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Joseph Hart
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O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
Por psicólogo Geofilho Ferreira Moraes
CRP-12/10.011
Data: 21 de setembro de 2011
O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE
Joseph Hart
A Terapia Centrada no Cliente mudou consideravelmente nas últimas décadas. As
mudanças são importantes, pois expressam os ganhos oriundos de horas calculáveis de
terapia e pesquisa. Infelizmente, muitas dessas mudanças são comparativamente
desconhecidas; a orientação centrada no cliente na década de 1940 é bem conhecida,
mas o mesmo não acontece com a orientação desenvolvida desde 1960. O terapeuta
profissional que conhece apenas as versões recentes da Terapia Centrada no Cliente viu
as sementes, mas não viu as abóboras. É compreensível, é claro, desde que tanta coisa
tem acontecido no mundo, mesmo no pequeno mundo da psicoterapia, que nós,
freqüente e convenientemente aceitamos que terapias que não estudamos recentemente
permaneçam as mesmas. Inúmeras vidas profissionais são desse modo facilitadas, mas
os estereótipos substituem a informação e sementes de abóbora são confundidas com
abóboras. O estereótipo comum do terapeuta centrado no cliente é o de alguém passivo,
inócuo e dependente de “hum-hum”. Tal estereótipo nunca foi exato, mas ele conduz, de
uma maneira destorcida, a uma das principais características das primeiras abordagens
centrada no cliente, a não-diretividade. Como uma caricatura da moderna Terapia
Centrada no Cliente, contudo perde a característica. O quanto e o porquê será
demonstrado neste capítulo. Hoje o campo da psicoterapia está num estado de saudável,
senão feliz ecletismo. Poucos terapeutas acreditam que uma única técnica ou única
teoria possa encerrar toda a gama de problemas e aplicações encontráveis. Nem por
isso, apesar desse tolerante ecletismo, há uma tendência em grande parte dos
profissionais em só dar atenção aos mais novos e mais refulgentes desenvolvimentos
nesse campo. Desenvolvemos um faro jornalístico quanto a proclamações de revoluções
e uma correspondente insensibilidade a reformulações de ideias ou técnicas familiares.
Embora as modificações conceituais e técnicas revistas neste capítulo não produzam a
revolução ou a ruptura na psicoterapia que os jornalistas, políticos e secretários
queiram; elas acrescentam novos ingredientes e novas misturas na panela eclética. Essas
mudanças devem contribuir para o eventual desenvolvimento da teoria geral da
mudança terapêutica. Firme nesse 01 objetivo, deve ser acentuado que não é propósito
deste capítulo (nem deste livro) persuadir a Freudianos, Junguianos, Adierianos,
Skinnerianos ou devotos de outras crenças a se tornarem Rogerianos. (Só existe um
Rogeriano, e às vezes nem estou muito seguro quanto a ele). Um Resumo da Mudança
A compreensão de ideias e técnicas da Terapia Centrada no Cliente será facilitada se seu
período de trinta anos de desenvolvimento, de 1940 a 1970, for dividido em três
períodos: o período da Terapia não Diretiva, de 1940 a 1950; o período da Terapia
Reflexiva, de 1950 a 1957; e o período da Terapia Experiencial, de 1957 a 1970. Esses
períodos estão discriminados no quadro 1.1. O quadro e este capítulo estão organizados
em função das respostas oferecidas pela orientação centrada no cliente para as perguntas
gerais: • Que comportamentos e atitudes do terapeuta facilitam o “crescimento” do
cliente? • Que mudanças básicas de personalidade ocorrem no cliente durante uma
psicoterapia bem sucedida? Como indicam essas perguntas, o foco deste capítulo está
nos conceitos de Terapia Centrada no Cliente. Como pode a mudança de personalidade
se efetuar e que mudanças ocorrem? Perguntas sobre por que a personalidade pode
mudar, envolvendo mais conceitos abstratos como a idéia de Rogers (1957) de uma
tendência atualizante inata, não são consideradas detalhadamente aqui. Essa é uma
restrição legítima; muitos terapeutas interessados na orientação centrada no cliente estão
inseguros quanto às suposições Rogerianas referentes à natureza básica do homem - eles
estão simplesmente interessados em qualquer coisa que funcione. Inegavelmente
suposições éticas são significativas desde que influenciem o que se tenta fazer
funcionar, mas elas serão consideradas nas partes 5e6. Cada período será ligado a um
livro principal pelo fundador da psicoterapia não diretiva, Carl R. Rogers. Quando a
terapia não diretiva tomou-se amplamente conhecida na década de 1940, Rogers atraiu
muitos estudantes e colegas. Isso significava que o número de contribuintes para a teoria
e prática da terapia cresceu. Contudo, é razoável representar cada período histórico por
um dos livros de Rogers porque ele é certamente o mais conhecido articulador da
posição centrada no cliente. Usando o quadro 1.1 como guia, podemos agora considerar
as ideias e práticas que surgiram em cada período. A apresentação da Terapia
Experiencial pode ser mais detalhada que as dos períodos não diretivo e reflexivo. Estou
mais 02
interessado na apresentação da moderna Terapia Centrada no Cliente, não nas terapias
iniciais que contam com muitas fontes ao alcance do leitor.
