36
O AEM e a intervenção do TEIP: o trabalho de um Assistente Social i O agrupamento de escolas de Marrazes e a intervenção do programa Território Educativo de Intervenção Prioritária: o trabalho do assistente social MARIA JOÃO MOURÃO ROSA PEDRO Dissertação Apresentada ao ISMT para Obtenção do Grau de Mestre em Serviço Social Orientadora: Professora Doutora Alcina Martins Coimbra, Julho de 2015

O agrupamento de escolas de Marrazes e a intervenção do ... · O AEM e a intervenção do TEIP: o trabalho de um Assistente Social ii Agradecimentos À Prof. Doutora Alcina Martins

  • Upload
    dokien

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    i

    O agrupamento de escolas de Marrazes e a interveno do programa

    Territrio Educativo de Interveno Prioritria: o trabalho do

    assistente social

    MARIA JOO MOURO ROSA PEDRO

    Dissertao Apresentada ao ISMT para Obteno do Grau de

    Mestre em Servio Social

    Orientadora: Professora Doutora Alcina Martins

    Coimbra, Julho de 2015

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    ii

    Agradecimentos

    Prof. Doutora Alcina Martins por toda a disponibilidade, compreenso e amizade que

    demonstrou e por todo o apoio que me proporcionou.

    minha famlia, em particular minha filha, por ter prescindido de mim de forma to

    generosa para que pudesse desenvolver este trabalho e a restante famlia por todo o apoio e

    incentivo que me deram.

    Quero dar um agradecimento muito especial ao meu companheiro de todas as horas Joo

    Estevo por todo o apoio com a Leonor em tudo o que precisei, tendo sido sempre

    compreensivo e aliviado tudo o resto no dia-a-dia para que eu tivesse disponibilidade para

    realizar este trabalho.

    Aos meus amigos, que de uma forma incondicional estiveram sempre do meu lado, com

    palavras encorajadoras e sempre disponveis para me libertarem de compromissos que neste

    ano no me foram possvel comparecer.

    Aos meus colegas de trabalho que sempre me incentivaram e compreenderam as minhas

    ausncias e como tal no os ter apoiado convenientemente.

    Ao senhor Diretor do Agrupamento de Escolas de Marrazes, Prof. Jos Violante, que

    desde a primeira hora me apoiou neste percurso e disponibilizou todos os recursos

    necessrios do agrupamento.

    A todo o pessoal administrativo que sempre me auxiliou na obteno de dados do

    agrupamento, em especial D. Susana Gaio.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    iii

    Resumo

    Este trabalho estuda a interveno do servio social na educao, com o objetivo de

    analisar a relao deste servio com o programa Territrios de Educao de Interveno

    Prioritria (TEIP).

    Foi levado a cabo no territrio que diz respeito ao Agrupamento de Escolas de Marrazes,

    situado no distrito de Leiria. A populao Incide sobre toda a populao escolar e toda a sua

    multiculturalidade, a qual caracteriza este territrio.

    Para realizar esta anlise, recorreu-se a leituras exploratrias, nomeadamente a

    documentos realizados no mbito do desenvolvimento do programa TEIP, dissertaes de

    mestrado, que ora estudam as problemticas principais, aqui tambm trabalhadas, que so:

    abandono, absentismo e insucesso escolar, ora abordam a avaliao do programa j referido.

    Foram ainda realizadas leituras na rea da prtica do servio social, bem como se recorreu a

    bibliografia relacionada com as problemticas em estudo, na rea da sociologia, cujo

    contributo foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Igualmente importantes

    foram os dados recolhidos no Agrupamento de Escolas de Marrazes.

    Foram apontados os constrangimentos ao exerccio do servio social, nomeadamente o

    conflito entre a prtica do assistente social e as aes do programa, a precariedade do

    profissional em meio escolar, a fragmentao do mesmo entre vrios servios/funes, bem

    como as potencialidades do assistente social em meio escolar, que indicam que o trabalhador

    pode ir mais alm do que as aes planificadas pelo programa, com resultados a longo prazo

    muito mais satisfatrios.

    Por fim, conclui-se que os problemas que as escolas TEIP apresentam no so sazonais,

    pois requerem uma interveno contnua e estruturada que no se coaduna com o que hoje a

    realidade: tcnicos superiores contratados todos os anos, com vnculo laboral precrio, que

    so recrutados depois de iniciado o ano letivo, exercendo a sua atividade por solicitao.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    iv

    Abstract

    This work is focused in the intervention of social work in education, in order to analyse

    the relation between the programme Territrios de Educao de Interveno Prioritria -

    TEIP (Education Areas of Priority Interference) and social work.

    This project was centred in the area of Agrupamento de Escolas de Marrazes, in the

    district of Leiria. It is focused on the the whole school population as well as its

    multiculturalism, which is an important issue of this school.

    To do this analysis we have read several documents, namely some related to the

    development of the TEIP programme, and masters courses dissertations, which study the

    main problems focused on this work, that are dropout, absenteeism and academic failure as

    well as the evaluation of this programme. We also read documents about social work and

    sociology, which contribution was essential towards the completion of this work. Equal in

    importance were the data collected in Agrupamento de Escolas de Marrazes.

    Some difficulties in the exercise of social work have been pointed out, namely the

    conflict between the social worker practice and the actions of the programme, the insecurity

    of this worker in school environment, his fragmentation among different services/jobs as well

    as the social worker potential inside the school, which has not been used efficiently enough in

    order to lead to much more satisfactory long term results than the actions of this programme.

    In conclusion, the problems that TEIP schools present are not seasonal; they require a

    structured and continuous intervention, differently of what is happening: yearly designated

    higher education staff, with poor labour rights, who are employed after the beginning of the

    school year, and working on request.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    v

    Palavras-chave

    Servio Social, Assistente Social, TEIP ( Territrio de Educao de Interveno Prioritria),

    insucesso escolar, abandono escolar, absentismo escolar

    Abreviaturas

    ASE Ao Social Escolar

    CEF Cursos de Educao e Formao

    CPCJ Comisso de Proteo de Crianas e Jovens

    GAAF Gabinete de Apoio ao Aluno e Famlia

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    PIEF Programa Integrado de Educao e Formao

    POCH Programa Operacional de Capital Humano

    POPH Programa Operacional de Potencial Humano

    RSI Rendimento Social de Insero

    SASE Servio de Ao Social Educativa

    SPO Servio de Psicologia e Orientao

    TEIP Territrio Educativo de Interveno Prioritria

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    vi

    ndice

    Introduo... 1

    I Captulo

    1. Polticas educativas do ensino bsico ps 25 de Abril de 1974 criao dos

    Territrios Educativos de Interveno Prioritria. 3

    2. Trajetria dos projetos TEIP. 7

    3. Servio Social no contexto escolar do ensino bsico e o trabalho nos TEIP 9

    II Captulo

    1. Anlise scio econmica e cultural do territrio do Agrupamento de Escolas

    de Marrazes... 11

    2. Caracterizao do Agrupamento de Escolas de Marrazes e da Populao

    Escolar e principais questes em anlise.. 14

    3. O Servio Social no AEM uma proposta de interveno social

    no Agrupamento de Escolas de Marrazes... 18

    Concluso.. 26

    Bibliografia... 29

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    i

    Introduo

    Esta dissertao insere-se no Curso de Mestrado em Servio Social, que tem como

    intuito fazer uma reflexo acerca da interveno do assistente social em meio escolar inserido

    num projeto Territrio Educativo de Interveno Prioritria (TEIP).

    O interesse por este assunto surge na sequncia do meu trabalho enquanto assistente

    social integrada num agrupamento de escolas TEIP h cerca de seis anos.

    Os servios sociais escolares so ainda muito reduzidos, apenas tendo sido criados ao

    abrigo dos projetos TEIP, o que ocorre nos ltimos vinte anos, mas com expresso

    significativa somente nos ltimos seis anos. Este facto suscitou o interesse em analisar o

    trabalho dos mesmos. Embora estando contemplados na lei que instala o Servio de

    Psicologia e Orientao (SPO), nunca foram devidamente implementados. Atualmente, por

    fora dos projetos TEIP, que proliferam por todo o pas, foi possvel contratar-se assistentes

    sociais para as escolas.

    O programa TEIP, desenvolvido no Agrupamento de Escolas de Marrazes (AEM), serviu

    como pano de fundo para a reflexo que aqui se faz. Neste sentido, o assistente social tem

    como misso promover o sucesso educativo dos alunos que, tal como o nome do programa

    indica, residem em territrios mais desfavorecidos.

    Esta dissertao pretende analisar as prticas de interveno social escolar atravs da

    perspetiva do assistente social e, como tal, tambm realar a importncia do trabalho

    desenvolvido nas escolas por este profissional.

    Ao longo deste perodo, a atividade do assistente social teve de ser fundamentada, uma

    vez que se considera que os professores poderiam desempenhar estas funes. neste sentido

    que me propus a analisar a interveno do servio social, enquanto profisso com suporte

    terico-metodolgico, que se socorre de vrias disciplinas, que em conjunto habilitam os

    assistentes sociais a intervir em situaes problemticas, tais como as que o TEIP pretende

    combater. A ideia de que um outro profissional pode intervir como um assistente social ainda

    uma realidade.

    O objetivo deste estudo prende-se com a necessidade de uma anlise do programa TEIP

    inscrito no nas polticas nacionais e sim nas diretrizes emanadas da Unio Europeia, que

    pretendem reduzir taxas de absentismo, abandono e insucesso escolar, atravs do referido

    programa, pelo que tambm importante perceber a sua relao com o servio social e o que

    da advm de positivo e de menos proveitoso.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    ii

    So analisadas as fraquezas da interveno do servio social em meio escolar, que se

    prendem com a pouca margem propositiva que o assistente social tem, estando, neste caso,

    restringido s aes do TEIP, que reduzem a atuao deste profissional a questes muito

    viradas ao assistencialismo e interveno individual.

    Neste sentido, o presente trabalho divide-se em duas partes, no primeiro captulo

    desenvolvida uma perspetiva terica que pretende enquadrar o tema que aqui se prope

    estudar, nomeadamente, so abordadas as polticas do ensino, aps o 25 de abril de 1974 at

    criao dos TEIP. ainda realizada uma retrospetiva da trajetria do projeto e, por ltimo,

    contextualiza-se o servio social escolar no ensino bsico e o trabalho dos TEIP.

