O Design e a Valorização Da Identidade Local

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  • 7/24/2019 O Design e a Valorizao Da Identidade Local

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    pgdesign Design & Tecnologia 04 UFRGSwww.pgdesign.ufrgs.br

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    O Design e a Valorizao da Identidade Local

    R. F. Pichlera,b, C. I. de Mellob

    [email protected]

    bUniversidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil

    ResumoEste artigo analisa as relaes entre design e identidade local, evidenciando a importncia de se levar a cultura

    local em considerao durante o processo de design. Toda cultura depende de smbolos e os objetos podem ser

    considerados signos culturais. Assim, os artefatos produzidos pelo design passam a compor a cultura material de

    determinado local, pois congregam smbolos, informaes e comportamentos da cultura na qual esto inseridos.

    Desta forma, o artigo apresenta o desenvolvimento de uma escala para avaliar o nvel identitrio potencial em

    produtos e projetos de valorizao de culturas locais. Para sua validao, foram realizadas quatro anlises de

    projetos desenvolvidos pela designer gacha Helosa Crocco. Ao final, espera-se tornar mais reconhecveis os

    nveis de valorizao possveis de serem alcanados, podendo o designer identificar as possibilidades e os

    elementos indispensveis na criao de produtos com foco na valorizao de culturas e identidades locais.

    Palavras-chave: Design, Artefatos, Identidade Local, Cultura.

    Design and the appreciation of local identity

    AbstractThis article analyzes relations between local identity and design, highlighting the importance of taking local

    culture into consideration during the design process. Every culture depends on symbols and objects can be

    considered cultural signs. Thus, the artifacts produced by the design begin to compose the material culture of a

    particular location because congregate symbols, information and behaviors of the culture in which they live.

    Thus, this paper presents the development of a scale to evaluate the potential level of identity in products andprojects for recovery of local cultures. To validate the model, analyzes were carried out in four projects

    developed by Helosa Crocco, a Brazilian designer. At the end, it is expected to become the levels of recovery

    more recognizable and likely to be achieved, enabling the designer to identify the possibilities and the essential

    elements in creating products with a focus on appreciation of cultures and local identities.

    Keywords: Design, Artifacts, Local Identity, Culture.

    1.INTRODUOO Brasil possui uma diversidade cultural bem acentuadadevido s colonizaes e migraes que ocorreram ao longode sua histria. Cada regio possui e cultiva caractersticas e

    costumes prprios. Porm, o Brasil, assim como outrospases, vive uma era de grandes mudanas, onde a fronteiratempo-espao est diminuindo cada vez mais, aproximando eintensificando as trocas culturais. Esse fenmenodenominado globalizao fez do indivduo um sermulticultural.

    A globalizao se caracteriza, segundo Giddens (2002),pelos laos genuinamente mundiais, ou seja, quando eventosque ocorrem em um lado do globo afetam comunidades erelaes sociais no outro. As fronteiras so extintas eningum pode eximir-se de gerar ou sofrer interferncias.Com isso, a homogeneizao das culturas tornou-se umapreocupao e a globalizao a possvel promotora dodeclnio das identidades e da desconstruo do local.

    Entretanto, as culturas locais vm sendo valorizadas e apreocupao com relao ao resgate de tcnicas e tradiespassam a permear as discusses em diversas reas doconhecimento. De acordo com Adlia Borges (2003, p. 63),

    quanto mais a tal da globalizao avana trazendo consigo a

    desterritorializao, mais [...] a gente sente necessidade depertencer a algum lugar, quele canto do mundo especficoque nos define.

    O design, atividade responsvel pela criao, inovao einveno de artefatos que iro compor a cultura material dedeterminado local, deve avaliar em seu processo dedesenvolvimento os smbolos, informaes ecomportamentos da cultura no qual o produto estarinserido. Segundo Ono (2004), o design tem como funobsica tornar os produtos comunicveis em relao sfunes simblicas e ao uso dos mesmos, transformando essaprtica profissional decisiva no desenvolvimento de suportesmateriais, relaes simblicas e prticas dos indivduos nasociedade. Para Schneider (2010), o design a arte mais vivaze mais popular do presente, um fenmeno de cultura demassas, e por isso, participa de modo decisivo na constituiode juzos de gosto generalizados.

    Desta forma, Fagianni (2006) defende que, mediante osefeitos da globalizao, onde a qualidade no mais umdiferencial dos produtos e servios, mas um aspectoinseparvel, a inovao pode estar no apelo original, na

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    emoo e nos sentimentos que se desperta nosconsumidores atravs de signos e smbolos de sua cultura,aproximando-o do objeto em questo. Portanto, de sumaimportncia que ao projetar novos produtos se tenha umentendimento acerca dos elementos que formam a cultura ea identidade do local no qual este produto ser inserido.

