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Novo Ambiente 10

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Marco Jacobsen

Casa bonita, sem estresse nem remorso

Uma arca para a seca?

Mão amiga e mais verde

Boas vibrações

Regeneração que rende capital

Particularmente conservadas

Gustavo Fruet

Ciberativismo verde

Destinação certa

A hora da conversão

Pode acontecer com qualquer um

Garrafas mais amigáveis

Delson Amador

No meio

Cartum

Construção

Água

Preservação

Música

11 Atitudes -Empresas

11 Atitudes - Governo

Entrevista

Web

Política

Carros

Clima

Consumo

Tecnologia

Coluna

Velho Ambiente

Da Redação

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ÍndiceÍ

20Resíduosuma usina para o lixo

Reciclagem

24sucataQuando as máquinas morrem

Resíduos

38ongscuidado, você está sendo seduzido

11 Atitudes

Page 7: Novo Ambiente 10

a foto que aparece na capa desta edição mos-tra a Praça do Japão, em Curitiba. A capital pa-ranaense e outras, como Florianópolis, Vitória, Brasília e até mesmo são Paulo, trazem muitas vantagens a seus habitantes, mas nem por isso podem ser chamadas de sustentáveis. No en-tanto, se nossas cidades somarem experiên-cias, muito pode se avançar neste caminho.

Em busca de cidades sustentáveis, poder público, iniciativa privada e organizações têm dado importantes passos para reverter os danos ao planeta e conquistar a dignidade integral do ser humano. Um grande negócio para a indústria de soluções limpas e inteligentes, uma grande oportunidade para a evolução de novos conceitos políticos, mas ainda falta o mais importante: a participação massiva da população, que deve conhecer para saber cobrar e ajudar a construir uma cidade melhor pra se viver.

54 CApA Cidades Sustentáveis

Brasília: a capital federal foi inteiramente projetada, mas não é exatamente o que se pode chamar de cidade sustentável.

Desenvolvimento com equilíbrio7 Março/2011

Page 8: Novo Ambiente 10

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Projeto gráfiCo - Rafael de azevedo [email protected]

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ComerCiAl (deC)Paulo Roberto Luz

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Rodrigo nardon

uma publicação da novo Ambiente editora e Produtora ltda.CnPj/mf.: 12.011.957/0001-12

Rua Professor João Doetzer, 280 - Jardim das Américas - 81540-190 - Curitiba/PRtel/fax: (41) 3044-0202 - [email protected]

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Ano 01 - edição 10 - março/2011 - distribuição dirigida e a assinantes

relAÇões de merCAdoJoão Rodrigo Bilhan

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diretoriA-gerAlDagoberto Rupp

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imPressão - PosigraftirAgem - 30 mil exemplares

A tiragem desta edição de 30 mil exemplares é comprovada pela BDO Auditores Independentes.

Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista, sendo de total responsabilidade do autor.

fsC

Maria Telma da C. Lima [email protected]

Paulo Fausto Rupp [email protected]

Janete Ramos da silva [email protected]

Paula [email protected]

Mônica cardoso [email protected]

reVisão - Karina dias occaso [email protected]

Juliano [email protected]

AuditoriA e Controller - Marilene [email protected]

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Há pouco mais de 10 mil anos, a humanidade desenvolveu técnicas agrícolas que permiti-ram abandonar a vida nômade e fixar-se nas

primeiras cidades de que se tem notícia.

de lá para cá, muita coisa mudou, em especial no que tange às concentrações humanas em espaço urbano.

o Brasil, tão jovem em relação às nações do velho continente, viveu no último século um processo céle-re de migração do campo para a cidade. Com isto, viu nascer suas primeiras metrópoles e os problemas ine-rentes às grandes urbes.

A Revista Novo Ambiente, ciente de que é na cidade que vivemos e nelas estão nossas ansiedades e sonhos, mantém mensalmente a discussão sobre os avanços e a falta deles, nestes espaços de convívio coletivo.

nesta edição, as questões relativas a uma cada vez mais inevitável nova revolução urbana ganharam profun-didade e viraram tema de capa.

será possível reorganizarmos nossas cidades, alinhan-do-as a conceitos modernos de sustentabilidade?

nossos profissionais foram ao asfalto das metrópoles, subiram os morros e suas ocupações irregulares, olharam as aprazíveis mas nem sempre equilibradas cidades do interior e revelaram algumas desilusões e outras esperan-ças da vida em sociedade.

o tema, por complexo, estará em nossas edições fu-turas com o detalhamento de cada um dos mais relevan-tes itens que compõem as pré-condições para a esperada nova era das cidades. nesta edição, muito mais que apon-tar caminhos, a missão é induzir nossos leitores à reflexão sobre temas que dizem imediato respeito a ele. Com cer-teza, não voltaremos à vida nômade de nossos antepas-sados; porém, para continuar vivendo em aglomerados urbanos, teremos de repensar nossa presença neles e buscar formas de harmonizar nosso convívio com o meio ambiente, do qual não podemos prescindir.

Boa leitura!

Central de Jornalismo

Desenvolvimento com equilíbrio9 Março/2011

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No meio

A hora do Planeta

existe uma grande torcida para que o Brasil fique às escuras por uma hora na noite do dia 26 de março. felizmente não é mais um apagão, mas sim uma forma melhor de ver o mun-do – e contraditoriamente mais clara –, chamando a aten-ção não apenas para a energia, mas principalmente para as questões ambientais. A hora do Planeta, que começa a par-tir das 20h30, é uma iniciativa da ong WWf e ocorreu pela primeira vez em 2007, em sidney (Austrália), mobilizando seus moradores. no ano seguinte, já eram 35 países. o Coli-seu (roma), a sidney opera house (sidney) e a golden gate (são francisco) foram alguns dos ícones globais que tiveram suas luzes desligadas. em 2009 foi a vez de o Brasil entrar na mobilização. em 2010, todos os países do g20, assim como outras 105 nações, apagaram suas luzes na hora do Planeta. monumentos como Cristo redentor, Congresso nacional, teatro Amazonas, Ponte estaiada, torre eiffel, london eye, fontana de trevi e empire state foram alguns dos 1.383 íco-nes que ficaram no escuro por 60 minutos.

transgênicos crescem em todo o planeta

sementes transgênicas estão em 148 milhões de hectares plan-tados por mais de 15 milhões de produtores ao redor do mundo. o relatório anual do serviço internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (isaaa, na sigla em inglês), di-vulgado no fim de fevereiro, aponta para um crescimento, em 2010, de 10% em relação ao ano anterior. em área plantada, o Brasil é o que mais cresceu: 19%.

Veja os dez maiores produtores de culturas geneticamente modificadas:

EUA (66,8 milhões de ha)

Brasil (25,4 milhões de ha)

Argentina (22,9 milhões de ha)

Índia (9,4 milhões de ha)

Canadá (8,8 milhões de ha)

China (3,5 milhões de ha)

Paraguai (2,6 milhões de ha)

Paquistão (2,4 milhões de ha)

África do Sul (2,2 milhões de ha)

Uruguai (1,1 milhão de ha)

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Commodities nada verdes

o instituto Brasileiro de economia Aplicada (ipea) está lan-çando um importante conjunto de estudos sobre os eixos de desenvolvimento brasileiro. no volume sobre biodiversida-de, jorge hargrave, um dos autores da pesquisa, aponta que as commodities (como soja) para exportação geram impac-tos negativos ao meio ambiente ao usar de forma intensiva diversos recursos naturais: “na produção de cana-de-açúcar, de soja, há uma grande utilização de parcelas do solo que

enfim: sistema nacionalde alerta de desastres

foi preciso um prefeito do interior do rio de janeiro, mais precisamente de Areal, durante a tragédia na região ser-rana, mostrar que muitas vidas podem ser salvas com um simples alerta. o país então despertou para o cúmulo de seu despreparo: a falta de um sistema nacional que pudes-se mobilizar populações em caso de catástrofes. no dia 25 de fevereiro, o ministro da Ciência e tecnologia, Aloizio mercadante, anunciou o início do funcionamento do siste-ma nacional de alerta de desastres ainda neste inverno. o caráter experimental do sistema nada mais é do que a inte-gração de sistemas de monitoramento do clima já existen-tes no Brasil, como os radares da Aeronáutica, do instituto nacional de meteorologia (inmet) e do instituto nacional de Pesquisas espaciais (inpe). só então o governo avaliará quais equipamentos serão comprados para complementar o sistema. A mobilização das cidades ficará por conta do sistema nacional de defesa Civil, que poderá fazer uso de sirenes. o núcleo do sistema atuará 24 horas em uma sala de operações e será formado por uma equipe de quatro profissionais: um meteorologista, um especialista em de-sastres naturais, um hidrólogo e um geólogo. Para compor os turnos, serão necessárias 30 pessoas.

pode ter impactos como o deslocamento de populações rurais, redução de terra para produção de alimentos, uso intenso de agrotóxicos que contaminam o solo e em con-sequência contaminam a água”, explica hargrave. ele disse ainda que falta no Brasil uma cultura que leve em conta as questões relativas ao meio ambiente na gestão pública. Para os gestores, as questões ambientais são vistas como um entrave ao desenvolvimento.

Desenvolvimento com equilíbrio11 Março/2011

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indústrias e mudanças climáticas

A tendência de um mercado cada vez mais exigente quan-to à preservação ambiental levou a Confederação nacional da indústria (Cni) a trazer uma série de orientações, prin-cipalmente a respeito de mudanças climáticas. As orienta-ções, apresentadas sob o título “estratégias Corporativas de Baixo Carbono: gestão de riscos e oportunidades”, evidenciam passos e fases que as indústrias devem seguir, como o alerta sobre a necessidade de um diagnóstico para mensurar as emissões dos gases de efeito estufa (gee), o modo como perceber e avaliar os riscos para a empresa e a forma como identificar as oportunidades de crescimento empresarial.

resultados do horário de verão

o resultado do horário de verão deste ano foi considerado “altamente positivo” pelo governo. o Brasil economi-

zou 2.376 megawatts. de acordo com o operador nacional do sistema (ons), o horário de verão, que

vigorou de 17 de outubro a 20 de fevereiro, resultou em uma redução de 4,4% na demanda de energia no ho-

rário de pico, nas regiões onde o sistema foi adotado. no ano passado, a diminuição foi de 4,7% nas regiões sudes-

te e Centro-oeste e de 4,8%, na região sul. A economia da geração térmica evitada com a adoção do horário de verão foi

estimada em r$ 30 milhões.

5 bilhões de embalagens

A tetra Pak anuncia o marco de 5 bilhões de embalagens produzidas no Brasil com o selo de certificação da forest stewardship Council (fsC) em 2010. o selo garante que o papel utilizado como matéria-prima das embalagens seja proveniente de áreas florestais que seguem rigoro-sos padrões de gerenciamento quanto aos aspectos sociais e am-bientais e outras fontes controladas. A empresa também criou o site rota da reciclagem (www.rotadareciclagem.com.br), um mecanismo muito útil onde você digita seu endereço e, quase que instantaneamente, aparecem todas as opções de cooperativas ou comércios de materiais recicláveis no entorno. Aparecem também postos voluntários de recebimento de materiais recicláveis. Vale a pena dar uma olhada, você vai se surpreender com a quantidade de locais como esses mais perto do que imagina.

Page 13: Novo Ambiente 10

No meio guia: aves do Pantanal e Cerrado

o guia “Aves do Brasil: Pantanal e Cerrado” é o primeiro de uma série de cinco volumes que abordam as aves de todos os biomas brasileiros, permitindo sua identificação. A publicação ajuda a preencher uma grande lacuna catalográfica sobre a fauna brasileira. em tempos de valorização da biodiversidade no discurso internacional, o Brasil mal faz o dever de casa e o inventário sobre nossas espécies é muito precário. o guia, uma parceria entre a Wildlife Conservation society (WCs) e a edito-ra horizonte, será lançado na livraria fnAC-Pinheiros, na cidade de são Paulo, dia 22 de março, dia às 19h. o primeiro volume da série apresenta 740 espécies de aves do Pantanal e do Cerrado, entre nomes bastante conhecidos, como a ema e a arara--azul-grande, e espécies ainda pouco conhecidas pelos cientistas, como o belo pica-pau-do-parnaíba e o raríssimo tiê-bicudo. A maioria das descrições é acompanhada de ilustrações precisas feitas por renomados artistas especializados em aves, como guy tudor, o maior ilustrador de aves sul-americanas. são 322 páginas com mais de 1.000 ilustrações. Valem as penas!

r$ 1,4 bilhão para turbinas eólicas

A Bioenergy, uma das pioneiras no Brasil na geração de eletrici-dade a partir da força dos ventos, acaba de fechar contrato com a ge para adquirir 18 turbinas eólicas ainda em 2011, 36 em 2012 e uma opção de compra de até 250 para 2013. os equipa-mentos serão utilizados em projetos comercializados nos leilões de 2009 e 2010, assim como na primeira venda de energia eólica no mercado livre brasileiro, cerca de 100 megawatts (mW) mé-dios arrematados pela Cemig em dezembro de 2009.A empresa conta com empreendimentos de r$ 1,7 bilhão em energia eólica somente no rio grande do norte. no total, a em-presa soma projetos de mais de 1.400 mW. no último leilão de energia de reserva, a Bioenergy cadastrou 16 projetos de usinas eólicas, que perfazem aproximadamente 514,8 mW.

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No meio nova Comissão de meio Ambiente

giovani Cherini (Pdt-rs) é o novo Presidente da Co-

missão de meio Ambiente e desenvolvimento sustentável da Câmara dos deputados. Apesar de não constar como tal na lista do departamento intersindical de Assessoria Par-lamentar (diap), Cherini, agrônomo de formação, é consi-derado ruralista, assim como oziel oliveira (Pdt-BA), o 1o Vice-Presidente.

Como deputado estadual, cargo que exerceu por 16 anos, Cherini conseguiu a aprovação de leis ambientais de alguma expressão mas de baixa prioridade. ele estará no centro de um grande debate nacional, que anteverá quais consequências o novo Código florestal, proposto pelo de-putado federal Aldo rebelo (PCdoB-sP), terá para o país. A torcida é para que Cherini, tecnólogo cooperativista, tera-

peuta holístico e escritor de autoajuda, surpreenda justa-mente pelo seu carisma nas negociações.

Por ser a mais numerosa bancada suprapartidária, a vitória dos ruralistas em temas como a aprovação do novo Código florestal parece certa, diante de uma pequena re-sistência ambientalista que não pode lhes fazer frente, ao menos no Congresso nacional. tanto que o deputado sar-ney filho (PV-mA), indicação dos verdes, terá que se con-tentar em presidir a Comissão em 2012, presumindo que se cumpram os acordos informais com o Pdt de se ter uma espécie de rodízio de presidentes. Quando os verdes esti-verem no comando, e se estiverem, assuntos como o novo Código já estarão com seus destinos selados, já que se pre-vê uma aprovação definitiva ainda este ano.

Giovani Cherini (PDT-RS)* - Presidente

Oziel Oliveira (PDT-BA)* - 1º Vice-Presidente

Cláudio Cajado (DEM-BA)

Irajá Abreu (DEM-TO)*

Sarney Filho (PV-MA)

Penna (PV-SP)

Leonardo Monteiro (PT-MG)

Márcio Macêdo (PT-MG)

Marina Santanna (PT-GO)

Zé Geraldo (PT-PA)

Valdir Colatto (PMDB-SC)

Nelson Marchesan Jr. (PSDB-RS)*

Ricardo Trípoli (PSDB-SP)

Rebecca Garcia (PP-AM)

Toninho Pinheiro (PP-MG)

Augusto Carvalho (PPS-DF)

Estefano Aguiar (PSC-MG)

Jorge Pinheiro (PRB-GO)

• Proporção de ruralistas

140 ruralistas

em um universo de

na Câmara dos deputados

513

* Classificados como Ruralistas pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Veja quem faz parte da Comissão de meio Am-biente e desenvolvimento sustentável da Câ-mara dos deputados (gestão 2011).

• número de ruralistas por partido

PMDB 36DEM 24

PP 24PSDB 22

PR 15

PTB 10PDT 9PPS 6PSC 5

Outros 8Dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

deputados

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 14

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Ilust

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No meio

Desenvolvimento com equilíbrio 15 Março/2011

Page 16: Novo Ambiente 10

CONSTRUÇÃO Wood Frame

Casa bonita,sem estressenem remorso

Nós conhecemos bem as casas em wood frame, mas só pela tela da tV ou do cinema americano. Utilizada por sociedades evoluídas na praticidade e sustentabilidade arquitetônica, a técnica já ensaiou flertes com o mercado brasileiro, mas ainda não caiu nas graças do grande público. Agora ela chega ao país mais forte do que nunca. É inteligente, aconchegante, estilosa. O objetivo dos projetos é o bem-estar, tendo a sustentabilidade como princípio.

