18
Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro Vale nº8 Jun. / Jul. 2014 Sabores Altaneiros da Estrela Professor universitário e ex-quadro da Sonae, Luís Marques fundou em Manteigas uma empresa ligada à produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature- za, no âmbito dos sabores da geografia e gastronomia portugue- sas. Ao mesmo tempo, criou a Fórmula do Talento, empresa de consultoria em gestão de recursos humanos. Fomos encontrá-lo no Páteo da Galé, onde nos contou um pouco do seu projecto e percurso empresarial 04 Fenómeno BRICS e o vinho global À medida que as suas economias crescem, os países Brics desenvolvem uma classe média, com alguma cultura e formação, o que lhes outorga hábitos de bom gosto, que normalmente eram apanágio do Ocidente, nomeadamente da Europa. E nisto estão implicitamente os bons vinhos! 03 Mercearia do Troino... desde 1926, recuperada para museu! No Bairro da Fonte Nova, em Setúbal Azeite Biológico de Pinhel Na aldeia de Azevo, concelho de Pinhel, próximo de Foz do Côa, a família Branquinho Maria produz num olival de 2 hectares apenas mil litros de azeite biológico por ano, para apurar a qualidade… em cerca de 2.000 garrafas de meio litro. Fomos encontrar o casal Luís Branquinho e sua mulher Patrí- cia Villa Verde na Feira do Peixe 02 Portugal.....6,7 M hectolitros França .....44,5 M hl U E …….163,9 M hl Mundo…..281 M hl GRUPO VINÍCOLA DE TORRES VEDRAS Santos & Santos mais 20% em 2014 Livros & tertúlias: Um Verão de Poesia 07 11 14 Turismo: os novos projectos âncora de Barcelona Arenas, Mercado de Sant Anto- ni e nova Feira dos Encants, as novidades para o turista usu- fruir 09 Verde Covela premiado pela Wine & Spirits últimas Indicadores mundiais do Vinho últimas

Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro Vale

nº8

Ju

n. /

Jul.

201

4

Sabores Altaneiros da EstrelaProfessor universitário e ex-quadro da Sonae, Luís Marques fundou em Manteigas uma empresa ligada à

produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature-za, no âmbito dos sabores da geografia e gastronomia portugue-sas. Ao mesmo tempo, criou a Fórmula do Talento, empresa de consultoria em gestão de recursos humanos. Fomos encontrá-lo no Páteo da Galé, onde nos contou um pouco do seu projecto e percurso empresarial 04

Fenómeno BRICS e o vinho global À medida que as suas economias crescem, os países Brics desenvolvem uma classe média, com alguma cultura e formação, o que lhes outorga hábitos de bom gosto, que normalmente eram apanágio do Ocidente, nomeadamente da Europa. E nisto estão implicitamente os bons vinhos! 03

Mercearia do Troino... desde 1926, recuperada para museu!No Bairro da Fonte Nova, em Setúbal

Azeite Biológico de PinhelNa aldeia de Azevo, concelho de Pinhel, próximo de Foz do Côa, a família Branquinho Maria produz num olival de 2 hectares apenas mil litros de azeite biológico por ano, para apurar a qualidade… em cerca de 2.000 garrafas de meio litro. Fomos encontrar o casal Luís Branquinho e sua mulher Patrí-cia Villa Verde na Feira do Peixe 02

Portugal.....6,7 M hectolitros França .....44,5 M hlU E …….163,9 M hlMundo…..281 M hl

GRUPO VINÍCOLA DE TORRES VEDRASSantos & Santos mais 20% em 2014

Livros & tertúlias: Um Verão de Poesia

07

11

14

Turismo: os novos projectos âncora deBarcelonaArenas, Mercado de Sant Anto-ni e nova Feira dos Encants, as novidades para o turista usu-fruir

09

Verde Covela premiado pela Wine & Spirits

últimas

Indicadores mundiais do Vinho

últimas

Page 2: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

2

O azeite biológicoda família Branquinho

Produzem 900 litros de azeite biológico por ano num olival de dois hectares, “um espaço muito peque-no, mas que permite con-trolar a qualidade de um azeite suave e aromático com acidez de 0,1%, com ligeiro sabor picante”, a par-tir de azeitonas de três var-iedades a saber: Cobranço-sa, Bical de Castelo Branco e Galega. “Poderemos ter mais um pouco de produção, mas não muito mais porque queremos maximizar a qualidade, que perde caso opte-mos pela quantidade”, diz Patrícia Vila Verde, designer de artes grá-ficas e responsável pela imagem e comercialização do produto, e mulher de Luís Branquinho Maria, engenheiro. O casal vive no Porto e são os pais de Luís que estão à frente da produção, em duas proprie-dades separadas por 400 metros, na aldeia de Azevo, no concelho de Pinhel e próximo de Foz Côa. Conhecemos os dois na Feira do Peixe , no Pátio da Galé, ao Terreiro do Paço, onde falaram do seu pro-jecto.

“Quando morre uma árvore e a substi-tuímos demora 5 a 7 anos para dar a qualidade necessária ao azeite”, explicam, aludindo a aos cuida-dos que requer uma produção de azeite biológico, muito diferente produção intensiva, com adubos químicos (ao fim de dois anos as oliveiras já podem dar frutos, mas ao fim de 15 anos têm de ser substituídas).A colheita é feita à mão, resultando um azeite doce, frutado com ligeiro picante amargo, e recomendado para pão, saladas, massas e peixes.

PERTO DE FOZ CÔA

Nesta paisagem de Foz Côa situa-se o pequeno olival da família Branquinho, que plantou novas oliveiras de várias cultivares para enriquecer a qualidade, junto a outras já seculares.

Page 3: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

3

O Fenómeno BRICS e o Vinho GlobalO termo BRIC reporta-se a 2001, quando Jim O’Neil, da Goldman Sachs usou o termo para se referir ao Brasil, Rússia, India e China, só mais tarde apareceria a África do Sul, adicionando o S de South Africa à sigla. Os cinco países são agora a quarta economia do mundo fora dos países da OCDE, considerados os países ricos.À medida que as suas economias cres-cem, os Brics desenvolvem uma classe média, com alguma cultura e formação, o que lhes outorga hábitos de bom gosto, que normalmente eram apanágio do Oci-dente, nomeadamente da Europa. E nisto estão implicitamente os bons vinhos!A China tem uma classe média de 150 milhões pessoas, que subirá em 2020 para 500 milhões e em 2030 para mil milhões. Classe média, aliás, que é o sonho dos dirigentes chineses, como afirmou o presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Keqang, quando este ano anunciaram reformas nesse sentido, para aquela que é a segunda economia do mundo, depois dos EUA. Do programa faz parte tirar da pobreza em dois anos 80 milhões de pessoas, ou seja 8,5 % da população activa da China. Por seu turno, a India tem uma classe média de 300 milhões de pessoas, mercado para o qual também se deverá estar atento.Com a ascensão e consolidação das suas economias, os Brics tornaram-se mercados atractivos para os produtores de vinho, mas também os seus vinhos começam a aparecer nas suas próprias lojas. Veja-se que em 2007, a China era o 6º maior produtor de vinho, segundo a OIV, mas um vinho que deixa muitas dúvidas em termos de qualidade, e que levou a presidente da OIV, a argentina Claudia Quini a declarar que os chineses têm de se disciplinar e reorganizar a sua produção, ou seja, reorganizar toda a sua fileira vitivinícola.Chineses consomem 300 milhões garrafas/anoPor outro lado, a Quinta dos Abibes era Os chineses consomem 300 milhões de garrafas por ano, sendo o quinto maior mercado mundial em termos de consumo de vinho, à frente do Reino Unido. E veja-se, que com o crescimento da tal classe média chinesa, duplicou desde 2007, atingindo este ano os 150 milhões, número que em 2020 será de 500 milhões. Portanto, os empresários vi-tivinícolas ou os produtores portugueses deverão, sem hesitações, organizar-se na mesma proporção, plantando novas vinhas, estudar o paladar dos chineses, e combinar as castas mais condizentes com a cultura do antigo Império do Meio. Na perspectiva mais lógica surgirão parcerias luso-chinesas, visto que já se regista a aquisição de algumas quintas por parte de empresários chineses, que pretendem… explorar pedreiras e ro-

