestrado em Sociopsicologia da Saúde.O Júri, constituído pelos ProfessoresDoutores Águeda Marques (ESEAF),Susana Vicente Ramos (ISMT), RenéTápia Ormazabal (ISMT), Carlos AmaralDias (ISMT), António Pazo (ISPA) eSusana Vicente Ramos (ISMT),classificou a prova com Muito Bom.

O OLHAR DOS ADOLESCENTESSOBRE OS PAIS EDUCADORES:PERCEPÇÃO SOBRE ATITUDESPARENTAIS FACE À SITUAÇÃO DECONJUGALIDADEEm 7 de Dezembro de 2005, TeresaMargarida Inácio Silva Carreiraconcluiu o Mestrado em Sociopsicologiada Saúde. O Júri, constituído pelosProfessores Doutores José Amendoeira(IPS), Susana Vicente Ramos (ISMT),René Tápia Ormazabal (ISMT) e CarlosAmaral Dias (ISMT), classificou a provacom Muito Bom.

QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADEDE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA EMCIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃOCORONÁRIAEm 15 de Novembro de 2005, Rosa deCoutinho Carvalho e Silva Aires dosReis concluiu o Mestrado em Sociopsi-cologia da Saúde. O Júri, constituído pelosProfessores Doutores René TápiaOrmazabal (ISMT), Manuel Antunes (UC)e Pedro Zany Caldeira (ULL), classificoua prova com Muito Bom.

EM NOME DO PAIEm 4 de Janeiro de 2006, Vasco Tavaresdos Santos concluiu o Mestrado emAconselhamento Dinâmico. O Júri,constituído pelos Professores DoutoresRené Tápia Ormazabal (ISMT), WilmaCardoso (UParaíba) e Carlos Amaral Dias(ISMT), classificou a prova com MuitoBom.

DA INSATISFAÇÃO PROFISSIONAL AOBURNOUT EM TRABALHADORESAUTÁRQUICOSEm 25 de Novembro de 2005, Ana Sofiade Noronha Freire concluiu o Mestradoem Aconselhamento Dinâmico. O Júri,constituído pelos Professores Doutores

René Tápia Ormazabal (ISMT), EduardoRibeiro dos Santos (UC) e Carlos Farate(ISMT), classificou a prova com MuitoBom.

TRATAMENTO DE UM DOENTEPSICÓTICO GRAVEEm 23 de Novembro de 2005, RaulManuel Azevedo AlexandrinoFernandes concluiu o Mestrado emAconselhamento Dinâmico. O Júri,constituído pelos Professores DoutoresRené Tápia Ormazabal (ISMT), RuiCoelho (UP) e Carlos Amaral Dias (ISMT),classificou a prova com Muito Bom.

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMNO PERÍODO DE LATÊNCIAEm 16 de Novembro de 2005, Paula So-fia Carvalho Paiva concluiu o Mestradoem Aconselhamento Dinâmico. O Júri,constituído pelos Professores DoutoresRené Tápia Ormazabal (ISMT), LuísaBranco Vicente (UL), Carlos Farate (ISMT)e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificoua prova com Bom.

ROTAS COMERCIAIS DA DROGA EMPORTUGALEm 20 de Janeiro de 2006, Vítor ManuelFernandes Antunes concluiu o Mestradoem Toxicodependência e Patologias ePsicossociais. O Júri, constituído pelosProfessores Doutores René TápiaOrmazabal (ISMT), Carlos Farate (ISMT)e Jorge da Silva Ribeiro (IDT), classificoua prova com Bom.

A HEROINODEPENDÊNCIA MA-TERNA: INFLUÊNCIAS NAS CONSUL-TAS DE VIGILÂNCIA DE SAÚDEINFANTIL E NO PLANO NACIONAL DEVACINAÇÃOEm 16 de Novembro de 2005, FilipeFerreira Moreira concluiu o Mestrado emToxicodependência e Patologias ePsicossociais. O Júri, constituído pelosProfessores Doutores René TápiaOrmazabal (ISMT), Carlos Farate (ISMT)e Luísa Branco Vicente (UL), classificou aprova com Muito Bom.

SUPORTE SOCIAL E QUALIDADE DEVIDA NO PÓS-ACIDENTE VASCULARCEREBRALEm 9 de Novembro de 2005, SusanaIsabel Figueiredo Amaral concluiu o

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Mestrado em Toxicodependência ePatologias e Psicossociais. O Júri,constituído pelos Professores DoutoresRené Tápia Ormazabal (ISMT), SandraOliveira (ISMT), Michael Knoch (ISMT) eRui Aragão Oliveira (ISPA), classificou aprova com Muito Bom.

QUALIDADE DE VIDA DO DOENTEDEPRIMIDOEm 9 de Novembro de 2005, AntónioManuel Santos Pereira concluiu oMestrado em Toxicodependência ePatologias e Psicossociais. O Júri,constituído pelos Professores DoutoresRené Tápia Ormazabal (ISMT), SandraOliveira (ISMT), Jorge Caiado Gomes(ISMT) e Carlos de Sousa Albuquerque(ESEV), classificou a prova com MuitoBom.

EM PREPARAÇÃO

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Sandra LaSalete Campos Abrantes, intitulado “(Tó-xico) Dependência: à descoberta do im-pacto da heroínodependência no stressparental”.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Maria Telmada Cruz Duarte, versando sobre o temado stress ocupacional e estilo de vida dosenfermeiros.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Rui Filipe LopesGonçalves, versando sobre o tema doinvestimento corporal em doentes comparamiloidose.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Carlos LopesCardoso, versando sobre o tema da ima-gem corporal e depressão na infância eo contributo para a validação de umaescala de avaliação da imagem.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de CristóvãoMargarido, versando sobre o tema dareinserção sócio-profissional detoxicodependentes e auto-conceito.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Ana CristinaAlmeida Santos, versando sobre o temado arquivo morte social e idososinstitucionalizados.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Lúcia NunesDias, versando sobre o tema da políticadas drogas em Portugal 1970/2004 (pers-pectiva histórica global, suas continuida-des, interrupções, revisões e previsões).

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Paula MonteiroNunes, versando sobre o tema da pre-venção da gravidez na adolescência nodistrito da Guarda.

Mestrado em Toxicodependência e Pa-tologias Psicossociais, de Tânia Ribeiro,versando sobre o tema da rede socialdos agentes da PSP.

Mestrado em Aconselhamento Dinâmi-co, de Anabela Ponces Ferret de AlmeidaCorreia, intitulado “Avaliação do Serviçodo Centro de Atendimento a Jovens deCoimbra – CAJ”.

Mestrado em Aconselhamento Dinâmi-co, de Cláudia Maria de Jesus Margaça,versando sobre o tema do impacto dassituações de doença grave, crónica eincapacitante nos profissionais de saú-de.

