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O Caderno Rosa de Lori Lamby - Hilda Hilst (Ilustracoes de Millor Fernandes)

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  • 2 () No tenhamos dvidas: OCaderno Rosa de Lory Lamby ,sim, um livro obsceno e, como tal,passvel de ser catalogado ao ladode textos afins. Seria, entretanto, umequvoco rotullo como mera por-nografia de apelo comercial; se ofosse, alis, dificilmente teria sidopublicado por uma editora refinadacomo a Massao Ohno, numa edioto bem cuidada, com lindos dese-nhos de Millr Fernandes, e, ade-mais, com a tiragem de apenas 1mil exemplares O livro de HildaHilst est para a produo deAdelaide Carraro assim como asnovelas de Georges Bataille estopara os best sellers de RgineDeforges. Entendamos pois: O Ca-derno Rosa inscreve-se numa dasmais nobres tradies de literaturaertica, aquela que, para citar ape-nas alguns autores do nosso sculo,passa pela obra de GuillaumeApollinaire, Pierre Louys e HenryMiller. Vale destacar, nessa brevegenealogia, a fico de GeorgesBataille, especialmente a Histria doOlho, com o qual O Caderno Rosaparece ter afinidades. Com efeito, justamente Bataille que a autora ele-ge como passaporte de sua transi-o da literatura sria para a por-nografia, ao despedir-se do leitor, nacontracapa de Amavisse, seu ltimolivro de poemas (Masao Ohno,

    1989), solicitando que lhe poupemo desperdcio de explicar o ato debrincar./ A ddiva de antes (a obra)excedeu-se no luxo./ O CadernoRosa apenas resduos de umPoatlatch. E hoje, repetindoBataille:/ Sinto-me livre para fra-cassar`.

    Fracassar significa, nestecaso, a possibilidade de arriscar ou-tras formas de dizer literrio. Supeliberdade e tambm coragem deexcursionar por regies ainda nodevassadas pelo gnio criador doartista, correr o risco do desconhe-cido. Em outras palavras: fracassarsignifica transgredir, moto perptuode Bataille. Ou, ainda, como a pr-pria autora sugere, propondo a atode escrever como atividade ldica:brincar. E quando uma escritora doporte de Hilda Hilst brinca e arris-ca, o leitor no deve se furtar aoprazer do jogo. Aceitemos o convi-te. () O Caderno Rosa de LoriLamby , embora tente disfarar,uma fina reflexo sobre o ato de es-crever como possibilidade de jogarcom os limites da lngua. Resta-nosaguardar os Contos descrnio Textos grotescos que Hilda Hilst pro-mete para breve, esperando delesnovos prazeres.

    Eliane Robert Moraesin Jornal do Brasil, 12/5/90

  • 3O CADERNO ROSA

    de

    Lori Lamby

  • 4 by Hilda Hilst

    Todos os direitos desta edio reservadosMassao Ohno EditorR. da Consolao, 3676 cep 01416So Paulo, Brasil

    Fotolito: LaborgrafComposio: Vidal ComposioImpresso: So Paulo Grfica

    1990

    Impresso no BrasilPrinted in Brazil

  • 5Hilda Hilst

    O CADERNO ROSA DELORI LAMBY

    Massao Ohno Editor

  • 6Capa e ilustraes de

    MILLR FERNANDES

  • 7 memria da lngua.

    Todos ns estamos na sarjeta,mas alguns de ns olham para as estrelas.

    Oscar Wilde

    E quem olha se fode.

    Lori Lamby

  • 8 Eu tenho oito anos. Eu vou contar tudo do jeito que eu sei por-que mame e papai me falaram para eu contar do jeito que eu sei. Edepois eu falo do comeo da histria. Agora eu quero falar do mooque veio aqui e que mami me disse agora que no to moo, e entoeu me deitei na minha caminha que muito bonita, toda cor de rosa.E mami s pde comprar essa caminha depois que eu comecei a fazerisso que eu vou contar. Eu deitei com a minha boneca e o homem que no to moo pediu para eu tirar a calcinha. Eu tirei. A ele pediu para eu abrir

  • 9as perninhas e ficar deitada e eu fiquei. Ento ele comeou a passar amo na minha coxa que muito fofinha e gorda, e pediu que eu abris-se as minhas perninhas. Eu gosto gosto muito quando passam a mona minha coxinha. Da o homem disse para eu ficar bem quietinha,que ele ia dar um beijo na minha coisinha. Ele comeou a me lambercomo o meu gato se lambe, bem devagarinho, e apertava gostoso omeu bumbum. Eu fiquei bem quietinha porque uma delcia e eu que-ria que ele ficasse lambendo o tempo inteiro, mas ele tirou aquelacoisona dele, o piupiu, e o piupiu era um piupiu bem grande, do tama-nho de uma espiga de milho, mais ou menos. Mami falou que nopodia ser assim to grande, mas ela no viu, e quem sabe o piupiu dopapi seja mais pequeno, do tamanho de uma espiga mais pequena, demilho verdinho. Tambm no sei, porque nunca vi direito o piupiudo papi. O moo pediu pra eu dar um beijinho naquela coisa deleto dura. Eu comecei a rir um pouquinho s, ele disse que noera para rir nem um s pouquinho, que atrapalhava ele se eu ris-se, que era pra eu ficar quietinha e lamber o piupiu dele comoa gente lambe um sorvete de chocolate ou de creme, de cas-

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    quinha, quando o sorvete est no comecinho. Ento eu lambi. A eledisse pra esperar, e foi at aquela mesinha do meu quarto perto do espe-lho. um espelho bem comprido, em volta tem pintura cor de rosa, elepediu para eu ficar deitadinha nas almofadas do cho na frente do espe-lho com as pernas bem abertas. Eu fiquei. A ele tirou da malinha deleuma pasta que parecia pasta de dente grande e apertou a pasta e deu paraeu experimentar e tinha o gosto de creme de chocolate. Ele passou ochocolate no piupiu dele, a eu fui lambendo e era demais gostoso, e omoo falava: ai que gostoso, sua putinha. Eu tambm achava uma delciamas no falei nada porque se eu falasse tinha de parar de lamber. Elepediu que eu ficasse toda peladinha, porque eu no tinha ainda tirado aminha saia, e a eu tirei. Ele pediu que eu ficasse do mesmo jeito, com aspernas bem abertas, porque ele queria ver a minha coisinha, e que eupodia abrir a minha coisinha com a minha mo, assim como se aminha coisinha quisesse se refrescar. Eu ento abri. Ele ficou de pna minha frente, e ia mexendo no piupiu dele e a ele disse ai aimuitas vezes, e pediu para ver a minha coisinha bem de perto e que

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    queira me lamber mais, e se eu deixava. Eu disse que deixava porque eramuito mais delcia ele me lamber do que eu ficar com a mo na minhacoisinha para refrescar. Ele perguntou me lambendo se eu gostava dodinheiro que ele ia me dar. Eu disse que gostava muito porque sem di-nheiro a gente fica triste porque no pode comprar coisas lindas que agente v na televiso. Ele pediu pra eu ficar dizendo que gostava dedinheiro enquanto ele me lambia. Eu fiquei dizendo: eu gosto do dinhei-ro. Depois ele pediu para eu dizer tambm: me lambe sem parar, papai.Eu disse que ele no era meu pai. Mas ele disse que era como uma brin-cadeira. Eu fiquei dizendo isso ento, e eu estava gostando muito porqueo moo sabe mesmo lamber de um jeito to lindo. Ele tambm me dumas mordidinhas e pe s um pouquinho o dedo l dentro, no muito,s um pedacinho do dedo. Mami avisou o homem que s pode pr umpouquinho do dedo seno di. E foi uma delcia. E eu queria mais, mas omoo, que a mami diz que no to moo, estava respirando alto, achoque estava cansado porque assim que o papi respira quando sobe ummorrinho que tem l numa praia da casa do tio Lalau. Agora eu no voucontar mais porque mame chamou para eu tomar leite com biscoito.Depois eu vou pr talquinho e leo Johnson na minha coisinha por-que ficou muito inchada e gordinha depois do moo me lamber tanto.

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    Mami me ensinou que a minha coisinha se chama lbios. Acheengraado porque lbio eu pensei que era a boca da gente, e mami medisse que tem at mais de um lbio l dentro, foi isso que ela disse quan-do eu perguntei como era o nome da coisinha. Quem ser que inventouisso da gente ser lambida e porque ser que to gostoso? Eu queromuito que o moo volte. Tudo isso que eu estou escrevendo no pracontar pra ningum porque se eu conto pra outra gente, todas as meninasvo querer ser lambidas e tem umas meninas mais bonitas do que eu, aos moos vo dar dinheiro pra todas e no vai sobrar dinheiro pra mim,pra eu comprar coisas que eu vejo na televiso e na escola. Aquelasbolsinhas, blusinhas, aqueles tnis e a boneca da Xoxa.

    Eu quero falar um pouco do papi. Ele tambm um escritor, coitado.Ele muito inteligente, os amigos dele que vm aqui e conversam mui-to e eu sempre fico l em cima perto da escada encolhida escutando,dizem que ele um gnio. Eu no sei direito o que um gnio. Seidaquele gnio da garrafa que tambm aparece na televiso no progra-ma do gordo, mas sei tambm da histria de um gnio que dava tudo oque a gente pedia quando ele saia da garrafa. Ou quando ele estavadentro da garrafa? Eu sempre pedia pro gnio trazer salsichas e ovosbem bastante porque eu adoro e tambm pedia pro papi pedir pro gniotudo que a Xoxa usa e tem. Papi disse quando eu pedi isso pra eu deixar de

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    ser mongolide. Eu no sei o que mongolide, depois vou procurarno dicionrio que eu tenho. Papi muito bom mas ele tem o que amame chama de crse, quero dizer crise, e a outro dia ele pegou ateleviso e pegou uma coisa de ferro e arrebentou com ela. E comprououtra televiso s pra o escritrio dele e tambm aquele aparelho cha-mado vdeo. Por isso agora eu estou escrevendo a minha histria, por-que ele tambm fica escrevendo a histria dele. Ele comprou um outroaparelho que se chama vdeo e pos l no escritrio dele. Eu j falei isso.Mas s de vez em quando que tem uma fita bonita pra mim. s vezespapi e mami se fecham l, eu no posso entrar mas eu escuto eles rirembastante. Eu j vi papi triste porque ningum compra o que ele escreve.Ele estudou muito e ainda estuda muito, e outro dia ele brigou com oLalau, que quem faz na mquina o livro dele, os livros dele, porquepapai escreveu muitos livros mesmo, esses homens que fazem o livroda gente na mquina tm nome de editor, mas quando o Lalau no estaqui o papai chama o Lalau de cada nome que eu no posso falar. OLalau falou pro papi: por que voc no comea a escrever umas ba-naneiras pra variar? Acho que no bananeira, bandalheira, agora eu sei.E falou uma palavra feia pro Lalau, mesmo na frente dele. Agora tenhoque continuar a minha histria, mas vou deixar pra continuar amanh.

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    Papi no est mais triste no, ele est diferente, acho que porqueele est escrevendo a tal bananeira, quero dizer a bandalheira que oLalau quer. Eu tenho que continuar a minha histria e vou pedir de-pois pro tio Lalau se ele no quer pr o meu caderno na mquinadele, pra ficar livro mesmo. Eu contei pro papi que gosto muito deser lambida, mas parece que ele nem me escutou, e se eu pudesse euficava muito tempo na minha caminha com as pernas abertas mas pa-rece que no pode porque faz mal, e porque tem isso da hora. suma hora, quando mais, a gente ganha mais dinheiro, mas no todo o mundo que tem tanto dinheiro pra lamber. O moo falou quequando ele voltar vai trazer umas meias furadinhas pretas pra eu bo-tar. Eu pedi pra ele trazer meias cor-de-rosa porque eu gosto muitode cor-de-rosa e se ele trazer eu disse que vou lamber o piupiu delebastante tempo, mesmo sem chocolate. Ele disse que eu era umaputinha muito linda. Ele quis tambm que eu voltasse pra cama outravez, mas j tinha passado uma hora e tem uma campainha quando agente fica mais de uma hora no quarto. A ele s pediu pra dar umbeijo no meu buraquinho l atrs, eu deixei, ele pos a lngua, no meuburaquinho e eu no queria que ele tirasse a lngua, mas a campainhatocou de novo. E depois quando ele saiu, eu ouvi uma briga, mas eledisse que ia pagar de um jeito bom, ele usou uma palavra que eudepois perguntei pra mame e mami disse que essa palavra que euperguntei regiamente. Ento regiamente, ele disse. Eu ouvi mamidizer que esse vero bem que a gente podia ir pra praia, mas eu ficotriste porque no vamos ter as pessoas pra eu chupar como sorvete eme lamber como gato se lambe. Por que ser que ningum descobriupra todo mundo ser lambido e todo o mundo ia ficar com dinheiro pracomprar tudo o que eu vejo, e todos tambm iam comprar tudo, por-que todo o mundo s pensa em comprar tudo. Os meus amiguinhos lda escola falam sempre dos papi e das mami deles que foram fazercompras, e eu ento acho que eles so lambidos todo dia. maisgostoso ser lambido que lamber, aquele dia que eu lambi o piupiu dechocolate do homem foi gostoso mas acho que porque tinha choco-late. Sem chocolate eu ainda no lambi ele.

