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O ARTIGO PROPAGANDA SOCIAL NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO Leonice Fancelli de Souza * AGRADECIMENTO À Dra. Aparecida de Fátima Peres pela orientação, pela amizade e pelo carinho. _____________________________ * Graduada em Letras Anglo-Português pelas Faculdades Integradas de Marilia-SP. e Pós-graduada pela Universidade Salgado de Oliveira - Niterói- RJ. e-mail: [email protected]

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O ARTIGO PROPAGANDA SOCIAL NA EDUCAÇÃO

E FORMAÇÃO DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO

Leonice Fancelli de Souza *

AGRADECIMENTO

À Dra. Aparecida de Fátima Peres pela

orientação, pela amizade e pelo carinho.

_____________________________ * Graduada em Letras Anglo-Português pelas Faculdades Integradas de Marilia-SP. e Pós-graduada

pela Universidade Salgado de Oliveira - Niterói- RJ. e-mail: [email protected]

Resumo. Este artigo tem como objetivo apresentar uma prática de leitura – verbal e imagética -, análise linguística e produção textual do gênero discursivo propaganda social, desenvolvidas na terceira série do ensino médio do Colégio Estadual Cianorte, nas aulas de língua portuguesa, tendo como objeto de estudo alguns textos do gênero em questão. Foram exploradas propagandas sociais com os temas: tabagismo, doenças sexualmente transmissíveis, violência no trânsito, dengue, inclusão, etc. Interdisciplinarmente, a proposta foi complementada com pesquisas que subsidiaram a sua finalização, ou seja, a produção de textos – cartazes em formato de “banner”, os quais foram expostos à comunidade escolar. Os temas abordados nos trabalhos dos alunos foram: doenças sexualmente transmissíveis, combate ao alcoolismo, violência no trânsito, dengue, aquecimento global e preservação do meio ambiente. O trabalho apresentou o resultado esperado pois sensibilizou o educando, mobilizando-o para a conscientização sobre os problemas sociais e a produção de texto obteve um bom nível de linguagem, atendendo a proposta. Palavras-chave. Propaganda social; leitura crítica; comportamento; cidadania.

Abstract. This paper has as aim to present a reading pratice- verbal and imagetic -, linguistic analyses and textual production of discursive gender social propaganda, developed with students of the final year of High School in “Colégio Estadual Cianorte”, during Portuguese Language classes, having as focus of study some texts of the gender highlighted previously. It was explored social propagandas with the following themes: tabagism, transmissible sexual diseases, driving violence, dengue fever, inclusion, etc. In the interdisciplinely field, this study was complemented with researches which subsidized its conclusion, that is, the production of texts – posters made in the form of banner which were displayed to students. The themes focused in the students’ banners were: transmissible sexual diseases, alcoholism, driving violence, dengue fever, global warming and environmental preservation. The displayed presented the expected results because it touched the students’ sensibility, mobilizing them into a conscientization about social problems and the textual production has gotten a good level of language, reaching the aim of the themes focused. Key words. Social propaganda; reflexive readind; behaviour; citizenship.

1. Introdução

Durante algumas décadas os professores de língua portuguesa vinham

trabalhando o ensino de redação privilegiando as modalidades escritas: narração,

descrição, dissertação, focando apenas nas características linguísticas e, muitas

vezes, o texto era usado também para se ensinar a gramática.

Documentos oficiais como os PCN (BRASIL, 1998) e os PCNEM (BRASIL,

1999), Parâmetros Curriculares Nacionais para os Ensinos Fundamental e Médio,

respectivamente, passaram a sugerir uma nova proposta para o ensino de leitura e

produção de texto, fundamentada nos gêneros textuais, ou seja, uma perspectiva

discursiva baseada em um trabalho pedagógico com a linguagem.