Mestrado em Aconselhamento Dinâmi-co, de Elisabete de Jesus Ramos, ver-sando sobre o tema da simbolização eespaço potencial na prova projectiva deZulliger.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Cristina Maria Rodrigues SilvaVentura, intitulado “Estratégias de Copingem Famílias com Crianças Autistas”.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Ana Cristina da Silva Costa, ver-sando sobre o tema da relação entre ahiperactividade e a (im)possibiblidade debrincar.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Ana Luísa E. C. Nogueira dos San-tos, versando sobre o tema da prestaçãode cuidados a crianças: diferenciaçãosegundo o género do progenitor.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Maria do Céu Ferreira dos San-tos, versando sobre o tema da educaçãode adultos / ensino recorrente (umsubsistema do nosso sistema educativo).

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Generosa Augusta Morais, ver-sando sobre o tema da violênica einstitucionalização (trajectos e resociali-zação).

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Teresa Pechincha, versando so-bre o tema dos emigrantes de Leste e apercepção do apoio social em Portugal.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Ana Cristina da Silva Costa, ver-sando sobre o tema da relação entre ahiperactividade e a (im)possibiblidade debrincar.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Lília Matias, versando sobre o temada violência entre pares de adolescen-tes-Bulling.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Anabela Silveira, versando sobreo tema das patologias sazonais.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Carla Borges, versando sobre otema da análise comparativa entre a pri-meira e segunda gravidez na adolescên-cia.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Paulo Maranhão, versando sobreo tema da actividade turística na praia deMira e perspectivas de desenvolvimen-to.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Susana de Oliveira, versando so-bre o tema da união de facto e expectati-vas diferenciadas segundo o género.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Ana Catarina Fernandes, versan-do sobre o tema da qualidade conjugalno casal homossexual.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Susana Aleixo, versando sobre otema da reabilitação e amputação (im-portância da intervenção do serviço soci-al hospitalar).

Mestrados

torga

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Mestrados

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Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Miguel Pratas, versando sobre otema da institucionalização de criançase jovens e representações das famílias.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Berta Pereira Jacinto, versandosobre o tema das representações soci-ais dos alunos surdos do ensino básicode Leiria.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Brito Largo, versando sobre o temado impacto das construções pessoais naintervenção clínica dos profissionais quelidam com doenças neurológicas.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Paula Sofia Carvalho, versandosobre o tema do apoio social e o stressdos enfermeiros.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Maria de Fátima Fonseca, versan-do sobre o tema do Rendimento Socialde Inserção.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Marta Ferreira, versando sobre otema das famílias migrantes (os pais quevão e os filhos que ficam e as implica-ções ao nível da organização e estruturafamiliar).

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Paulo Peralta, versando sobre otema da rede escolar (uma construçãodinâmica).

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Ana Cristina Góis, versando so-bre o tema das representações sociaisde pobreza.

Mestrado em Família e Sistemas Soci-ais, de Cláudia Pereira da Silva, versan-do sobre o tema da adopção e a constru-ção da identidade parental nas famíliasadoptivas.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Fernanda Maria Lucas dos Santos,versando sobre o tema da “check-list” noprocesso de cuidados em bloco operató-rio de neurocirurgia.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Helena Maria Martins Norinha GomesSobral, versando sobre o tema do sofri-mento do doente oncológico.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Susana Romão, versando sobre otema das representações sociais datoxicodependência.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Ricardo Jorge de Oliveira Ferreira,versando sobre o tema das vivências daamputação do membro inferior poretiologia vascular em homens na idadeadulta: abordagem fenomenológica dacorporeidade.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Ana Isabel Casca Jesus CarlosFerreira, versando sobre o tema daparamiloidose.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Helena Maria Abrantes Mendes Belo,intitulado “Competências maternas auto-percebidas no cuidar do recém-nascidode termo”.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Sara Cunha, versando sobre o temada resiliência familiar e as vivências dosfamiliares de doentes oncológicos emfase terminal de vida.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Maria Manuela António, intitulado “Vivência da mãe toxicodependente noperíodo de privação do bebé durante ointernamento na Unidade de CuidadosIntensivos”.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Ana Paula Favas, versando sobre otema da contracepção e adolescência.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Margarida Santos, versando sobre otema da enfermagem de família (análisesistémica construtivista de necessidadesde famílias com insuficiência cardíaca).

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Cecília Pinto, versando sobre o temada violência de género e psicopatologiaem jovens adultos.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Hélder Simões, versando sobre o temada cultura e clima organizacional em es-colas profissionais.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Marta Albuquerque, versando sobreo tema da vulnerabilidade ao stress dos

cuidadores da pessoa portadora de defi-ciência mental.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Rita Pelote, versando sobre o temadas representações sociais dospolitraumatizados condutores deciclomotores, vítimas de acidentes de vi-ação.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Teresa Tinoco Duro, versando sobreo tema da qualidade de vida nahemodiálise versus diálise peritoneal.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Cláudia Oliveira, versando sobre otema do nível de ansiedade da mulhergrávida em relação ao parto no pré-partoimediato.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Maria Otília Queirós, versando sobreo tema da implantação de endoprótesesmetálicas por via cutânea (estudorectrospectivo do tratamento de oclusõesdas vias bibliares).

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Paula Cristina Parente, versando so-bre o tema do burnout em enfermagem.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Cláudia Alves Cardoso, versando so-bre o tema do síndrome de burnout emenfermeiros.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Tânia Leite, versando sobre o temado acompanhamento da família aohemodializado.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Pedro Miguel Dias Sequeira, intitulado“Educação Para a Saúde da Família doDoente com AVC”.

Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,de Isabel Fernandes, versando sobre otema dos factores influenciadores da per-cepção do comportamento de cuidar naenfermagem.

Mestrado em Serviço Social, de PaulaManuela Almeida Marques Henriques,versando sobre o tema do Serviço Socialnos municípios do distrito de Viseu.

Ana Cristina Abreu

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95torga

Viagem

Do rio, outrora basófias, hoje senhor

sobre os areais, não se percebe oemaranhado de calçadas que se es-

tendem pelas colinas. O encadeamen-to dos telhados, das paredes, das co-

res, essa assimetria tão só e tão quie-ta.

Quando se começa a subir, sente-

se a vida dos que partilham os passei-os e as soleiras das portas. Os espa-

ços da rua parecem a sala de estardaquelas casas e os sofás e janelas

quadros de enfeitar. Adivinham-se asconversas alegres entre colegas e

amigos ou o silêncio do estudo para oexame da manhã seguinte.

Entra-se na cidade intra muros peloArco de Almedina. O tempo voa até ao

século V quando os Árabes invadirama cidade.

Ao cimo das Escadas de Quebra-Costas, a Sé Velha resiste à passagem

do tempo vestida ao estilo românico.No centro histórico, todos os anos

a Feira Medieval toma de assalto osmais desprevenidos. Velhos, pedintes,

nobres, leprosos, donzelas misturam-se numa azáfama própria da Idade Mé-

dia, onde o cheiro nauseabundo de

corpos suados, o roçar das saias das

mulheres da vida e o sabor do pãocozido no forno comunitário, leva-nos

a experienciar os dias desses temposlongínquos. A história viva apresenta-

se ali aos nossos sentidos.Em tempo de aulas, saboreia-se a

subida em cada pedra da calçada.

Para baixo e para cima, é um vai-vemhumano de estudantes e futricas, mas

dizem que Coimbra descansa quandochegam as férias.

