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O Estágio Supervisionado: a experiência da Faculdade de Serviço Social de

Bauru

EGLI MUNIZ

Diretora da Faculdade de Serviço Social

CÉLIA MARIA GRANDINI ALBIERO

Chefe de Departamento de Estágio

GISELLI DE ALMEIDA TAMAROZZI LIMA

Professora de Estágio Supervisionado

MARIA DVANIL D’ÁVILA

Professora do Estágio Supervisionado

RESUMO

Este trabalho representa uma proposta de sistematização da experiência

desenvolvida pela Faculdade de Serviço Social de Bauru em relação ao Estágio

Supervisionado, no período de fevereiro de 1996 a junho de 1998, fundada na

concepção de que o estágio é um dos espaços privilegiados da formação profissional. A

experiência foi implementada a partir dos debates desencadeados pela ABESS para

avaliação da formação profissional, debates dos quais a Faculdade participou

ativamente e promoveu também no âmbito local.

Para concretização da proposta três instrumentos básicos foram utilizados: a

supervisão individual dos alunos na Faculdade; visitas aos campos de estágio;

reuniões ampliadas com alunos e supervisores.

No decorrer do trabalho a adesão dos sujeitos foi estratégicamente conquistada.

Pautado em bases teóricas, o trabalho foi se firmando e relevantes resultados

foram alcançados como: aumento do índice de frequência dos Assistentes Sociais

Supervisores nos eventos da Faculdade; maior comprometimento do aluno com o

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estágio e o curso; aumentando o número de campos de estágio e de estágios

remunerados, dentre outros.

O relato apresenta as justificativas das alterações introduzidas, a política de estágio

adotada pela Faculdade, o processo de implantação da proposta e algumas

considerações a título de avaliação dos resultados obtidos.

Descritores:

Estágio, supervisão, formação profissional, ensino-aprendizagem.

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO: A EXPERIÊNCIA DA FACULDADE DE SERVIÇO

SOCIAL DE BAURU

A ABESS - Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social estabeleceu, no

documento Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, elaborado com base no

currículo mínimo aprovado em Assembléia Geral Extraordinária de 8 de novembro de

1996, no Rio de Janeiro, que o Estágio Supervisionado é uma atividade curricular

obrigatória que se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio institucional,

objetivando capacitá-lo para o exercício do trabalho profissional, o que pressupõe

supervisão sistemática. Esta supervisão será feita pelo professor supervisor e pelo

profissional do campo, através da reflexão, acompanhamento e sistematização com

base em planos de estágio, elaborados em conjunto entre Unidade de Ensino e

Unidade Campo de Estágio, tendo como referência a Lei 8662/93 (Lei de

Regulamentação da Profissão) e o Código de Ética Profissional (1993). O Estágio

Supervisionado é concomitante ao período letivo escolar.

Mas antes dessa definição final, as Oficinas Regionais e Nacionais, cujos

resultados foram consubstanciados em inúmeros documentos, já indicavam a

necessidade das unidades de ensino darem um novo tratamento ao estágio.

E um ano antes dessa histórica Oficina Nacional, em que os resultados de

avaliações e discussões por parte das escolas de Serviço Social e da própria ABESS,

que comandou todo o processo através das suas instâncias microregionais, regionais e

nacional, a Faculdade de Serviço Social de Bauru reformulou, radicalmente, o seu

sistema de estágio e supervisão, como resultado da avaliação local e de sua

participação efetiva em todas as reuniões promovidas pela ABESS Região Sul II, e nas

três reuniões nacionais, realizadas durante o processo de revisão curricular.

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A sistematização da primeira etapa dessa experiência, iniciada em fevereiro de

1996, tem como principal objetivo oportunizar sua reflexão e sua crítica, além da troca

de experiências com outros cursos de Serviço Social.

Serão apresentados, inicialmente, alguns pressupostos teóricos que

fundamentam a concepção de estágio e supervisão assumidas pela Faculdade, que

tem orientado a experiência.

Segue-se a explicitação da proposta e relato da sua implantação, destacando-se

o instrumental utilizado e alguns enfoques principais abordados.

Concluindo, serão enfocadas algumas considerações a respeito da experiência,

destacando resultados já obtidos e indicadores merecedores de avaliação futura, mais

aprofundada.

No início do trabalho a Faculdade tinha 50 organizações credenciadas e

conveniadas como campos de estágio para seus alunos, totalizando 70 campos em 14

cidades da região de Bauru.

Esses campos de estágio distribuem-se entre as áreas de Assistência Social

(51,42%), seguidos de Saúde e Empresa com 21,42%, respectivamente.

Abrangem 94 assistentes sociais supervisores de campo, 59 alunos em estágio de

observação e 137 alunos em estágio supervisionado.

CONCEPÇÃO DE ESTÁGIO E SUPERVISÃO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O estágio representa para o aluno de Serviço Social um campo de treinamento,

de vivências, de troca de experiências, o locus onde vai formando sua identidade

profissional. Segundo Buriolla, o estágio prático é essencial à formação do aluno de

Serviço Social; enquanto lhe propicia um momento específico de sua aprendizagem,

uma reflexão sobre a ação profissional, uma visão crítica da dinâmica das relações

existentes no campo institucional, apoiados na supervisão, enquanto processo dinâmico

e criativo, tendo em vista possibilitar a elaboração de novos conhecimentos. (1995:17).