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    Agora j tem muitos dias que eu no escrevo aqui no meu cader-no, eu tive minhas lies e no muito fcil escrever nesse meu caderno,tem hora pra tudo. E aconteceu bastante coisa. Veio um outro moodiferente, muito peludo. Ele quis que eu andasse como um bichinho, elefalou que podia ser qualquer bichinho, eu disse que gosto muito de ga-tos, ento ele pediu para eu andar igual, como uma gatinha. Mas ele nopediu pra eu tirar a roupa, ele s tirou bem devagar a minha calcinha epra eu ficar andando como uma gatinha e mostrando o bumbum e fazen-do miau. E ele ficou cheirando a minha calcinha enquanto eu ia andandocom o bumbum tomando ar fresco, e ele passava a minha calcinha nopiupiu dele e me olhava de um jeito diferente como se estivesse brincan-do de meio vesgo. Depois eu fiquei brincando com uma bolinha que ohomem moo me deu. Esse tambm no to moo, e muito peludomesmo. Eu pedi pra ele trazer uma bola cor-de-rosa que a eu ia brincarde um jeito que ele ia gostar.

    - Que jeito? ele disse.- Um jeito que o senhor vai gostar.Mas no fundo eu no sabia que jeito que eu ia brincar. A ele disse

    que se eu brincasse com a bolinha amarela como se ela j fosse cor-de-rosa, ele ia me dar bastante dinheiro. Eu fiquei atrapalhada porque nodava tempo de pensar como eu ia brincar com a bola cor-de-rosa queera amarela. Entoveu peguei a bola amarela e pus no meio das minhascoxinhas. O homem perguntou se podia pegar a bola como um ca-

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    chorrinho que vai tirar a bola de outro cachorrinho. Eu disse que elepodia. Ele ficou de quatro como os cachorrinhos, os cavalinhos, as vacase os boizinhos e a lngua dele ficou pra fora e ele veio com a boca bemaberta tirar a bola que estava no meio das minhas coxinhas. Ele tirou abola e comeou a babar na minha coisinha e disse pra eu dizer que era acachorrinha dele. Eu disse que era gatinha. Mas ele queria que eu disses-se que era a cachorrinha.

    - O senhor me d mais dinheiro se eu disser que sou a cachor-rinha?

    Ele riu e perguntou se eu gostava tanto de dinheiro. Eu disse quesim. Ele falou que ele gostava de eu gostar de dinheiro. Por que ser queno do dinheiro pro papi que to gnio, e pra mim eles do s dizendoque sou uma cachorrinha? Ele pediu para eu segurar a coisa dele, a coisadele era muito vermelha e eu fiquei olhando antes de pegar.

    - Agrada a minha cacetinha, agrada.- A tua coisa se chama assim?- Chama sim, lambe a tua cacetinha, sua cadelinha.E encostou a coisa vermelha na minha boca. A eu lambi e tinha

    gosto salgado e de repente o homem pegou na coisa dele e espremeu acoisa dele na minha coxinha. Depois ele limpou a minha coxinha com oleno dele e disse que precisava se ontolar. Mami sempre me corrige ediz que controlar. Que controlar quando a gente diz: se controla, nocome mais doce. Eu entendi mais ou menos.

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    Papai e mame tm brigado muito mais mas eu tenho que conti-nuar a minha histria e no posso perder tempo como diz o papi pramame. Ento papai veio dar uma espiada no que ele chama agora derelato. O meu relato. E disse que estava muito monocrdico. Eu jperguntei o que era monocrdico e ele disse: leva um bom dicionrio deuma vez, voc pergunta muito. A ele disse que ningum vai dar umtosto pro que eu escrevo. Eu perguntei por qu. Mame falou assim propapai:

    - Tem que ter muito mais bananeira, quero dizer bandalheira.(mami)

    - Voc est falando igualzinho ao Lalau, e quer saber? no temete, eu que escrevo. (papi)

    - que ningum l o que voc escreve, voc j sabe. (mami)- Tu cu que, Judas? (papi) Tu quoque Judas? (correo do

    Lalau)- Ns vamos voltar pra aquela merda de antes. (mami)A eu pedi pra todo mundo ir embora seno eu no podia escre-

    ver. Depois ele me chamou e comeou a me abraar e mame disse praele no fazer ceninhas romnticas e ser mais objetivo. isso: objetivo.Depois eles falaram que precisava ter mais conversa, mais dilogo, comoeles dizem. Mas como eu vou fazer pra ter dilogo se os homens nofalam muito e s ficam lambendo?

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    - Cacetinha? (mami)- Mas a histria de uma ninfetinha, voc no entende? (papi)- Ah, isso vai ficar uma bosta mesmo. (mami)- Mas depois melhora, gente, a coisa tem que ter comeo,

    meio e fim. (papi para mami e para os amigos)- Vamos ver, eu ainda no dou uma tusta pra essa histria.

    (Lalau)A eu perguntei se posso tambm falar do meu ditado que as-

    sim: A Amaznia muito grande e bonita e tem madeiras nobres.- Quem foi essa professora idiota que disse que tem madeiras

    nobre l? Tinha, tinha, agora no tem picas. (papi)- O que so madeiras nobres? (eu)- So madeiras muito especiais, raras. (mami)A papi disse que no dava pra escrever com essa falao e eu

    tambm no sei direito como a gente faz um dilogo. Eu perguntei propapi se ele gostava de mim e se ele queria me lamber. Ele disse que no,que gosta de lamber a mame.

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    Hoje foi um dia muito maravilhoso e diferente. Apareceu umhomem to bonito aqui e conversou com mame e papai. Eu ouvi umpouco atrs da porta do escritrio e ele disse que precisava de cenrio,de mais cenrio, e se podia me levar para a praia, que precisava de umcenrio de sade. Que era bom isso de ter uma menininha e que nin-gum entendia isso, e que at teve uma conversa com o mdico delesobre isso e o mdico deu umas bofetadas na cara dele, quero dizer queo mdico que deu umas bofetadas nele. Papai disse que era uma ideiamuito boa isso da praia e cenrio e tarado, , o moo dizia, nego,cenrio de sade, muito sol, isso d certo. Ento acho que eu vou prapraia com o moo. Depois eu entendi s um pedao, que o sexo umacoisa simples, ento acho que o sexo deve ser bem isso de lamber,porque lamber simples mesmo. Depois eles falavam que a Lorinhagosta de fazer sexo, no uma vtima, ela acha muito bom. Eles riammuito tambm. O homem disse que me trazia de volta tardezinha eque ia trazer um peixe lindo pra mame e papai. Ento eu fui como tio Abel. Ele se chama assim. Foi lindo desde o comeo. No car-

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    ro eu sentei ao lado dele e ele pediu que eu ficasse com as perninhas umpouco abertas. Eu fiquei. Ento ele guiava o carro s com uma mo, ecom a outra ele beliscava gostoso a minha coisinha e chamava dexixoquinha a minha coisinha. Depois ele ia passando o dedo bem devaga-rinho e perguntava algumas coisas. A eu pedi para escrever numcaderninho e ele no entendeu. Eu expliquei que estava escrevendo aminha histria e que precisava ter conversa na histria porque as pessoasgostam de conversas. A ele disse pra eu no me preocupar com issoagora, que ele at pode escrever um pouco pra mim, e que essas conver-sas se chamam dilogos. Ele disse que um dia tambm sonhou em ser umescritor.

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    - Papai um escritor eu disse.- um grande escritor.- Mas ningum l ele.- , mas agora vo ler.- Por qu?- Porque ele vai contar uma histria do jeito que o Lalau gosta.- O senhor conhece o tio Lalau?- Conheo sim.- O papai briga muito com ele.- Mas no vai mais brigar no.

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    Agora eu vou continuar a minha histria. A o homem ficou srioe disse.

    - Voc est molhadinha.- Estou sim.- Ento pega um pouquinho no meu pau.Eu perguntei se o pau era a cacetinha, mas esse homem disse que

    no, que era pau mesmo. Eu peguei na coisa-pau dele e na mesma horasaiu gua de leite. A tio Abel disse que aquela vez no valeu, mas que lna praia ia ser diferente. A viagem foi linda, tinha muito sol, ele parounuma barraquinha e comprou morangos, e disse que ia pr um morangona minha xixoquinha e depois ia l buscar. A gente conversou muito, e eudisse que um outro homem ia me comprar uma bolinha pra pr l dentro,uma bolinha cor-de-rosa. E que esse homem andava como um cachorro.

    - Que mau gosto, ele disse.Mas no teve muito dilogos para eu colocar aqui. Depois eu

    continuo.

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    A ns chegamos no hotel e ele falou que eu ia dizer que eu erafilhinha dele.

    - Que tal? ele disse.- Est bem eu disse.Depois eu falei: tio Abel, o senhor tambm gosta de brincar de

    papai? Porque um outro homem tambm gostava. Ele disse que todomundo porco e gosta, s que no fala. Eu disse: porco brincar depapai?

    - porco sim, mas toda a humanidade, ou pelo menos noven-ta por cento gente muito porca, lixo, foi um grande homem tambmporco que disse isso. O tio Abel que disse.

    - Que esquisito, n tio? eu disse. E noventa por cento eu nosei o que . E humanidade tambm no.

    Depois eu continuei dizendo que ia me atrapalhar porque eu cha-mava ele de tio Abel e agora ia ter de chamar ele de papai. Ento ele disseque no precisava, que tio Abel era melhor mesmo. E que Abel foi umhomem muito bom, mas se fodeu.

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    - Por qu? eu disse.- Por que Caim, o irmo dele matou ele.- Esse foi outro porco, n tio Abel?- Todos ns somos meio Caim, ou inteiro Caim, sabe Lorinha,

    um dia voc vai saber.Eu no entendi, mas o hotel era mesmo muito lindo. O quarto era

    tambm muito bonito e a gente via o mar. S que no tinha quase genteporque hoje no sbado nem domingo. tera-feira. A ele tirou aminha roupinha, me carregou no colo, eu fiquei no colo dele, e ele dissepra eu fingir que estava com medo. Eu disse que no tinha medo, queestava muito gostoso.

    - Faz de conta que eu sou um homem mau que te peguei e voufazer coisas porcas com voc.

    A eu comecei a rir e disse que ele era muito bonito e eu nopodia dizer que tinha medo. Tio Abel ficou um pouco chateado e disseque assim no ia dar pra brincar. Vai dar sim, pra brincar muito, eu disse,e me encolhi toda no colo dele e falei:

    - Ai, no faz assim, eu estou com muito medo.

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    - Abre a perninha, sua putinha safada.- Ai, tio Abel, no faz assim, ai ai ai.Ento ele ps as duas mos na minha bundinha e me levantou e

    comeou a beijar e a chupar a minha xixoquinha, e desabotoou bem de-pressa a cala dele, tudo meio atrapalhado, mas era uma coisa mais lindade to gostoso. Eu gostei bastante de brincar de medo. Depois ele quisficar lambendo bastante a minha coisinha, ele disse que era uma vacalambendo o filhotinho dela e lambeu com a lngua to grande que eucomecei a fazer xixi de to gostoso. Tio Abel lambia com xixi e tudo eeu disse que estava com tontura de to bom, e tambm que agora estavaardendo e ficando inchada a minha xixoquinha.

    - A tua bocetinha, ele disse. Que minha agora, ele disse.Vamos passar olinho na minha bocetinha mais piquinininha.