Período 1: Psicoterapia Não Diretiva Como descrita no livro de Rogers “Psicoterapia e
Consulta Psicológica” (1942), a terapia não diretiva colocou primordial importância na
gradual aquisição pelo cliente do insight sobre si mesmo e de sua situação. O terapeuta
procurava facilitar essa compreensão (insight) criando um ambiente permissivo, não
autoritário, no qual o cliente era livre para prosseguir no seu próprio ritmo e em suas
próprias direções. Aceitando esse modo não interventivo, o terapeuta tentava livrar o
cliente da necessidade de refrear e esconder a capacidade de defesa. O trabalho do
terapeuta era principalmente o de ajudar o cliente a esclarecer seus sentimentos e
percepções. “Uma terapia efetiva consiste em uma relação permissiva, definidamente
estruturada, que permite ao cliente ganhar uma compreensão dele mesmo a um grau que
o capacita dar passos positivos à luz dessa nova orientação. Essa hipótese tem um
corolário natural, que todas as técnicas utilizadas deveriam ir ao encontro do
desenvolvimento dessa relação livre e permissiva, essa compreensão da própria pessoa
na terapia e outras relações, e essa tendência em direção a uma ação positiva auto-
iniciada.” (Rogers, 1942, p. 18). Mesmo nesse estágio inicial, a Psicoterapia Centrada
no Cliente mostrou a característica que distintamente definiu sua posição entre as
abordagens terapêuticas. Um esforço definitivo foi feito por Rogers e seus colegas para
recolher e tornar avaliável para análise científica o material bruto da psicoterapia. O
empirismo permaneceu como parte integrante da orientação centrada no cliente e é, em
grande parte, responsável pela natureza de permanente tentativa, dessa abordagem.
Teorias e construções que não levam a hipóteses prováveis e gerais foram descartadas
em favor daquelas que levam. O livro de Rogers “Psicoterapia e Consulta Psicológica”,
quando publicado em 1942, continha, o que então era a característica - uma transcrição
completa de um caso de terapia gravado fonografïcamente. Aqui está uma parte extraída
do caso que apresenta diretamente o estilo da psicoterapia não diretiva. C: Eu não sei
como, embora eu ache que funcionarão bem. Droga, se eu vou me dar bem (olhando
suas anotações). (Pausa) Oh, isso tinha a ver com a garota com quem eu estava falando!
Ela disse que esperava que não houvesse um show de strip-tease e eu estive tentando
analisar por que ela se opôs a isso. Eu acho talvez 03
que ela não quisesse nenhuma competição. Ou porque ela sentiria que a garota seria
superior a ela, ou porque ela tenha desejos secretos num sentido que ela condenaria em
qualquer outra, mas não nela própria. T: Fazendo uma pequena avaliação das razões
dos outros assim como das suas, hmmm? C: Oh, sim, Eu sempre fiz isso. Bem, eu
sempre analisei as dos outros talvez um pouco mais do que as minhas. (Pausa). Bem,
então, para resumir tudo isso: Eu acho que eu devia procurar cada uma e todas as
situações saudáveis e penetrar nelas. Eu notei uma coisa curiosa. Quando eu tomei a
decisão de que escolheria o caminho mais difícil, e que até mesmo seria o mais longo
também, apesar de ter decidido em cima de nada, eu senti um alívio (ri), de modo que,
em última análise, uma pessoa só experimenta o seu próprio sistema nervoso, de modo
que parece que é a decisão o que conta, mas ao mesmo tempo aquela decisão deve ser
alimentada pelas situações externas. E eu acho que de vez em quando uma pessoa possa
decidir no vazio quando realmente o quer, mas é muito difícil manter esse significado
no vazio, (nada). T: E também, como você mostrou antes, talvez sua primeira noção de
fazer alguma coisa no vazio, não era bem um desejo de tomar uma decisão, porém mais
um desejo de se livrar de tomar essa decisão. C: M-Hm. Bem, há muitos tipos de
máscaras. (Pausa). O que você acha da minha conclusão? Você se importa em
acrescentar alguma coisa a ela? T: Não, eu acho que - bem, nós poderemos adicionar
detalhes nisso, mas eu acho que é a conclusão que realmente vai valer perante as
satisfações mais duradouras. Eu acho que você tem razão - pode ser um caminho duro,
pode ser um caminho longo. Mas - ao menos é o único caminho. T: É um caminho que,
você está bem convencida agora, oferece mais satisfações a longo prazo, do que de
outro modo.” (Rogers, 1942, pp. 411-412). As condições nos EUA quando o livro de
Rogers sobre terapia não diretiva foi publicado, eram para sua aceitação. A despeito de
dúvidas da parte dos editores e do autor, “Psicoterapia e Consulta Psicológica” vendeu
muito bem e ainda vende. Psicólogos clínicos e conselheiros achavam que a psicanálise
não estava completamente apropriada às necessidades dos americanos. Além disso, os
analistas nos EUA formaram uma associação médica que efetivamente excluiu os não
médicos. Um terapeuta devia praticar a terapia psicanalítica, mas não poderia ser um
analista - ele continuava um leigo, um paramédico de segunda classe. A Psicoterapia
Diretiva, a outra importante alternativa aberta aos terapeutas, era 04
igualmente desinteressante. Dar informação às pessoas sobre como elas deviam e
podiam mudar não pareceu modificá-las. Podemos ver porque os psicólogos americanos
estavam prontos a reagir favoravelmente à uma psicoterapia que enfatizava as relações
de ajuda, uma psicoterapia que rejeitava tanto o modelo médico do analista quanto o
modelo vocacional dos terapeutas diretivos. A terapia não diretiva preencheu essa
lacuna.’ Essa orientação foi entusiasticamente aceita por muitos terapeutas, muito
embora conceitos não diretivos como “permissividade”, “esclarecimento” e
“compreensão de si mesmo (insight)” adquiriram sentido mais por exemplos do que
pela integração sistemática numa estrutura teórica bem desenvolvida ou por pesquisa.