    No segundo captulo, apresenta-se todo o seu desenvolvimento emprico, pelo que

    desenvolvida uma anlise socioeconmica e cultural do territrio em estudo e ainda uma

    caraterizao do AEM e da populao escolar, bem como levada a cabo a anlise das

    principais questes que dizem respeito ao TEIP.

    Para que tenha sido possvel toda esta anlise, foi necessrio recorrer a vrios autores,

    onde se pode salientar, na rea do servio social, Iamamoto, Faleiros, Varela e Semblano e,

    por outro lado, especialistas na rea da educao, pelo que se recorreu a autores, tais como

    Canrio, Silva, Alvares e Estevo, entre outros.

    Por fim, so apresentadas as concluses desta dissertao que se prendem com os

    constrangimentos da interveno do assistente social, nas condies que hoje lhe so impostas

    pelos programas pelos quais este profissional responde, com grave prejuzo para os alunos.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    iii

    Captulo I

    1.Polticas educativas ps 25 de Abril criao dos TEIP

    Em consequncia do desenvolvimento econmico e da necessidade de formar pessoal

    qualificado para responder a necessidades do pas, assiste-se implementao de vrios

    projetos com o objetivo de erradicar o analfabetismo, salientando-se a poltica de

    investimento na educao com a integrao de Portugal no Projeto Regional do

    Mediterrneo, apoiado pela OCDE, que englobou outros pases do Mediterrneo.

    Esta realidade tem implicaes na forma como se vai perspetivar a ao social nas escolas,

    verificando-se a partir de 1964 a definio em texto legal, da Ao Social Escolar, que passa

    a ser encarada pelo Estado como uma poltica de educao () (Semblano, 2003)

    Com a revoluo de 25 de Abril de 1974, a educao sofreu alteraes, provenientes da

    consagrao do direito educao (artigo 73 da Constituio da Repblica Portuguesa) e do

    desenvolvimento da ao social escolar, nomeadamente, contedos programticos, condies

    de trabalho para docentes e no docentes, bem como foram criadas condies para que os

    alunos pudessem estudar. Para alm do descrito so ainda criadas redes de transporte escolar

    e foram construdas novas escolas, cantinas e residncias escolares.

    Em 1976, aprovada a nova Constituio. Como refere Antnio Felipe: o amplo

    conjunto de direitos econmicos, sociais, polticos e culturais consagrados na Constituio de

    1976 no tem paralelo em Constituies anteriores. Para alm disso, esta nova Constituio

    consagra um amplo conjunto de direitos econmicos, sociais e culturais: o direito ao trabalho,

    segurana social, sade, habitao, ao ambiente e qualidade de vida, educao,

    proteo na infncia, na juventude, na deficincia, na terceira idade. (Felipe,2011)

    Em conformidade com alguns artigos da Constituio da Repblica Portuguesa (CRP)

    possvel verificar que a educao e a cultura, em sentido amplo, e o ensino e a igualdade de

    oportunidades de acesso e xito escolar, em sentido restrito, so direitos constitucionalmente

    consagrados. Refere ainda que o ensino deve contribuir para a superao das desigualdades

    econmicas, sociais e culturais, e tambm que obrigao do Estado assegurar o ensino

    bsico universal, obrigatrio e gratuito assim como estabelecer progressivamente a

    gratuitidade de todos os graus de ensino (cf. CRP, art.os 73 e 74) Ao analisar estes dois

    artigos pode-se dizer que se inserem num conceito de Estado-providncia.

    As reformas foram-se sucedendo gradualmente, assim na oferta curricular foram extintos

    os ramos de ensino liceal, tcnico comercial, industrial e agrcola, surgindo ento o 7, 8 e 9

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    iv

    anos, iguais para todos. Foi ainda eliminada a diviso por turma e sexo, havendo ento turmas

    mistas e escolas mistas.

    Os direitos institucionalizados neste perodo, por fora da nova Constituio cobrem uma

    variada rea, havendo a formulao das Leis de base da sade, em 1979, a da segurana

    social, em 1984, e a da educao, em 1986. Esta estabelece o quadro de referncia da reforma

    do sistema educativo.

    A reforma do sistema educativo, iniciada a partir da Lei de Bases do Sistema Educativo

    (1986), constitui-se volta de um ncleo onde se identificam palavras-chave como

    autonomia, participao, inovao, qualidade e mais recentemente territorializao.

    No Decreto-Lei n 286/89, de 29 de agosto, so definidos os planos curriculares dos ensinos

    bsico e secundrio, direcionado para moldar a fora de trabalho para o novo quadro da CEE.

    (Duarte e Varela, ob. cit., in Varela Raquel, 2013, p.102)

    O Decreto-Lei n. 115-A/98 de 4 de Maio: aprova o regime de autonomia,

    administrao e gesto dos estabelecimentos pblicos da educao pr-escolar e dos ensinos

    bsico e secundrio, bem como dos respetivos agrupamentos

    Os instrumentos do processo de autonomia das escolas so: o projeto educativo, o

    regulamento interno e o plano anual de atividades. (Ferreira e Teixeira, 2010, p.342)

    Podem-se destacar alguns marcos que ocorreram por essa altura, nomeadamente, a

    escolaridade bsica obrigatria de nove anos, com a Lei de Bases do Sistema Educativo

    (1986).

    A Lei 159/99, de 14 de setembro, vem estabelecer no seu artigo 1 a atribuio de

    competncias para as autarquias locais, bem como de delimitao da interveno da

    administrao central e da administrao local, concretizando os princpios da

    descentralizao administrativa e da autonomia do poder local. Coloca-se, assim, a

    descentralizao de poderes mediante a transferncia de atribuies e competncias para as

    autarquias locais. Esta lei tem tido alguma expresso, mas tem sido muito tmido na sua

    implementao, no havendo ainda uma clara transferncia de competncias para as

    autarquias. Assim as Cmaras Municipais, tm a seu cargo o planeamento e gesto dos

    equipamentos educativos, bem como a sua construo, apetrechamento e manuteno. Faz

    ainda parte das suas atribuies a elaborao da carta escolar a integrar nos planos diretores

    municipais e criar os conselhos locais de educao.

    Na sequncia das reformas surge, tambm, o Decreto-Lei 7/2003, de 15 de janeiro, que

    veio responsabilizar as autarquias pelo funcionamento das escolas. Este modelo assume

    particular relevncia na concretizao da transferncia de atribuies e competncias da

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    v

    administrao central para as autarquias locais, reconhecendo que os municpios constituem o

    ncleo essencial da estratgia de subsidiariedade, tendo por objetivo a transferncia de

    competncias na rea da educao e do ensino no superior. As autarquias reclamam mais

    fundos para implementao da referida legislao, o que no tem sido aceite pelos sucessivos

    governos.

    A criao de novas polticas educativas foi sustentada com o apoio de organizaes

    internacionais, tal como a Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    (OCDE).

    A partir de 1986 estas reformas foram financiadas pela CEE atravs do Fundo Social

    Europeu (FSE). Atualmente a UE, f-lo atravs do Programa Operacional Potencial Humano

    (POPH) e no ano corrente atravs do Portugal 2020, pelo Programa Operacional Capital

    Humano (POCH).

    Polticas Neoliberais surgem em 1987 com grande expresso. Assim, so implementadas

    reformas de fundo, assentes em trs pontos fundamentais: a diminuio da interveno do

    estado; desenvolver e modernizar o pas; assegurar o xito da entrada de Portugal na CEE.

    As palavras do ento primeiro- ministro Anbal Cavaco Silva, diz no seu discurso de

    posse disso exemplo A vitalidade da sociedade civil um fator decisivo do progresso ()

    E hoje generalizada nas sociedades modernas a conscincia de que a excessiva estatizao

    impede o desenvolvimento, rigidifica as estruturas sociais e limita a liberdade. Assim se

    explica o apoio crescente da opinio pblica de muitos pases aos processos de desregulao,

    privatizao e liberalizao (Cavaco Silva, 1989, p.36-37)

    incontornvel a semelhana do discurso do primeiro ministro com as polticas

    protagonizadas pela direita de Margaret Thatcher em Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados

    Unidos da Amrica.

    Com a reviso constitucional de 1989, estas polticas neoliberais tornam-se mais

    importantes, com o suporte legal para todas as privatizaes e abrindo caminho para a

    liberalizao da economia portuguesa, com direta traduo nas polticas da educao.

    Vale a pena ainda na mesma linha de pensamento referir a Lei de Bases do Sistema

    Educativo (LBSE) onde tambm se denota este cariz, sobretudo no que diz respeito ao ensino

    bsico, quando referido que a gratuitidade no ensino bsico ou as medidas de apoio e

    complemento educativos, nomeadamente, as que so destinadas a alunos com necessidades

    escolares especficas. Refere ainda os apoios de sade escolar, psicolgico e de orientao

    escolar e profissional, bem como a ao social escolar (cf. LBSE, art. 24 a 28)

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    vi

    Os sucessivos governos nem sempre foram fieis ao p da letra da legislao de

    enquadramento, quer da Constituio (CRP) quer da Lei de Bases (LBSE).

    Existem alguma referncias erradicao do analfabetismo e de luta contra o abandono e

    insucesso escolares, mas o enfoque foi dado renovao da escola, qualidade dos

    professores, adequao dos programas e curricula e qualidade do ensino (cf. Cavaco

    Silva, 1987: 48 X Governo Constitucional).

    A obrigatoriedade dos nove anos de escolaridade consolida-se, o combate ao insucesso e

    abandono escolar passam a ser uma prioridade, principalmente nos primeiros ciclos, da

    escolaridade bsica, tendo como preferncia determinadas zonas, tais como meios

    socioculturais desfavorecidos, zonas rurais, escolas unidocentes, escolas perifricas urbanas e

    o fortalecimento da ao social escolar, sendo lanado com estes objetivos o Plano

    Interministerial de Promoo do Sucesso Educativo (PIPSE), em 1987. Este plano teve

    resultados pouco animadores. Foi realizado um estudo pela FENPROF, no ano letivo

    1988/89, e dirigido s escolas e estruturas concelhias do PIPSE, com o intuito de fazer um

    ponto da situao da implementao deste Plano, em relao primeira etapa, este revelou

    uma acentuada insuficincia de aes concretas relacionadas com as diferentes componentes

    previstas, apesar de se ter aferido o empenho dos professores. Posteriormente, o Ministrio

    divulga os resultados de um relatrio feito internamente que revela resultados melhores,

    refere que as aes previstas foram de uma forma geral realizadas e mesmo alargadas. Este

    relatrio demonstrou que as taxas de aprovao do ano letivo 1987/88 para o ano letivo

    1988/89 tiveram uma melhoria ntida e que foi uma espcie de primeiro passo para despertar

    conscincias. (Semblano, 2013)

    Foi criado, ainda dentro do mbito do PIPSE, um outro programa com vista promoo

    de uma poltica de igualdade de oportunidades para o ensino bsico, que se denominou como

    Programa Educao Para Todos (PEPT).