Chegando ao topo, a Universida-de é a dona do mundo. A Torre avista-

se desde os confins dos arrozais doMondego.

A Sala dos Capelos constitui o lu-gar com maior significado académico,

onde se fazem ainda hoje as Provasde Doutoramento. Primitivamente, foi

a Sala do Trono do Palácio Real.O barroco da Biblioteca Joanina

dá-lhe a fama de ser única no seu es-tilo.

As paredes são revestidas por es-tantes lacadas de vermelho e verde-

escuro, as madeiras são exóticas doBrasil, pintadas a dourado e policro-

madas.Ana Cristina Abreu

MINHA COIMBRA

As salas apresentam decorações

de ilusão de óptica. Na sala de topo,Dom João V (1725) vigia o seu tesouro

criado nesse século das luzes, peloouro do Brasil, e que deslumbrava a

Corte com o seu luxo.Do Pátio da Universidade a vista

sobre o casario e o rio sonolento en-

volve-nos na mágica saudade da ci-dade, deixando-nos onde tudo come-

çou. Com as palavras do poeta suspi-ramos “Coimbra tem mais encanto na

hora da despedida”.Em Maio, Coimbra pinta-se de ne-

gro e recebe com frescura e irreverênciaa festa da Queima da Fitas.

A festa do fado abre com a Serena-ta Monumental às zero horas de uma

sexta-feira. Durante uma semana, a ci-dade alimenta-se de jantares e bebi-

das, e para sobremesa, alguns amo-res feitos à pressa.

As noites coimbrãs passam pelasruas da Alta deixando um rasto de mis-

tério nas paredes frias das casas. Aguitarra geme baixinho “lua morta, rua

torta, tua porta.”

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Bruno Cordeiro está a cumprir o seu

segundo mandato e, em entrevista àTorga confessou que ser presidente da

AEISMT “é uma oportunidade de deixarum pouco do que é o meu trabalho, o

meu dinamismo, a minha criatividade etambém poder cativar os outros a fazer

coisas. O espírito da AE é representaros alunos e resolver os seus proble-

mas”.A AEISMT tem colaborado com ou-

tras Associações de Estudantes e, nes-te momento, em conjunto com o Instituto

Politécnico e outras instituições de ensi-no privadas, está a tentar “ressuscitar” a

FAC – Federação Académica deCoimbra “não para fazer frente à AAC

mas para mostrar que também estamosaqui e também conseguimos fazer coi-sas”, explicou o Presidente da AEISMT.

Uma das dificuldades desde sempreapontadas pelas anteriores direcções

da Associação de Estudantes foi a pro-ximidade com os alunos, “continua a ser

uma das nossas maiores dificuldades.No entanto, a nossa maior vitória, desde

há dois anos a esta parte, foi ter conse-guido aproximar mais os alunos da AE.

O que eu noto cada vez mais é que osalunos se identificam com a Associação

e isso facilita o nosso papel. Eles procu-ram-nos”, afirmou Bruno Cordeiro. A dis-

persão de edifícios é apontada comouma das causas para que não exista

tanta coesão entre alunos, por isso quan-do se fala em novas instalações o Presi-

dente da AE é peremptório: “Esse pro-jecto só peca pelo adiamento porque, a

nível do ensino, vinha colmatar a maiorlacuna do ISMT, que é a dispersão de

edifícios. No que diz respeito à coesãocom os alunos, ela seria perfeita”, acres-

• Obras de reestruturaçãodo bar da AEISMT

• Garantir um Horário deFuncionamento da AE

• Esplanada no Edifícioazul

• Organização do IEncontro de Tunas

• Criação da Associaçãode Antigos Alunos doISMT

• II Baile de Gala

centando ainda que “nós neste

momento pagamos 215 euros depropina tendo em conta as insta-

lações que temos. Eu acho quese tivéssemos umas boas insta-

lações, os alunos não se impor-tariam de pagar um pouco mais,

por exemplo até 250 euros”, con-cluiu. O Presidente da Associa-

ção de Estudantes reconheceque “os alunos só teriam a ga-

nhar com as novas instalações,mesmo que para isso tivessem

que fazer um esforço que impli-casse um aumento na propina,

dependendo do valor do aumen-to. Os alunos querem novas ins-

talações. Constantemente somosconfrontados com perguntascomo: E as obras? E o novo edi-

fício? Para quando? Onde? Háuma impaciência da nossa parte

e dos alunos no que diz respeitoàs novas instalações” afirmou o

Presidente da AEISMT.Bruno Cordeiro revelou tam-

bém que a Direcção da Associa-ção de Estudantes tem uma rela-

ção harmoniosa e de respeitocom a Direcção do ISMT: “existe

uma relação bastante saudável,existe diálogo. Estamos em

sintonia, até porque temos omesmo objectivo que é servir os

alunos.”

Andrea MarquesHenrique Amaral Dias

Projectosconcluídos/emcurso

“Os alunos querem novas instalações”

torga

Entrevista

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Realizou-se no dia 15 de Março de 2006,a Tomada de Posse dos Corpos Geren-tes da AEISMT, na sala 1 do Edifício Azulda Rua Augusta.

Foram convidados todos os Docen-tes, Discentes e Funcionários a estarempresentes, os quais aderiram em bomnúmero.

Na parte inicial foi dada a palavraaos representantes dos Órgãos do ISMT.Discursou a Dra. Cristina Quintas, comorepresentante do Conselho Directivo, aDra. Sofia Figueiredo (Conselho Peda-gógico), o Dr. Henrique Amaral Dias, emrepresentação do Conselho Científico.Enquanto Presidente da Comissão Elei-toral ouvimos o nosso caro colega NunoLourenço e, seguidamente, o Dux JoãoProença.

Eleições para os CorposGerentes da AEISMT

No dia 9 de Março, realizaram-se nasinstalações do ISMT, as Eleições paraos Corpos Gerentes da Associação deEstudantes do ISMT.

No mesmo dia, pelas 18H30,procedeu-se à contagem dos votos, napresença do Presidente da ComissãoEleitoral e do Representante da Lista A.

Foram apurados os seguintesresultados:

Direcção e Assembleia Geral

N.º total de Votantes - 321Votos em Branco - 10Lista A - 311Nulos - 0

Conselho Fiscal

N.º Total de Votantes - 321Votos em branco - 10Lista A - 311Nulos - 0

É de realçar a significativa adesãodos alunos às urnas de voto, o que nosdeixou bastante satisfeitos.

Por último, foi com muita atenção quetivemos o prazer de escutar o Presiden-te reeleito, Bruno Cordeiro. O facto deemoção da vida académica estar quaseno fim era notória no seu discurso. Fa-lou-nos da construção constante da “nos-sa Associação em movimento”, no or-gulho que teria em continuar a lutar, comos seus colegas e amigos, pelos direi-tos e exigências de todos os alunos.

Assinada a Acta da Tomada de Pos-se, seguiu-se um lanche oferecido pelaAEISMT.

Para finalizar com a alegria neces-sária, actuou brilhantemente a Tuna RealTorga.

