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Área de Competências-Chave
Cultura, Língua e Comunicação
RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário
Núcleo Gerador 6 – URBANISMO E MOBILIDADE
DR4 – Tema: Mobilidades Locais e Globais
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Tema 4: Mobilidades Locais e Globais
COMPETÊNCIA: Relacionar mobilidades e fluxos migratórios com a disseminação de
patrimónios linguísticos e culturais e seus impactos.
As migrações na sociedade actual As migrações são deslocações, temporárias ou permanentes, da população entre dois espaços
geográficos. Essas deslocações podem ocorrer:
dentro do mesmo país;
entre países diferentes, neste caso designando-se por emigração o movimento de saída da população e
por imigração movimento de entrada.
As causas das migrações são muito variadas
sendo as mais comuns de natureza económica, isto é,
os indivíduos deslocam-se à procura trabalho, de
melhores condições de vida, etc. Neste tipo de
migrações, enquadram-se os movimentos de
população dentro do mesmo país das zonas rurais
empobrecidas para a zonas urbanas ou dos países
mais pobres para os mais ricos.
As migrações não são um fenómeno recente,
pois têm sido uma constante ao longo da história.
Por exemplo, a formação dos Estados Unidos (a
partir do século XIX) resultou de uma vaga sucessiva de migrações com várias origens, primeiro europeus,
depois asiáticos e hispânicos.
A partir da Segunda Guerra Mundial, em especial nas duas últimas décadas do século passado, as
migrações intensificaram-se em todo o mundo, como resultado do desenvolvimento económico.
As disparidades de níveis de desenvolvimento que se verificam a nível mundial dão origem a movimentos
migratórios. O diferencial de bem-estar entre países ricos e pobres, quer a nível salarial quer a nível de
acessibilidade aos bens coletivos (educação, saúde,
habitação, etc.), tem vindo a induzir de forma
continuada esta pressão migratória.
O processo migratório também tem vindo a ser
acelerado pelo contexto de globalização que carateriza
as sociedades atuais, pois a rápida circulação de
informação e a institucionalização de redes de tráfico e
de transporte de migrantes facilitam a deslocação das
populações.
A persistência das desigualdades de
desenvolvimento, num contexto de globalização,
poderia levar, numa situação limite, ao estabelecimento
de fluxos permanentes entre países, o que acarretaria
consequências negativas para os países de acolhimento
(ao nível de emprego e do consumo).
Disponível na Internet:
http://sigarra.up.pt/flup/pt/noticias_geral.ver_noticia?P_NR=25582
Movimentos migratórios para a Europa, no início do
século XX
Disponível na Internet:
http://www.coladaweb.com/geografia/migracoes-internacionais
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Neste sentido, as forças políticas destes países não defendem uma política de “porta aberta”, ou seja, os
Estados definem políticas migratórias mais ou menos restritivas, de
modo a poderem controlar as entradas e as permanências de
imigrantes no seu território.
As migrações e as decisões de migrar deixam de estar apenas
dependentes de fatores de repulsão (causas que no país de origem
levam os indivíduos a emigrar) e de fatores de atração (condições dos
países de destino atrativas para os imigrantes). Com efeito, nessas
decisões também pesam as políticas migratórias dos países de
acolhimento.
A integração dos migrantes
As migrações têm consequências quer nas sociedades de origem
quer nas de destino dos migrantes.
Nas sociedades de origem, as principais consequências são o
envelhecimento da população, dado que, geralmente, os emigrantes
são população jovem e em idade ativa, e a entrada de remessas
enviadas pelos emigrantes,
que podem atingir volumes
consideráveis.
Relativamente aos países
de acolhimento, o principal
problema que se coloca é o
da integração dos imigrantes.
Essa integração pode ser
analisada a dois níveis:
. Inserção no mercado de trabalho;
. Integração cultural.
A nível do mercado de trabalho, os imigrantes, geralmente,
ocupam os postos de trabalho menos qualificados e mais precários, em termos de contrato, ou mesmo do
setor informal (atividades não regulamentadas pelo Estado), situação que os torna mais vulneráveis ao
desemprego. Para os imigrantes que não estão legalizados, e situação ainda é mais grave, pois não cumprem
os seus deveres de cidadania, isto é, não pagam
impostos e não lhes estão garantidos os direitos
económicos e sociais dado não estarem inseridos no
mercado de trabalho legal formal.
Quanto à integração cultural, as dificuldades
também são grandes. O desconhecimento da língua
funciona, desde logo, como uma primeira barreira à
integração. Por outro lado, as comunidades imigrantes
têm geralmente modos de vida e identidades culturais
diferentes dos da sociedade de acolhimento.
“Quando um imigrante se confronta
com uma nova sociedade, emergem
duas questões básicas: é importante
manter a minha identidade cultural? É
importante manter relações culturais
com outros grupos da sociedade de
acolhimento? As respostas configuram
quatro modalidades de relações
culturais: integração, assimilação,
separação e marginalização.
