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Bolívia dominada Bolívia dominada Bolívia dominada Bolívia dominada Bolívia dominada pelas incertezas pelas incertezas pelas incertezas pelas incertezas pelas incertezas Página 3 $ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ Nº 191 JUNHO DE 2005 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Em entrevista ao JE, Leda Maria Paulani, professora de economia da USP, diz porque afirma que o Governo Lula é neoliberal. “O Governo Lula vem agindo de modo a completar no país a agenda de reformas inspirada pelo neoliberalismo”, diz. O diagnóstico e a crítica dela coincidem com avaliações de diversas entidades da sociedade civil, como o Con- selho Federal de Economia que, a convite do vice- presidente da República, José Alencar, apresentou um documento com 12 propostas de políticas que propiciem o desenvolvimento do país, reduzam a sua vulnerabilidade externa e promovam o aumento do consumo das famílias e a reforma agrária. Mesmas questões, por sinal, presentes na Carta de Campinas, cuja íntegra republicamos nesta edição. Páginas 5 a 12 O Governo Lula é neoliberal Debate terá Stédile, Debate terá Stédile, Debate terá Stédile, Debate terá Stédile, Debate terá Stédile, Plínio e Coutinho Plínio e Coutinho Plínio e Coutinho Plínio e Coutinho Plínio e Coutinho Página 16

O Governo Lula é neoliberal - Corecon-RJ · 2016. 3. 4. · focos desta edição. Ocupam nossas páginas uma entrevista com Leda Maria Paulani, da USP, presidente da Sociedade Brasileira

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Page 1: O Governo Lula é neoliberal - Corecon-RJ · 2016. 3. 4. · focos desta edição. Ocupam nossas páginas uma entrevista com Leda Maria Paulani, da USP, presidente da Sociedade Brasileira

Bolívia dominadaBolívia dominadaBolívia dominadaBolívia dominadaBolívia dominadapelas incertezaspelas incertezaspelas incertezaspelas incertezaspelas incertezas

Página 3

$ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ

Nº 191 JUNHO DE 2005JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

Em entrevista ao JE, Leda Maria Paulani, professora

de economia da USP, diz porque afirma que o

Governo Lula é neoliberal. “O Governo Lula vem

agindo de modo a completar no país a agenda de

reformas inspirada pelo neoliberalismo”, diz. O

diagnóstico e a crítica dela coincidem com avaliações

de diversas entidades da sociedade civil, como o Con-

selho Federal de Economia que, a convite do vice-

presidente da República, José Alencar, apresentou

um documento com 12 propostas de políticas que

propiciem o desenvolvimento do país, reduzam a

sua vulnerabilidade externa e promovam o aumento

do consumo das famílias e a reforma agrária. Mesmas

questões, por sinal, presentes na Carta de Campinas,

cuja íntegra republicamos nesta edição.Páginas 5 a 12

O Governo Lulaé neoliberal

Debate terá Stédile,Debate terá Stédile,Debate terá Stédile,Debate terá Stédile,Debate terá Stédile,Plínio e CoutinhoPlínio e CoutinhoPlínio e CoutinhoPlínio e CoutinhoPlínio e Coutinho

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SumárioPágina 3 Uma incerteza chamada Bolívia – Gisele Rodrigues

Página 5 Conjuntura – Economistas levam críticas a José Alencar

Página 6 Política Econômica – Por uma economia que reduza a exclusão

Página 8 Entrevista – Leda Maria Paulani

Página 11 X Encontro da SEP – É hora de enfrentar os desafios

Página 13 Notícias do Corecon – Cursos investem na qualificação

Página 15 Fórum Popular de Orçamento – Pan para todos os gostos

Página 16 Dia do Economista – Debate terá Stédile, Plínio e Coutinho

EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Gilberto Alcântara, GilbertoCaputo Santos, José Antônio Lutterbach Soares, PauloMibielli, Paulo Passarinho, Rafael Vieira da Silva, Ro-gério da Silva Rocha e Ruth Espinola Soriano de Mello.

Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio GomesCorreio eletrônico: nilosgomes@uol.com.brReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem::::: Rebecca RamosIlustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração: AliedoCaricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio LoredanoDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e Finalização:inalização:inalização:inalização:inalização:Rossana Henriques (21) 2462-4885FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: TipológicaTTTTTiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000 exemplaresPPPPPeriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

Correio eletrônico: [email protected]

As matérias assinadas por colaboradores não refle-tem, necessariamente, a posição das entidades.É permitida a reprodução total ou parcial dos artigosdesta edição, desde que citada a fonte.

CORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJ

Av. Rio Branco, 109 · 19º andarRio de Janeiro · RJ · Centro · CEP 20054-900

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· Conselheir Conselheir Conselheir Conselheir Conselheirososososos Suplentes: Suplentes: Suplentes: Suplentes: Suplentes: 1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Arthur CâmaraCardozo, Carlos Eduardo Frickmman Young. 2º terço2º terço2º terço2º terço2º terço(2003/05): (2003/05): (2003/05): (2003/05): (2003/05): Gilberto Caputo Santos. 3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/06): 06): 06): 06): 06): Gilberto Alcântara da Cruz, Jorge de OliveiraCamargo e Rogério da Silva Rocha · Delegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorEfetivo: Efetivo: Efetivo: Efetivo: Efetivo: José Antonio Lutterbach Soares · DelegadoDelegadoDelegadoDelegadoDelegadoEleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Paulo Sergio Souto

SINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICATO DOSTO DOSTO DOSTO DOSTO DOSECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJ

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Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Paulo Passarinho · CoorCoorCoorCoorCoordenadordenadordenadordenadordenadorde Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: Sidney Pascotto ·DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais: RonaldoRangel, Ceci Juruá, Rogério da Silva Rocha, RafaelVieira da Silva, Nelson Le Cocq, Antônio Melki Jr eEduardo Carnos Scaletsky · CoorCoorCoorCoorCoordenador dedenador dedenador dedenador dedenador deRelações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: João Manoel GonçalvesBarbosa· DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais: JúlioMiragaya, Gilberto Caputo Santos, Sandra Maria deSouza, Carlos Tibiriçá Miranda, José Fausto Ferreira,César Homero Lopes, Neuza Salles Carneiro e reginaLúcia Gadioli dos Santos · CoorCoorCoorCoorCoordenador dedenador dedenador dedenador dedenador deDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e Finanças: inanças: inanças: inanças: inanças: Gilberto Alcantara da Cruz ·DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Finanças:inanças:inanças:inanças:inanças: WellingtonLeonardo da Silva e José Jannotti Viegas · ConselhoConselhoConselhoConselhoConselhoFFFFFiscal: iscal: iscal: iscal: iscal: Ademir Figueiredo, Luciano Amaral Pereira eJorge de Oliveira Camargo.

Jornal dos

2 jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005

A hora do desafioGoverno Lula entrou na segundametade de sua gestão sob uma im-placável crise política, que abalou sua

credibilidade e colocou em xeque a ética, aconfiabilidade e o futuro do Partido dos Tra-balhadores. A sucessão de denúncias con-vulsionou o Congresso, atropelando agovernabilidade que hoje Lula tenta restaurar,buscando apoio no PMDB, aparentemente,mais sólido e orgânico.

Não é possível enxergar os horizontesdesta crise. Os desdobramentos que virão sãoinimagináveis. Há um misto de perplexidadee expectativa, que se mesclam a sentimentosde frustração e indignação. Uma vez mais,uma conjuntura inesperada. Como não háproblema sem solução, os dias pela frente se-rão de muita emoção e revelações que nãodeixarão lama sobre lama.

Mas há uma área no governo onde osproblemas se acumulam, desde o seu primei-ro dia – a economia. Contudo, sem a mes-ma visibilidade que agora expõe o campo po-lítico e da administração pública. Não é dehoje que aqui, no JE, sucessivos artigos têmchamado a atenção para o caráter da políticaeconômica em curso: segue a mesma agen-da do governo FHC, até nas práticas mais

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, AM, do Rio, 1360 khz.

O como as de contingenciamentos de inves-timentos nas áreas sociais. Se é verdade quea esperança venceu o medo, disso não resul-tou uma vitória sobre os desafios para retirarda miséria, das ruas e do desemprego amplasmassas da população brasileira. São esses osfocos desta edição.

Ocupam nossas páginas uma entrevistacom Leda Maria Paulani, da USP, presidenteda Sociedade Brasileira de Economia Política,que realizou, em maio, o encontro do qual re-sultou a Carta dos Economistas, cuja íntegrapublicamos nesta edição. Paulani expõe as ra-zões de porque o Governo Lula é neoliberal.

Vocalizando o encontro de Campinas, ovice-presidente da República convidou opresidente do Cofecon para uma avaliação daconjuntura econômica. José Alencar queriasaber de Sidney Pascotto o que pensam os eco-nomistas. E recebeu destes um documentocom 12 propostas que apontam para priorida-des como o mercado interno, o aumento doconsumo das famílias, reforma agrária, distri-buição de renda, redução de juros e davulnerabilidade externa.

Compromissos que, cada vez mais,unificam parcelas mais amplas da sociedade.

Uma boa leitura.