No Brasil, o estágio em Serviço Social existe desde a fundação das primeiras

Escolas de Serviço Social, na década de 30, já considerado parte integrante e

obrigatória do curso. Representa um papel significativo na formação do aluno,

possibilitando-lhe a inserção na prática profissional. Portanto, almeja-se um estágio que

permita ao alunos o preparo efetivo para o agir profissional: a possibilidade de um

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campo de experiência, a vivência de uma situação social concreta supervisionada por

um assistente social competente, que lhe propiciará uma revisão constante desta

vivência e o questionamento de seus conhecimentos, habilidades, visões de mundo,

podendo contribuir para sua inserção crítica e criativa na área profissional e num

contexto sócio-histórico mais amplo.

A supervisão em Serviço Social é vista como um processo educativo, de ensino-

aprendizagem, que se realiza na área do agir e ocorre em função da prática

profissional, desenvolvendo o acompanhamento do trabalho prático cotidiano do aluno

estagiário.

A supervisão de estágio é essencial à formação do aluno de Serviço Social,

enquanto lhe proporciona um momento específico de aprendizagem, de reflexão sobre

a ação profissional.

No processo de amadurecimento profissional, o supervisor deve auxiliar o aluno

a definir a sua identidade profissional, embora o aluno seja visto como o próprio sujeito

que formula e elabora essa identidade. Esta é a proposta de liberação da

espontaneidade e criatividade do aluno, onde existe uma relação, um contato próximo

com o estagiário e o conhecimento constituído por cada um (supervisor e supervisado)

vivido, trocado.

A supervisão não é uma transmissão de informação; esse não é o privilégio da

supervisão e, sim, uma integração entre o cognitivo e o afetivo. Tem uma dimensão

formativa e também informativa.

No processo de ensino-aprendizagem, existe a troca, o debate: supõe-se que a

relação do supervisor e supervisado seja uma relação horizontal, sem autoritarismo.

O supervisor detém o poder-autoridade democrático, participativo e responsável,

caracteres estes que significam criar, com o poder da presença, o direito à participação,

ao diálogo, à opinião. (1994:174 - 175)

No papel de educador, o supervisor divide com o supervisado a responsabilidade

pelo processo de ensino-aprendizagem. Deve proporcionar ao estagiário um clima

facilitador de aprendizagem, uma atmosfera de respeito mútuo, de modo que não seja

anulada a sua criatividade.

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Supervisor e supervisionado possuem um cabedal de conhecimentos e, como

sujeitos coletivos, na busca do saber maior, são levados a refletirem e aprenderem

conjuntamente.

O supervisor deve ser aquele que facilita a aprendizagem para o estagiário,

aquele que encoraja a focalização no processo, no vivenciar a maneira pela qual a

aprendizagem ocorre . (1994:171 - 172)

Concebe-se o processo de ensino-aprendizagem como uma possibilidade

criadora, onde pressupõe-se a integração dos componentes que propiciam a formação

profissional.

Supervisor e supervisionado são sujeitos ativos do processo de ensino-

aprendizagem e da produção de um saber fazer profissional de conhecimentos,

exigindo de ambos a co-vivência, a co-ação, a co-responsabilidade, como sujeitos co-

participantes do processo educativo.

A supervisão em Serviço Social deve ser um espaço plural de liberdade e de

diálogo com o mundo e com os outros. (aput 1994:88).

A POLÍTICA DE ESTÁGI O

Com base nessas concepções, já no seu Projeto Pedagógico (1988:6), a

Faculdade definiu o estágio como o momento por excelência no qual o aluno tem a

oportunidade de refletir, efetivar e questionar a prática à luz da teoria, de elaboração

crítica/reflexiva do exercício profissional.

Estabelecem-se, então, como critérios para credenciamento das organizações

como campos de estágio e subseqüente convênio:

• que a organização designe assistente social registrado no CRESS, em número

compatível aos estagiários admitidos, que se responsabilize pela supervisão

direta e sistemática do aluno;

• que a unidade de Serviço Social apresente à Faculdade seu Plano de Ação,

definindo os objetivos do Serviço Social, suas atribuições e ações

desenvolvidas;

• que permita e facilite ao assistente social supervisor comparecer às reuniões

mensais promovidas pela Faculdade;

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• que o supervisor elabore o Diagnóstico Educacional e o Plano de Estágio para

cada período letivo, em conjunto com o aluno, e se responsabilize por

supervisioná-lo sistematicamente, estipulando claramente os objetivos do

estágio e as atribuições do aluno.

Concomitantemente, foi introduzido um curso sobre Supervisão em Serviço

Social para os alunos concluintes, como parte do programa da disciplina de Seminários

da Prática, com o objetivo de capacitar os futuros assistentes sociais a exercerem essa

função.

