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06/04/2015 às 05h00 À frente do MTST, movimento de sem-teto que ganhou o protagonismo das ruas depois da onda de protestos de 2013, o filósofo Guilherme Boulos diz que o governo e o PT têm subestimado a insatisfação popular com a gestão Dilma Rousseff, que registrou aprovação de 12%, segundo pesquisa Ibope divulgada na semana passada. Boulos afirma que a bandeira do impeachment pode se popularizar e coloca em xeque a capacidade de Dilma de manter-se no cargo até 2018, se o governo não recuar do ajuste fiscal. O líder do MTST credita a baixa popularidade de Dilma às medidas na área econômica e não aos escândalos de corrupção e diz que se o governo deixar para agir só em 2016, quando a economia começar a se recuperar, talvez a presidente não esteja mais no comando do país para fazer isso. Nas ruas, o MTST assumiu o tom crítico ao governo que já foi do MST. Presente em oito Estados, o movimento tem 40 mil famílias organizadas - metade desse contingente em São Paulo - e manteve-se distante dos protestos contra a presidente, por ver uma onda conservadora em ação. O grupo irá às ruas em ato contra a "direita" no dia 15, três dias depois do novo ato contra Dilma. Boulos encontra-se com frequência com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reuniu-se três vezes com Dilma. O último encontro foi neste ano. Tem interlocução também com o governo de São Paulo, comandado por Geraldo Alckmin (PSDB), e com o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT). Formado em Filosofia pela USP, Boulos, com 33 anos, milita há 13 anos no MTST. No intervalo das dezenas de reuniões semanais que participa, o líder dos sem-teto, estudioso do francês Jacques Lacan, dá aula em um curso de especialização em Psicanálise. A seguir, a entrevista ao Valor, concedida na quarta-feira. Valor: A pesquisa Ibope mostra que só 12% aprovam o governo. O que explica a dificuldade de Dilma? Guilherme Boulos: A insatisfação com o governo Dilma está mais relacionada às medidas econômicas do que propriamente à corrupção, à Lava-Jato. Nos últimos doze anos, a divulgação e a exploração midiática dos escândalos de corrupção foi frequente e não produziu quedas tão abruptas de popularidade. Dilma se elegeu com um discurso de aprofundar mudanças sociais, de não deixar uma política econômica neoliberal prevalecer. Assim que ganhou as eleições, fez o inverso. Foram três subidas consecutivas dos juros, uma declaração descabida sobre a Por Cristiane Agostine | De São Paulo Guilherme Boulos: "A política de conciliação se esgotou. Achar que se governa sem comprar brigar é uma ilusão. Dilma preferiu comprar briga com o povo" Últimas Lidas Comentadas Compartilhadas Movimentos trabalhistas protestam amanhã contra terceirização 13h09 Dilma rebate críticas ao modelo de partilha no pré-sal 12h23 Dilma diz que ajuste não vai afetar programas essenciais em educação 12h14 PT subestima insatisfação, diz líder dos sem-teto 05h00 Ver todas as notícias Acompanhamento de projetos CONGRESSO Refinanciamento de dívidas de Estados pode ser aprovado CONGRESSO Projeto sobre biodiversidade pode virar lei Conteúdo exclusivo do parceiro do Valor Perspectivas para o mercado de trabalho em 2015 20/03/2015 Compartilhar:

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06/04/2015 às 05h00

"O lulismo não funciona mais", dizBoulos

À frente do MTST, movimento desem-teto que ganhou oprotagonismo das ruas depois daonda de protestos de 2013, ofilósofo Guilherme Boulos diz que ogoverno e o PT têm subestimado ainsatisfação popular com a gestãoDilma Rousseff, que registrouaprovação de 12%, segundopesquisa Ibope divulgada nasemana passada.

Boulos afirma que a bandeira doimpeachment pode se popularizar e coloca em xeque acapacidade de Dilma de manter-se no cargo até 2018, se ogoverno não recuar do ajuste fiscal.