Viver bem é continuar em uma espécie de sonho bom mesmo depois que se acorda. Para isso, fundamental é não ter estresse

para construir seu pequeno olimpo nem consciên-cia pesada com os impactos que isso causou. Vá lá, o método construtivo em wood frame seduziu nossa equipe de reportagem, porque as casas são bonitas, trazem grandes vantagens funcionais sobre a cons-trução convencional e reduzem em até 90% o núme-ro de resíduos gerados durante a obra.

A tecnologia é utilizada em nove entre cada dez casas canadenses e em dois terços das construções dos Estados Unidos, país em que a prática de erguer casas de forma modular e utilizando placas de madeira já dura mais de um século. Por aqui, ainda é incipiente, apesar das van-tagens (a começar pela obra em si, o pesa-delo daqueles que querem construir suas próprias moradias).

Page 17: Novo Ambiente 10

Casa-modelo com fachada deck. Linha Slim – Contemporânea.

Desenvolvimento com equilíbrio17 Março/2011

Page 18: Novo Ambiente 10

A Tecverde é hoje uma referência neste tipo de projeto e garante a entrega da chave na mão do pro-prietário em três meses, contando a fase de projetos, liberação de financiamento, produção das placas e a própria obra. E sem aqueles remendos provisórios que acabam virando definitivos, ou aquele problema que o pintor teve com a cunhada do irmão e por isso atrasou em mais um mês a conclusão dos trabalhos. A variedade de tipologias arquitetônicas é infinita, tudo depende da viabilidade técnica e econômica.

a iluminação natural proporcionada pelo grande número de janelas e portas de vidro, somado à ins-talação de painéis solares, proporciona significativa economia de energia, assim como o isolamento tér-mico. “Em cidades mais frias, como Curitiba, pode--se passar o ano todo sem ligar o ar-condicionado, e quando ligado, atinge rapidamente e mantém a tem-peratura desejada”, aponta o arquiteto Pedro Mo-reira, Coordenador de Projetos da Tecverde, que diz que a economia neste quesito, incluindo sistemas de calefação, pode chegar a 50%.

Sobre a durabilidade das casas, que, aos olhos do consumidor brasileiro, acostumado a construções mais robustas, parece não ser tão grande, Pedro lembra: “Nos eua, é comum encontrar casas com mais de 50 e até 100 anos em ótimo estado. O tratamento da madeira não vence, e todo o projeto é pensado a fim de se evitar patologias. Os painéis de parede, piso e cobertura são produzidos em nossa fábrica, o que garante um controle muito maior da qualidade de nossas casas.”

o desenho da casa é primoroso, com grandes vãos livres que permitem a ocupação inteligente com uma ótima sensação espacial. No site da construto-ra, há um simulador bem interessante e fácil de usar, para quem quer testar possibilidades, e o custo da obra se atualiza a cada alteração.

A iluminação natural proporcionada pelo grande número de janelas e

portas de vidro, somado à instalação de painéis solares, proporciona

significativa economia de energia, assim como o isolamento térmico.

Nos EUA, é comum encontrar casas com mais de 50 e até

100 anos em ótimo estado. O tratamento da madeira não vence,

e todo o projeto é pensado a fim de se evitar patologias. Os painéis

de parede, piso e cobertura são produzidos em nossa fábrica, o que garante um controle muito maior

da qualidade de nossas casas.Pedro Moreira, Coordenador de Projetos da Tecverde

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 18

Page 19: Novo Ambiente 10

Menos impacto

A redução de 90% nos resíduos da obra é um alí-vio tanto para os proprietários, que costumam assu-mir esse passivo, quanto para a natureza, para a qual muitos destes transferem o problema. Em miúdos, nas construções convencionais, toneladas de resídu-os inaproveitáveis são despejados diariamente nos lixões, agravando o problema que já é enorme.

Placas de madeira podem não ser exatamente ecológicas, mas não há dúvidas de que neste caso a na-tureza ganha bastante. “A madeira utilizada é o pinus tratado, proveniente de florestas plantadas. O con-traventamento é feito por chapas de osB – oriented strand board –, que é um aglomerado de madeira. O estudo que temos é de que uma construção em wood frame emite 80% menos co2”, conta Moreira. Um dos motivos para isso é que a própria madeira, que vem de espécies exóticas como o pinus e o eucalipto, que não pertencem à nossa mata nativa, uma vez instalada, mantém o carbono fixado em sua própria estrutura. neste caso, as vantagens na emissão de gases causa-dores do efeito estufa são grandes em relação às cons-truções convencionais, que utilizam cimento e outros elementos de grande impacto ambiental.

a técnica em wood frame ainda é incipiente no Brasil e, embora se aproxime muito de um modelo sustentável ideal de construção, ainda precisa cair no gosto do consumidor brasileiro para criar, quem sabe, uma nova e inteligente forma de “montar” ci-dades sem desmontar o meio ambiente.

Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

Desenvolvimento com equilíbrio19 Março/2011

Page 20: Novo Ambiente 10

Imagine criar uma usina. Agora imagine criar os equipamentos que farão esta usina funcio-nar. Além de desenhá-los, fabrique-os você

mesmo. Complique um pouco mais e pense também em uma “linha de produção” para processar um pro-duto que todos nós descartamos – o lixo – e, após es-tes desafios, ainda vender parte deste lixo como adu-bo de alta qualidade, e os materiais que interessam ao mercado da reciclagem como alumínio, plástico, papel, metais e vidro.

se você está se perguntando se isto é possível, a res-posta está na cidade de são José do Rio Preto, interior de São Paulo, e é positiva. A Usina de Triagem e Composta-gem de Lixo Doméstico opera no município e é adminis-trada pela Constroeste Ambiental, núcleo empresarial da Constroeste, todas empresas do Grupo Faria.

uma usina para o lixoVem do oeste paulista um exemplo de trata-mento de lixo urbano e doméstico. Fundada em 1988 por um engenheiro visionário para sua época, a única usina de triagem e com-postagem de lixo doméstico totalmente pri-vada do Brasil é capaz de processar 10 mil to-neladas de resíduos por mês.

ReCiClAgem Resíduos

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 20

Page 21: Novo Ambiente 10

Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonardo Pepi

.Usina de São José do Rio Preto onde ocorre a triagem de resíduos sólidos e a compostagem de resíduos orgânicos.

Desenvolvimento com equilíbrio21 Março/2011

Page 22: Novo Ambiente 10

o caminhão recolhe

Os trabalhos da Constroeste Ambiental na região vão além da operação da usina. A empresa é respon-sável pelo gerenciamento dos resíduos sólidos urba-nos (domiciliares, comerciais, industriais, serviços de saúde e outros), desde a coleta, o transporte, trata-mento, destinação e disposição final.

a usina destaca-se por sua inovação e pioneiris-mo, sendo a única no Brasil inteiramente do setor privado. “Atendemos não apenas o município, mas também outros da região”, lembra o Diretor Comer-cial da área ambiental da Constroeste Ambiental, Aviemar Reis, idealizador do projeto.

a concepção da usina, o desenho de sua planta, os equipamentos e os melhoramentos posteriores à sua implantação foram todos feitos pela própria em-presa, mostrando que é possível instalar uma unida-de de triagem e compostagem de lixo com tecnologia inteiramente nacional.

“Podemos instalar unidades como esta confor-me as necessidades locais e regionais. Para uma cida-de do tamanho de são José do Rio Preto (mais de 400 mil habitantes), implantamos a usina em um espaço de 60 mil m²”, explica Reis, que recebeu com exclusi-vidade uma equipe da Revista Novo Ambiente para percorrer toda a usina.

Adubo e reciclagem

Pessoa jogalixo no lixo

e leva até a usina detriagem

uma parte vira adubo

outra vira fardosde recicláveis(alumínio, Pet, papel, etc.)

outra vai para o aterro

• Para onde vai seu lixo?

sanitário

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 22

Page 23: Novo Ambiente 10

Adubo e reciclagem

após a coleta, os caminhões entram no pátio da usina e um novo trabalho começa. O lixo que conhecemos, ensacado em sacos plásticos, entra em uma complexa rede operacional de triagem, ma-nipulada por pessoas e máquinas.

É feita a separação dos resídu-os em fração orgânica e inorgânica, além do tratamento separado dos resíduos dos serviços de saúde. Da orgânica, surge o adubo após a compostagem. Da inorgânica, é aproveitado material que é vendido para indústrias de reciclagem, como alumínio, metais, papel, papelão, plásticos e vidro.

“Mais de 50% de todo o lixo é reaproveitado, e o resíduo de melhor aproveitamento é o vi-dro, o único material que não tem perda, sendo totalmente reapro-veitável na reciclagem”, explica o Diretor Comercial.

Já a parte orgânica, formada por restos de alimentos, cascas de frutas e outros tipos de resíduos não reaproveitáveis para recicla-

gem, passa por um processo de compostagem. É triturada, em se-guida “descansa” em um galpão para eliminar umidade e, após eta-pas que incluem peneiras indus-triais, transforma-se em adubo de alta qualidade. Uma fração desta parte orgânica não aproveitável termina em uma área de 52 alquei-res da própria constroeste am-biental, um aterro sanitário com vida útil estimada em 40 anos.

segundo a constroeste am-biental, o adubo ali gerado foi con-siderado de alta qualidade por estu-dos de universidades reconhecidas pelo setor agrícola. As vendas do produto advindo da compostagem crescem a cada ano.

os resultados vão além dos ga-nhos com o gerenciamento do lixo diretamente relacionados às ven-das para o mercado de reciclagem e de adubo. Não são computados na operação de uma usina como esta, que transforma mais de 10 mil toneladas de resíduos por mês, a redução de gastos com saúde pú-

blica, a prevenção de acidentes am-bientais por falta de manejo de lixo e a despoluição de mananciais, rios e córregos ao se evitar acúmulo de resíduos na área urbana. Qual o va-lor destes benefícios para o meio ambiente e as pessoas?

“Um consórcio entre um gru-po de municípios de determinada área pode investir em uma usina para as mesmas finalidades. O ta-manho da usina é adaptável às ne-cessidades locais, e os ganhos am-bientais são óbvios. Nossa empre-sa tem total conhecimento para a execução e acompanhamento do projeto, além de fornecer toda a tecnologia”, finaliza Aviemar Reis. Fica aí o exemplo de que existem soluções para questões complexas como os resíduos urbanos, desde que os recursos sejam investidos corretamente, aliados à educação ambiental da população, trabalho que a empresa também faz no pró-prio espaço da usina, que é aberta a visitação e recebe com frequên-cia, grupos escolares.

Podemos instalar unidades como esta conforme as necessidades locais e

regionais. Para uma cidade do tamanho de São José do Rio Preto (mais de 400

mil habitantes) implantamos a usina em um espaço de 60 mil m².

Aviemar Reis, idealizador do projeto

.Aterros para resíduos orgânicos.

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ReSídUOS Sucata

Quando as máquinas morremQuando as máquinas morrem

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Elas já foram o sonho de consumo, o ápice da tecnologia embarcada, o símbolo de uma era de mudanças impetuosas em direção à modernidade. Corpos de metal outrora orgulhosos, que cortavam o ar, tiveram seus cromados reluzentes cobertos pela pátina do abandono. O tempo que por elas era vencido sem piedade cobrou seu preço e seguiu seu interminável curso, deixando-as à mercê dos cruéis dentes da corrosão. As pequenas gotas de história que intermitentemente pingam junto com o óleo sujo das engrenagens emperradas simbolizam o encerramento de um ciclo de vida. Afinal, a melhor máquina de hoje, um dia, vira sucata.

Foto: Revista Novo Ambiente/Paulo Negreiros

.Aviões fora de uso. Brasília.

Desenvolvimento com equilíbrio25 Março/2011

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aconteceu com o Concorde (famoso jato comercial supersônico franco-inglês) e com a maioria das locomotivas a vapor.

Aconteceu também com os charmosos bondes elétri-cos de várias capitais e continuará acontecendo com qualquer tipo de transporte que o ser humano inven-tar. A sina do modelo mais avançado é ceder o seu lu-gar na vanguarda para uma nova geração. Mas o que, afinal de contas, acontece com o trem que saiu de li-nha, com a aeronave que já foi “canibalizada” – o ter-mo é meio repugnante, mas faz sentido se pensarmos que ele diz respeito a peças ainda utilizáveis reapro-veitadas em outros veículos – e principalmente com os carros, ônibus e caminhões acidentados, ou sim-plesmente velhos, que “já deram o que tinham que dar”? A reciclagem parece ser a resposta mais óbvia para esta pergunta, porém há outras alternativas que são empregadas na hora de “dissecar” a obsoleta “carcaça” que estava enferrujando sob o tempo.

Sobrevida

Há, no Brasil, um grande mercado de veículos sinistrados e peças de reposição usadas e/ou recu-peradas. Não se trata de obscuros “desmanches” irregulares, nem de “robautos” (aquelas feiras de rua cheias de peças velhas e de origem duvidosa) espalhados pelo país e mergulhados na ilegalidade, mas de comércios legítimos, que geram empregos e recolhem impostos. Por isso, e pensando na regula-ção da atividade de “reciclar” veículos e na adoção de melhores práticas que visem inclusive as ques-tões ambientais, o Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) fomenta projetos de lei como o PL 372/2005, que busca disciplinar a atividade dos desmanches. Vetado integralmente pelo governo fe-deral por “contrariar o interesse público”, o projeto teria, segundo o Cesvi, cinco vertentes principais bas-tante interessantes (veja quadro).

a carcaça desmontada, livre de todas as peças que podem voltar à circulação (inspecionadas, testadas, nu-meradas e certificadas), é aproveitada por empresas siderúrgicas e fundições como matéria-prima, após a limpeza e triagem dos materiais que a compõem. Com outros tipos de veículo, não é diferente. Excetuando-se casos em que há entraves legais para o processamen-to, como sucatas que façam parte de massas falidas de empresas, por exemplo, em que há necessidade de uma decisão judicial para seu desembaraço, o procedimento adotado pode ser similar. Reside na propriedade do veí-culo, muitas vezes, a “culpa” pela permanência prolon-gada em pátios, hangares e estaleiros.

A reciclagem parece ser a resposta mais óbvia para esta pergunta,

porém há outras alternativas que são empregadas na hora de “dissecar”

a obsoleta “carcaça” que estava enferrujando sob o tempo.

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depósito de carcaças, depósito de mosquitos

a permanência das estruturas remanescentes em espaços abertos pode se tornar, em breve, mais do que um assunto restrito aos círculos econômicos e ambientais. Pode se tornar um assunto de saúde pública, haja vista que, por possuírem “vazios estru-turais”, cavidades, entre outros recursos próprios do design para o qual foram concebidas – um carro, um avião, um navio foram feitos para se movimentar, não ficar parados apodrecendo –, podem facilmente con-verter-se em berçários VIP para as larvas do Aedes ae-gypti, o mosquito transmissor da dengue, que ronda a casa de todos os brasileiros neste começo de ano.

De que material é feito?

um dos passos importantes para entender como se dá o processamento de carrocerias, cascos e fuselagens é analisar sua composição. Os metais que integram esse tipo de estrutura são divididos (preparem as apostilas de química) em duas categorias: ferrosos, basicamen-te compostos de ferro e aço; e não ferrosos, como as ligas de cobre, níquel e chumbo. Reaproveitá-los é co-mercialmente interessante, pois este expediente não despende tanta energia quanto a extração da matéria--prima bruta e a redução do minério para metal. Saindo um pouco da “sucata de transportes”, especificamente, o raciocínio funciona melhor ainda quando se trata do alumínio, pois o Brasil é campeão mundial na recicla-gem das latinhas que são feitas deste material. Na reci-clagem geral do metal, o país é o terceiro maior recicla-dor do mundo. Nesta conta entram, aí sim, os compo-nentes automotivos do superpossante de 20 anos atrás – promovido de relíquia a matéria-prima para os novos sonhos de consumo, de uma nova geração.

A permanência das estruturas remanescentes em espaços abertos pode se tornar, em

breve, mais do que um assunto restrito aos círculos econômicos

e ambientais. Pode se tornar um assunto de saúde pública.

Foto: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

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• Economia- Movimentação do mercado de consumo formal por meio da venda de peças reutilizáveis.- Aumento de empregos na cadeia de reciclagem, já que a tendência é que novas empresas de reciclagem se estabeleçam para atender a demanda gerada.- Aumento na arrecadação de impostos (trabalhistas/tributários/etc.) com a formalização do setor de des-montagem de veículo.- Possibilidade de criação de novos projetos susten-táveis atrelados a este novo setor formal.

• Trânsito- Veículos mais seguros, com a melhoria da qualidade da frota, devido ao acesso a peças com custos reduzi-dos, principalmente para veículos mais antigos.- Minimização da poluição do ar, diante da possibili-dade da manutenção preventiva.- Diminuição de congestionamentos nos grandes centros por conta de veículos parados nas vias por falta de manutenção.- Redução do número de acidentes envolvendo veí-culos sem manutenção.