Pautados nas propostas de reforma curricular para o Ensino Médio,

propusemos mudanças na metodologia das aulas de Língua Portuguesa como forma

de enfrentar os desafios. Tendo como princípio a formação do aluno, procuramos

explorar os conhecimentos básicos somando-se às experiências e à criatividade,

pois, de acordo com os PCNEM,

Propõe-se, no nível de Ensino Médio, a formação geral, em oposição à

formação específica, o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar

informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar,

formular, ao invés de simples exercício de memorização (BRASIL, 1999, p.16)

Portanto, para compreender bem as propostas dos PCNEM de Língua

Portuguesa e para que os professores possam aplicá-las, é necessário discutir com

mais detalhes a noção do gênero discursivo, proposta por Bakhtin.

Uma atividade discursiva é feita por meio da linguagem de maneira que os

interlocutores se comuniquem verbalmente a partir de sua finalidade e dos

conhecimentos que acreditam que possuam sobre o assunto. Na maioria da vezes,

os textos são organizados conforme determinadas intenções comunicativas a que

chamamos de gêneros. Assim, o conceito bakhtiniano de gênero discursivo “refere-

se a formas típicas de enunciados – falados ou escritos – que se realizam em

condições e com finalidades específicas nas diferentes situações de interação

social.” (LOPES-ROSSI, 2002, p.25).

Com o intuito de enriquecer e instrumentalizar as aulas de língua portuguesa,

foi utilizado o material didático-pedagógico Sequência Didática, que consiste num

conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa

por etapa, organizadas de acordo com os objetivos que o professor quer alcançar

para a aprendizagem de seus alunos. Além das atividades de aprendizagem, a

seqüência didática deve ser também instrumento de avaliação.

Com esse recurso, tivemos o propósito de propiciar ao aluno aprofundamento

dos conhecimentos como meta para continuar aprendendo e aprimorando-se como

pessoa humana, ao mesmo tempo que contribuímos com sua formação ética e com

o seu desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. As

atividades trouxeram propostas interativas com procedimento de estudo de

dimensão dialógica que possibilitaram a construção de um conhecimento

significativo, pois “A interação é o que faz com que a linguagem seja comunicativa.”

(BRASIL, 1999, p. 139).

Para a elaboração do material acima citado, foram explorados textos verbais

e imagéticos que, por dialogarem entre si, conduziram o aluno ao entendimento da

propaganda social e trouxeram resultados positivos.

Segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação

Básica,

“A ação pedagógica referente à linguagem precisa pautar-se na interlocução,

em atividades planejadas que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral

e escrita, bem como a reflexão e o uso da linguagem em diferentes situações”

(PARANÁ, 2006, p. 21),

Portanto, o objetivo deste artigo foi desenvolver uma proposta de trabalho

para a terceira série do ensino médio do Colégio Estadual Cianorte, ancorada nas

teorias bakhtinianas do gênero textual e na concepção do letramento, para orientar

os alunos no sentido de torná-los leitores e produtores proficientes de textos. Trata-

se de um trabalho de conclusão do curso PDE (Programa de Desenvolvimento da

Educação), turma 2008.

Quanto à organização deste artigo, inicialmente apresentamos a

fundamentação teórica que sustenta a nossa prática, em seguida, a metodologia

aplicada no desenvolvimento das atividades e os seus resultados e, finalmente,

nossas considerações finais.

2. Fundamentação Teórica

“O homem pode ser conhecido pelos textos que produz”. (BRASIL, 1999, p.

142), porém muitas vezes não somos compreendidos naquilo que dizemos por conta

das múltiplas interpretações que um texto pode apresentar. A ambiguidade presente

na linguagem é um outro fator que interfere na interpretação. Isso pode ser

intencional é o caso da propaganda, mas pode também causar certo desconforto e

até prejuízo é o caso dos juristas diante das leis. Daí o pensamento de que quanto

mais dominamos a língua, mais eficácia teremos na comunicação estabelecida, já

que “Compreender a língua é saber avaliar e interpretar o ato interlocutivo, julgar,

tomar uma posição consciente e responsável pelo que se fala/escreve.” (BRASIL,

1999, p. 143)

De acordo com os PCN, ensinar língua significa ensinar diferentes gêneros

textuais. Mas, afinal, o que são gêneros textuais? Existem diferenças entre gêneros

textuais e tipos textuais? Por que os PCN sugerem o gênero textual como

instrumento adequado para o ensino das práticas de leitura e produção de textos?