    Sob este contexto, este artigo busca fazer umaexposio de alguns conceitos que norteiam o tema cultura eidentidade local, bem como propor uma escala para aavaliao do nvel identitrio potencial de produtos, comoforma de servir como ferramenta metodolgica e auxiliar osprofissionais do design a projetarem com foco na valorizaode identidades locais. Por fim, com o intuito de validar talescala, sero apresentadas quatro anlises realizadas emprodutos e projetos desenvolvidos pela designer gachaHelosa Crocco.

    2.CULTURA E IDENTIDADECultura definida por Canclini (2008) como um fenmenoque mediante smbolos e representaes auxiliam na

    reproduo ou transformao do sistema social, ou seja, ela um processo de produo de significados que so capazes demanter ou modificar maneiras de viver, ideias e valores.Porm, os fenmenos culturais no se restringem somente aocampo das ideias, esto tambm relacionados s condiesmateriais (econmicas e tecnolgicas) disponveis (CANCLINI,2008).

    Gomez Barrera (2010), que faz um apanhado geral arespeito da cultura, destaca que esta abarca, alm dos planosfsicos, mentais, psicolgicos e espirituais do ser humano, osplanos ideolgicos e tecnolgicos da sociedade. Alm disso,ele afirma que cultura tambm corresponde aos valores esignificados das pessoas e coisas, atuando de forma a regularas atividades da sociedade, relacionando-se com odesenvolvimento intelectual e espiritual e que se objetivaatravs de produtos culturais. Desta forma, Gomez Barrera(2010) conclui que no se pode falar de apenas um tipo decultura, pois cada indivduo tem a sua; e, que na sociedadeexistem os agentes criadores, que a criam e modificam, e osreceptores, que a aprendem.

    Com base nesses conceitos, possvel compreender ariqueza de interrelaes que envolve a definio de umacultura, bem como entender sua dinamicidade, j que estem constante modificaes que acompanham as mudanasda sociedade; e o seu carter influenciador na tomada dedecises, na constituio de valores do indivduo e na suaforma de ver e compreender o mundo e as coisas ao seu

    entorno.Alm de compreender o seu conceito, importante

    tambm estudar os tipos de cultura existentes atualmente,sendo elas: a cultura erudita, a cultura de massa e a culturapopular. A cultura erudita, ou alta cultura, possui duasleituras que normalmente andam juntas: a primeira, comocultura letrada e legtima por possuir qualidade, est definidapor parmetros universais, e a segunda, a alta cultura comoexpresso da classe hegemnica, a elite. A cultura de massa aquela constituda por produtos culturais que so produzidospara a reproduo em massa independente de sua origem oudiscurso, desvinculada de qualquer expresso de classe. Elaanda em paralelo com a cultura popular por seu carterideolgico, onde o povo se transforma em massa, com ointuito de legitimar as mercadorias como consumidores, eno como produtores (que ocorre com a alta cultura) (VILLAS-BOAS, 2002). A cultura popular, segundo Villas-Boas (2002) se

    define por dois aspectos, a espontaneidade e a contra-ideologia ou contra-hegemonia. Esta se justifica pelapotencialidade de vir a ser, opondo-se cultura de elite, dasua valorizao como cultura do povo. O aspecto daespontaneidade por sua vez, se d por duas condies: ainexistncia de um processo de educao formal, no sendoassim a obra valorizada como legtima, sendo resultante deuma experincia coletiva ou de um talento individual, e aindependncia de sua produo, reproduo e distribuiodas preocupaes mercantis. Sua produo natural e umanecessidade expressiva, aqum lgica da esfera produtiva.A espontaneidade da arte popular est enraizada na suacultura e criada por ela [...]. A arte popular traz a marca dogrupo que a gerou, confinada a uma experincia culturalprpria (PAVIANI, 1981 apud ZATTERA, 1988, p.18).

    Essa discusso de conceitos sobre os tipos de culturaque compem a sociedade atual necessria para oentendimento da construo da identidade regional, quepara Oliven (1985), abrange todos os nveis de manifestaoda realidade sociocultural de uma regio, incluindo as de

    carter erudito, popular e massivo, uma vez que estas estoimbricadas culturalmente devido aos processos deindustrializao e urbanizao.

    A cultura regional, portanto, a unio de manifestaesculturais das diversas classes que compem umadeterminada regio. Tanto as criaes da alta cultura, comoas da cultura popular e de massa, relacionam-se criando emodificando a cultura local. Este fato torna o estudo de umadeterminada cultura mais abrangente e complexo, poisenvolve todos os nveis de conhecimento e vises de mundoda sociedade em questo. Assim, a cultura regional pode serentendida tambm como uma subcultura de uma culturaprincipal dominante (ZATTERA, 1988).

    Assim, a cultura est diretamente ligada noo deidentidade, j que, atravs de smbolos e representaes,identifica, singulariza e congrega o que interno e nico, doque externo. A identidade nasce da cultura e vice-versa(VILLAS-BOAS, 2002, p. 55). Segundo Ono (2004), as culturas,que so conjuntos de significados e interconexes que desdeo nascimento fazem parte do indivduo sem que este precisepensar sobre essas relaes, so o que moldam asidentidades, as quais so mltiplas e que o indivduo podeassumir a que lhe parecer mais adequada, baseando-se nanecessidade de se familiarizar ou de se diferenciar de algo oualgum.