Os terapeutas de orientação não diretiva foram identificados quase que mais claramente
pelo que não fizeram do que pelo que fizeram. Durante esse tempo, as intervenções dos
terapeutas, tais como conselho, expressar opiniões ou sentimentos, interpretações,
oferecimento de planos e outras atividades interventivas, foram evitadas. Foi colocada
muita ênfase em utilizar o impulso auto-iniciado de cada um no sentido do crescimento,
da saúde, do ajustamento. O terapeuta era uma parteira psicológica, cuja função era
ajudar a dar à luz a compreensão de si próprio no cliente e ações positivas. QUADRO
1.1 05
Período II: Psicoterapia Reflexiva Quando passamos do Período I para o Período II, a
orientação é notadamente mais amadurecida. No Período II descobrimos que muitos dos
conceitos e práticas da Terapia Centrada no Cliente foram sistematizados e apoiados por
extensas investigações. A mudança mais flagrante na atual prática da psicoterapia foi a
ênfase do terapeuta em reagir sensivelmente ao afetivo, mais do que ao significado
semântico das expressões do cliente. Respostas “superficiais” ou “sobre o conteúdo”, às
vezes características da “clarificação” não-diretiva, foram evitadas. Esse período é
melhor representado pelo livro de Rogers “Client-Centerad Therapy”(1952). Como foi
dito antes, desde o início, a Terapia Centrada no Cliente se comprometeu com a
abordagem científica do fenômeno da psicoterapia. Esse compromisso e seus efeitos são
claramente ilustrados na passagem do Período I para o Período II. Considerando apenas
a quantidade, o segundo período é caracterizado pelo aumento decisivo na quantidade
de pesquisas encontráveis nos muitos aspectos da psicoterapia (Ver Hobbs, 1955;
Cartwright, 1957, e Seeman, 1948, 1956). No Período II, o papel do terapeuta foi
reformulado e elaborado com nova ênfase na sua responsividade sensível aos
sentimentos do cliente. A reflexão de sentimentos substitui a clarificação, e as formas
cognitivas de interação foram re enfatizadas. Para implementar a reorganização do
cliente e a reintegração do seu auto-conceito, o trabalho do terapeuta era remover as
fontes de ameaça da relação e espelhar em si o mundo fenomenológico do cliente. A
técnica ao alcance do terapeuta para a realização dessa implementação era a reflexão
dos sentimentos. Raskin descreveu a técnica com essas palavras: “...a participação do
terapeuta torna-se uma experiência ativa com o cliente dos sentimentos aos quais ele dá
expressão. O terapeuta faz um esforço máximo para se colocar “na pele” da pessoa com
que ele está se comunicando; ele tenta penetrar e viver as atitudes expressas, em vez de
observá-las, captar cada nuance de sua natureza variável; em resumo, absorve-se
completamente nas atitudes do cliente. E, lutando para fazer isso, simplesmente não há
lugar para nenhuma outra atividade ou atitude do terapeuta; se ele está tentando viver as
atitudes do outro, ele não pode estar pensando em fazer o processo ir mais rápido.
Porque ele é um outro, que não o cliente, a compreensão não é espontânea, mas deve ser
adquirida, e isso através da mais intensa, contínua e ativa atenção aos 06
sentimentos do outro, excluindo outros tipos de atenção.” (in Rogers, 1951, p.29) A
descrição de Raskin claramente retrata, a resposta de reflexão de sentimento como
instrumento de clarificação mais enfocado e mais intenso. Para conduzir o estilo desse
estágio de terapia, eu novamente cito um pequeno trecho de terapia transcrito: T: Isso
pega um pouco mais do sabor do sentimento, é isso, é quase como se você realmente
estivesse chorando por você mesmo... C: E então, é claro, eu comecei a ver e sentir
sobre isso, veja, eu escondi isso, (chorando) mas... e... eu escondi isso com tanta
amargura que, em compensação eu tinha que encobrir. (chora). E disso que eu quero me
livrar! Eu quase nem ligo se isso machucar T: (com carinho) Você sente que isso, no
fundo, como você experimentou isso, é um sentimento de lágrimas reais por você. Mas
isso você gostaria de se livrar. Você quase sente que seria melhor absorver a dor do
que... do que sentir a amargura (pausa). E o que você parece estar dizendo com mais
força é “Eu machuco e eu tentei esconder isso”. C: Eu não sabia disso. T: Hum-hum.
Como uma nova descoberta, realmente. C: (falando ao mesmo tempo). Eu nunca soube
realmente. Mas é... você sabe, é quase uma coisa física. E... como se, embora eu... eu
estivesse procurando em mim todas as espécies de terminações nervosas e - pedaços de,
de... coisas que foram como que esmigalhadas (chorando). T: Como se alguns dos mais
delicados aspectos de você - quase fisicamente - tivessem sido esmagados ou
machucados. C: Sim, e você sabe, eu consigo sentir, “oh, coitadinho! (Pausa). T: Você
não pode senão sentir muito pela pessoa que você é. (Rogers & Diamond, 1954, pp.
326-327).
Passaremos agora para a discussão da Psicoterapia Experiencial, A cobertura dos dois
primeiros períodos foi breve, mas minha intenção era prover um “background”, não
uma história. O leitor que quiser mais informações deve 07
consultar as fontes originais já citadas ou as subseqüentes. Haal & Lindzey (1957) e
Ford &Urban (1963).
