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educaçao nós nao tem ~ ~ o s n o. zero - outubro 2012

O Casarão nº zero

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Neste número zero, demos espaço a narração e descrição. Como carro-chefe, uma reportagem sobre a greve nas universidades federais, numa abordagem que se pretende reflexiva e assertiva diante do vazio da grande mídia. Passeamos ainda, com jogo de cintura, por temas como a violência na cidade de Niterói e o polêmico antigo museu do índio, no Rio. E para ninguém dizer que não sorriu, trouxemos uma volta pela cena do entretenimento alternativo da cidade. Tudo isso cerejado pela seção 'Alhos e bugalhos', que dá asas à criatividade e traz investidas literárias dos colaboradores.

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O adeus de Jorginho

O CASARÂO

Equipe: Arthur Figueiredo, Elena Batista Wesley, Fernanda Costantino, Filippe Pimenta Irrazábal,

Gabriel Vasconcelos, Gustavo Cunha, Gustavo Lethier, Jéssica Alves, Júlia Albuquerque, Juliana

Ayres, Leonardo Pimentel Freire, Luísa Mello, Luiza Barata, Marcelo Studart, Mariana Ayres, Ma-

riana Pitasse, Rebeca Rocha, Renan Castro, Thaianne Coelho e Thamiris de Paiva Alves. Agra-decemos a orientação dos professores Ildo Nascimento, Larissa Moraes, João Batista de Abreu, Márcio Castilho e Alceste Pinheiro. Correspondência: [email protected] - Rua Lara Vilela,

126 - São Domingos - Niterói - RJ -CEP: 24210-590

TODO O CONTEÚDO É DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES

Fazer  ressurgir  o  papel  pintado  na  própria  casa.  A  ideia  nasceu  de  

timam  à  leitura,  pedem  dobradura  e  já  se  conhecem  amassadas  no  lixo.  

Niterói   e,   aos   trancos   e   barrancos,   deixaram   legado.   Fizeram  história  

SACI

Aliás,  

O  Casarão,  

menos  páginas,  mas  com  a  mesma  liberdade.

das  com  majestosas  reportagens.  Conseguimos  oito  páginas  em  preto  e  

dos  imperantes  ditames  mercadológicos.  

Aliás,

tudo  no  deslizamento  do  morro  do  

no   rosto   e   a   simpatia   na   hora   de  

atender  os  clientes  da  Pizzaria  Pic

casa,  há  cerca  de  um  ano  atrás,  após  

mana.  O  pai  de  Paulo  batizou  o  em

pliar  o  empreendimento  e  construir  

Editorial

“Eu brinco

que tenho

sete, igual

a gato.

Três já

foram”

“Eu brinco

que tenho

sete, igual

a gato.

Três já

foram”

lo,  no  dia  anterior  ao  deslizamento,  

desabar.  

.  

Ao   retornar   da   entrega,   Paulo  

só   encontrou   lama   e   escombros.  

na  hora  do  deslizamento,  mas  tam

conseguiu  reerguer  a  Piccola  e,  de

pela  moradia  ou  pelo  aluguel,  ele  e  

e  oito  apartamentos  por  andar.  Com  

sucesso   de   suas   pizzas   em  Niterói.  

das   triplicaram   após   a   ida   ao   Pro

programa   contando   a   sua   história,  

preendente  retomada  ao  trabalho.

Paulo  segue  com  os  negócios  da  

de  amigos  e  clientes,  comprar  todo  

Por Jéssica Alves

APOIO

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Quem acompanha de perto as obras do Maracanã para a Copa de 2014 logo repara o casarão antigo no outro lado da rua, em frente ao portão 13 do estádio. São as ruínas do antigo Museu do Índio e, ao contrário do que parece, o lugar não está abandonado. Uma ocupação de índios de 17 etnias já completa seis anos, numa resistência que pretende a instalação de um centro cultural no local, uma referência à cultura indígena viva no país.

Ao todo são oito casas de pau-a-pique que povoam o entorno do casarão, uma para cada tribo. Hoje, estão no local índios das tribos Guajajara, Pankararu, Xavante, Guarani, Apu-rinã, Fulni-ô, Pataxó, Potiguara e Puri, mas isso varia porque alguns índios são residentes

com a cidade. Fato curioso é que não há uma liderança e as decisões são tomadas em con-junto por todos os membros.

As condições não são as melhores. O banhei-ro é coletivo e o abastecimento de água e ener-gia vem de uma fonte única liberada pelo órgão proprietário do terreno, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), com sede vizinha à ocupação. Mesmo assim, é visível o esforço para tornar o ambiente mais familiar aos ocu-pantes. No terreno é possível ver algumas ocas tradicionais e enfeites de palha por todo lado. Já o interior do antigo museu não é ocupado, mas as paredes têm frases e pinturas evocando

de móveis abandonados. Todos se vestem com roupas comuns ao dia a dia da cidade, exceto por alguns adereços como um colar, brinco de pena ou cocar.