    Hall (2006) distingue trs concepes de identidade; osujeito do iluminismo, o sujeito sociolgico e o sujeito ps-

    moderno. O primeiro, sujeito do iluminismo, baseia-se naconcepo do indivduo como centro, dotado de razo econscincia, onde a identidade constitua um ncleo interior,que nascia com o indivduo e com ele permanecia inalteradoao longo da vida. J na concepo do sujeito sociolgico, aidentidade se constitua a partir das relaes do indivduocom as pessoas de sua importncia, que mediavam valores,sentidos, smbolos e cultura do mundo no qual habitava.Nesse caso, a identidade ocupa o espao entre o interior e oexterior do indivduo, ligando o mesmo a estrutura social emque se encontra, para que dela possa fazer parte. Por fim, osujeito ps-moderno, conceitualizado como no possuidor deuma identidade fixa, nica e permanente, mas simfragmentada, composta por vrias identidades, algumas

    vezes contraditrias ou mal-resolvidas (HALL, 2006).O surgimento do sujeito ps-moderno, fragmentado e

    multicultural, deu incio ao declnio da velha identidade, que

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    tanto tempo paralisou o homem em sua concepo decultura unificada e abriu caminhos para o surgimento dasnovas identidades, estas resultado de diversas outras culturasque se cruzam e causam interferncias umas s outras,acabando por fragmentar o indivduo moderno, modificandopaisagens, gneros, sexualidade, etnia e nacionalidade. Achamada crise de identidade vista como parte de um

    processo mais amplo de mudana, que est deslocando asestruturas e processos centrais das sociedades modernas eabalando os quadros de referncia que davam aos indivduosuma ancoragem estvel no mundo social (HALL, 2006).

    Com isso, a incerteza e a sensao de perda dascaracterstica locais constituem uma crise de identidade noindivduo, que por sua vez, faz a identidade se tornar umaquesto a ser estudada, pois representa uma transformaoprofunda e abrangente na sociedade e em suas relaes. Aidentidade , portanto, algo que se forma ao longo dos anos,que acompanha o sujeito e se transforma junto com ele.Todas as interferncias culturais e aprendizados soagregados nesta identidade, modificando-a.

    Uma identidade, porm, no representa apenas umindivduo. Um grupo de pessoas que vivem em um mesmolocal e dividem experincias e conhecimentos passam aproduzir smbolos e representaes que os unificam,tornando-os uma associao, um bairro, um estado, umanao, constituindo assim uma identidade local. importanteressaltar que o local no deve ser interpretado como umespao ou pedao de terra onde vive um grupo de pessoas,mas tambm as relaes existentes entre este local e osindivduos que vivem no mesmo, suas construes fsicas emateriais desenvolvidas atravs dos tempos e querepresentam o seu cotidiano, a sua histria e as suasrelaes.

    O local no deve ser compreendido apenas como o espao emque se realizam as prticas dirias, mas tambm como aqueleno qual se situam as transformaes e as reprodues dasrelaes sociais de longo prazo, bem como a construo fsicae material da vida em sociedade. Nele, realiza-se o cotidiano, omomento, o fugidio, mas tambm a histria, o permanente, ofixo, correspondendo ao identitrio, ao relacional e aohistrico, no mbito da trade habitante-identidade-lugar(ALBAGLI, 2004 apud LAGES; BRAGA; MORELLI, 2004, p. 51).

    A partir da ideia de local, tem-se o conceito decomunidade que, segundo Lages; Braga; Morelli (2004), definida pela unio de pessoas em um mesmo territrio oulocal e que convivem socialmente com base em princpios e

    costumes semelhantes, determinados por dimenses fsicas(caractersticas geolgicas e recursos naturais), econmicas(organizao espacial e social), simblicas (relaes culturaise afetivas entre grupos) e scio polticas (relaes dedominao e poder).

    Figura 1: Diagrama cultura e identidade.

    Esses territrios ou comunidades diferenciam-se oucaracterizam-se por possurem identidades ou traosculturais distintos na medida em que vivem dimenses

    opostas em um ou mais aspectos. A identidade cultural,assim, o que mantm o indivduo pertencente adeterminado local ou lugar e o que torna um lugar nico, comcaractersticas singulares.

    Conforme o levantamento terico realizado, os termoscultura e identidade possuem uma relao direta, onde uminfluencia e participa da formao e constituio do outro.Essa relao pode ser visualizada atravs do diagrama (Figura1) elaborado com base nos estudos apresentados at aqui.