O líder do MTST credita a baixa popularidade de Dilma àsmedidas na área econômica e não aos escândalos de corrupção ediz que se o governo deixar para agir só em 2016, quando aeconomia começar a se recuperar, talvez a presidente não estejamais no comando do país para fazer isso.

Nas ruas, o MTST assumiu o tom crítico ao governo que já foi doMST. Presente em oito Estados, o movimento tem 40 mil famíliasorganizadas - metade desse contingente em São Paulo - emanteve-se distante dos protestos contra a presidente, por veruma onda conservadora em ação. O grupo irá às ruas em atocontra a "direita" no dia 15, três dias depois do novo ato contraDilma.

Boulos encontra-se com frequência com o ex-presidente LuizInácio Lula da Silva e reuniu-se três vezes com Dilma. O últimoencontro foi neste ano. Tem interlocução também com o governode São Paulo, comandado por Geraldo Alckmin (PSDB), e com oprefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT).

Formado em Filosofia pela USP, Boulos, com 33 anos, milita há13 anos no MTST. No intervalo das dezenas de reuniõessemanais que participa, o líder dos sem-teto, estudioso dofrancês Jacques Lacan, dá aula em um curso de especializaçãoem Psicanálise. A seguir, a entrevista ao Valor, concedida naquarta-feira.

Valor: A pesquisa Ibope mostra que só 12% aprovam o governo.O que explica a dificuldade de Dilma?

Guilherme Boulos: A insatisfação com o governo Dilma estámais relacionada às medidas econômicas do que propriamente àcorrupção, à Lava-Jato. Nos últimos doze anos, a divulgação e aexploração midiática dos escândalos de corrupção foi frequente enão produziu quedas tão abruptas de popularidade. Dilma seelegeu com um discurso de aprofundar mudanças sociais, de nãodeixar uma política econômica neoliberal prevalecer. Assim queganhou as eleições, fez o inverso. Foram três subidasconsecutivas dos juros, uma declaração descabida sobre a

Por Cristiane Agostine | De São Paulo

Guilherme Boulos: "A política deconciliação se esgotou. Achar que segoverna sem comprar brigar é umailusão. Dilma preferiu comprar brigacom o povo"

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"Dilma preferiu cortardo lado de cá. Manter agovernabilidade nabanca significa o risco deperdê-la nas ruas"

abertura de capital da Caixa Econômica Federal, especularam aindicação do presidente do Bradesco para a Fazenda, teve oajuste fiscal, programas sociais estão parados, ou seja, houve umsentimento de frustração popular, de traição em relação aoprojeto eleito.

Valor: O ex-presidente Lula, com quem o senhor tem boarelação, defende o ajuste fiscal. Lula está no caminho errado?

Boulos: Lula está errado nessa avaliação. Se precisava fazerajuste, era para ter sido feito do outro lado. Por que não se fezajuste taxando grandes fortunas, fazendo mutirão nacionalcontra a sonegação, auditoria da dívida pública? Não se joga aconta da crise no colo dos trabalhadores, dos mais pobres.

Valor: O ajuste que Dilma faz é diferente do que Lula fez em2003?

Boulos: Talvez a diferença tenha sido a do anúncio prévio (Cartaaos Brasileiros). O ajuste de 2003 também foi anti-popular. Aquestão é que em 2003 o PT e o Lula tinham uma gordura políticapara queimar que não tem mais hoje. Dilma ganhou a eleição namargem. Já havia um nível de insatisfação popular colocadoantes, com junho de 2013, a polarização do processo eleitoral.Em 2003 o modelo estava ascendendo e agora está se esgotando.

Valor: Essas medidas deviam ter sido feitas antes?