A integração é uma estratégia que
consiste em manter aspetos importantes
da identidade cultural de origem e ao
mesmo tempo desenvolver relações com
a sociedade de acolhimento e adotar
comportamentos e valores dessa
sociedade. A separação indica um
fechamento na cultura de origem. A
assimilação, pelo contrário, indica uma
abertura à cultura de acolhimento em
detrimento da cultura de origem. A
marginalização é o resultado de um
processo de negação da própria cultura
e de não integração na cultura da
maioria, muitas vezes por rejeição da
própria maioria.”
Vala, J., Processos identitários e gestão
da diversidade, I Congresso - Imigração
em Portugal,
Lisboa, ACIME, 2004 (adaptado).
Europa fortaleza, pouco disponível para receber migrantes
Disponível na Internet:
http://www.migracoesporto.org/index_ficheiros/Page3814.htm
Manifestação em defesa dos direitos dos
imigrantes, S. Francisco, USA, 1910
Disponível na Internet:
http://www.fogcityjournal.com/wordpress/1898/t
housands-protest-arizona-immigration-law-in-san-
francisco/
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A vivência numa sociedade com uma
cultura diferente coloca ao imigrante
problemas de identidade que resultam da
tensão permanente entre:
. a conservação das especificidades da
sua cultura de origem (língua, religião,
hábitos, tradições, etc.);
. o processo de aculturação a que
inevitavelmente está sujeito, se quer
integrar-se e usufruir das vantagens
que daí podem advir.
Entre essas dualidades, as estratégias de
integração dos imigrantes podem assumir
os graus extremos de assimilação ou de marginalização.
A sociedade de acolhimento também pode desenvolver atitudes diferenciadas em relação aos imigrantes
que podem ser de integração, assimilação,
segregação, exclusão, individualização.
A diversidade étnica das sociedades atuais
Os movimentos migratórios têm contribuído
para o aparecimento, nas sociedades de
acolhimento, de grupos, geralmente
minoritários, que se diferenciam pelas suas
características culturais, raciais, religiosas,
linguísticas, etc. - minorias étnicas. Esta
diversidade étnica está bem patente nas
sociedades europeias, incluindo a portuguesa.
Muitas vezes, as minorias étnicas apresentam características culturais bastante diferentes das da sociedade
de acolhimento, assumindo os seus membros essa diferença e sendo vistos pelos outros da mesma forma.
Neste caso, pode falar-se existência de etnicidade.
A etnicidade designa os modos de vida e as
práticas culturais que distinguem os membros de um
grupo dos restantes. Quer isto dizer que a etnicidade
uma característica dos grupos de imigrantes, quando
estes grupos mantêm, suas identidades culturais e
formas de ação coletivas próprias. A etnicidade torna-
se, assim, uma fonte de identidade para alguns grupos
de imigrantes, estando na base de algumas situações
de conflito que atravessam as sociedades atuais.
Também se poderá referir que estes grupos de
imigrantes constituem subculturas, na medida em
que são segmentos da população cujos traços
culturais são distintos dos da sociedade envolvente.
Manifestação em favor da tolerância face aos emigrantes, Oslo,
2011
Disponível na Internet: http://www.bloomberg.com/news/articles/2011-07-
27/norway-atrocity-may-fail-to-erode-nordic-anti-immigration-parties-support
Ciganos deixam acampamento em Lyon, France, na sequência de
expulsão ditada pelas autoridades, 2012
Disponível na Internet: http://oglobo.globo.com/mundo/hollande-desfaz-
acampamentos-paga-para-ciganos-deixarem-pais-5748670
A cultura muçulmana está cada vez mais presente na Europa. França,
2014
Disponível na Internet: http://www.ultimosacontecimentos.com.br/ultimas-noticias/a-
islamizacao-da-europa-sera-algo-irreversivel.html
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Etnocentrismo cultural
Como vimos, existe uma pluralidade de padrões culturais que variam no tempo e no espaço. Deste modo,
muitas vezes, os padrões de outros grupos ou
sociedades podem parecer-nos e estranhos. Por
exemplo, quando vemos filmes na televisão sobre
outras sociedades, começamos por achar
incompreensível a língua que falam, mas também
podemos encontrar aspetos da vida quotidiana,
hábitos alimentares e formas de vestir
completamente diferentes dos da sociedade
portuguesa - multiculturalismo das sociedades
atuais.
A situação torna-se mais difícil quando entramos
em contacto direto com outras culturas, podendo, muitas vezes, produzir-se choques culturais, quando os
valores das “outras” culturas são muito diferentes dos nossos padrões culturais. Estes choques culturais
resultam do facto de termos tendência para julgar os padrões das outras culturas com base nos da nossa,
levando-nos a não aceitar ou a aceitar dificilmente esses padrões diferentes dos nossos. Por exemplo, a
existência de monogamia nas sociedades ocidentais, pode levar à rejeição de outros tipos de comportamento
poligâmico caraterísticos de outras culturas,
como a muçulmana.
Ora, o etnocentrismo cultural consiste
precisamente em não julgar negativamente
as outras culturas tomando como padrão os
nossos modelos culturais. Quando assumem
esta conduta, os indivíduos estão a
sobrevalorizar a sua cultura, considerando
inferior a dos outros.