Sara RibeiroAEISMT

TOMADA DE POSSE DOS CORPOS GERENTES DA AEISMT

torga

AE

Relatório de Contas Anual

Referentes ao Período: 2 de Março de2005 a 14 de Março de 2006

Saldo a transportardo último exercício ——— 1.567,42 €Total de Receitas ——— 34.488,82 €Total de Despesas —— 20.103,49 €Saldo presenteno Banco ——————— 12.373,35 €Saldo presente nocofre da AEISMT ————— 45,39 €Total de saldo atransportar —————— 12.418,74 €

Bruno CordeiroPresidente da AEISMT

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II Semana do Caloiro 2006

Neste ano lectivo, realizou-se a II Semana doCaloiro. Este evento surgiu com o intuito depromover o intercâmbio entre Caloiros eDoutores de todos os cursos do ISMT.

O Conselho de Veteranos quis mostraraos caloiros o que é realmente a Praxe,aproveitando também para apresentar oCódigo de Praxe do Instituto que esteve àvenda na AEISMT por 3 euros.

Foram várias as praxes a que os caloirosforam sujeitos, entre as quais, a tradicional“Omoleta”.

Para além da Cruz de Celas e imediaçõesdo Instituto, a Praxe teve também lugar noPavilhão “Pirilampos”, espaço que nos foigentilmente cedido pela Direcção, razão pelaqual nós agradecemos desde já.

Esperamos que o verdadeiro espírito daPraxe seja para sempre mantido nesteInstituto e que decorra sempre de formaordeira, correcta e sem qualquer tipo deabusos ou de desrespeito ao Código.

“Dura Praxis Sed Praxis”, A Praxe é Dura,Mas é a Praxe!

Saudações Académicas,

João ProençaDux Veteranorum

A Lista A vencedora das eleições parao Corpo de Gestão da AEISMT, propôs:

Objectivos gerais:exigir um acréscimo da qualidade de

ensino e garantir a sua manutenção;garantir um Horário de funcionamen-

to da AE que beneficie todos os alunos;lutar pelos direitos dos alunos (políti-

ca de propinas, política educativa, etc.);garantir uma Associação que representetodos os estudantes, e não apenas umaminoria.

Dinamizar os seguintes Núcleos:1. Núcleo de Política Educativa

1. Organizar um dossier com politicaeducativa;

2. Recolher junto do Instituto toda alegislação sobre política educativa;

3. Acompanhar as novas leis sobreEducação que vão saindo no Diá-rio da República;

4. Recolher informação e esclareceros alunos acerca do Processo deBolonha.

2. Núcleo de Apoio ao Estudante1. Colaborar com os elementos do

Conselho Pedagógico;2. Fazer a ponte entre os alunos e a

A.E. acerca dos problemas peda-gógicos;

3. Dinamizar o Cartão da AE;4. Criar o Guia do Caloiro 2006/2007.

3. Núcleo de Imagem e Jornalismo1. Gerir a página de Internet e o Blog

da AEISMT;2. Fazer reportagens de actividades

realizadas pela AE e pelo ISMT;3. Colaborar com a Torga;4. Gerir e melhorar a Imagem da AE;5. Criar de uma lista com o e-mail de

todos alunos do ISMT;6. Criar de um Boletim Informativo

com o objectivo de difundir aos alu-nos toda a informação relevanterelativa ao ISMT, nomeadamente oresumo das reuniões dos órgãospedagógico, directivo e assembleiade representantes do Instituto. Visatambém o aumento franco dos ín-dices de participação dos alunosna vida académica.

Projectos da Lista Vencedora 4. Núcleo de Desporto1. Organizar torneios desportivos;2. Organizar desportos radicais;3. Facultar aos alunos momentos de

lazer e descontração;4. Participar na discussão das políti-

cas desportivas levadas a cabopelo Estado;

5. Intercâmbio com outras instituições.

5. Núcleo de Eventos e Cultura1. Organizar o II Baile de Gala;2. Apoiar o GIVS;3. Apoiar a Tuna Real Torga;4. Organização de conferências, se-

minários, colóquios, cursos, expo-sições e concursos.

6. Núcleo de Apoio à fundação da AAAISMT

1. Fundação da Associação de Anti-gos Alunos do ISMT.

torga

AE

Reunião Geral de Alunos

No dia 15 de Março, pelas 14 h, reali-zou-se uma Assembleia-Geral de Alu-nos no Edifício Azul da Rua Augusta,sala 1, tendo como Ordem de Trabalhosa apresentação e aprovação do Relató-rio de Contas de 2 de Março de 2005 a14 de Março de 2006, o qual foi aprova-do por unanimidade.

Para além da aprovação foi com sa-tisfação que ouvimos comentários defelicitação pelo excelente trabalho reali-zado.

Houve igualmente um espaço dedebate e reflexão, no qual foram feitas

críticas e sugestões, às quais procura-remos dar resposta.

Dada a pouca participação dos alu-nos nesta RGA, gostávamos de apelar atodos os alunos do ISMT para que fos-sem pessoas corajosas e inteligentesao ponto de participarem nas decisõesque lhes dizem respeito, uma vez quenão basta criticar, quando não se ajudaa melhorar.

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Novidades do GIVS

Em primeiro lugar, o Grupo de Intervenção eVoluntariado Social (GIVS) agradece a todosaqueles que participaram na recolha deroupa (homem/Senhora e criança), calçado,material escolar e didáctico. Esta recolhaaconteceu no âmbito dos projectos “Sem-Abrigo” e “Dá-me um Sorriso”. Foi comimenso agrado que vimos a Associação deEstudantes cheia de sacos e é com umObrigado enorme que vos pomos a par doque foi feito com todo esse material:

· Em Dezembro, foram efectuadas duasentregas à Equipa de Rua Reduz (SolNascente); uma entrega à AMI, uma àADAV e efectuou-se também umaentrega em mãos a uma famíliacarenciada de Coimbra.

· No dia 18 de Janeiro, enviou-se umamega entrega para a Sol Eiras(brinquedos, roupa, calçado, etc.)

· No dia 3 de Março, efectuou-se umanova entrega à AMI e dia 13 do mesmomês foi feita uma entrega a uma famíliacom carências (roupa de criança,material escolar e alimentos).

Queríamos também lembrar que esteprojecto não cessou: caso tenhas algo emcasa que não te seja útil podes trazê-lo ainda.Ao fazê-lo estás a tornar alguém feliz! Nóstivemos a prova disso.

Em segundo lugar gostaríamos de vosdar a conhecer o sucesso que o projecto“Dá-me um Sorriso” tem tido no que toca àaceitação das instituições que contactámos(cujo público são crianças). Toda a parteinstitucional deste projecto está jáconcretizada, com as devidas reuniões eacordos com as instituições. O grupo já inicioua execução prática do projecto, com a ida àAssociação Integrar – Projecto Aguarela nodia 13 de Dezembro, no dia 24 de Fevereiroe no dia 17 de Março e ao Centro ComunitárioS. José no dia 14 de Março, HospitalPediátrico (dias 25/03 e 29/04), ProjectoHorizontes (29/03), Comunidade S. Franciscode Assis (19/04), Integrar (21/04) e CasaInfância Dr. Elísio de Moura (26/04).