Boulos: Não deviam ter sido feitas, nem os ajustes do governoLula. A estratégia do PT que vigorou nesses doze anos foi deconciliação. Lula, em 2003, buscou construir um pacto no qualtodos ganhavam, tanto os banqueiros quanto os trabalhadores. Oque permitiu fazer uma política onde funciona o ganha-ganha? Éter crescimento econômico. Mas o crescimento começou adeclinar brutalmente no último período. A política de conciliaçãonão dá mais. Vai ter que cortar a fatia de alguém. Dilma preferiucortar do lado de cá. Isso tem um preço. Manter agovernabilidade na banca significa o risco de perdê-la nas ruas.

Valor: Como manter osinvestimentos privados e, aomesmo tempo, cortar do lado "dabanca"?

Boulos: Basta ter decisão política.A política de ficar conciliando se

esgotou. O PT, a Dilma precisam entender isso. Este ano vamoster recessão, que aprofunda reivindicações sociais. Tem umadeterioração do salário mínimo, da média salarial, a possibilidadede desemprego, redução de investimentos públicos. Achar que segoverna sem comprar briga é uma ilusão. Dilma preferiu comprarbriga com o povo.

Valor: O lulismo acabou?

Boulos: Ele se esgotou. Não tem mais condições de oferecer umprojeto de mudança progressiva para a sociedade. As mudançasnesses doze anos de PT foram significativas, mas pontuais.Melhoraram a condição de vida dos mais pobres, mas sem mudaro cenário estrutural do país. O que permitiu empurrar até aqui foium período de crescimento econômico e também impulsionadopelo investimento público, pelo crédito público, as estatais. Olulismo, como modelo de conciliação, não funciona mais.

Valor: Há um novo modelo sendo criado? Qual o rumo dogoverno?

Boulos: O rumo que o governo ensaiou nesses três meses foi ode um ajuste neoliberal, que também é insustentável. Vai serpreciso fazer um novo projeto político. Não dá mais para haveravanço popular sem reformas estruturais. Qualquer governo quenão se disponha a colocar isso estará refém de um caminho peladireita, conservador.

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Valor: Que caminho o senhor vê para as próximas eleições?

Boulos: Do jeito que as coisas estão, é difícil pensar em 2018.Tem que ver se esse governo termina 2015. Quando umapesquisa diz que o governo tem 64% de ruim ou péssimo é umainsatisfação geral, inclusive no Nordeste. Quem está canalizandoessa insatisfação nas ruas como foi o 15 de março?Fundamentalmente a classe média, não o povão. A classe médiade algum modo sente a recessão, o ajuste fiscal, mas a sua pautanão é essa. A pauta é ainda mais conservadora do que dogoverno. O que está em jogo é uma saída à direita, conservadora,de perda de direitos sociais. Tem um governo impopular porqueestá fazendo ajuste, mas quem está nas ruas canalizando essaimpopularidade está insatisfeito por outras razões e propõe umasaída talvez ainda pior do que o governo está propondo.

Valor: O 'povão' irá às ruas contra Dilma?

Boulos: Se o governo insistir num caminho de aprofundar esseajuste, de aprofundar as medidas impopulares, corre o risco dedar base social para iniciativas da direita, inclusive para ogolpismo. Corre o risco de popularizar a bandeira doimpeachment. A forma como tem que se combater esse processoé também combatendo esse ajuste fiscal. As manifestaçõestiveram um clima conservador. Não quer dizer que todosestavam lá eram de direita. Felizmente não. Mas teve um climade anti-PT também e anti-movimento social, anti-greve, anti-organização popular, anti-direitos humanos. Isso foi muito forteno 15 de março. Ainda está circunscrita a um setor de classemédia e com o clima muito direitista, mas pode mudar. Existeinsatisfação social e um caldo social para que mude. É isso que ogoverno precisa compreender e recuar nesse ajuste.

Valor: Na crise do mensalão, Lula recorreu a movimentos sociais.O apoio social que sustentou o governo em 2005 é diferente deagora?