Período III: Psicoterapia Experiencial A Psicoterapia Experiencial, embora claramente
uma conseqüência das Psicoterapias Não-Diretivas e Reflexiva, é mais difícil de ser
caracterizada. Ela ainda está tomando forma; ainda, por causa de sua relativa
maturidade, é um desenvolvimento mais amplo, mais genérico na prática e na teoria da
psicoterapia. Alguns dos pontos de vista das primeiras idéias podem ser encontrados no
livro de Rogers “On Becoming a Person” (1961). Um ímpeto para a evolução da
Psicoterapia Experiencial foi provocado pelas tentativas de um grupo de terapeutas do
tipo Centrado no Cliente, em oferecer psicoterapia aos psicóticos hospitalizados e
normais bem ajustados. Trabalhando com essas pessoas, os terapeutas encontraram
novos problemas e dificuldades e, conseqüentemente, foram forçados a buscar novos
rumos para implementar e entender seus esforços. (Ver Shlien, 1961; Gendlin, 1966; e
Rogers, 1967b) Contudo, mesmo antes da aplicação da Terapia Centrada no Cliente às
novas populações, a ênfase desse grupo começou a mudar das técnicas terapêuticas
específicas (tais como reflexão de sentimentos) para um foco nas habilidades e atitudes
gerais do terapeuta que poderiam ser comunicadas através de uma ampla gama de
comportamentos terapêuticos. Rogers no seu artigo “The necessary and sufficient
conditions of therapeutic personality changes”(1957b), introduziu a idéia de que, dada
certas condições básicas de terapia, entre elas as atitudes terapêuticas de consideração
positiva incondicional, compreensão empática e genuinidade, poderia ocorrer uma
mudança positiva da personalidade. A mudança de personalidade hipotetizada ocorreria
independentemente das técnicas específicas usadas pelos terapeutas ou dos problemas
psicológicos particulares dos clientes. Digna de menção especial é a condição de
genuinidade (autenticidade). Assim que os terapeutas “centrado no cliente” começaram
a se distanciar mais e mais das prescrições do “que fazer” e “quando fazê-lo”, as
ramificações desse conceito para a sua prática diária tornou-se mais aparente. Os
terapeutas se encontraram mais expressivos e ativos, comunicando suas próprias
preocupações e sentimentos aos seus clientes. Essa maior expressividade e extroversão
foi considerada mais tarde essencial no trabalho com clientes regressos e
esquizofrênicos recalcitrantes. (Gendlin, 1966b). No importante artigo “A Process
conception of Psychotherapy” (1958), que prevê outra tendência na evolução da Terapia
Centrada no Cliente, Rogers discuti as mudanças em clientes durante a terapia, em
termos gerais, encerrando muitos aspectos e níveis da relação inter e intra-pessoais dos
clientes. O significado desse 08
artigo repousa não só na concepção específica do processo que delineava, mas também
na ênfase global do argumento num processo infiltrador de mudança de personalidade,
abrangendo todos os aspectos significativos da mudança de vida interior do cliente e
seus efeitos nas suas relações pessoais e situações de vida. A psicoterapia pode ser
investigada e conceitualizada em muitos níveis: psicológico, verbal, comportamental e
existencial. Hoje, quando os terapeutas discutem terapia, na maioria das vezes falam em
termos experienciais (existencial, subjetivo, fenomenológico). A Terapia Centrada no
Cliente, em seu esforço de pesquisa abarcou todos os níveis, mas sua teorização tem,
muitas vezes, sido formulada em termos fenomenológicos. Na psicoterapia não-diretiva
a ênfase central foi colocada no fato fenomenológico, o insight. Para a Psicoterapia
Reflexiva, auto-conceito eram centrais. No seu escrito “Process”, Rogers colocou o
fundamento para a mais ampla e potencialmente mais produtiva concepção
fenomenológica, a da experienciação. O conceito da experienciação aplicado à
psicoterapia originou-se com Gendlin e Zimring (1955), e nos recentes escritos de
Gendlin (l961b, 1966a) entendeu a teoria. A palavra “experiencing” refere-se tanto a
teoria da experiência como ao fenômeno da experienciação. Sucintamente descrita,
refere-se à massa aperceptiva da vida subjetiva do indivíduo, ao sentido implicitamente
e conhecido diretamente que é a fonte dos significados pessoais. A experienciação é um
fenômeno diário; por exemplo, a experienciação acontece sempre que tentamos explicar
alguma coisa para outra pessoa e não conseguimos expressar o que queremos dizer.
Dizemos alguma coisa assim como “Não, não é bem isso. Espere aí. Deixe ver se
consigo dizer de outro modo”. A sensação íntima de que nossas palavras nem sempre
encontram nossos significados é um exemplo de experienciação. Se não tivéssemos a
sensação interna da discrepância entre palavras e significados, nós não nos
interromperíamos, nós não teríamos referência para avaliar nossas verbalizações. De
fato, procuramos pelas palavras certas, e finalmente, se bem sucedidos em nossa
focalização interior dizemos (ou sentimos), “sim, é isso o que eu quero dizer.”.