Para responder os questionamentos acima, recorremos a Marcuschi:

a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de seqüência

teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos

lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral, os tipos

textuais abrangem categorias conhecidas como: narração, argumentação,

exposição, descrição, injunção.

b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente

vaga para refletir textos materializados que encontramos em nossa vida diária

e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por

conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os

tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros

(MARCUSCHI, 2002).

Tipos textuais são definidos pela forma em que as informações são

organizadas nos textos, pela predominância das categorias gramaticais que levam o

leitor/ouvinte a compreender o texto, ou seja são definidos pelas características

linguísticas (escolha das palavras, construções gramaticais, tempos verbais,

relações lógicas) de sua composição. Assim, uma seqüência descritiva pode ser

comparada a um retrato, uma pintura, caracterizada por adjetivos; uma seqüência

narrativa pode ser comparada a um filme, caracterizada pela “evolução” dos fatos,

pela mudança de estado e pelas relações de conseqüência; já uma dissertação

caracteriza-se por analisar e interpretar fatos e dados de uma realidade, usando

para isso conceitos abstratos. Outra característica importante dos tipos textuais é

aparecer sempre em conjunto, geralmente com a predominância de um deles. Por

exemplo, um texto pode ser do tipo narrativo e apresentar muitos trechos de

descrição (descrição da personagem, do lugar, objeto, etc.) e ser classificado como

narrativo devido à predominância desse último.

Os gêneros textuais, por sua vez, são definidos pelas características de uso,

de acordo com os conteúdos, objetivos, estilo e composição característica. Desse

modo, não é o aspecto formal e estrutural da língua que vão determinar o gênero,

mas a sua natureza funcional e interativa. O gênero é, então, uma unidade de

linguagem em uso na vida real, inserida num rol comunicativo de interlocutores e

intenções, o que facilita e viabiliza o ensino nas práticas de leitura e produção de

texto.

O estudo dos gêneros textuais, muito em evidência atualmente nas questões

concernentes ao ensino de Língua Portuguesa, mostra-nos que essa teoria há muito

vem sendo defendida por estudiosos da área. Conforme Fiorin (2006, p.60), “desde

a Grécia, o Ocidente opera com a noção de gênero.” No Brasil, a partir da década de

1990, teóricos do círculo de Bakhtin propõem o estudo de Língua Portuguesa

fundamentado na teoria bakhtiniana dos gêneros. Para Bakhtin:

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são

inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em

cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso,

que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica em

determinado campo (BAKHTIN, 2003, p. 262).

Os seres humanos estabelecem uma relação sócio-comunicativa em todas as

esferas da sociedade: na escola, no trabalho, na igreja, na política, etc. Em todas

essas esferas de atividades é imprescindível a linguagem em forma de enunciados

que são determinados pelas condições específicas e pelas finalidades de cada

esfera. Esses enunciados ora se mantêm estáveis, ora mudam em função das

alterações nessas esferas de atividades. Donde a definição de gêneros como “tipos

de enunciados relativamente estáveis, caracterizados por um conteúdo temático,

uma construção composicional e um estilo. Falamos sempre por meio de gêneros no

interior de uma dada esfera de atividade.” (FIORIN, 2006, P. 61)

Por isso, gêneros não se definem por aspectos formais ou estruturais da

língua, estão ligados à natureza interativa do texto, ou seja, à sua funcionalidade, ao

seu uso e é através do desenvolvimento da competência sociocomunicativa que

aprendemos a organizar e a identificar os diferentes gêneros textuais.

Na definição de gênero foi empregado o termo relativamente estáveis, pois os

gêneros estão em constante alteração. À medida que as esferas de atividades se

desenvolvem, os gêneros se diferenciam, podem surgir novos e outros podem até

desaparecer. Por exemplo, com a criação da internet, surgiram muitos gêneros,

como o blog, o e-mail, o chat.