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3jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005

INTERNACIONAL Gisele Rodrigues*

presidente do Senado da Bolívia,Hormando Vaca Díez, promulgou noúltimo dia 17 de maio a temida nova

Lei de Hidrocarbonetos, que essencialmenteaumentou os impostos sobre a exploração degás e petróleo por empresas estrangeiras. Ofato ocorreu depois que o ex-presidenteCarlos Mesa decidiu não vetar nem fazer ob-servações ao texto sancionado pelo Legisla-tivo, nos 10 dias que lhe foram facultadosconstitucionalmente

1

Mesa decidiu não vetar a nova Lei deHidrocarbonetos, apesar de não aprová-la,diante dos protestos convocados pela CentralOperária Boliviana (COB), grupos indígenas,e mineiros camponeses, que ainda querem anacionalização do petróleo e do gás natural.

Porém, sua estratégia foi em vão. Incon-formados com o “pouco grau de naciona-lismo” da nova legislação, tais gruposprovocaram uma onda gigantesca de novosprotestos que culminou com a saída de Mesa.Assumiu o presidente da Suprema Corte,Eduardo Rodriguez – único nome aceito pelosmanifestantes, com o compromisso deconvocar eleições gerais o mais breve possível.

Uma incerteza chamada BolíviaTal mudança tem como ponto de apoio

um referendo convocado pelo ex-presidentee realizado em julho de 2004 (quadro ao lado):

Aprofundamento da crise

Após o plebiscito, o Congresso bolivianopassou a se reunir para analisar os dois proje-tos de lei que foram apresentados: o do ex-presidente Mesa e o da Comissão Mista deDireito Econômico, apoiado pelo partidooposicionista Movimiento al Socialismo(MAS), segunda força política no Congresso

2

.Durante a tramitação, que durou cerca de 10meses, Evo Morales, líder dos agricultoresplantadores de coca

3

e do MAS, com forteschances de chegar ao poder nas próximas elei-

ções presidenciais, lideravabloqueios de estradas emvárias regiões do país. Aomesmo tempo, a COBtentava convocar greves

nos setores de saúde e educação para pressi-onar o Congresso a aprovar uma legislaçãode caráter nacionalista.

A nova Lei de Hidrocarbonetos, promul-gada no dia 17 de maio, tem forte inspiraçãono projeto de lei apoiado pelo MAS, que

acabou por derrotar o projeto de Mesa. Elasubstitui a legislação de 1996, que entregou ocontrole dos hidrocarbonetos a 20 empresaspetrolíferas da Europa, Ásia, EUA, Brasil eArgentina, em troca de 16% de impostos e18% de royalties.

Apesar das mudanças da nova lei que im-pôs, como pedia a oposição, restrições ao ca-pital estrangeiro, os sindicatos e os partidospolíticos oposicionistas não se sentiram to-talmente contemplados. Para eles, o novo tex-to não acolhe corretamente a consulta popu-lar e, entre outras reivindicações, exigem aanulação dos contratos com as empresas es-trangeiras e o aumento de 18% para 50% dosroyalties pela exploração de gás e petróleo.Alguns segmentos (justamente os quelograram a renúncia de Mesa) só se contentamcom a nacionalização total da indústria.

O MAS anunciou que apresentará um pro-jeto para radicalizar a lei. A Câmara Bolivia-na de Hidrocarbonetos, que reúne as petrolí-feras, afirmou, por sua vez, que suas afiliadascontestarão na Justiça as novas normas. “Estalei tem um caráter confiscatório, que afetadireitos reconhecidos pelos contratos, leis econvênios internacionais”, afirma a entidadeem nota distribuída à imprensa.

Referendo Popular sobre o Setor Petróleo

O referendo popular do dia 18 de julho de 2004 consistiu em cinco perguntas sobre o futuroda indústria de hidrocarbonetos do país e contou com a participação de 3 milhões de votantes(ou seja, mais de 50% dos eleitores do país, condição necessária para validade do pleito), eresultou em respostas afirmativas a todas as questões. As perguntas do referendo foram:

1. Você concorda que a atual lei de hidrocarbonetos deve ser alterada?2. Você concorda que o Estado boliviano deve ter direitos sobre os hidrocarbonetos após asua extração?3. Você concorda que a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) [companhia depetróleo privatizada pelo ex-Presidente Gonçalo Sánchez de Lozada] deveria ser restabelecidapara controlar a produção de hidrocarbonetos?4. Você concorda que o gás boliviano deveria ser usado para reconquistar acesso útil e sobe-rano ao Oceano Pacífico?5. Você concorda que o gás boliviano deveria ser exportado e que as multinacionais deve-riam pagar 50% sobre os lucros esperados pelos direitos de exploração do gás boliviano. Eque o governo deveria investir estes recursos em saúde, educação e infra-estrutura?

A Corte Nacional Electoral (CNE) ratificou os resultados do referendo na última semana dejulho, afirmando que a Questão 1 recebeu 86,7% de votos afirmativos; a Questão 2, 92,2%;a Questão 3, 87,2%; a Questão 4, 55% e a Questão 5, 62%.

O

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4 jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005

Mesmo que o atual governo esteja empe-nhado a cumprir fielmente sua agenda, o cli-ma de incerteza na Bolívia está longe de terum ponto final. A instabilidade política boli-viana vem se agudizando desde 2003 (vide

quadro abaixo)4

e não parece mostrar que vaiterminar. A atual agenda política ainda incluia convocação de uma Assembléia NacionalConstituinte, a realização de um plebiscito poruma maior autonomia das províncias ricas empetróleo e gás da região de “Media Luna”(Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando) e a eleiçãodireta para os governadores das províncias.

Todo este clima de incerteza quanto aosmarcos regulatórios do país, aliado a um au-mento global dos tributos para 50% sobre aprodução de hidrocarbonetos, poderá resultarna queda de investimentos exatamente no setormais dinâmico da economia, ceifando empre-gos e emperrando o desenvolvimento do país.O investimento externo na exploração de gásnatural resultou, desde 1997, em um aumentonas reservas de gás de 819%. Com reservasprovadas e avaliadas em 1,48 trilhão de m³,em primeiro de janeiro de 2004, a Bolívia contacom a segunda maior reserva de gás natural daAmérica do Sul (depois da Venezuela).

Entretanto, sem um marco regulatório es-tável que encoraje novos investimentos, é cadavez mais incerto se a Bolívia poderá realizar opotencial oferecido pelo gás e usá-lo como pla-taforma para escapar de sua atual condição deser um dos países mais pobres da América Lati-na. Ao final das contas, “o tiro” dos nacionalis-tas poderá “sair pela culatra”, já que seu ideário

poderá acabar indo de encontro aospróprios e legítimos interesses dopovo boliviano.

Impactos da nova lei

Vejamos os possíveis impac-tos da nova legislação sobreos principais atores econô-micos que atuam no país.

ArgentinaAnalistas do Banco Urquijo afirmam que a

mudança da lei tem impacto negativo expres-sivo para a Repsol. Segundo eles, a Bolívia éum dos principais mercados da empresa, e re-presenta 7% de sua produção e 20% das re-servas totais da Repsol. Atualmente, a Argen-tina compra, diariamente, 4 milhões de m³ dascompanhias petrolíferas instaladas na Bolívia.Porém, o governo de Néstor Kirchner temeque essas empresas possam abandonar suasoperações na Bolívia por causa da alta cargafiscal estabelecida pela nova lei. Por outro lado,existe um temor também relacionado às obrasdo Gasoduto do Nordeste, já que a nova leiaumenta o valor dos tributos, o que poderiacomplicar a sua construção. O presidenteKirchner esperava ampliar a importação de gáspara 20 milhões de m³/d, nos próximos cincoanos, através do Gasoduto do Nordeste, paraatender a demanda interna que não pára decrescer, desde o fim da crise. Com um investi-mento estimado em US$ 1,3 bilhão, a amplia-ção da rede da TGN seria financiada pelo Es-tado e pelas empresas Techint e Repsol-YPF.No entanto, o governo argentino acredita que,agora, a nova lei torna o projeto inviável. Porisso, já iniciou estudos para a elaboração deum “plano B” de provisão de gás, o qual subs-tituiria os poços do norte pelos da região daPatagônia e da plataforma marítima.

BrasilSegundo alguns analistas, a nova lei pode-

rá fazer com que a Petrobras passe areescalonar ou defasar projetos. A Petrobrastem na Bolívia três projetos que podem vir asofrer revisão: o pólo gás-químico, que ficana fronteira entre os dois países; um gasodutono noroeste da Argentina, na fronteira com aBolívia (para a entrada de gás no Brasil porUruguaiana); e a expansão da exploração depetróleo naquele país. Estes projetos são de-senvolvidos pela Petrobras com outras em-presas, não estando sujeitos apenas a uma

1 Segundo o Artigo 78 da Constituição boliviana, as leis não vetadas ou não promulgadas pelo presidente em dez dias desde sua recepção são automaticamente promulgadas pelo Congresso.

2 O partido que tem a maior representação política na Bolívia é o Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR), do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, o Goni, com 36

deputados e 11 senadores, seguido pelo Movimiento al Socialismo (MAS), com 27 deputados e 8 senadores, pelo Movimiento de la Izquierda Revolucionaria (MIR) de Jaime Paz, e do ex-

presidente Paz Zamora, herdeiro da social-democracia, com 26 deputados e 5 senadores e pela Nueva Fuerza Republicana (NFR), de Manfred Reyes Villa, com 25 deputados e 2 senadores.

Os quatro partidos - totalizando 114 deputados e 24 senadores – dominam amplamente a Câmara de 130 deputados e o Senado de 27 membros.

