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REFORMA ORTOGRÁFICA APOIO 5 1 Material de Apoio. Objetivo: Fazer uma reflexão a respeito da ortografia da Língua Portuguesa e sobre as novas propostas de reforma da língua. Gramático Evanildo Bechara defende novo acordo ortográfico Evanildo Bechara tinha 11 anos quando cometeu seu primeiro erro de tradução. Viajando de Pernambuco para o Rio de Janeiro, de navio, o garoto que se tornaria um dos gramáticos mais famosos do Brasil fez uma parada em Salvador. Entrou num restaurante e pediu um vatapá. O garçom perguntou como ele queria o prato. Bechara respondeu: "bem quentinho", como era costume fazer-se em sua terra para determinar a temperatura da comida. Acabou tendo de engolir um bocado com muita pimenta. Foi então que as lágrimas brotaram de seus olhos. "Aprendi na pele que "bem quentinho", na Bahia, era "bem apimentado". Por conta desse episódio e de outros que vivi quando minha família me mandou para o Rio para estudar, passei a me interessar pelas diferenças que a língua portuguesa tem em diferentes lugares. Aí virei professor, viajei, dei aulas no exterior, lancei meus livros e cheguei aqui", resume. Bechara, 80, hoje ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2000, e tem uma dura tarefa pela frente. A partir de 1º de janeiro de 2009, quando as regras do Novo Acordo Ortográfico entrarem em vigor em oito nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, será ele a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis querelas e pendências com relação ao modo como os brasileiros terão de passar a escrever. "Não me sinto confortável nessa posição. É muito incômodo. E é claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz", disse na sede da instituição, no Rio. As regras têm como objetivo unificar as diferentes grafias que o português tem nos países em que é língua oficial. Elas começarão a ser aplicadas em janeiro de 2009, mas as atuais continuarão sendo aceitas até dezembro de 2012. No caso brasileiro, as principais mudanças serão a eliminação de alguns acentos e do trema e a adoção de outras regras para a hifenização. "Tem gente fazendo tempestade em copo d'água. Já passamos por cinco reformas e nunca houve um grande trauma. E mais, o Brasil sempre foi quem mais cedeu até hoje. Nesta reforma, está acontecendo o contrário, os outros

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Material de Apoio. Objetivo: Fazer uma reflexão a respeito da ortografia da Língua Portuguesa e sobre as novas propostas de reforma da língua. Gramático Evanildo Bechara defende novo acordo ortográfico Evanildo Bechara tinha 11 anos quando cometeu seu primeiro erro de tradução. Viajando de Pernambuco para o Rio de Janeiro, de navio, o garoto que se tornaria um dos gramáticos mais famosos do Brasil fez uma parada em Salvador. Entrou num restaurante e pediu um vatapá. O garçom perguntou como ele queria o prato. Bechara respondeu: "bem quentinho", como era costume fazer-se em sua terra para determinar a temperatura da comida. Acabou tendo de engolir um bocado com muita pimenta. Foi então que as lágrimas brotaram de seus olhos. "Aprendi na pele que "bem quentinho", na Bahia, era "bem apimentado". Por conta desse episódio e de outros que vivi quando minha família me mandou para o Rio para estudar, passei a me interessar pelas diferenças que a língua portuguesa tem em diferentes lugares. Aí virei professor, viajei, dei aulas no exterior, lancei meus livros e cheguei aqui", resume. Bechara, 80, hoje ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2000, e tem uma dura tarefa pela frente. A partir de 1º de janeiro de 2009, quando as regras do Novo Acordo Ortográfico entrarem em vigor em oito nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, será ele a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis querelas e pendências com relação ao modo como os brasileiros terão de passar a escrever. "Não me sinto confortável nessa posição. É muito incômodo. E é claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz", disse na sede da instituição, no Rio. As regras têm como objetivo unificar as diferentes grafias que o português tem nos países em que é língua oficial. Elas começarão a ser aplicadas em janeiro de 2009, mas as atuais continuarão sendo aceitas até dezembro de 2012. No caso brasileiro, as principais mudanças serão a eliminação de alguns acentos e do trema e a adoção de outras regras para a hifenização. "Tem gente fazendo tempestade em copo d'água. Já passamos por cinco reformas e nunca houve um grande trauma. E mais, o Brasil sempre foi quem mais cedeu até hoje. Nesta reforma, está acontecendo o contrário, os outros

