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+ PESQUISAR · SAVE · PRINT · SAIR 6.set.2016 N.680 www.aese.pt NOTÍCIAS · AGENDA · OPINIÃO · PANORAMA · DOCUMENTAÇÃO PANORAMA DOCUMENTAÇÃO Para o trabalhador do serviço doméstico, salário justo e igualdade de direitos Párias entre os párias AGENDA Uma eloquente resolução da ONU sobre a família Contributos da família Declaração de intelectuais sunitas sobre liberdade religiosa Liberdade religiosa, direito humano Fortes e débeis… Vontade e cultivo das virtudes Rendibilidade de clientes Lisboa, de 21 a 23 de setembro de 2016 A Família cristã é uma utopia? Lisboa, 20 de setembro de 2016 O trabalho no Século XXI Gestão eficaz de projetos Lisboa, de 27 a 29 de setembro de 2016 O “estigma” de ser trabalhador do serviço doméstico Desvalorização social e legislação 6.º Torneio de Golfe Belas Clube de Campo, 1 de outubro de 2016 Internacionalização de empresas Coimbra, 22 de setembro de 2016 The Global Competitiveness Report 2016-2017 Da formulação à implementação da Estratégia Lisboa, 15 de setembro de 2016 “Enquanto a aptidão soma, a atitude multiplica.” Parlamento e médicos britânicos rejeitam o suicídio assistido Importância dos cuidados paliativos NOTÍCIAS Media “Exigência no ensino é pauta do desempenho do país”, entre outros… “A Ponte dos Espiões” Integridade e saber ouvir Melhorar o poder negocial

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NOTÍCIAS

6.set.2016N.680

www.aese.pt

NOTÍCIAS · AGENDA · OPINIÃO · PANORAMA · DOCUMENTAÇÃO

PANORAMA DOCUMENTAÇÃO

Para o trabalhador do serviço doméstico, salário justo e igualdade de direitosPárias entre os párias

AGENDA

Uma eloquente resolução da ONU sobre a famíliaContributos da família

Declaração de intelectuais sunitas sobre liberdade religiosaLiberdade religiosa, direito humano

Fortes e débeis…Vontade e cultivo das virtudes

Rendibilidade de clientesLisboa, de 21 a 23 de setembro de 2016

A Família cristã é uma utopia?Lisboa, 20 de setembro de 2016

O trabalho no Século XXI

Gestão eficaz de projetosLisboa, de 27 a 29 de setembro de 2016

O “estigma” de ser trabalhador do serviço domésticoDesvalorização social

e legislação

6.º Torneio de GolfeBelas Clube de Campo, 1 de outubrode 2016

Internacionalização de empresasCoimbra, 22 de setembro de 2016

The Global Competitiveness Report 2016-2017

Da formulação à implementação da Estratégia Lisboa, 15 de setembro de 2016

“Enquanto a aptidão soma, a atitude multiplica.”

Parlamento e médicos britânicos rejeitam o suicídio assistidoImportância dos cuidados

paliativos

NOTÍCIAS

Media

“Exigência no ensino é pauta do desempenho do país”, entre outros…

“A Ponte dos Espiões”Integridade e saber ouvir

Melhorar o poder negocial

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À semelhança dos anos anteriores,a apresentação das conclusões doGlobal Competitiveness Report2016-2017 terá lugar na AESE, nadata em que os resultados sãomundialmente divulgados. O eventorealiza-se a 28 de setembro.

A Proforum e o FAE, parceiras doWEF - World Economic Forum,unem-se à AESE e à PwC paraanunciarem os resultados e identifi-carem as tendências e as oportu-nidades que os resultados abran-gem. O relatório avalia o posiciona-mento competitivo de Portugalcomparativamente com os outrospaíses.

Serão disponibilizadas mais infor-mações sobre o programa opor-tunamente, no site www.aese.pt .

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The Global Competitiveness Report 2016-2017

Lisboa, 28 de setembro de 2016World Economic Forum anuncia o score da competitividade

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“Uma das facetas mais revolu-cionárias da Internet é a aproxi-mação da oferta com a procura —por outras palavras, a criação eaperfeiçoamento dos mercados:desde a ebay.com (onde se podemcomprar e vender os mais variadosprodutos), até ao guru.com (ondese podem comprar e vender osmais variados serviços), encon-tram-se muitos exemplos — eestou certo de que o númeroaumentará ainda mais.” O Prof.Luís Cabral introduziu o tema doconceito do “Trabalho no SéculoXXI”, motivo pelo qual se reuniramna AESE, Alumni PADE, para umevento em exclusivo.

Num artigo publicado sobre estamatéria, o Professor explica: “comoconceito, não há nada de funda-mentalmente novo nestes mer-cados: a Feira da Ladra, que jáexiste desde o Século XIII, continuajuntando vendedores e compra-dores em Lisboa às Terças e

Sábados. O que há de diferentenas plataformas da Internet é umaagregação de informação mais efi-ciente: milhares ou mesmo milhõesde pessoas têm acesso aosanúncios de compra e venda, e osmotores de pesquisa permitem queo emparelhamento entre compradore vendedor seja altamente eficientee rápido.

Isto são excelentes notícias para osconsumidores, mas também umanova oportunidade de negócio dolado da oferta: entre vender quin-quilharia acumulada no sótão(ebay.com); fazer pequenos traba-lhos de artes gráficas (free-lance.com); oferecer serviços deconsultoria financeira (guru.com);arrendar um quarto da própria casa(airbnb.com); ou transportar pes-soas no próprio carro (uber.com);entre estas e muitas outras possibi-lidades, o que as plataformas daInternet estão permitindo é aemergência daquilo que podemos

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O trabalho no Século XXI

Lisboa, 15 de julho de 2016Evento exclusivo para Alumni PADE com o Prof. Luís Cabral

Luís Cabral, Professor de Economia na NYU, no IESE e na AESE

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designar como a “economia dobiscate” (“Gig economy”). No mun-do anglo-saxónico fala-se muito da“sharing economy” (economia dapartilha), mas o conceito do “bisca-te” parece-me mais indicado.

A fração do rendimento pessoalproveniente da “economia dobiscate” — nomeadamente numcontexto de plataformas eletrónicas— tenderá a crescer. Por outraspalavras, o emprego por contaprópria, mesmo que não correspon-dendo à totalidade do rendimento,será uma experiência mais gene-ralizada do que tem sido no pas-sado. Por outras palavras, estamosperante uma redefinição dos con-ceitos de trabalho, emprego eempresa.

Os problemas gerados por esta“admirável economia nova” sãomúltiplos, entre os quais destacodois. Primeiro, a empresa tradi-cional e o emprego tradicional fun-cionam efetivamente como ummecanismo de seguro: há mesesem que tenho mais trabalho emeses em que tenho menos traba-lho; mas independentemente des-

tas flutuações tenho um saláriogarantido ao fim do mês; por outraspalavras, o risco do negócio é namaior parte absorvido pelo empre-gador. Pelo contrário, o trabalhadorpor conta própria beneficia por nãoter patrão, mas vive constan-temente na incerteza dos cicloseconómicos. Obviamente, nemtodos têm “estômago” para estavida, a não ser que haja meca-nismos de seguro que compensem.O segundo problema da economiacentrada no capital humano é quefacilmente gera grandes assime-trias. Piketty pode ter escrito sobreo Capital no Século XXI, mas otítulo mais apropriado para descre-ver o que se tem passado noOcidente é realmente o título desteartigo: o Trabalho no Século XXI. Aremuneração do talento temevoluído de forma muito desigual.Por exemplo, em 1968, PaulMcCartney tinha uma fortuna acu-mulada de 7 milhões de dólares;em valores de 2008, isso corres-ponde a aproximadamente 50 mi-lhões de dólares, o que é menos de20 por cento do que a Madonnaganhou só nesse ano! Bem sei queisto é um exemplo muito extremo

(nem todos somos McCartneys ouMadonnas), mas aponta para umproblema real que terá de serconsiderado.

