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O Envelhecer e a Desesperança: Aspectos Gerais... Spencer et alii Revista Diálogos – N.° 18 – Set. / Out. – 2017 208 O ENVELHECER E A DESESPERANÇA: ASPECTOS GERAIS DO PROCESSO DE DESESPERANÇA NA VELHICE E USO DA ESCALA DE DESESPERANÇA DE BECK d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p208 Alina Laís Almeida de Farias Fernandes 1 - UPE Lucyeli Luna Lopes de Amorim 2 - UPE Marianne Rodrigues Correia da Cruz 3 - UPE Rebeca Cristine Torres de Araújo 4 - UPE José Antônio Spencer Hartmann Júnior 5 - UPE Resumo: O envelhecimento é um processo natural do ciclo de vida humano e, com ele, surgem novas circunstâncias a serem enfrentadas pelo indivíduo. Uma delas é a desesperança, sentimento de descrença e desilusão em relação ao futuro reservado pela senilidade. Esse sentimento se configura como um fator preditivo para o desenvolvimento 1 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Pernambuco. 2 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Pernambuco. 3 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Pernambuco. 4 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Pernambuco. 5 Doutor em Neuropsiquiatria pela UFPE e professor adjunto da Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Pernambuco. Pesquisa nucleada no Programa de Pós- Doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC São Paulo. Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/4119168082525851

O ENVELHECER E A DESESPERANÇA: ASPECTOS … · Weissman, Lester & Trexler formularam a Escala de Desesperança de Beck, que consiste em uma medida validada com 20 itens verdadeiro-O

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O Envelhecer e a Desesperança: Aspectos Gerais... – Spencer et alii

Revista Diálogos – N.° 18 – Set. / Out. – 2017 208

O ENVELHECER E A DESESPERANÇA: ASPECTOS GERAIS

DO PROCESSO DE DESESPERANÇA NA VELHICE E USO DA

ESCALA DE DESESPERANÇA DE BECK

d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p208

Alina Laís Almeida de Farias Fernandes1 - UPE

Lucyeli Luna Lopes de Amorim2 - UPE

Marianne Rodrigues Correia da Cruz3 - UPE

Rebeca Cristine Torres de Araújo4 - UPE

José Antônio Spencer Hartmann Júnior5 - UPE

Resumo: O envelhecimento é um processo natural do ciclo de vida

humano e, com ele, surgem novas circunstâncias a serem enfrentadas

pelo indivíduo. Uma delas é a desesperança, sentimento de descrença e

desilusão em relação ao futuro reservado pela senilidade. Esse

sentimento se configura como um fator preditivo para o desenvolvimento

1 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de

Pernambuco. 2 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de

Pernambuco. 3 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de

Pernambuco. 4 Graduanda em Medicina na Faculdade de Ciências Médica da Universidade de

Pernambuco. 5 Doutor em Neuropsiquiatria pela UFPE e professor adjunto da Faculdade de Ciências

Médica da Universidade de Pernambuco. Pesquisa nucleada no Programa de Pós-

Doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC – São Paulo.

Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/4119168082525851

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da depressão, principalmente nos idosos, o que dá ênfase à importância

da sua avaliação nesse estágio da vida. O modo mais aceito atualmente

para mensurá-la encontra-se na Escala de Desesperança de Beck,

ferramenta com 20 itens verdadeiro-falso e de rápida aplicação. Nesse

contexto, a Psicologia Positiva entra em ação para reverter o quadro de

desesperança instituído nos idosos através de estímulos a fim de consertar

o que está danificado e prevenir o aparecimento de desordens mentais

futuras.

Palavras-chave: Desesperança; Idosos; Psicologia Positiva; Escala de

Desesperança de Beck.

Abstract: Aging is a natural process of the human life cycle, and with it,

new circumstances arise to be faced by the individual. One is

hopelessness, a sense of disbelief and disillusionment with the future

reserved for senility. This feeling is a kick-start for the development of

depression, especially in the elderly, which emphasizes the importance

of their evaluation at this stage of life. The most accepted way to measure

it now is in the Beck Hopelessness Scale, a 20-item true-false tool which

can be applied in a quick way. In this context, Positive Psychology kicks

in to revert the frame of hopelessness instituted in the elderly through

stimuli to sew that is damaged and to prevent the appearance of mental

disorders.

