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Parte II, página 11.
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▶ CIDADES ◀ NATAL, SÁBADO, 27 DE MARÇO DE 2010 / NOVO JORNAL / 11
Para enxergar melhor uma re-alidade inspiradora e invejável, a professora de física da Escola Es-tadual Professor Anísio Teixeira, bairro de Petrópolis, Auxiliado-ra Leite, visitou a Escola SESC no Rio de Janeiro. “Para você ter uma ideia, as aulas de biologia eram dadas em uma sala de muscula-ção”, disse. Assim como Auxiliado-ra Leite, outros professores de es-colas que vão receber um projeto do governo federal, o Ensino Mé-dio Inovador, foram contempla-dos com essa viagem.
A professora de física do Aní-sio Teixeira teve a oportunidade de fazer a ofi cina “Ciência nas Al-turas”. Dessa forma, ela pode, de fato, trabalhar o conhecimento de maneira transdisciplinar, isto é, quando todas as disciplinas po-dem estar juntas numa mesma ex-periência de aquisição de conheci-mento. Nessa ofi cina, os professo-res utilizaram um avião. “O profes-sor de física calculava a velocidade do avião; o de história falava da participação do avião na Segun-da Guerra Mundial; o de biologia
comparava com uma águia e as-sim foi possível deixar a aula mais interessante”, contou.
Vale lembrar que na Escola Sesc de Ensino Médio o estudante fi ca instalado por tempo integral. As turmas suportam, no máximo, 15 alunos.
O fundamental para progre-dir no processo de aprendizagem, sem dúvida, é uma alimentação adequada, que muitas vezes sim-plesmente não existe em algumas escolas. Conforme Auxiliadora Leite, o refeitório fornece seis refei-ções diárias. Afora essa estrutura, o que chamou a atenção da pro-fessora de física foi o teatro den-tro da escola Sesc. E mais: possui na sua estrutura curricular disci-plinas como música, artes plásti-cas e cênicas.
Na tentativa de dar alguma es-perança aos jovens que enxergam na universidade a perspectiva da mudança de vida, Auxiliadora re-alizou aulões durante o ano pas-sado. Apenas ela e um professor de matemática. “Isso foi por con-ta nossa mesmo”, explicou. O go-verno não se envolveu e a direto-ria somente cedeu o espaço aos sábados.
Outra tentativa de igualar as oportunidades entre estudan-tes de escola pública e priva-da é o Programa Complemen-tar de Estudos para Alunos do Ensino Médio (Proceem). Essa é uma iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mas necessita da par-ceira com as escolas deste nível de ensino. Na Escola Estadual Professora Ana Júlia Mousinho, no conjunto do Parque dos Co-queiros, o projeto da universida-de federal leva um fi o de espe-rança para quem quer chegar ao ensino superior.
No entanto, a escola não pos-sui uma sala que acomode con-fortavelmente os estudantes. Pela manhã, são 52 alunos espre-midos em uma sala com menos de trinta metros quadrados. No caso de Kassio Janielson da Silva Eugenio, de 18 anos, a situação é ainda pior. No dia em que a equi-pe de reportagem do NOVO JOR-NAL visitou a Escola Ana Júlia, ele estava sentado no chão du-rante a aula de matemática. “Eu já estudei em escola estadual, consigo aprender em qualquer canto. Tenho muita facilidade para aprender”, disse resignado. Kassio da Silva concluiu o ensino médio no Anísio Teixeira no ano passado, quando concorreu no vestibular da UFRN pela primei-ra vez. Neste cursinho preparató-rio, as turmas também podem receber alunos que concluíram o ensino médio em qualquer esco-la pública.
Na sua segunda tentativa, ele vai persistir no mesmo curso, o Bacharelado em Ciências e Tec-nologia (BCT). Esse curso será a porta de entrada para o seu so-nho maior, que é ser engenhei-ro da robótica. Apesar de tudo,
ele se mostra disposto a enfren-tar desafi os. “Vão vir mais por aí, esse é só o primeiro desafi o”, fala aparentemente sem muita preocupação.
À noite esse mesmo cursi-nho reúne 80 pessoas no pátio da escola. O problema é que quan-do o intervalo dos demais alunos inicia, torna-se impossível dar aula. Pela manhã, os alunos tam-bém passaram por essa experi-ência, mas logo foram transferi-dos para a saleta.