Nas sociedades atuais, onde a
diversidade cultural é muito grande, o
etnocentrismo cultural tem dado origem a
fenómenos exacerbados de rejeição social,
como racismo (forma de preconceito e de
segregação social baseada em diferenças raciais ou étnicas e a xenofobia (aversão e discriminação de
estrangeiros).
A diversidade étnica da sociedade portuguesa
Na década de 60 do século xx, apenas residiam em Portugal 29 428 estrangeiros, principalmente de
nacionalidade espanhola e brasileira. Esta situação não se alterou substancialmente até ao 25 de Abril de
1974.
Emigrantes tentam chegar à Europa, de barco, 2014
Disponível na Internet:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150419_tragedia_mediterraneo_ue_rm
Disponível na Internet: http://www.ultimosacontecimentos.com.br/ultimas-
noticias/a-islamizacao-da-europa-sera-algo-irreversivel.html
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Após essa data, o processo de descolonização aumentou os fluxos imigratórios dos novos países africanos
lusófonos em direção a Portugal, o que
fez com que a população imigrante
passasse a ser constituída
maioritariamente por cidadãos das ex-
colónias portuguesas.
Na década de 80, o ritmo de
crescimento da população estrangeira
abrandou, passando a predominar os
cidadãos brasileiros, mas mantendo-se
um elevado fluxo de imigrantes
originários de Cabo Verde.
Em 1986, Portugal aderiu à
Comunidade Europeia, e os reflexos
dessa adesão são visíveis na economia portuguesa, pois, durante o período que vai desde 1986 até 1991, a
economia portuguesa obteve resultados globais francamente positivos.
Estas transformações económicas tiveram reflexos nos perfis da população imigrante, já que, a par da
entrada de mão de obra pouco qualificada composta essencialmente por imigrantes africanos, também
entraram imigrantes, nacionais de países europeus e brasileiros, altamente qualificados.
Durante a década de 90, o fluxo imigratório tornou a acelerar, constatando-se um novo fenómeno, o da
entrada de imigrantes nacionais de países com os quais Portugal não tinha mantido “laços económicos ou
históricos privilegiados”, como, por exemplo, os países do Leste e do Centro da Europa.
Este aumento de influxo poderá ser explicado, em parte, pelo facto de os portugueses terem optado por
emigrar, deixando “lugares vagos para os imigrantes”, e pelos processos de legalizações extraordinários que
ocorreram durante a década de 90 (1992 e 1996).
Também se alteraram alguns padrões de inserção dos imigrantes no mercado de trabalho, tendo-se
reduzido o número de profissionais qualificados e aumentado o emprego na construção civil e obras públicas
(trabalhadores não qualificados), bem como o emprego nos serviços pessoais e domésticos.
Entre 1999 e 2001, os fluxos imigratórios disparam, essencialmente, os de nacionais dos países do Leste
europeu. O facto de Portugal integrar a União Europeia e o espaço de Schengen poderá ter tido influência
neste aumento do fluxo imigratório. Mas esse crescimento também se deveu às motivações económicas
(diferenças de salários e de nível de vida), à existência de redes fortemente organizadas na Europa de Leste de
angariação de emigrantes (máfias) e à promulgação do Decreto n.º 4 de 2001, que permitia a regularização
dos imigrantes, desde
que tivessem um
contrato de trabalho.
No início do século
XXI, sobrepondo-se à
imigração africana, os
fluxos com origem nos
países da Europa de Leste
contribuíram para o
crescimento da
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível
na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20
Portugal.pdf
Manifestação de emigrantes, Lisboa, 2008
Disponível na Internet: http://www.esquerda.net/content/manifesta%C3%A7%C3%A3o-contra-
xenofobia-juntou-dois-mil-imigrantes
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população estrangeira total a residir em
Portugal.
A partir de 2003, o mercado de
trabalho português perdeu capacidade
de atração de mão de obra estrangeira.
O Ritmo de crescimento do número de
cidadãos estrangeiros diminuiu,
passando a dever-se essencialmente
aos processos de reagrupamento
familiar e não tanto às migrações por
motivos económicos.
A contração da economia
portuguesa a partir de 2008/2009 leva a
uma diminuição da população
estrangeira em Portugal partir de 2010. Essa
diminuição também re sultou da aquisição
da nacionalidade portuguesa por um número crescente de cidadãos que preenchem os requisitos necessários
exigidos na Lei Orgânica n.º 2/2006 de 17 de abril.
Em 2013, de acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2013 do SEF, “consolidou-se a
tendência de decréscimo do número de estrangeiros residentes em Portugal”. Em termos de continentes, a
Europa, a partir do ano de 2001, adquiriu primazia nos contingentes de estrangeiros com presença
documentada em Portugal (40,7% do total), muito devido à presença dos cidadãos dos países de Leste, com
particular destaque para a Ucrânia, ultrapassando a África, que durante várias décadas permaneceu como a
origem geográfica mais relevante devido aos cidadãos dos PALOP.
