O Budismo é Realmente Não Teísta

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    1/8

    O budismo é realmente não-teísta?

    Por B. Alan Wallace, Universidade da Califórnia, Santa Barbara

    O Budismo é geralmente distinguido das religiões monotestas e !olitestas com base emsuas doutrinas "ue refutam um Criador divino, e realmente #$ am!la evid%ncia te&tual nostratados do Budismo mais antigo, do 'a#a(ana e do )a*ra(ana "ue confirmam essaafirma+o -/. A!esar disto, uma an$lise cuidadosa da cosmogonia do Budismo)a*ra(ana, es!ecificamente como a!resentada na tradi+o Ati(oga do Budismo 0ndo12ibetano, "ue a!resenta a si mesma como o $!ice de todos os ensinamentos Budistas,revela a teoria de uma base transcendente do ser e um !rocesso de cria+o "ue carregaincrvel semel#an+a com as visões a!resentadas no )edanta e nas teorias ocidentaisCrists 3eo!lat4nicas de cria+o. 3este artigo a!resentarei esta teoria do Budismo)a*ra(ana em termos de suas imagens de es!a+o e lu5 na cria+o do universo, e

    concluirei com uma reafirma+o do status no1testa do Budismo como um todo.

    Os Antecedentes do Budismo Sutra(ana

    3os !rimeiros suttas Budistas, o termo Pali geralmente tradu5ido como 6mundo6 7lo8a9refere1se no a algum universo !uramente ob*etivo "ue e&iste inde!endentemente dae&!eri%ncia, mas a um mundo como e&!erimentado !or seres sencientes. O mundo "uee&!erimentamos como #umanos, !orém, no é o :nico mundo, !ois #$ outros mundosalém do nosso -;/< mas todos os mundos so considerados 6irreais66 e insubstanciaiscomo uma bol#a e uma miragem. -=/ Com rela+o a origem dos seis ti!os de consci%ncia!elos "uais os seres #umanos !ercebem nosso mundo, o Buda com!arou tal surgimento> !rodu+o de fogo ao esfregar1se um graveto. Como Peter ?arve( assinala, esta teoriaBudista, como a dos U!anis#ads, toma como garantida a e&ist%ncia de um elementoinflam$vel "ue est$ !resente no combustvel, "ue se torna manifesto "uando ocombustvel é !osto a "ueimar.-@/ 0sto im!licaria "ue as formas es!ecficas de consci%nciasurgem de um modo latente de consci%ncia "uando se encontram condi+ões a!ro!riadas,e "ue a consci%ncia sub*acente é indicada em Pali com o termo 6b#avanga6, "ue !ode ser tradu5ido como 6a base do vir a ser6.-/

    3a literatura budista mais antiga este estado1base de consci%ncia é a!resentado comosendo !rimordialmente !uro e radiante, mesmo "ue se*a obscurecido !or m$culasadventcias -/, e é deste estado "ue todos os !rocessos mentais ativos 76*avana69,surgem, incluindo a voli+o, e !ortanto, o carma. Assim, *$ "ue os m:lti!los mundose&!erimentados !elos seres sencientes so considerados !elo Budismo como sendo!rodu5idos !elo carma dos seres sencientes, conclui1se "ue o b#avanga deve ser a basede onde surge todo o carma, e todos os estados de consci%ncia !elos "uais estesmundos so con#ecidos. Além disso, a nature5a dessa base do vir a ser é e"ui!aradacom a bondade, e é a fonte do incentivo ao seres sencientes desenvolveremmeditativamente suas mentes na busca do nirvana. -/ Duando a libera+o definitiva é

    atingida, e&!erimentamos a nature5a do b#avanga, "ue ento retém sua integridade eno mais é levado a obscurecer1se !or m$culas. -E/

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#1%231http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#1%231http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#3%233http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#4%234http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#5%235http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#6%236http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#7%237http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#8%238http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#1%231http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#1%231http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#3%233http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#4%234http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#5%235http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#6%236http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#7%237http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#8%238

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    2/8

    Fn"uanto a tradi+o 2#eravada geralmente tem marginali5ado o b#avanga tanto emteoria "uanto na !r$tica, o Budismo 'a#a(ana atribua im!ortGncia central ao6tat#agatagarb#a6, "ue é muito semel#ante ao b#avanga. o 6Han8avatara Sutra6 7!. 9di5 "ue o tat#agatagarb#a é a aten+o naturalmente radiante e !rimordialmente !ura emcada ser senciente, "ue é obscurecida !or m$culas adventcias tais como a!ego,agresso, iluso, e idea+o com!ulsiva. Com!lementa di5endo "ue esta aten+o radiante

