16
1 O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de Crédito no Consumo Sustentável, no Consumo Compulsivo e no Consumo Impulsivo Autoria: Ilze Eneida Paris da Conceição, Thalita Silva Calíope, Sílvia Maria Dias Pedro Rebouças Resumo O consumo de roupas está associado a inúmeras variáveis e comportamentos. Estudos indicam que há relação entre o envolvimento com moda e o uso do cartão de crédito com o tipo de consumo. Assim, a pesquisa propõe identificar a relação entre envolvimento com moda e uso do cartão de crédito, bem como destes com os consumos sustentável, compulsivo e impulsivo. Foram aplicados questionários on-line com 169 respondentes, sendo analisados através da análise fatorial exploratória e do modelo de equações estruturais. Encontraram-se relações significativas e positivas, exceto nas relações com o consumo sustentável.

O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

1

O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de Crédito no Consumo Sustentável, no Consumo Compulsivo e no Consumo Impulsivo

Autoria: Ilze Eneida Paris da Conceição, Thalita Silva Calíope, Sílvia Maria Dias Pedro Rebouças

Resumo O consumo de roupas está associado a inúmeras variáveis e comportamentos. Estudos indicam que há relação entre o envolvimento com moda e o uso do cartão de crédito com o tipo de consumo. Assim, a pesquisa propõe identificar a relação entre envolvimento com moda e uso do cartão de crédito, bem como destes com os consumos sustentável, compulsivo e impulsivo. Foram aplicados questionários on-line com 169 respondentes, sendo analisados através da análise fatorial exploratória e do modelo de equações estruturais. Encontraram-se relações significativas e positivas, exceto nas relações com o consumo sustentável.

Page 2: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

2

1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, tem aumentado a preocupação com as questões sociais e

ambientais, devido às disparidades socioeconômicas observadas e às catástrofes naturais em vários países. Assim, atentando a essas relevantes questões, algumas conferências foram realizadas, dentre elas a World Commission on Environment and Development, em 1987, que trouxe o conceito de desenvolvimento sustentável, que significa a satisfação das necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades (WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987).

Contudo, apesar de esforços como esse, ainda se vive em uma sociedade de consumo (LIPOVETSKY, 2007; BAUMAN, 2008; BAUDRILLARD, 2009), que é uma sociedade de excessos e extravagâncias e, consequentemente, de redundância e desperdício (BAUMAN, 2008). Conforme Lipovetsky (2007), esta sociedade caracteriza-se pela renovação rápida da oferta, pela sedução do novo e por estímulos emocionais instáveis.

Portanto, os objetos de consumo são criados pensando-se em seu fim, haja vista que são reconhecidos por sua fragilidade, obsolescência calculada e curtos ciclos de vida (BAUDRILLARD, 2009). No entanto, como Lipovetsky (2007) explica, isso não significa que esses objetos tenham má qualidade, apenas são oferecidos objetos com versões mais eficientes ou ligeiramente diferentes.

Dentre as características da sociedade de consumo está a presença da moda, que é definida como “um mecanismo social expressivo de uma temporalidade de curta duração, pela valorização do novo e do individual” (BARBOSA, 2004, p. 25). A indústria do vestuário é baseada em ciclos extremamente rápidos de moda e em desejos de consumo insustentáveis (NIINIMÄKI; HASSI, 2011).

Os desejos de consumo insustentáveis do comprador de moda estão frequentemente relacionados com os consumos compulsivo e impulsivo (JOUNG, 2013). Esses dois tipos de consumo são comportamentos movidos por sentimentos intensos, em que o comprador não pensa nas consequências dos seus atos (O’GUINN; FABER, 1989; ROOK, 1987). Estudos mostram que tanto o consumo compulsivo quanto o consumo impulsivo apresentam uma relação positiva com o uso do cartões de crédito e com o envolvimento com moda (KALLA; ARORA, 2011; LO; HARVEY, 2011; PARK; BURNS, 2005).

Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e Schröder (2012) existe uma dificuldade em alinhar valores morais/éticos com o consumo de moda, pois é mais provável que as preocupações com embalagens, distribuição e abastecimento de produtos sejam direcionadas ao consumo de alimentos do que com moda.

Nesse sentido, ser sustentável pode significar adotar o conceito de moda atemporal, caracterizada por comprar menos produtos, desde que estes tragam satisfação pessoal e que durem mais tempo (MARKKULA; MOISANDER, 2012). Trata-se de uma escolha individual e da capacidade de equilibrar questões éticas, estéticas, morais e ecológicas (BANBURY; STINEROCK; SUBRAHMANYAN, 2012).

Deste modo, tem-se a seguinte questão de pesquisa: Qual o impacto do envolvimento com moda e do uso do cartão de crédito no consumo sustentável, no consumo compulsivo e no consumo impulsivo? Para tanto, delimitou-se como objetivo: Identificar a relação entre envolvimento com moda e uso do cartão de crédito, bem como destes com os consumos sustentável, compulsivo e impulsivo.

Com o intuito de atingir o objetivo da pesquisa foram realizadas pesquisas bibliográficas e survey. Questionários estruturados foram aplicados por meio eletrônico. A análise dos dados foi feita através da análise fatorial exploratória e de modelos de equações estruturais.

Page 3: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

3

Além desta Introdução, fazem parte deste artigo o Referencial Teórico, composto por dois tópicos, Consumo de Moda e Consumo Sustentável; a Metodologia, que apresenta as etapas seguidas para a realização da pesquisa; os Resultados e a Discussão, que trazem os achados do trabalho e suas implicações; e as Considerações Finais. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Consumo de Moda O consumo de moda pode ser definido como a prática de compra e adorno com roupas de moda. Engloba qualquer consumo que leve à aquisição de bens que satisfaçam desejos materialistas, sendo considerado por críticos ambientalistas como algo supérfluo e indulgente (PEARS, 2006).

Park (2006) conceitua o envolvimento pela interação entre um indivíduo (consumidor) e um objeto (produto). Deste modo, envolvimento com moda é usado principalmente para predizer variáveis comportamentais relacionadas com produtos de vestuário, tais como o envolvimento do produto, características do comportamento de compra e consumo. Envolvimento com moda refere-se à importância percebida de roupas da moda e à quantidade de tempo e esforço que um consumidor gasta na seleção e aquisição de vestuário de moda (CARDOSO; COSTA; NOVAIS, 2010).