Por países, em 2013, manteve-se estrutura das nacionalidades mais representativas: o Brasil era o país com
a maior comunidade residente em Portugal, seguido de Cabo Verde e da Ucrânia.
O grande decréscimo dos imigrantes brasileiros pode ser explicado pela aquisição da nacionalidade
portuguesa, pela alteração dos fluxos migratórios e pelo impacto da atual crise económica no mercado laboral.
O Relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras também destaca o facto de, em 2013, a China ter
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20Portugal.pdf
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis
Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Im
igrantes%20em%20Portugal.pdf
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passado a ser a sexta nacionalidade mais relevante, com um crescimento de 6,8%, suplantando a Guiné-
Bissau, que cresceu 0,5%. Das nacionalidades mais representativas, a chinesa e a guineense (Bissau) foram as
únicas que registaram um aumento do número de residentes.
Na sociedade portuguesa, existe, assim,
uma grande diversidade étnica e cultural,
mais evidente em algumas zonas, mas
estendendo-se a todo o país.
Com efeito, mais de metade da
população estrangeira residente em
Portugal está concentrada na região de Lis-
boa (51,6%). Esta elevada concentração de
imigrantes na Área Metropolitana de Lisboa
resulta em grande parte das primeiras
vagas de imigração africana. As vagas
imigratórias mais recentes apresentam
padrões de maior dispersão geográfica no
território português, nomeadamente a
imigração de Leste, que se espalhou por todo
o país.
Esta diversidade étnica e cultural manifesta-se de várias formas. Por exemplo, nas zonas urbanas, podemos
encontrar estabelecimentos de comércio étnico onde se vendem produtos alimentares e especiarias
tradicionais dos países de origem dos imigrantes, observar
uma grande variedade de formas de vestuário,
experimentar comidas tradicionais de diferentes regiões do
mundo, ouvir falar nas ruas línguas que desconhecemos e
uma grande variedade da música e podemos, ainda, ver
outras formas de expressão artística e cultural.
Neste sentido, esta diversidade pode ser considerada
um fator enriquecedor pelo facto de estar associada a
novas formas de encarar a realidade e a novos elementos
culturais, como no caso da música, da gastronomia ou
mesmo da maneira de vestir.
Esse multiculturalismo também é visível nas escolas
portuguesas, pois a maior parte delas é frequentada por
alunos estrangeiros, ou seja, atualmente, na escola, coexistem grupos culturalmente heterogéneos.
A integração da população imigrante na economia portuguesa e os seus perfis sociodemográficos
Em linhas gerais, a população estrangeira com residência em Portugal apresenta as caraterísticas de uma
mão de obra pouco qualificada, apesar de um grupo de imigrantes, mais reduzido, desenvolver atividades
socialmente valorizadas (como médicos, dentistas, cuidados de saúde, marketing, design e outras).
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis
Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20I
migrantes%20em%20Portugal.pdf
Estudantes chineses numa escola portuguesa
Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a
%http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/chineses-tem-estatuto-de-
estranh_2311.html
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A integração de algumas nacionalidades, nomeadamente os imigrantes oriundos dos PALOP, é, em larga
medida, efetuada na economia subterrânea, ou seja, no setor informal - atividades não regulamentadas pelo
Estado, predominantemente nos setores da construção civil e das obras públicas.
O INE, na Revista de Estudos Demográficos, n.º 53, de 2014, apresenta a seguinte caraterização sociode-
mográfica da população imigrante em Portugal:
. Os estrangeiros residentes em Portugal eram maioritariamente mulheres.
. A idade média da população estrangeira era de 34,2 anos.
. O estado civil solteiro (cerca de 53%) predominava na população estrangeira.
. Verificava-se uma maior informalidade nas uniões conjugais desse grupo populacional relativamente à
população portuguesa.
. Os níveis de escolaridade da população em idade ativa (dos 15 aos 64 anos), recenseada em 2011, eram, de
modo geral, mais elevados na população de nacionalidade estrangeira comparativamente com a população
portuguesa.
. Mais de 60% da população estrangeira era economicamente ativa.
. O trabalho constituía a sua principal fonte de rendimento, e trabalhador da limpeza era a sua principal
profissão. Restauração, construção e comércio a retalho
eram as atividades económicas que empregavam mais
estrangeiros.
. A religião católica foi a mais assumida pelos
estrangeiros residentes.
O estudo “Monitorizar a Integração de Imigrantes em
Portugal” realizado por Catarina Oliveira e Natália
Gomes” apresenta alguns dados complementares
sobre as características do fenómeno imigratório em
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20Portugal.pdf
Comunidade chinesa em Portugal
Disponível na Internet:
http://observador.pt/2014/06/23/comunidade-chinesa-foi-que-mais-
aumentou-em-portugal-em-2013/
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Portugal, nos últimos anos (adaptado):
“Os imigrantes contribuem positivamente para a demografia portuguesa. O último Recenseamento da
População realizado pelo Instituto Nacional de
Estatística (Censos 2011) veio reafirmar o contributo
positivo da população estrangeira na demografia
portuguesa. Nos últimos 10 anos a população cresceu
2% (206.061 indivíduos), sobretudo como consequência
do saldo migratório (que explica 91% desse
crescimento). Os estrangeiros têm sido responsáveis
não apenas pelo aumento de efetivos em idade ativa,
mas também pelo incremento dos nascimentos em
Portugal. A população de nacionalidade estrangeira
residente em Portugal é tendencialmente mais jovem
que a população de nacionalidade portuguesa.