Este projecto enche-nos de uma enormesatisfação, não só porque os objectivos eactividades dos projectos estão a serconcretizados, mas também porque nos tempermitido saborear o prazer do sorriso, nossoe das crianças, numa partilha efectiva.

O GIVS tem outro motivo para sorrir. Aoselementos fundadores do grupo juntaram-se mais estudantes. Hoje, totalizamos 22membros. Houve um investimento narecepção e na procura desses mesmoselementos, porque deles dependerá o futurodo grupo. Orgulhamo-nos de juntar tantaspessoas na busca do mesmo sonho: levar acabo acções que contribuam por um mundoum pouco melhor. Estamos a unificar a famíliaestudantil do ISMT, confiamos nascapacidades de inovação e conhecimentodesta família, uma família (não te esqueças)da qual também fazes parte.

Mais novidades? Projectos novos, claro!Estamos a realizar um Ciclo de Cafés-

Conversa com o objectivo de revitalizar asvelhas tertúlias coimbrãs, embora nãolinearmente. Julgamos necessário criarcondições para que se abram espaços dediscussão académica e social, e fazer dessesmesmos espaços sítios de aprendizagem,enriquecimento e maturação úteis para a vidapessoal, social e profissional dos participantes.

Cafés-Conversa:· Prostituição de Rua realizado no dia

14 de Março.A adesão dos estudantes foi plena,

conseguiu-se criar o ambiente propício àdiscussão saudável sobre esta temática. Paratal contámos com a presença da Dr.ª AnaSimões, Coordenadora da Equipa de RuaReduz.

· A importância dos Media nasociedade actual realizado no dia 22de Março.

· Despenalização do abortorealizado no dia 28 de Março.

O Colóquio intitulado “Limiar da(in)diferença”, teve como temática opreconceito e a exclusão social e efectuou-se no dia 5 de Abril, na Casa da Cultura.

O Colóquio sobre os comportamentosaditivos e de risco na adolescência teve lugarno dia 26 de Abril.

O GIVS participou num Workshop deAnimação de Rua com o Animador Sócio-Cultural, Sérgio Lindo, no dia 22 de Fevereiro,realizado na Sol Eiras. Considerámos queseria interessante promover esta actividadepara os alunos do ISMT, assim realizou-se nodia 30 de Março, no Penedo da Saudade.Neste Workshop foram aprendidas técnicasde malabarismo, fogo e andas, modelagemde balões e face painting.

O grupo desenvolveu, ainda, umacampanha de incentivo ao Voluntariado,porque acreditamos que realizar acçõesnesta área é uma mais valia a todos os níveis,para os jovens.

Por último, gostaríamos de apelar à vossaparticipação nos nossos projectos, bemcomo salientar que esperamos pelo teu. Nãotens nenhum? Pensa, e não te esqueças que“O que guia e arrasta o mundo não são asmáquinas, são as ideias” (Victor Hugo).

Gisa BarataAEISMT

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AE

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A Oferenda Musical, composta, impres-sa e presenteada a Frederico II, rei da

Prússia, por J. S. Bach, tendo comotema base o sugerido pelo monarca,

aquando da estadia do compositor emPotsdam, é amplamente analisada por

Douglas Hofstadter na sua obra Gödel,Escher e Bach: Laços Eternos. Este li-

vro em boa hora foi publicado pelaGradiva no ano de 2000.

Dispenso-me de relatar outros por-

menores históricos que rodeiam estacomposição, pois o meu propósito é o

de iluminar a estrutura musical em quese apoia e, em particular, o cânone.

Cânone vem da palavra grega para

regra ou lei. Musicalmente, significa amais estrita forma de contraponto no

qual uma voz imita o ritmo e intervalode uma outra. Assim, cada nota de um

cânone tem de assumir um caráctermelódico e harmónico dentro da mes-

ma melodia. Se temos três vozes, anota de uma delas tem de se harmoni-

zar com as das outras duas e, simulta-neamente, inserir-se melodicamente

na perfeição. É evidente que quantomais complexo é o tema que serve de

base ao cânone e quantas mais vozessão introduzidas, sobe dramaticamen-

te o número de combinações e,consequentemente, a complexidade

musical, de modo a respeitarmos asregras que formam o cânone.

No entanto, a complexidade não se

fica apenas pelo número de vozes. Po-demos ter “cópias”:

a) Em tons diferentes;b) A velocidades diferentes, expan-

dindo ou contraindo o tema;c) Em movimento contrário, que

progridem nos mesmos interva-los melódicos, mas em sentidos

opostos;

d) Em que a melodia é executadado início para o fim e vice-versa

em simultâneo;e) Em espiral, i.e. quando se repe-

te fá-lo, por exemplo, numa notaacima. Se estiver ainda na mes-

ma escala (dó menor, seguido deré menor), então designa-se por

espiral modulada;f) Acompanhadas por vozes em

contraponto livre;g) Em duplicado ou triplicado

(duas/três líderes e duas/três se-guidoras).

Bach foi capaz de construir cânones

de uma complexidade inigualável atéhoje pelo homem, onde integrava vá-

rias regras canónicas, como é o casodo Cânone n.º 4 da Oferenda Musical

em que combina 3 vozes, duas em mo-vimento contrário com velocidades dis-

tintas e uma terceira livre, sendo esta,como era de bom tom, o augusto tema.

Mais curioso, é o Cânone n.º 5 a 2,

per Tonos, cujo processo em espiralmodulada se poderia prolongar ad

inifinitum, aproveitando o compositorpor elogiar Frederico II: “Notulis

crescentibus crescat Fortuna Regis”.Contudo, e após seis modulações, fi-

naliza no tom original de dó menor.

Voltando a Hofstadter, este apre-senta-o como a primeira “volta estra-

nha”, em que existe uma “hierarquiaenredada”, ou seja, quando “nos en-

contramos, inesperadamente, de vol-ta ao lugar donde partimos.”

É pois com a certeza de antanho

que os gostos se discutem e refinam,que recomendo a Oferenda Musical.

OFERENDA MUSICALJ. S. Bach (1747)

Johann Sebastian Bach (1685-1750) éum génio da música. Muitos de nós

reconhecemos o nome, mas poucosapreciam a sua arte e, ainda menos,

percebem a um nível elementar astécnicas de composição que a

enformam. Contudo, qualquer ouvinteatento e disposto a um raciocínio

rigoroso captá-las-á na sua essência, separa tal envidar esforços moderados.

Henrique Amaral Dias

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Música

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Cinema

Carl Theodor Dryer (1889-1968),cineasta dinamarquês, é um ilustredesconhecido do público em geral.Todavia, os poucos filmes que realizousão dos mais notáveis da curta históriada sétima arte. Enquanto que naliteratura, pintura ou música, raros e tolossão os que pretendem colocar nomesmo espaço cultural MargaridaRebelo Pinto e Herberto Hélder, JeffKoons e Magritte ou Marco Paulo eJorge Palma, no cinema, realizadoresmenores, como Spielberg ou GeorgeLucas são aclamados e reverenciadoscomo grandes mestres.