O trabalho com os gêneros textuais na Educação Básica enriquece e amplia o

conhecimento de língua portuguesa porque seu processo é interativo, não segue

modelos prontos e acabados e, portanto, o aluno tem a oportunidade de aprimorar a

sua competência linguística. Já o ensino de produção de texto baseado no

tradicional - explorando as tipologias narração, descrição e dissertação – mostrou-se

insuficiente. Pesquisas científicas comprovaram que uma considerável parcela de

alunos que cursavam o ensino superior não apresentavam condições básicas

necessárias para dar continuidade no estudo ou mesmo no exercício do trabalho,

quando o assunto era a produção textual.

Afirma Lopes-Rossi (2002, p. 20) que “as conclusões, de maneira geral,

mostraram um ensino comprometido por sérios problemas conceituais e

conteudísticos, pedagógicos” e que “as condições de produção de redação na

escola são consideradas inadequadas”. Isto significa que no contexto escolar os

textos são produzidos com artificialidade, porque propostos a partir de temas

artificiais, sem objetivo, apenas para o professor, que muitas vezes é um mero

“corretor de textos”. Textos dessa natureza não correspondem com a prática

sociodiscursiva de nossa sociedade requer, pois não se realizam em situações reais

de comunicação. Assim, como afirma ainda Lopes-Rossi (2002, p. 23) “considerar os

textos, para leitura ou para escrita, apenas pela perspectiva dos modos de

organização do discurso é um risco de limitá-los a fórmulas ou esquemas e

descaracterizá-los de seus propósitos enunciativos.”

Por outro lado, a nova proposta visa a um trabalho com base em uma

linguística textual inspirada na orientação sociointeracionista como prática

pedagógica voltada para um desenvolvimento mais amplo da competência

comunicativa dos alunos, ou seja, uma forma de ver a língua como algo concreto,

fruto da interação social dos participantes em situação real de comunicação.

Para entendermos bem o que se propõe atualmente, inclusive pelos PCN, é

preciso que tenhamos clara a diferença entre um ensino baseado em

narração, descrição e dissertação, por um lado, e em gêneros discursivos, por

outro.” (LOPES-ROSSI, 2002, p. 21).

Propondo um ensino de Língua Portuguesa amparado nos gêneros, o que se

espera é que o aluno, ao escrever, não o faça como mero mecanismo de

aprendizagem, mas sim que ele interaja com o meio, que ele escreva para um

suposto leitor e espere que este seja o seu interlocutor. Assim, estabelece-se uma

interconexão da linguagem, pois, como afirma Bakhtin,

Essa orientação da palavra em função do interlocutor tem uma importância

muito grande. Na realidade toda palavra comporta duas fases. Ela é

determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que

se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do

locutor e do ouvinte (BAKHTIN, 2006, p.117).

Nenhum texto deve ser escrito no vazio. Deve estar inserido em um contexto

e em um momento histórico, e, para cada situação, pressupõem-se um emissor e

um receptor, que na compreensão e interpretação do texto, interajam e ampliem o

seu significado. Segundo Orlandi (1988, p. 43), “as leituras têm suas histórias” e

“uma leitura não é possível e/ou razoável em si, mas em relação às suas histórias.”

Os gêneros textuais são um modo de se entender a realidade. Através deles,

podem-se obter novos gêneros, mas que somente ganham sentido quando há

correlação entre forma e atividade e são originados da necessidade de se utilizar a

linguagem nas atividades humanas. A cada esfera de ação específica pode

ocasionar o aparecimento de certos tipos de enunciados que, na interação, motiva

outros enunciados. Segundo Fiorin (2006, p. 61), “O gênero estabelece, pois, uma

interconexão da linguagem com a vida social.”