• Saúde- Mitigação da dengue e outras doenças em regiões onde há concentração de veículos em pátios.- não contaminação do solo próximo a represas, ma-nanciais e lençóis freáticos.- Melhor qualidade do ar nos grandes centros.

• Meio ambiente- Redução da poluição ambiental por meio da remo-ção e destinação dos componentes que são conside-rados perigosos, como a bateria e os fluidos, e tam-bém por meio da neutralização dos componentes pirotécnicos (airbags e pré-tensores dos cintos de segurança) e gás refrigerante do ar-condicionado e líquido de arrefecimento do radiador.- Respeito às leis ambientais já aprovadas pelo governo.

• Social- Redução do índice de veículos roubados, com o ob-jetivo de reduzir criminalidade.- Empregabilidade, por meio da criação de empregos formais no setor de desmonte de veículos.

BeneFícIos Que tRaRIa o PL 372/2005

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Page 29: Novo Ambiente 10

Fotos: Revista Novo Ambiente/Leonilson Gomes

.Ônibus abandonado em Paranaguá (PR).

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ÁgUA Dia Mundial

uma arcapara a seca?

no mês do dia Mundial da Água, é inevitável refletir sobre a gestão de um dos mais valiosos serviços ambientais planetários – a água. O desequilíbrio ambiental que se mostra em cheias e estiagens reflete a urgência de uma abordagem cuidadosa no consumo e uso de um bem que é sinônimo de vida.

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Quando Noé recebeu as instruções divinas para a construção de uma arca capaz de salvar a existência da humanidade, ou

pelo menos sua continuidade, e a de todos os seres vivos da Terra, preparando-se para um dilúvio de proporções catastróficas, sem querer já nos dava um importante exemplo de planejamento.

Avisado da fúria divina contra os incessantes pe-cados humanos, a serem punidos com a extinção da vida, foi incumbido de salvar uma parcela represen-tativa desta natureza após um acordo com Deus, que diplomaticamente optou por poupar o construtor da arca, considerado o último dos justos.

Visto a possibilidade cataclísmica, após o plano foi executada a obra. Para além das questões religio-sas ou científicas que podem ser discutidas acerca do episódio, o fato é que, desde noé, nossa relação com as águas vem sendo um desafio.

O tema pertinente à água hoje está diametral-mente oposto ao problema do excesso após um di-lúvio ordenado pelas mãos de Deus. Hoje a escassez está na ordem do dia.

A situação global do uso e consumo da água é alertada há tempos pelo Programa das nações uni-das para o desenvolvimento (Pnud), que defende o direito fundamental de todo ser humano de dispor de pelo menos 20 litros de água potável por dia, gra-tuitos para os mais pobres.

ainda segundo a organização das nações uni-das, cada pessoa necessita de 3,3 mil litros de água por mês (cerca de 110 litros de água por dia) para atender às necessidades de consumo e higiene.

Desenvolvimento com equilíbrio31 Março/2011

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Agricultura70% indústria22% uso público8%Fonte: PNUD / UNWater

águaConsumo global de

(principalmente irrigação)

Apesar de a agricultura ser responsável pela reti-rada de cerca de 70% da água de rios e aquíferos no mundo, somente 18% das áreas cultivadas são irrigadas, e 40% da produção mundial de alimen-tos provém de agricultura irrigada.

Brasil 4,5 milhões de hectares

área irrigada no

68%ásia

17%Américas

9%europa

5%áfrica 1%

oceania

área irrigada no mundo(Aproximadamente 280 milhões de hectares)

Fonte: IBGE / ANA / MMA

Fonte: SIEBERT, Stefan; DÖLL, Petra; FEICK, Sebastian; HOOGEVEEN, Jippe; FRENKEN, Karen. global map of irrigation Areas versão 4.0.1. Universidade Johann Wolfgang Goethe, Frankfurt am Main, Alemanha; Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Roma, Itália, 2007.

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 32

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Economizar não é difícil

Exemplos práticos não faltam. A Eletrobrás, maior companhia do setor de energia elétrica da América Latina, criou sua própria Política de Recur-sos Hídricos com o objetivo de “orientar a utilização racional dos recursos hídricos no atendimento ao mercado de energia e no desenvolvimento das ativi-dades executadas pelas empresas Eletrobras”.

em são Paulo, a companhia de saneamento Bá-sico do Estado de São Paulo (Sabesp) promove, des-de 2009, o Programa de Uso Racional da Água (Pura). desde seu início, foi adotado em escolas, condomí-nios, prédios comerciais e instituições de governo, resultando na economia de mais de 70 milhões de litros de água por mês.

e no Paraná, a companhia de saneamento do Paraná (Sanepar), foi eleita, após pesquisa do jor-nal O Estado de São Paulo, que utilizou dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamen-to (snIs), a melhor empresa do Brasil no controle de perdas no abastecimento de água, apresentan-do um índice de Perdas de Faturamento de apenas

21,2%, o menor do país e próximo do ideal de 20% indicado pelo Ministério das Cidades.

“Com os investimentos permanentes em manu-tenção, tecnologia, treinamento e substituição de re-des antigas, queremos ficar abaixo dos 20%”, afirma o diretor-Presidente da sanepar, Fernando ghigno-ne. Segundo a companhia, que fornece água para 2,5 milhões de imóveis residenciais, comerciais e indus-triais no Paraná, com ações como acompanhamento diário das perdas em todos os municípios atendidos, auditorias semestrais, criação de um programa de metas e investimento de R$ 6,49 milhões na aquisi-ção de equipamentos de medição e monitoramento, as perdas foram reduzidas, em média, em 60 litros diários por ligação de 2005 a 2010.

Exemplos estão à mesa. Resta saber se a grande “arca” em que vivemos – o planeta Terra – precisará de outra arca, como a de noé, para salvar parte de sua natureza. Mas, caso isso aconteça, sofremos o risco de terminar em uma arca encalhada na escas-sez de água ao invés de navegar em um dilúvio.

Fotos: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

Desenvolvimento com equilíbrio33 Março/2011

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pReSeRvAÇÃO Exército

mão amigae mais verdemão amiga

e mais verde.O convívio dos homens do Exército nos biomas brasileiros sempre foi pacífico e preservacionista.

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Quase 300 mil pessoas são destinadas à de-fesa da pátria. Elas vigiam, fiscalizam, levam saúde e apoio aos brasileiros. São as nossas

Forças Armadas. Necessitando um investimento de cer-ca de R$ 400 bilhões até 2030, segundo o plano de rea-parelhamento desenvolvido pelo Ministério da defesa, as Forças Armadas, embora combalidas, possuem um rico e extenso material humano. E seus impactos são in-discutíveis, tanto na estabilidade geográfica americana quanto nas questões ambientais. Se o Exército brasileiro, por um lado, garantiu, pelo menos em boa parte, a inte-gridade da amazônia, por outro, seus 200 mil homens também geram um passivo preocupante. Se calcular-mos que cada um desses homens produz meio quilo de lixo por dia, então teremos cerca de 3 mil toneladas de resíduos por mês, só no Exército. Os números desta pe-quena situação são apenas suposições, e possivelmente sejam muito superiores a isso.

não apenas para lidar com esse volume de re-cursos e resíduos em corporações governamentais, surgiu a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), em 1999, criada pelo governo federal. A ade-são foi lenta no começo, mas nos últimos anos come-çou a ganhar força.

a entrada do exército, no início de março, neste pacto de reavaliação das suas operações e de seus próprios e desnecessários impactos vai trazer resul-tados expressivos. Tendo metas e objetivos claros de como essas centenas de milhares de homens poderão agir efetivamente para preservar o meio ambiente, a teoria vira prática vitoriosa mais rápidamente e em escalas significativas. O General de Brigada e Chefe de Relações Internacionais e Meio Ambiente Floria-no Peixoto Neto garantiu que, até o final de 2013, as ações da A3P estarão em plena execução nas 1.226 unidades do Exército espalhadas por todo o país.

empolgada com esse poderoso reforço, a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse durante a assinatura do acordo: “Temos a oportunidade de ser o primeiro Exército de baixo carbono do Planeta, com-prometido com as mudanças climáticas mundiais.” A Ministra declarou a vontade do Ministério do Meio

A Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) pretende criar um Estado de baixo carbono, mais econômico e responsável quanto à magnitude de seus impactos. Muitos setores do governo já aderiram voluntariamente ao procedimento e isso vai fazer uma grande diferença ambiental.

A Agenda Ambiental na Administração Pública é coordenada pelo Ministério do Meio Ambien-te e constitui um conjunto de valores socioam-bientais que geram ações sustentáveis no am-biente do trabalho. Desde a mudança de inves-timentos, compras e contratações de serviços pelo governo até a conscientização e utilização responsável dos recursos naturais e resíduos ge-rados, os órgãos buscam apagar suas pegadas ambientais e melhorar a relação custo-benefí-cio de suas operações. No site do Ministério do Meio Ambiente, existem detalhados materiais sobre como implantar o A3P e uma boa bibliote-ca com títulos e cases de primeira grandeza.

Ambiente em contar com a parceria do Exército em três novas fronteiras da agenda ambiental: a prote-ção das florestas e o acesso aos recursos genéticos, combatendo a biopirataria; a geração de novos ativos financeiros com a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, buscando novos patamares de distribuição de renda e justiça social; bem como a so-fisticação de tecnologias de eficiência energética para formulação de uma estratégia nacional competitiva que permita ao Brasil, definitivamente, fazer a transi-ção para uma economia de baixo carbono.

Outros órgãos do governo já aderiram há mais tempo à adoção de rotinas ambientais de preservação, como o Ministério Público, principalmente com a capa-citação dos gestores para as compras sustentáveis, tema que deve ser reforçado na agenda ambiental de 2011.

A Procuradoria Regional da República da 1a Re-gião, que já aplica o A3P há um ano, vai mais longe e está sempre em busca de soluções sustentáveis. neste ano, quer construir um minhocário, que ser-virá como espaço de compostagem do lixo orgânico produzido na Procuradoria.

O que é a A3P?

Foto: Ascom/EB

Desenvolvimento com equilíbrio35 Março/2011

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Boas vibrações

Festival que celebra a natureza e a harmonia entre as pessoas durante o período de carnaval reuniu 30 bandas e cerca de 4 mil participantes em uma fazenda no interior de Santa Catarina. Além de muita música, peças de teatro, mostra de cinema, oficinas e workshops, a interação entre os participantes, e deles com o meio ambiente, faz a essência do Festival Psicodália.

múSiCA Psicodália

Tom Zé em grande performance no Psicodália 2011.revistanovoambiente.com.brMarço/2011 36

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eles são loucos e cabeludos. Andam descal-ços, tocam e ouvem música o tempo todo. Música de qualidade. Para celebrar o car-

naval, escolhem sempre um refúgio junto à natureza. neste ano, cerca de 4 mil se reuniram em Rio negri-nho, interior de Santa Catarina. Nas edições anterio-res, outras cidades onde se pode curtir a natureza, como Morretes, Antonina e Lapa, no Paraná, e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, também abrigaram o Fes-tival Psicodália.

Durante o dia, o Palco do Sol recebia variados estilos, vindos de todos os cantos do Brasil. Mais de 200 grupos já se apresentaram no Festival, cuja pri-meira edição ocorreu em angra dos Reis, no ano de 2001. Durante a noite, a festa era na tenda principal, sempre com grandes nomes da música brasileira. O mais esperado deste carnaval foi o baiano Antonio José Santana Martins, o Tom Zé. Em anos anteriores, bandas como Os Mutantes e Casa das Máquinas dei-xaram a marca na história do evento.

os shows aconteciam a qualquer momento, não só nos palcos, mas também entre o público. A sinto-nia entre os acampados permitia manifestações cole-tivas emocionantes. Um simples grito, que começava em um lugar qualquer da fazenda, corria as barracas como um tsunami, pura vibração.

a principal preocupação, tanto dos organizado-res como dos participantes, foi de ter diversão com o mínimo de interferência no ambiente. Além de sepa-ração eficiente de lixo, bituqueiras estavam espalha-das por diversos pontos. Lixo no chão era coisa rara. Figura carimbada no Psicodália, o músico curitibano Plá transformou em canção sua história de amor pela bicicleta. As letras estimulam o uso, como em “Inva-são das Bicicletas”, que diz: “bicicletas são para gen-te, o motor quente não poluente. Parem os carros, diminuam os carros, queremos pedalar em todo lu-gar. Parem os carros, diminuam o cigarro, queremos respirar, queremos cantar.”

na paz

Os tumultos e brigas, que infelizmente ocorrem nas grandes festas de carnaval, passam bem longe do Psicodália. Durante os cinco dias do festival, os segu-ranças tiveram pouco ou nenhum trabalho. Nenhuma briga foi registrada, nada de tumultos ou desentendi-mentos. A energia é outra, direcionada para música e artes. Yoga, meditação, ciências cósmicas, contação de histórias baixavam a adrenalina injetada pelos shows musicais e por uma tirolesa de 650 m de comprimento que cortava a fazenda pelo alto.

Fotos: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

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ATiTUdeS ONGs

O Instituto Akatu é a atitude verde e amarela desta edição porque trabalha no nível mais profundo de grande parte dos problemas socioambientais: a consciência sobre o consumo e os sedutores convites da publicidade. O que faz o akatu diferente – e exemplar – é a qualidade de suas pesquisas e materiais produzidos, o que aumenta em muito as chances de sucesso perante o desafio de fazer com que o consumidor entenda seu poder e o impacto que suas inocentes compras podem causar.

Já consumimos de tudo. Animais, armas, pedaços de terra. Vagas no céu e escravos. Jogos e entreteni-mento. Medicamentos, alimentos e a cada dia mais

soluções para o bem-estar dos nossos. Não é exagero dizer que o desejo de consumo tirou o homem das cavernas. O comércio o fez caminhar e espalhar-se pela face do planeta. Dos princípios da classe burguesa até o neoliberalismo, foi um pulinho de alguns séculos, os mais prósperos da huma-nidade, e a força da atividade chega a ser tão grande que não raramente consumimos o que sequer precisamos ou o que usamos apenas uma vez na vida.

Cuidado,você está sendo

seduzido

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 38

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Cuidado,

Foto: Stock Photo

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É um poder sedutor que, em uma definição mais popular, nos “empurra goela abaixo” produtos inú-teis ou que, nocivos como são durante sua produção, não valem os benefícios que carregam dentro de suas embalagens.

A partir de uma atitude em verde e amarelo, o Instituto Akatu trabalha em uma esfera mais profun-da e por uma perspectiva muito interessante para ações de grande escala. Vai ao âmago do proble-ma do consumo: a falta de consciência do poder de transformação do consumidor.

dor. Não bastava dar ‘dicas’ de comportamento. O consumidor precisava entender a extensão e a gra-vidade da questão com a qual estava lidando. Preci-sava conhecer os impactos que suas escolhas de con-sumo tinham sobre os outros e, acima de tudo, sobre si mesmo. Precisava entender que sua mudança de comportamento tinha um grande peso sobre o pro-cesso de construção da sustentabilidade e também se sentir mobilizado a envolver outras pessoas nesse processo”, conta Hélio Mattar, Diretor-Presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

Atitudes frente ao consumo

Nos últimos anos, o Akatu tem servido como uma importante base de dados por meio de suas pesquisas sobre o consumidor brasileiro, e os resul-tados mais recentes levaram à edição de “O Con-sumidor Brasileiro e a Sustentabilidade: Atitudes e comportamentos frente o consumo consciente, Percepções e Expectativas sobre a Responsabilidade Social Empresarial. Pesquisa 2010”, realizada em 12 capitais brasileiras e apresentada em parceria com o Instituto Ethos no fim do ano passado.

um dos resultados que mais chamou a atenção é que 56% dos 800 consumidores entrevistados nunca ouviram falar de sustentabilidade e apenas 16% con-

empoderando o consumidor

“Empoderar”, termo utilizado pela ONG com a definição de “dar poder”, é um dos princípios que norteiam as ações do Akatu, partindo do pressupos-to de que o consumidor tem grande poder de deci-são no mercado, fazendo valer uma aliada, conquis-tada a duras penas e muitas vezes esquecida pelo ci-dadão comum: a democracia. Na livre escolha como uma arma legítima, pacífica e poderosa do consumi-

Não bastava dar ‘dicas’ de comportamento. O consumidor precisava entender a extensão

e a gravidade da questão com a qual estava lidando. Precisava conhecer os impactos que suas escolhas de consumo tinham sobre os outros e, acima de

tudo, sobre si mesmo.

Hélio Mattar, Diretor-Presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente

Foto: Ascom/Akatu

Page 41: Novo Ambiente 10

seguiram dar a definição correta. A análise mais ób-via destes e de outros números é de que há muito o que se fazer para dar um “upgrade” de pensamento na população nacional. Nas esferas mais altas do po-der brasileiro, muitas decisões importantes estão em andamento sobre um assunto do qual mais da meta-de da população sequer ouviu falar.