    é a base da "ual surgem tanto o bem "uanto o mal, e "ue !rodu5 todas as formas dae&ist%ncia, como um ator "ue incor!ora muitas a!ar%ncias 7!. ;;I9. O 6Srimala1deviSim#anada Sutra6 afirma "ue ela é a"uilo "ue ins!ira os seres sencientes a buscar onirvana -J/, e o 6Katnagotravib#aga6 7vv. ,E@9 leva essa afirma+o ainda adiantedi5endo "ue essa aten+o, "ue é naturalmente !resente desde o tem!o sem incio, e est$im!licitamente re!leta de todas as "ualidades da nature5a de Buda, deve ser se!aradadas m$culas, tal como o ouro deve ser refinado de forma a mostrar sua !ure5a intrnseca. Assim, mesmo nestes escritos anteriores ao )a*ra(ana, #$ ine"uvocas e elaboradasteorias a res!eito de um estado de base de aten+o além do tem!o, "ue foi a fonte detodos os outros estados de consci%ncia, o mundo dos fen4menos, e de todos os seres alicontidos.

    A Cosmogonia Vajrayana

    La mesma forma "ue a teoria 6b#avanga6 do Budismo !rimitivo desenvolveu1se na teoria'a#a(ana do 6tat#agatagarb#a6, a reali5a+o da "ual tornou1se de muita im!ortGncia na!r$tica meditativa, a maneira !recisa !ela "ual a nature5a do Buda fe5 surgir o mundo dosfen4menos foi ainda mais desenvolvida na tradi+o va*ra(ana. 'in#a fonte !rim$ria !ara aseguinte descri+o da cosmogonia )a*ra(ana é o 62antra do Cora+o )a*ra6 -I/  um6tesouro de mente6 7dgongs ter9 de Lud*om Hing!a 7E=1JI@9, um mestre de Ati(oga doséc. M0M da ordem 3(ingma do Budismo 2ibetano. A!esar desse tratado ser de origemrelativamente recente, sua bem desenvolvida teoria cosmog4nica é uma acuradaa!resenta+o da viso Ati(oga, "ue é em grande !arte com!atvel com a teoria )a*ra(anaem geral. Le acordo com Lud*om Hing!a, a fonte dos ensinamentos no 62antra doCora+o )a*ra6 é o buda !rimordial Samantab#adra, "ue, como o tat#agatagarb#a, é danature5a da aten+o !lena radiante sem !rinc!io, naturalmente !ura e re!leta de todasas "ualidades da Buditude.

    Fn"uanto a met$fora mais comum !ara o b#avanga e o tat#agatagarb#a é a de uma lu5

    radiante, o 62antra do Cora+o )a*ra6 adiciona a esta a met$fora central do es!a+o. Leacordo com esta cosmogonia, a nature5a essencial do todo com!osto !elo samsara enirvana é o es!a+o absoluto do tat#agatagarb#a, mas este es!a+o no deve ser confundido com uma mera aus%ncia de matéria. Pelo contr$rio, este es!a+o absoluto7d#atu9 é dotado de todo o infinito con#ecimento, com!ai&o, !oder, e atividadesiluminadas do Buda. Além disso, este es!a+o luminoso é o "ue causa a a!ari+o domundo dos fen4menos, e no é nada além da !ró!ria nature5a de nossa !ró!ria mente,"ue !or nature5a é clara lu5 7!. ==9. Samantab#adra distingue cinco ti!os de sabedorias!rimordiais im!lcitas ao buda natural da aten+o 7! ;I9N

    6Sua nature5a essencial é a grande vacuidade !rimordial, o es!a+o absoluto da totalidadede tanto samsara "uanto nirvana, a sabedoria !rimordial do es!a+o absoluto da realidade. A sabedoria !rimordial como a de um es!el#o é de uma nature5a lm!ida, cristalina e livre

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#9%239http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#10%2310http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#9%239http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#10%2310