três vezes mais face a 2010, anunciou a Aicep, agência de investimento e co-mércio externo de Portugal. O anúncio foi feito durante a feira anual do grupo Bright Food, a maior empresa do sector da China, proprietária de 4.000 lojas de supermercado. Registe-se que só no pri-meiro semestre do ano passado, as ex-portações de vinho para a China haviam aumentado 62%., para um total de 90% face a 2011.Entretanto, as perspectivas para 2013 são excelentes já que no primeiro se-mestre do ano, Portugal havia exporta-do para China vinho no montante de 8,5 milhões de euros.O objectivo é atingir os 25 milhões de euros em 2014 em volume de vendas de exportações no mercado chinês, inclu-indo Hong Kong de Macau, segundo a ViniPortugalExportações totais de vinho: 704,8 M eurosEm 2012, as exportações de vinho por-tuguês atingiram os 704,8 milhões de euros, uma alta de 7,1% face a 200, para um total de 3,35 milhões de hectolitros. Desse valor facturado, 45% dizem res-peito a vinhos do Porto e Madeira.Segundo a ViniPortugal, as exportações estão em crescimento desde 2010, tanto em volume como em custo valor, devido às promoções fora da Europa, particular-mente nos mercados de Angola e China, bem como Rússia, EUA, Canadá, Brasil e ainda México, Moçambique e Japão.Angola comprou 87 M euros em 2012Angola absorve mais de 40 % do vin-hos portugueses exportados, tendo em 2012 comprado 680 mil hectolitros no valor de 87 milhões de euros, anunciou Filipa Anunciação da ViniPortugal. Em termos do vinho engarrafado Angola é o primeiro mercado para os vinhos portu-gueses, com 67,5 % de todos os vinhos engarrafados exportados por Portugal..Durante o ano transacto o mercado an-golano aumentou 16,8% em valor e 9% em volume de exportações, sendo o objectivo atingir os 19% em receitas em 2014, face ao ano de 2011, que registou 620 mil hectolitros no valor de 72 mil-hões euros.

chas ornamentais, e ao mesmo tempo produzir vinho e azeite. Os dados estão lançados e os produtores portugueses terão de ter uma estratégia empresarial, se possível diversificando o seu core busi-ness, isto é, tentando fazer dois em um, vinho e azeite, ao mesmo comprador, seja chinês, russo, indiano, brasileiro ou angolano. E note-se que Angola a médio prazo será um futuro produtor de vinho, e podendo também produzir azeite no Namibe, conforme o Correio dos Vinhos noticiou em anteriores edições.Os chineses não apreciam o vinho branco porque simboliza a morte, pref-erem o tinto misturado com sumo. Daí darem preferência aos vinhos da África do Sul, que são especialmente frutados.A África do Sul exporta 43 % dos seus vinhos para a Europa, mas a recessão na-lgumas economias europeias, obriga a procurar outros mercados, sendo a China um caso potencial. E note-se que a Chi-na para satisfazer as pretensões da sua classe média vai precisar de vários países fornecedores, para garantir a qualidade através de uma concorrência salutar. Em 2012, A China importou mais de 430 milhões de litros de vinho, dos quais 2/3 da Europa. Estes dois terços oriundos União Europeia representaram 730 mil-hões de euros, sendo a França o primeiro exportador da Europa, com cerca de 50% logo metade daquela quantia foi aver-bada pelos produtores franceses.Espanha vendeu no 1º semes-tre 36,9 M eurosA Espanha passou a ser o terceiro for-necedor mundial de vinho da China, com uma fatia de 7%, atrás da França (46,42%) e da Austrália (17,42%). Só no primeiro semestre de 2013, de Janeiro a Julho, os espanhóis exportaram 36,9 milhões de euros de vinho engarrafado para a Chi-na, o que representou mais 41,1 % face ao período homólogo de 2012.Os espanhóis são ainda responsáveis por 6% das importações do Brasil, fora do Mercosul. Segue-se a Itália com 6%.Portugal vendeu 12,1 M euros à ChinaEm 2012, as exportações de vinho por-tuguês para a China atingiram os 12,12 milhões de euros, o que representou

Page 4: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

4

Consultor de empresas, pro-fessor universitário, ex-militar e antigo quadro da Sonae, Luís Marques fundou uma em-presa em Manteigas ligada à produção de queijo e ao Tur-ismo de Aventura e Natureza, com pista sintética de esqui. O queijo de cabra é um dos seus negócios, com cerca de 1.000 cabeças, e a criação de cabritos no âmbito dos sabores etnográ-ficos da geografia e gastrono-mia portuguesas.

O encontro de Correio dos Vinhos deu-se na Feira do Peixe em Lisboa, junto ao Pá-tio da Galé, ao Terreiro do Paço: vinhos, queijos, licores, azeites e doçaria tradicio-nal foram o leit-motiv do certame. Logo à entrada somos abordados por Luís Marques que nos dá a provar um belís-simo queijo de cabra… de Manteigas, Serra da Estrela, onde ele fundou a em-presa Sabores Altaneiros.

Pela intuição jornalística percebemos que havia história. Ficamos a saber que se trata de um ex-major do Exército, pro-fessor universitário e …antigo quadro superior da Sonae. Para Luís Marques era a primeira experiência de feiras, e ele próprio fizera o papel de comercial, para estudar a receptividade do produto junto de consumidores e visitantes. O negócio do queijo assenta na cria-ção de rebanhos, mil cabras, número razoável, e cujo objectivo é crescer de forma significativa no leite e na criação de cabritos. “Umas comem pasto, outras comem ração, e são estas as produtoras de leite. O queijo é feito pela queijaria a quem vendemos o leite, com a marca Sa-bores Altaneiros”, usando o know-how e experiência de 18 anos como quadro superior da Sonae. A palavra de ordem é

NA SERRA DA ESTRELA:

O belo queijo de cabra ou os Sabores Altaneiros do Pátio da Galé

reportagem

“Queremos ter no mercado o melhor queijo de cabra!…e meio quilo por nove euros ao público”. O cabrito na gastronomia é outro objec-tivo, como fornecedores constantes. “Não há em Portugal quem forneça cabrito ao longo do ano, e tal necessita de dimensão”, comenta. Além dos rebanhos e outros produtos regionais queijos e bolos de azeite, há a componente do Turismo de Aventura e Natureza, e gestão do Ski Parque, atraves-sando o rio Zêzere, parque Aventura, parque de campismo, pista de ski sin-tética todo o ano, praia fluvial relvada e casas de xisto construídas de raiz por concessão de 20 anos pelo município de Manteigas, implicando percursos pedestres, pas-seios de jipe e raides fotográficos.A ideia é alargar a re-venda a 20 pontos do país, em Lisboa e outras grandes cidades. No pri-meiro ano da actividade o objectivo ficará mar-cado pela venda de uns bons milhares de queijos e possibilidade de colocar em Lisboa, através duma

legenda legenda legenda

transportadora três quilos de mercadoria (queijo ou cabrito) a pouco mais de 5 euros, um verba irrisória! “Em Portugal as pes-soas queixam-se por tudo e por nada… mas é preciso cada uma fazer a sua parte! Às vezes sin-to que o país podia fazer mais. Enquanto comu-nidade, temos alguns vícios e carpir mágoas não resolve nada! As pessoas dizem que não têm tempo para nada. Entendo que eu tenho tempo para tudo, pelo menos para as coisas mais importantes”, co-menta Luís Marques.Além dos rebanhos e turismo de aventura e natureza, a sua ac-tividade passa pela consultoria às PMEs através da Fórmula

do Talento, empresa especializada em gestão de recursos humanos, seja em regime de out-sourcing, ou apoiando os seus próprios directores de recursos hu-manos das PMEs.

Da Academia Militar a quadro da SonaeEstamos no local onde até anos de 1970 funcionava na velha Quinta de São Vi-cente o seu restaurante agrícola para encontro de comensais com petiscos e gastronomia, nos arredores de Lisboa, entre Carnide e o Lumiar. Zona das velhas quintas palacianas dos

Luís Marques na sua primeira feira, no Páteo da Galé com o chefe Vítor Sobral a provarem o belo queijo !!!