A pesquisa, quando comparada a outra publica-da em 2006, evidencia pontos favoráveis, mas o que se destaca mesmo é o fenômeno da “festa do consu-mo” com o crescimento da classe C e o aumento de renda da população. O acesso ao crédito e medidas de cortes de impostos do governo como forma de

lidar com a grande crise econômica também acaba-ram por desencadear a voracidade no consumo.

uma das campanhas da akatu que mais chamaram a atenção da imprensa, acabando por colocar definitiva-mente o Instituto entre os mais respeitados do país, foi a “1/3 de tudo que você compra vai direto para o lixo”, que alertava o consumidor para a problemática do desperdí-cio de alimentos. A forma clara de apresentar os núme-ros tornou-se incisiva e decisiva para a adesão da grande mídia e de parceiros de porte, mas para gerar uma trans-formação em grande escala como esta ainda há muito caminho pela frente. A população brasileira parece res-ponder ainda de forma lenta aos apelos sustentáveis.

• •

56%

9%

16%

19%

Definição correta

Definição errada

Não ouviu falar

Ouviu falar mas não sabe definir

•56%

9%

16%

19%

• grau de conhecimento do termo sustentabilidade

Classe A/B

Universitário

Classe C/D

Ensino Fundamentalou Médio

• Perfil dos consumidores pela compreensão do significado de sustentabilidade

Classe social

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%Escolaridade

57%

43%

24%

76%

74%

26%

34%

66%

Sabe o significado

Sabe o significado

Não sabe o significado

Não sabe o significado

Desenvolvimento com equilíbrio41 Março/2011

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“Mobilizar as pessoas para o uso do poder transformador dos seus atos de consumo consciente como

instrumento de construção da sustentabilidade da vida no planeta.”

Missão do Instituto Akatu:

Mais é menos

A atual campanha do Instituto pelo consumo consciente, “Mais é menos”, foi lançada no Dia Mun-dial sem Carro do ano passado e é uma pequena obra--prima pela simplicidade, beleza e eficiência em comu-nicar um conceito tão estranho a tantos. Em uma das peças publicitárias, uma árvore aparece “esvaziada” ao lado de um prédio inflado às suas custas.

A série de animação Consciente Coletivo, parceria entre o akatu, a HP Brasil e o canal Futura, é uma das três finalistas à medalha de ouro na categoria Progra-ma Animado do Festival Internacional de TV e Cinema de Nova Iorque 2011. “Por meio de um exemplo con-creto, o consumidor será levado a refletir sobre como suas escolhas de consumo interferem no cotidiano de sua cidade”, comenta Hélio Mattar.

revistanovoambiente.com.brMarço/2011 42

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ATiTUdeS Empresas

Page 45: Novo Ambiente 10

regeneraçãoque rende capital

A Vale Fertilizantes é uma das primeiras a conquistar créditos de carbono por meio do Mecanismo de desenvolvimento Limpo (MDL), implantado em suas unidades de Cubatão. Isso significa que a empresa deixou de jogar na atmosfera mais de 40 toneladas de óxido nitroso, um gás centenas de vezes mais nocivo à camada de ozônio que o carbono. A Vale Empresa é um dos símbolos da regeneração de Cubatão, um dos mais bem- -sucedidos casos de recuperação ambiental da história mundial.

Ilustração: Revista Novo Ambiente/Marco Jacobsen

Desenvolvimento com equilíbrio45 Março/2011

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Sérgio Ribeiro, gerente de produção de nitrogenados do Complexo Industrial de Piaçaguera e coordenador do projeto MDL

o Vale da Morte. Era assim que Cubatão, cidade da Baixada Santista, era conhe-cida na década de 1980. Isso por causa

dos terríveis níveis de poluição advindos de um dos maiores polos industriais do país, que, entre outras coisas, produzia a temida chuva ácida, causando danos irreparáveis à saúde da população local e de-generando boa parte da Mata Atlântica no entorno. em 1983, a onu havia declarado a cidade como o pior lugar do mundo para se viver. As 23 grandes in-dústrias ali instaladas lançavam 30 mil toneladas de poluentes na atmosfera por mês. Isso em uma área muito concentrada, que incluía uma vila de 4 mil mo-radores, quase todos com graves problemas respi-ratórios. Lenda urbana ou não, os recorrentes casos de crianças nascidas sem cérebro naquela localidade eram atribuídos à poluição impiedosa.

Podia ser pior? Sim, se a cobrança rígida do go-verno do estado de São Paulo e a resposta das indús-trias não tivessem acontecido. Mas a mudança ocor-reu de uma maneira tão radical que nem o jogador mais ousado apostaria sequer uma de suas fichas no fato de que Cubatão, menos de 10 anos depois da sentença da ONU, ganharia, justamente desta organização, o status de cidade símbolo da ecologia e exemplo de recuperação ambiental. Atualmente, Cubatão emite menos de 1% de poluentes na atmos-fera em relação ao que era produizdo na década de 1980). Além disso, grandes áreas de mata aparente-mente irrecuperáveis voltaram a abrigar vida animal, e muitas e muitas novas árvores estão em pleno de-senvolvimento. Os investimentos da indústria foram pesados em equipamentos como filtros e na adoção

de alternativas mais limpas de produção e geração de energia. Hoje, indústrias do polo começam a co-lher frutos econômicos das suas iniciativas, como é o caso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), acrescentando o pilar que faltava na susten-tabilidade dos métodos ambientais. A Vale Fertilizan-tes é a primeira a conquistar créditos de carbono por meio do MDL e, por isso, a Revista Novo Ambiente escolheu a indústria para representar a atitude em verde e amarelo no setor privado desta edição.

Quanto Vale?

Se o dióxido de carbono (CO2) é ruim para a cama-da de ozônio, o óxido nitroso (n2O) é 310 vezes pior. Após dois anos de implantação do projeto de Meca-nismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a Vale Fer-tilizantes conseguiu reduzir em 80% a emissão deste gás altamente nocivo quando liberado na atmosfera, um dos principais causadores do efeito estufa. A medi-ção foi feita nas unidades de produção de ácido nítrico de dois de seus complexos industriais em Cubatão e rendeu 13.663 créditos de carbono (CER – Certificado

O projeto permite à companhia comercializar créditos de carbono no mercado internacional – o que,

além de gerar recursos para a empresa, favorece efetivamente o meio ambiente, contribuindo

de forma mais ampla para o desenvolvimento sustentável.

Foto

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revistanovoambiente.com.brMarço/2011 46

Page 47: Novo Ambiente 10

de Redução de Emissões), os primeiros deste braço da maior empresa em valor de mercado do Brasil.

Os créditos de carbono são certificados emitidos para empresas ambientalmente responsáveis que conseguiram reduzir a emissão de gases do efeito es-tufa no meio ambiente. Um CER corresponde à redu-ção de 1 tonelada equivalente de co2. A redução da emissão de n2O convertida em carbono equivalente ao co2 corresponde, para cada tonelada de n2o re-movida, a 310 toneladas de co2.

Ricardo Prado santos, engenheiro especialis-ta em processos nitrogenados da Vale Fertilizantes, explica que para a redução de emissão de n2O “foi necessária a instalação de um catalisador secundário que tem a função de quebrar as moléculas de N2o, considerado um gee (gás do efeito estufa), em mo-léculas de oxigênio e nitrogênio, gases não poluentes encontrados em grandes quantidades na atmosfera”.

“O projeto permite à companhia comercializar créditos de carbono no mercado internacional – o que, além de gerar recursos para a empresa, favore-ce efetivamente o meio ambiente, contribuindo de forma mais ampla para o desenvolvimento sustentá-vel”, acrescenta Sérgio Ribeiro, Gerente de Produção de nitrogenados do complexo Industrial de Piaça-guera e Coordenador do projeto MDL.

Mercado carbônico

Os créditos de carbono foram uma solução ado-tada durante as negociações do Protocolo de Quioto para estimular boas práticas ambientais nas empre-sas e também uma primeira forma de quantificar, em cifrões, o valor dos serviços ambientais que mantêm a estabilidade da atmosfera.

Quem libera os créditos é a United Nations Fra-mework Convention on Climate Change (UNFCCC), após monitoramento dos dados das empresas, análi-se de periódicos e auditoria de órgãos internacionais. O mercado brasileiro é o que provavelmente possui maior potencial no planeta, pela riqueza de seus re-cursos naturais; no entanto, a atividade ainda é mui-to incipiente. Existe a negociação privada de CREs, na qual geralmente o Brasil é um gerador de certifica-dos, e empresas estrangeiras comprometidas com as metas de redução de Quioto são as compradoras para atingir tais objetivos.

Desenvolvimento com equilíbrio47 Março/2011

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A BM&Bovespa disponibiliza uma plataforma para leilões de créditos para operações específicas, porém falta apoio e instrumentalização legal para regular o mercado de carbono. No Brasil, existe uma única Lei, a de n.o 12.187/09, que institui a Política Nacional sobre Mudança no Clima, a qual propõe o Mercado Brasileiro de Redução de emissões, que dará condições para a negociação de ceRs mas ain-da não foi efetivamente implantada. Outros quatro projetos tramitam no Congresso Nacional tratando de diversos aspectos deste mercado. No documento “Regulação dos Ativos Ambientais no Brasil”, coorde-nado pelo BM&Bovespa e o Banco Mundial e desen-volvido pelo escritório de Direito Leoni Siqueira Ad-vogados, seus autores* apontam:

“A legislação brasileira não estabelece regras es-pecíficas relativas à tributação e à contabilização da geração e à comercialização de créditos de carbono, logo o tratamento aplicável a tais operações deve ser determinado a partir das normas gerais em vigor.

Cada tonelada de carbono evitada na atmosfera equivale a

1 crédito de carbono=

(Co2)

Cada tonelada óxido nitroso

evitada na atmosfera equivale a 310 créditos de carbono

=(n2o)

Não existem, tampouco, orientações específicas so-bre a matéria por parte das autoridades competen-tes brasileiras, seja nos atos normativos expedidos pela secretaria da Receita Federal do Brasil (sRFB), seja nos organismos responsáveis pela uniformiza-ção das práticas contábeis nacionais.”

Existe o temor de que o mercado de carbono pode vir a ser como uma “licença para poluir”, já que uma empresa situada na china, por exemplo, pode-rá comprar créditos no Brasil, o que favoreceria nos-so país, mas não o entorno da empresa em questão. Mesmo assim, existem poucas dúvidas de que ele vai prosperar como uma das melhores soluções globais encontradas até aqui. O valor de mercado de cada cré-dito, no entanto, ainda é indefinido, o que gera certa resistência de investimentos pesados em sua geração/compra. Uma tonelada evitada de carbono na atmos-fera pode valer entre R$ 10 (como no leilão realizado pela BM&Bovespa em abril do ano passado) e R$ 60 (valor a que chega nos EUA e na Europa).

Existe o temor de que o mercado de carbono

pode vir a ser como uma “licença para poluir”, já que

uma empresa situada na China, por exemplo, poderá comprar créditos no Brasil,

o que favoreceria nosso país, mas não o entorno da

empresa em questão.

O valor de mercado de cada crédito, no entanto, ainda é indefinido, o que gera certa resistência de

investimentos pesados em sua geração/compra.

Cada crédito de carbono custa entre R$ 10 e R$ 12, segundo o último leilão promovido pela Bovespa, em abril de 2010.

*Autores do estudo “Regulação dos Ativos Ambientais no Brasil”: Antônio Mello e Souza, Flavio Leoni Siqueira, Hermano Notaroberto Barbosa, João Paulo Ferraz Vasconcellos, João Ventura, Leonardo Ciuff o e Priscila Carvalho.

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ATiTUdeS Governo

Particularmente

preservadasParticularmente

preservadas

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Vem mais uma vez de São Paulo uma atitude em verde e amarelo digna de destaque em nossa série especial de reportagens sobre ações positivas por um desenvolvimento com equilíbrio do setor público. Juntas, atitudes como o projeto Mina d´Água, recém-lançado pelo governo paulista, e a ampliação do número de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) no estado podem representar novo sopro de esperança na preservação do precioso e cada vez mais escasso líquido.

Fotos: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

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ao fazer valer a Lei Federal nº 9.985/2000, que criou o sistema nacional de unida-des de conservação (snuc) e que prevê a

certificação de RPPNs (Reservas Particulares do Pa-trimônio natural), o governo do estado de são Paulo oficializou o papel de protagonismo que cada um de nós “pessoas físicas”, comuns, filhos de Deus temos na preservação dos recursos naturais.

Por falar em pessoa física, tem pouco mais de 3,5 km2 a maior RPPN do estado mantida por apenas um cidadão, em São José dos Campos. Ao todo, o estado já dispõe de 4,7 milhões de hectares de área protegi-da. A Revista Novo Ambiente esteve presente à ceri-mônia de oficialização de quatro destas reservas, que somam, sozinhas, quase 1.400 hectares. Duas ficam em Bertioga e uma em Amparo, além da já menciona-da em São José dos Campos.

Presente à solenidade, o Governador Geraldo Alckmin ressaltou a importância desta oficialização: “Elas (as RPPNs) são uma grande conquista. São parte dos deveres do estado de educar, fiscalizar e incenti-var, para que possamos ser mais efetivos na preserva-ção ambiental, do patrimônio natural de São Paulo.”

Já o Secretário de Estado do Meio Ambiente, Bruno Covas, também presente ao ato, foi ainda mais incisivo: “Esta é uma forma de garantir que da-qui a muitos e muitos anos, talvez até centenas de anos, tenhamos em uma área particular as condições ideais para assegurar a continuidade da biodiversida-de do estado de São Paulo”, declarou. E afirmou ain-da: “Nosso compromisso à frente da Secretaria é dar vazão a este trabalho e ampliá-lo. Iremos inclusive buscar as condições para a remuneração por serviços ambientais dentro do escopo das RPPNs paulistas”, pontuou.

Representando um parceiro importante do esta-do nesta empreitada, o Diretor do WWF-Brasil, Clau-dio Maretti, apontou ainda outra vantagem apresen-tada por esta ação: “É uma forma inteligente de ma-pear o sistema estadual de preservação, de levantar informações a respeito das características dos biomas, sua importância e estágio em que se encontram. E não se trata apenas das áreas reconhecidas pelo estado de São Paulo, como também das que são reconhecidas pelo governo federal, o que colabora para que tenha-mos um panorama abrangente”, disse.

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Mina d’Água

Parte constituinte deste esforço e não menos importante foi o lançamento, no mesmo evento do Projeto Mina d’Água, que remunerará os produtores rurais paulistas visando a proteção das nascentes existentes nas propriedades.

A intenção é conciliar o incentivo à preservação com a geração de renda e, de quebra, mostrar van-guardismo ao adotar uma das mais modernas e atu-ais concepções de enfoque ambiental da atualidade: a do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), práti-ca em franca ascensão e em voga nos discursos legiti-mamente “verdes” mundo afora.

O projeto Mina d’Água pretende ser uma forma eficiente de estimular a proteção das nascentes de mananciais de abastecimento público, conciliando atividades de preservação com geração de renda principalmente no meio rural. O governo do estado reservou R$ 3,15 milhões para a fase piloto do proje-to. A previsão é de que 150 nascentes sejam protegi-das por município, totalizando 3.150 localidades.

Por meio de convênios firmados com os municí-pios, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente capa-citará técnicos municipais e viabilizará o apoio neces-sário para o planejamento e monitoração dos projetos que vierem a ser desenvolvidos. Tanto a assistência técnica quanto o acompanhamento das ações in loco serão de responsabilidade dos municípios. O cálculo

do valor a ser ordenado é definido de acordo com o custo de oportunidade da região, o grau de proteção da nascente e sua relevância para o manancial.

Logo no lançamento do projeto, foram firmados oito convênios totalizando 16 municípios, sendo que na fase piloto serão firmadas parcerias com 21 deles. Também já se encontram em adiantado processo as inclusões de mais cinco cidades.

Além da preservação ambiental das minas d´água, nascentes e, consequentemente, dos ma-nanciais, há um aspecto econômico relevante a ser considerado em tal remuneração advinda de um Psa com estas características.

os pagamentos aos proprietários das áreas con-templadas poderão significar um aumento de ren-da geral para as economias locais. Diferentemente dos centros urbanos, que são equipados com infra-estrutura e serviços variados, as áreas rurais e seus habitantes são muito mais sensíveis à entrada de recursos, sobretudo financeiros. Pequenas quan-tias podem resultar em grandes avanços no campo em termos de novos serviços, pequenos comércios, produtividade agrícola e integração social. Adicional-mente, estabelece-se a saudável mentalidade do PSA – a ideia de que preservar “dá dinheiro” é sempre um bom começo, um passo inicial para uma educação ambiental legítima e consciente.