Os livros de História Económica doSéculo XXII incluirão dois capítulosfundamentais: um sobre a Revo-lução Industrial dos Séculos XVIII--XIX, um sobre a Revolução daInternet no Século XXI. Digo SéculoXXI, porque os efeitos principaisdas plataformas eletrónicas aindaestão por se sentir: o que vimosdesde os anos 90 até agora foiapenas um “cheirinho”.”

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Foi em clima de festa que osparticipantes no 14.º ExecutiveMBA AESE concluíram o seupercurso de 2 anos letivos, sob adireção do Prof. José Miguel Pintodos Santos.

A cerimónia incluiu a oração desapiência proferida por JoséAntónio Burón, Managing Directorda Janssen Cilag, em Portugal eEspanha, e 3.º GMP, que fez dasua experiência profissional e pes-soal a base daquelas que consi-dera serem as principais lições deliderança aprendidas.

Lições de liderança de JoséAntónio Burón“O mundo, como sabem, está amudar de forma muito acelerada.Em três semanas, alterei o início daminha palestra por várias vezes(com o Brexit primeiro, com oCampeonato da Europa de Portu-gal depois, o atentado de Nice, ogolpe de Estado na Turquia).

É um mundo que está um poucolouco, diria hoje. Ciclos que nopassado duravam 15-20 anos, edenominávamos os felizes anos X,Y, agora são os meses.” Por isso, aprimeira ideia a destacar é que “olíder que vai sobreviver, não vai sero mais forte, o mais inteligente,mas o que tiver mais agilidade parase adaptar às situações.” Outraideia a reter, é que “ninguém éindispensável. Somos indispen-sáveis até surgir outra pessoa queé ainda mais indispensável do quenós próprios.” Portanto, “deem omelhor de vocês e nunca conside-rem que são fundamentais nasvossas empresas.”

Licenciado em Medicina, e tendoexercido a profissão como médicoresidente, cedo ingressou naJohnson & Johnson, vindo a tornar--se Diretor Clínico com apenas 29anos. Um fator crítico de sucessofoi identificar-se com os valores daempresa que serviam um propósito

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“Enquanto a aptidão soma, a atitude multiplica.”

Lisboa, 9 de julho de 2016Entrega de diplomas do 14.º Executive MBA

José António Burón

14.º Executive MBA AESE

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comum de serviço à comunidade,com o compromisso de melhorar asaúde da população mundial.

Nessa nova etapa, Burón aprendeuque “a pessoa lidera através daqui-lo que faz, não através daquilo quediz. Só com o exemplo daquilo quese procura nos outros, é que osoutros aprendem a saber aquiloque se procura deles. E se o líderfor útil, as pessoas sê-lo-ãotambém. Se for inovador e procurarsoluções inovadoras, as pessoasque o rodeiam respondem damesma maneira.” Além disso, “serlíder é algo absolutamente solitário.A solidão de gerir uma equipa de60 pessoas, que antes foramcolegas e amigos” não é tarefafácil. Na verdade, é “o chefe quedecide as férias, os salários, quemé promovido e quem vai sair daempresa. É muito complicadocompatibilizar com a amizade, asinceridade, com a abertura. E istofecha-nos portas, vai-nos limitandoa rede de contactos.”

“A Johnson & Johnson voltou a

cruzar-se no meu caminho, com aoferta de um cargo nos EstadosUnidos, como responsável globalde todo o sistema de franquias depsiquiatria.” “Em 4 anos percebi odifícil que é gerir equipas multi-culturais, em que se diz uma coisae se pensa noutra, em que a lin-guagem não verbal é muito maisimportante do que a linguagem ver-bal e também gerir uma equipavirtual quando não se está pre-sente”, com elementos em Pequim,Bogotá, Berlim, etc.. “Eu tinha demotivar as pessoas sem as ver esem que elas me vissem. Isso foiextremamente complicado.” “Apren-di a construir a minha rede socialde suporte fora. Foi aí que conhecia minha mulher, conheci a Marcela,que estava a viver em Nova Iorque.Tive dois filhos norte-americanos euma sogra, que vinha com todo opack. E é a melhor sogra do mun-do. E esta família, estando fora,não estando no escritório, era oelemento mais importante para eufazer bem o trabalho no escritório.

Nesse momento, a minha vida, o6 CAESE setembro 2016

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Participantes

Luis Arias, IESE

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meu trabalho, o meu esforço tinhaimpacto em milhões de doentes emtodo o mundo, com esquizofrenia,com depressão. Isso era o que memotivava a continuar em cadamanhã.”

De regresso a Portugal, “a liçãoneste momento é como é diferenteser líder de líderes. Os nossoscolaboradores não são colabo-radores horizontais. São os líderesde outros líderes.”

Em jeito de conclusão, JoséAntónio Burón sintetizou os ensina-mentos trasmitidos num segredo:“enquanto a aptidão soma, aatitude multiplica.”

Entrega dos diplomasOs diplomas foram entregues pelaDean da AESE, a Prof. Maria deFátima Carioca, por Luís Arias,representante do IESE, e pelo Prof.Raul Bessa Monteiro, Diretor Exe-cutivo do Agrupamento de AlumniAESE.

Prémios de méritoNessa mesma data, foramconhecidos os vencedores dosprémios Boyden, por parte do Prof.José Miguel Pinto dos Santos eLuís Alves Monteiro. Os vencedo-res foram: Sandra Simão Lino,Diogo Torrado, Martim BensaúdeSpratley e Ana Catarina Fonseca.

Diogo Torrado recebeu ainda oPrémio D. Maria do Rosário Car-doso Borges.

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A família, a nossa melhor empresa,deve ser encarada como um lugarem que todos os elementos que aconstituem desempenham umpapel inestimável. Cada qual comas suas funções e responsabili-dades, com vista a atingir osresultados esperados pelo trabalhorealizado todos os dias.

Com base na investigação rea-lizada pelo Instituto das Ciências daFamília (ICF) da Universidade deNavarra, o CENOFA e a AESEpropõem aos Alumni AESE e seusfamiliares e amigos uma formaçãointegral, dirigida ao desenvolvimen-to da pessoa como um todo.Possibilita aos principais gestoresda “empresa” Família, a oportuni-dade de, na tarefa de educaçãodos filhos em ambiente humano ecom cultura própria, aprender atomar as melhores decisões comvista à concretização de um Projeto

comum, definido pelos cônjuges, talcomo no trabalho que se realiza emqualquer empresa da qual se espe-ram os melhores resultados.

Através dos cursos de OrientaçãoFamiliar, muitas mães e pais defamília não só descobrem o seu“protagonismo” na educação dosseus filhos, como também cresceneles a necessidade de consolidaruma boa relação matrimonial.