Dessa forma, com o objetivo de levar para a sala de aula um didática

diferenciada que atenda as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, propôs-se

um trabalho de intervenção pedagógica, fundamentado em Marcondes at al (2003)

e na teoria de J. B. Pinho (1990), enfocando a propaganda social como forma de

aproximar o aluno da problemática cotidiana e entender a importância da sua

participação no exercício da cidadania, pois, como afirma Marcondes,

... ler textos que circulam socialmente é também agir como cidadão, ou seja, é

responder a perguntas que devem ser feitas pelos leitores, buscar respostas

para elas, isto é, interagir socialmente, pois a leitura não pára na esfera da

compreensão, vai muito além, uma vez que tem conseqüências sociais

imediatas. Nesse sentido, vale dizer que ler o que circula socialmente é

também agir socialmente. (MARCONDES, at al, 2003, p. 13)

Procedimentos metodológicos

A atividade proposta neste trabalho foi implementada em uma sala de

quarenta e três alunos da 3ª série do ensino médio do Colégio Estadual Cianorte.

Optamos por providenciar e distribuir a cada aluno uma cópia do material

didático-pedagógico produzido, uma Sequência Didática. Fizemos um esclarecimento

acerca do gênero textual a ser estudado e a sua importância.

Ao fazer uma sondagem inicial, percebemos que os alunos, apesar de ter

constante contato com os meios de comunicação, não apresentavam clareza a

respeito das características específicas do gênero discursivo propaganda social e não

conseguiam distinguir uma propaganda de marketing de uma propaganda social, mas

mostraram grande interesse pelo assunto, fazendo críticas e apresentando sugestões.

O primeiro passo do trabalho foi analisar o poema “Eu etiqueta”, de Carlos

Drummond de Andrade (Texto I).

Texto I

EU ETIQUETA (Carlos Drummond de Andrade)

Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. ....................

Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação.

................... Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.

Com esse poema, objetivou-se provocar no aluno uma reflexão a respeito de

como a propaganda pode influenciar no comportamento do indivíduo e, por isso, a

importância de se estudar esse gênero. Em seguida, observamos dois tipos de

propaganda (textos II e III) e através de questionamentos tivemos o propósito de

conduzir o aluno a diferenciar uma propaganda de marketing da propaganda social,

com base nos conceitos de Pinho (1990, p. 22-23), que define propaganda como “o

conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a

influenciar, num determinado sentido, as opiniões, os sentimentos e as atitudes do

público receptor”, e propaganda social como “todas as campanhas voltadas para as

causas sociais: desemprego, adoção de menor, desidratação, tóxicos, entre outras.

São programas que procuram aumentar a aceitação de uma idéia ou prática social

em um grupo-alvo.”

Texto II

Texto III

Nesta etapa do trabalho, além de analisar as imagens que marcam a

diferença entre os dois tipos de propagandas, foram feitos vários questionamentos a

respeito das propagandas sociais, tais como: Que temas podem ser explorados nas

propagandas sociais? Qual a importância de estudá-las e de reconhecê-las? Que

influência o leitor pode sofrer com a leitura das propagandas? Que função elas

exercem sobre as pessoas.

Após o estudo acima, com nossas instruções e acompanhamento como

professora, percebemos que os alunos conseguiram absorver com mais clareza os

diversos tipos de publicidade e propaganda. Depois disso, direcionamos o estudo

enfatizando o gênero propaganda social.

Estudo do Gênero propaganda social

Apesar do empenho dos órgãos públicos no sentido de conscientizar para a

prevenção de doenças e de outros problemas sociais, as propagandas veiculadas

na mídia parecem não atender às expectativas, pois doenças antes já controladas

voltam em forma de epidemias e, todos os dias, a mídia divulga estatísticas

assustadoras relacionadas aos problemas sociais.

O projeto pedagógico de leitura, análise linguística e pesquisa da propaganda

social, objetivando a posterior produção desse gênero, atende a proposta dos PCN,

quando observam que “O espaço da Língua Portuguesa na escola é garantir o uso

ético e estético da linguagem verbal, fazer compreender que pela e na linguagem é

possível transformar/reiterar o social, o cultural, o pessoal.“ (BRASIL, 1999, p. 144)

O trabalho com a propaganda social também é um forte aliado das artes, pois

permite explorar o planejamento gráfico, a diagramação, o uso das cores, o tipo de

letra, imagens, etc. Esse gênero proporciona, portanto, uma rica associação de

elementos das linguagens verbal e não-verbal.