Keywords: Hopelessness; Elderly; Positive Psychology; Beck’s

Hopelessness Scale.

Introdução

A OMS define o início da terceira idade aos 60 anos, enquanto

alguns consideram que é aos 70 anos. No entanto, segundo uma pesquisa

efetuada por Neri (1991), a maioria dos participantes considera a velhice

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um estado de espírito, condicionado a fatores de personalidade e

experiências anteriores relacionadas à velhice.

No início do século XX, a única área responsável pela busca do

conhecer o idoso era a geriatria. Hoje, o idoso é estudado de forma mais

holística, agregando-se conceitos de biologia, sociologia e psicologia

(NERI, 1997; HENDRICKS; ACHENBAUM, 1999).

A psicologia do envelhecimento, baseada em pesquisas sobre life-

span ou curso da vida, entende que a velhice é uma fase heterogênea com

ganhos e perdas que estão contidos dentro de um complexo sistema de

interação dinâmico.

Nas últimas décadas, o Brasil, presenciou um explosivo aumento

nos estudos sobre o envelhecimento na psicologia e, mesmo assim,

Freitas, Maruyama, Ferreira e Motta (2002) admitem que o

envelhecimento ainda é algo tão misterioso quanto o início da vida.

Freitas e cols. (2002) observam que os fatores envolvidos no

envelhecer implicam de uma conjuntura de aspectos biológicos, sociais

e emocionais; outro aspecto envolvido nesse processo seria o significado

social de cada idade, sendo considerado por Fraiman (1995), uma

variável que regula o comportamento social e as relações entre os

indivíduos e o seu grupo.

O estresse e a depressão

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O estresse tem sido frequentemente visto nas sociedades e está

cada vez mais presente na vida dos idosos, isso porque a população de

idosos tem crescido significativamente e, de acordo com as previsões

mundiais, dobrará até 2050 e triplicará, nessa mesma época, no Brasil,

conforme o Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento da OMS.

O termo estresse é bem genérico e pode ser usado nos diversos

campos do saber. Na área da saúde, pode ser definido como “um conjunto

de reações que ocorrem em um organismo quando este está submetido

ao esforço de adaptação” (SEYLE, 1950).

Esse tema foi objeto de estudos de inúmeras pesquisas devido a

sua importância crescente nas sociedades pós-modernas, afinal o estresse

pode causar não só alterações fisiológicas, físicas e biológicas, como

também emocionais.

O que vai definir o quanto um indivíduo se mostrará mais apto a

suportar as variações causadas pelos estresses é a sua resiliência, esta

ofertada por seus “fatores de proteção”. No idoso, entretanto, esses

fatores estão diminuídos, pois possuem uma alta vulnerabilidade social,

uma vez que além de doenças físicas, há o abandono familiar e o

sentimento crescente de aproximação da morte.

Diante da diminuição dos fatores de proteção nessa etapa da vida,

a depressão pode ser uma resposta à tentativa de encarar essa nova

circunstância. A depressão, segundo Felten et al., (2005), configura-se

como um estado de alterações do humor, envolvendo irritabilidade,

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tristeza profunda, apatia, disforia, perda da capacidade de sentir prazer e

ainda, alterações cognitivas, motoras e somáticas. Ela interfere no

funcionamento social do indivíduo, bem como em outras áreas

significativas de sua vida, como trabalho, relacionamentos amorosos ou

amizades.

Independência x família

A população considera o idoso como ser dependente, muito

embora a investigação de Ramos, Rosa, Oliveira, Medina e Santos

(1993), que estudou o perfil de 1602 idosos de áreas metropolitanas da

região sudeste do Brasil, mostrou dados evidenciando que mais da

metade da população estudada (53%) afirmou que tinha autonomia total

na realização de atividades da vida diária, o que caracteriza a

independência do auxílio de outras pessoas.

Mesmo com essa independência, é crescente o desprazer em

relação à vida que se dá pelo fato dos diferentes estágios de emoção dos

adultos, que nos idosos cria dependência com o bom controle cognitivo

mais repertório de experiências e contexto, sendo a emoção um filtro que

transforma as operações cognitivas. Com isso, uma operação emocional

mal sucedida dificulta o processo de regulação, o que pode ocasionar

algum transtorno emocional (LABOUVIE-VIEF, 1999).