Desde 1977, o Museu do índio funciona na Rua das Palmeiras em Botafogo. Mas, para os ocupantes, enquanto o museu trata de uma cul-tura morta, o centro cultural fomentaria o índio tal como ele é hoje, vivendo tanto nas aldeias como nas cidades, misturado ao branco. “Lá fun-ciona o museu, mas nós não estamos mortos” defende Niara do Sol, membro da tribo Fulni-ô. Assim como ela, os demais índios defendem que o espaço receba um centro de estudo da história

e artesanato, e cursos de línguas nativas para o público em geral, além de abrigar índios que de-sejam vir estudar ou trabalhar na cidade. A idéia é que a gestão seja dos índios, para que eles cui-dem dos próprios interesses.

Paralelamente, a Diretora do Departamen-to de Pesquisas e Serviços do atual Museu do Índio, Renata Curcio Valente, alerta: o objetivo do museu não é o de prestar assistência ao ín-dio. Os interesses são muito mais voltados para a manutenção do acervo indígena, formado por

-rante o ano, o museu busca atrair a população não-indígena para difundir e promover a cultu-ra dos índios. Próximo ao mês de abril, quando é celebrado o dia do índio (19), as atividades se

A direção do museu organiza uma espé-cie de orientação aos índios sobre o mercado. O

do artesanato produzido por eles. São ensinadas coisas básicas como estipular os preços das mer-cadorias e também o posicionamento e inserção do material indígena no comércio. Em três anos de existência, a medida já foi feita com cerca de 30 tribos. Outro programa de destaque é o PROG DOC, formado por pesquisadores lingüis-tas e antropólogos selecionados por meio de uma prova e que passam a integrar a coordenação do museu. Este grupo é encarregado de realizar es-tudos e registros de índios aldeados pelo país.

A proposta do centro cultural ultrapassa os objetivos do museu, que foca apenas o índio al-deado. Além de estar voltado para o público em geral, o centro atenderia também aos índios mi-grantes. Ambos funcionariam ao mesmo tempo,

como aquele que veio para as cidades, facilitan-do sua adaptação ao mundo urbano. Isso tudo,

investimentos para reforma do prédio e capaci-tação dos envolvidos.

Os problemas são muitos. Ao contrário do que já foi veiculado em blogs alinhados à cau-sa, a construção não é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), nem pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) ou pela Subsecretaria do Patrimônio Histórico da Prefeitura do Rio de Janeiro. E não pára por aí. O lote integra um terreno maior que pertence a CONAB, ligada ao Ministério da Agricultura e, para a cessão do espaço, os índios atuam junto ao advogado Arão da Providência, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Desde 2006 já foram acionados o Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Assembléia Legisla-tiva do Rio de Janeiro e Câmara dos Vereadores, além de um pedido de repasse do imóvel direta-mente a CONAB.

O movimento também conta com o apoio da Fundição Progresso, que destacou seu engenhei-ro Fernando Mandarino para avaliar a situação da construção. Ele está elaborando um projeto para o lugar e garante que, apesar de aparente-

mente muito degradado, a estrutura do prédio ainda está conservada. Mandarino assegura que os principais gastos seriam com instalações pre-diais como a parte elétrica, hidraulica e de gás, um novo telhado, madeira e pintura, o que não é o mais caro em grandes reformas.

Mesmo com as limitações, algumas ativida-des são desenvolvidas. Uma delas é o curso de Tupi-Guarani ministrado às terças e quintas no Instituto Superior de Educação do Rio de Janei-ro (ISERJ), parceiro da causa. O professor é José Guajajara, índio da tribo Guajajara e mestrando de linguística da UERJ. Além disso, a ocupação recebe visitas escolares e realiza encontros men-sais com comidas típicas, contação de histórias, demonstração de rituais e venda de artesanato, fonte de sobrevivência de muitos deles e ativi-dade protegida por lei. Outros parceiros são o Centro de Arte Educação e Meio Ambiente (CA-EMA), que oferece aos índios cursos de empre-endedorismo e gestão de cooperativas ou asso-ciações, e o CEFET/RJ, que cede seu laboratório de informática para eles.

Apesar disso, desde julho, o Governo do Es-tado do Rio de Janeiro negocia a compra do lote. O estado pretende demolir o prédio e expandir para lá as obras e as instalações do estádio de futebol Maracanã, que vem se preparando para receber a Copa do Mundo de Futebol. O lugar, segundo nota divulgada pelo próprio governa-dor Sérgio Cabral, se tornaria uma área livre para que pessoas possam circular perto do está-dio. “Uma área de mobilidade exigida pela Fifa e

A Defensoria Pública, no entanto, está com uma ação para impedir a venda e manter a Al-deia Maracanã no local. Os índios continuam lu-tando pela posse do espaço e pela construção do centro cultural. A ideia de gestão própria precisa amadurecer porque são poucos os índios real-mente engajados e preparados para administrar um projeto como este. Mesmo assim, a causa já ganha voz diante da sociedade, cujos interesses, cedo ou tarde, batem à porta das autoridades. Mas parece que para o governo é mais impor-tante espaços livres, desocupados e que aten-dam aos interesses da Fifa, do que apoio e pro-pagação da cultura indígena nacional.

Por Gabriel Vasconcelos e Luiza Barata

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OcupaçãoANTIGO MUSEU DO ÍNDIO

Cinco anos de pedra no sapato

O terreno sempre esteve ligado à causa indí--

quisa sobre o gentio brasileiro, o lote foi do-ado em 1865 à União pelo Marques de Saxe, seu primeiro proprietário. O espaço, porém, abrigou a Escola Nacional de Agricultura, que daria origem a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), hoje localiza-da em Seropédica, na Baixada Fluminense. Os laços com os índios só foram restabele-cidos em 1910, quando Marechal Rondon criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) sediando-o no casarão. Mais tarde, em 1953, foi inaugurado no local o Museu do Índio.