O estágio dos alunos era acompanhado pela Faculdade através dos diferentes

trabalhos solicitados pela disciplina Seminários da Prática: Plano de Estágio, Análise

Institucional, Relatórios e Diários de Estágio.

No entanto, durante todo o ano de 1995, a Faculdade desenvolveu um processo

intensivo de avaliação da sua formação profissional, no bojo das discussões

promovidas pela ABESS, das quais participou ativamente.

Em âmbito local, foram envolvidos, além da direção e professores, alunos e

supervisores, através de diferentes estratégias.

Durante as discussões desenvolvidas ficaram evidenciados inúmeros problemas

relacionados ao estágio dos alunos, que vinham interferindo na qualidade da formação

profissional:

• distanciamento Faculdade-organização campo de estágio;

• defasagem teórica dos supervisores;

• alunos utilizados em serviços administrativos e não em atividades de Serviço

Social;

• supervisão de corredor, isto é, as reuniões ou entrevistas de supervisão não

eram sistematizadas nem sistemáticas; ocorriam contatos rápidos para solução

de dúvidas ou problemas;

• falta de compromisso do supervisor com a formação profissional do aluno, por

não ver a supervisão como responsabilidade profissional;

• baixo índice de participação dos supervisores nas reuniões promovidas pela

Faculdade;

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• distanciamento da concepção de Serviço Social adotada pela Faculdade(1) e a

concretizada nos campos de estágio;

• desnivelamento entre a teoria e a prática de Serviço Social, ou dificuldade de

mediação teoria-prática ocasionada pela falta de correspondência entre a

direção social do curso, das organizações campos de estágio, dos próprios

assistentes sociais supervisores e dos alunos.

Essa avaliação levou a Faculdade a decidir-se e assumir efetivamente a

responsabilidade da supervisão dos estágios, em conjunto com o supervisor de campo,

conforme evidenciado no documento Síntese das Conclusões da Avaliação da

Formação Profissional da FSSB (1995).

Para isso, os três professores da disciplina de Seminários da Prática, que já

acompanhavam indiretamente o estágio dos alunos, tiveram sua carga horária

aumentada para vinte horas semanais cada um e assumiram a disciplina de Estágio

Supervisionado do 3º e 4º anos.

No 2º ano, o aluno continuaria a desenvolver o chamado estágio de observação,

acompanhado ainda pela disciplina Seminários da Prática.

Foram definidas então as seguintes políticas e estratégias:

1. Desenvo lvimento de um trabalho de conquista dos supervisores para que se

estabelecesse uma relação de efetiva parceria entre

professor/supervisor/faculdade/campo de estágio;

2. Busca do engajamento e compromisso dos assistentes sociais supervisores no

processo de formação profissional do aluno, firmados na concepção que a

prática de estágio e a supervisão têm uma dimensão pedagógica;

3. Reciclagem teórica e capacitação continuada dos supervisores, através,

basicamente, de reuniões, como também de cursos, oficinas, palestras e

seminários, para possibilitar o desenvolvimento de uma prática profissional

comprometida e conseqüente qualidade dos estágios;

4. Exigência de formação em Supervisão em Serviço Social por parte dos

assistentes sociais supervisores e, em contrapartida, oferecimento inicial de

cursos gratuitos aos supervisores que não possuíam essa qualificação teórica;

(1) A Faculdade vê o Serviço Social como uma profissão inserida na divisão sócio técnica do trabalho, que intervém no âmbito da questão social,

entendida como expressão das contradições do desenvolvimento do capitalismo monopolista, e busca a consolidação e ampliação dos direitos de cidadania da população usuária de seus serviços.

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5. Acompanhamento sistemático do estágio desenvolvido pelos alunos de forma a

possibilitar: a elaboração do Plano de Estágio em conjunto pelo professor,

supervisor e aluno; acompanhamento da execução do Plano de Estágio,

levantamento das dificuldades teóricas e práticas dos alunos e eventualmente

dos supervisores no desenvolvimento da prática profissional; assessoria aos

supervisores na superação das dificuldades. Esse acompanhamento será

desenvolvido basicamente através de:

• visitas mensais aos campos de estágio;

• atendimentos individuais dos alunos estagiários em plantões realizados na

Faculdade, em horários extra -classe;

• reuniões ampliadas(2) com os alunos para orientações sobre a

documentação de estágio, troca de experiência, reforço teórico sobre os

temas trabalhados nos Planos de Estágio e outras atividades.

6 Estabelecimento de um canal de interlocução entre Faculdade e campo de

estágio, de forma também a possibilitar para a Faculdade o contato direto com

os diferentes contextos sócio-institucionais, em sintonia com as demandas

emergentes do mercado de trabalho, o conhecimento das dificuldades ou

defasagens teóricas dos alunos, subsidiando alterações dos planos de ensino

das demais disciplinas do currículo e inter-relacionando os objetivos do curso,

do Serviço Social da organização campo de estágio e do Estágio

Supervisionado;

7 Envolvimento da participação do supervisor de campo, através de

representantes eleitos, nas reuniões de planejamento e avaliação periódica do

Departamento de Estágio;

8 Avaliação sistemática:

- dos campos de estágio, no sentido de garantir que proporcionem a

possibilidade de uma prática de estágio de qualidade aos alunos;

- do processo de supervisão desenvolvido;

- do desempenho do aluno;

- da sistemática de trabalho adotada pela Faculdade;

(2) Denomina-se reuniões ampliadas os trabalhos desenvolvidos com todos os alunos estagiários, em grupos, coordenados pelos professores de

estágio.