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    3/8

    de contamina+ões, "ue !ermite a incessante a!ar%ncia de todos os ti!os de ob*etos. Asabedoria !rimordial da e"uanimidade é assim c#amada !ois igualmente !ermeia avacuidade no1ob*etiva da totalidade de samsara e nirvana. A sabedoria !rimordial dodiscernimento é assim c#amada !or"ue é uma incessante avenida de ilumina+o das"ualidades da sabedoria !rimordial. A sabedoria !rimordial do reali5ar é assim c#amada!ois todos os atos e atividades !uros, livres e simultaneamente !erfeitos so reali5ados

    naturalmente, em #armonia entre si mesmos. Duando o bril#o natural da aten+o est$!resente como a base o d#arma8a(a no "ual as cinco sabedorias !rimordiais so!erfeitas e dissolve1se em sua luminosidade interior, é classificado como sabedoria

     primordial inobscurecida6 -/.

    $ "ue a nature5a essencial de cada ser senciente e o universo como um todo é este does!a+o infinito e luminoso, dotado de todas as "ualidades de !erfeita ilumina+o, !or"ueisto no é !ercebidoQ Samantab#adra e&!lica "ue a realidade de todos os fen4menos "uesurgem como manifesta+ões da aten+o1base toda !enetrante é obscurecida !elaignorGncia. Conse"uentemente, o tat#agatagarb#a, "ue com!letamente transcende todas

    as !alavras e conceitos incluindo as !ró!rias no+ões de e&ist%ncia e no1e&ist%ncia,um e muitos, e su*eito e ob*eto !arece ser um va5io im!ens$vel "ue é con#ecido comobase universal 7ala(a9 7!. ;I9. A e&!eri%ncia desse va5io é com!ar$vel a entrar em comaou cair num sono !rofundo e sem son#os. Leste estado surgem consci%ncias lm!idas eclaras como as bases das "uais todos os fen4menos surgem< e esta é a consci%ncia baseuniversal 7ala(avi*nana9. 3en#um ob*eto é estabelecido como se!arado de dessaluminosidade, e en"uanto ela !rodu5 todos os ti!os de a!ar%ncias, ela no entra emnen#um ob*eto. Assim como refle&os dos !lanetas e estrelas !arecem em $gua lm!ida ecristalina, e o inteiro mundo animado e inanimado surge num es!a+o lm!ido e cristalino,assim todas as a!ar%ncias surgem na consci%ncia base universal va5ia e cristalina.

    Lesse estado surge a consci%ncia da mera a!ar%ncia do eu. O eu é a!reendido comoestando a"ui, e da mesma forma o mundo ob*etivo !arece estar ali, assim estabelecendoa a!ar%ncia do es!a+o imaterial. Para relacionarmos essa evolu+o do universo aoobscurecimento dos cinco ti!os de sabedoria !rimordial mencionados, di51se "ue aignorGncia a !rinc!io obscurece o bril#o intrnseco de nossa !ró!ria sabedoriaes!ontGnea do es!a+o absoluto da realidade 7!. ;;9, o "ue causa uma transfer%nciae&terna de sua luminosidade. Fn"uanto esse !rocesso evolucion$rio segue, a"uelescinco ti!os de sabedoria !rimordial transformam1se nos cinco grande elementos 7vis. ascinco cores !rim$rias9 e os cinco elementos derivativos da seguinte formaN

    . 3o es!a+o "ue tudo !ermeia do d#arma8a(a, ou mente do Buda, bril#o intrnseco dasabedoria !rimordial do reali5ar é obscurecida, e devido > ativa+o das energiasc$rmicas, a "uintess%ncia do elemento ar surge internamente e transforma1se em lu5verde. Levido ao !oder da iluso, esta lu5 verde é tida como concreta e devido a issosurge e&ternamente como o elemento derivativo ou residual 6ar6.

    ;. Com o obscurecimento causado !ela ignorGncia da sabedoria !rimordial do es!a+ob$sico da realidade, sua luminosidade surge como o grande elemento de lu5 cor a5ul1

    marin#o. Como conse"R%ncia de ter esta lu5 a5ul como algo concreto, o elementoderivativo 6es!a+o6 surge.

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#11%2311http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#11%2311

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    4/8

    =. Com o obscurecimento da sabedoria !rimordial 6como a de um es!el#o6, sualuminosidade surge como o grande elemento de lu5 branca, "ue, "uando solidificado,surge como o elemento derivativo 6$gua6.