Ordet (1956) e Gertrud (1964)Carl Dryer

Este gigantesco disparate é, por nor-ma, justificado pelo cariz populista equestionável valor estético do cinema. Háaté quem vá mais longe e afirme mesmoque ele não é uma forma de arte genuí-na, pois depende de artes nobres comoa fotografia e o teatro. Tenho para mimque o cinema é uma arte legítima e fun-damental. Claro que, ao longo de déca-das, a comercialização em massa retirouespaço àqueles que mais o mereciam.Entre estes encontram-se os de Dryer, emparticular A Paixão de Joana D’Arc (1927),Vampiro (1932), Dias de Ira (1943), A Pala-vra (1956) e Gertrude (1964).

São estes dois últimos que agora meinteressam. Muito diferentes na mise-en-scène, nos cenários e na visão do mun-do que encerram, ambos são das maio-res obras de arte do século passado,embora, infelizmente, só uma ínfima mi-noria os tenha alguma vez visto.

A Palavra é um filme sobre o mistérioda Fé e do Amor. Se admitirmos queexistem conceitos cujo valor simbólico éfundamental para a nossa civilização,Fé e Amor estarão de certeza entre eles.Por isso é tão difícil conceber uma obrade arte neles centrada. Em casos simi-

lares, ficamos muitas vezes com a im-pressão de que o autor foi arrogante epretensioso ao abordá-los ou, pura esimplesmente, incapaz de os retratar. APalavra é uma espantosa demonstraçãode que Fé e Amor existem. Só ela nospodia dar essa certeza tão directa, emo-cional e verdadeira. Com uma composi-ção de luz memorável, movimentos decâmara precisos e austeros, planos lon-gos e close-ups únicos, este filme, ba-seado numa peça de Kaj Munk (mortopelos Nazis), é também um estudo daesterilidade espiritual e das relaçõeshumanas com os que nos são mais que-ridos.

Morten Borgen é o velho patriarcade uma família do meio rural, que detémuma propriedade gerida pelos seus fi-lhos Mikkel e Anders. Um terceiro filho,Johannes, perdeu-se num delírio maní-aco, julgando-se Jesus Cristo, depois detanto ter lido Kierkegaard. Temos tam-bém a mulher de Mikkel, Inger, e as suasduas filhas.

É então que, numa cena remines-cente do que aconteceu ao próprio Dryer,gótica pelo sofrimento atroz que expri-me, Inger adoece gravemente ao dar àluz. Johannes tinha previsto a sua mortee ela vem a morrer profeticamente. Nofinal, a escuridão da morte de Inger, daloucura de Johannes e da descrença deMikkel cede à luz divina da Fé e do Amor,quando Inger volta à vida e dela brotatoda a sensualidade e amor. QuandoInger se ergue do caixão, beija apaixo-nadamente o marido e o abraça comose nada mais importasse, e o seu rostoresplandece no écran, os cínicos e cép-ticos só podem capitular.

Como escreve João Bénard da Costa:“As montanhas nunca se moveram,

como os mortos nunca ressuscitaram (...).A única vez que vi isso acontecer (e é,sem dúvida, o mais pasmoso dos mila-gres) foi neste filme. Se me disserem queé cinema eu respondo que não é, não.”

Eu também senti o mesmo...Gertrude é uma mulher de meia-ida-

de, ex-cantora de ópera, casada com um

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O Autor e a Obra

Dom Dinis nasceu em 1261 e subiu ao trono em 1279. O filho de DomAfonso III era dotado de uma enorme educação cultural.

Denominado de Rei Trovador, da sua obra poética consta “O Livro deLouvores da Virgem Nossa Senhora e Outras Cousas ao Divino”.

Foi autor de 138 Cantigas de elevada técnica e de grande inspiraçãolírica.

Como disse António Ferreira, Dom Dinis “ honrou as musas, poetoue leo”.

Dom Dinis fundou a Universidade em Lisboa, em 1290, transferindo-aem 1308 para Coimbra. Encontra-se homenageado nesta cidade com uma

estátua, num largo da Alta com o seu nome.

Inserção Temporal - Século XIII; Idade MédiaGénero Literário – Lírico; Poesia Trovadoresca (Cantiga de Amor)

Características

A Cantiga de Amor era a expressão subjectiva da dor amorosamasculina, determinada por um amor sem possibilidade de realização. É

um amor- adoração, um amor platónico direccionado para uma mulhergeralmente casada e que por ser um amor adúltero se esconde na

masculinização do objecto de amor -”mha senhor”.

Ana Cristina Abreu

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Cinema

advogado poderoso (Kanning), que seprepara para entrar na alta política.Gertrude é uma mulher com passado,tendo tido uma relação longa com umpoeta de renome (Gabriel Lidman). Es-tes dois homens vivem obcecados pelopoder e fama, tanto que “se esquece-ram de amar”. Gertrude deseja amar eser amada. Assim, a cena inicial é umextenso diálogo que desemboca naconfissão de infidelidade espiritual deGertrude a Kanning: ama um jovemmúsico e compositor, Erland, que, comorapidamente o espectador deduz, nãoretribui esse sentimento.

Quando Gertrude descobre queErland apenas a deseja e que até apre-cia o seu marido, não suporta tamanhadesilusão e desfeita, indo para Parisestudar psicanálise, como umaficcionada Lou Andreas-Salomé. Passa-dos muitos anos, uma Gertrudecaricaturalmente envelhecida vive emreclusão na sua terra natal. Apenasacompanhada pelo caseiro, num chaletque nunca chegamos a ver, mas queimaginamos perdido num mundo irreal,recebe a visita de Axel, um amigo delonga data, que a acolheu na sua esta-da em Paris. Teria sido apenas um ami-go? Sabemos somente que ele queimaà sua frente as cartas que lhe escrevera.Após esta enigmática cena, Axel despe-de-se com um aceno nostálgico e Dryerpõe-nos a olhar para a porta da casa:estará Gertrude prestes a embarcar nes-sa última viagem para a eternidade ousimbolizará esse pórtico a trágica sepa-ração entre um homem e uma mulher?

Dryer não nos esclarece quanto aodestino de Gertrude, nem nos diz o quepensarmos do seu percurso de vida, li-mita-se a tratar-nos como adultos.

A Palavra e Gertrude são filmescentrados no Amor e no risco que corre-mos ao acreditarmos que ele existe eque virá ao nosso encontro, mas tam-bém no milagre que ocorre quando comele nos deparamos.

Henrique Amaral Dias

Página Literária

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Está presente nos espíritos mais sensí-veis, i.e. naqueles que vagabundeiam ànoite e se vestem a rigor durante o dia,uma ambivalência entre ideal e resig-nação, êxtase e tédio, futuro e presente.Penso que muito da obra teatral e poéti-ca de Eliot gira em torno de um conflitoentre o conhecimento e a negação domesmo, mas cujo desfecho é sempre einevitavelmente a morte. O conhecimentoé a compreensão da imperfeição, logoda nossa finitude. Podemos lamentarmelancolicamente o destino mortal, por-que dele nos vamos apercebendo aolongo da vida. Aquele que o nega, sópode morrer atónito. Contudo, todos so-fremos as agonias da morte imperscru-tável.

Eliot compôs esse quadro de lugar elugar nenhum como ninguém:

“O tempo presente e o tempo passadoEstão ambos talvez presentes no tempofuturo.E o tempo futuro contido no tempo pas-sado.Se todo o tempo é eternamente pre-senteTodo o tempo é irredimível.