O SPI funcionou na cidade até 1962, quan-do foi levado para Brasília, sendo extinto após o golpe militar de 1964, para criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em novembro de 1967. Mesmo assim, o museu funcionou ali até 1977, quando foi transferido para o número 55 da Rua das Palmeiras, no bairro de Botafogo, onde permanece até hoje. Abandonado, o lote foi entregue só em 1984 a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) do Ministério da Agricultura. Des-de julho de 2012, o Governo do Estado do Rio de Janeiro negocia a compra do local.

Um lugar para o índio

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Contraste.   Os   argumentos   contrários   e  

de  duas  laudas,  pelas  paredes  do  Instituto  de  

de  cidir   em   nome  

existe   empresário  nem   lucro  para   ser  preju

ciedade  em  geral  e  em  particular  os  alunos  da  

do   caráter   lúdico   das   passeatas   locais,   os  

base,  por  meio  de  assembleias   locais.  No  dia  

participante   recorrente   nas   assembleias   da  

compactuar   com   um   acordo,   assinando   em  

entanto,  com  um  mês  de  atraso,  pouco  antes  

ao   Congresso   Nacional   uma   contraproposta,  

do  Planejamento   sobre   a   impossibilidade  de  

tos  de  cada  curso  perderiam  a  autonomia  para  

para  o  outro,  e  o  processo  passaria  a  depender  

continuamos   sem   água   e   sem   papel   higiêni

 professora  do  CAp-­

UFRJ

educaçaonósnaotem ~

~

o s

[  Ágora  ]

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se  reuniram  em  Vila  Isabel  para  cantar  paró

dantes   se   reuniram   e   declararam   apoio   aos  

sitários  em  cidades  do  interior.

de  Ciências  SociaisAs  

Calouros e formandos: ansiedade, problemas e compreensão

caloura  de  Jornalismo.

orientados  a  procurar  um  lugar  para  morar.  Os  custos  com  moradia  já  

Por  Fernanda  Costantino,  Luísa  Mello  e  Luiza  Barata

mo  ao  campus,  coincidentemente  batizado  de   a   assumir  muitas   turmas,   e   sem   tempo   ade

com  comunicado  do  Andes,  os  docentes  pre

 [  Ágora  ]

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II Copa Iacs Libertadores do Contêiner: faça se puder

-tempos, a segunda edição da Copa Iacs Libertadores do Contêiner pode ser considerada um sucesso. Iniciada no dia 5 de maio e encerrada no dia 28 de julho, a Copinha conseguiu seu principal objetivo: a união dos cursos do Iacs através do futebol.

Pode-se notar alguma evolução na organização e infraestrutura da primeira para a segunda edição. No feminino, foram quatro times inscri-tos e, no masculino, 14, um cresci-mento total de 6 equipes com relação à edição anterior. Também foram contratados árbitros e inaugurado o bem sucedido Bar do Imperador, que refrescou as gargantas sedentas dos atletas e torcedores com água, mate, guaraná natural, refri e cerveja ge-lada. Sem falar no nível técnico das partidas que melhorou em função do maior tempo de preparação.

Logo no primeiro jogo os times já mostraram que queriam muito ven-cer a competição. Alguns até demais, como o Sobrinhos de Regina e o Mulambos, que protagonizaram uma briga generalizada depois de uma falta marcada pela juíza. Com os ânimos controlados, a Copinha não teve outras confusões nesse nível até seu encerra-mento. Houve momentos engraçados, como o da torcida derrubando a rede que separa-va a arquibancada da quadra do Direito, em uma avalanche desastrada de alguns jogado-res do Sobrinhos que torciam para as meni-nas do curso de Produção Cultural, jogado-ras do Que Time é Teu?.

Desde o início, seguir o cronograma foi o -

sem feriados e com a maior disponibilidade possível para as equipes, alguns adiamentos foram necessários. Entre essas mudanças de data, a mais complicada de se resolver foi

-meira edição, quando os jogos do último dia aconteceram de improviso no Iepic, escola próxima ao Iacs, a Comissão fez de tudo para manter a quadra do Direito como sede das

Conversas e prorrogações de datas se

28 de julho, faltando uma hora para o iní-

cio dos jogos, chega a notícia que o Campus do Direito estava trancado. O zelador estava em Maricá, e convenientemente esqueceu o combinado, quase colocando tudo a perder.

Às pressas e com sorte, as quadras do Gragoatá foram a solução encontrada para a realização das partidas. E, apesar do atraso e correria para avisar todas as equipes, o palco foi armado e os jogos aconteceram na raça.

do masculino foi decidida nos pênaltis e le-

venceu por 3 a 2 os então vice-campeões Lendas FC, que seriam novamente batidos

na decisão do terceiro lugar pelo Tudo Nosso e Nada Mudou, pelo mesmo placar.

emoção, lances de efeito e tensão. Lio-néis e Mulambos, os dois melhores primeiros colocados na fase de gru-pos, mediram forças e se alternaram à frente do placar num jogo digno de Libertadores. Superando os problemas da quadra escorregadia e ter de buscar a bola toda vez que saía pela linha de fundo, o resultado foi justo e mereci-do: vitória do Lionéis por 6 a 5 neste jogaço e muita comemoração pela ga-lera de Mídia. No Mulambos, o desta-que vai para Leonardo Pimentel, vulgo Adnet, e Bruno Soares. Na equipe cam-peã, André Libânio e o goleiro Bruno

da Copa feminina ainda não aconteceu e depende de um acerto entre as equi-pes e a comissão organizadora.