    @. Com o obscurecimento da sabedoria !rimordial da e"uanimidade, sua luminosidade

    surge como o grande elemento de lu5 amarela, "ue, "uando solidificado, surge como oelemento derivativo 6terra6.

    . inalmente, com o obscurecimento da sabedoria !rimordial do discernimento, sualuminosidade surge como o grande elemento de lu5 vermel#a, "ue, "uando solidificado,manifesta1se como o elemento derivativo 6fogo6. Lesta forma, todos os elementos domundo fsico so vistos como e&!ressões simbólicas do tat#agatagarb#a, e di51se "uetodos os cinco elementos esto !resentes em cada um deles, assim como as cincosabedorias !rimordiais esto todas !resentes em cada uma delas.

    Os cinco ti!os de sabedoria !rimordial se manifestam no somente como os cincoelementos "ue montam o universo ob*etivo, mas suas nature5as essenciais também semanifestam como os cinco agregados !sico1fsicos "ue constituem um ser #umano nosamsara. Fs!ecificamente, assim "ue a a!ar%ncia da dualidade surge dentro do domnioda sabedoria !rimordial do es!a+o absoluto, esta sabedoria surge como o agregado daforma< "uando a!ar%ncias dualistas e solidifica+ões desse ti!o surgem ocorrem nodomnio do sabedoria !rimordial 6como a de um es!el#o6, ela manifesta1se como oagregado da consci%ncia< "uando a sabedoria !rimordial da e"uanimidade é obscurecidadessa forma, ela manifesta1se como o agregado da sensa+o< "uando a sabedoria!rimordial do discernimento é velada através da solidifica+o, ela surge como o agregadoda !erce!+o 7ou cogni+o9< e a sabedoria !rimordial do reali5ar assim obscurecida,surge como o agregado dos fatores com!ostos 7forma+o9.

    Como um desenvolvimento da tese !ro!osta no 6Han8avatara Sutra6, de "ue otat#agatagarb#a é fonte tanto do bem "uanto do mal, o 62antra do Cora+o )a*ra6 afirma"ue ele é a base no somente de todas as "ualidades da ilumina+o, mas de todas asafli+ões mentais !rim$rias, iluso, raiva, orgul#o, a!ego e inve*a. Fs!ecificamente,!ensamentos de iluso surgem devidos ao obscurecimento da sabedoria !rimordial danature5a absoluta da realidade< !ensamentos de raiva surgem do obscurecimento da

    sabedoria !rimordial 6como a de um es!el#o6< !ensamentos de orgul#o surgem doobscurecimento da sabedoria !rimordial da e"uanimidade< !ensamentos de a!egosurgem do obscurecimento da sabedoria !rimordial do discernimento< e !ensamentos deinve*a surgem do obscurecimento da sabedoria !rimordial do reali5ar, de forma constante.Uma afirma+o "ue é crucial !ara a teoria e !r$tica do )a*ra(ana como um todo é a de"ue todas as afli+ões mentais so na verdade da mesma e&ata nature5a dos ti!os desabedoria !rimordial dos "uais elas surgem 7!. ;9.

    Fm resumo, as cinco cores !rim$rias, os cinco elementos, os cinco agregados, e as cincoafli+ões mentais todas originam1se do obscurecimento das cinco sabedorias !rimordiais.

    Fm termos da teoria geral do Budismo a cerca dos tr%s reinos da e&ist%ncia o reinosensorial, o reino da forma, e o reino da no1forma di51se "ue cada nascimento noreino da no1forma é devido a uma solidifica+o da base universal< o nascimento no reino

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    5/8

    da forma é devido a uma solidifica+o da consci%ncia da base universal< e um nascimentocomo um deus do reino do dese*o é devido > con"uista de estabilidade no reino da mente7citta9 dualista. Lessa forma, Samantab#adra, o Buda Primordial cu*a nature5a é id%nticaao tat#agatagarb#a dentro de cada ser senciente, é a base :ltima tanto de samsara"uanto de nirvana< e o universo inteiro consiste de nada além de manifesta+ões dessaaten+o va5ia infinita e luminosa. Assim, em vista dos desenvolvimentos teóricos do

    b#avanga ao tat#agatagarb#a até a sabedoria !rimordial do es!a+o absoluto darealidade, o Budismo no é to sim!lesmente no1testa "uanto !ode !arecer a !rimeiravista.