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9 Informatização do Departamento de Estágio, de forma a facilitar o

desenvolvimento do trabalho, a agilização das informações e a correção dos

desvios ou superação dos bloqueios e dificuldades.

Para a concretização dessas políticas, foram também definidas claramente e

divulgadas as atribuições do Departamento de Estágio, dos professores de Estágio, dos

supervisores de campo e dos alunos estagiários, através do Manual de Estágio,

elaborado com a participação de alunos, supervisores e professores, através de uma

Oficina destinada especialmente para isso.

Algumas normas e procedimentos já existentes foram reforçados ou viabilizados,

tais como:

• a ampliação do número de campos de estágio de forma a possibilitar ao aluno

maiores opções de escolha, em razão de seu interesse e disponibilidade;

• a carga horária letiva de estágio é integralizada mensalmente, de forma a

possibilitar o aprendizado progressivo do aluno, em consonância com o

desenvolvimento dos programas das demais disciplinas e do curso como um

todo;

• o aluno pode cumprir no máximo até 25% da carga horária de estágio do

semestre seguinte durante as férias escolares, desde que sob a

responsabilidade do supervisor do campo.

A CONCRETIZAÇÃO DA PROPOSTA: INSTRUMENTAL UTILIZADO

Como ficou evidenciado, a proposta foi implementada através de três

instrumentos básicos: a supervisão individual dos alunos na Faculdade, as visitas aos

campos de estágio onde são realizadas reuniões com os supervisores de campo e

alunos estagiários, através de reuniões ampliadas com alunos e também por meio das

reuniões com os supervisores. Essas reuniões, convém destacar, são gerais,

envolvendo todos os supervisores e por áreas, isto é, quando os supervisores são

reunidos por áreas de atuação (saúde, trabalho, assistência social, etc.), para facilitar a

troca de experiências e a discussão de assuntos mais específicos.

As reuniões gerais, com os supervisores, são realizadas no início e no final de

cada semestre. A primeira tem como objetivo apresentar informações sobre os

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trabalhos solicitados ao aluno, relacionados ao estágio, o cronograma de entrega

desses trabalhos e o cronograma das reuniões do semestre.

A segunda é utilizada para encerramento das atividades do semestre, através de

uma palestra informativa-reflexiva e de confraternização.

No início de cada semestre também é realizada uma palestra aos novos

supervisores, inteirando-os da proposta de estágio da Faculdade e uma reunião

específica com os assistentes sociais que possuem alunos em fase de trabalho de

conclusão de curso, objetivando apresentar-lhes as normas adotadas pela Faculdade,

envolvê -los na definição de temas e objeto das pesquisas, com o apoio dos

supervisores representantes do Departamento e professores.

Foi também implantado à partir de 1998 , no início de cada semestre o Encontro

de Supervisores e Supervisionados, envolvendo alunos e profissionais de Serviço

Social, bem como os professores da F.S.S.B. Este encontro tem como objetivos

proporcionar maior aproximação entre supervisores e supervisionados e oportunizar

maior entrosamento entre os atores da faculdade e dos campos de estágio. O evento é

desenvolvido no período da manhã e tarde, incluindo palestras sobre temas atuais e

emergentes escolhidos pelos alunos e supervisores através dos contatos realizados

anteriormente e atividades de reflexão envolvendo o estágio e a supervisão.

As visitas aos campos de estágio são utilizadas basicamente para elaboração do

Plano de Estágio do aluno, acompanhamento de sua execução, apresentação de

bibliografias que respaldem o trabalho desenvolvido no campo, assessoria à elaboração

de programas e/ou projetos, ou ainda, à sua execução, quando solicitado pelo

supervisor, orientação à elaboração das documentações de estágio dos alunos. São

agendadas previamente, com antecedência de no mínimo uma semana.

A supervisão individual do aluno na Faculdade, através de um plantão dos

professores em dias e horários determinados, é agendada pelo próprio aluno, conforme

sua necessidade e interesse. Este contato individual é o espaço para esclarecimento de

dúvidas específicas do aluno em relação às documentações de estágio solicitadas pela

Faculdade e de discussão de dificuldades na realização do estágio, indicação de

leituras complementares e apoio às dificuldades pessoais do aluno que interfiram no

seu desenvolvimento pessoal através de reuniões ampliadas, realizadas na Faculdade,

aos sábados, das 10:40 às 12:10 h., sendo a presença não obrigatória. Os encontros

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têm como enfoque principal a apresentação dos trabalhos exigidos pela disciplina de

Estágio Supervisionado, reflexões de temas emergentes e atuais, escolhidos e

intitulados mês a mês, bem como exercícios e exemplificações, além do recebimento

dos trabalhos já solicitados anteriormente.

