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XX Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical Educação Musical para o Brasil do Século XXI Vitória, 07 a 10 de novembro de 2011 O ensino prático de bateria com utilização de novas tecnologias: gravação de videoclipes Resumo: Neste artigo vamos abordar a relevância do uso das novas tecnologias aplicadas ao ensino/aprendizagem de instrumentos musicais através do relato de uma experiência que expõe a importância do uso destes recursos de maneira didática, em especial o uso da gravação em áudio e vídeo como ferramenta no ensino prático de bateria em instituições de ensino de música. Com o uso das competências de educação de Perrenoud (2000) para a elaboração do repertório a ser gravado pelos alunos e tendo em vista que essas músicas foram selecionadas faltando apenas um mês do recesso de fim de ano, intitulamos o processo de gravação como: “Música de férias”. Obtivemos resultados benéficos na comunicação entre professor e aluno, crescimento do interesse dos aprendizes pela disciplina e praticamente nenhuma falta dos mesmos durante o período de ensaios e das gravações. Conseguimos, desta forma, realizar uma alternativa para registro das aulas e ainda gerar a oportunidade da auto avaliação por parte dos alunos, tendo o professor como orientador e mediador de todo o processo. Palavras chave: Bateria, gravação de videoclipes, tecnologia Tecnologia a serviço da música O uso de novas tecnologias no ensino prático e teórico de instrumentos está cada vez mais presente nas instituições de ensino musical. Ferramentas que passaram por vários avanços, principalmente nos termos de interatividade/acessibilidade, e que também podem fornecer melhorias na qualidade do ensino/aprendizagem no campo da educação musical. Existem diversos tipos de plataformas e programas digitais destinados à edição de partituras e gravação de áudio e vídeo que podem se transformar em poderosos instrumentos para a aprendizagem em instrumentos musicais, tais como: Sibelius, Soundforge, Sonar, iMovie, GarageBand, Nuendo, Pro-Tools e Logic. Atualmente, educadores que não possuem acesso às tecnologias básicas como a internet, o pendrive e programas de edição de texto (como Word da Microsoft, por exemplo) estarão distantes da realidade tecnológica vivida pelos alunos, em especial aos estudantes do ensino médio. Provocando assim um distanciamento, não só da linguagem usada pelos jovens, mas também um atraso na velocidade da comunicação/transição de informações. Desta forma, aqui alertamos para a importância da preparação dos professores de educação musical para o mundo tecnológico e digital, para que estes possam interagir de maneira coerente com tais ferramentas nas suas aulas.

O ensino prático de...XX Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical Educação Musical para o Brasil do Século XXI Vitória, 07 a 10 de novembro de 2011

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    O ensino prático de bateria com utilização de novas tecnologias: gravação de videoclipes

    Resumo: Neste artigo vamos abordar a relevância do uso das novas tecnologias aplicadas ao ensino/aprendizagem de instrumentos musicais através do relato de uma experiência que expõe a importância do uso destes recursos de maneira didática, em especial o uso da gravação em áudio e vídeo como ferramenta no ensino prático de bateria em instituições de ensino de música. Com o uso das competências de educação de Perrenoud (2000) para a elaboração do repertório a ser gravado pelos alunos e tendo em vista que essas músicas foram selecionadas faltando apenas um mês do recesso de fim de ano, intitulamos o processo de gravação como: “Música de férias”. Obtivemos resultados benéficos na comunicação entre professor e aluno, crescimento do interesse dos aprendizes pela disciplina e praticamente nenhuma falta dos mesmos durante o período de ensaios e das gravações. Conseguimos, desta forma, realizar uma alternativa para registro das aulas e ainda gerar a oportunidade da auto avaliação por parte dos alunos, tendo o professor como orientador e mediador de todo o processo. Palavras chave: Bateria, gravação de videoclipes, tecnologia

    Tecnologia a serviço da música

    O uso de novas tecnologias no ensino prático e teórico de instrumentos está cada vez

    mais presente nas instituições de ensino musical. Ferramentas que passaram por vários

    avanços, principalmente nos termos de interatividade/acessibilidade, e que também podem

    fornecer melhorias na qualidade do ensino/aprendizagem no campo da educação musical.