Fonte: SMA/Governo SP

Com a criação destas quatro novas áreas,

são Paulo passa a contar com 59 rPPns, totalizando

18.130,63 hectares.

já assinaramconvênio:

BrotasColinaEldoradoGuapiaraGuararapesIbiúnaSão Bento do SapucaíNovo Horizonte Santa Fé do SulAssisCristais PaulistaGarçaMonteiro LobatoPiracaiaRegente Feijó

em processo de firmar parceria:Bertioga

Itapecerica da SerraSanta Rosa do ViterboSão João da Boa Vista

Ubatuba

• o Projeto mina d´água

Investimento inicial (projeto piloto)R$ 3,15 milhões

Previsão de convênios21 municípios

Previsão de nascentes protegidas150 por município = 3.150 nascentes

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CApA Cidades Sustentáveis

sustentópolissustentópolisEm busca de cidades sustentáveis, poder público, iniciativa privada e organizações têm dado importantes passos para reverter os danos ao planeta e conquistar a dignidade integral do ser humano. Um grande negócio para a indústria de soluções limpas e inteligentes, uma grande oportunidade para a evolução de novos conceitos políticos, mas ainda falta o mais importante: a participação massiva da população, que deve conhecer para saber cobrar e ajudar a construir uma cidade melhor pra se viver.

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.Jardim Botânico em Curitiba.

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É difícil dizer se estamos na Era das Catástrofes naturais e Humanas ou na era mais ilumina-da de toda nossa história, na qual encontra-

mos, cada vez mais rápido, grandes soluções, que têm visivelmente melhorado a qualidade de vida da popula-ção mundial de forma expressiva. Porém, o mundo está mais do que convencido de que deve haver uma grande guinada, quase desesperada, em direção a um porto se-guro que garanta sua própria sobrevivência. O mar está mais para tsunami do que para peixe, e o céu está mais pra tempestade do que para brigadeiro. E os recursos que mantêm uma cidade podem sumir da noite para o dia, como aconteceu no Japão, uma potência econô-mica que agora se vê novamente diante do mais antigo mal coletivo: a fome.

As cúpulas governamentais de boa parte do pla-neta se debruçam diante de possíveis soluções para os problemas que afligem as cidades: insegurança, polui-ção, desemprego, fome, congestionamento, ansiedade e outras doenças urbanas. O Fórum Urbano Mundial da onu, realizado na cidade do Rio de Janeiro no ano passado, apresentou documentos com os quais os paí-ses membros se comprometeram – mas não precisava muito para ver que boa parte deles, como o Brasil, sabia que não poderia cumprir as intenções declaradas, pois a grandeza da ideia da organização está a milhares de qui-lômetros da realidade, e da possibilidade do que fazer com ela. Então, banaliza-se o conteúdo.

Sob o genial título de A insustentável leveza do ser, Milan Kundera, romancista tcheco, brinca que uma pessoa sem amarras ou compromissos pode ser insustentável, pois é necessário colocar os pés no chão para poder afirmar que se tem controle sobre si.

mundo, mas, até por seu próprio sucesso econômico e estrutural, acabou absorvendo uma quantidade enor-me de pessoas de outras partes mais pobres do país que vislumbravam a vida que a capital paranaense pro-metia. Milhares acabaram inflando bolsões de miséria em torno de uma cidade onde ricos de todo o Brasil têm investido pesado, sob um mercado imobiliário cada vez mais inflacionado, para usufruir os serviços que a bela capital oferece. Isso nos mostra que não é possível sus-tentar um país apenas com ilhas de bonança. O desen-volvimento precisa atingir cidades de todos os portes, distribuir-se regionalmente, ocupar geograficamente.

O crescimento demográfico curitibano foi grande nos últimos anos, a exemplo de todas as capitais, e o estado parece não ter agilidade para acompanhar este crescimento, nem tampouco de atender a todas essas pessoas. O meio ambiente recebe como prêmio toda a carga residual da ocupação desordenada. Curitiba pode ser a cidade mais próxima do conceito de susten-tabilidade, o que não significa que ela esteja perto de atingir esta excelência. Não. Não existem cidades sus-tentáveis, mas existem exemplos geniais que devem ser seguidos, e exemplos de incompetência que não podem ser esquecidos.

Deslizando pela urbe

o desenho de uma cidade tem papel fundamental na qualidade de vida das pessoas; a forma de se loco-mover dentro desse desenho também. Mas transpor-tar massas, milhões de passageiros todos os dias para lá e para cá não é fácil. Vivemos de modelos de trans-portes públicos esgotados pela incrível demanda que recai sobre eles. Por isso mesmo, o conceito de qua-dras e edifícios onde se mora, estuda e trabalha ganha cada vez mais corpo na nova arquitetura sustentável.

Até lá, o número de carros continuará crescen-do à proporção que o ganho médio do brasileiro aumenta, e urbanistas de todo o Brasil já se deram conta de que não há rua que chegue e que abrir mais avenidas não resolve problemas. O foco contínuo no transporte individual por carro não leva a outra coisa senão a colapsos de transportes frequentemente ob-servados. Mesmo o carro elétrico ou os que utilizam outros combustíveis alternativos são opções mais limpas e de menos impacto no meio ambiente, mas continuam sendo carros, e, elétricos ou não, conges-tionam o trânsito, consumindo horas importantes na vida de cada um, além de serem muito mais suscetí-veis a acidentes, assaltos e gastos com manutenção.

A sustentabilidadeque gera injustiça

No Fórum Urbano, foi apresentado um relatório socioeconômico que apontou que, entre as 20 cidades mais desiguais do planeta, cinco são brasileiras: Goiâ-nia, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e, surpreenden-temente ou não, Curitiba, aquela que é considerada a cidade mais sustentável da América Latina. Pode não ser surpresa se analisarmos que Curitiba implantou pro-gramas replicados mundo afora, como a coleta seletiva de lixo (a primeira no Brasil); o calçadão da Rua XV, que priorizou o pedestre ante o carro (também o primeiro do país); a imensa quantidade de belíssimos parques; o sistema de BRt (Bus Rapid Transport) mais eficiente do

Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

Desenvolvimento com equilíbrio57 Março/2011

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Se levarmos em conta os números, a segurança e a eficiência, o Metrô de São Paulo é, de longe, o mais bem-sucedido sistema de transporte público do Bra-sil. Diariamente, ele transporta mais de 3 milhões de passageiros, e em 2010 registrou novo recorde de demanda: 3,9 milhões de passageiros transportados em único dia. Segundo informações oficiais do Me-trô de são Paulo, no início de sua operação comer-cial, em 1974, a média diária de passageiros era de apenas 2.858 pessoas, e os trens do metropolitano funcionavam somente de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h. Desde então, mais de 20 bilhões de pesso-as (o equivalente a três vezes a população da terra) já trafegaram pelo sistema de metrô, que hoje fun-ciona todos os dias e possui um headway (intervalo entre trens) entre os menores do mundo. Existem projetos e experiências de transporte público no Brasil como o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o BRT (Bus Rapid Transport) e o taV (trem de alta Velocida-de), mas é difícil imaginar algo mais eficiente que o metrô, porém a implantação deste nos grandes cen-tros urbanos que ainda não o possuem é um sonho quase impossível, por causa dos gigantescos custos com obras urbanas em regiões de grande movimen-

tação e também pelas desapropriações milionárias que precisariam ser feitas.

Muito mais magrinha que seu companheiro ro-busto que circula sob a maior cidade do Brasil, a bi-cicleta é a alternativa teoricamente mais inteligente e saudável. Hoje, nenhum projeto urbanístico é con-siderado “racional” se não contemplar áreas para trânsito de ciclistas. Mesmo em locais onde existem grandes extensões de ciclovias, se o ciclista precisar sair da rota para ir ao local de trabalho ou estudo, por exemplo, inevitavelmente terá que disputar, em uma briga injusta, território com os carros e as ainda mais perigosas motocicletas. Os extremos climáticos e as chuvas também são complicadores. Em capitais como Curitiba e Porto Alegre, que contam com boas ciclovias, o clima tende a desmotivar o ciclista, com muita umidade, chuvas e frio. A segurança também preocupa, pois em cima de uma bicicleta a aborda-gem dos ladrões é ainda mais eficiente, e ele ainda pode fugir da vítima montado no próprio objeto do roubo. Mas a opção séria pela bicicleta como meio de transporte, e não apenas um objeto de lazer, ain-da é incipiente, apesar de ela ser uma grande aposta, inclusive muito mais viável economicamente.

Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

.Metrô de São Paulo: rápido, seguro e confortável.

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Humanos: pequenas fábricas de lixo

Ruas arborizadas, prédios au-tossuficientes, espaços urbanos generosos com os moradores, siste-mas de transporte eficiente e limpo. não se engane, um cenário paradi-síaco pode esconder sobre si uma vergonha: a falta de saneamento. Isso joga o conceito de sustentabili-dade no lixo (a céu aberto), ou nos rios, ou nos mares.

Segundo últimos dados di-vulgados pelo Ministério das ci-dades, apenas 44% da população brasileira está ligada a uma rede de esgotos, e menos de 30% des-

se esgoto recebe tratamento. O estudo “Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População”, do Instituto Trata Brasil, aponta que 5,9 bilhões de litros de esgoto são lançados dia-riamente no país sem que rece-bam qualquer tratamento, e vão parar nos rios, nas praias, no solo. A pesquisa foi realizada a partir de dados das 81 maiores cidades do Brasil (todas com mais de 300 mil habitantes). Em 2008, quase 70 mil crianças de até 5 anos de ida-de (a faixa mais atingida) foram internadas, nas cidades avaliadas,

40% das cidades com mais de 300 mil habitantes registraram casos de diarreia em crianças de 0 a 5 anos por causa da falta de saneamento básico.

por causa das diarreias causadas por falta de saneamento. O que se espera do termo sustentabilidade passa muito longe desta realidade e, segundo grandes nomes do ur-banismo, mesmo nas cidades apa-rentemente complexas e sedimen-tadas, onde tudo parece perdido, as mudanças podem ser muito mais simples e mais rápidas do que se imagina.

o tratamento de esgoto, as-sim como do lixo, pode chegar a um impacto socioambiental zero – e melhor: economicamente in-teressante. Tratamento e reutili-zação da água, gases dos aterros

Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

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.Aterro controlado de Brasília, horas antes da sanção presidencial da Lei de Resíduos Sólidos no ano passado.

Desenvolvimento com equilíbrio59 Março/2011

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• ranking das piores cidades (acima de 300 mil habitantes) em sanea-mento básico, segundo análise de um conjunto dos indicadores avaliados (entre eles o tratamento de esgoto) pelo instituto trata Brasil:

855 mil

1,4 milhão

329 mil

301 mil

678 mil

495 mil

468 mil

495 mil

864 mil

379 mil

0%

6%

13%

3%

8%

0%

0%

1%

0%

0%

72º Nova Iguaçu (RJ)

73º Belém (PA)

74º Canoas (RS)

75º Rio Branco (AC)

76º Jaboatão dos Guararapes (PE)

77º Ananindeua (PA)

78º São João do Meriti (RJ)

79º Belford Roxo (RJ)

80º Duque de Caxias (RJ)

81º Porto Velho (RO)

Posição/cidade População % de esgoto tratado

• ranking das melhores cidades (acima de 300 mil habitantes) em saneamento básico, segundo análise de um conjunto dos indicadores avaliados pelo instituto trata Brasil:

348 mil

327 mil

478 mil

622 mil

417 mil

558 mil

331 mil

576 mil

2,6 milhões

2,4 milhões

municipal/privada

estadual

privada

municipal

estadual

municipal/privada

estadual

municipal

estadual

estadual

1º Jundiaí (SP)

2º Franca (SP)

3º Niterói (RJ)

4º Uberlândia (MG)

5º Santos (SP)

6º Ribeirão Preto (SP)

7º Maringá (PR)

8º Sorocaba (SP)

9º Brasília (DF)

10º Belo Horizonte (MG)

Posição/cidade População Operação dos serviçossanitários para a geração de ener-gia, ações inteligentes para a mini-mização dos resíduos (esquemas de coleta seletiva, óleo de cozinha, baterias, lâmpadas) são algumas das centenas de boas ideias que podem ser aplicadas.

O ranking elaborado pelo Ins-tituto Trata Brasil, avaliando vários indicadores de saneamento (es-goto, praias, tratamento da água, reutilização, resíduos sólidos, etc.) aponta que Jundiaí/sP é a cidade que oferece os melhores serviços à sua população de 348 mil habitan-tes. A operação municipal ocorre em parceria com o setor privado. Franca/sP aparece em segundo lugar, com operação estadual e população de 327 mil habitantes; niterói/RJ em terceiro, com ope-ração privada e população de 478 mil habitantes. O negócio é apren-der com quem sabe, muito embora nossos melhores professores este-jam mesmo lá fora, onde há muitas décadas vários países já não admi-tem mais a vergonha de expor suas populações à falta de saneamento.

Foto: Revista Novo Ambiente/Marcelo Almeida

Brasília, uma cidade planejada e com boa qualidade de vida, mas não escapa da regra da falta de saneamento básico nas capitais brasileiras.

Page 61: Novo Ambiente 10

Do caos à sustentabilidade

a ocupação desordenada gera uma cadeia de acontecimentos nefastos. O lixo e o esgoto vão para o rio, o fluxo da água é interrompido, os vetores de doenças se alastram, acontecem enchentes e os pre-juízos, humanos e materiais são irreparáveis.

o conceito de cidade sustentável prevê organi-zação acima de tudo. Autossuficiência energética, uso inteligente dos recursos naturais, como o solo, o sol, as águas, o vento, as árvores, sua madeira e seus frutos. Isso inclui reavaliar um dos maiores erros co-metidos pela humanidade em relação à natureza: não respeitar o espaço que ela precisa. A ocupação irregular em torno de cursos de água e encostas é conhecida de todos, e, evidentemente, o curso de um rio desviado, um banhado aterrado, uma encos-ta ocupada, um vulcão adormecido, mais dia, menos dia, vai reclamar seu espaço de volta. Se mantiver-mos distância respeitosa (para nós mesmos e para a natureza) muito se evitará de dor e perda.

Mas como sustentar um discurso tão romântico com um déficit de 5,8 milhões de moradias no Brasil? estes dados fazem parte de um levantamento reali-zado pelo Ministério das Cidades em 2008. Aqui, tal-vez esteja uma grande oportunidade do país reverter seus conceitos desleixados quanto ao meio ambien-te. O Governo federal aponta para um crescimento no mercado da construção de casas populares, mas a parcela de casas que primam por projetos em dire-ção à sustentabilidade ainda é pequena, mas o setor privado já viu que economizar e não ser dependente, é um grande e inteligente negócio. Não por menos o 8º homem mais rico do mundo, o brasileiro Eike Ba-tista, pretende criar a Cidade X, um empreendimento que, para realmente ser sustentável deve promover a integração de classes no espaço urbano, assim como se propõe o bairro Cidade Pedra Branca, em Palhoça, na Região Metropolitana de Florianópolis. O bairro possui universidade, escolas, comércio e um conceito de quadras integradas onde se pode estu-dar, trabalhar e morar.

a energia solar está ganhando espaço e a eólica conquistou definitivamente o coração dos brasilei-ros. Não será difícil que em um futuro próximo te-nhamos os “cataventos gigantes” próximos de mui-tas cidades, oferecendo energia a preço competitivo e tendo custos de transmissão muito mais reduzidos pela distância. Muitas lâmpadas só acendem no Bra-sil mais longínquo porque recebem energia de uma usina distante: Itaipu, no Paraná.

Para que haja sustentabilidade nas cidades, sua população tem que ser comprometida com novos conceitos: nada de desperdícios de consumo (em-balagens, alimentos jogados fora) e recursos como

energia e água, triagem do lixo domestico, nova pos-tura ética, políticas que expressem as melhores solu-ções para os grandes centros urbanos. Compromisso com a regeneração do meio ambiente.

um novo mercado surgirá tão forte quanto o da extração mineral: o da reciclagem, que a cada dia ganha mais escala e domina parcelas ainda tímidas, mas cada vez mais importantes da economia na-cional. O mundo já possui bons exemplos, alguns o leitor pode encontrar em cada uma das edições da Revista Novo Ambiente. Pensar em cidades susten-táveis é considerar a autosuficiência em recursos energéticos, econômicos, naturais e humanos.

Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

.Qualidade de vida inclui ambientes agradáveis e seguros para o convívio.

Bom Ki-moon, secretário geral das nações unidas,durante o último Fórum da Habitação da ONU

“A persistência da pobreza urbana é em grande medida o

resultado de economias e finanças urbanas fracas e de ausência de instrumentos e instituições

necessários para apoiar fundos para habitação e infra-estrutura”.