    Paralelos com Cosmogonias Politeístas e Monoteístas

    Fn"uanto o no1tesmo do Budismo é muitas ve5es visto em contraste absoluto com o!olitesmo dos )edas, a tradi+o do )edanta, o 6$!ice dos )edas6, a!resenta umacosmologia bem similar ao relato Ati(oga a!resentado. Le acordo com a teoria )edanta, o

    universo é criado através de uma série de manifesta+ões ilusórias de Bra#man, sendosomente ele real de fato, e id%ntico com a nature5a real 7atman9 de cada ser senciente-;/. A nature5a de Bra#man é consci%ncia !ura, além de todas as distin+ões conceituaistais como su*eito e ob*eto, e sua diferencia+o em seres individuais animados einanimados é somente devido >s a!ar%ncias. 2ra+ando uma analogia "ue é com!artil#adacom a tradi+o Ati(oga "uando esta ilustra a rela+o entre o d#arma8a(a e as mentes dosseres sencientes individuais, o filósofo San8ara do )edanta com!ara Bra#man ao es!a+o,"ue é :nico e contnuo, en"uanto cada indivduo 7*iva9 é com!arado ao es!a+o contidodentro de um !ote. 3esta met$fora, o 6es!a+o6 de Bra#man !ode a!arentemente ser fec#ado dentro do 6!ote6 de cada indivduo sem afetar a transcendente unidade deBra#man. 'as tal diferencia+o, ele com!lementa, é somente o resultado de nossa fal#aao discriminar o atman de seus adere+os, tais como o cor!o, os sentidos, etc. Cadaindivduo é uma mera a!ar%ncia ou refle&o do Fu transcendente, ou atman, como orefle&o do sol na $gua ondulante. A!esar da unidade de Bra#man e do atman nunca ter sido diferente do universo, os defeitos so !ercebidos no mundo dos fen4menos devido>s m$culas nas mentes dos indivduos. Assim, de forma a ver a realidade como ela é, amente, com todas suas afli+ões, constru+ões conceituais, e tend%ncias de solidifica+o,deve ser transcendida.

     A!esar das v$rias diferen+as significativas entre as doutrinas Budista e Crist, o

    Cristianismo medieval foi !rofundamente influenciado !elas idéias 3eo!lat4nicas ares!eito da cria+o, "ue também so !rofundamente semel#antes >"uelas do Budismo)a*ra(ana e do )edanta. Le acordo com o filósofo o#n Scotus Friugena 7EQ1EQ9,antes da auto1a!ari+o criativa de Leus na gera+o do mundo natural, Fle mantin#a1senuma unidade e com!letude !rimordial da "ual, da limitada !ers!ectiva dos intelectos eda linguagem criados, !ode mel#or ser descrita como 6ni#il6, ou 6nada6 -=/. o#ncaracteri5a este nada no como uma aus%ncia, mas como uma realidade transcendentalalém da afirma+o e da nega+o. Fla é, ele escreveN

    6a indi5vel, incom!reensvel, e inacessvel luminosidade da bondade divina, "ue é

    descon#ecida de todos os intelectos, #umanos ou angelicais, !or"ue é su!raessencial esu!ranatural. Fu acredito "ue esta designa+o -6ni#il6/ se a!lica !or"ue, "uando ela é!ensada através de si !ró!ria, ela nem é nem no ser$. Pois em nen#uma coisa e&istente

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#12%2312http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#13%2313http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#12%2312http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#13%2313

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    6/8

    é com!reendida, *$ "ue est$ além de todas as coisas... Duando é com!reendida comoincom!reensvel devido a sua e&cel%ncia, no é erroneamente denominada TnadaT 6 -@/

    Duando o nada divino, "ue é ontologicamente anterior a !ró!ria categori5a+o dee&ist%ncia e no1e&ist%ncia, manifesta1se no mundo dos fen4menos, Leus v%m a

    recon#ecer a si mesmo como a ess%ncia de todas as coisas. Lesta forma, o todo dacria+o !ode ser uma teofania, ou manifesta+o divina, e nada !oderia e&istir se!aradamente dessa nature5a divina, !ois ela seria a ess%ncia de tudo "ue #$.Seguindo a afirma+o bblica de "ue o #omem é criado > imagem de Leus, oo declara"ue a mente do #omem, como a nature5a divina, retém sua unidade sim!les, como algo"ue no !ode ser con#ecido ob*etivamente, em rela+o a suas manifesta+ões m:lti!las-/. Assim como Leus vem a con#ecer1se a Si mesmo com!letamente somente atravésde Sua auto1e&!resso como o mundo dos fen4menos, a mente #umana só écom!letamente com!reendida através de suas manifesta+ões e&ternas, mesmo "uemanten#a1se sem!re invisvel internamente. Lessa forma, cada ser #umano reca!ituladentro de si mesmo a inteira dialética do nada e da auto1cria+o. Assim oo argumenta