    E ele passou leo, e eu pus o meu mai e ele tambm ps e fomospro mar. Tinha muito sol, estava um dia maravilhoso, mas eu estava an-dando com as minhas perninhas meio abertas e ele disse para eu me es-forar pra andar direito seno podiam querer saber por que eu estavaandando assim e era claro que a gente no podia contar.

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    - Claro que no, tio, seno todo o mundo, todos os papi etodas as mami e todos vo pr as menininhas pra serem lambidas e temmenininha mais bonita ainda que eu, e a eu no vou ganhar muito dinhei-ro, n tio?

    - sim, Lorinha, se tiver muita bocetinha como a sua, de gentepiquinininha e to safadinha, voc no vai ganhar tanto dinheiro. Voc impressionante, Lorinha, muito inteligente mesmo, e quer saber, Lorinha?Voc me faz sentir que eu no sou mau.

    - Por que, tio? O senhor se sentia um homem mau?- Eu me sentia um canalha.- Papi agora tambm diz que se sente assim. Mas antes ele

    dizia que a vida tava uma bosta. Mas ele melhorou e no fala mais que avida t uma bosta depois que todo o mundo comeou a ser lambido.

    - Todo o mundo, quem? tio Abel disse.- Eu, a Lorinha, eu disse.Ele riu muito, e disse que eu era demais. Eu conversei muito com

    tio Abel e eu no sei se vai dar pra pr tudo em conversa, quero dizer, emdilogo, porque d muito trabalho de escrever toda a hora na outra linhado caderno, e o meu caderno no muito grosso, ento vou continuarcontando do meu jeito e quando der pra pr na outra linha eu ponho.Ns fomos para o outro canto da praia, e l tem uma pedra grande, agente subiu at a pedra, e no pedao mais difcil de subir, o tio subia nafrente, mas ele gostava muito quando eu subia na frente no pedao maisfcil, ele dizia:

    - Lorinha, voc tem a bundinha mais bonita que j vi, e eu j vique voc tem dois furinhos, duas covinhas em cima da bundinha, e isso raro.

    - O que raro?- Raro quando pouca gente tem.

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    - O que, por exemplo?- Dinheiro ele disse e os teus furinhos.- Mas dinheiro fcil.- fcil nada.- Pra mim fcil.- que voc predestinada.A ficou muito complicado pra ele me explicar o que predesti-

    nada. Eu pedi pra ele me escrever essa palavra pra eu pr aqui no cader-no, ele escreveu, mas a coisa de predestinada mais ou menos assim: unsnascem pra ser lambidos e outros pra lamberem e pagarem. A eu per-guntei por que quem lambe quem paga, se o mais gostoso ser lambi-do. Ento ele disse que com gente grande os dois se lambem e tem atgente que no paga nada nem pra ser lambido.

    - Ento o que mesmo raro, tio?- Lorinha, ns estavamos questionando o que predestinada.

    Raro j passou.- Ento, o que predestinada, tio? E o que questionando?- Lorinha, predestinada quem nasceu pra ser lambida. Voc.

    Questionando, a gente fala depois.Fiz bastante dilogo, e agora vou continuar sem dilogo. Por causa

    daquilo que eu j expliquei do caderno que no muito grosso. Porqueeu ouvi tambm o Lalau dizer pro papai que no era pra ele escrever umcalhamao de putaria (desculpe, mas foi o Lalau que disse), que tinha deser mdio, nem muito nem pouco demais, que era preciso ter o que elechamou de critrio, a o papai mandou ele a puta que o pariu (desculpede novo gente, mas foi o papi que falou), ento deve ser nem muitogrosso nem muito fino, mas mais pro fino, e por isso, eu tambm, sequiser ver meu caderno na mquina do tio Lalau, no posso escrever doiscadernos, seno ele no pe na mquina dele de fazer livro.

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    L em cima da pedra tinha uma espcie de lagoinha e dentrotinha uns peixinhos bem piquinininhos e o tio Abel falou que eu podiasentar na lagoinha e depois ele ia espiar se algum peixinho entrou naminha bocetinha. Eu fiquei brincando na lagoa sempre com as pernasabertas como o tio Abel gosta e como todo o mundo gosta, no seiat por que no construiram a gente com as pernas abertas e a agente no tinha sempre que ficar pensando se era a hora de abrir aspernas. Nenhum peixinho entrou l dentro, mas tio Abel olhava sem-pre, e punha o dedo l dentro bem devagarinho (pra no assustar opeixinho que no tinha, mas que podia ter, ele dizia) e punha e tiravao dedo e depois lambia o dedo, e foi fazendo assim tantas vezes e foificando to gostoso que eu tinha vontade de rir e de chorar de tomaravilhoso. Que bom que as pessoas tm lngua e tm dedo. E quebom que eu tenho bocetinha. A eu falei assim, sem querer: eu amovoc, Abel. A ele ficou com os olhos molhados e disse: eu tambmamo voc, Lorinha, agora d uma chupadinha no meu Abelzinho. Eleficou na beirada da lagoinha e eu fui como um peixe chupar e lambero Abelzinho. Achei lindo ele chamar a coisa-pau dele de Abelzinho edisse que ia chamar assim todo o mundo. A ele falou: no faz a tonta,Lorinha, voc s pode chamar de Abelzinho o meu pau. Depois eleme tirou da gua e disse que precisava me ensinar a chupar oAbelzinho, que s vezes eu podia descansar e conversar um poucocom ele, com o Abelzinho. E depois chupar de novo. Que era umafalha, ele falou assim, na minha educao sen-

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    sentimental (ele falou assim), eu no saber chupar o Abelzinho. Quetinha uma histria muito bonita de um homem que era uma espcie dejardineiro ou que tomava conta de uma floresta, e que esse homem gos-tava de uma moa muito bonita que era casada com um homem que tinhaalguma coisa no Abelzinho dele, no pau, quero dizer. E disse que essejardineiro ou guarda da floresta ensinou a moa a conversar com o paudele e que l sim que tinha essas conversas chamadas dilogos muitolindas mesmo. Ele falou que logo ele ia me trazer o livro e assim eu podiapr no meu caderno algumas coisas parecidas com isso. Eu disse que noqueria copiar ningum, queria que fosse um caderno das minhas coisas.

    Agora veio um bilhete do tio Abel: Lorinha, no encontrei a his-tria da moa e do jardineiro pra mandar pra voc. Mas eu encontrei estaoutra histria, muito bonita tambm. Aqui voc vai aprender muitas coi-sas. O que voc no entender, depois eu explico. a primeira histria deum caderno que vai se chamar: O Caderno Negro.

    Vou copiar a histria que o tio Abel me mandou, no meu cadernorosa. Quem sabe o tio Lalau vai gostar muito dessa histria e a eu peopro tio Abel me emprestar e a gente junta o caderno negro com o cader-no rosa. O nome dessa histria

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    O CADERNO NEGRO

    (Corina: A Moa e o Jumento)

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    Seu pnis fremia como um pssaro(D.H. Lawrence)

    Hi,hi!(Lori Lamby)

    Ha, ha!(Lalau)

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    Minha famlia foi parar numa cidade de Minas chamada Curralde Dentro. Ns ramos muito pobres, e eu fui trabalhar na roa commeus pais. s vezes eu pensava que a vida no tinha o menor sentidomas logo depois no pensava mais porque a gente nem sabia pensar, eno dava tempo de ficar pensando no que a gente nem sabia fazer:pensar. Eu j estava com quinze anos, e sempre na mesma vida. A nicacoisa que me alegrava era ver de vez em quando a Corina, filha do seoLicurgo. Ele tinha uma pequena farmcia e todo o mundo se tratavacom ele. Corina tambm tinha quinze anos. Peitos grandes, cabelosnegros cacheados, bunda redonda, dentes lindssimos. Dentes lindssimosera uma coisa muito difcil de ver em Curral de Dentro, porque l notinha dentista e quem arrancava os dentes por qualquer toma-l-d-cera Ded-O Falado. O nome dele era esse porque como todo o mundotinha que arranjar sempre um dente ou dois ou todos, sempre se falamuito no Ded. Ele no tinha dente algum. Era moo muito delicado,maneiroso, e morava com a me. Ela tambm no tinha dente algum.Todos os domingos eu tentava ver a Corina na parte da manh, porqueo seu Licurgo abria a farmacinha no domingo na parte da manh. Umdomingo cheguei na farmcia e ouvi vozes altas e gritos e choros quevinham l do quartinho de trs onde se tomava injeo, e reconheci avoz do seo Licurgo e o choro de Corina. Ele dizia que agora, depois deas pessoas terem visto Ded-O Falado de mos dadas com ela, ela noia mais ficar na cidade. Ela ia ficar definitivamente na casa dele, do seoLicurgo, na roa, morando com a velha Cota, que tomava conta dojumento e da casa. Eu s ouvia agora os soluos dela, e nunca tinha ou-

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    ouvido o seo Licurgo gritar daquele jeito. Fiquei desesperado e gritei:por favor, seo Licurgo, pra com isso. Ele saiu do quartinho l de trs, acara muito vermelha, e perguntou o que que eu queria. Falei que queriaconversar um pouco com a Corina. Ele me disse que a Corina nunca maisia falar com ningum, porque moa desavergonhada tem que ficar caladae trancada. Falei o mais que pude com seo Licurgo, que a Corina era umamocinha muito direita, que as pessoas so faladeiras e tm muita invejada beleza e da castidade. Seo Licurgo pusou os culos at a ponta donariz, me olhou da cabea aos ps e perguntou o que que eu entendiapor castidade. Eu disse que as santas eram pessoas castas, que eu havialido isso num livro, uma espcie de catecismo que os meus pais tinhamguardado, e que era um livro que a minha finada av havia deixado. Poisolha, Edernir (esse o meu nome), posso at estar errado, mas acho quevoc entende tanto de castidade como eu entendo de logaritmo. Ele nofalou desse jeito, ele tinha l um jeito mineiro de falar, mas agora no melembro mais. Mas, continuando, achei incrvel a palavra e perguntei oque era aquilo, o que era logaritmo. Ele respondeu que era uma coisabastante enredada, coisa dos nmeros, de aritmtica, mas que nunca maisele esqueceu a palavra, e achava a palavra muito bonita, to bonita quedeu o nome de Logaritmo para o jumento que vivia l na roa. umbelo jumento, Edernir, mais escuro que o normal, quase preto, e de plomuito lustroso, eh plo bonito, parece at asa de urubu, quer saber Edernir,o plo do Logaritmo parecido com o teu cabelo.