A população estrangeira residente em Portugal encontra-se sobretudo concentrada na região de Lisboa.
A percentagem de estrangeiros que se concentra nesta unidade territorial corresponde a 51,6%. A elevada
concentração de estrangeiros na Região de Lisboa resulta em grande medida das primeiras vagas de imigração
provenientes dos PALP. Ainda que as vagas imigratórias mais recentes tenham sido importantes para diminuir
a sobre concentração nesta região (por apresentarem padrões de maior dispersão geográfica no território
português), não conseguiram retirar a importância relativa da região de Lisboa que capta ainda mais de
metade dos estrangeiros residentes no país.
Se é verdade que o número de estrangeiros em Portugal tem diminuído nos últimos anos, também se
nota que os perfis de imigração para Portugal estão a diversificar-se. As condições económicas menos
favoráveis do país a partir de 2008, mudaram o perfil de entradas de estrangeiros em Portugal. Não apenas o
fluxo global de entradas diminui (em especial entre 2008 e
2011, retomando com ligeiro aumento a partir de 2012),
como se verifica uma alteração nos perfis das entradas, com
aumento de alguns fluxos – caso dos estudantes, de
investigadores e altamente qualificados e, de forma mais
ténue, de reformados – e diminuição de outros – entradas
para o exercício de atividades subordinadas.
A população estrangeira não é um todo homogéneo
quanto à sua inserção económica, verificando-se três
formas de incorporação no mercado de trabalho: (1)
imigração laboral, personificada principalmente pelos
operários dos PALP, brasileiros e do Leste europeu; (2)
imigração profissional, essencialmente representada por
trabalhadores oriundos da União Europeia e do continente americano; e (3) imigração empresarial, destacam-
se os asiáticos, em especial os chineses.
A segmentação do mercado de trabalho português, associando os estrangeiros às atividades manuais e
mais exigentes, e por vezes mais arriscadas, e a algumas características dos trabalhadores imigrantes (e.g.
disponibilidade para trabalhar mais horas, trabalhadores tendencialmente pouco informados acerca dos seus
Comunidade ucraniana em Fátima, Portugal
Disponível na Internet:
http://fatimacidade.blogs.sapo.pt/arquivo/Ucrania13AgoFM.html
Comunidade brasileira em Portugal
Disponível na Internet:
http://www.portaldeangola.com/2012/07/brasileiros-continuam-a-
ser-a-maior-comunidade-de-imigrantes-em-portugal/
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direitos e deveres laborais em Portugal, com conhecimentos limitados acerca dos sistemas de segurança e
saúde no trabalho) tem tido consequências na sinistralidade laboral dos estrangeiros que se mostra superior
à verificada para os trabalhadores portugueses.
Verifica-se um desequilíbrio nas
remunerações base médias entre os portugueses
e os estrangeiros. Os dados de 2012 dos Quadros
de Pessoal mostram que, em média, os
trabalhadores estrangeiros têm remunerações 7%
mais baixas que a generalidade dos trabalhadores
do país.
Segundo dados do Eurostat, em 2012 Portugal
era o terceiro país da União Europeia com a taxa
de desemprego mais elevada (15,9%), sendo
apenas ultrapassado pela Grécia (24,3%) e
Espanha (25,0%). O desemprego não incide de
igual forma nos diferentes grupos populacionais. As taxas de desemprego dos estrangeiros são superiores às
dos portugueses; e, por outro, a distância entre estes dois grupos agravou-se substancialmente na última
década - em 2001 verifica-se uma diferença de dois pontos percentuais na taxa de desemprego dos
portugueses e dos estrangeiros, passando para 6 pontos percentuais em 2011.
Durante a última década o saldo financeiro da segurança social com os estrangeiros foi positivo.
Os estrangeiros mostram maior percentagem de população nos níveis de escolaridade mais elevados
quando comparados com os portugueses. Essa tendência não é, contudo, uniforme para todas as
nacionalidades estrangeiras.
A distribuição dos trabalhadores estrangeiros pelos grupos profissionais do mercado de trabalho em
Portugal não reflete necessariamente as suas qualificações. Verifica-se em Portugal o fenómeno da sobre
qualificação no mercado de trabalho. Os estrangeiros qualificados em Portugal sem o reconhecimento das
suas qualificações representam um importante capital humano que não está a ser aproveitado no mercado de
trabalho.
A compreensão da língua do país de acolhimento é um requisito fundamental no processo de integração
de imigrantes, tendo por isso aumentado a oferta de cursos de aprendizagem da língua de acolhimento um
pouco por toda a Europa.
Nos últimos anos verifica-se um grande aumento do número de “novos cidadãos” portugueses associado
essencialmente a estrangeiros residentes em Portugal (mais de 90% das aquisições de nacionalidade) e
descendentes de imigrantes.