Inicialmente, os alunos se reuniam com os professores responsáveis pela

disciplina, divididos por campos de estágio e por classes. No decorrer do trabalho foram

introduzidas modificações, passando a ter um momento conjunto com os três

professores para fortalecimento do trabalho grupal, através de dinâmicas de grupos e

jogos educativos, oportunizando um relacionamento saudável e crescente e, num

segundo momento, a divisão das turmas por professores. O trabalho foi ganhando tanta

adesão que houve um aumento substancioso e gradativo da participação dos alunos e

interesse pelo conteúdo trabalhado, o qual acabou por se realizar em conjunto sem

divisões por professores.

Destacamos os assuntos discutidos nessas reuniões: plano de ensino, manual de

estágio, plano de estágio, relatórios descritivo - processual/resumo nas abordagens

individual e grupal, diagnóstico, relatórios semestrais de atividades, análise institucional

, análise das demandas tradicionais e emergentes, avaliação educacional, perfil do

usuário, trabalhos integrados com outras disciplinas envolvendo reflexões à nivel macro

da realidade bauruense e da região, além do aprimoramento do ser pessoal do aluno.

Vale ressaltar que os professores de Estágio Supervisionado planejavam

cuidadosamente os momentos grupais, com diversas estratégias de motivação:

dinâmicas de grupo, jogos, sorteios, mensagens, lanches, exercícios práticos e

utilização de recursos audiovisuais como cartazes, retroprojetor, dramatizações,

simulações e músicas.

Outro instrumental de grande importância é a documentação, destacando-se o

Plano de Estágio, que define detalhadamente o planejamento das atividades do aluno

no estágio durante o semestre, a partir dos subsídios teóricos já processados,

elaborado sempre em conjunto pelo professor, o assistente social do campo e o aluno.

Em cada um desses momentos - da visita, reuniões ou supervisões individuais e

grupais - além das atividades de rotina já descritas, foram trabalhadas duas metas

principais: a conquista da adesão dos supervisores e alunos e a reciclagem e

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aperfeiçoamento teórico, visando sempre fortalecer a articulação Faculdade/campo de

estágio e a relação teoria/prática.

CONQUISTANDO A ADESÃO DOS SUJEITOS

Para que a nova proposta se efetivasse, tinha-se muito clara a necessidade da

adesão dos assistentes sociais, supervisores dos campos de estágio e dos alunos.

Os alunos de início apresentaram resistência, motivados, principalmente, pelo

pagamento de créditos a mais na mensalidade. Embora o Estágio Supervisionado já

constasse da grade curricular desde a alteração realizada em 1985, com oito créditos

no terceiro ano e seis no quarto ano, não era cobrado dos alunos. Com a implantação

do novo sistema, para fazer face às despesas extras de contratação dos três

professores, viagens, despesas administrativas, e outros, optou-se pela cobrança de

apenas 50% desse total.

Para estimular o engajamento foi utilizada inicialmente a reunião geral de

supervisores e as visitas aos campos de estágio, momentos em que a proposta foi

apresentada e discutida, inclusive com os dirigentes das organizações, visando obter

sua aprovação. Estabeleceu-se um contrato de parceria, deixando-se claro que o

caráter do trabalho não implicava em fiscalização, mas em acompanhamento do aluno

em estágio, visando principalmente a articulação entre Faculdade e campo,

considerando o estágio como um dos espaços privilegiados da formação profissional.

Dos 70 campos de estágio, apenas quatro mostraram-se resistentes sendo que,

no decorrer do processo, um campo se descredenciou, dois aderiram e em um campo o

supervisor foi substituído.

Nesse primeiro momento foi realizado também um recadastramento de todos os

campos de estágio, possibilitando a atualização dos documentos exigidos pela

Faculdade e a avaliação de cada um deles.

Constatou-se um número significativo de supervisores que não haviam feito curso

de Supervisão em Serviço Social e, como resposta, promoveu-se um primeiro curso

dessa natureza, com a Dra. Marta Alice Feiten Buriolla, especialista no assunto. Esse

curso foi promovido gratuitamente, de forma a possibilitar o engajamento de todos os

supervisores, sendo que a adesão foi de 42% do total.

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Também foi trabalhado, nas primeiras visitas, o texto Papéis do Supervisor, do

livro Supervisão em Serviço Social, da autora citada, visando respaldar, teoricamente, o

supervisor de campo para o desempenho de sua função.

Outra estratégia adotada foi a apresentação de um Boletim Informativo do

Departamento de Estágio, divulgando e esclarecendo as atividades realizadas e

enfocando os resultados parciais obtidos, entregue por ocasião das visitas aos campos.

As reuniões foram sempre cuidadosamente planejadas e organizadas, utilizando-

se desde as freqüências e crachás, até material teórico de apoio, dinâmicas de grupo,

filmes, músicas, dramatização, etc., de forma a possibilitar um ambiente acolhedor,

dinâmico e inovador.