3 A plantação da coca é feita por pequenos agricultores e está intimamente relacionada com a cultura ancestral dos povos de origem indígena que habitam o território boliviano, não tendo

relação direta com o tráfico internacional de cocaína, que exige o refino da pasta feita a partir da folhas de coca. O comércio das folhas na Bolívia está legalizado e tem fins terapêuticos,

estando voltado para o combate, entre outras coisas, do mal-estar provocado pelas grandes altitudes dos Andes.

4 Esta agenda política, que ficou conhecida como o “Acordo de Outubro”, ainda incluía a promessa de convocação, de imediato, do já mencionado referendo (vide quadro) sobre as

disposições básicas de uma nova lei de hidrocarbonetos, bem como a de fazer chegar ao Congresso um projeto de lei de hidrocarbonetos consistente com os resultados da consulta popular,

ambas, conforme visto, já cumpridas por Mesa.

decisão da estatal brasileira. É im-provável uma saída da empresada Bolívia, pelo menos no curtoe médio prazo. Apesar das des-cobertas de novas reservas degás natural em solo nacional, oBrasil hoje depende dogás boliviano para alimen-tar as termoelétricas e ga-rantir o abastecimentocrescente de residências e automóveis. Ade-mais, a Petrobras é responsável por mais de10% do PIB boliviano e qualquer reduçãomais significativa de suas operações compro-meteria a economia do país andino. Os ana-listas já apostam que para preservar as boasrelações, e por ser incapaz de substituir numcurto prazo a fonte de 24 milhões de m³ degás importados da Bolívia (64% da demandado país), a estatal terá de acatar as novas me-didas impostas pela lei e arcar com os prejuí-zos da elevação dos impostos sobre o produ-to, que não poderão ser repassados para asdistribuidoras nacionais, por causa dos con-tratos de longo prazo. Entretanto, não há ne-nhuma previsão de mudança no preço do gásnatural comprado da Bolívia, em função danova legislação boliviana. O preço está pre-visto no contrato e não é um preço spot, quepode ser alterado a qualquer momento.

ChileAtingido por cortes nas importações de gás

da Argentina no decorrer dos últimos 12 me-ses, o que vem colocando em xeque a conti-nuidade do seu crescimento, a nova legislaçãoboliviana só agrava a crise energética da nação.Diante da total impossibilidade de trazer gásda Bolívia para o país, dada a rivalidade políti-ca, o Chile está considerando construir umgasoduto até o Peru e planejando construir umterminal de US$ 400 milhões para receber na-vios-tanque que transportam GNL.

* Economista

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5jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005

m documento com 12propostas de políticas eco-nômicas que, sem abrir

mão da estabilização, reduza avulnerabilidade externa e estimuleo desenvolvimento, a partir daexpansão do mercado interno,aumento do consumo das famí-lias e dos investimentos públicose privados foi entregue ao vice-presidente da República, JoséAlencar, por dirigentes de enti-dades de economia.

O encontro aconteceu por ini-ciativa do próprio vice-presiden-te, que ligou para presidência doConselho Federal de Economiae fez o convite ao presidente doCofecon, Sidney Pascotto. “Elepediu para eu ler um texto do eco-nomista Paulo Rabelo de Castro,que sugeria como um dos cami-nhos para segurar e diminuir a

Economistas levamcríticas a José Alencar

Reunião discutiu os rumos da economia e umnovo encontro ficou de ser marcado, com a pre-sença de Lula e Palocci

influência do sistema financeiroa ampliação do CMN. Eu aceiteio convite e pedi a presença demais alguns companheiros, pro-pondo estender a agenda paramais três questões: Banco Cen-tral independente, controle de ca-pitais e política industrial”, disseo presidente do Cofecon.

A reunião foi realizada no úl-timo dia 30 de maio, com a pre-sença, além de Pascotto, do vice-presidente do Cofecon, NeyJorge Cardin, do conselheiro doCorecon-RJ, Reinaldo Gonçalves,e do coordenador do Sindicatodos Economistas, Paulo SérgioSouto. Alencar concordou com aampliação da pauta e, no encon-tro, segundo Pascotto, houveidentidade de pontos de vista.Ficou o compromisso dele emmarcar um novo encontro, destavez, com a presença do presiden-te Lula e do ministro da Fazen-da, Antonio Palocci.

Na reunião, Alencar falou dapreocupação dele com a taxa dejuros, que aumenta a dívida e exi-ge aumento também do superá-vit primário, deixando a economia

em xeque. Os economistas re-afirmaram a importância do

controle de capitais, lem-brando que o volume desaída de capitais, no Bra-

sil, foi recorde no ano

passado e no primeiro trimestredeste ano, também.

No encontro, a pauta termi-nou sendo ampliada e se discutiua reforma agrária. “Para ele”, re-lata Pascotto, “o ideal seria fazeruma reforma agrária modelo. Ouseja, pegar uma grande área deterra e alojar todas as famílias doMST, mostrando que isso seriaviável. Nós, economistas, acha-mos que não. É preciso, primei-ro, tirar as famílias dos acampa-mentos e assentá-las. Mas, nãobasta dar a terra. Tem que darestrutura também. A reformaagrária não pode se realizar sempreparação, assistência técnica,suporte, sem regularizar a situa-ção dos acampados”, disse.

Fim do Copom

Os economistas frisaram queo país ainda não dispõe de umapolítica industrial, tema que temsido abordado pelo Instituto deEstudos para o Desenvolvimen-to Industrial (Iedi) e que teve aconcordância do vice-presidenteda República. Na área financeira,os economistas defenderam aextinção do Conselho de PolíticaMonetária, o Copom.

“Nós entendemos que ele pre-cisa ser excluído, porque este Con-selho não cumpre um papel posi-tivo para a sociedade. Há pâniconos dias que antecedem às suasreuniões, causando aquela expec-tativa: será que a taxa será mantidaou haverá novo aumento?”, dissePascotto. Já em relação à propos-ta de ampliação do Conselho Mo-netário Nacional (CMN), defen-dida por algumas correntes deeconomistas e entidades da socie-

dade civil, os economistas se dis-seram contrários. Por que?

“Somos contra a ampliação doCMN, com a integração de repre-sentantes da sociedade civil e en-tidades, porque esta é uma áreaestritamente técnica. Portanto, nãotem sentido introduzir discussõespolíticas”, afirmou o presidente doCofecon, acrescentando tambéma posição contrária à tão propaladaindependência do Banco Central.

“O Banco Central é um ins-trumento importante na constru-ção da política monetária do país.Essa independência significa dei-xar os interesses do BC a serviçodos interesses dos bancos inter-

CONJUNTURA

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nacionais. Hoje, isso já acontece.Os atores que dirigem o BC sãooriundos do sistema financeiroprivado e internacional”, frisou.

Os economistas entregaramum documento de análise da eco-nomia brasileira, com 12 propos-tas de medidas econômicas e po-líticas, entre as quais, a reduçãodos juros, o controle do fluxo decapitais e a auditoria da dívidaexterna. A íntegra deste docu-mento está nas páginas seguintes.

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Por uma economiaque reduza a exclusão

6 jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005jornal dos economistas - junho de 2005

POLÍTICA ECONÔMICA

No encontro dos economistas, tendo à frenteo Conselho Federal de Economia, com o vice-presidente da República, José Alencar, foi en-tregue uma Carta ao Governo Lula com pro-postas para uma política econômica alternativa,de combate à exclusão e à desigualdade, cujaíntegra publicamos a seguir.

setor público nas esferas daUnião, estados e municípios. Essefato caracteriza a atual incoerên-cia da política macroeconômica.

Esses juros também inibemos investimentos privados e oconsumo das famílias. Como re-sultado imediato, deve-se desta-car que a expansão da economiabrasileira fica cada vez mais de-pendente da demanda externapor produtos primários e, portan-to, agrava-se o já sério quadro devulnerabilidade externa do país.

É urgente a reversão dessasituação. A questão central resi-de na implementação de um con-junto de políticas consistentesfocadas na estabilização macroe-conômica, no desenvolvimento ena redução da vulnerabilidadeexterna. A estabilização deve serentendida no seu sentido maisrobusto: controle da inflação,crescimento da renda, geração deemprego, acumulação de capital,aumento de produtividade erobustez das finanças públicas.

O desenvolvimento exigemelhor distribuição de riqueza erenda, redução do desemprego,crescente investimento público nainfra-estrutura econômica e soci-al, maiores gastos na educação ena saúde, e expansão da previdên-cia social. Desenvolvimento tam-bém implica construção e forta-lecimento das instituições. Asatuais políticas econômicas e asmedidas tributárias e previden-ciárias recentes impossibilitam aestabilização macroeconômica, odesenvolvimento social e o for-talecimento das instituições.

É ingenuidade imaginar quemaiores coeficientes de exporta-ção significam, necessariamente,

redução da vulnerabilidade exter-na. Os desequilíbrios de fluxos eestoques da economia brasileiracontinuam sérios e, em algunscasos, se agravando. A elevaçãodas exportações, em uma conjun-tura internacional particularmen-te favorável, não afrouxa signifi-cativamente a restrição externa deum país marcado por fortesdesequilíbrios de estoque (passivoexterno), pela crescente libera-lização cambial e financeira e comenorme vulnerabilidade externanas esferas comercial, tecnológica,produtiva e monetário-financeira.