    Isto porque o governo procura legitimar as medidas de poltica educativa, tendo em

    considerao os outros sistemas educativos europeus, havendo uma comparao s taxas de

    escolarizao com os restantes Estados-Membros da CEE.

    Neste sentido e com o intuito de fazer as taxas de escolarizao portuguesas

    aproximarem-se das restantes da Europa, surge o Programa de Desenvolvimento Educativo

    para Portugal (PRODEP - 1990/1993), cuja inteno atingir tendencialmente a meta global

    de preparar o sistema educativo portugus para os desafios da integrao europeia no termo

    do segundo milnio, procurando 1) generalizar o acesso educao, de modo a aproximar

    Portugal das taxas de escolarizao da CEE (); 2) modernizar as infraestruturas educativas,

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    vii

    permitindo um ensino adaptado s necessidades do desenvolvimento humano e tecnolgico

    do pas; 3) melhorar qualitativamente a ao educativa, possibilitando uma educao para o

    xito escolar, a competncia e o desenvolvimento (cf. PRODEP, 1990, p. 37).

    Com a dcada de 90 a escola concebida como essencial formao e desenvolvimento

    da criana, sendo apenas em 1995 que a educao se torna uma prioridade para o

    desenvolvimento e modernizao do pas. Neste sentido, foram, pela primeira vez, tomadas

    medidas, tais como a criao dos TEIP (1996), que se mantm at aos dias de hoje, mediante

    candidaturas anuais, visto que so financiadas pela Unio Europeia. Em 1998 surge o

    Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI) e, em 2012, foi criado o Programa de

    Apoio e Qualificao denominado de PIEF - Programa Integrado de Educao e Formao.

    2. Trajetria dos TEIP

    Os TEIP tiveram inspirao francesa, nomeadamente, nas zones dEducation

    Prioritaires (ZEP) que surgem em Frana, em 1981, quando o insucesso escolar era uma

    constante e eram insustentveis os nveis de desemprego dos trabalhadores no qualificados.

    O Programa TEIP foi criado em Portugal no ano letivo 96-97. O Despacho 147-B/ME/96

    consagra a possibilidade de associao de estabelecimentos de educao e de ensino com

    vista constituio de TEIP, nos quais iriam ser desenvolvidos projetos plurianuais que

    visassem a melhoria da qualidade educativa e a promoo da inovao. So estabelecidos

    quatro objetivos centrais: 1 melhoria do ambiente educativo e da qualidade das

    aprendizagens dos alunos; 2- uma viso integrada e articulada da escolaridade obrigatria que

    favorea a aproximao dos seus vrios ciclos, bem como da educao pr-escolar; 3- a

    Criao de condies que favoream a ligao escola-vida ativa; 4- a Progressiva

    coordenao das polticas educativas e a articulao de vivncias das escolas de uma

    determinada rea geogrfica com as comunidades em que se inserem. Atravs do Despacho

    Conjunto n. 73/SEAE/SEEI/96 define as escolas que, a partir do ano letivo de 1996-1997

    integrariam o projeto TEIP.

    Estes projetos tinham a funo de criar, nas escolas, mecanismos geradores de sucesso

    escolar e educativo dos alunos do ensino bsico, atendendo principalmente a zonas em que o

    sucesso educativo reduzido (Barbieri, 2003, p. 56)

    Com a reorganizao da rede escolar, os agrupamentos de escolas, por volta de 1998,

    foram tomando o lugar dos TEIP. Neste sentido surgiram polticas educativas, que fazem

    com que os TEIP percam visibilidade, uma vez que no passa de um programa, enquanto

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    viii

    outras polticas vo conquistando terrenos que, pela sua natureza, tm muito mais peso na

    dinmica educacional: tais como: a autonomia, a gesto Flexvel dos Currculos, o estudo

    acompanhado.

    O TEIP quase que ressurge das cinzas e denominado por TEIP2, que introduzido nas

    escolas no mbito do Despacho normativo n55/2008 de 28 julho, onde as escolas do

    agrupamento ou as escolas no agrupadas que nesse momento fazem parte do TEIP2 so

    convidadas a apresentar os seus projetos educativos. Esses projetos envolvem um conjunto de

    medidas e aes de interveno na escola e na comunidade, que so fortemente orientadas

    para a qualidade do percurso e dos resultados escolares dos alunos. Assim, tem como maior

    incidncia a reduo do abandono e insucesso escolar, que passa a ser uma das grandes

    bandeiras do TEIP a transio da escola para a vida ativa e a interveno da escola como

    agente educativo e cultural.

    Nos termos do n. 1, do artigo 64 - A do Decreto-Lei n. 51/2009 de 27 de Fevereiro: A

    promoo do sucesso educativo dos alunos, integrados em meios particularmente

    desfavorecidos, em especial, de jovens em risco de excluso social e escolar, constitui

    objetivo das escolas prioritrias, cuja identificao e respetiva regulamentao so fixadas

    por despacho do membro do Governo, (Ferreira e Teixeira, 2010, p. 342-343) pela ministra

    da educao, Isabel Alada. Estas autoras referem que, numa primeira fase, o Programa TEIP

    iniciou-se em 35 agrupamentos, tendo o Ministrio da Educao, no mbito das medidas de

    Poltica Educativa, fixado o universo de 100 agrupamentos como meta a atingir. A incluso

    de mais 24 agrupamentos na 2 fase e 45 na 3 fase de alargamento do programa, perfazendo

    um total de 104, permitiu alcanar e at ultrapassar a meta proposta.

    Segundo a Direo Geral de Informao e Comunicao (http://www.dgidc.min-

    edu.pt/teip), no ano letivo 2014/2015 o ()Programa TEIP est a ser desenvolvido em 137

    agrupamentos, distribudos pelas 5 Direes Regionais de Educao: 49 no Norte, 11 no

    Centro, 49 em Lisboa e Vale do Tejo, 17 no Alentejo e 11 no Algarve.

    Estes territrios esto devidamente limitados no espao geogrfico, administrativo e

    social de combate excluso social, abandono e absentismo escolar. Neste sentido,

    pressupe-se o extrapolar das fronteiras da escola, at porque um dos problemas identificados

    foi as escolas estarem voltadas para dentro de si e estarem muito fechadas comunidade.

    A constituio dos Territrios Educativos no sistema educativo portugus foi definida

    central e administrativamente, tendo sido feita a constituio revelia dos agrupamentos de

    escolas que ignoravam estar a ser associados, sendo informados posteriormente da sua

    incluso num determinado territrio. A finalidade seria desenvolver redes e sistemas de

    http://www.dgidc.min-edu.pt/teiphttp://www.dgidc.min-edu.pt/teip

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    ix

    escolas, passveis de facilitarem a colaborao entre escolas, em diferentes reas, e entre estas

    e o meio local. (Ferreira e Teixeira, 2010, p. 342-343)

    A equipa de coordenao TEIP constituda por um titular do rgo de direo executiva

    do agrupamento, que coordena a equipa; um responsvel pela coordenao do projeto; um

    representante do conselho pedaggico; um psiclogo do SPO; trs docentes; um

    representante de uma instituio de referncia local.

    Foram referidos como recursos humanos a afetar ao projeto um assistente social (embora

    no seja obrigatrio, mas a equipa coordenadora identificou como necessidade), dois

    Animadores Socioculturais, um especialista em Mediao de Conflitos em contexto escolar,

    professores na rea de Cincias Experimentais (1 FQ e 1 de CN) e professores de Lngua

    Portuguesa para estrangeiros. (candidatura ao programa TEIP2, 2009)

    3.Servio Social no contexto escolar do ensino bsico e o trabalho nos TEIP

    O papel do assistente social surge como uma complementaridade da atividade escolar e,

    por outro lado, como facilitador e interlocutor entre a escola, famlia, meio social e a

    comunidade externa com intuito educativo e preventivo.

    As entrevistas aos alunos comeam a ser valorizadas, visto constiturem-se como um

    meio para chegar a um fim, neste sentido, as entrevistas aos alunos serviam no s para

    estudar a situao individual do aluno, familiar e social, mas tambm encontrar as possveis

    causas que justifiquem os desvios, bem como delinear estratgias com o aluno e a famlia

    com vista a apoi-lo no desenvolvimento de competncias que o ajudem a ultrapassar as suas

    dificuldades.

    Como forma de complementar este estudo, as visitas domicilirias foram consideradas

    tambm como elementares para se desenhar o diagnstico e elaborar um plano de ao.

    Tal como refere Semblano, na sua dissertao de mestrado (2003) A Ao Social

    Escolar (ASE) tendo por objetivo o indivduo, destina-se a proporcionar-lhe condies

    materiais que possibilitem o aproveitamento das prprias potencialidades com um mximo de

    rendimento ou a colmatar lacunas no preenchidas pelas estruturas sociopolticas do sistema e

    tem por objeto quer a concesso de auxlios econmicos aos alunos com menores recursos

    econmicos, sob a forma de subsdios escolares, emprstimos, iseno ou reduo de

    propinas, iseno ou reduo de taxas dos servios de Ao Social Escolar, quer a prestao

    de servios, no sentido de criar e apetrechar os servios e estruturas de apoio ao estudante em

    geral sob a forma de sade escolar e assistncia mdica e medicamentosa, alimentao,

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    x

    transportes, alojamento (como meios de garantir o acesso escola), seguro, fornecimento de

    material didtico e campos de frias (cf. art. 7, 1.2.3. do D. L. n178/71), definindo as

    condies de acesso dos estudantes aos benefcios daqueles servios, com fixao de preos

    acessveis generalidade dos alunos, procurando o IASE concentrar todas as aes e servios

    de apoio ao estudante, em todos os graus de ensino, de uma forma uniforme.