A premiação aconteceu na praia do IACS, onde outrora jaziam os Contêi-neres. Do Mulambos, foram premia-

dos o artilheiro Adnet (12 gols) e a muralha Douglas, que sofreu apenas 3 gols em 4 jo-gos. Torneio encerrado, os capitães elegeram o craque do campeonato, André Libânio, do Lionéis, mais decisivo do que nunca no jogo

torcedores presenciaram a glória dos joga-dores. Todos ainda puderam relaxar e tomar uma cerveja do Bar do Imperador, que pro-mete voltar com tudo no ano que vem. Ou, quem sabe, ainda neste ano, numa possível Liga dos Campeões?

O basquete brasileiro voltou a ter motivos para sorrir em Londres, 16 anos após a última parti-cipação em Olimpíadas. A

quinta colocação da sele-ção masculina do Brasil nos

Jogos pode ser vista como um grande su-cesso, e, quem sabe, seja apenas a primeira etapa para conquistas reservadas ao futuro. A equipe mostrou que tem potencial, e pode mesmo chegar longe. Até por isso, a derrota para a Argentina, com a segunda elimina-ção consecutiva para os rivais (a outra foi no Campeonato Mundial de 2010), é frus-trante, apesar de não ser um vexame.

Mais uma vez, os nossos vizinhos mos-traram que ainda estão um passo à frente, e que, logo, podem estar dois atrás. A ge-ração fantástica do basquetebol argentino, que demonstrou a frieza e a experiência que ainda falta aos brasileiros, deve acabar sem a renovação necessária e à altura dos cam-peões olímpicos de Atenas, em 2004, quan-do foram comandados pelo atual técnico do Brasil, o excepcional Rubén Magnano. Uma pena para quem gosta do esporte, mas que sirva como exemplo a não ser repetido.

O novo ciclo para a disputa já garantida no Rio, em 2016, se inicia com bastante expecta-tiva. A seleção tem uma base de qualidade, a

O trabalho é crescente, dentro e fora de qua-dra, e pode render bons frutos. A consagração seria em casa, daqui a quatro anos (como foi no bi mundial de 1963), mas, se grandes resul-tados vierem antes, serão bem-vindos. A bola está na mão, e torcemos pela jogada certa.

Na contramão, está a seleção feminina. A fraca participação mostrou que um trabalho sério precisa de sequência. Trocas constan-tes no comando técnico e problemas “extra-quadra” devem ser resolvidos com rapidez. O Brasil tem bons valores aqui e no exterior, e uma liga que começa a crescer. É bom abrir os olhos para que o fracasso não se repita.

Força resgatada, futuro promissor

Precarização Olímpica

Os próximos Jogos Olímpicos já têm data e local: 2016, no Rio de Janeiro. Muitos jo-vens brasileiros sonham em representar o país na próxima edição do maior evento es-portivo do planeta. Mesmo assim, não encon-tram incentivo nas escolas, onde o acesso à prática esportiva não é democratizado. Então, eles têm de recorrer a projetos como o Suderj Rio 2016, programa da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro que oferece atividades esportivas gratuitas em nú-cleos espalhados por todo o Estado. O projeto busca disseminar os mais variados esportes olímpicos à população, para criar uma atmos-fera dos Jogos na futura sede. “O objetivo é de integração, não de formação de atletas, mas, caso haja algum talento, é encaminhado para os clubes”, disse o professor Carlinhos, supervisor do projeto. “O programa também busca apresentar variados esportes que vão estar nas Olimpíadas para que a população se familiarize com eles”.

No núcleo de vôlei da Praça do Barreto, em Niterói, há 32 alunos inscritos. Fabiana e Vitória, de 14 anos, e Priscila, 15, são alunas

-do chove ou quando não tem aula. Contamos as horas para vir até aqui jogar”, conta Vitó-

O professor do núcleo, Eduardo Teixeira, conta que exige boletim escolar de todos os

-tabelecida nos núcleos. “Eu peço boletim, mas cada professor tem seu critério. Há núcleos em regiões carentes em que o jovem vem para o esporte e, a partir daí, há um trabalho para

É o caso da turma de jiu-jítsu da favela Buraco do Boi, também em Niterói, que ain-da recebe aulas de futebol e ginástica. Como

esportiva serve como uma válvula de escape ao cotidiano difícil daquelas crianças, que têm no esporte uma perspectiva de cidadania e de

um futuro melhor. Há três anos, a Associa-ção de Moradores da comunidade convidou o professor Joilson Ramos para dar aulas de jiu-jítsu para as crianças da região. Há um ano, a Suderj incluiu a favela Buraco do Boi como um núcleo do projeto, mas as aulas da

não é uma modalidade olímpica, ao contrário do futebol e da ginástica. Joilson tem cerca de 80 alunos e precisa se virar para obter di-nheiro e tocar a empreitada. Ele faz recolhi-mento de garrafas pet, papelão e latinhas na comunidade e também busca parcerias, como a que fez, há três meses, com Flávio Cabral, da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA). O apoio viabilizou a criação de uma