Devido à inovação frequente na moda, seu consumo tende a ser excessivo. Pesquisas indicam que os consumidores são frequentemente distribuídos em uma ampla gama de consciência e comportamentos de moda (O’CASS, 2000). Dessarte, Joung (2013) argumenta que o comportamento de compra do consumidor de moda tende a ser impulsivo ou compulsivo. O consumo compulsivo tem sido alvo de muitas pesquisas relacionadas ao consumo de moda, sendo definido por O’Guinn e Faber (1989) como o consumo crônico, repetitivo que ocorre como resposta a eventos ou sentimentos negativos, tendo como principal resposta a compra, a qual fornece ao indivíduo recompensas positivas a curto prazo, mas resulta em consequências negativas a longo prazo. Dittmar (2005) conduziu uma pesquisa com o objetivo de melhorar a compreensão da compra compulsiva através de preditores-chave como o sexo, a idade e o endosso de valores materialistas. Os resultados apontam que a diferença de sexo influencia a compra compulsiva e que as pessoas mais jovens são mais propensas a comprar compulsivamente. Sua principal conclusão foi que o endosso de valores materialistas emergiu como o mais forte preditor da compra compulsiva dos indivíduos.

Em seu trabalho sobre a relação entre a compra de vestuário por consumidores materialistas com a compra compulsiva, as atitudes ambientais e comportamentos pós-compra considerando a acumulação e a disposição para a participação na reciclagem, Joung (2013) constatou que consumidores materialistas estão mais dispostos ao descarte de vestuário do que os não-materialistas, uma vez que eles compram mais compulsivamente, configurando como um comportamento insustentável.

Alguns autores relacionam a compra compulsiva com o interesse em moda e com o uso do cartões de crédito. Segundo Johnson e Attmann (2009), o mercado de moda é um convite para compradores compulsivos, uma vez que estes sempre vão encontrar novas roupas disponíveis. Estudos apontam que existe uma relação positiva e significativa entre o interesse em moda e a compra compulsiva de roupas (JOHNSON; ATTMANN, 2009; ATTMANN; JOHNSON, 2009), mostrando que consumidores compulsivos são atraídos por roupas de moda e que gastam um tempo considerável pensando nisso, podendo sofrer com a ansiedade de ir comprar ropuas (JOHNSON; ATTMANN, 2009).

De acordo com Park e Burns (2005), o interesse em moda é um impulsionador direto da compra compulsiva e indireto do uso do cartão de crédito, além disso o uso do cartão de crédito também influencia na compra compulsiva. Devido à facilidade e disponibilidade de cartões de crédito, compradores compulsivos são propensos a usá-los de maneira mais

Page 4: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

4

imprudente e gastar mais do que os compradores normais, dado que estão mais preocupados em satisfazer seus desejos de compra do que com a possibilidade de dívidas no futuro (LO; HARVEY, 2011).

Dessa forma, foi constatada uma associação positiva e significativa entre o uso do cartões de crédito e a compra compulsiva (LO; HARVEY, 2011; NORUM, 2008; O’GUINN; FABER, 1989; PARK; BURNS, 2005; PHAU; WOO, 2008). Norum (2008) mostrou que mulheres (estudantes), com baixa renda e usuárias irracionais de cartões de crédito são mais propensas a se tornarem compradores compulsivos. O’Guinn e Faber (1989) identificaram que compradores compulsivos possuem mais cartões de crédito e poucos fazem o pagamento total deles no mês, chegando a estar sempre no limite máximo dos seus cartões. Ademais, compradores compulsivos são mais propensos a ver seu dinheiro como uma fonte de poder e prestígio e tendem a usar mais seus cartões de crédito, evidenciando uma falta de controle e levando a dívidas (PHAU; WOO, 2008). Assim, inferiram-se as seguintes hipóteses: H1: O uso do cartão de crédito influencia positivamente o consumo compulsivo. H2: O envolvimento em moda influencia positivamente o consumo compulsivo. H3: Existe uma correlação positiva entre uso do cartão de crédito e o envolvimento em moda.

Já a compra por impulso é definida como uma ação repentina e não planejada, caracterizada por uma tomada de decisão relativamente rápida (CARDOSO; COSTA; NOVAIS, 2010). Trata-se de um comportamento espontâneo, inesperado e emocional (acompanhado de sentimentos intensos de se sentir bem ou mal), uma experiência rápida, um ato de pegar um produto sem escolher, sem pensar nas consequências, algo fora do controle (ROOK, 1987). De acordo com Workman (2010), estudos anteriores revelam que agentes de mudança da moda (em comparação com os seguidores da moda) vão às compras com mais frequência, compram mais itens de moda, gastam mais dinheiro em vestuário e estão mais interessados e envolvidos com a moda, sendo também mais propensos a comportamentos de compra impulsiva. Phau e Lo (2004) salientam ainda que as compras por impulso são tentativas de aumentar a autoimagem, especialmente por meio de artigos de moda, tais como roupas.

Park (2006), examinando as relações entre o envolvimento com moda, a emoção positiva, a tendência do consumo hedônico e a compra impulsiva orientada para a moda, encontrou que tanto o envolvimento com moda quanto a emoção positiva tiveram efeitos positivos sobre o comportamento de compra por impulso, com o envolvimento com moda tendo o maior efeito sobre orientação para a moda. Além disso, consumidores com alto envolvimento com moda eram mais propensos a comprar roupas com um novo estilo ou que acabaram de ser lançadas, sugerindo que o envolvimento com moda encoraja o comportamento de compra por impulso orientado para a moda.

Conforme Kalla e Arora (2011, p. 152), o ato de comprar através de cartões de crédito libera o comprador de implicações psicológicas de gastos, pois “o cartão age como um escudo temporário”, assim, os cartões de crédito podem agir como catalisadores da compra por impulso. Bernthal, Crockett e Rose (2005) reconhecem que o uso do cartão de crédito está relacionado a gastos impulsivos. Destarte, propõem-se as seguintes hipóteses: H4: O uso do cartão de crédito influencia positivamente o consumo impulsivo. H5: O envolvimento em moda influencia positivamente o consumo impulsivo.

Tais tipos de consumo, compulsivo e impulsivo, podem ser considerados como insustentáveis, porque trazem graves consequências econômicas e sociais tanto para os indivíduos afetados quanto pelos não afetados, como familiares e credores, (WORKMAN; PAPER, 2010) e também ambientais, levando a um descontrole dos recursos naturais e comprometendo a harmonia ambiental (TONI; LARENTIS; MATTIA, 2012).