    Existem diversos tipos de plataformas e programas digitais destinados à edição de

    partituras e gravação de áudio e vídeo que podem se transformar em poderosos instrumentos

    para a aprendizagem em instrumentos musicais, tais como: Sibelius, Soundforge, Sonar,

    iMovie, GarageBand, Nuendo, Pro-Tools e Logic.

    Atualmente, educadores que não possuem acesso às tecnologias básicas como a

    internet, o pendrive e programas de edição de texto (como Word da Microsoft, por exemplo)

    estarão distantes da realidade tecnológica vivida pelos alunos, em especial aos estudantes do

    ensino médio. Provocando assim um distanciamento, não só da linguagem usada pelos jovens,

    mas também um atraso na velocidade da comunicação/transição de informações.

    Desta forma, aqui alertamos para a importância da preparação dos professores de

    educação musical para o mundo tecnológico e digital, para que estes possam interagir de

    maneira coerente com tais ferramentas nas suas aulas.

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    Observando pela perspectiva da educação musical, há exemplos de trabalhos com

    enfoque ao ensino de instrumentos, realizados por LOURO & AROSTÉGUI (2004),

    MARQUES & MONTADON (2006) e ARAÚJO (2006). Entretanto, nota-se que existe um

    déficit de trabalhos que abordem instrumentos mais populares, como a bateria.

    Podemos afirmar que os jovens se identificam com o perfil deste instrumento, e que

    com maior preocupação em relação a parte didática por parte dos professores, particularmente

    através do uso de tecnologias digitais, as aulas podem se transformar em momentos

    agradáveis, onde professor e aluno podem interagir e usufruir destas ferramentas comumente.

    A gravação de áudio a serviço da aprendizagem musical

    A tecnologia da gravação traz a possibilidade de se escutar por mais de uma vez uma

    execução musical. Com ela, podemos registrar uma performance que nunca mais se repetirá

    100% idêntica. Desta maneira, o aprendiz que tem sua performance gravada, pode ouví-la

    diversas vezes, estando sujeito também a perceber e internalizar múltiplos detalhes desse

    registro, assim como construir outras possibilidades de arranjos, através da observação dos

    seus erros e acertos.

    Antes da existência de mecanismos de registros sonoros, um músico só poderia se

    ouvir enquanto estivesse tocando, e o processo permanece deste modo na grande maioria das

    instituições de ensino de música, onde o recurso da gravação durante as aulas e nos exercícios

    propostos dificilmente são utilizados, com exceções em que se registra a peça de conclusão de

    curso. Havendo no decorrer destes cursos apenas a transmissão do saber musical repassada de

    forma mecânica, durante a qual os professores exemplificam exercícios que envolvem o

    instrumento estudado e os alunos os repetem.

    O registro sonoro e sua chegada nas instituições brasileiras

    Para nos localizarmos a respeito da história do áudio como registro sonoro, iniciamos

    com o surgimento do fonógrafo em 1877 e progredimos para o long play (LP) em 1948

    (MOREL, 2010, p. 26). Em 1963, a então Philips Company introduziu no mercado a fita

    cassete e anos mais tarde se uniu à Sony e lançou o Compact Disc (CD) no ano de 1977

    (GOHN, 2003, p.54). Mais recentemente, a evolução do áudio foi demarcada com o

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    surgimento do MPEG Audio Layer-3, popularmente conhecido como MP31, possibilitando a

    diminuição do tamanho dos arquivos digitais de áudio, como ainda a transmissão facilitada

    destes dados pela internet, perfazendo o maior consumo e difusão musical já ocorrido na

    história da humanidade.

    O registro sonoro, em 134 anos de existência, entre avanços consideráveis nos

    quesitos de tecnologia e acessibilidade, ainda não foi implementado em nossas instituições de

    ensino de música como disciplina, salve a atitude da Universidade Federal de Santa Maria

    (UFSM), no Rio Grande do Sul, que implementou em 2011 o primeiro curso de graduação do

    país a formar músicos capacitados para trabalhar também com essas novas tecnologias e

    preparando quatro tipos de perfis profissionais: i) músicos que usam tecnologias adequadas

    em sua performance; ii) operadores de áudio, gravação e sonorização; iii) produtor ou diretor

    musical; iv) especialista em síntese sonora e criação de timbres.