Desenvolvimento com equilíbrio61 Março/2011

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metrópoles sustentáveis

eNTReviSTA Gustavo Fruet

o advogado gustavo fruet tem apenas 48 anos e já é uma liderança inquestionável. nas elei-

ções de 2006 para deputado federal pelo Paraná, foi o mais votado em seu estado, e, embora nunca tenha declarado abertamente, sonha em um dia chegar ao poder executivo da capital, quiçá do estado. sinônimo de ética, assiduidade nas sessões e comissões, e de trabalho pesado e de alta qualidade técnica, foi apon-tado por anos sucessivos como um dos políticos brasi-leiros mais influentes no Congresso nacional. em 2010, candidatou-se ao senado pelo PsdB, enfrentando dois gigantes: o ex-governador roberto requião, que desde os tempos de grêmio estudantil nunca perdeu uma elei-ção, e gleisi hoffmann, casada com o ministro das Co-municações Paulo Bernardo e principal aposta do Pt no Paraná. obteve quase um quarto dos votos dos parana-enses (mais de 2,5 milhões) e não foi eleito, mas deixou claro sua força política. fruet recebeu a equipe da Revis-ta Novo Ambiente para uma entrevista, com a gentileza que lhe é característica. seu carisma e histórico de lisura política mostram que estamos diante daqueles políti-cos de que precisamos.

Ou seja, ter muita clareza com essa ideia de inovação, com essa ideia de cidades criativas – a chamada eco-nomia verde, que trata da qualidade do ar, da água, da coleta e disposição final do lixo; planejamento urbano e uso do solo e também a questão da mobilidade com relação a alternativas de transporte de massa e dimi-nuição de congestionamento. Cada vez mais esses temas vão desafiar os gestores, então o objetivo das palestras é procurar trazer um pouco dessa experiên-cia. Até 1988, não havia uma política urbana na Cons-tituição brasileira, e de alguma maneira não era agen-da prioritária dos governos. O Presidente FHC criou a Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano, o Presidente Lula a transformou em Ministério das Cida-des, e muitos instrumentos foram criados, dando ou potencializando a autonomia dos municípios.

Quais instrumentos, por exemplo?

• O Estatuto das Cidades, a Lei de Responsabi-lidade Fiscal, a Política Nacional de Saneamento, a política de desenvolvimento na área de Mobilidade Urbana e agora a última medida do governo Lula, que foi a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Isso é uma demonstração de que esse tema definitivamen-te está incorporado à agenda política do país, já que quase 85% da população mora nas áreas urbanas.

O Estatuto das Cidades é bem claro na questão da boa destinação do solo, da preservação do meio ambiente, da ocupação regular em áreas que não sejam de risco. Sabemos que o Brasil é até muito bem servido de leis, mas a aplicação delas e a fisca-lização estão muito aquém do que se espera. Nós temos estrutura para acertar isso?

• Não, não temos estrutura e não se resolve dinâ-mica urbana com a lei, evidente. É até um erro imaginar que se vá criar um engessamento, ou de forma autori-tária definir como se deve dar o processo de crescimen-to urbano, é impossível isso. Justamente, o gestor tem

Você coloca em suas palestras que as cidades têm que ser inovadoras e criativas. Na prática, o que isso deve representar para as cidades?

• Diminuir o impacto do crescimento desorde-nado. O estudo que eu apresento é uma análise feita a partir de uma classificação de cidades, em especial nos eua e na europa, e demonstra, analisando uma série de fatores, um padrão de crescimento, um pa-drão de qualidade de vida acima da média. Quais são esses fatores? Melhorar o acesso à moradia; prevenir, antecipar e diminuir os riscos de desastres naturais; políticas de energia e mudança climática; acesso a ali-mentos produzidos no local; base de conhecimentos.

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que ter a capacidade de saber administrar entendendo como se dá a dinâmica na sua cidade. Mas quais são os extremos? De um lado, evitar a inexistência de instru-mentos que permitam ao administrador interferir. A ci-dade, cada vez mais, vai ser um espaço de contradição e de conflito. O gestor será responsabilizado pela omissão, mas precisa ter instrumentos de ação. Por quê? É um princípio da gestão pública que ninguém pode fazer o que a lei não permita. Não é uma relação entre particu-lares, por que existe isso? Pra evitar o arbítrio do gestor, do governante, do político. Ele também não pode fazer o que ele quer; por mais bem-intencionado, às vezes pode abrir margem a desvios ou a determinados benefí-cios. Infelizmente, se estabeleceu que só pode ser feito o que a lei permite, esse é um ponto.

A burocracia morosa é o outro lado dessa moeda?

• Temos que evitar o outro ponto que é o exces-so legislativo, é um emaranhado de leis, má elabo-ração da lei, que acaba não tendo sua aplicação, ou por desconhecimento ou por falta de estrutura. Não adianta ter uma lei maravilhosa, o Brasil dispõe de muitos instrumentos, se ela não for eficaz. A ideia do estatuto foi deixar claro que boa parte da ocupação urbana se perde ou no excesso de formalismo ou na

ilegalidade. Muitas capitais têm uma parte expressi-va da sua população – em algumas regiões, mais da metade da população – morando em áreas infor-mais. Se a pessoa não tem condições de ter acesso a uma moradia no sistema convencional, é evidente que ela vai morar onde for possível, e isso tem um processo de crescimento muito mais rápido que qualquer planejamento.

Curitiba é uma cidade muito bem vista na questão de planejamento, embora tenhamos tido aí governos vi-sionários como o de Jaime Lerner. Hoje, mesmo cida-des como Curitiba vivem grandes problemas com o inchaço populacional, inclusive em suas regiões me-tropolitanas. Que soluções você apontaria?

Dois pontos: uma cidade sem fronteiras e, se-gundo, que não pode ficar parada vivendo às custas do seu passado de planejamento. Cidade sem fron-teiras: não se pode mais pensar em Curitiba isolada da Região Metropolitana. Não se pode imaginar que Curitiba vai ser uma cidade classe média e transferir problemas para a Região Metropolitana, com custo de moradia mais elevado. Ocupação do solo, restrições ambientais, o custo de ampliação do transporte é co-

Em algumas cidades da Região Metropolitana, quase metade da

população ou trabalha em Curitiba, ou atravessa a cidade para o

seu trabalho, então isso vai na contramão do que se imagina para

a sustentabilidade.

Foto: Revista Novo Ambiente/Estanis Neto

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letivo; então, uma cidade sem fronteiras. E o segundo ponto: Curitiba tem uma belíssima tradição, com-pletará 50 anos de planejamento institucional, uma cidade que tem uma cultura de planejamento muito grande, com uma participação da sociedade organiza-da muito intensa. Uma cidade que já apresentou pro-jetos que foram referência para o país e para muitas cidades no exterior. Mas precisa dar um novo salto, ela não pode ficar só gastando esse patrimônio que foi conquistado ao longo do tempo. E pra isso precisa ser criativa, ter capacidade de liderança e de inovação.

De certa forma, as cidades-polo acabam tendo uma responsabilidade sobre suas regiões vizinhas, porque elas vivem sob a influência dessas metrópoles.

• Veja, em algumas cidades da Região Metropo-litana, quase metade da população ou trabalha em Curitiba, ou atravessa a cidade para o seu trabalho, então isso vai na contramão do que se imagina para a sustentabilidade.

A respeito da agricultura, que é uma área em que você atuou nesses anos todos na Câmara, qual é a respon-sabilidade da agricultura pra uma cidade ser susten-tável? Curitiba, hoje, praticamente não produz nada, muito poucos alimentos. Ela processa, industrializa...

• Claro que em larga escala é inviável, não tem como comparar, mas, entre os fatores analisados na classificação destas cidades sustentáveis, um dos itens mais importantes é o acesso aos alimentos produzidos no local, e aqui nos referimos à agricul-tura familiar e em pequena escala. Isso marca muito o acesso a produtos, por exemplo, comercializados no Seasa. Em Curitiba ainda há áreas que têm uma tradição de produção de hortifrutigranjeiros, agora são áreas futuras de ocupação, então há que se es-tabelecer com clareza esta transição, respeitar a vo-cação das pessoas que estão lá hoje, mas entender que cada vez mais nós temos uma relação de depen-dência, principalmente com a Região Metropolitana, no acesso de produtos de mercadoria, ou seja, é um grande mercado consumidor, mas precisa dos pe-quenos produtores no seu entorno.

E a responsabilidade aí é mais uma questão específica ambiental. Nesta busca da grande cidade por alimen-tos, a metrópole não pode ser a mais forte indutora do desmatamento, sem se preocupar com sua própria res-ponsabilidade sobre isso?

• Não, vai ter um preço, tem que ter consciên-cia disso. Isso é um processo de evolução, essa nova geração vem com uma consciência muito maior; os governantes também, com uma preocupação muito maior, ou porque têm essa consciência, ou porque têm receio de uma condenação, fiscalização, seja do Tribunal de Contas, seja do Ministério Público, seja de setores organizados da sociedade, e há cada vez mais uma preocupação com a certificação de origem dos produtos. É evidente que temos uma desigualdade nos preços, o fator preço acaba sendo o fator principal na escolha, mas o próprio consumidor é o instrumen-to de transformação e de garantia desse equilíbrio.

Quanto a corrupção ou a lisura nos trabalhos influen-ciam na execução de projeto de cidade sustentável? Por que aí entra a questão de dar uma licença irre-gular pra ganhar uns votos aqui, fingir que não viu o esgoto sendo jogado ali para não atrapalhar um financiamento de campanha... Você acha que, embu-tida na questão das cidades sustentáveis, de um país sustentável, está uma reforma para que os políticos sejam sustentáveis?

• Interessante. Há uma distância. A cidade tem um processo de crescimento que precisa de muita clareza do gestor, de não querer engessar o proces-so. Mas deve-se ter muita clareza no enfrentamen-to de interesses. Cada vez mais, a ação de um ges-tor vai ter impacto de médio e longo prazo. Hoje, em vários serviços prestados na cidade, trabalha-se com contratos de concessão de médio e longo pra-zo. Cito dois exemplos: a renovação do contrato de transporte coletivo e a concessão do serviço de lixo. são contratos pra pelo menos 20 anos, então uma decisão tomada agora vai ter impacto por, pelo me-nos, quatro ou cinco gestões. Por isso, há de se ter um acompanhamento muito grande, porque mexe com interesses expressivos; na questão do lixo, por exemplo, um contrato pode chegar a R$ 650 milhões, então imagine o que move de interesse num projeto, num processo desta natureza.

Então, saber que o custo da má gestão pode ser tão comprometedor quanto o custo da corrupção, até porque há parâmetros e maneiras de fiscalizar que não existiam há pouco tempo. Então isso vai exigir muito mais clareza, transparência, mas muito mais responsabilidade. O que for mal feito hoje, pra consertar, vai ser muito mais caro. Exemplo disso é esse debate não resolvido no Paraná com relação à concessão para o pedágio das estradas.

eNTReviSTA Gustavo Fruet

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A liberdade proporcionada pela internet abre caminhos para transformar ideia em ação. Promovendo a reunião de pessoas com afinidade de pensamento de forma consistente e com alta velocidade de comunicação, as campanhas alternativas nunca mais serão a mesmas. Hoje, elas encorpam uma voz imponente dentro da sociedade e estão fazendo impérios ascenderem e caírem em ruínas com uma rapidez estonteante.

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uma ideia, uma unidade de pensamento. Milhões delas agrupadas formam uma via, todas em uma grande rede criam

um tronco, um tronco de conhecimento que se dis-semina em infinito de informações. Algumas ideias sucumbem no processo de sua existência, outras ganham forças e se transformam em atitudes, alcan-çando o topo da copa, tornando-se uma folha, tor-nando-se uma ação.

A força que alimenta uma ideia é a iniciativa, a voz daqueles que buscam expressar e defender sua doutrina e ideologia, a voz do ativismo. Voz que, a partir dos anos 90, utilizando a internet, ganhou li-berdade de comunicação incalculável e proporcio-nou o chamado ciberativismo. Entre diversas inicia-tivas ciberativistas, destaca-se a do americano Randy Paynter, fundador de uma pequena rede social que

buscava reunir diversos internautas a fim de unir for-ças em prol de causas que visavam um mundo me-lhor. O usuário se cadastrava, registrava a causa que defendia e contava com a assinatura de outros usuá-rios para fortalecê-la. Superando em muito a expec-tativa inicial de 10 mil usuários, a rede social Care2 hoje é formada por mais de 15 milhões de pessoas votando e registrando causas que vão desde as pre-ocupações com aquecimento global a denúncias de desmatamento inconsequente.

seguindo o mesmo caminho de união de vozes, a rede social Amnesty.org reuniu mais de 3 milhões de ciberativistas de 150 países diferentes em campa-nhas pelo respeito aos direitos humanos. Por meio da ferramenta de comunicação digital, qualquer usu-ário consegue ter, além de sua voz ouvida, sua ideia exposta para a avaliação das pessoas sem o filtro ofi-

• A partir de 2008, a técnica Geo-bombing se tornou uma importante ferramenta ciberativista. Sua primeira campanha de sucesso veio por meio da nawaat, que luta pelos direitos humanos na Tunísia. A técnica se baseia em disseminar conteúdo audiovisual hospedado no Youtube por meio do Google Earth e Google Maps. A campanha consistiu em divulgar videos sobre liberdade civil, material que o gover-no local tentava controlar. A repercussão chamou a atenção de diversas entidades de luta pelos direitos humanos e da socie-dade civil para a tentativa do governo em calar a liberdade de expressão.

• entre fevereiro e março de 2009, os mi-croblogs (iniciativas de pequeno porte) tiveram um aumento de 96,8% na parti-cipação de brasileiros, representando o crescimento de 344 mil para 677 mil usu-ários, sendo que 91,42% compartilham opiniões, críticas e pensamentos.

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cial. Já o portal thepetitionsite.com instrui passo a passo como criar uma petição online, reunindo mais de 10 mil assinaturas diárias, contando com o regis-tro de mais de 60 milhões de petições.

Em escala menor, o blog Cultura-de-paz, criado pela gestora ambiental Juliana Zellauy, utiliza sua influência para disponibilizar ferramentas que con-tribuam para a disseminação da cultura de paz, do cyberativismo e do respeito ao meio ambiente, des-tacando links para portais com a causa em comum e trazendo informações de campanhas ativas.

ao longo da história, muitas causas foram sufo-cadas antes mesmo que ganhassem conhecimento do mundo e, talvez por isso mesmo, fracassaram. Mas depois que a informação tornou-se mais livre e democrática do que nunca, fora do controle mo-nopolizador do estado, uma nova realidade se des-

cortinou para aqueles que gostavam de varrer des-caradamente suas sujeiras para debaixo do tapete. Hoje, bilhões de pares de olhos observam, as bocas revelam e os dedos denunciam. É uma força que está abalando impérios econômicos e políticos, e não tem mais volta, quem não se comportar vai ter que pres-tar contas.

Do ponto de vista social, aglutinar trabalho vo-luntário atende demandas nunca antes imaginadas, permitindo o acúmulo e a troca de conhecimento e experiências, dando corpo às aspirações e necessi-dades muitas vezes ignoradas pelas autoridades ou manipuladas por interesses de pequenos grupos, em detrimento de toda a população. Ações simples como criar um blog e defender sua causa permitem que elas germinem e se desenvolvam como ações para uma realidade melho

• O Flash Mob, movimento que, organizado online, é materializado fisicamente com alguma ação planeja-da e discutida via web por pessoas de muitos locais, adquiriu maior força com os movimentos das redes sociais. No dia 5 de fevereiro, em Milão, aconteceu o primeiro eco-sustentável Flash Mob, organizado pelo renomado artista digital Giuseppe La Spada. Mais de 600 pessoas se mobilizaram chamando a atenção para a qualidade do ar. Os participantes do evento utilizaram bolsas de pano das cores verde e marrom, agrupando-se de maneira que, visto de cima, lembra-va uma grande árvore no meio da Piazza Duomo.

• No Egito, utilizando a internet como ferramenta de comunicação, manifestantes de todo o país iniciaram protesto para derrubar o presidente Hosni Mubarak. tão rápido quanto a pólvora, as redes sociais servi-ram como trombones virtuais a ciberativistas que buscavam expressar e defender seu ponto de vista.

• Com a ajuda da rede social Orkut e do Twitter no movimento “Mega não!”, inúmeros ciberativistas se reuniram em protesto contra o projeto de lei proposto pelo senador de Minas gerais eduardo Brandão aze-redo, conhecido como “Lei Azeredo”, que obrigaria os provedores de internet a monitorar os dados de ori-gem e horários dos acessos realizados pelas cidades.além de chamar atenção da mídia, o movimento co-lheu mais de 150 mil assinaturas na petição online.

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destinação certa

Problema milenar, o lixo sempre foi uma questão delicada, varrida sem pudor para baixo do belo tapete da história da civilização, que preferiu omiti-lo na definição de suas prioridades evolutivas. Governo e iniciativa privada, juntos, têm dado grandes passos para aquilo que está se apresentando como a maior oportunidade de reverter toda uma realidade que agride direitos humanos, saúde pública e meio ambiente. O estado de Minas Gerais está determinado a acabar com essa vergonha e fazer com que os resíduos sólidos deixem de ser pesadelos amontoados em lixões.

pOlíTiCA Saneamento

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as expectativas mais otimistas são para que ocorra, na próxima década, uma vertigino-sa mudança que não se deu em 500 anos

de Brasil. A regulamentação política recente sobre responsabilidades na produção foi decisiva quando implantou o sistema de logística reversa, em que a res-ponsabilidade do consumidor sobre as embalagens e os resíduos dos produtos passou a ser compartilhada com os fabricantes, que até então transferiam o pro-blema da destinação do lixo integralmente ao Estado.