No momento em que nossa equipe chegou ao local, a jovem professora Mirian Marinho de Santana, de 24 anos, dava aula de matemática. Ela enumera to-das as difi culdades que os estu-dantes sofrem no aperto. “O pro-blema aqui é o espaço. Estudar nessas condições, no chão, é di-fícil. Nos fundos da sala, quan-do as janelas estão abertas o sol bate nas costas dos meni-nos. Aqui também o giz atrapa-lha quem é alérgico”, enfatizou. “É realmente muito triste”, disse a aluna Davanice de Souza, que
pretende seguir uma carreira no Direito.
De acordo com a direto-ra Maria José Andrade, a esco-la Ana Júlia atua há dez anos no ensino médio. Virou referência na região. Por isso, há uma gran-de procura. “Temos uma lista de espera com cinco páginas. Acho que são mais de cem alunos. Nós encaminhamos para outras es-colas, mas eles só querem aqui”, destacou a diretora. Atualmente são 1.480 alunos nos três turnos no ensino médio regular.
Apesar da alta procura, a es-cola não possui biblioteca – so-mente uma sala de leitura amon-toada de livros -, auditório, muito menos quadra esportiva. O que seria um espaço para a prática de esportes é um grande areal. Recentemente a escola recebeu computadores e uma impres-sora para ativar um laboratório de informática. A escola, porém, não possui a disciplina “infor-mática” prevista na sua estrutu-ra curricular. Segundo a diretora, esse laboratório será usado na
medida em que os professores oreservarem para suas aulas.
A escola comandada por Maria José Andrade possui uma área construída pequena em re-lação ao grandioso terreno. Con-forme a diretora, boa parte dasdefi ciências físicas da institui-ção será suprida numa obra de ampliação. Ainda segundo ela, oprojeto de ampliação prevê um laboratório de idiomas, outro debiologia, uma quadra poliespor-tiva coberta e mais algumas sa-las de aula. Entretanto, “dizemna secretaria que está tudo pron-to, mas o pessoal ainda não che-gou para começar a obra”, decla-rou Maria José Andrade. Além disso, a escola receberá o proje-to Mais Educação do governo fe-deral. Uma biblioteca de verdade fi cou de fora dos planos de am-pliação do prédio da escola.
▶ Auxiliadora Leite: “Aulas de biologia em sala de musculação”
▶ Escola Estadual Ana Júlia Mousinho, Zona Norte: alunos sentados no chão
ESCOLA SESC DO RIO DE JANEIRO: IDEAL DISTANTE
ESCOLA DESENVOLVE PROJETO COM UFRN, MAS NÃO COMPORTA TODOS OS ALUNOS
CONTINUAÇÃODA PÁGINA 10
WALLACE ARAÚJO / NJ
NEYDOUGLAS / NJ
MS DESMENTE SECRETARIA
De acordo com a assessoriade imprensa do Ministério daSaúde, foram enviadas 67.181kits com seringas de 3 mililitrose com agulha de 20x5,5, apro-priada para crianças de seis a 11meses de idade. Entretanto, Ju-liana Araújo afi rma que não re-cebeu essa quantidade. “Nós re-cebemos 34 mil kits desse tipo.Nós temos a nota na Unicat. Es-ses 30 mil devem ter fi cado pelocaminho”, declarou. Ainda con-forme o Ministério da Saúde,crianças com um ano de idadeaté um ano e 11 meses de ida-de podem ser vacinadas com se-ringas maiores, de 25x6. Foramenviadas 50 mil unidades dessetipo para o RN, confi rmada por
A SECRETARIA ESTADUAL e Munici-pal culparam o Ministério da Saú-de (MS) pela falta de agulhas e se-ringas para a vacinação de crian-ças contra o vírus da gripe H1N1. O Rio Grande do Norte possui 75 mil crianças na faixa de idade que vai dos seis meses de vida aos dois anos, mas o órgão federal teria en-viado apenas 34 mil seringas e agulhas. Nessa segunda etapa da vacinação, o público-alvo são as gestantes, pessoas com doenças crônicas e crianças de seis me-ses a dois anos de idade. Ontem pela manhã, as secretarias convo-caram uma entrevista coletiva de imprensa para explicar a situação.
Na falta das agulhas específi -cas para as crianças, o MS reco-mendou que os técnicos em en-fermagem aplicassem as vaci-nas com agulhas destinadas para adultos. O problema é que a agu-lha possui um diâmetro maior. Muitos pais reclamaram e recu-saram deixar seus fi lhos toma-rem a vacina com agulhas gran-des. Até mesmo os técnicos em enfermagem se negaram a aplicar a dose por meio de seringas não específi cas.