Lúcia Vasco e Rita Rebordão sãoas Diretoras do Programa, que serealiza, às sextas-feiras, das20h45 às 23h00.

Programa30 de setembro | A Comunicação no casamentoModeradora: Margarida Góis Moreira

7 de outubro | Conciliação Família/TrabalhoModeradora: Maria de Fátima Carioca

21 de outubro | Finanças pessoaisModerador: Rafael Franco

4 de novembro | A Aliança do AmorModerador: António Gaspar

18 de novembro | Vida de FamíliaModerador: José Fraústo Ferreira

25 de novembro | Pessoa e sexualidade humanasModerador: Diogo Gonçalves8 CAESE setembro 2016

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Como dirigir a melhor empresa: a Família?

Lisboa, de 30 de setembro a 20 de novembro de 2016Programa de Direção Familiar na AESE

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Exigência no ensino é pauta do desempenho do país

Ao observar em diferentes países asolidez do seu desenvolvimento,indaguei como era a qualidade eexigência do seu ensino. Tornou--se-me evidente uma relaçãoestreita entre eles. Não bastamilhotas de qualidade, como algunscentros do ensino particular nopaís, mas deve alastrar-se e cobriro país todo, todas as escolas,incidindo no modo de pensar eatuar.

Porque o ensino cria hábitos detrabalho e de responsabilidadepessoal, que mais tarde têm reflexono desempenho profissional e nasorganizações que cada um échamado a comandar, moldando-aspara responderem ao que é a suarazão de ser.

Nas sociedades acomodadas, ondesó têm voz os medíocres,indispostos a qualquer esforço, que

falam mais do que trabalham, éfatal um nivelamento por baixo.Tipicamente, quando se querresolver problemas de insucessobaixando a fasquia da exigência,para fazer passar todos, é quandose criam frustrados e incapazes deprogredir. Porque ao estudante aquem se facilita passagem, emparticular nas matérias estrutu-rantes do pensar, vai avançando,com dificuldade crescente, sembases que nunca chegou a adquirir,acumulando incompetência, vendo--se empurrado, sem nenhumdomínio das bases necessárias.

Um razoável ou bom teste parapassar de ano ou entrar numdeterminado curso acaba por só tervantagens. No acesso aos estudosde Medicina, por exemplo, com aseleção baseada nos estudos,ainda que falível e incompleta, écontudo muito melhor do que não

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In “Público”, 20 de agosto de 2016

AESE nos Media

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Artigo de opinião do Prof. Eugénio Viassa Monteiro

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existir nada. E os resultados notam--se: a seleção leva os candidatos,determinados e com força devontade, a estudar com intensidadeao longo do ano, ganhando hábitosde trabalho que acompanham pelavida fora. E, depois do curso,acabam sendo bons profissionais,pelo saber que adquiriram com aaplicação, mas também com aexigência no seu trabalho, reflexoda que tinham antes de entrarempara a medicina.

Poderia pensar-se se não seriauma seleção demasiado apertada,pois há falta de médicos e algumexcesso deles não seria nada mau.Seja como for, hoje um doentesente-se em boas mãos..., no querespeita à preparação e ao ‘saber’dos médicos.

Por motivos diferentes, por sóhaver poucas instituições de EnsinoSuperior na admissão para osIndian Institute of Technology (IIT),na Índia, há quatro anos havia425 000 candidatos para 9500vagas (1 vaga por 45 candidatos).Durante um longo período, oscandidatos preparam-se intensa-

mente para conseguir entrar. E aadmissão no IIT é como umpassaporte para uma carreiraprofissional fulgurante e bemremunerada na Índia e muito maisnos EUA.

Para os que não entram, não éuma situação frustrante, depois detanto esforço? É. E importa que afamília não dê demasiadaimportância, nem ajude a criartensão, para o jovem não pensarque é um fracassado. Mas, a pardeste contra, os aspetos a favorsão muito importantes: todos osque se prepararam ficam num nívelde saber e de raciocínio muitosuperior ao do momento inicial dapreparação. E mesmo nãoentrando nos IIT, ao entrar numainstituição de segunda escolha,eles estão mesmo bem preparados.

Por falta de recursos veio ainsuficiência de faculdades para osestudantes que queriam prosseguiros estudos. Mas a boa qualidadedos que se formam em matériascientíficas, técnicas, médicas,informáticas, económicas, etc.,quando inseridos num modelo

económico que valoriza a iniciativa,faz empurrar a sociedade agrandes passos como acontececom a Índia a partir do ano 1991.

Após graves sofrimentos dapopulação, com a total destruiçãooperada pela colonização britânica,veio o pós-independência, com omodelo de socialismo indiano, quecastrou a iniciativa e respon-sabilidade pessoal. Contudo, houveformação de qualidade e muitoslicenciados nas melhores escolasda Índia foram produzir riqueza,saber e empregos nos EUA.Poderiam tê-lo feito na sua terra,enriquecendo-a, como agora jáestá a acontecer intensamente aohaver um espaço de liberdade e derealização para as iniciativas doscidadãos.

Prof. Eugénio Viassa MonteiroProfessor de Fator Humano naOrganização, na AESE

AESE nos MediaExigência no ensino é pauta do desempenho do paísPÚBLICO – 20.8.2016

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Sessão de continuidadeDa formulação à implementação da EstratégiaLisboa, 15 de setembro de 2016Saiba mais >

AGENDASessão de continuidade

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11 CAESE setembro 2016

EventoA Família cristã é uma utopia?Lisboa, 20 de setembrode 2016Saiba mais >

Sessão de continuidadeInternacionalização de empresasCoimbra, 22 de setembro de 2016Saiba mais >

SeminárioRendibilidade de clientesLisboa, 21 a 23 de setembro de 2016Saiba mais >

SeminárioGestão eficaz de projetosLisboa, de 27 a 29 de setembro de 2016Saiba mais >

Seminários

Evento

Evento6.º Torneio de GolfeBelas Clube de Campo, 1 de outubro de 2016Saiba mais >

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PANORAMA

Uma eloquente resolução da ONU sobre a famíliaPela terceira vez em três anos, oConselho dos Direitos Humanosda ONU aprovou uma resoluçãopara a proteção da família, destavez com um enfoque especialnas pessoas com deficiência. Aoposição da maioria dos paísesocidentais diz muito da sua ob-sessão para incluir a perspetivade género em qualquer textosobre o tema.

A resolução teve um apoio supe-rior ao das anteriores duas oca-siões (32 votos a favor, 12 contrae três abstenções), e descreve afamília como o “grupo fundamen-tal da sociedade e o meio naturalpara o crescimento e o bem--estar de todos os seus mem-bros, em particular das crianças”.

Além disso, critica que “continuaa não se ter devidamente emconta a contribuição da famíliapara a sociedade e a consecu-ção dos objetivos de desenvolvi-mento”. Concretamente, o textoreconhece que apoiar a institui-ção familiar tem efeitos positivosna promoção dos direitos daspessoas com deficiência, na di-minuição das taxas de abandonoescolar, na promoção da mulhere na sua igualdade com ohomem, ou na proteção contra aviolência ou o trabalho infantil,entre outras causas.

De modo especial, a resoluçãodestaca o papel das famílias naproteção dos deficientes. É no larque estas pessoas são valoriza-

das em si mesmas: daí que esteseja “o meio primário e maisimediato onde podem desenvol-ver o seu potencial e desfrutar deuma vida plena”.