Experienciação é um processo subjetivo de referência interna. A teoria de Gendlin da
efetividade das atividades “na terapia” entre cliente e terapeuta é formulada nos termos
do fenômeno da experienciação. “Uma resposta terapêutica efetiva refere-se ao que o
indivíduo está agora consciente. Contudo, não se refere simplesmente a seus
pensamentos e palavras. Antes disso, refere-se a dados sentidos, presentemente, à sua
experiência atual... Uma resposta terapêutica efetiva, também objetiva fazer três coisas
relacionadas: 09
1. Referir-se diretamente e ajudar o indivíduo à sua experienciação; 2. Deixá-lo
sentir sua experienciação presente mais intensamente, para agarrar-se com ela,
segurá-la, tolerá-la, trabalhá-la, e 3. Ajudá-lo a colocar seu significado implícito em
conceitos que acuradamente o exprime.”(Gendlin, 1961 b, p 245). Por que a
psicologia por muitos anos anulou as experiências subjetivas do domínio da própria
investigação científica, (a não ser que mascaradas como relatórios verbais sem
conteúdo) deve ser enfatizado que os fenômenos da experienciação não são
inadequados à pesquisa científica (Gendlin and Berlin, 1961; Tomlinson and Hart,
1962; Hart, 1965). Contudo, parece mais que os procedimentos tradicionais de
psicologia de ratos e estatísticos agrícolas não podem ser aplicados com poder à
investigação da experienciação. Uma das mais urgentes necessidades da psicologia
contemporânea é o desenvolvimento de metodologias adequadas e instrumentos
para estudar processos subjetivos (Bergin, 1964). Uma precaução: Os fenômenos da
experienciação não são iguais aos da conscientização ou experiência subjetiva. A
experienciação se refere ao processo (ou processos) demarcadamente subjetivo que
é conhecido, mas nem sempre consciente no sentido de que possa ser posto em
palavras. Uma psicologia completa deve, é claro, tratar com todos os processos
subjetivos significativos, mas, na psicoterapia, muitos dos simples fatos da vida
consciente são comparativamente irrelevantes e insignificantes como objetos para a
atenção do cliente e do terapeuta. O processo de experienciação se refere ao sentido
individual dos significados pessoais; é um processo de sensibilidade interna mais do
que qualquer outra coisa. Os exemplos da aplicação da teoria da experienciação se
refere ao sentido individual dos significados pessoais; é um processo de
sensibilidade interna mais do que qualquer outra coisa. Os exemplos da aplicação da
teoria da experienciação aos fenômenos da psicoterapia serão dados mais tarde.
Deixe-nos primeiro completar esse resumo da transição de psicoterapia reflexiva
para a psicoterapia “experiencial”. Com a aplicação da Psicoterapia Centrada no
Cliente aos esquizofrênicos internados, a mudança entre os terapeutas (dessa linha),
de reflexão dos sentimentos dos clientes para a ativa comunicação do calor e dos
sentimentos do terapeuta foi acelerada. 10
A Terapia Centrada no Cliente, depois de mais de uma década de pesquisa prática, se
estabeleceu diretamente como técnica efetiva de ajudar pacientes externos desajustados.
Contando com a atitude de respeito básico pelo cliente individual e suas potencialidades
para se auto-dirigir, os terapeuta “centrado no cliente” empregaram com sucesso a
técnica de reflexão dos sentimentos para comunicar sua compreensão vital e próxima
dos sentimentos passo-a-passo do cliente. As realizações anteriores, confirmadas em
pesquisas, não deveriam ser ignoradas. Contudo, quando defronte de clientes
esquizofrênicos que não falam, não exploram e não são motivados, o terapeuta centrado
no cliente ficava limitado em ver suas tentativas frustradas em responder aos
sentimentos verbalizados dos clientes. Os terapeutas foram impelidos a procurar novas
formas de expressão e preenchimento de seus objetivos terapêuticos. Construindo em
cima de tentativas face-a-face de fazer terapia com clientes recalcitrantes e com os
conceitos de Rogers, Shlien, Gendlin e outros, foram desenvolvidas maneiras de
responder e novas conceituações de psicoterapia. Essa nova terapia, a psicoterapia
experiencial, embora inicialmente moldada sobre o trabalho com pacientes psicóticos
resistentes, também aplica-se a outros clientes e a grupos. Vamos agora mostrar as
mudanças de quadros da psicoterapia experiencial, sem esquecer que eles estão
mudando. Primeiro, alguns trechos de terapias transcritas darão um ponto de partida
para discutir os meios em que a psicoterapia experiencial se parece e se difere dos da
psicoterapia reflexiva. Notem, especialmente, quando lerem esses extratos, como
terapeutas experienciais são mais atuantes em comunicar seus sentimentos aos clientes.
Embora a reflexão do sentimento seja usada, os sentimentos aos quais os terapeutas
respondem são muitas vezes os sentimentos pré-conceituais não expressos ou
vagamente expressos - as respostas são dirigidas à experienciação do cliente. Esses
extratos foram escolhidos dos arquivos de um projeto de pesquisa que investigou os
processos da psicoterapia com pacientes esquizofrênicos (A pesquisa está relatada em
Rogers, 1967 b).
HUT
C: (falando do emprego do seu marido). E isso é tudo o que eu sei. Esse outro cara
finalmente vai...
T: (interrompe). Você não precisa me contar as novidades.
C: Finalmente vai se meter em 11
T: (interrompe) Há uma coisa...
C: (interrompe). Negócios para ele mesmo.
T:...Uma coisa que eu sinto que eu... quero dizer (C: mhm) que eu gostei de ter sabido
das notícias, e agora, olhando para trás, eu imagino se eu não devia ter dito mais vezes
que, de certa forma, eu sabia que, de algum modo, era duro para você fazer qualquer
outra coisa... comigo a não ser compartilhar as notícias. Você entende o que eu digo?
GET
(Longa Pausa) T: Estou certo que, de alguma forma, você está no seu tipo - no seu tipo
de “cabana” e não quer ser tirada de lá. (longa pausa)
T: Você parece terrivelmente triste.
C: Mhm (suspira). Eu estava só pensando. Eu às vezes imagino (ri) soa doido isso.
Parece que estou casada com dois caras (ri). Casada com dois caras. (Como se estivesse
pensando auto).
T: (pausa) Você quer dizer que isso é chato porque você não está certa se você está ou
não, ou porque a idéia te chateia?