Na década passada aumentou a percentagem de estrangeiros elegíveis para votar por total de
residentes. Contudo, a percentagem de cidadãos estrangeiros recenseados em Portugal para votar por total
de estrangeiros residentes elegíveis para votar em eleições locais diminuiu (...), o que tanto pode refletir o
crescente desinteresse das populações estrangeiras no país para os seus direitos políticos ou a sua perceção
de falta de direitos políticos em Portugal.”
No essencial, o texto apresentado foi retirado de: Andrade, Anabela; Moinhos, Rosa (sd) Sociologia 12.º ano. Lisboa:
Plátano Editora (adaptado)
Comunidade africana em Portugal
Disponível na Internet: http://www.jornalacores9.net/nacional/imigracao-e-
trafico-de-pessoas-sem-alteracoes-mas-com-novos-fenomenos/
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Ei-los Que Partem
Ei-los que partem
Novos e velhos
Buscando a sorte
Noutras paragens
Noutras aragens
Entre outros povos
Ei-los que partem
Velhos e novos
Ei-los que partem
De olhos molhados
Coração triste
E a saca às costas
Esperança em riste
Sonhos dourados
Ei-los que partem
De olhos molhados
Virão um dia
Ricos ou não
Contando histórias
De lá de longe
Onde o suor
Se fez em pão
Virão um dia
Ou não
De Manuel Freire
Para ouvir no You Tube
carregar aqui
Cantar da Emigração
Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão
Tens em troca órfãos e órfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.
Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos
que ninguém consolará
De Rosalia de Castro
Tradução de José Nisa
Para ouvir no You Tube cantada
por Adriano Correia de Oliveira
carregar aqui.
Trova do Emigrante
Parte de noite e não olha
Os campos que vai deixar
Todo por dentro a abanar
Como a terra em Agadir
Folha a folha se desfolha
Seu coração ao partir
Não tem sede de aventura
Nem quis a terra distante
A vida o fez viajante
Se busca terras de França
É que a sorte lhe foi dura
E um homem também se cansa
As rugas que o suor cava
Não são rugas são enganos
São perdas lágrimas e danos
De suor por conta alheia
Não compensa nunca paga
Quanto suor se semeia
Em vida vive-se a morte
Se o trabalho não dá fruto
Morre-se em cada minuto
Se o fruto nunca se alcança
Porque lhe foi dura a sorte
Vai para terras de França
Não julguem que vai contente
Leva nos olhos o verde
Dos campos onde se perde
Gente que tudo lhe deu
Parte mas fica presente
Em tudo o que não colheu
Verde campo verde e triste
Em ti ceifou e hoje foi-se
Em ti ceifou mas a foice
Ceifava somente esperança
Nem sempre um homem resiste
Vai para terras de frança
Vai-se um homem vai com ele
A marca de uma raiz
Vai com ele a cicatriz
De um lugar que está vazio
Leva gravada na pele
Um aldeia um campo um rio
Ficam mulheres a chorar
Por aqueles que se foram
Ai lágrimas que se choram
Não fazem qualquer mudança
Já foram donos do mar
Vão para terras de França.
De Manuel Alegre
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A Emigração na Literatura Portuguesa
Desde os século XV que o tema da emigração é uma constante na literatura portuguesa. As suas grandes
questões, percorrem de forma diversificada e profunda obras como a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto,
"Emigrantes" ou "A Selva" de Ferreira de Castro, para já não falar de romances recentes como "Gente Feliz
com Lágrimas" de João de Melo.
Associada a esta temática, o exílio originou igualmente páginas incontornáveis da literatura a portuguesa.
Durante séculos, devido a perseguições religiosas ou políticas, ou motivado por "exílios voluntários", este
abordado por escritores que o sentiram na pele, como Filinto Elísio, Almeida Garrett, Alexandre Herculano,
António Feijó, António Nobre, Manuel Teixeira Gomes, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, José Rodrigues
Miguéis, Jorge Sena entre outros.
Ler estes textos é não apenas acompanhar uma das dimensões mais impressionantes da História de
Portugal, mas sobretudo compreender melhor os dramas vividos por milhões e milhões de pessoas em todo o
mundo.
India
O Estado da India, isto é, a vasta região entre o Cabo da Boa Esperança (África do Sul) e o Japão foram nos
séculos XVI e XVII, a terra prometida para todos os aventureiros e emigrantes portugueses.
Fernão Mendes Pinto (-1583) é um daqueles escritores incontornáveis da literatura sobre emigração. A
"Peregrinação" não é apenas o contraponto de "Os Lusíadas" de Camões, é também a história de um
português que ainda criança, para fugir à miséria, se vê obrigado a deixar a terra onde nasceu (Montemor-o-
Velho). O que a partir daí se passa é o relato da vida de um emigrante, de terra em terra pelos mares do
Oriente em busca de um pecúlio que lhe permita viver com dignidade e que não consegue amealhar no seu
país. Todas as grandes temas da literatura sobre a emigração estão já aqui presentes, como a saudade, o
desconhecido, o confronto entre culturas, a cobiça, o infortúnio, a escravatura, a desagregação dos laços
afectivos até à desumanização, mas onde ressurge sempre a esperança num regresso sempre adiado e a
solidariedade entre compatriotas, marcado pelas suas contínuas traições motivadas pela cobiça ou a
sobrevivência a qualquer custo.