Para melhor reconhecimento e entendimento do gênero em questão,

estudamos e analisamos algumas propagandas, a fim de sensibilizar e informar os

alunos, jovens e adolescentes que – em um futuro próximo – serão os responsáveis

pelas questões sociais. Para tanto, procuramos organizar as atividades sob três

aspectos: leitura e análise lingüística para a interpretação da propaganda; pesquisa

de aprofundamento do tema; e produção de propaganda social.

Iniciando o estudo desse gênero textual, em um primeiro momento,

analisamos uma propaganda de cigarros (texto IV). Foram explorados aspectos

como: o público alvo da propaganda, o texto imagético em relação ao texto verbal, o

apelo, as inferências possíveis para a interpretação da propaganda e as metáforas

“tranca a porta”, empregada no texto verbal, e a caixa de cigarro, no texto imagético,

representando o vício, como uma perfeita cilada.

Texto IV

Para complementar o estudo, foi desenvolvida uma pesquisa sobre os

malefícios do tabagismo, sobre o fumante passivo e, ainda, sobre a Lei que proíbe

fumar nos locais públicos. Essa pesquisa foi feita extraclasse e, para tanto, os

alunos utilizaram a internet como referência. Os dados dessa pesquisa foram

amplamente debatidos na aula seguinte.

A próxima propaganda analisada foi sobre o uso do preservativo (texto V).

Texto V

A respeito desta, propusemos questões que levaram o aluno a ler e

interpretar tanto o texto verbal quanto o imagético. Observamos no texto palavras

com sentido ambíguo, a intenção da ambigüidade e sua compreensão, o emprego

do artigo definido “a” personalizando a mensagem da propaganda, os verbos no

imperativo, a função apelativa da linguagem e, em seguida, foi encaminhada uma

nova pesquisa sobre as DST. Nesta segunda investigação, também realizada

extraclasse, foram utilizados como referência os seguintes recursos: a internet, livros

didáticos, além de folders e cartazes fornecidos pela Secretaria de Saúde Pública.

Com essa etapa de atividade, foram esclarecidos os seguintes questionamentos: O

que são e quais são as DST? Como elas se manifestam no organismo? Quais as

formas de evitá-las?

Uma terceira propaganda social trabalhada teve como tema a violência no

trânsito (Texto VI).

Texto VI

Neste caso foi possível compreender o slogan, percebendo nele a ironia.

Tivemos, com a leitura dessa propaganda, o objetivo de levar o aluno a perceber

que no trânsito o prejuízo não é somente material, mas também psicológico e até

mesmo vital. Na sequência analisamos o texto salientando a importância dessa

propaganda na vida social, visto que os prejuízos tanto materiais quanto

psicológicos atingem diretamente a sociedade, pois verbas que poderiam ser

empregadas na saúde da população são priorizadas em casos de acidentes.

Fechamos o estudo solicitando uma pesquisa extraclasse, a ser realizada na

internet, sobre as medidas de segurança previstas pelo Código Nacional de Trânsito

e sobre a Lei Seca. Com a análise dessa propaganda e com a pesquisa colocamos

em pauta a imagem “chocante” apresentada pela propaganda e, com isso, abrimos

discussão a respeito da imprudência no trânsito e dos resultados estatísticos

divulgados pela mídia, os quais apresentam alto índice de (ir)responsabilidade dos

jovens.

A quarta propaganda analisada abordou a Dengue (texto VII). Como se pode

observar, essa propaganda faz uso de um sinal de trânsito. Estudando o texto verbal

e imagético, procuramos levar os alunos a compreender a carga semântica de cada

palavra, bem como cada imagem apresentada e seus respectivos significados na

mensagem. Questionamo-los a respeito da doença que tem sido recorrente a cada

período de chuvas e refletimos com eles sobre a necessidade de se estar

constantemente vigilantes para combatê-la. Também houve discussão sobre os

sintomas da dengue e as conseqüências dela.