    Em entrevista ao jornal eletrônico PortoWeb2 (2010), o coordenador do curso Amaro

    Borges Moreira Filho afirmou que “além da teoria que os alunos têm no bacharelado normal,

    vão aprender a gravar, mixar, e criar trilha para audiovisual, entre outras coisas. Vão aprender

    também qual equipamento usar em cada ocasião”.3

    A iniciativa pioneira da UFSM demonstra que os alunos de música no Brasil, até

    então, terminavam o seu curso com um nível técnico e teórico aprimorado, porém, chegavam

    em um estúdio profissional para gravar seu instrumento despreparados.

    As universidades ou escolas especializadas de música querem formar um músico,

    mas que músico é esse que conclui seu curso na atualidade e não entende de registro sonoro,

    principalmente em relação ao seu instrumento? Um bom músico, nos dias de hoje, deve

    entender e saber se situar não somente com as técnicas que envolvem o seu instrumento

    musical e com o grupo em que está inserido, mas também com as técnicas e ambientes do

    campo da gravação, para que o seu disco, e/ou sua performance, obtenham os resultados

    desejados. Não dependendo exclusivamente de um produtor musical ou de um técnico em

    sonorização para tal tarefa, como destaca Gohn (2003, p.46-47), para quem “a prática musical

    requer algum tipo de interação, seja entre músicos, entre o músico e uma plateia ou entre o

    músico e aparatos tecnológicos”. Logo, reforçamos a importância do conhecimento técnico

    1 O MP3 ou MPEG 1 Layer III é um tipo de arquivo digital que compacta o som, mantendo a qualidade próxima do CD, em até doze vezes menor em relação ao tamanho original. 2.PortoWeb é um provedor público de acesso à internet, administrado pela Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do município de Porto Alegre – PROCEMPA. 3 Entrevista postada em 05/10/2010, disponível em: .

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    sobre a utilização de novas tecnologias em música para os educadores musicais, assim como

    para qualquer musicista na atualidade.

    O músico, por si, deve ter clareza e segurança em ambientes de gravação. Neste

    sentido, passamos a adotar a inclusão das gravações como conteúdo nas aulas práticas de

    bateria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) com

    objetivo de formar músicos populares, onde nos preocupamos com o desenvolvimento de um

    fazer musical expressivo, consistente, e preparando os alunos para uma melhor inserção no

    mercado de trabalho.

    Demonstraremos a seguir o ensino prático de bateria com o uso de gravações das

    performances dos alunos durante o projeto intitulado “Músicas de férias”, sua metodologia e

    objetivos alcançados.

    “Música de férias”, elaborando o repertório

    Ao final do mês de novembro de 2010, reunimos os 17 alunos matriculados na

    disciplina instrumento – bateria, dos cursos técnico integrado ao ensino médio (ETIM) e

    subsequente, para divulgação de um repertório para que estes tirassem as músicas de ouvido4

    durante as férias. Essas músicas foram escolhidas a partir de sondagens, elaboradas com base

    nas novas competências de ensino de Perrenoud (2000), onde ele diz:

    Resta trabalhar a partir das concepções dos alunos, dialogar com eles, fazer com que sejam avaliadas para aproximá-las do conhecimento científico a serem ensinados. A competência do professor é, então, essencialmente didática. Ajuda-o a fundamentar-se nas representações prévias dos alunos, sem se fechar nelas, a encontrar um ponto de entrada em seu sistema cognitivo, uma maneira de desestabilizá-los apenas o suficiente para levá-los a reestabelecerem o equilíbrio, incorporando novos elementos às representações existentes, reorganizando-as se necessário (PERRENOUD, 2000, p. 29).

    Deste modo, realizamos sondagens no início do curso, antes das aulas práticas,

    aplicando questionários com os quais pretendíamos que os alunos apontassem seus gostos

    musicais, suas perspectivas com a disciplina e quais eram as suas representações/expectativas

    do que é “ser” um músico. A partir das respostas, obtivemos um perfil musical eclético, onde

    o rock obteve destaque (claramente pela aproximação em que a bateria tem com este estilo de

    música e com o perfil dos jovens); as expectativas com a disciplina foram, em sua grande

    4 Sobre a dialética do ensino musical com metodologias envolvendo o “tocar de ouvido” como um período precioso na aprendizagem musical, remeto ao leitor: SCHROEDER, 2009, Revista da ABEM, nº 21, p. 50.