Diogo Couto, em "Soldado Prático" denuncia pela primeira vez na História a exploração dos emigrantes pelo
respectivo Estado. Desde ao rei, passando pelos altos funcionários e terminando no vendedor de promessas
de longínquos Eldorados, eram muitos os que ganhavam com aqueles que partiam para o Estado da Índia.
Após regressarem à pátria, os emigrantes constatavam então que lhes era negado aquilo a que tinham direito
pelos trabalhos e perigos passados. As promessas e compromissos assumidos aquando da partida, haviam sido
rapidamente esquecidos. Um forte sistema burocrático estatal suportava esta "roubalheira" dos emigrantes,
levando-os a desistirem dos seus direitos. Nos nossos dias, um grande número de Estados continua a viver da
"roubalheira" dos seus emigrantes, nomeadamente das suas remessas.
Brasil
O Brasil, em meados do século XVII, tornou-se na nova terra prometida para milhões de portugueses. Enormes
vagas todos os anos travessam o Atlântico embrenham-se depois pelos sertões em busca do "Ouro" que tanto
lhe acenavam. Ninguém ficou indiferente a esta corrida. Na gira popular, mas também na literatura emerge a
figura do "mineiro", numa alusão aos que se dirigiam para a Capitania de Minas Gerais. O "mineiro" é todavia
o português que foi e que retorna a Portugal velho, rico, mas com a mesma estupidez e brutalidade como
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partiu. Aqui julga que o dinheiro tudo compra e todos pode submeter. A nobreza, mas também a burguesia,
solidamente instalada, não o suportam. A ostentação do "mineiro" - os novos-ricos - é posta a ridículo.
António José da Silva, o Judeu 1705-1739), aborda a questão da emigração em duas das suas peças. Numa que
lhe é atribuída - "Obras do Diabinho da Mão Furada"-, traça-nos a figura de um soldado português que no
tempo dos Filipes, regressa à pátria tão pobre como partiu, mas agora "afligido e maltado pela guerra". Em
"Guerras de Alecrim e Manjerona", uma das suas personagens - D. Lançarote -um "mineiro velho" e rico,
torna-se no objecto de escárnio.
Correia Garção (1724-1772), numa das suas odes, escarnece do "mineiro" que depois de sofridos trabalhos no
Brasil, vêm para Portugal exibir-se sem perceber todavia que "com ouro não se compra um nome digno/da
póstuma memória"
Filinto Elísio (1734-1819), em versos mordazes, zurze no pobre de um "pedreiro de Samardã" que volta rico do
Brasil, mas tão lorpa como era.
Após a Independência do Brasil (1822), o "mineiro" não tarda a ser substituído pelo "brasileiro". Camilo
Castelo Branco transforma o "brasileiro" numa "indústria" que alimenta muitos dos seus romances. O
"brasileiro" é dissecado em todos os seus aspectos negativos: novo-riquismo, analfabetismo, estupidez, mau
gosto, brutalidade, imoralidade, cobiça, etc. Eça de Queiroz não deixa de reconhecer quando os escritores
ridicularizam o "brasileiro" estão, no fundo, a troçar de si próprios.
Camilo Castelo Branco, que ao longo da sua vida se cruzou com muitos brasileiros, e teve-os como seus
grandes admiradores (o Imperador D. Pedro II do Brasil, por exemplo), elege o "brasileiro" de torna-viagem
num dos seus alvos privilegiados. A primeira obra em que troça desta personagem foi numa peça de teatro -
"Poesia ou Dinheiro" (1855) -, a partir daqui sucederam-se os romances onde o "brasileiro", onde este é
implacavelmente caricaturado: O que fazem as mulheres (1858); Anos de Prosa (1863); Os Brilhantes do
Brasileiro; Novelas do Minho; Eusébio Macário; Corja; A Brasileira de Prazins; Vingança (1858); Serões de S.
Miguel de Seide (1885); Estrelas Propícias; O Esqueleto, etc..
Camilo, tentou explorar literariamente ainda outra personagem - o "africano" - , o degradado ou emigrante
que, por uma razão ou outra, fora para África. Os que voltavam, segundo Camilo, trazem as mãos manchadas
de sangue dos "pretos" que exploraram até à morte. Foi diminuto o sucesso desta personagem.
Júlio Dinis (1839-1871), na seu célebre romance "A Morgadinha dos Canaviais", não deixa de zurzir também
num "brasileiro" (Eusébio Seabra).
Luis de Magalhães (1859-1939), em "O Brasileiro Soares", prefaciado por Eça de Queiróz, não perde pitada
para desancar no omnipresente "brasileiro".
Os exemplos multiplicam-se ao longo do século XIX, no romance, teatro ou na poesia. A caricatura de Camilo é
quase sempre o modelo mais seguido.