Page 5: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

5

2.2 Consumo Sustentável Conceitualizar consumo sustentável é uma tarefa difícil, porque ainda não se alcançou um consenso na literatura. Mont e Plepys (2008) explicam que alguns autores tratam o consumo como um problema de produção e sugerem que a redução dos problemas ambientais do consumo é possível através de melhorias dos processos de produção ou eco-eficiência. Já outros, equiparam o consumo sustentável à ecologização dos mercados, enquanto que os radicais defendem a redução dos níveis de consumo nos países desenvolvidos e estilos de vida simplificados. Os autores costumam compreender termos como consumo consciente, ético, responsável, verde e sustentável como sinônimos, porém há pequenas diferenças entre estes.

Willis e Schor (2012) definem consumo consciente como qualquer escolha de produtos ou serviços feitos como um meio de expressar valores de sustentabilidade, justiça social, responsabilidade corporativa, direitos dos trabalhadores e que consideram o contexto de produção, distribuição e os impactos dos bens e serviços. Portanto, de acordo com os autores, escolhas conscientes incluem renunciar ou reduzir o consumo ou escolher produtos orgânicos, comércio justo, eco-amigáveis ou locais. Para Roberts e Bacon (1997), o consumidor consciente é aquele que compra (ou evita) produtos e serviços que têm um impacto positivo (ou negativo) sobre o meio ambiente. Corroborando a perspectiva destes, Toni, Larentis e Mattia (2012) salientam que é necessário mudar a natureza do consumo, ou seja, consumir produtos que não prejudiquem o ambiente. Carr et al. (2012) argumentam que a opção pelo consumo consciente pode refletir uma necessidade de status, uma vez que algumas pessoas gostam de ostentar produtos que são verdes, feitos em um ambiente de trabalho adequado, não testados em animais e ligados a causas sociais. Já o consumo ético pode ser entendido como um conjunto de práticas que mobilizam uma grande variedade de motivações, incentivos e desejos no desenvolvimento de formas de grande escala de ação coletiva que são capazes de induzir mudanças significativas nos padrões de conduta dos sistemas econômicos e burocráticos (BARNETT et al., 2005). Papaoikonomout (2013) expõe os três principais tipos de comportamento do consumidor ético: (i) Buycotting: escolher e comprar produtos e serviços devido a considerações éticas; (ii) Boycotting: evitar comprar produtos de empresas reconhecidas como anti-éticas (boicote orientado para a empresa) ou produtos considerados insustentáveis (boicote orientado para o produto); (iii) Simplificadores éticos: reduzir níveis de consumo e adotar um estilo de vida mais simples.

Joergens (2006) investigou o consumo ético da moda com consumidores do Reino Unido e da Alemanha, concluindo que o efeito de questões éticas sobre o comportamento de compra de consumidores de moda é relativamente baixo porque os entrevistados não puderam evitar agir de forma antiética ao comprar roupas. No mercado de vestuário e moda, o preço de varejo tornou-se um fator competitivo fundamental, e há várias cadeias de lojas de roupas cuja estratégia de negócio é baseada na oferta da última moda a um preço acessível aos consumidores (MOISANDER; MARKKULA; ERÄRANTA, 2010). No entanto, Joergens (2006) explica que o preço é um dos fatores decisivos na hora da compra, pois os produtos éticos custam mais caro.

O consumo verde é definido por Schaefer e Crane (2005) como qualquer atividade de consumo desenvolvida com o objetivo específico de reduzir os impactos negativos sobre o meio ambiente, incluindo atividades relacionadas à aquisição, uso e descarte de produtos, bem como as decisões de não compra. De acordo com Papaoikonomout (2013), consumidores verdes são aqueles que mostram uma preocupação consistente e consciente para as consequências ambientais relacionadas com a compra, uso e descarte de produtos e serviços. Para Young et al. (2010), o consumidor verde prefere produtos ou serviços que proporcionam menos danos ao meio ambiente e que suportam todas as formas de justiça social.

Page 6: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

6

Conforme Pinto et al. (2011), no consumo responsável há um maior senso de consciência ambiental e menos hábitos de desperdício. Para Niinimäki e Hassi (2011), é importante não só o quanto os consumidores compram, mas também quais os tipos de produtos que compram e como os usam. Ainda de acordo com os autores, a indústria têxtil e de vestuário, por exemplo, baseia-se em ciclos rápidos de tendências de moda que visam produzir continuamente novas necessidades e produtos de consumo. Em contrapartida, a baixa qualidade e tempo de vida curto das roupas são questões familiares aos consumidores.

A noção de consumo sustentável é frequentemente utilizada como um termo genérico para as questões relacionadas com as necessidades humanas, equidade, qualidade de vida, eficiência de recursos, minimização de resíduos, ciclo de vida, saúde e segurança do consumidor (MONT; PLEPYS, 2008). Mont e Plepys (2008) elucidam que a visão de consumo sustentável requer ação individual na mudança de hábitos de consumo e estilo de vida, ajustados de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável, considerando aspectos sociais, econômicos e políticos-ambientais. Então, resolver a crise ecológica depende da escolha individual dos consumidores (BANBURY; STINEROCK; SUBRAHMANYAN, 2012), e suas decisões de compra que são baseadas em diferentes valores e motivações (BALDERJAHN; PEYER; PAULSSEN, 2013).

Jackson (2005) observou que é possível viver melhor consumindo menos e reduzindo os impactos ambientais de um consumo ordinário. Já Sener e Hazer (2008) encontraram que os comportamentos de consumo sustentáveis não são em todas as áreas de consumo, mas são especialmente evidentes naquelas áreas onde há vantagem econômica. Em seus estudos, Ritch e Schröder (2012), constataram que, tratando-se de consumo sustentável e moda, as pessoas não estão preparadas para comprometer o estilo, preço ou conveniência da localização para a sustentabilidade e, devido à percepção de que a moda ética seria menos orientada para a moda, não a priorizam ou consideram-na. Acrescentam ainda que a falta de informação não permite que os consumidores de moda tenham a oportunidade de evitar itens produzidos em condições insatisfatórias, especialmente quando pouco se sabe sobre os processos de produção envolvidos. Para Markkula e Moisander (2012), o consumo sustentável de roupas é um dilema estético: as pessoas são obrigadas a escolher entre roupas de moda contemporânea, esteticamente agradáveis, mas ecologicamente carentes, e roupas produzidas ecologicamente, o que é ecologicamente correto, mas esteticamente desagradável. Argumentam ainda que se os consumidores de vestuário de moda simplesmente não são capazes de escolher os produtos mais sustentáveis por razões práticas (por exemplo, variedades limitadas, medidas e estilos), devem ser oferecidos meios alternativos de contribuir para o desenvolvimento sustentável (por exemplo, através da redução das compras e da escolha de roupas com um ciclo de vida maior). Desta maneira, provocaram-se as seguintes hipóteses: H6: O uso do cartão de crédito influencia negativamente o consumo sustentável. H7: O envolvimento em moda influencia negativamente o consumo sustentável.