Propostas

Desde o início do atual gover-no, o Conselho Federal de Eco-nomia tem apresentado propos-tas e apoiado sugestões de outrosatores da sociedade civil, no sen-tido de se construir um conjuntode políticas econômicas consis-tentes com a estabilização, a re-dução da vulnerabilidade externae o desenvolvimento assentado,em grande medida, na expansãoda absorção interna (consumodas famílias, investimento priva-do e gastos públicos). Dentre es-sas políticas, vale destacar:1. Redução significativa da taxade juro básica (Selic), que servepara remunerar os títulos públi-cos e, portanto, a taxa de juro pas-sa a ser focada no ajuste das con-tas públicas;2. A taxa de redesconto deve serdesvinculada da taxa Selic e, as-sim, quando houver inflação dedemanda, o BC passar a usar ati-vamente a taxa de redesconto, osdepósitos compulsórios e o IOFpara regular o crédito;

A ticas macroeconômicas e medidastributárias e previdenciárias têmconvergido no sentido de con-solidar um modelo marcado pelacrescente vulnerabilidade externae exclusão social. E isso caracteri-za um grave erro estratégico.

O primeiro resultado desseerro é que a realidade brasileiraatual distancia-se cada vez maisde um projeto de desenvolvimen-to com crescente inclusão social,fortalecimento institucional, me-nor vulnerabilidade externa e as-sentado em bases nacionais.

O segundo resultado é que o“tiro saiu pela culatra”. Ou seja, odesarranjo macroeconômico atualtem gerado sérios problemaseconômicos e sociais que, por seuturno, têm provocado tensõescrescentes na esfera política e nasrelações institucionais. As políticasortodoxas ineficazes e inconsisten-tes têm gerado graves problemasde governança, que compro-metem a própria governabilidade.

Para ilustrar o argumento, to-memos o caso da política mone-tária, mais especificamente, a po-lítica de juros altos focada emmetas irrealistas de inflação. Es-ses juros – os maiores juros reaisdo mundo – inviabilizam qual-quer ajuste fiscal e impõem enor-mes restrições aos orçamentos do

política econômica doatual governo parece tersido definida com o pro-

pósito principal de garantir a go-vernabilidade. O pressuposto éque a estratégia da “linha de menorresistência” – ou seja, o conjuntode políticas ortodoxas – criaria umquadro de maior estabilidadepolítica. Para reduzir as resistên-cias dos grupos dominantes e apressão internacional, o governotem realizado políticas monetária,fiscal e salarial restritivas, eimplementado medidas para amaior liberalização cambial, co-mercial e financeira. Inclusive, al-guns órgãos importantes para agestão macroeconômica foramentregues a representantes de de-terminados grupos dominantes.

E, portanto, nada mudou. Ofato fundamental é que polí-

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7jornal dos economjornal dos economjornal dos economjornal dos economjornal dos economisisisisistas - junho de 2005tas - junho de 2005tas - junho de 2005tas - junho de 2005tas - junho de 2005

3. À medida que a economia seaproximar de uma situação depleno emprego, estabelecer umapolítica de rendas pactuada, comvistas a assegurar a continuidadedo crescimento com relativa es-tabilidade de preços;4. Promover mudanças imedia-tas no sistema de reajuste das ta-rifas de serviços de utilidade pú-blica, no sentido de eliminar oatual sistema de indexação;5. Promover a redução do spread

e dos custos dos serviços presta-dos pelos bancos, por meio daimplementação efetiva de medi-das de defesa do consumidor ede combate às práticas comerci-ais restritivas dos bancos;6. Auditoria da dívida externapública e privada;7. Interrupção da captação derecursos externos pelo setor pú-blico, redução da dívida externado setor público e recomposiçãocontínua das reservas internaci-onais, como um aspecto estraté-gico da gestão macroeconômica;8. Reversão da atual liberalizaçãocambial e financeira, via maiorcontrole da contas de serviços,financeira e de capitais do balan-ço de pagamentos, para impedira evasão de divisas;9. Administração da taxa de câm-bio em nível real favorável às ex-portações e à substituição dasimportações, e compatível com oequilíbrio dos fluxos de capitaisexternos;10. Implementar diferentes tiposde medidas para redução davulnerabilidade externa nas esfe-ras comercial (imposto de expor-tação sobre commodities), produti-

va (avaliação benefício-custo so-cial dos projetos de investimentoexterno direto no país) e tec-nológica (controle dos pagamen-tos no exterior e fortalecimento dosistema nacional de inovações);11. Reverter o processo de des-nacionalização dos setores deprodutos não comercializáveis in-ternacionalmente, de modo a re-duzir a rigidez das contas ex-ternas do país (o que implicacancelar o programa Parceria Pú-blico-Privado);12. Programa de dispêndio públi-co voltado para uma expansão emelhora dos serviços públicos bá-sicos, assim como para investi-mentos de infra-estrutura, sobretu-do transporte, energia, habitação esaneamento, e apoio vigoroso à agri-cultura familiar e à reforma agrária.

Para romper a atual trajetó-ria marcada pela má gestão ma-croeconômica, perda de go-vernança e de governabilidade énecessário que haja reversão daatual política econômica. É im-portante destacar que não se tra-ta de afrouxar marginalmente ameta de inflação e o superávitprimário, controlar capitais espe-culativos, fazer reformas admi-nistrativas ou mudar a composi-ção de órgãos responsáveis pelapolítica econômica. Medidasdessa natureza não mudam a es-sência dos graves problemas quese acumulam.

A questão central não é denatureza técnica ou administrati-va. Trata-se, essencialmente, dedecisões políticas, mais especifi-camente, de vontade e coragempara mudar. O fundamental é aimplementação de um conjuntode políticas econômicas que se-jam consistentes entre si e que,ao mesmo tempo, sejam conver-gentes com um modelo de desen-volvimento com efetiva reduçãoda exclusão, da desigualdade e davulnerabilidade externa.

No que se refere, especifica-mente, ao Conselho Monetário

Nacional, órgão deliberativomáximo da política macroeconô-mica, não se recomenda a sua am-pliação com participantes não-governamentais nos processosdeliberativos. Como responsávelpelas diretrizes, consistência ecoerência da política macro-econômica, o CMN não pode setransformar num foro político deacomodação de interesses se-toriais e particulares. Essesinteresses podem se manifestarnas inúmeras comissões con-sultivas previstas para funciona-mento no âmbito do CMN. Apolitização aumenta o risco deperda de coerência e consistên-cia das políticas. Essa ampliaçãoacarreta, também, a diluição daresponsabilidade quanto à gestãomacroeconômica.

Quanto ao Comitê de Políti-ca Monetária (Copom), a sua sis-temática operacional - de metaspara a inflação e para a taxa de

juro básica - cria uma regra me-díocre de política monetária (taxade juro função da variação de ex-pectativas inflacionárias). Ade-mais, essa regra provoca ênfaseexacerbada no papel da taxa dejuros na estabilidade monetária enegligencia mudanças no mix dapolítica monetária (depósito com-pulsório, taxa de redesconto equantidade de moeda).

Quando da sua criação em1996, o objetivo do Copom foiaumentar a transparência e a co-municação das decisões de polí-tica monetária. Contudo, as deci-sões do Conselho provocam,freqüentemente, turbulência edesconforto dos agentes econô-micos e do próprio governo. Issoacontece em decorrência da su-perexposição das decisões do Co-pom e do foco exagerado da taxade juros no combate à inflação.Recomenda-se, então, a extinçãodo Copom.

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“O governo Lul

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ENTREVISTA

Jornal dos Economistas – A professora tem

apontado que a política econômica do Governo Lula

é neoliberal. Por que?

Leda Maria Paulani – No livro que lanceirecentemente (“Modernidade e DiscursoEconômico”, São Paulo, Boitempo, 2005) eque é uma versão ligeiramente modificada deminha tese de livre-docência defendida naUSP no ano passado, eu mais ou menos tra-ço a história concreta e teórica do neolibera-lismo, cujo pai intelectual é Hayek. Mostro alique o neoliberalismo é uma doutrina e umacoleção de práticas de política econômica. Éuma doutrina porque parte da crença de quea economia de mercado, ou seja, o capitalis-

Leda Maria Paulani, professora de Economia da USP.

Além de professora de economia daUSP, Leda Maria Paulani tambémpreside a Sociedade Brasileira deEconomia Política (SEP), que recen-temente realizou encontro em Cam-pinas, onde aprovou um texto finalque republicamos, nesta edição (pág.11). A Carta de Campinas comple-menta, de certa forma, esta entre-vista, concedida ao JE através docorreio eletrônico. A Carta nos traz as propostas do que seriauma política econômica alternativa à que vigora no GovernoLula, cujos mandatários na área econômica buscam sempreenfatizar que não haveria outra alternativa. “Alternativas exis-tem hoje, como existiam há dois anos e meio”, defende a Car-ta, alinhando uma série de propostas. Paulani acentua duasquestões presentes na atual conjuntura: a afirmação do pro-fessor Chico de Oliveira, de que está em curso no GovernoLula um “seqüestro da sociedade civil” e o fato de, neste mo-delo, qualquer crescimento ser desestabilizador e precisar sercombatido com a alta dos juros.

mo, é o melhor arranjo social que a humani-dade já pôde inventar. Assim, o principal ob-jetivo das práticas de política econômica queprega é reconduzir o mercado ao lugar quede direito lhe pertence e que, segundo seusadvogados, vinha sendo usurpado pelo cres-cente papel do Estado, seja do Estado queintervém para regular a demanda efetiva, sejado Estado que é empresário e investe puxan-do o crescimento econômico, seja do Estadoque produz bens públicos, seja do Estado quegarante a seguridade social. O Governo Lula,em seu conjunto, vem agindo de modo a com-pletar no país a implementação da agenda dereformas inspirada pelo neoliberalismo. Doponto de vista macroeconômico, stricto sensu,esse governo poderia pelo menos ter sinali-zado que iria começar a traçar (mesmo quefosse suavemente) uma mudança de rumo.Mas fez o contrário. Assim, ao invés de bata-lhar por uma redução do já elevado superávitprimário (3,75% do PIB), elevou-o volunta-riamente para 4,25%. Ao invés de começar areduzir os juros (que já haviam sofrido umabrusca elevação em dezembro de 2002 atin-gindo 22% anuais), aumentou-o para 26%.Não contente promoveu, em fevereiro, se nãome falha a memória, uma elevação no re-desconto bancário que significou um corte de10% nos meios de pagamento da economia.