Texto VII

Outros dois textos trabalhados (textos VIII e IX) apresentaram o tema da

inclusão das pessoas com necessidades especiais.

Texto VIII

Texto IX

Na leitura desses textos, os alunos foram instigados a refletir a respeito do

comportamento da sociedade em relação aos portadores de alguma deficiência, pois

ambas as propagandas dizem por si só.

Ao discutir sobre o assunto, constatamos o quanto é importante o respeito e a

quebra do preconceito, uma vez que esses fatores são as maiores dificuldades

encontradas pelas pessoas com necessidades especiais. Chegamos à conclusão

de que as barreiras que a sociedade impõe chegam a tirar delas a dignidade.

O último texto estudado (texto X) é destinado à criação de um slogan para a

propaganda, buscando fazer o aluno pensar a respeito do voto consciente, pois

sabemos que isso pode fazer muita diferença na nossa sociedade.

Texto X

Durante as atividades de leitura, exploramos a língua portuguesa fazendo

uma análise linguística dos textos verbais presentes no material pedagógico ao

mesmo tempo em que serviram de base para a produção do gênero em estudo.

Vale destacar que as pesquisas realizadas durante o desenvolvimento do

estudo foram muito importantes porque trouxeram para a sala de aula assuntos de

várias áreas do conhecimento com as quais foi possível analisar, refletir e discutir,

interdisciplinarmente, assuntos que serviriam como apoio para a produção da

propaganda social que os alunos deveriam fazer posteriormente.

A última etapa do trabalho foi dividir a sala em grupos para a produção do

texto. Formadas as equipes, os alunos escolheram o tema de sua preferência,

tomando o cuidado para não haver repetição. Houve a orientação para que a

linguagem usada na produção fosse acessível e direcionada ao público mais jovem,

ou seja, a comunidade interna da escola.

As propagandas sociais produzidas pelos alunos abordaram os seguintes

temas: DST, dengue, violência no trânsito, combate ao tabagismo, combate ao

alcoolismo, aquecimento global e preservação da natureza.

Para a edição final dos cartazes, foi usado o computador (programa Corel

Draw). As imagens foram adquiridas de diferentes formas: fotografadas, escaneadas

ou retiradas da internet. Depois foram juntadas ao texto e ao slogan criados pelos

alunos, compondo a propaganda. Os textos finais foram reproduzidos em “banners”

e afixadas no interior da escola. Essa etapa de reprodução em banner foi

terceirizada.

É preciso ressaltar que a avaliação dos trabalhos foi realizada com base nos

resultados da circulação social que tiveram na comunidade, pois os alunos foram

sujeitos reais que interagiram socialmente com outros sujeitos, usando a língua

como instrumento dentro de um contexto real, e não diante de uma simulação, como

normalmente se faz quando só o professor é o leitor da produção textual dos alunos.

Propagandas sociais elaboradas pelos alunos

Equipe I

Assunto: DST

Enfoque temático: “O preservativo é indispensável nas relações sexuais.”

Apelo: humorístico

A produção acima trouxe imagens “leves” e carregadas de humor, passando a

mensagem de que não importa o estilo ou a classe social a que o indivíduo

pertence: todos, indistintamente, devem se prevenir usando o preservativo nas

relações sexuais. Trata-se de uma propaganda que faz uso de imagens coloridas e,

de certa forma, até infantis, porém chamando o leitor à responsabilidade .

Equipe II

Assunto: Violência no Trânsito

Enfoque temático: “As consequências da imprudência no trânsito.”

Apelo: impactante

Como forma de ironizar a postura do motorista imprudente que dirige em alta

velocidade nas ruas e estradas, causando acidente com prejuízos materiais e até

mesmo vitais, os alunos optaram por exibir, na propaganda acima, imagens

chocantes, com pessoas mutiladas. Para acentuar ainda mais a ironia, a estrada

parece conduzir até o céu, dialogando com o slogan da propaganda.

Equipe III

Assunto: Combate ao tabagismo

Enfoque temático: “O cigarro é prejudicial e pode até levar à morte.”