O texto dedica alguns parágrafosa defender os dire i tos e adignidade das pessoas deficien-tes. Insta os Estados a “impedirqualquer forma de exploração,violência ou abuso”, e a “prevenira ocultação, o abandono, o des-cuido e a segregação destascrianças”. Chama a atenção aforça destas advertências, sobre-tudo tendo em conta que, emmuitos países (precisamente osque promovem resoluções pelosdireitos de certas minorias discri-minadas), é prática frequente o

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12 CAESE setembro 2016

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aborto de fetos aos quais foidiagnosticado síndrome de Down.

Na discussão das duas resolu-ções anteriores, em 2014 e 2015(cfr. “Aceprensa”, 15.7.2015), ospontos mais controversos foramos mesmos. Em primeiro lugar,alguns Estados queixaram-se deque os textos não reconheceramque os direitos humanos corres-pondem a cada indivíduo, e não àfamília como conjunto. Isto, nasua opinião, podia contribuir parao abuso dos mais pequenos, oudas meninas, sobretudo em deter-minadas culturas.

No entanto, a resolução recente-mente aprovada salienta que osdireitos dos pais comportam tam-bém responsabilidades, e que acriação dos filhos deve orientar-sesempre no seu interesse superior.Não há contradição entre apoiar afamília e cada membro em par-ticular.

O outro ponto polémico, queparece justificar a oposição de 12Estados, é que o texto não incluiuma referência aos diversos tiposde família. Na realidade, a queixarefere-se aos casais homosse-xuais, porque menciona sim, ex-

pressamente, os lares monopa-rentais.

Os países asiáticos, africanos elatino-americanos, que maioritaria-mente votaram a favor da reso-lução, rejeitaram incluir esta refe-rência, sem a qual o outro bloco –fundamentalmente a Europa, jun-tamente com a Coreia do Sul e oPanamá – não estava disponívelpara dar o seu apoio.

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13 CAESE setembro 2016

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PANORAMA

Fortes e débeis…Quando comentava a grandeeficiência do funcionamento do‘número de emergência’, EMRI(108), que é um sucesso na Índia,pelo alívio que leva a quem estáem apuros, veio-me ao pensa-mento uma frase de AndréMaurois, respeitante a si próprio,que li há tempos: “Não digais quesou forte ou fraco; realmente souforte e fraco.” (“Diálogos sobre omundo” – André Maurois, membroda Academia Francesa).

Quem criou o EMRI? Foi iniciativapessoal de Ramalinga Raju, em-presário, fundador da Satyam,empresa de TI, que chegou a sera 4.ª maior empresa de Tecnolo-gias de Informação da Índia, emfaturação. Efetuou um convite a

Venkat Changavalli para ser oDiretor-Geral e concretizar a ideiado EMRI-Emergency Managementand Research Institute, financiadopor R. Raju, em 2005.

Depressa o 108 demonstrou ser aresposta ansiada pelo cidadão,tão necessária, operando em par-ceria público-privada nos diferen-tes Estados (da Índia). Em menosde 6 anos, prestava serviço a umapopulação de 400 milhões; hoje,na Índia, mais de 900 milhões têmo benefício da sua ação rápida, nolocal da emergência.

Em 2009, Changavalli recebeuuma chamada urgente de R. Raju.Pedindo desculpas, anunciavaque se iria demitir de Presidente;

convocara uma conferência de im-prensa para denunciar a sua frau-de de ter criado $1000 milhõesfictícios na contabilidade da Sa-tyam, empresa cotada na Bolsa.

E pedia que Changavalli conti-nuasse no seu posto, procurandonovo financiador, para que a EMRInão se desmoronasse e conti-nuasse a expandir-se pelo país,com serviços tão apreciados, emespecial pelos mais pobres.

De facto, dois dias depois, Rajuera preso. Dada a dimensão daSatyam e da fraude, o Governonomeou uma Comissão gestora,para que a empresa não se desfi-zesse com a deserção de clientese colaboradores.

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14 CAESE setembro 2016

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Era uma situação única: Raju,transbordante de iniciativas, criaum conglomerado valioso, no qualbrilha a Satyam; promove uma‘entidade social’, público-privada,para acudir às emergências, algoque ninguém se lembrara defazer, nem o Governo, que tinhatal obrigação!

Dado o vibrante espírito empre-endedor, Raju necessitou dedinheiro para entrar em novosnegócios que criariam mais ri-queza e trabalho no país. Sefosse um burocrata sem iniciativa

a administrar um bem privado oupúblico, poderia viver sossegado eser condecorado.

Tudo o que Raju fizera de gran-dioso, num instante se desvane-ceu… Raju é um escroque! – dis-seram muitos… Pouco antes, eraum herói!

Raju foi condenado a 7 anos deprisão, donde saiu sob fiança.

É certo que só o empreendedorcria riqueza. Quando a iniciativa émuita, a ponto de ultrapassar a

linha divisória, para procurar di-nheiro, ele não mereceria serdesculpado, em face do bem feitoantes? Talvez… Mas, se assimfosse, não se estaria a dar asas àcorrupção?

Por causa dela, há países onde odispêndio de enormes recursospara elevar a vida dos pobresredunda em nada. Veja-se oBrasil…

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Em contraste, Singapura tem ‘cor-rupção zero’, dizem; e progrediuda situação miserável, no fim dacolonização inglesa, até ser hojeum dos países mais ricos eorganizados, com regras que to-dos cumprem com rigor; pareceum exagero, mas é um sucesso,pois é muito rica!

Singapura e Brasil mostram comonão é nada indiferente convivercom a fraude; ela tem altíssimoscustos: o país fica encalhado e ospobres ficam mais pobres ainda!

A fraude impune cria um ambientede pirataria: tudo está a saque e é

‘inteligente’ quem mais rouba! Es-palha-se como uma gota de óleo àsuperfície da água e pode fazeresquecer as exigências éticas,generalizando um clima permis-sivo.

Pelo contrário, a justiça célerereforça a ideia de que não com-pensa tomar decisões incorretas.Na Índia ou na Europa…

Há quem tenha prestado grandesserviços à Sociedade, dignos delouvar. Se teve debilidades, nadamais natural do que responder porelas… e arcar com as responsa-bilidades todas. A vontade deve

ser educada pelo cultivo dasvirtudes, para se decidir maisfacilmente por aquilo que é corretofazer, sempre. E evitar o que atraie dá vantagens materiais, sacrifi-cando o que é justo. Decisõesinjustas prejudicam muito mais oseu autor, em primeiro lugar; mastambém os outros e a sociedadeinteira.

Eugénio Monteiro(“Gerir & Liderar”, 2.8.2016)

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16 CAESE setembro 2016

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PANORAMA

Declaração de intelectuais sunitas sobre liberdade religiosaA escola de pensamento Makas-sed, vinculada à autoridade máxi-ma sunita do Líbano, Dar el--Fatwa, defendeu na Declaraçãode Beirute sobre a liberdadereligiosa, o direito dos cristãos doMédio Oriente a viverem de acor-do com as suas crenças econdenou a violência em nome dareligião. A Declaração adotada háalguns meses, foi traduzida paravários idiomas pela agência“AsiaNews”.