Boulos: A situação é outra. Tem um grau de desgaste muitomaior. Naquela época, ainda tinha carga de esperança muitoforte. Isso não quer dizer que os movimentos sociais vão aceitar ogolpismo. Não vamos aceitar. Mas não estamos dispostos a irpara as ruas defender o indefensável, defender um governo queprotagoniza medidas impopulares. Há também mudança dapostura da oposição. O PSDB adotou postura em 2005 de sangrarpara levar em 2006. Não deu certo. Perderam em 2006. Elesestão calejados e passou a adotar um discurso cada vez maisofensivo, que flerta com o golpismo. Temos quadros do PSDB noplenário do Congresso, nas redes sociais com um discurso quetenta construir legitimidade política para essa via. O cenárioatual é muito mais preocupante do que era naquela época.

Valor: Qual a perspectiva para 2018? É possível construir umaFrente Ampla, como no Uruguai?

Boulos: Neste momento não sabemos nem como vai terminar2015. Se as manifestações de 12 de abril forem maiores que asde 15 de março, se outros setores, populares também começam ase movimentar mais nesse processo, é imprevisível o que vaiacontecer nos próximos meses. Um dos erros do PT e do governoé o de subestimar esse grau de incerteza, fazer um pensamentode médio prazo e falar: 'vou fazer um ajuste severo agora ecomeço a recuperar a economia em 2016'. Talvez não dê tempo.Talvez em 2016 não seja mais você que esteja lá no governo pararecuperar a economia.

Valor: O senhor vê chances reais de impeachment?

Boulos: Não acho que atualmente seja o cenário mais provável,mas não deve ser subestimado. Se somar a mobilizaçãoexpressiva numericamente do 15 de março com as articulaçõesque estão sendo feitas pelo PMDB no Congresso com a perda de

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"É imprevisível o que vaiacontecer. Um dos errosdo PT e do governo é ode subestimar esse graude incerteza"

controle do Legislativo pelo governo, com a postura simpática aesse processo por parte importante da mídia e do Judiciário, dizerque não existe risco é ignorar os fatos.

Valor: Como o senhor analisa o PT nesse processo? O partido seafastou da base, perdeu o discurso?

Boulos: O PT praticamente foi absorvido pelo governo e por umsistema político que tem o conservadorismo no seu DNA. Aapropriação privada do público no seu DNA. No nosso sistemapolítico quem não recebe financiamentos maciços das grandesempresas não concorre, não tem chance de ganhar. A partir domomento que entra nessa lógica, passa a aceitar muitas coisas. OPT foi o que mais recebeu das empreiteiras. Isso vai minando apossibilidade de o partido manter a autonomia política edireciona o projeto político a interesses que são de gruposeconômicos. Pouco a pouco se perde qualquer potencialtransformador.

Valor: Falta reação da esquerda?

Boulos: Precisamos relativizar. As condições para o crescimentoda direita e da esquerda no país são muito desiguais. Ocrescimento da direita está alicerçado em alguns dos principaismeios de comunicação. É claro que a esquerda precisa dar umaresposta mais categórica, com unidade. Não é fácil porque hásetores da esquerda que têm compromisso maior de fazer adefesa do governo e há outros que não, nos quais nós estamos.Mas ou a esquerda se unifica ou fenece. Não tem escolha. Épreciso ter unidade para enfrentar o fortalecimento doconservadorismo.

Valor: O MTST não participou dos atos pró-Dilma nem doscontrários. O movimento irá às ruas?

Boulos: Nossa postura não flerta com impeachment, comgolpismo, com qualquer saída à direita para a crise que vivemos.Mas para defender o governo é preciso que ele se façadefensável. Se mandar projeto de lei de taxação das grandesfortunas, se liberar programas sociais, suspender o ajuste fiscalterá a nossa defesa. O MTST está chamando mobilizações deenfrentamento da conjuntura. Em 18 de março, paramos mais de30 rodovias no Brasil contra o ajuste fiscal. Em 15 de abril, logodepois da manifestação do dia 12, faremos uma mobilizaçãocontra a direita e contra políticas de ajuste fiscal e de ataques adireitos sociais. O MTST não vai usar a tática avestruz, de deixaro mundo caindo e a gente falando de moradia. Vamos atuar nessecenário.