    Presentemente os servios de ao social foram ficando restringidos a processos

    meramente administrativos, havendo atribuio de escales, consoante os rendimentos do

    agregado familiar e que so definidos pelo Instituto da Segurana Social. Esta atribuio

    deveu-se alterao da lei, que pelo Despacho 11861/2013, de 12 de setembro, atribui

    Segurana Social esta funo.

    O Servio Social volta a surgir no panorama nacional atravs da implementao dos

    projetos nos TEIP, visto que nem todas as escolas tm servio social, nem todos os SPO e

    nem todos os agrupamentos tm um assistente social. A grande maioria contempla nos seus

    recursos humanos um assistente social. Quando a lei de implementao dos Servios de

    psicologia e orientao surgiu, esta contemplava tambm na formao das suas equipas, para

    alm de um psiclogo e um professor, um assistente social, contudo, a lei nunca foi

    implementada convenientemente, funcionando os SPO apenas com psiclogos, embora ainda

    nem todas as escolas beneficiem deste servio, o mapa nacional est praticamente

    preenchido.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xi

    Captulo II

    1.Anlise socioeconmica e cultural do territrio do agrupamento de

    escolas de Marrazes

    Os agrupamentos surgem na sequncia da adoo do modelo de Autonomia,

    Administrao e Gesto, institudo pelo Decreto-Lei n. 115-A/98, de 4 de Maio. Tinha como

    objetivos a articulao e a sequencialidade dos currculos do Ensino Bsico, a gesto de

    forma articulada dos recursos e projetos, a descentralizao e a insero no territrio escolar

    de Projetos Educativos.

    Os agrupamentos de escolas podem ser de dois tipos: horizontais, quando so

    constitudos por vrias escolas, mas todas do mesmo ciclo e verticais, quando so

    constitudos por escolas com vrios ciclos. Com a criao de agrupamentos de escolas,

    pretendia-se criar uma nova estrutura organizacional e reorganizar a rede escolar, de modo a

    possibilitar e favorecer o percurso sequencial e articulado dos alunos durante a escolaridade

    obrigatria e quebrar o isolamento de algumas escolas, assim como possibilitar uma gesto

    mais racional dos recursos e reforar a capacidade pedaggica das escolas. (Afonso, 2006)

    O AEM um agrupamento de tipo vertical, que agrupa jardins-de-infncia, escolas de

    primeiro ciclo e a escola sede de segundo e terceiro ciclos. Ao longo destes anos o AEM

    sofreu vrios alargamentos, sendo atualmente constitudo da seguinte forma: 12 jardins-de-

    infncia, 13 escolas do 1 Ciclo e uma escola que engloba o 2 e 3 Ciclos. (PEAEM, 2009,

    p.9 -10)

    A escola-sede iniciou a sua atividade no ano letivo de 1975/1976 e a criao do

    agrupamento teve lugar no ano letivo de 1999/2000, que abrangendo as freguesias de

    Marrazes, Regueira de Ponte e Amor. A criao dos agrupamentos prendeu-se com fatores

    economicistas e de descentralizao em relao s delegaes regionais, de linhas

    neoliberais, uma vez que existe uma concentrao dos rgos de gesto. Em vez de haver

    uma srie de corpos dirigentes, centralizou-se apenas numa escola uma direo, que dirige

    uma srie de estabelecimentos de ensino.

    Do ponto de vista da estrutura econmica e segundo dados fornecidos pela Associao

    empresarial local NERLEI (NERLEI, 2012), a populao afeta ao setor primrio

    desenvolve atividades econmicas, no mbito da agricultura, tais como plantao de pinhal,

    produo de produtos agrcolas (legumes, frutas) e atividade piscatria. J no que diz respeito

    ao setor secundrio, lder nacional no fabrico de moldes metlicos. Tambm as indstrias

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xii

    extrativas, transformadora e a construo civil so importantes. Mas a imagem de marca est

    ligada ao vidro, aos plsticos, madeira, aos txteis e aos agroindustriais, empresas que

    continuam a prosperar. A indstria do vidro, no entanto, encontra-se maioritariamente nos

    concelhos Leiria, Alcobaa, Marinha Grande, Pombal e Caldas da Rainha.

    J no que diz respeito ao setor tercirio assume mais de 50% de todo o tecido empresarial

    do distrito. Esta populao tem vindo a crescer nos ltimos anos, mais de 70% das empresas

    deste setor esto ligadas ao comrcio, tendo os servios uma preponderante cobertura com os

    principais balces bancrios e as mais importantes seguradoras, tal como a presena de

    empresas de transportes, de servios de sade privados e pblicos e uma rede escolar de

    jardins-de-infncia ao ensino superior, com vrios plos de universidades, escolas superiores

    do Instituto Politcnico de Leiria, nas Caldas da Rainha e Peniche.

    Em termos sociais o territrio dos Marrazes integra vrias comunidades estrangeiras,

    nomeadamente, a populao residente no Bairro Dr. Francisco S Carneiro. Inicialmente, este

    bairro, foi construdo para realojar portugueses regressados das ex-colnias, no ps 25 de

    abril e ainda hoje habitado por estas famlias, mas tambm por imigrantes oriundos de

    pases de frica e famlias economicamente desfavorecidas do concelho de Leiria. Esta

    comunidade caracterizada por famlias na sua grande maioria monoparentais, com baixas

    habilitaes escolares, desempregados sem auferir subsdio de desemprego, realizando

    biscates, extremamente precrias e sem vnculos laborais, vivendo de prestaes sociais,

    destacando-se o rendimento social de insero e os abonos de famlia. (cf. arquivos do GAAF

    e documento caraterizador do AEM) de salientar ainda que para alm de existirem muitos

    alunos provenientes deste bairro, tambm existem muitos funcionrios do agrupamento que

    nele residem.

    Segundo informaes disponibilizadas pela cooperativa Nova Habitao Cooperativa

    Social, que faz a gesto do bairro. (Infohabitar s/d) Este bairro constitudo por 26 prdios,

    com 208 fogos, que na sua maioria so arrendados, embora, h alguns anos atrs uma

    pequena parcela deste bairro tenha sido vendida a custos controlados a famlias do concelho.

    A maior parte dos moradores so naturais de Leiria (48%), de Angola (35%) os restantes

    (17%) so oriundos de diversas zonas do pas, incluindo a Madeira e os Aores. Existe ainda

    uma pequena percentagem de moradores naturais da Guin, Moambique, Blgica e Brasil.

    So imigrantes maioritariamente desempregados. (CML, 2005)

    Este bairro no dispe de equipamentos culturais, desportivos ou educativos, pelo que a

    populao mais jovem utiliza assiduamente o espao exterior comum. A freguesia, no

    entanto, dispe de equipamentos desportivos que esto disponveis populao.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xiii

    Em termos de distribuio da populao por grupo etrio, verifica-se que no Bairro

    46,5%, do total dos moradores, so jovens, com idades compreendidas entre os 0 e os 24

    (CML, 2005)

    Esta populao tem caratersticas muito prprias em termos culturais facilmente

    identificada atravs da gastronomia, das relaes familiares e de vizinhana e a forma como

    utilizam o espao exterior comum, o que faz com que haja algum ambiente hostil sempre que

    uma nova famlia instalada no bairro e que no tem qualquer lao com este.

    Com a imigrao da dcada de 90, surgiu uma comunidade marroquina que se veio a

    instalar na Quinta do Alada, bairro onde existe uma mesquita e onde se renem cerca de 450

    muulmanos, radicados maioritariamente no distrito de Leiria, nos concelhos de Leiria,

    Marinha Grande, Batalha e em Ourm, que pertence ao distrito de Santarm. Este bairro

    conhecido como sendo o mais multicultural de Leiria, onde coexistem vrias culturas,

    completamente integradas e onde todos se respeitam.

    A maioria dos muulmanos residentes na regio provm de Marrocos e do Uzbequisto,

    outros nasceram na Sria, Jordnia, Paquisto, Guin-Bissau, Egipto e Moambique, uns

    vivendo sozinhos outros vieram com a famlia. Vieram para Portugal, uns para procurar

    trabalho, outros fugidos da Primavera rabe. Tm profisses ligadas maioritariamente ao

    comrcio e restaurao, mas tambm os h que vieram para desenvolver a construo civil,

    quando esta estava no auge, outros so trabalhadores de empresas do setor mais desenvolvido

    na regio, o de moldes de metal e outros ainda desenvolvem atividades ligadas sade, em

    clnicas de fisioterapia e dentistas.

    A mesquita recebe fiis para as cinco oraes por dia, sendo a sexta-feira a que regista

    mais afluncia. Estas oraes so apenas autorizadas aos homens.

    Todas as semanas, cerca de 30 crianas aprendem rabe e recebem os primeiros

    ensinamentos do Coro. Muitas nasceram em Portugal, filhas de imigrantes, grande parte

    frequenta as escolas do AEM, onde so crianas que se encontram perfeitamente integradas

    entre os seus pares.

    Esta comunidade a residir em Leiria comeou-se a formar a partir de meados da dcada

    de 1990 para trabalhar no comrcio ambulante, em fbricas e por conta prpria. Registam-se

    algumas situaes em que estes imigrantes passaram inicialmente por Espanha. Muitos

    partilham laos familiares entre si e alguns casaram com portuguesas. Existe ainda outro

    grupo que frequenta a mesquita. Este rene os cidados das antigas repblicas soviticas, em

    especial imigrantes do Uzbequisto.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xiv

    Em Marrazes, coexistem vrias religies, a comunidade brasileira professa vrios cultos.

    Os seus elementos moram nesta freguesia porque as rendas de casa so mais baixas do que na

    cidade de Leiria. As mulheres trabalham maioritariamente em restaurao, como empregadas

    domsticas e em institutos de beleza e os homens na construo civil e restaurao.

    Com a crise dos ltimos anos cresce o desemprego que tambm se faz sentir na regio de

    Leiria. A abertura do Leiriashoping veio criar empregos, pelo que atenuou a taxa de

    desemprego sentido nestas freguesias mais perifricas, com pessoas com baixos nveis de

    escolaridade e que tiveram aqui uma possibilidade de trabalho, ainda que precrio.

    Se j antes a cidade era muito apetecvel em termos de emprego, com a abertura do

    Instituto Politcnico de Leiria, criado em 1980, e com a expanso da Escola Superior de

    Educao de Leiria e a concluso da referida grande superfcie, esta tendncia ainda se

    acentuou mais.