Allwood et al. (2008) descrevem o comportamento do consumidor sustentável: (i) comprar em brechós, alugar artigos que não se usa mais e reparar roupas velhas, ao invés de comprar roupas novas; (ii) basear decisões de compra em informações precisas sobre os impactos ambientais e as condições sociais das pessoas envolvidas na sua produção; (iii) lavar roupas com menos frequência e intensidade, evitando o uso de máquina secadora e ferro de passar roupas; (iv) descartar vestuário e têxteis através de empresas de reciclagem. Percebe-se que ser um consumidor sustentável é uma questão de embate tratando-se da moda, dado que esta é caracterizada muitas vezes pelo excesso e desperdício e os consumidores de moda não conseguem pensar ou considerar questões de sustentabilidade ao comprar roupas.

A Figura 1 apresenta o modelo teórico a ser testado com a pesquisa de acordo com a fundamentação teórica, expondo as relações que se espera obter entre os construtos.

Page 7: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

7

Figura 1 - Modelo teórico

Fonte: elaborado pelas autoras. 3 MÉTODO A pesquisa é quantitativa, medindo relações entre variáveis (ROESCH, 2006) e utilizando técnicas estatísticas para responder as questões de pesquisa e testar hipóteses (SAMPIERI; COLLADO; LÚCIO, 2013). É também exploratória, porque examina um problema pouco estudado (SAMPIERI; COLLADO; LÚCIO, 2013), e descritiva, procurando identificar e obter informações sobre as características da questão pertinente (COLLIS; HUSSEY, 2005). É ainda uma survey, visto que “a intenção é determinar se há alguma relação entre diferentes variáveis” (COLLIS; HUSSEY, 2005, p. 71). Os dados foram coletados através de um questionário estruturado em meio eletrônico. Dessa forma, foram enviados questionários, utilizando-se o formulário do Google Docs, através das redes sociais Facebook, Twitter e por email.

O questionário utilizado foi baseado em escalas existentes (ver Apêndice A). O consumo sustentável englobou 9 itens baseados na escala de Koszewska (2013). As questões sobre o consumo compulsivo basearam-se na escala de Ridgway, Kukar-Kinney e Monroe (2008) totalizando seis itens. A escala utilizada para fundamentar as questões que avaliaram o consumo impulsivo foi a escala de Rook e Fisher (1995) com cinco itens. O envolvimento com moda foi medido numa escala de quatro itens de Fairhurst et al. (1989). Por fim, para mensurar o uso do cartão de crédito utilizou-se a escala de Robert e Jones (2001) com seis itens.

As questões foram avaliadas através de escala de Likert, tipo de escala intervalar com valores de 1 a 10, em que 1 representa “discordo totalmente” e 10 “concordo totalmente”. A população deste trabalho são os consumidores de roupas. A amostragem classifica-se como não probabilística por conveniência, uma vez que é adequada para testar ou obter ideias sobre determinado assunto de interesse (MATTAR, 2008), sendo o questionário publicado e compartilhado no Facebook e no Twitter, bem como sendo enviadas mensagens atráves de Facebook e email. A pesquisa foi realizada no período de 2 à 31 de Janeiro de 2014. Foram recebidos 169 questionários válidos.

Para a análise dos dados utilizou-se a análise fatorial exploratória e o modelo de equações estruturais, recorrendo aos softwares SPSS 21® e SPSS Amos 20®. A análise fatorial é uma técnica de interdependência multivariada que visa definir fatores comuns das variáveis em análise, sintetizando as relações observadas em um conjunto inter-relacionado (FÁVERO et al., 2009). Na análise fatorial exploratória (AFE) não existe uma estrutura correlacional hipotética a priori (MARÔCO, 2010), deixando que o método e os dados definam a natureza das relações entre as variáveis (HAIR et al., 2009). O método de extração utilizado foi a

Page 8: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

8

análise de componentes principais e o método de rotação foi o Varimax com normalização Kaiser, que convergiu em 5 iterações.

A análise de equações estruturais (AEE) é uma técnica de modelagem generalizada que testa a validade de modelos teóricos, definindo relações causais, hipotéticas entre construtos (MARÔCO, 2010), estima relações de dependência múltiplas e inter-relacionadas e define um modelo para explicar todo o conjunto de relações (HAIR et al., 2009).

Na AEE é importante avaliar a qualidade do ajustamento do modelo através de testes de ajustamento, cujos índices podem ser absolutos, relativos, de parcimônia, entre outros (MARÔCO, 2010). Os índices absolutos avaliam a qualidade do modelo sem comparação com outros modelos, sendo os mais utilizados o χ²/gl e o Goodness of Fit Index (GFI). Por sua vez, os índices relativos avaliam a qualidade do modelo relativamente ao pior e/ou melhor ajustamento possível, sendo considerados importantes o Normed Fit Index (NFI), o Comparative Fit Index (CFI) e o Tucker-Lewis Index (TLI). Já os índices de parcimônia são obtidos pela correção dos índices relativos, utilizando-se o Parsimony Comparative Fit Index (PCFI) e o Parsimony Goodness of Fit Index (PGFI). Considera-se ainda o Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA). 4 RESULTADOS

Esta seção apresenta os resultados encontrados ao analisar as relações entre os construtos, sendo dividida em três subseções: análise descritiva, teste das hipóteses e discussão dos resultados. 4.1 Análise descritiva A Tabela 1 apresenta o perfil dos respondentes da pesquisa quanto a idade, sexo, renda individual, escolaridade, estado civil e nacionalidade. Tabela 1 - Perfil dos respondentes

Idade Escolaridade Até 21 anos 38 22,50% Médio completo 15 8,90% 22 - 23 anos 38 22,50% Médio incompleto 1 0,60% 24 - 27 anos 55 32,50% Graduação completa 34 20,10% Mais de 27 anos 38 22,50% Graduação incompleta 70 41,40% Total 169 100,00% Pós-graduação completa 20 11,80%

Gênero Pós-graduação incompleta 29 17,20% Masculino 73 43,20% Total 169 100,00% Feminino 96 56,80% Total 169 100,00% Estado civil