    No diagrama (Figura 1), a cultura composta porfatores pessoais (valores, ideias e costumes aprendidos peloindivduo ao longo do tempo) e por fatores sociais (relaes,artefatos e leis criados para a convivncia em sociedade).Estes fatores, pessoais e sociais, so identificados,singularizados e congregados constitundo a identidade(tanto de um indivduo na sociedade, como tambm de umgrupo, uma comunidade, uma regio ou uma nao). A unioda cultura e da identidade em um determinado ncleo social reconhecida por outros ncleos e se diferencia de outrasidentidades atravs da criao de smbolos e representaes

    nicos que os identificam. A partir do estudo e daidentificao destes smbolos, o profissional de design poderposteriormente interpret-los e incorpor-los nodesenvolvimento de produtos que tenham como princpio avalorizao local, que analisaremos no prximo item desteartigo.

    3.O DESIGN NA VALORIZAO DA IDENTIDADE LOCALO design possui inmeras definies que se modificaram aolongo do tempo, acompanhando as mudanas tecnolgicas,econmicas, ambientais, sociais e culturais da sociedade. Emsetembro de 1959 foi realizado o primeiro congresso do ICSID(International Council of Societies of Industrial Design), e namesma ocasio foi elaborada a primeira definio oficial dedesign industrial:

    Um designer industrial aquele que qualificado pelaformao tcnica, experincia, conhecimento e sensibilidadevisual para determinar os materiais, mecanismos, formas,cores, acabamentos de superfcie e decorao de objetos queso reproduzidos em quantidade por processos industriais. Odesigner industrial pode, em momentos diferentes, estarpreocupado com todos ou apenas alguns destes aspectos. [...]O designer que trabalha em indstria ou comrcio de baseartesanal, onde os processos manuais so utilizados paraproduo, considerado um designer industrial quando osobjetos produzidos de seus desenhos ou modelos so denatureza comercial, feitos em lotes ou em quantidade, e no

    so obras pessoais do arteso artista (ICSID, traduo nossa,2002).

    Em 2002, o ICSID alterou a definio de design para:atividade criativa que tem por finalidade estabelecer asqualidades multifacetadas em todo o ciclo de vida de umproduto, seus processos, servios e sistemas. O design ,portanto, o fator central na inovao tecnolgica ehumanizadora e crucial no intercmbio econmico e cultural.De acordo com o ICSID (2002), o design visa ampliar asustentabilidade global e a proteo ambiental (tica global);oferecer benefcios e liberdade para a comunidade humanacomo um todo, usurios finais individuais e coletivos,protagonistas da indstria e do comrcio (tica social); apoiar

    a diversidade cultural, apesar da globalizao do mundo(tica cultural) e dar aos produtos, servios e sistemas,formas que expressem (semiologia) e sejam coerentes(esttica) com a sua prpria complexidade.

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    Analisando-se estes dois conceitos, possvel percebero direcionamento da atividade de design para preocupaesem vrios aspectos alm dos estticos e formais, levando emconsiderao os demais fatores sociais, culturais e de mbitoglobal que interferem no desenvolvimento do produto e quefazem deste um artefato realmente necessrio e coerentecom as demandas e preocupaes atuais.

    Schneider (2010) compreende que o design tantouma prtica social como uma reflexo sobre ela. Essa prticasocial divide-se em fundamentos materiais e ideolgicos. Odesign uma forma de trabalho material, pois utilizatecnologias e tcnicas (de acordo com o padro de produoda respectiva sociedade) e est ligado a uma organizao detrabalho. Ele tambm ideolgico quando reproduz einterpreta a realidade social, modificando as relaes que oshomens estabelecem entre si e com a natureza. Em outras

    palavras: as formas estticas possuem um contedo queexpressa uma viso de mundo; elas revelam, direta ouindiretamente, interesses econmicos, interesses de classe e

    juzos de valor sobre a realidade social (SCHNEIDER, 2010,

    p.201).Com base nessas definies possvel compreender

    como a cultura um fator extremamente relevante para odesign, tanto pelo fato de o resultado de seu trabalhocompor os artefatos culturais de um determinado local, comona utilizao de caractersticas culturais locais na criao denovos artefatos, que sejam logo absorvidos e integrados aocotidiano local.

    O design est no centro da relao entre economia e cultura.Porque produz signos e smbolos que se intercambiamcomercialmente e se consomem pelo valor que adquirem nasociedade. Este valor precisamente o Design (GOMEZBARRERA, traduo nossa, 2010, p.117).

    Frente s ameaas da globalizao e manuteno dasculturas locais, alguns tericos argumentam que essatendncia est levando a um colapso das identidadesculturais fortes, fragmentando os cdigos culturais, amultiplicidade de estilos, dando nfase ao efmero,flutuante, impermanente, diferena e ao pluralismo cultural(HALL, 2006). O design, sendo fator crucial no intercmbioeconmico e cultural, deve utilizar essa tendncia davalorizao de identidades locais para criar diferenciaiscompetitivos e atributos de valor simblico aos produtos, afim de manter as culturas tradicionais vivas, porm,integradas ao mundo contemporneo. A cultura tem efeito

    enorme na compra, pois afeta os objetos assim como aestrutura de consumo, a tomada de deciso de cadaindivduo e a comunicao numa sociedade (FAGIANNI,

    2006, p.23).