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    Corina nesse instante apareceu no vo da porta com o rostobastante desfigurado de tanto chorar. A seo Licurgo disse: t bem,minha filha, pode conversar um pouco com o moo Edernir, ele umbom moo, e diz que entende de castidade. E deu uma risada, entrou lno quartinho de trs da farmcia dizendo que precisava preparar umaspoes pra velha Cota que no parava de cagar, e que a Corina ia levaro remdio pra velha. Vai arrumar teus trens, Corina, e depois vai e jfica por l. Mesmo desfigurada eu nunca achei a Corina to bonita.Ela usava uma blusa da cor do cu azul, uma blusa de seda, e como elaestava suada de tanto chorar e sofrer com os gritos do pai, a blusa ficouagarrada nos peitos, e apareciam os dois bicos de pontas durinhas esaltadas. Eu disse que ela no se desesperasse, que eu tinha a certezaque o seo Licurgo ia mudar de idia, e que ainda que ele no mudasse,eu iria v-la a cada dia l na Serra do . A serra tem esse nome porqueas pessoas dizem que l viveu h muitos anos um velho que no deixa-va ningum em paz enquanto as pessoas no diziam quando ele pas-sava. Vai me ver mesmo? Corina perguntou. Juro por Deus, eudisse, e peguei e apertei a mozinha dela. A chegou o seu Licurgo e eutirei depressa a minha mo de cima da mozinha dela. J pode ir,moo Edernir, disse o seo Licurgo. Eu fui. No caminho de volta senti omeu pau duro dentro das calas, cada vez que eu pensava nos peitos enos bicos pontudos da Corina o meu pau levantava um pouco mais. Eutinha que ter passado pela capelinha mas do jeito que eu estava nopodia. A capelinha era uma construo caindo aos pedaos, cheia debancos duros, e onde o padre Mel falava sempre aos domingos. Ele sechamava padre Mel porque as beatas diziam que ele falava to doceque as palavras pareciam mel. O nome verdadeiro dele era Tonho.Padre Tonho. Bem, voltando ao meu pau. Eu estava to perturbadoque precisei pr a mo dentro das calas, e segurei o caralho com fora pra

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    ver se ele se acalmava mas o efeito foi instantneo. Esporrei. Comecei aatravessar a pracinha muito depressa, a mo toda molhada, a cala tam-bm, e de repente ouo a voz da comadre Leonida: Edernir! vem aquium pouco, menino, leva esse bolo de fub pra tua me. Eu comecei acorrer mais ainda e ela atrs de mim com bolo. Me agarrou, me puxoupelas calas e disse credo cruzes Edernir, onde que tu vai assim, vaica o que com essa pressa? E a me olhou direitinho e viu a mancha naminha cala. E no que o moo t todo mijado? Arranquei o bolo dasmos dela e nunca corri tanto. Meus pais estavam na capelinha, ouvindoo sermo do padre Mel, e eu aproveitei pra lavar as calas. Depois fiqueizanzando, e Corina no me saa da cabea. Durante todo aquele domin-go fiquei amuado, de cara amarrada, de um tal jeito que os meus paisperguntaram se eu estava sentindo qualquer coisa, se estava doente, ou oque era. Disse a eles que no era nada. noite fiquei pra l e pra c,andando na ruazinha vazia, e fazendo planos para minhas visitas futuras Corina. Minha me me deu ch de erva cidreira dizendo que aquilo erabom pro nervoso, pro estmago, pra tudo. Na segunda-feira, depois devoltar da roa, disse a meus pais que no tinha vontade de comer nadano, que eu ia andar um pouco l pela Serra do pra caar tatu. Elesacharam esquisito porque eu no era de caar tatu, tinha visto um diameu pai caar esse bicho e ele levantou o rabo do bicho e ps o dedodentro do cu do animalzinho. assim que o tatu se aquieta. Tem genteque tambm se aquieta assim? pensei. E achei horrvel. Mas inventei essamentira e fui. Era bem uma boa lgua at a casa de Corina e meu pau foificando duro pelo caminho s de pensar que eu ia ver a Corina outra vez.A cheguei. A casa era pequena, muito branquinha. Como j estivesse umpouco escuro achei bom gritar o nome dela para que no se assustassecom meus passos. Apareceu a velha Cota, os olhinhos apertados:

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    Uai, que que oc veio faz aqui uma hora dessa?Vim ver a Corina, velha Cota.Uai, no esperava no, ento vou bot um trem aqui pra oc

    com.A apareceu a Corina. Ela estava linda. Falou pra velha Cota ir

    dormir que aquilo no era assunto dela no. A velha saiu resmungando ese fechou no quartinho. No liga no Edernir, a Corina falou, ela vivedormindo, s dar uns gritos com ela e ela se aquieta. (Inda bem que avelha Cota era diferente do tatu.) A saia que Corina vestia era bem justano corpo, bem apertada, e eu podia ver as ndegas estremecendo quandoela se movia. Perguntou se eu queria uns bolinhos de requeijo, eu disseque sim, que queria. Comeamos a comer os tais bolinhos, ela sorria, eos dentes brilhavam muito naquela luz do lampio. Perguntei se ela notinha medo de ficar ali sozinha com a velha Cota, ela respondeu quetambm no era assim, que sempre tinha algum colega que vinha, depoisriu e falou: e tem tambm o Logaritmo. Eu tambm ri. E perguntei sepodia v-lo. Ela disse que j estava escuro, e que no escuro eu noia ver a belezura dele. Que os plos eram muito lindos de dia, que separeciam mesmo com os meus cabelos, quase a mesma cor, ela dis-se. Eu tambm ri porque nunca ningum tinha dito que eu tinha ocabelo de jumento, s o seu Licurgo e ela. Ela perguntou se eu noqueria sentar na beirada da cama que era mais gostoso que sentar nacadeira. Vi tambm uma cadeirinha baixa, muito bonitinha, noquarto da Corina. Comecei a querer ver mais de perto a cadei-

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    quando ela perguntou se eu no estava sentindo um cheiro gostoso noquarto. Gostoso, sim, eu disse, parece cheiro de folha de eucalipto. sim, eucalipto, Edernir, eu pus folha de eucalipto em baixo das cober-tas, quer ver? Ento Corina se dobrou pra levantar as cobertas e eu noagentei e abracei-a por trs, ela gemeu e falou: voc to bonito,Edernir. Eu fui ficando muito nervoso mas fui pondo a mo embaixo dasaia tentando suspend-la, mas no saia era muito justa e no dava prabolinar as coxas. Ela foi-se rebolando e suspendendo a saia e embaixoda saia no tinha calcinha. Fiquei muito excitado quando vi os plospretos e enroladinhos, e ento ela perguntou assim: quer veer de pertoa minha vaginona? Pega nela, pega. Tremi inteiro, ajoelhando, ela co-meou a passar mo nos meus cabelos de jumento e foi empurrandocom fora a minha cabea na direo da boceta. Eu no sabia muitobem o que fazer mas beijei o pbis gordo e escuro de Corina. Ela dizia:abre, abre pe a lingua l dentro. Eu, nos meus quinze anos quase cas-tos, tinha um pouco de medo de abrir a vagina de Corina, ento elamesmo o fez, e eu comecei a lamb-la desajeitado. Enfia agora o teupau, Ed, ela falou. Gostei do meu nome assim reduzido, parecia coisade mocinho de cinema, porque s vezes eu ia at Salinas, uma cidade-zinha perto de l, e ouvia nomes parecidos com esse. Ed, Ned. Bem,ento enfiei, mas Corina se contorcia meio desesperada, dizia enfiamais Ed, mais, Ed, me atravessa com o teu pau, no t sentindo quase,ela dizia. Eu suava tanto como se estivesse morrendo de febre mals,alagado como se estivesse dentro dgua, e aquilo de Corina di-

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    dizer tantas palavras tambm me confundia. Ser que meter ia ser sem-pre assim, a mulher falando tanto? Frentico, eu quase metia at as bolasl dentro e ela esfregava as minhas bolas com tamanho frenesi, com ta-manho entusiasmo, que gozei muito antes desse discurso todo. Arriei emcima de Corina, mais pro moribundo que pro vivo. Ela ficou esttica derepente, me empurrou enfezada, puxou os cabelos pra trs, e a cara pare-cia sria demais. Estaria zangada? Olhei de vis, fui me levantando esuspendendo as calas e depois tentei abra-la. Ela falou: Ed, voc muito franguinho bobo. Meu Deus, eu queria morrer naquela hora, massabia que o meu pau tinha trabalhado bem, um pouco apressado talvez,mas bem no ritmo de tanta putaria. A falei: Corina, se voc no tivessese arreganhado tanto, eu at que podia ter demorado mais. Ela gritou:arreganhado? arreganhado? uai, Ed, mulher se arreganha pro macho dela,seo bobo, e quer saber? teu pau magro pra mim, eu gosto de uma boapica igual a do Ded. Fiquei roxo. Ento aquele delicado maneiroso ti-nha um caralho e metia com a minha doce Corina, aquela que eu achavauma santinha, os olhos acastanhados, as pestanas longas quase douradas,o jeitinho que antes era meigo, o olhar cheio de ternura, aquela minhaCorina fodia com o desdentado Ded-O Falado? Cheio de cime e raiva,no entanto controlei-me. Desculpe, Corina, eu disse, amanh eu volto evou fazer tudo melhor. Eu te gosto. Corina, completei. Ela riu. Vocpode ir aprendendo, n benzinho?

    E foi se achegando de novo, passou a mo na minha bunda, nogostei, e disse:

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    Epa, Corina, a no.Voc mesmo um tonto, Ed, traseiro de homem tambm bom

    de passar a mo.No gosto disso no.Por qu? Voc acha que bunda de homem no sente? Voc no

    quer o meu dedo no teu buraco, Ed? gostoso.No sou tatu, Corina, me larga.

    Corina no parava de rir com essa frase, foi se chegando muito, pedindoque eu passasse a mo nas suas ndegas. Passei. Mas suavemente assimcomo a gente alisa uma cachorrinha ou a porca nova. Ela pressionouminhas mos na sua bundona. assim Ed ela dizia -, forte assim, Ed,machuca assim, e fez com que as minhas unhas arranhassem a sua car-ne. Afastei-a.

    Isso tambm eu vou aprender, Corina.Voltou a me abraar e disse: Me d a tua lngua, pe pra fora a

    tua lngua. E comeou a sug-la como se sugam as mangas. Minha cacetaendureceu mas achei prudente no tentar de novo aquela noite.

    Fui voltando pra casa meio triste, andando devagar, confuso emagoado. Como a gente bobo, fui pensando, a cara das pessoas umae depois no quarto vira outra, a menina Corina era uma boa puta, umaordinria, uma mulher da rua, e o que era essa coisa de meter o caralhoda gente numa boceta e ficar assim adoidado? E se ela queria um caralhomaior que o meu, por que no metia com o jumento? E como seriao pau do delicado Ded-O Falado? Ser que todas as mulheres

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    querem uma tora no meio das pernas? E fui andando agora mais de-pressa, colrico, tramando enormes indecncias, e pensando: (Coriname fez pensar, isso devo mesmo a ela) como que diz mesmo o cate-cismo, ou seja l o que for? Que o homem feito imagem e semelhan-a de Deus. Cruzes, ento, eu, Edernir, era feito imagem e semelhan-a de Deus? Pensando na boceta da Corina? Estertorando em cimadaquela puta? E no que o meu pau ficava duro ainda pensando na-quela porca? De repende me veio um desespero, um remorso de pr omeu Deus no meio daquilo tudo, e um pouco antes de chegar em casatomei a resoluo de me confessar dia seguinte com o padre Tonho. Iacontar tudo, que tinha teso mas tambm tinha raiva de Corina, que eleme ajudasse e desse o perdo etc etc. Depois do meu trabalho na roa,fui no dia seguinte capelinha. Eram cinco da tarde. Entrei, e l dentrono havia ningum. A sacristia ficava bem l no fundo da capela. Erapreciso atravessar um corredorzinho, e fui me concentrando, todo co-movido e cheio de piedosas intenes. Um silncio total. Ningum.Algumas velhas beatas transitavam por ali. Aquela tarde, ningum.Chegando porta da sacristia entendi. Havia um bilhete do padre Mel:fui levar os santos leos pra um compadre meu, em Curral da Vara.Algum que sabia ler havia lido e espalhado pra todos. J ia me afastan-do da sacristia quando ouvi algum rudo. Dentro da sacristia no era.De onde aquele rudo, como se um bicho agonizasse? Abri devagarinhouma portinhola que dava para a horta do padre Mel. L, mais adiante,havia um quartinho de ferramentas, enxadas, ps, ancinhos, etc. Meio

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    agachado, fui at l.E por uma bela fresta da janela toda carcomida vi:Padre Tonho arfava. A batina levantada mostrava as coxas brancas comodeveriam ser as coxas de uma rainha celta. (Rainha celta meu Deus, deonde que veio isso?) O pau do padre, era, valha-me Deus, um trabucoenorme que entrava e saa da vaginona de Corina, ela por cima, ele seesforando arroxeado pra ver o pau entrar e sair. Ela, com aqueladiscurseira toda: ai, Tonho, ai padre caralhudo, ai gostosura, ai, santame do senhor que te fez Tonho. Depois a falao do padre: ai, bocetudamais gostosa, quero te pr no cu tambm, vira vira, C (pensei: foi aquique ela aprendeu a reduzir os nomes), vira, putona. Corina de quatro, e ocaralho do padre tonho agora entrava e saa do buraco de trs da moa,ela rebolando, os olhos revirados. A ele tirava um pouco e ele gemia:No faz isso, T, no faz assim, tua gua (coitada das guas) vai morrerde teso. E ele: Ajoelha, e pede por favor, diz que se o meu trabuco noentrar mais no teu buraco tu vai morrer, diz, pede em nome do chifrudo,anda, pede. Corina falava bastante, mas no dava pra ouvir tudo. De-pois se arrastava aos ps dele, lambia-lhe os dedos do p, e padre Tonhoque falava mais alto que Corina continuava o discurso: No vou porno, vou esporrar na tua boca, cadelona gostosa (coitada das cadelas!),putinha do T (coitada das putinhas). Corina chorava, implorando, se-gurava os peitos com as mos, fazia carinha de criana espancada (coita-da das crianas) e ia abrindo a boca: Ento esporra, T, esporra naboquinha (coitada das boquinhas!) da tua Corina.