A família atua nesse cenário como um apoio ao paciente nas

esferas física e emocional, mas também como suporte do impacto

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negativo do estigma e da discriminação que aquele problema causará.

Sem o auxílio familiar, o paciente idoso está muito mais propenso a sofrer

as repercussões que o estresse pode causar nos mais variados âmbitos da

vida.

Aspectos da escala de desesperança de Beck

“Quando a esperança desaparece, acaba a vida efetiva ou em

potência. A esperança é um elemento intrínseco da estrutura da vida, da

dinâmica do espírito humano”. (E. FROMM, 1978, p. 91)

A desesperança se configura como um sentimento de expectativa

negativa sobre a ocorrência de resultados substancialmente valorizados

pelo indivíduo em associação com a falta de controle sobre as

circunstâncias esperadas para o futuro, para o mundo e para a pessoa em

si⁷.

Dessa maneira, a desesperança funciona como uma variável

moduladora e modificável entre a depressão e o comportamento suicida

no âmbito mental, enquanto na saúde física, pode ser predisponente de

entidades como a hipertensão, aterosclerose subclínica e adaptação após

eventos cardíacos agudos⁷. Ainda, para Abramson, Alloy e Metalsky, a

desesperança é definida como a expectativa de que importantes

resultados não irão acontecer, ou que eventos contrários irão ocorrer⁶.

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A fase da velhice é marcada por grandes transformações

psicológicas, físicas e sociais, sendo o idoso responsável por

compreender sua finitude como ser, que, inevitavelmente, envelhece. O

envelhecer pode levar ao fracasso de diversas atividades que antes eram

realizadas com êxito, assim, essas atividades são vistas como obstáculos

e são abandonadas pelos idosos, criando uma sensação de fracasso,

levando à desesperança (SKINNER; VAUGHAN, 1985).

Para alguns idosos, essas alterações orgânicas se caracterizam

pelo chamado desligamento (BEE; MITCHELL, 1984), uma vez que

durante essa fase, alguns idosos tendem a se desligar de suas obrigações

e papeis diante da sociedade. Estes possuem uma maior chance de

vivenciarem emoções negativas em seu cotidiano, como a desesperança⁸.

Visto que a desesperança se encaixa como um fator determinante

para ideação suicida em idosos, depressão e acometimentos da saúde

física, além de ser pouco investigada pelos médicos ou outros

profissionais no contexto clínico, deve-se evidenciar a importância da

sistematização de sua ocorrência em pacientes sem sintomatologia

depressiva a fim de mensurá-la e, assim, definir estratégias de prevenção

de futuras desordens depressivas⁶.

Com o objetivo de mensurar a desesperança, em 1974, Beck,

Weissman, Lester & Trexler formularam a Escala de Desesperança de

Beck, que consiste em uma medida validada com 20 itens verdadeiro-

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falso encarregados de avaliar os atuais níveis de desesperança do

indivíduo. Os itens incluem afirmações pessimistas e otimistas. Ao final,

pontuações mais altas indicam alto nível de desesperança⁷.

A classificação varia de nível mínimo de desesperança (0-3) a

nível leve de desesperança (4-8), nível moderado de desesperança (9-14)

e nível grave (superior a 14)⁸.

Tabela 1: Modelo da Escala de Desesperança de Beck.

Variáveis

1. Penso no futuro com esperança e entusiasmo.

2. Seria melhor desistir, porque não há nada que eu possa fazer para tornar

as coisas melhores para mim.

3. Quando as coisas vão mal, me ajuda saber que elas não podem continuar

assim para sempre.

4. Não consigo imaginar que espécie de vida será a minha em dez anos.

5. Tenho tempo suficiente para realizar as coisas que quero fazer.

6. No futuro, eu espero ter sucesso no que mais me interessa.

7. Meu futuro me parece negro.

8. Acontece que tenho uma sorte especial e espero conseguir mais coisas

boas da vida do que uma pessoa comum.

9. Simplesmente não consigo aproveitar as oportunidades e não há razão

para que consiga no futuro.