    Marrazes pouco mais que uma zona dormitrio para quem trabalha no centro da cidade

    de Leiria. Muitos deslocam-se para os vrios concelhos do distrito para poderem trabalhar,

    visto que os principais focos de empego se encontram na Marinha Grande e Caldas da

    Rainha.

    No que se refere situao social, h a destacar a existncia um Internato Distrital

    Masculino que alberga crianas com carncias a nvel econmico, social e afetivo que

    frequentam as escolas do AEM. (PEAEM, 2009, p.11)

    2. Caracterizao do AEM e da populao escolar e principais questes

    em anlise

    Os recursos humanos do agrupamento contam com 26 educadoras de infncia, 77 professores

    do 1 ciclo, 82 professores do 2 e 3 Ciclos e 13 professores de Ensino Especial. Alm destes

    existem 56 assistentes operacionais e 12 assistentes tcnicos (PEAEM, 2009, p. 16-19). O

    agrupamento tem anualmente uma mdia de cerca de 2160 alunos, distribudos por todos os

    estabelecimentos de ensino que compem o agrupamento. (Documento Caracterizador do

    AEM, 2012, p. 25)

    O edifcio da escola sede construdo em 1974, uma estrutura que carece, em alguns

    casos, de melhorias, j que alguns espaos exteriores se encontram degradados. Por outro

    lado, existem situaes em que o espao fsico disponvel para as atividades letivas

    insuficiente face populao escolar. Exemplos disso so a falta de salas de aula e e a

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xv

    degradao do pequeno pavilho da escola, razo pela qual as aulas de educao fsica so

    realizadas Pavilho Gimnodesportivo de Marrazes, situado prximo da escola.

    Em 1999/2000 foi criado o agrupamento de Escolas de Marrazes, permanecendo no

    mesmo edifcio, at aos dias de hoje. Em 2009, o AEM elaborou uma candidatura ao

    programa TEIP, visto que preenchia os critrios anteriormente j referidos. Tendo sido aceite

    o projeto, iniciou-se a atividade com elementos da escola e outros que foram contratados para

    o TEIP, aps o incio do ano letivo.

    A rea proposta de interveno envolveu todos os estabelecimentos do AEM, jardins-de-

    infncia, escolas de 1, 2 e 3ciclos. A interveno do TEIP est vocacionada para as escolas

    atrs referidas. No entanto, a equipa de coordenao considerou que a interveno deveria

    passar tambm pelos Jardins de Infncia. A equipa TEIP integra os professores j

    anteriormente referidos e um psiclogo, que so recursos internos do agrupamento e ainda

    um assistente social, um animador sociocultural e terapeuta da fala, que so contratados

    anualmente como tcnicos especializados. A interveno TEIP baseia-se na elaborao de

    projetos. Tendo como resultado de um desses projeto a criao do Gabinete de Apoio ao

    Aluno e Famlia (GAAF).

    Um dos problemas identificados no agrupamento este contar com uma populao com

    cerca de 423 alunos subsidiados com escalo A e 376 alunos com escalo B, no somatrio de

    todos os ciclos. O agrupamento tem assim cerca de quase 40% de alunos subsidiados. So

    alunos com maiores dificuldades escolares, que apresentam elevado absentismo, associado a

    insucesso escolar e consequente abandono escolar. Situao herdada dos pais, visto que

    existem encarregados de educao que so analfabetos ou possuem um baixo nvel de

    escolarizao, havendo alguns que apenas sabem assinar o seu nome e como tal, eles prprios

    poucos proveitos tiraram da frequncia escolar, a maioria com historial de retenes e

    abandono escolar precoce. (cf. processos GAAF e Documento Caracterizador do AEM, 2012,

    p. 18)

    Segundo o PNPAE (Plano Nacional de Preveno do Abandono Escolar 2004), a

    qualidade do apoio familiar condiciona o percurso acadmico da criana ou jovem. Ora os

    pais destas crianas tm baixos nveis de escolaridade, estes no conseguem dar o apoio

    conveniente de que os filhos necessitam. Neste sentido os alunos manifestam esta

    preocupao junto dos professores. Mencionam ainda que os pais sobrevalorizam as tarefas

    domsticas em detrimento das tarefas escolares. De referir ainda que a participao nas

    atividades escolares dos pais muito limitada, no sendo estabelecidos relaes entre pais e

    professores.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xvi

    Tal como definido internacionalmente, o abandono escolar traduz-se pela sada do

    sistema de ensino antes da concluso da escolaridade obrigatria. J o abandono escolar

    precoce a situao dos alunos, entre os 18 e os 24 anos, que no concluram o ensino

    secundrio e que no frequentaram qualquer ao educativa nas 4 semanas anteriores, a

    atingirem a maioridade (Alvares e Estevo s/d) estes dois tipos de abandonos registam-se no

    AEM.

    Outro problema identificado pelo AEM prende-se com as ocorrncias disciplinares, que

    desde 2009 a 2012 vieram a acentuar-se, contando neste ltimo ano com 257, contra as 225

    registadas no ano letivo 2009/2010, primeiro ano de implementao do TEIP. (Documento

    Caraterizador do AEM, 2012, p.25)

    A diminuio das taxas de sucesso dos alunos, constituem outra situao a merecer

    preocupao. A taxa de sucesso tem estado a diminuir. A taxa de sucesso passou de 92,7% no

    ano letivo de (2009/2010) para 86,1% no ano letivo de (2011/2012), no 2 e 3 CEB. Quanto

    ao 1 ciclo estas taxas tem vindo a diminuir, mas no de forma significativa.

    Em 2012/2013 o Projeto Educativo do AEM prope-se a: reduzir o insucesso educativo;

    promover a qualidade do sucesso; minimizar ocorrncias de indisciplina e violncia no

    espao escolar; reduzir o absentismo e o abandono escolar precoce; fomentar a aceitao das

    diferenas e a integrao plena de todos os alunos; melhorar as condies para a adequao

    do processo educativo s necessidades educativas especiais dos alunos; promover o

    desenvolvimento vocacional e orientao escolar e profissional dos alunos; criar condies

    facilitadoras para a preveno e reduo de comportamentos de risco; promover a

    participao e colaborao dos pais e encarregados de educao e da comunidade educativa

    no desenvolvimento socioeducativo dos alunos; enriquecer as opes formativas do

    agrupamento; criar respostas no mbito da Educao e Formao para Adultos; eliminar

    situaes de insegurana na escola; melhorar o sentimento de pertena e valorizao da

    escola; criar mecanismos funcionais de informao e comunicao escola - famlia -

    comunidade, potenciando o uso das tecnologias de informao e comunicao; projetar uma

    imagem positiva do agrupamento na comunidade; Fomentar a conscincia ambiental na

    escola e na comunidade; melhorar a qualidade dos servios prestados; promover a Educao

    Sexual em meio escolar. (PEAEM 2012/2013, p. 8).

    Para atingir estes objetivos o agrupamento conta com Servios Tcnico-Pedaggicos, dos

    quais se salientam os Servios Especializados de Apoio Educativo, constitudos por um grupo

    de Educao Especial (16 professores) que desenvolvem trabalho nos vrios ciclos do

    agrupamento; o Servio de Psicologia e Orientao (SPO), que atualmente funciona com um

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xvii

    psiclogo a tempo inteiro, que intervm em toda a comunidade escolar, d apoio

    psicopedaggico a alunos e professores; ao desenvolvimento do sistema de relaes da

    comunidade educativa, faz orientao escolar e profissional e integra a equipa coordenadora

    TEIP (Documento Caracterizador Do AEM, 2012, p. 22)

    Para a criao do Gabinete de Apoio ao Aluno e Famlia (GAAF) foi contratada uma

    assistente social, que atende alunos, famlias, professores e os funcionrios da escola, em

    gabinete prprio, assegurando a confidencialidade de todos os utentes. um servio cujo o

    principal objetivo orientar as crianas e os jovens na procura da resoluo dos seus

    problemas quotidianos e estabelecer estratgias de interveno de combate ao absentismo e

    abandono escolar, bem como ao insucesso escolar, sempre que aps avaliao diagnstica

    assim se entenda em conselho de turma.

    No mbito do TEIP foi criado um servio de animao (Projeto C.A.C.E. Faz) cuja

    dinamizao se encontra sob a responsabilidade, inicialmente, de duas animadoras

    socioculturais. Por fora dos cortes de financiamento do Fundo Social Europeu, para o TEIP,

    feitos nos ltimos anos, neste momento o projeto tem apenas uma animadora sociocultural.

    Foi tambm criado o Gabinete de Mediao de Conflitos Escolares (GAMED), onde

    todos os anos so integrados professores com algumas horas nos seus horrios para que

    desenvolvam atividades neste gabinete, que vo ao encontro dos objetivos do TEIP. No

    presente ano letivo e porque no estava a ser possvel apenas com os professores assegurar o

    funcionamento deste gabinete a tempo inteiro, e devido sua formao em mediao de

    conflitos e mediao familiar, foi ainda afeta a este projeto a assistente social que garante,

    sempre que possvel o atendimento dos alunos/professores que assim o solicitem. No

    obstante, nenhuma situao fica por responder. Logo que haja um elemento disponvel os

    alunos so chamados e feita a mediao. Existem outras situaes em que no existe

    nenhum conflito e os alunos apenas utilizam aquele espao para falarem com um adulto que

    os ouve e que no est ali para o criticar e isso deixa-os satisfeitos (Conforme registos do

    GAMED)

    Por ser uma escola que regista nveis de conflitualidades elevados (faltas de respeito

    entre alunos e professores, entre pares e entre alunos e funcionrios), houve a necessidade da

    criao deste gabinete e foi considerada importante a presena do assistente social tambm

    pelo olhar diferente que este profissional tem sobre as situaes problema, bem como da

    experincia que este j tinha na resoluo de conflitos.

    No mbito da educao especial, o AEM o de referncia no concelho de Leiria, para a

    problemtica dos portadores de doena do espectro autista. Segundo a Federao Portuguesa

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xviii

    de Autismo, citando a associao Americana de Psiquiatria, define as Perturbaes

    do Espetro do Autismo (PEA) como um sndroma neuro-comportamental com origem

    em perturbaes do sistema nervoso central que afeta o normal desenvolvimento da criana.