De acordo com a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Natal, Cristiana Souto, houve também quem comprasse uma agulha apropriada para o fi -lho. Na unidade de saúde de Mi-rassol, ela presenciou a doação desses kits de vacinação por uma senhora. “A secretaria não reco-menda que as pessoas comprem, a obrigação é nossa. No SUS tudo deve ser gratuito”, afi rmou. No en-tanto, os técnicos de enfermagem das unidades de saúde não vão se negar se uma situação dessa acontecer. A vacina é aplicada na coxa da criança. “A musculatura
da criança é menos desenvolvida”, disse. Isso pode tornar a aplicação mais dolorosa.
Cristina Souto informou tam-bém que a região mais afetada de Natal é a Zona Oeste. Além dessa área, as crianças que procuraram as unidades de saúde de Mirassol e Nova Descoberta sofreram com o problema. Segundo a Sesap, a região metropolitana de Natal a mais prejudicada.
Outra defi ciência nessa cam-panha contra o H1N1 foi a entrega das vacinas. Segundo ela, as doses e os kits chegaram na sexta-feira, dia 19. Somente dois dias depois, na segunda-feira, começaria a se-gunda etapa da vacinação. Cristia-na Souto constatou que o núme-ro não seria sufi ciente quando re-cebeu o lote, na sexta-feira. Diante disso, a segunda etapa de vacina-ção vai se estender durante a pró-xima etapa, que pretende vacinar
jovens de 20 a 29.Com a fi nalidade de receber
a imunização, pessoas têm men-tido para os técnicos de enferma-gem. “Muitas pessoas estão dizen-do nas unidades que são hiper-tensos, diabéticos, cardiopatas só para serem vacinados”, disse Julia-na Araújo, sub-coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Se-sap. Isso acontece porque o Mi-nistério da Saúde determinou que as secretarias não exigissem com-provação de pessoas que alegas-sem ter doenças crônicas.
Segundo ela, o ministério acre-dita que caso houvesse necessida-de de comprovar a doença, gera-ria uma correria aos médicos des-necessária em busca de um ates-tado para tal fi m. Essa situação pode deixar pessoas do grupo de risco sem vacina. “Pode faltar vaci-nas, caso continuem sendo toma-das indevidamente”, informou Ju-
liana Araújo.Para tentar amenizar essa si-
tuação, as secretarias compraram kits de vacinação em regime de emergência, que dispensa licita-ção. A Sesap adquiriu 35 mil para suprir essa necessidade. Confor-me Juliana, 15 mil kits com os in-sumos forma recebidos ontem à tarde. A Sesap espera que o resto chegue próxima semana.
Conforme Cristina Souto, a Prefeitura também comprou 10 mil kits. Cristina Souto afi rmou também que a Sesap vai repassar 5 mil para a capital. Ela também ga-rantiu que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vai adquirir mais 60 mil kits ao longo do ano para su-prir o desfalque de seringas e agu-lhas na vacinação regular contra outras doenças. Convém lembrar que nas crianças devem ser aplica-das duas doses, com um intervalo de 30 dias.
NINGUÉM ASSUME A CULPA/ SAÚDE / MUNICÍPIO, ESTADO E UNIÃO NÃO SE RESPONSABILIZAM PELA FALTA DE SERINGA PARA VACINAÇÃO CONTRA GRIPE H1N1
O PROBLEMA
AQUI É O ESPAÇO.
ESTUDAR NESSAS
CONDIÇÕES, NO
CHÃO, É DIFÍCIL”
Mirian MarinhoProfessora da Escola Ana Júlia
A SECRETARIA
DE SAÚDE NÃO
RECOMENDA
QUE AS PESSOAS
COMPREM
(AGULHAS),
A OBRIGAÇÃO
É NOSSA”
Cristiana SoutoDiretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Natal
NEY DOUGLAS / NJ
▶ Cristiana Souto e Juliana Araújo afi rmam que o Ministério da Saúde enviou quantidade menor de seringas e agulhas
VACINAÇÃO EM ETAPAS
Pessoas vacinadas na segunda etapa da campanha até quarta-feira em Natal
▶ Crianças de seis meses a dois anos: 1.731. Meta: 18.561.
▶ Gestantes: 907 (7,4% do total)
▶ Doentes crônicos: 863 (1,24% do total).
Próximo grupo a ser vacinado ▶ Jovens de 20 a 29 anos de
idade, entre 5 e 23 de abril. Haverá prorrogação para as crianças com seis meses a dois anos de vida.
75 MIL
É a quantidade de crianças no RN na faixa de idade que vai dos seis meses
aos dois anos