“A fé religiosa é uma livre escolhae um livre compromisso. É umdireito de cada pessoa”, protegidopelo Alcorão, o qual afirma que“não deve haver coação na reli-

gião” (Al-Baqara 256), asseguramos autores da declaração.

Por isso, “negar às comunidadescristãs o direito ao exercício dasua liberdade religiosa e destruiras suas igrejas, os seus mosteirose as suas instituições educativas esociais, é contrário aos ensina-mentos do Islão e uma claraviolação dos seus princípios, dadoque esses abusos são cometidosem seu nome”.

A declaração pede aos cristãosque não abandonem a região,mas que permaneçam “junto dosseus irmãos muçulmanos”.

A liberdade religiosa não é umaconcessão das autoridades, masum direito de cada pessoa emvirtude da sua “dignidade comoser humano”. Cada qual “é direta-mente responsável perante Deuspelo exercício da sua liberdade. Éum direito humano que devecontar com a proteção do Estado”.

Consequentemente, ninguém po-de ser perseguido nem discrimina-do por razões de fé: “Aos olhos doAlcorão, ninguém tem direito adeclarar a guerra a alguém devidoàs suas crenças, nem a expulsardos seus lares um povo ou umacomunidade, nem de privá-los dassuas terras”.

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O documento além de exigir orespeito pela liberdade religiosa,defende o direito à participaçãopolítica e social dos cristãos. Emsintonia com a Declaração sobreas liberdades fundamentais, ela-borada pelo Al-Azhar, outro ba-luarte teológico dos sunitas, re-corda que o Islão “não impõe umregime político específico e nãoapoia um Estado religioso. Emqualquer sociedade, o sistemapolítico é a construção dos cida-dãos dessa sociedade, muçulma-nos ou não”.

“Portanto, considerar um sistemapolítico concreto como sagrado e

infalível, ou como uma questãoreligiosa, é uma má interpretaçãoda religião e uma imposição aosoutros.

O documento termina sublinhandoque o Islão não pode ser umobstáculo para a liberdade políticae religiosa. “Somos parte destemundo, e aspiramos a dar umcontributo positivo para o seuprogresso. Não temos medo doresto do mundo e não queremosser uma fonte de medo para osoutros. Não queremos isolar-nosdo resto do mundo e não que-remos que o mundo se isole denós”.

Não é a primeira vez que umgrupo de teólogos e intelectuaismuçulmanos assume a defesa daliberdade religiosa (“Aceprensa”,10.11.2008). Mas é significativoque uma instituição com tantaautoridade no mundo muçulmanose expresse com esta clarezasobre a liberdade de pensamento,de consciência e de religião.Também se deve ter em conta queesta declaração foi produzida noLíbano, país onde existe umaexperiência secular de convi-vência entre muçulmanos e cris-tãos.

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PANORAMA

Parlamento e médicos britânicos rejeitam o suicídio assistidoA Câmara dos Comuns rejeitouem setembro de 2015, por umaampla maioria de 330 votos contra118 um projeto de lei que pre-tendia legalizar o suicídio assis-tido, sob certas condições, emInglaterra e País de Gales (o Par-lamento britânico, no total, deba-teu e rejeitou mais de dez pro-postas). Embora o então primeiro--ministro britânico David Cameronfosse contra a iniciativa, os de-putados tories – como os dasrestantes formações políticas –tiveram liberdade para não seguira orientação do seu partido.

O projeto de lei de morteassistida, proposto pelo deputado

trabalhista Rob Marris, era umaréplica da versão aprovada pelaCâmara dos Lordes (“Aceprensa”,18.11.2014). Na dos Comuns,todavia, não passou a segundaleitura.

Também há alguns meses, oParlamento da Escócia rejeitouum projeto de lei parecido. NaIrlanda do Norte, o suicídio assis-tido continua proibido por decisãodo Supremo Tribunal, que senten-ciou no início de 2013, que “nãoexiste o direito ao suicidio” (cfr.Aceprensa, 21.1.2013).

A iniciativa de Marris permitia aosdoentes terminais adultos, com

uma esperança de vida inferior aseis meses, receber assistênciapara o suicídio, sempre que o pe-dissem de forma “clara e insis-tente”. O pedido seria aprovadopor dois médicos, um dos quaisajudaria a pessoa a morrer. Maseste estava proibido de adminis-trar diretamente o tratamento letal.Uma emenda acrescentada aoprojeto durante a sua passagempela Câmara dos Lordes exigia,além disso, que um juiz supervi-sionasse que o doente cumpriatodos os requisitos.

Para o deputado tory DominicGrieve, ex-procurador-geral da In-glaterra e País de Gales, o projeto

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de lei apresentado pelo deputadotrabalhista contradizia o princípiode “não fazer dano” – sobre o qualse baseia a ética médica – e avisão que a sociedade tem sobreo suicídio.

Segundo essa visão, os que ten-tam suicidar-se devem ser trata-dos com compaixão e ajuda. “Maso suicídio não é algo que deva serpromovido, nem muito menosassistido. Por isso, temos estraté-gias de prevenção e alerta. Lega-lizar a ajuda ao suicídio em certascircunstâncias é ir contra essesvalores, miná-los”, explicava numartigo publicado no “The Tele-graph” no próprio dia da votação.

“As leis são algo mais do quesimples instrumentos regulamen-tadores. Transmitem importantes

mensagens éticas. Quando algo élegalizado pelo Parlamento, issoajuda a que adquira um selo deaprovação social. Uma lei de‘morte assistida’ envia ao doenteterminal a mensagem de quesuicidar-se é uma opção que deveser considerada e algo que podeser legitimamente promovido”.

Outra voz crítica do projeto de leié a de Zara Aziz, uma médica defamília de Bristol. “Como médicos,fomos formados para salvar vidasou aliviar o sofrimento através daprática médica, não para tirar vi-das”, escreve no “The Guardian”.Por isso, não é estranho que amaioria dos médicos britânicos seoponham à lei proposta.

E menciona um inquérito de 2015,onde 82 % dos médicos britânicos

especializados em cuidados palia-tivos se declaravam contra alterara lei de 1961, que proíbe tanto aeutanásia como o suicídio assis-tido. Na mesma linha, Grieve cita-va um inquérito em que apenasum em cada sete clínicos geraisdiziam estar dispostos a corres-ponder a um pedido de ajuda paramorrer.

Para Aziz, as leis de suicídioassistido incorporam sempre “apossibilidade real da coação –implícita ou explícita – que ami-gos, familiares e mesmo profissio-nais de saúde podem exercersobre os doentes quando sãoencarados como um encargo”.Perante este perigo potencial, re-corda que “os pacientes devem tera confiança e a garantia de que[nós, os médicos] estamos do seu

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lado”. E conclui: “O suicídio assis-tido não deveria ser uma alter-nativa barata a cuidados paliativosde qualidade”.

Uma iniciativa promovida por umaorganização pró-eutanásia, pediaque a British Medical Association(BMA) se declarasse neutral emrelação ao suicídio assistido,como fizeram outras associaçõesde médicos, por exemplo, naCalifórnia. No entanto, quase doisterços dos delegados votaramcontra. Foi a oitava vez em trezeanos que a principal organizaçãomédica britânica se pronunciousobre este tema.

A assembleia anual da BMArejeitou em junho de 2016, aproposta para alterar a posição

oficial da associação sobre osuicídio assistido, por maioria de198 contra 115.