    A partir do momento que cultura e consumo so tratadosconjuntamente, o consumo deixa de ser um simples produzir,comprar e usar objetos para se tornar um sistema simblico,atravs do qual a cultura manifesta seus princpios, categorias,ideais, valores, identidades e projetos (ROCHA, 2000 apudFAGIANNI, 2006, p.24).

    Alm disso, essa tendncia de agregar valor aosprodutos atravs do fortalecimento e resgate de identidadeslocais, impulsiona e valoriza a atuao do designer,principalmente em economias emergentes, aumentandoassim os investimentos e o reconhecimento da rea nomercado, como criador de inovaes ligadas ao territrio e

    sua promoo atravs de produtos e servios (KRUCKEN,2009).

    Entretanto, todas essas modificaes nas formas defazer e pensar o design necessitam que o seu processo setorne mais flexvel, ampliando a participao de agentesexternos, e onde fatores culturais e sociais sejam repensados.De acordo com Manzini (2008), o designer deve comearcompreendendo o contexto no qual ir atuar e gerartransformaes. Deve compreender as mudanas j emprogresso da sociedade em rede e do conhecimento, a qualexige dos atores sociais, entre eles os designers, novasformas de pensar e agir, como operam e qual a sua posiona sociedade, e compreender as mudanas necessrias parareorientar estas rumo a sustentabilidade. Ou seja, o focoprincipal est na mudana da situao do designer comonico criador e autor de um produto, para um agente capazde potencializar, instigar e promover conhecimento nassociedades, para que estas criem e encontrem as melhoressolues para os seus problemas, seja atravs dodesenvolvimento de produtos ou de servios.

    Krucken (2009) ressalta oito aes essenciais parapromover produtos locais, so eles:

    Reconhecer (compreender o espao onde esse produtoser produzido, sua histria, qualidades, estilos de vidadas comunidades, seu patrimnio material e imaterial,entre outros);

    Ativar (integrar competncias, investindo nodesenvolvimento de uma viso integrada de todos osatores envolvidos e realizar pesquisas e assesorarquestes legais e financeiras);

    Comunicar (informar sobre os modos de fazertradicionais do produtos, sua histria e origem);

    Proteger (fortalecer a imagem do territrio,desenvolvendo uma imagem clara e coesa do territrioatravs dos produtos);

    Apoiar (valorizar o saber-fazer e buscar formas e novastecnologias que auxiliem, mas no descaracterizem aidentidade do produto e do territrio);

    Promover (conscientizar e sensibilizar produtores egovernantes na busca pela qualidade de vida dacomunidade no sentido de utilizar de forma sustentvelseus recursos, fortalecer a produo com polticaspblicas voltadas tambm valorizao da identidadelocal, envolver empresrios e indstrias locais e difundir

    valores relacionados sustentabilidade a todacomunidade);

    Desenvolver (produtos e servios que respeitem evalorizem o local atravs do conhecimento dospotenciais locais e do fomento de atividadesrelacionadas como turismo, festas e feiras);

    Consolidar (criar redes de cooperao entre todos osatores locais e agentes de inovaes do territrio).

    Percebe-se que, ao se tratar da promoo de produtoslocais, o designer pode desempenhar um papel fundamental,principalmente nas aes de reconhecimento, comunicao,proteo, apoio, promoo e desenvolvimento. Portanto, um

    dos principais desafios do designer ao mediar culturas,costumes e tradies , segundo Krucken (2009), reconhecere tornar reconhecveis os valores e as qualidades locais.

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    4.MTODOO mtodo utilizado parte da reviso bibliogrfica sobre ostermos cultura e identidade, bem como a relao existenteentre os conceitos apresentados anteriormente. Para a etapaseguinte da pesquisa, foi desenvolvida uma escala com afinalidade de mensurar a relao existente entre design e avalorizao de identidades locais, por meio de critrios quepermitem avaliar o nvel identitrio potencial em projetose/ou produtos. Para o seu desenvolvimento, foram utilizadasreferncias de autores desta temtica, que posteriormenteforam integrados na concepo da escala, neste artigoapresentada no item 4.1. Aps, foram realizadas quatroanlises de projetos desenvolvidos pela designer gachaHelosa Crocco, nos quais a escala foi aplicada com afinalidade de validar seu desenvolvimento e compreender deque forma seu uso pode auxiliar o profissional de design nodesenvolvimento de produtos que visam valorizao deidentidades locais.