JE – O Banco Central e o Copom têm justificado a

elevação dos juros e a manutenção da Selic nas alturas

de 19,75% ao ano como fundamental para o combate

à inflação. Qual a sua opinião e o que a professora

pensa a respeito do sistema de metas de inflação?

Paulani – Aqui me valho de especialistas emíndices de preços, que são praticamente unâ-nimes em avaliar a impropriedade de um re-gime de metas em um ambiente de forte pre-sença de preços administrados (algunsestimam em 30%, outros em 40% o peso des-ses preços nos diferentes índices) e de regimede câmbio flutuante. (Em 2002, de nada adi-antou o regime de metas quando o terroris-mo eleitoral fez a taxa de câmbio sofrer umaabrupta elevação.) Nessas circunstâncias, ele-ger a taxa de juros como a arma primordial

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do controle inflacionário é algo que gira emfalso e traz perversas conseqüências do pon-to de vista do produto e do emprego.

JE – A professora afirmou, em uma entrevista, que

o processo inflacionário e a valorização do dólar já

mostravam sinais de arrefecimento, acomodação e recuo

na passagem de 2002 para 2003. Isso significa que

as medidas econômicas adotadas logo no início do Go-

verno Lula não seriam necessárias?

Paulani – O que disse é que todo mundosabia que, assim que fosse integralmente ab-sorvido o impacto da elevação do câmbiosobre os preços internos, a taxa de inflaçãovoltaria a seus níveis anteriores (em maio de2003 vários dos indicadores tiveram inclusi-ve variação negativa). Disse também quecomo a taxa de câmbio estava superdesvalo-rizada ela também sinalizava favoravelmentedo ponto de vista das expectativas inflacio-nárias (depois de ter subido tanto, sua ten-dência seria inevitavelmente a queda, uma vezassimilado o novo governo pelo mercado).Portanto, havia espaço (que é maior do queaquele que há hoje) para mudanças. Dizemaqueles que estão no dia-a-dia do mercadoque, àquelas alturas, o efeito Lula já estavadevidamente “precificado”, indicando clara-mente o espaço, ainda que reduzido, que exis-tia então para uma mudança de rumo. Mas,para surpresa de todos, o novo governo nãocobrou a fatura.

JE – Como analisa as afirmações do ministro da

Fazenda, Antonio Palloci, que diz ser a política eco-

nômica atual aquela que levará o país a um cresci-

mento sustentado?

Paulani – Considero-as absolutamentefalaciosas. Nesta lógica da credibilidade quepreside e dá as linhas mestras desse modelo

não há lugar para o crescimento sustentado.Como diz a Carta de Campinas (documentoaprovado no X Encontro da Sociedade Brasi-leira de Economia Política), neste modelo, ocrescimento econômico (em nome do qual sediz que ele é adotado) aparece como uma ame-aça. Qualquer pequena aceleração no ritmo decrescimento já deixa os gestores da políticaeconômica de cabelo em pé – e tome taxa dejuros para “desaquecer” a economia. Então, nãohá como imaginar que da insistência na utili-zação dessa política saiam as condições para ocrescimento sustentado da economia brasileira.

JE – O crescimento de 0,3% do PIB no primeiro

trimestre é apenas um resultado pontual ou mostra

uma tendência de reversão da retomada da economia?

Paulani – Bem, por tudo que já foi dito ima-gino que vocês adivinhem qual minha opi-nião. Claro que não se trata de um resultadopontual. Não podemos nos esquecer que,desde a metade do ano passado, o Copomvem aumentando sistematicamente a taxa dejuros (só agora, em junho, não houve eleva-ção, mas foi quase um ano de aumentoininterrupto). Seria um milagre se não tivesseacontecido nada com o ritmo de crescimentodo produto. Além disso, não podemos igual-mente esquecer que também o câmbio vem,desde meados do ano passado, se valorizan-do perigosamente, chegando hoje a níveissobre os quais já se pode dizer que se trata deuma reedição da farra cambial acontecida noGoverno FHC. Ora, como há um lag entre asmudanças abruptas no câmbio e o compor-tamento da balança comercial, creio que asconseqüências dessa farra ainda estão por servistas e elas só não serão maiores graças àconjuntura internacionalmente favorável aospreços dos bens que têm grande peso na pautade exportações do Brasil. Sendo assim, have-rá uma pressão desaceleradora sobre o com-ponente da demanda agregada, que foi, semnenhuma dúvida, o grande responsável pelaretomada do crescimento em 2004 (as expor-tações). Fora isso, o consumo continua tolhi-do pela queda dos rendimentos do trabalho, oinvestimento pela desmesurada taxa de juros e

os gastos públicos pela exigência de superávitsdraconianos. Dá para acreditar que os 0,3 %foram apenas um acidente de percurso?

JE – A política externa do atual governo é a mais

elogiada, mesmo entre os críticos da ortodoxia econômi-

ca. Concorda com esta avaliação positiva?

Paulani – A política externa do governo éambígua. Dá uma no cravo e outra na ferra-dura. Cria o grupo dos 22, mas manda tro-pas ao Haiti. Faz a Cúpula América do Sul –Países Árabes, mas joga tudo que pode con-tra a renegociação argentina. Não acho queseja possível separar as coisas desta forma.Se no plano interno a política aplicada é fran-camente defensora dos interesses que não sãoos nacionais nem os que jogam a favor daimensa maioria da população, muito estranhoseria se no plano externo estivesse sendo de-senhada e praticada uma verdadeira políticade enfrentamento com os interesses do gran-de capital e dos países hegemônicos, particu-larmente, os Estados Unidos. De fato, tam-bém aqui, o Governo Lula perdeu e estáperdendo uma chance histórica de liderar ocontinente e levantá-lo. Fernando Henriquetambém tinha essa condição. Mas seu proje-to nunca foi o de um governo democrático epopular que estrategicamente zelasse pelosinteresses da América Latina como um todo.O mesmo não se pode dizer de Lula e do PT.

JE – Nas atuais circunstâncias, com a deflagração

da crise política a partir das denúncias de corrupção,

há alguma possibilidade de mudança de rumo na

economia?

Paulani – Como disse anteriormente creioque o preço a pagar por uma alteração de

A política externa do gover-no é ambígua. Dá uma nocravo e outra na ferradura.Cria o grupo dos 22, masmanda tropas ao Haiti. Faza Cúpula América do Sul –Países Árabes, mas jogatudo que pode contra arenegociação argentina

O Governo Lula perdeu eestá perdendo uma chan-ce histórica de liderar ocontinente e levantá-lo

a é neoliberal”

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rumo é agora muito maior do que antes.Como não se cobrou a fatura no devido tem-po, ela prescreveu. Agora, portanto, a manu-tenção da tão propalada credibilidade exter-na só se efetiva a um preço muito mais elevado(taxa de juros nas alturas, superávits aindamais draconianos etc.). Claro que nesse con-texto o surgimento de uma crise política des-sa dimensão e que produziu a impensável de-missão do todo poderoso da Casa Civil sócontribui para agravar essa situação, fazendoo preço da mudança subir ainda mais. Masnão creio que isso preocupe o Planalto, poisnão me parece haver nenhuma intenção demudar de rota. Nesse sentido, aliás, a quedade José Dirceu facilita ainda mais as coisas,pois Palocci fica estrela solitária e não temmais de, a cada passo, disputar a primazia po-lítica, travando uma luta surda com a outraestrela. Em outras palavras,dentro do próprio governohaverá agora, creio, menospressão contrária às políti-cas ensandecidas da Fazen-da e do Banco Central.

JE – Que conclusões a professo-

ra retira do atual momento que

o país vive?