Os alunos também foram convidados e estimulados a participar dessas reuniões

através de cartazes e nas visitas de forma a estabelecer uma aproximação entre os três

sujeitos do processo: alunos, supervisores de campo e professores de estágio.

A avaliação, realizada no final do primeiro semestre de trabalho numa amostra de

58,85%, evidenciou que 97,96% dos supervisores consideraram o trabalho como

positivo e 2,04% apresentaram aspectos negativos; 89,90% acreditaram que os alunos

foram beneficiados com as visitas aos campos de estágio e 97,96% responderam que

as visitas não acarretaram problemas com as chefias. Quanto ao desempenho do

aluno, no estágio, 57,15% dos supervisores consideraram ótimo, 28,57% bom, 7,14%

regular e 3,5% não responderam.

CONSTRUINDO E FORTALECENDO BASES TEÓRICAS

Com o objetivo de possibilitar a reciclagem teórica aos assistentes sociais

supervisores e sua capacitação continuada, investiu-se no estudo teórico de assuntos

de interesse e necessidade dos campos de estágio, fundados na crença de que o

aperfeiçoamento da prática profissional dos supervisores redundaria em melhoria da

prática de estágio e, conseqüentemente, da formação profissional.

Considerando que a absoluta maioria dos campos desenvolvia trabalho com

famílias ou tinha essa possibilidade, o que foi levantado através das visitas, o primeiro

tema trabalhado durante todo o primeiro semestre de 1996 foi justamente a ação com

famílias.

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O assunto foi discutido, inicialmente, a partir do estudo e reflexão de algumas

bibliografias básicas, especialmente nas reuniões.

A organização dos supervisores, por áreas de atuação, possibilitou a troca de

experiências, enfocando-se dificuldades comuns e estratégias de intervenção.

Posteriormente, foi trabalhada a elaboração de projetos de intervenção com

famílias, com o auxílio da professora de Planejamento em Serviço Social, integrando-

se, inclusive, alunos do terceiro ano que apresentaram alguns projetos elaborados na

disciplina, em reunião com os supervisores.

Concomitantemente, era solicitado aos alunos que estabelecessem as

estratégias de trabalho com famílias nos seus Planos de Estágio e nos relatórios, para

que evidenciassem as ações desenvolvidas.

Paralelamente, nas visitas aos campos, ofereciam-se bibliografias

complementares, de acordo com as necessidades específicas.

Outra necessidade levantada pelos professores, por intermédio das visitas, foi a

discussão do tema Participação Social. Constatou-se que alguns campos ainda viam o

usuário como acomodado, não participativo, atribuindo o problema ao seu baixo nível

cultural. Outros, ainda, tinham dificuldades em criar estratégias para construção da

participação dos usuários ou não tinham tomado consciência da importância da

participação para construção da cidadania e democracia.

Da mesma forma, o assunto foi trabalhado já no segundo período de 1996, a

partir de um texto básico elaborado pelos professores, nas reuniões por áreas, nas

visitas aos campos de estágio, nas reuniões ampliadas de supervisão com alunos e na

documentação do estágio.

Especialmente nas reuniões, o tema foi debatido teoricamente e, nas visitas,

procurou-se avaliar o grau de participação dos usuários nos programas de Serviço

Social e discutir estratégias de conquista dessa população.

Na última reunião por áreas do período, os supervisores também construíram

uma proposta para efetivação da participação dos usuários nos seus respectivos

campos de trabalho.

No ano de 1997, por solicitação dos supervisores, foi trabalhado o instrumental

técnico-operativo do Serviço Social.

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O assunto foi abordado, inicialmente, por meio de uma palestra que apresentou,

de forma panorâmica, os instrumentais tradicionais, recriados, e instrumentais

alternativos utilizados, hoje, pelo Serviço Social.

Durante o primeiro período de 1997, foi discutida a questão da intencionalidade e

o uso dos instrumentais, a partir de textos e dramatização e, em seguida, trabalhou-se a

entrevista e suas variações.

Posteriormente, retomaram-se as vertentes teóricas do Serviço Social e discutiu-

se a reunião, também trabalhada através de textos e exercícios práticos, fechando-se o

assunto com a apresentação das experiências com grupos desenvolvidos por alguns

supervisores, em seus campos de trabalho onde há sucesso.

Com o objetivo ainda de sustentação teórica para supervisores e alunos, durante

todo o período, foram promovidos cursos de extensão, oficinas, seminários sobre

Dinâmicas de Grupo, Serviço Social Organizacional, Gerenciamento de Creches,

Pesquisa Quantitativa/Qualitativa e outros temas que atendessem às demandas dos

campos de estágio.

Desde a implantação do sistema, a disciplina de Estágio Supervisionado vem

intensificando, ainda, o trabalho em relação ao desenvolvimento do ser pessoal dos

alunos.