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países, Portugal principalmente, é que estão cedendo mais", diz. De todas as mudanças, as que regulam o uso do hífen têm causado mais polêmica. Bechara explica que a idéia, de um modo geral, foi a de "suavizar" sua utilização. "Como um homem comum, que não é um gramático nem tem formação técnica sobre a língua, pode saber, por exemplo, que uma expressão é um substantivo que em outros casos pode ter outra função? Ao tirarmos os hífens, estamos facilitando a sua vida." Contexto O gramático explica que o espírito das novas regras é deixar que o contexto explique aquilo que a ortografia não alcança. É o caso, por exemplo, da contestada retirada de acento de "pára", do verbo "parar". Como diferenciá-lo da preposição "para"? "Bem, quando se diz "manifestação para avenida", fica bastante claro que se trata do verbo, porque os outros elementos na frase levam a essa dedução", diz. O caso dos ditongos que perdem o acento, como "idéia", também causaram estranhamento. "Não é possível termos duas grafias diferentes para o mesmo tipo de formação. Por que "aldeia" não tem e "idéia", sim?" Bechara acha que a retirada do acento não vai confundir, por exemplo, crianças em processo de alfabetização. "O primeiro aprendizado de uma pessoa é sempre imitativo. Depois vem a reflexão. Quando ela for aprender a escrever, já saberá a diferença de pronúncia das duas palavras sem que seja necessário usar um sinal gráfico." Para Bechara, a reforma ortográfica é necessária para defender a língua portuguesa. Trata-se do único idioma falado por um grupo majoritário -mais de 230 milhões de pessoas- no mundo a ter duas grafias diferentes. "É essencial que o português se apresente internacionalmente com uma única vestimenta gráfica. Para manter o prestígio e para que seja melhor ensinado e compreendido por todos", conclui. Síntese de Acordo No Brasil 0,5% das palavras sofrerão modificações, em Portugal e nos restantes países lusófonos, as mudanças afetarão cerca de 2.600 palavras, ou seja, 1,6% do vocabulário total. Alfabeto • Nova Regra: O alfabeto agora é formado por 26 letras • Regra Antiga: O 'k', 'w' e 'y' não eram consideradas letras do nosso alfabeto. • Como Será: Essas letras serão usadas em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Exemplos: km, watt, Byron, byroniano Trema • Nova Regra: Não existe mais o trema em língua portuguesa. Apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Müller, mülleriano • Regra Antiga: agüentar, conseqüência, cinqüenta, qüinqüênio, frqüência, freqüente, eloqüência, eloqüente, argüição, delinqüir, pingüim, tranqüilo, lingüiça • Como Será: aguentar, consequência, cinquenta, quinquênio, frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, pinguim, tranquilo, linguiça. Acentuação • Nova Regra: Ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas • Regra Antiga: assembléia, platéia, idéia, colméia, boléia, panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico

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• Como Será: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico Observações: • nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o acento continua: herói, constrói, dói, anéis, papéis. • o acento no ditongo aberto 'eu' continua: chapéu, véu, céu, ilhéu. • Nova Regra: O hiato 'oo' não é mais acentuado • Regra Antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo • Como Será: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo • Nova Regra: O hiato 'ee' não é mais acentuado • Regra Antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem • Como Será: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem • Nova Regra: Não existe mais o acento diferencial em palavras homógrafas • Regra Antiga: pára (verbo), péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), pólo (substantivo) • Como Será: para (verbo), pela (substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo (substantivo) Observação: • o acento diferencial ainda permanece no verbo 'poder' (3ª pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo - 'pôde') e no verbo 'pôr' para diferenciar da preposição 'por' • Nova Regra: Não se acentua mais a letra 'u' nas formas verbais rizotônicas, quando precedido de 'g' ou 'q' e antes de 'e' ou 'i' (gue, que, gui, qui) • Regra Antiga: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, enxagúemos, obliqúe • Como Será: argui, apazigue,averigue, enxague, ensaguemos, oblique • Nova Regra: Não se acentua mais 'i' e 'u' tônicos em paroxítonas quando precedidos de ditongo • Regra Antiga: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme • Como Será: baiuca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume Hífen • Nova Regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por 'r' ou 's', sendo que essas devem ser dobradas • Regra Antiga: ante-sala, ante-sacristia, auto-retrato, anti-social, anti-rugas, arqui-romântico, arquirivalidae, auto-regulamentação, auto-sugestão, contra-senso, contra-regra, contra-senha, extra-regimento, extra-sístole, extra-seco, infra-som, ultra-sonografia, semi-real, semi-sintético, supra-renal, supra-sensível • Como Será: antessala, antessacristia, autorretrato, antissocial, antirrugas, arquirromântico, arquirrivalidade, autorregulamentação, contrassenha, extrarregimento, extrassístole, extrasseco, infrassom, inrarrenal, ultrarromântico, ultrassonografia, suprarrenal, suprassensível Observação: • em prefixos terminados por 'r', permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista, hiper-requintado, hiper-requisitado, inter-racial, inter-regional, inter-relação, super-racional, super-realista, super-resistente etc. • Nova Regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal • Regra Antiga: auto-afirmação, auto-ajuda, auto-aprendizagem, auto-escola, auto-estrada, auto-instrução, contra-exemplo, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar, extra-oficial, infra-estrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-expressionista, neo-imperialista, semi-aberto, semi-árido, semi-automático, semiembriagado, semi-obscuridade, supra-ocular, ultra-elevado • Como Será: autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem, autoescola, autoestrada, autoinstrução,