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    Claro que esporrei vendo e ouvindo toda aquela putaria, as per-nas bambas, a garganta seca, e ainda (acreditem) completamente deses-perado de paixo. Meu corpo estremecia inteirinho, comecei a corrercomo se a vara do padre estivesse atrs de mim (Curral da Vara, ? poisclaro que sim), atravessei como um louco a pracinha, tropicava outra veze corria, chorava e soluava, o rosto inteiro molhado. E no que ouode repente a voz da comadre Leonida: Edernir! Edernir! cruzes credo, omoo anda sempre correndo e mijado!

    Cheguei em casa, esbaforido, fingindo doena, a mo nas vergo-nhas dizendo: Que dor aqui, me! Acho que doena da pedra na bexi-ga, ai, tenho que ir na privada.

    L dentro tirei as calcas e gritava: Mijei nas calas, me, dedor, me.

    Sa de l de dentro plido e trmulo, vomitei de nojo de mimmesmo, a me passava a mo na minha cabea e s dizia: Coitadinho,coitadinho do meu menino.

    Minha caceta estava murcha e engruvinhada. De tristeza agora.Fui pra cama, enfiei a cara no colcho e chorava chorava, o ranho desciapelo nariz, a me limpava e rezava. Tomei ch de quebra-pedra que ame fez, fui me acalmando, o pau j estava mais alegrinho, a me come-ou a rezar o rosrio, agradecendo a Deus. Da minha cama eu via a noitechegando, as estrelas, a lua cheia, e pensava: meu peito ainda est incha-do de amor pela Corina, queria sentir dio mas no conseguis mais, quantomais puta ela se mostrava mais eu queria, minhas narinas sentiam o chei-ro daquela vagina rodeada de plos pretos enroladinhos, aquela gosmaque eu lambi a primeira vez parecia a gosma das jabuticabas (coitadasdas jabuticabas!), aquela puta vadia era a minha vida, o ar que eu respira-va. Olhava a noite linda, estrelas, lua, e toda aquela maravilha no tinha abeleza da boceta de Corina.

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    Passei alguns dias sem aparecer. Nem na roa. Nem na casa deCorina. Ficava deitado pensando. Pensando no quarto perfumado deCorina, na cadeirinha to linda. E a me lembrei com muita nitidez detodos os detalhes dessa cadeirinha. Pois bem, pensei, e pra que serviriaaquele buraco? Alguns pensamentos imundos comearam a surgir. Al-gum enfiava a caceta naquele buraco e acontecia o que l embaixo?No, mas a seria um buraco redondo, prprio para uma caceta, mas oburaco era alongado. Alongado, em forma de folha larga? Virgem Ma-ria, ser possvel? Ser possvel que essa moa Corina tenha mandadofazer um buraco especial, numa cadeirinha rara, s para refrescar aprpria vagina? Eu estava louco. E quem teria sido esse arteso? Masisso era um absurdo, essa moa Corina morava em Curral de Dentro,no morava nas Oropa, no putal de l, pensei, essa caipirinha no podiaser to imaginosa, t bem que se abrisse numa falao, mas era falaode puta de arraial mesmo, e quer saber? Eu vou at l, ainda que seja spara ver de mais de perto a cadeirinha. Eram trs horas da tarde. An-dando bem depressa vejo tudo de dia: o jumento, a cadeirinha e Corina.S no pensei no Ded. E foi ele mesmo quem vi assim que cheguei.Ded-O Falado, o delicado, o maneiroso, com a cabeca embaixo dacadeirinha e Corina pelada, sentada em cima. Aquela fenda na cadeiraera para Corina se sentar com a vagina no buraco (acertei!) mas nopara refrescar a dita cuja, mas para ser lambida. O Ded enquanto faziaisso se masturbava e arreganhava os dedos do p se esticando todo.Quando eu cheguei ele estava esporrando. Ela, ainda se mexendo prafrente e pra trs, rindo gostoso.No ouve o menor sinal de cons-

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    trangimento ou surpresa. Corina disse: Vem tambm Ed, t de lascar.Ded, largado embaixo da cadeirinha, falou molenguento: T demais debom, Ed, t danado de bom. Pensei com os meus poucos botes: serque a velha Cota tambm est metendo algum pepino no vagino resse-cado? Que gente! Era fantstico tudo aquilo, surpresas por todos os la-dos, eu era sim um perfeito imbecil. Fiquei encostado na soleira da porta,olhando o jumento que passava logo ali. De fato, era muito bonito oLogaritmo. Quase preto, verdade, de plo muito lustroso. Passei a mono meu cabelo e cheguei a esboar um sorriso. Continuei encostado nasoleira da porta. E pueril e inocente comecei a dar tratos bola: ento isso a vida. O amor, uma bobagem. As mulheres, umas loucas varridas.Ou s a Corina que era uma louca varrida? Ou eu que no entendianada do mundo e todo o mundo era assim? E todo o mundo tinha suacadeirinha escondida? As putas das mulheres do mundo inteiro tinhamsuas ignbeis cadeirinhas? E por que eu no encarava isso do sexo comouma enorme e gostosa e grossa porcaria e no comeava agora mesmo ame divertir com Corina e Ded?

    Ento fui tirando as calas bem devagar, fui tirando tudo. Corinae Ded comearam a sorrir delicados, e eu, pelado, fui at o pasto, pe-guei o Logaritmo, fui puxando o jumento pra mais perto de casa. Amar-rei o Logaritmo na estaca da cerca, comecei a me masturbar mansamen-te, e fui dizendo: Querida Corina, vai mexendo no pau do Logaritmoque eu quero ver o pau dele. Ela ria pra se acabar. Ded tambm. Isso que inveno gostosa, Ded dizia. Corina replicou: E voc acha,tonto, que eu j no buli no pau do Logaritmo?

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    Ela ajoelhou-se embaixo do bicho e esticava a pele dele pra cimapra baixo, abraava aquela vara enorme e o bicho zurrava, e ela ria ria, seesfregando inteira no pauzo do jumento. Ded chegou bem perto demim e falou: Voc lindo, Edernir, eu gosto mesmo de voc. Dei-lheuma tapona na boca, ele rodopiou, ficou de bunda pra minha pica, enter-rei com vontade minha linda e majestosa caceta naquele ridculo cu doDed. Ridculo o que eu pensava de tudo quela hora. Ele gritava: Aiai ai que delcia a tua cacetona Edernirzinho. Assim que esporrei (apesarde ridculo), dei-lhe uma vastssima surra de cinta e quando ele j ia des-maiando a Corina tentando fugir, agarrei-a, forando para que continu-asse a masturbar o bicho. Comprimindo-lhe com energia as bochechas,fiz com que recebesse em plena boca a tonelada de porra do jumento. Eassim esporrada, meti-lhe um murro, quebrando-lhe os magnficos den-tes. Deixei os dois desmaiados, a velha Cota sempre fechada no seu quarto,o jumento comendo os girassis plantados rentes parede da casa, oolhar amortecido e gozoso. Voltei para casa, meus pais ainda estavam naroa, pus minhas tristes roupas na mala de papelo, andei por uns ata-lhos, cheguei estrada, tomei uma carona, fumei o primeiro cigarro da-quele dia, e nunca mais voltei a Curral de Dentro.

    Eu era um moo muito bonito, tambm com dentes perfeitos, eainda hoje o sou. Tenho trinta anos. Vivo na cidade grande. Sou dentista.Meus amigos tambm me chamam de Ed.

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    Tio Abel, eu tive sonhos muito feios depois de ler a histria que osenhor me mandou. Sonhei que um piupiu cor-de-rosa muito muito grandee com cara de jumento na ponta ficava balanando no ar e depois corriaatrs de mim. Depois o piupiu grande passava na minha frente e eu tinhaque montar nele, e a cara do piupiu que era de jumento virava para mime passava o linguo dele mais quente que o do Juca na minha coninha. Eugritei muito de medo do linguo, mas a apareceu o He-Man e a princesaLia, e o He-Man cortou com a espada s a cabea do jumento mas opiupiu ficou inteiro do mesmo jeito, s que sem a cabea grande do bi-cho, e entrou no meio das pernas da princesa Lia e ela gritava ui ui eparecia bem contente. O He-Man tambm estava com a espada atrsdela, da princesa, e eu estava segurando na trana da princesa Lia e agente ia voando at o Corcovado. Esse pedao foi bonito. Mas eu acheimuito difcil essa histria que o senhor me mandou, e tambm no seidireito como um jumento preto. Eu conheo cavalinho e boizinho eburrinho. Sabe, tio, eu achei a histria um pouco feia tambm. O Edernirficou bravo com a Corina e o Ded? Coitado dele, n, tio? Acho que eleficou sentido com a Corina. Agora eu vou colar figurinhas do He-Man eda Xoxa na beirada do caderno e tudo vai ficar mais bonito.

    Vou continuar o meu caderno rosa. Tio Abel me ensinou a chu-par. Ele fez uma espcie de aula. No comeo ele disse que ia ser meiodifcil porque a minha boca muito piquinininha e a minha mo tambm.

    Lorinha, voc no lembra daquela menininha da televiso qued uma mordidona na fatia de po com margarina?

    Mas pra abrir e morder assim?Claro que no, Lorinha, s o comeo da aula, pra voc apren-

    der a abrir a boca.Eu gosto de aprender, tio Abel, papai sempre diz quando o Lalau

    no est: como sacana aquele filho da puta do Lalau, mas vivendo que se aprende. Ento eu quero aprender.

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    Abel tirou o Abelzinho pra for a, e ele estava muito triste e moleainda, o Abelzinho, e a o Abel disse:

    Agora voc pega nele primeiro, aqui onde ele nasce.Onde ele nasce?Aqui, na raz dele, olha.Que raz?Aqui perto das bolotas, dos ovos.

    Eu fui pegando e o Abelzinho foi ficando duro, fui pegando pra cima epra baixo, com a mo do tio Abel em cima da minha pra me ensinar, e oAbelzinho foi crescendo e ficando coradinho, e a eu abri bem a boca eescondi a cabea dele na minha boca. Tinha um gosto engraado, demandioca cozida. E quando eu escondi a cabea dele na minha boca, tioAbel empurrava um pouco a minha cabea bem devagarinho, depois maisdepressa, e ele, o tio, punha o dedo dele no meu buraquinho de trs esenti uma delcia, e descansava um pouco e falava com o Abelzinho, maso tio no tirava o dedo do meu cuzinho. Eu disse pro Abelzinho: comovoc lindo meu bonequinho, como voc est todo durinho, meu amor-zinho. Tio Abel de repente disse:

    Repete o que eu vou te dizer, Lorinha. Diz: pe mais o teu dedono meu cuzinho que eu estou adorando.

    Ento eu repeti isso uma poro de vezes, e a eu senti uma esp-cie de dor de barriga, mas uma dor de barriga muito gostosa, a gente nemliga pra essa dor. uma dor coisa bonita, uma dor coisa maravilhosa.

    No sei por que as histrias pra criana no tem o prncipe lam-bendo a moa e pondo o dedinho dele maravilhoso no cuzinho da gente.Quero dizer da moa. Papi poderia escrever histrias lindas pra crianacontando tudo isso, e ento eu fui falar com ele mas no deu muito certoporque mame e ele brigaram. Ento foi assim:

    Papi, j que o senhor quer ganhar dinheiro do salafra sacanafilho da puta do Lalau

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    No fala assim, menina.Mas voc que fala assim, papai.T vendo? Tudo o que a menina fala, t vendo? disse a ma-

    me.Ento o papi falou pra mami calar a boca mas a mami comeou a

    falar sem parar, ela disse que o bom mesmo era ele escrever do jeito doHenry Miller, que:

    Voc quer saber, Cora, eu acho o Henry Miller uma pstula (Cora o nome da mami), isso mesmo, uma pstula, uma bela cagada.