A importância do quociente emocional para a formação profissional, ao lado da

aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de atitudes e habilidades, foi

inicialmente valorizada através da discussão de textos nas reuniões ampliadas com

alunos. Durante as visitas eles foram estimulados a relatarem em seus diários de

campo as expressões de sentimentos e posicionamentos de acordo com suas atitudes

e desempenho no estágio. A princípio houve certa resistência, até mesmo pela inibição,

mas ao começarem a aperceber-se da importância para o seu auto conhecimento e

superação de limites pessoais que interferem na prática profissional, houve adesão por

parte dos alunos.

Devido ao interesse demonstrado pelos supervisores, foi também realizada uma

palestra sobre o assunto, numa das reuniões gerais.

Novos temas foram introduzidos ao longo do trabalho tais como: estratégias de

negociação e estratégias de trabalho com perdas, envolvendo não apenas a questão da

finitude , mas ainda a questão da separação , perdas de bens e emprego.

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Ao final do primeiro ano de trabalho, foi realizada nova avaliação entre os

supervisores. Dos 52 supervisores sujeitos da pesquisa, todos evidenciaram como

aspectos positivos: trabalho organizado, dinâmico, o que possibilitou a integração

Faculdade/campo de estágio (31,37%);

• aprimoramento e crescimento do supervisor e melhoria da qualidade da prática

profissional (43,14%);

• intercâmbio entre professor, aluno e supervisor (25,49%).

Quanto aos aspectos negativos, 73% afirmaram não encontrar nenhum, 22,22%

apontaram decisões unilaterais e 4,45%, dificuldades financeiras do aluno.

Em relação à visita dos professores da Faculdade aos campos de estágio, 92,30%

colocaram que houve contribuição para o desenvolvimento do aluno no estágio, apenas

1,93% que não houve e 5,77% não responderam.

Sobre a contribuição do estagiário para a organização, 67,30% destacaram o

estímulo à reciclagem do supervisor e seu crescimento profissional e 36,53%, a melhor

qualidade de estágio.

Perguntados se os alunos apresentam problemas no estágio durante o ano,

80,77% responderam que não.

Como sugestões para o ano seguinte foram indicadas: o prosseguimento das

visitas aos campos de estágio, reciclagens, oficinas e cursos (71,19%), apresentação

de experiências dos supervisores (16,95%) e modificação do horário das reuniões

(11,86%).

Com a preocupação de atingir os objetivos da proposta de estágio, ao final do

segundo ano de trabalho foi realizada uma avaliação com os alunos através de uma

pesquisa censitária envolvendo 133 alunos de estágio supervisionado do 3º e 4º

anos(5º, 6º, 7º e 8º termos), dos quais 71,43% participaram da avaliação. Quanto ao

grau de satisfação com relação ao estágio 62,10%, consideram ótimo, seguidos de

31,58% bom e 6,32 % regular. A respeito da expectativa do aluno em relação ao

estágio 21,16% afirmam ter ampliado os conhecimentos teórico/práticos e que houve

um crescimento pessoal/profissional, seguidos de 21,05% com as expectativas

atingidas , 14,8% afirmam ter uma expectativa positiva e uma participação mais intensa

no estágio, 9,50% afirmam terem tido oportunidade de ampliações e inovações no

estágio , 6,40% pretendem serem contratados como assistente social da organização,

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2,10% esperam superar os limites , 1,05% pretendem um novo estágio e 1,05% não

têm nenhuma expectativa. Quanto aos conteúdos teóricos apreendidos no estágio,

30,87% elegeram o Instrumental técnico operativo do Serviço Social, 14,09% as teorias

sociais (Políticas sociais e os conteúdos sobre os segmentos sociais com os quais o

Serviço Social atua), o que nos remete aos resultados do trabalho efetuado junto aos

alunos e supervisores nos tres momentos básicos de nossa atuação. Frente as

dificuldades encontradas no estágio destacamos: 38,46% apresentaram dificuldades

pessoais; 26,92%, institucionais ;14,42%, teóricas e 8,65%afirmaram terem conseguido

superá-las. Referente as mudanças pessoais e profissionais ocorridas com o aluno

após o início do estágio, 44,37% apontam mudanças pessoais e 54,97% mudanças

profissionais. E finalizando 94,74% afirmam ter efetivado a relação teoria/prática no

estágio e 3,16% afirmam não tê-la efetivado.

Além das avaliações efetuadas nos finais de cada período, o Departamento de

Estágio reflete continuamente o trabalho realizado, introduzindo, imediatamente, as

modificações que se fazem necessárias.

Também as organizações conveniadas são avaliadas com relação à qualidade

do estágio e da supervisão que oferecem aos alunos, buscando-se através de

negociações honestas e transparentes, sanar paulatinamente as dificuldades

apresentadas.

Alguns campos – quatro ao todo - foram descredenciados por absoluta falta de

adesão à proposta.

Ainda como estratégia de conquista aos alunos e supervisores, o Departamento

de Estágio introduziu no ano de 1998, a visita técnica à experiências nacionais e

internacionais. Em âmbito nacional, realizamos uma visita à cidade do Rio de Janeiro,

localizada em outro Estado, proporcionando aos envolvidos conhecimentos técnicos,

culturais e turísticos, voltado à projetos inovadores e experiências bem sucedidas para

o enfrentamento da pobreza, envolvendo os seguimentos sociais criança/adolescente

em situação de risco, mulher, família, e projetos de geração de renda (cooperativas).