-ças, que frequentam campeonatos e dispõem

Benefícios FiscaisRegulamentada em 2007, a Lei de Incen-

tivo ao Esporte é outra ferramenta de inclusão do Governo Federal que representa avanços, mas também gera contestações. A lei oferece

-to esportivo uma contrapartida em benefícios

-ria como imposto é revertido em prol de algum projeto esportivo, especialmente de cunho so-cial. Entretanto, há polêmicas quanto ao crité-rio da Comissão Técnica do Ministério do Es-porte, que analisa as iniciativas que pleiteiam o benefício. Ela coloca, no mesmo plano, pro-

jetos sociais que necessitam dos recursos para existir e projetos que, a priori, não precisariam recorrer à lei. É o caso de Pietro Fittipaldi, de 15 anos, piloto da Nascar, que mora nos EUA e é neto de Emerson Fittipaldi. O campeão da F1 se valeu do direito legal de apresentar uma

-

A proposta, aprovada há quatro meses pela Comissão, gerou muita polêmica à época. Em resumo, essa lei dá margem aos dois lados e

que realmente necessitem dos recursos. Outra política federal de fomento ao es-

porte é o Bolsa-Atleta. Criado em 2005, o pro-grama também gera discussões. Inicialmente restrito a pessoas de baixa renda, para que pu-dessem se manter no esporte, esse ano o pro-grama foi aberto a atletas de alto rendimento que já possuem patrocínios. Nomes como o iatista Robert Scheidt, as saltadoras Maur-ren Maggi e Fabiana Murer e as ginastas Jade Barbosa e Daniele Hypólito, por exemplo,

categorias do programa, o menor incentivo é dado a atletas das categorias estudantil e de base, que recebem R$ 370 por mês. Para atle-tas nacionais, a bolsa é de R$ 925, enquanto para internacionais chega a R$ 1.850. O maior patamar está nos representantes olímpicos e paralímpicos: R$ 3,1 mil. Para esportes não olímpicos, o valor cai drasticamente e equiva-le a 15% da renda mensal do atleta.

Sucesso da China - Recorrente no topo do Ranking de Medalhas das Olimpíadas, a China evoluiu -

nida. Existem no país cerca de 310 colégios esportivos que garimpam chineses a partir dos seis anos nos colégios convencionais, de acordo com o biotipo, aptidão e interesse pelo esporte. Essas verdadeiras fábricas de atletas são bancadas pelo governo e abrigam aproximadamente 130 mil chineses que estudam pela manhã e, à tarde, dedicam-se ao esporte. O projeto olímpico chinês começou a aparecer nos Jogos de Barcelona, em 1992, quando o país conseguiu o quarto lugar geral, com 16 medalhas de ouro. De lá para cá, a China só cresceu e nos Jogos de Pequim, obteve 51 medalhas de ouro, superando os Estados Unidos e liderando o quadro geral. Desta vez, nas

Por Leonardo Pimentel

[  Arquibaldos  e  Geraldinos  ]

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Independentes, undergrounds, conceitu-ais e, acima de tudo, artísticas. Essas são as características de festas que ganham cada vez mais visibilidade em Niterói. São novos e antigos rostos, iniciantes e experientes, que investem tempo e dedicação para manter em alta os pontos alternativos de produção de cultura e entretenimento da cidade.

O que pode ser mais alternativo que ter

festa e uma set list que vai de Wilson Simo-nal a Iron Maiden, passando por Criolo e The Smiths? A festa Hey Joe chegou à décima pri-meira edição no Dia Mundial do Rock com essa cara e trouxe ainda outros diferenciais para se igualar às festas do Rio, mas de um jeito bem original assim como o estilo dos produtores José Pantoja e Matheus Marins.

Os dois amigos de 22 anos se conheceram ainda na época de colégio e a partir daí come-çou a parceria que os levou a fundar uma pro-dutora cultural, a Agência Universo Paralelo. De festival de bandas independentes no início da parceria em 2007 à festa Hey Joe, que com-pleta um ano em novembro, eles amadurece-

divirtam nas pickups durante as festas.“Idealizamos a festa em um momento em

que frequentávamos muito as noites do Rio. A partir daí nos perguntamos se era possível criar eventos semelhantes aqui onde mora-mos. Então surgiu a Hey Joe, uma festa para amigos, com o mesmo som que escutamos em casa para nos divertir. E a nossa surpresa foi que a festa cresceu rapidamente. Talvez por carência do público que não tinha opções de noites alternativas na cidade”, conta Marins, que cursa Estudos de Mídia no Iacs.

E de 600 pessoas na primeira edição no Espaço Convés, próximo ao Gragoatá, o públi-co pulou para 1,2 mil na última, comemorado no dia 13 de julho no Espaço Fênix, em Chari-tas, que já está pequeno para tanta gente.