Renda Individual Solteiro (a) 139 82,20% Até R$ 678,00 57 33,70% Casado (a) 22 13,00% R$ 678,01 - 1.356,00 36 21,30% União estável 4 2,40% R$ 1.356,01 - 2.034,00 32 18,90% Divorciado (a) 4 2,40% R$ 2.034,01 - 2.712,00 12 7,10% Total 169 100,00% R$ 2.712,01 - 3.990,00 15 8,90% Nacionalidade R$ 3.990,01 - 4.068,00 2 1,25% Brasileiro (a) 155 91,70% R$ 4068,01-4768,00 5 2,95% Estrangeiro (a) 14 8,30% Mais de 4.746,01 10 5,90% Total 169 100,00% Total 169 100,00%

Fonte: dados da pesquisa. Percebe-se assim que 32,5% da amostra tem idade entre 24 e 27 anos, 56,8% são do

sexo feminino, 33,7% possuem renda até R$ 678,00, 41,4% têm graduação incompleta, 82,2% são solteiros e 91,7% são brasileiros. 4.2 Análise dos dados

O teste de esfericidade de Bartlett foi estatisticamente significativo (p <0,001) e o índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) foi de 0,770 confirmando a fatoriabilidade da matriz de

Page 9: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

9

correlações, conforme a Tabela 2. Segundo Fávero et al. (2009), valores de KMO entre 0,7 e 0,8 são considerados médios, indicando que a análise fatorial é adequada. Tabela 2 - KMO e Teste de Bartlett

KMO e Teste de Bartlett Medida da adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin 0.770

Approx. Chi-Square 1148.347 Df 136 Teste de esfericidade de

Bartlett Sig. 0.000

Fonte: dados da pesquisa. Para analisar os dados efetuou-se a AFE que ratificou a composição dos construtos, mantendo os cinco fatores propostos inicialmente. O fator 1 inclui os itens 2, 3, 4 e 5. O fator 2 ficou composto pelos itens 27, 28, 29 e 30, como no questionário original. O fator 3 reteve os itens 10, 11 e 13. No fator 4 encontram-se os itens 21, 25 e 26 e no fator 5 os itens 14, 15 e 20. No total ficaram 17 itens. Hair et al. (2009) explicam que para amostras com tamanho entre 150 e 200, considera-se como carga fatorial significante valores entre 0,40 e 0,45. Todas as saturações foram superiores a 0,6 com exceção do item 20 que apresentou carga fatorial igual a 0,557, sendo assim consideradas estatisticamente significativas. A Tabela 3 apresenta as cargas fatoriais para cada um dos itens distribuídos nos cinco fatores obtidos. Tabela 3 - Cargas Fatoriais

Fatores Nome dos Fatores Questões 1 2 3 4 5

Item_3 0.931 Item_2 0.910 Item_4 0.816

Consumo Sustentável

Item_5 0.641 Item_28 0.861 Item_27 0.837 Item_30 0.750

Envolvimento em moda

Item_29 0.723 Item_13 0.792 Item_11 0.743 Consumo

Compulsivo Item_10 0.675 Item_26 0.766 Item_21 0.736 Uso do Cartão

de Crédito Item_25 0.723 Item_14 0.782 Item_15 0.756 Consumo

Impulsivo Item_20 0.557 Fonte: dados da pesquisa.

A análise das componentes principais apresentou todos os componentes com autovalores superiores a 1 e que explicam 66,304% da variância. A variância explicada por cada um dos cinco fatores pode ser vista na Tabela 4. Tabela 4 - Autovalores e Variâncias Fatores 1 2 3 4 5

Autovalores 2.857 2.798 2.075 1.848 1.694 %Variância explicada por

cada fator 16.806 16.457 12.206 10.872 9.964

%Variância total explicada 66.304 Fonte: dados da pesquisa. O alfa de cronbach foi calculado para cada fator, mostrando ser superior a 0,6 para todos os fatores com exceção do quinto fator (0,597). Os fatores 1, 2, 3 e 4 obtiveram alfa igual a 0,844, 0,840, 0,714 e 0,616 respectivamente. Segundo Hair et al. (2009), o limite

Page 10: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

10

inferior para o alfa geralmente é 0,70, apesar de poder diminuir para 0,60 em caso de pesquisa exploratória. A partir dos resultados da AFE, elaborou-se o modelo de equações estruturais com base no modelo teórico proposto. A Figura 2 apresenta os coeficientes padronizados estimados do modelo de equações estruturais 1. Figura 2 - Modelo de equações estruturais 1

Fonte: elaborado pelas autoras. No primeiro modelo, considera-se que o uso do cartão de crédito e o envolvimento com moda impactam no consumo sustentável, no consumo compulsivo e no consumo impulsivo. O uso do cartão de crédito é o construto que mais influencia o consumo impulsivo (0,52), enquanto que o envolvimento com moda impacta mais no consumo compulsivo (0,57), sendo essas relações significantes a 1%, confirmando-se assim as hipóteses 4 e 2. Destaca-se ainda que o cartão de crédito também influencia o consumo compulsivo (0,28) e que o envolvimento com moda impacta no consumo impulsivo (0,24), ambos no nível de significância de 5%. Apesar de não apresentarem relações fortes, confirmaram-se também as hipóteses 1 e 5. A relação entre o uso do cartão de crédito e o envolvimento em moda (0,22) é significante a 5%, confirmando a hipótese 3. O modelo não apresentou relações significativas entre o uso do cartão de crédito e o consumo sustentável e envolvimento em moda e o consumo sustentável, rejeitando assim as hipóteses 6 e 7. Por isso, optou-se por testar o modelo 2 excluindo essa variável. Tabela 5 - Teste das hipóteses do modelo 1

Modelo 1 Variáveis Independentes Variáveis Dependentes β Sig. Resultados

Consumo sustentável -0,04 0,699 Rejeitada H6 Consumo compulsivo 0,28 0,011** Confirmada H1 Uso do cartão de crédito Consumo impulsivo 0,52 0,006*** Confirmada H4 Consumo sustentável -0,06 0,494 Rejeitada H7 Consumo compulsivo 0,57 *** Confirmada H2 Envolvimento em moda Consumo impulsivo 0,24 0,024** Confirmada H5

Uso do cartão de crédito Envolvimento com moda 0,22 0,049** Confirmada H3 Nota: *** Significante a 0,01; ** Significante a 0,05; * Significante a 0,10. Fonte: elaborado pelas autoras.

Page 11: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

11

No modelo 1, os coeficientes de ajustamento estão apresentados na Tabela 6. Observa-se que os índices CFI, TLI e RMSEA apresentaram ajustamento muito bom, enquanto que χ²/gl, GFI, PGFI e PCFI apresentaram ajustamento bom. Tabela 6 - Índices de qualidade de ajustamento.