C: (Murmura mm-m). Não tenho certeza. (longa pausa). Parece mesmo que foi só
durante o verão, mas parece louco. Só no verão (ri).
T: Parece que você sente falta deles.
C: Mm-mm. Um especialmente...(longa pausa).
T: Seria maravilhoso descobrir que você esteve ou está casada, com esse de quem sente
falta, não é?
C: Mm-hm. (baixo e afirmativo) — (longa pausa).
T: Eu espero que você ainda não esteja casada com ambos de uma vez. Isso seria muito
complicado! (diz brincando).
C: Mm-hm (calma, continuando) (longa pausa). Que horas são agora? (suspirando). 12
T: Vinte para o meio dia. (longa pausa). Não é de surpreender que você queira ir embora
para a sua “cabana” onde você pode pensar sobre isso sem ser chateada.
C: Mm-hm. (calma, concordando).
T: Mesmo que isso a faça triste... (longa pausa). Eu espero que junto com a tristeza,
talvez haja um toque de (pausa) dele, e esperança de reencontrá-lo, ou alguém tão legal
como ele, e que tudo vai ficar bem com ele. Quer dizer, não é.
C: Mm-hm. (calma concordando).
T: Ou pensando se ele sabe como as coisas foram duras para você. Você pode colocar
toda a espécie de coisas que você quer na sua “cabana” e pensar sobre elas... (pausa e
suspiro).*
*Nota do tradutor: foram suprimidos dois extratos da terapia experiencial.
Eu tenho incluído mais exemplos de Psicoterapia Experiencial do que da psicoterapia
reflexiva e não-diretiva. Poucas fontes destes casos experienciais estão atualmente
disponíveis e são necessários exemplos para ilustrar os estilos de mudança.
Naturalmente os exemplos fornecidos não transmitem a linha completa da conduta de
terapia usada pelos terapeutas experienciais. Isto é, aquelas envolvendo contatos físicos
e comunicação não verbal. Abaixo há uma lista de alguns comentários, feitos por alguns
dos terapeutas associados com pesquisa, investigando o processo de psicoterapias com
esquizofrênicos hospitalizados. Estes comentários se referem a episódios em seus
relacionamentos com os pacientes. Estas descrições são resumos e não apresentação de
caso. O paciente não desejava ser visto após os dois primeiros contatos. Eu lhe disse
“para mim está bem” apenas para descobrir “isso não está bem para mim”. Eu o chamei
de volta e pedi-lhe que viesse mais dez vezes e depois decidiríamos. Anteriormente
havíamos decidido jogar cartas, depois que ele recusou-se a ficar sentado em silêncio.
Ele trouxe um tabuleiro de cartas. Depois de 5 horas ele indica que gostaria de vir e
demorar tanto quanto ele ficou aqui. Agora eu tenho um parceiro para jogar cartas que
trapaceia ou tenta trapacear. Eu senti tédio e raiva com o Sr. SAF, comigo mesmo e com
o relacionamento. Quando eu finalmente sentia-se capaz de expressar parcialmente estes
sentimentos (mais ou menos na trigésima entrevista), o relacionamento pareceu
melhorar. No presente não estou certo para onde se encaminhará. 13
Inicialmente a Sra. FIN estava muito resistente à terapia e depois de 4 entrevistas
recusou voltar outra vez. Até este ponto o terapeuta insistiu que a Sra. FIN continuasse,
mas deu-lhe mais liberdade dentro da hora terapêutica, explicando que ela poderia sair
quando estivesse muito desconfortável. Uma reviravolta ocorreu quando soube da
mudança para uma nova enfermaria. A Sra. FIN gritou e expressou seus sentimentos de
solidão e de falta de ajuda terapêutica. Possivelmente elemento mais significativo desse
relacionamento com a Sra. FIN foi, por assim dizer, minha expressão não-verbal de
preocupação e carinho (vendo se enfermeira, emprestando meu casaco, para ela, etc...)
Ele veio (eu senti que por meu pedido implícito, não obstante senti que ele também
necessitava, em algum nível de vir). Ele falou constantemente (eu tinha que interromper
para dar uma resposta). Nas dez primeiras entrevistas ou mais, eu senti que não fazia
diferença para ele se fosse eu ou qualquer outra pessoa que falasse. Eu sinto agora que
ele estava começando a ficar consciente de mim, e o relacionamento começa a
desenvolver-se. Com isto, está aparecendo lentamente algo de embaraço em relação ao
passado e aos sentimentos extra-terapêuticos atuais que ele discutiu, assim como trocas
espontâneas entretanto significativas entre nós. O paciente recusou, desde o início, de se
encontrar comigo. A cada menção de “próxima vez” e a qualquer convite para entrar no
consultório comigo, ele reagia com raiva explícita e exigia que o deixasse sozinho.