    4.1Critrios de avaliao do nvel identitrio

    potencial em projetos e produtosO designer, como visto no item anterior, pode fazer parte detodas as etapas de valorizao de produtos locais, tendoparticipao direta ou indireta nas mesmas. Lucy Niemeyer(2007) aponta que a identidade pode ser vista nos produtos,de uma forma simplista, atravs de trs tipos de informaes:quanto existncia (o produto informa sua prpria condiofenomnica), origem (o produto informa seu fabricante esua cultura) e qualidade (o produto informa sua funo, seuuso e sua manuteno). Quanto mais informaes tiver oproduto, mais forte a sua identidade. A autora ainda citacategorias de caractersticas manifestadas nos produtos, quetornam comunicveis suas identidades: configurao esttica(forma), materiais empregados, processos produtivos,

    composio e organizao das partes, esquema cromticoempregado, odores que exala e sons que produz (NIEMEYER,2007).

    Barroso (1999) diz que desenvolver novos produtos dereferncia cultural significa reportar o produto ao seu lugarde origem, o que pode se dar atravs do uso de matias-primas ou tcnicas de produo tpicas da regio, ou pelo usode elementos simblicos que faam explcita meno sorigens de seus produtores. Os elementos simblicos, citadospor Barroso, partem de uma pesquisa visual do local a fim deidentificar os principais elementos e smbolos que constitueme caracterizam tal cultura e territrio. Assim, Barroso (1999)divide a cultura material em quatro nveis e sub-nveis:

    Arte e Arquitetura (Sacra, popular/vernacular, pretritae contempornea);

    Artefatos (industriais ou artesanais: religiosos,utilitrios, decorativos, ldicos,etc);

    Folclore (msica, danas, mitos, lendas, vesturio,culinria);

    Iconografia Fauna e Flora ( iconografia representativade animais, pssaros, flores, paisagens).

    Com base nas categorias propostas por Niemeyer(2007) e nos elementos simblicos citados por Barroso(1999), foi possvel definir alguns critrios para avaliar o nvel

    de apelo identitrio em produtos, como: temtica,configurao esttica, materiais e processos.

    A temtica, nesta avaliao, diz respeito aos elementose aos smbolos da cultura local utilizados como inspirao no

    desenvolvimento do produto, e foi dividida conforme osnveis e sub-nveis da cultura material citados por Barroso(1999). O critrio configurao esttica tem a finalidade deavaliar as informaes presentes na aparncia do produto,relacionadas com a temtica escolhida, como as coresutilizadas, a forma, as partes que o compem, as texturas, asestampas, entre outros. No critrio material, deve-se analisarse este possui relao com a temtica escolhida ou com acultura qual se refere o produto, seja presente em seudesenvolvimento ou na sua composio. E, por fim, o critrioprocessos, onde se deve analisar se a confeco do produtoutiliza alguma tcnica tradicional local ou um fazer tpico daregio.

    Para tornar essa avaliao mais visvel, elaborou-se umaescala do nvel identitrio (Figura 2) com base nos critriosestabelecidos anteriormente. A avaliao parte,primeiramente, da inteno do projeto. Se o projeto contmuma temtica que permeia os nveis e sub-nveis da culturamaterial (arte e arquitetura, artefatos, folclore e iconografiafauna e flora), este caracteriza-se como um projeto de

    valorizao de uma identidade, de um territrio ou local. Emseguida, analisado o critrio configurao esttica,questionando se a forma, as cores ou a configurao doproduto em geral remetem ao tema cultural proposto. Aps,analisa-se o material empregado no produto, se ele possui ouno relao com o tema, seja em sua confeco ou em seudesenvolvimento. Por fim, o critrio processos, quando questionado se o produto utiliza em sua confeco algumprocesso tpico local ou conhecimento popular.

    A inexistncia de um ou mais critrios no produto no odescaracteriza como sendo de valorizao do local, visto quea inteno aqui disponibilizar uma ferramenta que auxilieo designer no processo de desenvolvimento de produtosdeste cunho, alm de tornar o potencial identitrio presenteno projeto ou produto plausvel de avaliao.

    Figura 2: Figura esquemtica do nvel de potencial identitrio.

    A partir da escala apresentada possvel realizar umaanlise mais aprofundada com relao ao nvel identitriopotencial de determinado projeto que tenha como objetivo avalorizao ou resgate de uma cultura local.

    Assim, as anlises que se seguem tero como base estemtodo de avaliao, a fim de tornar mais reconhecveis osnveis de valorizao possveis de serem alcanados. Talanlise relevante no que tange identificao dos recursosutilizados pelo designer no desenvolvimento do produto,percebendo as possibilidades e os elementos propcios paracriao de produtos com valorizao deidentidades locais.

    5.APLICAO DA ESCALA DE NVEL IDENTITRIOPOTENCIAL

    A designer e artista plstica gacha Heloisa Crocco uma dasprincipais referncias na criao de produtos com temticas e

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    inspiraes na cultura e no fazer artesanal tradicionalbrasileiro. Devido a isso, foram selecionados alguns de seusprojetos para aplicar a escala de nvel identitriodesenvolvida neste artigo, para se compreender de queforma esta pode ser aplicada em projetos e produtos,servindo como uma ferramenta de auxlio ao designer nabusca de novas possibilidades que visam valorizao deidentidades locais.