Diversão sem frescuraOriginalidade, criatividade e boa música atraem uma juventude ávida por novidades no circuito noturno de Niterói

espaços, casas ou bares que abriguem uma festa de médio porte. Mas estamos na luta, fazendo uma festa com o intuito de colocar música boa e não apenas embolsar o lucro. Talvez esse seja nosso grande diferencial. Co-locamos um espaço para a galera interagir na própria festa, com um mural de sugestões de especiais e exposições de arte, como pinturas e curtas metragens. Também levamos Super

Pantoja, que já levou a festa para o Sana e para o Rio de Janeiro, na Gafeira Elite.

Projetos rock’n’roll

Além da ideia de fazer um festival de bandas independentes na comemoração de um ano de Hey Joe em novembro, Pantoja e Marins deram espaço para a criatividade e produziram uma espécie de desdobramento da festa: a Fuss. E não há melhor tradução.

seja do pessoal cantando seja dos gritos de Serj Tankian, Corey Taylor e Dave Grohl.

Palco principal das duas festas, o Espaço Convés é um jovem veterano de 16 anos. Abri-go de artistas independentes, nele acontece desde o forró tradicional, que já dura 12 anos, a choppadas de diferentes cursos da UFF. Já atraiu bandas underground internacionais, festivais de bandas independentes, artistas do reggae e do rock que conseguiram espaço

-rais, como o Arte Jovem.

A parceria entre o grupo Arte Jovem Bra-sileira e a Secretaria Municipal de Cultura já tem lugar no Convés há dez anos. E traz tra-balhos e manifestações de artistas plásticos, escritores, fotógrafos, cineastas, músicos e DJs do cenário inde-pendente da cidade. Os eventos aconte-

cem todo início de mês, como a “mostra de arte livre e sincera”.

Mas nem sempre foi assim. O dono da casa, Adenor Guimarães, de 53 anos, já foi policial durante 13 anos e quando resolveu mudar de vida teve a ideia de criar um “bar-zinho de praia”, no terreno da família. Cons-truiu todo o espaço com uma decoração rústi-ca e um cardápio de petiscos do mar.

“O bar com essa proposta durou apenas dois anos. Nessa época vieram alguns estu-dantes da UFF pedindo um espaço para um evento de música que eles criaram. Achei in-teressante. Quando vi o bar cheio de jovens e música logo pensei ‘é isso o que eu quero’. A partir daí o transformei em uma casa de eventos culturais e nunca mais parei”, explica Adenor.

A cara alternativa é visível no estilo, nas manchas de copos nas mesas e nas paredes

-tre os animais, mais pardais, menos pastores”;

e se atire contra a vidraça”; “crie regras com o

“Somos voltados para o público jovem,

propostas de mudança de estilo e sugestões de sociedade, mas não tenho interesse em tornar o lugar elitizado. É um espaço simples e neutro para que qualquer tipo de pessoa se sinta à vontade. A cara da casa é o público que faz”, conta.

Outro ponto é o São Dom Dom. Na Can-tareira, o bar funciona há nove anos e traz de reggae a rock, assim como o Convés.

“Jazz, reggae, música brasileira, DJ, rock e um encontro de artistas é o que rola no São Dom Dom, dependendo da seleção de cada produtor”, comenta Solanges Pimentel, dona do espaço, que lembra também das festas: Preto é Foda, Araribeats, Festa Erótica, I love rock’n’roll, Festa Zazueira. Esta última do mesmo produtor da festa Enquanto Corria a Barca, que já teve como palco o Convés e o próprio São Dom Dom.

“Em uma festa de música brasileira que rola rock, bossa nova, rap, samba, de Tro-picália à Tulipa Ruiz, o diferencial está no próprio estilo musical. E o bom é que, mes-

para esse tipo de produção aqui em Niterói”, conta o produtor Bernardo Collet, que tenta aproveitar ao máximo os espaços de Niterói produzindo festas também no Espaço Box 35, como a Feito para Dançar.

Nicole Blass explicita. A produtora de 32 anos do Espaço Box conta com ajuda de todos ao seu redor para produzir o espaço conheci-do por valorizar as bandas independentes e o circuito underground.

“O que a gente tem aqui é uma patota da cultura que limita o acesso dos artistas in-

município, o que faz com que Niterói tenha uma grande tendência a fazer as pessoas de-sistirem da arte ou pularem para o outro lado da ponte”, conclui.

* Originalmente publicado em OFLU Revista

(edição 77) do jornal O Fluminense.

Não foi assim logo de cara. Claro que eu já havia repara-do alguns indícios, mas só fui perceber que meu amigo era um completo egoísta em uma conversa rotineira, depois do almoço. Em meio a umas observações sobre minha viagem a Montevidéu, disse que não havia encontrado mendigos, pelo fato de ter me hospedado com a parcela bem nascida da cidade uruguaia. A primeira reação de meu amigo ao es-cutar minha fala foi uma torcida de nariz, seguida por uma exclamação: por que eu viajaria para ver pessoas pobres? É

Deixei passar. Começamos então a conversar a respeito dos meus an-

seios sobre a faculdade de Jornalismo. Meu incômodo com o caráter meramente tecnicista que os estudantes estão in-

corporando com tanta naturalidade, não foi compartilhado por meu amigo. Eu podia ver em seu rosto. Quando come-cei a falar mal do jornalismo feito pela Folha de S. Paulo, então, ele quase pulou da cadeira.