Estiveram presentes nesta primeira viagem de estudo sessenta e quatro alunos da

Faculdade do 1º ao 4º ano, cinco assistentes sociais supervisores, cinco assistentes

sociais e cinco professores. Esta atividade proporcionou ao aluno a reflexão, o

questionamento e a incorporação de conhecimentos teóricos, dando condições de

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relacionar na prática a teoria aprendida em sala de aula. Após realizada uma avaliação

dos envolvidos na atividade pudemos concluir que a viagem foi satisfatória

oportunizando a relação teoria/prática para o enfrentamento à pobreza e intervenção

junto aos segmentos sociais, provocando ainda um estreitamento das relações entre

discentes/docentes e assistentes sociais supervisores. A avaliação contou com a

participação de 51,9% dos envolvidos. Os resultados foram: 60,97% consideraram a

viagem ótima, 29,27% boa e 7,32% regular ; 87,80% afirma que os objetivos foram

atingidos e 4,88% que não foram.

Algumas críticas foram levantadas, bem como algumas sugestões,que

destacamos à seguir:

Críticas-

• grupo muito grande; postura inadequada de alguns profissionais e alunos;

individualidade do grupo; tempo insuficiente ; atraso ;necessidade de melhorar os

serviços da empresa de turismo; guia turístico inacessível.

Sugestões-

• Grupo menor; melhor cumprimento de regras; participação restrita de alunos do 4º

ano; maior envolvimento dos participantes na organização (professores e alunos);

realização da visita técnica em dias úteis; mais visitas técnicas e menos passeios

turísticos; mesma programação para o grupo todo; maior tempo para visita técnica,

novas viagens. Este evento ainda foi marcado pela reunião ampliada “O Rio em

Bauru”, realizada na F.S.S.B envolvendo todos os alunos, professores e assistentes

sociais supervisores como atividade de encerramento do semestre , objetivando

socializar as experiências adquiridas com a visita técnica aos programas da

Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.

Para o segundo semestre deste ano foi planejada a viagem técnica ao Chile, na

cidade de Santiago, envolvendo também a participação no XVI Congreso Latino-

Americano de Escuelas de Trabajo Social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após um período de vinte e dois meses de trabalho, pode-se afirmar que foram

obtidos inúmeros resultados positivos, entre os quais citam-se:

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• aumento efetivo do índice de freqüência dos assistentes sociais supervisores

nas reuniões promovidas pela Faculdade;

• maior comprometimento do aluno com o estágio e com o curso;

• articulação entre Faculdade/campo de estágio, bem como professor/assistente

social supervisor/aluno;

• aumento do interesse dos assistentes sociais das organizações em assumirem

a supervisão de alunos;

• aumento do número de campos de estágio e de estágios remunerados;

• estreitamento do relacionamento profissional entre aluno, professor e

supervisor.

Um outro efeito bastante positivo é a interlocução da Faculdade com o mercado de

trabalho, possibilitando a revisão do conteúdo das disciplinas, a fim de preparar o

profissional para intervir no mercado e capacitá -lo para formular respostas profissionais

que potenciem o enfrentamento da questão social, numa perspectiva de consolidação

dos valores e princípios da profissão, consubstanciados no Código de Ética do Serviço

Social.

Alguns aspectos estão a exigir investigações mais aprofundadas, inclusive pelo

pouco tempo decorrido da implantação da experiência, uma vez que nenhuma turma

concluiu o curso tendo passado pela reformulação completa do estágio.

Não foi possível, portanto, avaliar ainda os reflexos da experiência na prática

desses futuros profissionais, o que poderá ser feito, oportunamente, através de uma

pesquisa comparativa.

Também não se pode dimensionar, com clareza, o grau de superação da dicotomia

teoria-prática, mas sabe-se, com certeza, que algumas distâncias foram vencidas e

que, hoje, existe uma articulação efetiva entre a Faculdade e seus campos de estágio,

possibilitando diferentes ganhos.

A Faculdade tem mais garantidas as condições concretas para formação de

profissionais competentes e comprometidos e as organizações campos de estágio, a

possibilidade de reflexão sobre a prática profissional dos profissionais de Serviço

Social.

O aluno passa a ter oportunidade de estágios e supervisão com melhor qualidade.

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E, ainda, quem mais ganha, acreditamos, é a população us uária, pela adesão de

profissionais comprometidos com a consolidação e ampliação de seus direitos e com

uma prestação de serviços com mais qualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURIOLLA, Marta A . Feiten. O Estágio Supervisionado, São Paulo Cortez Ed., 1995.

_______________________. Supervisão em Serviço Social, São Paulo, Cortez, 1994.

Faculdade de Serviço Social de Bauru, Projeto Pedagógico, 1988.

Faculdade de Serviço Social de Bauru, Regulamento de Estágio, 1996.

Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, ABESS/CEDEPSS, Rio de Janeiro,

1996.