    Voc tem coragem de dizer que o Henry Miller uma pstula?Tenho, e quer saber? sua judas, eu trabalhei a minha lngua como

    um burro de carga, eu sim tenho uma obra, sua cretina.A mame comeou a chorar e disse que adorava ele, que sabia

    que ele trabalhou muito a lngua, que ele era raro e comearam a seabraar e eu acho que eles iam se lamber, e eu no consegui perguntar doprncipe e da histria que ele podia escrever e tambm no entendi essacoisa de trabalhar a lngua, eu ainda quis perguntar isso pra ele mas elemas ele j estava outra vez gritando que a nojeira que ele ia escrever iadar uma fortuna, e que ele queria muito viver s pra gozar essa fortunacom a nojeira que ele estava escrevendo.

    Hoje estamos todos em crise, como diz o papai. Logo cedo ouvios dois brigando muito de um jeito forte e mais gritado. Era assim:

    Mami Eu acho uma droga.Papi Por que, sua idiota?Mami Que histria essa de cacetinha piupiu bumbum, que

    droga, no voc que diz que as coisas tm nome?

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    Papi Voc mesmo burra, Cora, isso o comeo, depois vai terou pau ou pnis ou caralho, e boceta ou vagina e bunda traseiro e cu,depois, Cora, eu j te disse que a histria de uma menininha, eu t nocomeo, sua imbecil.

    Mami Por que voc no escreve a tua madame Bovary? (TioAbel me ensinou a escrever certo)

    Papi Porque s teve essa madame Bovary que deu certo, e sevoc gosta tanto do Gustavo, lembre-se do que ele disse: um livro no sefaz como se fazem crianas, tudo uma construo, pirmides, etc, e acusta de suor de dor etc.

    Mami E por que voc no aprende isso?Agora eu nem posso repetir tudo o que papi disse, mas num pedao elefalou coisas horrveis porque mame falou:

    Mami Voc no est bom nem mais pra foder.Papi Ah, ? E voc acha que eu posso escrever e meter com

    algum como voc, Cora, que vive com essa boceta acesa, suaninfomanaca (Tio Abel tambm ajudou a escrever). NINFOMANACA! isso que voc , Cora, e se voc gosta tanto do Gustavo por que no selembra que ele disse que prefervel trepar com o tinteiro quando se estescrevendo do que ficar esporrando por ai?

    Mami Eu ento sou por a?Papi Quer saber mais? Ele tinha sfilis.Mami Quem, o Flaubert? (Tio Abel ajudou a escrever esse ou-

    tro)Papi Sim senhora, o teu adorado Gustave Flaubert tinha sfilis.Mami E da? todo mundo teve sfilis.Papi Todo mundo o escambau (!), todo mundo o meu caralho,

    Cora, e olha a a menina, Cora, olha a a menina.A papai disse que ia encher a cara, e bateu com toda a fora a

    porta do escritrio dele, depois abriu a porta e disse que ia buscar abosta do gelo, e perguntou se mami j tinha bebido a bosta do usque,ou quem foi que bebeu. A mami disse que ele e os amiguinhos dele

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    que bebem a bosta do usque. Ele bateu a porta outra vez, abriu outra veza porta e gritou pra mame:

    Quer saber, Cora? O Gustavo era to sfiltico que tinha a lnguainchada de tanto mercrio.

    Mame gritou: , mas escreveu a madame Bovary.

    Hoje, graas a Deus, veio o tio Abel e eu posso conversar umpouco com ele. Primeiro eu perguntei quem era o Gustavo. Ele disse queno sabia. Depois eu perguntei do mercrio. Ele disse que Mercrio eraum deus. O deus dos comerciantes. Dos que ganham dinheiro. E eu dis-se: E ele tinha a lngua inchada? Tio Abel disse que isso ele no sabia,mas achava que no. Depois ele falou que por falar em ganhar dinheiro,ele, tio Abel, ia viajar, mas que ia escrever muito pra mim, pra eu noficar triste. Eu falei chorando: Escreve mesmo tio Abel, eu amo voc.E fui correndo pro meu quarto. Ele ainda gritou: Lorinha, escreve logopra mim, se voc escrever eu respondo, e olha, eu vou mandar muitospresentes pra voc.

    ACHO QUE NO SEI MAIS ESCREVER.

    Querido tio Abel, eu estou com muita saudade. Estou deitada naminha caminha com toda aquela roupinha que o senhor mandou. Obriga-da por mandar as meias furadinhas cor-de-rosa que aquele moo nomandou. Vesti a calcinha cheia de renda e pus as meias e o chapu que to maravilhoso com aquelas duas rosas cor-de-rosa na aba. Agora euvou contar tudo o que eu estou fazendo pra o senhor ficar com o Abelzinhobem inchado e vermelho porque o senhor diz que assim que gostoso.Eu estou deitadinha, abri bem as coxinhas e j fechei o quarto bem fecha-do, e estou pondo o meu dedo na minha coninha (gostei tanto dessapalavra que o senhor escreveu) mas muito mais gostoso quando

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    o dedo do senhor, e um pouco triste por no ter ningum pra melamber agora, e tambm sinto saudade do mar e dos tepinhas que o se-nhor d na minha coninha) (que belezinha mesmo essa palavra, no dicio-nrio tem tambm doninha, mas outra coisa) e sinto saudade daquelapoesia que o senhor escreveu:

    me d tambm a tua linguinhaminha namoradinhaabre tua cona pro Abelzinho espiars um pouquinho, ele no vai abusar

    Deve ser to bonito a gente fazer poesia. Papai diz que o Lalauvomita s de ouvir a palavra poesia e que um dia o Lalau at peidou, fezpum, sabe? Quando papi muito engraado mesmo disse um verso de umpoeta, e o verso eu pedi pra papi escrever pra eu decorar, e a poesia eraassim:

    Que espcie de demncia, parvo LalauTe impele aos trambolhes contra meus versos?E que sorte de deus, mal-invocadoTe aula a incitar furiosa rixa?

    E papai andava atrs de tio Lalau repetindo a poesia bem alto, e oLalau tapava os ouvidos e papi gritava: Voc mesmo um bronco sujo,Lalau, isso Catulo, embecil, Catulo! E o Lalau dizia que preferia oMarcial, e esse eu roubei do escritrio do papi. muito esquisito, euquase no entendi nada, s entendo que tem a palavra cona. E o poemadesse tal de Marcial assim:

    Falas que a boca dos veados fede.Se verdade, Fabulo, como afirmasque olores crs que exala o lambe-conas?

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    muito difcil pra mim, por que ser que as bocas dos bichinhosfede, hein tio? E entendi isso sim a palavra cona, mas coninha maislinda. Os poetas devem ser todos muito complicados porque a gentequase no entende o que eles falam, mas eu gosto mesmo da poesia queo senhor escreveu pra mim, essa eu entendi. Quando eu for grande vouentender as outras, n tio Abel? claro que entendi a palavra lambe,disso a gente entende no , querido Abelzinho? Hoje no posso escre-ver mais porque tenho muitas lies para fazer. Hoje o ditado sobre onordeste, aquele lugar que papi diz que todo mundo morre, e quando elefala desse lugar, ele fica meio louco e usa uma palavra esquisita, ele falaassim: Os filhos da puta desses polticos so todos uns escrotos. O que escroto, hein tio? So tantas palavras que eu tenho que procurar nodicionrio, que quase sempre no d tempo de procurar uma por uma.Mas deve ser uma palavra feia, porque filho da puta eu sei que feiofalar. S putinha que bonita, e mais bonita quando o senhor falar.

    Carta que o tio Abel me mandou e que estoucopiando no meu Caderno Rosa

    Minha liblula, minha rainha-menina, minha gazela de cona pe-quena, quero passar meu bico-pica nos teus um dia plos-penas, tuasinvisveis plumas, chupa teu Abelzinho com tua boca de rosa, meninaastuta, abre teu cuzinho de pomba, enterra l dentro o dedo-pirulito dequem te ama, e pede mais, mais! esfrega tua bocetinha de mini-panterana minha boca de fera, deixa a minha lngua danar nas tuas gordascoxinhas, minha boneca de seda, de acar com groselha, mija amornadana minha pica, sentadinha nela, defeca sobre minha barriga, Lorinha-es-trela, bunda de neve, diz com a boca molhada de meu smen e do mel datua saliva, diz que Lorinha quer mais, mais! minha menininha, a carta jest toda empapada, amanh escrevo mais. Teu Abelzinho.

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    A mame diz que a aura da casa est um lixo. Porque papi tem tido crisessem parar. De repente ele abre a porta e sai aos gritos pela casa dizendo:

    - Corno de pica do Lalau, eu no vou conseguir ir at o fim!Mame diz: Fica frio, amor, vai sim.Papi diz: Ento esquenta a tua cona na porca da minha cadeira e

    v se inventa qualquer coisa, meu deus, meu deus, eu nunca mais vouconseguir meter nem em voc nem com nenhuma cadela, e quer saber?Tira a tua filhinha da porque eu no aguento mais ver nenhuma menini-nha, meu deus que grande porcaria, que cagada de camelo.

    Mami diz: Ela nossa filhinha! Nossa!Papi diz: O senhor deus das menininhas!Mami diz: E quem sabe, meu amor, se voc puser um menini-

    nho, um mocinho..Papi diz: (aos gritos) Cora! Cora! E por que voc no vai dar a

    tua cona pra um efebozinho e escreve a tua histria, hein, Cora?Mami diz: (aos gritos) AHHHH! isso que voc quer?Papi diz: (aos gritos) E onde que est aquele puto que foi

    viajar e me mandou escrever com cenrios, sol, mar, ostras e leos nasbocetas, a menina j est torrada de sol e varada de pica, meu deus,onde que est aquele merda do Lato que pensa que programa desade com ninfetas d ibope, hein? Eu quero morrer, eu quero o 38, onde que t?

    Mami: Meu Deus, eu vou buscar o calmante.Imaginem se d pra eu escrever com essa gritaria de papai e ma-

    me! Meu Deus, eu sim que falo meu deus. Mas eu vou continuar omeu caderno rosa, eu acho que ele est lindo, e que o tio Lalau vai ado-rar, porque eu conto a verdade direitinho como ela gosta.

    Querido Abelzinho, quase no entendi a tua carta, mas por favorcontinue escrevendo, ando sempre com o dicionrio na mo, no per-gunto mais nada pro papi porque agora ele anda escrevendo o dia inteiro,mas a aura continua ainda atrapalhada. Mami diz que aura uma

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    espcie de clima da casa. Mas no d tambm pra procurar todas aspalavras que eles falam, seno eu no escrevo o meu caderno. Vou, issosim, falar as coisas que voc gosta que eu fale, e se eu ficar contando doclima da casa voc no me manda mais presente, no ? Ontem veioaquele homem aqui, aquele que tinha me prometido as meias cor-de-rosae no deu, mas voc j deu, e ento eu disse que voc j tinha dado, eledisse que no fazia mal, que eu podia pr qualquer meia cor-de-rosa, asua ou a dele. Eu pus a sua. Ele to diferente de voc, Abelzinho, o paudele meio plido, e bem mais fininho, mas ele tambm quis que eubeijasse ele, e eu beijei um pouquinho e ele me virou ao contrrio, eenquanto eu beijava o pau fininho dele, ele me lambia, ele lambia e enfi-ava a lngua no buraquinho de trs, esse que papai chama de cu, mas euno acho cu mais bonito que buraquinho de trs. Depois ele mordeu comfora a minha bundinha, e eu gemi um pouco mas gostei muito, aquelador sem dor, e ele me deu umas palmadinhas e esfregava minha bundinhanos plos dele. Foi gostoso, mas no to gostoso como o senhor faz,mas eu fiquei inchada e molhadinha. Olha, tio, eu no encontrei a palavrabico-pica no dicionrio. Tem bico e tem pica mas no tem do jeito que osenhor escreveu. E tambm no posso perguntar para o papai porque elenem sabe que eu recebo as cartas do senhor, quem me ajuda nesse buslis(como a me diz) o menino preto que um vizinho. Depois eu conto naoutra carta do menino preto que lindo. Mami chamou pra tomar leitecom biscoito e bolo. Hoje tem bolo de chocolate. Tua

    Lorinha

    Segunda carta do tio Abel que eu copiei no meu Caderno Rosa

    Minha pomba rosa, minha avezinha sem penas, minha bonecade carne e de rosada cera, os cabelos castanhos de seda roando acintura, meu cuzinho de amoras, a boca de pitanga mordiscando o rosabrilhante da minha pica sempre gotejando por voc, princezinha persa.