Outros escritores, procuram ultrapassar esta caricatura, e descrevem-nos o lado negro da emigração no Brasil.
O "brasileiro" torna-se parte de um drama vivido por milhões de portugueses que um dia partiram à procura
de melhorar as suas vidas em mundos distantes, e o que encontraram foi a miséria, a exploração desenfreada
e o racismo.
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Tomás Quintino Antunes, vivendo a própria experiência da emigração, escreve "Ódio de Raça (1860)
Francisco Gomes de Amorim (1827-1891), emigrante desde os 10 anos de idade nos sertões da amazónia,
reflecte nas suas peças teatrais o drama da própria emigração, onde denuncia a exploração e o tráfico que são
vítimas: "Aleijões Sociais" (1870) e "O Cedro Vermelho". A sua escrita, desafia as convenções do tempo,
antecipando a própria modernidade.
Fialho de Almeida (1857-1911), na sua escrita muito desigual, aborda por diversas vezes a questão da
emigração para o Brasil. Em "O Filho", por exemplo, uma mãe suicida-se quando sabe que o filho morreu no
regresso. Tanto esforço para nada. Em "Lisboa Galante" (1890), descreve a ganância das famílias dos
emigrantes para se apossarem do que estes amealharam no estrangeiro.
No final do século XIX, o "brasileiro " já tinha sido substituído pelo "emigrante", uma personagem que vive um
drama comum a muitos milhões de pessoas em todo o mundo.
Emigrantes no Mundo
No século XX, os escritores portugueses tomam verdadeiramente consciência que Portugal tem emigrantes
espalhados por todo o mundo. O Brasil continua ser a terra de eleição, mas também os há em grande
quantidade nos Estados Unidos e em muitos outros países. O tema da diáspora, ensaiado por Fernão Mendes
Pinto, volta agora a ser retomado. Estamos agora perante uma literatura que soube captar um fenómeno
universal, vivido por todos aqueles que um dia tiveram que deixar as suas terras em busca de melhores
condições de vida. Alguns destes romances sobre emigração, como os de Ferreira de Castro, obtém uma larga
difusão internacional.
Trindade Coelho (1861-1908), em "Ultima Dádiva" narra a brutal separação entre os que ficam e os que
partem. O Brasil é ainda o cenário de fundo.
Ferreira de Castro. Vivendo desde criança o drama da emigração no Brasil, soube numa escrita realista traduzi-
la em duas magnificas obras: Emigrantes (1928) e A Selva (1930).
Joaquim Paço d`Arcos (1908-1979), centrando no também no Brasil, escreve a sua melhor obra: "Diário dum
Emigrante" (1936)
Baltazar Lopes, dá-nos um olhar da emigração a partir de Cabo Verde (África)
Aquilo Ribeiro. Vivendo a experiência do exílio, em "Mina de Diamantes (in, O Malhadinhas, 1958), retoma
estafada figura do "brasileiro".
José Rodrigues Miguéis, em "Gente da Terceira Classe" (1962), faz um dos mais notáveis retratos da "condição
do emigrante", a partir da história de emigrantes portugueses, nomeadamente nos Estados Unidos da
América, onde se exilou. No romance "Uma Aventura Intrigante" (1958), constrói uma trama policial a partir
do relato de um emigrante português na Bélgica.
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Miguel Torga. Outro emigrante no Brasil, deixou-nos duas obras onde abras onde abora a questão da
emigração: Criação do Mundo e O Senhor Aventura
Florêncio Terra (1859-1941), em "Contos e Narrativas", introduz o olhar açoriano sobre o fenómeno da
emigração.
Nunes Rosa - Gente das Ilhas
Manuel Greaves - Aventuras de Baleeiro
Herberto Helder (1929-), num belo texto - Os Passos Em Volta (1963)- entrelaça as vidas de um poeta-
emigrante na Holanda e Bélgica.
João de Melo - Gente Feliz com Lágrimas
Alguns escritores portugueses, uma das coisas mais fascinantes nos legaram sobre o fenómeno da
emigração foi a sua própria vivência nessa condição, como é o caso de Camilo Pessanha (Macau) ou Venceslau
de Moraes (Japão). A vida destes emigrantes mostra a dificuldade de escolha que a partir de certa altura passa
a existir, entre a cultura materna e a da terra de acolhimento. Ambos, embora profundamente ligados a
Portugal, decidem todavia morrer na terra que os recebeu.
Francisco Assis Pacheco (1937-1995), no romance "Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Galego da Província
de Ourense que veio a Portugal ganhar a Vida (1993), analisa a dupla faceta do emigrante/imigrante a partir
uma família de galegos que anda entre um lado e outro da fronteira.
É longa a listagem de escritores portugueses que abordam a emigração, em prosa ou em verso. Nas suas
obras espelha-se a complexidade deste fenómeno atingiu milhões de pessoas em Portugal. Esta literatura
constitui hoje, não apenas um património nacional, mas também universal pela profundidade e qualidade
estética que atingiu.
In Migrantes. A Emigração na Literatura Portuguesa. Disponível da Internet em:
http://imigrantes.no.sapo.pt/page6.Pinto.html