    "ue a inabilidade do #omem em con#ecer ob*etivamente a nature5a de sua !ró!ria mentefa5 dele uma imagem de Leus, !ois assim como a mente de Leus no v% a si mesmaob*etivamente, da mesma forma a consci%ncia #umana *amais é !ercebida en"uantoob*eto do intelecto. -/

    Conclusão

    Fn"uanto o Budismo é considerado no1testa, os )edas so vistos como !olitestas, e aBiblia é monotesta, !ercebemos "ue as cosmogonias do Budismo )a*ra(ana, do )edantae do Cristianismo 3eo!lat4nico t%m tanto em comum "ue !oderiam ser vistos comointer!reta+ões diversas de uma só teoria. Além disso, a similaridade no acaba a, !ois noOriente 'édio os escritos de Plotinus 7;I1;I9 também influenciaram as teorias0slGmicas e udaicas da cria+o. Fsta unidade a!arente !or ser considerada meracoincid%ncia, ou > !ro!aga+o #istórica de uma :nica es!ecula+o metafsica através dosul da sia e Oriente 'édio. Por e&em!lo, os U!anis#ads !odem muito bem ter influenciado os !rimeiros !ensadores 'a#a(ana na Vndia, e eles também !oderiam ter seinfiltrado no Oriente 'édio, onde !oderiam ter ins!irado os escritos de Plotinus. Por outrolado, Plotinus declarou "ue suas teorias eram baseadas em suas !ró!rias e&!eri%ncias, ereivindica+ões similares foram feitas !or muitos contem!ladores do Budismo e do

    )edanta. Se estas cosmogonias so realmente baseadas sob um con#ecimentointros!ectivo v$lido, ento !ode ser !lausveis as declara+ões de muitos contem!lativosao redor do mundo de "ue a busca intros!ectiva !ode levar ao con#ecimento, nosomente da base fundamental do ser, mas igualmente das leis fundamentais da nature5a.-/

     

    -tradu5ido !or Fduardo Padma Lor*e em ;II;/

    79 Para uma refuta+o de um Criador !elo !ró!rio Buda como registrado no cGnone Pali,

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#14%2314http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#15%2315http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#16%2316http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#17%2317mailto:[email protected]://www.bodisatva.org/ensinamentos/#1v%231vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#14%2314http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#15%2315http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#16%2316http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#17%2317mailto:[email protected]://www.bodisatva.org/ensinamentos/#1v%231v

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    7/8

    ver o 6Pati8a Sutta6 ;.@1 no 6Lig#a13i8a(a6< S#antideva a!resenta uma cl$ssicarefuta+o 'a#a(ana de um Criador em seu6Bod#icar(avatara6 0MN E1;< e uma refuta+o semel#ante na literatura )a*ra(ana !odeser encontrada no 6alac#a8ratantra6 e em seu !rinci!al coment$rio, o 6)imala!rab#a6 00NE1I.

    7;9 Cf. 6'a**#ima 3i8a(a6 .@I;.

    7=9 Cf. 6Sutta13i!ata6 J< 6L#amma!ada6 I.

    7@9 Peter ?arve(. 7JJ9 62#e Selfless 'indN Personalit(, Consciousness and 3irvana inFarl( Budd#ism6. Surre(N Cur5on Press, !! 1. Cf. 6'a**#ima 3i8a(a6 0.;J1I,6Anguttara 3i8a(a6 000.=@I1@, 'ilinda!an#a =< K.?. Kobinson, 7JI9 62#e Budd#istKeligion6. Belmont, Calif, Lic8enson, st. ed., !!. =E1=J.

    79 Peter ?arve(, !.I.

    79 Cf 6'ilinda!an#a6 7!!. ;JJ1=II9, 6Anguttara 3i8a(a6A.0.J1I X A. 0..

    79 6Anguttara 3i8a(a6 A.0.I1.