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    Ontem mandei tecidos vermelhos e dourados pra voc se enrolar quandoestiver sozinha e pensando em mim, e mandei tambm duas argolinhas deouro para as tuas orelhinhas. Olhe, se algum te chupar pede pra chuparem meu nome, porque meu cime passageiro, o melhor a tua e aminha fome de lascvia, te adoro menininha, sonho com a tua vulva topequena, mas agora to mais gordinha de to manuseada e esfregada elambida. Quando estivermos juntos de novo vou te ensinar a montar emmim como uma macaquinha e ficar ralando a tua bocetinha no meu peitoe na minha boca, lindssima Soraia pequenina, olhinhos de amndoas fres-cas, sovaquinho de leite meu deus, j estou esporrando, perdoputinha, a carta vai de novo manchada. Teu Abel

    Tio Abel, antes de responder direito, como o senhor gosta, assuas cartinhas, tenho que contar que tive de combinar com o meninopreto, nosso vizinho mais perto daqui, pra ele levar minhas cartas nocorreio, ele muito esperto, muito inteligente, assim como a tua Lorinha,e voc precisa mandar as cartas pro endereo dele, seno papai e ma-me vo querer saber o que a gente escreve, e eu no quero mais quenenhum dos dois pegue no meu caderno, e ento te mando o endereodo Juca: R. Machado de Assis, 14. E o nome do menino Jos deAlencar da Silva. S que aconteceu uma coisa. Ele perguntou se eu era

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    tua namoradinha e eu disse que sim. Ento ele parece que tambm querme namorar um pouco. Ele disse que se eu namorar com ele, ele noconta nada pro papi e pra mami. Ele tem 11 anos, muito bonzinho. Eledisse tambm que eu sou uma belezinha. Hoje veio um senhor bem ve-lho, viu tio, e ele quis que eu fizesse coc em cima dele mas eu no estavacom vontade de fazer coc.A eu perguntei se no servia xixi, e ele disseque servia sim.A ele ficou em baixo da minha coninha e de boca bemaberta, e todo meu xixi ia para a boca dele, mas eu no consegui acertardentro da boca como ele queria porque eu ri tanto e no dava certo.OAbelzinho dele (ai, desculpa, tio), o pau dele era muito molinho, ele pe-diu pra eu segurar aquelas bolotas que o senhor tambm tem, mas notinha nada dentro das bolotas, era tudo murcho e vazio. Depois ele ficoumuito vermelho e eu tive que dar gua pra ele, ele s falava assim pro paudele:

    Seu bosta, seu merda, nem assim?Ficava repetindo isso e deu um tapa no pauzinho dele, mas deu

    muito dinheiro pra mim, mais que voc d. Mas eu gosto muito de voc,e isso do coc voc no me explicou que tem gente que pode gostartanto assim de coc. Agora mame me chamou pra tomar o lanche. Eucontinuo depois do lanche. Mami diz que eu estude tanto!

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    Voltei do lanche. E quero falar que as cartas que o senhor memanda so um barato. Parece lngua estrangeira, mas eu leio alto nomuito, fechada no meu quarto, e parece uma lngua diferente, muito maisbonita. Quando eu crescer eu quero escrever assim como as cartas que osenhor manda. Por que o senhor tambm no faz um livro com a mqui-na do tio Lalau? Ser que o papai escreve assim tambm? Olha tio, nosei se o senhor vai achar gostoso, mas o menino preto, quando eu fuifalar com ele l perto da estrada, disse que a gente podia namorar umpouco. Eu fui, e voc no sabe como bonito pau preto. Ele se chamaJos, mas chamam ele de Juca. Ele tambm pegou na minha coninha equis espiar, e a ele tirou o pau lindo preto, e a gente fez como o mdico,ficou se olhando. Depois ele quis passar a lngua em mim, e a lngua dele to quente que voc no entende como uma lngua pode ser quenteassim. Parecia a lngua daquele jumento do meu sonho, da histria que osenhor mandou. Sabe que eu estou fazendo uma confuso com as ln-guas? No sei mais se a lngua do Juca foi antes ou depois da lnguadaquele jumento do sonho. Mas ser que essa a lngua trabalhada que opapi fala quando ele fala que trabalhou tanto a lngua? Eu e Juca ficamosl no mato peladinhos, e eu ensinei ele a me lamber como o senhor melambe, porque ele tinha a lngua quente mas ela ficava parada, no rebo-lava a lngua como voc faz. que ele ainda pequeno n tio? Vouensinar ele tambm como ele pode pr o dedo no meu buraquinho detrs, e vou fazer muito xixi gostoso com aquele dedo preto to lindo queele tem. Mas no na boca dele, coitado.

    Tua Lorinha

    Papi hoje teve uma crse grande, quero dizer crise grande. Elefalou pra mami que quer morar no quintal, que no agenta mais cadei-ras, mesas, livros, camas, e que nunca ele vai conseguir escrever omerdao que o salafra do Lalau quer, que est tudo um cu fedido (nos-sa, papi!). Mame perguntou se ele no quer ir pra prais e ele disse porfavoooor, Cora, que ele s quer morar no quintal, e que a vida um li-

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    xo podre, que ele quer beber e foder (assim que ele disse) com as cadelasda vida, e dar o rabo dele (papi no est mesmo bem) pra qualquer ju-mento (outra vez a histrinha do jumento), e meter a pica dele numaporca qualquer. A mami ficou de olho esbugalhado, e eu estava espian-do e ela no sabia, ento a mami ficou de olho esbugalhado e perguntouse ele no queria gua com acar. Ele disse que queria o revlver, oucicuta (no sei o que ) ou curare (o que , hein, tio Abel?) ou umaespada pra fazer o sepucu (meu Deus, o que ser?), e a mami se ajoelhouna frente dele, abraou as pernas dele e disse que achava que o relatoestava muito bom, que pode at dar um filme pornozinho, ele disse tam-bm:

    At teatro, amor! Teatrinho porn!E disse tambm que ela jurava que ele o melhor que o Gustavo

    e o Henry e o Batalha. S sei muito bem quem o Mercrio que o tio

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    Abel explicou mas parece que no era esse que eles falaram por causa dalngua inchada. A mame falou assim:

    Meu amor, voc um gnio, teus amigos escritores sabem quevoc um gnio.A papi ficou bem louco e disse:

    Gnio a minha pica, gnios so aqueles merdas que o filho daputa do Lalau gosta, e vende, VENDE!, aqueles que falam da noite es-trelada do meu caralho, e do barulho das ondas da tua boceta, e do cudas lolitas.A mame falou pra ele se ontolar, quero dizer se controlar, e papi falouque ia se ontolar pra no matar o Lalau, e fazer ele, o Lalau, engolir aqui, com a porra da minha pica (a de papi) todos os livros dos punheteirosde merda que ele gosta, que ele papi vai morar em Londres LONDRES!e aprender vinte anos o ingls e s escrever em ingls porque a fedida daputa da lngua que ele escreve no pode ser lida porque so todosANARFA, Cora, ANARFA, Corinha, e depois todo espumado gritou:

    Eu sou um escritor, meu Deus! UM ESCRITOR! UM ES CRITOR !!!, vou fazer um pato (o que ser, hein tio?) com o demnio, vouvender a alma pro cornudo do imundo!Meu Deus, papi, eu vou fazer a primeira comunho o ms que vem efiquei agora muito assustada. Mame disse que vai dar uma injeo nele,que tudo ia passar, e que ele no podia gritar assim pra no assustar amenina. A ele gritou:

    Nada assusta a menina! Nem grito nem pica!Ento mame avanou com a injeo e ele se agachava e gritava pra ela:

    Vem cornudo imundo, vem!Ento mame falou pra ele abaixar as calas, ele no abaixou, ento elaabaixou as calas do pai e ele est dormindo agora. Meu Deus, tio Abel,que gente! que casa! E o que ser fazer o pato com o demnio? O papivai comer o pato com o diabo, isso, tio Abel?

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    Carta do tio Abelque eu estou passando no meu Caderno Rosa

    Minha princezinha persa. Hoje a bolsa despencou e perdi meusltimos tostes. (Isso depois eu te explico) Ento resolvi andar umpouco pela cidade para distensionar (depois eu explico) e encontrei umlindo circo nos arredores. E entrei, e um elefante nenen levantou a trombapertinho de mim. Sabe o que eu pensei? Pensei que gostaria de ter apica assim rombuda para voc sentar inteirinha em cima, voc, Lorinha,vestida com os tecidos de prpura que eu te mandei e com as lindasargolinhas de ouro. J furou as orelhinhas? O lindo seria pr umaargolinha assim na tua cona gordinha, s na beiradinha do lbio l den-tro (acho que algum j teve essa idia), e voc sempre se lembraria demim quando um dia Lorinha, mulher feita, sentisse uma pica l dentro.Ia talvez machucar s um pouquinho, mas a lembrana de nossas car-cias, a lembrana dessa voc de antes, voc-menina putinha e deliciosa,te faria encharcada de gozo. Ontem no agentei de desejo por voc efui procurar uma mulher. E na hora que eu enfiei o meu pau na bocetada mulher comecei a gemer: minha princezinha persa, minha adoradaprincezinha. A a mulher parou tudo na hora e falou: ah, no, cara, se tufode com princesa o preo outro. Tentei explicar que era tudo umsonho, s uma vontade de, mas a mulher invocou, e comeou a falarsem parar: que ela tambm j teve outro homem que era muito rico eque esse homem queria que ela tivesse imaginao, imagine ela! e queera preciso a cada trepada contar a histria do homem de pau grande,que infelizmente ela nunca tinha tido, ele vivia repetindo na hora h,conta Jezabel (ela se chamava Jezabel), conta a histria do homem depau grande. E que aquilo era uma chateao, mas como o homem eramuito rico ele tinha que ficar pensando pra danar, e que um dia ela seencheu e disse pro homem: quer saber? voc que devia ter

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    um pau grande e pos o cara pra correr. Hoje a carta no bonita, estoudeprimido porque perdi os tais ltimos tostes (acho que voc no vaimais gostar de mim), e porque sinto muita saudade e queria pr voc emcima do meu pau-tromba e ficar te ninando, at voc dormir. Beijo tuaconinha, Lorinha adorada, sonha com teu Abelzinho quando voc forpara sua caminha cor-de-rosa. Abre bem a boca de pitanga e pensa queele vai ficar a dentro a noite inteira.

    Teu Abel

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    Querido tio abel:as tuas cartinhas esto sempre mais difceis. Mas eu gosto assim

    mesmo, tem muita palavra bonita. A ltima, menos. Primeiro querocontar pra voc todas as coisas que compraram pra mim. Duas bonecaslindas que eu vesti com os panos que o senhor mandou. Elas tambmtem coninha as bonequinhas. Depois mame mandou fazer umas corti-nas de um pano lindo cor-de-rosa, cheio de lacinhos pintados. Ai, tio,eu no quero que voc fique pobre, to gostoso ter dinheiro, to togostoso que ontem de noite na minha caminha, eu peguei uma nota dedinheiro que a mame me deu e passei a nota na minha xixiquinha, esabe que eu fiquei to molhadinha como na hora que o senhor lambe?sabe porque eu fiz assim? eu pensei assim: se o dinheiro to bonzinhoque a gente dando ele pra algum a outra gente d tanta coisa bonita,ento o dinheiro muito bonzinho. E eu quis dar um presente pro di-nheiro. E um bonito presente pro dinheiro fazer ele se encostar naminha xixiquinha, porque se voc, e o homem peludo, e o outro, e oJuca tambm gosta, ele, dinheiro, tambm gosta n, tio? O senhor gos-tou de eu inventar xixiquinha em vez de xixoquinha? Olha, tio Abel,ontem fui encontrar outra vez com o Juca, o Jos. Nossa, Abelzinho,voc sabe que ele ps a lngua dentro do buraquinho do meu nariz? edo buraquinho da minha orelha? Acho que por isso que todas as ma-mes mandam a gente lavar a orelha. Que gostoso isso da gente tertantos buraquinhos. Depois o Juca mandou eu ficar de quatro igual aoscavalinhos, os cachorrinhos, as vaquinhas, e quis enfiar s um pouco oabelzinho dele (desculpa, tio), o pau preto dele l dentro, e a eu at ca deto g

    sotoso, eu ca como essa palavra a atrs caiu, deu uma vontade

    de ir no banheiro s com aquele pouquinho que ele ps, mas muito

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    mais grosso que o seu dedinho, tio, mas o Juca falou: no cabe no,Lorinha, voc precisa crescer pra caber. Eu no sabia que cu tambmcresce, mas o Juca falou: t na cara, sua boba, que cresce. O senhor nofica bravo porque eu gosto do Juca n, tio? Ele tem um cheiro lindo, eum gosto de melado tambm. Melado aquele mel preto que maisgostoso que o amarelo. Hoje, sabe, tio, eu tambm no estou muito con-tente, e uma coisa que eu sinto que parece que vai acontecer um clima,uma aura, como a mami diz. Papai s diz que est escrevendo uma por-caria daquelas. Mas que o Lalau anda muito contente. Ele mudou muito,o papi, de vez em quando ele abre a janela que d pra vizinhana l longee grita: que cu, Santo Deus, que cu. Ainda bem que o vizinho mais pertodaqui o Juca e a me dele. E a me dele acho que nem sabe o que isso.Ela muito pobre. Pro Juca eu j contei que o papi est assim porque eleest escrevendo pra um homem que chama Lalau e que tem a mquina defazer livro.