Page 5: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

5

arrabaldes saloios de Lisboa, que se liga-vam umas às outras, através de azinha-gas, de Benfica a Loures, passando pelo Lumiar, seguindo depois para os Olivais-Velho, Sacavém e imediações de Che-las e Xabregas, já à beira-rio. Périplo de boémios, marialvas, artistas e intelec-tuais, sobretudo na Lisboa da belle ep-oque, há cem anos. Caminhos também alternados pela frescura das hortas, retratadas por Roque Gameiro, que prosseguiriam pelo século XX adentro, quer fosse em tempo de touradas ou já nos sixties anos 60, em dias de futebol na Luz ou em Alvalade. A Quinta de São Vicente, era pois lugar de encontro entre pessoal dos toiros, do fado, do futebol… boémia que se foi dissipando com a expansão urbana, que absorveria o vetusto núcleo urbano seiscentista de Telheiras Velha. Perto, a Igreja de Nossa Senhora das Portas do Céu, fundada no século XVI por um prín-cipe do Ceilão (Sri Lanka), D. João da Cân-dia, exilado em Portugal… Bem ou mal recuperada, Telheiras antiga, hoje quase se limita à Biblioteca Or-lando Ribeiro, homenagem ao grande geógrafo e universitário, famoso pelas obras sobre o Mundo Mediterrânico e o modus vivendis da suas gentes ligadas à cultura da vinha e da oliveira, ou seja, os sabores da revista Correio dos Vinhos.Na grande nave do edifício, a memória é assinalada por uma nora, sendo adapta-dos os restos de um fontanário do sé-culo XVII, com leões, tritões e painéis de azulejos, ainda ténues reminiscên-cias da fidalga e charmosa Telheiras Velha. É ali que o professor universitário e ex-quadro da Sonae nos conta a sua experiência de vida, agora mais ligada ao mundo dos sabores gastronómicos. A história pessoal deste antigo major do Exército é deveras notável, sobretudo

pelo espírito empreendedor, sem se aco-modar à vida militar ou à direcção supe-rior de um grande grupo como a Sonae. Foi o empreendedorismo que o fez voltar às origens para desenvolver alguns pro-jectos na região onde nasceu e aproveitar o potencial da serra. Quando acaba o seu antigo sétimo ano em 1977, encontrava-se na Covilhã, cidade em grande ebulição. E onde assiste ao desmoronamento da in-dústria de lanifícios, por não se ter diver-sificado noutros segmentos de negócios.Era o mais novo de sete irmãos numa família de agricultores de escassos meios, em Sarnadas, aldeia a 12 kms de Manteigas. “A minha sorte foi ter um tio e os meus ir-mãos, que decidiram que devia estudar. Até ao antigo 5º ano do liceu. Era muito bom aluno e tinha pensado ir para o Seminário”. Mas o tio dissuadiu-o, e optou pelo colé-gio particular de Manteigas. O tio, irmão da mãe estava em Angola, e Luís segue para Manteigas, ficando em casa de uma tia, da parte da mãe. “Dos seis aos 15 anos estava sempre em Manteigas”, excepto nas férias quando vinha ajudar os pais nas lides pecuárias e agrícolas.A ideia era ir para Angola após o 9ºano…mas coincidiu com o 25 de Abril, onde estavam o tio e alguns irmãos, embora cunhadas e sobrinhos tenham regressado. “Tudo mudou. Tinha uma irmã na Covilhã, e fui para casa dela acabar o liceu, onde assis-ti à turbulência social à volta das fábricas”, realça. Termina o 7ª ano e um capitão do Exército, amigo de família, recomenda-lhe a Academia Militar. Concorre e no meio de centenas entram 40. Faz Administração Militar, e já oficial, inscreve-se no ISCTE, “onde me deram equivalência a algumas cadeiras“, formando-se em Gestão de Em-presas. A seguir faz uma especialização como revisor oficial de contas (os que cer-

tificam as contas das grandes empresas). Nesse ano concorrem 200 e tal e passam vinte e tal!Depois reporta-se às mais importantes referências da vida, “minha mãe, com muita força, que sempre me orientou, e na Academia Militar, o professor Oliveira Rego, mais tarde presidente da Câmara dos Revisores. Foi ele que me disse para não ficar pela Academia, incentivou-me para o resto”, adianta. Em 1986 entra para o quadro de professores da Aca-demia, leccionando Contabilidade Geral e Analítica, e chefe da Contabili-dade da Academia, já no Paço da Rainha. Ao mesmo tempo vai para Universidade Moderna como docente das mesmas ca-deiras.Já major, sai do Exército para se dedicar às aulas e a revisor oficial de contas… só que ao fim de quatro meses entra na Sonae imobiliária (hoje Sonae Sierra), como director administrativo financeiro da empresa… geria as galerias comerci-ais (os Continentes de então) e por lá fica durante 18 anos… “Fui crescendo com a empresa com mais de 50 centros comerciais em sete países, sendo responsável a nível mundial por três áreas: administrativa, sistema de informa-ção e recursos humanos”, Recruta pessoas em todo o mundo, “tinha uma equipa excepcional… Planeei sair em 2009 para desenvolver projectos pessoais. Porquê? porque só temos uma vida, temos de vivê-la e experimentá-la, ou então deixamo-nos ir pela corrente”, sublinha Luís Marques.Das muitas formações que fez em pós -graduação, destaca a realizada na Lon-don School of Business. Sempre com tempo disponível, Luís Marques conti-nua a dar aulas em pós-graduações no ISEG, participando em conferências e workshops.

Entre as muitas formações, Luís Marques pas-sou pela London Scholl of Business

O empreendorismo fez voltar o ex-militar e professor universitário às origens e aproveitar o potencial da Serra da Estrela

reportagem

Page 6: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

6

Em Portugal, as vindimas referentes à campanha 2013/2014 saldaram-se por uma produção de acima dos 6,7 milhões de hectolitros, mais 7% face a 2012, num ano praticamente sem pragas e doenças e com número de tratamentos fitossanitários inferiores à média.

Vindimas 2013: mais 7% para 6,7 M hectolitros.Vejamos o panorama das 12 regiões vitivinícolas do país:Minho (mais 15 % d e produção, com destaque para as castas Alvarinho, Fernão Pires e Loureiro; Trás-Os-Mon-tes (mais 15%); Douro (mais 20%), Ba-irrada (menos 3%); Beira Interior (mais 15%, onde as sub-regiões de Castelo Rodrigo e Pinhel foram afectadas pela geada em finais de Abril); Dão (Mais 5%); Tejo e Península de Setúbal (am-bas com menos 15 % de produção, com incidência nas castas Aragonez

e Castelão; Alentejo (ligeiro aumento face à anterior campanha, beneficia-do pelo calor na primeira semana de Julho, seguido de baixa das temper-aturas, factor que permitiu a matu-ração das uvas); Algarve (mais 10%, e alguns prejuízos causados pelo oí-dio); Madeira (menos 10%); Açores (mais 30 %, apesar das quebras de 20% e 30% nas ilhas de São Miguel e Santa Maria, devido ao míldio. Nas Ilhas Terceira, Graciosa e Pico o au-mento é de 30%.

As vindimas em França registaram uma alta de 7,4 % face a 2012, para uma produção de 44,5 milhões de hectolitros (M hl) de vinho, contra 41,5 M hl em 2012, embora tal au-mento represente apenas 2% em relação à média dos últimos cinco anos, segundo o Service de Statis-tique et la Perspective do Ministério da Agricultura francês. A qualidade será grande, esper-tando-se vinhos tintos de grande

qualidade, apesar das vindimas ter-em arrancado com 15 dias de atraso, devido às fortes chuvas de Março e Abril, a juntar um mês de Maio menos quente, com temperaturas de dois graus a menos do que o normal.Os 44,5 M hl, incluem já a produção de 8,5 milhões M hl destinados à produção de aguardentes.A região Bordeaux registou a produção mais baixa, com 4,3 M hl, ou seja, menos 18% face ao ano anterior,

e menos 20% face à média dos últi-mos 5 anos. Os temporais no início de Agosto contribuíram em grande escala para esta queda produtiva.Também na Alsácia, a colheita foi particularmente reduzida, ficando abaixo do milhão de hectolitros, 992.00 hectolitros de vinho (me-nos 10% face à média dos últimos 5 anos).Já no Vale do Loire, ao invés, registou-se uma alta de 34%, para 2,3 M hl.