    Os sintomas ocorrem nos primeiros trs anos de vida e incluem trs grandes domnios de

    perturbao: social, comportamental e comunicacional(American Psychiatric Association,

    2013)

    Neste agrupamento existem duas unidades de ensino estruturado, que do resposta aos

    alunos autistas. Uma para os alunos at ao primeiro ciclo e outra que d resposta aos alunos a

    partir do segundo ciclo. Estes alunos esto integrados em turmas, em algumas disciplinas,

    mas na sua grande maioria permanecem nas unidades, onde desenvolvem atividades

    adequadas s suas limitaes. Assim, so nestas unidades que os alunos recebem informao

    clara e objetiva das rotinas; tm um ambiente calmo e previsvel; a sua sensibilidade aos

    estmulos sensoriais atendida; so propostas tarefas dirias que o aluno capaz de realizar;

    promovida a autonomia.

    Existem ainda crianas com sndrome de Down que frequentam o agrupamento e que

    esto inseridas nas suas turmas, beneficiando do grupo da educao especial.

    Neste agrupamento, cerca de 5% dos alunos so portadores de uma ou mais deficincias

    cumulativas. (Documento Caracterizador do AEM, 2012, p. 13) Por todas estas problemticas

    h a necessidade de articular com as instituies externas escola, que do apoio s vrias

    deficincias dos alunos do agrupamento.

    Na freguesia de Marrazes encontram-se sedeadas algumas instituies que procuram dar

    resposta a crianas e jovens com NEE, sendo elas a Cooperativa de Ensino e Reabilitao de

    Crianas Inadaptadas de Leiria CERCILEI., Os Malmequeres e a Associao Portuguesa

    de Paralisia Cerebral de Leiria APPC Leiria. (PEAEM, 2009/2012, p. 12-13).

    3. O Servio Social no TEIP uma proposta de interveno social no AEM

    A equipa TEIP na sua maioria do quadro do agrupamento, exceto o assistente social, o

    animador sociocultural e terapeuta da fala. Na circular n2/2007 estes profissionais so

    considerados tcnicos especializados, contratados para funes de apoio ao desenvolvimento

    dos projetos. Segundo o decreto-lei n 35/2007, se o tcnico possuir uma licenciatura que

    constitua um requisito exigido para o exerccio das tarefas a desempenhar, ser abonado

    como licenciado, no profissionalizado, pelo que a remunerao inferior caso fossem

    contratados como tcnicos superiores, ora vai contra a dignidade destes profissionais,

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xix

    corroborado pela sociloga Ana Rita Teixeira, reitera na sua interveno, no VII Congresso

    Portugus de Sociologia, que refere que os tcnicos nas escolas so os elos de ligao ao

    exterior das mesmas. A capacidade propositiva destes profissionais e a autonomia que lhes

    devia ser reconhecida -lhes cada vez mais negada, por via da tendncia que se tem

    acentuado nos ltimos anos, com polticas sociais que no vo ao encontro das necessidades

    das populaes, aqui entendida populao escolar.

    Tal como Faleiros refere, o assistente social enfrenta constrangimentos ao exerccio da sua

    atividade profissional por fora das polticas sociais. (1996, p.21). Esta diminuio de

    autonomia materializa-se na administrao de medidas gerais, podendo a atividade

    profissional sustentar-se por fora do direito dos utentes e respetiva defesa. Intervir na escola

    da mesma forma como se intervm noutras reas, com as mesmas metodologias, muito

    redutor. Uma prtica descontextualizada terica e politicamente do territrio, leva

    reproduo de respostas institudas e que em nada contribuem para a reduo das

    desigualdades. O TEIP prova disso, visto que foi esta a aposta dos governos, que

    implementaram este tipo de projetos educativos localizados, com o verdadeiro intuito de

    rentabilizar os recursos humanos existentes, veja-se o caso dos professores e psiclogos j do

    quadro e incluir nestes territrios alguns tcnicos em condies precrias.

    Para alm do constrangimento dos tcnicos no pertencerem aos quadros, junta-se o

    facto de os contratos iniciarem por volta de meados do ms de outubro e terminam a 31 de

    agosto. Todos os anos aberto concurso, onde pedido aos candidatos um porteflio

    profissional e aps anlise do mesmo, h uma seriao dos candidatos e os cinco primeiros

    so sujeitos a entrevista com a equipa TEIP, no havendo qualquer tipo de possibilidade de

    haver uma continuidade do tcnico, ano aps ano, o que traz grave prejuzo para a populao

    escolar e para os projetos iniciados,visto que no existe um trabalho contnuo.

    Esta situao faz com que os tcnicos sejam contratos j a meio do primeiro perodo, o

    que traz muitos transtornos, nomeadamente, os novos professores no tomarem conhecimento

    dos recursos que a escola oferece tanto a alunos, como famlias e funcionrios, o que

    compromete o desenrolar da resoluo das situaes problemticas.

    Uma outra situao prende-se com a sinalizao dos alunos. Enquanto o tcnico no

    contratado a maioria das situaes fica em suspenso at chegada do mesmo, o que por vezes

    leva ao comprometimento das avaliaes do aluno no primeiro perodo. Isto porque quando a

    situao comunicada ao assistente social este tem de fazer uma avaliao da situao,

    diagnstico e delineao do plano de ao e lev-lo a conselho de turma, para ser aprovado,

    pelo que a proposta de interveno surgir no final do primeiro perodo ou seja, apenas ser

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xx

    implementada no segundo perodo o que por vezes pode no ser suficiente, visto que a

    interveno dever ser anual.

    Outra questo relevante a comunicao com o exterior, no existindo este elo de

    ligao os servios externos, que sero posteriormente mencionados, tm dificuldade em

    obter informaes, concertar intervenes, visto que na ausncia do tcnico tero que

    primeiro identificar qual a turma em que o aluno est integrado, depois identificar qual o

    diretor de turma desse ano, para poder obter informaes e poder projetar uma interveno

    adequada. Traz ainda outro problema, que o professor apenas vai fazer uma anlise escolar,

    pelo que o trabalho vai ter que ser todo feito pelas instituies externas, o que vai prolongar

    no tempo a interveno, que por vezes no produz os resultados pretendidos.

    Quando o assistente social assume as suas funes torna-se necessrio a divulgao da

    sua existncia, uma vez que o pessoal docente da escola sede fica imediatamente a saber que

    dispe desse recurso, mas toda a restante populao escolar pela distncia que tem da escola

    sede no toma conhecimento, neste sentido enviado um e-mail institucional a toda a

    comunidade escolar a dar conta da existncia deste recurso, onde se localiza quem est

    disponvel para atender, horrio e funes. Por norma, no segundo perodo so agendadas

    sesses com o pessoal docente do agrupamento para que possam conhecer a assistente social

    pessoalmente, onde tm tambm uma sesso de esclarecimentos e onde tm espao para

    darem sugestes de atividades a desenvolver pela escola que envolvam tambm o assistente

    social. So ainda explicados os trmites da sinalizao e da resposta situao problemtica.

    Existem estudos nesta rea que incentivam esta divulgao do servio, no incio do ano letivo

    e que aqui apenas realizado posteriori.

    certo que durante anos os professores tiveram que tomar decises que tentassem

    resolver as situaes, mas neste momento reconhecem que a sua interveno fica aqum do

    pretendido, sendo apenas uma interveno paliativa, no surtindo o efeito a longo prazo que

    seria desejvel, da atriburem um grau de importncia elevado ao assistente social.

    Uma outra situao para a qual os supervisores do programa tm sido alertados tem sido

    o fato dos tcnicos para alm de serem contratos todos os anos, no existir uma poltica de

    continuidade ou seja no se salvaguardam os tcnicos que vo acumulando experincia e

    conhecimento num determinado territrio, que no de todo igual de territrio para territrio.

    O trabalho do servio social requer um conhecimento da realidade nas suas diversas

    dimenses, como a anlise do territrio j anteriormente referido de Marrazes, seja social,

    poltica, cultural, entre outras, prvia ao trabalho, conhecimento no s da escola, mas de

    todo o meio envolvente para o desenvolvimento da ao, instituies, entidades comas quais

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxi

    se articulam e com quem tem parcerias,. Tudo isto leva tempo a construir, o que no

    possvel com a instabilidade de tcnicos. Apesar de todos os alertas e passados tantos anos de

    projetos TEIP nada foi modificado quanto a esta situao, visto que no com projetos e sim

    com polticas, que problemas estruturais, que inclusivamente se tm vindo a acentuar, tero

    uma resposta mais cabal.

    As situaes que ficam assinaladas no final do ano letivo, que necessitavam ser

    trabalhadas logo no incio no o so e ficam a aguardar a nova equipa. Os tcnicos tm

    tambm esta funo, os professores vo mudando, mas o tcnico acompanha o aluno desde o

    incio do seu percurso escolar, logo que seja identificada uma situao que leve interveno

    dos servios, pelo que deviam ser uma constante no percurso do aluno.

    Neste GAAF a assistente social tem como funes o acompanhamento individualizado e

    em grupo, aos alunos, atendimento ao encarregado de educao/famlia. So dadas

    informaes e apoio famlia em todas as situaes, seja atravs de encaminhamentos para

    entidades externas seja na resoluo de situaes internas. So feitas visitas domicilirias

    sempre que se consideram pertinentes a verificao de indicadores. Um ponto fundamental

    passa pelo trabalho concertado com diretores de turma, professores, educadores, professores

    de educao especial, psiclogo, animadora sociocultural, terapeuta da fala - servios

    internos. Em conjunto formam uma equipa multidisciplinar que junta os vrios saberes

    tericos que contribuem para encontrar solues feitas medida das necessidades dos alunos.

    Ao assistente social cabe ainda prestar um servio de assessoria tcnica, visto que existem

    sempre dvidas em relao legislao que diz respeito a crianas e jovens, s respostas que

    existem para cada situao, quanto aos trmites dos processos, enfim, todo o conhecimento

    que um tcnico tem e que apenas diz respeito sua prtica, da desenvolver solues que vo

    ao encontro dos problemas existentes.