Paulani – Falo aqui apenascomo cidadã de meu país emilitante do PT ao longo demais de 20 anos. Meu ins-trumental teórico não mepermite fazer uma análise mais rigorosa des-sas questões estritamente políticas, tais comosistema partidário, alianças e governabilidade(afinal, sou só uma economista). Evidente-mente, de meu ponto de vista, a escolha dasalianças eleitorais em 2002 já causava enor-me preocupação. Com essas alianças, nos per-guntávamos: como conseguirá o PT fazer umgoverno genuíno, ético e fiel a seu programa?Em todo caso, prevaleceu em muitos de nósa ilusão de que se tratava simplesmente deuma aliança estratégica, absolutamente neces-sária para fazer a elite engolir o sapo barbu-do. Mas, cedo se percebeu que não se tratavade nada disso. Governo empossado, as alian-ças continuaram e foram se tornando cada

vez mais conservadoras (incorporando PTB,PP etc.) e elas foram sendo necessárias nãopara aprovação de projetos de inegável inte-resse da Nação, mas para projetos que vio-lam a Constituição, como a reforma da Pre-vidência, ou projetos de interesse no mínimoduvidoso, como o dos transgênicos. Acho queo Brasil vive, para muitos de nós, que tive-mos nossa história política ligada a esse par-tido, e para a esquerda de modo geral, ummomento de profundo desalento. Mas, paraa parcela da população que tinha pânico dever Lula e o PT instalados no planalto cen-tral, o atual governo, com crise política e tudo,

tem se revelado uma gratasurpresa. Do ponto de vis-ta dos interesses dessa par-cela, esse governo tem ain-da a vantagem de conseguirtolher e abafar a capacidadede luta e de contestação demovimentos sociais fortescomo o MST. O professorFrancisco de Oliveira refe-riu-se a esse processo deuma forma que me parecelapidar. Segundo ele, pormeio do Governo Lula estáem curso um processo de

“seqüestro da sociedade civil”. É exatamenteo que eu acho. Mas isso não quer dizer quepoliticamente o governo não sofra contesta-ção. Ainda que não haja disputa de projetos,pois os projetos de ambos são rigorosamen-te idênticos, continua uma acirrada disputapelo poder entre as duas agremiações parti-dárias que nasceram nos estertores da dita-dura e que hoje dominam a cena política,PSDB e PT. É evidente que a crise interessaao PSDB, pois enfraquece Lula e diminui aschances de sua reeleição. Mas o que não dápara aceitar é a tese de que se trata aí de umaarmação política dos tucanos com a mídiapara desestabilizar o Governo de Lula. Che-

ga-se à estupidez de se falar em golpe da di-reita. Mas, como assim golpe “da direita”? Poracaso, esse governo é de esquerda? E, de novo,como assim, “golpe”? Até onde consigo en-xergar, golpes só se colocam no horizontequando grandes interesses são ameaçados(vide Chavez na Venezuela). Mas este não é,de modo algum, o caso do Governo Lula,antes o contrário (vide a reforma agrária, quenão sai do lugar).

JE – Alguma questão que a professora gostaria de

abordar e que não estão presentes nas perguntas

formuladas?

Paulani – Gostaria de retomar a caracteriza-ção feita do atual governo como um governoneoliberal. O que é preciso ter claro é que oneoliberalismo não se deve apenas à ortodo-xia macroeconômica, ainda que ela seja partedisso. Trata-se de uma concepção completade governo e que inclui, entre outras coisas, aredução da política econômica à agenda micro(já que os graus de liberdade na condução dapolítica macro são tomados como nulos).Nesse desenho, cabe ao governo tão-somen-te a preparação do ambiente de negócios, agarantia do respeito aos contratos, a criaçãoe manutenção de atrativos ao capital estran-geiro, em outras palavras, uma espécie de ver-são institucional da chamada supply-side

economics. Enquanto se prepara o lado da ofertapara o crescimento, faz-se o contrário com olado da demanda, por todas as razões já enun-ciadas. Em um contexto como esse seria pre-ciso um batalhão de ousados empresáriosschumpeterianos para que a economiadeslanchasse. Do lado das questões sociais,ao invés de se preparar o Estado para amelhoria de qualidade e para a universalizaçãodo fornecimento de bens públicos, compri-me-se o papel do Estado e, numa espécie dereconhecimento implícito de que tal modelonão é mesmo para todos, concede-se umaesmola à imensa parcela pauperizada edesarraigada da população (compare-se os R$150 bilhões anuais gastos com juros aos R$10 bilhões anuais gastos com programas so-ciais). Essa concepção de política social não éestranha ao neoliberalismo, muito ao contrá-rio. Faz parte do figurino.

Chega-se à estupidez de se falar em golpe da direita. Mas, comoassim golpe “da direita”? Por acaso, esse governo é de esquerda?

Em um contexto como esse seria preciso um batalhão de ousadosempresários schumpeterianos para que a economia deslanchasse

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X ENCONTRO DA SEP

Carta de Campinas

É hora de enfrentar os desafios

economia brasileira pati-na há um quarto de sé-culo. A crise das dívidas

transformou os anos de 1980 nadécada perdida. A década se-guinte foi ainda mais funesta: aagenda neoliberal foi adotada evendida como programa de “mo-dernização” da nação. O que re-sultou disso foi o aumento davulnerabilidade externa e o apro-fundamento da secular desigual-dade social do País.

A vitória de Lula nas eleiçõesde 2002 acenou para a possibili-dade de inversão dessa trajetória,mas o novo governo não apre-sentou um projeto alternativo àagenda neoliberal. A submissãoincondicional da economia bra-sileira aos movimentos do capi-tal financeiro destruiu mais estaesperança. A política monetáriaortodoxa, que, em ambiente decâmbio flexível e forte presençade preços administrados, preten-de controlar a inflação por meiode um modelo de metas, sufocaa possibilidade de crescimentosustentado, pois o próprio cres-cimento aparece como variáveldesestabilizadora e provoca ime-diatos aumentos de uma taxa dejuros já muito elevada.

A sociedade não pode maistolerar que se troque o empregodos brasileiros pelo sucesso des-sa política. Ao contrário, é preci-so renegociar as políticas de rea-juste dos preços dos monopólios

privados de serviços de utilidadepública e restaurar o controle so-bre a política cambial, abolindo alivre movimentação de capitais decurto prazo.

O controle sobre os fluxos decapital é também condição fun-damental para que o Brasil con-siga se livrar da armadilha davulnerabilidade externa. Mesmocom resultados promissores naconta corrente, o País ainda nãoconseguiu livrar-se dessa arma-dilha, já que a liberdade dessesfluxos, combinada à maior taxade juros do planeta, produz apre-

ciação da moeda nacional emresposta à intensificação da en-trada de divisas. O governo nadafaz frente a esse temerário mo-vimento do câmbio, porque oaumento do estoque de reservascusta muito caro aos cofres pú-blicos, dado o desmesurado pre-ço do serviço da dívida e por-que interessa a utilização docâmbio como âncora do sistemade preços. Fecha-se assim o cír-culo vicioso da “credibilidade”que aprisiona a economia brasi-leira e assenta em areia movedi-ça seus “fundamentos”.

Realizado entre os dias 24 e 27 de maio último, o X Encontro da Sociedade Brasileira deEconomia Política (SEP) aprovou a Carta de Campinas, cuja íntegra publicamos a se-guir. Nela, a defesa de uma política alternativa, voltada para o resgate de uma políticasocial que tenha como foco o solidarismo e a universalização dos bens públicos.

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Caminho do solidarismo

A camisa-de-força da ma-croeconomia reduz a políticaeconômica à agenda micro, àmelhoria do “ambiente de negó-cios”, às reformas institucionaisque buscam “garantir os contra-tos”, às iniciativas para mostraro país como lugar seguro para osinvestimentos estrangeiros. Àpreocupação com as reformasmicroeconômicas corresponde o

descaso com a produção e a de-manda. Os investimentos nãodeslancham, o consumo é tolhi-do pelo desemprego e pela que-da dos rendimentos do trabalho,e os gastos públicos são constran-gidos por superávits primáriosdraconianos. Comprimem-se osgastos sociais e investimentospúblicos de um lado, para que deoutro sejam abundantementecontemplados os interesses ren-tistas das elites.

É preciso reverter imediata-mente esta política que produzuma alocação perversa dos recur-sos públicos, impedindo o desen-

A estrutura tributária continua regressivae a reforma agrária não sai do lugar. Énecessário atacar imediatamente essesproblemas

volvimento da infra-estrutura dopaís e condenando os gastos so-ciais a uma dieta rígida, que im-possibilita o necessário aumentoda oferta de bens públicos e amelhoria de sua qualidade.

A política social não sofre ape-nas com a escassez de recursos. Aadesão irrestrita ao receituárioneoliberal torna-a também equi-vocada, consagrando a fratura so-cial mais do que a atenuando. Épreciso resgatar o verdadeiro sen-tido dessa política, colocando-a nocaminho do solidarismo e dauniversalização dos bens públicosque constituem sua essência.

Finalmente, a ausência de umprojeto nacional de desenvolvi-mento deixa intocada a confor-mação patrimonial e de renda dopaís. A estrutura tributária conti-nua regressiva e a reforma agrá-ria não sai do lugar. É necessárioatacar imediatamente esses pro-blemas, implementando mu-danças que permitam a progres-sividade efetiva dos tributos eautorizando medidas que, hámuito já existem, para que se co-mece a reverter uma estruturaagrária absolutamente inaceitável.

Todas essas medidas só setornarão possíveis se o modeloneoliberal for abandonado. Comoo Governo Lula nada fez para si-nalizar essa alteração de rota, ten-do ao contrário aprofundado ain-da mais as amarras que prendemo País aos imperativos desse mo-delo, o custo da reversão é hojemuito mais elevado. Mas, à ma-nutenção de uma situação econô-mica deplorável somam-se hojeo esgarçamento do tecido sociale o aumento da tensão política,

produzidos fundamentalmentepela anomia na gestão da políticaeconômica. Assim, para que opaís não se afunde em uma criseinstitucional mais grave, é preci-so enfrentar esse desafio e pro-mover a imediata alteração daatual política econômica.