França: mais 7,4%,para 44,5 M hectolitros

Page 7: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

7

Indicadores Mundiais do sector vinícolaSegundo a última conferência mundial da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, realizada em Junho de 2013 em Bucareste, a área mun-dial da vinha plantada tem diminuído nos últimos anos. A tendência é para diminuir na Europa e aumentar nos países asiáticos e sul-americanos.

Em 2012, a área mundial de vinha era de 7.528.000 hectares, (a menor des-de o ano 2000) para uma produção total de uvas para diversos fins de 69 milhões de toneladas. Se na Europa há um decréscimo, já nos chamados países produtores do Novo Mundo, regista-se um crescimento na planta-ção de vinhas, como Austrália, Nova Zelândia e Chile. A China é o maior produtor mundial de uvas, seguida da Itália e EUA.

O maior produtor mundial de vinho é a França, seguida de Itália, Espanha, EUA, China (5º), Austrália, Chile (7º), África do Sul (8º), Argentina (9º), Ale-manha (10º, Portugal (11º), Roménia (12º), Grécia(13º) e Brasil (14º), para um total de 252 milhões de hectolitros de vinho.Portugal exporta 42 % da sua produção, que em 2012 foi de 6,14 milhões de hectolitros, mais 9,2% face a 2011. As suas principais castas

nacionais em promoção são Touriga Nacional, Tinta Roriz/Aragonez, Touri-ga Franca, Trincadeira /Tinta Amarela, Castelão e Bagas (nos vinhos tintos). Nos brancos, Alvarinho, Arinto, Fernão Pires e Encruzado.Os principais importadores mundiais de vinhos continuam a ser os EUA , Reino Unido e Alemanha, seguidos do Canadá e da China (5º), Japão, Suíça, Bélgica Holanda e Rússia em 10º (país Bric). De fora deste ranking estão a In-dia e o Brasil, este que é o14º produtor mundial.O maior consumidor de vinho é a França (30,3 milhões de hectolitros), 2º EUA (29 M hl), 3ºItália (22,6 M hl),4º Alemanha (20 M hl), China (17,8 M hl), 5º Reino Unido (12,5 M hl),6º Rússia, 7º Argentina (10,1 M hl), 8ºEspanha (9,3 M hl), 9º Austrália (5,4 M hl), 10º Por-tugal (4,6 M hl), 12ºCanadá, 13º Brasil (3,4 M hl)).Em termos de consumo per capita, o destaque vai para França e Portugal, com 48,2 litros e 42,5 litros por habi-tante, respectivamente. A seguir vem a Itália com 37,7 litros, e a Argentina (24,9) , Austrália (24,2), Alemanha (24 ), Roménia (22,9) e Espanha (20,2 litros).O próximo congresso mundial da OIV está marcado para 9 a 14 de Novem-bro de 2014, em Mendoza, Argentina, onde se realizará também a 12ª as-sembleia-geral da OIV.

UE: mais 11% para 163,9 M hectolitrosSegundo as estimativas da OIV, os 28 países da união Europeia, registaram na campanha 2013 uma produção de 163,9 milhões de hectolitros (hl) de vinho, mais 11% face a 2012. A Espanha, o país com maior área de vinha da UE, atingiu os 40 mil-hões de hl, mais 23 % face a 2012, e a Itália os 45 M hl (mais 2%), sendo a maior subida a da Roménia , com 79%, para 6 milhões de hectolitros.Fora da Europa estima-se uma subida de 9,5 % , esperando os EUA atingir os 22 M hl, contra 20,51

M hl em 2012. Na América do Sul, o Chile atingirá um record de 12,8 M hl, após um mau ano de 2012, enquanto que a Argentina produzirá 15M hl (mais27%). A Nova Zelândia registará um record com 2,5 M hl, enquanto que a Aus-trália deverá atingir uma produção de 13,5 milhões de hectolitros. A nível mundial, a produção atingirá os 281 milhões de hectolitros, mais 23 milhões face aos 258 milhões de 2012. Em 28 de Outubro, em Paris, na sede da OIV, o director-geral, Frederico Castellucci, apresentou os dados que fazem um balanço provisório do ano vinícola, numa altura em que há me-nos300.000 hectares em relação ao ano de 2006, e menos 15.000 hectares de vinha em 2013, particularmente em Itália e Espanha.

conjuntura

Page 8: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

8

Enoturismo e capacidade empresarialNão basta ter sucesso nas exporta-ções portuguesas de vinho, é ne-cessário olhar também o mercado nacional, através de Marketing e Inovação, tendo em vista o eno-turismo. E até esta dimensão vai seguramente consolidar a imagem da marca do vinho junto do cliente estrangeiro. Estas observações são também corroboradas em duas teses universitárias - uma de mes-trado, apresentada no Instituto Su-perior Técnico e a outra, de douto-ramento, efectuado na Faculdade de Economia do Porto. Em ambas as dissertações o tema fulcral era Gestão Industrial, Vinhos, Mercado e Marketing.O produtor com alguma dimensão não pode limitar-se à função comercial e es-tar apenas focado nos compromissos externos. Deve variar o seu core busi-ness (o segmento de negócio) para uma coisa chamada enoturismo e desen-volvimento regional, ajudando a criar mais empregos e mais riqueza.E se ficar nas proximidades de pat-rimónio histórico e paisagístico ou de zonas com tradição cultural, deve usu-fruir dessa mais-valia para o seu negó-cio. Seja no Douro de Miguel Torga, seja em Bucelas, onde Alves Redol tinha o seu retiro de escritor, seja na Tormes, de Eça de Queiroz , ou mes-mo em Silves, onde viveu no século XI o rei-poeta Al-Mutamide, citado n ‘As Mil e Uma Noites. E veja-se que o Algarve está gradualmente a fazer bons vinhos…cujos produtores podem usu-fruir dos muitos turistas nórdicos. O sector vitivinícola respira saúde, e tal deve-se sobretudo à grande procura no exterior dos vinhos portugueses, para o qual tem sido essencial a acção da Vini-Portugal e das Comissões Vitivinícolas regionais. O sector dos vinhos é por as-sim dizer uma ilha consolidada no meio do naufrágio da economia portuguesa, e o boom nas exportações são o garan-te e a alavanca que animam os produ-tores. Mas há alguns passos a fazer no mercado nacional e na modernização das pequenas e médias empresas que caracteriza o sector, principalmente em áreas do marketing e inovação, procu-rando aliar à componente do enotur-ismo. E veja-se que a recente inclusão na embaixada portuguesa em Pequim, de um gabinete de turismo para orien-tar a classe média chinesa que viaja para a Europa, pode dar melhores frutos, se

as quintas produtoras de vinhos enten-derem a estratégia do enoturismo, não como uma moda, mas um investimento integrado na região a que pertencem. Ou seja, haver capacidade estrutural (com municípios) para desenvolver o enoturismo, a partir do momento em que os visitantes aterram nos aeropor-tos de Lisboa ou Porto e Faro. Saber en-caminhá-los para tours de enoturismo, em alternativa à praia ou ao património, à semelhança do que se faz em Itália, França. E note-se que há um movimento de empresários chineses a comprarem na Europa grandes áreas de vinha. Pode estar aqui a oportunidade de algumas parcerias, e ganhar-se a dimensão, que um produtor português sozinho tem dificuldades em alcançar.E veja-se que uma tese de mestrado apresentado em 2009, por Rui Filipe Cardeira, no Instituto Superior Téc-nico, na área da Engenharia e Gestão Industrial, sob o tema Factores Críti-cos de Sucesso no Mercado e vinhos em Portugal e a Sustentabilidade do Sector Vitivinicola, chamava a aten-ção dos agentes e produtores para quatro factores 1. Estimular o acesso do vinho a copo, 2. Aumentar o es-forço de marketing, publicidade e promoção 3. Tornar o vinho mais pre-sente na vida dos consumidores me-nos frequentes 4. Melhorar o serviço dos restaurantes.Destes quatro, o primeiro e terceiro items, foram objecto de algum esforço passados estes quatro anos, com a ini-ciativa da ViniPortugal do vinho a copo, ainda um tanto incipiente. Veja-se que em Itália, há mais de 20 anos, é vulgar ir-se a qualquer lado, olhar para a garra-fa e escolher o vinho que se pretende beber a copo, sem pagar a garrafa in-teira, fazendo do vinho uma bebida