O resultado não chega a sersurpresa. Vários inquéritos já ti-nham assinalado o escasso apoioao suicídio assistido dentro dacomunidade médica do ReinoUnido. A oposição é maioritáriatambém entre as principais asso-ciações de clínicos gerais e geria-tras. Especialmente significativa éa rejeição (82 %) entre os enfer-meiros que se dedicam a cuida-dos paliativos, os quais têm umcontacto muito próximo com ospacientes mais vulneráveis.

Apesar de todos estes preceden-tes, a organização HealthcareProfessionals for Assisted Dying

(vinculada ao grupo Dignity inDying) voltou a forçar uma vota-ção na recente assembleia daBMA. Tal como fizeram noutroslugares, o lobby pró-eutanásia nãopedia aos médicos que se pronun-ciassem a favor do suicídio assis-tido, mas simplesmente que sedeclarassem neutrais. A estra-tégia funcionou noutros sítios: amudança de posição no ramocaliforniano da AMA, a principalassociação médica dos EUA, foicitada pelo governador do estadocomo um dos motivos para lega-lizar esta prática, e levou a que omesmo debate esteja a ser pers-petivado agora no plano nacional.

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A BMA também se declarouneutral durante alguns meses em2005-2006. Este período coincidiucom o debate da chamada “leiJoffe” (a partir do nome dodeputado que a propôs), onde aassociação viu limitada a suacapacidade para influir na dis-cussão. Num artigo publicado re-centemente, o Dr. Peter Saunders,presidente da Christian MedicalFellowship, explicava como aexperiência daquele breve períododeveria servir de aviso para nãorepetir o mesmo erro na votaçãoproposta agora.

Um argumento parecido utilizouem 2012 o ex-presidente da BMA,Hamish Meldrum, perante outraproposta de neutralidade: “Pensoque esta seria a pior opção detodas. A neutralidade iria excluir--nos do debate num assunto queafeta imenso a profissão médica”.“Digo isto não por convicçõesreligiosas, mas porque nos meusmais de 40 anos de profissão,pude sempre atender os meuspacientes com dignidade semnecessidade de lhes encurtar avida”.

A partir de alguns meios tentou-sepressionar a BMA salientando oapoio que o suicídio assistido temna sociedade. Todavia, os médi-cos defenderam-se com um argu-mento deontológico: por muito queuma pessoa ou a maioria do paísconsidere que uma vida nãomerece a pena, o trabalho domédico é curar, ou pelo menoscuidar, os seus pacientes.

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PANORAMA

“A Ponte dos Espiões”“Bridge of Spies”

Realizador: Steven SpielbergAtores: Tom HanksDuração: 145 min.Ano: 2015

Steven Spielberg realiza mais umfilme baseado em factos reais,com Tom Hanks no papel de umadvogado que, durante a “GuerraFria”, vai desempenhar difíceisfunções.

Em 1957, é capturado um espiãosoviético. Os Estados Unidos vãojulgá-lo, mas precisam de alguémque o defenda. Surge então oadvogado Donovan, que contra a

opinião pública e a pressão dosseus pares, consegue a prisãoperpétua e evitar a condenação àmorte do seu cliente. Mais tarde,em 1960, um piloto americano éabatido em território da URSSdurante um voo de espionagem. Ogoverno americano escolhe entãoeste mesmo advogado para tentarefetuar a troca dos dois espiões.Entretanto, um estudante america-no fica preso em Berlim Leste aonão conseguir fugir antes do fechodo “muro de Berlim” e torna-semais um refém.

Este advogado é escolhido por serum homem íntegro, um “standingman”. Ele não vai cumprir a sua

missão ao estilo “já está, já fiz oque me pediram”. Ele quer cum-prir o seu dever através de solu-ções completas e não apenassetoriais. Estuda os problemas.Quando parte para as negocia-ções sabe identificar os pontosfortes e fracos do outro. Conseguever para além do que é dito, peloque prefere negociar “ao vivo”.Fala com todas as partes em jogo.Dá feedback, ouve e depois insis-te com as suas propostas. Sabe“pesar” o risco... e vence!

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Tópicos de análise:

1. Saber ouvir “o outro” ajuda acriar empatia e gera confiança.

2. Negociar “ao vivo” é mais efi-caz para se “adivinhar” a solu-ção.

3. A persistência torna-se maiscriativa quando se luta por algojusto.

Hiperligação

Paulo Miguel MartinsProfessor da AESE

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DOCUMENTAÇÃO

Para o trabalhador do serviço doméstico, salário justo e igualdade de direitosChegar a casa e encontrar aroupa passada, os quartos esme-radamente limpos e o jantar servi-do não é, em nenhum caso, ofruto de um duende que entroupor uma janela e se foi emborasem esperar por qualquer paga-mento. É o rasto que deixam atrásde si em muitos sítios os trabalha-dores do serviço doméstico – eprincipalmente as trabalhadoras –,uma força de trabalho que, seobservada com atenção, está nabase do êxito profissional e doslouros assumidos por outros.

Felizmente, são cada vez mais osque “olham com atenção” e dete-tam quais são os problemas mais

prementes deste setor, e traba-lham para os remediar. A própriaOrganização Internacional doTrabalho (OIT), em junho de 2011,incluiu num documento, a Con-venção 189, um conjunto de re-gras pelas quais devem guiar-seos Estados a fim de garantir osdireitos dos trabalhadores do ser-viço doméstico.

A situação, no entanto, é aindabastante suscetível de melhoria.Um recente relatório do organismomultilateral salienta que o serviçono lar se tem caraterizado tradicio-nalmente pelas precárias condi-ções laborais, pelos horários ex-tensos, pelos baixos salários, por

serem forçados a executar tarefasnão acordadas nos contratos, epela pouca ou nula proteção so-cial.

Sucedeu, mas continua a suceder:“Os trabalhadores do serviço do-méstico expõem-se a condiçõesdistantes do trabalho decente esti-pulado pela OIT. (…) Isso refletemuitas vezes a ausência de leisadequadas e a ausência de umaaplicação efetiva daquelas que jáexistem”.

Entre os seus dados de interesse,o estudo sublinha que, dos 67 mi-lhões de trabalhadores do serviçodoméstico que há hoje no mundo,

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55 milhões são mulheres, e que41 % desta força laboral se en-contra na Ásia e 27 % na AméricaLatina. Além disso, 60 milhõesnão gozam de cobertura algumapor parte dos sistemas nacionaisde segurança social, uma reali-dade que não é privativa depaíses em vias de desenvolvimen-to. Em Itália, 60 % dos trabalha-dores do serviço doméstico nãoestão registados, algo que serepete em França e Espanha, em-bora em proporção bastante me-nor: 30 %.

Há avanços. No caso da Espanha,desde 2012 que o Regime Espe-cial da Segurança Social dosTrabalhadores do Serviço Domés-tico ficou incluído no RegimeGeral dos restantes trabalhadores(ver “Aceprensa”, 13.7.2011). Massubsiste uma arbitrariedade sem

pés nem cabeça, pois embora ostrabalhadores do serviço domés-tico façam descontos – e omesmo se passa com os seusempregadores –, não têm direito asubsídio de desemprego. Comose, diversamente dos restantesmortais, estar no desemprego nãolhes causasse nenhum contra-tempo, nem terem faturas parapagar.