Em resposta às minhas divagações vieram sucessivos socos no estômago. Ele me disse que achava ótimo o fato da universidade só formar para o mercado. Que a teoria não

jornalista da Folha produzindo o que lhe fosse estipulado, sem pestanejar, se ganhasse um bom salário para sustentar

Em um primeiro momento, me preparei para assimilar toda aquela informação e desenvolver uma argumentação

contrária. Saqueada pela angústia, pensei: quanta insensi-

sinceridade. Meu amigo era, sim, um egoísta, mas não um egoísta disfarçado de preceitos politicamente corretos.

Com fôlego recuperado, rebati dizendo que o espaço universitário teria que ser o lugar dos pensamentos efer-vescentes, das tentativas, do conhecimento. Que o estímulo à competição e a simulação da vida no mercado de trabalho não seriam os melhores caminhos. Ele me olhou, posou sua mão em meu ombro e disse com um sorriso: você é mesmo uma romântica.

E talvez eu seja mesmo.Por Mariana Pitasse

[  Estante  ]

[  Alhos  &  Bugalhos  ]  

Page 8: O Casarão nº zero

no. zero - outubro 2012 8

Faz tempo. Não lembro a data exata, mas aconteceu em maio, à noite, por volta das 21h40. Tinha que esperar a carona de um ami-go que faz Economia e fui para o IACS. Quan-do cheguei, o portão estava fechado e não me deixaram entrar. O campus estava vazio, mas ainda havia expediente. Impedido e um pouco irritado, encostei e coloquei a mochila em cima do carro do meu amigo, estacionado em frente ao Instituto. Foi quando vi um cara vindo na minha direção. Pensei “ele vai me assaltar”, mas esperei para evitar prejulgamentos. Era um moleque novo, mulato, magro e de altura mediana. Ele olhava demais para mim e isso me incomodou. Por “sorte”, havia outro garoto entre nós e, quando o assaltante sacou a arma, apontou-a para este rapaz que correu. Sobrei e

-chila e saí varado também. Corri em direção a minha academia, ainda na Lara Villela e, no caminho, tive a preocupação de avisar sobre o ladrão a um grupo de cinco estudantes que se-guia rumo à Cantareira. Gritei “corre brother,

primeiro instante eles correram, mas logo de-sistiram. Foram assaltados.

Quando cheguei à porta da academia, uma senhora me perguntou se eu tinha sido rou-bado e disse que não. Dei um tempo por ali e voltei para encontrar meu amigo. Havia carros de polícia em frente aquela comunidade atrás do IACS, onde o grupo falava sobre o aconte-cido. O assaltante era local, estava claramente nervoso, mas levava uma mochila nas costas para se misturar aos estudantes. Não sabia assaltar, tanto que deixou todo mundo correr. Qualquer bandido velho teria pressionado a vítima na parede com a arma para não correr. Ele fez aquilo tudo e depois “emburacou” ali naquela favela. Eles sabem a hora que a galera sai, já está manjado. E a violência é resultado da sociedade em que vivemos. O que não pode

-versidade durante o horário de aulas. O cam-pus também funciona como abrigo para nós. Não tem histórico de assaltos lá dentro. (Rô-

mulo Quadra, aluno de Jornalismo no quarto

período).

A inclinação velada de professores e alu-nos do IACS para encerrar os trabalhos antes de 22h, quando termina o expediente, assina-la a insegurança na região de São Domingos e Ingá. Quem passa pelo Instituto nesse horário encontra, provavelmente, um ou dois alunos e

em permanecer. Outras precauções incluem -

tos, andar rápido ou correr para evitar larápios e, até mesmo, solicitar um táxi para percorrer distâncias mínimas. Por isso tudo, a história acima não causa espanto. Ao contrário, provo-

-lhantes, acusa o risco que os alunos correm.

Como todo denuncismo é questionável, fomos às ruas conferir de perto o policiamen-to. Inspirados em matéria de O Globo, do dia 19 de março, O Casarão percorreu, de carro e por quatro vezes, um percurso de 11,5 quilô-metros, abrangendo os bairros de São Domin-gos, Boa Viagem e Ingá, além de uma parte de Icaraí e do Centro (Imagem 1). O trajeto foi desenhado de modo a passar pelos campi do

Segurança nas imediações dos campiO policiamento meia boca e as ressalvas de Caetano

Valonguinho, Gragoatá, Praia Vermelha, Ar-tes e Comunicação Social, Economia, Direito e também pela Reitoria. Foi uma tarde inteira de trabalhos e meio tanque de gasolina.

O saldo das rondas é claro (Imagem 2): existe um policiamento satisfatório nas vias principais que formam a periferia do trajeto,

-xo de pessoas e automóveis, o patrulhamen-to é quase nulo. Naquela tarde, encontramos quatro cabines de polícia, das quais duas estão

-ciais na Rua Nair Margem Pereira, próxima ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), e uma média de uma viatura circulando por vol-

na Rua Doutor Paulo Alves durante a segunda volta, e três na Praça da Cantareira, durante a terceira incursão. Sobre as cabines, vale dizer que estão localizadas no perímetro do trajeto: uma em frente ao mercado Pão de Açúcar, no Ingá, e outra em frente à Reitoria da UFF que está fora de uso, em Icaraí. As demais estão no Centro, sendo a primeira em frente à Estação das Barcas e a segunda, desativada, próxima ao Plaza Shopping. Não foi visto patrulhamento em endereços conhecidos pela alta incidência de crimes, como a Rua Andrade Neves, tam-bém chamada de “Rua do Assalto” e Professor

e que foi apelidada de “Rua do Perdeu”. O mes-mo vale para as ruas Roberto Rowley Mendes, Presidente Pedreira, Tiradentes e Lara Villela, onde se situam, respectivamente, o Campus da Praia Vermelha, a Faculdade de Direito, o Instituto de Economia e o Iacs.