    Um dos primeiros trabalhos da designer surgiu em umade suas expedies Amaznia em 1985 quando, a partir das

    texturas e padres existentes nos cernes das rvores dafloresta, Crocco criou mais de 200 padres e os aplicou emuma infinidade de produtos. Seu trabalho obteve, entreoutros, os prmios: 1 Prmio no 8 Salo de Design Museuda Casa Brasileira/SP (1994) e Meno Honrosa no 13Prmio no 26 Salo Nacional de Arte de Belo Horizonte: OBrasil Amanh, no Museu de Arte da Pampulha (2000)(BORGES, 2010). Mais tarde, o trabalho se transformou emum projeto, denominado Topomorfose (Figura 3).

    Figura 3: Projeto Topomorfose de Heloisa Crocco (CROCCO STUDIO, 2010).

    Ao se aplicar a escala no projeto Topomorfose deHeloisa Crocco, foi possvel identificar que o projeto atende atrs dos quatro critrios estabelecidos, o que equivale a ummdio nvel identitrio. Primeiramente, o projeto atendesatisfatoriamente ao critrio de temtica, pois seu tema temcomo inspirao a natureza (padres criados a partir dosveios de crescimento das rvores nativas da florestaamaznica), enquadrando-se no nvel iconografia fauna e

    flora. No aspecto configurao esttica, visto a utilizaodas cores com base na temtica determinada (explorando asvariaes de tons naturais da madeira e suas texturas) e dasformas (desenhos e curvas dos veios das rvores). Quanto aocritrio material avaliou-se que possui relao com o tema,pois a madeira a prpria fonte de inspirao para o projetoe utilizada na confeco dos padres geomtricos.

    Figura 4: Projeto Jalapa, Laboratrio Piracema Design (ROSENBAUM, 2010).

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    Por fim, no critrio processos, os padres criados foramaplicados em produtos produzidos industrialmente, comoxcaras de cermica e mveis de madeira, no apresentando,portanto, a utilizao de tcnica artesanal ou conhecimentopopular local na confeco. Assim, o produto/projeto podeser considerado de mdio nvel identitrio quanto spossibilidades apresentadas pela escala.

    O outro trabalho analisado o projeto Jalapa, que fazparte do Projeto Piracema: Vivncias idealizado por Crocco

    em parceria com o SEBRAE (Servio de Apoio Micro ePequena Empresa), o qual auxilia na formao deprofissionais para atuao em programas de aproximaoentre design e artesanato, que incluem aulas tericas,prticas, experimentaes criativas, visitas, estudos dediagnstico e as vivncias, que so as imerses emcomunidades de artesos. O projeto Jalapa tem comoobjetivo a valorizao da cultura do Tocantins atravs doresgate do capim-dourado, e foi desenvolvido juntamentocom os designers Marcelo Rosenbaum e Fernando Maculan(Figura 4).

    Analisando o projeto conforme os critrios previamenteestabelecidos, observou-se que este possui alto nvelidentitrio conforme as possibilidades da escala, portantosuperior em relao ao projeto anterior, j que este atendeum critrio a mais e apresenta de forma mais direta e

    explcita a identidade local, mediante as diversas formasutilizadas para manifestar a mesma em todos os mbitos doprojeto. Os critrios atendidos pela linha Jalapa foram: atemtica, com a valorizao das tcnicas locais e o resgate docapim-dourado; a configurao esttica, atravs do uso dacor natural do capim-dourado e inspirao de formas nosobjetos do cotidiano local; o material, com a utilizao docapim dourado na criao das peas; o processo, na utilizaodas tcnicas artesanais na manipulao do capim dourado,valorizando e resgatando tambm o conhecimento popularlocal.

    O terceiro projeto analisado foi o Mo Gacha, ondeso desenvolvidas aes nos segmentos do couro, cermica,fibra e txtil, tambm incorporado ao projeto Piracema:Vivncias. A designer Helosa Crocco participou comoconsultora, desenvolvendo produtos nos segmentos l, couroe fibra (Figura 5) (MO GACHA, 2010).

    Heloisa Crocco, juntamente com uma equipe de designers e deprofissionais do Sebrae pesquisou desenhos, cores e texturas

    de runas arquitetnicas e cacos de cermica, encontrados nointerior do estado. Tambm foram estudadas as fibrasvegetais, o couro e a cermica, sempre com a preocupao deformar colees de produtos comercialmente viveis(TOK&STOK, 2004).

    Figura 5: Projeto Mo Gacha (A CASA, 2010).