Párias entre os párias

No setor, verificam-se, além disso,certas circunstâncias ainda maiscomplexas. Ser trabalhador doserviço doméstico é uma coisa,mas ser além disso imigrante éoutra. E não para melhor. Segun-do a OIT, que calcula em 11,5milhões o número global detrabalhadores do serviço domés-tico imigrantes, estes devem cum-

prir horários laborais ainda maisabusivos do que os seus paresnacionais.

Acrescente-se a isto, que dospaíses a garantir algum tipo deproteção aos trabalhadores dosetor, 14 % não alargam esses di-reitos aos que chegam de fora.Párias entre os párias.

Marrocos é um caso interessante.Desde dezembro de 2015, o reinoalauíta proíbe as suas cidadãs deassinarem qualquer tipo decontrato laboral com potenciaisempregadores da Arábia Saudita.O objetivo é manter as marro-quinas a salvo de eventuais “situa-ções comprometedoras” no paísdo Golfo Pérsico, embora nãohaja pormenores de quais pudes-sem ser estas.

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O Relatório 2016 da HumanRights Watch dá-nos pistas.Segundo o relatório, as trabalha-doras do serviço doméstico so-frem todo o tipo de excessos,desde a obrigação de trabalharpara fora, até à retenção do salá-rio, a privação de alimentos eabusos físicos, psicológicos esexuais, que as autoridades sau-ditas se esforçam muito pouco eminvestigar. Quando o fazem, nasequência de uma denúncia, osempregadores costumam contraprocessar e acusar as suas em-pregadas de roubo, magia negraou bruxaria.

O paradoxal é que a preocupaçãode Rabat para que as suastrabalhadoras no estrangeiro nãopassem por essa via-sacra,diminui bastante quando as recla-mantes são as trabalhadoras es-

trangeiras em solo marroquino.Um grupo que se destaca nelas éo das cerca de 3000 filipinastrabalhadoras do serviço domés-tico, recrutadas por famílias mar-roquinas de bons recursos econó-micos para, entre outros deveres,trabalharem como amas, dado oseu domínio do inglês.

Ora, à semelhança das arbitrarie-dades sofridas pelas magrebinasna Arábia Saudita, também bas-tantes filipinas em Marrocos seveem encurraladas, seja porqueos seus empregadores não lhespagam o acordado, seja porqueas submetem a maus-tratos físi-cos, as privam da alimentaçãodevida ou lhes retêm o passaportese querem ir-se embora.

O governo de Marrocos nãoparece que tenha estado dema-

siado preocupado com o bem--estar dessas imigrantes, e talveztão-pouco haja a esperar muitodele. De facto, em maio desteano, o seu Parlamento aprovouuma lei para aumentar unicamen-te de 15 para 16 anos a idade aque uma jovem pode trabalhar noserviço doméstico, apesar de gru-pos dos direitos humanos terempedido que a barra passasse paraos 18 anos, para evitar a explora-ção das menores.

Se o trabalho como amas demeninas de oito anos é algobastante comum em Marrocos,alguém vai protestar por traba-lharem nisso raparigas de 16? Fá--lo-ão por acaso, por una filipinaacorrer com hematomas a umaesquadra policial?

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Um trabalho seguro, com pau-sas que se respeitem

Para um inspetor do trabalho que,sem demasiados obstáculos, visi-ta uma fábrica ou uma empresade qualquer tipo, pode tornar-sedifícil supervisionar o que está pordetrás das paredes de uma habi-tação, que é o posto de trabalhoe, em não poucas vezes, a mora-da do trabalhador do serviço do-méstico. Essa fronteira do privado,da qual está consciente o empre-gador, é bastantes vezes tentaçãopara impor regras injustas.

Há, todavia, normas a cumprir: asexpostas na mencionada Conven-ção 189, nem sempre implemen-tadas pelas autoridades nacionais,que entre outras garantias devemassegurar:

1. Que os trabalhadores do ser-viço doméstico menores de 18anos, mas maiores do que aidade mínima para esse tra-balho, não sejam privados daescolaridade obrigatória, nemvejam comprometidas as suasoportunidades para aceder aoensino superior ou a uma for-mação profissional (Artigo 4).

2. Que os trabalhadores do ser-viço doméstico sejam infor-mados sobre as suas condi-ções de trabalho de modoadequado, verificável e com-preensível, através de con-tratos escritos, onde se refira aremuneração, a periodicidadedos pagamentos, as fériasanuais pagas e os períodos dedescanso diários e semanais(Artigo 7).

3. Que estes trabalhadores rece-bam um tratamento igual aosrestantes trabalhadores quantoa horário laboral, remuneraçãodas horas extraordinárias, pe-ríodos de descanso diários,semanais (que não podem serinferiores a 24 horas conse-cutivas), e férias anuais pagas,de acordo com a lei nacional eas caraterísticas especiaisdesta profissão (Artigo 10).

4. Que lhes seja garantido umambiente de trabalho seguro esaudável (Artigo 13).

Estas e outras disposições, coe-rentes com o mais elementarsentido de justiça foram ratifica-das até há pouco por 22 dos 187países que assinaram a Conven-ção; deles, 12 são latino-america-nos e 7 europeus.

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Interno e imigrante? Coisa ne-gativa

Enquanto os governos não tomammedidas, as trabalhadoras e ostrabalhadores do serviço domés-tico vão-se coordenando em diver-sas partes do mundo para fazervaler os seus direitos. É assimque a Federação Internacional deTrabalhadores do Serviço Domés-tico, fundada em 2013, agrupahoje 47 organizações de 43países da Europa, América Latina,sudeste da Ásia e África, assimcomo dos EUA.

Somente neste último país, aNational Domestic Workers Allian-ce (NDWA) tem 53 organizaçõesfiliadas que velam pelos interes-ses de 20 000 amas, trabalhado-res do serviço doméstico e assis-tentes de idosos. Um número

muito pequeno, pois segundo o“The Christian Science Monitor” –que cita dados do EconomicPolicy Institute – há dois milhõesde pessoas a trabalhar em tarefasdeste cariz em todo o país.

De todos eles, os que têm maisproblemas são os que desenvol-vem o seu trabalho como internos.A denominada Lei sobre as Nor-mas do Trabalho Justo, que datade 1938 e que estabelece o salá-rio mínimo, os pagamentos porhoras extraordinárias e os regula-mentos laborais a seguir nos âm-bitos público e privado, não abar-ca os que vivem em casa dosseus empregadores. Se, além dis-so, os trabalhadores são imigran-tes, os problemas duplicam.

Uma minuciosa sondagem daNDWA, efetuada a pouco mais de

2000 trabalhadores e trabalha-doras do serviço doméstico em2012, em 14 cidades de diferentesdimensões populacionais – desdea californiana São José até NovaIorque –, constatou que 47 % dostrabalhadores do serviço domés-tico eram indocumentados, e que11 % eram live-in workers, isto é,trabalhavam e literalmente viviamno posto de trabalho.

Destes internos, 67 % recebiamsalários inferiores ao salário míni-mo. No seu caso era frequente aausência de limites à jornadalaboral, o não poder dormir osuficiente, a falta de privacidade,as restrições de deslocação e apossibilidade, duas vezes maiordo que a dos trabalhadoresexternos, de sofrer abusos ver-bais.

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Para eles e para os restantes, aNDWA tem uma proposta: “Join ustoday”, “Junte-se a nós hoje”. Mastalvez a sua ainda pequena listade filiados seja a melhor mostrada dificuldade que é gastar asescassas horas de descanso parase juntar em redor de uma causajusta.