O governo tem justificado suaopção não apenas com o argu-mento de que não há outra saída,mas com a pregação de que esteé o caminho correto, “cientifica-mente comprovado”, o únicocoerente com os supostos funda-mentos da ciência econômica.

Os economistas reunidos noX Encontro da Sociedade Brasi-leira de Economia Política, emCampinas (SP), vêm a públicomanifestar sua discordância dapolítica econômica como umtodo e sua indignação com os ca-minhos tomados pelo País, emum governo outrora consideradotão promissor do ponto de vistada construção da Nação e da afir-mação de sua soberania. Reiteramque não há paradigma único emciência econômica, assim comonão há caminho único em políti-ca econômica.

Alternativas existem hoje,como existiam há dois anos e meio.Ter optado pelo curso que levou àatual situação foi uma questão deescolha política e perseverar nelesignifica compactuar com a mes-ma agenda anti-social e antinacionalaberta nos anos de 1990.

Campinas, 26 de maio de 2005

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ntrodução à filosofia, estatística e matemá-tica financeira são alguns exemplos dos cur-sos que vêm sendo promovidos pelo

Corecon-RJ. Um dos que tem maior procura éo que prepara estudantes e profissionais paraos exames da Associação Nacional dos Cen-tros de Pós-Graduação em Economia (Anpec).Com aulas todos os dias, de 18h45 às 21h30,o curso da Anpec vai de janeiro a outubro, comcarga horária de 577 horas/aula.

“O curso da Anpec prepara o aluno quevai fazer mestrado em Economia. Seguimos oconteúdo das provas já realizadas, oferecendoaulas de macro e microeconomia, matemáticae estatística. A Anpec é um órgão que centralizatodo o mestrado em Economia, no Brasil”,afirma Creuza Stephen, secretária de cursos.Segundo ela, o curso do Corecon-RJ tem umnível de aprovação muito alto, cerca de 70%.

Cursos complementam o ensino

“O Conselho decidiu criar a Secretaria deCursos para qualificar os economistas. Todoseles são de aperfeiçoamento em economia. Aprioridade é atender profissionais já forma-dos e estudantes, possibilitando um melhorpreparo profissional”, completou Stephen.

Pedro Metri, estudante de Economia daUFRJ, está fazendo o curso preparatório paraAnpec. “Tem matérias que estão preenchen-do algumas lacunas que ficaram em relaçãoao que aprendi na faculdade, como a de Cál-culo. Isso é muito importante para uma pro-va como a da Anpec que, geralmente, temmuitas armadilhas. É a primeira vez que ten-to este exame e estou otimista quanto ao re-sultado. Temos professores muito bons, quemostram disposição e interesse”.

Para Lorena Cássia Barros, estudante deEconomia da Rural (UFRRJ), o curso está sen-do satisfatório e conciso, pois, “o que faltou nafaculdade, eles estão cobrindo. Principalmentea matéria de Cálculo, que foi muito deficiente eaqui está sendo cumprida toda a ementa, indoalém dela, o que a prova da Anpec exige”.

NOTÍCIAS DO CORECON

Cursos investem na qualificaçãoConselho vem promovendo cursos de qualificação nas instalações do 16º, que foram reforma-das e ampliadas para atender maior número de alunos e profissionais

O professor Attílio Guaspari conhecebem estas dificuldades. Há 30 anos ensi-nando Estatística, ele frisou que o segredoé tornar o assunto mais leve, ou seja,desmistificar o medo que os estudantes têmsobre o assunto.

“O curso atende ao programa da Anpec.E como faço isso? Colocando a teoria de umaoutra forma, mais fácil e mais lógica, pegan-do sempre os exercícios das provas anterio-res. Esse curso tem alguma dificuldade por-

alunos. “No final do ano, apresento um ba-lanço para os conselheiros, com a avaliaçãofeita pelos participantes”, diz Stephen. Aescolha dos temas é feita de acordo com ademanda apresentada por estudantes e pro-fissionais, tendo o cuidado, inclusive, de or-ganizar cursos cujos temas são atuais.

“Seguindo esta linha, temos o de Globali-zação Financeira e o de Regime Monetário: aexperiência do real. Como funciona a esco-lha? Eu recebo uma proposta e encaminho

I

O curso da Anpec é um dos mais procurados por estudantes e profissionais de Economia

que, geralmente, os alunos tiveram um cursofraco de Estatística na faculdade. Minha aulaé sempre muito brincalhona, com palavrassimples. Assim fica mais fácil de entender”,disse ele ao JE.

Segundo semestre

Para o segundo semestre estão progra-mados os cursos “Regime Monetário: teo-ria”; “Globalização Financeira”; “Introdu-ção à Crítica da Economia Política”;“Tomada de Decisão em Projetos”, entre ou-tros que estão sendo avaliados pelo Con-selho. Todos os cursos são avaliados pelos

aos conselheiros. O plenário do Conselho temcomissões que acompanham as diversas ati-vidades. Em nosso caso, quatro conselheirosestão à frente do trabalho, na Secretaria deCursos”, conta.

Na última semana de junho foi realizadoo curso “Economia e Meio Ambiente”. Noprograma, economia e meio ambiente, dile-mas, desenvolvimento sustentável, proteçãoambiental, gestão ambiental, recursos e con-flitos e relação sociedade/meio ambiente.

Inscrições, ementas, conteúdos programá-ticos e outras informações podem ser obti-das através da página do Conselho na internet:www.corecon-rj.org.br.

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FÓRUM POPULAR DE ORÇAMENTO

altando aproximadamente dois anos para

a realização do Pan de 2007, no Rio, cada

vez mais cresce a mobilização e a discus-

são em torno da sua implementação. Tal

mobilização parte tanto da iniciativa pública

quanto da sociedade civil organizada.

Há uma corrente entusiasta, que vê os jo-

gos como uma oportunidade de incentivo à

atividade econômica e de ganhos financeiros, e

uma outra, também entusiasta, porém, caute-

losa e preocupada com o deslocamento das

prioridades de gastos públicos para a estrutu-

ração do Pan e seus possíveis impactos. As

mudanças profundas para toda a cidade serão

capazes de ser um ‘divisor de águas’ da cidade,

para o bem ou para o mal.

Dentre os seguidores da segunda corrente

encontramos diversos segmentos da sociedade

civil organizada, agrupados no Comitê Social

do Pan, pesquisadores do Instituto Virtual do

Esporte, de diversas universidades e represen-

tantes de movimentos sociais, inclusive, de

moradores de áreas afetadas pelo evento vin-

douro. Seu objetivo central é intervir critica-

mente na implementação do Pan.

Um dos instrumentos a ser utilizado será

de se reavivar a Agenda Social, criada por

Herbert de Souza, o Betinho, em 1996, que fi-

cou esquecida desde a perda da candidatura do

Rio como cidade-sede das Olimpíadas de 2004.

O foco principal desta iniciativa é formar um

movimento social, que envolva a sociedade ci-

vil e o Governo, voltado para a melhoria da

qualidade de vida no município.

Monitoramento do Pan

Quanto ao empenho do governo munici-

pal, no que concerne à condução dos prepa-

rativos para o evento, houve a recente criação

de uma secretaria exclusiva para tratar de as-

suntos pertinentes ao Pan, a Secretaria Espe-

cial Rio 2007.

Notamos que, aproximadamente, 35% da

autorização de gastos aprovados pela L.O.A.

para o Programa foram cancelados e remane-

jados para diversos Programas de Trabalho.

Cabe ressaltar que não identificamos a quan-

tia específica para cada rubrica. Como o mo-

tivo dessa movimentação orçamentária não foi

Pan para todos os gostos

Orçamento da União

A proposta de LDO para vigorar no último ano do Governo Lula tem um mérito inquestionável (ediferente das cariocas): apresentar de forma clara e objetiva a sua prioridade e meta central para 2006.A leitura do caput do art. 2º não deixa margem para dúvida de que a obtenção do superávit primário de4,25% do PIB é o elemento determinante da ação governamental. Suplementarmente foi inserido umdispositivo limitador dos gastos sociais em 17% do PIB. Há ainda um inédito teto para a receita, estima-da em 16% do PIB.

A explicitação de tais objetivos demonstram que a política econômica adotada segue à risca osparâmetros norteadores do Consenso de Washington e impostos pelos organismos multilaterais aospaíses em desenvolvimento, qual seja: disciplina fiscal, redução dos gastos e reforma tributária. Destarte,fica fácil entender o porquê da não renovação do acordo com FMI, pois a “austeridade”, antes umaobrigação contratual internacional, agora é fixada por força legal.

O Fórum Brasil de Orçamento, discordante da prioridade governamental, apresentou sugestão deemenda que enfrenta a política econômica ao propor a supressão do art. 2º. Tal qual o FPORJ faz nacidade do Rio o FBO também apresentou sugestões de emendas objetivando a valorização das compe-tências constitucionais da LDO.

LDO do Rio

Foi publicado o 16º projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do Rio, com vistas ao exercíciofinanceiro de 2006. A LDO é elemento central na definição de políticas públicas. Entretanto, o trata-mento recebido por ela nessas 16 edições está mais para um mero cumprimento burocrático e de poucautilidade para o planejamento governamental do que para um importante instrumento de avaliação efiscalização da atuação pública em nossa cidade.