10. Minhas experiências passadas me prepararam bem para o futuro.

11. Tudo o que posso ver à minha frente é mais desprazer do que prazer

12. Não espero conseguir o que realmente quero.

13. Quando penso no futuro, espero ser mais feliz do que sou agora.

14. As coisas simplesmente não se resolvem da maneira que eu quero.

15. Tenho uma grande fé no futuro.

16. Nunca consigo o que quero. Assim, é tolice querer qualquer coisa.

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17. É pouco provável que eu vá obter qualquer satisfação real, no futuro.

18. O futuro me parece vago e incerto.

19. Posso esperar mais tempos bons do que maus.

20. Não adianta tentar realmente obter algo que eu quero, porque

provavelmente não vou conseguir.

Contudo, essa escala reflete expectativas individuais negativas na

probabilidade de alcançar importantes metas e seu modelo identifica uma

tendência geral ao pessimismo. No entanto, essa escala talvez não seja

capaz de distinguir entre estado e traço de desesperança, uma vez que

esta pode se revelar como um estado temporário de humor da pessoa

diante de uma circunstância ou um traço mais duradouro que reflete a

visão geral de vários aspectos da vida⁷.

Aplicação da escala de desesperança no Brasil

Um estudo realizado na cidade de Pelotas (RS) evidenciou que

apenas 25% dos idosos foi questionado sobre tristeza e depressão em sua

última consulta médica, o que torna esse índice socialmente relevante,

uma vez que sugere que muitos médicos podem estar negligenciando a

depressão na terceira idade. Na prática, a falta de rastreio pode ser uma

consequência do fato de que o idoso, que na maioria das vezes é portador

de múltiplas patologias crônicas, é avaliado por diversos especialistas, e

estes, focando apenas em seu campo de atuação, acabam ignorando a

visão holística que a Medicina propõe ao paciente, deixando de perceber

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doenças que provocam uma afecção generalizada e todos os seus efeitos

deletérios sobre a saúde e a qualidade de vida da população.

Diante disso, sugere-se que os clínicos insiram em sua prática

clínica de rotina os instrumentos de triagem de desesperança e depressão,

tanto para diagnóstico como também para a avaliação de prognóstico das

comorbidades existentes, seja pelo aumento do risco de suicídio, seja pela

evolução desfavorável das doenças crônicas existentes (DUARTE,

2007). Dessa forma, seria indicado, como um método avaliativo, o uso

da Escala de Desesperança de Beck.

O papel da Psicologia Positiva

Em uma tentativa de transformar a desesperança em esperança

novamente, surge a Psicologia Positiva, a qual tem como princípio

fundamental não apenas consertar o que está danificado, mas trabalhar

com as potencialidades humanas determinantes na prevenção e no

tratamento da doença mental (MARTIN SELIGMAN, 1998).

Este campo valoriza na sua prática clínica o funcionamento

humano positivo para contrariar as próprias desordens (DUCKWORTH;

STEEN; SELIGMAN, 2005) e tem como pilares a valorização do bem-

estar e a satisfação com a vida no passado, a alegria e a felicidade do

presente, o otimismo, a esperança e a fé sobre o futuro, a capacidade de

amar, a coragem, as competências interpessoais, a sensibilidade, a

perseverança, o perdão, a originalidade, a sabedoria e o talento, a

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responsabilidade, o altruísmo, o civismo e a temperança (SELIGMAN;

CSIKSZENTMIHALYI, 2000).

Com o avançar da idade, o indivíduo encara momentos de

ansiedade face ao envelhecimento e à morte, luto, medo de dependência

e, outras psicopatologias como, demência, perturbações mnésicas e

perturbações do humor. Esses momentos contribuem para uma maior

recorrência da desesperança.

Sendo assim, as estratégias de intervenção da psicoterapia

positiva incluem:

- A promoção gradual de esperança e a construção de forças

protetoras (coragem);

- O desenvolvimento de competências interpessoais

(introspecção, otimismo, autenticidade, perseverança, responsabilidade

pessoal, determinação)

- A narração construtiva que reconta as próprias histórias de vida

de uma nova perspectiva (CSIKSZENTMIHALYI, 1993).