O problema de ontem está virando uma grande oportunidade de geração de renda. Surge um novo seg-mento de mercado de proporções titânicas: a recicla-gem, um conceito evoluído que barateia custos com ma-téria-prima e ajuda a preservar os bens naturais. Junto com ela, uma gama de oportunidades se descortinam, como a geração de energia a partir do lixo e a reutiliza-

ção de peças descartadas. Enfim, parece que estamos no alvorecer das destinações inteligentes, e isso ilumi-na, como um holofote, nossos subdesenvolvidos lixões, uma vergonha que atinge a grande maioria das cidades brasileiras e que, segundo a nova Lei de Resíduos Sóli-dos, sancionada no ano passado, tem data para acabar: 31 de dezembro de 2012.

Mas e como acabar assim tão rápido com uma prá-tica de 500 anos? Absorvendo experiências e seguindo exemplos como o de um dos maiores estados do país, Minas Gerais. Na última década, o estado mineiro redu-ziu em 40% o número de lixões. Em 2003, 17% da popu-lação era atendida com sistemas adequados de disposi-ção de resíduos, índice que pulou para 53% em 2010. A meta – ousada – é atingir os 60%, além da redução de 80% dos lixões até o final de 2011, uma considerável evolução em relação à realidade brasileira.

Fotos: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

A Cidade Administrativa de Minas Gerais é uma construção baseada em princípios sustentáveis. Sede

do governo do estado, dali sairão decisões ambientais importantes

para os mineiros.

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Este é um dos principais objetivos da Secretaria de estado extraordinária de gestão Metropolitana de Minas gerais, criada na gestão do governador Antônio Anastasia. “Os problemas decorrentes dos resíduos sólidos são comuns a todos os municípios brasileiros, mesmo porque eles são de responsabili-dade municipal, mas se tem encontrado dificuldades para lidar com isso no âmbito local”, explica à Revista Novo Ambiente o Secretário Alexandre Silveira. Ele aponta que o problema só pode ser solucionado de forma estratégica: “Existem problemas como a limi-tação orçamentária dos municípios e deficiências técnicas. Para resolver estes problemas com sucesso, precisamos trabalhar em grande escala. E o Estado precisa fomentar os consórcios municipais”, conclui.

A Secretaria terá ainda muito trabalho pela fren-te, pois mais da metade dos municípios, embora con-centrem uma população menor, ainda se utilizam de lixões. Silveira representará o governo mineiro em uma visita ao Reino Unido, a convite do Estado bri-tânico, onde conhecerá experiências de sucesso na utilização de lixo em energia, para poder avaliar pos-sibilidades de sua aplicação em Minas Gerais.

“O papel do Estado de regulador tem que existir. Ele garante o interesse público, mas é necessário estar aten-to para que exista viabilidade no envolvimento com a iniciativa privada e a aplicação de tecnologias avançadas para a destinação do lixo”, lembra Silveira.

O papel do Estado de regulador tem que existir. Ele garante o interesse público, mas é

necessário estar atento para que exista viabilidade no

envolvimento com a iniciativa privada e a aplicação

de tecnologias avançadas para a destinação do lixo.

alexandre silveira, secretário

extração mineral

A cultura extrativista que deu nome ao estado é a mais pujante do país, e é dali que vem boa parte do PIB brasileiro. Em 2009, Minas Gerais produziu nada menos que 411 milhões de toneladas de resíduos sólidos in-dustriais, e quase 90% desse total eram decorrentes da atividade de lavra a céu aberto. Os resíduos mais gera-dos eram rejeitos de beneficiamento mineral, vinhaça, bagaço de cana, escória de alto forno e sucata.

o Inventário de Resíduos sólidos In-dustriais de Minas gerais/2010 aponta que mais de 90% de todos os resíduos são gerados por apenas 17 empresas, das 430 in-ventariadas pelo docu-mento, o que permite ao estado mais facili-dade no controle da geração de resíduos e na aplicação de novas normas que podem ter efeitos de grande mag-nitude.

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A hora da conversão

CARROS EV Adapt

Disponibilidade, preço, autonomia. Os motivos para converter para outro combustível ou motorização um veículo inicialmente concebido para rodar com combustível fóssil são muitos e estão também ligados a momentos históricos. Os kits de gasogênio (que mantiveram muitos países rodando durante a segunda guerra devido ao racionamento), a conversão de modelos a gasolina para o álcool durante a crise do petróleo na década de 70 e, mais recentemente, a combinação de motores elétricos e a combustão para diminuir emissões são alguns dos exemplos.

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em tempos de alternativas mais “verdes”, a empresa sueca eV adapt foi mais radical em sua proposta: abandonou o motor a

combustão e o trocou por um 100% elétrico. Ainda considerado por muitos como um “brinquedo caro”, o carro elétrico sem dúvida esbarra em problemas de escala quando o assunto é viabilidade. O desenvol-vimento de novos veículos exclusivamente movidos a este tipo de fonte motriz é dispendioso e envolve desde a logística de toda a cadeia produtiva e plane-jamento de uma nova linha de montagem totalmen-te distinta das comuns até o suporte do fabricante à criação de uma nova “cultura” automobilística.

É certo que as grandes montadoras, mais do que perceber um nicho, estão se movimentando nes-te sentido, porém há os consumidores que querem agora o que elas só poderão entregar em dois ou três anos. Sem poder contar com o “ágio” que apressa a entrega de modelos desejados e indisponíveis, estes compradores voltam suas atenções para empresas como a eV adapt, que a um custo mais próximo do orçamento dos “mortais” e sem o exotismo e as ex-travagâncias que envolvem os carros elétricos moder-nos oferece o simpático Fiat 500 – ou “Cinquecento” –, totalmente convertido para rodar a eletricidade.

arrefecido a ar, trifásico e com potência nomi-nal de 24 kW, o pequeno motor impulsiona o carro a uma velocidade máxima de 120 km/h (segundo dados da EV Avdapt), com autonomia de 120 km. A carga total das baterias LiFe PO4 demora 10 horas em uma corrente de 240 volts e 10 amperes. Aliás, estas baterias, de lítio-ferro-fosfato, têm vida útil de cinco anos e não precisam ser compradas junto com o carro, o que resulta em um preço mais competiti-vo, uma vez que você pode alugá-las por 150€ por mês (algo em torno de R$ 340,00). Com baterias in-cluídas, o modelo sai por 36.900€, pouco mais de R$ 84.000,00. Sem elas, o preço cai para 23.900€, ou R$ 54.530,00. Lembre-se: nestes preços não estão inclu-ídas nem as taxas nem os impostos brasileiros, o que tornaria no mínimo “proibitiva” a comercialização do carrinho por aqui.

Subsidiando o próprio combustível: apagando as

próprias pegadas

Os suecos não se furtaram ao trabalho de explo-rar o nicho em que se propuseram atuar. Ao comprar um veículo da eV adapt (uma opção ao 500 é o Ford Ka europeu, lançado em novembro do ano passado), o proprietário passa a ter uma cota de um gerador eólico. Por meio deste expediente, além de incentivar uma fonte energética cujas emissões correspondem a zero, a intenção é fazer com que o abastecimento via usina eólica compense as emissões de outros veículos elétricos alimentados em uma rede elétrica comum – nestes, a matriz não é 100% limpa e gera-se de 60 g a 65 g de co2 por quilômetro (levando em conta a matriz energética europeia). Nesta conta, um veículo alimentado pelo parque eólico emitiria estas mesmas 60 g ou 65 g percorrendo entre 6.500 e 9.000 km.

Em tempo: cada turbina “compartilhada” produz energia suficiente para 2.000 carros elétricos, permi-tindo a cada um deles rodar 20.000 km por ano. Uma frota equivalente de veículos movidos a combustível fóssil, rodando a mesma proporção, em vez de zero, emitiria aproximadamente 12.000 toneladas cúbicas de co2 por ano, um peso cada vez mais insustentável para o planeta.

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ClimA Destruição

Pode acontecer comqualquer um.inclusive você.

Pode acontecer comqualquer um.inclusive você.

.Antonina, no litoral paranaense, foi mais uma das cidades brasileiras castigadas pelas chuvas.

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um raio que cai duas vezes no mesmo lugar, uma situação improvável que se repete. O acaso às vezes bate à porta de casa. Desta vez, foi à porta da casa da Revista Novo Ambiente, que passou pela experiência de cobrir a curta distância os deslizamentos de terra que desfiguraram Morretes, antonina e Paranaguá, no Paraná. Acostumados a cobrir grandes distâncias para chegar “ao assunto”, causa estranheza a todos os integrantes da equipe o caminho rápido e familiar dos fins de semana. O que era sinônimo de lazer no período de descanso ganhara status de pauta urgente e ares sombrios, como o contorno sinistro da neblina que encobria a visão do motorista.

Pode acontecer comqualquer um.inclusive você.

Pode acontecer comqualquer um.inclusive você.

a mesma bota se apoia no estribo, coin-cidentemente da mesma caminhonete, e pisoteia o barro. À altura dos olhos, o

mesmo semblante de consternação, misto de sofri-mento e revolta, encontrava as mesmas lentes, em-punhadas pelas mesmas mãos. A mesma cena, mas montada em outro palco. Protagonizada por outros atores, em um enredo conhecido, com um desfecho trágico, infelizmente, já familiar a todos. A mesma sensação de pesar. Por trás dos mesmos óculos escu-ros, os olhos novamente marejam disfarçados, quan-do a história é proferida letra por letra, parágrafo por parágrafo, pela voz de outra pessoa.

o pequeno hiato de tempo transcorrido entre duas edições da Revista Novo Ambiente constituiu uma janela suficiente para voltarmos a tocar em um assunto que sequer pôde ser digerido. Primeiro ato: toneladas de lama, numa enxurrada caótica, varrem uma indefesa e bela região serrana, no Rio de Janeiro. Pouco mais de um mês depois, é a bucólica e aprazível serra paranaense que cede sob o peso imponderável de uma chuva absoluta. Em ambas as situações, sobe-jam acusações aos mesmos culpados: o volume plu-

Fotos: Revista Novo Ambiente/Oberti Pimentel

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breve aceno, sobe na caçamba da caminhonete intei-ramente enlameada junto com os outros cinco amigos. Um toque inspirador: dois deles receberam pronta au-torização do exército para poder retornar do Rio grande do sul ao Paraná e auxiliar outros amigos e até mesmo familiares. Eles souberam pela internet do ocorrido, da mesma forma que têm ciência do que aconteceu no Ja-pão e em Santa Catarina, pelo mesmo meio. “Lá morreu muita gente, né? Muita judiação, aquilo...”, ouvimos en-tre um passo e outro no calçamento encharcado. Tragé-dias comuns, transmitidas online, 24 horas. Horas, dias, meses, anos. A equipe sobe o estribo começa a pensar onde será a próxima parada.

viométrico diluviano, aliado à ocupação desordenada e incompetência do Estado em fiscalizar e proteger a população. Em ambas as situações, o mesmo proces-so cruel de fugir do único lugar que realmente serve de abrigo ao homem: sua própria casa.

este pedaço de reportagem não tratará das somas necessárias para a reconstrução, nem das compila-ções e comparativos numericamente frios e distantes do barro da realidade. O leitor desculpe, mas o que mais uma vez a equipe presenciou está muito longe da expressão “barro da vida”, que todos conhecemos.

Aliás, barro e lama são a antítese do desenvolvi-mento que almejamos ver nestas regiões, quando o tempo e a hora chegarem. Carlos concorda, enquanto posa diante de sua casa destruída. À frente da fachada que ele não poderá mais rever, está a singela e rosa casa de boneca construída para a própria filha, de oito anos, que, no abrigo com a mãe, não pode acompanhar o pai na cata de seus brinquedos e demais pertences da famí-lia. Carlos, ao mesmo tempo, é e não é mais um. Não há resistência. Monitorados sob o olhar atento de uma Po-lícia Militar que tenta como pode evitar novas vítimas, eles apenas desmontam janelas, recolhem armários en-sopados e auxiliam seus vizinhos a reaver qualquer item que ainda possa ser aproveitado. Para onde depois? Carlos ainda não sabe responder. Despede-se com um

Foto: Revista Novo Ambiente/Juliano Grosco

Ponte sobre o rio Jacareí, BR 277, km 18.

Carlos, morador de Antonina, observa os estragos em sua casa.

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Foto: Revista Novo Ambiente/Juliano Grosco

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CONSUmO Coca-Cola

garrafas mais amigáveis

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De símbolo do imperialismo americano a bandeira da libertação econômica, a Coca-Cola é muito mais do que um simples refrigerante, é a representação de várias gerações, a bebida revolucionária, des-colada e eternamente moderna. Para justificar tais atributos, além de readequar seu modo de fazer re-frigerante, ela também está lançando a Plant Bot-tle, uma garrafa “híbrida”.

em 1886, o farmacêutico John Stith Pemberton, americano da cidade de atlanta, nos estados unidos,

desenvolveu o que se tornaria a fórmula da Coca-Cola. No mesmo ano em que se ter-mina de erguer a Estátua da Liberdade, um símbolo ainda mais impactante da globali-zação da cultura americana acabava de ser inventado, uma bebida que seria o símbolo de gerações. Era um produto diferente dos refrigerantes comuns, e isso pode ser ilus-trado até mesmo pelo slogan de 1928, cria-do pelo célebre Fernando Pessoa: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se.”

o empresário asa griggs candler, que ha-via adquirido a marca, de fato acreditava no produto. Tanto que muito antes deste curioso slogan a Coca-cola já tinha se internacionaliza-do, marcando presença até mesmo nos fronts de guerra, com a ativa distribuição do refrige-rante para soldados americanos na segunda Guerra. No Brasil, a primeira fábrica foi insta-lada em 1942. Virou grife de roupas e modelo de produtos que vão de cadernos a canecas. E, hoje, em qualquer lugar do mundo pode-se pedir uma Coca-Cola em um estabelecimento e ter seu pedido atendido. A marca se tornou uma das mais influentes do planeta, tomando a frente em grandes decisões que afetam o mundo todo.

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Sede de responsabilidade

Mas não apenas de glória se escreve a história da Coca-cola. Muitas vezes símbolo do imperialismo esta-dunidense e dos hábitos pouco saudáveis de toda uma população criada pelos industrializados, tornou-se um alvo para as mais diversas reações. A própria fórmula da Coca-Cola, por ser mantida em um segredo tão absolu-to, a envolve em mistério e desconfiança. Teorias acerca do fato de que ela poderia servir como desentupidor de pia e pesticida são conhecidas, e também as alegações de que o refrigerante seria feito com folhas de coca, causando uma espécie de dependência química no con-sumidor. E para uma empresa que, querendo ou não, ostenta a bandeira do consumismo exacerbado, nos últi-mos anos mais uma nova responsabilidade lhe foi cobra-da: a sustentabilidade de seus produtos.

A primeira embalagem oficial era a garrafa de vidro “conteur”, exatamente para enfatizar o seu contorno, que pode ser reconhecido até em preto no branco. Mas, com o advento das latas e do plástico, a embalagem re-tornável acabou por perder o seu espaço. E uma gigan-te como a Coca-Cola possui um tipo de característica especial: cada uma de suas decisões e reformulações internas modifica um sistema de consumo em escala mundial. A Coca-Cola Company foi uma das maiores res-ponsáveis pela difusão das garrafas PET no mundo. E, ao mesmo tempo em que é considerada 100% reciclável, essa embalagem corresponde também a uma parte sig-nificativa do lixo acumulado no mundo inteiro. Isso sem contar o consumo de petróleo e água utilizados na pro-dução da quantidade massiva de garrafas necessárias para atender a demanda mundial.

Mas, prezando por sua filosofia de querer se man-ter sempre conectada ao pensamento de sua época, a marca reagiu. O Instituto Coca-Cola promove programas de cunho social no Brasil, como o Projeto de Valorização Jovem e o Projeto Educação Campeã, com o objetivo de incentivar a educação. Em caráter ambiental, várias novas iniciativas foram tomadas. A diminuição do peso das garrafas vem sendo feita e já apresenta resultados; com a aplicação total do projeto, seria o equivalente a 270 milhões de embalagens de 2 litros deixando de ser produzidas. A empresa também anuncia um amplo in-centivo à reciclagem.

em comparação com a gasolina, por exemplo, o petróleo utilizado para uma simples garrafa não nos parece muito significativo, e tampouco a diminuição do peso de uma garrafa. Mas a produção em massa do refrigerante com certeza tem resultados influentes em grande escala. Considere que, apenas no Brasil, em 2010 foram produzidos 10,6 bilhões de litros do refrigerante, incluindo desde garrafas de 3 litros até as minilatinhas. Qualquer diminuição na extração e pro-dução significa uma alteração significativa.