nacional pela positiva. Os restantes items ficaram por fazer, salvo excepções mais integradas em eventos turísticos e culturais, sem que haja, uma verdadeira rota de vinhos e azeites, a partir das grandes cidades, como acontece, por exemplo, quando chegamos a Amesterdão, e os turis-tas têm excursões exclusivas ao cam-po só para irem ver as plantações de flores, as fábricas de queijo, ou os moinhos tradicionais. O mesmo su-cede na Escócia, com as visitas às desti-larias de wisky. A recente iniciativa do governo na em-baixada portuguesa em Pequim pode ser uma inovação, para a qual as quin-tas deverão preparar-se com pequenas lojas, e os produtores mais aguerridos e visionários investirem em pequenos hotéis vínicos. Estes podem muito bem servir de logística à estadia turística, complementar a oferta dos operadores turísticos em matéria de alojamento, e serem uma mais-valia ao negócio do vinho, um cartão de visita da própria quinta, que só a posteriori irá ter retorno indirecto desse investimento hoteleiro. E faça-se uma reflexão sobre a con-clusão da referida tese em Gestão In-dustrial: “O estudo do consumidor português está pouco desenvolvido, porque, em-bora seja um sector de grande peso na economia do país, trata-se de um sector muito marcado pela tradição. Adiciona-lmente, os processos produtivos e de distribuição são desde já tão críticos e absorvem a maior parte do esforço e re-cursos das empresas – (essencialmente pequenas e médias empresas) - onde o Marketing e da Inovação têm um abor-dagem superficial, utilizando-se mais a intuição para a estratégia das empresas”.

Page 9: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

9

livros & tertúlias

Um Verão de Poesia…Amélia Vieira e Rogério Simões, vulgo Romasi, são dois poetas que se demarcam dos meios tradicio-nais académicos e das confrarias políticas. A poesia de ambos con-verge num percurso de emancipa-ção intelectual não forçosamente colectiva, mas de procura indi-vidual, cumprindo o sagrado e o sincretismo religioso e ecuménico, próprio desta globalização já mar-cada pelos países BRICS, mas tão diferentes entre si no aspecto das culturas.

Tanto Amélia como Romasi apresen-tam uma charla poética que vai entro-sar nas inquietações existenciais, sem contudo dramatizarem, sendo uma alegoria à própria vida, no sentido cós-mico criativo (Quero misturar-me com todos os xistos, com todas as terras, com puros basaltos… diz a poetisa, em tempos uma habituée do Botequim de Natália Correia) ou do próprio nasci-mento (poema Voltei! de Rogério).Europa (da editora Cavalo de Ferro), o último livro da poetisa, remete o leitor para tempos mitológicos da Antigui-

dade Clássica, e em simultâneo retoma um tema que Amélia já nos tinha habi-tuado na sua poesia, que tem a ver com a actualidade do agora, dos conceitos zen… E destacamos da ob. cit. p.30:

“Quero misturar-me com todos os xistos, com todas as terras, com puros basaltos.As coisas que respiram, a fornalha, os in-sectos, a mortalha…A viva cor azul das águas, dos batráquios, das nortadas…Ser o vento, a espuma, o ar.A névoa e o iodo, o fogo, o mar.Todos os elementos concentrados no sos-sego, na fúria, na certeza do meu ser elemen-tar.Um turbilhão de lava quente, macia, incan-descente, esguia…O pranto das mães chamando, uivando nas montanhas.A chegada dos filhos em alcateia.

A caça luarenta de uma noite plena e quente de quente Lua cheia.Trazendo no ventre toda a natureza.Depois cantar ao grande sol da manhã chegando como um nardo.E morrer cantando um som sem sílabas.Percorrido pelo manto da imensidão já tida.E de todos os instantes que fui, só por ser vida”.

Romasi, um antigo economista da alfândega de Lisboa, bem diferente for-mação de Amélia no IADE, converge de forma mais exaltada (diferença entre masculino e feminino?) para o tal sen-tido criativo como se pode ver no poe-ma Voltei do seu primeiro livro “Golpe de Asa No Sequeiro… paisagens que habitam no coração”, da Chiado Edi-tora O poeta um tertuliano do facebook, do Martinho da Arcada, onde os Po-etas do Facebook tem organizado en-contros de poesia para homenagear Fernando Pessoa. (ver números anteri-ores do Correio dos Vinhos), e sofre do síndroma de Parkinson, o que mesmo assim não o impede de mobilizar ami-gos e poetas para debates e sessões. De resto, Rogério Simões vive na Aldeia do Meco, com sua mulher Elizabete, pintora, onde os ares fortes oceânicos, para alguns contra indicados, para ele, contudo, o ajudam a estar em melhor forma.

Poema Voltei! de Romsasi “Venho dos limites do tempo, / De uma galáxia qualquer, já fui mar, já fui vento, / Agora sou pensamento, / Aparado em dado momento, / No ventre de uma Mulher!Meu corpo é magistral! / Brutal! Perfeito! So-berbo! / De início não era verbo,/ agora sou o verbo ser.

Amélia Vieira ladeada do Prof. Rafael Gomes Filipe e do intelectual francês Daniel Leuwers, que apresen-taram o livro Europa na Feira do Livro

Page 10: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

10

Exposição de esculturaTenho comigo segredos, / Segredos do uni-verso, /Transporto no corpo recados, / Escre-vo em forma de verso. / Venho dos limites do tempo, / Não sei o que fui, e sou: / Deserto? Nascente? / Já fui Norte, já fui Sul, Pó astral, Mar azul! / Luar, estrela candente. Eu me vou! / Partirei num cometa qual-quer, /E serei novamente pôr-do-Sol. / Cor-de-rosa, aloendro, malmequer! / Voltei..já cá estou…/ Agora sou pensamento, / Nascido em dado momento, Do ventre de uma Mulher!

Carlos Eufémia volta à Casa da Avenida

O escultor Carlos Eufémia (1966) voltou à galeria Casa da Avenida em Setúbal, onde apresenta duas partes: no rés de -chão, restos de madeiras e raízes de árvores deram lugar a grandes insec-tos ou a instrumentos de cordas, revelando bastante criatividade… Já no segundo andar da ve-tusto prédio setecentista, o autor fica-se pelo minimalismo tradicional, onde as peças aparecem coloridas, mas parecendo contudo que se trata de duas mostras diferentes. Mas, fica o registo de uma galeria dirigida por Maria João Frade, que apesar da escassa afluência de visitantes na cidade, continua a apostar num espaço de arte.

livros & tertúlias

Amélia rodeada de amigos na Feira do Livro de Lisboa. O certame realiza-se anualmente em Junho no Parque Eduardo VII, local privilegiado de capital lusa, onde público e autores participam em debates e outras actividades culturais.

Page 11: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

11

reportagem

Como num filme de Vasco Santana e de An-tónio Silva, as mercear-ias portuguesas eram todas iguais na primei-ra metade do século XX, além de serem um es-teio social, numa época de penúria e poupança.

Melhores dias chegaram e, desses tempos ficou a traça e o estilo de vida dos habitantes locais, cujo dia a dia passava pela mercearia.Todo esse modus vivendis da mer-cearia e seu quotidiano é hoje inspiração para novas actividades ligadas à gastronomia e ao con-vívio e tertúlias, como ocaso da antiga Drogaria Ideal, perto de Santos, ou a Mercearia Mimosa da LapaEduardo Silva é engenheiro quími-co-industrial aposentado da pa-peleira Inapa; e agora aos 75 anos decidiu restaurar para museu e espaço de tertúlia a Mercearia Confiança do Troino, fundada em 1926…ano da revolução do 28 de Maio, por seu pai, um beirão da Cova da Beira. O feito já atraiu uma equipa de filmagens para uma telenovela. A cena passa-se no bairro da Fonte Nova, vizinha do Troino, cuja origem se atribui a indivíduos vindos de Tróia no sé-culo XIII, nas cercanias do Conven-

Mercearia Confiança do TroinoEM SETÚBAL: RECUPERADA PARA MUSEU

to, onde estão instaladas as freiras da congregação de Madre Teresa de Calcutá. Totalmente recuperada a expen-sas de Eduardo, que já lá investiu com dedicação cerca de 30 mil euros, a velha mercearia, agora sem mercadorias, apresenta uma imagem de museu, que o en-genheiro e antigo professor de liceu, quer retratar com formas pedagógicas aos alunos mais jo-

vens. A recuperação representa tam-bém a estória heróica de muitos beirões oriundos entre a Covilhã e Castelo Branco, que após a Primeira Guerra vinham para Lisboa e arredores como marça-nos. E mais tarde, já com um pé-de-meia, acabariam estabeleci-dos em mercearias ou pastelarias. Neste caso são três irmãos - Al-fredo, César e Eduardo. O primeiro

Engenheiro químico-industrial , Eduardo Silva restaurou a antiga mercearia de família para fins museológicos e pedagógicos.