    7E9 Peter ?arve(, !. @.

    7J9 L.'. Paul 7JEI9 62#e Budd#ist eminine 0deal 1 Dueen Srimala e o 2at#agata1garb#a6. 'issoula, 'ontana, Sc#olarTs Press, c#. =.

    7I9  62antra do Cora+o )a*raN Um 2antra 3aturalmente Surgido da 3ature5a daF&ist%ncia a Partir da 'atri& da Aten+o Primordial da Pura Perce!+o6 72ib. Lag snang(e s#es drva !a las gnas lugs rang b(ung gi rg(ud rdo r*eTi sn(ing !o9. Collected Wor8s of 

    ?.?. Lud*om Kin!oc#e.

    79 2odas as tradu+ões do tibetano so min#as.

    7;9 arl ?. Potter 7ed.9 7JE9 6Fnc(clo!edia of 0ndian P#iloso!#iesN Advaita )edanta u!to Sam8ara and ?is Pu!ils. Lel#iN 'ontilal Banarsidass, !. E.

    7=9  Lonald . LucloY 7J9 6Livine 3ot#ingness and Self1Creation in o#n Scotus

    Friugena.6 2#e ournal of Keligion, )ol. , 3o. ;, A!ril J, !. I.

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#2v%232vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#3v%233vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#4v%234vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#5v%235vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#6v%236vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#7v%237vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#8v%238vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#9v%239vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#10v%2310vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#11v%2311vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#12v%2312vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#13v%2313vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#2v%232vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#3v%233vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#4v%234vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#5v%235vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#6v%236vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#7v%237vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#8v%238vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#9v%239vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#10v%2310vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#11v%2311vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#12v%2312vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#13v%2313v

  • 8/19/2019 O Budismo é Realmente Não Teísta

    8/8

    7@9 o#n Scotus Friugena, 6Peri!#(seon 7Le divisione naturae96 ed. ?.. loss, 'igne6Patrologia latina6 ;;, EIL1EA, trans. b( Lonald . LucloY, o!. cit. !. I. Cf.Bod#icar(avatara 0MN;. 6Fsta verdade é recon#ecida como sendo de dois ti!osNconvencional e definitivo. A realidade definitiva est$ além do esco!o do intelecto. Ointelecto é c#amado de realidade convencional6.

    79 Cf. 6alac#a8ratantra6 )NN 63o #$ Buda grandioso além dos seres sencientes6.

    79 Cf. 6Katnac#udasutra6N 6A mente, as#(a!a, é sem forma, im!erce!tvel, intangvel,incogniscvel, inst$vel, sem base. A mente, as#(a!a, nunca foi vista !or nen#um dosBudas. Fles no a v%em, eles no a vero... a mente, as#(a!a, sendo !rocurada !or todas as !artes no é encontradaN o "ue é encontrado no é est$vel< o "ue no é est$velno é !assado, !resente ou futuro...6 -Citado em S#antideva. 7JE9 6S#i8sa1samucca(a6, trans. Cecil Bendall X W. ?. L. Kouse. Lel#iN 'otilal Barnasidass, !!. ;;I1;;/ 2radu+o min#a. Cf. 2#omas 2omasic, 63egative 2#eolog( and Sub*ectivit(N An

     A!!roac# to t#e 2radition of t#e Pseudo1Lion(sius,6 0nternational P#iloso!#ical Duarterl( J7JJ9.

    79 Cf. Lom Cut#bert Butler. 6Western '(sticismN 2#e 2eac#ing of Augustine,Zregor( and Bernard on Contem!lation and t#e Contem!lative Hife6. = rd ed., com6refle&ões6 !elo Prof. Lavid noYles. HondonN Constable X Co., J, !. @J.

    3.2. Levido a aus%ncia de marcas diacrticas no modo de te&to sim!les, as !alavras emsGnscrito foram sim!lificadas em um formato informal e no !adroni5ado. 3. do 2.

    #tt!N[[YYY.bodisatva.org[ensinamentos[, I[I@[;II

    http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#14v%2314vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#15v%2315vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#16v%2316vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/http://www.bodisatva.org/ensinamentos/#14v%2314vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#15v%2315vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/#16v%2316vhttp://www.bodisatva.org/ensinamentos/