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    maioria, a de aprender outros ritmos musicais; a perspectiva em “ser” músico mais apontada

    foi: se tornar um profissional.

    A partir deste diagnóstico, tentamos desestabilizar os gostos musicais que os

    aprendizes traziam consigo para a disciplina, e desta forma proporcionar aos alunos a

    ampliação dos seus horizontes no campo da música, indicando novas janelas e novos

    caminhos (muitas vezes bem próximos), através de estilos musicais associados aos estilos

    preferidos dos alunos. Respeitando assim as condições prévias que os alunos já possuíam, e

    na tentativa de provocar suas respectivas expansões.

    Entretanto, para contrapor com a teoria de Perrenoud (2000), foram escolhidos dois

    alunos com boa leitura musical como exceções na elaboração do repertório a ser gravado.

    Com o primeiro aluno, tentamos colocá-lo distante dos seus gostos musicais e confiamos na

    sua capacidade técnica para o desafio. Este aluno apresentou dificuldades, não somente por

    ser um estilo musical distante de sua vivência, mas pela proposta do “Música de férias” ter a

    tarefa de tirar a música de ouvido, as partituras (leitura musical) não foram disponibilizadas

    durante o processo e ficando a cargo do próprio aluno escrever a partitura para auxiliá-lo.

    Neste ponto específico, ficou evidenciado um certo tipo de “dependência” da pauta como guia

    para execução e internalização de trechos musicais.

    Já o segundo aluno, que também possuía ótima leitura musical e escolheu sua própria

    “Música de férias”, e não passou pelo processo de desestabilização. Este aluno apresentou

    uma ótima performance, tanto nos ensaios como na gravação em definitivo, pecando apenas

    no fator de cansaço físico, devido a música escolhida se tratar de um jazz-fusion com cerca de

    sete minutos de duração.

    Os outros 15 alunos receberam suas músicas com entusiasmo, pois relataram que

    nunca tinham passado pela experiência de tocar tais músicas e juntamente da possibilidade de

    gravá-las.

    A surpresa do vídeo

    Os alunos matriculados na disciplina já haviam passado anteriormente pela

    experiência da gravação em áudio envolvendo ritmos musicais variados. Entretanto, para o

    “Música de férias”, a proposta de ser registrada a performance dos alunos em vídeo (no

    formato de videoclipe mais precisamente), ocasionou surpresa, ansiedade e empolgação, não

    somente pelos alunos matriculados na disciplina instrumento – bateria, mas também a atenção

    de outros alunos matriculados em outros instrumentos musicais. Algumas vezes, alunos de

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    diferentes instrumentos compareceram durante o processo de gravação, aparentemente por

    curiosidade.

    Muitos dos alunos de bateria voltaram do recesso das férias sem ter escutado a sua

    música selecionada com seriedade, até assistirem o resultado da performance do professor em

    um videoclipe gravado e editado por ele, da música “Spin you Around” da banda de rock-

    alternativo Puddle of Mudd. O vídeo foi disponibilizado no canal de vídeos do professor no

    Youtube5 e enviado por e-mail para todos os alunos matriculados na disciplina.

    A partir deste modelo editado, os alunos se sentiram incentivados para fazer um

    trabalho semelhante, mas ficando claro que o objetivo do processo seria o aluno acompanhar

    na bateria a música da banda/artista proposto. Respeitando assim os “climas” sonoros e

    “dublando” a bateria gravada pelo artista da banda.

    O processo de gravação e os ensaios

    Para a preparação da gravação em definitivo no formato de videoclipe, passamos por

    três semanas consecutivas de ensaios durante o mês de abril de 2011 e realizamos as

    sequencias de atividades a seguir:

    Em encontros semanais com 50 minutos de duração, gravamos as performances

    individualmente. Desta forma, o aprendiz escutava sua música selecionada através de fones de

    ouvido (FIG. 1). Registramos em vídeo, com o uso de uma câmera acoplada ao notebook, e

    em áudio, usando uma placa de som M-audio Fast Track Ultra6 com dois microfones.