χ² p-value χ²/gl CFI GFI TLI PGFI PCFI RMSEA p-value 149.643 0.010 1.336 0.964 0.906 0.957 0.663 0.794 0.045 0.667 Fonte: elaborado pelas autoras.

No modelo 2, mostrou-se o impacto do uso do cartão de crédito e do envolvimento com moda no consumo compulsivo e no consumo impulsivo. Figura 3 - Modelo de equações estruturais 2

Fonte: elaborado pelas autoras.

O uso do cartão de crédito é o construto que mais influencia no consumo impulsivo (0,47), enquanto que o envolvimento com moda impacta mais o consumo compulsivo (0,57), sendo essas relações significantes, respectivamente, a 5% e a 1%. O uso do cartão de crédito impacta o consumo compulsivo em 0,29 e é significante a 1%, já o envolvimento com moda influencia o consumo impulsivo em 0,23, sendo significante a 5%. A relação entre o uso do cartão de crédito e o envolvimento em moda permanece a mesma do modelo anterior, mas sendo significante agora a 10%. Logo, confirmam-se todas as hipóteses testadas (1, 2, 3, 4, 5). Tabela 7 - Teste das hipóteses do modelo 2

Modelo 2 Variáveis Independentes Variáveis Dependentes β Sig. Resultados

Consumo compulsivo 0,29 0,010*** Confirmada H1 Uso do cartão de crédito Consumo impulsivo 0,47 0,026** Confirmada H4 Consumo compulsivo 0,57 *** Confirmada H2 Envolvimento em moda Consumo impulsivo 0,23 0,049** Confirmada H5

Uso do cartão de crédito Envolvimento com moda 0,22 0,051* Parcialmente confirmada H3

Nota: *** Significante a 0,01; ** Significante a 0,05; * Significante a 0,10. Fonte: elaborado pelas autoras.

Com relação aos índices de ajustamento, nota-se que os índices χ²/gl, CFI, GFI, TLI e RMSEA aumentaram, comparando com o modelo anterior, e PGFI e PCFI diminuíram, mas o ajustamento permanece adequado. Tabela 8 - Índices de qualidade de ajustamento

χ² p-value χ²/gl CFI GFI TLI PGFI PCFI RMSEA p-value 75.144 0.077 1.274 0.974 0.938 0.965 0.608 0.736 0.040 0.709

Fonte: elaborado pelas autoras.

Page 12: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

12

4.3 Discussão dos resultados Os resultados da pesquisa confirmaram cinco das sete hipóteses propostas no início do trabalho. Quanto às hipóteses 6 e 4 relacionadas ao consumo sustentável, nota-se que ambas foram rejeitadas, ou seja, não foram encontradas relações significativas entre o consumo sustentável e as variáveis independentes. A hipótese 1 foi confirmada em ambos os modelos, embora seja mais significante no modelo 2. Mostrou assim que existe uma relação significativa e positiva entre o uso do cartão de crédito e o consumo compulsivo, conforme confirmado por outros autores (LO; HARVEY, 2011; NORUM, 2008; O’GUINN; FABER, 1989; PARK; BURNS, 2005; PHAU; WOO, 2008). A hipótese 4 confirmou que existe também uma relação significativa e positiva entre o uso do cartão de crédito e o consumo impulsivo, corroborando com Kalla e Arora (2011). O envolvimento com moda revelou estar fortemente relacionado com a compra compulsiva nos dois modelos, validando assim a hipótese 2. Essa relação foi comprovada por estudos anteriores (JOHNSON; ATTMANN, 2009; ATTMANN; JOHNSON, 2009), que explicam que consumidores compulsivos são frequentemente atraídos para roupas de moda. Ao testar a relação entre o envolvimento com moda e a compra impulsiva, constatou-se a significância da relação positiva entre esses dois construtos. A literatura também comprova essa relação ao elucidar que o envolvimento com moda encoraja o comportamento de compra por impulso (PARK, 2006; WORKMAN, 2010). A hipótese 3 foi validada, embora apenas parcialmente no modelo 2. Dessa forma, os resultados do trabalho mostraram que existe uma relação significativa entre o envolvimento com moda e o uso do cartão de crédito. Estudos anteriores comprovaram que existe uma relação indireta entre esses dois construtos (PARK; BURNS, 2005). Verificou-se ainda que todas as variáveis de medida utilizadas no modelo 2 estão fortemente relacionadas com as variáveis latentes a que dizem respeito, indicando coeficientes padronizados positivos e significativos (todos os valores p < 0,001). O modelo teórico proposto foi modificado, dado a insignificância do construto consumo sustentável na análise, ficando o consumo compulsivo, consumo impulsivo, envolvimento com moda e uso do cartão de crédito. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa propôs-se a identificar a relação existente entre envolvimento com moda e uso do cartão de crédito com o consumo sustentável, consumo compulsivo e consumo impulsivo. A amostra foi constituída por 169 respondentes, sendo que 32,5% têm idade entre 24 e 27 anos; 56,8% são do sexo feminino; 33,7% possuem renda até R$ 678,00; 41,4% têm graduação incompleta; 82,2% são solteiros e 91,7% são brasileiros.

A AFE demonstrou a existência de cinco fatores, variando alguns itens do questionário original, sendo que a única dimensão que permaneceu intacta foi o envolvimento em moda.

Os resultados indicaram relações significativas e positivas entre todas as variáveis, com exceção do consumo sustentável. Portanto, todas as hipóteses que prediziam relações entre consumo compulsivo e impulsivo com o envolvimento em moda e uso do cartão de crédito foram validadas nos dois modelos. No entanto pode-se destacar a relação entre uso do cartão de crédito e consumo impulsivo e envolvimento com moda e consumo compulsivo como sendo muito significativas. A hipótese que previu a correlação positiva entre o uso do cartão de crédito e o envolvimento em moda também foi validada, apesar de ser mais significativa no primeiro modelo.

Como limitações para esta pesquisa tem-se o número de respondentes. Trabalhos futuros podem ampliar o tamanho da amostra ou replicar esta pesquisa com uma amostra diferente e assim verificar se os resultados obtidos são os mesmos. Pode-se ainda analisar diferenças entre os grupos, realizando análise de cluster.