Valor: Como tem sido a relaçãocom o governo federal? Em 2014,depois da ocupação Copa do Povo,o MTST se reuniu com Dilma, queanunciou investimentos paraatender ao movimento. E agora?

Boulos: O MTST mantém reuniões com o governo federal paraapresentação das pautas. Isso não está em conflito com nossaslutas. Foram três encontros com Dilma, um neste ano.Construímos a agenda a partir do processo de mobilização. Apauta do governo federal está truncada pelo ajuste fiscal. Quandose diz que não vai lançar agora o Minha Casa, Minha Vida 3, massó no final do ano, isso significa o bloqueio da construção demoradias nesse período. Hoje o MCMV é a única via deconstrução de moradia popular. Se o programa não é lançado,não se constrói casa, não tem solução para as ocupações. Anegociação fica truncada por conta do ajuste fiscal.

Valor: O MTST tem sido recebido pelo governo Alckmin. Como éa relação com o governo de São Paulo?

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Boulos: A independência do MTST também dá credibilidade aomovimento. Pau que bate em Chico bate em Francisco. Osgovernos têm que ter clareza de que você não está fazendo ojoguete eleitoral de ninguém. Somado a isso, está a capacidadede mobilização. Os governos quando recebem movimentossociais, recebem porque o movimento soma força, pauta umaagenda política. Temos muito mais divergências com o governoAlckmin, com a visão dele, do PSDB do que com o PT, emboratenhamos divergências importantes com o governo do PT. Masisso não pode pautar a luta reivindicativa. O MTST vai pressionaro governo Alckmin por políticas públicas, como pressiona ogoverno do PT.

Valor: O MTST participa de alguma instância de governo?

Boulos: Não. É um princípio do MTST ter autonomia rigorosa.

Valor: Como o senhor analisa o governo do prefeito Haddad?

Boulos: É melhor gestão de São Paulo desde Erundina, mastambém com seus limites. Destacaria a forma como se conduziu oPlano Diretor de São Paulo, que abriu espaço para um planomenos moldado pelo mercado imobiliário. Foram considerados osinteresses do mercado, mas outros também. Normalmente issonão acontece. Há um grau de enfrentamento com a especulaçãoimobiliária e a política habitacional destinou 20% para o MinhaCasa, Minha Vida Entidades. A prioridade do transporte público eas ciclovias são temas positivos. A gestão tem mais pontospositivos do que negativos.

Valor: E como explicaria a baixa aprovação do prefeito?

Boulos: São muitas razões. Uma delas é que a gestão Haddadsofre um cerco midiático muito forte. Mas também se comunicapessimamente, tem uma capacidade de comunicação muitolimitada. Outra razão é que, pelo caixa, não conseguiuimplementar nenhuma grande obra de destaque, quecaracterizasse a gestão. Há também um fortalecimento doantipetismo. São Paulo é o ninho desse fortalecimento. Vimos osvotos que São Paulo deu a Aécio, a eleição em primeiro turno doAlckmin, a derrota do Suplicy e a eleição do Serra. Veja o papelde São Paulo no ato de 15 de março. Em São Paulo o antipetismoganhou uma força como não ganhou em nenhum outro lugar. Issonaturalmente arranhou Haddad, que é do PT.

Valor: É possível manter uma força de esquerda em São Paulo?

Boulos: É um problema, porque não acreditamos que o PT sejade esquerda. O governo do PT não é um governo de esquerda.Agora o antipetismo é de direita. Isso gera um campo minadopara a organização da esquerda em São Paulo. Inviabilizar nãoinviabiliza, porque a esquerda também tem base social,organização popular. Mas cria um clima de maior acirramento ede campo minado para a esquerda.

Luciano Pereira Vargas, você leu 3 de 5 notíciasexclusivas disponíveis. Se quiser ter acesso a todas as notícias,conheça nossos planos e assine o Valor

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