    Após registrar a performance, sincronizamos o áudio da bateria gravada pelo

    estudante com a faixa musical selecionada com auxílio de uma DAW7. Para esta etapa

    escolhemos usar o Garage Band8 que possui o suporte de edição de áudio e de sincronização

    com arquivos de vídeo, deixando o aluno e sua performance de um lado do Panning9 e do

    outro lado do Pan a faixa musical selecionada.

    5 . 6 . 7 DAW, digital audio workstations – plataformas (softwares) de trabalho de áudio digitais. 8 Plataforma para Mac OS X e IOS que permite usuários gravarem e criarem suas músicas, desenvolvido pela Apple Inc. 9 Balanço ou Pan - dois canais de emissão de fontes sonoras. Lado esquerdo e direito, formando o som estéreo.

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    FIGURA 1 – Aluno do ETIM durante os ensaios das “Música de férias”

    Após a sincronização, realizamos outra edição com os programas digitais Logic Pro

    Studio 910 e iMovie11, para fins de melhoria na qualidade do áudio gravado e inserção de

    dados referentes ao filme do aluno, tais como: o nome do aluno, disciplina, instituição e

    música proposta. Com os vídeos dos ensaios prontos, efetuamos o upload12 no formato digital

    de mp413 em um link privado na internet e disponibilizamos este link por e-mail para que o

    aluno assistisse em casa sua performance de cada ensaio. Anexamos ao e-mail sugestões de

    partes específicas das performances, com frases do tipo: “sinta que está acompanhando o

    artista” ou “economize notas pra não sair do tempo da banda”.

    Muitos detalhes foram aprimorados à medida que os ensaios aconteceram, sendo

    percebido que em muitos destes, os próprios alunos observaram onde estavam errando. Os

    vídeos gravados e enviados por e-mail com comentários, funcionaram como momentos de

    autoavaliação nos intervalos semanais entre os ensaios, restringindo a função do professor

    como mediador e orientador apenas nas passagens musicais mais complexas; demonstrando

    nos encontros das aulas, através da execução no instrumento, os trechos que os alunos sentiam

    maior dificuldade.

    Sobre este ponto específico, no qual fornecemos condições para os alunos se auto-

    aperfeiçoarem, envolvendo a autoaprendizagem nos estudos formais, remeto as palavras de

    Gohn (2003):

    10 Sobre o Logic Pro Studio disponível em: . 11 Sobre o iMovie disponível em: . 12 O upload, também popularmente chamado entre os jovens de “subir” ou “upar” é o termo usado para disponibilizar determinado arquivo do usuário em algum site de hospedagem na internet, para que posteriormente, outro usuário possa ver, ouvir, assistir ou efetuar ainda o download (“baixar”) o arquivo para o seu computador pessoal. 13 Este formato digital permite vídeos de alta definição, com o uso da compressão compacta de dados similar as dos MP3.

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    Nos estudos musicais formais em níveis mais avançados, quando há o objetivo de aperfeiçoamentos através de cursos de pós-graduação nas universidades, especialmente nas áreas práticas da realização musical, a autoaprendizagem é um elemento importante. O estudo acadêmico dá direcionamento à autocrítica dos alunos, promovendo um ambiente de trocas e observações mútuas (GOHN, p.29-30).

    Gravando os videoclipes em definitivo

    Após três semanas consecutivas de ensaios, os alunos estavam preparados para as

    gravações em definitivo dos videoclipes das “Músicas de férias”. Pois os mesmos já haviam

    compreendido, através dos vídeos enviados dos ensaios, em debates com o professor e nas

    demonstrações das passagens mais complexas, as partes que precisariam de maior

    concentração na execução do instrumento.

    As capturas das imagens e do áudio em definitivo foram exatamente como nos

    ensaios, porém, para o formato de videoclipe, seriam necessárias mais imagens, em ângulos

    diferentes. Deste modo, cada aluno tocou quatro ou cinco vezes sua música selecionada, e a

    cada tomada de gravação, modificamos o ângulo da câmera do notebook em relação ao

    estudante. Foi escolhida a melhor performance para servir de gravação guia e utilizamos

    novamente o programa digital iMovie para inserirmos nos vídeos os outros ângulos das

    imagens capturadas, gerando assim o formato de videoclipe (FIG. 2).