Plant Bottle

seguindo essa linha de raciocínio, a empresa também desenvolveu a PlantBottle™, um produto inovador que seria composto de 30% de material vegetal, formado pela cana-de-açúcar e melaço, di-minuindo, assim, a demanda por petróleo. A garrafa foi desenvolvida recentemente e é 100% reciclável, tal como as PET comuns. Este lançamento pode re-presentar uma invenção significativa na história das embalagens – como a Coca-cola sempre fez – e dimi-nuir a extração de combustíveis fósseis. O atual for-mato, segundo a empresa, já reduz em 25% as emis-sões durante sua fabricação e utiliza matéria-prima (cana-de-açúcar e melado) nacional, cuja produção é calcada em fatores como o aproveitamento da água da chuva e a colheita mecanizada, que evita as quei-madas de campos, as quais, por sua vez, devem ser abolidas até 2017 no estado de São Paulo, o maior produtor de cana do país.

A meta da Coca-Cola é desenvolver garrafas plásticas recicláveis compostas de resíduos 100% baseados em plantas (como lascas de madeira, espigas de milho ou ta-los de trigo), transformando resíduos em recurso.

no Brasil,em 2010, foram produzidos

10,6 bilhões de litrosdo refrigerante, incluindo desde garrafas

de 3 litros até as minilatinhas.

•Qualquer diminuição na extração e produção significa uma alteração significativa.

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Tecnologia

• Web sustentável

Vivemos a era da informação. A internet revolucionou a co-municação humana e, hoje, as distâncias físicas já não são mais barreiras para o conhecimento. Seguindo esta tendên-cia mundial, alguns sites oferecem um catálogo de empre-sas e produtos sustentáveis, como o brasileiro <www.cata-logosustentavel.com.br>. Alimentado pela Escola da Admi-nistração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, e trazendo vários produtos que acarretam pouco im-pacto ambiental, como também notícias e artigos sobre sus-tentabilidade, o site serve de vitrine para produtos verdes tanto para consumidores individuais quanto para empresas que procuram conciliar necessidades econômicas com a iminente necessidade de cuidar do planeta.

• Usou, plantou

“O futuro da moda está na reconciliação entre a natureza e a indústria” – são as palavras da dupla holandesa Christia-an Maats e dirk-Jan oudshoorn, desenvolvedores dos tênis biodegradáveis OAT. A coleção, resultado de dois anos de pesquisa e desenvolvimento, traz calçados feitos de cânha-mo, cortiça, algodão e outros materiais biodegradáveis. A ideia é trazer acessórios amigáveis ao meio ambiente com estilo. Ao final da vida útil dos tênis, o consumidor pode jo-gá-los fora sem se preocupar com danos ao planeta ou pode plantá-los – a primeira leva virá com sementes dentro da lín-gua, completando o ciclo.

• A 500 metros, salve o planeta

Buscando otimizar os gastos energéticos e emissões de co2 no dia a dia, a empresa americana earthrise technolo-gy nos traz o Eco-Way – um GPS conectado à porta de diag-nóstico dos carros com computador de bordo que mostra a emissão atual de co2 do veículo, bem como a melhor rota baseada no consumo de combustível, a carga do mo-tor e outros dados do carro. O motorista equipado com o aparelho pode, assim, saber qual é a melhor aceleração, troca de marcha e caminho a ser seguido para que sua necessidade de transporte seja o menos nociva possível para o meio ambiente. O aparelho pode ser adquirido por US$ 250 já com mapas do Brasil.

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• Quebrando limites

Combinando criatividade e uma técnica presente há sécu-los no conhecimento humano – o uso do vento como força motriz –, a dupla alemã dirk gion e stefan simmerer cruzou o continente australiano no Wind Explorer (Explorador do Vento, em inglês). O carro é um protótipo elétrico construído de fibra de carbono, pneus de bicicleta para reduzir o atrito, uma bateria de 8 kWh e, quando as condições climáticas per-mitiam, era puxado por uma pipa para economizar energia. Durante a noite, o carro era carregado por uma turbina eólica atrelada a uma armação de bambu, e quando não havia vento suficiente, era carregado na corrente elétrica. Durante toda a viagem, gastou-se por volta de R$ 30 em eletricidade.

• Coisa de cinema

Filmes de Hollywood têm orçamentos astronômicos para co-brir todos os detalhes de filmagem – elenco, equipamentos, figurino, cenário e, claro, a luz. Seguindo uma tendência mun-dial e buscando reduzir custos, os estúdios Twentieth Century Fox Film (conhecidos por produções como Avatar e Os Simp-sons) implantaram recentemente em seu prédio histórico um painel de 158 kW, suficientes para abastecer por volta de 150 residências. A instalação, feita pela empresa Solar Power Inc., conta com o sistema de montagem SkyMount, adaptado ao formato esférico do prédio, e servirá para cobrir os gastos lo-cais de energia do estúdio. A ação da Fox Film faz parte de sua Inciativa Global de Energia.

• Içar velas!

Essa frase não faz mais parte da náutica moderna, mas o ven-to não foi descartado como propulsor de navios. A multina-cional cargill, que transporta mais de 185 toneladas de com-modities ao ano via marítima, fechou um acordo com a Sky-Sails, fabricante de pipas rebocadoras para navios de carga. A instalação da pipa está prevista para dezembro e promete economizar, em média, até 35% de combustível ao ano. Com um sistema quase completamente automatizado, a pipa, de 320 m², será instalada num navio com porte bruto de 30 mil toneladas, tornando-o o maior navio do mundo com esta tec-nologia. De acordo com a Organização Marítima Internacional das nações unidas, 100 milhões de toneladas de co2 deixa-riam de ser emitidas com a aplicação da tecnologia em toda a frota de navios comerciais do mundo.

Fotos: Divulgação

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Delson Amador

engenheiro eletricista

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L’État c’est moi,toi, lui, elle, de nous tous

o Estado sou eu, você, ele, ela, somos todos nós. Alterar a famosa frase atribuída a Luís XIV, o

“Rei Sol” francês, nos permite divagar sobre um senso de coletividade que foi se moldando ao longo do tempo em inúmeras sociedades. Levantes populares represen-tam o caldo que entornou, a insustentabilidade gover-namental frente a novas demandas e comportamentos.

Aqui, como no mundo árabe, o acesso à informa-ção, ao mundo globalizado chama cada cidadão ao pa-pel que cumpre no seu próprio ecossistema, sua cidade, seu estado, seu país. As pessoas organizam-se para boi-cotar empresas, protestar contra leis e, igualmente, dis-solver construtos insatisfatórios, que não refletem mais a realidade dinâmica até então representada de forma morosa pelo poder público. Usamos a ferramenta de nossa vontade (poderosa ferramenta) até para organizar movimentos completamente fúteis como o que recen-temente houve em nova Iorque, que arregimentou pes-soas para andar de pijama no metrô.

Na figura de seus ditadores, qualquer regime au-toritário torna-se um bioma carcinômico, pronto para

implodir, como um sistema que de repente tem res-tringido o número de espécies que o tornam simbióti-co e viável. Reconhecidamente, o totalitarismo (e seus vários nomes e desdobramentos) tem um impacto ainda a ser mensurado nos recursos naturais do plane-ta. Um cálculo que à primeira vista sucumbe aos indi-cadores econômicos, mas que constitui parte de uma conta que todos vamos pagar.

O que quero demonstrar é que é antiecológico ser antidemocrático. Tomemos a indômita África e suas dezenas de feudos, derreados por sobre um imenso patrimônio natural, sistematicamente re-duzido a pó, em nome da ganância e da manuten-ção dos poderes tribais de poucos. O sofrimento, a miséria (que também sabemos ser uma catástrofe ambiental) e as perdas irreparáveis já sofridas. Serão eles os próximos a se rebelar? Ou seremos nós?

Qual é a nossa parcela de culpa neste contexto (nós, os compradores de petróleo, diamantes, de marfim, de animais silvestres)? Estamos tão distan-tes desta realidade por estarmos em um “mundo li-vre”? Temos o poder de regulação em nossas mãos. o sufrágio que garante aumentos de salário e direi-tos constituintes. Criticar beduínos imersos anos a fio na brutalidade parece ser uma tarefa simples. Porém, lembremo-nos de nossa recente história de-mocrática – aprendemos há pouco o que eles ainda levarão um longo caminho para aprender.

Quiçá esteja na hora de o Brasil começar a expor-tar outro tipo de know-how. O da sustentabilidade

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obra legal, madeira ilegal

O Ibama flagrou, em fevereiro, o uso de madeira ilegal em obras do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, em Altamira, no Pará. As irregularidades apontadas na fiscalização sobre a documentação apontaram o uso de madeira de castanheira. A madeira da castanheira é conside-rada de excelente qualidade para aproveitamento industrial. Com tronco bastante reto e uniforme, resistente, de fácil processamento e considerada bela, foi extraída descontroladamente até a extin-ção em diversas regiões da Amazônia. Graças a esta maneira pouco inteligente de extração, hoje sua exploração é proibida por lei federal desde 1994. O flagrante do Ibama, entretanto, mostra que a ex-ploração ilegal de madeira de lei continua. O em-preendimento em que se constatou as irregulari-dades tem investimento total divulgado em R$ 37 milhões, mas, curiosamente, a empresa responsa-bilizada pelo crime ambiental, a Em Casa, foi multa-da em R$ 130 mil, o que representa menos de 0,5% em punição. Os R$ 37 milhões são para a constru-ção de 958 casas do Minha casa, Minha Vida, o que dá uma média de pouco mais de R$ 38 mil por casa – mas vale lembrar que tais custos devem incluir pavimentação de ruas, iluminação pública, entre outras obras. A pergunta que fica é: quanto nos custará a extinção total da castanheira? Certamen-te muito mais do que seu valor comercial em toras de madeira. Fica também o prejuízo (mais um) na reputação do setor público, ao ver uma obra sob sua responsabilidade ser palco de crime ambiental e, pior ainda, com patrimônio brasileiro.

formigas na Paraíba

Depois do problema noticiado na edição passada, sobre invasão de formigas argentinas nos Estados Unidos, desta vez é na Paraíba que sofrem muitos agricultores e moradores da comunidade rural de Engenho Velho. Uma infestação de formigas está destruindo lavouras, plantas e matando animais de pequeno porte, além de infernizar a vida das pes-soas que tentam escapar todos os dias das ferroa-das. Segundo informações de jornais locais, o pro-blema deve continuar por tempo indeterminado, já que ainda está prevista a visita de uma equipe de estudiosos da Universidade Federal da Paraíba para avaliar a espécie de formiga e, a partir do diag-nóstico, tomar providências de combate.

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...e pinguins

Enquanto os abutres sofrem na Índia, uma colônia inteira do pinguim-imperador da Antártida desa-pareceu graças ao degelo na região, causado pelo aquecimento global. Segundo os principais portais científicos, os animais simplesmente desaparece-ram da ilha Imperador desde 2009. Avistados pela primeira vez em 1948, passaram a sofrer queda po-pulacional a partir de 1978, desaparecendo no fim da década passada. O autor de uma pesquisa sobre o desaparecimento do pinguim-imperador, Philip Trathan, do British Antarctic Survey (Observatório Antártico Britânico), afirma não ser possível preci-sar as causas do desaparecimento exclusivamente no aquecimento ou degelo. Ainda assim é fato que as mudanças climáticas podem ter alterado seus comportamentos migratórios, bem como prolifera-do espécies predadoras dos pinguins, colaborando com sua ausência. O pinguim-imperador costuma retornar ao local de seu nascimento depois de um ano, e Trathan especula que os nascidos no fim da década de 1970 e com uma expectativa de vida de cerca de 20 anos voltaram seguidamente à ilha, como mandavam seus instintos, até que os grupos começaram a ficar cada vez menores, chegando à extinção. Outros estudos, mais catastróficos, esti-mam o desaparecimento total da espécie nos pró-ximos 90 anos.

Adeus, abutres...

chega a ser irônico, não fosse tão triste, outra infor-mação do periódico internacional Scientific Ame-rican, desta vez sobre a morte em massa de popu-lações do abutre-indiano-de-dorso-branco (Gyps bengalensis). Um animal que de certa forma tem um papel perante a morte está acabando por sucumbir diante dela. Importantes por consumir as carcaças de animais mortos e assim evitar a proliferação de doen-ças que podem ser transmitidas por insetos, ratos e outros animais vetores delas, como cães selvagens, os abutres estão morrendo justamente por cumprirem tão bem o seu papel. Mas a culpa, é claro, está em atitudes do homem. O uso de diclofenaco – anti-in-flamatório aplicado em gados nas pastagens indianas – é responsável por 99% das mortes de abutres-india-nos-de-dorso-branco nos últimos 20 anos, segundo a

publicação. A morte ocorre por falência renal nos abutres que con-

somem a car-

ca-ça de animais tratados com a droga. Proibida desde 2006 pelo governo indiano, ainda é utili-zada por muitos fazendeiros que desconhecem seus efeitos nefastos, por pura falta de educação ambien-tal. A morte dos abutres e a consequente proliferação de doenças tornaram-se ameaça à saúde pública e à vida das pessoas. Para tentar solucionar o problema e ampliar o número de indivíduos da espécie da ave, bi-ólogos criaram locais onde são disponibilizadas carca-ças de animais livres do medicamento, para consumo dos abutres. Os profissionais pagam US$ 67 por car-caça, valor quase três vezes maior do que o pago pe-los abatedouros locais pelos mesmos animais e, todas as carcaças são testadas para se verificar a presença da droga antes de serem liberadas para as aves. Ainda assim, estudiosos locais apontam para a importância da educação ambiental das pessoas e o respeito às espécies, pois, mesmo com a tentativa de alimentar os abutres, eles podem continuar morrendo enquan-to o uso da droga for feito indiscriminadamente.

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dA RedAÇÃO

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no fechamento desta edição, o mundo todo temia o vazamento de radioatividade de usinas nucleares do Japão, causado pelo terremoto seguido de tsu-

namis que destruíram boa parte do país. Talvez tenhamos de-morado para perceber, mas não adianta cuidarmos apenas do nosso quintal, é necessário ter uma visão global. E essa foi nossa preocupação desde o princípio, como Revista. Trazer pautas dos mais variados setores envolvidos no desenvolvimento do Brasil, sejam empresas, sejam pessoas, sejam governos, porque elas estão intrinsecamente ligadas aos objetivos que desejamos a esta nação: justiça, riqueza, desenvolvimento e respeito ao meio ambiente. É preciso saber que, para acabar com o proble-ma do lixo, é preciso analisar a outra ponta que pode viabilizar isso, a economia de mercado. Quando detemos a atenção sobre os rios, é preciso saber se o fabricante de sabão em pó e deter-gentes está fazendo a parte dele, se o vendedor de fertilizantes está atento à destinação do produto que fabrica. É necessário ampliar a visão em torno de cada problema socioambiental.

Diante do uso cada vez mais constante desta publicação por campanhas do governo, teses acadêmicas de graduação a doutorado, temos cuidado triplicado com a origem dos dados, pois, mesmo que oficiais, nem sempre representam com preci-são uma realidade. Muitas vezes, argumentos óbvios derrubam supostas verdades absolutas chanceladas por entidades ou go-vernos, e cabe a nós também evitar propagar o erro, o que não nos impede de errar por nós mesmos.

É difícil estabelecer prioridades sobre o que vai ou não ser publicado em cada edição. São escolhas balizadas cada vez mais por nossos leitores, cujas manifestações de simpatia e satisfa-ção quanto ao nosso conteúdo têm se tornado cada vez mais numerosas.

se dostoievski disse que para escrever é preciso sofrer (a ação, a dor, a alegria), então ele estaria feliz conosco. Pois a cul-tura de imersão continua, e ela nos arrebata. Vamos ao limite do não envolvimento profissional com os temas, mas também nos deixamos apaixonar, detestar, entristecer, recomendar, apoiar e denunciar, porque esta Revista é feita de pessoas para pessoas, como se olhássemos nos olhos dos leitores e contás-semos sobre o que aprendemos. E neste mês novamente con-tamos histórias tristes que não gostaríamos de contar, como as enchentes em várias regiões do Brasil, arrasando cidades do litoral paranaense, onde vimos o mesmo desespero das comu-nidades que acompanhamos na Região serrana do Rio de Ja-neiro. Também contamos sobre iniciativas importantes, novos rumos da indústria, da sociedade e do espírito humano. Tenta-mos equilibrar não só os três pilares da Revista sustentável que, enquanto empresa, também procuramos ser. Desta vez, procu-ramos igualmente balancear a edição entre temas tristes e feli-zes, porque se é preciso agir para evitar a degradação humana e do planeta, também é necessário saber comemorar conquistas que nos elevam; senão, qual seria a graça da vitória?

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