    Tal como refere Iamamoto (2004), as bases terico-metodolgicas so recursos que o

    assistente social deve ter em mente quando exerce a sua interveno, que contribuem para a

    leitura da realidade

    Externamente, so feitos encaminhamentos para entidades de apoio social e tcnico-

    profissional. feita a ponte entre a Comunidade Escolar e os servios da comunidade, tal

    como Segurana Social, nomeadamente com as equipas de Rendimento Social de Insero

    que solicitam informaes vrias e auxlio em vrias vertentes, tais como encontrar

    estratgias para a permanncia da criana ou jovem no sistema educativo; a equipa que d

    apoio aos Tribunais, que solicita parecer e diagnstico da situao de alunos que frequentam

    o agrupamento, nomeadamente quando o Tribunal quer aplicar uma medida ou mesmo fazer

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxii

    reviso da mesma; a Direo Geral de Reinsero Social, quando correm processos no mbito

    tutelar educativo, solicita parecer do assistente social, para que seja proposta medida tutelar

    educativa, bem como em muitas situaes essas medidas so executadas na prpria escola. J

    a Comisso de Proteo de Crianas e Jovens, provavelmente a instituio que mais contato

    mantm com a assistente social, que em Maio de 2015 tem 148 processos da rea de

    abrangncia do agrupamento. A comunicao quase diria, tendo sido s no presente ano

    letivo produzidos cerca de 125 relatrio/informaes para esta entidade. Existem contatos

    informais e reunies para concertar intervenes junto do aluno/famlia; com o Ministrio

    Pblico, no mbito de processos cveis ou tutelares educativos e Instituies Particulares de

    Solidariedade Social que podem ser parceiros na resoluo de situaes de por exemplo no

    fornecimento de alimentos, refeies, roupa entre outros. Estas situaes embora no se

    tenham vindo a agravar, so desde o incio do TEIP, neste agrupamento, uma constante,

    coincidiu com a instalao da crise no nosso pas, o que tornou estas famlias vulnerveis a

    toda a poltica de austeridade. Estas carncias advm em muito pela falta de emprego ou

    empregos precrios dos pais dos alunos do agrupamento.

    Esta cooperao essencial, no s para abrir o agrupamento comunidade bem como

    na observncia do princpio da interveno mnima consagrada na lei 147/99 de 1 de

    Setembro de 2009, de proteo de crianas e jovens em perigo, no artigo 4, alnea d):

    Interveno mnima a interveno deve ser exercida exclusivamente pelas entidades e

    instituies cuja ao seja indispensvel efetiva promoo dos direitos e proteo da

    criana e do jovem em perigo;. De salvaguardar que houve sempre cumprimento e zelo pela

    restante Lei de enquadramento que diz respeito proteo de crianas e jovens.

    A assistente social promove e desenvolve aes de divulgao em vrias reas de

    interesse para a comunidade escolar. Cabe ainda a este profissional encontrar solues e

    prop-las em conselho de turma, para que sejam executadas e surtam efeitos para os alunos.

    No final de junho de 2015, o Servio Social contabiliza, no total das escolas do

    agrupamento, 83 alunos sinalizados com processo social aberto neste ano letivo, de um total

    de 140 processos ativos no GAAF. Este ano letivo foram arquivados 128 processos, por

    variadas razes, nomeadamente, foram arquivados por j no frequentarem nenhum

    estabelecimento de ensino pertencente ao AEM, por ausncia de risco, porque a situao foi

    solucionada. Existe ainda algumas situaes em que no foi necessrio abrir processo, visto

    que foram apenas intervenes pontuais e no foram includos nesta contabilizao

    processual.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxiii

    Os principais motivos de sinalizao relacionaram-se com absentismo escolar, abandono

    escolar, aproveitamento escolar, problemas de comportamento, debilidade socioeconmicas e

    situaes familiares, tais como divrcio, conflitos parentais, desemprego, fome, famlias

    separadas decorrentes de emigrao por fora do desemprego; na maioria dos casos

    referenciados. Relativamente aos 83 alunos assinalados, foram aplicadas diversas medidas de

    interveno, de modo a fazer face s necessidades de cada famlia. As medidas de

    interveno mais utilizadas consistiram em acompanhamento pontual em ptio,

    acompanhamentos individualizados ao aluno, atendimentos famlia, encaminhamento e

    articulao com outras entidades de apoio social, propostas de interveno junto do jovem

    e/ou famlia.

    Esta interveno consiste em primeiro lugar, no pedido de interveno, posteriormente

    feito o diagnstico, que feito atravs da recolha de informao junto de vrios atores

    intervenientes, sejam eles familiares ou institucionais, depois de um diagnstico feito

    necessrio um plano de interveno, este pressupe o acompanhamento sistmico e contnuo

    do aluno, bem como contactos regulares com o professor responsvel, encarregado de

    educao ou outros tcnicos que intervm, por fim, no final do ano letivo feita uma

    avaliao. Existem situaes que so arquivados simplesmente porque o aluno mudou de

    estabelecimento de educao ou porque a problemtica no subsistiu.

    A assistente social est incumbida de representar o agrupamento na Rede Social de

    Leiria, efetuando contactos com a responsvel da Segurana Social.

    Auxilia nas atividades realizadas pela animadora cultural, designadamente preparao e

    execuo do dia aberto, projeto C.A.C.E faz (Cultura, Animao, Cidadania, Educao)

    e acompanhamento das turmas nas atividades realizadas no exterior, tanto na interrupo

    letiva do Natal, Pscoa e de Vero, onde so realizadas visitas culturais, que satisfazem a

    curiosidade dos alunos, bem como consolida conhecimentos, so feitos workshops,

    socializa-se , aprendem-se regras, brinca-se e aprendem-se valores como a compreenso,

    respeito, pacincia, entre outros. uma altura que a assistente social interage com os alunos,

    sem estarem focados em problemas e sim em situaes agradveis, o que leva a uma relao

    de empatia e proximidade muito maior do que apenas atendendo os alunos em gabinete, um

    ambiente mais formal.

    Coopera nas atividades realizadas no mbito do SPO, nomeadamente no

    acompanhamento em visitas de estudo Futurlia, com os alunos do 9 Ano e CEFs, que

    pretende mostrar uma grande parte da oferta formativa do territrio nacional e algum

    internacional. Os alunos apreciam muito esta ao, visto que tambm lhes possibilitado

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxiv

    experimentar atividades profissionais, que de outra forma, nunca poderiam ter tido contato.

    Enquanto tcnicos, uma mais-valia, primeiro porque depois temos o feed-back dos alunos,

    no que mais apreciaram, depois atualizamos sempre as ofertas que existem para podermos

    auxiliar os alunos no seu percurso educativo e profissional. ainda uma mais-valia porque

    tambm podemos trazer para a nossa atividade profissional informaes que tambm podem

    ser teis para as famlias dos nossos alunos, que se encontram em situao de desemprego e

    que muitas vezes tambm elas tm baixos nveis de escolarizao.

    A tcnica participa ainda no acompanhamento das turmas vencedoras ao kartdromo de

    Leiria, no mbito do projeto Top Turmas, que visa premiar as turmas com melhor

    desempenho escolar, bem como as que tm bom comportamento. uma avaliao feita pelos

    professores e funcionrios da escola ao longo de todo o ano letivo.

    Existe ainda em alguns casos que o SPO e GAAF tm interveno consertada,

    nomeadamente quando necessrio elaborar PEFs (Percurso especfico de formao), que

    consiste na elaborao de relatrios que tm vrios pontos pr-definidos pela segurana social

    e que ser esta a aprovar. Estes planos para alm de informaes do aluno, da famlia, da

    situao escolar, entre outros, tambm tm que conter o plano de estudos do aluno, desse

    momento em diante ou seja, necessrio identificar quais as disciplinas em que o aluno vai

    frequentar e as que vai deixar de frequentar. Pode-se dizer que um plano feito medida da

    especificidade de cada aluno.

    Estes dois servios tm que articular a sua interveno, visto que a populao cruza-se e

    muitas vezes necessria a interveno de ambos, pelo que comum haver atendimentos

    conjuntos, bem como definio de aes concertadas.

    Estas intervenes podem ser de carcter pontual, como por exemplo dar informaes

    famlia da forma como tem que ir pedir o passe gratuito para o aluno, como tm que fazer

    para ter escalo da segurana social ou de caracter permanente, tal como a tcnica equacionar

    uma determinada ao que v ao encontro de um determinado problema que se tem

    prolongado no tempo e que toca a muitos alunos, ter de produzir relatrio para justificar a

    alterao de um escalo ou mesmo o fornecimento de reforos alimentares de manh e tarde.

    Cabe ainda ao servio social solicitar reforos alimentares a alunos que esto a passar por

    dificuldades pontuais e as suas necessidades bsicas de alimentao no esto a ser

    satisfeitas, com a consequente perda de rendimentos ao nvel escolar. Estes reforos podem

    ser fornecidos pelo agrupamento, solicitados Cmara Municipal de Leiria ou mesmo

    associaes, quando o caso do primeiro ciclo ou nos jardins-de-infncia. Por vezes

    necessrio a alterao do escalo e isso solicitado pelo servio social direo do

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxv

    agrupamento ou diviso dos servios sociais da Cmara Municipal, que solicita parecer

    tcnico ou ainda direo da IPSS que gere determinado equipamento, tambm mediante um

    parecer tcnico. Estas situaes ocorrem devido aos efeitos das polticas de austeridade, as

    famlias tm tido dificuldades em conseguirem honrar os seus compromissos ou porque

    ficaram desempregadas ou porque tm emprego precrio ou sazonal ou mesmo porque

    embora trabalhem a entidade empregadora nem sempre paga e quando paga no

    atempadamente.

    Os professores do agrupamento muitas vezes solicitam a interveno nos atendimentos

    com as famlias, o que tem sido uma mais-valia, visto que esta apenas vem escola de uma

    s vez e no momento possvel dar todas as informaes e prestar esclarecimentos no

    momento, no prolongando a interveno do GAAF mais do que o necessrio. So de

    imediato equacionadas vrias sugestes e as partes comprometem-se atravs de um acordo

    assinado por todos, qual a responsabilidade de cada interveniente e quais as aes que o aluno

    tem que realizar, que consideramos pertinentes para a resoluo de determinado problema.

    Finalizando, o assistente social que desenvolve a sua interveno numa escola deve ser

    antes de mais um elemento que garante os direitos dos alunos, sejam eles direitos sociais,

    direito educao, sade e todos os direitos elencados na Constituio da Repblica

    Portuguesa.