    O projeto Mo Gacha, conforme avaliao aplicada,possui um alto nvel identitrio, visto que, conforme Figura 5,atende a todos os critrios estabelecidos. Comeando pelatemtica, que tem como inspirao a arte, a arquitetura e osartefatos do Rio Grande do Sul. A configurao estticaricamente trabalhada a partir da temtica nas formas e nascores dos produtos. Com relao aos materiais so utilizadosmateriais locais disponveis e caracteristicos da culturagacha, e finalmente os processos, com a confeco baseada

    em tcnicas artesanais tpicas do sul do pas. Cada linha deprodutos poderia ser analisada separadamente, pois algumasprivilegiam o resgate das cores e dos grafismos, outrasvalorizam os detalhes do patrimnio histrico edificado,

    porm, apesar de serem utilizadas abordagens diferentes, onvel identitrio geral do projeto no se altera.

    Recentemente, a designer Helosa Crocco, a convite doStudio Altero, desenvolveu uma linha de maanetas epuxadores inspirados na tcnica de tranado de couro tipicodo estado, aliando tcnicas artesanais produo industrial(Figura 6).

    A artista, em conjunto com o Studio Altero, desenvolveu linhasde produtos nas quais o metal se mistura a materiais

    orgnicos, trabalhados artesanalmente de forma muitoespecial, resgatando tcnicas e materiais tradicionais do RioGrande do Sul (MVEIS TOTAL, 2011).

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    A tcnica de tranar o couro feita de forma artesanal,cujos profissionais so chamados de guasqueiros. O tranado originalmente utilizado na confeco dos artefatos demontaria, sendo o trabalho muito minucioso e de grande

    qualidade. A linha, inspirada nessa tcnica, partiu de umapesquisa de materiais e texturas diferenciados, a fim de aliarelementos naturais e sofisticados.

    Figura 6 : Linha de puxadores e maanetas.

    Apesar de o exemplo citado ser de produo industrial,ele possui um alto nvel identitrio mediante as possibilidadespropostas pela escala. A linha de puxadores e maanetasatende a todos os critrios estabelecidos, pois possui atemtica na arte popular txtil gacha, com o resgate dostranados de couro tradicionais no Rio Grande do Sul, almde utilizar no processo de produo a incluso da produo

    artesanal dos tranados, atendendo aos critrios de material(couro) e de processos, valorizando o conhecimento populardo tranado. Alm disso, o couro utilizado de forma natural,atendendo o critrio de configurao esttica, no que tange colorao dos objetos.

    Com base nas anlises realizadas, considera-se que aescala desenvolvida uma ferramenta metodolgicarelevante para auxiliar os profissionais de design na criaode produtos que visem a valorizao de identidades locais.

    6.CONSIDERAES FINAISA unio entre design e identidade cultural possibilita a mesclade diferentes elementos, regionais e nacionais, nodesenvolvimento de produtos que possuem um apeloemocional ligado s razes culturais dos seus usurios e so,ao mesmo tempo, contemporneos.

    O design como atividade criativa e inovadora podeutilizar-se de caractersticas locais que transponham aoproduto a riqueza de novos detalhes e composies, queatribuem a ele no somente beleza, como tambm o tornemsingular, dotado de smbolos e representaes nicos de umlocal. Para isso, o designer deve assumir o desafio de traduzire interpretar essas culturas de forma correta e tersensibilidade para perceb-las como fator diferencial ecompetitivo, sem interferir no seu real significado.

    Neste artigo, procurou-se evidenciar a atual relevnciados estudos sobre cultura e identidade local como campo de

    pesquisa do designer. Espera-se que este tema, to rico einteressante, seja cada vez mais levado em consideraodurante a projetao de novos artefatos.

    A partir da anlise dos projetos desenvolvidos peladesigner Helosa Crocco, com a utilizao da escala de nvelidentitrio potencial em projetos e produtos, possvelapontar alguns critrios que podem ser atendidos nomomento de desenvolver produtos que tenham como foco avalorizao de uma cultura local, servindo como umaferramenta metodolgica no momento da criao. Foi

    possvel perceber tambm que no somente projetos deproduo artesanal podem ter nveis identitrios relevantes,como tambm os de produo industrial (ltimo exemploapresentado), podendo os critrios estar inseridos nas fasesde desenvolvimento ou sendo acrescentadas nos processosde produo na indstria. Sendo assim, as possibilidades devalorizao de identidades locais possuem um vasto campode desenvolvimento, tanto na produo artesanal, como naproduo industrial.

    Este estudo mostrou-se vlido e relevante para a reado design na valorizao do local, porm seus critrios forammantidos dentro dos aspectos da materialidade, abarcandoapenas uma anlise objetiva dos produtos. Quanto a isso,entende-se que necessrio tambm um aprofundamento

    sobre questes subjetivas, envolvendo tanto a comunicaocomo a recepo dos produtos por seus usurios econsumidores. Como sugesto para estudos futuros, prope-se o aprofundamento da anlise atravs da insero de maisum item nos critrios de avaliao: as linguagens visuaisempregadas no desenvolvimento de projetos e/ouprodutos.Essa incluso pode aprimorar a escala de avaliaodo potencial identitrio enquanto ferramenta metodolgicada identidade local ao possibilitar resultados mais precisos.

    REFERNCIAS[1].

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