Page 13: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

13

Para a academia, esta pesquisa aponta direções para estudos futuros, ressaltando o fato de se tratar de uma pesquisa de cunho exploratório. Para a sociedade indica a necessidade de um consumo mais sustentável de roupas, seja comprando menos ou comprando roupas de melhor qualidade e evitando o uso do cartão de crédito de maneira descontrolada. 7 REFERÊNCIAS ALLWOOD, J. M.; LAURSEN, S. E.; RUSSELL, S. N.; MALVIDO DE RODRÍGUEZ, C.; BOCKEN, N. M. P. An approach to scenario analysis of the sustainability of an industrial sector applied to clothing and textiles in the UK. Journal of Cleaner Production, v. 16, p. 1234-1246, 2008. BARBOSA, L. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. ATTMANN, J.; JOHNSON, T. Compulsive consumption behaviours: investigating relationships among binge eating, compulsive clothing buying and fashion orientation. International Journal of Consumer Studies, v. 33, p. 267–273, 2009. BANBURY, C.; STINEROCK, R.; SUBRAHMANYAN, S. Sustainable consumption: Introspecting across multiple lived cultures. Journal of Business Research, v. 65, p. 497–503, 2012. BALDERJAHN, I.; PEYER, M.; PAULSSEN, M.. Consciousness for fair consumption: conceptualization, scale development and empirical validation. International Journal of Consumer Studies, v. 37, p. 546–555, 2013. BAUDRILLARD, J. La sociedad de consumo: sus mitos, sus estructuras. Madrid: Siglo XXI de España Editores, 2009. BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. BARNETT, C.; CLOKE, P.; CLARKE, N.; MALPASS, A. Consuming Ethics: Articulating the Subjects and Spaces of Ethical Consumption. Antipode, v. 37, n. 1, p. 23–45, 2005. BERNTHAL, M. J.; CROCKETT, D.; ROSE, R. L. Credit Cards as Lifestyle Facilitators. Journal of Consumer Research, v. 32, p.130-145, 2005. CARDOSO, P. R.; COSTA, H. S.; NOVAIS, L. A.. Fashion consumer profiles in the Portuguese market: involvement, innovativeness, self-expression and impulsiveness as segmentation criteria. International Journal of Consumer Studies, v. 34, p. 638-647, 2010. CARR, D. J.; GOTLIEB, M. R.; LEE, N.; SHAH, D. V. Examining Overconsumption, Competitive Consumption, and Conscious Consumption from 1994 to 2004: Disentangling Cohort and Period Effects. The ANNALS of the American Academy of Political and Social Science, v. 644, p. 220-234, 2012. COLLIS, J.; HUSSEY, R. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. DITTMAR, H. Compulsive buying – a growing concern? An examination of gender, age, and endorsement of materialistic values as predictors. British Journal of Psychology, v. 96, p. 467–491, 2005. FÁVERO, L.; BELFIORE, P.; SILVA, F.; CHAN, B. Análise de dados: modelagem multivariada para tomada de decisões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. FAIRHURST, A.; GOOD, L.; GENTRY, J. Fashion involvement: an instrument validation procedure. Clothing and Textiles Research Journal, v. 7, n. 3, p. 10-14, 1989. HAIR, J.; BLACK, W.; BABIN, B.; ANDERSON, R.; TATHAN, R. Análise multivariada de dados. 6 ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. JACKSON, T. Live better by consuming less? Is there a “double dividend” in sustainable consumption? Journal of Industrial Ecology, v. 9, p. 19-36, 2005. JOERGENS, C. Ethical fashion: myth or future trend? Journal of Fashion Marketing and Management, v. 10, n. 3, p. 360-371, 2006.

Page 14: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

14

JOHNSON, T.; ATTMANN, J. Compulsive buying in a product specific context: clothing. Journal of Fashion Marketing and Management, v. 13, n. 3, p. 394-405, 2009. JOUNG, H. Materialism and clothing post-purchase behaviors. Journal of Consumer Marketing, v. 30, n. 6, p. 530–537, 2013. KALLA, S.; ARORA, A. Impulse buying: a literature review. Global Business Review, v. 12, p. 145–157, 2011. KOSZEWSKA, M. A typology of polish consumers and their behaviours in the market for sustainable textiles and clothing. International Journal of Consumer Studies, v. 37, p. 507–521, 2013. LIPOVETSKY, G. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia da Letras, 2007. LO, H.; HARVEY, N. Shopping without pain: Compulsive buying and the effects of credit card availability in Europe and the Far East. Journal of Economic Psychology, v. 32, p. 79–92, 2011. MARKKULA, A.; MOISANDER, J. Discursive Confusion over Sustainable Consumption: A Discursive Perspective on the Perplexity of Marketplace Knowledge. Journal of Consumer Policy, v. 35, p. 105-125, 2012. MATTAR. F. Pesquisa de marketing: edição compacta. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARÔCO, J. Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software e aplicações. Pêro Pinheiro: ReportNumber, Lda, 2010. MOISANDER, J.; MARKKULA, A.; ERÄRANTA, K. Construction of consumer choice in the market: challenges for environmental policy. International Journal of Consumer Studies, v. 34, p. 73-79, 2010. MONT, O.; PLEPYS, A. Sustainable consumption progress: should we be proud or alarmed? Journal of Cleaner Production, v. 16, p. 531-537, 2008. NIINIMÄKI, K.; HASSI, L. Emerging design strategies in sustainable production and consumption of textiles. Journal of Cleaner Production, v. 19, p. 1876-1883, 2011. NORUM, P. S. The role of time preference and credit card usage in compulsive buying behaviour. International Journal of Consumer Studies, v. 32, p. 269–275, 2008. O’CASS, A. O. An assessment of consumers product, purchase decision, advertising and consumption involvement in fashion clothing. Journal of Economic Psychology, v. 21, p. 545-576, 2000. O’GUINN, T.; FABER, R. Compulsive buying: a phenomenological exploration, Journal of Consumer Research, v. 16, n. 2, p. 147-57, 1989. PAPAOIKONOMOU, E. Sustainable lifestyles in an urban context: towards a holistic understanding of ethical consumer behaviours. Empirical evidence from Catalonia, Spain. International Journal of Consumer Studies, v. 37, p. 181-188, 2013. PARK, E. A structural model of fashion-oriented impulse buying behavior. Journal of Fashion Marketing and Management, v. 10, n. 4, p. 433-446, 2006. PARK, H.; BURNS, L. D. Fashion orientation, credit card use, and compulsive buying. Journal of Consumer Marketing, v. 22, n. 3, p. 135–141, 2005. PEARS, K. Fashion Re-consumption: developing a sustainable fashion consumption practice influenced by sustainability and consumption theory. 2006. 127 f. Dissertação (Mestrado em Artes) - School of Architecture and Design, RMIT University, Melbourne, 2006. PHAU, I.; LO, C. Profiling fashion innovators - study of self-concept, impulse buying and Internet purchase intent. Journal of Fashion Marketing and Management, v. 8, n. 4, p. 399-411, 2004.