(...)Ou digamos que o fim precede o princí-pio,E que o fim e o princípio estiveram sem-pre aliAntes do princípio e depois do fim.E tudo é sempre agora.”1

Em The Cocktail Party é essa voz lúcidae terapêutica que se impõe, quandoEdward e Lavínia Chamberlayne ouvemde Reilly, convidado mistério/psicana-lista:

“Terão que recordarA visão que tiveram, mas terão tambémque deixarDe a lamentar – terão de se manter numaRotina, a habitual, e terão de aprenderA ser tolerantes para consigo e para com

os outros,

The Cocktail PartyT. S. Eliot

Quer’ eu en maneyra de proençalfazer agora hun cantar d’amore querrey muyt loar mha senhor,a que prez nem fremusura non fal,nen bondade, e mays vos direi en:tanto a fez Deus conprida de benQue mays que todas las do mundo val.

Ca mha senhor quiso Deus fazer talquando a fez, que a fez sabedorde todo bem e de mui gran valore cõn tod’ est é mui comunal,aly hu devue; er deu-lhi bõ seme dês y nõ lhi fez pouco de bem,quando nõ quis que lh’ outra foss’ igual.

Ca en mha senhor nunca Deus pos mal,mays pos hi prez e beldad’ e loore falar mui bem e rijr melhorque outra molher; dês y é lealmuyt´, e por esto nõ sey oj’ eu quenpossa compridamente no seu bemfalar, ca nõ á, tra lo seu bem, al.

(D. Dinis)(CV 123, CBN 485)

torga

Página Literária

Independentemente das considera-ções críticas que possamos tecer aoler The Cocktail Party, uma coisa écerta: há nesta obra uma qualidaderara que provoca uma adesão ime-diata e espontânea.

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Henrique Amaral Dias

Dando e recebendo nos actos vulgareso que é

De dar e receber. Não se queixarão;Contentar-se-ão com a manhã que se-

para,E com a tarde que une, para umaConversa circunstancial à lareira, duas

pessoasQue sabem que se não compreendem

mutuamenteQue criam filhos que não compreendem

e queNem os compreenderão a eles nunca.”

Mas já antes Edward tinha adivinha-do a sua sorte, quando se despede deCelia, da ilusão de amor que por elanutria, que afinal nada mais era do queo estertor do desejo de imortalidade, queapenas floresce na juventude, para logodefinhar quando se aceita envelhecer:

“É o piorMomento da vida, esse em queSentimos que perdemos o desejoDe tudo o que era mais desejável,E ainda não nos contentáramos com o

que podíamos ter desejado;E ainda sem sabermos que mais há para

ser desejado.E continuamos até a desejar que pudés-

semos desejar tudoO que o desejo deixou em atraso.”

Eliot, noutra obra, Ash-Wednesday,conclui o que Edward deixou em aberto:

“Porque eu não espero voltar de novo,Porque eu não esperoPorque eu não espero voltar(...)Porque eu não espero conhecer de

novoA glória frágil da hora concreta(...)Porque eu sei que o tempo é sempre

tempoE o lugar é sempre e somente o lugarE o que é real é-o uma vez somente”

Contudo, o autor destes versos inesque-cíveis descerra a esperança de quemacredita, de quem ainda acredita, de

quem ainda quer acreditar que a vidase estende para além das nossas mi-sérias e cálculos, amores e desamo-res, espraiando-se na tranquilidadedo ser resignado e reflexivo:

“Consequentemente rejubilo, tendo deerigir algo

Sobre que rejubilarE rogo a Deus que se amerceie de nósE rogo que me faça esquecerEstas questões que comigo demasiado

discorroDemasiado explico(...)Embora eu não espere voltar de novoEmbora eu não espereEmbora eu não espere voltar

Vacilando entre os lucros e as perdasNeste breve trânsito em que os sonhos

cruzamO crepúsculo de sonhos cruzado entre

o nascimento e a agonia(...)Não consintas que nos iludamos com

embustesEnsina-nos a curar e a descurarEnsina-nos a permanecer tranquilos”

Se existe um elemento clássico e re-ligioso em The Cocktail Party, ele é a tra-gédia de Celia Coplestone, que se re-cusa a aceitar a realidade, lutando poruma visão de algo, talvez de um amávelpara amar, acabando por ser crucificadaatrozmente por canibais nalgum lugarou em lugar nenhum.

Seremos culpados por essa morteem que carne e sangue nos são pre-senteados?

Felizmente que Reilly nos liberta econsola:

“Se tivéssemos de ser julgados pe-las

consequênciasDe todas as nossas palavras e ac-tos, para além das

Intenções e do nosso limitado conheci-mento

De nós próprios e do nosso próximo, to-dos seríamos

Condenados.(...)

Têm que viver com essas recordações,e transformá-las

Em qualquer coisa de novo. Só a acei-tação do passado

Lhe pode alterar a significação.”

Pouco depois a peça termina, com orecomeço dessa comédia de enganosque é a vida, a Cocktail Party.

1 Eliot, T. S.,Quatro Quartetos

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CHILE

33º CONGRESSO MUNDIAL DE ESCOLAS DE TRABALHO SOCIAL“CRESCIMENTO E DESIGUALDADE –CENÁRIOS E DESAFIOSDO TRABALHO SOCIAL NO SÉCULO XXI”Santiago do Chile28 a 31 de [email protected]

COIMBRA

COMEMORAÇÕES DOS 70 ANOSDA FORMAÇÃO EM SERVIÇO SOCIALDO INSTITUTO SUPERIOR MIGUELTORGAComissão organizadoraProf. Dra. Alcina Martinsdata a anunciar

EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DOS 70ANOS DA FORMAÇÃO EM SERVIÇOSOCIAL DO INSTITUTO SUPERIORMIGUEL TORGAOrganização - Biblioteca do ISMTdata a anunciar

PASSEIOS DE COIMBRA NASFREGUESIASPostos municipais de turismode Janeiro a Dezembro4º Domingo de cada mês

BASÓFIAS - PASSEIOS DE BARCONO RIO MONDEGOAberto todo o ano

FUN(TASTIC)ª COIMBRAViagem panorâmicaAberto todo o ano

EXPOSIÇÃO PERMANENTENINHOS REDONDOS COM PEDRAS DEMOINHOSMuseu Zoológico da Univ. CoimbraAberto todo o ano

EXPOSIÇÃO PERMANENTEA NATUREZA E O HOMEMMuseu Zoológico da Univ. CoimbraAberto todo o ano

EXPOSIÇÃO PERMANENTEINSTRUMENTOS CIENTÍFICOSDO SÉCS.XVIII E XIXMuseu da FísicaAberto todo o ano

EXPOSIÇÃO PERMANENTEUM PERCURSO DO ESTUDANTENA UNIVERSIDADE DE COIMBRAMuseu AcadémicoAberto todo o ano

EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOCENTRO INTERPRETATIVODA CIDADE MURALHADATorre de Almedina