Mais classe média, mais traba-lhadores do serviço doméstico

Um pouco mais a Sul, na AméricaLatina, também os trabalhadoresdo serviço doméstico se coor-denam para satisfazer as suas

exigências. Um documentário, inti-tulado “Día de descanso” e filma-do no México, ilustra os esforçosdas trabalhadoras do serviço do-méstico para se fazerem ouvir poraqueles que tomam as decisões.“Por detrás de cada deputado háuma trabalhadora do serviço do-méstico!”, clamam as manifestan-tes, e não lhes falta razão. Porisso, exigem que esses decisoresse mexam.

As iniciativas organizativas nosubcontinente são muito variadas.No país azteca, MarcelinaBautista, uma jovem que foi de

Oaxaca para a Cidade do Méxiconos anos 80, e a quem os seusempregadores lhe recordavamconstantemente que “tu vales me-nos do que nós”, começou ainteressar-se pouco a pouco pelasleis laborais, à medida que iaconhecendo outras mulheres emsituação idêntica. No ano 2000,Bautista fundou o Centro deApoyo y Capacitación para Em-pleadas del Hogar (CACEH), entrecujos objetivos está conseguir queo Estado e a sociedade reconhe-çam o contributo económico destetrabalho e os direitos dos que orealizam.

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Outros programas e associaçõesda América Latina são o SindicatoNacional de Trabajadoras delServicio Doméstico, na Colômbia;a Asociación de Trabajadoras delHogar, da República Dominicana,e vários sindicatos regionais noPeru, alguns deles surgidos emresultado da crescente procura detrabalhadoras do serviço domés-tico que gerou a passagem de 56milhões de agregados familiarespara a classe média devido à “luade mel” económica que a regiãoviveu recentemente, graças àssuas abundantes matérias-primas.

María José Chamorro, especia-lista da OIT, explica que, aoentrarem mais mulheres na forçalaboral durante os anos de bonan-ça, provocou nos lares uma “crisede assistência”, que as trabalha-doras do serviço doméstico – emgeral, mulheres pobres, sem ins-trução e pertencentes a minoríasétnicas muito desfavorecidas –têm vindo a mitigar.

São os paradoxos do desenvolvi-mento: que por trás da criação deriqueza, das estratégias macro-económicas para implementar nasnossas sociedades existem, além

dos grandes talentos, pessoasdesconhecidas mas concretas quegarantem a ordem, a limpeza dolar, os cuidados para com osidosos…

Só resta recordar que tambémtêm direitos.

L. L.

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31 CAESE setembro 2016

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DOCUMENTAÇÃO

O “estigma” de ser trabalhador do serviço domésticoSer trabalhadora do serviço do-méstico exige, em muitos casos –e tanto faz no norte como no suldo planeta –, não apenas saberempunhar uma vassoura ou pre-parar dois pratos e sobremesapara jantar. É também ter de lidarcom injustiças no posto de tra-balho e com a indiferença dosque, na política, entendem que sertrabalhador do serviço domésticonão é suficientemente sério paraque o Parlamento dedique umahora de sessão de modo a fazermelhorar a vida deste grupo labo-ral.

“O principal problema do setor é abaixa proteção laboral e social”,

precisa à “Aceprensa”, FabioDurán Valverde, especialista prin-cipal de Proteção Social da OIT,em Genebra. “Nós classificamos otrabalho do serviço domésticocomo ‘grupo de difícil cobertura’,por uma série de razões, como ofacto do trabalho se realizar numlar privado, o que dificulta asinspeções. E também encontra-mos a irregularidade dos seusrendimentos, o pagamento dosalário em espécie, que afeta abase para calcular outras presta-ções sociais, como as férias, ainexistência de um contrato detrabalho formal, e a variabilidadena quantidade de horas traba-lhadas”.

Segundo o especialista, outrassituações complexas são a dotrabalhador que vive na mesmacasa onde trabalha, o que lhe criauma dependência da família em-pregadora e lhe faz perder capaci-dade negociadora para exigir direi-tos, e a daquele que trabalha atempo parcial, situação em quelhe é mais difícil obter coberturapor parte da segurança social,seja porque a legislação estabele-ce barreiras, seja porque o empre-gador não quer assumir totalmen-te o custo do pagamento dascontribuições sociais”.

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– Em que regiões é mais paten-te esta desproteção?

– Principalmente na Ásia e África.O facto do trabalho do serviçodoméstico ser ainda mais difícilnessas zonas tem a ver com osseus maiores índices de pobreza.Quem procura emprego, tem me-nos possibilidade de negociaçãoao fazer a sua oferta, e os quecontratam, muitas vezes têm tam-bém baixa capacidade de pa-gamento ou para cumprir com osdireitos do trabalhador.

Existe, além disso, o fator da mi-gração interna. É o caso da traba-lhadora do serviço doméstico quechega do campo à cidade, quedesconhece a situação e nãopode negociar. Aquilo de que ne-cessita é um lugar onde viver. Istocria condições muito desiguais

quanto à sua situação laboral. Porúltimo, também têm influência as-petos de índole cultural. Em geral,existe em todo o mundo discrimi-nação para com o trabalho doserviço doméstico e uma baixavalorização deste, que nalgunspaíses nem sequer é consideradouma profissão. Isso deixa marcanos enquadramentos jurídicos,que refletem esta conceção que asociedade tem.

– No mundo desenvolvido tam-bém há carências. Nos EUA, ostrabalhadores do serviço do-méstico internos não estãoabrangidos totalmente pela le-gislação laboral em vigor, en-quanto em Espanha é negado osubsídio de desemprego aostrabalhadores do serviço do-méstico que ficam sem traba-lho…

– Há um estigma, uma desvalori-zação social, que pesa muito. Épsicologia social, que lamentavel-mente se traduz na configuraçãodas legislações. Em certos paísesexiste discriminação jurídica emalgumas prestações ou direitos,estabelecidos na Convenção 189[da OIT, que regula as normasinternacionais sobre o trabalho doserviço doméstico]. Isso tem ori-gem no pensar que, eliminandoalguns benefícios da segurançasocial, pode tornar-se mais aces-sível o financiamento, para o em-pregador como para o trabalhador.Não dizemos que isto seja bom oumau. Observamos apenas que al-guns países seguem essa estraté-gia de limitar as prestações, dadoque há um problema de baixa ca-pacidade contributiva em muitoslares que empregam trabalhado-res do serviço doméstico.

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Por outro lado, temos paíseseuropeus muito desenvolvidos emtermos de segurança social, comoé o caso de Espanha, com umsistema exemplar na matéria eque, no entanto, apresentam umaelevada taxa de falta de cobertura.Não é um tema apenas de paíspobre ou de país desenvolvido.Afeta a todos nalguma medida.

– O acordo mencionado por sitem já 5 anos, mas muito pou-cos o ratificaram. A que podedever-se?

– A ratificação das convenções éum processo demorado. Enten-demos que a desta convençãoestá a andar bastante depressa.Até agora temos 22 países, numtempo que consideramos relativa-

mente curto desde que foi adota-da. Há outro grupo de convençõesonde se observa uma taxa deratificação muito menor, apesar deterem contado com um prazo mui-to mais amplo. Temos de conti-nuar a trabalhar.

L. L.

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