Page 12: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

12

reportagem

fundou a pastelaria Capri no Largo da Misericórdia e, o mais novo, mesmo em frente uma mercear-ia. E como não há duas sem três, César, o irmão do meio fundaria a Mercearia Confiança do Troino, especializada em Mercearias, Louças e Vidros, como indica o letreiro em esmalte, alegórico.“Esta é uma mercearia com teste-munho, citada no livro “As Mul-heres do Fonte Nova”, de Alice Brito, com um passado histórico interessante”, conta Eduardo Silva, que sugeriu à câmara instalar ali um núcleo do Museu do Trabalho Michel Jacometti.…. “ visitável”, como faz o município de Oeiras com o Lagar de Azeite ou com a produção do Vinho de Car-cavelos. No espaço podem-se ver balan-ças e os armários embutidos e um painel de fotografias antigas alusi-vas a figuras típicas do comércio setubalense à beira dos Anos de 1930, e também os proprietários, César e Maria Helena em duas épocas diferentes, fins dos Anos Quarenta e já Anos Oitenta. A um canto, vê-se a máquina vermelha de moer café ou “uma mistura popular mais barata, com chicória e cevada”. Fabricado em Algés, na antiga Estrada da Car-apuça, em finais dos anos de 1920, o moinho de café funciona com duas mós em granito, explica-nos.Numa vitrine, a foto dos funda-dores, César Figueiredo da Silva e Maria Helena Machado da Sil-va, onde se encontram os instru-mentos, com pesos e medidas, e a primeira máquina calculadora, o sinete da casa usado nas cartas

registadas. César nasceu em 1904 e, em 1986, deixaria o negócio aos 84 anos, trespassando a loja, que se manteria em actividade até 2011.Lá atrás, no compartimento do fundo, vêm-se sacas de serapilhei-ra amontoadas, junto a um bi-don de azeite e várias medidas, retratando uma época de ouro da pequena indústria portugue-sa, que era escoada para o comér-cio. O espaço é complementado pelo 1º andar do pequeno prédio oito-centista, onde o visitante pode to-mar um café, comer um bolo tradi-cional, numa sala de varandas, forradas a cortinas de bilros, feitos por D. Maria Helena, a matriarca da casa, 11 anos mais nova que o marido, Sr. César…duas vidas de longevidade… até aos 94 para César e 96 para sua mulher, cu-jas expressões indiciam um casal bem disposto e tran-quilo. Um terceiro espaço é uma loja, que na primitiva servia de armazém ou dispensa. Agora, o engenheiro Edu-ardo pretende adaptar a sala de palestras sobre temas et-nográficos, aliando uma zona pedagógica para os alunos que algum dia visitem. No andar de cima, a casa dos proprietários, onde ainda se sente a traça dos Anos 1930, onde geralmente os proprietários pouco mais fa-ziam do que dormir ou des-cansar a um domingo, já que a maior parte do tempo era passado na loja, à semelhan-

ça das antiga boticas ou vendas de província.Antigo professor de liceu, por pouco tempo, Eduardo Silva, tem uma história de perseverança nos estudos, que se confunde com a dos pais, já que fez duas formaturas. Terminado o liceu em Setúbal, vai para a Faculdade de Ciências, em Lisboa, onde se forma em Físico-Químicas. De se-guida vai dar aulas para o Liceu Passos Manuel, onde em Maio, quase no final do ano lectivo é chamado para a tropa, que passa na Artilharia de costa, em Cascais. Então decide fazer engenharia e, enquanto está de manhã no quar-tel, à tarde vai às aulas ao Técnico, onde se forma em Engenharia Química-Industrial. Terminado o serviço militar volta ao ensino, ago-ra para o Liceu Nacional de Setúbal, por pouco tempo, pois recebe um convite de um amigo para ingres-sar na fábrica de papel.

Page 13: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

13

CALENDÁRIO INTERNACIONAL DE FESTIVAIS DE VINHOSO vinho tornou-se um produto sem fronteiras que povos e continentes partilham na afectividade e na cultura. O vinho veio unir afectos e despertar curiosidade de hábitos e costumes entre produtores e consumidores pelo mundo fora. Aumentou muito o número de coleccionadores de vinho engarrafado, seja à procura de um bom Merlot argentino de Mendoza, ou encontrar um novo Rioja, ou um tinto no Douro, no meio do tradicional vinho do Porto.Desta forma, os festivais de vinho tornaram-se encontros culturais, principalmente em países anglo-saxónicos, como o Canadá, EUA, Austrália, África do Sul onde também a gastronomia e a música estão presentes, como em Vancouver, Nova Orleães, ou no Hawai, e Melbourne. Enquanto na Europa cada coisa no seu lugar, as feiras limitam-se, para já, ao mundo agro-gastonómico. Olhemos alguns festivais a realizar em 2014:

• Setellenbosch Wine Festival, 24 Jan /2 Fev. , Capetowm, África do Sul

• Washington D. C. International Wine & Food festival, 15th

13a 15 Fev, na capital federal dos EUA.

• Boston Wine Expo 2014 Wine, Food & Culture15/16 Fev, Boston, EUA

• The International Exhibition of Mediterranean Wines and Spirites, 24/26 Fev, Monplier, França

• Vancouver International Wine Festival 36th, 24 Fev/2Mar, Vancouver, CanadáO certame terá França como tema principal

• Melbourne Food & Wine Festival

28 Fev/16 Mar, Austrália

• Noosa International Food & Wine Festival 15/18 Mar, Noosa Heds Lions Park, Austrália

• 28th Anual Sandestin Wine Festival10/13 Abril, Florida, EUA

• Vinitaly 2014 6/9 Abril, Verona , Itália

• The New Orleans Wine & Food Experience,

21/24 Maio, Louisiana, EUAConsiderado um dos 10 maiores festivais internacionais do género (gastronomia e vinhos) a nível mundialGastronomia, música, arte e vinhos de todo o mundo

• 6th China International Wine Exhibitionand Guangzhou Wine Festival 201427/29 Maio, China

• 34th London International Wine Fair

2/4 Junho, Olympia center, Londres, Inglaterra.

• Bordeaux Wine Festival 201426/29 Junho, Bordeaux, FrançaOnde espera mais de 500 mil visitantesnum local com mais de 12 hectares

• 4th Hawai’i Food & Wine Festival

31 Ago /7 Set, Honolulu, Hawai

• Budapest International Wine Festival10/14 Set. In Castle Hill, Budapeste , Hungria

• International Wine Festival of Manitoba, 18/20 Out, Manitoba, Canadá

• Hong Kong Wine & Dine Month30 Out/30, Hong KongEvento gastronómico ao mais alto nível epicuriano, que junta os melhores vinhos do mundo, e um dosprincipais certames do genro da Ásia

• Denver International Wine Festival20/22 Nov, na capital do Colorado, EUA.Nesta 10º edição juntará um festival degastronomia das Montanhas Rochosas

Page 14: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

14

Capital mundial da Arquitectura, Bar-celona já fora, e é referência máxima do modernismo, do simbolismo, do

surrealismo, correntes estéticas a que Pablo Picasso, Joan Miró e Sal-vador Dali deram voz, irrompendo para outras capitais europeias, como Zurique ou Berlim.Mas na própria cidade em si, pela sua urbanização neo-racionalis-ta, continua a respirar-se o em-preendorismo assumido pela alta burguesia catalã na transição do século XIX para o século XX, que soube superar a perda de Cuba, Porto Rico e Filipinas, relançan-do-se no risco do investimento. Alguns desses empresários patro-cinaram Picasso, Miró e Antoni, Gaudi, cujos nomes e obras ficar-am para sempre perpetuados na cidade condal.Com uma burguesia culta e es-clarecida, Barcelona passou a ser o reflexo do empresário ac-tivo e uma das grandes alavancas económicas que marcaram o rei-nado de Afonso XIII de Bórbon.