EXPOSIÇÃO PERMANENTECOLECÇÃO TELO DE MORAIS(pintura, escultura, cerâmica e mobiliário)Edíficio Chiado

FADO DE COIMBRAÀ CapelaRua Corpo de DeusTodos os dias (excepto Terça)

FADO DE LISBOAÀ CapelaRua Corpo de Deus(às terças)

FARO

CAMINHOS DO ALGARVE ROMANOExposição permanenteMuseu Municipal de Faro

ESPELHO DA IDENTIDADE CULTURAL:USOS E COSTUMESExposição permanenteMuseu Regional do Algarve

EXPOSIÇÕES DEPINTURA DE ANA ANDRÉCERÂMICA DE TERESA RAMOSArtadentro-Galeria de Arte ContemporâneaAté Junho

FIGUEIRA DA FOZ

EXPOSIÇÃO “UNIVERSO VISUAL EARTÍSTICO“ DA COLECÇÃO BERRADOCAEAté 17 de Setembro

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIADE ANDRÉ BRITOCAEAté 26 de Junho

EXPOSIÇÃO DE PINTURADE MARIA RUA FÉLIXAté 2 de Julho

LEIRIA

MÚSICA EM FAMÍLIANOVOS SONS EM BUSCA DE PAIS EFILHOSPiccolini Filarmónicos SAMP2 de JulhoTeatro Miguel Franco

HABITANTES E HABITATSPRÉ E PROTO-HISTÓRIA NA BACIA DOLISCastelo de LeiriaAté 30 de Setembro

A NOVA VIDA DAS IMAGENSPintura restaurada da colecçãodo Município de Leiria- séculos XVI-XVIIIEdifício do Banco de PortugalAté final de 2006

LISBOA

EXPOSIÇÃO ALGUNS TRABALHOSNA COLECÇÃO DE HEIN SEMKECAMJAPAté 30 de Junho

ESPECTÁCULO “DA MINORIA PARA AMAIORIA: IMPORTAÇÕES CULTURAIS”Fundação Calouste GulbenkianSetembro

CONFERÊNCIA “A UNIÃO EUROPEIA E AIMIGRAÇÃO”Fundação Calouste Gulbenkian21 de Novembro

DOCUMENTÁRIO E DEBATE“PORTUGAL E OS PORTUGUESESVISTOS PELOS IMIGRANTES”Fundação Calouste Gulbenkian31 de Janeiro de 2007

CONFERÊNCIA INTERNACIONALE LANÇAMENTO DO LIVRO“IMIGRAÇÃO: OPURTUNIDADE OUAMEAÇA?”Fundação Caloste Gulbenkian6 e 7 de Março de 2007

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA “HOMO MIGRATIUS”Fundação Calouste Gulbenkian6 de Março a 1 de Abril de 2007

EXPOSIÇÃO DESENHOS, MEMÓRIASFERNANDO LEMOSCAMJAPAté 30 de Junho

CONFERÊNCIA IASL 2006LER, SABER, FAZER:AS MÚLTIPLAS FACES DA LITERACIAInternational Association of SchoolLibrarianshipGabinete da Rede de Bibliotecas Escolares3 a 7 de Julho

DANÇA COM LETRAS – UMESPECTÁCULO DE A a ZSalão Preto e PrataCasino Estoril

torga

Agenda

Page 106: Nota do Director - alperce.com 37 p.pdf · 24 Uma Aplicação do Júri de Delphi – ISMT Alunos do 3º ano de Informática de Gestão 47 Investigação no ISMT Ana Beatriz Bento

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Ana Cristina Abreu

ORQUESTRA CASINO ESTORILCOM PEDRO MALAGUETATodas as noitesCasino Estoril

EXPOSIÇÃO PERMANENTESÉCULO XX PORTUGUÊS:OS CAMINHOS DA DEMOCRACIAJOÃO SOARES/MÁRIO SOARESCasa Museu João Soares

EXPOSIÇÃOALGUNS TRABALHOS NA COLECÇÃOHein SemkeCentro de Arte Moderna de José de AzeredoPerdigãoAté 30 de Junho

EXPOSIÇÃODESENHOS, MEMÓRIASFernando LemosCentro de Arte Moderna José de AzeredoPerdigãoAté 30 de Junho

TEATROA FLAUTA MÁGICACastelo de São Jorge1-29 de Junho

LISBON VILLAGE FESTIVAL 2006Festival de Cinema DigitalCinema São Jorge21 a 25 de Junho

CLÁSSICOS DO CINEMAFilmes ao ar livreCastelejo de Castelo de São Jorge28 e 29 de Junho

CESÁRIA ÉVORA- CONCERTOTorre de Belém2 de Julho

ÁFRICA FESTIVALConcertos e tenda temáticaTorre de Belém 6 a 9 de Julho

FESTIVAL INTERNACIONALDE MÁSCARAS E COMEDIANTESCastelo de São Jorge24 a 31 de Agosto

MOSTRA DE CINEMADA AMÉRICA LATINACinema São Jorge1 a 15 de Setembro

FESTIVAL DE CINEMAGAY E LÉSBICOCinema São Jorge16 a 24 de Setembro

PORTO

Fundação Serralves

À VOLTA DO JARDIM:CONHECIMENTOS E PRÁTICASCursos 2006

Bonsai: Jin e Shari (“madeira morta”)23 de Setembro

Bonsai: kabudachi (“estilo maciço”)25 de Novembro

EXPOSIÇÃO DE PINTURADE ANTÓNIO DACOSTAAté 9 de Julho

EXPOSIÇÃO DE PEDRO MORAISLocus-Solus III- Uma Paredede Cal Pintada e Água CorrenteDukosan III- Lâmina e Anamorfoseem Parede CaiadaAté 16 de Julho

TEATROD. JOÃO DE MOLIÈRETeatro Nacional São João8, 9, 11, 12, 13 de Julho

TEATRO FEI LUÍS DE SOUSADE ALMEIDA GARRETTTNSJ9, 15, 16 de Julho

VIANA DO CASTELO

EXPOSIÇÃO PERMANENTE“A LÃ E O LINHO NO TRAJEDO ALTO MINHO”Museu do Traje

FEIRA DE ANTIGUIDADESE VELHARIASJardim D. FernandoTodos os meses, no 1º sábado

FESTIVAL “ JAZZ NA PRAÇA DA ERVA”27 a 29 de Julho

FESTIVAL INTERNACIONALDE MÚSICA CLÁSSICA (PORTUGAL/EUA)1 a 15 de AgostoFESTIVAL DE FOLCLOREINTERNACUIONAL4 a 10 de Setembro

“SIMPLY BLUES”-FESTIVAL INTERNACIONAL DE BLUES6 a 9 de Dezembro

VISEU

12º CONGRESSO“RECURSOS, ORDENAMENTO,DESENVOLVIMENTODA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESAPARA O DESENVOLVIMENTOREGIONALInstituto Politécnico de Viseu15 a 17 de Setembrowww.apdr/congresso/2006

torga

Agenda

Page 107: Nota do Director - alperce.com 37 p.pdf · 24 Uma Aplicação do Júri de Delphi – ISMT Alunos do 3º ano de Informática de Gestão 47 Investigação no ISMT Ana Beatriz Bento

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