    Tua Lorinha

    No tenho mais meu caderno rosa. Mami e papi foram pra umacasa grande, chamada casa pra repouso. Eles leram o meu caderno rosa.Estou com o tio Toninho e a tia Gilka. Eles pediram pra eu escrever prapapi e mami explicando como eu escrevi o caderno. Ento eu vou expli-car.

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    Querido papi e querida mami:

    Tio Toninho e tia Gilka tm sido muito bonzinhos e me pedirampra eu escrever esta cartinha pra vocs, explicando tudo bem direiti-nho. Sabe, papi, tudo bem direitinho tambm no d pra explicar. Eu squeria muito te ajudar a ganhar dinheirinho, porque dinheirinho bom,n papi? Eu via muito papi brigando com tio Lalau, e tio Lalau davaaqueles conselhos das bananeiras, quero dizer bandalheiras, e tio Latotambm dizia para o senhor deixar de ser idiota, que escrever um pou-co de bananeiras no ia manchar a alma do senhor. Lembra? E porquepapi s escreve de dia e sempre t cansado de noite, eu ia bem de noitel no teu escritrio quando vocs dormiam, pra aprender a escrevercomo o tio Lalau queria. Eu tambm ouvia o senhor dizer que tinha

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    que ser bosta pra dar certo porque a gente aqui tudo anarfa, n papi? eento eu fui l no teu escritrio muitas vezes e lia aqueles livros que vocps na primeira tbua e onde voc colou o papel na tbua escrito emvermelho: BOSTA. E todas as vezes que dava certo de eu ir l eu lia umpouquinho dos livros e das revistinhas que estavam l no fundo, aquelasque voc e mami lem e quando eu chegava vocs fechavam as revisti-nhas e sempre estavam dando risada. Eu levei umas pouquinhas pro meuquarto e escondi tudo, tambm o caderno eu escondi l naquele saco quetem as minhas roupinhas de nenen que a mami sempre diz que vai guar-dar de lembrana at morrer mas nunca mexe l. Por que vocs mexeraml? Mas eu j desculpei vocs. E nessas revistinhas tem as figuras dasmoas e dos moos fazendo aquelas coisas engraadas. E tambm quan-do voc comprou a outra televiso junto com o aparelhinho que todo omundo l na escola j sabe fazer funcionar, eu tambm ligava tudo direi-tinho, e vi aquelas fitas que vocs se trancam l quando voc j estcansado, de tardezinha. Eu punha baixinho as fitas. No incomodei osono de vocs, n, papi? E tambm eu peguei alguns pedacinhos da tuahistria da mocinha, mas fiz mais diferente, mais como eu chava quepodia ser se era comigo. Tio Toninho veio aqui agora e leu e disse que euno preciso explicar to direitinho. Bom, papai, eu s copiei de voc ascartas que voc escreveu pra mocinha mas inventei o tio Abel. PorqueCaim e Abel um nome do catecismo que eu gostei. Mas eu copiei s delembrana as tuas cartinhas, eu ia inventar outras cartinhas do tio Abelquando eu aprendesse palavras bonitas. E as folhas da moa e do jumen-to eu devolvi l no mesmo lugar, essa histria eu tambm copiei comolembrana, porque voc no ia me dar pra ler quando sasse na mquinade fazer livro do tio Lalau. a primeira do teu Caderno Negro, n, papi?Sara logo, papi, porque eu ouvi voc dizer que tem que escrever dezhistrias pro teu caderno e s tem uma.

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  • 79

    Papai, no dia que vocs pegaram o meu caderno rosa eu ouvi otio Lalau dizer depois da mami desmaiar lendo uns pedaos, eu ouviassim ele dizer:

    Isto sim que uma doce e terna e perversa bandalheira! (des-culpe, papi, bananeira. Eu sempre me atrapalho com essa palavra). Per-versa eu vou ver o que no dicionrio. Essas curvinhas, que eu li nagramtica que chamam de parentes, eu tambm aprendi a entender, efazer, lendo os outros que esto na segunda tbua: o Henry, e aquele damoa e do jardineiro da floresta, e o Batalha que eu li o Olho e A Me.Mas eu gostei mais da tua moa e o jumento porque mais bosta n,papi?

    Eu tambm ouvia tudo o que voc e mami e o tio Dalton, e tioIncio e tio Rubem e tio Millr falavam nos domingos de tarde. Eu acholindo todos esses tios que escrevem. Eu adoro escrever tambm, papi.Eu adoro voc. E desculpe eu inventar que voc gosta de lamber a mami,eu no sabia que voc no gostava. E desculpe, mami, de inventar quevoc lia e me ensinava as coisas do meu caderno. Parece mesmo quevocs no gostaram, mas eu no esvrevi pra vocs, eu escrevi pro tioLalau. Eu queria tambm escrever a histria do prncipe e de um outroHe-Man mas que vai lamber a princesa. Tia Gilka disse que agora praparar a cartinha, e agora eu estou ouvindo ela dizer pro tio Toninho quecom a minha cartinha vocs vo ficar mais tempo a. Ento vou parar, evou sim, mami, no siclogo que voc queria chamar um pouco antes dedesmaiar na minha segunda pgina. Eu quero que a gente volte pra casalogo bem contente e sarados. papi e mami, todo o mundo l na escola,e vocs tambm, falam na tal da criatividade, mas quando a gente temessa coisa todo mundo fica bravo com a gente.

    Lambidinhas pra vocs tambm

    Lori

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    Querido tio Lalau: o senhor foi o nico que falou uma coisa bo-nita do meu caderno rosa. Que agora eu no lembro mais mas na horaque o senhor falou eu gostei. Sabe, tio, queria muito que o senhor guar-dasse um segredo comigo. Eu ainda estou na casa do tio Toninho e da tiaGilka e papi e mami esto l onde o senhor sabe, na casa grande derepouso. Eles esto demorando pra repousar, no tio? Mas olha, tio, osegredo que eu estou escrevendo agora histrias pra cianas como eu es quero mostrar para o senhor pra ver se essas tambm o senhor querbotar na mquina. Eu acho que elas so lindas! So histrias infantis,sabe, tio. Se o senhor gostar, eu posso fazer um caderno inteiro delas. Onome desse meu outro caderno seria: O cu do Sapo Liu-Liu e outrashistrias.

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    Primeira histria

    O sapo Liu-Liu tinha muita pena de seu cu. Olhando s pro cho!Coitado! Coitado do cu do sapo Liu-Liu! Ento ele pensou assim: Voufazer de tudo pra que um rainho de Sol entre nele, coitadinho! Mas nosabia como fazer isso. Conversando um dia com a minhoca La, contoutudo pra ela. Mas La tambm no sabia nada de cu. Vivia procurando oseu e no achava.

    - T bem, v, ento c no tem esse problema, disse Liu-Liu.- Mas no fica bravo, Liu-Liu, eu vou me informar. Vou saber

    como voc pode fazer pra que um rainho de sol entre no teu fiu-fiu.- Que beleza, La! Fiu-fiu um nome muito bonito e original!- No seja bobo, Liu, todo mundo sabe que cu se chama fiu-

    fiu.- Ah, ? Pois eu no sabia.Ento La viajou pra encontrar a coruja Fofina que tinha fama de

    sabida. Fofina pensou pensou pensou, abriu velhos livros, consultoumanuscritos, enquanto La dormia toda enrolada.

    - Acorda, La! Achei! disse Fofina.A minhoca La ficou toda retesada de susto.- Relaxa, relaxa! disse Fofina.- Olha, La, Liu-Liu tem que aprender uma lio l na ndia

    disse Fofina.- Eu tenho medo de ndio, disse a minhoca La.- No seja idiota, ndia uma terra que fica longe daqui.- Ah, ento t bom, disse La.- Olha, La, l na ndia eles se torcem tanto que engolem o

    prprio cu.- Credo! E como que o cu sai?Bem, isso outra histria que eu tenho que estudar, mas o Liu-

    Liu tem que ficar com a cabea pra baixo, e as pernas de trs pra cima.Assim

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    Fofina ficou vermelha como um peru e no consegiu mostrar oexerccio pra minhoca La, mas La entendeu, e foi ventando contartudo a Liu-Liu. demorou trs dias, mas chegou.

    Foram meses muito difceis para o sapo Liu-Liu, Mas toda asapaiada ficou torcendo pra ele. E quando o primeiro rainho de sol en-trou no fiu-fiu de Liu-Liu foi aquela choradeira de alegria. E o pas doCu-quente, onde mora o Liu, desde ento uma festa! Do dia ao poente!

    Segunda Histria

    Quando o cu do Liu-Liu olhou o cu pela primeira vez, ficoubobo. Era lindo! E ao mesmo tempo deu uma tristeza! Pensou assim: eufiu-fiu, que no sou nada, sou apenas um cu, pensava que era Algo. E nosmeus enrugados, at me pensava perfumado! E s agora que eu vejo:quanta beleza! Eu nem sabia que existia borboleta! Fechou-se ensimes-mado. E fechou-se tanto que o sapo Liu-Liu questionou: ser que o solme fez o cu fritado?

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    Terceira Histria

    Era uma vez uma mosca chamada Musk. Ela se achava um bi-cho repelente. Cada vez que se olhava no espelho ela chorava. Um diaMusk encontrou a comadre Vertente. Vertente era cheia de cascata,linda lisa e lavada.

    - , comadre Vertente, como que ser assim como gente?- No me ofenda, Musk, gente repelente!- C acha?- C pode at no ach, Musk: quem sai aos seus no degene-

    ra, Musk via.E muito encrespada deu-lhe uma bela lavada!(Tio Lalau: essa pra pensar. Funda e tnue, como diz papi. E

    como nas fbulas di tio La Fontne.)

    Histrinha Escotrica Chilena (*)

    Pau dAlho era um rei muito feliz porque tinha duas cabeas.Dava tempo pra pensar duas vezes mais em seu povo. O povo sabia dasqualidades raras do rei Pau dAlho e adorava-o. Ele era rei da Alhanda.Mas um dia o mago da corte disse ao rei: a bruxa Ci quer cortar as duascabeas de Vossa Alteza. Todo o povo rezou rezou mas no adiantou. Eo rei Pau dAlho morreu com duas cabeas e tudo.

    Moral da histria segundo um cara quente: A perfeio a mor-te.

    (*) Tio Lalau: os tios que vinham aqui em casa conversavam muitosobre esse lugar chileno.

    Lori Lamby

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    Papi, to te devolvendo a poesia que o senhor escreveu, que eutambm roubei (desculpe) daquelas prateleiras escrito Bosta. Repousabastante, t?

    (T, Lalau, isto pra voc)

    Araras versteis. Prato de anmonas.O efebo passou entre as minhas trfegas.O rombudo basto luzia na mornura das calas e do dia.Ele abriu as coxas de esmalte, loua e umedecida lacaE vergastou a cona com minsculo aoite.O moo ajoelhou-se esfuando-lhe os meiosE uma lngua de agulha, de fogo, de moluscoEmpapou-se de mel nos refolhos robustos.Ela gritava um xtase de gosmas e de lriosQuando no instante algumNuma manobra gil de jovem marinheiroArrancou do efebo as luzidias calasSuspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiiiii.E gozaram os trs entre os pios dos pssarosDas araras versteis e das meninas trfegas.

    Papi, o que refolho robusto,hein?E robusto basto, hein?

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    Acabou-s