B A R C E L O N A :

Ainda hoje, essa imagem de mar-ca perpassa, com organização, estudo e planeamento, onde o município local (Ayuntamiento) tem todos os anos uma novidade para oferecer ao turista, ou seja um novo motivo de atracção, de-scentralizando-se assim os bairros tradicionais e originando investi-mento e boa saúde financeira ao pequeno comércio e outras activi-dades que fazem pulsar a esta ci-dade de quase dois milhões de ha-bitantes … que não fica deserta à noite, sem que isso seja sinónimo de algazarra.Nos últimos anos, o município me-teu mãos à obra e recuperou a vel-ha praça de touros conhecida por Arenas, junto à Plaza de Espanha,

Barcelona é uma cidade pitagórica, que tem três grandes avenidas – a Paralelo, a Meridiano e a Di-agonal, planeadas no século XIX pelo ilustre en-genheiro Ildefonso Cerdá, quando este estendeu a nova cidade do Eixample ,com amplas avenidas, a partir do Bairro Gótico. Concebidos sob o Teore-ma de Pitágoras os três grandes boulevards fazem entre si um triângulo rectângulo algures na zona portuária, como se poderá verificar num simples mapa turístico.

Um Ayuntamiento empreendedor e atento

Eedifício de traços neo-clássico reviv-alista do final do século XIX, na Avenida Paralelo, e as portas de entrada da Feira Internacional de Barcelona, na Plaza de España, inauguradas para a célebre Exposição Universal de 1929

Page 15: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

15

frente a Montejuich; transformou um património desactivado de traços mudéjar e bizantino num aprazível centro comercial, com um terraço panorâmico de 360 graus… De onde se vê toda a Bar-celona, inclusive a Igreja da Sagra-da Família ao fundo á esquerda, de quem está virado para Montjuich. As Arenas tornaram-se noutro lo-cal âncora dos visitantes, fazendo da Praça de Espanha um novo cen-tro da cidade. Seria porém injusto, não referir a Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa, cuja recuperação e adaptação a fun-ções polivalentes e dotada de um vasto espaço comercial por baixo do redondel, constitui uma no-tável obra da engenharia civil por-tuguesa, e deve ter sido fonte de inspiração para o edifico da Are-nas há muito desactivado desde que se efectuou a última corrida

de toiros em Junho de 1977. De resto, a praça fora inaugura-da em 1900, cujo cartaz integra-va o célebre toureiro espanhol Luís Mazzantini, frequentador de ópera e de tertúlias literárias. A Cidade Condal passou a ter mais uma alternativa à zonas históricas, o que faz de toda a Barcelona um todo integrado, quer para o turis-mo, quer para quem vive na suas amplas avenidas do Eixample, como nos disse uma funcionária da Ibéria, com quem falamos. Mas se a Plaza de Espanha com as galerias Arenas passou a ser pon-to obrigatório dos turistas, tal não bas-tou para o Ayunta-miento cruzar as mãos e dormir a siesta à sombra das Arenas. É que, a par desta recuperação, que se traduziu sobretudo num grande projecto de engenharia civil, decorre há cinco anos o restauro do velho Mercado de Sant Antoni, (1872-1882 num edifício da arquitectura do ferro, marcada pela tijoleira, que actua como factor tér-mico. Trata-se de um lo-cal, onde todos os domingos se reali-za a Feira do Livro, fotos e cartazes de

Sant Antoni, que reúne alfarrabi-stas de toda cidade, que só por si merece uma saltada a Barcelona. Onde se vendem livros em várias línguas, e títulos nunca editados em Portugal. As obras de Sant Antoni arrastam-se há quatro anos e deverão ficar prontas em 2015, tendo gerado um grande debate na imprensa catalã entre feirantes e habitantes da zona. Uma das entradas do mercado de Sant Antoni (1882) em recuperação, cujas obras deverão estar concluídas em 2015. Veja-se as fotos antigas deste ex-libris de Barcelona, onde aos domingos se realiza a feira de alfarrabistas.

Page 16: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

16

Feira da ladra dos Encants em edifício futurista!Mas o dinamismo do Ayunta-miento em matéria de obras públicas com impacto turístico ficou sem dúvida marcado pela surpresa, que foi a transferên-cia da antiga feira da ladra dos Encants, um local ao ar livre, de aspecto arruinado … para um edifício moderno com traços fu-turistas em Glories, próximo da Torre Agbar. Em Setembro de 2013, os feirantes passaram para o novo mercado de cobertura fu-turista, que apresenta um notável jogo de prismas e espelhos, com interessantes efeitos visuais. Quanto ao velho local da feira,

deu lugar a um jardim com o ta-manho de um hectare, mais do que um campo de futebol. No novo edifício, as quinquilharias e velharias ficam no grande adro ou pátio, rodeado de instalações em dois ou três pisos, que absor-veram os stands dos feirantes de roupas, ferramentas antiguidades, zonas de restaurantes e bares, com funcionários da câmara constante-mente atentos à limpeza do local.

Escusado será dizer, que a nova Feira dos Encants ganhou mil-hares de turistas e tornou-se um novo local âncora de Bar-celona, quase imprescindível, à semelhança das Ramblas, ou das Arenas. Para rematar, uma palavra sobre a futura linha do Metro, a maior da Europa, com cerca de 48 Kms, que atravessa Barcelona de uma ponta à outra: do Aero-porto até Can Zam, passando por Camp Nou, Cidade Universitária, Sarriá, Lesseps, e Maragall, entre outras estações. Devido à crise, os trabalhos afrouxaram nos últimos cinco anos. Estão feitos 14 ou 15 kms, e a obra que se iniciara em 2002, tem sido adiada, e poderá estar concluída antes de 2020. Mas não está isenta de polémicas á sua volta, embora o seu valor e contributo para uma política so-cial de transporte seja indiscutí-vel, numa cidade onde o turismo representa 11 % do Produto Inter-no Bruto (PIB) da Catalunha.

Page 17: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

17

p enúltimas

Quinta do Pôpa apresenta Branco e Rosé 2013!“Quem conta um conto, acrescenta um ponto.” No Douro a lógica é a mesma, mas a história um pouco diferente. O produtor de vinhos Quinta do Pôpa vai acrescentar dois ‘Contos da Terra’ ao seu portefólio. Depois do ‘Contos da Terra tinto 2011’, chegou a vez da nova colheita do branco e de uma novidade, o lançamento do rosé, ambos da

Vinhos do Alentejo deram formação em AngolaEm Junho decorreram com sucesso acções de formação destinadas a pro-fissionais de 32 dos melhores restau-rantes de Luanda, Lobito e Benguela, onde esteve presente o sommelier Manuel Moreira.Segundo a Comissão Vitivinícola Re-gional Aletejana, as acções justificam-se por os vinhos alentejanos estarem no top de Angola, país que lidera fora da Europa a importação de vinhos do Alentejo. A região é a principal ex-portadora para o mercado angolano, com 4,5 milhões de litros de vinho certificado., mais 14% face a 2012. A formação incidiu também sobre as castas de uvas e os terroirs, através de provas de vinho comentadas, e completadas com o levantamento das tendências dos consumidores ango-lanos.O s Vinhos do Alentejo englobam 263 produtores e 63 comerciantes, num total de 21.970 hectares de vinha, dos quais 11.371 há como área aprovada pela DOC (denominação de origem controlada) Alentejo.

última vindima.Para Stéphane e Vanessa Ferreira, proprietários e embaixadores ada Quinta do Pôpa, projecto que nasceu para homenagear o seu avô: “Uma história bem contada inunda sonhos. Transporta-nos para aventuras que tornam a vida mais intensa e une as pessoas à terra. Porque é da terra, da nossa, aquela que o Douro atravessa, que chega este vinho proveniente de uma selecção das melhores uvas da nossa região, para proporcionar a experiência de um vinho cheio de juventude, de aroma intenso e frutado, capaz de fazer recordar os saborosos Contos da Terra.”.O ‘Contos da Terra branco 2013’ tem um pouco mais do terroir do Douro. Feito sob a batuta do enólogo duriense Francisco Montenegro, resulta do blend de quatro castas autóctones, o Viosinho, o Rabigato, o Cerceal e o Folgazão. 6.666 garrafas de um branco com aromas de fruta, com destaque para melão e meloa maduros, amêndoa, pêra e toques florais no final. Na entrada de boca é macio; é fresco, volumoso, suave, frutado e guloso. Tem uma acidez que equilibra a estrutura do vinho. Para beber a 10-12.ºC a solo ou a saborear um peixe grelhado ou assado e aves. O novo ‘Contos da Terra rosé’ resulta da sangria de mosto das melhores parcelas das castas Touriga Nacional e Tinta Roriz, sendo feita apenas uma pequena maceração para extracção de cor. Foi fermentado a temperaturas de 16 a 18 graus durante 23 dias, dando origem a um vinho salmão escuro com aroma a morango (geleia) e goiabada. No paladar revela-se um rosé com entrada macia e suave, mantendo-se o sabor a morango. É um vinho fácil e directo com um final de boca fresco. Ideal para harmonizar com saladas, massas ou como aperitivo.