Apesar disso, o 12° Batalhão de Polícia Militar, responsável pela região da Grande Niterói, (Niterói e Maricá), apresentou, no dia 9 de março deste ano, uma Ordem de Po-

Roberto Salles. De acordo com o documento, assinado pelo Major Sidnei Pazini, o 12° BPM

-liciamento nas unidades de ensino da UFF”. A medida previa o aumento do patrulhamento

roubos a funcionários e alunos do estabeleci-mento de ensino”. Diante disso e do que foi visto nas rondas, fomos até o Batalhão na bus-ca por esclarecimentos.

Conversa com Caetano

Não, não falamos com o Caetano do cru-zamento da Ipiranga com a Avenida São João. Natural do Rio de Janeiro, o nosso Caetano arranca os cabelos para tirar a má fama da “esquina do Assalto com Perdeu”. Subcoman-dante do 12° Batalhão de Polícia Militar de Ni-terói, o Major André Luiz Caetano conversou com O Casarão no dia 26 de julho.

Questionado sobre a vigência da Ordem de Policiamento nos arredores dos campi, mos-trou total desconhecimento, mas garantiu que viaturas circulam na região e que os trabalhos

-ciais do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis). “Não tem mais assalto na Andrade Neves porque o Proeis está lá direto. Não tenho visto mais registros de ocorrência

a prefeitura e a PM, o programa começou em maio e hoje conta com 140 soldados remune-rados para trabalhar em dias de folga, o conhe-

de 2012, segundo o secretário de segurança de Niterói, Coronel Rui França.

O Major Caetano admitiu, porém, que o efetivo policial não acompanhou o crescimen-to populacional na cidade. “O problema do efetivo na corporação é crônico. Com o passar dos anos, a população aumentou. Hoje você tem aí vários empreendimentos imobiliários e isso representa mais pessoas e veículos cir-

medidas foram tomadas. Hoje, o efetivo do 12° BPM é de 970 homens, 700 dos quais prontos para o policiamento. Contudo, considerando o rodízio de escalas, o número de policiais nas ruas gira em torno de 200/dia para Niterói e Maricá. Com a onda de violência, este desta-camento foi complementado com os 140 ho-mens do Proeis, 60 recrutas em período de estágio na cidade e uma média de 100 homens em Regime Alternativo de Serviço (RAS), tota-lizando 400 homens, o dobro do efetivo natu-ral. O número de viaturas também aumentou, saltando de 37 para 69.

De fato, as providências surtiram efeito. Se-gundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), de maio para junho deste ano aconteceram menos crimes, com destaque para assaltos a transeun-te (-25,5%) e roubo de veículos (-33%). Ainda assim, insistimos no fato dos crimes não terem cessado ao redor dos campi e perguntamos se o baixo número de registros de ocorrência afe-ta na distribuição do policiamento. A resposta foi sim. “O policiamento é apli cado de maneira

-cais, dias da semana e horários com maior in-

-bra. Isso causa indignação nas pessoas porque elas dizem que foram assaltadas e realmente foram. Mas eu só posso julgar aquilo que eu tenho de palpável”, explicou.

sobre a necessidade de registrar os delitos. “Em todas as reuniões comunitárias a gente fala isso, tem que registrar. Nós precisamos de interação com a comunidade porque sozinhos não fazemos absolutamente nada”. Mas além do procedimento ser dispendioso e burocráti-co, as pessoas ainda preferem manter distân-cia da polícia, sobretudo uma boa parte do pú-blico universitário que vê na PM um símbolo

-ção existe devido a fatos do passado, à história política do nosso país. Mas eu encaro isso com naturalidade. Porque a polícia hoje é um pres-tador de serviço. O meu trabalho é produzir sensação de segurança e, para isso, eu preciso da interação com as pessoas. Essa visão tem que mudar”, garante Caetano.

-nes abandonadas. Ele disse que não devemos esperar um aumento da quantidade destas, mas sim do patrulhamento nas ruas, com po-liciais circulando a pé e viaturas, por se tratar de um policiamento mais dinâmico e com um raio de ação maior. “Como técnico de seguran-

assaltado, vai entrar na viatura e ela vai ro-

sociedade civil pode se articular para construir e equipar uma cabine, desde que siga os pa-drões da Secretaria de Segurança e contate o Batalhão, que avalia a viabilidade da iniciativa de acordo com critérios como a disponibili-dade de policiais e a distância para a sede da corporação.

Major André Luiz Caetano atendeu o celular,

colocado no sistema de metas. Pô chefe, eu acho que a gente tá crescendo né. Estou falan-do para o senhor dados do Instituto de Segu-rança Pública (ISP). Ficamos verdes em letali-dades e roubo de rua”, falou. Nada mais justo.

Wolney Dias, comandante do Batalhão, que tirava férias.

Por Gabriel Vasconcelos e Júlia Albuquerque

[  Limoeiro  ]