Tal postura é verificada a cada ano na impossibilidade de se identificar a(s) prioridade(s) governa-mental (is), no disfarce do destino dos recursos públicos, decorrente de alteração na legislação tributáriae na falta de avaliação dos programas executados. Este ano, por ser o primeiro do atual mandato, apouca relevância da LDO é agravada pela ausência de metas e prioridades, explicada pelo descompasso(verdadeiro) dos prazos entre o Plano Plurianual (30 de agosto) e a LDO (15 de abril) uma vez que osegundo diploma legal é subordinado ao primeiro. Porém, consideramos injustificável a ocultação doque é prioritário para 2006.

De toda sorte, o fórum apresentou, como de praxe, sugestões de emendas no sentido de evidenciaras prioridades, aprofundar a participação popular no processo orçamentário e clarificar os dados orça-mentários. Destacamos, porém, uma emenda inspirada e sugerida pelo Comitê Social do Pan, a qualdetermina a priorização dos gastos municipais com a implementação dos Jogos.

As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.CoorCoorCoorCoorCoordenação Exdenação Exdenação Exdenação Exdenação Executiva: ecutiva: ecutiva: ecutiva: ecutiva: Conselheira Conselheira Conselheira Conselheira Conselheira RRRRRuth Esputh Esputh Esputh Esputh Espiiiiinolanolanolanolanola Soriano de Mello Soriano de Mello Soriano de Mello Soriano de Mello Soriano de Mello,,,,, Super Super Super Super Supervisão Técnica: economista visão Técnica: economista visão Técnica: economista visão Técnica: economista visão Técnica: economista Luiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario Behnken.en.en.en.en.

Estagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago MarEstagiários: Thiago Marquesquesquesquesques, Ana Malbur, Ana Malbur, Ana Malbur, Ana Malbur, Ana Malburg e Júlia Martinsg e Júlia Martinsg e Júlia Martinsg e Júlia Martinsg e Júlia Martins . . . . . Colaboração dos pesquisadorColaboração dos pesquisadorColaboração dos pesquisadorColaboração dos pesquisadorColaboração dos pesquisadores em finanças públicas: Pes em finanças públicas: Pes em finanças públicas: Pes em finanças públicas: Pes em finanças públicas: Paula Mota e Raula Mota e Raula Mota e Raula Mota e Raula Mota e Renato Elman.enato Elman.enato Elman.enato Elman.enato Elman.Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br

Dotação Inicial – aprovadapela Lei Orçamentária Anual (LOA): 81.631.170,00 100%Cancelamentos da Dotação Inicial: ( - ) 28.318.766,63 35%Acréscimos à Dotação Inicial: ( + ) 654.000,00 1%Valor Contingenciado: ( - ) 2.066.526,05 3%Dotação Atualizada: ( = ) 51.899.877,32 64%Valor Empenhado da Dotação Atualizada: 47.590.562,27 58%Valor Liquidado: 24.447.160,16 30%Valores de 01/01/2005 a 07/06/2005

explicitado nos decretos pertinentes, não po-

demos avaliar se isso significa um deslocamen-

to de prioridade em relação aos preparativos

para o evento. É preocupante, contudo, per-

ceber que a autorização de gastos retirada do

programa voltado para o Pan não será

reaproveitada em sua totalidade para Progra-

mas da Agenda Social.

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CURSOS DO CORECON/RJPROGRAMAÇÃO DE CURSOS PARA 2005Globalização Financeira: impactos macroeconômicos e mecanismos de defesa – de 1º de agosto a 5 de setembro – às segundas-feiras, das 18h30 às 21h30– Professores Jennifer Hermann e João Sicsú - Curso de 18 horas-aulaR$150,00 (para Economistas e estudantes de Economia registrados e em dia) R$175,00 (paraos não registrados no Conselho e demais áreas profissionais)

História do pensamento econômico: grandes pensadores - de 23 de agosto a 18 de outubro - de 14h às 16h50 – Professor André Guimarães Augusto -Curso de 24 horas-aula- R$180,00 (para Economistas e estudantes de Economia registrados e em dia)- R$220,00 (para profissionais de outras áreas e economistase estudantes não registrados).

Regimes monetários: teoria – 1º módulo – 4 a 25 de julhoRegimes monetários: experiência do Real – 2º módulo – 4 a 25 de outubroProfessor André de MelloModenesi - Curso de 12 horas-aula – cada módulo- R$120,00 (para Economistas e estudantes de Economia registrados e em dia)- R$150,00 (para outros profissionaise Economistas e estudantes não registrados)

Introdução à crítica da economia política: o pensamento de Karl Marx – de 4 de agosto a 22 de setembro - às quintas-feiras – de 18h45 às 20h30 –Professores Pablo Bielschowsky e Rodrigo Castelo Branco - Curso de 16 horas-aula- Para Economistas e estudantes de economia registrados e em dia: R$90,00-Para outros profissionais, estudantes de economia não registrados: R$110,00

Tomada de Decisão em Projetos - dias 6, 20 e 27 de agosto – 10, 17 e 24 de setembro; e 1 e 8 de outubro – sábados - de 9h30 às 12h20 - Professor Eduardo SáFortes - Curso de 24 horas-aula- Para Economistas e estudantes de economia registrados e em dia: R$170,00- Para outros profissionais, estudantes de economianão registrados: R$210,00

Matemática Financeira: tópicos avançados - 16 de agosto a 4 de outubro de 2005 - Aulas às terças-feiras, de 18h45 às 21h30 - Professora Sílvia dos ReisAlcântara Duarte - Curso de 24 horas-aula- Para Economistas e estudantes de economia registrados e em dia: R$170,00- Para outros profissionais, estudantes deeconomia não registrados: R$210,00

Curso Aperfeiçoamento em Estatística - de 19 de agosto a 7 de outubro - as sextas-feiras - de 18h45 às 21h30 - Professora Márcia Marques de Carvalho - Cursode 24 horas-aula- Para Economistas e estudantes de economia registrados no Conselho: R$180,00- Para profissionais de outras áreas e economistas e estudantesnão registrados: R$220,00

O pensamento econômico de Keynes - de 12 de setembro a 31 de outubro de 2005 - às segundas-feiras - de 18h45 às 20h30 - Professores Jennifer Hermanne João Sicsú (entre outros) - Curso de 16 horas-aula- Para Economistas e estudantes de economia registrados no Conselho: R$130,00- Para profissionais de outrasáreas e economistas e estudantes não registrados: R$155,00

Uma introdução ao pensamento trágico: a crise da razão e dos valores no mundo contemporâneo - de 14 de setembro a 30 de outubro - às quartas-feiras– de 18h45 às 21h30 – Sob a coordenação de Miguel Angel de Barrenechea tendo como professor convidado Luiz Celso Pinho - Curso de Filosofia de 30 horas-aula- Para Economistas e estudantes de economia registrados no Conselho: R$250,00- Para profissionais de outras áreas e economistas e estudantes: R$280,00

Adicione o endereço http://www.economistas.org.br em seus Favoritos Viste a página para obter os conteúdos programáticos e fazer inscrições

Corecon seleciona economistaspara o XVI Congresso

Corecon-RJ selecionará dois economistas para integrar adelegação da entidade que estará em Florianópolis, de 4 a 7 deoutubro, participando do XVI Congresso Brasileiro de

Economistas. A escolha será feita através da seleção dos dois melhoresartigos sobre o tema “A economia regional: desenvolvimento do Riode Janeiro”. Os vencedores receberão passagens aéreas de ida e voltae estadia na capital catarinense.

Os interessados devem enviar os artigos em até 10 mil caracteres,espaço simples, na fonte “Times New Roman”, em corpo 12. O prazopara inscrição é até 30 de agosto e os artigos devem ser enviados parao correio [email protected], com nome e endereçoscompletos e o registro de economista. Os dois artigos selecionadosserão publicados no Jornal dos Economistas.

DIA DO ECONOMISTA

Debate terá Stédile, Plínio e Coutinho

Concurso públicotem inscrição prorrogada

Foram estendidas até 15 de julho as inscrições para o concursopúblico do Corecon-RJ. São três vagas para auxiliar administrativo(salário de R$ 1 mil), duas para economista (R$ 2 mil), uma parabibliotecário (R$ 1,5 mil) e uma vaga para secretária (R$ 1,5 mil).Para auxiliar administrativo, a taxa de inscrição é de R$ 25; parabibliotecário e secretária, R$ 35; e economista, R$ 50.

As inscrições podem ser feitas das 9h às 16h30, em doisendereços: Rio Offices – Rua México, 168/4º e Avenida Rio Branco,109/16º, Centro.

Mais informações com a Cetro – Concursos Públicos, Con-sultoria e Administração – pelo telefone 2102-8208 (Fábio, Eduardoou Ana Paula) ou na página www.economistas.org.br

m debate sobre a situação do país, da questão social à conjuntura

política, vai marcar as celebrações do Dia do Economista. O encontro

reunirá o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, o pro-

fessor da Unicamp, Plínio de Arruda Sampaio Filho, e o filósofo e também

professor Carlos Nelson Coutinho, que vai abordar a questão política.

Antes do debate, abrindo as comemorações do Dia do Econo-mista (13 de agosto) haverá entrega das premiações aos vencedoresdo XV Prêmio de Monografia Corecon-RJ, que neste ano recebeu onome do economista Celso Furtado. A solenidade será realizada nopróximo dia 11 de agosto.

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