Monte das Servas lança Escolha Branco ou RoséTambém o produtor alentejano Monte das Servas lançou no Verão os “Escolha branco 2013’ e “ Escolha Rosé 2013’, dois vinhos de corpo e alma alentejana que, à mesa, prometem ser uma excelente companhia para saladas, mariscos e peixes grelhados com molhos ligeiros! Aprenda caro leitor a associar e a escolher os vinhos mais adequados para um bom prato !. O “Escolha branco 2013’ é um vinho de cor cítrica aloirada, com aromas a frutos tropicais maduros e com algumas notas de mel. Na boca é fresco, frutado e elegante. Com uma boa acidez, é um vinho que termina com um final

O que fazer para o jantar?É um serviço de planeamento semanal de refeições rápidas desenvolvidas por uma especialista em nutrição, e complementado por uma plataforma de receitas online, e que apresenta cinco alternativas a saber: vegetariano, júnior, light, desportista e clássico.O projecto é da responsabilidade de Sílvia Pinto e apresenta entre outros os seguintes pratos : Frango com cous-cous e hummus, Amêijoas à Bulhão Pato e Frango assado com especiarias.Sílvia Pinto é a responsável pelo pro-jecto.

agradável e persistente. No que toca a castas o blend é feito das castas de uvas Roupeiro, Verdelho, Viognier e Antão Vaz.As castas Touriga Nacional e Syrah dão vida ao “Escolha rosé’, que tem aromas e nuances doces de frutos vermelhos, onde predominam as notas de framboesa, morangos e cereja. É um vinho bastante fresco e frutado, num conjunto elegante e bem equilibrado.A família Serrano Mira é uma das mais antigas na produção de vinho na região do Alentejo. Carlos e Luís Serrano Mira são os actuais proprietários e administradores da Herdade das Servas, com um património vinícola de 220 hectares, dividido em quatro vinhas: Azinhal, Judia, Monte dos Clérigos e Servas. A idade das vinhas está compreendida entre os 20 e os 60 anos, com excepção da vinha das Servas que foi plantada em Janeiro de 2007.

Page 18: Número oito • trimensário newsletter • Director: Álvaro ... · produção de queijo de cabra e ao Turismo de Aventura e Nature - ... onde nos contou um pouco do seu projecto

18

No fecho da ediçãoO Vinho do Porto, a retomaO workshop da Grahams realizado sobre velhos vinhos em Londres indicia a “re-toma” do Vinho do Porto no Reino Unido, que recebeu o agrément da prestigiada crítica de vinhos Janci Jacobson, jornalista do Financial Times, ao mesmo tempo alvo de reportagens televisivas. O Vinho do Porto tem menos consumidores, mas os suficientes para absorverem as vendas, dizem. Mas tal, parece ser uma re-alidade que já vem de 1937 (vejam só!) quando o então embaixador português em Londres, Armindo de Sttau Monteiro se queixava a Salazar num despacho diplomático, de que nas “classes altas inglesas já poucos bebiam Vinho do Porto”, isto após um jantar de altas esferas da política britânica em casa de um major-general do Exército. Passados 77 anos, seja retoma de gostos ou de consumo, o Vinho do Porto continua a ter os consumidores suficientes para cobrir as novas vintages e os velhos vinhos armazenados, para continuar o sucesso da mais antiga região vinícola do mundo, e ser também a grande marca e alavanca que deu azo á produção de outros variados vinhos, com o carisma duriense.

FICHA TÉCNICA - proprietário: A . Henriques do Vale; nº de contrib.:149010877; registado na ERC com o nº 125946; sede da redacção:Rua Oliveira Martins, nº2 / 3º Edo, 1000-212 Lisboa. direcção e redacção: Álvaro Vale; grafismo: Celina Botelho; site: José Pereirinha; [email protected]; www.correiodosvinhos.com; www.correiodosvinhosepetiscos.com

Álvaro Vale

últimas

EM TORRES VEDRAS

Santos & Santos prevê mais 20% em 2014O grupo vitivinícola Santos & Santos da região saloia de Torres Vedras pre-vê para 2014 um crescimento de 20% no seu volume de negócios face a 2013, ano em que movimentou cerca de 6 milhões de euros. Em 2013, o grupo torreense comer-cializou um total de 8,5 milhões de li-tros de vinho, dos quais 25% (cerca de 2,2 milhões de milhões de litros) des-tinados à exportação para 13 países, com incidência desde 2008 em An-gola, China e Moçambique. O grupo negoceia actualmente a entrada em mais dois países.Sediado na freguesia de Ponte do Rol, concelho de Torres Vedras, a Santos & Santos inaugurou em Junho as novas instalações de logística e engarrafa-mento, que corresponderam a um in-vestimento de 3,5 milhões de euros, dos quais um terço financiado pelo programa comunitário PRODER. O grupo é formado por três empre-sas em diferentes áreas: Quinta da Cidadoura, a Santos & Santos respon-sável pelo engarrafamento, logística e exportação, e a Viticarvalhal, princi-pal canal de distribuição nacional do grupo. O Grupo tem ainda a Herdade da Fonte Coberta no Alentejo, próximo de Évora, com 350 hectares, dos quais 250 ha de vinha, mas constituída numa empresa totalmente indepen-dente, que produz 1,1 milhões de li-tros de vinho.

Americanos lançam 100% Fermentado em Portugal

Gabriella e Ryan Opaz são um casal de ameri-canos radicados no Porto há um ano, após terem lançado o pro-jecto Catavino em Barcelona. Desta vez, no Porto, lançaram

a marca 100% Fermentado em Portu-gal e ao mesmo tempo editaram um mapa das caves do Vinho do Porto, com design do autor portuense José Miguel Cardoso. O evento teve lugar

no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP)O casal Opaz criou um blogue Cata-vino, destinado à promoção dos vin-hos, gastronomia e turismo da Penín-sula Ibérica, especialmente nos EUA. Filha de espanhol, Gabriella e Ryan iniciaram o seu projecto há oito anos em Barcelona, tendo há um ano decido mudar-se para o Porto, onde dão continuidade à acção feita na Catalunha, mas desta vez com o en-foque nos vinhos portugueses. O objectivo é também ao longo do ano realizar encontros vitivinícolas em várias cidades americanas.

Verde Covela pre-miado pela Wine & SpiritsO novo vinho verde da Quinta da Covela Arinto 2013 foi premiado pela revista americana White & Spirits. Trata-se de um vinho lançado em Abril úl-timo, da casta Arinto, um vinho verde “seco no palato, com sabor a nectari-nas e nêsperas “, salienta a publicação que deu uma cotação de 92 pontos a este Verde Arinto 2013. Da responsabi-lidade do enólogo Rui Cunha, o júri

da revista sugere inclusive que deve acompanhar “sardinhas grelhadas” !Outro vinho lançado pela Covela tam-bém em Abril foi o Rosé 2013, de cor salmão, totalmente da casta Touriga Nacional. Situada na zona Entre Douro e Minho, na fronteira entre os granitos da região do Vinho Verde e os xistos da região do Vinho do Porto, a Quinta da Cove-la existe desde o século XVI, formada pelas ruínas de um solar renascen-tista, os lagares e a capela . Até finais de 1980 pertenceu ao cineasta Manuel de Oliveira, por via de sua mulher Maria Isabel. A Quinta seriai vendida a Nuno Xavier, para em 2011 mudar de mãos, para o brasileiro Marcelo Lima e o in-glês Tony Smith, por uma verba de 3 milhões de euros.