Durante algumas semanas aceitei seus sentimentos, sua raiva e desagrado por mim; eu
deixava-o sair; ele era trazido por atendentes. Eu argumentava com ele, eu era tanto
honesto como desonesto; eu poderia não ajudar, mas reagia negativamente a sua
rejeição e eu sentia que ele tirava o chão de mim, do meu direito de estar com ele. Por
causa desses meus sentimentos, eu decidi que ele não poderia mais ser coagido para me
ver, pois ele poderia, com isso, apenas descobrir uma ameaça em mim. Como fazer os
contatos continuarem - e ainda sem nenhuma forma de pressão a qual conduziria à sua
rejeição e alteraria meu clima interior? Eu não poderia fazer mais nada, então eu visitei
o paciente na enfermaria. Eu fiz meus encontros breves, uma a vez que eu não queria
impor muito do meu sentimento determinado e tenso. Quando eu permaneci mais
tempo, ficando perto de onde o paciente estava, eu logo descobri que ele não ia embora,
nem me pediu para deixá-lo. Eu descobri a dimensão da livre escolha dele e a
comunicação não-verbal do desenvolvimento do relacionamento. Ele reage
globalmente, sorrindo, ficando furioso, move-se subitamente três passos atrás a alguma
coisa que eu fale ou a um movimento que eu tenha feito. Cada vez que eu percebia tais
reações, eu olhava dentro de mim e falava até que tivesse descrito justamente como eu
me sentia no momento. Eu vivencio que, este homem “afastado” é, num certo sentido, o
mais oposto dos afastamentos... tão pálido e sensível que minha presença junto dele era
quase tão intensa, que ele mal podia suportar. E suas várias reações aparentemente
profundas, para mim, quando estávamos em longos silêncios, me deixava incerto, 14
tenso, aberto e obstinadamente presente, conseguindo dele tal forte, momentâneo e
sensível feedback para mim mesmo, que eu sentia-me completamente descontraído. Um
colega que leu o manuscrito deste capítulo, comenta sobre os resumos terapêuticos:
“Por que esses parecem como todos, desde Albert Ellis a John Roseu e Freida Fromm
— Reichman! Você não pode usar isso como exemplo de Terapia Centrada no Cliente;
as pessoas dirão que estão fazendo exatamente o que outros fazem há muito tempo.” Ele
está certo e errado, pois à diversidade dos problemas que eles encontram e à variedade
dos temperamentos trazidos por estes problemas, a Terapia Experiencial realmente
responde ao silêncio e à resistência de diferentes maneiras. Para algumas questões do
cliente, tenta-se expressar seus próprios sentimentos internos ou tenta-se responder à
comunicação não-verbal ou faz-se tudo isto uma vez ou outra. Seus estilos de
abordagem variam, mas seus alvos e seus pontos básicos são os mesmos. O ponto
básico é a experienciação - o fenômeno central da Psicoterapia Experiencial. E é a teoria
da experienciação que promove o quadro de referência para avaliar a efetividade e
significação das respostas dos terapeutas. A teoria da experienciação fornece uma
estrutura teórica dentro da qual os construtos e atividades centrados no cliente são
elaborados. Por exemplo: uma resposta de reflexão de sentimentos é efetiva quando
focaliza a experiência interna do cliente. A mera repetição das verbalizações do cliente é
inadequada e não terapêutica. Na mesma linha, uma interpretação, para ser uma resposta
útil, precisa ser uma verbalização pelo terapeuta de experienciação do cliente que ainda
não alcançou um nível verbal. Uma interpretação que não seja dirigida para a
experienciação do cliente não facilita, porém provoca comportamento defensivo.
Respondendo ao que o cliente está experienciando, nós podemos ver que terapeutas
experienciais tem mantido e dado significado mais amplo para uma característica do
Período I e II - um respeito pelo cliente como uma pessoa independente, com
capacidades e potencialidades humanas. Respondendo ao que o paciente está
experienciando o terapeuta reconhece e transmite sua responsividade para o que há de
essencialmente humano no cliente. Apesar da estranheza dos sintomas dos pacientes e o
furor de suas rejeições, é possível responder a eles como pessoas subjetivas e
experienciantes. Da mesma forma, quando um terapeuta responde ao cliente ou
paciente, transmitindo abertamente sua (do terapeuta) experienciação momento-a-
momento, ele respondeu à pessoa como uma pessoa. O paciente ou cliente é livre para
aceitar ou rejeitar as comunicações do terapeuta, mas ele pode eventualmente ser tocado
e modificado por elas. Os parágrafos precedentes devem ter clarificado porque a
avaliação do meu 15 amigo sobre trechos de terapia e comentários estavam, ao mesmo,
tempo, certos e errados. A Terapia Centrada no Cliente não é uma miscelânea, mas tem
expandido suas técnicas e seus conceitos. Conceitos sobre atributos essenciais dos
terapeutas e sobre os processos de experienciação estão propostos para abranger muitos
estilos de terapia. Gendlin comentou acerca da generalidade da nova Abordagem
Centrada no Cliente “...por várias razões, é provável que o processo positivo do paciente
seja o mesmo em todas as orientações. Se for assim, o campo para uma teoria
psicoterápica universal pode ser extrapolado.” (1966 b). Em outro artigo ele amplia
essas pretensões: “Os desenvolvimentos em psicoterapia obscureceram os limites entre
as diferentes orientações. Por exemplo, compare a psicanálise e a terapia centrada no
cliente. Que nítida diferença parece existir entre elas! Hoje, olhando para trás, nós
vemos similaridades: ambas eram recusas altamente formais de um relacionamento real.
Uma desempenhava o papel do relacionamento de transferência, a outra uma aceitação
totalmente neutra. Nós vemos dois tipos de evitação artificial e formalista de uma
interação genuína entre duas pessoas. Os sentimentos reais do paciente eram
considerados inválidos (transferência). Os sentimentos do analista eram também
considerados inválidos (contra-transferência). Do mesmo modo, na terapia centrada no
cliente, era um erro o terapeuta inserir seus próprios sentimentos na situação terapêutica.