    FIGURA 2 – Aluna do ETIM durante as gravações em definitivo das “Músicas de férias”

    Ao término do processo, disponibilizamos os vídeos dos estudantes no Youtube com a

    devida autorização dos mesmos, para que pudessem circular na internet e entre os outros

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    estudantes de outros cursos14, o que ocasionou em grande repercussão do “Música de férias”

    pelo IFPB. Também fizemos cópias no formato de DVD para que cada aluno pudesse assistir

    em casa o resultado do seu videoclipe, observando sua postura, erros e acertos, quantas vezes

    julgasse necessário.

    Conclusões

    A inclusão do uso das gravações como conteúdo nas aulas práticas de bateria

    demonstrou um progressivo interesse pela disciplina por parte dos alunos. Observamos que

    durante os ensaios e as gravações em definitivo, nenhuma falta foi registrada dos 17 alunos

    matriculados, e quatro alunos do ETIM ganharam uma bateria dos seus pais após o processo.

    Verificamos que a teoria de Perrenoud (2000), na relação em trabalhar o diálogo

    científico a partir das construções que os alunos já possuem, é de relevância ao ensino de

    instrumentos musicais, principalmente se tratando de instrumentos populares, no nosso caso,

    ao estudo da bateria.

    Despertamos a atenção dos professores de música para a utilização destas novas

    tecnologias. Esperamos que a partir da nossa experiência, a gravação possa alcançar um lugar

    de destaque no campo da educação musical. Para fornecer a possibilidade da autoavaliação do

    aluno (tornando-o uma pessoa mais crítica) e funcionando não somente como um registro,

    mas como uma ferramenta valiosa no processo de ensino e aprendizagem instrumental.

    Uma alternativa para que o aprendiz possa observar seus erros e acertos, e

    principalmente, o quanto ele conseguiu progredir no decorrer dos anos, pois será mais

    gratificante não pensar no processo de aprendizagem no período próximo ao da gravação,

    mas, a partir do registro, que o aluno volte a assistir sua performance, talvez anos depois, e

    possa constatar o quanto que ele evoluiu.

    Colocamos desta forma, um espaço específico na disciplina com materiais de

    trabalho envolventes e interligados com os mundos musicais dos alunos, no qual o professor e

    os estudantes debatem sobre técnicas, métodos e resultados obtidos durante o processo,

    tornando assim a ação de ensinar mais prazerosa e eficaz.

    14 Matéria publicada e disponível no site do Instituto: .

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    Referências

    ARAÚJO, Rosane Cardoso de. Os saberes docentes na prática pedagógica de professores de piano. EMPAUTA, Porto Alegre, v.17, n.28, janeiro/junho, 2006. GOHN, Daniel Marcondes. Auto-aprendizagem musical: alternativas tecnológicas. São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2003. LOURO, Ana Lúcia; AROSTÉGUI, José Luis. Docentes universitários/professores de instrumento: suas concepções sobre educação e música. EMPAUTA, v.14, n.22, junho, 2004. MARQUES, Alice; MONTADON, Maria Isabel. Processos de Aprendizagens Musicais Paralelos à Aula de Instrumento: quatro estudos de caso. XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música. ANPPOM, Brasília, 2006. MOREL, Leo. Música e tecnologia: Um novo tempo, apesar dos perigos. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010. p.57-58. PERRENOUD, Phillippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patricia Chittoni Ramos – Artmed, 2000. 181p. p.29. SCHROEDER, Silvia Cordeiro Nassif. A educação musical na perspectiva da linguagem: revendo concepções e procedimentos. Revista da ABEM, nº 21, p.50, março de 2009. Sites: BANDEIRA, Messias Guimarães. Música e cibercultura: do fonógrafo ao mp3. In: X COMPOS, Brasília, 2001. Disponível em: . Acesso em: 19/07/11. PORTOWEB. Matéria em jornal eletrônico: UFSM oferece graduação em Música e Tecnologia. Publicada em: 05/10/2010. Disponível em: . Acesso em: 09/07/2011.