No entanto, durante muito tempo acreditou-se que os idosos não

poderiam beneficiar-se das abordagens psicoterapêuticas (AREÁN,

2003; KENNEDY & TANEMBAUM, 2000; TERI & LOGSDON, 1992;

ZARIT & KNIGHT, 1996). Como consequência, parece ter havido um

afastamento entre idosos e terapeutas. Isso aconteceu porque, por um

lado, baseando-se numa suposta rigidez das estruturas mentais e declínio

cognitivo agregado ao envelhecimento, os idosos foram declarados

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inaptos para esse tipo de tratamento. Por outro lado, os idosos que

desenvolveram toda sua vida imersos num contexto sociocultural

contrário à prática da psicoterapia, relevaram-se mais resistentes quanto

à procura por esse tratamento.⁹ Corroborando com esse cenário, um

número significativo de clínicos gerais e psiquiatras adotavam como

primeira escolha de tratamento a psicofarmacologia, apesar da

comprovada eficácia das intervenções psicoterapêuticas nessa idade da

vida (WALKER & CLARKE, 2001).

Perante o progressivo envelhecimento populacional, foram

criados serviços de saúde voltados para atendimento dessa faixa etária,

os quais organizam suas atividades com o auxílio de equipes

multidisciplinares. Nestas equipes, os psicólogos clínicos começaram a

criar espaços de apoio psicoterapêutico individual e de grupo;

primeiramente, apenas para indivíduos internados e, depois, em regime

ambulatório (Zeiss & Steffen, 1996). É recorrente que nas consultas de

psicoterapia com idosos manifestem-se conflitos em relação a

transformações da estrutura familiar, alterações de papéis, ansiedade

frente ao envelhecimento e à morte, luto, medo de dependência e

questões associadas ao declínio cognitivo. Independentemente das

características comuns entre os indivíduos, é importante levar em

consideração que a psicoterapia nessa etapa da vida deve fazer a

integração entre as questões desenvolvimentais que definem esta

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transição de vida e a diversidade/heterogeneidade inerente a todos os

processos de desenvolvimento (TERI & LOGSDON, 1992).

Ferraz, et al. (2007) destacou em seu estudo que as atuais formas

de mesurar e avaliar a felicidade, sob a perspectiva da Psicologia

Positiva, são a Satisfaction with Life Scale (SWLS), o Oxford Happiness

Inventory (OHI), a Subjective Happiness Scale (SHS), a Positive and

Negative Affect Schedule-expanded form (PANAS-X), a Depression-

Happiness Scale e a sua versão reduzida a Short Depression-Happiness

Scale. Contudo, ainda é possível destacar a utilização da Escala de Bem-

estar Subjetivo – EBES, de Albuquerque e Tróccoli (2004), a única

produzida no âmbito nacional. 11

Scorsolini-comin e Santos (2010) obervaram que os instrumentos

de mensuração internacionais aplicados nas pesquisas brasileiras não

passaram ainda por um processo de rígida validação, sendo apenas

traduzidos ou semanticamente adaptados. Além disso, eles destacam que

a EBES, apesar de ser única escala nacional, ainda precisa ser utilizada

em mais pesquisas para que seja comprovada a sua adequação à realidade

nacional, uma vez que esta é inspirada nas escalas internacionais já

consagradas e foi validada apenas para uma amostra específica. Dessa

forma, nota-se que ainda é preciso ampliar consideravelmente a produção

científica na área da Psicologia Positiva.

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Considerações finais

Diante do exposto, torna-se necessário aumentar o nível de

esperança, visando envelhecer com um melhor bem-estar subjetivo

(SNYDER; RAND; SIGMON, 2002). A esperança é um conceito

multidimensional que faz a pessoa agir em busca dos seus objetivos. Ela

é considerada fundamentalmente como um processo de escolha de

sentido pessoal na vida, servindo de proteção para eventos estressantes e

levando a um melhor ajustamento psicológico, baixos sintomas

depressivos e maior habilidade para resolver problemas. Assim, manter

a esperança diante do processo de envelhecimento é um recurso para

aquisição de resiliência (ORLANDI et al., 2012).

Quando se estimula a esperança no processo de envelhecimento,

é perceptível o reconhecimento das limitações em diversas situações,

acreditando, ao mesmo tempo, que as oportunidades existem a fim de

superar todas as adversidades.

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