Apelo: irônico

Para abordar um tema já bastante explorado nas propagandas sociais - o

tabagismo –, os alunos optaram por fazer ironia em relação à própria vida, ou seja,

mostrar que o cigarro nos ilude: causa prazer, mas também traz muitos prejuízos e

pode levar até a morte.

Equipe IV

Assunto: Combate ao alcoolismo

Enfoque temático: “O maior problema do álcool é o uso excessivo.”

Apelo: dramático

Como forma de sensibilizar as pessoas que fazem uso excessivo de bebidas

alcoólicas, os alunos optaram por exibir fotos bem atrativas de bebida e outras com

pessoas já deprimidas pelo uso do álcool. O texto verbal alerta que o uso da bebida

alcoólica pode ser uma forma de prazer quando usado com moderação.

Equipe V

Assunto: Dengue

Enfoque temático: “Estar sempre alerta em relação aos cuidados com o mosquito

Aedes Aegypti.”

Apelo: humorístico

Para abordar um tema já bastante desgastado nas propagandas, porém não

menos importante, devido à reincidência da doença periodicamente, os alunos

optaram pelo humor, usando a linguagem utilizada para procurar criminosos. A

intenção foi fazer uma comparação do mosquito com o criminoso, pois ambos não

nocivos e estão sempre escondidos.

Equipe VI

Assunto: Preservação da Natureza

Enfoque temático: “A destruição da natureza é ação do homem.”

Apelo: contraste

Os alunos, nesta produção, fizeram um questionamento: “Qual é o futuro do

planeta?”. Em seguida dão a resposta: “É você quem decide!”. Interessante notar

que eles apresentaram uma foto em que se põe fogo em uma árvore que já está

parcialmente queimada, propiciando o entendimento de que a destruição da

natureza é um ato humano e que precisamos repensar nossas atitudes.

Equipe VI

O mundo está em suas mãos...

Hoje você está acabando com o mundo, amanhã ele acabará com você.

Assunto: Aquecimento Global

Enfoque temático: “O aquecimento global é consequência da ação do homem.”

Apelo: contraste

Houve, nesta propaganda, a intenção de causar impacto mostrando a terra se

derretendo pelo aquecimento global. É um apelo para que tenhamos compromisso

em preservar a natureza e evitar a destruição do planeta.

Considerações finais

A proposta pedagógica apresentada neste trabalho teve como meta

aprofundar os saberes dos alunos, tanto os adquiridos na escola quanto os trazidos

do contexto extraclasse.

Os resultados mostraram que o objetivo da proposta foi atingido, pois as

atividades desenvolvidas propiciaram ao aluno: 1) leitura crítica e reflexiva de

propagandas sociais, colocando-o a par dos problemas da sociedade e da

necessidade do envolvimento de cada cidadão; 2) uso das linguagens verbal e não-

verbal na produção das propagandas sociais, observando o efeito que elas

produzem no discurso; 3) compreensão e emprego dos verbos no imperativo, para

saber usar a linguagem injuntiva; 4) compreensão da finalidade da propaganda

social na comunidade.

Em suma, o trabalho em questão colocou o aluno em contato com o emprego

da língua como uma atividade social, histórica e cognitiva, privilegiando sua natureza

funcional e interativa, como propõem os PCN. Também levou o aluno a analisar o

seu comportamento em sociedade e o sensibilizou em relação aos problemas

sociais, levando-o a perceber a necessidade do envolvimento do adolescente e do

jovem nas causas sociais, para preservar e orientar as futuras gerações.

É preciso ressaltar ainda que, em um trabalho como este aqui relatado, é

imprescindível a presença do professor como mediador e orientador em todas as

etapas da implementação da proposta. Para tanto, o docente deve possuir domínio

dos conteúdos, a fim de promover o desenvolvimento cognitivo e sociocultural dos

discentes, além de ter consciência de como desenvolver a aprendizagem destes.

Com este relato sobre a produção de propagandas sociais esperamos

colaborar com outros professores no trabalho de ministrar aulas de língua

portuguesa ou de outras disciplinas.

Referências

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