Hoje em dia, terapeutas centrados no cliente fazem da autenticidade, a primeira
condição para a terapia e a expressividade e espontaneidade do terapeuta os fatores
terapêuticos essenciais. Os psicanalistas estão também mudando em direção ao
envolvimento e compromisso reais como pessoas, com menos ênfase na técnica.” (1966
a, p. 210- 211). As “atitudes” do terapeuta que Rogers discutiu no seu artigo
“Considerações Necessárias e Suficientes”, (1957b), podem ser vistos como habilidades
prévias ou capacidades interpessoais que o terapeuta precisa possuir antes que ele possa
estabelecer um relacionamento e responder ao cliente de modo terapêutico. Um
terapeuta não pode facilitar o aprendizado do cliente a referir-se e a confiar em seus
próprios sentimentos (do cliente), a não ser que o terapeuta: • Seja sincero e
expansivamente positivo em relação ao cliente (consideração positiva incondicional); •
Esteja honestamente tentando compartilhar o mundo interno do cliente e comunicar sua
compreensão adequada (compreensão empática) e • Seja capaz de revelar seus próprios
sentimentos internos (congruência ou autenticidade). Alguns terapeutas questionam esta
formulação do papel do terapeuta. Para eles a ênfase na congruência, na consideração
positiva e na empatia, parece não profissional, é simplesmente uma “conversa de
amigos” com pacientes. Num ponto suas objeções estão certamente corretas; a terapia
centrada no cliente não é compatível com o tipo de programa de treinamento
profissional que, depois de uns 16 anos de treinamento irrelevantes, envia seus
profissionais para curar o doente. As pesquisas recentes mostraram claramente que
leigos podem fazer psicoterapia e muito bem. Esses leigos podem “bater papo” com
pessoas e ajudá-las, mas essa atividade não deve ser ridicularizada. Poucas pessoas
encontram companheiros ou amigos que são capazes e desejosos de manifestar
compreensão, simpatia e sinceridade que os ajudarão a conviver com problemas
existenciais e procurar uma identidade significativa. Empatia, consideração positiva e
congruência devem ser vistas como habilidades cognitivas que são usualmente
enfatizadas em nossas escolas de formação de terapeuta.
O Período II enfatizava a integração do cliente em seu auto-conceito. Essa idéia pode
ser englobada no quadro de referência da Psicoterapia Experiencial. A integração
crescente dos auto-conceitos é vista como um aspecto de acesso crescente do cliente à
experienciação. A medida que seu processo de experienciação torna-se mais
diretamente disponível e utilizável, seus auto- conceitos, que são produtos da
experienciação, mudam, porque ele incorpora, novas fontes internas para checar seu
auto-conceito.
É importante reiterar que a Psicoterapia Experiencial está ainda se desenvolvendo;
como uma teoria da terapia, ela precisará de muito mais modificações. Hebb (1958, p.
465) disse: “o que nós precisamos de uma teoria é que ela possa manter-se intacta o
tempo suficiente para nos dar uma (teoria) melhor.”. Através de pesquisas e aplicações
clínicas, a Psicoterapia Experiencial irá alterar e aperfeiçoar, e irá ela mesma ser
englobada por formulações mais gerais e mais detalhadas. O comentário de Rogers
sobre o significado da pesquisa para o futuro da psicoterapia são pertinentes aqui:
“Sua significação maior, para mim é que um corpo crescente do conhecimento de
psicoterapia objetivamente verificado, ocasionará uma morte gradual de “escolas” de
psicoterapias, incluindo esta. A medida que cresce o conhecimento sólido, assim como
as condições que facilitam a mudança terapêutica, a natureza do processo terapêutico, as
condições que bloqueiam ou incapacitam a terapia, os resultados característicos da
terapia em termos de mudança de personalidade e de comportamento, haverá menos e
menos ênfase sobre formulações dogmáticas e puramente teóricas. As diferenças de
opiniões, de procedimentos em terapia e diferentes julgamentos em relação aos
resultados, serão colocados, em provas empíricas, ao invés de serem simplesmente uma
questão de debates ou argumento.” (p. 29-30).
Nesta discussão do Período III, eu tentei esquematizar as tendências básicas na
Psicoterapia Experiencial. As idéias básicas serão discutidas, expandidas,
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aplicadas e relacionadas às descobertas das pesquisas nos próximos capítulos. Para
revisão aqui apresento um sumário dos fatores básicos:
• Um amplo campo de comportamentos terapêuticos está englobado. Nisso se inclui
algumas atividades interventivas (como expressão de opiniões e sentimentos ou
colocação de perguntas) que, no Período I e II indesejáveis;
A orientação postula certas atitudes dos terapeutas (congruência, compreensão empática
e consideração positiva incondicional) como necessárias para a iniciação e continuação
de um relacionamento terapêutico efetivo.
• A flexibilidade de comportamento do terapeuta mencionada no primeiro item é
estruturada de acordo com o fenômeno da experienciação. A responsividade do
terapeuta, no relacionamento terapêutico, é baseada na experienciação imediata da
interação e é diretamente voltada para o processo subjetivo do cliente. Esse foco na
experienciação leva o terapeuta a expressar, às vezes, muitos de seus sentimentos
imediatos e momentâneos para o cliente.
• Embora a Psicoterapia Experiencial centralize o material básico com o qual o
terapeuta trabalha (lida) - sua própria experienciação – vê o cliente como uma pessoa
integrada e o biossocial.
A pesquisa e a construção da teoria Psicoterapia Experiencial tenta identificar e inter-
relacionar os eventos fisiológicos, comportamentais, sociais e fenomenológicos da
psicoterapia. São enfatizados a continuidade dos fenômenos da terapia e outros eventos
inter e intrapessoais.
Este capítulo deu uma visão geral de modificações importantes na terapia Centrada no
Cliente com a concentração no período mais recente, a Psicoterapia Experiencial.
Muitos exemplos foram colocados para que os leitores pudessem julgar por eles
mesmos se a Terapia Centrada no Cliente mudou. Nos capítulos seguintes será dada
menos ênfase nos exemplos e mais na pesquisa e na terapia.
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