    A interveno do assistente social numa escola deveria ir muito mais longe do que um

    mero projeto de interveno, deveria ser um profissional permanente na escola, para poder

    identificar problemas e propor solues, com resultados muito mais duradouros.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxvi

    Concluso

    Esta dissertao surge na sequncia de tornar a ao do assistente social em escolas que

    beneficiam do programa Territrio Escolar de Interveno Prioritria, nomeadamente no

    AEM, mais clara, sendo uma proposta de atuao em territrios semelhantes.

    importante refletir sobre a prtica social em escolas em Portugal, uma vez que atravs

    desta reflexo que se tiram concluses acerca da contribuio do Servio Social, na

    prossecuo dos objetivos definidos centralmente e que so colocados em prtica por todo o

    pas, para que surjam resultados positivos a longo prazo. Neste sentido, a contratao de

    assistentes sociais foi considerada relevante para se atingirem as metas propostas pelo TEIP.

    Embora o programa revele pontos positivos, os nmeros do insucesso escolar no esto a

    diminuir, pelo que se considera que no um programa deste gnero que far a diferena.

    Estes objetivos apenas sero alcanadas quando se projetarem polticas a longo prazo, que

    deem a oportunidade a estes profissionais de intervirem de forma adequada s problemticas,

    que surgem em contexto escolar, mas que muitas vezes necessitam de uma interveno muito

    mais alm do que o meramente escolar. Refira-se, nomeadamente, as situaes que se revelam

    na escola, por ser o local onde as crianas e jovens permanecem a maior parte do seu tempo,

    mas cuja origem proveniente do exterior, por exemplo, questes de desemprego dos pais,

    emigrao, entre outras.

    As escolas viram neste programa a oportunidade de contratao de assistentes sociais que

    at essa data no era possvel de contratar, embora j fosse uma necessidade sentida, visto que,

    por norma, so escolas que se encontram geograficamente em territrio cuja populao de

    meio economicamente mais desfavorecido: de bairros sociais, com famlias que vivem de

    apoios sociais, pelo que a necessidade de um assistente social na escola j fazia sentido. Com a

    implementao dos SPO essa realidade nunca foi concretizada, pelo que, logo que foi possvel,

    os assistentes sociais foram resgatados para fazer face a mltiplas problemticas, no s s que

    o programa se prope.

    Assim, o assistente social surge nas escolas com o intuito de desenvolver aes que

    cumpram com os objetivos do TEIP, mas ao mesmo tempo so redirecionados para fazer face

    a todas as situaes problemticas com que os alunos e as escolas se deparam no dia-a-dia.

    Chega-se concluso que, para que existam resultados positivos na escola, h outras

    dimenses que tm que ser trabalhadas e que esse trabalho desenvolvido pelo assistente

    social, em conjunto com os diferentes atores que compem a escola, seja professores, direo,

    famlia, aluno, a associao de pais e instituies externas.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxvii

    O Servio Social escolar assume-se como um intermedirio entre a escola e todas as

    instituies externas, sejam elas formais ou informais, e a comunidade escolar. Revela-se

    ainda um mediador em situaes de conflito. Paralelamente, tambm assume uma vertente

    educativa, que pretende dotar os alunos de uma cidadania ativa.

    A interveno do Servio Social no pode ser casual, tem que haver uma interveno

    contnua e estruturada. As problemticas no so sazonais, so contnuas, pelo que a falta de

    recursos humanos permanentes identificada como um constrangimento, uma vez que os que

    existem so contratados, nunca no incio do ano letivo e no garantido que sejam sempre os

    mesmos tcnicos, o que traz dificuldades ao nvel da ao, que se repercutem nos resultados

    escolares dos alunos. Pode-se ainda identificar como um constrangimento o excesso de alunos

    e famlias que necessitam de interveno, pelo que so priorizados por gravidade e urgncia de

    interveno, persistindo a interveno por solicitao e individual.

    Foi feito um percurso positivo nestes seis anos, em que o agrupamento tem assistente

    social, nomeadamente, pode-se referir que a interveno deste profissional cada vez mais

    solicitada. Existem mais situaes a serem comunicadas e acompanhadas. Internamente, os

    professores solicitam e colaboram com a tcnica, existindo uma interveno articulada, mas

    no se pode dizer que tenha sido um caminho feito de um dia para o outro. Ocorreu porque ao

    longo dos anos o trabalho do tcnico tem sido relevante na adequao de propostas a

    situaes-problema e tem surtido efeitos positivos no percurso escolar dos alunos. comum

    haver uma palavra de apreo por parte dos professores, tenha ela um desfecho positivo ou

    negativo, um sinal de que a interveno apreciada e de que existe uma relao de

    confiana e de reconhecimento por parte de todos.

    Externamente, as instituies recorrem, na sua grande maioria, a este profissional, pelo

    que contatado por cerca de dez servios que intervm na rea da infncia e juventude, com

    especial relevncia da CPCJ de Leiria e outras, com quem a articulao muito estreita. Estes

    servios solicitam a colaborao do assistente social para solicitarem parecer tcnico,

    produo de relatrios, bem como acompanhamento do aluno quando tem medidas aplicadas,

    no mbito do cvel ou mesmo tutelar educativo.

    Concluindo, embora o AEM no seja de todo representativo da realidade nacional,

    considero que ser uma referncia para que se faa uma anlise da prtica desenvolvida nas

    escolas, que possa contribuir para a construo de uma prtica do Servio Social escolar

    comum a todos os assistentes sociais.

    A interveno do assistente social numa escola vai ao encontro do que so os objetivos

    do TEIP, mas tambm uma possibilidade de intervir com as crianas e suas famlias,

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxviii

    desenvolvendo competncias, contribuindo para melhoria das condies de vida e

    promovendo mais e melhor incluso social. Neste sentido, o desejvel seria a existncia e

    permanncia efetiva deste profissional nas escolas.

    A no existncia de assistentes sociais a tempo inteiro e em permanncia nas escolas traz

    consequncias negativas ao percurso escolar do aluno, uma vez que este profissional que

    est capacitado para analisar a realidade de cada aluno, por forma a fazer propostas de

    interveno que faam com que sejam eliminados os obstculos ao sucesso escolar

    individual.

    Com as polticas neoliberais que tm sido levadas a cabo nos ltimos anos, teme-se que

    estas, cada vez mais, se repercutam na escola, nas crianas e jovens, que no esto imunes a

    toda a crise que se instalou na Europa. As medidas tomadas tiveram impacto na vida das

    famlias, traduzindo-se em baixa de rendimentos ou mesmo na ausncia deles, existe fome e

    uma criana com fome no aprende. Os alunos demonstram preocupao em relao

    situao laboral dos pais, muitos deles tiveram que emigrar e deixar os filhos entregues aos

    avs. Ora, isto so s exemplos do que se passa e a que o programa TEIP no responde. A

    resposta por parte dos profissionais assume formas muito assistencialistas de resoluo de

    situaes que necessitavam de uma interveno muito mais sistmica.

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxix

    Bibliografia

    Alvares, M; Estevo, P. s/d. Do que falamos quando falamos de abandono escolar, Centro de

    Investigao e Estudos de Sociologia.

    Afonso, J. 2006. A Evoluo Do Processo De Constituio Dos Agrupamentos: Os Seus

    Benefcios E O Grau De Participao Da Comunidade Educativa, Porto

    CANRIO, Alves e Rolo, 2001 Os TEIP, O Projeto educativo e a emergncia de perfis de

    territrio Helena Barbieri, 2003

    CML Projecto Municipal de Leiria, 2005

    Faleiros, V. 1996, Servio Social: questes presentes para o Futuro, Servio Social e

    Sociedade, n 50-anoXVII, Abril, S. Paulo: Cortez

    FELIPE, A. Nos 35 anos de constituio de 1976, Lisboa, 2 de abril de 2011, in

    http://blogs.parlamento.pt/apontamentos/archive/2001-04-03/134657.aspx.

    Ferreira, I. e Teixeira, A. 2010, Territrios Educativos de Interveno Prioritria Sociologia:

    Revista do Departamento de Sociologia da FLUP, Vol. XX, pg. 331-350

    Iamamoto, M. 2004 O servio Social na contemporaneidade: Trabalho e formao

    profissional, So Paulo: Editora Cortez, 7 edio

    Ministrio Da Educao Departamento da Educao Bsica (1997). Orientaes

    Curriculares para a Educao Pr-Escolar. Lisboa. Departamento da Educao Bsica.

    Projecto educativo do agrupamento de escolas de Marrazes, 2009-2012.

    Projecto TEIP 2 Agrupamento de Escolas de Marrazes, 2009/2011

    Semblano, M., 2003, Servio Social Escolar, anos 60 e 70, Coimbra

    Simo, V., s/d, II: Neoliberalismo e as polticas de educao e formao profissional em

    Portugal (1980-1991) Comunicao no seminrio Neoliberalismo: Histria, poltica,

    Economia

    Silva, A. 2009. Teatro debate como fator protetor: estratgia no formal para a preveno da

    violncia nas escolas. Interaes, n13, pp. 289-302. (Revista da Escola Superior de

    Educao-Santarm). Acessvel em http://nonio.eses.pt/interaccoes

    Varela, R. 2013. Rutura e pacto Social em Portugal: um olhar sobre as crises econmicas,

    conflitos polticos e direitos sociais em Portugal 1973-1975, 1981-1986

    Legislao

    Decreto-Lei n 286/89, de 29 de agosto

    Decreto-Lei n. 115-A/98 de 4 de Maio

    http://blogs.parlamento.pt/apontamentos/archive/2001-04-03/134657.aspxhttp://nonio.eses.pt/interaccoes

  • O AEM e a interveno do TEIP: o trabalho de um Assistente Social

    xxx

    Lei 159/99, de 14 de setembro

    Decreto-Lei 7/2003, de 15 de janeiro

    Decreto-Lei n. 51/2009 de 27 de Fevereiro

    Despacho 11861/2013, de 12 de setembro

    Decreto-lei n 35/2007, de 15 de fevereiro

    Lei 147/99 de 1 de Setembro de 2009

    SITES CONSULTADOS

    http://www.dgidc.min-edu.pt/teip

    http://observatorio.nerlei.pt/

    http://infohabitar.blogspot.pt/

    http://www.dgidc.min-edu.pt/teiphttp://observatorio.nerlei.pt/http://infohabitar.blogspot.pt/