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contraexemplo, contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimperialista, semiaberto, semiautomático, semiárido, semiembriagado, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado. Observações: • esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc. • esta regra não se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por 'h': anti-herói, anti-higiênico, extrahumano, semi-herbáceo etc. • Nova Regra: Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal. • Regra Antiga: antiibérico, antiinflamatório, antiinflacionário, antiimperialista, arquiinimigo, arquiirmandade, microondas, microônibus, microorgânico • Como Será: anti-ibérico, anti-inflamatório, anti-inflacionário, anti-imperialista, arqui-inimigo, arquiirmandade, micro-ondas, micro-ônibus, micro-orgânico Observações: • esta regra foi alterada por conta da regra anterior: prefixo termina com vogal + palavra inicia com vogal diferente = não tem hífen; prefixo termina com vogal + palavra inicia com mesma vogal = com hífen • uma exceção é o prefixo 'co'. Mesmo se a outra palavra inicia-se com a vogal 'o', NÃO utliza-se hífen. • Nova Regra: Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição • Regra Antiga: manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, páravento • Como Será: mandachuva, paraquedas, paraquedista, paralama, parabrisa, parachoque, paravento Observação: • o uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constiui unidade sintagmática e semântica, mantendo o acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer, bem-te-vi etc. O uso do hífen permanece • Em palavras formadas por prefixos 'ex', 'vice', 'soto': ex-marido, vice-presidente, soto-mestre • Em palavras formadas por prefixos 'circum' e 'pan' + palavras iniciadas em vogal, M ou N: panamericano, circum-navegação • Em palavras formadas com prefixos 'pré', 'pró' e 'pós' + palavras que tem significado próprio: pré-natal, pró-desarmamento, pós-graduação • Em palavras formadas pelas palavras 'além', 'aquém', 'recém', 'sem': além-mar, além-fronteiras, aquémoceano, recém-nascidos, recém-casados, sem-número, sem-teto Não existe mais hífen • Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais): cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de etc. • Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa. Consoantes não pronunciadas Fora do Brasil foram eliminadas as consoantes não pronunciadas: • ação, didático, ótimo, batismo em vez de acção, didáctico, óptimo, baptismo Grafia Dupla

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De forma a contemplar as diferenças fonéticas existentes, aceitam-se duplas grafias em algumas palavras: • António/Antônio, facto/fato, secção/seção. Referências BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna 2010 Entrevista concedida à folha, link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u484105.shtml

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E OUTRAS

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Cegalla, Domingos P. - Novíssima Grramática da Lingua Portuguesa. Cia. Ed. Nacional, 24. ed., São Paulo, 2009

Cereja, William Roberto. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação/William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 2.ed. – São Paulo: Atual, 2005.

Cunha, Celso. Gramática moderna. 2ª ed. Belo Horizonte, Bernardo Álvares, 1970

Fernandes, Cláudia. Português ao Alcance de todos. ed. São Paulo, 2002

Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda - Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2a. edição. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2009

Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. A coerência textual/Ingedore Villaça Koch, Luiz Carlos Travaglia. 4ª ed. – São Paulo: Contexto, 1992

Lima, Rocha - Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 10a. edição, F. Briguiet & Cia, Ed., Rio de Janeiro, 2009

Marcelo de Sousa Góes. Capacitação; Gramática, Análise de Texto e Redação/Luiz Cláudio Jubilato, organizador. Ribeirão Preto, SP, 2009

Rosenthal, Marcelo. Gramática para concursos. – 3.ed.-Rio de Janeiro: Elsevier, 2007

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Mesquita, Roberto. Gramática da Língua Portuguesa. 8ª ed. Reformulada e atualizada. Ed. Saraiva, 2010

Presidência da República - Manual de redação da presidência da república.

Governo do Brasil, Brasília, 2009

Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Academia Brasileira de Letras. –5.ed. –São Paulo: Global, 2009.