Page 15: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

15

PHAU, I.; WOO, C. Understanding compulsive buying tendencies among young Australians The roles of money attitude and credit card usage. Marketing Intelligence & Planning, v. 26, n. 5, p. 441-458, 2008. PINTO, D.; NIQUE, W.; AÑAÑA, E.; HERTER, M. Green consumer values: how do personal values influence environmentally responsible water consumption? International Journal of Consumer Studies, v. 35, p. 122-131, 2011. RIDGWAY, N.; KUKAR-KINNEY, M.; MONROE, K. B. An expanded conceptualization and measure of compulsive buying. Journal of Consumer Research, v. 35, p. 622-639, 2008. In: BEARDEN, W. O.; NETEMEYER, R. G.; HAWS, K. L. Handbook of marketing scales: multi-item measures for marketing and consumer behavior research. 3ª edição. Los Angeles: Sage, 1999. RITCH, E.; SCHRÖDER, M. Accessing and affording sustainability: the experience of fashion consumption within young families. International Journal of Consumer Studies, v. 38, p. 203-210, 2012. ROBERTS, J.; BACON, D. Exploring the Subtle Relationships between Environmental Concern and Ecologically Conscious Consumer Behavior. Journal of Business Research, v. 40, p. 79-89, 1997. ROBERTS, J.; JONES, E. Money attitudes, credit card use, and compulsive buying among american college students. The Journal of Consumer Affairs, v. 35, n. 21, 2001. ROESCH, S. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 3 ed. São Paulo: Altlas, 2006. ROOK, D. W. The buying impulse. Journal of Consumer Research, v. 14, p. 189–199, 1987. ROOK, D.; FISHER, R. J. Normative influences on impulsive buying behavior. Journal of Consumer Research, v. 22, p. 305-313, 1995. . In: BEARDEN, W. O.; NETEMEYER, R. G.; HAWS, K. L. Handbook of marketing scales: multi-item measures for marketing and consumer behavior research. 3ª edição. Los Angeles: Sage, 1999. SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, P. B. Metodologia de pesquisa. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2013. SCHAEFER, A.; CRANE, A. Addressing Sustainability and Consumption. Journal of Macromarketing, v. 25, n. 1, p. 76-92, 2005. SENER, A.; HAZER, O. Values and Sustainable Consumption Behavior of Women: a Turkish Sample. Sustainable Development, v. 16, p. 291-300, 2008. TONI, D.; LARENTIS, F.; MATTIA, A. Consumo consciente, valor e lealdade em produtos ecologicamente corretos. R. Adm. FACES Journal, v. 11, n. 3, p. 136-156, 2012. WILLIS, M. M.; SCHOR, J. B.. Does changing a light bulb lead to changing the world? Political action and the conscious consumer. The Annals of The American Academy of Political and Social Science, v. 644, n. 1, p.160-190, novembro, 2012. WORKMAN, J. E. Fashion Consumer Groups, Gender, and Need for Touch. Clothing & Textiles Research Journal, v. 28, n. 2, p. 126-139, 2010. WORKMAN, L.; PAPER, D. Compulsive Buying: A Theoretical Framework. The Journal of Business Inquiry, v. 9, n. 1, p. 89-126, 2010. WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT (The Brundtland Report). Our Common Future. Oxford University Press: London, 1987. Disponívem em: < http://www.un-documents.net/our-common-future.pdf>. Acesso em: 12 de Novembro de 2013. YOUNG, W.; HWANG, K.; MCDONALD, S.; OATES, C. Sustainable Consumption - Green Consumer Behaviour when Purchasing Products. Sustainable Development, v. 18, p. 20-31, 2010.

Page 16: O Impacto do Envolvimento com Moda e do Uso do Cartão de ... · Consumidores de moda revelam-se mais resistentes a questões que relacionam sustentabilidade e moda. Para Ritch e

16

Apêndice A

Consumo Sustentável Item 1 Item 2 Item 3 Item 4 Item 5 Item 6 Item 7 Item 8 Item 9

Ao comprar uma roupa eu pretendo usá-la o máximo possível. Eu só compro roupas quando eu preciso. Eu compro roupas de qualidade porque duram mais. Eu prefiro comprar roupas fabricadas no Brasil ao invés de importadas. Quando eu compro roupas eu verifico se envolve ou não trabalho infantil. Quando eu compro roupas eu verifico se os direitos dos trabalhadores são violados ou não. Quando eu compro roupas eu verifico se elas têm rótulos ecológicos ou eco-símbolos. Quando eu compro roupas eu verifico a composição das matérias-primas. O preço das roupas é o mais importante para mim.

Consumo Compulsivo Item 10 Item 11 Item 12 Item 13 Item 14 Item 15

Se eu tiver algum dinheiro sobrando no final mês, eu tenho que gastá-lo com roupas. Compro roupas para me sentir melhor. Costumo comprar roupas simplesmente porque eles estão em liquidação. Comprar roupas é divertido. Sinto-me deprimido após comprar roupas. Meu armário está cheio de roupas que eu não uso.

Consumo Impulsivo Item 16 Item 17 Item 18 Item 19 Item 20

Eu frequentemente compro roupas sem pensar. “Compre agora, pensar sobre isso depois” me descreve. Às vezes eu compro roupas no calor do momento. Eu compro roupas de acordo com o que eu sinto no momento. Às vezes eu sou um pouco imprudente quando compro roupas.

Uso do cartão de crédito Item 21 Item 22 Item 23 Item 24 Item 25 Item 26

Meus cartões de crédito estão geralmente no seu limite máximo de crédito. Eu me preocupo como vou pagar a minha dívida de cartão de crédito. Costumo fazer apenas o pagamento mínimo em minhas contas de cartão de crédito. Estou menos preocupado com o preço de um produto, quando eu uso um cartão de crédito. Eu gasto mais quando uso um cartão de crédito. Eu tenho muitos cartões de crédito.

Envolvimento com Moda Item 27 Item 28 Item 20 Item 30

Eu costumo ter roupas da última moda. Uma parte importante da minha vida é me vestir de maneira inteligente Estou interessado em fazer compras em boutiques de moda ou lojas especializadas e não em lojas de departamento para as minhas necessidades de moda Se eu tenho que escolher entre uma roupa na moda e uma confortável, eu escolho uma roupa na moda